40

Seminário socio Texto 5

Embed Size (px)

Citation preview

Linguística e Ensino

“Talvez se voltássemos a pensar o ensino do português como uma área de convergência pedagógica de muitos parceiros (e não monopólio dos linguistas), pudéssemos trazer nova vida para o ensino de português no Brasil.”

(Faraco, 2008)

Rodrigues trás ao debate um conjunto de conceitos provindos das grandes coordenadas que formam a singularização da linguística frente, por exemplo, à tradição gramatical e à filologia.Sendo assim, o autor mostra o contraste entre a língua falada e a língua escrita e o reconhecimento das diferentes modalidades de escrita.

O Linguístico e o Sociolinguístico

Para Aryon Rodrigues cabe ao ensino ampliar a mobilidade sociolinguística do falante, ou seja garantir-lhe um trânsito amplo e autônomo pela heterogeneidade linguística em que vive e não concentrar-se apenas no estudo de um objeto autônomo despregado das práticas socioverbais (o estrutural em si).

“Propriedade” x Correção

Existe um padrão absoluto de correção?

Tudo vale na língua?

“os fenômenos linguísticos não são relativos, mas relativos às circunstâncias”

“Numa cultura com um viés arraigadamente normativo como a nossa, o senso de adequação se vê, constantemente, perturbado (em especial entre os segmentos altamente escolarizados) por um senso de correção exacerbadamente purista. Inverte-se, portanto, a equação empírica: a correção (tomada ilusoriamente em sentido absoluto) secundariza a adequação, quando não a condena.”

(Faraco, 2008)

Variedades cultas e Ensino

O primado da “propriedade” frente à correção faz Rodrigues abrir um conjunto de tópicos sobre a variação linguística, todo ele atravessado pelo tema das variedades cultas da língua.

Não está explícito no texto, que o autor atribui ao ensino de português, dentre outras, a tarefa de dar aos alunos acesso a essas variedades. E esse tem sido um posicionamento comum entre os linguistas.

Como se supõem que para os linguistas “tudo vale na língua”, supõe-se também que eles são contrários ao ensino das variedades ditas cultas. Não há, em seus textos, nenhuma afirmação nesse sentido.

Houve um tempo, em especial na década de 1980, em que a questão foi tratada pelos linguistas na perspectiva de uma pedagogia do bidialetismo (v., por exemplo, Soares, 1986).

Consideravam-se as variedades cultas como um dialeto social e se propunha que o ensino fornecesse aos falantes de outras variedades a possibilidade de incorporar esse novo dialeto, tornando-se “bidialetais”.

A compreensão do fenômeno estava, portanto, centrada nas formas linguisticas em si (as variedades cultas vistas apenas como um conjunto de características lexicogramaticais) e o ensino, na transmissão e domínio dessas formas.

Visão em continuum das variantes: Melhor apreensão e distribuição social das variedades, o que permite uma maior interrelação.

O letramento implica, como destaca Britto (2004:134), “muito mais que dispor de um conhecimento sobre uma variedade linguística”.

Escola letradora: Acesso às variedades cultas da língua por meio de uma pedagogia articulada – Educação transdisciplinar (Britto, 2004).

Letramento “é um processo de aprendizagem social e histórica da leitura e da escrita em contextos informais e para usos utilitários, por isso é um conjunto de práticas, ou seja, ‘letramentos’ [...] Distribui-se em graus de domínios que vão de um patamar mínimo a um máximo” (MARCUSCHI, 2001).

Graus de letramento: Como a escola é considerada uma das maiores agências de letramento, quanto maior for a escolarização do indivíduo, maior também poderá ser considerado seu grau de letramento. Todavia, o que vai ratificar seu elevado grau de letramento, será sua capacidade de usar os conhecimentos que envolvam a escrita de modo a facilitar sua vida na sociedade, de usufruir dos benefícios que os resultados da escrita derrama em seu meio social.

Mito do letramento: Falseamento acerca do domínio do uso da escrita por um grupo social, ou de seus reflexos pela sociedade.

ENSINO-APRENDIZAGEM DA LÍNGUA PORTUGUESA COMO ENSINO-APRENDIZAGEM DA LÍNGUA PORTUGUESA COMO LÍNGUA MATERNALÍNGUA MATERNA

EQUÍVOCOS E CONTRADIÇÕES

1.Oralidade x Escrita: Para Marchuschi (2000) o fim maior do ensino de português “é o pleno domínio e uso de ambas as modalidades nos seus diferentes níveis”;

2.Leitura x Gramática;

3.Língua Culta x Variedades Linguisticas;

4.Textos Didáticos x Textos Vivos.

VARIAÇÃO LINGUÍSTICA

LÍNGUA CULTA COMO VARIEDADE DE PRESTÍGIO

pronominais

Dê-me um cigarroDiz a gramáticaDo professor e do alunoE do mulato sabidoMas o bom negro e o bom brancoDa Nação BrasileiraDizem todos os diasDeixa disso camaradaMe dá um cigarro

Variedades Cultas e norma padrão

Se os lingüistas não são contrários ao ensino das variedades cultas e têm defendido uma prática pedagógica centrada no letramento no sentido amplo e não apenas nas formas lingüísticas, por que eles são acusados de serem contrários ao ensino das variedades cultas?

O equívoco parece nascer do fato de os acusadores não distinguirem, como fazem os lingüistas, duas realidades distintas:

Variedades cultas x Norma-padrão

Esta instabilidade terminológica percorre os textos dos lingüistas e acaba favorecendo as confusões e equívocos.

Importante: Distinção não meramente terminológica como também indispensável para a compreensão mais adequada dos fenômenos

lingüísticos.

“Os lingüistas, ao estudar a variação sociolingüística, detectam a existência de variedades sociais a que se atribui o qualificativo de “cultas”.”Estas variedades sociais qualificadas como cultas são:

-Decorrentes de usos mais monitorados da língua-Segmentos urbanos posicionados do meio para cima na hierarquia econômica-Amplo acesso aos bens culturais, como educação formal e cultura escrita

Trata-se daquilo que é normal, recorrente, comum na expressão lingüística desses segmentos sociais, em situações mais monitoradas.Essas variedades não são homogêneas e, como destacado por Aryon Rodrigues em seu texto, partilham traços comuns cuja a difusão e sedimentação são favorecidas pela escolarização de longo alcance e, hoje, seguramente muito mais pela força centrípeta exercida nacionalmente pela televisão e pelo rádio.

Claramente, há uma distinção entre a expressão língua culta escrita e língua culta falada.

Variedades Cultas, em suas modalidades orais e escritas, são:-manifestações do uso vivo (normal) da língua

Norma-padrão:- É um construto idealizado, uma codificação taxonômica de formas tomadas como um modelo lingüístico ideal

É importante observar que, essa norma, no entanto, profundamente dissociada das variedades cultas efetivamente praticadas no Brasil, nunca se tornou um fato funcional. No entanto, tem servido, por mais de um século, de instrumento de violência simbólica e discriminação sociocultural.

Em contraposição ao quadro normativo vigente, os linguistas, com base no estudo empírico das variedades cultas faladas e escritas, costumam postular uma renovação da norma-padrão que resulte numa atualização de nossos instrumentos normativos (dicionários e gramáticas) com a incorporação ao padrão de todos os fenômenos característicos das variedades cultas. Em outras palavras, os linguistas postulam a fixação de uma norma-padrão que seja o efetivo reflexo da norma culta brasileira.

Há conveniência ou necessidade de se fixar uma norma-padrão brasileira? A natural diversidade da linguística nacional está pondo em risco a relativa unidade das variedades cultas faladas? Ou os traços comuns, aliados à força centrípeta dos meios de comunicação social e das pressões niveladoras típicas do ambiente urbano, estão suficientemente consolidados para garantir a relativa unidade linguística do país?-Não há indícios de risco à relativa unidade das variedades cultas-Circunstancias históricas como a intensa urbanização, novas redes de relações estabelecidas no espaço urbano e a presença dos meios de comunicação social, em boa medida favorecem.-Estudos empíricos tem mostrado que, embora a realidade linguística brasileira seja historicamente polarizada entre as variedades cultas e populares, há uma clara e forte tendência ao nivelamento das duas grandes normas linguísticas brasileiras.

Diante desses fatos, talvez possamos mesmo abrir mão de projetos padronizadores, direcionando nossas energias para o que efetivamente interessa: de um lado, a descrição e a difusão das variedades cultas faladas e escritas; e, de outro, o combate sistemático aos preceitos na norma curta [...].

“o estigma ainda recai pesadamente sobre as variantes mais características da norma popular, fortalecendo-se a cada dia- inclusive com a força dos meios de comunicação em massa- um preconceito que, sem fundamento linguístico (cf, Bagno 1999), na mais é do que a crua manifestação da discriminação econômica e da ideologia da exclusão social.” Lucchesi (2002: 88)

Precisaria então de uma norma-padrão escrita?

Obviamente, necessitamos de uma grafia-padrão, mas precisamos ir além dessa uniformização ortográfica, isto é, precisamos também regulamentar fenômenos sintáticos, considerando o fracasso evidente das tentativas padronizadas do século XIX? Ou, em outras palavras, não basta deixar que o normal (variedades cultas) seja normativo para a fala e para a escrita?

Questões essas que talvez não sejam ainda de fácil assimilação porque continuamos assombrados pela norma-padrão escrita fixada no século XIX, pela violência simbólica que a acompanha e pelo temor histórico de uma suposta ‘desagregação’ da língua e do país.

Escola e Variação Linguística

“É justamente frente aos fenômenos da variação (por estes envolverem complexas questões identitárias e de valores socioculturais) que os falantes parecem se mostrar mais sensíveis, externando, muitas vezes, atitudes e juízos de alta virulência” (FARACO, 2004, p. 1).

Segundo Faraco (2004) o que se tem feito em prol de uma pedagogia da variação linguística ainda é muito pouco. Parece que ainda não se sabe ao certo como lidar com isso.

Sabendo que os PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais) e outros documentos oficiais de diretrizes de ensino já incluíram a variação linguística no ensino da Língua Materna, é imprescindível que busquemos formas de tornar isso real, e não apenas discurso teórico.

Faraco (2004) afirma, então, que nosso grande desafio como estudiosos da Linguística e da Sociolinguística é construir uma pedagogia que não contrarie a realidade linguística do país (multilingue); não dê tratamento estereotipado para a ideia de variação; localize e explique adequadamente o que é a norma-padrão diante dos fenômenos de variação linguística; estimule a potencialidade estilística de manipulação das diversas variedades linguísticas. Só assim, combateremos as exclusões sociais e as violências simbólicas que se realizam a partir do preconceito linguístico.

Bortoni-Ricardo (2008) apresenta um trecho extremamente interessante do livro Rememórias Dois de Carmo Bernardes:“Entrei numa lida muito dificultosa. Martírio sem fim o não entender nadinha do que vinha nos livros e do que Mestre Frederico falava. Estranheza colosso me cegava e me punha tonto. Acho bem que foi desse tempo o mal que me acompanha até hoje de ser recanteado e meio mocorongo. Com os meus, em casa, conversava por trinta, tinha ladineza e entendimento. Na rua e na escola – nada; era completamente afrásico. As pessoas eram bichos do outro mundo que temperavam um palavreado grego de tudo.Os meninos que arrumei para meus companheiros eram todos filhos de baiano. Conversavam muito diferente do que estava escrito nos livros e mais diferente ainda da gente de minha parentalha. Custei a danar a aprender a linguagem deles (...).

Um dia cheguei atrasado e dei a desculpa de que o relógio lá de casa estava ‘azangado’. Aí o mestre entortou o canto da boca, enrugou o couro da testa e derreou a cabeça e ficou muito tempo assim de esguelha, fisgado em mim, depois estralou:- O relógio está o quê?!!Ah, meu Deus... Tampei a cara com o livro, e uma coceira descomedida nas popas me pôs a retocar e a esfregar no banco, como quem tinha panhado bicho. (...)E, peculiarmente, a palmatória surrou miúdo no tampo da mesa. Em tudo mais era nesse teor. Era – não: é. Vivi até hoje empenhado na peleja mais dura, com o viso de me acostumar a falar de acordo, e não sou capaz. (...) Contar um caso bem contado, com cautela de não dar motivos a enjoamento em quem vai ler, é que não sou capaz porque tolhido dentro das regras que Mestre Frederico me ensinou, nunca pude armar uma estória que prestasse’’.

“O problema está nas formas como lidamos com essa diversidade. O problema está na forma como representamos para nós essa diversidade. O problema está nas imagens saturadas de valores que temos dessa diversidade e nas imagens saturadas de valores que temos de nós como falantes. Aí reside a fonte das imensas dificuldades que temos para reconhecer nossa cara lingüística. Por conseqüência, continuamos a ser uma sociedade atolada em pesados equívocos e estigmas lingüísticos” (FARACO, 2004, p.10).

Qual deverá ser a linguagem do professor? Mais formal e séria, ou mais

espontânea e familiar aos alunos?

É possível alternar entre as variedades?

Erros ou fenômenos de variação?

Segundo Faraco (2004), a ordem da metodologia de ensino que ainda persiste majoritariamente no Brasil constitui-se na ideia de priorizar a correção em detrimento da ideia de adequação das diversas variedades.

“(...) não há em língua um padrão absoluto de correção (válido para todas as circunstâncias), mas apenas padrões relativos às diferentes circunstâncias (daí os linguistas afirmarem que a “propriedade” é mais importante que a correção)” (FARACO, 2004, p. 2).

•P- Reinaldo, mas por quê você num veio ontem?•Num deu tempo.•P- Num deu tempo por quê?•A – Tava trabaianu.•P- O Reinaldo estava trabalhando ontem e por isso não veio à aula. Vejam esta palavra, “trabalhando”. Ela é uma daquelas palavrinhas que podemos usar dos dois jeitos. Quando falamos com nossos amigos, podemos dizer “trabaianu”; quando falamos com pessoas que não conhecemos bem, empregamos a palavra como a escrevemos, assim: “trabalhando”. Peguem o seu caderno e vamos escrever uma frase que começa assim: “Ontem eu estava trabalhando...”

“Pelo menos, estamos convencidos de que os alunos devem se familiarizar com diferentes gêneros discursivos e não exclusivamente com o texto literário (...) e de que precisamos combater e mesmo eliminar das práticas escolares o famigerado gênero “redação escolar”, isto é, aquela produção de textos artificiais, pré-moldados, que não participam de um circuito vivo de comunicação, se esgotam na escola e atendem apenas a burocracia escolar (cumprir tarefa, receber nota). (...) a produção de texto deve ter funcionalidade, deve realizar efetivos eventos comunicativos. Acreditamos, por isso, que o processo de produção de texto e seu produto devem acontecer em ambiente cooperativo, passando por etapas coletivas, seja na preparação do texto, seja na análise do produto.” (FARACO, 2004, p. 8)

Pedagogia da variação linguística: Os alunos devem se familiarizar com diferentes gêneros discursivos – ampla circulação sociocultural.

Sinais evidentes da ausência de pedagogia da variação linguística:

1. Livros didáticos2. SAEB3. ENEM

Construção de uma pedagogia da variação linguística:

Não tratamento anedótico ou estereotipado aos fenômenos da variação;Localização adequada dos fatos da norma culta/comum/standard;Abandono do cultivo da norma-padrão;Estímulo da percepção do potencial estilístico e retórico dos fenômenos da variação.

NOSSO DESAFIO