43

O valor do corpo na educacao crista - Autor: Prof. Fernando Albano

Embed Size (px)

Citation preview

ENCOEB 2010

O valor do corpo na educação cristã

Prof.: Pb. Fernando Albano

INTRODUÇÃO

“E o verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai” (Jo 1.14).

• O objetivo desta palestra é afirmar o valor do corpo na educação cristã e apresentar seu fundamento bíblico teológico, assim como pedagógico. Também analisar algumas ideias equivocadas sobre o corpo, e propor caminhos de sua valorização na educação cristã.

1 CORPOREIDADE E APRENDIZAGEM

As igrejas cristãs têm dificuldade para integrar o corpo em sua expressão de fé. Fé torna-se algo da cabeça, ou algo sentimental. Em qualquer uma das alternativas parece que se tem dificuldade com o corpo que pensa e se emociona. Também, às vezes o corpo é entendido como fonte do mal e pecado.

l

“No caso da educação, sabe-se que os maus-tratos ao corpo estiveram presentes desde longa data. Na tradição judaica, vemos que o autoritarismo e abuso do corpo pode ser ilustrado com o termo usado para designar a educação no povo de Israel: o verbo hebraico para educar (“yasar”) tem dois sentidos: de instruir e também de castigar e chicotear” (STRECK, 2005).

• Manacorda mediante seus estudos sobre a história da educação confirma esta tendência. Denomina-a de “sadismo pedagógico”. Manacorda destaca que eram os professores que batiam nos alunos.

• No âmbito cristão, apesar de uma visão mais positiva da criança, tendo como modelo a atitude de Jesus de abençoá-la (cf. Mc 10.14-15), não se eliminou o “sadismo pedagógico”. Na realidade esse desrespeito para com o corpo vem desde os primórdios do cristianismo.

Espiritual X Corporal

• Chega-se a cultivar unicamente as alegrias espirituais, de modo que, o “corpo ingressa em processo de espiritualização crescente por meio da supressão ou, pelo menos, do domínio de seus desejos, a fim de aproximar-se cada vez mais do mundo espiritual e divino, pátria da perfeição”.

Salvação do corpo

• Na Bíblia, o corpo tem um sentido positivo, afinal é criação divina (Gn 2.7). O próprio Deus se torna carne para salvar (Jo 1.14). Diante disso, cabe a educação cristã resgatar o valor do corpo.

2 DUALISMO CORPO/ALMA

• Há na teologia pentecostal um dualismo moderado de natureza axiológica. Bergstén afirma: “(...) o real valor do corpo está na sua alta finalidade de ser a morada, o tabernáculo em que habita a alma e o espírito do homem (...)”. .

• Silva afirma: “... vosso espírito, e alma e corpo” (1 Ts 5.23). Não é “... alma e espírito e corpo”, nem tampouco “... corpo e alma e espírito”. O espírito é a parte proeminente, daí ser mencionada primeiro; o corpo é a mais inferior, e por isso é mencionada por último; a alma fica no meio e por isso é mencionada entre os outros dois”.

• Segundo a doutrina pentecostal o ser humano em sua constituição é formado de espírito, alma e corpo. Sua antropologia é tricotômica, ou seja, o ser humano possui três partes distintas que juntas formam o ser humano.

• O valor do corpo consiste em ser meio de expressão da alma e espírito. Deste modo percebe-se certa “hierarquização” da constituição humana, atribuindo-se maior valor à parte “espiritual” do que a material do ser humano. De modo implícito se percebe uma herança dualista, de separação e desvalorização do corpo.

3 O CORPO NO CULTO PENTECOSTAL

Esse dualismo moderado que desvaloriza o corpo é contraditório, pois no culto pentecostal a mobilização e entusiasmo dos corpos pentecostais são evidentes. O culto pentecostal é uma festa. Há palmas, choros, danças, coreografias, “levantar e abaixar de mãos” entre outras.

Afirmação do corpo

• Na doutrina oficial o corpo está de certo modo desvalorizado, e limitado, enquanto que na prática litúrgica o corpo é afirmado.

• Essa aparente contradição possivelmente pode ser compreendida do seguinte modo: na perspectiva pentecostal, boa parte das expressões corporais mais entusiasmadas dos crentes, não são atitudes meramente voluntárias por parte do sujeito, antes se entende como manifestações do Espírito Santo sobre os seus corpos.

4 O CORPO COMO AMEAÇA

• Também pode se observar no meio cristão, frequentes jejuns para mortificar a carne, entendida como o corpo com suas paixões que se opõem ao espírito. Desse modo, essa compreensão assemelha-se muito à concepção platônica que considera o corpo como sendo inerentemente mal.

• Wagner Gaby corrobora: “Muitos crentes em Jesus preocupam-se somente com o bem-estar da alma, esquecendo-se de que também precisam zelar pelo corpo (...).

• Esse descaso para com o corpo sugere uma má compreensão teológica a respeito da sua natureza. Observa-se que o corpo é concebido muitas vezes como algo perigoso, que precisa ser controlado, para não se incorrer em mundanismo e perda da identidade pentecostal.

5 PEDAGOGIA DO CORPO

• A educação cristã pode promover um olhar positivo da pessoa sobre o seu próprio corpo, suas necessidades e desejos. Isso vale tanto para alunos como para os professores. Deve haver um basta à “demonização” do corpo e seus sentidos.

• As pessoas não são máquinas, nem apenas cabeças, mas corpos que sentem e que pensam. Não se pode pensar em ser humano sem sua dimensão corpórea.

Fundamento bíblico

• O Antigo Testamento compreende o ser humano “holisticamente” e não faz divisões, entre corpo mortal e alma imortal, ou entre corpo e espírito. Schmidt afirma que conceitos antropológicos, como “carne” ou “corpo”, “coração” ou “alma”, significam menos uma parte do ser humano do que uma dimensão do ser humano.

• Os autores do Novo Testamento na sua maioria são judeus, de modo que, a visão de ser humano está estreitamente relacionada à concepção veterotestamentária. Os principais termos antropológicos gregos yuch, (psyché), pneu<ma (pneuma), sarx (sarx), sw<ma (soma) e kardia (kardia) podem significar tanto um aspecto da pessoa quanto a pessoa inteira.

Valorização do corpo

• Nos Evangelhos observam-se os milagres de Jesus relacionados às necessidades corporais (Lc 4.17-21; 13.16; Jo 8.44). Jesus tem compaixão das pessoas doentes e liberta-as de suas dores e enfermidades. Diferentemente do pensamento platônico, as necessidades corporais são tratadas seriamente.

Educação cristã

• Diante disso, a educação nas igrejas, principalmente pentecostais daria mais importância às formas concretas e artísticas de aprender. Por que não valorizar mais a linguagem do teatro, da poesia, da pintura, da música e de outras artes? Estes são importantes meios de facilitar o processo ensino aprendizagem. .

CONSIDERAÇÕES FINAIS

• O desafio que a corporeidade desperta para a educação cristã é justamente seu reconhecimento: é ser levado em conta seriamente, como um fator fundamental e constitutivo do ser humano integral.

No atual contexto da educação cristã, uma abordagem mais equilibrada e integral do ser humano, pode contribuir para a superação do dualismo antropológico que desvaloriza o corpo. Afinal, o cristianismo tem como fundamentos básicos a fé no Deus que se tornou carne e que promete a ressurreição do corpo.

• A afirmação de que o mal tem sua origem na liberdade de decisão e ação da criatura não é capaz de isentar o Criador da responsabilidade para essa sua criação: Seja qual for o modo como a criatura é livre, ela é criatura de Deus justamente nessa sua liberdade.

• Entendemos que o esforço no sentido de isentar o Criador foi um engano da apologética cristã.

• Este não poderia corresponder ao testemunho do N. T., segundo o qual o próprio Deus assumiu e carregou, pela morte de cruz de seu Filho, a responsabilidade pelo mundo por ele criado (PANNENBERG, p. 246).

A importância da liberdade

• Se o Criador quis criaturas autônomas e livres em relação a ele, que o reconhecem espontaneamente em sua divindade, então também existe na decisão para a realização da criação o risco de abuso dessa liberdade criatural.

• Como disse Tillich: “Não permitir o pecado significaria não permitir a liberdade, e isto equivaleria a negar a verdadeira natureza do ser humano, sua liberdade finita”.

• O mal e as desgraças não são desejados por Deus como tais, isto é, não podem ser para si objeto de seu bem querer e, portanto, o fim de sua vontade. Mas são aceitos como efeitos colaterais e, deste modo, como condições de realização por parte das criaturas da intenção de Deus.

• E, isso sob o ponto de vista do governo divino do mundo, o qual é capaz de ainda transformar o mal em bem, ao ser dirigido para a reconciliação e redenção do mundo por Jesus Cristo.

• A responsabilidade pelo surgimento do mal na criação recai inevitavelmente sobre o Deus presciente e permissivo, embora o agir das criaturas constitua a causa direta.

A responsabilidade de Deus

• Deus também não se subtraiu a essa responsabilidade, antes a assumiu pelo envio e entrega de seu Filho à cruz. Assim Deus confirma sua responsabilidade como Criador pelo mundo por ele criado.

• E nisso o mal é real e suficientemente oneroso não somente para as criaturas, mas também para o próprio Deus. Isso o mostra a morte de seu Filho na cruz.

• “Deus é nosso companheiro de sofrimentos nos males deste mundo, e, por conseguinte, é capaz de nos livrar do mal” (ERICKSON, p. 190).

A pergunta...

• Com tudo isso, porém, ainda não está respondida a pergunta pela razão da admissão do mal e da desgraça por Deus.

• Entretanto, pode ser considerado esclarecido que ambos, o mal e a desgraça, não podem ser objeto positivo da vontade criadora divina.

• Apesar disso, Deus é co-responsável por seu surgimento por meio de sua admissão “previdente”, respondendo por isso com a morte do Filho na cruz.

No, entanto, por que o admitiu?

• A autonomia para a qual a criatura foi criada constitui a razão da possibilidade do mal.

• A autonomia da criatura contém a sedução de tomar-se a si mesma por absoluto na auto-afirmação da própria existência.

• Assim, estamos diante de Gn 3.

• A rebeldia da criatura ante seu criador. A autonomização da criatura acontece. Se deixa dominar pela hibris (orgulho espiritual).

• Uma resposta somente é possível em face da unidade da criação com a obra divina da reconciliação. Só assim, podemos entender que a criação como disse Deus é “boa”.