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Alphonsus de Guimarae ns

Simbolismo SemináRio

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Page 1: Simbolismo   SemináRio

Alphonsus de

Guimaraens

Vida e Obra

Page 2: Simbolismo   SemináRio

CONTEXTO CONTEXTO SOCIAL, SOCIAL,

HISTÓRICO HISTÓRICO E E

CULTURALCULTURAL

Page 3: Simbolismo   SemináRio

Musica "Prélude à l'après-midi d'un Faune" (Prelúdio à Tarde de um Fauno) – poema Sinfônico composto por Claude Debussy, músico clássico

francês, entre 1892 e 1894, baseado em um poema de Stéphane Mallarmé.

Fauno de Magnus Enckell, 1914.Assim como na pintura, a música Impressionista não possui linhas (melódicas) nítidas. O efeito dos sons é muito importante no contexto da obra, muitas vezes

mais importante que a própria melodia. A música Impressionista não segue o clássico sistema tonal Ocidental.

Page 4: Simbolismo   SemináRio

Contexto Histórico, Social, e Cultural

• O fim do século XIX foi profundamente marcado pelo avanço científico e a corrida desenfreada do

capitalismo industrial em busca da tecnologia e matéria-prima e as lutas pela igualdade social e os

direitos dos trabalhadores;

• A abolição da escravatura (1888) não assegurou o direito de igualdade e civilidade aos negros, acentuando o problema da miséria no país;

• O império decadente deu lugar a uma república (1889) que favorecia diretamente o sudeste do Brasil, com a política do "café-com-leite" (domínio alternado

de presidentes mineiros e paulistas);

Page 5: Simbolismo   SemináRio

• Revoltas como a “Guerra de Canudos" (1893-1897) e a "Revolta da Armada" refletiam o

descontentamento com as condições sociais vigentes;

• As cidades, com seus centros culturais e comerciais aos moldes da Europa (principalmente de Paris),

preocupavam-se com o inchaço de suas periferias, onde estava a miséria dos negros livres e das massas

de imigrantes;

• A industrialização, ainda em estado fetal, e a cultura à moda francesa da elite contrastavam com uma

nação tipicamente rural e analfabeta que enfrentava os horrores das pestes e epidemias que também

atingiram as cidades, como a febre amarela, tuberculose, dizimando milhares de pessoas.

Page 6: Simbolismo   SemináRio

1872Impressão, nascer do sol, de Claude Monet e o Impressionismo

1909Model T do Henry Ford

1888Abolição da escravidão no Brasil

1910Exposição Pós-Impressionista em Londres

1889Proclamação da Republica

1912Jung, The Psychology of the Unconscious

1895 Primeira amostra cinematográfica dos Irmãos Lumière

1914

Primeira Guerra Mundial

1899Publicação de The Interpretation of Dreams de Freud

1917

Kafka, A Metamorfose

1906Santos Dumont voa com o 14-bis em Paris

1918

Final da Primeira Guerra Mundial

1907Picasso, Les Demoiselles d'Avignon

Page 7: Simbolismo   SemináRio

Contexto Literário Geral (1870-1922)

1870

Em Ouro Preto, 24 de julho nasce Alphonsus de Guimaraens

Publicação de 'La Bonne Chanson' (obra de Paul Verlaine)

1871

Publicação de 'Le Bâteau Ivre' (obra de Arthur Rimbaud)

1872

Publicação de 'Le Bâteau Ivre' (obra de Arthur Rimbaud)

Publicação de 'Ressurreição' (obra de Machado de Assis)

1873

Publicação de Clepsidra, obra de Camilo Pessanha

1875

Publicação de "O crime do padre Amaro", de Eça de Queiroz

Publicação de 'Gonzaga' (obra de Castro Alves)

Publicação de 'Ensaios e Estudos de Filosofia e Crítica' (obra de Tobias Barreto)

Page 8: Simbolismo   SemináRio

1876

Publicação de "L'Après-midi d'un faune" de Stéphane Mallarmé

Publicação de 'Michel Strogoff' (obra de Júlio Verne)

Publicação de 'L'uomo delinquente' (obra de Cesare Lombroso)

Publicação do livro "O cabeleira", de Franklin Távora

1880

Publicação de 'Sagesse' (obra de Paul Verlaine)

Publicação de 'Boule de Suif' (obra de Guy de Maupassant)

1881

Publicação do livro "O mulato", de Aluísio Azevedo

1884

Publicação do livro "Casa de pensão", de Aluísio Azevedo

1885

Publicação do livro "Tropos e fantasias", de Virgilio Várzea/Cruz e Sousa

Page 9: Simbolismo   SemináRio

1888

Publicação do livro "O ateneu", de Raul Pompéia

Publicação de "Poesias" de Olavo Bilac

1890

Publicação de Oaristos, de Eugênio de Castro

Publicação do livro "O cortiço", de Aluísio Azevedo

1891

Publicação do livro "Quincas Borba", de Machado de Assis

1893

Publicação de 'Positivismo e Idealismo' de Eça de Queiroz (A Gazeta de Notícias)

Publicações de Marcel Proust no 'Revue Blanche

Publicação do livro "Missal e broquéis", de Cruz e Sousa, primeira obra simbolista brasileira

Publicação do livro "O normalista", de Adolfo Caminha

Page 10: Simbolismo   SemináRio

1894

Publicação de 'The Memoirs of Sherlock Holmes' (obra de Arthur Conan Doyle

Publicação de 'The Jungle Book' (obra de Rudyard Kipling)

1897

Publicaçao de "Un coup de dés jamais n'abolira le hasard" de Stéphane Mallarmé

1898

Publicação de 'The Ballad of Reading Gaol' (obra de Oscar Wilde)

1899

Publicação do livro "Dom Casmurro", de Machado de Assis

Publicação do livro "Setenário das dores de nossa senhora", de Alphonsus de Guimaraens

Publicação do livro "Câmara ardente", de Alphonsus de Guimaraens

Publicação do livro "Dona mística", de Alphonsus de Guimaraens

Page 11: Simbolismo   SemináRio

1902

Publicação de 'The Hound of the Baskervilles' (obra de Arthur Conan Doyle)

Fernando Pessoa escreve o poema 'Quando ela passa’

Publicação do livro "Os sertões", de Euclides da Cunha

Publicação do livro "Kiriale", de Alphonsus de Guimaraens

1903

Augusto de Lima é eleito para a Academia Brasileira de Letras

Euclides da Cunha é eleito para a Academia Brasileira de Letras

1908

Publicação de 'A Lume Spento' (obra de Ezra Pound)

Publicado o poema 'The Unknown Love' de Raymond Chandler

1909

Publicação de 'Personae' (obra de Ezra Pound)

Publicação do livro "Recordações do escrivão Isaías Caminha", de Lima Barreto

Page 12: Simbolismo   SemináRio

1912

Publicação de 'Eu' (obra de Augusto dos Anjos)

Oswaldo Cruz é eleito para a Academia Brasileira de Letras

1914

Publicação de 'O lamento das Coisas' (obra de Augusto dos Anjos)

1915

Lançamento da revista Orpheu em Portugal

1918

Publicação de 'Impresiones Y Paisajes' (obra de Federico García Lorca)

O poema 'Mis Ojos', de Pablo Neruda, é publicado na revista 'Corre-Vuela'.

Publicação do livro "Urupês", de Monteiro Lobato

Page 13: Simbolismo   SemináRio

1919

Publicação de 'Cuentos de la selva' de Horácio Quiroga

Publicação de 'Espectro' primeiro livro de Cecília Meireles

Publicação de 'Tarde' de Olavo Bilac

1920

Publicação de 'Le côté de Guermantes I' (obra de Marcel Proust)

Publicação de 'The Mysterious Affair at Styles' (obra de Agatha Christie)

Publicaçao de Mendigos de Alphonsus de Guimaraens

1921

Mariana, 15 de julho – Morre Alphonsus de Guimaraens

Publicação de 'Libro de Poemas' (obra de Federico García Lorca)

Publicação de 'Sodome et Gomorrhe' (obra de Marcel Proust)

Carlos Drummond de Andrade publica seus primeiros trabalhos na seção "Sociais" do Diário de Minas.

1922

Ínicio do modernismo

Semana de arte moderna de São Paulo

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Pintura

Na pintura o impressionismo foi um movimento que tratava de retratar paissagens, pessoas, e objetos e sentimentos de uma maneira não realista. Surge na

Europa e leva o nome de um quadro de Claude Monet Impressão, nascer do sol em 1872.

Os maiores nomes do movimento foram: Édouard Manet, Claude Monet, Edgar Degas, Pierre-Auguste

Renoir, Van Gogh, Odilon Redon (também simbolista),

assim como Edvard Munch que mais tarde seria considerado expressionista.

No Brasil os grandes nomes a serem resaltados são os de Eliseu Visconti e Rodolfo Amoedo.

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Paul Gauguin – Odilon Redon - MoçaRetrato de Van Gogh

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BRASIL Eliseu Visconti

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Rodolfo Amoedo – O Último Tamoio

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Imagens do Contexto Histórico e Social

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Paul Marie Verlaine (1844-1896) Stéphane Mallarmé (1842-1898)

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Jean-Nicolas Arthur Rimbaud (1854-1891)

Charles-Pierre Baudelaire (1821-1867)

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VIDA DE VIDA DE ALPHONSUALPHONSU

S DE S DE GUIMARÃEGUIMARÃE

SS

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• Afonso Henriques da Costa Guimarães nasceu em Ouro Preto, em 24 de Julho de 1870, cidade esta que foi o cenário dos primeiros anos da vida do Poeta que desde sua infância dava sinais de extrema sensibilidade e acentuada introversão.

• Matriculou-se em 1887, no curso de engenharia e no ano seguinte aos 18 anos de idade, sofre a perda de sua noiva, Constança, vitima de tuberculose.

• Desde então sua obra será marcada pelo sofrimento de ver morta sua prima e noiva. Sua religiosidade se intensifica; seus versos surgem simples, pausados, intimistas, mas sempre sublimes e belos, sonoros e musicais. Em tudo transparece o sofrimento que faz parte de sua vida, suportado por uma fé muito consistente. Tudo muito envolvido por duas grandes molas da poesia, o amor e a morte. Acima de tudo ele é insuperável na melodia, no canto, na sonoridade com que reveste seus versos.

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• Após a morte de Constança, Afonso muda-se para São Paulo onde vai estudar Direito e se forma em 1895. Cinco anos mais tarde, já exercia as funções de promotor de justiça em Conceição do Serro (Minas) e, pouco tempo depois, era nomeado juiz substituto.

• Ainda na capital paulista, tomou contato com os ideais simbolistas e para ocupar as longas horas que lhe restavam dos seus afazeres profissionais, resolveu adotar as letras como seu passatempo intelectual favorito. Tomou-se famoso como poeta simbolista, usando o pseudônimo Alphonsus de Guimaraens, que passa a usar a parti de 1894.

• Dedicou-se também ao jornalismo, deixando esparsos pela imprensa muitos dos seus trabalhos, atuando como colaborador de jornais conhecidos como Diário Mercantil, Comércio de São Paulo, Correio Paulistano, O Estado de S. Paulo e A Gazeta. Durante algum tempo, pareceu se recuperar do drama da morte de sua noiva, o que na verdade, nunca ocorreu.

Page 29: Simbolismo   SemináRio

• Em viagem pelo Rio de Janeiro, conheceu um outro verdadeiro ícone do Simbolismo, Cruz e Souza. Casa-se em 1897, com Zenaide de Oliveira, com quem tem 14 filhos, dois deles escritores: João Alphonsus (1901 - 1944) e Alphonsus de Guimarães Filho (1918).

• Após passar 10 anos como promotor de justiça em Conceição do Serro, é nomeado juiz em Mariana, para onde se transfere em definitivo, em 1906.

• Estréia com os livros de poemas Setenário das dores de Nossa Senhora / Câmara ardente e Dona Mística, em 1899, e três anos depois edita, por conta própria, o volume Kiriale. Somente em 1920 volta a publicar, lançando o livro de crônicas Mendigos. O restante de sua obra é lançado postumamente. Em 1919, dois anos antes de morrer, recebe a visita do escritor Mário de Andrade (1893 - 1945). Sua obra é marcada pelo misticismo, pelo culto ao amor, à morte e à religiosidade, assentada, principalmente, pela trágica morte de sua noiva, Constança, filha de Bernardo Guimarães.

Page 30: Simbolismo   SemináRio

• Viveu seus últimos anos na obscuridade ao lado de sua esposa Zenaide de Oliveira Ocasionalmente recebia a visita de poucos amigos e admiradores, até sua morte em 15 de Julho de 1921, na cidade de Mariana.

• Devido ao período que viveu em Mariana, ficou conhecido como "O Solitário de Mariana", apesar de ter vivido lá com a mulher e com seus 14 filhos. O apelido foi dado a ele devido ao estado de isolamento completo em que viveu. Sua vida, nessa época, passou a ser dedicada basicamente às atividades de juiz e à elaboração de sua obra poética.

Page 31: Simbolismo   SemináRio

SimbolismoFrança – Final do século XIX

Page 32: Simbolismo   SemináRio

Manifesto SimbolistaLe Symbolisme, Le Figaro, 18 Set 1886, Jean Moreás

O simbolismo, em sua radical oposição ao positivismo, ao realismo e ao

naturalismo, era um movimento idealista e transcendente, contrário às descrições

objetivas, à ciência positiva, ao intelectualismo e à rigidez formal do

parnasianismo.

Page 33: Simbolismo   SemináRio

No final do século XIX predominavam as idéias positivistas e mecanicistas às quais a

humanidade foi levada pelo anseio de objetividade.

As tendências realistas e naturalistas privilegiavam a reprodução fiel da natureza

e enfatizavam as descrições objetivas, a exterioridade e o quotidiano

Page 34: Simbolismo   SemináRio

O simbolismo, por outro lado, procurou enfatizar o valor intrínseco do indivíduo e de

sua realidade subjetiva.

Os simbolistas acreditavam que a arte deveria capturar verdades mais absolutas

que só poderiam ser acessadas por métodos indiretos.

Escreviam, então, de uma maneira metafórica e sugestiva, dotando imagens e

objetos particulares de significado simbólico.

Page 35: Simbolismo   SemináRio

Charles Baudelaire: precursor do Simbolismo

Baudelaire entendia o poeta como intérprete de uma simbologia universal que

manifesta uma idéia por meio de cada objeto do mundo sensível.

A estética de Baudelaire tinha afinidade com quatro autores cujas teorias

embasaram a estética simbolista: Novalis, Poe, Richard Wagner e o

místico sueco Emanuel Swedenborg.

Page 36: Simbolismo   SemináRio

Charles Baudelaire

1852 – Traduções de contos de Poe

A partir das traduções de Baudelaire, Poe passou a influenciar significativamente a

literatura francesa.

1857 - As Flores do Mal

Page 37: Simbolismo   SemináRio

Edgar Allan Poe

“Eu sei que a indefinição é um elemento da verdadeira música (da poesia) – quero

dizer, da verdadeira expressão musical... uma indefinição sugestiva de vago e, por

isso, espiritual efeito.”

Page 38: Simbolismo   SemináRio

Publicações literárias relacionadas ao Simbolismo

La Vogue, abril de 1886Le Symboliste, outubro de 1886Le Mercure de France, 1890

Page 39: Simbolismo   SemináRio

Características do Simbolismo

Subjetivismo

Os simbolistas interessam-se mais pelo particular e individual do que pela visão universal.

A realidade é focalizada sob o ponto de vista de um único indivíduo.

Os simbolistas procuram o mais profundo do "eu", buscam o inconsciente, o sonho.

Page 40: Simbolismo   SemináRio

MusicalidadeA musicalidade é uma das características

mais destacadas da estética simbolista.Para conseguir aproximação da poesia

com a música, os simbolistas utilizaram recursos como a aliteração, que consiste na repetição sistemática de um mesmo fonema consonantal, e a assonância, caracterizada pela repetição de fonemas vocálicos.

"De la musique avant toute chose...“Paul Verlaine, Art Poétique

Page 41: Simbolismo   SemináRio

“Entre brumas ao longe surge a aurora”Alphonsus de Guimaraens, A Catedral

TranscendentalismoSugerir através das palavras sem nomear

objetivamente os elementos da realidade. Ênfase no imaginário e na fantasia. Por isso há grande ocorrência, em sua poesia,

de palavras como: névoa, neblina, bruma, vaporosa.

Page 42: Simbolismo   SemináRio

Conhecimento ilógico e intuitivo da realidade

Para explorar o mundo visível, racional e objetivo os simbolistas valorizam a intuição e os sentidos como forma de percepção da essência, do lado obscuro das coisas, que se esconde além da realidade visível.

Preferem o vago, o indefinido ou impreciso.

Page 43: Simbolismo   SemináRio

Concepção mística do mundo

Os simbolistas voltam-se para a fé, com um misticismo difuso, mas ligado à tradição cristã.

A crença na existência de um mundo ideal, que só pode ser alcançado pela beleza pura expressa pela poesia produz um clima de fluidez e mistério.

Page 44: Simbolismo   SemináRio

Stéphane Mallarmé 1842 – 1898Utilizava-se dos símbolos para expressar a verdade através da sugestão. Sua poesia e sua prosa se caracterizam pela musicalidade, a experimentação gramatical e um pensamento refinado e repleto de alusões, que às vezes resulta em um texto obscuro.

É considerado um poeta difícil e hermético. Seu poema mais conhecido é L'Aprés-midi d‘un Faune (1876), que inspirou a música Prélude à l’après-midi d’un Faune, do compositor francês Claude Debussy.

Fotografia de Mallarmé, por Nadar, em 1896

Page 45: Simbolismo   SemináRio

Reuniões Literárias

Mallarmé dava recepções, em sua

casa, em Paris, na rue de Rome, às terças-

feiras.

Reunia-se a elite intelectual da época

para sessões de leitura e conversas sobre arte e

literatura.

Retrato de Stéphane Mallarmé, pintado por Manet.

Page 46: Simbolismo   SemináRio

Paul Verlaine 1844 - 1896

Começou a escrever poesia ainda jovem e foi primeiramente influenciado pelo movimento parnasiano e Leconte de Lisle.

A primeira coleção publicada, Poèmes saturniens (1866), estabeleceu-o como um poeta original e promissor.

Page 47: Simbolismo   SemináRio

Poète Maudit

Verlaine usou a expressão poète maudit em 1884 para se referir a poetas como Mallarmé e Rimbaud, que lutaram contra as convenções

poéticas e foram repreendidos

socialmente ou ignorados pelos críticos.

Paul Verlaine

Page 48: Simbolismo   SemináRio

Arthur Rimbaud 1854-1891

Aos 15 anos ele já havia conseguido muitos

prêmios e escrito versos e diálogos em Latim.

A prosa Une Saison en Enfer foi considerada uma das pioneiras da escrita

moderna Simbolista.

Page 49: Simbolismo   SemináRio

Obras

Poésies (c. 1869-1873) Le bateau îvre (1871) Une Saison em Enfer

(1873) Illuminations (1874) Lettres (1870-1891)

Rimbaud desenhado por Verlaine

Page 50: Simbolismo   SemináRio

Simbolismo no Brasil

Page 51: Simbolismo   SemináRio

Ao contrário do que ocorreu na Europa e nos demais países da América Latina, o simbolismo brasileiro antecedeu o neo-parnasianismo, que a crítica e o gosto popular consagraram, e foi por ele rapidamente absorvido.

O primeiro simbolista brasileiro foi João da Cruz e Souza, que se rebelou contra a sintaxe tradicional portuguesa e introduziu no Brasil as conquistas estilísticas da escola francesa. Com suas obras Missal e Broquéis, ambas de1893, marcou o início do movimento no Brasil. Outro grande simbolista foi Alphonsus de Guimaraens, poeta intimista, dominado pelo sentimento da morte e por suave misticismo.

Page 52: Simbolismo   SemináRio

Simbolismo na Pintura e na

Música

Page 53: Simbolismo   SemináRio

Pintura

A pintura simbolista foi uma continuação das tendências místicas da tradição romântica.

Os símbolos usados na pintura simbolista criam referências altamente pessoais e privadas, obscuras e ambíguas.

Os pintores simbolistas influenciaram o movimento Art Nouveau e continuam influenciando a sociedade até hoje.

Page 54: Simbolismo   SemináRio

Hugo Simberg

Pintor finlandês que teve uma de suas obras escolhida como a pintura nacional da Finlândia em 2006.

A pintura escolhida, O Anjo Ferido, de 1903, foi também tema do vídeo musical Amaranth, de 2007, da banda finlandesa de metal sinfônico Nightwish.

Page 55: Simbolismo   SemináRio

Imagem do vídeo musical

Amaranth, Nightwish, 2007

O Anjo Ferido, Hugo Simberg, 1903

Page 56: Simbolismo   SemináRio

Música

A estética simbolista teve profunda influência na música de Claude Debussy, nas suas escolhas de libretos, temas e textos. Algumas obras com influência simbolista:Composições como Cinq poèmes de Baudelaire;Várias canções de poemas de Verlaine;A ópera Pelléas et Mélisande com um libreto de Maurice Maeterlinck (autor de peças teatrais simbolistas);Composições não-terminadas que ilustram duas histórias de Edgar Allan Poe, The Devil in the Belfry e The Fall of the House of Usher.

Page 57: Simbolismo   SemináRio

Entre brumas ao longe surge a aurora. O hialino orvalho aos poucos se evapora,

Agoniza o arrebol. A catedral ebúrnea do meu sonhoAparece, na paz do céu risonho,

Toda branca de sol.

E o sino canta em lúgubres responsos: "Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"

A Catedral

Page 58: Simbolismo   SemináRio

O astro glorioso segue a eterna estrada.Uma áurea seta lhe cintila em cada

Refulgente raio de luz.A catedral ebúrnea do meu sonho,Onde os meus olhos tão cansados ponho,

Recebe a benção de Jesus.

E o sino clama em lúgubres responsos:"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"

Page 59: Simbolismo   SemináRio

Por entre lírios e lilases desceA tarde esquiva: amargurada prece

Põe-se a luz a rezar.A catedral ebúrnea do meu sonhoAparece, na paz do céu tristonho,

Toda branca de luar.

E o sino chora em lúgubres responsos:"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"

Page 60: Simbolismo   SemináRio

O céu e todo trevas: o vento uiva.Do relâmpago a cabeleira ruiva

Vem açoitar o rosto meu.A catedral ebúrnea do meu sonhoAfunda-se no caos do céu medonho

Como um astro que já morreu.

E o sino geme em lúgubres responsos:"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"

In: Pastoral aos crentes do amor e da morte.

Page 61: Simbolismo   SemináRio

• O poeta alterna entre sextetos e dísticos;• Nos sextetos temos decassílabos e hexassílabos; já

nos dísticos, decassílabos e heptassílabos.• São versos heterométricos;• Rimas: Ricas (aurora e evapora – classes

gramaticais diferentes) e Pobres

Camada Fônica

Page 62: Simbolismo   SemináRio

Entre brumas ao longe surge a aurora. O hialino orvalho aos poucos se evapora,

Agoniza o arrebol. A catedral ebúrnea do meu sonho Aparece, na paz do céu risonho,

Toda branca de sol.

E o sino canta em lúgubres responsos: "Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"

Esquema rímico

AABCCB

DD

Page 63: Simbolismo   SemináRio

• Os Simbolistas gostam de palavras difíceis (nefelibatas) - escrevem para si. Embora Alphonsus de Guimaraens seja considerado o simbolista menos hermético, ainda percebemos o uso de palavras difíceis. Exemplo: hialino, ebúrnea. • A corrente do poeta é mais visual: cores, astros, paisagens. Ele é pictórico (Verlaine). Há um simbolismo místico, crepuscular, lunar. Trabalha também com o místico, com o espírito e com o sagrado. São exemplos: aurora, hialino orvalho, arrebol, catedral, ebúrnea, céu, sol, lua, astro, Jesus, lúgubres responsos, lilases, dentre outros.

Camada Gramatical

Page 64: Simbolismo   SemináRio

• Crase: exemplo – “Entre brumas ao longe surge a aurora.” • Sinalefa: exemplo – “Agoniza o arrebol.” • Figuras de palavras:

• Metáfora Personificação: “Aparece, na paz do céu risonho.”

• Figuras de Construção: • Hipérbato: “Por entre lírios e lilases desceA tarde esquiva: amargurada prece

Põe-se a luz a rezar”• Encavalgamento. Exemplo: “Uma áurea seta lhe cintila em cada

Refulgente raio de luz.”

Camada Léxica

Page 65: Simbolismo   SemináRio

Camada Semântica• O poema inicia com a aurora e segue até a noite

(marcação de tempo). Durante essa passagem de um dia, o poeta descreve seu estado de alma, sua espiritualidade, usando a musicalidade. As ações do sino, as cores do dia sugerem a angústia do poeta que recebe a benção de Jesus ao longo de sua trajetória.

• O poema parece uma canção redonda, onde a repetição de alguns versos transmite uma sensação cíclica, confirmada pela passagem de todo um dia (sensação de repetição das coisas).

Page 66: Simbolismo   SemináRio

• O toque do sino reforça a idéia de passagem, pois acompanha o tempo que se passa:

o sino canta o sino clama o sino chora o sino geme

• O sino repete a mesma coisa, como se reforçasse e intensificasse a angústia e a dor do “Pobre Alphonsus”. Há um movimento pendular na poesia e a indicação do nome do poeta reflete uma cativação como característica do misticismo.

Page 67: Simbolismo   SemináRio

Vocabulário:

• hialino: relativo ao vidro; transparente.

• arrebol: vermelhidão do dia ao nascer ou ao

pôr do sol.

• ebúrnea: feito de marfim.

• lúgubres: relativo a luto; fúnebre.

• responsos: conjunto de palavras tirado da

Sagrada Escritura que se reza ou canta.

Page 68: Simbolismo   SemináRio

Comparação semântica: a poesia cria impressões sensíveis e estéticas

POSITIVO NEGATIVO

Céu risonho Céu tristonho

Sol Lua

Astro = glorioso Céu = trevas

Raios de luz Relâmpagos

Page 69: Simbolismo   SemináRio

Intertextualidade

Uma das características do Simbolismo foi a

fusão da música, da pintura e da literatura. A pintura

emprestou as demais artes a luz, a cor e o

ambiente. Por outro lado, o impressionista pretende

registrar a impressão que a realidade provoca no

espírito do artista e por ele é produzido. O mais

importante não é objeto, mas as sensações e

emoções que ele desperta. (Afrânio Coutinho, In: A

literatura no Brasil. Página 33).

Page 70: Simbolismo   SemináRio

Catedral de Rouen, de Monet

Page 71: Simbolismo   SemináRio

Comparando a poesia A Catedral de Alphonsus de Guimaraens e a pintura Catedral de Rouen de Monet temos que, o poeta, assim como o pintor, sentiram e exprimiram um

momento. Visualizaram e captaram uma imagem nas suas impressões, valorizando as cores, a atmosfera. Nas palavras de Afrânio Coutinho: “uma mesma paisagem é diferente em

horas diversas do dia, - ao artista cumpre capturar os estados da alma criados no contato desse fluxo (...), os episódios em

seu resvelar contínuo”. (página 36). Alphonsus de Guimaraens se incorpora a paisagem catedralesca.

Segundo Massaud Moises, “(...) seguindo a rota de Verlaine e de Antônio Nobre, o poeta mineiro instilou em sua

poesia (...) meios-tons e um cromatismo impressionista, centrado na cor branca e suas várias gradações”. (Massaud

Moises. In: História da literatura brasileira. Vol. 2).

Page 72: Simbolismo   SemináRio

“Alphonsus de Guimaraens foi Poeta. Poeta no sentido

pleno da palavra, poeta que traduziu a vida em beleza,

poeta que viu, sentiu, captou e exprimiu. Sim, porque o

poeta é o homem que fixa a beleza que passa. O mundo

cósmico e o mundo humano, social e interior, a

paisagem telúrica e a paisagem humana, no seu

perpétuo movimento, apresentam a cada passo aspectos

de beleza. Aspectos fugazes, instantes fugidios,

semostrações esquivas e rápidas da beleza, reflexo

constante da Perfeição”. (Gladstone Chaves de Mello. In:

Nossos Clássicos)

Page 73: Simbolismo   SemináRio

Ária do Luar

O luar, sonora barcarola, Aroma de argental caçoula,

Azul, azul em fora rola...

Cauda de virgem lacrimosa,Sobre montanhas negras pousa,

Da luz na quietação radiosa.

Como lençóis claros de neve,Que o sol filtrando em luz esteve,É transparente, é branco, é leve.

Page 74: Simbolismo   SemináRio

Eurritmia celestial das cores,Parece feito dos menores

E mais transcendentes odores.

Por essas noites, brancas telas,Cheias de esperanças de estrelas,

O luar é o sonho das donzelas.

Tem cabalísticos poderes Como os olhares das mulheres:Melancoliza e enerva os seres.

Page 75: Simbolismo   SemináRio

Afunda na água o alvo cabelo, E brilha logo, algente e belo,

Em cada lago um sete-estrelo.

Cantos de amor, salmos de prece,Gemidos, tudo anda por esseOlhar que Deus à terra desce.

Pela sua asa, no ar revolta,Ao coração do amante volta

A Alma da amada aos beijos solta.

Rola, sonora barcarola,Aroma de argental caçoula,O luar, azul em fora, rola...

In: Pastoral dos Crentes do Amor e da Morte

Page 76: Simbolismo   SemináRio

Ária: Composição musical para uma só voz por vezes

acompanhada de coros; melodia; canção;cantiga;parte

final da cantata.

Barcarola: Canção dos gondoleiros de Veneza; peça

musical à imitação das árias dos gondoleiros;

composição poética acomodada ao estilo musical das

barcarolas.

Argental : Adjetivação do verbo Argentar: pratear; dar a

cor da prata; branquear.

Caçoula: caçarola; recipiente largo e baixo, próprio

para cozinhar.

Vocabulário

Page 77: Simbolismo   SemináRio

Lacrimosa: chorosa; aflita; banhada em lágrimas.

Eurritmia: justa proporção entre as partes de um todo;

regularidade da pulsação; simetria; beleza.

Cabalísticos: que se refere à cabala; secreto; obscuro;

misterioso; enigmático; indecifrável, incompreensível.

Enerva: tirar a força física ou moral;

debilitar;enfraquecer;deprimir;excitar os nervos a

Algente: álgido; frigidíssimo; gélido; glacial.

Sete-estrelo: grupo das Plêiades, na constelação do

Touro

Page 78: Simbolismo   SemináRio

• Publicado no livro Dona Mística, 1892/1894 (1899). Poema integrante da série V - Árias e

Canções

• Para seu filho, Alphonsus de Guimaraens Filho esse é o poema que “estão definidos os aspectos

essenciais da poesia de Alphonsus de Guimaraens, ou os temas que mais constantes se fizeram em sua obra: o amor, tão doloridamente

expresso e a religiosidade...”

Sobre o poema

Page 79: Simbolismo   SemináRio

EscansãoO/ luar,/ so/no/ra/ bar/ca/ro/la,8

A/ro/ma/ de ar/gen/tal/ ca/çou/la, 8A/zul/, a/zul/ em/ fo/ra/ ro/la...8

Cau/da/ de/ vir/gem/ la/cri/mo/sa,8So/bre/ mon/ta/nhas/ ne/gras/ pou/sa,8

Da/ luz/ na/ quie/ta/ção/ ra/dio/sa.8

Co/mo/ len/çóis/ cla/ros/ de/ ne/ve,8Que o/ sol/ fil/tran/do em/ luz/ es/te/ve,8É/ trans/pa/ren/te, é/ bran/co, é /le/ve.8

Eu/rrit/mia/ ce/les/tial/ das/ co/res,8Pa/re/ce/ fei/to/ dos/ me/no/res8

E/ mais/ trans/cen/den/tes/ o/do/res.8

Page 80: Simbolismo   SemináRio

Esquema rímicoO luar, sonora barcarola, Aroma de argental caçoula, Azul, azul em fora rola...

Cauda de virgem lacrimosa,Sobre montanhas negras pousa, Da luz na quietação radiosa.

Como lençóis claros de neve, Que o sol filtrando em luz esteve, É transparente, é branco, é leve.

Eurritmia celestial das cores, Parece feito dos menores E mais transcendentes odores.

Por essas noites, brancas telas, Cheias de esperanças de estrelas,

O luar é o sonho das donzelas.

Tem cabalísticos poderes Como os olhares das mulheres: Melancoliza e enerva os seres.

Afunda na água o alvo cabelo, E brilha logo, algente e belo, Em cada lago um sete-estrelo.

Cantos de amor, salmos de prece, Gemidos, tudo anda por esse Olhar que Deus à terra desce.

Pela sua asa, no ar revolta, Ao coração do amante volta A Alma da amada aos beijos solta.

Rola, sonora barcarola, Aroma de argental caçoula, O luar, azul em fora, rola...

ABB

CDC

EEE

FFF

GGG

HHH

III

JJJ

LLL

ABA

Page 81: Simbolismo   SemináRio

• Sinérese:

(v. 01) O luar, sonora barcarola

• Elisão:

(v. 09) É/ trans/pa/ren/te, é/ bran/co, é /le/ve.

• Sinalefa:

(v. 15) O/ luar/ é o /so/nho /das /don/ze/las

• Aliterações em L, R e S

Figuras de Dicção

Page 82: Simbolismo   SemináRio

• As 3ª, 4ª, 5ª,6ª,7ª,8ªe 9ª estrofes apresentam rimas imperfeitas, sendo que a primeira e a terceira rimas, em cada uma dessas estrofes, são consoantes. “Esquivância do monocórdio (monotonia)”, segundo Henriqueta Lisboa.

(3ª estrofe)Como lençóis claros de neve, /éve/

Que o sol filtrando em luz esteve, /êve/É transparente, é branco, é leve. /éve/

(6ª estrofe)Tem cabalísticos poderes, /êres/

Como os olhares das mulheres: /éres/Melancoliza e enerva os seres. /êres/

Page 83: Simbolismo   SemináRio

Figuras de Pensamento

• Personificação:

Tem cabalísticos poderes

Como os olhares das mulheres:

Melancoliza e enerva os seres.

• Sinestesia:

O luar, sonora barcarola,

Aroma de argental caçoula,

Azul, azul em fora rola...

• Metonímia:

Afunda na água o alvo cabelo,

E brilha logo, algente e belo,

Em cada lago um sete-estrelo.

Page 84: Simbolismo   SemináRio

Quando Ismália enlouqueceu,Pôs-se na torre a sonhar...Viu uma lua no céu,Viu outra lua no mar.

No sonho em que se perdeu,Banhou-se toda em luar...Queria subir ao céu,Queria descer ao mar...

Ismália

Page 85: Simbolismo   SemináRio

E, no desvario seu,Na torre pôs-se a cantar...Estava perto do céu,Estava longe do mar...

Page 86: Simbolismo   SemináRio

E como um anjo pendeu As asas para voar...Queria a lua do céu,Queria a lua do mar...

As asas que Deus lhe deuRuflaram de par em par...Sua alma subiu ao céu,Seu corpo desceu ao mar...

(1923)

Page 87: Simbolismo   SemináRio

Sobre o poema:

• Publicado em 1923, postumamente, no livro de nome Pastoral aos Crentes do Amor e da Morte;

• Seu título inicial era “Ofélia”, mas seu filho Alphonsus Guimarens Filho o modifica, para “Ismália”, de modo a não confundirem-no com a Ofélia de Shakespeare;

Page 88: Simbolismo   SemináRio

• É o mais famoso e cultuado poema de Alphonsus de Guimaraens, ao lado, talvez, de “Catedral”. Diz Eduardo Portella que sua métrica, de caráter popular, “vai explicar, em parte, a popularidade alcançada por um poema complexo em sua estrutura simbólica, um poema de timbre elevado, de atmosfera shakesperiana (...)”;

• Incluído numa coletânea organizada por Ítalo Morriconi, para a editora Objetiva, como um dos cem melhores poemas brasileiros do século XX.

Page 89: Simbolismo   SemináRio

IsmáliaIsmália

CAMADA CAMADA FÔNICAFÔNICA

Page 90: Simbolismo   SemináRio

Escansão

• Métrica: formado por versos em redondilha maior;

• Poucas figuras de dicção: sinérese, sinalefa, diérese e crase – manutenção da estrutura métrica.

Quan|do Is|má|lia en|lou|que|ceu|,

Pôs|-se |na |tor|re a |so|nhar...|

Vi|u u|ma |lu|a |no |céu,|

Viu| ou|tra| lu|a| no |mar.|

sinalefa sinalefa sinérese

sinalefa

diérese crase diérese sinérese

sinérese sinérese diérese

Page 91: Simbolismo   SemináRio

• Estrutura rítmica: heterorrítmica (em 1-3-7;1-4-7; 2-4-7; 2-5-7): em sua maior parte, 2-4-7:

• As tônicas sempre coincidem com as palavras mais significativas do poema.

(v. 01) “Quando Ismália enlouqueceu”

(v. 06) “Banhou-se toda em luar”

(v. 18) “Ruflaram de par em par”

1 3 7

2 4 7

2 5 7

(v. 04) “Viu outra lua no mar” 1 4 7

Page 92: Simbolismo   SemináRio

• Essa escala rítmica é, apesar de heterogênea, responsável pela constância, harmonia e lógica da construção do poema:

• 1-3-7 > 1-4-7 – restringe-se à primeira estrofe; a tônica diferente coincide com a palavra ‘Ismália’

• 2-4-7 > 2-5-7 – a mudança de tonicidade coincide com verbos (descer, subir), nome (desvario) e última estrofe que reforçam a idéia de loucura e perda de si mesma.

(v. 09) “E, no desvario seu,”

(v. 07) “Queria subir ao céu”

(v. 17) “As asas que Deus lhe deu”

5

5

5

Page 93: Simbolismo   SemináRio

• Estrutura rímica: rimas alternadas (ABAB), em:

• /- ew/: enlouqueceu, céu, perdeu, etc.;

• /- ah/: sonhar, mar, cantar, etc;

• sempre terminado em rimas agudas (oxítonas) e toantes (apenas sonora).

E como anjos pendeu

As asas para voar...

Queria a lua do céu.

Queia a lua do mar...

A

B

A

B

Page 94: Simbolismo   SemináRio

• A estruturação das rimas é responsável por criar uma tensão, fruto de oposições, no poema: as rimas alternadas dispõem versos de idéias contrárias.

“Viu uma lua no céu,

Viu outra lua no mar”

“E como um anjo pendeu

As asas para voar”

A

B

A

BX

X

Page 95: Simbolismo   SemináRio

Representação fônico-semântica

→ vogais altas

→ vogais médias

→ vogais baixas

• Abertura e posição vocálica sugere/reforça certa situação:

• “Queria subir ao céu” → vogais médias e altas

• “Pôs-se na torre a sonhar” → vogais médias

• “Queria descer ao mar” → vogais médias e baixas

Page 96: Simbolismo   SemináRio

IsmáliaIsmália

CAMADA CAMADA LÉXICALÉXICA

Page 97: Simbolismo   SemináRio

Características lexicais

• Só um marcador de tempo (quando);

• Sem adjetivos – poema não-descritivo (foge ao Parnasianismo), imprime generalidade;

• Pontuação:

• Largo uso de reticências: imprecisão e sugestão;

• Vírgulas que marcam fim de verso ou cesura;

• Apenas um ponto final, sem pontos de exclamação ou interrogação (não há dúvida – há imprecisão);

• Verbos de efeito X verbos de ação: prioriza-se verbos de efeito (enlouquecer, etc.) e poucos de ação (voar, etc.)

Page 98: Simbolismo   SemináRio

Atmosfera sugerida pelo campo lexical

VERBOS (significativos) NOMES

enlouquecer sonhar torre lua

ver cantar céu mar

querer ruflar sonho desvario

subir pender anjo Deus

descer voar alma corpo

• Quase a totalidade dos nomes e verbos sugere uma atmosfera onírica e abstrata;

• Palavras de sentido concreto (torre, corpo, ver, subir) perdem essa concretude ao se conjugarem com a atmosfera delirante do poema.

Page 99: Simbolismo   SemináRio

Esquema de contrastes e gradações lexicais

Esquema de conceitos contrastivos

céu X mar ver X perder-se

perto X longe subir X descer

pender X voar alma X corpo

Esquema de conceitos gradativos

sonhar → desvario pender → cair

sonho → perder-se voar → subir

Page 100: Simbolismo   SemináRio

IsmáliaIsmália

CAMADA CAMADA GRAMATICAGRAMATICA

LL

Page 101: Simbolismo   SemináRio

Estruturas sintáticas do poema

• Constância das construção sintática nas estrofes – esquema responsável pela harmonia do poema (equivalência das estrofes):

• adj. adv. + sintagma nominal + verbo:

“Quando Ismália enlouqueceu”

• verbo + adj. adv. + adj. adv.:

“Ruflaram de par em par”

• verbo + sintagma nominal + adj. adv.:

“Queria a lua do céu”

“Viu outra lua no mar”

Page 102: Simbolismo   SemináRio

VERSOS

ESTROFE A

ESTROFE B

ESTROFE C

ESTROFE D

ESTROFE E

1 enlouquecer perder-se *** pender dar (asas)

2pôr-se a sonhar

banhar-se (em luar)

pôr-se a cantar

voar ruflar

3 verqueria subir

estar (longe)

querer subir

4 verqueria descer

estar (perto)

querer descer

Gradação semântico-lexical

→ → → →

→ → → →

→ → → →

→ → → →

↓ ↓ ↓ ↓ ↓

↓ ↓ ↓ ↓ ↓

↓ ↓ ↓ ↓ ↓

Page 103: Simbolismo   SemináRio

Figuras de construção

1. Epístrofe: repetição da mesma palavra no final de período ou trecho

“Viu uma lua no céu” – “Estava perto do céu”

“Queria a lua do mar” – “Viu outra lua no mar”

2. Paralelismo sintático: simetria entre a formação sintática das estrofes;

3. Cesura: quebra do verso, criando um efeito de suspensão, que potencializa o elemento destacado

“E, no desvario seu,”

Page 104: Simbolismo   SemináRio

IsmáliaIsmália

CAMADA CAMADA SEMÂNTICASEMÂNTICA

Page 105: Simbolismo   SemináRio

Polarização e simbologia: três planos do discurso poético

pólo abstrato e ideal

versus pólo concreto e sensível

céulua (real)

Deusalma

Ismáliatorre

cançãolua (imagem)

marasas

desvariocorpo

• Asas: símbolo da poesia, do lirismo, alcance do que é superior – mito: Ícaro – dadas por Deus: escolhido

• Lua: musa dos poetas e dos loucos (‘lunáticos’) – imagem refratada, imperfeita: o dilema da poesia (o canto)

• Desvario: espécie de “paraíso artificial” – forma de alcançar o que é superior – mito: Ofélia

• Torre (de Marfim): fuga e afastamento da realidade, mas sem desligar-se do terreno

Page 106: Simbolismo   SemináRio

Ismália

Ofélia ÍcaroX

Page 107: Simbolismo   SemináRio

Ícaro Ofélia ambição e liberdade fuga da opressão impossibilidade do equilíbrio e controle céu símbolo literário da poesia

Ismália é a união dialética dos dois metalinguagem dilema poético: afastar-se do concreto para apreender o abstrato desconcerto com o mundo – universo poético arte: fantasia X realidade

loucura – evasão – mundo superior fuga da realidade incerteza mar símbolo literário do sofrimento e desatino