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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS ESCOLA DE GESTÃO E NEGÓCIOS CURSO DE CIÊNCIAS AERONÁUTICAS RUÍDO AERONÁUTICO: IMPACTOS E PERSPECTIVAS ATUAIS GOIÂNIA 2016

Gabriel Gueiros - Artigo Ciências Aeronáuticas

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS

ESCOLA DE GESTÃO E NEGÓCIOS

CURSO DE CIÊNCIAS AERONÁUTICAS

RUÍDO AERONÁUTICO: IMPACTOS E PERSPECTIVAS ATUAIS

GOIÂNIA

2016

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GABRIEL MACHADO GUEIROS PESSOA

RUÍDO AERONÁUTICO: IMPACTOS E PERSPECTIVAS ATUAIS

Artigo científico apresentado à Pontifícia Universidade

Católica de Goiás como exigência parcial para a obtenção

do grau de Bacharel em Ciências Aeronáuticas.

Orientadora: Drª Profª Anna Paula Bechepeche

GOIÂNIA

2016

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GABRIEL MACHADO GUEIROS PESSOA

RUÍDO AERONÁUTICO: IMPACTOS E PERSPECTIVAS ATUAIS

GOIÂNIA – GO, ___/___/___

BANCA EXAMINADORA

Drª.Profª Anna Paula Bechepeche _____________________ CAER/PUC-GO ________

Assinatura Nota

Drº Humberto César Machado _____________________ CAER/PUC-GO ________

Assinatura Nota

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RUÍDO AERONÁUTICO: IMPACTOS E PERSPECTIVAS ATUAIS

Gabriel Machado Gueiros Pessoa1

Anna Paula Bechepeche2

RESUMO

Este artigo tem o objetivo de apresentar a importância do ruido aeronáutico e seus impactos

ocupacionais e socioambientais, bem como propostas recentes para exercer o controle desse

tipo de ruído em todos os níveis, já que o número de aeronaves, passageiros e consequências

do ruído só aumenta exponencialmente e faz-se necessária a promoção de uma cultura de

conscientização. Estarão contidos neste artigo também, alguns conceitos básicos sobre

anatomia e física, relativamente à audição e som. Foi feita uma revisão bibliográfica com base

nos artigos dos autores referenciados e pesquisas em sítios de órgãos relacionados. Os

resultados encontrados foram os conhecimentos necessários de todo o universo do ruído

aeronáutico para poder compreendê-lo, analisá-lo e mitigá-lo.

Palavras-chave: poluição, som, aviação, saúde, ambiente.

ABSTRACT

This article aims to present the importance of aeronautical noise and its occupational and

socioenvironmental impacts, as well as recent proposals to exert control of this type of noise

at all levels, since the number of aircraft, passengers and noise consequences only increase

exponentially, and it is necessary to promote a culture of awareness. Included in this article

will also be some basic concepts about anatomy and physics, regarding the hearing and sound.

A bibliographic review was made based on the articles of the referenced authors and searches

on sites of related organs. The results were the necessary knowledge of the entire universe of

aeronautical noise in order to understand, analyze and mitigate it

Keywords: pollution, sound, aviation, health, environment.

1 INTRODUÇÃO

O ruído tem sido objeto de estudo e avaliação de seus impactos, seja na esfera

ocupacional, seja na área socioambiental. No caso da aeronáutica, o ruído tem implicações

ocupacionais por afetar tripulantes e pessoal de solo, bem como impactos socioambientais

pelo aumento da poluição sonora provocada principalmente por pousos e decolagens de

1 Graduando em Ciências Aeronáuticas pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO)

[email protected] 2 Doutora em Química pela Universidade Federal de São Carlos(1996). Possui graduação em Física pela

Universidade Federal de Goiás(1988), mestrado em Física pela Universidade de São Paulo(1991).

[email protected]

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grandes aeronaves. Aeronaves militares geralmente operam em áreas afastadas de centros

urbanos e, portanto, não serão citadas, mas sim, as aeronaves civis e com o foco no ruído

proveniente das operações de pouso, decolagem, taxiamento e teste de motores.

A motivação da escolha do tema foi devido unicamente à falta de informações e

dados que a maioria da população e profissionais da área desconhecem e a falta de uma

cultura de saúde e segurança. Diante de tantos problemas ocasionados pelo ruído, é

chocante ainda, empresas e instituições o desprezarem em suas operações e políticas de

segurança. É necessário a promoção de uma cultura eficiente sobre os impactos do mesmo.

A importância do estudo do tema vincula-se as implicações em relação a audição

de trabalhadores e da população em geral, sendo adequada uma abordagem inicial sobre a

orelha como um órgão que possui limites de tolerância aos impactos variáveis ou contínuos,

e diante disso, promover uma cultura de conscientização acerca dos malefícios que o ruído

produz para as pessoas e ambientes envolvidos.

A metodologia utilizada foi uma revisão bibliográfica no período de junho de

2016 até dezembro de 2016 com base em artigos dos autores referidos na pesquisa e sítios

de órgãos relacionados com a área, como a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) e

Organização Mundial da Saúde (OMS). O tema será tratado com base em leis, pesquisas e

conceitos.

Para cumprir os objetivos propostos, este artigo está dividido em três partes. Na

primeira, será abordado o contexto histórico da aviação e a sua relação com o ruído. Na

segunda parte, os conceitos, impactos e prevenção, relativos à audição, som, ruído e saúde.

Na terceira parte, as soluções atuais e perspectivas para a diminuição do ruído aeronáutico.

O resultado obtido foi a soma de informações indispensáveis para a

compreensão e conscientização do tema, como conceitos sobre o som e anatomia do

aparelho auditivo, ferramentas para a identificação e controle do ruído, e novas soluções e

tecnologias para a diminuição do mesmo, tanto na área ocupacional quanto na área

socioambiental.

2 CONTEXTO HISTÓRICO DO RUÍDO AERONÁUTICO

Com menos de 150 anos de existência, a ciência da aeronáutica revolucionou o

transporte e impactou profundamente todos os tipos de relações existentes na sociedade. É

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uma indústria global que movimenta o mundo diretamente e indiretamente, seja na política,

economia, ambiente, educação, sociedade, etc. O mundo inteiro utiliza o modal aéreo, e por

ter atingido esse patamar abrangente, é de se esperar que hajam sérias consequências, e o

ruído aeronáutico é uma delas que será abordada.

Desde os meados do século 20, os recém-aviadores e profissionais da área nunca

deram a devida importância aos impactos socioambientais do ruído aeronáutico, primeiro

por não ser um fator influente de fato para a execução do voo, e segundo, devido às

tecnologias da época, que tornavam inevitável mitigá-lo. Por conta disso, não existiam

estudos sobre o tema, que veio a ser citado pela primeira vez na década de 70 pela

Organização da Aviação Civil Internacional (OACI), no anexo 16 de Proteção Ambiental.

A partir da segunda metade do século, com a globalização, avanço da tecnologia

e o aumento da demanda, foi inciada a era dos aviões a jato, que eram maiores e ruidosos.

Com o passar do tempo, os aeroportos que antes estavam a vários quilômetros de distância

da cidade, se encontravam praticamente face a face dela, por conta da urbanização

desenfreada e inconsequente. Paralelo a isso, houve um aumento no número de passagens

aéreas baratas, demandas, aviões, e é claro, dos problemas de audição relacionados ao ruído

aeronáutico, como as reclamações das vizinhanças em torno dos aeroportos, stress e perda

auditiva de profissionais da área. E então, o tema começou a ser estudado e pesquisado

constantemente nos últimos anos para tentar reduzir o problema do ruído e melhorar a

qualidade de vida da população e profissionais envolvidos, porém, sem comprometer

drasticamente as operações aeroportuárias.

3 CONCEITOS, IMPACTOS E PREVENÇÃO DO RUÍDO

A orelha externa ou órgão vestibulococlear, e a orelha interna, constituem os

órgãos do sistema auditivo, responsáveis pela audição e equilíbrio. A orelha externa coleta os

sons, agindo como um funil e direcionando o som para o conduto auditivo, que transmite os

sons captados para o tímpano, além de servir de câmara de ressonância ampliando algumas

frequências de sons. Depois, transmite os sons da membrana do tímpano às estruturas cheias

de líquido da orelha interna. A orelha interna é composta por uma parte anterior, relacionada

com a audição e denominada cóclea ou caracol, e uma parte posterior, relacionada ao

equilíbrio, e formada pelo vestíbulo e pelos canais semicirculares. A principal função da

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orelha interna é transformar as ondas de compressão em impulsos nervosos, para serem

interpretados pelo cérebro (DRAKE, 2011).

De um modo geral e básico, nosso sistema auditivo transforma as ondas

mecânicas em impulsos elétricos, o que o torna um sistema incrível, porém, como pode-se

ver, é extremamente sensível e suscetível a danos e perdas irreversíveis.

Figura 1: Partes da orelha. (UNESP, 2016)

O som é uma perturbação física em um meio (gasoso, líquido ou sólido), que pode

ser detectado pelo ouvido humano. O meio no qual a onda se propaga deve ter massa e

elasticidade, sendo assim, não existe propagação no vácuo (HARIS, 1979).

O ruído é definido como sendo um som indesejável, isto é, um som que incomoda

de alguma forma, o bem-estar psicológico, podendo ainda, dependendo da sua intensidade,

causar danos fisiológicos irreversíveis (ELLER, 2000). Ruído, de acordo com Bruel & Kjaer

(VALIM, 2006), pode ser definido como qualquer variação de pressão atmosférica que as

pessoas possam detectar. O ruído aeronáutico por sua vez é todo tipo de ruído proveniente da

operação de aeronaves ou dos equipamentos de apoio às aeronaves.

As diretrizes da Organização Mundial da Saúde juntamente com a Organization

for Economic Co-operation and Development – OMS/OECD (VALIM, 2006) apontam que:

Até 55 dB: é aceitável segundo a OMS (para o ruído próximo do limite da área

do aeroporto, e durante o dia);

Entre 55 e 60 dB: é esperado o registro de incômodo;

Entre 60 e 65 dB: o incômodo aumenta consideravelmente;

Acima de 65 dB: é esperado a ocorrência de sintomas e sérios danos à sáude;

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A maior parte da população acredita que os efeitos nocivos do ruído limitam-se

apenas à audição, como perda auditiva induzida, mas desconhecem que atingem também

todos os sistemas circulatório, respiratório e digestivo. Exposição prolongada ao ruído pode

causar dores de cabeça, cansaço, elevação da pressão arterial, perturbação do sono,

mascaramento da fala, perda de concentração na realização de determinada tarefa ou lazer e,

em alguns casos, stress crônico. O ruído pode produzir uma série de efeitos sociais e

comportamentais, onde muitas vezes são complexos e sutis, provocando mudanças no

comportamento cotidiano como: não utilizar a varanda, aumentar o volume da TV e rádio,

fechar as janelas, e alterações no humor, como infelicidade e depressão (BENEVIDES, 2013).

Alguns cuidados devem ser tomados para conservar a audição, como:

Afastar-se do ruído o máximo possível;

Usar EPI (Equipamento de Proteção Individual) quando o ruído for inevitável

ou não puder ser paralisado;

Reduzir o ruído em sua fonte.

Devido às particularidades que envolvem a atividade aeronáutica e seus níveis de

ruído, foram desenvolvidos em vários países nos últimos 50 anos, métodos específicos para a

avaliação do impacto sonoro gerado pela operação de aeronaves, o que inclui a frota, horário

de operação, rotas de pouso e decolagem, e outros fatores.

No Brasil, desde 1980, é adotado o IPR (Índice Ponderado de Ruído) para o

cálculo do incômodo produzido por aeronaves. Em 1994, a formulação do método foi

modernizada para permitir medições diretas em campo. O IPR é definido como sendo o nível

médio de ruído para um período de 24 horas com o objetivo de considerar a maior

sensibilidade da população (JAYME, 2003).

Abaixo, a reação das comunidades que residem próximas a aeródromos:

Menor que 65 IPR – Ambiente pouco ruidoso e nenhuma reclamação é esperada

Entre 65 e 75 IPR – Ambiente medianamente ruidoso e espera-se um grande

volume de reclamações por parte das comunidades

Maior que 75 IPR – Ambiente extremamente ruidoso e são esperadas

reclamações generalizadas por parte das comunidades, inclusive com possíveis

ações judiciais em prol da redução do ruído.

Levando em consideração que a maioria dos locais de uma cidade deve ter um

nível abaixo de 60 dB, segundo a norma número 10.151 da Associação Brasileira de normas

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técnicas, e que a área da aviação só cresce, é visível e necessária uma maior atenção ao ruído

aeronáutico, aos meios de mitigação e a promoção de uma devida cultura. O sobrevoo de um

avião pode causar níveis de ruído de até 100 dB dependendo da altitude e potência.

A surdez é um dos males mais famosos do ruído e que acomete a maioria dos

trabalhadores da área. É preciso algumas medidas para a prevenção, como: investimento em

maquinaria moderna e abandono da antiga; reparação e manutenção; instalação de barreiras

de som ou materiais absorventes; rotatividade dos trabalhadores nos locais mais ruidosos;

utilização de protetores auriculares e avaliação periódica da dose de exposição e audiometria

(BENEVIDES, 2013).

A longo prazo, a surdez incapacita bem mais cedo aqueles que trabalham num

ambiente ruidoso, gerando invalidez ocupacional precoce, e então, desemprego e dificuldades.

4 SOLUÇÕES ATUAIS E PERSPECTIVAS PARA O RUÍDO AERONÁUTICO

Com a globalização e o aumento da população, os centros urbanos

inconsequentemente cresceram horizontalmente, ficando vizinhos dos aeroportos, o que é

uma realidade não somente no Brasil, mas no mundo inteiro. Como não havia qualquer tipo

de previsão ou estudo, as reclamações e os problemas relacionados ao ruído forçaram os

órgãos a adotarem medidas de caráter remediativo.

A maioria dos aeroportos brasileiros foi implantada em áreas não povoadas e relativamente

distantes dos centros. Entretanto, as áreas localizadas no entorno dos aeroportos tornaram-se

pólos de elevado potencial de urbanização. Assim, percebeu-se uma migração populacional

bastante intensa para essas áreas ocasionando em um dos usos incompatíveis com as

atividades aeroportuárias, o uso residencial (PIMENTEL, 2009, p. 14).

Diante deste problema, a OACI instituiu quatro áreas para lidar com o ruído

aeronáutico: a redução do mesmo na fonte, o desenvolvimento de planos de controle do uso

do solo vizinho aos aeroportos, o desenvolvimento de procedimentos operacionais e a

imposição de restrições de operação.

A primeira, serve para novos projetos de aeronaves de acordo com os padrões de

certificação de ruídos, além de estabelecer um cronograma de metas para a diminuição de

aviões ruidosos. Isso tem surtido efeito, já que os novos aviões são 50% mais silenciosos que

os de 20 anos atrás, e os futuros projetos só tendem a diminuir mais ainda o ruído. A

disseminação de práticas sustentáveis pelo mundo também colabora no mercado aeronáutico e

o deixa mais competitivo, obrigando empresas a adotarem tais práticas. A seguir, uma imagem

da evolução das aeronaves civis ao longo dos anos e a diminuição do ruído em decibéis:

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Figura 2: Evolução das aeronaves civis ao longo dos anos e a diminuição do ruído (http://www.bdl.aero/en/bdl-

reports-en/aircraft-noise-report/)

A segunda área, tem como objetivo restringir o uso do solo vizinho aos aeroportos

para evitar danos ambientais e operacionais, e uma ferramenta bastante utilizada é o PZR

(Plano de Zoneamento de Ruído), que consiste basicamente de uma representação do

aeroporto com as curvas de ruído e os respectivos limites de restrições.

Figura 3: Exemplo básico de um plano de zoneamento de ruído. (BENÍCIO, 2013)

Com relação à figura 3, na área 1, por ser mais próxima da pista, o ruído

aeronáutico é mais intenso, sendo proibidas as atividades urbanas. Na área 2, o ruído é menos

intenso, sendo permitido a prática de algumas atividades urbanas, menos as relacionadas com

saúde, educação e cultura. Na área 3, os níveis de ruído são bem menores, sendo permitidas

atividades urbanas sem restrições (IAC, 2004).

As restrições consistem na proibição aos proprietários, de construir, elevar, plantar ou

realizar qualquer outra atividade em e sobre seu imóvel, que invada o espaço aéreo

circundante delimitado pela lei, a respeito da qual existem ditas proibições. Os

Evolução do ruído aeronáutico

Decibéis

Ano

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proprietários só podem construir, modificar ou fazer uso do imóvel com autorização

prévia do governo. (ANAC, 2016)

O aeroporto de Santarém, no Pará, é um bom exemplo dessa aplicação já que ele é

rodeado de uma vasta área da floresta amazônica, restrita ao domínio público justamente para

evitar danos ambientais e operacionais.

Figura 4: Aeroporto de Santarém rodeado de uma vasta área de floresta.

(http://www.panoramio.com/photo/40637143)

Na terceira área, se aplicam procedimentos operacionais, como selecionar

trajetórias que evitem o sobrevoo em áreas urbanas, desviar o tráfego excedente, adotar

técnicas para reduzir a potência do motor, entre outras.

Isto já está em prática no aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, onde uma

nova rota foi implantada, levando em consideração a emissão de ruído sobre áreas povoadas,

o tempo de voo das aeronaves, emissão de gases poluentes, aspectos operacionais de tráfego

aéreo, entre outros. O novo percurso é executado com maior precisão, em descidas contínuas,

menor variação de motores e curvas estabilizadas, o que significa um menor nível de ruído e

uma diminuição de consumo de combustível se comparado a outras rotas, e continua

preservando a capacidade de operação do aeroporto (SAC, 2016).

O impacto da nova rota é, principalmente, o de melhorar a qualidade de vida das

pessoas que vivem nas redondezas, sem acarretar prejuízos operacionais. A intenção é

expandir os estudos desse porte para outros aeroportos que apresentem problemas

semelhantes. (SAC, 2016)

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Figura 5: Nova rota do aeroporto Santos Dumont. (http://www.aviacao.gov.br/noticias/2016/01/nova-rota-para-

santos-dumont-reduz-ruido-de-avioes)

Na quarta e última área, se aplicam as restrições de operação, de acordo com

critérios ambientais. Podem-se restringir as operações de determinadas aeronaves, seja de dia

ou noite, em horários sensíveis, e as consequências são o não aproveitamento total da

infraestrutura aeroportuária e o bem-estar socioambiental da comunidade afetada. O aeroporto

de Congonhas, São Paulo, é um exemplo dessa aplicação de restrição de operação, já que o

mesmo é fechado após as 23 h e reaberto as 06 h, por determinação do Departamento de

Aviação Civil (DAC) em 1976, que atendeu a reivindicação dos moradores que há anos

reclamavam do barulho. É o terceiro aeroporto mais movimentado do Brasil com um pouso

ou uma decolagem a cada dois minutos e o seu entorno é predominantemente de área urbana,

como mostra a imagem a seguir:

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Figura 6: Aeroporto de Congonhas. (http://www.encontracampobelo.com.br/campo-belo/aeroporto-de-

congonhas-no-campo-belo.shtml)

Felizmente existem ainda mais soluções interessantes e atuais para a diminuição

do ruído aeronáutico sem prejudicar o funcionamento e as operações aeronáuticas.

Pesquisadores de um dos mais movimentados aeroportos do mundo, o Schiphol, na Holanda,

com 1600 voos diários, desenvolveram uma solução um tanto quanto exótica, porém, criativa

e fascinante: jardins geométricos projetados acusticamente para minimizar e impedir que os

ruídos aeronáuticos vindos do aeroporto atingissem o centro urbano. Descobriram que o

barulho diminuía nas épocas em que os agricultores da região aravam os campos, pois os

sulcos deixados na terra absorviam o ruído, que podia ser escutado a 30 km de distância. Com

os jardins acústicos, o som emitido dos aviões reflete nas superfícies geométricas de modo

que se dispersem na perpendicular, não atingindo o centro urbano. (AIRWAY, 2015)

A ideia atualmente está em prática somente neste aeroporto da Holanda e não

despertou interesse de ouras instituições pois demanda de uma grande área a uma certa distância

para construir os jardins acústicos, uma profunda pesquisa geográfica, um aeroporto não tão

distante do centro da cidade, e é claro, uma disputa de interesses. Isso torna o projeto

desmotivante, caro e inviável em certas cidades, mas não deixa de ser uma solução fascinante e

sustentável. O Brasil possui muitas cidades que se encaixam nos requisitos para a construção de

um jardim acústico, mas como a maioria das concessões de aeroportos são públicas, e aliado a

uma cultura de gestão corrupta, fica claro que isso jamais se implantará no Brasil.

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Figura 7: Jardim acústico. (http://airway.uol.com.br/jardim-holandes-reduz-pela-metade-ruido-de-aeroporto/)

Figura 8: Jardim acústico dispersando o ruído aeronáutico. (http://airway.uol.com.br/jardim-holandes-reduz-

pela-metade-ruido-de-aeroporto/)

Existem também, soluções que estão em fase de pesquisa para serem implantadas

futuramente na aviação, para diminuir mais ainda o problema do ruído aeronáutico. Entre elas,

está em pesquisa um dispositivo que seria implantado em pontos estratégicos da cidade, e que

efetua o cancelamento total do ruído, emitindo uma onda sonora inversamente igual à do mesmo.

Materiais de fuselagem altamente tecnológicos com a capacidade de absorver boa parte das ondas

sonoras, motores híbridos e elétricos, novas hélices mais silenciosas, placas aerodinâmicas para

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diminuir o arrasto parasita (e consequentemente o ruído) e novos designs de aviões também estão

em fase de pesquisa para a diminuição e/ou mitigação do ruído aeronáutico.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com toda essa munição de conceitos sobre a audição e saúde, contexto histórico da

área, novas tecnologias e metas para a diminuição do ruído, a previsão para o futuro do ruído

aeronáutico é animadora e competitiva. A disseminação de práticas sustentáveis e o devido

conhecimento das consequências provenientes do ruído aeronáutico faz com que se crie uma

consciência “verde” e uma demanda por serviços do tipo. E as indústrias e empresas da aviação

já começaram a largada, produzindo e oferecendo cada vez mais políticas, equipamentos e

aeronaves comprometidos com o ambiente, equilibrando qualidade de vida e baixo custo.

Baseado no contexto histórico, foi verificado que o problema do ruído aeronáutico

não teve a devida atenção e importância, que veio somente no final do século 20, e isso

resultou em atrasos em pesquisas do ruído aeronáutico, que somente hoje estão no auge da

implantação e eficácia.

Com a análise das consequências para saúde, como a perda auditiva e surdez, que

são extremamente nocivas, verificou-se a importância de conhecer, preservar e respeitar a

audição, que é um sistema extremamente sensível e que interage com outros sistemas do

nosso corpo.

As soluções e perspectivas para o ruído aeronáutico mostram também que este

problema pode ser diminuído mais ainda, e até mesmo ser mitigado por completo, sem

comprometer fatores operacionais e ambientais.

O próprio meio acadêmico e profissional da aeronáutica ainda não têm um

conhecimento sólido do tema e muito menos uma cultura de prevenção eficiente. A maioria da

população não sabe nem como proceder, quais órgãos contatar, quais as metas e direitos.

Muitos autores sempre aprofundam demais nos assuntos relacionados ao ruído,

sendo prolixos e não abrangendo outros temas. Este artigo veio pra ser o mais objetivo e

abrangente possível, com um conteúdo ideal para qualquer pessoa ter o conhecimento

necessário acerca do tema.

Com este artigo, espera-se proliferar a devida cultura à população e profissionais

da área, que poderão exigir cada vez mais das empresas aéreas e órgãos os devidos direitos,

operações e produtos para evitar ao máximo o ruído aeronáutico sem prejudicar as operações

aeronáuticas.

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