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Concorrência e Transparência na Gestão de Resíduos Professor Doutor Rui Teixeira Santos (Professor Associado do Instituto Superior de Gestão) Lisboa, 22 de Abril de 2015 9º FORUM NACIONAL DOS RESIDUOS

Concorrência na gestão de resíduos comunicação do prof. doutor Rui Teixeira Santos no Forum Nacional dos Residuos 22042015

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Concorrência e

Transparência na Gestão

de Resíduos Professor Doutor Rui Teixeira Santos

(Professor Associado do Instituto Superior de Gestão)

Lisboa, 22 de Abril de 2015

9º FORUM NACIONAL DOS RESIDUOS

O que é a Regulação?

Há muitas definições. (Baldwin and Cave, 1999)

Para os economistas, é sinónimo de intervenção dos governos nos mercados.

Em particular a distinção é feita entre contratos e regulação, sendo a primeira objecto do direito privado (comercial) e a segunda a imposta pelos Governos (Sheifer, 2011), a que chamei o Direito Público Económico.

Esta ultima disciplina do direito, com princípios próprios e com autonomia científica, foi reintroduzida nos currículos das Universidades Portuguesas na Pós-graduação em Administração Pública e Direito Público Económico, na Escola de Administração de Lisboa da ULHT, em 2009, e depois disso deu origem a alguns trabalhos por colegas meus da área do Direito Económico, a pós-graduações e Mestrados em outras Universidades.

Tenho para publicação do Princípios do Direito Público Económico. Uma matéria que se traduz no conjunto de normas sobre a intervenção publica do Estado nos mercados caracterizadas por três atributos: (1) normas imperativas ou compulsórias; (2) normas resguardadas por sanções criminais ou administrativas (contraordenações); e (3) divulgação pública, dentro do principio da Administração Aberta e tendo em vista a proteção do consumidor.

Este Direito tem evoluído de um contexto normativo da forma de comando-e-controlo regulatório para a definição dos termos e instrumentos dos mercados.

Nesta visão neoliberal mitigada do direito regulatório do ponto de vista económico a regulação justifica-se sempre que o mercado não for eficiente para corrigir as malformações criadas pela mão invisível no mercado (Adam Smith, 1776).

É dentro desta matéria cabe a disciplina jurídica da Concorrência.

As falhas de mercado

como ponto de partida da regulação

A noção económica neoclássica das falhas de mercado traduz-se nas

ineficiências que prejudicam o modelo da competição perfeita.

São típicas falhas de mercado: (1) monopólio; (2) informação assimétrica e (3)

externalidades.

É para corrigir a questão dos monopólios que se coloca o regime de controlo

das concentrações, no âmbito do direito da concorrência.

Notificação obrigatória de

concentração:

Na Lei da Concorrência (Lei 19/2012 de 8 de maio), as operac oes de concentrac a o

de empresas esta o sujeitas a notificaca o pre via quando preencham, em

alternativa, uma das seguintes condic oes: (1) quota igual ou superior a 50%, ou (2)

quota igual ou superior a 30% e inferior a 50%, desde que o volume de negócios

realizado individualmente em Portugal, por pelo menos duas das empresas, seja

superior a 5 milhoes de euros; ou (3) o conjunto das empresas que participam na

concentraca o tenha realizado em Portugal um volume de negócios superior a 100

milhoes de euros, desde que o volume de negócios realizado individualmente em

Portugal por, pelo menos duas dessas empresas, seja superior a 5 milhoes de euros.

Infelizmente, perdeu-se a oportunidade de eliminar o critério da quota de

mercado para notificac a o de concentrac oes a AdC, o que continua a gerar

inseguranca jurídica e algum descre dito do sistema, sobretudo em sectores

económicos – como claramente acontece no mercado de resíduos - onde o Espaço

Ibérico de mercado faz mais sentido, num contexto de Mercado Único europeu e

de livre estabelecimento.

Ausência de notificação

A ause ncia de notificac a o a AdC tem várias conseque ncias, designadamente:

(1) invalidade da transacca o;

(2) potencial aplicac a o de coimas a s empresas em causa e aos respectivosmembros dos orga os de administrac a o;

(3) possi vel investigac a o, ex officio, de uma concentraca o na o notificada;

e (4) private enforcement para compensac a o de danos.

Vem esta observação a propósito da Privatização da EGF, que marcaindiscutivelmente este 9º Forum Nacional de Resíduos.

Intervenção de terceiros

Os terceiros têm a possibilidade de intervenção no procedimento desde

que sejam titulares de direitos subjetivos ou interesses legalmente

protegidos. Todavia esta intervenção encontra-se limitada processualmente,

na medida em que o terceiro tem de se constituir formalmente como

interessado junto da AdC. Em regra, o terceiro tem de formular observações

no prazo de 10 dias úteis a contar da data da notificação da transação

projetada a AdC para que se possa constituir como interessado sob pena de

se extinguir o direito de intervir na audiência prévia. Só na o será assim se a

AdC “considerar que tal intervenção e relevante para a instrução do

procedimento e não prejudica a adoção de uma decisão expressa no prazo

legalmente fixado”

Investigação aprofundada

Em processos de maior complexidade merecedores de uma investigaca o

aprofundada (fase II) e concedida a oportunidade de as partes se

pronunciarem acerca do sentido prova vel da decisa o da AdC em sede de

audie ncia pre via (semelhante a “comunicac a o de objeccoes” da Comissa o

Europeia), a qual tem necessariamente de ser realizada no prazo ma ximo de

75 dias u teis a contar da data da notificaca o.

A exigência de contraditório decorre do quadro regulatório europeu. Recorde-

se que a competência em matéria de Mercado Interno é exclusiva da União

Europeia, nos termos dos artigos 101º a 109º do TFUE,

Concorrência nos Tratados da UE

Os artigos 101.º a 109.º do Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia (TFUE) contêm as regras de concorrência no mercado comum. Nos termos destes artigos, sãoproibidos os acordos entre empresas susceptíveis de restringir a concorrência. A empresa que detenha uma posição dominante está proibida de explorar de modoabusivo a sua posição e de, assim, afetar as trocas comerciais entre os Estados-Membros.

As concentrações e aquisições de dimensão comunitária são controladas pela ComissãoEuropeia, podendo até, em determinados casos, ser proibidas.

A concessão de auxílios estatais a determinados produtos ou empresas que provocamdistorções da concorrência encontra-se proibida, embora possa ser, em determinadoscasos, autorizada.

As regras de concorrência são igualmente aplicáveis às empresas públicas, aos serviçospúblicos e aos serviços de interesse geral. Estas mesmas regras podem ser revogadascaso a consecução dos objetivos destes serviços específicos fique comprometida.

Bibliografia: Rui Teixeira Santos (2014) Direito da União Europeia, Lisboa: Bnomics

Objetivos

O objetivo fundamental das regras de concorrência da UE consiste em

assegurar que a concorrência não é falseada. No entanto, a concorrência

efetiva não é um fim em si mesma, mas sim uma condição da realização de

um mercado interno livre e dinâmico, que funcione como um dos vários

instrumentos de promoção do bem-estar económico geral.

(Com a entrada em vigor do Tratado de Lisboa, a garantia de que a

concorrência não é falseada deixou de ser referida expressamente no

artigo 3.º do TFUE e, de acordo com o Protocolo n.º 27, passou a ser

abrangida pelo conceito de mercado interno.)

Base jurídica

Artigos 101.º a 109.º do TFUE, assim como o Protocolo n.º 27 relativo ao

mercado interno e à concorrência que declara que o objetivo do mercado

interno, tal como estabelecido no artigo 3.º, n.º 3, do TUE, inclui a

concorrência não falseada;

Regulamento (CE) n.º 139/2004 relativo ao controlo das concentrações

de empresas;

Artigos 37.º, 106.º e 345.º do TFUE no caso das empresas públicas, bem

como os artigos 14.º, 59.º, 93.º, 106.º, 107.º, 108.º e 114.º do TFUE no caso

dos serviços públicos, serviços de interesse geral e serviços de interesse

económico geral; Protocolo n.º 26 relativo aos serviços de interesse geral;

artigo 36.º da Carta dos Direitos Fundamentais.

Vem isto a propósito da atual

Privatização da EGF

1-Indicadores Financeiros EGF

- Volume de negócios: 173 ME

- EBITDA: 66 ME

- Ativo: 953 ME

- Dívida Financeira: 159 ME

- Capitais Próprios: 102 ME

Composição da EGF (participações

sociais)

- Valorminho: 51% (Volume de negócios: 1,5ME)

- Resulima: 51% (5,1ME)

- Resinorte: 51% (17ME)

- Suldouro: 60% (11ME)

- Resistrela: 63% (5ME)

- Ersuc: 51,5% (21ME)

- Valorlis: 51% (6ME)

- Valnor: 53,3% (10ME)

- Valorsul: 56,2% (60ME)

- Amarsul: 51% (16ME)

- Algar: 56% (16ME)

Consórcio vencedor do Concurso:

A Mota-Engil criou um consórcio com as espanholas Urbasser e a Novaflex: SUMA, tendo em vista a aquisição de 95% do capital da EGF. O negócio envolveu 149,9 ME tendo o consórcio ibérico assumido a dívida de 214 ME. A concessão será atribuída por 50 anos.

O segundo classificado no concurso público de Outubro de 2014, a FCC (Espanhola) quis sempre impugnar o concurso, tendo como aliados os 174 municípios acionistas da EGF e 8 empresas: a Fomentinvest Ambiente, a CespaPortugal, Hidurbe, Recolte, Rede Ambiente, Semural, Recivalongo e Retriaintegrando assim a lista de empresas que manifestaram reservas à operação de concentração.

A este negócio junta-se ainda um conjunto de ativos da Suma na área da prestação de serviços de limpeza, recolha (indiferenciada e seletiva) e transporte de resíduos urbanos e não urbanos que resultam de contratos com os municípios.

Argumentos de concorrência contra a

privatização da EGF

Neste contexto a Câmara Municipal de Lisboa e Loures assumiram a dianteira deste grupo contestatário, alegando que a privatização da EGF é contraria às regras da concorrência pois:

Práticas de exclusão, criação e elevação de barreiras à entrada ou exploração do mercado.

A posição de monopólio tem associada uma exclusividade de longa duração: 50 anos.

Riscos de captura regulatória

Os riscos da operação de concentração entre a ex-participada da AdP para a área dos resíduos urbanos e o consórcio liderado pela Mota-Engil constam do relatório da Autoridade da Concorrência.

Foi entregue em Novembro um processo que aponta a EGF como detentora de uma posição dominante e monopolista, passando em Fevereiro à fase de investigação aprofundada. A AdC deverá responder até ao final de julho princípios de Agosto. A privatização consagra a possibilidade de integração de remédios.

Racional da EGF Exigências da Integração Europeia em matéria de qualidade ambiental

Opção keynesiana do Governo do PSD apesar da ideologia dominante neoliberal: os fundos comunitários.

Visão especulativa do Estado no sector do ambiente e Recursos Naturais – do Prof. Fernando Real à Dra. Patrício Gouveia, passando pelo Prof. Carlos Borrego: o domínio do Estado.

O papel da Ecolmare de Portugal SA, na travagem do modelo estatista para o ambiente.

A fundação da ERSUC por decisão do eng. José Sócrates (secretário de Estado do Ambiente) em 2006: o conceito de parceria com o sector privado.

O poder do lobby do IPE – Instituto das Participações do Estado. O domínio do sector pelo EGF – empresas de estudos, transformada em sub-holding - em parceria com as autarquias locais.

A passagem do negócio para as Águas de Portugal com a extinção do IPE no atual governo.

A privatização do sector com a reprivatização da EGF.

A nossa legislação de Concorrência é

adaptada da Legislação e da doutrina

consolidada Europeia

As entidades reguladoras nacionais – ditas erradamente entidades

administrativas independentes – são uma espécie de de administração publica

europeia descentralizada, independente dos governos nacionais, mas

dependentes das associações europeias de congéneres, controladas direta ou

indiretamente pela euro-burocracia da CE. São em meu entender formas

embrionárias e não assumidas de uma administração publica federal da UE.

É nesse contexto que deve ser vista a atuação das entidades reguladoras no

âmbito do Estado-garante e do pós-Estado Social de Garantia. (Ver nesta

matéria o nosso artigo sobre o Estado Isonómico)

Liberalização e regulação independente

A criação de uma estrutura de mercado

O reforço da aplicação das regras da concorrência

A articulação entre regulação sectorial e regulação transversal da concorrência

INTRODUÇÃO GERAL

Em economia, concorrência corresponde à situação de um mercado em

que os diferentes produtores/vendedores de um determinado bem ou

serviço actuam de forma independente face aos

compradores/consumidores, com vista a alcançar um objectivo para o

seu negócio – lucros, vendas e/ou quota de mercado – utilizando

diferentes instrumentos, tais como os preços, a qualidade dos produtos,

os serviços após venda.

É um estado dinâmico de um mercado que estimula as empresas a

investir e a inovar com vista à maximização dos seus ganhos e ao

aproveitamento óptimo dos recursos escassos disponíveis Um mercado

concorrencial é aquele cujo funcionamento é feito de acordo com o livre

jogo da oferta e da procura, sem intervenção do Estado.

Ideia de Concorrência

Conhecida nos EUA

Chegou à Europa sobretudo por via da OCDE depois do pós-guerra e sobretudo

como resposta ao fim do Estado Social de Providência

Há medida que o Estado saía da Economia depois da crise dos anos 70 e com

a falência do Estado Social, dá-se o crescimento do sector privado e daí a

necessidade de regulação e concorrência

O primeiro impulso foi dado pelo Mercado Único Europeu e a necessidade

harmonização depois do desmantelamento dos antigos monopólios públicos e

de eliminação dos direitos especiais ou exclusivos nos Estados membros

Notar como a Troika aproveitou para impor o fim das golden shares em

Portugal em nome das normas europeias de livre concorrência.

Ideia de Regulação

Garantia de concorrência no mercado e entre os Estados membros no Mercado Interno da

UE

Correção das falhas de mercado

Controlo das Externalidades negativas

Protecção dos Consumidores

Cumprimento das obrigações de serviço publico (universalidade e a continuidade)

Objectivos da Regulação

Não é apenas por via regulamentar que se faz a regulação.

Muitas vezes a regulação é feita pela utilização de instrumentos não normativos em

sentido próprio, como por exemplo a fixação da taxa de juros.

Ou seja a regulação é mais ampla que a regulamentação

Depois do presidente Obama nos EUA, temos salientado o interesse do Nudging como

istrumento de politica publica tambem em materia de concorrencia.

Regulação e Regulamentação

Auto-regulação – é feita sob responsabilidade coletiva dos próprios regulados

ou seja entidades criadas pelos regulados (como acontece com as bolsas)

Hetero-regulação – configura uma regulação estadual externa e é a

assegurada por entidades criadas por iniciativa pública e dotadas de estatuto

jurídico-político.

De entre a hetero-regulação sobressai a regulação independente

Regulação

segundo o critério dos sujeitos

A regulação independente é assegurada por entidades independentes administrativas (a

administração pública independente) dotadas de estatuto próprio e autónomas do

Governo.

Ideia de autonomia da desisão técnica longe da contaminação política

Governo Federal Europeu

Regulação Independente

1. As entidades independentes têm Receitas Próprias

2. Limitação legal da intervenção governamental (em geral não estão sujeitas a

poder de intendência, como é o caso do BdP, CMVM, ANACON ou ISP)

3. Os gestores das entidadades têm um estatuto de independência:

A nomeação é feita pelo Conselho de Ministros (deverá proximamente ser

feita pelo PR ou ter confirmação parlamentar;

Os mandatos têm em norma 5 anos e só são renováveis uma vez;

Gestores particamente inamovíveis (excepto ponderosas razões pessoais,

como falhas graves ou incapacidade)

Meios que garantem

a autonomia do Regulador

Supervisão

Fiscalização

Regulamentação

Sanção

Regulação

Poderes do Regulador

1. Estabelecer regras, jurídicas e técnicas, relativamente à actividade

regulada, nomeadamente fixando padrões de qualidade do serviço (poder

regulador);

2. Acompanhar a atividade dos regulados através de relatórios e informações

(poder de supervisão);

3. Verificar o cumprimento de regras aplicáveis à actividade regulada por parte

dos regulados e aplicar sanções no caso de violação (poderes de fiscalização

e de sanção);

4. Praticar actos de licenciamento

Todos os estatutos incluem nas

actividades dos reguladores

1. A racionalidade subjacente a cada um dos tipos de regulação e de autoridade

por ela responsável

2. A sobreposição de competências e a complementaridade entre as autoridades

da concorrência e as autoridades de regulação sectorial

3. Os modelos de repartição de competências

Os modelos de relacionamento entre

As autoridades de Defesa da Concorrência

e as autoridades de Regulação Sectorial

O desenvolvimento da moderna regulação ou re-regulação da

economia e o surgimento das agências reguladoras passaram a

trazer à tona novos dilemas na esfera concorrencial

Assiste-se, hoje, à queda ou mitigação do modelo centralizado,

ou seja, à supressão de uma realidade em que as decisões do

Estado são tomadas do modo mais centralizado possível.

Vislumbra-se, em oposição a este modelo, o advento de um

Estado com perfil descentralizado, é dizer, cujas decisões são

tomadas, cada vez mais, de forma descentralizada,

multiplicando-se os núcleos de onde emana poder.

A DEFESA DA CONCORRÊNCIA NO

CENÁRIO PÓS-PRIVATIZAÇÃO

As agências reguladoras, fruto deste processo, encontram-se

submersas num sistema específico de regras composto por uma

linguagem muito peculiar (telecomunicações, energia elétrica,

petróleo, resíduos sólidos, etc.). Por tal razão, estão muito mais

próximas dos sectores regulados, possuindo maiores condições

para a aquilatação das informações necessárias dos problemas

concorrenciais ocorridos na área específica.

Sobre o fenómeno no direito norte-americano, afirma Tércio

Sampaio Ferraz Júnior: “A proliferação das agências nos Estados

Unidos encontra uma de suas explicações na alta complexidade

da atividade administrativa, impossível de ser dominada por

saberes genéricos e formais. Daí a ideia de especialização em

áreas de atuação demarcadas, nas quais o conhecimento técnico

exige uma formação especial.”

Serviços públicos, serviços de interesse geral

e serviços de interesse económico geral

(SIEG)

Recorde-se que, pela primeira vez, o artigo 14.º, segunda frase, do TFUE conferiu à União Europeia uma competência legislativa não exclusiva. Nos artigos 52.º e 114.º do TFUE, o processo legislativo ordinário atribui ao Parlamento Europeu e ao Conselho o papel de colegisladores em pé de igualdade. O artigo 14.º do TFUE é completado pelo Protocolo n.º 26, o qual salienta, uma vez mais, remetendo para o artigo 14.º do TFUE, a importância destes serviços e a sua diversidade, o amplo poder de apreciação das autoridades nacionais, regionais e locais, bem como o acesso universal a esses serviços. O artigo 14.º do TFUE adquire uma importância particular por via do artigo 36.º da Carta dos Direitos Fundamentais, que reconhece igualmente o acesso dos cidadãos da União aos SIEG, a fim de promover a coesão social e territorial da União.

O pacote regulamentar sobre os SIEG, atualmente em vigor, é aplicável desde 31 de janeiro de 2012 e consiste numa decisão da Comissão (JO L 7 de 11.1.2012, p. 3), bem como em duas comunicações (JO C 8 de 11.1.2012, p. 4, e JO C 8 de 11.1.2012, p. 15). A Diretiva 2006/111/CE continua a ser aplicável.

Parecer do CES sobre os serviços de

interesse económico geral (SIEG)

Na sua sessa o de 12 de Outubro de 2004, o Plena rio do CES, presidido por bruto

da Costa, decidiu preparar um Parecer de Iniciativa sobre Servicos de Interesse

Geral, em que os domínios a considerar eram os seguintes: Agua e Saneamento,

Electricidade e Ga s Natural, Telecomunicac oes, Servic os Postais, Transporte

Ae reo, Transporte Ferrovia rio, Transporte Pu blico Local e Regional e outros

servic os. Os serviços de Resíduos não foram analisados pelo CES.

O Artigo 4.o da Nova Lei da Concorrência sobre os Servicos de interesse

economico geral determina que:

1 — As empresas pu blicas, as entidades pu blicas empresariais e as empresas as quais o Estado tenha

concedido direi- tos especiais ou exclusivos encontram-se abrangidas pela presente lei, sem

prejuízo do disposto no nu mero seguinte.

2 — As empresas encarregadas por lei da gestao de servicos de interesse econo mico geral ou que

tenham a natureza de monopo lio legal ficam submetidas ao disposto na presente lei, na medida em

que a aplicac ao destas regras nao constitua obstaculo ao cumprimento, de direito ou de facto, da

missao particular que lhes foi confiada.

Os supervisores europeus cederam à tentação de exercer regulação de

forma branda nos mercados de ambiente, muitas vezes para atrair

investimento, por causa da competitividade, ou para proteger o próprio

sector público, como tem acontecido em Portugal

O ambiente de concorrência regulatória, mesmo entre os países europeus,

alimentou muitos dos problemas com que hoje se depara a Europa.

Concorrência Regulatória

Há uma nítida tensão que se traduz, por um lado, na tendência de sectorização do direito da Concorrência e, por outro, na necessidade de que haja unidade na política concorrencial. Em termospráticos, o que está em jogo é a aplicação cabal da Lei nº 19/2012 de 8 de maio que aprovou o novo regime jurídico da concorrência em Portugal à economia como um todo ou a pulverização da defesa da concorrência em setores específicos do mercado.

Esta dicotomia deverá aumentar nos próximos tempos, devido ao crescente processo de desenvolvimento técnico de setores específicos da economia e ao surgimento de uma regulação de nova índole.

Luciano Parejo Alfonso, define este momento como “la crisis de ‘adaptación’ (en lo orgánico y en lo funcional) del Estado a la evolución económico-social y las consecuentes nuevas necesidades de ‘dirección’, ‘organización’ y ‘ regulación’ que de ella resultan para el cumplimiento eficaz de la función de integración que a dicho Estado corresponde”.

Há, por outro lado, um grande risco na tendência de segmentação do direito da Concorrência, uma vez que os setores regulados se entrecruzam e estão como que conectados aos demaissetores da economia.

Dicotomia “centralização x descentralização”

do direito da concorrência

A convergência tecnológica entre os serviços tem promovido integração jamais

vista entre atividades antes completamente distintas. Além disto, uma

especialização exacerbada poderia aumentar os riscos da captura da agência

reguladora.

A experiência internacional e a literatura sugerem que a existência de uma

agência central preocupada com a obediência das regras da concorrência é

mais eficaz do que a fragmentação em vários órgão sectoriais. A consideração

desses elementos reveste-se de importância num momento no qual o governo

está a rever a legislação de defesa da concorrência. Se a missão de garantir a

livre concorrência for dividida entre os vários sectores da economia,

Portugal estará na contramão das tendências regulatórias europeias.

O crescimento da nova regulação para além da esfera dos serviços públicos

desestatizados, demonstrando autêntico reposicionamento do Estado face à

economia e exigiu uma nova postura da Autoridade da Concorrência diante

deste fenómeno.

Autoridade da Concorrência

1. Falta de controlo democrático

2. Efeito de captura: Para Floriano de AZEVEDO MARQUES, a captura

pode ser definida como a “possibilidade de mitigação da

imparcialidade do agente regulador em função da influência nas

suas decisões exercida pelos agentes de mercado, pelos

consumidores ou pela política circunstancial de governo. Não se

trata de prática de atos (clara e diretamente) proibidos pela

legislação, como corrupção e a prevaricação. Na verdade, são

muito sutis os desvios da regulação em favor de um ou outro

interesse, de maneira que se torna um tanto nebulosa a percepção

da quebra da imparcialidade ou da independência do ente

administrativo”. (A Nova Regulação dos Serviços Públicos, mimeo,

p. 25).

Obstaculos da regulação

1. Introdução

2. A criação de uma ordem jurídica concorrencial em Portugal

3. O novo regime jurídico português para a defesa da concorrência e as suas implicações nas relações entre a Autoridade da Concorrência e os reguladores sectoriais

4. A situação nos diferentes sectores em Portugal

5. Vantagens decorrentes da atuação da autoridade da concorrência e das autoridades reguladoras sectoriais

6. As autoridades reguladoras sectoriais e as autoridades da concorrência no direito comparado

7. A aplicação do Código do Procedimento Administrativo às entidades Reguladoras nomeadamente em matéria de Transparência e Abertura (Direito Administrativo Económico).

As relações entre a Autoridade da

Concorrência e as Autoridades Reguladoras

Sectoriais em Portugal e no direito comparado:

a separação funcional de tarefas

A Constituição da República Portuguesa consagra a concorrência não

falseada dentro das Incumbências prioritárias do Estado no domínio

económico, em consonância com a opção tomada pela economia de

mercado.

A desde o início dos anos 80 (Decreto-Lei n.º 371/93, de 29 de Outubro

estabelece a primeira Lei da Concorrência) que se verifica um relevo

crescente da concorrência equilibrada face à consolidação de uma

economia de mercado em Portugal.

A seguinte Lei da Concorrência – Lei n.º 18/2003 - teve como objectivo o

funcionamento eficiente dos mercados, a repartição eficaz dos recursos e os

interesses dos consumidores.

A actual lei da Concorrencia é a lei 19/2012 de 8 de Maio, tendo sido

criados tribunais especializados em regulação e concorrencia.

Regulação da

Concorrência em Portugal

O facto de que a maioria dos sectores regulados ser

dotada de imperfeições estruturais se, por um lado,

legitima a própria regulação, por outro, não pode

afastar a aplicação da concorrência. Esta é que precisa

ser aperfeiçoada com o aprimoramento das técnicas

de defesa da concorrência. É importante realçar que o

princípio da concorrência é uno e deriva de expressa

previsão constitucional art. 81º al. f) da CRP ou o art.

170 c/c o art. 173, § 4o. Da Constituição do Brasil) e

nos tratados internacionais (por exemplo o art 101º e o

artº 102º do Tratado da União Europeia)

Direito Constitucional Económico

Incumbe prioritariamente ao Estado no âmbito económico e social:

(…)

f) Assegurar o funcionamento eficiente dos Mercados, de modo a garantir a

equilibrada concorrência das empresas, a contrariar as formas de organização

monopolistas e a outras párticas lesivas do interesse geral.

Artigo 81º al. f) da CRP

(Imcumbências prioritárias do Estado)

Em Portugal, cabe à Autoridade da Concorrência a detecção,

investigação e punição deste tipo de práticas. Com efeito, a

Autoridade tem por missão assegurar a aplicação das regras de

concorrência em Portugal, no respeito pelo princípio da economia

de mercado e da livre concorrência, tendo em vista o

funcionamento eficiente dos mercados, um elevado nível de

progresso técnico e a prossecução do maior benefício para os

consumidores. Esta missão traduz-se em actividades que se vão

desenvolver ao longo de eixos prioritários de actuação. Um destes

eixos prende-se, precisamente, com o controlo das estratégias e

comportamentos empresariais, na sua vertente de combate às

práticas restritivas (colusão e abusos de posição dominante e de

dependência económica), de modo a assegurar um nível adequado

de concorrência nos mercados (cf. Estatutos da Autoridade da

Concorrência aprovados pelo Decreto-Lei n.º 10/2003, de 18 de

Janeiro).

Autoridade da Concorrência, criada pelo DL 10-2003 de 18/1/2003, tem poderes transversais sobre a economiaportuguesa para aplicação das regras de concorrência, emcoordenação com os órgãos de regulação sectorial e de acordo com as directivas da União Europeia.

A Autoridade da Concorrência tem por missão assegurar a aplicação das regras de concorrência em Portugal, no respeito pelo princípio da economia de mercado e de livreconcorrência, tendo em vista o funcionamento eficientedos mercados, um elevado nível de progresso técnico, a repartição eficaz dos recursos e os interesses dos consumidores, nos termos previstos na lei e nos Estatutos.

A Lei n.o 19/2012 de 8 de maio aprovou o novo regime juridico da concorre ncia, revogando as Leis n.os 18/2003, de 11 de junho, e 39/2006, de 25 de agosto, e procedeu a segunda alteraca o a Lei nº 2/99, de 13 de janeiro

Autoridade da Concorrência

Eixo 1: Controlar as estratégias empresariais (cooperativa e

concentrativa) e combater as práticas restritivas e abusivas com

vista a assegurar um nível adequado de concorrência

Eixo 2: Identificar mercados em que a concorrência esteja

restringida e promover soluções em benefício dos consumidores

e que melhorem a eficiência

Eixo 3: Elevar a consciência pública sobre o contexto e

benefícios da concorrência

Eixo 4: Proporcionar serviços ao governo, às agências de

regulação e à sociedade, conformes com os padrões das

melhores práticas a nível internacional

Eixo 5: Participação de elevada credibilidade nas Relações

Internacionais

Esta missão traduz-se em actividades que se desenvolvem de

acordo com os seguintes eixos prioritários de actuação:

Artigo 19.º Procedimentos sancionatórios

Sem prejuízo do disposto na presente lei, os procedimentos sancionatórios respeitam o

princípio da audiência dos interessados, o princípio do contraditório e demais princípios

gerais aplicáveis ao procedimento e à actuação administrativa constantes do Código do

Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 442/91, de 15 de Novembro, na

redacção resultante do Decreto-Lei n.º 6/96, de 31 de Janeiro, bem como, se for caso disso,

do regime geral dos ilícitos de mera ordenação social, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 433/82,

de 27 de Outubro, na redacção resultante da Lei n.º 109/2001, de 24 de Dezembro.

Artigo 20.º Procedimentos de supervisão

Salvo disposição em contrário da presente lei, as decisões adoptadas pela Autoridade ao

abrigo dos poderes de supervisão que lhe são conferidos por lei seguem o procedimento

administrativo comum previsto no Código do Procedimento Administrativo.

Artigo 21.º Procedimento de regulamentação

1 - Antes da emissão de qualquer regulamento com eficácia externa, adoptado ao abrigo dos

poderes de regulamentação previstos no n.º 4 do artigo 7.º dos respectivos estatutos, a

Autoridade deverá proceder à divulgação do respectivo projecto na Internet, para fins de

discussão pública, durante um período que não deverá ser inferior a 30 dias.

2 - No relatório preambular dos regulamentos previstos no número anterior a Autoridade

fundamentará as suas opções, designadamente com referência às opiniões expressas durante

o período de discussão pública.

1. Empresas (inclusive públicas, plenamente equiparadas às empresas

privadas na sujeição às regras de concorrência);

2. Os Estados-Membros da UE, no que toca à sua intervenção na

actividade económica:

1. Auxílios do Estado: medidas públicas selectivas que confiram vantagens

sem contrapartida – por exemplo, subsídios; benefícios fiscais;

garantias;

2. Relações com empresas/sectores objecto de direitos

especiais/exclusivos; monopólios fiscais: por exemplo, em sectores

regulados – telecomunicações, energia, serviços postais, transportes;

Destinatários das normas de concorrência:

1. Práticas comerciais leais para todos

Uma concorrência eficaz no fornecimento de serviços de recolha e

tratamento de resisuos sólidos reduz os preços, aumenta a qualidade

e permite uma escolha mais vasta para os consumidores. Além disso,

permite que a inovação tecnológica progrida. Na aplicação destas

regras deve ter em conta o interesse em promover a inovação,

normas uniformizadas ou o desenvolvimento das pequenas empresas

neste sector.

Princípios da Concorrência

2. A concorrência tem de ser leal

Ao abrigo das regras da concorrência, as empresas de Resíduos Sólidos não

podem fixar os preços ou repartir os mercados entre si. Se uma empresa tem

uma posição dominante num determinado mercado, não pode abusar do seu

poder para afastar os seus concorrentes. As grandes empresas não podem

realizar fusões se tal lhes conferir uma posição dominante no mercado.

Porém, na prática, só poucas fusões são bloqueadas. As grandes empresas que

tencionam proceder a uma operação de fusão necessitam da autorização. O

critério aplicável é o volume de negócios obtido no território e no caso

português da quota de mercado.

Princípios Europeus da Concorrência

3. Os grandes não podem explorar os pequenos

Quando as grandes empresas têm negócios com pequenas empresas,

não podem utilizar o seu poder de negociação para dificultar as

relações entre os seus fornecedores ou clientes e a concorrência. A

AdC pode aplicar coimas às empresas por todas estas práticas.

Abrange tambem as práticas na àrea dos Resíduos Sólidos

Princípios da Concorrência

4. Auxílios estatais só se forem úteis

A Comissão Europeia acompanha de perto os auxílios concedidos pelos

Estados-Membros às empresas ("auxílios estatais"). Estes auxílios podem

assumir diversas formas: empréstimos e subvenções, desagravamentos

fiscais, fornecimento de serviços na area do ambiente a preços preferenciais

e garantias públicas que permitem melhorar a notação de crédito de uma

empresa face aos seus concorrentes. Não são permitidos auxílios estatais,

seja sob que forma for, a empresas em dificuldade que não tenham

perspectivas de viabilidade económica.

Neste Particular a EGF e as Águas de Portugal beneficiaram de condições

excepcionais no inicio do processos e integração europeia de Portugal. Mas

hoje algumas da práticas anticoncorrenciais impostas pelo Governo do

professor Cavaco Silva já não seriam possíveis.

Princípios da Concorrência

5. As excepções que confirmam a regra

São admitidas algumas excepções no Direito Europeu. A Comissão

Europeia pode permitir que as empresas cooperem no desenvolvimento

de uma norma técnica única para todo o mercado. Pode permitir que as

pequenas empresas cooperem entre si se essa cooperação aumentar a

sua capacidade para competir com as grandes empresas. Os auxílios

estatais são admissíveis se houver perspectivas efectivas de uma

empresa em dificuldade, ou uma nova empresa, se tornar rentável e se a

concessão desses auxílios for no interesse da União Europeia (por

exemplo, porque ajudam a manter ou a criar postos de trabalho).

Os principais aspectos a ter em conta são se os consumidores são

beneficiados ou se outras empresas são prejudicadas. Os auxílios à

investigação e à inovação, ao desenvolvimento regional ou às pequenas e

médias empresas são frequentemente autorizados porque correspondem

aos objectivos gerais da UE.

Princípios da Concorrência

Mecanismos de controlo

Os vastos poderes da Comissão para investigar e pôr termo às

infracções às regras de concorrência da EU estão sujeitos ao

controlo jurisdicional do Tribunal de Justiça das Comunidades

Europeias. As empresas e os Estados-Membros da UE

interpõem regularmente recursos, às vezes com êxito, contra

as decisões da Comissão.

No mercado nacional cabe a regulação à AdC existindo os

Tribunais da Concorrência (Santarém) e o recurso para

Tribunais superiores.

Princípios da Concorrência

A União Europeia está a abrir progressivamente à concorrência os

mercados nacionais dos transportes, da energia, das telecomunicações

e dos serviços postais. A liberalização dos serviços nestes sectores de

base permite aumentar a sua competitividade, melhorando a respectiva

qualidade e fazendo com que eles possam tornar-se acessíveis a um

preço mais abordável por todos os consumidores. A União vigia a

transposição pelos Estados-Membros e a aplicação efectiva do conjunto

das disposições que têm por objectivo a liberalização destes sectores

específicos. É o caso do sector dos Residuos Sólidos urbanos, industriais

e perigosos.

Disposições aplicáveis aos sectores específicos

TÍTULO VII

AS REGRAS COMUNS RELATIVAS À CONCORRÊNCIA, À FISCALIDADE E À APROXIMAÇÃO DAS LEGISLAÇÕES

CAPÍTULO 1

AS REGRAS DE CONCORRÊNCIA

SECÇÃO 1

AS REGRAS APLICÁVEIS ÀS EMPRESAS

Artigo 101º

1.São incompatíveis com o mercado comum e proibidos todos os acordos entre empresas, todas as decisões de associações de empresas e todas as práticas concertadas que sejam susceptíveis de afectar o comércio entre osEstados-Membros e que tenham por objectivo ou efeito impedir, restringir ou falsear a concorrência no mercadocomum, designadamente as que consistam em:

a) Fixar, de forma directa ou indirecta, os preços de compra ou de venda, ou quaisquer outras condições de transacção;

b)Limitar ou controlar a produção, a distribuição, o desenvolvimento técnico ou os investimentos;

c)Repartir os mercados ou as fontes de abastecimento;

d)Aplicar, relativamente a parceiros comerciais, condições desiguais no caso de prestações equivalentescolocando-os, por esse facto, em desvantagem na concorrência;

e)Subordinar a celebração de contratos à aceitação, por parte dos outros contraentes, de prestaçõessuplementares que, pela sua natureza ou de acordo com os usos comerciais, não têm ligação com o objectodesses contratos.

Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia

2. São nulos os acordos ou decisões proibidos pelo presente artigo.

3. As disposições no nº 1 podem, todavia, ser declaradas inaplicáveis:

-a qualquer acordo, ou categoria de acordos, entre empresas,

-a qualquer decisão, ou categoria de decisões, de associações de empresas,

e

-a qualquer prática concertada, ou categoria de práticas concertada que contribuam para melhorar a

produção ou a distribuição dos produtos ou para promover o progresso técnico ou económico,

contanto que aos utilizadores se reserve uma parte equitativa do lucro daí resultante, e que:

a) Não imponham às empresas em causa quaisquer restrições que não sejam indispensáveis à consecução desses

objectivos;

b)Nem dêem a essas empresas a possibilidade de eliminar a concorrência relativamente a uma parte substancial

dos produtos em causa.

TFUE

Artigo 102º do TFUE

É incompatível com o mercado comum e proibido, na medida em que tal seja

susceptível de afectar o comércio entre os Estados-Membros, o facto de uma ou

mais empresas explorarem de forma abusiva uma posição dominante no mercado

comum ou numa parte substancial deste.

Estas práticas abusivas podem, nomeadamente, consistir em:

a) Impor, de forma directa ou indirecta, preços de compra ou de venda ou outras

condições de transacção não equitativas;

b) Limitar a produção, a distribuição ou o desenvolvimento técnico em prejuízo

dos consumidores;

c) Aplicar, relativamente a parceiros comerciais, condições desiguais no caso de

prestações equivalentes colocando-os, por esse facto, em desvantagem na

concorrência;

d) Subordinar a celebração de contratos à aceitação, por parte dos outros

contraentes, de prestações suplementares que, pela sua natureza ou de acordo

com os usos comerciais, não têm ligação com o objecto desses contratos.

Artigo 103º

1. Os regulamentos ou diretivas necessa rios a aplicaca o dos princi pios

constantes dos artigos 101.o e 102.o sera o estabelecidos pelo Conselho, sob

proposta da Comissa o, apos consulta do Parlamento Europeu.

2. Os regulamentos e as diretivas referidas no n.o 1 te m por finalidade,

designadamente:

a)Garantir o respeito das proibic oes referidas no nº 1 do artigo 101.o e no artigo 102.o,

pela cominac a o de multas e adstric oes;

b) Determinar as modalidades de aplicac a o do nº 3 do artigo 101.o, tendo em conta a

necessidade, por um lado, de garantir uma fiscalizac a o eficaz e, por outro, de

simplificar o mais possi vel o controlo administrativo;

c) Definir, quando necessa rio, o a mbito de aplicac a o do disposto nos artigos 101.o e

102.o, relativamente aos diversos sectores economicos;

d) Definir as func oes respetivas da Comissa o e do Tribunal de Justic a da Unia o Europeia

quanto a aplicac a o do disposto no presente nu mero;

e) Definir as relac oes entre as legislac oes nacionais e as disposic oes constantes da

presente secc a o ou as adoptadas em execuc a o do presente artigo.

Artigo 104ºdo TFUE

Até à data da entrada em vigor das disposições adoptadas em execução do artigo

103.o, as autoridades dos Estados-Membros decidirão sobre a admissibilidade dos

acordos, decisões e práticas concertadas e sobre a exploração abusiva de uma

posição dominante no mercado comum, em conformidade com o direito dos seus

próprios países e com o disposto no artigo 81.o, designadamente no n.o 3, e no

artigo 102.o

Artigo 105.o do TFUE

1. Sem prejuízo do disposto no artigo 104.o, a Comissão velará pela aplicação dos

princípios enunciados nos artigos 101.o e 102.o. A pedido de um Estado-Membro, ou

oficiosamente, e em cooperação com as autoridades competentes dos Estados-

Membros, que lhe prestarão assistência, a Comissão instruirá os casos de presumível

infracção a estes princípios. Se a Comissão verificar que houve infracção, proporá os

meios adequados para se lhe pôr termo.

2. Se a infracção não tiver cessado, a Comissão declarará verificada essa infracção

aos princípios, em decisão devidamente fundamentada. A Comissão pode publicar a

sua decisão e autorizar os Estados-Membros a tomarem as medidas, de que fixará as

condições e modalidades, necessárias para sanar a situação.

Artigo 106.o do TFUE

1. No que respeita às empresas públicas e às empresas a que concedam

direitos especiais ou exclusivos, os Estados-Membros não tomarão nem

manterão qualquer medida contrária ao disposto no presente Tratado,

designadamente ao disposto nos artigos 18.o e 101.o a 109.o, inclusive.

2. As empresas encarregadas da gestão de serviços de interesse

económico geral ou que tenham a natureza de monopólio fiscal ficam

submetidas ao disposto no presente Tratado, designadamente às regras

de concorrência, na medida em que a aplicação destas regras não

constitua obstáculo ao cumprimento, de direito ou de facto, da missão

particular que lhes foi confiada. O desenvolvimento das trocas comerciais

não deve ser afectado de maneira que contrarie os interesses da

Comunidade.

3. A Comissão velará pela aplicação do disposto no presente artigo e

dirigirá aos Estados-Membros, quando necessário, as directivas ou

decisões adequadas.

SECÇÃO 2

OS AUXÍLIOS CONCEDIDOS PELOS ESTADOS

Artigo 107.o do TFUE

1. Salvo disposição em contrário do presente Tratado, são incompatíveis com o

mercado comum, na medida em que afectem as trocas comerciais entre os

Estados-Membros, os auxílios concedidos pelos Estados ou provenientes de recursos

estatais, independentemente da forma que assumam, que falseiem ou ameacem

falsear a concorrência, favorecendo certas empresas ou certas produções.

2. São compatíveis com o mercado comum:

a)Os auxílios de natureza social atribuídos a consumidores individuais com a

condição de serem concedidos sem qualquer discriminação relacionada com a

origem dos produtos;

b)Os auxílios destinados a remediar os danos causados por calamidades naturais ou

por outros acontecimentos extraordinários;

c)Os auxílios atribuídos à economia de certas regiões da República Federal da

Alemanha afectadas pela divisão da Alemanha, desde que sejam necessários para

compensar as desvantagens económicas causadas por esta divisão.

3. Podem ser considerados compatíveis com o mercado interno:

a) Os auxílios destinados a promover o desenvolvimento

económico de regiões em que o nível de vida seja anormalmente baixo ou em que

exista grave situação de subemprego, bem como o desenvolvimento das regiões

referidas no artigo 349.o, tendo em conta a sua situação estrutural, económica e

social;

b)Os auxílios destinados a fomentar a realização de um projeto importante de

interesse europeu comum, ou a sanar uma perturbação grave da economia de um

Estado-Membro

c) Os auxílios destinados a facilitar o desenvolvimento de certas atividades ou

regiões económicas, quando não alterem as condições das trocas comerciais de

maneira que contrariem o interesse comum;

d) Os auxílios destinados a promover a cultura e a conservação do património,

quando não alterem as condições das trocas comerciais e da concorrência na

União num sentido contrário ao interesse comum;

e) As outras categorias de auxílios determinadas por decisão do Conselho, sob

proposta da Comissão.

Artigo 108.o do TFUE

(ex-artigo 88.o TCE)

1. A Comissa o procedera , em cooperaca o com os Estados-Membros, ao exame permanente dos regimes de auxi lios existentes nesses Estados. A Comissa o propora tambe m aos Estados-Membrosas medidas adequadas, que sejam exigidas pelo desenvolvimento progressivo ou pelofuncionamento do mercado interno.

2. Se a Comissa o, depois de ter notificado os interessados para apresentarem as suasobservacoes, verificar que um auxi lio concedido por um Estado ou proveniente de recursosestatais na o e compati vel com o mercado interno nos termos do artigo 107.o, ou que esse auxi lioesta a ser aplicado de forma abusiva, decidira que o Estado em causa deve suprimir ou modificaresse auxi lio no prazo que ela fixar.

Se o Estado em causa na o der cumprimento a esta decisa o no prazo fixado, a Comissa o ouqualquer outro Estado interessado podem recorrer diretamente ao Tribunal de Justica da Unia oEuropeia, em derrogaca o do disposto nos artigos 258.o e 259.o.

A pedido de qualquer Estado-Membro, o Conselho, deliberando por unanimidade, pode decidir queum auxi lio, institui do ou a instituir por esse Estado, deve considerar-se compati vel com o mercadointerno, em derrogaca o do disposto no artigo 107.o ou nos regulamentos previstos no artigo 109.o, se circunsta ncias excecionais justificarem tal decisa o. Se, em relaca o a este auxi lio, a Comissa otiver dado ini cio ao procedimento previsto no primeiro para grafo deste numero, o pedido do Estado interessado dirigido ao Conselho tera por efeito suspender o referido procedimento ateque o Conselho se pronuncie sobre a questa o.

Todavia, se o Conselho na o se pronunciar no prazo de tres meses a contar da data do pedido, a Comissa o decidirá.

Lei da Concorrência

Lei 19/2012 de 8 de maioPraticas restritivas da concorrencia

SECC AO I

Tipos de praticas restritivas

Artigo 9º

Acordos, praticas concertadas e decisoes de associac oes de empresas

1 — Sao proibidos os acordos entre empresas, as praticas concertadas entre empresas e as deciso es de associac o es

de empresas que tenham por objeto ou como efeito impedir, falsear ou restringir de forma sensivel a concorre nciano todo ou em parte do mercado nacional, nomeadamente os que consistam em:

a) Fixar, de forma direta ou indireta, os prec os de compra ou de venda ou quaisquer outras condic o es de transac ao;

b) Limitar ou controlar a produc ao, a distribuicao, o desenvolvimento te cnico ou os investimentos;

c) Repartir os mercados ou as fontes de abastecimento;

d) Aplicar, relativamente a parceiros comerciais, condic o es desiguais no caso de prestaco es equivalentes, colocando-os, por esse facto, em desvantagem na concorre ncia;

e) Subordinar a celebrac ao de contratos a aceitac ao, por parte dos outros contraentes, de prestac o essuplementares que, pela sua natureza ou de acordo com os usos comerciais, nao te m ligac ao com o objeto desses contratos.

2 — Exceto nos casos em que se considerem justifica- dos, nos termos do artigo seguinte, sao nulos os acordos entre empresas e as deciso es de associac o es de empresas proibidos pelo nu mero anterior.

Artigo 10º da Lei 19/2012 de 8 de maio

Justificac a o de acordos, pra ticas concertadas e deciso es de associac o es de empresas

1 — Podem ser considerados justificados os acordos entre empresas, as pra ticas concertadas entre empresas e as deciso es de associac oes de empresas referidas no artigo anterior que contribuam para melhorar a produc a o ou a distribuic a o de bens ou servic os ou para promover o desenvol- vimento tecnico ou economico desde que, cumulativamente:

a) Reservem aos utilizadores desses bens ou servic os uma parte equitativa do benefi cio dai resultante;

b) Na o imponham a s empresas em causa quaisquer restric oes que na o sejam indispensa veis para atingir esses objetivos;

c) Na o deem a essas empresas a possibilidade de eliminar a concorre ncia numa parte substancial do mercado dos bens ou servic os em causa.

2 — Compete a s empresas ou associac oes de empresas que invoquem o benefi cio da justificac a ofazer a prova do preenchimento das condic oes previstas no numero anterior.

3 — Sa o considerados justificados os acordos entre empresas, as pra ticas concertadas entre empresas e as deci- soes de associac oes de empresas proibidos pelo artigo anterior que, embora na o afetando o come rcio entre os Estados membros, preencham os restantes requisitos de aplicac ao de um regulamento adotado nos termos do disposto no nº 3 do artigo 101º do Tratado sobre o Funcionamento da Unia o Europeia.

4 — A Autoridade da Concorre ncia pode retirar o beneficio referido no numero anterior se verificar que, em determinado caso, uma pra tica abrangida produz efeitos incompativeis com o disposto no nº 1.

Artigo 11º da Lei 19/2012 de 8 de maio

Abuso de posic a o dominante

1 — E proibida a explorac a o abusiva, por uma ou mais empresas, de uma posica odominante no mercado nacional ou numa parte substancial deste.

2 — Pode ser considerado abusivo, nomeadamente:

a) Impor, de forma direta ou indireta, precos de compra ou de venda ou outras condicoes de transac ao na o equitativas;

b) Limitar a produc a o, a distribuica o ou o desenvolvimento tecnico em prejuizo dos consumidores;

c) Aplicar, relativamente a parceiros comerciais, condicoes desiguais no caso de prestacoes equivalentes, colocando-os, por esse facto, em desvantagem na concorrencia;

d) Subordinar a celebrac a o de contratos a aceitacao, por parte dos outros contraentes, de prestacoes suplementares que, pela sua natureza ou de acordo com os usos comerciais, na o tenham ligaca o com o objeto desses contratos;

e) Recusar o acesso a uma rede ou a outras infraestruturas essenciais por si controladas, contra remuneracao adequada, a qualquer outra empresa, desde que, sem esse acesso, esta na o consiga, por razoes de facto ou legais, operar como concorrente da empresa em posica o dominante no mercado a montante ou a jusante, a menos que esta u ltima demonstre que, por motivos operacionais ou outros, tal acesso e impossivel em condicoes de razoabilidade.

Artigo 12º da Lei 19/2012 de 8 de maio

Abuso de depende ncia economica

1 — E proibida, na medida em que seja suscetivel de afetar o funcionamento do mercado ou a estrutura da concorrencia, a exploraca o abusiva, por uma ou mais empresas, do estado de dependencia econo mica em que se encontre relativamente a elas qualquer empresa fornecedora ou cliente, por na o dispôr de alternativa equivalente.

2 — Podem ser considerados como abuso, entre outros, os seguintes casos:

a) A adopca o de qualquer dos comportamentos previstos nas alineas a) a d) do nº 2 do artigo anterior;

b) A rutura injustificada, total ou parcial, de uma relaca o comercial estabelecida, tendo em considerac a o as relacoes comerciais anteriores, os usos reconhecidos no ramo da atividade econo mica e as condicoes contratuais estabelecidas.

3 — Para efeitos do nº 1, entende-se que uma empresa na o dispoe de alternativa equivalente quando:

a) O fornecimento do bem ou servico em causa, nomeadamente o servico de distribuica o, for assegurado por um nu mero restrito de empresas; e

b) A empresa na o puder obter identicas condic oes por parte de outros parceiros comerciais num prazo razoa vel.

As práticas individuais restritivas do comércio estão reguladas pelo Decreto-

Lei n.º 370/93, de 29 de Outubro, com as alterações introduzidas pelo

Decreto-Lei n.º 140/98, de 16 de Maio.

Práticas Restritivas do Comércio

As vendas de bens a preço abaixo do preço de custo ou vendas com

prejuízo integram-se nas denominadas práticas individuais restritivas

do comércio, designadamente, no artigo 3.º do Decreto-Lei n.º

370/93, de 29 de Outubro (com as alterações introduzidas pelo

Decreto-Lei n.º 140/98, de 16 de Maio)

Este comportamento consiste em vender, ou oferecer para venda, a

um agente económico ou a um consumidor, um produto por um

preço inferior ao de compra acrescido dos impostos aplicáveis a essa

venda e dos encargos relacionados com o transporte.

Expectavelmente este comportamento é susceptível de prejudicar

tanto os produtores como os concorrentes do vendedor, sem

contribuir para o bem-estar geral do consumidor.

Vendas com prejuízo

Programa de Clemência

Consagrado na actual lei de concorrência para o primeiro delator

Os preços ou condições de venda discriminatórios integram-se

nas denominadas práticas individuais restritivas do comércio,

designadamente, no artigo 1.º do Decreto-Lei n.º 370/93, de 29

de Outubro (com as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei n.º

140/98, de 16 de Maio).

Esta norma estabelece que é proibido a um agente económico

praticar em relação a outro agente económico preços ou

condições de venda discriminatórios relativamente a prestações

equivalentes.

Preços ou Condições de Venda

As tabelas de preços e condições de venda são consideradas no

artigo 2.º do Decreto-Lei n.º 370/93, de 29 de Outubro (com as

alterações introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 140/98, de 16 de

Maio).

O supra referido artigo 2.º do Decreto-Lei n.º 370/93 visa

obrigar os prestadores de serviços a possuir tabelas de preços

com as correspondentes condições de venda.

A existência de tabelas de preços com as correspondentes

condições de venda permite uma maior transparência nas

relações entre os agentes económicos, contribuindo para uma

leal concorrência entre as empresas

Tabelas de preços

e Condições de preço

Diagnóstico do sector regulatório

• Precariedade de instrumentos, utilizados de forma incorreta e até

improvisada do modelo.

• Uso deficiente dos instrumentos de transparência e consulta pública

• Baixa accountability

• Risco de Captura – baixo nível de autonomia e profissionalização

• Nível de qualidade da regulamentação insuficiente

• Absorção indevida de responsabilidades de formulação de políticas:

- omissão ministerial

- reduzida disponibilidade e capacidade de Recursos Humanos

das estruturas govermentais

- Uso de poder concedente pelas Agencias e Reguladores conferido por lei

• Estrutura funcional incompleta

• Inadequação dos quadros de pessoal nas entidades Reguladoras e no

Governo.

Ver ainda

http://www.slideshare.net/Ruiteixeirasantos/direito-da-concorrencia-

professor-doutor-rui-teixeira-santos-isg-2014

Este PPTX pode ser descarregado em

http://www.slideshare.net/Ruiteixeirasantos/concorrencia-na-gestao-de-

residuos-comunicacao-do-prof-doutor-rui-teixeira-santos-22042015

Muito Obrigado

Prof. Doutor Rui Teixeira Santos

Instituto Superior de Gestão

Lisboa