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A474 Alves, Silvio Dutra O cumprimento total das predições minuciosas do 11º capítulo de Daniel./ Silvio Dutra Alves. – Rio de Janeiro, 2016. 70p.; 14,8x21cm 1. Profecia. 2. Predição. 3. Onisciência. 4. Daniel. I. Título. CDD 224
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Introdução
Nós temos em todo o livro do profeta Daniel,
uma comprovação da existência de Deus, do seu completo domínio sobre todas as nações, e
sobretudo a comprovação de que tem um plano
de redenção para o Seu povo através do Messias
prometido.
Temos especialmente as profecias relativas às revelações que foram feitas diretamente a
Daniel sobre as circunstâncias históricas que
haveriam depois dos seus dias, até o tempo que
antecederia a manifestação do Messias ao mundo, principalmente durante o reino
daqueles que controlariam os reinos dominados
por Alexandre, o Grande, depois dele.
É impressionante o cumprimento cabal de todas as minúcias e detalhes da revelação que fora dada a Daniel, e sobre a qual discorreu
principalmente Flávio Josefo em seu livro
intitulado História dos Hebreus.
O Comentário completo de Mattew Henry em inglês, em domínio público, apresenta uma
interpretação bastante abrangente da citada profecia, e seria uma grande omissão deixar de
apresentá-la em nossa língua portuguesa.
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O conjunto das revelações que foram feitas por Deus através do profeta Daniel têm por alvo,
principalmente servir de consolo e incentivo
para o Seu povo perseverar na prática da santidade, a par de todas as aflições que terá que
padecer enquanto estiver sob os governos deste
mundo, até que o Messias venha para
estabelecer o seu reino de paz e de justiça, em sua forma final; pois o domínio e o poder
pertencem ao Senhor, que jamais deixará de
exercer Seu controle sobre o encaminhamento
das ocorrências históricas, até que tudo esteja consumado.
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Interpretação do capítulo XI de Daniel
Neste capítulo, o anjo Gabriel realiza sua promessa feita a Daniel no capítulo anterior, que
lhe iria "mostrar o que deveria acontecer ao seu
povo nos últimos dias, de acordo com o que foi
"escrito nas escrituras da verdade".
Ele apresenta aqui, muito particularmente a sucessão dos reis da Pérsia e da Grécia, e os
assuntos de seus reinos, especialmente o mal
que Antíoco Epifânio faria em seu tempo à
igreja, conforme o que foi predito antes (cap 8, versos 11-12) .
Nós temos aqui:
I. Uma breve previsão da criação da monarquia grega sobre as ruínas da monarquia persa que
havia recém-começado (versos 1-4).
II. A previsão dos assuntos dos dois reinos; do Egito e da Síria, com referência um ao outro
(versos 5-20).
III. A ascensão de Antíoco Epifânio, suas ações e sucessos, (versos. 21-29).
IV. O grande mal que ele deveria fazer à nação e religião judaica, e seu desprezo de todas as
religiões, (versos 30-39.)
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V. A sua queda e ruína no final, quando ele estivesse no auge da sua perseguição, (versos
40-45).
“Daniel 11.1 Eu, pois, no primeiro ano de Dario, medo, levantei-me para o animar e fortalecer.
Daniel 11.2 E agora te declararei a verdade: Eis que ainda se levantarão três reis na Pérsia, e o
quarto será muito mais rico do que todos eles; e
tendo-se tornado forte por meio das suas riquezas, agitará todos contra o reino da Grécia.
Daniel 11.3 Depois se levantará um rei poderoso, que reinará com grande domínio, e fará o que
lhe aprouver.
Daniel 11.4 Mas, estando ele em pé, o seu reino será quebrado, e será repartido para os quatro
ventos do céu; porém não para os seus descendentes, nem tampouco segundo o poder
com que reinou; porque o seu reino será
arrancado, e passará a outros que não eles.”
Ruína da monarquia persa.
Nos quatro primeiros versículos nós temos a ruína da monarquia persa.
1. O anjo Gabriel permite que Daniel conheça o
bom serviço que ele fez para a nação judaica (v. 1): "Eu, pois, no primeiro ano de Dario, medo,
levantei-me para o animar e fortalecer.” Ou seja:
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“No primeiro ano de Dario, o medo, que
destruiu Babilônia e libertou os judeus da casa
da servidão, eu fui um poder e uma fortaleza para ele, isto é, eu fui um instrumento para
protegê-lo e dar-lhe sucesso em sua
empreitada, depois que ele conquistou
Babilônia, para confirmá-lo em sua resolução para liberar os judeus", que, ao que é provável,
foi feito com muita oposição.
Assim, pelo anjo, e, a pedido do observador, a cabeça de ouro (Babilônia) foi quebrada, e o
machado posto à raiz da árvore. Nota: temos que reconhecer a mão de Deus no fortalecimento
dos que são amigos da igreja para o serviço que
estão para fazer, confirmando-os em suas boas
resoluções. Aqui ele usa o ministério dos anjos mais do que estamos conscientes. E os muitos
casos que conhecemos de cuidados de sua igreja
antiga (Israel) nos encorajam a depender dele
nas mais agudas dificuldades.
2. Ele profetiza o reinado de quatro reis persas (v. 2): Agora eu te direi a verdade, isto é, o
verdadeiro significado das visões da grande
imagem, e dos quatro animais, e exporei em
termos claros o que foi antes representado por tipos sombrios.
(1) Ainda se levantarão três reis na Pérsia, além de Dario, em cujo reinado esta profecia é datada,
cap. 9.
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1. O Sr. Broughton considera estes três, como sendo Ciro, Artaxerxes chamado pelos gregos
Cambises, e Assuero que se casou com Ester,
chamado Dario, filho de Hystaspes. Para estes três os persas deram esses atributos - Ciro era
um pai, Cambises um mestre, e Dario um
colecionador.
2. Então Heródoto. O quarto será muito mais rico do que todos eles, ou seja, Xerxes, de cuja riqueza os autores gregos tomam
conhecimento, por sua força (seu vasto exército
composto por 800.000 homens, pelo menos) e
sua riqueza, com a qual mantinha e pagava um vasto exército, que usou contra o reino da
Grécia. A expedição de Xerxes contra a Grécia é
famosa na história, pela derrota vergonhosa que
sofreu. Aquele que, quando saiu para a guerra era o terror da Grécia, em seu retorno foi o
desprezo da Grécia.
A Daniel não precisava ser dito o desapontamento que ele iria encontrar, pois foi
um empecilho para a reconstrução do templo de Jerusalém; mas logo depois, cerca de trinta
anos após o primeiro retorno do cativeiro, Dario,
um jovem rei, reavivou a construção do templo,
dando-se cumprimento ao desígnio de Deus contra os seus antecessores que tentavam
impedi-la, Esdras 6.7.
3. O anjo Gabriel anunciou as conquistas de Alexandre e a divisão do seu reino, verso 3. Ele é
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aquele rei poderoso que deveria se levantar
contra os reis da Pérsia, e governar com grande domínio, ao longo de muitos reinos com um
poder despótico, pois ele deve fazer e desfazer
de acordo com sua vontade, o que os reis dos
medos e persas não podiam fazer em razão de suas leis.
Quando Alexandre, depois de ter conquistado a Ásia, foi adorado como um deus, então isto foi
cumprido – que ele deveria agir de acordo com
sua vontade. Isso é prerrogativa de Deus, mas era a sua pretensão. Mas (verso 4) o seu reino
em breve seria quebrado e dividido em quatro
partes; não para a sua posteridade, nem
qualquer sucessor de acordo com o seu domínio; nenhum deles teria os grandes
territórios nem um poder tão absoluto. Seu
reino foi arrancado para outros, além daqueles
de sua própria família. Arideus, seu irmão, foi feito rei da Macedônia; Olímpia, mãe de
Alexandre, o matou, e envenenou dois filhos de
Alexandre, Hercules e Alexander. Assim, sua
família foi erradicada pelas suas próprias mãos. Veja quão decadente e perecedora são as coisas,
as pompas mundanas, e os poderes por meio dos
quais elas são obtidas. Nunca foi, a vaidade do
mundo e suas maiores coisas mostradas de forma mais evidente, do que na história de
Alexandre. Tudo é vaidade e aflição de espírito.
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O historiador Flávio Josefo apresenta um quadro vívido das coisas havidas nos dias de Alexandre em seu auge, em seu livro História dos Hebreus,
no capítulo oitavo, que destacamos em forma de
preâmbulo a seguir:
“ALEXANDRE, O GRANDE, REI DA MACEDÔNIA,
PASSA DA EUROPA PARA A ÁSIA E DESTRÓI O IMPÉRIO DOS PERSAS. QUANDO SE JULGA QUE VAI
DESTRUIR JERUSALÉM, ELE PERDOA OS JUDEUS E TRATA-OS FAVORAVELMENTE.
449. Nesse mesmo tempo, Filipe, rei da Macedônia foi morto à traição na cidade de
Egéia, por Pausânias, filho de Ceraste, que era
da família dos Orestes. Alexandre, o Grande, seu filho, sucedeu-o. E, passando o estreito do
Helesponto entrou na Ásia e venceu, numa
grande batalha perto do rio Grânico, os que
comandavam o exército de Dario. Conquistou em seguida a Lídia e Jônia, e atravessando a
Caria, entrou na Panfília.
450. No entanto, os mais ilustres de Jerusalém não podiam tolerar que Manasses, irmão de
Jado, sumo sacerdote, tivesse desposado uma estrangeira, porque violava as leis referentes
aos casamentos e estabelecia uma mistura
profana com nações idólatras. Além disso, fora
exatamente essa a causa do cativeiro e tantos males que haviam sofrido. Assim, eles insistiam
em que Manasses, ou despedisse a sua mulher
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ou não servisse mais no altar. Jado, forçado pelas
queixas dos outros fez valer essa proibição.
Manasses então procurou Sanabalete, seu sogro, e disse-lhe que, ainda que amasse
extremamente a sua mulher, o sacerdócio era
uma tão grande honra entre os seus nacionais que ele não podia privar-se dela. Sanabalete
respondeu-lhe que, se ele conservasse consigo
sua filha, não somente o faria desfrutar aquela honra, mas obteria para ele o cargo de sumo
sacerdote e príncipe da Judéia e conseguiria do
rei Dario o consentimento para construir um
templo semelhante ao de Jerusalém sobre o monte Gerizim, que é o mais alto da região e
situado em Samaria.
Sanabalete era então muito idoso, porém Manasses não deixou de sentir o efeito de suas
promessas pelo favor de Dario. Assim,
estabeleceu-se em Samaria, e vários outros sacerdotes e judeus, que também haviam
contraído semelhantes matrimônios se uniram
a ele. Sanabalete, secundando a ambição do genro, deu-lhe dinheiro, casas e terras. Tudo
isso veio causar grande agitação em Jerusalém.
451. Dario, tendo sabido da vitória obtida por Alexandre sobre seus generais reuniu todas as
suas forças, para marchar contra ele antes que
se tornasse senhor de toda a Ásia. Depois de passar o Eufrates e o monte Tauro, que está na
Cilícia, resolveu dar-lhe combate. Quando
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Sanabalete viu que ele se aproximava de
Jerusalém, disse a Manasses que cumpriria a sua promessa logo que Dario tivesse vencido
Alexandre, pois tanto ele quanto os povos da
Ásia duvidavam que os macedônios, sendo em
tão pequeno número ousassem combater o formidável exército dos persas. Os fatos, no
entanto, mostraram o contrário. A batalha
travou-se, e Dario foi vencido, com graves perdas. Sua mãe, sua mulher e seus filhos foram
feitos prisioneiros, e ele foi obrigado a fugir para
a Pérsia.
Alexandre, depois da vitória chegou à Síria. Tomou Damasco, apoderou-se de Sidom e sitiou
Tiro. Durante o tempo em que esteve empenhado nessa empresa, escreveu a Jado,
sumo sacerdote dos judeus, pedindo-lhe três
coisas: auxílio, comércio livre com seu exército
e a mesma assistência dispensada a Dario. Se o fizesse, garantia-lhe que não teria motivo para
se arrepender de ter preferido a sua amizade à
de Dario. O sumo sacerdote respondeu que os judeus haviam prometido com juramento a
Dario, jamais tomar armas contra ele, e por isso
não podiam fazê-lo enquanto ele vivesse.
Alexandre ficou tão irritado com essa resposta que mandou lhe dizer, que logo que tivesse
tomado Tiro, marcharia contra ele com todo o seu exército para ensiná-lo e aos demais, a quem
se devia guardar um juramento. Em seguida
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atacou Tiro com tanta força que dela se
apoderou. E, depois de haver regularizado todas as coisas foi sitiar Gaza, onde Baemes governava
em nome do rei da Pérsia.
452. Voltemos, porém, a Sanabalete. Enquanto Alexandre ainda estava ocupado no cerco de
Tiro, ele julgou que o tempo era próprio para realizar seu intento. Assim, abandonou o
partido de Dario e levou oito mil homens a
Alexandre. O grande príncipe o recebeu muito
bem. Sanabalete disse-lhe então, que tinha um genro de nome Manasses, irmão do sumo
sacerdote dos judeus, que vários daquela nação
se haviam juntado a ele pelo afeto que lhes tinha
e desejava construir um templo próximo de Samaria, sendo que o rei poderia disso tirar
grande vantagem, porque assim dividiria as
forças dos judeus e impediria que aquela nação
pudesse se revoltar por inteiro, e causar-lhe dificuldades, tal como fizeram seus
antepassados aos reis da Síria.
Alexandre consentiu nesse pedido, ordenou que se trabalhasse com incrível diligência na
construção do templo e constituiu Manasses sumo sacerdote. Sanabalete sentiu grande
alegria por ter granjeado tão grande honra aos
filhos que ele teria de sua filha. Ele morreu
depois de passar sete meses junto de Alexandre no cerco de Tiro, e dois no de Gaza. O ilustre
conquistador, depois que tomou essa última
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cidade avançou para Jerusalém, e o sumo
sacerdote Jado, que bem conhecia a sua cólera contra ele, vendo-se com todo o povo em tão
grave perigo recorreu a Deus, ordenou orações
públicas para implorar o seu auxílio e ofereceu-
lhe sacrifícios. Deus apareceu-lhe em sonhos na noite seguinte e disse que espalhasse flores pela
cidade, mandasse abrir todas as portas e fosse ao
encontro de Alexandre revestido de suas vestes sacerdotais, acompanhado pelos demais, que
deveriam estar vestidos de branco, sem nada
temer do soberano, porque ele os protegeria.
Jado comunicou com grande alegria a todo o povo a revelação que tivera, e todos se
prepararam para esperar a vinda do rei. Quando se soube que ele já estava perto, o sumo
sacerdote, acompanhado pelos outros
sacerdotes e por todo o povo, foi ao seu encontro
com essa pompa tão santa e tão diferente da de outras nações até o lugar denominado Safa, que
em grego significa "mirante", porque de lá se
pode ver a cidade de Jerusalém e o Templo. Os fenícios e os caldeus que integravam o exército
de Alexandre não duvidavam de que ele, na
cólera em que se achava contra os judeus, lhes
permitiria saquear Jerusalém e daria um castigo exemplar ao sumo sacerdote.
Mas aconteceu justamente o contrário, pois o soberano, apenas viu aquela grande multidão de
homens vestidos de branco, os sacerdotes
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revestidos com seus paramentos de linho, e o
sumo sacerdote com o seu éfode de cor azul
adornado de ouro, e com a tiara sobre a cabeça
que continha uma lâmina de ouro sobre a qual estava escrito o nome de Deus. Aproximou-se
sozinho dele, adorou aquele augusto nome e
saudou o sumo sacerdote, ao qual ninguém
ainda havia saudado. Então os judeus reuniram-se em redor de Alexandre e elevaram a voz para
desejar-lhe toda sorte de felicidade e
prosperidade. Porém os reis da Síria e os
grandes que o acompanhavam ficaram tão espantados que julgaram que ele havia perdido
o juízo.
Parmênio, que desfrutava grande prestígio, perguntou-lhe como ele, que era adorado em
todo mundo, adorava o sumo sacerdote dos judeus. Respondeu Alexandre: "Não é a ele, ao
sumo sacerdote, que adoro, mas ao Deus de
quem ele é o ministro, pois quando eu estava
ainda na Macedônia e imaginava como poderia conquistar a Ásia, ele me apareceu em sonhos
com essas mesmas vestes e exortou-me a nada
temer. Disse-me que passasse corajosamente o
estreito do Helesponto e garantiu que Deus estaria à frente de meu exército e me faria
conquistar o império dos persas. Eis por que,
jamais tendo visto antes alguém revestido de
trajes semelhantes a esses com que ele me apareceu em sonho, não posso duvidar de que
tenha sido por ordem de Deus que empreendi
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esta guerra, e assim vencerei Dario, destruirei o
império dos persas, e todas as coisas suceder-
me-ão segundo os meus desejos".
Alexandre, depois de assim responder a
Parmênio, abraçou o sumo sacerdote e os outros sacerdotes; caminhou no meio deles até
Jerusalém, subiu ao Templo e ofereceu
sacrifícios a Deus da maneira como o sumo sacerdote lhe disse para fazer. O sumo sacerdote
mostrou-lhe em seguida o livro de Daniel, no qual estava escrito que um príncipe grego
destruiria o império dos persas e disse-lhe que
não duvidava de que era dele que a profecia fazia
menção. Alexandre ficou muito contente. No dia seguinte, mandou reunir o povo e ordenou que
dissessem que favores desejavam receber dele.
O sumo sacerdote respondeu que eles
suplicavam permissão para viver segundo as suas leis e as de seus antepassados, e isenção no
sétimo ano, do tributo que lhe pagariam nos
outros anos. Ele concordou. E, tendo eles
também pedido que os judeus que moravam na Babilônia e na Média desfrutassem os mesmos
favores, ele o prometeu com grande bondade e
disse que se alguém desejasse servir em seus
exércitos, ele permitiria a tal pessoa viver segundo a sua religião e observar todos os seus
costumes. Vários então alistaram-se.
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Esse grande príncipe, depois de agir desse modo em Jerusalém, passou às cidades vizinhas, que
lhe abriram as portas. Os samaritanos, cuja
capital então era Siquém, situada sobre o monte Gerizim e habitada por judeus desertores de sua
nação, vendo que o conquistador tratara com
bondade os de Jerusalém, resolveram lhe dizer
que também eram judeus. Pois, como dissemos há pouco, eles não nos reconhecem por
compatriotas quando as coisas vão mal para nós
e então falam a verdade. Mas quando a sorte nos
é propícia eles procuram provar que têm a mesma origem, que são do nosso sangue, como
descendentes de José, por Manasses e Efraim,
seus filhos.
Assim, logo que Alexandre saiu de Jerusalém, eles foram, acompanhados pelos soldados que Sanabalete lhes havia mandado, à presença do
soberano com grande aparato e demonstrações
de alegria, para pedir-lhe que fosse à sua cidade
e honrasse o seu templo com sua presença. Ele prometeu fazê-lo na volta. Quanto a um pedido
para que também lhes perdoasse no sétimo ano
os tributos, porque não semeavam a terra nessa
ocasião, ele perguntou de que nação eles eram. Responderam que eram hebreus, mas que os
sidônios os chamavam de siquemitas. Ele então
lhes perguntou se eram judeus. Eles
responderam que não; assim ele lhes disse: "Eu concedi esse favor somente aos judeus, mas vou
me informar desse assunto quando voltar e,
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depois que souber de tudo detalhadamente,
farei o que for mais justo". Depois de assim lhes
falar, despediu-os, mas ordenou às tropas de
Sanabalete que o seguissem ao Egito, onde lhes daria terras, o que ele fez logo em seguida, e os
aquartelou como guarnições da Tebaida.
Depois da morte de Alexandre, o império foi dividido entre os seus sucessores, e o templo
construído no monte Gerizim permaneceu em seu primitivo estado. Os judeus que moravam
em Jerusalém e pecavam contra a fé, quer
comendo alimentos proibidos, quer não
observando o sábado, ou coisa semelhante, refugiavam-se entre os siquemitas, alegando
que haviam sido injustiçados. Jado, sumo
sacerdote, morreu nessa época, e Onias, seu
filho, o sucedeu.”
Continuemos com o relato de Mattew Henry:
Os Assuntos do Egito e da Síria; O reinado de Antíoco Magnus; A queda de Antíoco Magnus.
“Daniel 11.5 O rei do sul será forte, como também um dos seus príncipes; e este será mais
forte do que ele, e reinará, e grande será o seu
domínio,
Daniel 11.6 mas, ao cabo de anos, eles se aliarão;
e a filha do rei do sul virá ao rei do norte para fazer um tratado. Ela, porém, não conservará a
força de seu braço; nem subsistirá ele, nem o
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seu braço; mas será ela entregue, e bem assim
os que a tiverem trazido, e seu pai, e o que a
fortalecia naqueles tempos.
Daniel 11.7 Mas dum renovo das raízes dela um se levantará em seu lugar, e virá ao exército, e entrará na fortaleza do rei do norte, e operará
contra eles e prevalecerá.
Daniel 11.8 Também os seus deuses, juntamente com as suas imagens de fundição, com os seus
vasos preciosos de prata e ouro, ele os levará
cativos para o Egito; e por alguns anos ele deixará de atacar ao rei do norte.
Daniel 11.9 E entrará no reino do rei do sul, mas voltará para a sua terra.
Daniel 11.10 Mas seus filhos intervirão, e reunirão uma multidão de grandes forças; a
qual avançará, e inundará, e passará para adiante; e, voltando, levará a guerra até a sua
fortaleza.
Daniel 11.11 Então o rei do sul se exasperará, e sairá, e pelejará contra ele, contra o rei do norte;
este porá em campo grande multidão, e a multidão será entregue na mão daquele.
Daniel 11.12 E a multidão será levada, e o coração dele se exaltará; mas, ainda que derrubará
miríades, não prevalecerá.
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Daniel 11.13 Porque o rei do norte tornará, e porá em campo uma multidão maior do que a
primeira; e ao cabo de tempos, isto é, de anos, avançará com grande exército e abundantes
provisões.
Daniel 11.14 E, naqueles tempos, muitos se levantarão contra o rei do sul; e os violentos
dentre o teu povo se levantarão para cumprir a visão, mas eles cairão.
Daniel 11.15 Assim virá o rei do norte, e levantará baluartes, e tomará uma cidade bem fortificada;
e as forças do sul não poderão resistir, nem o seu
povo escolhido, pois não haverá força para resistir.
Daniel 11.16 O que, porém, há de vir contra ele fará o que lhe aprouver, e ninguém poderá
resistir diante dele; ele se fincará na terra
gloriosa, tendo-a inteiramente sob seu poder.
Daniel 11.17 E firmará o propósito de vir com toda a força do seu reino, e entrará em acordo com
ele, e lhe dará a filha de mulheres, para ele a
corromper; ela, porém, não subsistirá, nem será
para ele.
Daniel 11.18 Depois disso virará o seu rosto para
as ilhas, e tomará muitas; mas um príncipe fará cessar o seu opróbrio contra ele, e ainda fará
recair sobre ele o seu opróbrio.
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Daniel 11.19 Virará então o seu rosto para as fortalezas da sua própria terra, mas tropeçará, e
cairá, e não será achado.
Daniel 11.20 Então no seu lugar se levantará quem fará passar um exator de tributo pela
glória do reino; mas dentro de poucos dias será quebrantado, e isto sem ira e sem batalha.“
Aqui é predito:
I. A ascensão e poder de dois grandes reinos dos restos das conquistas de Alexandre, v. 5.
1. O reino do Egito, que foi feito notável por Ptolomeu Lagus, um dos capitães de Alexandre,
cujos sucessores foram, a partir dele, chamados
de Lagidae. Ele é chamado o rei do sul, isto é, do Egito, versos 8, 42, 43.
Os países que em princípio pertenciam a Ptolomeu são contados como sendo o Egito,
Fenícia, Saudita, Líbia, Etiópia, etc.
O reino da Síria, que foi criado por Seleuco Nicanor, ou o conquistador, que foi um dos
príncipes de Alexandre, e tornou-se mais forte do que o outro, e tinha o maior domínio de tudo,
era o mais poderoso de todos os sucessores de
Alexandre. Foi dito que ele não tinha menos do
que setenta e dois reinos sob ele. Ambos eram fortes contra Judá (os assuntos dos quais são
particularmente vistos nesta previsão.
22
Ptolomeu, logo depois que ganhou o Egito, invadiu a Judéia e tomou Jerusalém no sábado,
fingindo uma visita amigável. Seleuco também
deu perturbação à Judéia.
II. A tentativa infrutífera para unir esses dois reinos como o ferro e o barro na imagem do sonho de Nabucodonosor (verso 6):
No final de determinados anos, cerca de setenta após a morte de Alexandre, os Lagidae e os
seleucidas se associaram, mas não em
sinceridade - Ptolomeu Filadelfo, rei do Egito deveria casar sua filha Berenice com Antíoco
Theos, rei da Síria, que já tinha uma esposa
chamada Laodice. Berenice iria ao "rei do norte,
para fazer um acordo, mas não poderia ser mantido: Ela não conservaria a força de seu
braço; nem sua posteridade deveria se
estabelecer no reino do norte, nem Ptolomeu
seu pai, nem Antíoco seu marido (entre os quais deveria haver uma grande aliança), ficariam de
pé, nem o seu braço, mas ela seria entregue bem
como aqueles que a trouxeram. Tudo que foi
projetado tornou-se um casamento infeliz entre ela e Antíoco, ocasionando muito mal, em vez de
produzir uma coalizão entre as coroas do norte
e do sul, como se esperava. Antíoco divorciado
de Berenice, tomou sua ex-mulher Laodice novamente, que logo após o envenenou, vindo
Berenice e seu filho a ser assassinados,
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elevando seu próprio filho com Antíoco para ser
rei, o qual foi chamado Seleuco Callinicus.
III. É predita a guerra entre os dois reinos (versos 7, 8). Uma ramo da mesma raiz que com
Berenice se levantaria em seu lugar. Ptolomeu
Euergetes, filho e sucessor de Ptolomeu Filadelfo viria com um exército contra Seleuco
Callinicus, rei da Síria, para vingar sua irmã e
prevaleceria; ele os levaria para longe com um rico espólio, tanto de pessoas como de bens ao
Egito, e deveria continuar no poder mais anos
do que o rei do norte.
Este Ptolomeu reinou quarenta e seis anos; e Justin diz que, se seus próprios assuntos não o
tivessem chamado de volta para casa, ele ter-se-ia feito mestre de todo o reino da Síria. Mas (v. 9),
ele seria forçado a entrar em seu reino e voltar
para a sua terra, para manter a paz lá, pelo que
não poderia mais continuar a guerra no exterior. Nota: É muito comum que uma paz traiçoeira
termine em uma guerra sangrenta.
IV. O longo e agitado reinado de Antíoco “o Grande”, rei da Síria. Seleucus Callinicus, que
era rei do norte foi vencido (v. 7) e morreu miseravelmente, deixando dois filhos, Seleuco e
Antíoco; estes são seus filhos, os filhos do rei do
norte, que deveriam ser incitados, e reuniriam
uma multidão de grandes forças, para recuperar o que seu pai tinha perdido, v. 10. Mas Seleuco, o
mais velho, sendo fraco e incapaz de governar
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seu exército foi envenenado por seus amigos,
reinando apenas dois anos; e seu irmão Antíoco
o sucedeu, o qual reinou trinta e sete anos, e foi
chamado “o Grande”. Embora o anjo tenha falado de filhos em primeiro lugar, continua
com o relato de apenas um, que tinha somente
quinze anos de idade quando começou a reinar;
ele certamente viria e inundaria, e a longo prazo deveria restaurar durante um tempo o que seu
pai perdeu.
1. O rei do sul, nesta guerra deveria em primeiro lugar, ter muito sucesso. Ptolemeu Philopater,
contrariado com as indignidades feitas por Antíoco, o Grande, deveria (embora fosse um
príncipe preguiçoso) sair e lutar com ele,
trazendo um vasto exército para o campo de
70.000 homens a pé, 5.000 a cavalo, e setenta e três elefantes. E a outra multidão (o exército de
Antíoco, que consiste em 62.000 homens a pé e
6.000 cavalos, 102 elefantes, deveriam ser
entregues na sua mão. Políbio, que vivia com Scipio faria um relato desta batalha de Raphia.
Ptolemeu Philopater, tendo obtido esta vitória
cresceu muito insolente e seu coração se
exaltou; em seguida, ele entrou no templo de Deus em Jerusalém, e, ao arrepio da lei, entrou
no lugar santíssimo, pelo que Deus tinha uma
controvérsia com ele, de modo que, embora ele
devesse derrubar muitos milhares, contudo ainda não seria confirmado por Ele, de modo a
garantir o seu interesse. Pois,
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2. O rei do norte, Antíoco, o Grande, deveria voltar com um exército maior do que o primeiro;
e, ao fim dos tempos (ou seja, anos), ele deveria
vir com um exército poderoso e grandes riquezas contra o rei do sul, ou seja, Ptolomeu
Epifânio - que sucedeu Ptolomeu Philopater seu
pai, quando era criança; o que deu vantagem a
Antíoco, o Grande. Nesta expedição ele tinha alguns aliados poderosos (v. 14). Muitos se
levantariam contra o rei do sul- Filipe da
Macedônia foi confederado com Antíoco contra
o rei do Egito, e Scopas seu general, a quem ele enviou para a Síria - Antíoco destruiu uma
grande parte de seu exército; após o que, os
judeus de bom grado cederam a Antíoco, e
juntando-se a ele o ajudaram a sitiar as guarnições de Ptolomeu. Eles e os ladrões do
povo deveriam se exaltar e estabelecer a visão,
para ajudar a avançar o cumprimento desta
profecia, mas eles cairiam, e seriam reduzidos a nada, v. 14, 15.
O rei do norte, este mesmo Antíoco Magnus deveria continuar seu projeto contra o rei do
sul, de outra maneira.
(1.) Ele deveria surpreender suas fortalezas; tudo o que ele tinha na Síria, Samaria, e os braços do sul - todo o poder do rei do Egito, não seria capaz
de resistir a ele.
Veja quão duvidosas e variáveis são as escalas de guerra, como a compra e venda; é ganhar e
26
perder, às vezes um lado leva a melhor, e às
vezes o outro; no entanto não é por acaso, como eles dizem, a sorte da guerra, mas de acordo
com a vontade e conselho de Deus, que traz um
para baixo e a outros eleva.
(2.) Ele deveria se fazer dono da terra da Judéia (v. 16): Aquele que vinha contra ela (isto é, o rei do norte) dominaria tudo diante dele e faria o
que lhe agradasse, e por fim se levantaria e
colocaria seu pé na terra gloriosa, a terra de
Israel, e pela sua mão seria consumida, para que com os despojos dessa boa terra ele pudesse
reabastecer seu vasto exército.
A terra da Judéia ficava entre esses dois reinos poderosos do Egito e da Síria, pelo que em todas
as lutas entre eles sabia que teria que sofrer,
pois ambos tinham má vontade para com ela. No entanto, alguns leem isto como sendo a terra
aperfeiçoada; como se a entender que a terra da
Judéia, ao ser tomada sob a proteção deste Antíoco, floresceria, e estaria em melhores
condições do que tinha estado antes.
(3.) Ele ainda deveria dar um impulso em sua guerra contra o rei do Egito, e pôs seu rosto para
entrar com a força de todo o seu reino,
aproveitando-se da infância de Ptolomeu Epifânio; assim muitos dos Israelitas piedosos se
aliariam a ele, v. 17.
27
Em julgamento de seu projeto, ele deveria lhe
dar sua filha Cleópatra por esposa, como Saul deu sua filha Mical para Davi, para que ela fosse
uma cilada para ele, e fazer-lhe mal; mas ela não
subsistiria ao lado de seu pai, mas para seu
marido, e assim a trama falharia.
(4.) A guerra com os romanos é aqui anunciada (v. 18): Ele devia virar o rosto para as ilhas (v. 18),
as ilhas das nações (Gên 10.5.), Grécia e Itália. Ele
levou muitas das ilhas sobre o Helesponto,
Rodes, Samos, Delos, etc., que pela guerra ou por tratado se fez senhor delas; mas um príncipe
ou estado (para alguns), e até mesmo o Senado
romano ou um líder, ou mesmo o general
romano, deveria retornar o seu opróbrio com que abusou dos romanos sobre si mesmo, ou
fazer o seu descanso uma vergonha para si
mesmo. Esta profecia foi cumprida quando os
dois Cipiões foram enviados com um exército contra Antíoco. Hannibal foi então com ele, e o
aconselhou a invadir a Itália; mas ele não seguiu
seu conselho oculto. Scipio juntou-se na batalha com ele, e deu-lhe uma derrota total, embora
Antíoco tivesse 70.000 homens e os romanos,
senão 30.000.
(5) Sua queda. Quando ele estava totalmente cercado pelos romanos foi forçado a entregar-
lhes tudo o que tinha na Europa, pois lhe foi exigido um tributo muito pesado. Ele tornou
para sua própria terra, e, sem saber qual a
28
maneira de levantar dinheiro para pagar seu
tributo saqueou um templo de Júpiter, o que
enfureceu seus próprios súditos, que em razão
disso deram contra ele e o mataram; então foi derrubado e caiu, e não mais foi encontrado, v.
19.
(6.) Seu próximo sucessor, v. 20. Se levantaria em seu lugar um extorquidor de impostos. Este
personagem foi notavelmente respondido em Seleucus Philopater, o filho mais velho de
Antíoco, o Grande, que era um grande opressor
de seus próprios compatriotas, exigindo
abundante dinheiro deles. Quando lhe foi dito que assim perderia seus amigos, ele disse que
não conhecia melhor amigo do que ele tinha, a
saber, o dinheiro. Ele igualmente tentou
assaltar o templo em Jerusalém. Mas dentro de poucos dias seria quebrado, sem ira nem em
batalha, mas envenenado por Heliodoro, um
dos seus servos, quando tinha doze anos, mas
reinou, e nada de extraordinário fez.
V. De tudo isso, deixe-nos saber,
1. Que Deus em seus desígnios rebaixa um e eleva outro.
2. Este mundo está cheio de guerras e contendas, que vêm das paixões dos homens, e
o tornam um teatro de pecado e miséria.
29
3. Todas as mudanças e revoluções dos estados e reinos, e cada caso, mesmo o mais diminuto e
contingente foi clara e perfeitamente previsto pelo Deus do céu, e para ele nada é novo.
4. Nenhuma palavra de Deus deve cair no chão; mas o que ele tem projetado, o que declarou virá
infalivelmente a acontecer; o que deve ser feito
até mesmo pelos pecados dos homens, para
servir ao seu propósito e contribuir para a realização dos seus conselhos, ainda que não
seja Deus o autor do pecado.
5. Que, para a correta compreensão de algumas partes das Escrituras, é necessário que os
autores pagãos sejam consultados, os quais dão luz à escritura e mostram o cumprimento do
que está lá predito; temos, portanto, razão para
bendizer a Deus pela aprendizagem humana
com a qual muitos têm feito um grande serviço às verdades divinas.
O reino de Antíoco Epifânio; A Crueldade
e Impiedade de Antíoco; A morte de
Antíoco.
“Daniel 11.21 Depois se levantará em seu lugar
um homem vil, ao qual não tinham dado a majestade real; mas ele virá caladamente, e
tomará o reino com lisonja.
30
Daniel 11.22 E as forças inundantes serão varridas de diante dele, e serão quebrantadas,
como também o príncipe do pacto.
Daniel 11.23 E, depois de feita com ele a aliança, usará de engano; e subirá, e se tornará forte com
pouca gente.
Daniel 11.24 Virá também em tempo de segurança sobre os lugares mais férteis da
província; e fará o que nunca fizeram seus pais, nem os pais de seus pais; espalhará entre eles a
presa, os despojos e os bens; e maquinará os
seus projetos contra as fortalezas, mas por certo
tempo.
Daniel 11.25 E suscitará a sua força e a sua coragem contra o rei do sul com um grande
exército; e o rei do sul sairá à guerra com um
grande e mui poderoso exército, mas não
subsistirá, pois maquinarão projetos contra ele.
Daniel 11.26 E os que comerem os seus manjares o quebrantarão; e o exército dele será varrido
por uma inundação, e cairão muitos
traspassados.
Daniel 11.27 Também estes dois reis terão o coração atento para fazerem o mal, e assentados
à mesma mesa falarão a mentira; esta, porém, não prosperará, porque ainda virá o fim no
tempo determinado.
31
Daniel 11.28 Então tornará para a sua terra com muitos bens; e o seu coração será contra o santo
pacto; e fará o que lhe aprouver, e tornará para a
sua terra.
Daniel 11.29 No tempo determinado voltará, e entrará no sul; mas não sucederá desta vez como na primeira.
Daniel 11.30 Porque virão contra ele navios de Quitim, que lhe causarão tristeza; por isso
voltará, e se indignará contra o santo pacto, e
fará como lhe aprouver. Voltará e atenderá aos
que tiverem abandonado o santo pacto.
Daniel 11.31 E estarão ao lado dele forças que profanarão o santuário, isto é, a fortaleza, e
tirarão o holocausto contínuo, estabelecendo a
abominação desoladora.
Daniel 11.32 Ainda aos violadores do pacto ele perverterá com lisonjas; mas o povo que conhece ao seu Deus se tornará forte, e fará
proezas.
Daniel 11.33 Os entendidos entre o povo ensinarão a muitos; todavia por muitos dias
cairão pela espada e pelo fogo, pelo cativeiro e pelo despojo.
Daniel 11.34 Mas, caindo eles, serão ajudados com pequeno socorro; muitos, porém, se
ajuntarão a eles com lisonjas.
32
Daniel 11.35 Alguns dos entendidos cairão para serem acrisolados, purificados e
embranquecidos, até o fim do tempo; pois isso ainda será para o tempo determinado.
Daniel 11.36 e o rei fará conforme lhe aprouver; exaltar-se-á, e se engrandecerá sobre todo deus,
e contra o Deus dos deuses falará coisas
espantosas; e será próspero, até que se cumpra a indignação: pois aquilo que está determinado
será feito.
Daniel 11.37 E não terá respeito aos deuses de seus pais, nem ao amado das mulheres, nem a
qualquer outro deus; pois sobre tudo se engrandecerá.
Daniel 11.38 Mas em seu lugar honrará ao deus das fortalezas; e a um deus a quem seus pais não
conheceram, ele o honrará com ouro e com
prata, com pedras preciosas e com coisas agradáveis.
Daniel 11.39 E haver-se-á com os castelos fortes com o auxílio dum deus estranho; aos que o
reconhecerem, multiplicará a glória; e os fará
reinar sobre muitos, e lhes repartirá a terra por preço.
Daniel 11.40 Ora, no fim do tempo, o rei do sul lutará com ele; e o rei do norte virá como
turbilhão contra ele, com carros e cavaleiros, e
33
com muitos navios; e entrará nos países, e os
inundará, e passará para adiante.
Daniel 11.41 Entrará na terra gloriosa, e dezenas de milhares cairão; mas da sua mão escaparão estes: Edom e Moabe, e as primícias dos filhos
de Amom.
Daniel 11.42 E estenderá a sua mão contra os paises; e a terra do Egito não escapará.
Daniel 11.43 Apoderar-se-á dos tesouros de ouro e de prata, e de todas as coisas preciosas do
Egito; os líbios e os etíopes o seguirão.
Daniel 11.44 Mas os rumores do oriente e do norte o espantarão; e ele sairá com grande furor,
para destruir e extirpar a muitos.
Daniel 11.45 E armará as tendas do seu palácio entre o mar grande e o glorioso monte santo;
contudo virá ao seu fim, e não haverá quem o socorra.”
(Especialmente esta parte da profecia tinha o propósito de consolar e encorajar os judeus para
as grandes aflições que teriam que suportar no
futuro ainda distante, sob Antíoco Epifânio, a quem estes versículos se referem.
Ele faria grandes assolações em Israel e contra a religião do Deus de Israel, todavia, deveriam se
lembrar que ele era apenas “um pequeno
34
chifre”, ou seja, um pequeno poder, comparado
com todos os reinos poderosos que haviam
dominado sob a terra antes dele, como também
se levantariam depois dele, aos quais o Senhor subjugou e humilhou debaixo do Seu grande
poder.
Eles seriam afligidos por um tempo, sob a permissão de Deus, mas este tempo estaria sob
o seu total controle conforme demonstrado em todas as passagens desta profecia e todas as
demais que havia revelado ao Seu povo através
dos profetas, cujas profecias encontramos
registradas na Bíblia – nota do tradutor.)
Tudo isso é uma profecia do reinado de Antíoco
Epifânio, o pequeno chifre falado antes (cap 8, verso 9). Um inimigo jurado para a religião
judaica, e perseguidor amargo daqueles que
aderiram a ela. O que preocupava os judeus que
viveram reinados pelos reis persas, não foi tão particularmente predito por Daniel conforme
vemos nesta profecia relativa a dias distantes,
porque eles tiveram os profetas Ageu e Zacarias, para incentivá-los; mas esses problemas nos
dias de Antíoco foram preditos, porque, nesse
tempo, a profecia cessaria – não haveria profetas
em Israel, daí a necessidade que teriam de recorrer à palavra escrita.
(A Igreja de Cristo, nestes dias em que a iniquidade se multiplica sobre a face da terra
como um anúncio da proximidade da chegada
35
do Anticristo deve buscar de igual modo,
conforto e encorajamento para permanecer firme na fé, nas profecias que já foram dadas nas
Escrituras, especialmente através dos profetas
do Velho Testamento, por nosso Senhor Jesus
Cristo e seus apóstolos, particularmente as que encontramos no livro de Apocalipse – nota do
tradutor.)
Algumas coisas nesta previsão a respeito de Antíoco são aludidas nas previsões do Novo
Testamento sobre o Anticristo, especialmente no v. 36 e 37; como é habitual com os profetas,
quando profetizaram a prosperidade da igreja
judaica, fazendo uso de tais expressões que
eram aplicáveis ao reino de Cristo.
I. Sua pessoa: ele deve ser uma pessoa vil. Ele chamou a si mesmo Epifânio - o ilustre, mas seu
caráter era o inverso de seu sobrenome. Os
escritores pagãos o descrevem como um
homem de humor estranho, rude e violento, baixo e sórdido. Ele tinha os caprichos mais
irresponsáveis, de modo que alguns o tinham na
conta de louco. Por isso ele foi chamado
Epimanes - o louco. Ele é chamado de um homem vil, porque tinha ficado por longo tempo
como refém em Roma, por causa da fidelidade
de seu pai quando os romanos o haviam
subjugado; e foi acordado que, quando os outros reféns fossem trocados, ele deveria permanecer
na situação em que se encontrava.
36
II. Sua adesão à coroa. Por um truque que ele fez com o filho de seu irmão mais velho, Demetrius;
este foi enviado como um refém a Roma, em
troca dele.
Os estados da Síria não lhe seriam dados (v. 21),
porque eles sabiam que pertencia ao filho de seu irmão mais velho, nem o obteria pela espada,
mas pacificamente, fingindo reinar para o filho
de seu irmão, Demetrius. Mas com a ajuda de Eumenes e Attalus, príncipes vizinhos, ele
ganhou o interesse do povo, e com lisonjas
obteve o reino, estabelecendo-se nele,
esmagando Heliodoro, que se levantou contra ele com os braços de uma inundação. Aqueles
que se lhe opuseram foram sobrepujados e
quebrados diante dele; até o príncipe do pacto,
seu sobrinho, o legítimo herdeiro, com quem fingiu ter um pacto ao qual ele renunciaria
quando retornasse de Roma (v. 22).
(Observe com que absoluta precisão estes eventos foram preditos por Deus através do
arcanjo Gabriel, muito antes deles terem ocorrido. Há alguma base para se desconfiar da
completa onisciência e poder de Deus? – nota do
tradutor.)
Mas (v. 23), depois do pacto com ele usaria de engano, como alguém cuja máxima declarada é
que príncipes não devem ser limitados por sua palavra, por mais tempo do que seja para seu
interesse. (Veja que não foi Maquiavel o autor
37
deste princípio, pelo qual a maioria dos
governantes da terra regem, de modo que não é
realista a posição de se esperar deles qualquer
compromisso moral definitivo com a justiça e a verdade, especialmente quando outros
interesses estão em jogo, sobretudo os deles
próprios - nota do tradutor.) E com pouca gente,
que a princípio se apegaria a ele, se tornaria forte (v. 24), e entraria pacificamente nos
lugares mais férteis do reino da Síria, e, muito ao
contrário de seus antecessores, espalharia
entre as pessoas presas, o despojo e riquezas, para insinuar-se em suas afeições; mas, ao
mesmo tempo, ele faria seus projetos contra as
fortalezas, para tornar-se mestre delas, de modo
que sua generosidade deveria durar, senão por um tempo. Quando tivesse as guarnições em
suas mãos, ele não mais distribuiria seu
despojo, mas governaria pela força, como
comumente fazem os que se apoderam do poder pela fraude. Aquele que vem como uma raposa
reinará como um leão. Alguns entendem estes
versos da Palavra como sendo referentes à sua
primeira expedição ao Egito, quando ele não veio como inimigo, mas como um amigo e
guardião para o jovem rei Ptolomeu Philometer,
portanto trouxe com ele, senão poucos
seguidores; mas aqueles homens robustos e fiéis aos seus interesses ficaram no Egito,
fazendo-se assim, o senhor deles.
38
III. Sua guerra com o Egito. Esta se deu quando
da sua segunda expedição para lá; o que é descrito nos versos 25 e 27. Antíoco deveria
suscitar sua força e coragem contra Ptolomeu
Philometer, rei do Egito. Por isso, Ptolomeu
deveria ser incitado a lutar contra ele, levantando-se com um grande e mui poderoso
exército; mas Ptolomeu, embora tivesse um
vasto exército, não seria capaz de lhe resistir, porque o exército de Antíoco derrubaria o seu, e
o dominaria, e uma grande multidão do exército
egípcio deveria cair morta. Isto não seria um
fato surpreendente, porque o rei do Egito seria traído por seus próprios conselheiros; por
terem sido subornados por Antíoco.
Após a batalha um tratado de paz deveria ser definido, e esses dois reis se reuniriam em um
conselho para ajustarem os artigos de paz entre
eles; mas nenhum deles devia ser sincero nele, pois deviam em seus pretextos e promessas de
amizade e lealdade, mentir uns aos outros,
porque seus corações estavam dispostos simultaneamente a fazer um ao outro, todo o
mal que pudessem. Então, não é de admirar que
isto não prosperaria. A paz não deveria durar; e
seu fim seria no tempo determinado pela Providência divina, e, em seguida, a guerra
deveria ocorrer de novo.
IV. Outra expedição contra o Egito. Da antiga ele voltou com grandes riquezas (v. 28), portanto
39
tomou a primeira ocasião para invadir o Egito
mais uma vez, no tempo determinado pela
Providência divina, dois anos depois, no oitavo
ano do seu reinado, v. 29. Ele viria para o sul. Mas essa tentativa não deveria ter sucesso como nas
duas anteriores (v. 30), pois os navios de Quitim
se levantariam contra ele, isto é, a marinha dos
romanos ou apenas os embaixadores do Senado romano, que viriam em navios. Ptolemeu
Philometer, rei do Egito, estava agora em uma
aliança estreita com os romanos, ansiando por
sua ajuda contra Antíoco, porque ele e sua mãe Cleópatra estavam sitiados na cidade de
Alexandria. O Senado romano enviou logo a
seguir, uma embaixada a Antíoco, para ordenar-
lhe a levantar o cerco.
Temendo o poder romano, ele foi forçado imediatamente a dar ordens para o
levantamento do cerco e retirada do seu
exército para fora do Egito. Então, Tito Lívio e
outros relacionam a história, ao cumprimento desta profecia. Ele deveria ficar entristecido e
retornar, porque foi um grande vexame para ele
ser obrigado a ceder assim.
V. Sua raiva e práticas cruéis contra os judeus. Esta é a parte do seu governo, que é mais citada nesta previsão.
Em seu retorno da expedição ao Egito (que está profetizado no verso 28), ele fez façanhas contra
os judeus no sexto ano de seu reinado; ele
40
saqueou a cidade e o templo. Mas uma mais
terrível tempestade estava prevista para o seu retorno do Egito dois anos depois, conforme
profetizado no verso 30. Então, ele tomou a
Judéia no caminho de casa; e, porque não
conseguia ganhar seu ponto no Egito em razão da interposição dos romanos, ele lançou sua
vingança sobre os judeus pobres, que não lhe
fizeram qualquer provocação, senão o fato de o Deus deles permitir fazê-lo (Daniel 8.23).
1. Ele tinha uma antipatia enraizada à religião dos judeus; seu coração era contra a santa
aliança, verso 28. E, (verso 30) tinha indignação
contra a santa aliança, esse pacto de
peculiaridade pelo qual os judeus foram feitos um povo distinto de todas as outras nações, e
colocados em dignidade acima delas na
presença de Deus. Ele odiava a lei de Moisés e o
culto do verdadeiro Deus, ficando irritado com os privilégios da nação judaica e as promessas
feitas a ela. Note, que aquilo que é a esperança e
alegria do povo de Deus é a inveja de seus vizinhos, a saber, a santa aliança. Esaú odiou a
Jacó, porque ele tinha recebido a bênção da
aliança. Aqueles que são estranhos para a
aliança são muitas vezes, seus inimigos.
2. Ele consumou seus projetos mal-
intencionados contra os judeus com a ajuda de alguns judeus apóstatas pérfidos. Manteve-se
com aqueles que deixaram o pacto santo (v. 30);
41
alguns dos judeus que eram desleais à sua
religião, e haviam introduzido os costumes dos
gentios, com os quais fizeram um pacto. Veja o cumprimento disto em I Macabeus 1.11-15, onde
é dito expressamente, a respeito daqueles
judeus renegados, que eles se fizeram
incircuncisos e abandonaram a santa aliança. Lemos (2 Macabeus 4.9) de Jason, o irmão de
Onias, o sumo sacerdote, que pela nomeação de
Antíoco criou uma escola em Jerusalém, para a
formação da juventude nos modos dos gentios; e (2 Mac iv23.,& c) de Menelau, que atendeu aos
interesses de Antíoco, e foi o homem que o
ajudou em Jerusalém em seu último retorno do
Egito. Nós lemos muito no livro dos Macabeus, do mal feito aos judeus por esses homens
traiçoeiros de sua própria nação, Jason e
Menelau, e seu partido. Estes foram usados
como chamariz para atrair outros, v. 32.
Nota: Não é estranho que aqueles que não vivem de acordo com sua religião, senão em suas
conversas façam o mal contra a aliança com
Deus, pois são facilmente corrompidos por
lisonjas para contrariar sua religião. Aqueles que fazem naufrágio de uma boa consciência,
em breve farão naufrágio da fé.
3. Ele profanaria o templo, mas não sozinho.
Daniel 11.31 E estarão ao lado dele forças que profanarão o santuário, isto é, a fortaleza, e
42
tirarão o holocausto contínuo, estabelecendo a
abominação desoladora.
Daniel 11.32 Ainda aos violadores do pacto ele perverterá com lisonjas; mas o povo que
conhece ao seu Deus se tornará forte, e fará
proezas.
Ele tinha a seu lado não apenas o seu próprio exército que trouxera do Egito, mas um grande
grupo de desertores da religião judaica que se
juntou a eles, e profanaram o santuário, não só a
cidade santa, mas o templo. Temos a narrativa dessa história em Macabeus 1.21 e seguintes. Ele
entrou com orgulho no santuário, e profanou o
altar de ouro, o candelabro, etc. E assim, (v. 25)
houve um grande luto em Israel; os príncipes e anciãos lamentaram o fato. Antíoco entrou no
templo mais sagrado; Menelau, que traiu as leis
e seu próprio país, foi seu guia. Antíoco, tendo
resolvido trazer tudo sobre o altar relativo à sua própria religião, tirou o sacrifício diário, v. 31.
Alguns observam que a palavra “Tammidh”,
que significa “não mais do que diariamente”, é usada somente aqui, em referência ao sacrifício
diário. Então, ele configura a abominação da
desolação sobre o altar (1 Mac. 1.54), chamando
o templo, de “templo de Júpiter, deus do Olimpo”, 2 Mac. 6.2.
4. Ele perseguiu aqueles que mantiveram sua integridade. Embora tenha havido muitos que
abandonaram a aliança e praticaram o mal
43
contra ela, ainda havia um povo que conhecia ao
seu Deus, reteria o conhecimento dele, seriam fortes e fariam proezas, v. 32. Enquanto os outros
cediam às exigências do tirano, e entregavam
sua consciência para suas imposições, eles
corajosamente mantinham sua posição, e resistiam à tentação, fazendo o próprio tirano
ter vergonha de sua provocação. O bom e velho
Eleazar, um dos principais escribas, quando teve
a carne de porco empurrada em sua boca, bravamente a cuspiu, embora soubesse que
seria atormentado até a morte por fazê-lo, e foi
assim, 2 Mac. 6. 19. Uma mãe e seus sete filhos
foram condenados à morte por se apegarem à sua religião, 2 Mac. 7. Isso pode muito bem ser
chamado de se fazer proezas, a saber, escolher o
sofrimento em vez de o pecado é uma grande
façanha. Foi pela fé, e por ser forte na fé que eles fizeram essas façanhas e foram torturados, não
aceitando o seu livramento, como o apóstolo
fala, provavelmente com referência a essa história, em Hebreus 11.35. Ou pode referir-se à
coragem militar e realizações de Judas
Macabeu, e outros em oposição a Antíoco.
Nota: o conhecimento correto de Deus é, e será a força da alma, e nesta força almas graciosas
farão proezas. Aqueles que conhecem seu nome colocarão sua confiança nele, porque a
confiança irá produzir boas coisas.
44
Agora, acerca deste povo que conhecia o seu Deus, é dito aqui:
(1) Que eles ensinariam a muitos, v. 33. Eles deveriam fazer do seu negócio, o mostrar aos
outros aquilo que eles próprios aprenderam quanto à diferença entre a verdade e a mentira,
o bem e o mal. Note, que aqueles que têm o
conhecimento de Deus em si mesmos devem comunicar seus conhecimentos a outros.
Alguns entendem essa passagem como sendo
aplicada a uma sociedade recém-erguida para a
propagação do conhecimento divino, chamada “Assideans”, composta por homens piedosos,
“pietists” (que é o que o nome indica); que por
tanto conhecerem e praticarem com zelo a lei,
viriam a ser os mestres de muitos.
Note, que em tempos de perseguição e
apostasia, que são tempos difíceis, aqueles que têm conhecimento devem fazer uso dele para o
fortalecimento e estabelecimento
(confirmação) de outros.
Aqueles que compreendem corretamente a
Palavra de Deus devem fazer o possível para trazerem outros para compreendê-la; pois o
conhecimento é um talento que deve ser
aplicado. Ou, eles ensinarão a muitos por sua
perseverança em seu dever, ou pela paciência com que suportam suas tribulações por causa
do seu amor à verdade. Bons exemplos
45
ensinarão a muitos, pois são as instruções mais
poderosas.
(2.) Eles cairiam pela crueldade de Antíoco, deveriam ser condenados à tortura, e
condenados à morte, por causa da sua raiva. Embora eles fossem tão excelentes,
inteligentes, e tão úteis para outras pessoas,
ainda assim Antíoco devia se mostrar sem
piedade, e eles cairiam por alguns dias; por isso pode ser lido em Apocalipse 2.10, “terás
tribulação de dez dias”. Nós lemos muito, nos
livros dos Macabeus, sobre o uso bárbaro de
Antíoco dos judeus piedosos, que ele matou em guerras e outros que ele assassinou a sangue
frio. As mulheres foram condenadas à morte
por terem seus filhos circuncidados, e seus
bebês foram amarrados aos seus pescoços, I Mac. 1.60, 61. Mas por que Deus suportou isso?
Como isso pode ser conciliado com a justiça e
bondade de Deus? Eu respondo: Muito bem, se
levarmos em conta o que foi que Deus visava nisto (v. 35), alguns dos entendidos cairão, mas
isto será para o bem da Igreja e seu próprio
benefício espiritual. Eles deveriam ser
purificados e embranquecidos. Eles precisavam então, dessas mesmas aflições. O melhor deles
tem ainda alguma escória que deve ser
eliminada, e a participação nas dificuldades dos
problemas públicos, ajuda a fazer isso; santificando-os ainda mais pela graça de Deus.
Estas tribulações são meios para mortificar suas
46
corrupções, desmamá-los do mundo, e
despertá-los para uma maior seriedade e diligência na religião. Eles foram provados
como a prata na fornalha, e limpos como o trigo
é separado do joio no celeiro.
Seus sofrimentos por causa da justiça iria ser um exemplo para a nação dos judeus, a fim de convencê-los da verdade, excelência e poder da
verdadeira religião do Deus vivo que leva os
homens a morrerem por causa do seu amor a
ela.
O sangue dos mártires é a semente da Igreja; e este precioso sangue jamais será derramado em
vão.
(3.) A causa da religião não deveria ser vencida, de modo que eles cairiam, mas não seriam
totalmente abatidos, porque deveriam ter um
pouco de ajuda, v. 34. Judas Macabeu, seus irmãos, e alguns com eles, deviam se tornar a
cabeça contra o tirano, e afirmar a causa de sua
religião ferida.
Também é predito que muitos se ajuntariam a
eles com lisonjas, quando vissem os Macabeus prosperando, alguns judeus deveriam se juntar
com aqueles que não são verdadeiros amigos da
religião, mas só iriam fingir amizade, tanto
quanto projetar traí-los, na esperança de subir com eles, porém seriam provados pelo fogo (v.
35) que iria separar o precioso do vil, e por isso
47
os que fossem perfeitos se manifestariam entre
aqueles que não são.
(4.) Embora estes problemas pudessem continuar por muito tempo, todavia eles teriam
um fim. Eles são por um tempo determinado,
por um tempo limitado, fixado nos conselhos
divinos. Esta guerra deve ser realizada. Até aqui e agora, o poder do inimigo virá, mas não mais
além disso.
5. Ele cresceu muito orgulhoso, insolente, e profano, e ficando inchado com suas conquistas
ousou desafiar o Céu, e espezinhar tudo o que
era sagrado, v. 36. Aqui, alguns pensam que começa uma profecia do anticristo. É evidente
que Paulo, em sua profecia da ascensão e
reinado do homem do pecado faz alusão a isto
em 2 Tes 2.4, que mostra que Antíoco era um tipo e figura do Anticristo.
(1.) Ele deveria desonrar impiamente o Deus de Israel, o único Deus vivo e verdadeiro, chamado
aqui o Deus dos deuses. Ele deveria, em desafio
dele e de sua autoridade agir segundo a sua vontade contra o seu povo e sua santa religião;
ele deveria exaltar-se acima dele, como
Senaqueribe fizera no passado, e deveria falar
coisas terríveis contra ele, contra suas leis e instituições. Isto foi cumprido quando Antíoco
proibiu que sacrifícios fossem oferecidos no
48
templo de Deus, ordenando que os sábados fossem profanados, e que o santuário e as
pessoas santas serem poluídos, a fim de que
pudessem se esquecer da lei e alterar todas as
ordenanças, e isto sob pena de morte, I Mac. 1. 45.
(2) Ele devia colocar desprezo sobre todos os outros deuses, orgulhosamente, e se
engrandeceria sobre todo deus, mesmo os
deuses das nações. Antíoco escreveu a seu próprio reino, que cada um deveria deixar os
deuses que tinha adorado, e adorarem
conforme ele ordenou, contrariando a prática
de todos os conquistadores que vieram antes dele, I Mac. 1. 41, 42. Todas as nações
concordaram com a ordem do rei; apaixonados
como eram de seus deuses, porém não
considerando que valeria a pena sofrer por causa deles.
Antíoco não considerou a qualquer deus, e se engrandeceu acima de tudo, v. 37. Ele estava tão
orgulhoso, que se achava acima da condição de
um homem mortal, que poderia comandar as ondas do mar, e alcançar as estrelas do céu,
como sua insolência e arrogância são expressas,
2 Mac. 9.8, 10. Assim, ele consumiu tudo à sua
frente, até que a ira foi realizada (v. 36), até que foi executado o seu comprimento, e enchido a
medida de sua iniquidade; porque aquilo que
49
está determinado será feito; nada mais, nada
menos.
(3.) Ele deveria “segundo a profecia”, ao contrário do caminho dos gentios,
desconsiderar o Deus de seus pais, v. 37. Embora
uma afeição à religião de seus antepassados
fosse, entre as nações, quase tão natural para eles como o desejo das mulheres (porque, se
você pesquisar as ilhas de Quitim, não vai
encontrar uma nação sequer que tenha mudado
seus deuses... Jeremias 2.10,11, especialmente porque os reis temiam desagradar ao povo por
atacarem os deuses que adoravam. Mas, ainda
assim, Antíoco não deve considerar o Deus de
seus pais, pois criou leis para abolir a religião de seu país, e trazer os ídolos dos gregos. Apesar de
seus antecessores terem honrado o Deus de
Israel, e dado grandes presentes para o templo
em Jerusalém (2 Mac. 3. 2, 3), ele ofereceu as maiores indignidades a Deus e seu templo.
(4.) Ele deve estabelecer um deus desconhecido, um novo deus, v. 38. Em sua propriedade, na sala
do Deus de seus pais (Apolo e Diana, deidades de
prazer), ele deverá honrar o deus das fortalezas, uma suposta divindade de poder, um deus a
quem seus pais não conheceram, nem
adoraram; porque ele vai pensar em poder e
sabedoria para se destacar de seus pais. Este parece ser Júpiter, conhecido entre os fenícios
pelo nome de Baal-Semen, o senhor do céu, mas
50
nunca havia sido introduzido entre os sírios até
que Antíoco o fizesse. Assim, ele deve fazer ao
mais forte, ao templo de Jerusalém, que é
chamado de o santuário da fortaleza (v. 31), e lá ele deve colocar a imagem desse deus estranho.
Alguns entendem a profecia como se referindo
ao fato de que ele deve atender às condições
deste deus, e não somente reconhecê-lo, mas deve aumentar sua glória, colocando a sua
imagem em cima do altar de Deus.
VI. Parece que temos no versos 40 uma predição relativa a outra expedição ao Egito, ou,
pelo menos, uma luta com o Egito. Os romanos tinham-no impedido de invadir o Egito, mas
como o rei do sul vem contra ele em seus
territórios, Antíoco, o rei do norte, vem contra
ele como um turbilhão, com incrível rapidez e fúria, com carros e cavalos, muitos navios, e
uma grande força. Ele viria como uma
inundação sobre alguns países, e passaria. Nesta
marcha rápida muitos países cairiam diante dele, e ele entraria por fim na terra gloriosa, a
terra de Israel. Temos aqui, a mesma palavra
que é traduzida por “terra aprazível”, em Daniel
8.9. Algumas nações escapariam da sua fúria, particularmente Edom, Moabe e os chefes dos
filhos de Amom, v. 41. Ele não fez desses países
seus tributários, porque haviam se juntado a ele
contra os judeus. Esta foi sua quarta e última expedição contra o Egito, no décimo ou décimo
primeiro ano de seu reinado, sob o pretexto de
51
ajudar o irmão mais novo de Ptolomeu Philometer. Nós não lemos sobre qualquer
grande matança feita nesta expedição, mas
grande pilhagem, porque foi com este propósito
que veio sobre o Egito; para se apoderar dos seus tesouros de ouro e prata, e todas as coisas
preciosas v. 43.
VII. Temos nos últimos versos do décimo primeiro capítulo, uma previsão da queda e
ruína de Antíoco, como citada anteriormente no capítulo oitavo, verso 25, quando ele estivesse
no auge de sua honra, com a vitória, e carregado
de despojos, notícias vindas do leste e do norte
(nordeste) o espantariam, v. 44. Ou, Ele seria notificado que o rei dos partos estava invadindo
seu reino. Isso o obrigou a deixar de lado os
projetos que tinha em andamento, indo contra
os persas e partos que haviam se revoltado contra ele; o que ocorreu no momento em que
intentava extirpar completamente a nação
judaica, e teve que se empenhar na batalha na qual morreu. Isto é explicado por uma passagem
em Tácito (embora um ímpio), onde elogia
Antíoco por sua tentativa de tirar a superstição
dos judeus, e trazer os costumes dos gregos entre eles, para aperfeiçoar uma nação odiosa, e
lamenta que ele tivesse sido impedido de
realizá-la pela guerra parta.
Ora aqui está,
52
1. O último esforço de sua ira contra os judeus. Quando se encontrava perplexo e
envergonhado em seus assuntos, deve ir
adiante com grande furor, para destruir e extirpar a muitos, v. 44.
Nota do tradutor: Veja que isto explica em boa parte a razão pela qual Satanás virá com grande
fúria sobre os judeus e cristãos no tempo do fim,
sabendo que pouco tempo lhe resta, conforme registro no livro de Apocalipse.
Vendo a impossibilidade do cumprimento de todos os seus projetos através do Anticristo, e
diante da vinda anunciada de Jesus para julgar
os ímpios da Terra, ele se sentirá em extremo desgostoso e irado, e procurará derramar a sua
fúria sobre os santos, tal como inspirara Antíoco
Epifânio a fazer no passado.
A humanidade é portanto, apenas o palco onde se desenrola a grande guerra entre Satanás e Deus – o conflito descrito em Gênesis que
haveria entre a semente da mulher e a da
serpente.
A ira de Antíoco aumentou quando soube dos sucessos de Judas Macabeu contra seus
capitães, quanto a impossibilitar que eles cumprissem as ordens que lhes deu para que
destruíssem Jerusalém.
53
Em seguida, ele plantou as tendas do seu palácio, ou tendas de sua corte, entre os mares, entre o Mar Grande (Mediterrâneo) e o Mar
Morto. Ele montou seu pavilhão real em Emaús,
perto de Jerusalém, em sinal de que, embora ele
não pudesse estar presente, havia dado plenos poderes aos seus capitães para empreenderem
a guerra contra os judeus com o máximo rigor.
Ele colocou ali a sua tenda, como se tivesse
tomado posse do glorioso monte santo e chamou-lhe de sua propriedade.
Nota: Quando a impiedade cresce muito impudente podemos ver sua ruína próxima.
2. Sua saída: Ele chegará ao seu fim e não haveria quem o ajudasse; Deus o interrompeu no meio
de seus dias e ninguém seria capaz de impedir sua queda. Isto é o mesmo que foi predito em
Dan 8.25 (Ele será quebrado sem mão), onde
teve uma visão do seu fim miserável.
Nota: Quando o tempo de Deus chegar para trazer aos opressores orgulhosos o seu fim, ninguém será capaz de ajudá-los, nem talvez
inclinados a ajudá-los; por temerem se tornar
participantes dos mesmos juízos de Deus, e se o
Senhor nãos os ajuda, quem deveria?
Dos reis que vieram depois de Antíoco nada foi
profetizado, por que ele seria o inimigo mais pernicioso para a Igreja, que era um tipo do filho
da perdição, a quem o Senhor Jesus matará com
54
o sopro de sua boca e destruirá com a
manifestação da sua vinda, e ninguém poderá
ajudá-lo.
Nota do tradutor: É possível que se indague, por que na revelação do arcanjo Gabriel ao profeta Daniel, sobre as coisas que deveriam suceder
depois dele até próximo à vinda do Messias
prometido, se dedicou tanto espaço para
Antíoco Epifânio, e relativamente não tanto para os que o antecederam e vieram depois dele?
Afinal não era o chifre pequeno, comparado com os demais?
Todavia, ninguém o excedeu em assolações ao povo de Israel como ele, e esta é a razão por que
se encontra destacado de tal forma na profecia,
pois, importava que assim sucedesse para que fosse precipitada a chegada do Messias como o
Redentor de Israel, para consolá-lo e
recompensá-lo em suas tribulações sofridas por amor à verdade.
De igual modo sucederá no tempo do fim, pois Antíoco Epifânio é um tipo perfeito do
Anticristo, que se levantará sobre a Terra no
tempo de fim, para assolar o povo de Israel, e
disto poderão ser somente livrados pela manifestação de Jesus em glória em sua
segunda vinda.
55
As alianças entre as nações sempre visaram ao chamado “equilíbrio da balança do poder”, cujo
significado poderemos apreciar melhor nas próprias palavras de um estadista (Henry
Kissinger) que entende na prática este assunto
melhor do que ninguém, e que publicou
recentemente um livro intitulado Ordem Mundial, que se encontra cedido para leitura
grátis no formato Epub na Internet.
Ele mostra que tais alianças não passam de ações casuísticas para resguardar a segurança e
prosperidade de cada nação que delas participam, sem que haja um verdadeiro caráter
de fidelidade à aliança firmada ou a princípios
morais.
Este é o modo de governar no mundo desde que o pecado entrou no mesmo, e Deus, em sua infinita sabedoria o permite, sem consentir
nisto, pois sabe que um mundo pecador não tem
o poder de agir de outra forma, senão a de tentar
se manter pelo uso do engano e da injustiça.
Dignas de registro a este respeito são as palavras do apóstolo Paulo em II Tessalonicenses 2.7-12:
“Porque já o mistério da injustiça opera; somente há um que agora o retém até que do
meio seja tirado;
56
E então será revelado o iníquo, a quem o Senhor desfará pelo assopro da sua boca, e aniquilará
pelo esplendor da sua vinda;
A esse cuja vinda é segundo a eficácia de Satanás, com todo o poder, e sinais e prodígios
de mentira,
E com todo o engano da injustiça para os que
perecem, porque não receberam o amor da verdade para se salvarem.
E por isso Deus lhes enviará a operação do erro, para que creiam a mentira; Para que sejam
julgados todos os que não creram a verdade,
antes tiveram prazer na iniquidade.”
Veja que ele fala do mistério da injustiça que já
opera no mundo desde a mais remota
antiguidade, pois este é o modo de Satanás
reger, pois é o príncipe do mundo.
Os que não amam a verdade de Deus estão debaixo do seu governo satânico, e não seria
então de se esperar, que viesse da parte deles o
que se refere ao amor, à piedade, à lealdade e à
justiça.
Tudo isto aparece de forma muito clara no livro
escrito por Henry Kissinger, que a propósito é um dos principais atores para a consolidação da
chamada Nova Ordem Mundial que há de
57
conduzir por fim o Anticristo ao poder sobre todas as nações.
Destacamos a seguir, algumas passagens do referido livro, para uma melhor apreciação do
que estamos afirmando.
A mais se refere o Sr Henry Kissinger neste capítulo sobre a ordem europeia, e estamos
pulando para a parte em que se refere à paz de Vestfalia – seria esta paz e segurança o
prenúncio da busca daquelas referidas pelo
apóstolo Paulo em I Tessalonicenses 5, que
haveria no tempo do fim como algo declarado pelas nações, em razão de suas alianças
enganosas?
Mas vejamos o que Kissinger tem a nos dizer a respeito destas alianças.
“A Paz de Vestfália
Em nossa era, a Paz de Vestfália adquiriu uma ressonância especial como o marco do advento de um novo conceito de ordem internacional
que se disseminou pelo mundo. Na época, os
representantes que se reuniram para negociá-la
estavam mais preocupados com considerações de protocolo e status.
Quando os que representavam o Sacro Império Romano-Germânico e seus dois principais
adversários, França e Suécia, concordaram, em
58
princípio, com a convocação de uma
conferência de paz, o conflito já vinha se
desenrolando havia 23 anos. Mais dois anos de
batalhas decorreram antes que as delegações efetivamente se encontrassem. Nesse meio-
tempo, cada lado fez gestões para fortalecer
seus aliados e suas bases de apoio internas.
Ao contrário de outros acordos marcantes, como o Congresso de Viena, em 1814-15, ou o Tratado de Versalhes, em 1919, a Paz de
Vestfálianão nasceu de uma única conferência,
e o cenário não era um geralmente associado à
reunião de estadistas ponderando graves questões de ordem mundial. Refletindo a
grande variedade de participantes de uma
guerra que se espalhou da Espanha à Suécia, a
paz surgiu a partir de uma série de acordos assinados separadamente em duas cidades
diferentes da Vestfália. As potências católicas,
incluindo 178 participantes dos diferentes
Estados do Sacro Império Romano-Germânico, se reuniram na cidade católica de Münster. As
potências protestantes se encontraram cerca de
50 quilômetros dali, na cidade de Osnabrück, de
população luterana e católica. Os 235 delegados e seus auxiliares instalaram-se nos aposentos
que conseguiram encontrar nas duas pequenas
cidades, nenhuma das duas jamais
consideradas apropriadas para abrigar um evento de grandes proporções, muito menos
um congresso reunindo todas as potências
59
europeias.13 O enviado suíço “ficou alojado no
andar de cima da oficina de um tecelão, num
quarto que fedia a salsicha e óleo de peixe”, enquanto a delegação da Baviera obteve 18
camas para seus 29 integrantes. Sem contar
com alguém que presidisse oficialmente ou
mediasse a conferência, nem com sessões plenárias, representantes se encontravam em
reuniões ad hoc e se deslocavam numa zona
neutra entre as duas cidades para esclarecer
suas posições, encontrando-se informalmente, às vezes, em vilarejos no meio do caminho.
Algumas das potências mais importantes
instalaram representantes em ambas as
cidades. Combates continuavam a ser travados em vários pontos da Europa enquanto se
desenrolavam os encontros, fazendo com que a
dinâmica da situação militar afetasse o curso
das negociações.
A maior parte dos delegados tinha chegado munida de instruções de caráter
eminentemente prático, baseadas em
interessesestratégicos.14 Ainda que repetissem
frases idênticas de busca pela “paz na cristandade”, sangue demais havia sido
derramado para que este ideal elevado fosse
atingido por meio de uma unidade política ou
doutrinária. Estava claro que a paz seria construída, se é que isso seria possível, num
equilíbrio entre rivais.
60
A Paz de Vestfália, gerada a partir dessas discussões tortuosas, é, provavelmente, o
documento diplomático mais citado da história
europeia, apesar de não existir um tratado único que consagrasse os seus termos. Nem os
delegados jamais se encontraram numa única
sessão plenária para adotá-lo. Na realidade, a paz
vem a ser a soma de três acordos complementares separados, assinados em
momentos diferentes em diferentes cidades. Na
Paz de Münster, de janeiro de 1648, a Espanha
reconhecia a independência da República Holandesa, encerrando oito décadas de revolta
holandesa, que havia se confundido com a
Guerra dos Trinta Anos. Em outubro de 1648,
grupos separados de potências assinaram o Tratado de Münster e o Tratado de Osnabrück,
com termos semelhantes, incorporando
porções de um tratado no outro por meio de
referências mútuas.
Ambos os principais tratados multilaterais proclamavam como objetivo “paz e amizade
cristã, universal, perpétua, verdadeira e
sincera” para “a glória e a segurança da
cristandade”.15 Os termos não eram substancialmente diferentes de outros
documentos do período. Contudo, os
mecanismos pelos quais seus objetivos seriam
atingidos não tinham precedentes. A guerra havia abalado pretensões à universalidade ou à
solidariedade religiosa. Tendo início como uma
61
luta de católicos contra protestantes, ela se
transformou — especialmente após a entrada da
França contra o católico Sacro Império
Romano-Germânico — num confronto generalizado, envolvendo alianças temporárias
e contraditórias. De modo semelhante aos
conflitos no Oriente Médio de nossa época, os
alinhamentos sectários eram invocados em busca de solidariedade e motivação na batalha,
mas com igual frequência eram descartados e
atropelados pelos interesses geopolíticos ou
simplesmente pelas ambições de personalidades exageradas. Todas as partes
tinham sido, em algum momento da guerra,
abandonadas por seus aliados “naturais”;
nenhuma delas havia assinado os documentos com a ilusão de que fazia algo além de atender a
seus próprios interesses e prestígio.
Paradoxalmente, esse sentimento de exaustão e cinismo generalizados permitiu que os
participantes convertessem os meios práticos para pôr fim a uma guerra específica em
conceitos gerais de ordem mundial.16 Com
dezenas de participantes endurecidos pela
guerra se encontrando para resguardar seus espólios, antigas formas de deferência
hierárquica foram postas de lado. Ficou
consagrada a igualdade dos Estados soberanos,
a despeito de diferenças em termos de poder militar ou sistema político. Novas potências,
como a Suécia ou a República da Holanda,
62
receberam o mesmo tratamento protocolar
concedido a grandes potências já estabelecidas,
como França e Áustria. Todos os reis eram
tratados por “majestade” e todosos embaixadores tratados por “excelência”. Esse
novo conceito foi posto em prática a ponto de as
delegações, exigindo absoluta igualdade,
conceberem um processo que permitia com que entrassem no salão de negociação por
portas individuais, exigindo a construção de
vários acessos, e avançassem rumo aos seus
lugares na mesma velocidade, de modo que ninguém fosse submetido à humilhação de ter
de esperar que a outra parte chegasse quando
bem entendesse.
A Paz de Vestfália tornou-se um ponto de inflexão na história das nações porque os elementos que instituiu eram simples mas
exaustivos. O Estado, não o império, a dinastia
ou a confissão religiosa, foi consagrado como a
pedra fundamental da ordem europeia. Ficou estabelecido o conceito da soberania do Estado.
Foi afirmado o direito de cada um dos
signatários escolher sua própria estrutura
doméstica e sua orientação religiosa, a salvo de qualquer tipo de intervenção, enquanto novas
cláusulas garantiam que seitas minoritárias
poderiam praticar sua fé em paz, sem temer
conversão forçada.17 Para além das exigências do momento, começavam a ganhar corpo os
princípios de um sistema de “relações
63
internacionais”, um processo motivado pelo
desejo comum de evitar a recorrência de uma
guerra total no continente. Trocas de caráter
diplomático, incluindo a instalação em bases regulares de representantes residentes nas
capitais dos outros estados (prática até então
mantida apenas pelos venezianos), foram
concebidas para dar maior regularidade às relações e promover as artes da paz. As partes
vislumbraram a possibilidade defuturas
conferências e consultas segundo o modelo
vestfaliano como fóruns para a solução de disputas, antes que estas levassem a conflitos. O
direito internacional, desenvolvido por
acadêmicos-conselheiros itinerantes, como
Hugo de Groot (Hugo Grócio), durante a guerra, foi tratado como um corpo de doutrina
reconhecida, voltado para o cultivo da harmonia
e passível de ser expandido, tendo em seu cerne
os próprios tratados de Vestfália.
A principal característica desse sistema, e o motivo de ele ter se espalhado pelo mundo,
residia no fato de que suas disposições tinham a
ver mais com procedimentos do que com
substância. Caso um Estado aceitasse esses requisitos básicos, poderia ser reconhecido
como um cidadão internacional capaz de
manter sua própria cultura, política, religião e
práticas internas, protegido pelo sistema internacional contra intervenções externas. O
ideal de uma unidade imperial ou religiosa — a
64
premissa em vigor na maior parte das ordens
históricas da Europa e de outras regiões — implicava que, teoricamente, um único centro
de poder poderia ser plenamente legítimo. O
conceito vestfaliano tomava a multiplicidade
como seu ponto de partida e unia uma múltipla variedade de sociedades, cada uma aceita como
uma realidade, numa busca comum por ordem.
Em meados do século XX, este sistema
internacional já havia se expandido por todos os continentes e continua a constituir o arcabouço
da ordem internacional atual. A Paz de Vestfália
não determinava um arranjo específico de
alianças ou uma estrutura política europeia permanente. Com o fim da Igreja universal
como fonte última de autoridade, e com o
enfraquecimento do Sacro Imperador Romano,
o conceito ordenador da Europa passou a ser a balança de poder — a qual, por definição,
envolve neutralidade ideológica e a capacidade
de adaptação a circunstâncias em constante
mudança. Lorde Palmerston, o estadista britânico do século XIX, expressou da seguinte
forma seu princípio básico: “Não temos aliados
eternos, nem inimigos perpétuos. Nossos
interesses são eternos e perpétuos, e é nosso dever seguir esses interesses.”18 Instado a
definir de modo mais específico esses
interesses na forma de uma “política externa”
oficial, o aclamado dirigente britânico afirmou: “Quando as pessoas me perguntam… qual é o
objetivo de uma política, a única resposta é que
65
procuramos fazer o que nos parece o melhor, à
medida que cada ocasião se coloca, tomando os
Interesses do Nosso País como o princípio a nos
nortear.”19 (É claro que esse conceito enganadoramente simples funcionou para a
Grã-Bretanha em parte porque sua classe
dominante possuía um sentido comum, quase
intuitivo, do que seriam os interesses permanentes do país.)
Hoje estes conceitos vestfalianos costumam ser criticados como um sistema cínico de
manipulação de poder, indiferente a
considerações de ordem moral. Contudo, a estrutura estabelecida com a Paz de Vestfália
representou a primeira tentativa de
institucionalizar uma ordem internacional com
base em regras e limites formulados em comum acordo e a ser baseada numa multiplicidade de
forças e não na supremacia de um único país.
Conceitos como raison d’État e “interesse
nacional” fizeram sua primeira aparição, representando não uma exaltação do poder,
mas uma tentativa de racionalizar e limitar seu
uso. Por gerações, exércitos tinham marchado
pela Europa sob a bandeira de pretensões morais universais (e contraditórias); profetas e
conquistadores haviam deflagrado guerra total
a serviço de uma mistura de ambições pessoais,
dinásticas, imperiais e religiosas. A interligação de interesses dos Estados — em teoria, algo
lógico e previsível — tinha como objetivo
66
superar a desordem que assolava todo o
continente. Guerras limitadas travadas por
interesses de fácil articulação substituiriam a
era de universalismos antagônicos, com suas expulsões e conversões forçadas e guerra
generalizada consumindo populações civis.
Com todas as suas ambiguidades, a balança de poder era considerada um avanço em relação
aos excessos das guerras religiosas. Porém, como funcionaria a balança de poder?
Teoricamente, era para funcionar com base
numa realidade evidente; como consequência,
todos os participantes deveriam vê-la da mesma maneira. Mas as percepções de cada sociedade
são afetadas por sua estrutura interna, sua
cultura e sua história, e pelo fato de que
elementos de poder — por mais objetivos que sejam — estão em constante movimento. Por
isso a balança de poder precisa ser recalibrada
de tempos em tempos. Ela produz as guerras
cuja extensão ela própria também limita.”
Esta é apenas uma breve citação que destacamos de uma vasta apresentação de
informações e argumentos do Sr Kissinger em
seu livro, com o simples propósito de ilustrar
quão complexo é este assunto pertinente às relações internacionais em razão da própria
complexidade da natureza delas.
A pessoa comum de qualquer povo ou nação pode pensar que uma sonhada paz mundial
67
poderia ser alcançada por simples decisões de
caráter moral e empenho de colaboração entre
as nações.
Todavia não é assim que as coisas funcionam para aqueles que governam, pois têm que atender aos mais diversos interesses, e
notoriamente estes não são em sua maior parte
providos de qualificações morais e justas.
O mundo é um grande balcão de negócios onde todos procuram levar a maior vantagem sem se preocupar com o quanto possam perder as
demais partes envolvidas na transação.
O princípio norteador pecaminoso do egoísmo e cobiça que se encontra tão inerentemente
ligado à natureza terrena humana tem se comprovado como uma grande realidade ao
longo de toda a história da humanidade, pelo
que se vê não apenas nas guerras, mas em todas
as formas de prática de engano e injustiça que são vistas não apenas nas relações
internacionais, como até mesmo entre as
pessoas da mesma nacionalidade.
Somente quando Jesus voltar, poderá se pensar em termos de paz e igualdade entre homens e todos os povos e nações, porque então, o ímpio
terá sido desarraigado da terra.
Até que isto ocorra é nosso dever vivermos como pacificadores (não pacifistas com suas
68
bandeiras utópicas). Devemos oferecer a paz e a
vida do evangelho àqueles que tiverem fome e
sede de justiça.
Devemos orar por todos e em todos os lugares,
especialmente pelos governantes, para que tenhamos vida quieta e sossegada, conforme é
agradável a Deus.
Estas orações são necessárias para que o mal seja detido, e a causa do bem prospere, porque
vivemos num mundo tenebroso, em que os
homens estão sujeitos não apenas aos próprios
impulsos pecaminosos, como também às maquinações de Satanás.
Ainda que tenhamos que sofrer pelas consequências adversas que sejam contrárias
aos princípios da fé, neste mundo mau,
podemos manter a tranquilidade de mente e coração, pela confiança no Deus que tem
revelado todo o seu poder para nos guardar e o
nosso tesouro até aquele dia final.
Ele tem demonstrado abundantemente seu poder e onisciência nas Escrituras, para que possamos descansar inteiramente na sua
provisão, sem nada temer.
O livro de Daniel foi escrito, e ele recebe estas revelações da parte de Deus para que fôssemos,
especialmente instruídos quanto a esta verdade relativa ao controle total de Deus sobre as
nações.
Nada sucederá que não tenha sido previsto e controlado nos seus conselhos eternos.
Tudo que tiver de acontecer acontecerá, mas sempre debaixo da sua supervisão divina.
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Nenhum fio de cabelo cairá de nossa cabeça sem que ele não o tenha contado antes.
Lembremos que até mesmo alianças feitas por meio de casamentos que não prosperariam
foram preanunciadas por ele com grande antecedência, para nos revelar seu
conhecimento pleno de toda a história da
humanidade, não apenas até quando Cristo
retornará a este mundo, mas por toda a eternidade. Tudo é do seu conhecimento e
haverá de caminhar conforme o conselho da
sua própria vontade divina.
Glórias ao seu santo e poderoso Nome, hoje e para sempre, amém!