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Fundamentos Da Fe Crista

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Ensinar a Palavra de Deus e capacitar seus participantes a cumprirem a missão que

Jesus nos deu.

Ensinar a Palavra de Deus e capacitar seus participantes a cumprirem a missão que

Jesus nos deu.

MISSÃO DA ESCOLA BÍBLICA

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Estudos para a Escola Bíblica Sabatina. É proibida a reprodução parcial ou total sem autorização da Conferência Batista do Sétimo Dia Brasileira.

Os Estudos Bíblicos e as Meditações Bíblicas Diárias estão baseados na International Bible Lessons for Christian Education (Lições Bíblicas Internacionais para o Ensino Cristão).

Os textos das referências bíblicas foram extraídos da versão Almeida Revista e Atualizada (Sociedade Bíblica do Brasil) salvo indicação específi ca.

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO CRISTÃDiretor: Pr. Jonas Sommer

EXPEDIENTE

Revisão de textos: Márcio Magno Melo Capa: João Paulo Delfi no da Silva

www.jampadesigner.com

Revisão teológica:

Pr. Jonas Sommer, Pr. Daniel Miranda Gomes Diagramação: Anselmo Burgath

Atendimento e tráfego:

Marcelo Negri (41) 3379-2980

Impressão gráfi ca:

Gráfi ca Monalisa www.grafi camonalisa.com.br

Redação: Rua Erton Coelho Queiroz, 50 - Alto Boqueirão - CEP 81770-340 - Curitiba - PRhttp://www.ib7.org / [email protected]

Copyright© CBSDB, 2013

Fundamentos da Fé Cristã: Um Guia de Estudos / Jonas Sommer e Daniel Miranda Gomes (Orgs.). - - Curitiba, PR: CBSDB, 2013.

216 p. ; 21 cm.

ISBN 978-85-98889-06-1 1. Teologia. 2. Fé Cristã. I. Gomes, Daniel Miranda. II. Sommer,

Jonas. III. Título. CDD: 261

F9816

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SUMÁRIO

Abreviaturas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5

Editorial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7Pr. Jonas Sommer

Capítulo 1As Sagradas Escrituras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13Pr. Jonas Sommer

Capítulo 2A Triunidade Divina . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29Pr. Daniel Miranda Gomes

Capítulo 3Criação e Queda do Homem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47Pr. Daniel Miranda Gomes

Capítulo 4A Humanidade no Pecado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61Pr. Daniel Miranda Gomes

Capítulo 5Graça, Fé e Salvação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77Pr. Edvard Portes Soles

Capítulo 6O Novo Nascimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91Pr. Jonas Sommer

FUNDAMENTOS DA FÉ CRISTÃ

U M G U I A D E E S T U D O S B Í B L I C O S

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Capítulo 7O Batismo Cristão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105Pr. Jonas Sommer

Capítulo 8A Igreja – O Corpo de Cristo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121Pr. Jonas Sommer

Capítulo 9Santifi cação na Vida Cristã . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 137Pr. Edvard Portes Soles

Capítulo 10A Lei de Deus . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 151Pr. Daniel Miranda Gomes

Capítulo 11O Pecado da Idolatria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 167Pr. Daniel Miranda Gomes

Capítulo 12O Santo Dia do Senhor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 183Pr. Wesley Batista de Albuquerque

Capítulo 13Chamados para Fazer Discípulos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 203Pr. Jonas Sommer

Página do Tesoureiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 216

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AA – Almeida Atualizada ARA – Almeida Revista e AtualizadaARC – Almeida Revista e CorrigidaACRF – Almeida Corrigida e Revisada Fiel A21 – Almeida Século 21 ECA – Edição Contemporânea de Almeida

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MateusMarcosLucasJoão AtosRomanos1 Coríntios2 CoríntiosGálatasEfésios FilipensesColossenses1 Tessalonicenses2 Tessalonicenses1ª Timóteo2ª TimóteoTitoFilemonHebreus Tiago 1 Pedro2 Pedro1 João 2 João 3 João Judas Apocalipse

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NOVO TESTAMENTO

GênesisÊxodo LevíticoNúmeros DeuteronômioJosuéJuízesRute1 Samuel2 Samuel 1 Reis2 Reis 1 Crônicas 2 CrônicasEsdrasNeemiasEster Jó Salmos Provérbios Eclesiastes CânticoIsaías Jeremias Lamentações Ezequiel Daniel Oséias Joel Amós Obadias Jonas Miquéias Naum Habacuque Sofonias Ageu Zacarias Malaquias

ANTIGO TESTAMENTO

L I V R O S D A B Í B L I A

NVI – Nova Versão InternacionalKJA – King James Atualizada BV – Bíblia Viva BJ – Bíblia de Jerusalém TEB – Tradução Ecumênica da BíbliaNTLH – Nova Tradução na Ling. de Hoje

ABREVIATURAS DAS VERSÕES BÍBLICAS UTILIZADAS

ABREVIATURAS DE

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8 Estudos Bíblicos

Amados estudantes da Palavra de Deus.A Revista de Estudos Bíblicos deste trimestre traz

13 estudos bíblicos correlacionados aos assuntos trata-dos em nosso curso “Libertos pela Verdade”. O propó-sito desta série de estudos é capacitar mais professores para ministrarem o curso. Desta forma, pretendemos ter mais pessoas envolvidas em nosso “Projeto Semear”. Temos desafiados nossos membros a oferecerem o “Libertos pela Verdade” ao seu círculo de contatos. Agora estamos desafiando você a descobrir a bênção de ensi-nar as verdades do Evangelho a alguém, a se tornar um pai ou mãe na fé de alguém e a desfrutar da graça da colheita, que cremos será abundante, pois “aqueles que saíram chorando, levando a semente para semear, vol-tarão cantando, cheios de alegria, trazendo nos braços os feixes da colheita” (Sl 126:6, NTLH).

Desta forma, nas próximas 13 semanas, prescutare-mos doutrinas essenciais da fé cristã. Conhecer e com-preender os fundamentos da nossa fé é deveras impor-tante. As pessoas que não conhecem o que a Bíblia ensina não têm a habilidade de distinguir entre a ver-dade e o erro, sendo, portanto, “como crianças, levadas ao redor por todo o vento de doutrina” (Ef 4:14). Porém, nós, cristãos, temos um fundamento sólido e precisa-mos conhecê-lo para que, à medida que cresçamos na maturidade cristã, possuamos um melhor discernimento, tendo nossas “faculdades morais exercitadas para dis-tinguir entre o bem e o mal” (Hb 5:14).

Veremos neste trimestre os pilares de nossa fé. O Dr. Wayne Gruden declara que “toda consideração respon-sável de qualquer uma das convicções bíblicas essen-ciais deve estar fundamentada no que Deus diz sobre o

EDITORIAL

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assunto”.1 Por esta razão, começaremos nosso trimes-tre considerando o que Deus disse sobre sua Palavra, a Bíblia, fonte de toda nossa doutrina e nossa única regra de fé e prática. Analisaremos também a doutrina de Deus e avançaremos por outros temas importantes da vida cristã, tais como: a criação e a queda do homem, a sal-vação mediante o sacrifício vicário de Cristo, o batismo e o novo nascimento, a importância da santificação na vida do cristão, pois como asseverou John Wesley, “a conversão tira o cristão do mundo; a santificação tira o mundo do cristão”. Ademais, também estudaremos a vigência do Decálogo, incluindo um estudo sobre a ido-latria e o dia de descanso, e terminaremos o trimestre estudando sobre a ordem de Cristo de fazermos “discí-pulos de todas as nações” (Mt 28:19).

A nossa esperança é que estes ensinamentos sirvam como um manual de estudos, para que você, caro estu-dante, cumpra com a ordem do Mestre e para que, assim, todos nós possamos contribuir para o crescimento do Reino de Deus. Esperamos que estes estudos sejam de bom proveito para todos.

Deus o(a) abençoe!

Pr. Jonas SommerDiretor do Departamento de Educação Cristã

1 GRUDEM, Wayne A. Entenda a fé cristã: um guia prático e acessível com 20 questões que todo o cristão precisa conhecer. São Paulo: Vida Nova, 2010, p. 13.

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10 Estudos Bíblicos

Domingo – 2 Pedro 1:19-21

Nós, crentes em Jesus Cristo, temos algumas bases que sustentam nossa esperança na vida eterna. O após-tolo Pedro afirma que a Escritura é uma delas. Deus revelou sua Palavra por meio dos profetas e apóstolos, no passado. Ele os inspirou pelo Espírito Santo para escreverem as Sagradas Letras isentas de erros. De fato, tudo que sabemos a respeito de Deus vem da reve-lação infalível das Sagradas Escrituras, não por vontade humana, mas por decreto divino. Sem as Escrituras não podemos saber como agradar a Deus. A Escritura é o nosso único guia para a santidade. Se ela não é a Pala-vra de Deus inspirada, perdemos tudo. Hoje, então, qual deve ser nossa oração? Que recebamos as Escrituras como sopro de Deus e usemo-las como tal.

Segunda-feira – Salmos 19:7-11

A Palavra de Deus, revelação do Pai, é declarada perfeita por Davi. Ela é a demonstração mais evidente do amor divino, e nos abre a visão da graça redentora. O efeito prático da Escritura é fazer o homem voltar para Deus, para si mesmo e para a santidade. E a volta ou conversão não é apenas exterior, mas nasce dentro do coração. Ao mesmo tempo, a Escritura é o testemunho contra o pecado e em favor da retidão. O testemunho de Deus em sua Palavra é tão exato que nele encontra-mos sólido conforto, tanto para o presente quanto para o amanhã. Por fim, mentes humildes recebem a Palavra e com ela a sabedoria para a salvação. Coisas ocultas aos sábios são reveladas a criancinhas. Por isso, para

André Garcia Ferreira

MEDITAÇÕES BÍBLICAS DIÁRIAS

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sermos edificados, não podemos ser incrédulos diante das promessas, pois um Evangelho de que duvidamos não pode nos dar sabedoria. Somente uma verdade da qual temos certeza pode nos servir de direção no meio do deserto.

Terça-feira – 2 Timóteo 3:14-17

Paulo estava preocupado com homens que tinham mentes “depravadas”, que enganam e são enganados. Exortando a Timóteo, ele afirma que a Escritura é res-posta suficiente contra as situações e os homens maus que se deve enfrentar. A Palavra de Deus é o alicerce da vida cristã. Por isso, devemos estudá-la para adquirir sabedoria e conhecimento, para estarmos preparados para toda boa obra. Assim, devemos ter confiança em que a Escritura Sagrada é útil e proveitosa para todos os momentos de nossa vida. Ela não é apenas eficaz, mas adaptável também. Não que seu padrão e significado sejam flexíveis, mas sua verdade pode ser aplicada com diferentes e vários métodos; com completa rigidez no conteúdo, mas com perfeita relevância a qualquer momento histórico.

Quarta-feira – Mateus 5:17-19

Existe um dilema nos dias de hoje que pode nos levar a falsas interpretações sobre a diferença entre o lega-lismo e a obediência. Alguns dizem que não precisamos mais da Lei porque estamos debaixo da graça. Outros questionam se aqueles que observam a Lei são legalis-tas. Legalismo, de acordo com a Bíblia, é o cumprimento da Lei como elemento meritório. Em outras palavras, a salvação parte do cumprimento integral dos mandamen-tos divinos. Essa ideia está errada e deve ser refutada! Não podemos usar a Lei para sermos salvos. A salvação

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é dom gratuito de Deus. Mas, então, a Lei não existe mais? A Lei está em pleno vigor. O seu cumprimento é a demonstração de obediência dos salvos em Cristo. Por isso, nós não somos legalistas quando observamos a Lei, porque não a cumprimos para merecer a vida eterna. Observamos a Lei porque já temos a vida eterna, e não para tentar ganhar a vida eterna. Obediência está muito longe do legalismo.

Quinta-feira – 2 Pedro 3:15-16

O mundo ao seu redor influencia a sua confiança em Deus? O apóstolo Pedro confirma a impressionante con-fiabilidade da Palavra de Deus. Pedro, ao olhar para as futuras gerações, advertiu que os escarnecedores iriam colocar em dúvida o retorno de Cristo e questionar a certeza do julgamento. Não devemos permitir que os escarnecedores nos façam vacilar em nossa certeza do cumprimento das promessas de Jesus. À medida que nos esforçamos em agradar àquele que nos arregimen-tou ao seu exército, estaremos imunes às seduções dos falsos mestres.

Sexta-feira – João 20:30-31.

Os feitos miraculosos de Cristo foram resumidos nos Evangelhos por um motivo óbvio: seriam necessários milhares de manuscritos para registrar todos os feitos de Jesus. Estes sinais são escritos pelo evangelista para fomento da fé em Cristo, com a finalidade de que desfru-temos da vida eterna. Se apenas a seleção dos milagres de Jesus, narradas pelos apóstolos, nos bastam para gerar alegria, conforto, esperança e fé, imaginemos como será conviver face a face com nosso Senhor.

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Sábado – Hebreus 1:1-2

Nosso Deus tem prazer em se comunicar com seus filhos. Ele escolheu transmitir sua mensagem por meio de palavras. No início, pelos patriarcas e profetas. Depois veio o relato escrito nas Escrituras. Mas, a men-sagem mais poderosa que ele enviou aos seres huma-nos não foi por palavras, e sim por meio de seu Filho amado. Deus espera de sua Igreja que ela não conheça apenas a Palavra de forma intelectual ou como mero rito religioso, mas que siga o exemplo do Mestre e viva intensamente a Palavra de Deus, desfrutando da obra redentora do Messias.

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As Sagradas Escrituras

Pr. Jonas Sommer6 de Julho de 2013

1TEXTO BÁSICO:

“Pois toda a Escritura Sagrada é inspirada por Deus e é útil para ensinar a verdade, condenar o erro, corrigir as faltas e ensinar a maneira certa de viver”. (2Tm 3:16, NTLH)

INTRODUÇÃO

A Bíblia é sem dúvida alguma o maior livro de todos os tempos, devido à sua antiguidade, à sua circulação total, ao número de línguas para as quais já foi tradu-zida, à sua extraordinária grandeza como obra literária e à sua extrema importância para toda a humanidade.

Devido à sua importância histórica e à sua forma de divulgação, a Bíblia atingiu o status de maior best-seller de todos os tempos. Mais de seis bilhões de cópias da Bíblia completa ou porções já foram vendidas ou distribu-ídas. De igual forma, as traduções bíblicas trazem núme-ros impressionantes. Há duzentos anos, a Bíblia como um todo ou partes dela estava disponível em apenas 68 idiomas. Hoje se calcula que ela já tenha sido tradu-zida em 2.527 idiomas e dialetos.2 Ademais, há projetos em andamento em outras 600 línguas, sendo 500 delas pela primeira vez. Isto cobre mais de 90% da população mundial. Nenhum outro livro está tão presente em nosso mundo como a Bíblia.3

2 Segundo informações da Sociedade Bíblica do Brasil.3 BLANCHARD, John. Por que acreditar na Bíblia? São José dos Campos: Fiel, 2006, p. 5.

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Nosso objetivo no estudo de hoje é o de aprender-mos um pouco mais sobre este precioso livro sagrado.

A COMPOSIÇÃO DA BÍBLIA

Bíblia é uma palavra de origem grega escrita no plural – biblos – e significa “livros”, ou, para ser mais exato, “rolos”. Desta forma, diz-se que a Bíblia é um conjunto de livros agrupados em um único volume.4

O termo “Bíblia” não se encontra nas Escrituras. Ali encontramos os seguintes títulos: Palavra de Deus (Hb 6:5); Livro do Senhor (Is 34:16); Escrituras (Jo 5:39); Palavra de Cristo (Cl 3:16); Palavra da Verdade (2Tm 2:15), entre outros. Segundo consta, foi o teólogo cristão Orígenes quem, por volta de 250 d.C., usou pela pri-meira vez o termo “Bíblia”, para designar os livros do Novo Testamento. Depois, por volta do ano 800 d.C., o termo entrou no latim, para designar o conjunto dos livros sagrados.

A Bíblia, como a conhecemos, foi escrita por cerca de 40 autores, num período aproximado de 1.600 anos. De acordo com Vilson Scholz:

A Bíblia é um livro bem humano, escrita por pessoas que usaram linguagem de homens, não de anjos. Mas ao mesmo tempo ela afirma - e assim a Igreja o confessa - que é a Palavra de Deus, a palavra que Deus inspirou. Ela é, como se diz em certa língua indígena, “a fala de Deus no papel”.5

Paulo diz que toda a Escritura é “inspirada por Deus” (2Tm 3:16,17). Todavia, não são raras as vezes que alguns cristãos indagam: “O que significa inspiração da

4 BRUCE, F. F. A Bíblia. In. CONFORT, Philip Wesley (org.). A origem da Bíblia. Rio de Janeiro: CPAD, 1998, p. 13.5 SCHOLZ, Vilson. Princípios de interpretação bíblica: introdução à hermenêutica com ênfase em gêneros literários. Canoas: Ed. ULBRA, 2006, p. 13.

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Bíblia?”. Necessita-se, portanto, compreender o signifi-cado do termo “inspiração”, pois a convicção de que a Bíblia é a palavra inspirada de Deus constitui um dos principais fundamentos da fé cristã.

Em sua segunda carta, Pedro diz que “homens fala-ram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo” (2Pe 1:21). A palavra grega traduzida por “movidos” pode também ser entendida como “guiados, carregados, leva-dos”. Portanto, homens foram movidos ou guiados pelo Espírito Santo para escreverem as Escrituras. O termo “inspirado”, por sua vez, é a tradução do vocábulo grego theópneustos, que literalmente significa “respirado por Deus para fora”. A ideia é que Deus “expirou” as Escri-turas Sagradas. De acordo com Paulo, a Escritura é um produto divino e deve ser encarada como tal (2Tm 3:16-17).6

Inspiração significa, então, a influência divina exer-cida sobre os escritores da Bíblia, de modo a comporem e a registrarem a Revelação de Deus ao homem, a fim de preservá-los de erros em seu ensino, sem eliminar, no entanto, suas personalidades e estilos literários.7 Portanto, a inspiração ao escrever a Bíblia não transfor-mou aqueles homens em meras máquinas, mas os ins-pirou no sentido de empregarem todos os seus conheci-mentos, estilo, cultura, sem, contudo, cometerem erros, pois pela influência do Espírito Santo foram guardados de quaisquer erros, enquanto eram instrumentos de Deus na escrita das Escrituras.8 Assim, defendemos que a Bíblia é infalível naquilo que nos ensina em matéria de fé e prática cristã.

Precisamos entender também o conceito de revela-ção. Revelação é um ato divino pelo qual Deus se dá a 6 PACKER, James I. A inspiração da Bíblia. In. CONFORT, Philip Wesley (org.). Op. cit., p. 49.7 CLARK, David S. Compêndio de teologia sistemática. 2. ed. São Paulo: Casa Edi-tora Presbiteriana, 1988, p. 37.8 LOPES, Edson Pereira. Lições para classe de catecúmenos. Apostila, 2004, p. 5.

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conhecer de modo redentor à humanidade decaída.9 Há o que chamamos de revelação geral, que se refere ao fato de Deus se fazer conhecido na criação, na consci-ência humana e na história. Isso tem implicações impor-tantes. A manifestação de Deus nas coisas que foram criadas é a razão pela qual ninguém será capaz de se queixar, no dia do juízo, que não conhecia a Deus.10

A revelação especial refere-se à revelação de Deus que nos chega por meio da Bíblia e da vida de Jesus Cristo. É por meio da revelação especial, como dada nas Escrituras, que recebemos a graça salvadora. Por essa razão afirmamos não ser possível alguém receber a graça salvadora de Cristo à parte das Escrituras Sagra-das. Somente por meio dela compreendemos nosso estado de miséria diante de Deus, a grande salvação que recebemos por meio do sacrifício de Cristo e a nova vida no poder do Espírito na qual somos inseridos.11 A revelação geral mostra que Deus existe, mas somente a revelação especial pode nos levar à salvação em Cristo.

AS PRINCIPAIS DIVISÕES DA BÍBLIA

A Bíblia é composta por 66 livros. Desses, 39 livros encontram-se no Antigo Testamento e foram escritos ori-ginalmente em hebraico; e algumas porções dos livros de Daniel e Esdras, em aramaico. Vinte e sete livros se encontram no Novo Testamento, escritos originalmente em grego.12 Apesar disso, os livros bíblicos, em con-

9 LIMA, Leandro Antônio de. Razão da esperança: teologia para hoje. São Paulo: Cultura Cristã, 2006, p. 14.10 MAX, Anders. A Bíblia em 12 lições. São Paulo: Vida, 2000, p. 58,59.11 FERREIRA, Franklin. Teologia cristã: uma introdução à sistematização das doutrinas. São Paulo: Vida Nova, 2011, p. 44.12 Há alguma evidência de que o livro de Mateus tenha sido escrito originalmente em hebraico.

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junto, constituem apenas uma única obra inspirada por Deus.

Estes livros, de Gênesis a Apocalipse, constituem o cânon da Bíblia, ou seja, aqueles livros que foram esco-lhidos e catalogados pela Igreja nos primeiros séculos da era Cristã. A escolha desses livros específicos e a rejeição de muitos outros evidencia que o Autor divino não só inspirou a sua escrita, mas também cuidou meti-culosamente da sua compilação e da sua preservação no catálogo sagrado.13 As bases em que se fundamen-tava a escolha de alguns livros e a rejeição de outros foram, na verdade, três: a cristocentricidade, a biblici-dade e a apostolicidade dos escritos sagrados.14

O agente qualificador de um livro, para ocupar lugar no cânon do Antigo ou do Novo Testamento, não é o simples fato de ser antigo, informativo, ou de fazer muito tempo que é lido, valorizado e aceito pelo povo de Deus, mas sim que tenha a autoridade de Deus para aquilo que diz. Em síntese, o que realmente qualificou os livros que hoje compõem a Bíblia foi a autoridade de Deus, e não apenas critérios humanos. Se realmente foi Deus quem inspirou as Escrituras, então o próprio Deus também deve ter sido o selecionador.15

Comumente as Sagradas Escrituras são divididas em Antigo e Novo Testamento. Estes títulos têm a sua origem na leitura de 2 Coríntios 3:14, que em algumas versões bíblicas, a exemplo da Almeida Corrigida e Revisada Fiel, lemos assim: “Mas os seus sentidos foram endure-cidos; porque até hoje o mesmo véu está por levantar na lição do velho testamento, o qual foi por Cristo abolido” (grifo do autor). Alguns, após uma simples leitura deste versículo, concluem que o “Velho Testamento” foi abolido por Jesus Cristo e que, portanto, não precisamos mais

13 ___. Estudo perspicaz das Escrituras, v. 1. São Paulo: STV, 1990, p. 359.14 ___. A Confissão de Fé de Westminster. São Paulo: Cultura Cristã, 2011, p. 15.15 BECKWITH, R. T. O canon. In: CONFORT, Philip Wesley (org.). Op. cit., p. 80.

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obedecer às normas que ali se encontram. Todavia esta interpretação é incorreta.

A palavra “testamento” corresponde à palavra hebraica berith, que originalmente significa “pacto, aliança, acordo, convênio, contrato”, e designa a aliança que Deus fez com o povo de Israel no Monte Sinai (Êx 24:1-8; 34:10-28). Tendo sido esta aliança quebrada pela infidelidade do povo, Deus prometeu uma nova aliança (Jr 31:31-34), que deveria ser confirmada com o sangue de Cristo (Mt 26:28). Os escritores neotestamentários denominam a primeira aliança de antiga (Hb 8:13), em oposição à nova (2Co 3:6-14). Os tradutores da Septuaginta verteram a palavra hebraica berith para a palavra grega diatheke, embora não houvesse correspondência entre elas, já que berith designa “aliança”, denotando um com-promisso bilateral (contrato), enquanto diatheke tem o sentido de “última disposição dos próprios bens”, o que chamamos de “testamento”. Portanto, implica num com-promisso unilateral.16

O termo “testamento” veio até nós por meio do latim, quando São Jerônimo, em sua primeira versão latina da Septuaginta, traduziu a palavra grega diatheke por tes-tamentum. Mais tarde, ao traduzir toda a Bíblia para a língua latina, ele manteve a mesma palavra testamen-tum, equivalendo ao hebraico berith – aliança, concerto –, quando, na verdade, a palavra não tinha essa signifi-cação no grego. De acordo com os linguistas, a palavra grega para “contrato”, “aliança”, deveria ser suntheke, por traduzir melhor o hebraico berith.17

As denominações “Antigo Testamento” e “Novo Tes-tamento”, para as duas coleções dos livros sagrados, começaram a ser usadas somente no final do século II d.C., quando os Evangelhos e outros escritos apostólicos

16 APOLINÁRIO, Pedro. História do texto bíblico: crítica textual. 4. ed. São Paulo: IAE, 1990, p. 65-66.17 BRUCE, F. F. Op. cit., p. 15-16.

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foram considerados parte do cânon sagrado, passando a designar, a partir de então, a coleção dos escritos que contém os documentos escritos respectivamente durante a primeira e a segunda aliança.18 Portanto, o apóstolo Paulo não estava se referindo às Escrituras hebraicas e gregas. Antes, estava ele se referindo ao antigo pacto da Lei, registrado por Moisés no Pentateuco e que constitui apenas uma parte das Escrituras pré-cristãs. Por este motivo ele disse no próximo versículo: “sempre que se lê Moisés”.

A subdivisão da Bíblia em capítulos e versículos, na forma como conhecemos hoje, não foi feita pelos escrito-res originais, mas foi uma adição realizada em momen-tos diferentes da história. A divisão das Escrituras em versículos foi estabelecida por estudiosos judeus, cha-mados de massoretas, os quais dedicavam suas vidas à recitação, preservação e cópia das Escrituras, bem como à formulação da gramática hebraica e de técni-cas didáticas de ensino do texto bíblico. Foram eles que, entre os séculos IX e X, primeiro dividiram a Escritura hebraica em versículos.

A primeira divisão da Bíblia em capítulos foi realizada por Stephen Langton, arcebispo da Cantuária, no século XIII, que fez as marcações dos mesmos por meio de uma sequência numérica em algarismos romanos nas margens dos manuscritos. Por fim, em 1551, o impres-sor francês Robert d’Estienne dividiu uma edição grega do Novo Testamento em versículos. No ano de 1553 foi publicada a primeira Bíblia completa com as atuais divi-sões de capítulos e versículos.19

18 APOLINÁRIO, Pedro. Op. cit., p. 66.19 SILVA, Antônio Gilberto da. A Bíblia por meio dos séculos: a história e a formação do livro dos livros. Rio de Janeiro: CPAD, 1986, p. 13.

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A CLAREZA DA BÍBLIA

Qualquer pessoa que tenha começado a ler e a estu-dar a Bíblia já percebeu que alguns trechos são mais fáceis de entender do que outros. Embora devamos admitir que alguns trechos no início pareçam difíceis de compreender, a Bíblia foi escrita de tal modo que todas as coisas necessárias para a salvação e para nossa vida cristã e nosso crescimento são muito claramente demonstradas.20

Quando se estiver examinando as Escrituras, é bom ter em mente que, além da esfera que limita o objetivo primário para o qual a Bíblia como uma revelação foi dada por Deus, existem aspectos incompletos. A Bíblia não é um tratado de ciência natural ou de história. É uma declaração plenária de Deus com referência a ele mesmo e às suas obras.21

O apóstolo Paulo afirma que a capacidade de enten-der as Escrituras corretamente é mais uma capaci-dade moral e espiritual que intelectual: “Quem não tem o Espírito não aceita as coisas que vêm do Espírito de Deus, pois lhe são loucura; e não é capaz de entendê--las, porque elas são discernidas espiritualmente” (1Co 2:14). Assim, embora a Bíblia em si mesma seja escrita com clareza, ela não será entendida corretamente por aqueles que não estão desejosos de receber seus ensi-nos. A Escritura é capaz de ser entendida por todos os descrentes que vão lê-la sinceramente buscando salva-ção e pelos crentes que a lerão procurando a ajuda de Deus para entendê-la. Isso acontece porque, em ambos os casos, o Espírito Santo opera vencendo os efeitos do

20 GRUDEM, Wayne A. Entenda a fé cristã: um guia prático e acessível com 20 questões que todo o cristão precisa conhecer. São Paulo: Vida Nova, 2010, p. 16-17.21 CHAFER, Lewis Sperry. Teologia sistemática, v. 1. São Paulo: Imprensa Batista Regular, 1986, p. 108.

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pecado, que de outra forma fariam a verdade parecer loucura (1Co 1:18-25; 2:14).22

Em Provérbios 2:3-5 lemos: “E, se clamares por inte-ligência, e por entendimento alçares a voz, se buscares a sabedoria como a prata e como a tesouros escondidos a procurares, então, entenderás o temor do SENHOR e acharás o conhecimento de Deus”. Aqui está a condi-ção para entendermos o conteúdo da Palavra de Deus. A compreensão das Escrituras requer mais do que o entendimento humano, requer a direção do Espírito Santo, que a deu. O Espírito Santo não muda as pala-vras das Escrituras de forma alguma. Ele não faz com que elas, de forma sobrenatural, tornem-se palavras de Deus, pois sempre o foram. No entanto, ele muda o leitor das Escrituras, fazendo com que percebam que a Bíblia é diferente de qualquer outro livro que já leram, pois ali estão as palavras do próprio Deus.23

A existência de muitas discordâncias a respeito da interpretação adequada de algumas doutrinas bíblicas no decorrer de toda a história demonstra que nem todos os crentes haverão de concordar em todos os ensinos da Escritura. Não obstante, o problema não está na Bíblia, mas em nós mesmos. Afirmamos que todos os ensinos da Escritura são claros e passíveis de ser entendidos, mas também reconhecemos que as pessoas muitas vezes, por causa de seus defeitos, entendem erronea-mente o que está claramente escrito na Escritura. Mas em nenhum caso somos livres para dizer que o ensino da Bíblia sobre qualquer assunto seja confuso ou não seja passível de ser entendido corretamente. Em nenhum caso devemos pensar que as discordâncias persistentes sobre algum assunto no decorrer da história da Igreja signifiquem que não sejamos capazes de chegar à con-clusão correta sobre a questão. Antes, se a preocupação 22 GRUDEM, Wayne. Teologia sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1999, p. 52-53.23 GRUDEM, Wayne. Entenda a fé cristã, p. 15.

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genuína a respeito de tal assunto surge em nossa vida, devemos sinceramente buscar a ajuda de Deus e, então, ir à Escritura, pesquisando com toda a nossa aptidão e crendo que Deus irá nos capacitar para termos o enten-dimento correto. Assim, à medida que crescermos na vida cristã, adquirindo mais conhecimento da Escritura, e, conforme gastarmos mais tempo estudando-a, have-remos de entendê-la melhor.

PERGUNTAS PARA DISCUSSÃO EM CLASSE

1. Quais são alguns dos nomes aplicados à Bíblia? O que há de importante nestes nomes? (Is 34:16; Jo 5:39; Cl 3:16; Hb 6:5)

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2. Por que a Bíblia é comumente dividida em Antigo e Novo Testamento? Explique qual é a diferença entre “testamento” e “aliança”. (2Co 3:14; Hb 9:11-20)

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3. Que provisão fez Deus para que sua Palavra pudesse ser preservada por todas as futuras gerações? (Dt 31:9; Is 30:8; Jr 30:2)

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4. De acordo com o apóstolo Pedro, qual é verdadeira origem da Bíblia? O que é inspiração? O que é revela-ção? (2Pe 1:19-21; 2Tm 3:16)

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5. Conforme o profeta Isaías, qual seria o tempo de exis-tência da Bíblia? (Is 40:7,8)

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6. A leitura da Bíblia pode produzir a nossa santificação e salvação. Por quê? (Jo 5:39; 8:32)

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7. Que faz a Bíblia por nós? Como pode ela nos ajudar no dia a dia? (2Tm 3:16,17; Sl 119:11; Hb 4:12,13)

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Pr. Humberto Agnello Bolaños Cordeiro

MEDITAÇÕES BÍBLICAS DIÁRIAS

Domingo – Gênesis 1:1-2

Ao iniciarmos a leitura dos primeiros versículos da Bíblia, algo muito interessante nos chama a aten-ção. Temos duas grandes verdades apresentadas pelo Senhor a nós. A primeira é que a palavra hebraica Elohim, traduzida por “Deus”, está no plural, o que indica uma unidade na pluralidade de pessoas. Ou seja, Deus, o Pai, e os outros componentes da Trindade. No versí-culo 2, encontramos a pessoa do “Espírito de Deus”. Por fim, o Evangelho de João, no seu primeiro versículo, nos apresenta Jesus, o Verbo criador, que também é Deus. A segunda verdade, presente nestes dois primeiros versí-culos de Gênesis, é que Deus Pai, Filho e Espírito Santo criaram os céus e a terra e tudo o que neles há.

Segunda-feira – Mateus 3:16-17

Antes de Jesus iniciar o seu ministério, um fato mar-cante ocorreu: o seu batismo no rio Jordão. No batismo de Cristo, cumpre-se a profecia messiânica de Isaías, pois quando o Espírito de Deus repousou sobre Jesus, cumpriu-se o sinal predito para João de que Jesus era o Messias (Jo 1:33; Is 11:2; 42:1; 59:21; 61:1). Digno de nota são as palavras proferidas pelo Pai, que também foram outrora profetizadas por Isaías. Estão presen-tes, no evento do batismo, as três pessoas da Trindade Divina: o Pai, que anuncia seu contentamento em rela-ção ao seu Filho; o Espírito Santo, que desce do céu em forma de pomba; e o Filho, o Cristo, o ungido.

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Terça-feira – João 1:1-3

O Verbo! A “Palavra de Deus”! É assim que Jesus é apresentado por João a seus leitores. A leitura destes versos conduz nossos pensamentos aos primeiros ver-sículos de Gênesis. Coincidência? De forma alguma! O discípulo amado quer deixar bem claro que Jesus é nada menos que Deus. E ele assim o faz relacionando Cristo, na figura do Verbo, com a criação. Jesus, o Verbo, estava no princípio de todas as coisas. Ele estava com Deus e era o próprio Deus! Nestes versículos, somos apresen-tados ao Criador, Jesus Cristo, Deus! Este mesmo Verbo que estava no início também estará no fim de todas as coisas (Ap 19:13).

Quarta-feira – Mateus 28:19

O batismo é uma transformação, é novidade de vida, é nascer de novo. Aquele que já desceu às águas do batismo conhece o importante significado em sua vida. Muitas coisas esquecemos, tais como: datas de ani-versários, compromissos; mas duvido que um cristão tenha esquecido o seu batismo. Não estou falando de data e hora, mas me refiro ao evento em si. A expecta-tiva do dia, a ansiedade dos minutos que se aproximam e o júbilo após se levantar das águas. Ao ser batizado em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, o cristão reconhece a autoridade destas três pessoas divinas na sua vida e que somente pela atuação destes é que foi firmada a Nova Aliança. O Pai, que nos dá a seu Filho; o Espírito, que nos convence do pecado, da justiça e do juízo; e o Filho, que nos justifica diante do Pai.

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Quinta-feira – Atos 5:3-4

A leitura de hoje é extremamente importante para refutar a ideia de que o Espírito Santo é o poder de Deus, algo abstrato, e não uma pessoa. Por certo que o abstrato existe somente no campo das ideias. O capí-tulo 5 de Atos relata o episódio no qual Ananias e Safira entregam aos apóstolos somente uma parte do preço de uma propriedade que haviam vendido. Este relato é precedido da atitude distinta do converso Barnabé, que, ao vender seu campo, depositou o exato valor aos apóstolos. O casal acreditou que a atitude deles passa-ria encoberta, que jamais descobririam a fraude. Entre-tanto, foram sentenciados à morte, por terem cometido um grave pecado. Eles não mentiram aos homens, nem mentiram a uma “energia”. Eles mentiram àquele que é Deus.

Sexta-feira – 2 Coríntios 13:13

O apóstolo Paulo se despede da Igreja de Corinto pro-ferindo uma bênção. Em suas epístolas, Paulo sempre utiliza as pessoas da Trindade, ora saudando, ora se des-pedindo. Por que fazia isso? O zeloso apóstolo sempre buscou demonstrar que sem a atuação da Trindade na vida do converso, o fim seria a sua reprovação diante de Deus. Ao abençoar com a graça de Cristo, estava lembrando a cada crente que a salvação dependia uni-camente da graça, e não das obras da Lei. Ao desejar o amor de Deus para com eles, Paulo referendava que a morte do Filho de Deus era a maior demonstração de amor que Deus poderia dar à humanidade. E, ao desejar a comunhão do Espírito Santo, fazia-o lembrando que somente por meio dele a Igreja poderia se manter unida e fiel no firme propósito de um dia encontrar a Cristo.

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Sábado – Efésios 4:4-6

Uma análise geral desta seção revela-nos que Paulo faz uma exortação geral à unidade no corpo de Cristo. Mais especificamente nos versículos 4 a 6, ele descreve a natureza da unidade, comparando-a com a que carac-teriza a vida da bendita e santa Trindade, a união mística entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo. “Há somente um só corpo”, diz ele, “um Espírito... um só Senhor... um só Deus e Pai de todos”. Três em Um; Um em Três. Nós somos todos membros de um só corpo. E é obra pecu-liar do Espírito Santo o “chamar-nos” para tal unidade. É ele que realiza essa obra, que é muito eficaz. É ele quem nos convence, vivifica-nos e capacita-nos a crer. E o resultado é que ele produz uma identidade de crença, de visão e, especialmente, de esperança.

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A Triunidade Divina

Pr. Daniel Miranda Gomes13 de Julho de 2013

2TEXTO BÁSICO:

“Sem fé ninguém pode agradar a Deus, porque quem vai a ele precisa crer que ele existe e que recompensa os que procuram conhecê-lo melhor. ” (Hb 11:6, NTLH)

INTRODUÇÃO

Nossa crença em Deus pode ser definida da seguinte forma: cremos em um só Deus, que é santo, criador de todas as coisas, soberano, eterno, subsistente em três pessoas - o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Isso leva o nome de Triunidade, ou Trindade. É difícil entender com-pletamente a ideia de três pessoas e somente um Deus. Mesmo assim, é uma das doutrinas mais importantes da fé cristã. Portanto, no estudo de hoje vamos apren-der o que a Bíblia ensina a respeito da pessoa de Deus. Numa época em que tantas ideias e conceitos a respeito de Deus são divulgados, é bom verificarmos o que ele revelou acerca de si mesmo. E, neste aspecto, a Bíblia é o único livro que pode falar, com autoridade, sobre o assunto.

A EXISTÊNCIA DE DEUS

A Bíblia não procura provar a existência de Deus e nem discute teorias sobre sua existência. Este é um fato admitido como autêntico em todas as páginas das Escri-turas. Porém, apesar de a Bíblia não oferecer qualquer

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prova empírica da existência de Deus, ela aponta para a sua indiscutível realidade. Logo no primeiro versículo da Bíblia já temos um exemplo disto, pois diz: “No princípio criou Deus os céus e a terra” (Gn 1:1). A existência e autorrevelação de Deus são as pressuposições finais da fé bíblica.

Todas as pessoas em todos os lugares possuem o profundo senso interior de que Deus existe, de que elas são suas criaturas e de que ele é o Criador delas. Paulo diz que até os pagãos conheceram Deus, mas “não o glorificaram como Deus, nem lhe renderam graças” (Rm 1:21). Ele diz que os ímpios descrentes “trocaram a ver-dade de Deus pela mentira” (Rm 1:25), sugerindo que eles rejeitaram de forma intencional alguma verdade que conheceram a respeito da existência e do caráter de Deus. Paulo diz que “o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles”, e acrescenta: “porque Deus lhes manifestou” (Rm 1:19).24

A Escritura também afirma que algumas pessoas negam que Deus existe. É o “tolo” que diz no seu cora-ção: “Deus não existe” (Sl 14:1; 53:1). É o ímpio que primeiro “amaldiçoa e insulta o Senhor” e, então, cheio de presunção, cogita em seu coração: “não há lugar para Deus” (Sl 10:3,4). Essas passagens indicam que o pecado conduz as pessoas a pensar irracionalmente e a fazê-las negar a existência de Deus.25

OS NOMES DE DEUS

A palavra “Deus”, antes de tudo, não é nome. Refere--se antes a um título que usamos para designar o Ser Supremo, o Criador de todas as coisas. Todavia, Deus se revelou pelo seu nome. Os nomes na Bíblia têm sig-

24 GRUDEM, Wayne. Teologia sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1999, p. 97.25 GRUDEM, Wayne. Op. cit., p. 97.

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nificados, os quais geralmente transmitem alguma ideia quanto ao caráter da pessoa que usa o nome. Todos os nomes pelos quais a Bíblia designa Deus são significa-tivos. E, assim, cada um deles permanece como o sím-bolo de alguma verdade relativa a ele.

Os três principais nomes da Divindade no Antigo Tes-tamento são:

1. Elohim. A Bíblia começa com a afirmação de que Elohim é o Criador (Gn 1:1,26,27). Este nome é frequen-temente usado no Antigo Testamento (2.570 vezes). Elohim é plural de El ou Eloah, reconhecido pelo pro-nome plural “façamos”. O nome Eloah geralmente apa-rece na poesia sagrada (57 vezes).26

2. Adonai. O significado da palavra hebraica Adonai é “meus Senhores”. Etimologicamente é o plural de Adoní (“meu senhor”) e, quando aplicado a Deus, é distinguido na versão portuguesa com todas as letras em maiúscu-lo.27 Este nome da Divindade aparece no Antigo Testa-mento com grande frequência e expressa o domínio e a possessão soberana de Deus (Gn 15:1,2,8; Dt 3:24).

3. Yahweh. Ao revelar-se a Israel, Deus revelou-se como “EU SOU”, dizendo com isso que era um Deus autoexistente (Êx 3:14). Em Isaías, encontramos a expressão: “Eu sou o SENHOR; este é o meu nome” (Is 42:8). A palavra “Senhor” vem do tetragrama hebraico YHWH, traduzido em muitas versões bíblicas como Jeová. Porém, segundo os hebraístas, a melhor pronún-cia seria Yahweh, podendo ser usado também Javé ou Iavé. Originalmente, as palavras hebraicas não tinham vogais. E, como o nome de Deus era considerado sagrado demais para ser pronunciado pelos judeus, a

26 STRONG, James. Léxico hebraico, aramaico e grego de Strong. São Paulo: So-ciedade Bíblica do Brasil, 2002, p. 99.27 Adonai é também o substituto para o tetragrama YHWH, nome divino que não deveria ser pronunciado, segundo a tradição judaica. Contudo, isso só se aplica no contexto da oração ou leitura pública do texto. Fora destes contextos, costuma-se substituir YHWH pelo termo hebraico HaShem, que significa “O Nome”.

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sua verdadeira pronúncia se perdeu no tempo. O nome de Deus é pessoal e sagrado, e por isso deve ser reve-renciado por todos (Êx 20:7).

A NATUREZA DE DEUS

Jesus afirmou à mulher samaritana que “Deus é espí-rito” (Jo 4:24). Esta declaração define a natureza de Deus como sendo espiritual. Porém, Deus é espírito com per-sonalidade: ele pensa, sente e fala, pode ter comunhão direta com suas criaturas feitas à sua imagem. Como ser espiritual, Deus é imaterial, ou seja, está livre de todas as limitações do corpo (Lc 24:39), embora algumas vezes os escritores bíblicos tiveram que fazer uso da figura de linguagem conhecida como antropomorfismo, para ilus-trar aspectos diferentes de sua atuação com relação ao homem (Êx 6:6; Sl 34:15).28

Um segundo aspecto acerca da natureza de Deus é que ele é infinito e, por isso, não está sujeito às limitações naturais e humanas (1Tm 6:16). Ele está além de ser plenamente compreendido pela mente do homem (Rm 11:33-36). Com relação ao espaço, Deus caracteriza-se pela imensidade: ele está presente em todo o espaço infi-nito e em todas as suas partes (1Rs 8:27). Em relação ao tempo, Deus é eterno. Significa que ele não tem começo nem fim, que ele está livre de toda a passagem de tempo e que ele é a causa do tempo (Dt 33:27; Sl 90:2).

Podemos concluir, então, que Deus não tem corpo, não é matéria e não está limitado ao tempo e ao espaço, que são categorias próprias da matéria. Esta declaração, apesar de simples e lacônica, é profunda, porque mostra que Deus tem uma dimensão que o homem não tem.

28 PEARLAM, Myer. Conhecendo as doutrinas da Bíblia. São Paulo: Vida, 2006, p. 51.

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OS ATRIBUTOS DE DEUS

Com atributos, distintos de sua natureza, queremos dizer as qualidades atribuídas a Deus, que são inerentes à sua substância e que constituem uma descrição analí-tica do próprio Deus.

Os atributos não morais são aqueles predicados necessários da essência divina, mas que não envolvem qualidades morais.

1. Onipotência. A Bíblia afirma que ele é o Deus Todo-Poderoso (Gn 17:1; Ap 19:6). O termo “todo-pode-roso” quer dizer que não há limites para seu poder. A onipotência de Deus significa duas coisas: 1) sua liber-dade e poder para fazer tudo que esteja em harmonia com sua natureza (Hb 6:18); 2) seu controle e sabedoria sobre tudo que existe ou que pode existir (Dn 5:23; At 17:25, 28; Hb 1:3).

2. Onipresença. Com onipresença de Deus quere-mos dizer sua infinidade em relação às suas criaturas. Por ser imenso, Deus é onipresente. Sendo Deus, está em toda a parte, isto é, o espaço material não o limita em ponto algum. Embora Deus esteja em todo lugar, ele não habita em todo lugar (cf. Sl 139:7-10; Jr 23:23).

3. Onisciência. Deus é onisciente porque conhece todas as coisas. Ele conhece o passado, o presente e o futuro de maneira instantânea. O conhecimento de Deus é perfeito. Ele não precisa questionar ou pesquisar as coisas, nem aprender gradualmente.

4. Soberania. Deus é soberano, isto é, ele tem o direito absoluto de governar suas criaturas e delas dispor como lhe apraz (Dn 4:35; Mt 20:15; Rm 9:21). Ele possui esse direito em virtude de sua infinita superioridade, de sua posse absoluta de todas as coisas e da absoluta dependência delas perante ele para que continuem a existir.

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5. Imutabilidade. Com imutabilidade de Deus quere-mos dizer que em essência, atributos, consciência e von-tade, Deus é imutável (Ml 3:6; Tg 1:17). Todas as mudan-ças têm que ser para melhor ou para pior. Mas Deus não pode mudar para o melhor, pois é absolutamente per-feito; tampouco mudar para o pior, pela mesma razão.

Os atributos morais de Deus referem-se aos predica-dos necessários da divina essência que envolve qualida-des morais. Sob este tópico consideraremos os seguin-tes atributos:

1. Santidade e justiça. Deus é santo (1Pe 1:15,16). A santidade de Deus significa a sua absoluta pureza moral. Ele não pode pecar nem tolerar o pecado. Como um Deus justo, ele faz aquilo que é correto (Gn 18:25). A justiça é a santidade de Deus manifesta no tratar reta-mente com suas criaturas.

2. Bondade. Deus é bom (Sl 25:8; 34:8; 100:5). A infinita bondade de Deus é uma perfeição do seu ser que caracteriza a sua natureza, e é a fonte de tudo o que é bom no universo. Os termos específicos empregados para definir a bondade de Deus são: a) benevolência, que é a bondade no seu sentido genérico, abrangendo todas as suas criaturas; b) complacência, que é aquilo em Deus que aprova todas as suas próprias perfeições como também aquilo que se conforma com ele; c) mise-ricórdia, que é a bondade de Deus exercida em benefí-cio das necessidades de suas criaturas; e d) graça, que é a livre ação de Deus em benefício daqueles que não têm merecimentos.29

3. Amor. João diz que “Deus é amor” (1Jo 4:8). Essa é a definição mais conhecida de Deus. A natureza de Deus é amor, em razão do qual ele deseja relação pes-soal com aqueles que possuem a sua imagem. O amor, que é a essência do seu caráter, é manifestado em cada 29 CHAFER, Lewis Sperry. Teologia sistemática. v. 1. São Paulo: Imprensa Batista Regular, 1986, p. 175-176.

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palavra e em cada ato seu (cf. Dt 7:8; Jo 3:16; Ef 2:4; 1Jo 3:1).

A TRIUNIDADE DIVINA

A Igreja Cristã, em geral, tem aceitado o ensino bíblico de que só há um Deus: Pai, Filho e Espírito Santo. Ao ensino de que há um só Deus em três pessoas distintas, separadas umas das outras, porém da mesma essência, chama-se Doutrina da Trindade.

A palavra “Trindade”, em si, não aparece na Bíblia, mas o ensino encontra-se claramente ali, pois somente no Novo Testamento existem 108 passagens comproba-tórias dessa doutrina. Muitos acham a doutrina de difí-cil compreensão para a mente humana. Porém nunca devemos imaginar que algo está errado só porque não o compreendemos bem. Aquilo que Deus revelou a seu respeito na Bíblia precisa ser aceito pela fé.

De fato a doutrina da Trindade não é uma verdade da teologia natural, mas sim da revelação. Contudo, apesar de a doutrina da Trindade não poder ser descoberta pela razão humana, ela é passível de uma defesa racio-nal, uma vez que foi revelada nas Escrituras Sagradas. Devemos, portanto, buscar nas Escrituras a verdadeira doutrina da Trindade.

Vejamos, então, alguns aspectos fundamentais para esse entendimento.

1. A Triunidade de Deus. O fato de haver um só Deus é o tema principal do Antigo Testamento (Dt 4:35,39; 6:4; 1Rs 8:60; Is 45:5,6; Zc 14:9), frequentemente ensinado também no Novo Testamento (Mc 12:29-32; Jo 17:3; 1Co 84-6; 1Tm 2:5). Tal ênfase foi necessária devido à persis-

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tente tendência do homem à idolatria. De acordo com as Escrituras, Deus é o único ser infinito e perfeito. 30

Entretanto, não há contradição entre o ensino da uni-dade de Deus e o ensino da Trindade. Com unidade de Deus queremos dizer que a natureza divina é uma uni-dade indivisível, isto é, Deus não consiste de partes nem pode ser dividido em partes. Com Trindade queremos dizer que há três distinções eternas em uma essência divina. Estas três distinções são três pessoas, conheci-das respectivamente como Pai, Filho e Espírito Santo. Estas três distinções são três pessoas, e assim pode-mos falar da tripersonalidade de Deus.31

Que a natureza divina é uma unidade indivisível é insinuado no texto em Deuteronômio 6:4, o qual em hebraico literalmente diz: “Escute Israel, Yahweh nosso Elohim, Yahweh [é] um”. Essa passagem afirma que o SENHOR nosso Deus é um no sentido de que não há outro, ou seja, ele é o único Deus (Êx 20:3; Dt 4:35,39). Esse era um dos fundamentos da religião do Antigo Tes-tamento, sendo também essa a mensagem especial a um mundo que adorava a muitos deuses falsos.

Há contradição entre este ensino da unidade de Deus e o ensino da Trindade do Novo Testamento? A resposta é não! Para compreender isso é preciso distinguir entre duas qualidades de unidade: unidade absoluta e unidade composta. A palavra “um” pode significar unidade sim-ples ou unidade composta.32 No hebraico, esta distinção é mais clara na utilização das palavras yachid (unidade simples) e echad (unidade composta). Em Deuteronômio 6:4, a palavra “único” corresponde ao hebraico echad, o que indica uma unidade composta. Como exemplo poderíamos citar a expressão “um homem”, que traz a 30 THIESSEN, Henry Clarence. Palestras em teologia sistemática. São Paulo: Imp-rensa Batista Regular, 2010, p. 91.31 THIESSEN, Henry Clarence. Op. cit., p. 91-92.32 MELAMED, Meir Masliah. A Lei de Moisés e as Haftarót. São Paulo: S. Cohen & Cia Ltda., 1968.

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ideia de unidade simples ou absoluta porque se refere a uma só pessoa. Mas quando lemos que, ao se casar, homem e mulher tornam-se “uma só carne” (Ef 5:31), temos a unidade composta, visto que se refere à união de duas pessoas (cf. Ed 3:1; Ez 37:17).33

Assim, a doutrina da Trindade divina ensina que as três pessoas divinas são uma mesma essência. Elas são divisíveis apenas na unidade numérica e indivisí-vel na unidade de Deus. Porém, a unidade absoluta não desfaz a sua individualidade. O Pai, o Filho e o Espírito Santo são constantemente citados como Pessoas sepa-radas com operações específicas realizadas por cada uma. Porém não são três deuses independentemente. São três pessoas, mas um só Deus. Os três cooperam unidos e num mesmo propósito, de maneira que, no pleno sentido da palavra, são “um”.34

O Credo Atanasiano expressa a crença trinitariana da seguinte maneira: “adoramos um Deus em Trindade, e Trindade em Unidade, sem confundir as pessoas, sem separar a substância”.

2. A Trindade nas Escrituras. Como a doutrina da Trindade diz respeito à natureza de Deus, não poderia ser conhecida senão por meio de revelação. Essa reve-lação encontra-se nas Escrituras.

Muito embora essa doutrina não seja explicitamente mencionada no Antigo Testamento, sua origem pode ser vista nos textos bíblicos. Sempre que um hebreu pro-nunciava a palavra Deus (Elohim), ele estava realmente dizendo “Deuses”, pois a palavra é plural e às vezes se usa em hebraico acompanhada de adjetivo plural (Js 24:18,19), ou com verbo no plural (Gn 35:7). Quando Deus fala de si, usa a forma plural: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme nossa semelhança” (Gn 1:26);

33 PEARLAM, Myer. Op. cit., p. 53.34 PEARLAM, Myer. Op. cit., p. 61.

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“Agora o homem se tornou como um de nós” (Gn 3:22); “Eia, desçamos” (Gn 11:7); “Quem há de ir por nós?” (Is 6:8).35

Todos os membros da Triunidade são mencionados no Antigo Testamento: a) o Pai (Is 63:16; Ml 2:10); b) o Filho de Yahweh (Sl 2:6,7,12). O Messias é descrito com títulos divinos (Jr 23:5,6; Is 9:6). Faz-se menção do misterioso Anjo de Yahweh que leva o nome de Deus e tem poder tanto para perdoar como para reter os peca-dos (Êx 23:20,21); c) o Espírito Santo (Gn 1:2; Is 11:2,3; 48:16; 61:1; 63:10).

Dentro do Novo Testamento, a doutrina da Trindade fica grandemente ampliada. O modo triúno da existên-cia da Divindade está sempre presente no Novo Tes-tamento. Cada pessoa da divindade é declarada como sendo divina: a) o Pai é Deus (Gl 1:1); b) o Filho é Deus (Jo 1:1-4,14,18; Cl 2:8,9, Tt 2:13; 2Pe 1:1); c) o Espí-rito Santo é Deus (Mc 3:29; 2Co 3:17,18). Os autores do Novo Testamento sempre faziam uso da expressão trinitária (1Co 12:4-6; 2Co 13:14; Ef 4:4-6; 1Pe 1:2; Jd 20,21).

A Bíblia apresenta assim esta realidade singular e misteriosa: um Deus, Pai, Filho e Espírito Santo.

3. A Trindade e os atributos divinos. É um fato desafiador que os atributos da Divindade sejam confe-ridos a cada uma das pessoas da Trindade. O fato de que cada Pessoa possui todas as características divi-nas e de maneira tão completa declara a distinção exis-tente entre as Pessoas. Por outro lado, o fato de que elas todas manifestam estas características de maneira idên-tica e na mesma medida declara a unidade da qual o seu modo de existência brota. Observe esses atributos:

35 Confira Isaías 54:5, onde em hebraico o termo “criador” também é plural.

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Atributos Pai Filho Espírito

Santo

Eternidade Sl 90:2 Cl 1:17 Hb 9:14Onipresença Jr 23:24 Mt 18:20 Sl 139:7Onisciência Jr 17:10 Ap 2:23 1Co 2:10,11Onipotência 1Pe 1:5 2Co 12:9 Rm 15:19Santidade 1Pe 1:16 At 3:14 Lc 12:12

Amor 1Jo 4:8,16 Ef 3:19 Rm 15:30Verdade Jo 7:28 Ap 3:7 1Jo 5:6

4. A obra da Trindade divina. Além de cada obra distinta de Deus ser realizada por uma pessoa da Divin-dade, também as obras principais de Deus são atribuí-das a cada uma das três pessoas. Podemos observar a atuação da Trindade Divina em pelo menos quatro áreas:

a) Na criação do universo. A criação do universo foi uma realização de cada pessoa da Trindade. Todos igualmente participaram neste empreendimento (Gn 1:1,2; Sl 102:25; Cl 1:16).

b) Na criação do homem. A criação do homem é um ato criador de Deus. Este ato criador de Deus é obra das pessoas da Trindade. Houve a participação do Pai, do Senhor Jesus e do Espírito Santo (Gn 1:26; 2:7; Jó 33:4; Cl 1:16).

c) No plano da redenção. O Espírito gerou o Filho (Lc 1:35), mas de tal maneira que o filho sempre se dirige à primeira pessoa chamando-a de Pai (Jo 17:1-8). O Filho sempre fez a vontade do Pai e, para isto, rece-beu o Espírito sem medida (Jo 15:10; Lc 3:21,22). Na sua morte, houve a participação do Pai (Sl 22:15; Rm 8:32), do próprio Jesus (Jo 10:18; Gl 2:20) e do Espírito Santo (Hb 9:14). Também na sua ressurreição, houve a atuação das três pessoas da divindade (At 2:24; Jo 10:18; 1Pe 3:18).

d) Na ressurreição da humanidade. Mais uma vez as três pessoas da Trindade estarão atuando em favor

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de todos os seres humanos para o dia da redenção (Jo 5:21; Rm 8:11).

Essas diferentes funções são simplesmente a expres-são do relacionamento eterno entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Elas não diminuem a divindade, os atribu-tos ou a natureza essencial do Pai, do Filho e do Espírito Santo. A distinção está simplesmente nas formas como eles se relacionam um com o outro e com a criação.36

O SER E A NATUREZA DE DEUS

A. W. Tozer certa vez disse: “O que nos vem à mente quando pensamos em Deus é a coisa mais importante a nosso respeito”.37 Esse pensamento expressa o supremo significado da doutrina de Deus. Em certo sentido, sua aplicação é tanto imediata como penetrante. As convic-ções que temos sobre Deus irão afetar tudo sobre nós se o tivermos visto na plenitude de seu ser divino, Pai, Filho e Espírito Santo, perfeito em glória, senhorio, san-tidade e amor.

Crer na existência de Deus significa reconhecê-lo e adorá-lo. O Deus revelado nas páginas das Escrituras Sagradas é um Deus cuja natureza requer adoração espiritual e sincera. Ele tudo sabe e tudo pode. Esse fato, além de levar-nos a ter mais cuidado com aquilo que falamos e fazemos, constitui-se em motivo de alegria, pois Deus está sempre ao nosso lado para nos ajudar. A única resposta adequada a Deus é servi-lo. A adora-ção faz parte desse serviço, que se estende a todas as áreas da vida. O serviço a Deus implica em renunciar a todo direito e a nós mesmos e em submeter nossa vontade inteiramente à sua vontade. A melhor maneira

36 GRUDEN, Wayne. Entenda a fé cristã: um guia prático e acessível com 20 questões que todo cristão precisa conhecer. São Paulo: Vida Nova, 2010, p. 47.37 TOZER, A.W. The Knowledge of the Holy. London: James Clarke & Co., 2001, p. 9.

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de sermos gratos a Deus, pelo seu amor, é por meio da entrega incondicional da nossa vida para o seu serviço.38

Parte de nossa resposta a Deus, à medida que ele revela seu ser e natureza a nós, é torná-lo conhecido em um mundo em que ele é largamente ignorado ou rejei-tado. O mundo não é neutro, mas cheio de ídolos, isto é, falsos objetos de adoração. Somos chamados a desafiar e a confrontar os falsos deuses em nome do Deus vivo e verdadeiro. Isto envolve espalhar o conhecimento do Deus verdadeiro no mundo inteiro (Mt 28:19,20).

PERGUNTAS PARA DISCUSSÃO EM CLASSE

1. De que maneira a Bíblia diz que o homem pode saber da existência de Deus? (Rm 1:15-20)

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

2. Cite alguns dos nomes pelos quais Deus é conhecido e explique o que significa cada um deles. (Gn 1:2,26,27; 15:1,2,8; Êx 3:14)

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

3. A Bíblia tem muitas expressões que falam a respeito da natureza de Deus. Descreva algumas dessas expres-sões. (Jo 4:24; 1Rs 8:24; Êx 15:18)

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________38 MILNE, Bruce. Conheça a verdade: estudando as doutrinas da bíblia. 3. ed. São Paulo: ABU Editora, 1993, p. 86-87.

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4. Quais são os atributos de Deus? Como esses atribu-tos afetam nossa vida? (Gn 18:18; 28:15; Êx 15:7, 11; Sl 25:8; 139:7-12; Rm 2:4; 2Tm 2:19; 1Jo 4:8-10)

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

5. Como podemos harmonizar a doutrina da Trindade Divina com a doutrina da Unidade de Deus? (Dt 6:4; Mc 12:29)

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6. Em essência, o que a doutrina da Trindade Divina afirma? (1Jo 5:7,8; Mt 3:16,17)

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

7. Existem provas no Antigo e Novo Testamento sobre a doutrina da Trindade? Demonstre biblicamente a divin-dade do Pai, Filho e Espírito Santo. (Gn 1:1,26; Mt 6:8; Rm 9:5; At 5:3,4)

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8. Que ensina a Bíblia sobre os atributos e áreas de atu-ação do Pai, Filho e do Espírito Santo? (Gn 1:1,2; Jó 42:1; Mt 28:18; Jo 5:21; Rm 8:11,32; 15:19)

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Cristhiano Daniel Fritzen

MEDITAÇÕES BÍBLICAS DIÁRIAS

Domingo – Gênesis 2:16-17

Nós não somos fantoches de Deus. Justamente por isso ele nos deu opção de escolha. Com frequência, os cristãos são questionados da existência do mal, e uma resposta completa ou pelo menos mais elaborada exigi-ria espaço e argumentos filosóficos além do permitido aqui e agora. Mas, em resumo, poder-se-ia dizer que, talvez, se não conhecêssemos o mal, não saberíamos o que é o bem, não teríamos a noção do que é a glória de Deus e seu amor. Veja, por exemplo, o que muitos convertidos dizem sobre a sua vida antes e depois de conhecer ao Pai. Os primeiros seres humanos não tinham tendência para o mal, mas foram induzidos por Satanás, escolhendo o erro. E, desde aquele momento, toda a criação sofreu as consequências. Para resolver isso, Jesus Cristo encarnou-se e quitou uma dívida não apenas de Adão e Eva, mas também sua, minha e de toda a humanidade! Glória ao Salvador!

Segunda-feira – Gênesis 3:1-6

Se a ordem de Deus era bem firme e clara, a con-versa da serpente era sutil e valia-se da sedução. Sata-nás lançou dúvida na palavra de Deus e foi adaptando-a até que tornou a desobediência formosa aos olhos de Eva. Desde então, o Diabo tem destruído muitas vidas, sem mudar muito a sua tática. Para nos fazer cair em pecado, ele não vem abruptamente mostrando seu ver-dadeiro rosto, mas vem nos seduzindo com coisas que nos agradam. Adaptamos o cristianismo ao mundo onde

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estamos e vivemos na época do “nada a ver”: “Nada a ver assistir a novelas, a certos filmes ou deixar nossos filhos assistirem a determinados desenhos. Nada a ver só desta vez ir ao carnaval, sonegar o imposto, contar a piadinha suja, etc.” Peçamos ao Pai que não nos deixe cair em tentações.

Terça-feira – Romanos 5: 12-15

A partir do primeiro pecado, Satanás tomou conta do mundo e o pecado contaminou toda a criação. O homem tem a tendência para o mal e temos nosso coração enganoso (Jr 17:9). Nosso corpo deixou de ser perfeito para se tornar mortal e a morte é a pior consequência do pecado, pois teremos que conviver com ela até a volta de Jesus Cristo. Mas esse mesmo Jesus tem poder para nos restaurar e eliminar a separação ocorrida entre o Criador e suas criaturas. Porém, da mesma forma que o primeiro casal optou por desobedecer ao Pai, nós também o desobedecemos ao pecar, recebendo as con-sequências disso. Precisamos olhar para Cristo, receber sua mensagem, arrepender-nos de nossos erros para também recebermos a sua maravilhosa graça, a vida eterna!

Quarta-feira – Romanos 7: 7-12

Se conseguíssemos cumprir na integridade os man-damentos, seríamos perfeitos e não precisaríamos da graça divina. Mas, como somos falhos, o pecado se aproveita das brechas e nos faz cumprir exatamente o contrário do que a Lei pede. Nós conhecemos a Lei, da mesma forma que Adão e Eva conheciam a ordem de Deus (Gn 2:16-17) e, ao desobedecerem-na, não pude-ram alegar desconhecimento quando questionados pelo Criador. Mas Cristo veio para cumprir uma tarefa impos-

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sível para nós (Mt 5:17), que culminou com o sacrifício perfeito e pleno para todos os que o aceitarem.

Quinta-feira – Romanos 7: 13-25

Paulo discorre sobre a luta interior entre o fazer a von-tade de Deus e cometer pecados. Também fala da sua tristeza em perceber que, mesmo sendo um conhece-dor da Lei, faz o que não é certo. Paulo era tão humano quanto nós e assim também percebemos que, apesar de concordarmos com a Lei de Deus, a lei do pecado e da morte está extremamente ativa em nós, resultando na prática do mal que não queremos praticar. Mas perceba que, no verso 25, Paulo dá graças a Deus, pois tem a segurança do efeito da ação de Cristo, que nos livrará do corpo do pecado e, então, conseguiremos enfim servir a Deus, em plenitude, por toda a eternidade!

Sexta-feira – Romanos 8:18-25

Lembrei-me de um belo hino, enquanto lia esses ver-sículos, que tem por título “Saudade” (n. 287, HCJ), em cuja letra implora-se para que Jesus volte logo e diz, entre outras coisas, que o coração está com pressa para ir à “linda pátria”. Aos olhos seculares soa estranho sentir saudade de um lugar onde nunca se esteve. Mas note que Paulo tinha uma esperança ardente em seu coração da glória que o aguardava. Num mundo tão corrompido, violento e perdido, nós, cristãos, precisamos viver essa esperança e transmiti-la com segurança e alegria de que um dia habitaremos num lugar sem dor, sem luto, sem morte nem qualquer outro tipo de sofrimento, pois tudo isso será passado (Ap 21:4). Alimente essa esperança e comece a sentir os vislumbres do céu!

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Sábado – Romanos 8:31-39

Na minha Bíblia, este trecho está intitulado “Cântico de vitória: Deus é por nós”. Realmente, quando lemos esses versículos vemos que Paulo, apesar de todas as adversidades, sabe, seguramente, que terá vitória, pois se Deus está do nosso lado, nenhum adversário poderá nos vencer. Note que Paulo não diz que nessa vida não teremos mais sofrimentos, dores ou outras dificuldades, mas diz que o amor de Deus superará tudo isso. Que segurança! E você? Está certo, está seguro de que o amor de Deus pode fazer por você, tanto agora quanto na eternidade?

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Criação e Queda do Homem

Pr. Daniel Miranda Gomes20 de Julho de 2013

3TEXTO BÁSICO:

“Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança;... Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou”. (Gn 1:26,27)

INTRODUÇÃO

“Que é o homem?” perguntou o salmista séculos atrás (Sl 8:4). Esta pergunta nos confronta hoje com nova premência e com menos perspectiva de uma res-posta definida do que em qualquer outra época da histó-ria. Cremos que o homem é um ser criado por Deus (cf. Mt 19:4; Rm 5:12-19; 1Co 15:45-49; 1Tm 2:13), e não existe verdade mais estupenda do que esta. Somente Deus seria a causa suficiente e razoável para expli-car a complexidade da vida humana. Entretanto, vive-mos numa época em que muitas teorias são propostas visando a explicar a origem e a natureza do homem. É importante que se conheça o ensino da Bíblia a respeito do ser humano. Por meio da Bíblia, encontramos a res-posta e a orientação do próprio Deus sobre a origem, natureza e finalidade da existência do homem, sobre a face da terra, respondendo, assim, a quatro perguntas fundamentais: De onde vim? O que sou? Por que vim? Para onde vou?

A NATUREZA ORIGINAL DO HOMEM

A Bíblia ensina claramente a doutrina de uma criação especial, que significa dizer que Deus fez cada criatura

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“segundo a sua espécie” (Gn 1:21,24,25). Assim, cada categoria de animal foi criada em conformidade com sua própria espécie, e o mesmo se aplica a sua reprodu-ção. Segue-se que não se pode afirmar a partir do relato bíblico que houve, em algum momento da criação, um processo evolutivo, mas sim que cada animal foi criado segundo a sua espécie. Deus criou as várias espécies e então as deixou para que se desenvolvessem e progre-dissem segundo as leis do seu ser.39

O fato de que o homem não pertence à categoria dos animais pode ser percebido em função da criação distinta da dos outros seres vivos, do fato de constituir uma espécie distinta de ser vivo e da posição distinta que tem em relação às demais criaturas. Essa distinção entre o homem e as criaturas inferiores está no fato de que o homem foi criado à “imagem e semelhança de Deus” (Gn 1:26,27; 5:1; 9:6). Mas em que esta “imagem e semelhança” consiste? Do ponto de vista da linguística hebraica, não há qualquer diferença significativa entre as palavras hebraicas para “imagem” e “semelhança”, pois as duas significam praticamente a mesma coisa.

A palavra hebraica para imagem (tselem) é derivada da raiz que significa “esculpir” ou “cortar”. Por sua vez, a palavra hebraica para semelhança (demuth) vem de uma raiz que significa “ser igual”. Tselem significa imagem moldada, uma figura moldada, imagem no sentido con-creto da palavra (2Rs 11:18; Ez 23:14; Am 5:26). Já demuth também se refere à ideia de similaridade, mas num aspecto mais abstrato ou idealístico.40 Poder-se-ia dizer, então, que a palavra imagem é também uma seme-lhança. Por outro lado, é bom que se diga que as pala-vras hebraicas que exprimem “imagem” e “semelhança” referem-se a algo similar, mas não idêntico àquilo que

39 BERTI, Marcelo. Uma breve investigação da sobre o homem nas Escrituras. São Paulo: Teologando. 2010, p. 11.40 RYRIE, Charles Caldwell. Teologia Básica. São Paulo: Mundo Cristão, 2004, p. 218.

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representam. Charles Hodge definiu bem quando disse que “imagem e semelhança significam uma imagem que se assemelha”.41

Deus é espírito e não tem corpo como um ser humano, pois se tivesse um corpo físico ele estaria limitado a este corpo e não seria onipresente. No entanto, Deus é um ser pessoal e os atributos essenciais de uma pessoa são razão, consciência e vontade. Portanto, ao criar o homem à sua própria imagem, Deus o dotou com aque-les atributos que pertencem à sua própria natureza.42

Quatro aspectos podem ser mostrados aqui. Em pri-meiro lugar, somente o homem recebeu o “sopro divino” (Gn 2:7). Em segundo lugar, somente o homem é um ser moral, diferente do resto da criação. Não precisa obedecer a seus instintos. Em terceiro lugar, somente o homem é um ser racional, com capacidade de pen-samento abstrato e de produzir ideias. E por último, em quarto lugar, somente o homem recebeu domínio sobre a natureza e os seres vivos. Ele é o representante de Deus no mundo, investido de autoridade e domínio. Ele é divinamente comissionado para sujeitar a terra. O hebraico é kibeshedah e significa literalmente “pisar sobre”. Ele é o administrador de Deus na terra.43

Os dois primeiros capítulos de Gênesis fornecem a descrição bíblica no tocante à criação do homem. Em cada capítulo há uma narrativa (Gn 1:26,27; 2:7, 21-23). A primeira é de natureza geral. A segunda fornece alguns detalhes a mais. É como se fosse um complemento da primeira narrativa. Das duas narrativas, podemos notar o seguinte:

1. O homem é a mais elevada de todas as criatu-ras de Deus (Gn 1:26-28). O relato bíblico dá valor ao homem. Diferentemente dos relatos das religiões orien-

41 HODGE, Charles. Teologia sistemática. São Paulo: Hagnos, 2001, p. 497.42 Ibdem.43 COELHO FILHO, Isaltino Gomes. Gênesis I: capítulos 1 a 11. Rio de Janeiro: JUERP, 1992, p. 10.

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tais, o homem é distinto da criação. De fato, no relato bíblico, o homem é elevado sobre a criação. Na Bíblia, ele é o ápice de um processo criativo. Sua singulari-dade reside no fato de ser ele o único que foi criado à imagem e semelhança de Deus, e é também o único que pode relacionar-se com Deus. Ele é o único ser a ter a noção de eternidade: “Tudo fez formoso em seu tempo; também pôs na mente do homem a idéia da eternidade” (Ec 3:11).

O homem é chamado “coroa da criação divina”, não apenas por ter sido o último a ser criado, mas pela sua própria natureza. Ele difere de todos os outros seres cria-dos neste mundo e está imensuravelmente acima deles. O ser humano é inferior somente a Deus (Sl 8:4-8). Ele possui qualidades que somente Deus possui. Esse fator explica porque o homem pode manter comunhão com Deus, o seu Criador. Essa conformidade de natureza entre o homem e Deus é a condição necessária para nossa capacidade de conhecer Deus e, portanto, o fun-damento de nossa natureza religiosa. Se não fôssemos semelhantes a Deus não poderíamos conhecê-lo.44

2. O homem, como ser criado por Deus, era bom e reto (Gn 1:31). Depois de realizar a criação de todas as coisas, inclusive a do homem, “viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom”. Salomão, depois de muito meditar sobre os caminhos do homem em relação ao “ato criativo” de Deus, disse: “Eis que tão-somente achei: Que Deus fez o homem reto, mas ele se meteu em muitas astúcias” (Ec 7:29). No seu estado original, o homem era semelhante ao seu Criador em justiça e san-tidade. Foi pela sua transgressão que caiu em pecado e ficou separado de Deus. O resultado é que dentro do homem “não habita bem nenhum” (Rm 7:18). Ele é inca-paz por si mesmo de retornar à sua condição anterior de santidade, pois tem até a mente e a consciência cor-

44 HODGE, Charles. Op. cit., p. 497.

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rompidas (Rm 7:8; Tt 1:15; Cl 3:10; Mt 19:4).Sua imagem foi desfigurada pelo pecado, mas pode ser reabilitada pela regeneração e conversão ao Senhor Jesus Cristo (Ef 4:24; Cl 3:10).

3. O homem foi criado como um ser inteligente (Gn 2:15-20). O homem se assemelha a Deus na capa-cidade de exercer domínio sobre ordens inferiores. O progresso humano nada mais é que esta capacidade exercida e ampliada de domínio sobre as ordens infe-riores, inclusive domínio sobre a natureza. A capaci-dade de grandes faculdades intelectuais do homem está subentendida na ordem para “cultivar” o jardim e o “guar-dar”, na possibilidade de exercer domínio sobre a terra e todas as criaturas da terra, e nas declarações de que ele dê nomes a todos os animais da terra.

4. O homem é um ser moral (Gn 2:15-17; 3:1-15). O homem é um ser moral porque é um ser de consciência que tem condições de avaliar a sua conduta a partir de valores morais. Deus o fez como ser responsável, com liberdade de escolha. Ele é livre para aceitar ou recusar. Isso é o que se pode notar da leitura de Gênesis 2:15-17 e 3:1-15. Nessas duas passagens, encontram-se retra-tadas a glória e a tragédia do gênero humano. Criado para a comunhão com Deus, o homem afastou-se, pelo mau uso de sua liberdade, do caminho que o Criador lhe traçara, visando a sua felicidade.

A CONSTITUIÇÃO DO HOMEM

O ser humano é uma unidade dinâmica e não pode-mos separá-lo em compartimentos estanques. O fato de Paulo ter mencionado “espírito, alma e corpo” (1Ts 5:23) como elementos constituintes do ser humano, não signi-fica, necessariamente, que cada um desses elementos

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tenha existência própria, independente um do outro. Tais palavras denotam apenas aspectos diferentes da natu-reza humana, mas são partes integrantes do homem como um todo.

Depois da criação do universo, da terra, da natureza, dos animais aquáticos e terrestres, Deus passou a criar o homem que viria a constituir a parte mais importante da criação divina. Um relato mais detalhado encontra-se no segundo capítulo do livro de Gênesis: “Então, formou o Senhor Deus ao homem do pó da terra e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente” (Gn 2:7). A palavra “pó” vem do hebraico afar, a parte mais frágil da terra. O homem foi tirado dela e é destinado a ela depois que morrer (Gn 3:19; Ec 3:20). Mas não é evolução natural da terra. Foi “plasmado” (que traduz melhor que “formado”) por Deus. A forma verbal “formou” é a tradução do hebraico iitser, verbo para o trabalho típico do oleiro ou do artista plástico (cf. Is 64:8).45 O fato de o homem ser formado do pó da terra, por Deus, caracteriza bem a sua existência como cria-tura e, ao mesmo tempo, adverte-o quanto à fraqueza e mortalidade do ser humano. Como criatura, o homem é dependente do seu Criador.

Uma vez que o corpo humano foi feito do pó da terra, recebe agora o “fôlego de vida” em suas narinas. Esta expressão é a tradução do hebraico nishemathrayym, que significa “sopro que faz viver, que dá respiração”. Recebendo o fôlego de vida em suas narinas, o homem tornou-se “alma vivente”. Isto é, passou a ter vida pró-pria, tornou-se uma pessoa, passou a ter personalida-de.46

O relato bíblico não diz que Deus implantou uma alma imortal ou uma entidade espiritual no homem. Diz que quando o poder de Deus energizou o corpo de Adão, 45 COELHO FILHO, Isaltino Gomes. Op. cit., p. 14.46 Ibdem.

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este “veio a ser alma vivente”. Portanto, o homem é uma alma, ou seja, um ser vivente. Ele não tem uma alma, como ensinam alguns. Veja o mesmo texto na versão bíblica Nova Tradução na Linguagem de Hoje: “Então, do pó da terra, o SENHOR formou o ser humano. O SENHOR soprou no nariz dele uma respiração de vida, e assim ele se tornou um ser vivo”. A alma, em sentido geral, é a origem e causa da vida. Por isto, as nações antigas acreditaram durante muito tempo que tudo morria ao morrer o corpo.

A RELAÇÃO DO HOMEM COM DEUS

O pecado sempre causa separação de Deus (Is 59:2). Desde a queda, nenhum ser humano pôde ver a face de Deus e continuar vivo (Êx 33:20), porque a pre-sença de Deus é fogo consumidor para seres pecami-nosos. Visto que Deus concedeu ao homem a faculdade de escolha, Adão e Eva podiam ter decidido continuar servindo a Deus ou desobedecer-lhe. Como resolveram desobedecer-lhe, perderam o estado de perfeição origi-nal (Gn 3:1-20). Consequentemente, seus filhos nasce-ram com natureza decaída e propensa para o mal (Rm 3:23; 5:12). Degenerescência física e mental e também a morte sobrevieram a todos os seres humanos porque Adão e Eva pecaram (Rm 5:14).

O homem, por ser criatura, depende de Deus (Mt 6:26-30; At 17:24-30). O homem, como um todo, pertence a Deus. Sua existência, como ser livre, inteligente, respon-sável, deve-se única e exclusivamente a Deus. Porém, o homem natural está perdido (Lc 19:10). Quando a Bíblia fala em homem natural, significa o homem afastado de Deus e dominado pelo pecado. A necessidade de con-versão se explica pelo fato de o homem se encontrar per-

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dido (Ef 2:1-3). Entretanto, o homem natural se recusa a reconhecer que sua relação com Deus foi quebrada (Rm 1:18-32). De acordo com sua própria natureza, o homem sente necessidade de filiação com Deus e comunhão com seu próximo, mas não consegue alcançar essa finalidade por si mesmo, devido à operação do pecado que perverte a sua natureza.

Por meio de Jesus Cristo, o homem natural pode tor-nar-se parte integrante de uma nova criação. Jesus veio para salvar e reconciliar o homem perdido com Deus (Rm 5:10,11). Reconciliar significa remover barreiras, aproximar novamente. Jesus nos aproxima novamente de Deus. Por meio dele, somos feitos membros da famí-lia de Deus (Ef 2:14-19), na categoria de filhos (Jo 1:12).

O plano do Senhor é que a velha vida de pecado seja substituída por uma vida dedicada à sua justiça. Isto só poderá acontecer se a mente e o coração do indivíduo forem purificados. Somente Cristo pode efetuar essa purificação. Então serão abandonados os hábitos e cos-tumes que fazem parte de vida individual, mas que não estão de acordo com a vontade de Cristo.

NATUREZA HUMANA GLORIFICADA

Os efeitos do pecado só serão removidos comple-tamente de nosso corpo e mente quando Jesus vier. Vitória sobre o pecado é o ideal e é a expectativa de Deus para Seus filhos agora (Ap 2:7,17,26; 3:21). Mas a libertação das desvantagens da humanidade decaída e das tentações para pecar só será uma realidade por ocasião da volta de Jesus, quando “isto que é corruptível se revestir de incorruptibilidade, e isto que é mortal se revestir de imortalidade” (1Co 15:51-54).

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PERGUNTAS PARA DISCUSSÃO EM CLASSE

1. Sabemos que Deus é espírito e que, portanto, não possui um corpo físico. O que significa, então, dizer que o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus? (Gn1:26-31)

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2. Qual era a condição original da natureza humana antes da queda no jardim do Éden? (Gn1:31; 2:15-20; Ec 7:29; Hb 2:7,8)

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3. Explique como se deu a formação do homem por Deus. Explique o que significa cada um dos elemen-tos constitutivos do ser humano mencionados no texto bíblico. (Gn 2:7)

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4. O que aconteceu ao homem após a sua queda no Éden? (Gn 3:1-15; Rm 3:23; 5:12; 6:23)

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5. Qual é a condição do homem natural? Como sair dessa condição? (Is 53:6; Jo 3:3-6,16; 1Co 2:14)

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6. Qual foi a providência divina para esse aconteci-mento? (2Co 5:17-21; Rm 6:17,18,22)

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7. Quando a natureza humana finalmente ficará livre dos efeitos do pecado? (1Co 15:21-23; Rm 8:19-23)

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Domingo – 1 Pedro 1:18-21

Nesse trecho Pedro chama a atenção de seus desti-natários para algo que já conheciam: o resgate de Cristo. A palavra resgate é a tradução do grego élytrôthêté e encontra-se no aoristo indicativo da voz passiva, indi-cando que Cristo, de uma vez por todas, realizou esse resgate na vida de seus leitores. Essa mesma palavra é usada pelos gregos e também na Septuaginta para designar a libertação de escravos, que poderia ser feita por meio do pagamento de uma soma em dinheiro (como prata ou ouro). Jesus também pagou um alto preço por nosso resgate. Esse preço não foi uma coisa que perde o seu valor como o ouro ou a prata. Nós fomos liberta-dos pelo precioso sangue de Cristo, que era como um cordeiro sem defeito nem mancha. Jesus pagou esse preço para nos livrar da vida de pecado que herdamos de nossos antepassados, e nos garantiu uma herança eterna e incorruptível junto a Deus Pai.

Segunda-feira – Hebreus 10:5-10

O conteúdo da carta aos Hebreus é totalmente cris-tocêntrico. E neste capítulo o autor faz um contraste assimétrico entre a lei cerimonial e o sacrifício vicário de Jesus, mostrando que todo o primeiro pacto fornecia apenas um vislumbre da realidade que estava por vir. O autor cita o Salmo 40:6-8, mostrando que, nos escri-tos veterotestamentários, o sistema sacrificial já era visto como imperfeito, pois não poderia remover pecado algum (v. 4). Mas, pela vontade de Deus cumprida em

Jeferson Ezequiel

MEDITAÇÕES BÍBLICAS DIÁRIAS

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Cristo Jesus, o meu e o seu pecado foram perfeitamente removidos, de uma vez por todas, na cruz do Calvário.

Terça-feira – Gálatas 3:11-14

Na carta aos Gálatas, vemos Paulo visceralmente bravo com a igreja, pois esta sofrera influência dos cren-tes judaizantes que insistiam na prática da observância da Lei para justificar-se diante de Deus. Paulo declara: “É evidente que ninguém é justificado diante de Deus pela Lei” (v. 11). Pelo contrário! A Lei só evidencia o quanto o homem é injusto perante Deus. Porém, pela fé, herdamos a promessa do Espírito e somos libertos da condenação imposta pela Lei, pois Cristo, pendurado na cruz, livrou-nos desta maldição que recaía sobre nós, devido às nossas transgressões. Nosso Senhor tomou essa maldição sobre si para justificar-nos na presença do Pai. Basta você aceitá-lo por meio da fé!

Quarta-feira – Atos 4:10-12

Esse grande milagre causou admiração em todo povo. Houve um grande alvoroço. Os sacerdotes, o capi-tão da guarda e os saduceus reuniram-se para prender Pedro e João, pois, um sinal notório e indubitável fora feito no meio deles, e quase cinco mil pessoas creram nos apóstolos. Por causa disso, as autoridades e líde-res religiosos os interpelaram: “Com que poder ou em nome de quem vocês fizeram isso?” (v. 7, NTLH). Então, Pedro, com assaz veemência, anunciou que somente Jesus tem autoridade e poder para salvar, porque Deus conferiu somente a ele tal poder e autoridade. Por essa razão, entregue-se a Jesus, pois é o único caminho que conduz à salvação!

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Quinta-feira – 1 Timóteo 2:4-6

Quando Paulo escreve a Timóteo, ele está preo-cupado com a igreja de Éfeso quanto ao seu aspecto doutrinário, pois algumas pessoas, com discursos elo-quentes, buscavam ludibriar os cristãos em Éfeso com o propósito de obter lucro, mas esqueciam-se do ver-dadeiro evangelho: o que Paulo pregava. Voltavam-se para a doutrina sem valor, que não os levava a nada. Muitos pastores e líderes religiosos contemporâneos têm sucumbido a essa tentação e seus seguidores nem sabem o que significa “justificação pela fé”, e que a von-tade de Deus é a de que todos sejam salvos por meio do sacrifício que Cristo realizou na cruz em resgate por nós.

Sexta-feira – Romanos 3:24-26

O pensamento da época de Paulo era que o ser humano era declarado justo com base na rigorosa obser-vância da Lei. Mas as boas novas que Paulo estava pre-gando era que o ser humano é declarado justo já no início, e não no fim. Dessa forma o homem não pode ser justificado com base na observância da Lei, mas sim mediante a gratuita misericórdia de Deus, pois a Lei traz a lume o quanto somos pecadores e necessitados da graça de Deus, graça alcançada na cruz, por meio de Jesus Cristo, nosso Senhor, justo e o justificador daque-les que têm fé em Jesus.

Sábado – 1 Pedro 3:14-18

Pedro escreve a uma igreja nova na fé, que estava passando por perseguições e sofrimentos imerecidos. Temendo que os cristãos desanimassem e abandonas-sem a fé cristã, ele os exorta a não esmorecer “porque é melhor sofrer por fazer o bem, se for esta a vontade

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de Deus, do que por fazer o mal” (v. 17). Então Pedro apresenta Jesus Cristo como o exemplo, cujos sofrimen-tos por nossos pecados resultaram na reconciliação dos homens perdidos com Deus. Assim como o sumo sacer-dote entrava no lugar santíssimo uma vez ao ano para aspergir o sangue como expiação pelos pecados do povo, do mesmo modo Cristo sofreu pelos pecados de seu povo uma vez por todas. A morte sacrificial de Jesus permitiu-nos entrar na presença de Deus. Jesus abriu o caminho para o trono de Deus, apresentou-nos ao Pai, com quem agora podemos manter um relacionamento íntimo. Ao remover o pecado como a causa da nossa desunião com Deus, Jesus nos deu acesso ao Pai e nos faz aceitável aos seus olhos.

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INTRODUÇÃO

A doutrina do pecado se reveste de importância basilar em nosso estudo. Uma das razões para isso é que o conceito de pecado está muito diluído em nossa cultura. Para certas correntes da Psicologia, o homem não pode ser responsabilizado por seus atos por ser produto do ambiente. Então, segundo esse pensamento, não existe uma coisa chamada “pecado”. Para outras, alguns de seus atos são mais uma questão de genética do que de opção. Neste sentido, não existe algo como “pecado”, mas apenas desajustes, produto de criação errada e de uma sociedade corrompedora. Para outros, bafejados pelo existencialismo e pelo relativismo moral de nosso tempo, não se pode falar de pecado, pois não há padrões objetivos. Tudo é subjetivo, tudo é relativo. Não existe certo e errado, pois o que é verdade para um pode não ser para outro.

Pecado é um conceito religioso. E a Bíblia esboça a origem do pecado e sua relação com Satanás, reve-lando-nos como o pecado entrou no mundo. Também nos revela as consequências desastrosas do pecado na história humana e como foi necessário Jesus Cristo morrer na cruz para libertar-nos do seu poder.

A Hunanidade no Pecado

Pr. Daniel Miranda Gomes24 de Julho de 2013

4TEXTO BÁSICO:

“Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor”. (Rm 6:23)

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No estudo de hoje, vamos examinar o pecado por uma ótica bíblica que seja relevante para o mundo moderno.

A ORIGEM DO PECADO

De onde o pecado veio? Como ele entrou no universo? Uma vez que o pecado está em oposição total a Deus, ele não pode pecar, e nós nunca deveríamos culpá-lo pelo pecado ou pensar que ele carrega a responsabili-dade pelo pecado. A Bíblia revela que “suas obras são perfeitas, e todos os seus caminhos são justos. Deus é fiel, e nele não há pecado; ele é justo e reto” (Dt 32:4).

Mesmo antes da desobediência de Adão e Eva, o pecado estava presente no mundo angelical com a queda de Satanás e seus demônios (Ez 28:15; 1Jo 3:8).

A narrativa bíblica de Gênesis 3:1-7 descreve o pri-meiro pecado da raça humana. Ali se encontra o relato de como Satanás tentou Eva, a primeira mulher, indu-zindo-a a desobedecer ao que Deus estabelecera (Gn 2:15-17). Fica bem clara, no episódio bíblico, a sua essência: pecado é uma deliberada transgressão da vontade divina.

Observe como Satanás é sutil em sua maneira de agir. Com grande astúcia, ele oferece sugestões que, ao serem abraçadas, abrem caminhos a desejos e atos pecaminosos (Tg 1:14,15). Compare a ordem de Deus com a interpretação dada pela serpente a Eva (Gn 2:16,17; 3:1-6). Por meio de sua argumentação, Sata-nás lança uma tríplice dúvida acerca de Deus: 1) Dúvida sobre a bondade de Deus. Ela diz, com efeito: “Deus está retendo alguma bênção de ti”; 2) Dúvida sobre a retidão de Deus, introduzindo assim a descrença quanto à Pala-vra de Deus. A serpente disse: “Certamente não morre-reis”, isto é, “Deus não pretendia dizer o que disse”; 3)

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Dúvida sobre a santidade de Deus. No versículo cinco a serpente diz, com efeito: “Deus vos proibiu comer da árvore porque tem inveja de vos. Não quer que chegueis a ser sábios tanto quanto ele, de modo que vos mantém em ignorância. Não é porque ele se interesse por vós, para salvar-vos da morte, e sim por interesse dele, para impedir que chegueis a ser semelhantes a ele”.47

Além do mais, Satanás despertou a vaidade na mulher, realçando o aspecto formoso do fruto da árvore proibida e fazendo-lhe desejar ser igual a Deus. O desejo da independência e a busca de poder supremo domina o homem (1Jo 2:15,16). A dúvida é a arma que Satanás utiliza com eficácia na disseminação do pecado na face da terra.

A NATUREZA DO PECADO

O pecado é tanto um ato como um estado. Como rebelião contra a Lei de Deus, é um ato da vontade do homem; como separação de Deus, vem a ser um estado pecaminoso.48

A Bíblia, tanto no Antigo Testamento como no Novo Testamento, faz uso de diversos termos para referir-se ao pecado. Existem pelo menos oito palavras básicas para falar de pecado no Antigo Testamento e cerca de 12 em o Novo Testamento. Cada uma delas descreve aspectos diferentes do pecado na vida do indivíduo e na sociedade. E, juntas, apresentam os conceitos básicos envolvidos nessa doutrina.49

47 PEARLMAN, Myer. Conhecendo as doutrinas da Bíblia. São Paulo: Vida, 2006, p. 104.48 PEARLMAN, Myer. Op. cit., p. 112.49 RYRIE, Charles Caldwell. Teologia básica. São Paulo: Mundo Cristão, 2004, p. 239.

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O termo mais comum no Antigo Testamento é chata. Em todas as suas formas, essa palavra usada para indi-car pecado aparece cerca de 522 vezes no Antigo Tes-tamento e expressa a ideia de “errar o alvo” ou falhar (Cf. Êx 20:20; 32:20). Outra palavra hebraica para pecado é pesha, que tem o sentido de rebelião ativa, uma trans-gressão da vontade de Deus (Sl 51:13; Pv 28:13; Is 1:2). Shagah dá a ideia de errar, desviar-se ou extraviar-se, como uma ovelha ou bêbado. É o que denominamos de “pecado por ignorância” (Lv 4:2,13; Nm 15:22; Is 28:7). A palavra hebraica Awon está associada a uma forma verbal que significa torcer e refere-se à culpa produzida pelo pecado (1Sm 3:13; 1Rs 17:18).50

A principal palavra para pecado em o Novo Testa-mento é hamartia, ocorrendo em suas várias formas cerca de 227 vezes e podendo ser traduzida por errar o alvo, falhar, desviar-se de um curso reto ou errar devido à ignorância. Também abrange o sentido de fracasso, falta e delito concreto (Mt 1:21; Jo 1:29. At 2:38). Adikia exprime a ideia de falta de retidão ou injustiça. Em sen-tido amplo, esse termo refere-se a qualquer conduta errada (Lc 16:9; Rm 1:18; 1Co 6:8; 2Ts 2:10). Paraba-sis traz o significado de “transgressor”. Essa palavra normalmente refere-se à quebra específica da Lei (Rm 2:23; 4:15; 5:14; Gl 3:19). A palavra grega anomia é frequentemente traduzida como “transgressão” ou “ini-quidade”. Essa palavra significa literalmente “sem Lei”. Expressa igualmente ilegalidade (Mt 13:41; 1Tm 1:9; 1Jo 3:4). Asebeia reflete fortemente a impiedade (Rm 4:5; Tt 2:12), enquanto ptaio� representa mais o tropeço moral (Tg 2:10).51

Todas as palavras traduzidas como “pecado” proce-dem de uma mesma atitude básica: a rejeição da von-

50 MILNE, Bruce. Estudando as doutrinas da Bíblia. 2ª ed. São Paulo: ABU Editora, 1993, p. 107.51 MILNE, Bruce. Op. cit., p. 107; RYRIE, Charles Caldwell. Op. cit., p. 241-242.

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tade de Deus em favor da vontade do próprio indivíduo. Pecado é, pois, desobediência. É possível notar, ainda, que todos os verbos da língua hebraica para “pecado” trazem a ideia de uma atitude consciente, deliberada. Mesmo o chamado pecado de “ignorância” deve ser bem entendido: não é pecado cometido inocentemente, mas pecado por ignorar a Lei. Não é que a pessoa seja igno-rante, mas ela ignora a Lei.52

O pecado pode ser definido de maneira apropriada se fizermos uso dessas palavras descritivas, pois suas várias formas são registradas no Antigo e no Novo Testamento. Em sua definição, Waine Grudem diz que “pecado é deixar de se conformar à Lei moral de Deus, seja em ato, seja em atitude, seja em natureza”.53 De maneira mais sucinta, pecado é geralmente definido como transgressão à Lei de Deus (1Jo 3:4).

A UNIVERSALIDADE DO PECADO

É importante que compreendamos a universalidade do pecado, no sentido de que a extensão do pecado é total na vida do ser humano. O pecado não atinge apenas a determinados indivíduos, “pois não há homem que não peque” (1Rs 8:46). O apóstolo Paulo, citando o Antigo Testamento, diz que “não há justo, nem sequer um, não há quem entenda, não há quem busque a Deus; todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer” (Rm 3:10-12).

Após sua queda, Eva deu o fruto ao seu marido, que, ao comer, também transgrediu a ordem divina. Com sua transgressão, toda a raça humana ficou contaminada.

52 COELHO FILHO, Isaltino Gomes. Teologia sistemática II. Apostila, Cambuí, 2001, p. 21.53 GRUDEM, Wayne. Teologia sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1999, p. 403.

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Portanto, conclui Paulo, “assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram” (Rm 5:12).

1. O pecado atingiu toda a raça humana exis-tente (Rm 3:23). As Escrituras ensinam que o pecado é universal, atingindo a todos os homens (1Rs 8:46; 1Jo 1:10). Com a expulsão de Adão e Eva do jardim do Éden, toda a humanidade nasceu fora do paraíso e em pecado. Por isso, a universalidade do pecado alcança a todos os homens (Rm 3:10-18; Sl 14:1). É curiosa a declaração de que Adão “gerou um filho à sua semelhança, conforme a sua imagem” (Gn 5:3). Ele é pecador e gera filhos seme-lhantes a ele, também pecadores. É por isso que toda a sua descendência é pecadora (Rm 5:12).

2. O pecado atingiu todo o homem como ser (Rm 7:14-24). A extensão do pecado é total, não simples-mente num sentido geográfico, mas também existen-cial. O pecado afeta o ser humano por inteiro: a vontade (Jo 8:34; Rm 7:14-24; Ef 2:1-3; 2Pd 2:19), a mente e o entendimento (Gn 6:5; 1Co 1:20-24; Ef 4:17), as afeições e emoções (Rm 1:24-27; 1Tm 6:10; 2Tm 3:4), assim como nossas palavras e comportamento (Gl 5:19-21; Tg 3:5-9). Isto tem sido expresso tradicionalmente como “depravação total”. Isso significa que nenhum aspecto de nossa natureza foi deixado intacto pelo pecado. Não existe dentro da personalidade humana uma parte em que o “estado original” do homem tenha sido preser-vado intacto. A queda teve o poder de afetar toda a vida do homem, em todos os níveis, sem exceção. Estamos totalmente decaídos e, portanto, totalmente necessita-dos de redenção (Ef 2:1-5).54

3. O pecado atingiu toda a criação de Deus na Terra (Gn 3:17-19). O pecado não tem dimensões

54 MILNE, Bruce. Op. cit., p. 107.

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apenas individuais. Tem, também, uma dimensão cós-mica, como lemos na maldição sobre a Terra, quando da queda da humanidade: “Maldita é a terra por tua causa” (Gn 3:17). Assim, a criação animal e, até mesmo, a natu-reza inanimada sofreu a maldição como resultado do pecado do homem. Em vista disto, a Escritura nos diz que está chegando a hora em que “a própria criação será redimida do cativeiro da corrupção” (Rm 8:21,22). A redenção de Cristo não é apenas a salvação dos homens, mas a reconstrução da criação. O sacrifício de Jesus abrange também a restauração da própria natu-reza (Ap 22:5).55

AS CONSEQUÊNCIA DO PECADO

Devido à queda, o pecado dá início a uma série de consequências maléficas. O pecado de Adão não apenas resulta na morte para ele mesmo e para todos os homens (Gn 3:19), mas inicia uma série de outros pecados: o assassinato de Abel por Caim (Gn 4:1-16), a maldade humana em geral resultando no dilúvio (Gn 6:1-7,24), e a arrogância demonstrada na construção da Torre de Babel (Gn 11:1-9).56

A palavra que melhor define as consequências do pecado é “morte”, pois pecado é a transgressão da Lei de Deus. E, na Lei, Deus estabeleceu como castigo a morte (Rm 6:21-23; Ez 18:20). O homem foi criado para ser capaz de viver eternamente; isto é, não morreria se obedecesse à Lei de Deus (Gn 2:17). Desse modo, a vida estava condicionada à obediência: enquanto Adão observasse a Lei da vida teria direito à árvore da vida. Mas desobedeceu, quebrou o pacto de vida e ficou

55 COELHO FILHO, Isaltino Gomes. Op. cit., p. 33.56 HARRINGTON, Daniel J.; KEENAN, James F. Jesus e a ética da virtude: cons-truindo pontes entre os estudos do Novo Testamento e a teologia moral. São Paulo: Loyola, 2006, p. 148.

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separado de Deus, a fonte da vida.57 Assim, a limitação da vida humana é uma parte do castigo pelo pecado. Paulo foi enfático ao afirmar que “o salário do pecado é a morte”. Então, desde Adão e Eva, todos os seres huma-nos estão destinados a experimentar a morte física (Hb 9:27).

Ao nos dar suas leis, desejou Deus ajudar-nos a ficarmos livres do pecado (Jo 8:34). Quando deixamos de cumpri-las, sofremos as consequências da nossa desobediência, tais como o sofrimento, a dor, doenças e morte. Assim, podemos dizer que o pecado produz resultados desastrosos para o presente e para o futuro. Vemos, então, que a morte física veio ao mundo como castigo, e, nas Escrituras, sempre que o homem é ame-açado com a morte como castigo pelo pecado, significa primeiramente a perda do favor de Deus.

Mas notamos que o castigo incluía mais do que uma morte física; o homem também experimentaria a morte espiritual, como consequência do pecado. A morte espi-ritual equivale à separação eterna de Deus. O homem sem Deus está morto, como afirma o apóstolo Paulo, ao dizer aos irmãos que “antigamente vocês estavam espiritualmente mortos por causa da sua desobediência a Deus e por causa dos seus pecados” (Ef 2:1, NTLH). Mas nem todas as pessoas têm que continuar vivendo neste estado espiritual. Ao aceitar a Jesus Cristo como seu Salvador pessoal, o indivíduo recebe o perdão de Deus para os seus pecados, é purificado de toda injus-tiça e torna-se participante do novo nascimento em Jesus Cristo, cujo princípio operante é a vida abundante, e não mais a morte (1Jo 1:9; 2Co 5:17).

A quebra de nossa relação com Deus também afetou diretamente nosso relacionamento com nossos semelhantes. Adão voltou-se contra Eva e culpou-a por

57 PEARLMAN, Myer. Op. cit., p. 113-114.

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sua própria insensatez. Em seguida, temos a história do assassinato de Abel. O homem inimigo de Deus é também inimigo de seu semelhante; é um estranho, um inimigo, uma ameaça social. O pecado traz conflitos e produz grandes divisões na humanidade. Provoca pre-conceito racial e antagonismos. Dá lugar às divisões sociais, contribuindo com as explorações para com os menos favorecidos. Traz discórdia para o seio de todos os grupos humanos, sejam educativos, comunitários, sociais, recreativos ou religiosos. Divide as famílias e as igrejas.58

Na verdade, nosso afastamento do próximo também se expressa como “medo” de sermos vistos como somos, em nossa fraqueza, culpa e autodeprecia-ção. Tentamos, portanto, ocultar-nos dele, de um lado, projetando uma imagem inverídica de nossa pessoa e, de outro, procurando extinguir sua ameaça por meio de nosso afastamento.

O TRIUNFO SOBRE O PECADO

A nossa única esperança para vencer o pecado está depositada em Cristo. Ele é o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Jo 1:29). Ele é aquele que fora pro-metido para esmagar a cabeça da serpente e derrotar o poder de Satanás (Gn 3:15).

Deus não poderia simplesmente perdoar o pecado com base no arrependimento do pecador. Havia um preço a ser pago (Hb 9:22). Para que Deus pudesse per-doar ao pecador e permanecer justo ao mesmo tempo, Jesus Cristo teve que pagar a pena do pecador (cf. Jo 19:30, 1Pe 1:18-20). Ele tinha que morrer para Deus jus-tificar os ímpios (Rm 3:24-26).

58 MILNE, Bruce. Op. cit., p. 111.

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O profeta Isaías nos dá a verdade central sobre o sig-nificado da morte de Cristo quando declara que “Deus fará de sua alma (de Cristo) uma oferta pelo pecado” (Is 53:10). Compreender o que essa declaração significa é compreender a expiação. Examinemos melhor os deta-lhes envolvidos nesta declaração:

1. A morte de Cristo é vicária (Is 53:5,6; 1Co 15:3; 2Co 5:21). A morte de Cristo foi tratada como oferta pelo pecado. Sua morte fora um sacrifício vicário (1Pe 3:18; 1Co 15:3; Rm 4:25). Sofrimento vicário é o sofrimento pelo qual passa uma pessoa em vez de outra, isto é, em seu lugar. Supõe necessariamente a isenção da parte em cujo lugar o sofrimento é suportado. É evidente que Cristo não morreu por seu próprio pecado, pois não tinha pecado (Jo 8:46; Hb 4:15). Antes, lemos na Pala-vra que “Cristo morreu pelos nossos pecados” (Rm 5:8; 1Pd 2:22,24; 3:18).

2. A morte de Cristo é a expiação dos nossos pecados (Lv 4:13-20; 6:2-7; Hb 2:17,18). A morte de Cristo é tanto uma expiação como uma propiciação (sacrifício) pelos nossos pecados. Por estas passagens fica claro que o novilho ou carneiro tinha que morrer e que o perdão só era possível apenas por meio da morte de um substituto (1Ts 5:9,10; 1Jo 4:10). Ligada à ideia de propiciação está a ideia de reconciliação. As duas ideias parecem estar intimamente ligadas uma à outra como causa e efeito (Rm 5:10; Ef 2:13-16).

3. A morte de Cristo é um resgate (Mc 10:45; Hb 9:12). A morte de Cristo é mostrada como sendo o pagamento de um preço ou resgate. Jesus mesmo é quem diz que ele veio para dar a sua vida em resgate de muitos, e fala-se da obra de Cristo como sendo a de redenção (Lc 1:68; 2:38). A palavra “redenção” vem do grego lutron e significa o pagamento de um preço para livrar alguém que esteja aprisionado.

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Agora, podemos dizer como Paulo a Tito: “Aguar-dando a bendita esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus, o qual a si mesmo se deu por nós, a fim de remir-nos de toda iniquidade e purificar, para si mesmo, um povo exclusi-vamente seu, zeloso de boas obras” (Tt 2:14).

PERGUNTAS PARA DISCUSSÃO EM CLASSE

1. O que é pecado? Pesquise os textos mencionados e escreva as várias definições para “pecado”. (Lv 4:13,14; Mt 7:21-23; 18:15; Lc 15:18,21; Rm 2:25; 4:7,15; 1Jo 3:4)

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2. Faça um resumo diante da classe sobre a origem do pecado, explicando como Satanás induziu o ser humano à prática do mesmo. (Gn 3:1-6)

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3. Qual foi a extensão atingida pelo pecado, após sua entrada na terra? (Rm 3:23; 5:12)

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4. Com relação ao ser humano, qual foi a extensão do pecado? (Rm 7:14-24)

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5. O que mais foi atingido pelo pecado de nossos primei-ros pais? (Gn 3:17-19; Rm 8:21,22)

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6. Em relação ao homem, qual foi a maior consequência do pecado? (Gn 3:22-24)

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7. Em relação a Deus, qual foi o resultado do homem haver pecado? (Is 59:1,2; Ef 2:1)

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8. Em relação ao próximo, o que o pecado ocasionou em nossas vidas? (Gn 3:12; 4:1-16)

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9. Apesar de toda tragédia provocada pela entrada do pecado no mundo, qual deve ser a nossa esperança? (Gn 3:15; Jo 1:29; Ap 12:9)

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Domingo – Efésios 2:5-10

Todo conteúdo da carta de Paulo aos Efésios mostra a situação deprimente, deplorável, lastimável e total-mente sem vida em que nos encontrávamos. Éramos por natureza filhos da ira. Mas Deus, que é rico em mise-ricórdia, pelo imenso amor com que nos amou, tirou-nos dessa situação lamentável e nos deu vida, fazendo-nos assentar em lugares de honra. Fomos abençoados com todas as bênçãos espirituais por meio de Cristo Jesus, e passamos da morte para a vida, da condenação para a absolvição, da vergonha para a glória. E tudo isso sem termos feito nada para merecer, apenas pela bondade do Senhor.

Segunda-feira – Romanos 3:19-24

O homem jamais poderia justificar-se diante de Deus por meio de suas próprias obras, mediante uma rigorosa observância da Lei, pois esta só ostenta uma clarividên-cia de que todo homem pecou e que destituído está da glória de Deus. Não há justo sequer diante de Deus, mas a justiça que nos é imputada por meio da fé em Jesus Cristo nos declara inocentes ante a condenação imposta pela Lei; e isso gratuitamente por meio da graça de Deus, pela redenção de Cristo Jesus. Louve a Deus por esse presente imerecido, pois por meio dele as nossas transgressões são apagadas, proporcionando-nos a tão valiosa salvação.

Pr. Renato Negri Júnior

MEDITAÇÕES BÍBLICAS DIÁRIAS

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Terça-feira – Romanos 10:14-17

Neste capítulo, Paulo exprime o seu desejo a favor da salvação de Israel, porque via neles zelo para com o Senhor. Buscavam a Deus, porém, de maneira errada, sem entendimento genuíno. Por meio da revelação, o apóstolo Paulo conseguiu visualizar o significado cós-mico da morte de Jesus. Ele entendeu a necessidade da morte e ressurreição do Cristo. Ele ensinou a necessi-dade de confessarmos que Jesus é o Senhor, e crermos de todo coração que Deus o ressuscitou dos mortos. Mas como iriam confessar e crer no Senhor sem ter ouvido a respeito do evangelho? E como ouviriam se ninguém lhes anunciasse? Não deixe que as pessoas em sua volta pereçam por falta de ouvirem o evangelho. Anuncie que Cristo veio ao mundo para salvar o pecador por meio da fé em Jesus.

Quarta-feira – Romanos 5:1-2

Antes de Cristo fazer parte de nossa vida, estávamos perdidos pelos nossos delitos e éramos por natureza condenados à ira divina. Certamente não tínhamos paz com Deus, pois nossas atitudes eram contrárias à von-tade divina. Mas Cristo pagou o preço de nossos peca-dos, proporcionando-nos a paz com Deus. Portanto, agora, uma vez que fomos declarados justos à vista de Deus, pela fé em suas promessas, podemos ter paz com ele por causa do que Jesus Cristo, nosso Senhor, fez por nós. Essa paz significa que fomos reconciliados com o Pai, que a dívida que tínhamos foi paga, que a parede de separação que estava entre nós e Deus foi removida, e que podemos receber tudo isso mediante a fé em nosso Senhor Jesus Cristo.

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76 Estudos Bíblicos

Quinta-feira – 2 Pedro 1:4-11

Pedro escreve esta carta para relembrar aos cristãos de tudo o que eles já tinham ouvido acerca do evan-gelho por meio dos apóstolos. O apóstolo está muito preocupado, pois sua partida estava próxima e muitos cristãos haviam se desviado da fé e voltado a uma vida de pecado, julgando que a vinda de Cristo não mais ocorreria. Tais pessoas também estavam influenciando outras a se desviarem. Então Pedro lembra a seus leito-res de tudo o que eles precisam para viver uma vida que agradasse a Deus. Ele diz que o Pai, por seu grandioso poder, concedeu-nos ricas e maravilhosas bênçãos: fé, virtude, conhecimento, domínio próprio, perseverança, piedade, fraternidade e amor. E isso ele nos deu para sermos cristãos firmes na fé, sem jamais esquecermos que Cristo nos purificou de nossos pecados. Deus nos libertou da vida de pecado, a fim de que agora possamos viver inteiramente para ele. Portanto, demonstremos a todos que estamos entre aqueles que Deus chamou e escolheu. Se fizermos isso, jamais abandonaremos a fé.

Sexta-feira – Romanos 8:14-17

Os filhos de Deus são definidos por Paulo como aqueles que são guiados pelo Espírito Santo. Mas ele lidera somente os que se deixam guiar. As frases “espí-rito de escravidão” e “espírito de adoção” são paralelas. Uma tradução melhor seria: o estado de espírito que pertence à escravidão e o estado de espírito que per-tence à adoção. O resultado do primeiro é o medo; o resultado do outro é a capacidade de orar e dirigir-se a Deus como Pai. E por que podemos fazer isso? Porque o Espírito Santo fala no íntimo do nosso coração, dizendo--nos que somos filhos de Deus. Paulo vai mais longe ao dizer que os crentes são herdeiros de Deus e coerdeiros

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de Cristo. Somos herdeiros de tudo o que ele tem para nos oferecer por meio de Cristo, a quem o Pai entregou todas as coisas. Mas, para sermos coerdeiros de Cristo, temos também que participar dos sofrimentos de Cristo. Mas isso não é mal, pois como resultado também parti-ciparemos da sua herança na glória.

Sábado – 1 João 3:1-3

O objetivo precípuo de João não é com questões teo-lógicas e sim éticas. Ser chamado filho de Deus consiste em andar conforme Jesus viveu, ou seja, de forma pura. Então, ele declara dois motivos por que o cristão deve ser puro. Um se relaciona com uma obra passada de Deus e o segundo com uma obra futura. Em relação ao primeiro, movido por seu amor, o Pai nos deu o direito de sermos chamados de seus filhos. O tempo perfeito do verbo indica que essa dádiva é uma propriedade per-manente do filho de Deus. Nós já somos filhos de Deus. Porém, no futuro, isto é, quando Jesus vier nos buscar, nós seremos semelhantes a ele, pois o veremos como ele realmente é. Se você verdadeiramente crê nisto, pro-cure permanecer sempre puro, porque Cristo é puro.

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INTRODUÇÃO

Cremos e ensinamos que a salvação é pela graça de Deus, e somente pela graça. Nada há que um peca-dor perdido, degenerado e espiritualmente morto possa fazer para contribuir de algum modo para a salvação. A fé salvadora, o arrependimento, a conversão e a obediên-cia são todas operações divinas realizadas pelo Espírito Santo no coração de todo aquele que é salvo. A própria essência da obra divina de salvação é a transformação da vontade, o que resulta em amor a Deus. Por outro lado, a verdadeira salvação não pode e não irá deixar de produzir obras de justiça na vida do verdadeiro crente. Não há obras humanas no ato da salvação, mas a obra de Deus na salvação inclui uma mudança de intenção, de vontade, de desejos e de atitudes que produz inevita-velmente o fruto do Espírito.

No estudo de hoje iremos aprofundar estas três importantes verdades.

A GRAÇA DE DEUS

Um dos mais belos aspectos da fé cristã é o da graça de Deus. A palavra graça vem do grego charis (ocorre

Graça, Fé e Salvação

Pr. Edvard Portes Soles3 de Agosto de 2013

5TEXTO BÁSICO:

“Pois pela graça de Deus vocês são salvos por meio da fé. Isso não vem de vocês, mas é um pre-sente dado por Deus.” (Ef 2:8, NTLH)

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156 vezes no Novo Testamento) e significa favor imere-cido, referindo-se sempre ao infinito amor de Deus e a tudo que Seu amor o levou a fazer para a nossa salva-ção. A graça de Deus não somente abrange o imerecido favor estendido aos pecadores, mas também a dádiva de poder habilitar seus filhos a cumprirem a sua von-tade. Nesse caso a graça de Deus pode ser vista em toda a história da humanidade.

1. A graça revelada no Antigo Testamento. A graça sempre se manifestou aos homens, mesmo no Antigo Testamento. A graça já era um plano de Deus antes mesmo da queda do homem. No Éden encontramos a promessa de um Salvador e Redentor da humanidade. Este Salvador poria fim ao poder de Satanás de enganar a humanidade, conduzindo-a ao pecado (Gn 3:15; 2Tm 1:9). Por causa do pecado do homem, um cordeiro teve de ser sacrificado (Gn 3:21; Ap 13:8). O sangue de um inocente foi derramado e a pele do animal serviu como vestimenta (justiça). Este cordeiro, de acordo com João, é a prefiguração do Cristo que morreria em nosso lugar (Jo 1:29), manifestando dessa forma a graça de Deus à humanidade.

Foi a graça que poupou Noé e sua família (Gn 6:6-7). Foi a graça que restaurou Davi, quando este clamou pela misericórida de Deus (Sl 32:1,2; 51:1).59 O convite ao arrependimento e à conversão em Isaias 55:6-7 - “torne para o nosso Deus, porque grandioso é em perdoar” - é a graça de Deus em ação. Encontramos a graça de Deus nos Salmos. Por exemplo, o Salmo 103:10-12 diz que Deus “não nos tratou segundo os nossos pecados, nem nos recompensou segundo as nossas iniqüidades”. O Salmo 136 frisa muito bem o carater gracioso de Deus, pois repete por mais de 20 vezes que “o seu amor dura para sempre”. Assim, a graça de Deus se revelou até 59 Misericórdia é a tradução da palavra hebraica hessed, que tem o seu correspon-dente etimológico na palavra grega charis; isto é, misericórdia é o mesmo que graça.

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mesmo na Lei, como afirma Agostinho de Hipona: “A Lei foi concedida por Deus para que busquemos a graça, e a graça nos é oferecida para que possamos cumprir a Lei”.60

2. A graça revelada em Cristo no Novo Testa-mento. Embora a graça de Deus possa ser vista no Antigo Testamento, nas mais variadas formas de atua-ção, ela ainda não havia sido revelada em toda a sua plenitude. Segundo João: “Porque todos nós temos rece-bido da sua plenitude e graça sobre graça. Porque a Lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo” (Jo 1:16-17). Foi em Cristo que a graça de Deus se revelou plenamente.

A graça revelada em Cristo é a graça salvadora, que difere da graça geral ou comum, mediante a qual todos os homens podem usufruir toda e qualquer dádiva divina, sem a necessidade de crer ou exercer fé alguma. Jesus faz menção à graça comum quando diz que Deus “faz que o seu sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos” (Mt 5:45). A graça salvadora, por sua vez, refere-se às dádivas alcançadas por Cristo em sua morte na cruz, e a sua aplicação, por meio do Espírito Santo, na vida dos que creem e se arre-pendem de seus pecados.61

A graça salvadora manifesta-se em Cristo (Tt 2:11-14) e é dela que provem a salvação. Ela é a fonte da salvação, pois “onde abundou o pecado superabundou a graça” (Rm 5:20). Portanto, a salvação vem tão somente pela graça (Rm 3:23,24). O pecador é incapaz de ajudar--se a si próprio, quanto mais pensar em sua própria sal-vação. A ideia da salvação foi concebida por Deus, que enviou seu Filho para nos salvar. É a graça salvadora que “produziu a obra de Cristo, que é a causa eficiente

60 SHEDD, Russel P. Lei, graça e santificação. São Paulo: Vida Nova, 2012, p. 17.61 FERREIRA, Franklin. Teologia cristã: uma sistematização das doutrinas. São Paulo: Vida Nova, 2011, p. 156-157.

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da salvação, e suscita fé, que é o instrumento de acei-tação, para que a salvação se torne uma realidade na experiência da vida”.62 Assim, a salvação é uma obra divina, completa e perfeita (Ef 2:8,9).

Na graça salvadora não há espaço para mérito algum, pois “se é pela graça, já não é pelas obras; do contrá-rio, a graça já não é graça” (Rm 11:6). Obra e graça e graça e obra são incompatíveis na salvação, ou se é por obra ou se é por graça. Mas a própria Bíblia afirma que a salvação é somente pela graça de Deus, “que nos salvou, e chamou com uma santa vocação; não segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio propósito e graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos dos séculos” (2Tm 1:9). Paulo diz que a vida eterna é “o dom gratuito de Deus”, ou seja, um presente que Deus oferece gratuitamente para todos aqueles que exercem a fé em Jesus Cristo, nosso Senhor (Rm 6:23).

A FÉ CRISTÃ

A fé é indispensável à vida cristã. Ela está presente, por exemplo, na eficácia da oração (Tg 1:16). É pre-ciso fé para agradar a Deus (Hb 11:6). A vitória sobre o mundo depende dela (1Jo 5:4). Acerca da fé é necessá-rio entendermos:

Em Hebreus 11:1 encontramos a definição clássica da fé cristã. O texto sacro nos diz que “a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não veem”. Esta é a unica definição de fé que encon-tramos na Bíblia, mas ela não passa de uma simples elucidação meramente intelectual e teórica a respeito da fé.63 Por isso o autor apresenta exemplos de fé no Antigo

62 SEVERA, Zacarias. Manual de teologia sistemática. Curitiba: AD Santos Editora, 1999, p. 256.63 LAUBACH, Fritz. Carta aos Hebreus: comentário esperança. Curitiba: Editora Evangélica Esperança, 2000, p. 181.

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Testamento a fim de demonstrar na prática o que é exer-cer a fé em Deus, confiando que ele é cumpridor de suas promessas.

Acerca da fé é necessário entendermos dois aspec-tos importantes.

1. A fé geral ou comum. Na verdade não existe no mundo uma única pessoa que não tenha fé. A própria vida o prova quando fazemos coisas que exigem certa dose de convicção. Esse é o tipo de convicção que chamamos de fé natural, que nada mais é do que a mera confiança em alguém ou em alguma coisa. Pode ser a crença em Deus ou em divindades pagãs (1Rs 18:27-28). Esse tipo de fé faz com que a pessoa apenas acredite em algo. É uma crença incapaz de gerar mudança. Sobre esse tipo de “fé” ou “crença”, Tiago ensina, enfaticamente, que até mesmo “os demônios creem e tremem” (Tg 2:19).

2. Fé salvívica. A fé salvífica é aquele tipo de fé que conduz o homem à salvação. Esta é a genuína fé cristã. Ela está enraizada no coração que foi regenerado por Deus. A fé salvadora é obra de Deus e é direcionada para Deus por meio de Cristo (Hb 12.2; 1Jo 5.1-5). Esta fé é uma dádiva proveniente da graça de Deus, ou como diz o apóstolo Paulo, “é um dom de Deus” (Ef 2:8). A sal-vação do homem começa quando Deus, por sua graça, concede ao pecador a fé que o salva.64 Sendo assim, o homem não possui, naturalmente, a fé que salva. Con-tudo, devemos observar que nós não somos salvos pela fé, mas sim por Cristo Jesus por meio da fé.

Um dos grandes pilares da Reforma Protestante do século XVI foi uma volta à doutrina apostólica da sal-vação pela fé em Cristo Jesus. Os reformadores subli-nharam a supremacia da fé sobre as obras para a sal-vação. O Breve Catecismo de Westminster, na questão 86, afirma que a “fé em Jesus Cristo é um dom de Deus, 64 URETA, Floreal. Elementos da teologia cristã. Rio de Janeiro: JUERP, 1995, p. 167.

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uma graça salvadora pela qual o recebemos e confia-mos somente nele para a salvação, como ele nos é ofe-recido no Evangelho”.65 Para Louis Berkhof a fé salva-dora pode ser definida como “uma convicção produzida pelo Espírito Santo no coração, quanto à veracidade do Evangelho, e uma segurança (confiança) nas promes-sas de Deus em Cristo”.66

A fé salvívica está baseada somente em Cristo. A principal diferença entre a fé comum e a fé salvadora é que nesta a pessoa é levada e entregar sua vida inteira nas mãos de Cristo, para que ele a conduza até a eter-nidade.67 Esta fé vem “pelo ouvir... a palavra de Deus” (Rm 10:17) e conduz-nos à salvação, como afirma Paulo: “Vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus” (Ef 2:8, NVI). Ora, o que não vem do homem é a fé, pois dela depende sua entrega a Cristo, para ser salvo; tanto a fé (que é o meio) quanto a salvação (que é o “produto final”) fluem da mesma graça.

ASPECTOS DA SALVAÇÃO

Zacarias Severa define salvação da seguinte maneira: “Salvação é o livramento do pecado e seus efeitos, mediante a ação graciosa de Deus em Cristo, para uma vida de glória com Deus, numa nova ordem de existên-cia eterna”.68

1. A salvação no Antigo Testamento. A palavra traduzida como “salvação” ou “libertação” (yeshuah), ou seu equivalente, aparece mais de 200 vezes no Antigo

65 NASCIMENTO, Adão Carlos (Org.). O breve catecismo de Westminster. São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 86.66 BERKHOF, Louis. Teologia sistemática. Campinas, SP: Luz para o Caminho, 1990, p. 503.67 SEVERA, Zacarias. Op. cit., p. 282.68 SEVERA, Zacarias. Op. cit., p. 269.

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Testamento e significa livramento do cativeiro, da enfer-midade, da morte, dos inimigos, das catástrofes naturais, visando mais às coisas desta vida do que às do mundo vindouro. Pode-se dizer que a salvação no Antigo Testa-mento era vista como sendo a manifestação de Deus em favor do seu povo (Gn 49:18; 2Cr 20:17; Sl 9:14).

2. A salvação no Novo Testamento. Tanto no Antigo quanto no Novo Testamento a salvação tem como agente salvador o próprio Deus. Paulo afirma que “Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo” (2Co 5:19). No entanto, o significado de salvação no Novo Testamento difere do Antigo, pois o que está em foco é o homem ser salvo do pecado e de suas consequências (Mt 1:21), é ser salvo da condenação (Jo 3:17), é ser salvo da perdição (Lc 9:24), é ser salvo da morte (Tg 5:10), é ser salvo da ira de Deus (Rm 5:9). Essa dife-rença se acentua ainda mais porque a ideia cristã de salvação tem o fato de o indivíduo perecer, pois “aquele que não for salvo, perecerá, sofrerá todos os efeitos de seus pecados, incluindo a separação eterna de Deus e as terríveis angústias no estado de perdição”.69

3. Os estágios da salvação. Há pelo menos três estágios na salvação: 1) a salvação pode ser conside-rada como um ato, ou seja, o homem já está salvo no presente (Jo 5:24); 2) a salvação como um processo é o desenvolvimento da vida e da personalidade do crente em conformação com a imagem de Cristo (1Co 7:1; Rm 6:19,22); 3) a salvação como consumação, ou seja, o cristão se move em direção a uma gloriosa consumação, na qual sua salvação será completa (1Jo 3:2).70 O ápice da consumação da salvação está na ressurreição do corpo (1Co 15:14-19). Somente depois de consumado todas as coisas é que finalmente o cristão estará livre de qualquer influência de sua natureza pecaminosa.

69 SEVERA, Zacarias. Op. cit., p. 270.70 SEVERA, Zacarias. Op. cit., pp. 272-275.

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Assim podemos dizer que a salvação tem três aspec-tos: passado, presente e futuro. Os que creem já foram resgatados da culpa e penalidade do pecado (justifica-ção). Agora os salvos estão sendo libertados do poder do pecado (santificação). E, finalmente, eles serão libertos da presença do pecado em seus corpos (glorificação).

4. Implicações práticas da salvação. A salvação deve produzir frutos para a glória de Deus (Jo 15:8), e para isso ela tem pelo menos duas dimensões. A dimen-são vertical representa a restauração das relações do homem com Deus (Rm 5:1). Ureta Floreal expressa bem o que é ser restaurado à comunhão com Deus: “Estar em paz com Deus significa estar em harmonia com ele; sentir que a vida recebe um novo significado, porque nesta relação com Deus encontramos um propósito e uma meta”.71

A salvação em sua dimensão horizontal refere--se às relações com o próximo; o homem salvo ama, pois aprende isso com o próprio Senhor que o amou e o salvou (1Jo 4:78). É em suas relações humanas que a pessoa salva demonstra sua disposição em amar e servir ao próximo; a salvação produz servos e servas que servem, não por obrigação, mas pelo simples prazer de ser útil.

Uma terceira implicação da salvação é que ela conduz o homem a conformar-se à imagem de Cristo (Ef 4:13). Nesse caso, o indivíduo que participa da sal-vação “passa por um desenvolvimento pessoal, moral e espiritual, até chegar ao padrão, que é Cristo”.72

71 URETA, Floreal. Op. cit., p. 178.72 SEVERA, Zacarias. Op. cit., p. 271.

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PERGUNTAS PARA DISCUSSÃO EM CLASSE

1. O que é graça? Explique como a graça de Deus foi manifestada no jardim do Éden. (Gn 3:15,21; 2Tm 1:9)

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2. Quando Deus favoreceu a humanidade com a suprema revelação de Si mesmo? O que significava essa revela-ção? (Gl 4:4; Jo 1:14,17)

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3. Que benefício de significação eterna foi trazido à humanidade pela encarnação de Jesus? (Tt 2:11)

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4. De que forma a Bíblia apresenta a única forma de sal-vação para o pecador? (Rm 3:23,24; Ef 2:8,9; Tt 3:3-7)

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5. Em Hebreus 11:1 encontramos a definição clássica da fé cristã. Quais são as duas características desse tipo de fé?

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6. Quais são os resultados produzidos pela fé salvadora na vida do cristão? Quais são as implicações práticas da salvação? (Ef 2:8; Rm 5:1; Hb 11:6)

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7. Quando pela fé nos afastamos de nossa própria jus-tiça e aceitamos a justiça de Deus em Cristo, qual é a nova posição que temos para com Deus? (Rm 3:20-28)

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Domingo – 2 Coríntios 5:14-21

Realmente “o amor de Cristo nos constrange” (v.14). Ele manifestou esse amor por meio de sua morte na cruz, para que pudéssemos ser reconciliados com Deus. E o melhor é que o Senhor esquece tudo que de errado fizemos antes de conhecê-lo. Ao passo que quando o conhecemos passamos a ser “uma nova criatura em Cristo, as coisas antigas já passaram e se fizeram novas” (v. 17). Não sendo pouco isso tudo, ainda tornamo-nos embaixadores em nome de Cristo aqui nesta terra. Você já refletiu sobre esta responsabilidade de, onde quer que andemos, estarmos representando o nosso Salva-dor? Porém, para tudo isso ser válido em nossa vida, é necessário que não vivamos mais para nós mesmos, mas vivamos para aquele que morreu por nós e ressus-citou. Isso é novo nascimento: ser gerado novamente em Cristo para viver a vontade dele.

Segunda-feira – 2 Coríntios 7:9-10

A tristeza é um sentimento ruim que algumas vezes atinge nossa vida. Paulo havia escrito uma carta aos coríntios repreendendo-os por algo que tinham feito de errado. A Igreja de Corinto ficou triste com a repreen-são do apóstolo, mas esta tristeza gerou o verdadeiro arrependimento. Pedro ficou profundamente triste por ter traído Jesus. Porém, esse sentimento gerou um profundo arrependimento em sua vida. Judas também ficou triste por também ter traído Jesus, mas esse sen-timento gerou apenas um remorso superficial por algo que tinha feito de errado. Observe que apóstolo Paulo

Pr. Renato Negri Júnior

MEDITAÇÕES BÍBLICAS DIÁRIAS

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disse aos irmãos de Corinto que “a tristeza segundo Deus produz arrependimento para a salvação” (v.10). E como sabemos se estamos arrependidos de verdade ou se é apenas remorso? O arrependimento genuíno traz mudança de vida.

Terça-feira – Efésios 2:1-5

É difícil para as pessoas entender que mesmo estando vivas, estão mortas. A situação piora quando você diz que elas precisam morrer para nascer nova-mente. Complicado não é? Como alguém que já está morto precisa morrer para nascer de novo? É preciso entender que enquanto não aceitamos a Jesus, o pecado tem peso de morte em nossa vida, conduzindo-nos a um abismo. Entretanto, o sacrifício de Jesus pode nos tirar deste estado e nos trazer à vida, desde que o aceitemos. Nesta nova vida o pecado ainda nos rodeia, porém não tem sobre nós peso de morte eterna, pois somos salvos pela graça de Cristo. Ore hoje por aqueles bem próximos de você que ainda não olharam para Jesus e encontra-ram vida.

Quarta-feira – Romanos 8:1-16

É comum dizermos que somos filhos de Deus. Porém, se somos filhos de Deus devemos então ser “guiados pelo Espírito de Deus” e não devemos mais nos incli-nar para as coisas da carne. Então, pare e pense um pouco sobre os lugares onde têm andado, as palavras que têm dito, onde suas mãos têm tocado, o que seus olhos sentem prazer em ver e o que os seus ouvidos têm escutado. Como novas criaturas, devemos fazer e esco-lher somente aquilo que agrada ao Espírito Santo, pois os filhos de Deus são regidos por este Espírito. Não se

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esqueça de que o nosso Deus não tem netos ou bisne-tos. Ele tem apenas filhos e para os seus filhos o Senhor reservou uma herança especial: a vida eterna.

Quinta-feira – Tito 3:2-5

Todos os textos lidos nesta semana têm-nos mos-trado o contraste que há entre a velha natureza e o novo homem regenerado pelo Espírito Santo. E este novo homem não deve difamar ninguém; antes deve ser calmo e pacífico, tratando todos com educação. Você é assim? Talvez você não se ache digno de receber essa obra maravilhosa do Espírito de Deus em sua vida. Não pense desta maneira, pois Deus manifestou a sua misericórdia para conosco, segundo o seu amor, e não segundo as nossas obras. Apenas aceite esse amor e coloque-se à disposição do Senhor. O restante está a cargo do Espírito Santo, que nos convence dos nossos erros e nos faz mudar.

Sexta-feira – Isaías 55:6,7

Há um grande questionamento sobre o tempo em que estamos vivendo. Alguns dizem ser o “tempo da graça”. Outros vivem como se fosse o “tempo em que Deus está separando um povo santo”. Há aqueles que dizem que estamos no início do “tempo da grande tribu-lação”. Seja que tempo for, uma coisa é certa: devemos buscar a presença de Deus em todo o tempo, aprovei-tando enquanto ele se deixa encontrar. Quantas vezes ouvimos: “A porta da graça ainda está aberta”? Isso é maravilhoso! Porém um dia se ouvirá: “A porta da graça já se fechou”. Neste dia não haverá mais oportunidade para endireitarmos nossos caminhos. Aproveite o tempo que se chama “hoje” para se consertar com Deus e viver

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uma vida que o agrada. Volte-se para o Senhor, pois ele é misericordioso e perdoa completamente.

Sábado – João 3:1-16

As palavras de Jesus parecem ser um pouco pesa-das: “Se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus”. E logo depois: “Quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus”. Nicodemos, embora não tenha entendido este conceito de “nascer de novo”, ficou preocupado. E eu e você esta-mos preocupados com isso ou tratamos o assunto com indiferença? O termo grego traduzido como “de novo” também pode ser interpretado como “do alto” ou “de cima”. Ou seja, enquanto vivermos com o nosso coração voltado para as coisas terrenas não poderemos nascer de novo, nascer do alto, nascer segundo a vontade do nosso Deus.

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INTRODUÇÃO

Um dos assuntos mais importantes para medita-ção da mente humana é o do novo nascimento. O novo nascimento é uma das três grandes ordenações para a humanidade, sendo a primeira delas a morte (Hb 9:27); a segunda, o julgamento (Rm 14:9-12; Ap 20:11-15); e a terceira, a regeneração ou novo nascimento (Jo 3:3-7). Jesus é categórico em afirmar que todos nós preci-samos nascer de novo. Não basta apenas termos um assentimento intelectual sobre quem é Jesus ou sermos convencidos de quem ele é e o do que fez por nós. É preciso que passemos por um processo convulsivo e compulsivo de profundo e genuíno arrependimento.

Na lição de hoje veremos que Jesus realiza essa regeneração espiritual em todos aqueles que o rece-bem. Sendo assim, ninguém poderá viver na plenitude do Espírito Santo, obter maturidade espiritual e dedicar--se com êxito ao trabalho do Senhor se não experimen-tar o milagre da salvação, esse novo nascimento.

O QUE NÃO É O NOVO NASCIMENTO

Primeiramente vamos discorrer sobre o que não é o novo nascimento. Ele não é algo que fazemos para

O Novo Nascimento

Pr. Jonas Sommer10 de Agosto de 2013

6TEXTO BÁSICO:

“Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo: Quem não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus”. (Jo 3:5)

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Deus, mas é o que o Espírito Santo faz em nós e por nós.

Em João 3 vemos um diálogo entre Nicodemos e Jesus. Nicodemos era um homem rico, culto e religioso. Ele era fariseu e membro do sinédrio. Tinha conheci-mento, poder e influência. Tinha uma vida religiosa ili-bada e guardava muitos preceitos da Lei. Mas essas coisas não eram suficientes para sua salvação, ele pre-cisava nascer de novo. Nicodemos também tinha um relativo conhecimento de Cristo. Ele sabia que Jesus era vindo de Deus, que tinha uma singular capacidade de ensinar e fazer milagres, e ainda tinha convicção de que Deus estava do seu lado. Mas essas informações, mesmo sendo verdadeiras, não foram suficientes para dar-lhe a salvação. Ele precisava nascer de novo.

Não se alcança o novo nascimento por meio de ritos, cerimônias e práticas religiosas. Ninguém entra no céu por pertencer a uma família cristã ou por frequentar uma igreja evangélica. Ninguém é salvo porque foi batizado ou porque guarda determinados preceitos religiosos. Não se obtém a vida eterna por ter determinadas infor-mações corretas a respeito de Deus e das Escrituras. Nicodemos era um mestre (Jo 3:10). Ele era um espe-cialista nas Escrituras, mas não estava salvo. Faltava-lhe o novo nascimento.73

De acordo com o apóstolo João, “aos que o recebe-ram, aos que creram em seu nome, deu-lhes o direito de se tornarem filhos de Deus, os quais não nasceram por descendência natural, nem pela vontade da carne nem pela vontade de algum homem, mas nasceram de Deus” (Jo 1:12,13, NVI). Da leitura desse texto, podemos inferir que:

73 LOPES, Hernandes Dias. O novo nascimento: condição indispensável para en-trar no céu. Disponível em: <http://hernandesdiaslopes.com.br>. Acesso em: 11 abr. 2013.

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1. Novo nascimento não é um processo natu-ral. Não é de geração natural ou hereditária: “Não do sangue”. O fato de uma pessoa ser filha de pais cris-tãos não a torna cristã. Novo nascimento também não é um processo evolutivo. Os pecadores, como a Bíblia nos ensina, estão espiritualmente mortos. A vida não se pode desenvolver onde não existe (Ef 2:1,2).

2. Novo nascimento não é um produto de um esforço de vontade. João diz: “Nem da vontade da carne”. Assim como uma criança não pode impor a sua vontade e nascer fisicamente, assim também ninguém pode alcançar o novo nascimento sem a ação do Espí-rito Santo. Assim podemos dizer que o novo nascimento é um aperfeiçoamento produzido pelo Espírito Santo, mediante o qual se abandona os maus hábitos.

3. Novo nascimento não é o resultado da media-ção humana. João prossegue dizendo: “Nem da von-tade do varão, mas de Deus”. Nenhum ser humano, por mais eminente que seja a sua posição eclesiástica, pode transmitir a outrem o novo nascimento. Todos os ritos e cerimônias de quaisquer ou de todas as religiões orga-nizadas são impotentes para reproduzir o novo nasci-mento. “Nascer de novo” não é a tradução exata do origi-nal grego, que diz “nascer de cima”. Isto indica a origem do novo nascimento. O nascimento físico é do homem e da terra; o nascimento espiritual tem a sua origem em Deus e é do céu.

DEFINIÇÃO DE NOVO NASCIMENTO

É uma questão deveras difícil definir, de uma forma simples, o novo nascimento. John Witherspoon diz que “o novo nascimento envolve uma mudança total; alcança a pessoa por inteiro, não alguma particularidade, mas

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toda a pessoa, sem exceção”.74 Para ele, o novo nas-cimento não é parcial, externo, imperfeito, e sim total, interno, essencial, completo e sobrenatural.

Stephen Charnock afirma que “o novo nascimento é uma mudança imensa e poderosa realizada na alma pela obra eficaz do Espírito Santo, na qual um princí-pio vital, um novo comportamento, a Lei de Deus e uma natureza divina são colocados e formados no coração, capacitando a pessoa a agir com santidade, de um modo que agrada a Deus, e fazendo-a crescer nisto para a glória eterna”.75

A regeneração pode ser então definida como uma mudança realizada pelo poder do Espírito Santo no entendimento, na vontade e nas afeições de um peca-dor, o que consiste no início de um novo tipo de vida e dá outra direção à sua opinião, aos seus desejos, às suas buscas e à sua conduta.

Novo nascimento é, segundo Jesus, “nascer da água” (Jo 3:5). A água refere-se à ênfase de João Batista dada ao arrependimento e purificação do pecado como antecedente necessário do novo nascimento. Água, neste contexto, denota a purificação, a mudança de mente e opinião com relação ao pecado (Ez 36:25-27).

Novo nascimento é também uma mudança espiritual. É o “nascer do Espírito” (Jo 3:5). Novo nascimento é uma obra regeneradora do Espírito Santo. Novo nasci-mento é a tradução da mesma palavra grega “regenera-ção”. Assim, novo nascimento é a injeção da nova vida criadora pelo poder regenerador do Espírito Santo. Por meio desse processo nossos pensamentos são altera-dos, nosso coração muda, bem como nossos valores e convicções.

74 WITHERSPOON, John. Treatises on justification and regeneration. Amherst: J. S. & C. Adams, 1830, p. 94.75 CHARNOCK, Stephen. A discourse of the nature of regeneration. Grand Rapids, MI: Christian Classics Ethereal Library, 1675, p. 7.

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Nascer da água e do Espírito aponta também para o batismo e para a vida em comunhão com Jesus Cristo e sua igreja. Nicodemos não consegue entender essa linguagem porque ainda não está em comunhão com Jesus.76 No entanto, o fato de que Nicodemos não rejei-tou Jesus explicitamente, por defendê-lo (Jo 7:50-51) e por ajudar a sepultá-lo (Jo 19:39), parece indicar uma posterior conversão de Nicodemos, ou no mínimo a sim-patia dele para com Jesus.77

COMO ACONTECE O NOVO NASCIMENTO

De acordo com a Bíblia, o novo nascimento acontece:1. Pela regeneração produzida pela Palavra de

Deus. Assim como a água, quando aplicada, remove dos nossos olhos a sujeira, que de outro modo obscure-ceria a nossa visão, também a Palavra de Deus, quando lida e aceita, lava da mente do pecador as suas ideias errôneas acerca de Deus e Sua salvação.

2. Pela recepção do Espírito de Deus. O Espírito Santo, a terceira pessoa da Trindade, foi enviado por Cristo após a sua ascensão para, mediante a Palavra de Deus, convencer os homens do pecado e levá-los a depositar a sua confiança em Cristo, para habitar em cada novo crente, comunicando-lhe uma natureza divina, ou seja, capacidade para as coisas espirituais (2Pe 1:3-4).

3. Pela fé no sacrifício substitutivo de Cristo. Em sua conversa com Nicodemos, Jesus lhe dá um perfeito esclarecimento sobre como esta nova vida pode ser conferida a um pecador. Ele serviu-se de um incidente

76 KONINGS, John. Evangelho segundo João: amor e fidelidade. São Paulo: Loyola, 2005, p. 114.77 SMITH, D. Moody. The theology of the Gospel of John. Cambridge: Cambridge University Press, 1995, p. 28.

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registrado no Antigo Testamento para ilustrar como é que o novo nascimento se efetua (Nm 21:4-9). Moisés identificou o pecado do povo fazendo uma serpente de bronze, a qual era a própria expressão do pecado. Semelhantemente, Cristo, sem pecado, fez-se pecador por nós, levando sobre si todos os nossos pecados (Is 53:4-6; 2Co 5:21; Gl 3:13; 1Pe 2:24).

A NECESSIDADE DO NOVO NASCIMENTO

Para Arthur W. Pink, o novo nascimento é a linha divisória entre o céu e o inferno. Aos olhos de Deus há somente dois tipos de pessoas nesta terra: aquelas que estão mortas em pecados e aquelas que andam em novidade de vida. No âmbito físico, não há um estado entre a vida e a morte. Um homem ou está morto ou está vivo. A faísca de vida pode estar muito fraca, mas enquanto ela existe a vida está presente. Se a faísca se apaga por completo, ainda que você vista o corpo com roupas bonitas, este não passa de um cadáver. Isso também acontece no âmbito espiritual, pois ou estamos espiritualmente vivos ou espiritualmente mortos.78

A necessidade do novo nascimento é perfeitamente lógica e racional, por três motivos básicos:

1. Por causa de um reino espiritual que o homem natural não pode ver e no qual não pode entrar. O que significa “o reino de Deus” (Jo 3:3)? Ele é descrito como uma experiência espiritual (Rm 14:7). Todo ser humano ingressa no reino dos homens por um nasci-mento físico, o qual lhe comunica uma natureza física. Para que ele possa ver o valor e desejar entrar no “reino de Deus”, tem que nascer de novo, ou seja, passar por

78 PINK, Arthur W. Regeneration or the New Birth. Granbury, Texas: PBM, 2005, p. 3.

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um nascimento espiritual que o levará para dentro deste novo domínio. Mediante o novo nascimento, ele passará a possuir uma natureza espiritual que o preparará para gozar as realidades que caracterizam o reino de Deus.

Ninguém pode entrar no reino espiritual se não possui a natureza espiritual que lhe concede o desejo e a capacidade de deleitar-se nas coisas espirituais. O homem natural não possui essa natureza. E, muito mais do que isso, ele não pode nem mesmo discernir as coisas espirituais (1Co 2:14)! Ele não tem amor por elas e não as deseja (Jo 3:19). Ele não as deseja porque a sua vontade é dominada pelas inclinações de sua carne (Ef 2:2-3). Portanto, antes que um ser humano possa entrar no reino espiritual, seu entendimento deve ser sobrenaturalmente iluminado, seu coração renovado, e sua vontade emancipada.79

2. Por causa de uma natureza espiritual que falta ao homem. Quase sempre, no Novo Testamento, a palavra “carne” refere-se à natureza pecaminosa que recebemos quando nascemos. “Carne” quer dizer o “eu”. Pelo seu pecado, Adão adquiriu uma natureza pecami-nosa, que foi transmitida a todos os seus descendentes (Rm 5:12,18,19). O caráter desta natureza pecaminosa chamada a “carne” vem descrito em Romanos 8:5-8. Consiste na inimizade contra Deus e na desobediência à sua lei, com consequente incapacidade de lhe agradar. Noutras palavras, o homem natural não possui capaci-dade espiritual que lhe permita desejar, compreender ou gozar as coisas de Deus (1Co 2:14).

A necessidade da regeneração jaz em nossa dege-neração natural. Em consequência da queda de nossos primeiros pais, todos nós nascemos afastados da vida e da santidade de Deus, despojados de todas as per-

79 PINK, Arthur W. Op. cit., p. 7.

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feições das quais a natureza do homem foi dotada no princípio (Rm 3:23).

3. Por causa de uma vida espiritual que o homem natural não possui. Por natureza, o homem encontra--se “morto em delitos e pecados”, separado da vida de Deus, destituído da vida (Ef 2:1-6; 4:18; 1Jo 5:11,12). Assim como um corpo sem vida física está fisicamente morto, também uma pessoa sem vida espiritual está espiritualmente morta (1Tm 5:6; Lc 15:24). Como se pode transmitir esta vida espiritual a pessoas espiritu-almente mortas? O problema é solucionado em João 5:25. Todo aquele que ouve a voz do Filho de Deus, que recebe a sua Palavra e confia nele como seu Salvador, recebe a vida espiritual, ou seja, nasce de novo.

Há somente duas condições, e cada ser humano está incluído numa delas: a condição de vida espiritual e a de morte espiritual. Uma é a condição de justiça, a outra, a de pecado; uma é de salvação, a outra, de condena-ção. Uma é de inimizade, na qual os homens possuem inclinações contrárias a Deus; a outra é a condição de amizade e comunhão pelas quais os homens andam em obediência com Deus e não cultivam mais o sentimento interno de oposição à vontade dele. Uma condição é chamada de trevas, a outra, de luz. Como bem disse o apóstolo Paulo, “outrora vocês eram trevas, mas agora são luz no Senhor” (Ef 5:8, NVI). Não há meio-termo entre essas condições; todos estão ou num ou noutro. Cada homem ou mulher neste mundo ou é objeto do agrado de Deus ou do seu desagrado. Nem mesmo as mais generosas ou benevolentes obras da carne podem agradar-lhe. Entretanto, as menores fagulhas que pro-cedem daquilo que a graça iluminou são aceitáveis aos seus olhos.80

80 PINK, Arthur W. Op. cit., p. 5.

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OS RESULTADOS DO NOVO NASCIMENTO

Quais são os resultados produzidos pelo “nascer de novo” na vida do salvo? Podemos citar pelo menos três deles. Vejamos:

1. A primeira benção do novo nascimento é a sal-vação. O versículo 15, de João 3, diz: “Para que todo aquele que nele crer tenha a vida eterna”. Novo Nasci-mento não é salvação; mas é impossível alguém nascer de novo sem tornar-se salvo. É impossível alguém estar salvo sem ter nascido de novo. É por meio do novo nas-cimento que temos a certeza da vida eterna e de que estamos salvos em Cristo Jesus.

2. A segunda benção do novo nascimento é o livramento do julgamento. João, em seu Evangelho, diz que “quem nele crê não é julgado; o que não crê já está julgado” (v. 18). O juízo não é distribuído arbi-trariamente por Deus, na vida futura, mas é claramente determinado pelos homens na vida presente, com base em sua resposta ao unigênito de Deus, Jesus. Uma vez que a libertação vem por meio de Jesus Cristo, não existe nenhuma condenação para os que já nasceram de novo. Aqueles que estão em Cristo não são condena-dos porque “nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus” (Rm 8:1,2).

3. A terceira bênção do novo nascimento é a adoção de filhos. A filiação divina resulta apenas do novo nascimento. Paulo diz que Deus “em amor nos pre-destinou para sermos adotados como filhos por meio de Jesus Cristo” (Ef 1:5, NVI). E João novamente enfatiza essa adoção, quando diz: “Vede que grande amor nos tem concedido o Pai, a ponto de sermos chamados filhos de Deus; e, de fato, somos filhos de Deus”. (1Jo 3:1). A adoção nos relaciona a Deus como um pai amoroso. Ela não nos constitui em filhos de Deus por uma forma

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intrínseca, mas por uma aceitação extrínseca, mas isso nos dá um direito intrínseco. Porque, ao nascermos de novo, somos adotados por Deus. Seu propósito é tra-balhar em nosso coração para que possamos atingir a plena estatura de Cristo, enviando-nos seu Espírito. Assim, comportando-nos como filhos, podemos recorrer a Deus com uma natureza infantil e clamar, Abba, Pai.81

PERGUNTAS PARA DISCUSSÃO EM CLASSE

1. De acordo com o apóstolo João, o que não é novo nascimento? (Jo 1:12,13)

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2. Com suas palavras responda: o que é novo nasci-mento? Por que após o novo nascimento somos consi-derados novas criaturas? (Jo 3:5; Tt 3:4-6)

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3. Como acontece o novo nascimento? Explique como esse ato ocorre na vida do ser humano. (Tg 1:18; 1Pe 1:23-25; Jo 3:14-16; 16:7-15; Ef 1:13)

81 CHARNOCK, Stephen. Op. cit., p. 10.

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4. Por que há necessidade de “nascer de novo”? Cite pelo menos três necessidades. (Jo 3:3,6; Ef 2:1-6)

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5. Que quer dizer que Deus nos “gerou pela sua von-tade”? (Tg 1:18)

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6. Quais são os efeitos do novo nascimento na nossa vida?

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7. Quais são as bênçãos produzidas pelo novo nasci-mento? (Jo 3:15-18; Rm 8:1,2; Ef 1:5)

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Domingo – Marcos 16:15-16

Há uma pergunta que não se cala: o batismo é um requisito essencial para a salvação? Se dissermos que sim, como explicar a salvação do ladrão da cruz que acei-tou a Jesus pouco tempo antes de morrer? Gostaria de responder a primeira pergunta fazendo outra: visto que o batismo é uma profissão pública de fé, de que aceitamos Jesus como único e suficiente Salvador, e que morremos para o mundo, é possível crer e não desejar se batizar? Quando cremos em Jesus, aceitamos todos os seus ensi-nos e compreendemos que a sua vida é um exemplo a ser seguido por nós. E ele nos deu exemplo deixando-se bati-zar por João Batista. Assim, já que Jesus nos deixou este exemplo, façamos nós também.

Segunda-feira – Romanos 6:1-8

A ordenança do batismo é comparada pelo apóstolo Paulo com a morte de Cristo – seu significado e resultado. Cristo morreu, e o crente realmente morreu com ele. Mas Paulo aqui aponta para as implicações do batismo no que se refere à nossa maneira de viver. O batismo cristão signi-fica, entre outras coisas, sepultar o nosso velho “eu”, morti-ficando o domínio do pecado sobre a carne. Isso não é fácil, pois precisamos enterrar todas as nossas paixões carnais, todo nosso egoísmo, ganância, vaidade pelas coisas do mundo, vícios e orgulho. Não é fácil, mas é possível. Pelo batismo, somos sepultados com Cristo para que nós, como ele, possamos viver em novidade de vida.

Terça-feira – Colossenses 2:10-14

Tradição e conversão. Duas palavras muito parecidas e que podem ser facilmente confundidas no meio religioso.

Pr. Renato Negri Júnior

MEDITAÇÕES BÍBLICAS DIÁRIAS

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Alguns são envolvidos pela tradição: circuncisão, batismo, leis e doutrinas humanas. Isso acontece muito quando a religião é apenas uma herança. Outros são aperfeiçoados em Cristo e experimentam a conversão. Então, são selados pelo Espírito que mortifica os desejos da carne, sepultados no batismo e vivificados por Cristo. A linha que divide estes dois campos – tradição e conversão – é muito tênue. Por isso, precisamos verificar se estamos vivendo como uma nova criatura ou se estamos apenas mantendo uma tradi-ção religiosa. Faça uma escolha hoje.

Quarta-feira – Lucas 22:19-23

Um dos privilégios de ser regenerado por Cristo é poder, juntamente com os demais irmãos, celebrar a Ceia do Senhor. Relembrar o sofrimento e morte de Jesus, e ale-grar-se pela sua ressurreição, sabendo que o sangue que foi derramado naquela cruz selou uma nova aliança entre Deus e nós. Jesus nos prometeu que chegará o dia em que ele há de beber juntamente conosco um vinho novo no Reino do seu Pai (Mt 26:29). Com certeza será uma mara-vilhosa ceia, mas só poderão participar aqueles que foram regenerados pelo Espírito Santo e lavados pelo sangue do Cordeiro. Eu quero estar sentado junto a esta mesa, mas quero olhar para o lado e encontrar você lá também.

Quinta-feira – 1 Coríntios 11:23-26

É importante não faltarmos à celebração da Santa Ceia. Todas as vezes que nos reunimos, em comunidade, para partir o pão e beber o vinho, trazemos à memória tudo aquilo que Jesus fez por nós. Lembramos que o pão sim-boliza o corpo do nosso Salvador, que foi afligido por açoi-tes, socos e bofetadas. O fruto da vide simboliza o sangue que manchou a coroa de espinhos e marcou a sua cruz. A celebração da Ceia do Senhor conduz-nos a uma profunda reflexão sobre a morte de Jesus, mas também nos traz a alegria e esperança em saber que ele ressuscitou. E muito

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mais, pois todas as vezes em que comemos o pão e bebe-mos o cálice, anunciamos ao mundo que Jesus morreu para que tivéssemos vida. Se você não tem participado da Ceia, pense um pouco sobre tudo isso.

Sexta-feira – João 13:12-17

Observe esta afirmação que Jesus faz: “Vocês me chamam de ‘Mestre’ e de ‘Senhor’ e têm razão, pois eu sou mesmo” (v.13, NTLH). Será que já paramos para pensar com seriedade sobre o fato de que Deus, na pessoa de Jesus Cristo, lavou os nossos pés? Jesus fez o dever de um simples servo ou empregado de uma casa. Então, quem somos nós para não servirmos em humildade ao nosso próximo? Ele nos deu exemplo para que façamos o mesmo. O Mestre diz que somos mais que felizes se enten-dermos esse conceito e praticarmos. Mesmo tendo diplo-mas, cargos de confiança, bens, autoridade, conhecimento e posição elevada perante a sociedade, nada disso valerá perante Deus se não aprendermos a ser servos diante do mais humilde dos filhos de Deus.

Sábado – Mateus 28:18-20

A missão que Jesus deu a seus discípulos, e a nós também, para fazer discípulos, ensiná-los e batizá-los, não é muito fácil. Para ensinar é preciso primeiro conhecer. Para fazer outro discípulo é preciso primeiro ser um. E para conduzir outro ao batismo é necessário que o mesmo creia. O que nos anima e fortalece é a promessa que o Mestre nos fez: “eu estou com vocês todos os dias, até o fim dos tempos”. A força não vem de nós. O poder não está em nós. A mudança não é feita por meio de nós. Tudo vem do nosso Senhor e Salvador que está sempre ao nosso lado. Deve-mos apenas cumprir o “Ide” para o qual fomos ordenados a cumprir, ensinando tudo aquilo que o Mestre nos ensinou. Aproveite o dia de hoje para falar de Jesus para alguém.

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INTRODUÇÃO

Qualquer assunto que se refira à salvação da alma de uma pessoa é um assunto deveras importante e neces-sita de um estudo cuidadoso. O batismo nas águas é um dos tais assuntos.

Jesus considerou o batismo suficientemente impor-tante, ao ponto de caminhar mais de 100 km de Nazaré para ser batizado por João no rio Jordão, para dar-nos um exemplo. Em oito exemplos claros de conversão no livro de Atos, o batismo é especificamente mencio-nado. Certamente nosso Senhor e os apóstolos criam ser o batismo uma parte vital da obediência. Nós deve-mos considerar isto significativo também. Sendo assim, nosso alvo nessa lição é estudar o ensino do Novo Tes-tamento concernente ao batismo.

A ORIGEM DO BATISMO CRISTÃO

O batismo cristão instituído por Jesus estava inti-mamente ligado ao batismo feito por João Batista. Este sempre relacionava o batismo ao arrependimento dos

O Batismo nas Águas

Pr. Jonas Sommer17 de Agosto de 2013

7TEXTO BÁSICO:

“Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a obedecer a tudo o que eu lhes ordenei. E eu estarei sempre com vocês, até o fim dos tempos”. (Mt 28:19-20, NVI)

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pecados, em virtude de o reino de Deus estar próximo (Mt 3:2,7-12). E Jesus reconheceu a autoridade confe-rida por Deus a esse profeta e a importância da ceri-mônia que ele realizava (Mt 21:25). A prova disso é que Jesus foi batizado por João (Mt 3:13-17), mostrando que se identificava com os pecadores, mesmo não tendo pecado algum. De fato, ele não necessitava ser batizado, mas justificou este ato: “convém que assim façamos, para cumprir toda a justiça” (Mt 3:15, NVI). Tal atitude serve-nos de exemplo.

Sabemos que, ainda no início de seu ministério ter-reno, Jesus autorizou seus discípulos a batizarem (Jo 3:22; 4:22). E, após a ressurreição, ordenou-lhes sair pelo mundo inteiro evangelizando e batizando os que aceitassem as boas-novas (Mt 28:18-19). A partir daí, e em todo o Novo Testamento, observa-se a Igreja em pleno cumprimento dessa ordem.

A Igreja Primitiva não concebia a ideia de alguém se converter a Cristo e ficar sem o batismo. Por isso, depois do sermão de Pedro, no dia de Pentecoste, quase três mil pessoas aceitaram a fé e foram batizadas (At 2:38-41). Perceba que no livro de Atos o batismo tem lugar de destaque (2:38,41, 8:12,13,36, 9:18, 10:48, 16:15,33, 18:8, 19:5).

Tanto o batismo de João quanto o batismo que foi ordenado por Jesus estão relacionados à mudança de vida (Lc 3:7-14; Jo 1:23; Mt 3:7-8). Na Bíblia, o batismo está associado a arrependimento e perdão (At 2:38, 22:16). Mas é bom que se diga: o batismo não perdoa nem salva ninguém. A salvação é pela fé no sacrifício de Jesus. E o batismo deve ser sempre precedido pelo arrependimento e pela conversão (At 8:36-38). Ele é a demonstração externa daquilo que já ocorreu em nosso interior. Esse ato evidencia a decisão pessoal de alguém em seguir a Cristo.

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O QUE É O BATISMO?

Embora o batismo seja uma prática rotineira nas igrejas cristãs, nem sempre ele tem sido corretamente entendido. Não é raro encontrarmos pessoas que lhe dão valor maior do que na verdade tem, tratando-o como algo até mesmo mágico, capaz de conceder a quem o recebe alguma virtude sobrenatural, quando não a pró-pria salvação. Porém, ao mesmo tempo, há quem chegue a pensar que ele seria até mesmo dispensável. À luz da Bíblia podemos afirmar que os que pensam dessa forma ainda não entenderam o seu significado.82

Batismo é um selo ou aliança. É um acordo assu-mido com Jesus, onde publicamente se confirma aquilo em que creu e que aceitou. O batismo é o símbolo da mudança ocorrida na vida do pecador. Nele, o cristão torna pública sua fé em Cristo (1Pe 3:21; At 8:37) e reco-nhece o senhorio de Jesus em todas as áreas de seu viver. Esse ato tem a ver com a união do crente com seu Senhor ressurreto. É demonstração da disposição de viver submisso a Jesus e à sua santa Palavra.83

Uma vez que uma pessoa é tocada pelo Espírito Santo e convencida do seu pecado, voltando-se para Cristo e para a salvação, algumas etapas devem ser tomadas para proclamar no céu e na terra que ela é uma seguidora de Cristo. O batismo é um desses passos. Ele é o passo inicial e imediato de obediência para alguém declarar sua fé aos outros.

Esse passo é tão importante que, tanto quanto sabe-mos, com exceção do ladrão na cruz, cada um dos con-vertidos no Novo Testamento foi batizado. O ladrão na cruz, no entanto, é uma exceção crucial. Sua conver-

82 GUSSO, Antônio Renato. Bebendo da fonte. Curitiba: FatoÉ, 2001, p. 39.83 SILVA, Genilson da (ed.). O que cremos. Lições Bíblicas. Maringá, n. 293, out./dez. 2010, p. 56.

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são leva dogmáticos à loucura. Aqui está um homem que nunca foi à igreja, nunca deu uma oferta, não foi batizado e fez apenas um pedido. Esse homem tem um papel crucial na mensagem do Evangelho. O ladrão lembra que é Jesus quem salva. Será que a história dele nega a importância do batismo? Não. Ele simplesmente a coloca numa perspectiva adequada. Qualquer passo dado é uma resposta a uma salvação oferecida, e não um esforço de salvação conquistada. No final, Deus tem o direito de guardar qualquer coração, pois ele e só ele vê o coração.84

João Batista ensinava que o rito do batismo tinha que ver com a purificação espiritual. Recomendava que as pessoas demonstrassem pelo batismo que reconheciam sua pecaminosidade e que estavam arrependidas. O convite de João ao batismo indicava que era necessária uma mudança drástica, a fim de preparar as pessoas para a vinda de Jesus. Assim podemos dizer que:

1. Batismo é confissão de fé (At 2:38-41). Este texto contém a admoestação de Pedro aos novos con-versos à fé cristã: ser batizados como símbolo da remis-são dos pecados. O batismo é um ato de confirmação pública e solene de compromisso e aceitação do plano de salvação na vida do batizando.

Entenda que não é o ato do batismo que nos salva, mas esse ato simboliza que já estamos salvos. O tra-balho invisível do Espírito Santo é visivelmente dramati-zado no batismo nas águas. O Espírito Santo nos leva a crer no sacrifício vicário de Cristo e o próximo passo é o batismo. Omitir qualquer elemento é negar a ordem do Senhor. Fé sem o batismo é uma afirmação vazia sem provas. E o batismo sem a fé é um desperdício de tempo ritualístico. O Senhor quer a fé, mas também o batismo.

84 LUCADO, Max. Baptism: the demonstration of devotion. Disponível em: <http://maxlucado.com/read/topical/baptism-the-demonstration-of-devotion>. Acesso em: 9 abr. 2013.

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Mas, lembre-se, a obediência não é algo “anexado” à fé. A obediência é o resultado lógico de uma fé que confia em Deus, e do cumprimento de sua Palavra. Nenhum ato fala mais alto da nossa fé absoluta na graça e mise-ricórdia de Deus que o batismo, pois ele, por si só, é um ato de fé.

Portanto, a finalidade do batismo é dar testemunho público da fé e salvação em Jesus Cristo. Com o ato do batismo, proclamamos sem palavras e publicamente, e especialmente diante da Igreja, a salvação e a transfor-mação que Jesus realizou em nosso interior. Isto glori-fica ao Senhor (1Co 6:20).

2. Batismo é o testemunho da morte, sepulta-mento e ressurreição, e expressão de novidade de vida (Rm 6:3-6; Cl 2:12,13). O ato do batismo é um momento de alegria no Céu. É um ato solene, festivo e de grande importância para a vida do batizando e da Igreja que o recebe. Quando o batizando desce às águas batismais e é coberto por elas, declara que, ao crer em Jesus, morreu para o mundo de pecado e foi sepultado com Cristo.

Simbolicamente, quando ele sai das águas, está declarando que ressurgiu para viver uma nova vida em Cristo (Rm 6:6-14; Cl 2:12). Assim, o significado do batismo é morte, sepultamento e ressurreição. Quando somos batizados, declaramos que Cristo morreu na cruz pelos nossos pecados, para que nós morrêssemos para o pecado. Declaramos, ainda, que nos arrependemos, cremos pela fé e aceitamos a Cristo e seu sacrifício como único meio de salvação, que recebemos o perdão, estamos salvos e seguros em Cristo e dispostos a servi--lo e a segui-lo todos os dias da nossa vida.

O batismo atesta não somente nossa morte para o pecado, mas também nossa ressurreição para nova vida em Cristo. A expressão “morremos para o pecado”

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expressa a insistência de Paulo para que a pessoa real-mente esteja morta para o pecado e para o eu, para que não abuse da nova liberdade da vida cristã.

3. Batismo é requisito prévio para unir-se à Igreja de Cristo (Jo 3:1-5). Não devemos procurar tornar-nos membros da Igreja sem o batismo, pois é ele o sinal externo de nosso compromisso com Cristo. O Novo Tes-tamento ensina claramente que a igreja local deve ser composta apenas por aquelas pessoas cuja lealdade pertence exclusivamente a Jesus Cristo. A ordem de Jesus em Mateus 28:19-20 deve ser seguida na sequên-cia em que está escrito: “fazei discípulos ... batizando-os ... e ... ensinando-os a observar tudo o que vos ordenei”.

Não há dúvida de que o batismo é o primeiro passo em nossa obediência a Cristo e que a obediência é o sinal e assinatura de ser um cristão. A Igreja é a noiva e o corpo de Cristo, onde as pessoas são desafiadas ao discipulado. Fazer discípulos é o papel principal da igreja, sendo que o batismo é o primeiro passo. É por isso que os batistas acreditam que ninguém deve ser membro de uma igreja sem que tenha dado este passo de obediên-cia.85 Sendo assim, assentimos que “pessoas perten-cem a uma comunidade cristã porque foram batizadas. Portanto, a Igreja nasce do batismo. Não pode haver ação mais importante na vida de uma igreja do que uma prática abrangente e responsável do batismo”.86

4. Batismo não é o ponto final, mas o ponto inicial de uma existência de fé (At 2:41-47). O batismo não é um ponto de chegada, o coroamento de uma trajetória de êxitos, conquistas ou avanços. Ao contrário, é um ponto de partida de uma carreira que vai sendo vivenciada na tensão da existência simultaneamente justa e pecadora, numa vida de fé que se empenha e anseia pela realiza-

85 THOMPSON, Rick. Baptism as requirement for membership. Disponível em: <http://bpnews.net/bpnews.asp?id=23674>. Acesso em: 10 abr. 2013.86 KIRST, Nelson (org.). Livro de batismo. 2. ed. São Leopoldo: Oikos, 2008, p. 13.

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ção definitiva do Reino de Deus.87 Sendo assim, a Igreja tem a responsabilidade especial de ajudar os novos convertidos a viverem o seu batismo durante toda a sua vida, para o crescimento na fé, na esperança e no amor.

O QUE SIGNIGICA O BATISMO?

Antigos locais de batismo demonstram a grande importância do mesmo para a Igreja Primitiva. O signifi-cado não está no rito em si, mas no que ele representa, para a Igreja e para o mundo, quanto à nossa morte para o pecado e novidade de vida em Cristo.

Com base nas Escrituras, vejamos alguns de seus significados:

1. Ele representa que Cristo é o Senhor de nossa vida (Gl 3:27). O batismo por imersão simboliza a expe-riência da conversão pessoal. Esta experiência abrange a tristeza pelo pecado e o afastamento dele. O peca-dor que confessa os seus pecados é perdoado e recebe nova vida em Cristo. Todos estes passos devem prece-der o batismo. O batismo bíblico representa nossa união com Cristo em uma nova vida, por meio da fé em Jesus Cristo, como Senhor e Salvador da vida pessoal. Não é um momento de emoção, mas de intensa convicção na Palavra de Deus.

2. Ele representa que pertencemos ao corpo de Cristo (1Co 12:12-14). O batismo identifica-nos publi-camente como cristãos, isto é, como membros do corpo de Cristo. Paulo diz que por meio do Espírito somos bati-zados em um corpo. Nesta e em outras passagens do Novo Testamento, a comunidade dos cristãos é compa-rada a um corpo cuja cabeça é Cristo. O batismo é a

87 KIRST, Nelson (org.). Op. cit., p. 13.

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entrada tanto para a família celestial como para a parte dessa família que é a Igreja de Cristo na Terra.

Kennedy Chroninger considera o batismo um momento com três diferentes tipos de marcas: Imersão, um momento que é nosso funeral – nosso sepultamento; Identificação, um momento que é nossa declaração pública de separação de nosso passado e comprometi-mento com a nova comunidade de Cristo; e Ressurrei-ção, um momento de sermos erguidos dentre os mortos, “vivos para Deus, em Cristo Jesus” (Rm 6:11).88

COMO É MINISTRADO O BATISMO?

Neste tempo presente, tem havido muita discussão considerando a própria forma ou ação do batismo. O que é feito, fisicamente falando, quando uma pessoa é batizada? Esta questão pode ser facilmente respondida pelo Novo Testamento. Senão, vejamos.

1. O batismo deve ser realizado em nome da Trindade Divina (Mt 28:19). A fórmula completa a ser empregada é: “Em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo”, o que enfatiza o caráter distintivo desse batismo cristão. Esta é a mais antiga fórmula trinitariana conhe-cida pelos estudiosos.

Alguns, por negarem a Triunidade Divina, alegam que o batismo deve ser ministrado somente em nome de Jesus e que o texto de Mateus 28:19 teria sido uma inserção posterior ao texto bíblico. Analisemos suscinta-mente esta questão.

O texto de Mateus 28:19 encontra-se nos melhores e mais confiáveis manuscritos gregos do Novo Testamento, tanto nos chamados “maiúsculos” (unciais) quanto nos

88 CHRONIGER, Kenneth. Prepare ye the way: by dying to self. The Sabbath Re-corder, v. 208, n. 9, set. 1986, p. 28.

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denominados “minúsculos”.89 A única alegação que se poderia fazer em relação à integridade do seu texto seria uma variação em sua composição, mas que em nada altera a ideia da passagem.90

Há também um livro chamado “Didaquê”, escrito entre 70 e 150 d.C., onde consta que o batismo deve ser ministrado em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.91 Entre outros testemunhos importantes citamos também o de Irineu de Lião, que fora instruído em sua juventude por Policarpo de Esmirna, discípulo do após-tolo João, autor de um pequeno manual de doutrinas cristãs denominado “Demonstração da Pregação Apos-tólica”, onde escreve:

A fé é que nos faz procurar tudo isso, como nos transmi-tiu os Presbíteros, discípulos dos apóstolos. Em primeiro lugar, a fé nos convida insistentemente a relembrar que recebemos o batismo para o perdão dos pecados em nome de Deus Pai e em nome de Jesus Cristo, Filho de Deus encarnado, morto e ressuscitado, e [em nome] do Espírito Santo de Deus.92

Tendo em vista que o texto de Mateus é autêntico e fidedigno e que documentos antigos da Igreja, do pri-meiro século, indicam a fórmula trinitária como correta, só resta à Igreja continuar fazendo o que Jesus ordenou: batizar “em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo”.

2. O batismo deve ser realizado por imersão na água (Mt 3:13-17; Jo 3:23, At 8:36-39). Paulo compara o rito do batismo com a morte, sepultamento e ressur-reição de Cristo. Esse simbolismo não teria significação se a Igreja Apostólica não praticasse o batismo por imer-são. Que a prática por imersão era a forma empregada 89 ALAND, Kurt. et. al. The Text of the New Testament. Grand Rapids: Eerdmans, 1994, p. 11.90 GEISLER, Norman; NIX, William. Introdução bíblica: como a Bíblia chegou até nós. São Paulo: Vida, 2003, p. 142.91 Didaquê, 7. In: BETTENSON, H. Documentos da igreja cristã. São Paulo: ASTE, s/d., p. 101. 92 IRINEU. Demonstração da pregação apostólica, p. 1,2.

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nos tempos do Novo Testamento é claro pelo significado da palavra grega, pelas descrições da realização da cerimônia e pelas aplicações espirituais que a Bíblia faz desse rito.

A palavra “batizar”, usada na fórmula de Mateus 28:19, significa literalmente mergulhar ou imergir. Ela vem do termo grego baptizo, que originalmente, e com propriedade, descreve o processo pelo qual algo ou alguém é completamente imerso em água e novamente retirado.93 Essa interpretação é confirmada por eruditos da língua grega e pelos historiadores da Igreja. Mesmo eruditos pertencentes às igrejas que batizam por asper-são ou efusão admitem que a imersão era o modo primi-tivo de batizar.

QUAL A CONDIÇÃO ESSENCIAL PARA SER BATIZADO?

Nem toda pessoa está pronta para ser batizada. Há certos pré-requisitos a serem preenchidos para o ato do batismo. Vejamos alguns deles:

1. A pessoa deve crer que Jesus Cristo é o Filho de Deus (At 8:37, 16:31). O Novo Testamento ensina que uma pessoa deve crer em cristo e somente depois ela pode ser batizada. De fato, o batismo cristão é uma expressão de fé e de dedicação a Jesus como Senhor. É necessário que aceitemos a Cristo pela fé, crendo que ele é o único que pode nos remir de todos os nossos pecados.

2. A pessoa deve crer no Evangelho (Mc 16:16). Jesus disse: “Quem crer e for batizado será salvo”. Em Atos 18:8, nós lemos: “também muitos dos coríntios, ouvindo-o, creram e foram batizados” (ARC). Não há nas

93 BARTH, Karl; CULLMANN, Oscar. Batismo em diferentes versões. São Paulo: Fonte Editorial, 2004, p. 13.

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Escrituras algum mandamento para batizar aqueles que são muito jovens para crer ou quem não é capaz de crer. A Escritura, além disso, ensina que aqueles a serem batizados devem ser capazes de aprender: “Portanto, ide, ensinai..., batizando-as” (Mt 28:19, ARC).

3. A pessoa deve ser instruída nas Escrituras (Mt 28:20; At 8:12, 35-38; 18:8). O batismo cristão exige entendimento da Palavra de Deus e uma decisão de se apresentar para fazer a vontade revelada de Deus. A ordem de Jesus é que os novos discípulos devem ser ensinados a obedecerem a todas as coisas que ele ordenou. Aqueles que aceitarem estes ensinamentos tornam-se discípulos e estão aptos para o batismo nas águas.

4. A pessoa deve arrepender-se dos seus peca-dos (At 2:38; 3:19). O arrependimento é também reque-rido antes do batismo. Pedro disse aos três mil no dia de Pentecostes, os quais, pela fé, lhe perguntaram o que deveriam fazer para serem salvos: “Arrependei--vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo” (At 2:38). Quando discursou no templo de Jerusalém, ele repetiu: “Arrependei-vos, pois, e convertei-vos para serem cancelados os vossos peca-dos” (At 3:19).

O batismo esvazia-se de conteúdo se não exprimir verdadeiramente a passagem da morte para a vida, por meio do arrependimento pelos pecados. A palavra “arrependimento” indica uma mudança de direção na vida da pessoa e significa muito mais do que apenas uma alteração mental de atitude, ou sentimento de remorso; significa o repúdio do modo de vida pecami-noso do ímpio.

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UMA PALAVRA FINAL

Não permita que o batismo seja algo que não é. Para além da cruz, ele não tem significado. Se você está confiando em uma imersão na água para salvá-lo, você perdeu a mensagem da graça. Cuidado com o dogma-tismo. Ninguém deste lado do céu pode compreender plenamente a majestade do batismo.

Não impeçamos o batismo de ser o que Deus plane-jou. Este não é um mandamento opcional. Esta não é uma questão trivial. É um mergulho disposto no poder e na promessa de Cristo. O batismo é o primeiro passo de um crente. Se era importante o suficiente para Jesus orde-nar, então é importante o suficiente para que nós obe-deçamos. Se o batismo era importante o suficiente para Jesus se batizar, então também o é para que nós siga-mos o seu exemplo. Por mais que talvez não consigamos entender por completo tudo o que ele significa, podemos ter certeza de uma coisa: é um momento sagrado.94

PERGUNTAS PARA DISCUSSÃO EM CLASSE

1. Se o batismo nas águas era para arrependimento, Jesus precisava ser batizado? Por que ele deixou que João o batizasse? (Mt 3:11-17)

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________2. Qual foi a ordem dada por Jesus à sua Igreja? Como você está envolvido no cumprimento dela? (Mt 28:18-20)

________________________________________________________________________________________________94 LUCADO, Max. Op. cit., p. 1.

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________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________3. Qual a forma correta de se realizar o batismo cristão? Em nome de quem ele deve ser ministrado? (Mt 28:19; Mt 3:13-17; Jo 3:23).

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________4. O que uma pessoa precisa comprovar antes de ser batizada nas águas? (Mc 16:16; Mt 28:20; At 3:19; 8:12, 35-38; 18:8)

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________5. Segundo o Novo Testamento quando eram batizados os novos crentes? (At 2:37-41; 9:10-18)

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________6. De acordo com Paulo o que o batismo simboliza? Quais as implicações éticas do batismo na vida do crente? (Rm 6:1-11; Gl 3:27; Cl 2:12,13)

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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Domingo – 2 Tessalonicenses 1:1-4

Olhando com atenção para os versos do devocional de hoje, talvez possamos entender melhor a expressão dita por Jesus de que “neste mundo vocês terão aflições; contudo, tenham ânimo! Eu venci o mundo” (Jo 16:33). A igreja em Tessalônica dava motivos para Paulo elogiá-la em outras igrejas. Interessante notar que aqueles irmãos cresciam em fé e amor (v. 3). Porém tinham sofrido com as perseguições e tribulações (v. 4). Um exemplo de per-seguição está registrado em Atos 17:1-9. Mas eles eram vitoriosos porque suportaram tudo mantendo a espe-rança no Senhor Jesus Cristo. Ele venceu o mundo e nos dá essa vitória por meio da nossa fé.

Segunda- feira – Colossenses 1:12-23

A ressurreição de Jesus Cristo é a garantia da res-surreição de que todos os cristãos um dia irão desfrutar. Como é bom saber que Deus nos ama ao ponto de dar aquilo que tinha de melhor, para nos libertar da escravi-dão do pecado. Por meio de Jesus podemos obter dis-cernimento dos mistérios divinos, pois nele habita corpo-ralmente toda a plenitude (v. 19). Ninguém nos oferece mais do que ele. Saber que nele foram criadas todas as coisas nos céus e sobre a terra, visíveis e invisíveis (v.16), faz parte da revelação que o Senhor nos oferece, desde que permaneçamos alicerçados, firmes na fé e na esperança do Evangelho.

Terça- feira – Efésios 4:11-16

Por meio de funções especiais, Deus providenciou os meios para aperfeiçoar a Igreja no desempenho do

Pr. Patrick Ferreira Padilha

MEDITAÇÕES BÍBLICAS DIÁRIAS

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seu serviço, visando à edificação do “corpo de Cristo” (v. 12). Quão maravilhoso é o nosso Deus e impressionante é o seu cuidado conosco! Como seres humanos, esta-mos sujeitos a sermos manipulados por pessoas astutas que podem nos levar ao erro. Mas se permanecermos na verdade, e a Palavra de Deus é a verdade (Jo 17:17), então chegaremos à “estatura de um varão perfeito” (Ef 4:13) e poderemos “compreender com todos os santos qual a largura, o comprimento, a altura e a profundidade mediante o seu Espírito no homem interior” (Ef 3:18).

Quarta-feira – Efésios 5:18-21

A boca fala daquilo que o coração está cheio (Mt 12:34). Se estivermos preenchidos de Deus não haverá lugar para contendas e insensatez. Paulo orienta aos cristãos a deixarem a “paz de Cristo” governar o seu coração (Cl 3:15). Os sinais desse governo manifestam--se no relacionamento entre irmãos e na adoração, sob a influência direta do Espírito Santo. Vamos todos juntos colocar-nos à disposição do Senhor para que as pala-vras da nossa boca e os frutos que emanamos sirvam para a edificação da Igreja, onde demonstraremos ao mundo que somos “um testemunho vivo” que Cristo vive em nós e que nós vivemos para ele.

Quinta-feira – Efésios 5:23-32

Os primeiros versos de hoje nos falam de submissão, tanto do corpo (igreja) a Cristo, quanto das mulheres aos maridos. Esta submissão a que o apóstolo Paulo se refere em sua carta aos Efésios está relacionada com o amor, pois Cristo, sendo Senhor e estando acima de todo homem, principado, potestade, submeteu-se “em amor” até o ponto de morrer, para purificar e santificar a Igreja, para a glória de Deus. Assim também o marido, por amor, precisa cuidar de sua esposa com a mesma

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dedicação com que Jesus cuidou da sua noiva, a Igreja. Oremos para que sejamos uma Igreja verdadeiramente guiada pelo amor do mestre e para que sejamos sub-missos, não por temor, mas por respeito e sujeição ao Senhor.

Sexta-feira – 1 Timóteo 5:17-19

Ultimamente temos observado no seio da Igreja um grande desrespeito para com as autoridades eclesiás-ticas, as quais foram constituídas por Deus (Rm 13:1). Todo presbítero que faz um bom trabalho na Igreja, dedi-cando-se ao ensino cristão e à pregação do evangelho, deve ser altamente estimado. Cremos que toda autori-dade fiel ao Senhor será por ele amparada, mas do con-trário será rejeitada. Vamos orar por nossos presbíteros, para que estejam sempre com o coração e a mente volta-dos para Deus. E nós, como Igreja de Cristo, paguemos a todos o que lhes é devido, pois como disse o apóstolo Paulo: “A quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto; a quem honra, honra” (Rm 13: 7).

Sábado – Mateus 16:17-18.

Graças lhe rendemos, Senhor Deus! O Pai nos tem revelado o seu Filho, assim como um dia o revelou a Simão Barjonas. E não o conhecemos apenas pela pala-vra, mas o temos visto agindo em nosso meio. O próprio Senhor Jesus nos mostra que a carne e o sangue não têm este mérito, mas o Pai que está no céu. Também ficamos felizes com a afirmação de que as portas do inferno não prevalecerão contra a Igreja do senhor (v. 18). Devemos lembrar-nos sempre que Jesus morreu, ressuscitou e está assentado à destra do Pai (Mc 16:19), e que intercede pelo seu corpo, a “santa Igreja”, com-posto de seres humanos falhos e pecadores, que não podem nada se não estiverem edificados sobre a pedra, o Cristo, o Filho do Deus vivo.

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INTRODUÇÃO

Quando se fala em igreja, hoje em dia, logo se pensa em uma organização ou instituição. No Antigo Testa-mento, o termo usado para as assembleias dos hebreus é kahal, cujo significado era de uma convocação religiosa que, normalmente, era feita por Deus. Já nos tempos do Novo Testamento a palavra empregada é ekklesia, que aparece 115 vezes, sendo que o sentido deste termo grego é uma convocação, uma assembleia na qual os integrantes são “chamados para fora”.95

A palavra ekklesia foi aplicada, em Atos dos Apósto-los, ao povo de Israel que foi chamado para fora do Egito, sendo chamados de “congregação de Israel” (At 7:38). Semelhantemente, Deus nos chama em Cristo para fora do poder do pecado. Constituímos, dessa forma, o corpo de Cristo na face da terra. A Igreja é, portanto, um orga-nismo vivo e dinâmico. O próprio significado da palavra dá-nos uma ideia do dinamismo de sua existência.

A palavra “igreja” tem dois significados fundamentais no Novo Testamento. Na maior parte de suas ocorrên-cias, ou seja, em 95 das 115 vezes que aparece, sig-95 MARTINS, Jaziel Guerreiro. Manual do pastor e da igreja. Curitiba: AD Santos Editora, 2002, p. 5.

A Igreja

O Corpo de Cristo

Pr. Jonas Sommer24 de Agosto de 2013

8TEXTO BÁSICO:

“E pôs todas as coisas debaixo dos pés, e para ser o cabeça sobre todas as coisas, o deu à igreja, a qual é o seu corpo, a plenitude daquele que a tudo enche em todas as coisas”. (Ef 1:22-23)

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nifica “congregação”. Nesse sentido, a ênfase está no grupo local de cristãos, que se reúnem para adoração, companheirismo e serviço cristão (At 8:1; Rm 16:16). Outras vezes a palavra igreja é usada para descrever todos aqueles que aceitaram a Jesus Cristo como Sal-vador. É o sentido global e mais amplo da palavra “igreja” (1Co 15:9).96

Em nosso estudo de hoje vamo-nos preocupar com a Igreja no sentido de congregação. É no contexto da con-gregação local que o cristão se desenvolve no estudo e na prática da fé no Senhor Jesus Cristo. Ali ele deve encontrar os recursos para crescer, até atingir à “maturi-dade, alcançando a medida da plenitude de Cristo” (Ef 4:13, NTLH).

A IGREJA DO NOVO TESTAMENTO

A Igreja não é o prédio em que nos reunimos para adorar a Deus (este serve apenas de abrigo). O templo dos judeus, no Antigo Testamento, foi construído com elementos materiais, tais como: pedra, madeira, metais, tecidos etc. Mas a Igreja, o templo de Deus, é espiritual, formada por homens e mulheres que foram regenerados pelo Espírito Santo.

Jesus foi a primeira pessoa a usar o termo “igreja”, quando declarou: “Sobre esta pedra edificarei a minha Igreja” (Mt 16:18). A maneira com que ele impingiu a palavra “igreja” no texto citado, tendo os discípulos ao seu redor, dá-nos uma ideia do que ele pensava ser igreja: “um grupo de pessoas que se reúne em torno dele”. E é assim mesmo que deve ser; afinal, Cristo é o centro da igreja.97

96 MARTINS, Jaziel Guerreiro. Op. cit., p. 5.97 SILVA, Genilson S. da (Ed.). O que cremos. Lições Bíblicas. Maringá, n. 293, out/dez. 2010, p. 87.

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Onde está Cristo, ali está a Igreja verdadeira. Ele é quem a edifica: “edificarei” (Mt 16:18). A Igreja não foi edificada por homens, mas por Cristo, que a ergueu com propósitos. Com base nas Escrituras, podemos enume-rar, pelo menos, cinco respostas à pergunta: Para que a Igreja existe? Primeira: ela existe para adorar a Deus (At 2:47; 9:31; 1Pe 4:11). Segunda: ela existe para anunciar o salvador (Mc 16:15). Terceira: ela existe para capaci-tar e edificar os santos (Mt 28:19-20; Cl 1:28). Quarta: ela existe para amparar o necessitado (1Jo 3:17-18; Gl 6:10). Quinta: ela existe para alimentar a esperança (1Co 15:19; Fp 3:20; 1Pe 1:17; Hb 10:37). A Igreja não pode priorizar mais um aspecto de sua missão do que outro. Todos são importantes e devem ser desenvolvidos com equilíbrio.98

No Antigo Testamento, Deus habitou no meio do povo de Israel, no Templo de Salomão (1Rs 6:11-13). Hoje, Deus habita conosco, ou seja, em nós (1Co 3:16,17; 6:19,20). Na Nova Aliança, nós somos sacerdotes santos, não precisando mais de sacerdotes para ofe-recer um sacrifício por nós. Aliás, nós somos o próprio sacrifício agradável a Deus (Rm 12:1,2; Hb 13:15,16).

A ORIGEM DA IGREJA DE JESUS

A Igreja foi fundada pelo Senhor Jesus Cristo. Ele é também o seu fundamento (1Co 3:11). Ao dizer: “Sobre esta pedra edificarei a minha Igreja” (Mt 16:18), Jesus não estava referindo-se a Pedro, mas a si mesmo. O nome “Pedro” é a tradução da palavra grega masculina Petros, que significa “pedra, pedregulho, pedrinha solta” – uma pedra movediça. Em contraste com isso, a “pedra” sobre a qual Cristo edificou a sua Igreja constitui a tra-

98 SILVA, Genilson S. da (Ed.). Op. cit., p. 87.

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dução da palavra grega feminina petra, que frequente-mente é utilizada para designar penhascos, camadas de rocha ou cordilheiras. Essas duas palavras gregas ilus-tram muito bem o caráter de Pedro e o de Cristo.99

Jesus Cristo é a pedra fundamental sobre a qual a Igreja é edificada, conforme declararam os profetas do Antigo Testamento (SI 118:22; Is 28:16), o próprio Jesus (Mt 21:42), Pedro e os outros apóstolos (At 4:10-12). Paulo também afirma que a fundação da Igreja é Jesus Cristo (1Co 3:11). Essa fundação foi assentada pelos apóstolos e profetas ao pregarem o evangelho de Cristo aos perdidos (1Co 2:1,2; 3:11; Ef 2:20).100

De acordo com os métodos antigos de edificação, a pedra angular tinha importância especial como a pedra usada pelo arquiteto-edificador para determinar o ângulo ou inclinação de todo o edifício. Os crentes são asse-melhados a pedras vivas, edificadas na estrutura, que, por sua vez, repousa sobre um fundamento que é Cristo (1Co 3:10,11). Assim, Jesus Cristo é o padrão pelo qual a vida e o crescimento de sua Igreja são moldados por Deus. Essa é a razão por que a Igreja jamais será derro-tada, por mais que se esforcem os poderes do mal.

A Igreja é um edifício, mas em nenhum sentido está-tico ou inanimado. Ela é semelhante a um organismo vivo, que toma forma pela orientação do Espírito, por meio das circunstâncias da história. Isso significa que continuamente Jesus está chamando outras pessoas, a fim de que desfrutem das bênçãos do Reino dos Céus.

CARACTERÍSTICAS DE UMA IGREJA VERDADEIRA

Os seguintes fatos caracterizam a Igreja do Novo Testamento:

99 WIERSBE, Warren W. Comentário bíblico expositivo: Novo Testamento, v. 1. Santo André: Geográfica Editora, 2006, p. 74.100 Ibdem., p. 75.

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1. Ela reconhece Cristo como a cabeça do corpo (Ef 1:22; Cl 1:18). Todo o povo de Deus sobre a Terra é um corpo, desde o princípio até o fim do tempo, e Jesus Cristo é a suprema cabeça desse corpo. O fato de ele ser a cabeça implica em que toda a direção da nossa vida emana dele. Nós vivemos dele, por ele, por meio dele e para ele. O que Jesus estabeleceu não foi uma sociedade que estudasse e propagasse suas ideias, mas um organismo que vive por sua vida, um corpo habitado e guiado por seu Espírito.101 A figura da igreja como corpo inclui como essencial o senhorio de Cristo. Ele é a cabeça da igreja. A cabeça orienta e determina a ação do corpo. O mesmo deve acontecer entre Cristo e a sua Igreja.102

2. Ela anuncia a Cristo como Senhor e Salvador (1Co 2:1,2). A Igreja tem como função principal procla-mar a salvação por Jesus Cristo. Paulo não fazia ques-tão de usar uma oratória sofisticada e nem raciocínios astutos. Paulo tinha uma mensagem clara, que pregava por toda a parte: o Cristo crucificado.

A verdadeira pregação cristã precisa estar centrali-zada em Cristo e em seu sacrifício na cruz. Todas as outras verdades reveladas ou encontram seu cumpri-mento na cruz de Cristo ou estão fundamentadas nela. As Escrituras apresentam uma mensagem consistente e orgânica, elas nos falam do quanto precisamos buscar a Cristo, que somente ele é o nosso Salvador e Senhor e a fonte de poder para fazer o que Deus reclama.103

3. Os seus membros vivem em comunhão e amor (Jo 13:34,35). O amor é a marca distintiva da Igreja de Cristo. Esta passagem refere-se especificamente ao

101 PEARLMAN, Myer. Conhecendo as doutrinas da Bíblia. São Paulo: Vida, 2006, p. 278.102 GROBER, Glendon. A doutrina bíblica da Igreja. 5. ed. Rio de Janeiro: JUERP, 1987, p. 12. 103 CHAPELL, Brian. Pregação cristocêntica. São Paulo: Cultura cristã, 2002, p. 294.

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relacionamento que há no corpo de Cristo, isto é, o rela-cionamento com os outros cristãos. A chamada igreja primitiva era uma comunidade terapêutica. Seus mem-bros abraçaram uma teologia que transformou o coração deles e mudou seus relacionamentos. Em uma socie-dade ferida e quebrada pelo pecado, a Igreja de Cristo precisa ser um lugar de restauração e de refúgio. Em uma sociedade onde o conflito está presente na família, nas instituições públicas e em todos os tipos de relacio-namentos, a Igreja precisa ser uma comunidade tera-pêutica, pois ela é a maior esperança do mundo.104

4. Ela tem a Bíblia como única regra de fé e prática (Lc 24:27; At 17:11; Gl 1:8,9). A Bíblia é a única auto-ridade e norma de conduta da Igreja de Jesus Cristo. A Igreja de Jesus Cristo deve estar edificada no funda-mento dos apóstolos (Novo Testamento) e dos profetas (Antigo Testamento) e nada mais além disso. O ensino sólido e constante da Palavra de Deus dá estabilidade à fé, equipa para detectar e confrontar o erro, acalma os temores, cancela as superstições e transforma a vida de uma pessoa a cada dia. O discipulado e o ensino não podem se tornar um fim em si mesmo. Eles são um meio de conduzir uma pessoa a um profundo relacionamento com Deus, a uma vida constante de adoração; são uma alavanca para que a igreja glorifique a Deus no mundo e cumpra sua missão temporal e eterna.105

MEMBROS DO CORPO DE CRISTO

John Stott afirma que o intuito de Deus não é salvar almas individuais, isoladas umas das outras e assim per-petuar nossa solidão. Muito pelo contrário, ele quer cons-

104 LOPES, Hernandes Dias. Mensagens selecionadas. São Paulo: Hagnos, 2007, p. 65.105 CAMPANHÃ, Josué. Discipulado que transforma: princípios e passos para re-vigorar a igreja. São Paulo: Voxlitteris, 2012, p. 26.

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truir uma Igreja, congregar um povo seu, proveniente de toda nação e cultura. O Novo Testamento retrata essa sociedade divina por meio de muitas metáforas que expressam vida e participação comunitária. Nós somos irmãos na família de Deus, cidadãos de seu reino e pedras de seu templo (Ef 2:19-22). Somos também ove-lhas do rebanho de Cristo, galhos da videira e membros do seu corpo (Jo 10:14-16; 15:1-8; 1Co 12:27). Nós per-tencemos incontestavelmente uns aos outros, porque pertencemos incontestavelmente a ele.106

A Bíblia expõe as responsabilidades de cada um dos membros da Igreja e as razões pelas quais devemos fazer parte dela. Senão, vejamos:

1. Um membro não tem vida independente do corpo (1Co 12:12; Ef 4:15,16). O corpo de Cristo é for-mado de muitos membros que, embora diferentes em vários aspectos, assim mesmo fazem parte de um único corpo, que é a Igreja universal. Não há como viver de modo independente do corpo, assim como não é possí-vel um membro do corpo humano, uma vez amputado, ter vida em si mesmo. Cada membro é importante. Nenhum membro pode dizer: “não preciso de você”. Precisamos todos uns dos outros. Se quisermos vencer a batalha contra nosso adversário no campo espiritual, carecemos agir como uma unidade dinâmica. Interdependência e coordenação são características essenciais.107

2. A Igreja é o meio estabelecido por Deus para o nosso crescimento (Hb 10:24,25). Deus quer que seja-mos maduros ou adultos, e para isso providenciou-nos a verdade para o nosso crescimento espiritual. Sendo assim, a Igreja é o ambiente apropriado para o cresci-mento espiritual. Por meio dela somos encorajados, ins-truídos e compartilhamos uns com os outros, a fim de

106 STOTT, John. Firmados na fé. Curitiba: Encontro, 2004, p. 191-192.107 GETZ, Gene A. Um por todos, todos por um. Brasília: Palavra, 2006, p. 18.

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que cada um seja ajudado em seu progresso na vida cristã.

Como cristãos em crescimento, encontramos na comunhão dos crentes o ambiente apropriado para nosso crescimento espiritual. Não vivemos de modo independente, separados do corpo de Cristo. Como parte do corpo de Cristo, envolvemo-nos na adora-ção comunitária, tanto quanto nos outros ministérios da Igreja. Em Atos 2 temos um retrato vívido de uma comunidade local que promovia o crescimento dos seus membros. Nela acontecia o ensino da Palavra (v. 42). Ela oferecia o ambiente para as relações fraternas (v. 42). Nela, havia o estímulo para o crescimento em fé (v. 43). Nela as necessidades eram conhecidas e supridas (vv. 44,45). Nela os encontros de edificação eram intensos (v. 46). Ela sinalizava a chegada do Reino de Deus (v. 47).

LIGADOS NO CORPO DE CRISTO

As figuras usadas pelos escritores do Novo Tes-tamento para descrever a Igreja indicam que existe o mais íntimo vínculo espiritual possível entre Cristo e o seu povo e entre os próprios crentes. A Bíblia diz que só pertencem a Cristo aqueles em cujo coração habita o Espírito Santo (Rm 8:9,10). Só eles pertencem à comunhão espiritual que constitui a verdadeira Igreja de Jesus Cristo. Mas, para que isso ocorra, é necessário que aconteçam três coisas:

1. Precisamos ser ligados no corpo de Cristo pelo Espírito Santo (1Co 12:13). Isso acontece quando nos arrependemos e entregamos nossa vida a Jesus. É a operação do Espírito Santo que atrai os homens a Cristo, convencendo-os do pecado, da justiça e do juízo (Jo 16:7-11). E a nossa aceitação de Cristo é declarada

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pelo nosso batismo em um só corpo. Nós não criamos o corpo: Cristo o faz. Nós entramos nele. Pessoas de todas as nações e de todas as classes, mediante a fé, pertencem ao mesmo corpo.

2. Precisamos ter convicção da salvação pela fé em Cristo (Rm 10:9). Não se trata de crença em uma coisa, em doutrina ou instituição. A Bíblia ensina clara-mente que a fé salvadora é a fé em Jesus Cristo. Essa fé implica, pois, a aceitação de Jesus Cristo como o único caminho para a salvação.

3. Precisamos receber o batismo ordenado por Jesus (At 2:38). Por meio do batismo identificamo-nos com Cristo e com seu corpo, a Igreja. Não devemos pro-curar tornar-nos membros da Igreja sem o batismo, pois é ele o sinal externo de nosso compromisso com Cristo. Pelo batismo possuímos novidade de vida; e vivemos em um corpo, a Igreja, para Deus e para os outros (Rm 6:3,4).

A OBRA DA IGREJA

Myer Pearlman elenca quatro funções que a Igreja de Cristo deve desempenhar enquanto estiver na Terra:108

1. Pregar a salvação. A obra da Igreja é pregar o Evangelho a toda a criatura (Mt 28:19,20) e explanar o plano da salvação, tal qual é ensinado nas Escrituras. Cristo tornou acessível a salvação por provê-la; a Igreja deve torná-la real por proclamá-la.

2. Prover os meios de adoração. Israel possuía um sistema de adoração divinamente estabelecido, pelo qual se chegava a Deus em todas as necessidades e crises da vida. Assim também a Igreja deve ser uma casa de oração para todos os povos, onde Deus é cultu-ado em adoração, oração e testemunho.

108 PEARLMAN, Myer. Op. cit., p. 281-282.

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3. Prover comunhão. O homem é um ser social; ele anela comunhão e intercâmbio de amizade. É natu-ral que ele se congregue com aqueles que participam dos mesmos interesses. A Igreja provê uma comunhão baseada na Paternidade de Deus e no fato de ser Jesus o Senhor de todos. É uma fraternidade daqueles que participam duma experiência espiritual comum. O calor dessa comunhão - comunhão em que todas as distin-ções terrenas eram eliminadas e os homens e mulheres tomavam-se irmãos e irmãs em Cristo - era uma das características notáveis da igreja primitiva.

4. Sustentar uma norma de conduta moral. A Igreja é “a luz do mundo”, que afasta a ignorância moral; é o “sal da terra”, que a preserva da corrupção moral (Mt 5:13,14). A Igreja deve ensinar aos homens como viver bem e a maneira de se preparar para a morte. Deve proclamar o plano de Deus para regulamentar todas as esferas da vida e sua atividade. Contra as tendências para a corrupção da sociedade, deve ela levantar a sua voz de admoestação. Daí a importância de haver disci-plina na Igreja aos membros faltosos. Tal disciplina deve ser sempre empregada com amor, visando à recupera-ção do membro em falta.

A MISSÃO DA IGREJA

Um dos maiores desafios da Igreja na atualidade é definir sua missão. Qual é a missão da igreja? Qual a natureza dessa missão? Como cumprir a missão? Responder a essas questões é vital para a Igreja ser o que ela precisa ser e fazer o que ela precisa fazer. Isso porque “se tudo é missão, então nada é missão”.109

A missão que Deus deu para a Igreja é a mesma de Jesus: glorificá-lo eternamente. Sendo assim, a Igreja

109 PIRAGINE JR, Paschoal. Crescimento integral da igreja: uma visão prática de crescimento em múltiplas dimensões. São Paulo: Vida, 2006, p. 76-78.

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que não sabe adorar e glorificar a Deus não entendeu direito o que é missão. Automaticamente, o membro da Igreja que não glorifica a Deus em tudo que faz também não entendeu a missão.110

O apóstolo Paulo assim exorta aos fieis: “Assim, quer vocês comam, bebam ou façam qualquer outra coisa, façam tudo para a glória de Deus” (1Co 10:31, NTLH). Em outra passagem ele completa dizendo: “Acaso não sabem que o corpo de vocês é santuário do Espírito Santo que habita em vocês...? Portanto, glorifiquem a Deus com o seu próprio corpo” (1Co 6:19-20, NTLH).

O homem cumpre sua missão quando glorifica a Deus em tudo o que faz. A Igreja cumpre sua missão quando adora a Deus em tudo o que faz. É isto o que Jesus diz: “Assim brilhe a luz de vocês diante dos homens, para que vejam as suas boas obras e glorifiquem ao Pai de vocês, que está nos céus” (Mt 5:16). O papel da Igreja no mundo é fazer coisas que levem as pessoas a ver Deus, a se reconciliar com ele e a passar o restante da vida adorando-o. A Igreja, portanto, precisa levar as pessoas a um profundo relacionamento com Deus, a uma vida constante de adoração, de forma a glorificarem a Deus em tudo que fazem, para assim cumprirem sua missão.

UMA PALAVRA FINAL

A Igreja nasce da mente e do coração perfeitos de Jesus. É o povo da nova aliança, de todos os povos, que tem a incumbência de levar as boas novas da salvação, de prover meios para a santificação, de ser um instru-mento de cura e transformação, apontando, ensaiando e anunciando a presença e a plenitude futura do reino de Deus. É inegável a iniciativa e a importância da igreja, que recebeu de Jesus o sopro do Espírito Santo, que

110 CAMPANHÃ, Josué. Op. cit., p. 26.

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a assiste até a consumação do tempo. Os problemas da Igreja não estão na sua iniciativa divina - que a vê como mistério/sacramento na história e como a noiva das bodas finais -, mas da sua composição humana. Nela existe o “trigo” e “joio”, e a nós não cabe fazer a separação entre ambos. Nela estão os que nunca foram trigo e as sementes que nunca germinaram.

A Igreja é portadora de doutrinas, de verdades reve-ladas, universais e permanentes, sistematizadas e con-fessadas, emanadas das Sagradas Escrituras, lega-das pela tradição apostólica e pelo consenso dos fiéis. É verdade que o mundo e a Igreja mudaram, mas não mudou a condição humana de pecado e perdição nem a necessidade humana de salvação e novidade de vida, a necessidade humana de certezas e esperanças.111

Não dizemos que somos o “povo da Bíblia”, de Cristo, da graça e da fé? Não somos um povo em missão? Não somos um povo que prega, ensina, integra, serve e denuncia? Não é isso que as Escrituras nos advertem a fazer? Sejamos, portanto, uma Igreja em missão, ontem, hoje, amanhã, sempre, em obediência ao nosso Senhor.

PERGUNTAS PARA DISCUSSÃO EM CLASSE

1. Na visão do apóstolo Pedro, o que constitui uma Igreja? (1Pe 2:5,9)

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________2. Sobre quem Jesus estabeleceu a Igreja? O que signi-fica este fato? (Mt 16:16-18)

111 CAVALCANTI, Robinson. Igreja evangélica: identidade, unidade e serviço. Viço-sa/MG: Ultimato, 2013, p. 30-32.

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________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________3. O apóstolo Paulo compara a Igreja a uma edificação. Quem é o fundamento desta e o que isso significa? (Ef 2:19-22)

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________4. Quais as quatro características que ajudam a identifi-car a Igreja de Jesus? (Ef 1:22; 1Co 2:1,2; Jo 13:34,35; Lc 24:27)

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________5. Cite pelo menos duas razões por que devemos per-tencer a uma Igreja. (1Co 12-27; Hb 10:24,25)

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________6. Como podemos pertencer à Igreja de Cristo? (1Co 12:13; 1Jo 5:12; At 2:38)

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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Domingo – 1 Pedro 1:13-16

Normalmente a palavra “santo” está relacionada com grandes homens e mulheres da história da Igreja, que precisam ser confirmados como tal pela Igreja Católica. No entanto, segundo a Bíblia, todos aqueles que vivem para Jesus são considerados santos. A santidade não é conquistada pelo esforço humano, mas é fruto de uma ação direta do Espírito em nossa vida. Quando Deus está nos chamando para sermos santos, ele está nos separando para sermos “a menina dos olhos” dele – algo especial para ele – como Pedro entendia e testemunhava ser para Deus.

Segunda-feira – 2 Coríntios 7:1

Paulo orienta aos membros da Igreja de Corinto que se purifiquem de tudo o que possa contaminar o corpo e o espírito, aperfeiçoando a santidade no temor de Deus. Como poderemos aperfeiçoar essa santidade em nossa vida? O Rev. John Ryle define uma lista de 12 pontos essenciais. São eles resumidamente: 1) cultivar o hábito de ser de uma só mente com Deus; 2) esforçar-se para evitar cada pecado conhecido, e guardar o mandamento revelado; 3) esforçar-se para seguir os passos de Jesus; 4) buscar a mansidão, longanimidade, bondade, paciên-cia, gentileza e controle da língua; 5) buscar a tempe-rança e autonegação; 6) buscar a caridade e a fraterni-dade; 7) buscar a pureza de coração; 8) viver no temor de Deus; 9) viver em humildade; 10) demonstrar miseri-córdia e bondade no trato com os outros; 11) ser fiel em todos os deveres e relacionamentos; 12) encher a mente com coisas espirituais.112

112 apud PACKER, James I. Redescobrindo a santidade. São Paulo: Mundo Cris-tão, 2002, p. 16-18.

André Garcia Ferreira

MEDITAÇÕES BÍBLICAS DIÁRIAS

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Terça-feira – Filipenses 2:12,13

Uma das principais atitudes humanas no processo de santificação é a obediência aos mandamentos divinos. Obedecer é a submissão ao que se ouve. Foi o que acon-teceu com Lídia ao ouvir a pregação de Paulo. Ela aten-deu ao apelo do Evangelho, converteu-se, foi batizada e passou a servir ao apóstolo e a seus companheiros. O mesmo aconteceu com o carcereiro de Filipos, quando atendeu à Palavra. Ao mesmo tempo, Paulo enfatiza a responsabilidade pessoal de buscar a santidade. O apoio dos irmãos é importante, mas é fácil nos tornarmos dependentes. Certos “cristãos” perdem a pureza e san-tidade quando perdem o apoio espiritual de alguém. De acordo com Paulo, em Cristo nós podemos viver em san-tidade, independentes de qualquer ajuda humana. Nós somos responsáveis por nossa vida espiritual.

Quarta-feira – Hebreus 2:1-4

Nós sabemos que a salvação é um dom gratuito de Deus aos homens. Mas a Palavra de Deus não exclui a responsabilidade do homem quanto à sua santificação. Após a vinda de Cristo, sua morte e ressurreição, não restam desculpas aos homens para não admitir o pecado e submeter-se à misericórdia divina. De fato, não merece-mos o imenso amor que Deus tem por nós. A justa retri-buição pelo pecado seria passarmos a eternidade longe de Deus. Que bom que podemos contar com esta tão grande salvação.

Quinta-feira – Efésios 4:17-24

Em 2001 ocorreu no Brasil a “crise do apagão”, que afetou o fornecimento e distribuição de energia elétrica, sendo causado por falta de chuva, que deixou várias represas vazias. Os blecautes nas cidades causaram transtornos e caos no trânsito das principais cidades bra-

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sileiras. Isso é parecido com a vida sem Cristo: a pessoa anda insegura e sem direção pela escuridão. Agarra-se em qualquer coisa que o conforte ou lhe dê segurança naquele momento. Mas quando Cristo brilha sua luz na nossa vida, somos capazes de caminhar certos do con-forto e da segurança de ver tudo, inclusive, quem somos por outra perspectiva.

Sexta-feira – Efésios 4:25-32

A Bíblia enfatiza o relacionamento interpessoal como elemento que promove o desenvolvimento espiritual, social e profissional. Há muitas pessoas com bom poten-cial para serem bons profissionais, bons líderes ministe-riais, bom cônjuges etc., mas acabam não alcançando seus objetivos pela falta de habilidade no relacionamento com as pessoas. Podemos citar alguns obstáculos para a construção de bons relacionamentos interpessoais: a) exigir que sua opinião prevaleça; b) não respeitar os outros; c) não enxergar mais ninguém além de si mesmo; d) inveja; e) orgulho, etc. É muito difícil para as pessoas conviverem com alguém que apresente alguma dessas características. Reflita sobre seus relacionamentos. Se existem falhas, abandone-as e busque em Deus uma renovação interior.

Sábado – Hebreus 12:14-17

A única maneira de caminhar em direção a Deus é pela santificação. A santidade produz sensibilidade espi-ritual. É ela que nos permite “ter a mente de Cristo” (1Co 2:16). O amor, matéria-prima do cristão, é obra da santi-dade. A santidade não nos humilha nem nos diminui, pois ela nos capacita a “ver a Deus” e nos permite viver “a alegria da nossa salvação”. Seguir a paz e a santificação com todos é seguir a Cristo juntamente com todos os que invocam ao Senhor, isto porque os que seguem a Cristo recebem um novo coração (Mt 5:8; Sl 51:10).

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INTRODUÇÃO

Na lição desta semana veremos como a Bíblia Sagrada nos ensina a lidar com a santificação. Será esta uma opção pessoal ou uma ordem divina? De acordo com a palavra de Deus, viver em santidade não é uma opção pessoal, é uma exigência divina! A Bíblia ensina que a salvação somente pode ser obtida única e exclusi-vamente pela graça, mediante a fé no sacrifício de Jesus. Porém, também ensina que, uma vez salvos, devemos nos esforçar para vivermos em santidade.

As recomendações bíblicas com relação à santidade são muitas. Deus se revela como sendo um Deus Santo (Lv 11:45; Is 6:3). Ele também exigiu de seu povo que se santificasse e que fosse um povo santo (Lv 20:7). Conheçamos, então, um pouco mais sobre a santidade na vida cristã.

A EXIGÊNCIA DA SANTIFICAÇÃO PESSOAL

A palavra “santo” essencialmente significa “sepa-rado”. Esse termo, tanto no hebraico (qodesh) quanto no grego (hagios), literalmente significa “separar”. Todavia o substantivo santificação (gr. hagiasmos) não ocorre no

A Santifi cação

na Vida Cristã

Pr. Edvard Portes Soles31 de Agosto de 2013

9TEXTO BÁSICO:

“A vontade de Deus é que vocês sejam santifica-dos”. (1Ts 4:3, NVI)

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Antigo Testamento, mas é encontrado 10 vezes no Novo Testamento.113

Em síntese, o verbo “separar” tem três significados: 1) venerar ou reconhecer que é venerável, ou seja, reve-renciar (cf. Mt 6:9; Lc 11;2; 1Pe 3:15); 2) separar das coisas profanas e dedicar a Deus, isto é, consagrar (cf. Mt 23:17,19; Jo 17:19, 10:36; 2Tm 2:21); 3) purificar ou, em outras palavras, limpar (cf. Ef 5:26; 1Ts 5:23; Hb 2:11; 9:13; 13:12). Com base nesses três significados teológicos, podemos definir a santificação em quatro níveis espirituais: 1) separação para Deus; 2) imputação de Cristo como nossa santidade; 3) purificação do mal moral; 4) conformidade com a imagem de Cristo.114

A palavra “santo” e todos os seus correlatos, tais como “santidade”, “santificação”, “santificado”, “santifi-car”, “santíssimo”, aparecem quase 500 vezes somente no Antigo Testamento. Santidade é a qualidade mais exi-gida para descrever o relacionamento do ser humano com Deus e também é o atributo mais repetidamente enfatizado, no que diz respeito à natureza divina (cf. Lv 19:2, 20:26; Is 6:3; Sl 99:3,5,9; Os 11:9; Am 4:2; Ef 1:4; 1Pe 1:16). Ralph Smith diz que a santidade no Antigo Testamento “diz respeito ao chamado de Deus e a exi-gência de que as pessoas sejam santas como ele é santo, no sentido de que sejam puras, limpas, justas e compassivas”.115

Apesar de não ser tão frequente como no Antigo Tes-tamento, a palavra “santo” e seus correlatos se repetem, nas páginas do Novo Testamento, de maneira um tanto quanto significativa: mais de 200 vezes! Talvez o texto mais enfático sobre a santificação seja o de Hebreus 12:14, em que lemos: “Segui a paz com todos e a santi-113 THIESSEN, Henry Clarence. Palestras introdutórias à teologia sistemática. São Paulo: Imprensa Batista Regular do Brasil, 2001, p. 270.114 THIESSEN, Henry Clarence. Op. cit., p. 270.115 SMITH, Ralph L. Teologia do Antigo Testamento: história, método e mensagem. São Paulo: Vida Nova, 2001, p. 180-183.

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ficação, sem a qual ninguém verá o Senhor”. Essa pas-sagem é muito clara quanto à necessidade absoluta de santidade. O verbo “seguir” é enfático e expressa esforço e determinação. Essa palavra está no modo imperativo, ou seja, é uma ordem. No texto, duas são as virtudes que devem ser buscadas e, entre elas, está a santifica-ção.116

Embora sejamos exortados a “seguir a santificação” (Hb 12:14), não devemos cair no erro de imaginar que a mesma resulta do esforço humano. É claro que a coo-peração humana faz parte do desenvolvimento de uma vida de santidade, mas é por intervenção divina que a santificação acontece. Conforme bem observa Franklin, “a santificação é uma obra realizada pelo Espírito Santo, não é algo que fazemos por nós mesmos”.117 Portanto, podemos entender santificação como sendo a obra con-tínua do Espírito Santo pela qual ele vai conformando o fiel à imagem de Cristo (Rm 8:29,30; 2Co 3:18).118

Outro texto que merece destaque é o de 1 Pedro 1:15-16, em que lemos: “Como é santo aquele que vos chamou, sede também santos em toda a vossa maneira de viver, porquanto está escrito: Sede santos, porque eu sou santo”. Com base nesse texto, podemos destacar, pelo menos, duas razões pelas quais a santidade deve ser nosso objetivo principal de vida: em primeiro lugar, devemos ser santos por causa da “santidade divina”: “Como é santo aquele que vos chamou”; em segundo lugar, por causa da “ordem divina”: “Sede também santos”.119

116 GUTHRIE, Donald. Hebreus: introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova, 1984, p. 240.117 FERREIRA, Franklin. Teologia cristã: uma sistematização das doutrinas. São Paulo: Vida Nova, 2011, p. 170.118 SEVERA, Zacarias. Manual de teologia sistemática. Curitiba: AD Santos Edi-tora, 1999, p. 298.119 SHEDD, Russell P. Nos passos de Jesus. São Paulo: Vida nova, 1993, p. 27-28.

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Observe que, tanto no texto de Hebreus 12:14 quanto no texto de 1 Pedro 1:15-16, a santidade não é encarada como opcional ou como um convite, mas, sobretudo, como um mandamento de Deus.

A NATUREZA DA SANTIFICAÇÃO PESSOAL

A santificação pessoal é uma etapa imprescindível no processo de salvação, que, tendo iniciado na justificação pela fé em Cristo, será concluído com a glorificação, na volta de Jesus. Mas qual a natureza da santificação? Como a Bíblia Sagrada a conceitua? Conhecer esses princípios espirituais certamente é um grande passo para a prática eficiente da santificação pessoal.

A ideia de santificação aplicada aos cristãos pode ser analisada sob três perspectivas. Vejamos:

1. Santificação posicional. Significa que no ato da regeneração os crentes são santificados, e, por-tanto, são santos porque já estão separados para Deus e foram purificados (Rm 1:7; Hb 2:11; 10:10,14,29).120 Nesse sentido a santificação é “a liberdade do domínio da velha natureza, que foi crucificada com Cristo”.121 Este é, sem dúvida, o mais impactante tipo de santificação, pois Paulo afirma que “somos santificados em Cristo Jesus, e, por isso, chamados para ser santos” (1Co 1:2). Esse tipo de santificação é obtido unicamente pela fé em Cristo (cf. At 26:18) e é também realizado de uma vez por todas. Desta forma, o salvo pode afirmar que foi, definitivamente, justificado, santificado e redimido, desde que realmente se mantenha revestido da justiça e da santidade de Cristo, pela fé.122

120 SEVERA, Zacarias. Op. cit., p. 299.121 FERREIRA, Franklin. Op. cit., p. 170.122 SILVA, Genilson S. da. (Ed.). Santificação pessoal. Lições Bíblicas. Diadema, n. 286, 2009, p. 14.

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2. A santificação progressiva. O crente está san-tificado em Cristo, mas o Espírito Santo continua atu-ando em sua vida, moldando seu caráter, desenvol-vendo sua personalidade, purificando-o e santificando-o diariamente. Essa santificação progressiva nos exorta a nos santificarmos ainda mais (Ef 4:17-32, 1Co 3:1-17; 1Ts 5:23). Portanto, na santificação progressiva, o salvo desenvolve a santificação iniciada após sua justificação em Cristo Jesus. É um processo de crescimento diário. A santificação representa “uma luta em busca do cresci-mento na fé. É um processo de crescimento espiritual”.123 Neste processo, o crente “coopera” na sua santificação por meio da “mortificação dos desejos pecaminosos, e em levar o ser interior à obediência a Cristo às normas apresentadas em sua palavra” (Rm 8:13; Cl 3:5).124

Diferentemente da santificação que provém da cruz de Cristo, essa se desenvolve por toda a vida e só será consumada na volta de Jesus.

3. A santificação futura. A santificação futura diz respeito ao processo final, quando finalmente seremos aperfeiçoados diante de Deus e seremos semelhantes a Jesus (1Jo 3:2,3). É nesse momento que ocorrerá a transformação do corpo corruptível em um corpo incor-ruptível (Rm 8:11,23). Na vinda de Cristo, cada crente receberá um corpo novo que estará sem pecado. O Cris-tão não terá mais de resistir ao pecado ou de crescer para a perfeição. Sua santificação estará completa. Ele estará inteira e eternamente separado do pecado e para Deus.

A santificação ocorre em duas esferas. A primeira é a mortificação do velho homem, onde o corpo do pecado é desfeito (Cl 3:1-5; Rm 8:13); assim, o crente faz “morrer sua velha natureza”, o velho homem com seus feitos. A

123 FERREIRA, Franklin. Op. cit., p. 170.124 URETA, Floreal. Elementos de teologia cristã, Rio de Janeiro: JUERP, 1995, p. 198.

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outra esfera é a vivificação, que consiste em viver em novidade de vida (Rm 6:4). Tanto a mortificação como a vivificação acontece de forma simultânea. Paulo exem-plifica esse princípio, quando afirma: “Fui crucificado com Cristo. Assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. A vida que agora vivo no corpo, vivo-a pela fé no filho de Deus, que me amou e se entregou por mim” (Gl 6:20, NVI).

MEIOS PARA A SANTIFICAÇÃO

O desafio do processo de santificação é o crente ser equiparado ao caráter de Cristo. É um erro tentar medir nosso “nível de santidade” tendo por base a vida do outro. O padrão é Cristo. Ele é o alvo a ser atingido. Medir a santidade tendo como modelo o homem limi-tado, falho e pecador, é nivelar a santidade por baixo, enquanto a mesma só pode ser nivelada por cima, no nível de Deus, e ele não aceita nada menos que a sua própria santidade como parâmetro.

Vejamos agora os meios empregados no processo de santificação.

1. Estar em Cristo (Jo 15:4-5). A comunhão com Cristo, a participação do crente na própria natureza santa de Deus é um dos elementos básicos da santifica-ção, pois o Senhor afirma categoricamente: “Sem mim nada podeis fazer”. É indispensável o cultivo da comu-nhão com Cristo para uma vida de santificação.

2. Vida de oração (Fp 4:6). A oração é nossa conexão direta com Deus, na oração conhecemos sua vontade, a oração nos torna sensível à sua voz. Outro aspecto positivo na oração, no tocante à santificação, é que ela acalma nossa inquietude, tira as preocupações, prende nosso pensamento em Deus e nos torna depen-

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dentes dele. E é na oração “que o crente cultiva sua rela-ção com aquele que é Santo e santifica sua vida”.125 Por outro lado, a oração nos leva a contemplar a santidade de Deus, estabelecer o contraste entre sua santidade e nosso estado pecaminoso. A percepção desse con-traste conduz ao arrependimento e ao quebrantamento do coração.

3. Esforço pessoal do crente (Fp 2:12-13). A santi-ficação é uma obra do Espírito Santo, mas não isenta o homem de sua cooperação, visto ser ele parte integrante dela. Cabe a ele buscar a vontade de Deus, consagrar--se, lutar para resistir à tentação, ser submisso e orar a Deus. E, como recomenda Judas, o crente deve “bata-lhar pela fé que de uma vez por todas foi entregue aos santos” (Jd 3).

4. Comunhão com a Palavra de Deus (Jo.17:17). A Palavra de Deus é o instrumento do Espírito Santo na santificação do crente.126 O salmista expressa essa verdade ao dizer: “Escondi a tua palavra no meu cora-ção para não pecar contra ti” (Sl 119:11). A Palavra de Deus nos faz conhecer a sua vontade, nos mostra o que é errado, nos alimenta, nos direciona, nos instrui e nos qualifica “para toda boa obra” (2Tm 3:16-17). Isso faz dela uma ferramenta essencial no processo de santifi-cação.

É preocupante quando encontramos crentes que-rendo ser “santos”, mas que não têm intimidade com a Palavra de Deus, não a examina, não procura conhecê--la, não pauta sua vida por ela. Sem Palavra não há san-tificação. No máximo, haverá um legalismo disfarçado de santidade, semelhante aos fariseus que Jesus tanto criticou nos dias em que esteve na terra.

125 SEVERA, Zacarias. Op. cit., p. 301.126 Ibdem

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EFEITOS DA SANTIFICAÇÃO

Os efeitos da santificação são bem visíveis na vida do crente, tornam-se sua marca. Ele é visto por atitudes bem peculiares, não pela arrogância ou por uma religio-sidade superficial e ritualística, não por ser o “santarrão”, que em sua vida adota práticas que ferem a santidade de Deus.

Os que buscam uma vida de santificação pessoal possuem características tais como:

1. Progridem na vida cristã (2Pe 3:18). O cresci-mento contínuo é uma marca fundamental na vida de quem cultiva a santidade porque ela se torna nutriente que dá vida ao crente. O caminho da santificação tem por base a atuação do Espírito Santo, a comunhão com Deus, a comunhão com a Palavra de Deus, o desejo de conhecer a Deus, a submissão a Deus e à sua vontade. São estas coisas que produzem o crescimento na vida do crente.

2. Desgosto pelo pecado (1Jo 3:9). O pecado pro-voca no crente que trilha o caminho da santificação a mesma reação que provoca no próprio Deus. Ele se entristece com seu próprio pecado como com o pecado alheio, pois estes ferem a honra e a santidade de Deus. Santidade esta que ele está gradativamente comparti-lhando. O crente que não consegue sentir repulsa pelo pecado está desorientado no caminho que conduz a santificação.

3. Desejo de compartilhar o Evangelho (Rm 10:14,45). O crente consagrado ao seu Senhor, que é conhecedor de sua vontade, sabe das terríveis consequ-ências do pecado, tem conhecimento de que a salvação das vidas depende de crerem na mensagem do Evan-gelho, que é a única maneira de escaparem do juízo de Deus. Mas além de conhecer bem as necessidades dos

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pecadores perdidos, o crente que anda em santifica-ção com o Senhor aprende a amar os pecadores com o mesmo amor com que o Pai nos ama, mesmo que não seja na mesma proporção e intensidade, mas em qualidade sim, pois o que tem sido derramado em seu coração é o amor de Deus.

4. Disposição em servir (Jo 12:26). A santificação aproxima-nos de Cristo. Nosso desejo se torna o reflexo de sua vontade, passamos a compartilhar as mesmas coisas. Então aflora no coração do crente o desejo de servir, assim como seu Mestre serviu e deu “a sua vida em resgate de muitos” (Mt 20:28). A santificação mostra--se mais efetiva quando o crente vive para servir, e não para ser servido pelos outros, revelando com isso sua harmonia com o Cristo, que sendo Senhor se fez servo de todos.

UMA PALAVRA FINAL

A santificação é, ao mesmo tempo, uma obra do Espí-rito Santo no coração do crente e também a busca por parte do salvo em Cristo. Nesse processo ele vai sendo transformado gradativamente à imagem de Cristo. A san-tificação não se busca em mosteiros ou de forma isolada do mundo, mas é no confronto direto com o pecado que se acentua ainda mais a batalha da fé.

Uma vez que a santificação se torna um estilo de vida para o cristão, ela deixa seus traços na vida de quem a busca; ela se mostra pelo progresso contínuo, pelo des-gosto com relação ao pecado, pelo desejo de compar-tilhar o Evangelho e pela disposição ao serviço cristão.

O nosso desejo é que “o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo, sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” (1Ts 5:23).

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Assim, a santificação é contínua e integral. É ela que repara tudo o que foi afetado pelo pecado, o ser humano em todas as suas dimensões.

PERGUNTAS PARA DISCUSSÃO EM CLASSE

1. Qual é o significado bíblico abrangente da palavra “santo”? Como a santificação pessoal é encarada no Antigo e Novo Testamento? (Lv 11:44-45; 19:2; 20:27; Hb 12:14; 1Pe 1:15-16)

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________2. Com base no que você aprendeu do estudo, comente sobre o nosso dever de obedecer à exigência divina da santificação pessoal.

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________3. Como harmonizar a ação do Espírito Santo e o esforço do homem na santificação? (Rm 8:29,30; 2Co 3:18; Fl 2:12,13; Hb 12:14)

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________4. Qual é o significado espiritual prático da santidade posicional, progressiva e futura? (At 26:18; Rm 6:11-12; 8:29; 1Co 1:2,30; 2Co 3:18; 6:17-18; 1Ts 4:3,7; 2Tm 2:21)

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________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________5. Discuta com a classe a importância espiritual de cada salvo crer que, de fato, Deus o santificou para si mesmo.

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________6. Qual deve ser o parâmetro para a nossa santificação pessoal? (1Pe 1:16)

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________7. Quais são os meios para alcançar a santificação? Faça uma pesquisa e liste outros.

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________8. Como se torna visível a nossa santificação pessoal? Quais são os seus efeitos práticos em nossa vida? (2Pe 3:18; 1Jo 3:9; Rm 10:14,45; Jo 12:26)

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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Domingo – Gênesis 2:16-17

Deus é o supremo criador e, ao mesmo tempo, o nosso grande Pai, que sempre agiu com vistas ao nosso bem. Ora, ele e somente ele é quem tinha e tem a autoridade para determinar o que é mal e o que é bem para nós. O texto bíblico das origens nos informa então que o Senhor proferiu uma lei que vetava ao homem o consumo do fruto que representava o desejo do homem de querer ser como Deus, não somente conhecendo, mas usando sua própria razão para determinar o que é bem e o que é mal. É isto que observamos no mundo: homens que decidem o que é bom para eles com base em seus próprios caprichos, enquanto que esse poder deveria ser exclusivamente do Deus vivo. Assim, andar na Lei de Deus é render-se a ele, reconhecendo que somente ele sabe o que é o melhor para cada um de nós. Portanto, rejeite suas próprias opiniões e renda-se aos decretos de um Deus que é Pai!

Segunda-feira – Romanos 2:12-16

A Lei de Deus existe desde tempos imemoriais, bem antes de a Bíblia ter sido escrita. Paulo, neste trecho de sua carta aos romanos, afirma que o Senhor imprimiu uma Lei no coração humano, ou seja, na consciência, de maneira que o homem é capaz de perceber que algo está certo ou errado, conforme o juízo instalado em seu inte-rior. O nascido de novo tem a mente de Cristo, foi lavado e regenerado pela obra do Espírito Santo e, portanto, tem o que se pode chamar de juízo perfeito instalado no seu ser, a saber: a voz de Deus que o orienta, aprovando ou repro-vando as intenções do coração, que são esquadrinhadas pela palavra viva do Evangelho. Deste modo, devemos nos examinar para ver se estamos nesta fé e se o Espírito de Deus habita em nós (Jr 31:33).

Pr. Bernardo Ferreira Ignácio Jr.

MEDITAÇÕES BÍBLICAS DIÁRIAS

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Terça-feira – Romanos 7:7-17Este capítulo possui uma complexidade coerente com o

gênero humano. Paulo nos mostra claramente a ambigui-dade existente no nosso interior, como se houvesse dois de nós em um só corpo lutando entre si. Esta passagem é usada constantemente em artigos psicanalíticos que tratam dos processos inconscientes que operam dentro de nós. Em nosso ser habitam impulsos, cobiças, e Paulo afirma que estes foram incitados pelo mandamento. Parece ser algo como aquele dito popular de que “o que é proibido é mais gostoso”. Ora, isto nos diz que fomos engodados por nossa própria concupiscência e não pela Lei, a qual pos-suía a função de condutora a Cristo e, portanto, é santa, justa e boa. Louvemos grandemente ao Deus Eterno por ter-nos revelado sua vontade!

Quarta-feira – 1 João 2:3-7Este é um dos meus textos favoritos das Escrituras,

especialmente pelo versículo 6, que diz que devemos andar como Cristo andou e não somente dizer que estamos nele. O trecho de hoje nos aponta para um fruto da salvação, da conexão com Jesus, a Videira Verdadeira, qual seja o amor a Deus e aos seus mandamentos. Entendemos assim que João não está dizendo que forcemos em nós atitudes que provem que conhecemos a Deus, que seu amor está em nós e que nós estamos em Cristo. O fruto vem do fato de nos enchermos do Espírito, pois somente ele pode gerar Jesus em nós e assim, regenerados e semelhantes à estatura do varão perfeito, guardaremos com amor seus mandamentos, sua Palavra, e andaremos como o Mestre andou!

Quinta-feira – Colossenses 2:14-17Começo esta meditação glorificando a Deus pela ver-

dade que aparece logo no início deste texto: Jesus rasgou a cédula de dívida que era contra nós. Está tudo pago e já não há condenação para os que estão em Cristo Jesus! O que depunha contra nós foi cravado na cruz do calvá-rio. Nossos acusadores foram envergonhados e despoja-

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dos pelo sacrifício substitutivo de nosso Senhor. O suplício vicário de Cristo nos deu a verdadeira liberdade e nos fez entender que ele é o princípio e o fim de todas as coisas, tudo está sustentado pela palavra do seu poder! A Igreja que é seu corpo não é diferente. Pertence a ele por direito adquirido desde a fundação do mundo, quando o Cordeiro foi imolado. Louvado seja o Senhor Jesus, que é nossa comida, nossa bebida, nossa festa e nosso descanso!

Sexta-feira – Romanos 13:8-10O amor é o motor de tudo. Alguém já disse que Deus

criou exatamente por ser amor, e não havia como contê-lo, o que faz eco com certo poeta contemporâneo que afir-mou: “o amor não cabe em si”. Ora, observamos pelo texto de hoje que este é o sustentador também da Lei. O amor está acima da Lei e, ao mesmo tempo, a respalda e nos faz cumpri-la como parte de nós, e não como castigo ou tortura imposta por um Deus tirano e autoritário. É linda a simplicidade do Evangelho que nos mostra que não é necessário decorar e treinar obsessivamente os preceitos da Lei para agradar ao Senhor. Basta aprendermos a amar e toda a Lei estará cumprida!

Sábado – Êxodo 20:1-17Eis aí o código moral com o qual o Senhor deseja trazer

o bem sobre Israel. Muitos olham para os mandamentos de Deus como sendo a expressão de um Deus moralista e que deseja ver seus preceitos cumpridos exclusivamente pelo fato de ele ser Deus. Porém, o que observamos é que tudo o que ele manda tem a ver com o nosso bem estar, na medida em que ele já é, em si, completo e não necessita que alguém faça algo para que se sinta melhor. O que ele deseja sempre é o aperfeiçoamento do gênero humano, até que cheguem a ser semelhantes ao seu Filho e, para isso, deu diretrizes que apontavam para ele. Jesus foi o perfeito cumpridor da Lei, pois nele transbordava o amor tanto pelo Pai, expresso nos primeiros quatro mandamen-tos, como pelo homem, demonstrados nos outros seis.

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INTRODUÇÃO

A Lei de Deus é um dos assuntos mais importan-tes da teologia bíblica e, possivelmente, um dos mais mal compreendidos pelo povo de Deus. Este tema tem chamado a atenção dos estudiosos desde o início da história do cristianismo. Mesmo sendo um dos temas mais recorrentes nas Escrituras, muitos crentes compre-endem a Lei apenas como uma expressão da atuação de Deus no Antigo Testamento, com pouco significado para os nossos dias. Na verdade existe certa atitude de desprezo quanto à sua aplicação para os nossos dias. Precisamos dar a devida importância a esse tema tão precioso.

No estudo de hoje veremos, ainda que resumida-mente, um pouco do que a Bíblia nos ensina acerca da Lei de Deus.

SIGNIFICADO E ORIGEM DA LEI

Uma das dificuldades para o entendimento desse assunto é que a expressão “Lei de Deus” tem um sen-tido bastante abrangente e pode ter vários significados e aspectos bíblicos, sendo que ora é tomada em sentido

A Lei de Deus

Pr. Daniel Miranda Gomes7 de Setembroo de 2013

10TEXTO BÁSICO:

“Assim, a lei é santa; e o mandamento, santo, e justo, e bom”. (Rm 7:12)

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estrito, ora em sentido amplo. Lei é a tradução da pala-vra hebraica torah, e significa basicamente “Lei, orienta-ção, direção, apontamento, instrução”.127 A palavra torah também é usada muitas vezes no livro dos Salmos, onde o maior salmo da Bíblia elogia a Lei de Deus como sendo uma alegria e um deleite para aqueles que a obedecem (Sl 119). O livro inteiro de Deuteronômio é referido como “esta lei” (Dt 1:5; 32:46). Assim é que, via-de-regra, a palavra “Lei”, nas Escrituras, designa um ensinamento dado por Deus para regular a conduta do homem.

A Lei tem a sua origem em Deus. Em diferentes épocas na história da humanidade, ele proferiu diversas determinações e deveres para o homem. Sua vontade revelada constitui a sua Lei e ela representa o que é de melhor para o ser humano.

Após salvar o povo de Israel da anunciada destrui-ção (Êx 12:21-30) e livrá-lo da escravidão do Egito (Êx 12:31-42), por meio de sua graça e seu poder, Deus guiou o seu povo até o Monte Sinai (Êx 19:2). Ali, por meio de Moisés, ele entregou as suas leis para este povo liberto e redimido.128 A Lei constituía-se, então, em um código legal que tinha por objetivo prescrever a conduta religiosa e social do povo de Israel. E era natural que fosse assim, pois Deus estava organizando uma nação. A guarda dos mandamentos seria o diferencial em rela-ção às demais nações (Dt 4:7,8).129 Pode-se dizer que a Lei, dada a Israel sob a liderança de Moisés, foi o eixo central sobre o qual deveria circular toda a vida do povo escolhido por Deus.

A Lei é, por assim dizer, um meio de graça para revelar quem Deus era e como o seu povo deveria se

127 No Judaísmo, Torá é o nome dado aos cinco primeiros livros do Antigo Testa-mento, atribuídos a Moisés.128 SILVA, Genilson S. da (Ed.). O que cremos: nossas crenças ponto a ponto. Lições Bíblicas. Maringá, n. 293, 2010, p. 69.129 ALBUQUERQUE, Wesley Batista de. A Lei de Deus. Apostila de Estudos. Join-ville, 2013, p. 1.

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relacionar com ele, tendo em vista que ele é o criador e mantenedor de tudo e de todos. Sendo assim, por intermédio da Lei, o povo de Israel poderia conhecer ao Senhor, entender sua pessoa e caráter. A Lei demons-tra o quanto Deus é sábio, bom, justo e amoroso. A Lei manifesta a graça divina.130

OS TRÊS ASPECTOS DA LEI DE DEUS

Quando estudamos a Lei de Deus, de maneira mais detalhada, precisamos discernir os diversos aspec-tos apresentados na Bíblia sobre a mesma. Mesmo um exame superficial dos textos que falam sobre este assunto é capaz de mostrar como a Lei dada ao povo de Israel era ampla o bastante para cobrir uma vasta área de atividades.

De fato, muitos mal-entendidos e doutrinas erradas podem ser evitadas se compreendermos que a Pala-vra de Deus apresenta a Lei sob diferentes enfoques. Dependendo das circunstâncias e da ocasião em que foi dada, possui diferentes aspectos, qualidades ou áreas sobre as quais legisla. Assim, é importante observar o contexto em que cada Lei é dada, a quem é dada e qual o seu objetivo manifesto. Só assim poderemos saber a que estamos nos referindo quando falamos de Lei.131

A maioria dos teólogos de origem reformada sugere que a Lei do Antigo Testamento pode, significativamente, dividir-se em três aspectos:

1. Lei Cerimonial. Um aspecto muito importante na vida de Israel era o culto ao Senhor. Diversas leis que tratavam do ritual de culto e de purificação abrangiam os vários sacrifícios de animais e ritos cerimoniais que

130 ALBUQUERQUE, Wesley Batista de. Op., cit., p. 2.131 MEISTER, Mauro Fernando. Lei e graça: uma visão reformada. Fides Refor-mata, São Paulo, v. 4, n. 2, 1999, p. 3.

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deveriam ser praticados constantemente pelos israeli-tas. A lei cerimonial, portanto, compunha-se de diversos preceitos e de uma infinidade de normas, as quais se encontram registradas principalmente nos livros de Leví-tico, Números e Deuteronômio, tais como: as leis a res-peito do culto (Dt 12), leis contra a prática da idolatria (Dt 13), lei da abstinência (Dt 14; Lv 11), lei dos holocaustos (Lv 1), lei da purificação depois do parto (Lv 12), lei das impurezas do homem e da mulher (Lv 15), etc.

A maioria destas leis cerimoniais serviu como tipo ou sombra que apontava para o Messias (Hb 7-10). Vários textos do Antigo Testamento confirmam que os israeli-tas tinham concepção do significado espiritual desses ritos e cerimônias (Lv 20:25,26; Sl 26:6; 51:17; Is 1:16). E diversos textos do Novo Testamento diferenciam o aspecto cerimonial da lei e apontam para seu cumpri-mento em Cristo (Ef 2:14,15; Hb 7:26-28; 9:9-15; 10:1-12). O cumprimento da lei cerimonial em Cristo e o fato de que essas leis não são mais obrigatórias hoje são claramente ensinados no Novo Testamento (Ef 2:14,15; Cl 2:17; Hb 8:5; 9:9,10; 10:1).

A Confissão Batista de Londres de 1689 dá um resumo útil da lei cerimonial e sua relação com Cristo:

Além desta Lei, comumente chamada de Lei moral, Deus houve por bem dar leis cerimoniais ao povo de Israel, con-tendo diversas ordenanças simbólicas: em parte, de ado-ração, prefigurando Cristo, as suas graças, suas ações, seus sofrimentos, e os benefícios que conferiu; e, em parte, estabelecendo várias instruções de deveres morais. As leis cerimoniais foram instituídas com vigência tem-porária, pois mais tarde seriam ab-rogadas por Jesus, o Messias e único Legislador, que, vindo no poder do Pai, cumpriu e revogou essas leis.

Por conseguinte, segue-se definitivamente que as leis do Antigo Testamento relacionadas com a separação de Israel das nações e a sua vida na terra de Canaã foram

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ab-rogadas, visto que essas eram “ordenanças típicas” designadas somente até o “tempo da reforma” em Cristo e o estabelecimento da ordem da Nova Aliança nele.132

2. Lei Civil ou Judicial. O aspecto dessa lei abrange os preceitos dados a Israel para o governo do seu estado civil. Esta lei tinha a finalidade de regular a socie-dade civil do estado teocrático de Israel. Era temporal e necessária para a época à qual foi concedida, mas foi específica para aquele povo. Como tal, não é aplicável normativamente em nossa sociedade.

Nesse escopo, havia leis que regulamentavam, por exemplo, a herança dos filhos primogênitos (Dt 15:21-17), o castigo aos filhos rebeldes (Dt 21:18-21), a casti-dade e o casamento (Dt 22:13-30), o divórcio (Dt 24:1-4). Também havia leis que regulamentavam a vida eco-nômica, tais como a lei de pesos e medidas justas (Dt 25:13-19), lei da usura (Êx 22:25; 25:37). Havia leis que previam, inclusive, pena de morte para alguns delitos (Êx 21:12,15,17; 22:18,20; Lv 20:10-16,27).

Outra característica da lei de Israel, que frequente-mente é ignorada, é o aspecto humanitário que ela apre-senta. Estas leis incluíam proteção aos fracos, viúvas, órfãos, levitas e estrangeiros (Êx 22:21-24), justiça para com os pobres (Ex 22:25), generosidade por ocasião da colheita (Lv 19:9-10), o pagamento imediato de salários ganhos pelo trabalhador contratado (Lv 19:13), sensibili-dade para com as pessoas de quem se tomavam objetos como penhor (Ex 22:26,27), consideração para com as pessoas recém-casadas (Dt 20:5-7; 24:5) e até mesmo cuidado para com os animais, domésticos e selvagens, e com as árvores frutíferas (Dt 20:19,20; 22:6,7; 25:4).

3. Lei Moral. Diz respeito aos Dez Mandamentos (Êx 20:1-17). No texto hebraico, os Dez Mandamentos são chamados de “dez palavras” (`eser dabar - Êx 34:28). 132 EINWECHTER, William O. Ética e a lei de Deus: uma introdução à teonomia. Brasília, DF: Editora Monergismo, 2009, p. 57-58.

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Eles são de autoria divina. Uma obra inédita do próprio Deus. Foram proferidos pela boca de Deus (Êx 20:1; Dt 10:4) e escritos pelo dedo de Deus (Êx 31:18; Dt 4:13). Esta Lei reflete a natureza e perfeição moral de Deus. Uma vez que a natureza moral de Deus permanece inal-terável, sua Lei também o é, e ela é tão aplicável ao crente hodierno quanto o foi aos crentes aos quais foi dada. O cristão está justificado do poder condenador da Lei (Rm 8:1-3), mas ainda permanece sob sua ordem de obediência como guia para a vida reta diante de Deus (Rm 3:31; 1Co 6:9-20).

A validade dos Dez Mandamentos é contínua e a sua aplicação é universal. Eles valem para todos os tempos e devem ser pessoalmente obedecidos por todos que forem justificados gratuitamente, mediante a fé em nosso Senhor Jesus Cristo.133 Nós não somos salvos porque obedecemos à Lei de Deus, mas obedecemos à Lei de Deus porque já fomos salvos por Cristo Jesus.

Esta divisão da Lei em categorias se dá por razões pedagógicas, uma vez que a legislação mosaica foi registrada de maneira orgânica e não sistemática, ou seja, era vista como um todo pelo povo judeu. Podemos inferir que toda Lei divina tem um caráter moral, mas, no que tange a aspectos civis e cerimoniais, sua aplicabili-dade é temporal e limitada.134

Assim, dentro do contexto da Lei moral de Deus, toda a Lei foi dada com o intuito de ser primariamente uti-lizada pela nação israelita, mesmo que seu valor seja aplicável à humanidade. Verificamos ainda que, por explícita ordem de Deus, aspectos da aplicação civil e cerimonial cessaram com a vinda de Cristo, mas nunca o seu valor moral.

133 SILVA, Genilson S. da (Ed.). Op. cit., p. 70-71.134 ____. Confissão de Fé de Westminster. 10. ed. São Paulo: Cultura Cristã, 1987.

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CONTRASTE ENTRE LEI MORAL E CERIMONIAL

Há passagens das cartas de Paulo em que ele deixa claro que existe mais de uma Lei (Ef 2:15; Rm 3:31). O contraste entre as afirmações é nítido quando se chama a atenção para o fato de que nestes dois textos citados Paulo usou-se a mesma raiz grega para as palavras aqui traduzidas por “desfez” e “anulamos”. Esta raiz, katar-geo, significa “tornar inoperante”, “fazer cessar”, “afastar” alguma coisa, “anular”, “abolir”. A uma igreja Paulo afirma que a Lei foi desfeita, e a outra igreja, falando sobre a anulação da Lei, ele exclama: “de maneira nenhuma” (“Deus nos livre” é o sentido original). Obviamente Paulo deve estar falando de duas leis diferentes.135

Vejamos, abaixo, alguns aspectos dessas duas leis.1. A Lei Moral (Êx 20:1-17). A Lei Moral, os Dez

Mandamentos, chamamos de Lei de Deus. Os prin-cípios desta Lei são a base do governo de Deus. Foi escrita pelo “dedo de Deus” em duas “tábuas de pedra” (Êx 31:18), denotando, com isso, sua autoria e tempo de duração (eterna). É denominada por Tiago de “a lei real” (Tg 2:8). Ela era guardada dentro da Arca da Aliança, a qual foi vista por João, na sua visão, no templo de Deus (Êx 40:20; Ap 11:19). Esta Lei não é anulada pela fé (Rm 3:31).

A Lei Moral, expressa nos Dez Mandamentos, foi escondida dentro da arca da aliança, como se esti-vesse aguardando ali até que chegasse o dia em que seu esconderijo fosse exposto, e o véu que a escondia fosse rasgado pelo meio, na ocasião da morte do Filho de Deus. Essa morte verdadeiramente aboliu e destituiu de toda e qualquer honra os mandamentos rituais e car-nais de uma dispensação desgastada e ultrapassada.

135 NICHOL, Francis D. Respostas a objeções. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2004, p. 3-4.

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Ela ainda confirmou e magnificou a Lei dos Dez Manda-mentos como uma Lei que não pode jamais ser alterada nem abolida, exatamente porque o Filho de Deus preci-sou morrer para cumpri-la.136

2. A Lei Cerimonial (Ef 2:15; Cl 2:14). A Lei Cerimo-nial continha sete sábados semanais (Lv 23:27; 23:32); foi desfeita por Cristo em seu sacrifício (Cl 2:14). Foi escrita por Moisés num livro, o qual foi colocado ao lado da Arca da Aliança (Dt 31:9,24-26), denotando com isso a temporalidade da lei. A Lei Cerimonial “nunca aper-feiçoou coisa alguma” (Hb 7:19). Esta lei consistia “em comidas, e bebidas, e diversas abluções, impostas até ao tempo oportuno de reforma” (Hb. 9:10). Destinava--se a chamar a atenção para a primeira vinda de Jesus. Com a sua morte, essa lei foi “cravada na cruz”, pois era transitória (Hb 10:1).

A NATUREZA DA LEI DE DEUS

A Escritura define a natureza da Lei de Deus de uma forma que sugere mui fortemente sua validade contínua até hoje. Isso pode ser visto a partir de vários ângulos.

1. A Lei tem a sua origem em Deus. Singular à Lei de Deus é que ela foi pessoalmente escrita pelo dedo de Deus: “Quando o Senhor terminou de falar com Moisés no monte Sinai, deu-lhe as duas tábuas da aliança, tábuas de pedra, escritas pelo dedo de Deus” (Ex 31:18, NVI; cf. Ex 32:16; Dt 4:13; 9:10; 10:4). A origem extraor-dinária da Lei sugere seu caráter santo.137

2. A Lei reflete o caráter de Deus. Quando ana-lisamos as representações bíblicas do caráter da Lei de Deus, logo descobrimos que as mesmas atribuições

136 BANNERMAN, James. O momento do culto público e o sábado cristão. São Paulo: Ed. Os Puritanos, 2012, p. 11.137 GENTRY JR, Kenneth L. A lei de Deus no mundo moderno: a relevância con-tínua da lei do Antigo Testamento. Brasília: Publicações Monergismo, 2008, p. 27.

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morais aplicadas a ela são também usadas em referên-cia ao próprio ser de Deus. Deus é bom (Mc. 10:18); a Lei é boa (Rm 7:12,16). Deus é santo (Is 6:3); a Lei é santa (Rm 7:12). Deus é perfeito (Mt 5:48); a Lei é perfeita (Tg 1:25). Deus é espiritual (Jo 4:24); a Lei é espiritual (Rm 7:14). Deus é reto (Dt 32:4); a Lei é reta (Rm 2:26; 8:4). Deus é justo (Dt 32:4); a Lei é justa (Rm 7:12).

3. A Lei reside no próprio cerne do novo pacto. No livro do profeta Jeremias, o Senhor diz que chegaria o dia em que faria uma nova aliança com Israel e Judá, e que nesse tempo ele gravaria as suas Leis no coração e na mente do povo de Israel. O novo pacto foi executado com o estabelecimento da Ceia do Senhor, um pouco antes da crucificação de Cristo (Mt 26:28; Mc 14:24; Lc 22:20; 1Co 11:25; Hb 8:6-13). Vivemos hoje sob a nova administração pactual da redenção e somos lembra-dos disso todas as vezes que participamos da Ceia do Senhor.

A revelação da Lei, no contexto da aliança redentora, indica que a conformidade com a Lei é uma realização salvadora da graça de Yahweh, que livra da escravidão.138 Portanto, a Lei de Deus, para ser corretamente enten-dida, precisa ser assim considerada. Ela não é a con-dição primária para o estabelecimento da Aliança. Pelo contrário, ela é condição consequente do ato redentor. Primeiro Deus salva, depois mostra como salvos devem viver. Quem foi salvo pela graça de Deus, portanto, não está livre de obedecer à Lei de Deus. O salvo, na ver-dade, veio a “receber a graça [...] para a obediência por fé” (Rm 1:5). O primeiro desejo de Deus é que a pessoa salva seja, por meio da graça, obediente aos seus man-damentos (Jo 14:15; 1Jo 2:4; 3:24).

138 DOUGLAS, J. D. (org.). O novo dicionário da Bíblia. São Paulo: Vida Nova, 1995, p. 416.

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OS PROPÓSITOS DA LEI

Quando lemos do propósito da Lei na Escritura, não há nada que pareça torná-la inapropriada para os nossos dias. Na verdade, há tudo para recomendá-la aos cristãos modernos.

1. A Lei define o pecado. O que o cristão é chamado a resistir é o pecado. A Lei é essencial para a nossa luta contra o mal, visto que ela define o que é pecado: “Todo aquele que pratica o pecado também transgride a Lei, porque o pecado é a transgressão da Lei” (1Jo 3:4). Paulo diz que o pecado não pode ser imputado se não houver Lei (Rm 5:13). Nessa mesma linha, ele diz: “De fato, eu não saberia o que é pecado, a não ser por meio da Lei. Pois, na realidade, eu não saberia o que é cobiça, se a Lei não dissesse: Não cobiçarás” (Rm 7:7, NVI).

2. A Lei aponta o pecado. A Lei “foi adicionada por causa das transgressões” (Gl 3:19). A Lei Moral foi dada por Deus para dar ao pecado o caráter de transgressão (Rm 4:15; 7:7,8). Ela torna claro o que é pecado, espe-cificando as transgressões. A Lei também carrega com ela a penalidade de sua infração, mostrando claramente as consequências destrutivas da conduta iníqua. Assim, a Lei prova conclusivamente a natureza pecadora do homem (Rm 3:20).

3. A Lei conduz as pessoas a Cristo. Pelo fato de a Lei julgar severamente o pecado, deixando os homens expostos à ira de Deus, e pelo fato de a Lei não poder salvar, ela conduz-nos a Cristo: “De maneira que a Lei nos serviu de aio, para nos conduzir a Cristo, para que pela fé fôssemos justificados” (Gl 3:24). Nós sustenta-mos que a guarda da Lei nunca poderá salvar alguém. Na verdade, ela faz com que os pecadores se deses-perem com a sua justiça própria, de forma que possam buscar a justiça em Cristo, o Senhor, o qual, por meio

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de sua morte na cruz, proveu a justificação pela fé como realidade histórica (Rm 5:15-18).

4. A Lei guia à santificação. A Lei foi dada para con-duzir o povo de Israel à santificação (Lv 20:7,8). A Lei não tem o poder de santificar; isso é atribuído ao minis-tério do Espírito Santo à medida que ele age no evan-gelho. Mas a Lei apresenta o padrão de comportamento justo ordenado por Deus e, portanto, fornece uma norma objetiva para o cristão cheio do Espírito, de forma que possa conhecer o que Deus espera dele (Rm 8:3,4). Um dos principais atributos de Deus é a santidade. O Deus, que é santo, quer que seu povo também seja santo (1Pd 1:15,16).

UMA PALAVRA FINAL

A Lei é a revelação do caráter de Deus. E como Deus não se torna obsoleto, caduco ou ultrapassado, o mesmo procede com os seus mandamentos. Os homens criados à sua imagem e semelhança devem praticá-los. É cor-reto afirmar que pela observância da Lei ninguém será salvo. Pode-se dizer que, na visão de Paulo, ela tem o objetivo de apontar para Cristo, o único que pode salvar, “porque a finalidade da Lei é Cristo para a justificação de todo aquele que crê” (Rm 10:4, BJ). Por ela todos são instruídos a não pecar. Instruídos a saber o que provoca a ira de Deus. Instruídos a viver uma vida santa, justa e piedosa.139

Necessitamos encontrar o papel da Lei na nossa vida diária e descobrir nela a misericórdia e graça de Deus para cada um de nós. Ela aponta a trilha correta a ser seguida, em nossa vida, e representa a expressão con-creta do nosso amor para com ele.

139 ALBUQUERQUE, Wesley Batista de. Op. cit., p. 6.

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Devemos reconhecer que a Lei de Deus enfatiza tanto a sua santidade como a nossa insuficiência perante ele. É verdade que não podemos conseguir a salvação pela prática da Lei. É igualmente verdade, entretanto, que demonstramos amor quando obedecemos aos manda-mentos de Deus (Jo 14:15,21). Além disso, temos na Lei o caminho traçado por Deus para demonstrarmos amor a ele e ao nosso próximo. Não podemos conseguir a sal-vação seguindo leis, mas não devemos desprezar essa dádiva graciosa de Deus para nossa instrução.

PERGUNTAS PARA DISCUSSÃO EM CLASSE

1. De acordo com o que você aprendeu, responda: Quais são os significados da palavra “Lei”? O que é a Lei de Deus?

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________2. É possível estabelecer uma relação entre Lei e graça? Antes de entregar formalmente as suas leis ao seu povo, no monte Sinai, o que Deus fez? (Êx 20:1,2)

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4. Explique para a classe o que você aprendeu sobre a natureza e o propósito da Lei de Deus.

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________5. O que a palavra de Deus no ensina sobre a autoria dos dez mandamentos? O que eles nos revelam sobre o caráter de Deus? (Êx 20:1; 31:18)

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________6. O que podemos dizer sobre o conteúdo, a aplicação e a validade dos Dez Mandamentos para os nossos dias?

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________7. Os judeus acrescentaram muitas tradições à Lei dada por Deus. Você acha que o mesmo tem acontecido entre os cristãos? Como viver a vida cristã com santidade, porém, sem cair no legalismo? Explique sua resposta.

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Domingo – Deuteronômio 7:25-26

Nesse texto o Senhor ordena ao povo de Israel que destrua todos os ídolos e que não fique com nada que estivesse relacionado com a idolatria. O nosso Deus, como um Pai amoroso, ordena isso para nos preservar. Nós sabemos que o nosso adversário só precisa de uma pequena brechinha para fazer um grande estrago em nossa vida. Então, se os judeus tivessem guardado o ouro ou prata, eles teriam aberto essa brechinha. E nós? Quais são os ídolos que precisamos destruir e tirar da nossa vida e de nossa casa? Quais são as brechas que temos aberto ao nosso adversário? Vamos pedir ao Espírito Santo que nos mostre tudo o que precisamos limpar da nossa vida, e, assim, fechar as brechas.

Segunda-feira – Isaías 44:9-20

Todas as pessoas têm necessidade de adorar um “deus” que seja mais poderoso do que os seres huma-nos. Nessa busca por esse “ser poderoso”, elas come-tem muitos equívocos. Um deles é quando o próprio ser humano cria um deus feito de matéria-prima provinda da natureza, o que não faz sentido, pois o ser humano não tem condições e recursos para criar um ser divino ou um ser superior a ele. O problema é que essa adoração vai para Satanás. Portanto, se adoramos alguma coisa que não seja o Deus Verdadeiro, temos no mínimo dois pro-blemas: primeiro, estamos inferiorizando a nossa capaci-dade de raciocínio; e, segundo, estamos prestando ado-ração ao nosso inimigo.

Terça-feira – Isaías 45:20,21

Muitas vezes preferimos seguir a outros deuses, pois podemos conduzi-los de acordo com a nossa vontade.

Daisy Moitinho

MEDITAÇÕES BÍBLICAS DIÁRIAS

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Embora o ser humano necessite adorar a um deus, ele quer continuar no trono da direção da sua vida. Quando servimos ao nosso Deus, damos a ele este trono e nos tornamos totalmente dependentes da vontade dele. Talvez isso pareça estranho no começo, mas com o passar do tempo reconhecemos que é muito melhor deixá-lo gover-nar. Nós sabemos que esses deuses por si mesmos não fazem nada pelos seus adoradores. Precisamos avaliar a nós mesmos para ver se estamos adorando a um deus que nós podemos conduzir ou ao único Deus vivo e ver-dadeiro, que nos conduz.

Quarta-feira – Jeremias 44:17-26

Os israelitas conheciam ao Senhor, mas começaram a adorar aos deuses das nações vizinhas. É interessante notar a reclamação deles dizendo que depois de terem parado de adorar a rainha do céu, a vida deles piorou muito. Eles estavam colhendo o que eles mesmos tinham plantado. Quantas vezes nós paramos de praticar coisas erradas, mas ao invés de a vida melhorar, ela piora? Temos de nos lembrar de que tudo o que fazemos tem uma consequência, que pode ser boa ou ruim. O Senhor, em Deuteronômio 28, recomendou ao seu povo que esco-lhesse obedecer, que é o melhor caminho. Hoje somos livres para tomar decisões. Porém, uma vez tomadas, receberemos os frutos gerados por essas decisões.

Quinta-feira – Romanos 1:21-23

Não gostamos de fazer alguma coisa e ver outra pessoa recebendo o crédito por isso. Se nós que somos humanos imperfeitos não gostamos, imagina o nosso Deus! Paulo enfatiza que quem adora outra coisa que não seja o Deus Verdadeiro é tolo. Podemos pensar que Paulo estava sendo muito radical. Mas ele não estava, pois, se analisarmos bem, quando uma pessoa adora algo que não seja o Deus de Israel, ela está dando crédito

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a algo que não merece. Consequentemente, esta pessoa não pode ser considerada sábia. E nós? Será que temos cometido esse erro? Será que temos agradecido e dado toda glória a Deus ou temos dado glória e agradecido a outros “deuses”?

Sexta-feira – Lucas 16:13

O pecado da idolatria também é considerado como prostituição: “E prostituíram após outros deuses e encur-varam-se a eles” (Jz 2:17). Quando decidimos seguir a Jesus, nós fazemos uma aliança com ele. Todas as vezes que adoramos outras coisas, estamos nos prostituindo espiritualmente. É como em um casamento. Mas quais seriam esses outros deuses que podemos ter em nossa vida? Embora nós não tenhamos imagens de escultura, nós podemos adorar um carro, um vício, o dinheiro, um cantor, um ator, uma pessoa, um animal, uma filosofia, a nossa carreira profissional etc. “Ninguém pode servir a dois senhores”, disse Jesus. Precisamos verificar nossa vida para certificarmo-nos de que não temos servido a mais de um senhor.

Sábado – Êxodo 20:3-6

Nós sabemos que toda adoração que não é destinada ao Senhor automaticamente vai para Satanás. O Senhor Jesus não quer ver as pessoas sofrendo, sendo engana-das, maltratadas e escravizadas. Ele deseja que todos possam ter paz e alegria verdadeiras. Este mandamento nos foi dado para que não sejamos escravos de um deus tirano, cruel, que não se importa com os seus seguidores. Mais uma vez o Senhor prova o seu amor e cuidado para conosco. Como é maravilhoso servir a esse Deus! Que a cada dia nós possamos nos conscientizar de que não vale a pena servir a outros deuses, porque nada se compara ao amor que só Jesus Cristo nos oferece.

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INTRODUÇÃO

Ao olharmos os ensinos bíblicos e a Lei do Senhor, encontramos de início a afirmação ao povo que deseja ser propriedade exclusiva de Deus, que deseja servir amorosamente àquele que os libertou do cativeiro, da escravidão e da manipulação religiosa: “Não terás outros deuses diante de mim” (Êx 20:3). O desafio deste mandamento da Lei Moral era promover a libertação do povo com relação à idolatria e a toda forma de culto que pudesse macular a vida daqueles que foram libertos e resgatados pelo único Deus, vivo e verdadeiro.

Em nosso estudo de hoje veremos o porquê do pecado da idolatria ser tão ofensivo a Deus. E, também, veremos o quanto a idolatria é sorrateira, altamente camuflável, chegando ao ponto de fisgar até mesmo os cristãos.

DEFINIÇÃO DE IDOLATRIA

O que é um ídolo? Ídolo é uma imagem, uma repre-sentação de algo ou um símbolo que seja objeto de devoção passional, quer material, quer imaginado. De modo geral, idolatria é a veneração, o amor, a adora-ção ou reverência a um ídolo. É geralmente praticada

O Pecado da Idolatria

Pr. Daniel Miranda Gomes14 de Setembroo de 2013

11TEXTO BÁSICO:

“Não terás outros deuses diante de mim”. (Êx 20:3)

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para com um poder superior, real ou imaginário, quer se creia que tal poder tenha existência animada (como um humano, um animal ou uma organização), quer ele seja inanimado (como uma força ou um objeto sem vida da natureza). A idolatria geralmente envolve alguma forma-lidade, cerimônia ou ritual.140

No Antigo Testamento, as palavras hebraicas utili-zadas para se referir a ídolos não raro sublinhavam a sua origem e inerente inutilidade, ou então eram termos depreciativos. Entre estes, há palavras traduzidas por “imagem esculpida ou entalhada” (literalmente: algo esculpido); “estátua, imagem ou ídolos fundidos” (lite-ralmente: algo lançado ou despejado); “ídolo horrível”; “ídolo vão” (literalmente: futilidade); e “ídolo sórdido”.141 No Novo Testamento, “ídolo” é a tradução usual da pala-vra grega eídolon e significa “imagem” ou “falso deus”.

É bom que se diga que nem todas as imagens são ídolos. O mandamento para não fazer imagens não proi-bia a fabricação de toda e qualquer representação e estátua (Êx 20:4,5). Isto é indicado pela ordem poste-rior, quando o próprio Deus mandou que os israelitas fizessem dois querubins de ouro para a arca do pacto e que bordassem representações dessas criaturas espi-rituais nos dez panos de tenda da cobertura interna do tabernáculo e na cortina que separava o Santo do Santíssimo (Êx 25:1,18; 26:1,31-33). Apenas os sacer-dotes oficiantes viam essas representações no interior do tabernáculo, as quais serviam primariamente como símbolo dos querubins celestes (Hb 9:24,25). É evidente que as representações de querubins no tabernáculo não se destinavam a ser veneradas, visto que os próprios anjos não aceitavam adoração (Ap 19:10; 22:8,9).

Para Agnaldo Faissal, idolatria é tudo aquilo que “pode ser aplicada a toda forma de adoração, reverên-

140 ___. Estudo perspicaz das Escrituras, v. 2. São Paulo: STV, 1990, p. 364.141 KIRST, Nelson et. al. Dicionário Hebraico-Português & Aramaico-Português. 11ª ed. São Leopoldo: Sinodal; Petrópolis: Vozes, 2000.

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cia, prestação de serviço sagrada a objetos, pessoas, instituições ou qualquer outra coisa que tome o lugar de Deus ou que diminua a honra que lhe devemos prestar”.142 Idolatria, no sentido deste estudo, é o desvio da verdadeira adoração a Deus.

VISÃO BÍBLICA SOBRE A IDOLATRIA

O segundo mandamento da Lei Moral proíbe duas coisas: fazer imagens para fins de adoração e, existindo imagens previamente feitas por alguém, prostrar-se diante delas e prestar-lhes culto (Êx 20:4-6). Além disso, este mandamento estabelece a espiritualidade e santi-dade de Deus como verdades fundamentais que devem ser a essência do verdadeiro culto.

Este mandamento foi estabelecido por Deus acom-panhado de uma séria advertência. Deus é zeloso em exigir exclusividade na adoração e culto puramente espi-ritual. E esse zelo o leva a punir a maldade dos pais nos filhos até a terceira e quarta gerações (Êx 20:5). Ao fazer tal advertência, Deus quis chamar a atenção dos pais para a sua extrema responsabilidade, mostrando-lhes que sua infidelidade a ele traria consequências danosas para suas futuras gerações.

Nas Escrituras, mencionam-se repetidas vezes os falsos deuses e os ídolos com termos de desprezo, como sendo imprestáveis ou inúteis (1Cr 16:26; Sl 96:5; 97:7), horríveis (1Re 15:13; 2Cr 15:16), impudência ou cousa vergonhosa (Jr 11:13; Os 9:10), detestáveis ou abomináveis (Ez 16:36,37) e repugnantes (Ez 37:23). Frequentemente a Bíblia faz menção aos “ídolos sórdi-dos”, sendo esta expressão uma tradução da palavra hebraica gillul, que é da mesma raiz hebraica da palavra galal, que, por sua vez, significa “esterco” (1Rs 14:10; Sf

142 CARVALHO, Agnaldo Faissal J. O problema da idolatria. Religiões & Religiosi-dade, São José dos Campos, n. 10, p.45-50, 2009.

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1:17). Este termo de desprezo, que aparece inicialmente em Levítico 26:30, é encontrado cerca de 40 vezes apenas no livro de Ezequiel. A idolatria ainda é descrita na Bíblia como uma abominação a Deus (Dt 7:25,26), coisa odiosa a Deus (Dt 16:22; Jr 44:3,4), sem proveito (Is 46:7), irracional (At 17:29), contaminadora (Ez 20:7; 36:18).

O próprio Deus nos leva a uma análise crítica sobre a idolatria, mostrando-nos como pode um ser tão inteli-gente, como o homem, adorar “coisas” feitas de madeira, pedra ou metal! Ele faz afirmações contundentes sobre os ídolos, dizendo que: a) eles não têm serventia alguma (Sl 115:4-8; 135:15-18); b) não têm vida nem sentidos (Sl 115:4-8); c) servem para confundir e envergonhar (Sl 97:7); d) são feitos por homens fracos e mortais (Is 40:19,20); e) são feitos de materiais comuns e perecí-veis (Is 37:19; 44:9-20); f) demonstram a insensatez do homem (Is 45:20). Deus condena claramente a procissão de imagens de escultura (Is 45:20), e ainda afirma que a imagem é mentira, pois não há vida nelas (Jr 51:17,18).

No tempo do profeta Jeremias, os homens se ajo-elhavam diante das imagens e adoravam-nas (Jr 1:16; 7:18). Entre estas, havia a imagem de uma mulher com um menino no colo (Jr 44:17-26). O nome da mulher era Semíramis, conhecida como “rainha dos céus”, e o nome do menino era Tamúz. Segundo a lenda, Semíramis foi uma rainha que reinou sobre a Pérsia, Assíria, Armênia, Arábia, Egito e toda a Ásia, por mais de 42 anos, e que também fundou Babilônia e seus jardins suspensos. De acordo com a lenda, ela não morreu, mas foi ascendida ao céu em forma de pomba, após entregar a coroa ao seu filho Tamuz. Com a “conversão” do Império Romano ao Cristianismo, mudou-se o nome da mulher e também do menino para Maria e Jesus, mas a imagem continuou sendo a mesma. Até hoje é sustentada, pela tradição, a cor das vestes da rainha do céu (Jr 10:1-15).

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De acordo com o apóstolo Paulo, a idolatria conduz o ser humano a um raciocínio fútil, porque a mente fica obscurecida. Por reprimir a verdade de que Deus existe, o ser humano acaba ficando sem um deus; mas faz parte da constituição humana a necessidade de adora-ção. Se não adora ao Deus verdadeiro, adorará um deus falso, mesmo que ele próprio tenha de confeccioná-lo! Esse fato explica a tendência humana de se entregar à idolatria. O ser humano troca a glória do Deus verda-deiro por deuses substitutos que ele próprio faz. Coloca a vergonha no lugar da glória, a corruptibilidade no lugar da incorruptibilidade, as mentiras no lugar da verdade. É importante observar que o primeiro item da lista de falsos deuses é o próprio homem, que cumpre, assim, o propósito de Satanás ao dizer a Eva: “como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal” (Gn 3:5). Satanás enco-rajou o homem a exaltar a si mesmo. Em vez de os seres humanos reconhecerem que foram feitos à imagem de Deus, fazem deuses para si à sua própria imagem e se rebaixam a ponto de adorar aves, insetos e outros ani-mais! (Rm 1:21-23).143

Paulo e Barnabé, após terem efetuado um milagre de cura, recusaram a adoração por parte da sociedade de Listra (At 14:8-18). O apóstolo Pedro também recusou adoração, por também ser homem (At 10:25,26). Os pró-prios anjos de Deus não aceitaram adoração humana (Ap 22:8,9). Os fabricantes de imagens consideravam o cristianismo uma ameaça a seu lucrativo negócio (At 19:23-27). Assim, com relação à idolatria, os cristãos devem resguardar-se dela (Js 23:7) e não ter pacto com os idólatras (Êx 34:16). Os servos do Senhor precisam resguardar-se dos ídolos (1Pd 4:3; 1Jo 5:21), até mesmo hoje em dia.

143 WIERSBE, Warren W. Comentário bíblico expositivo: Novo Testamento, v. 1. Santo André: Geográfica Editora, 2006, p. 675.

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PRIMÓRDIOS DA ADORAÇÃO DE ÍDOLOS

NA HISTÓRIA BÍBLICA

A idolatria é um pecado que o povo de Deus, através da sua história no Antigo Testamento, cometia repetida-mente. Senão, vejamos:

1. Idolatria antediluviana. A idolatria teve seu início, não no domínio visível, mas no invisível. Satanás, quando ainda no céu, cobiçou o lugar de Deus, e a idolatria fez com que ele pecasse (Is 14:12-14; Ez 28:13-15,17). Semelhantemente, Eva se constituiu na primeira idólatra humana por cobiçar o fruto proibido, desejo errado que a levou a desobedecer à ordem de Deus, na ânsia de querer ser “como Deus” (Gn 3:1-7). Desde a rebelião no Éden, apenas uma minoria da humanidade tem perma-necido isenta da idolatria.

O registro bíblico não revela até que ponto a idola-tria era praticada pelos primeiros povos, mas a situação deve ter-se deteriorado progressivamente, pois, nos dias de Noé, “o Senhor viu que a perversidade do homem tinha aumentado na terra e que toda a inclinação dos pensamentos do seu coração era sempre e somente para o mal” (Gn 6:5, NVI). As descobertas arqueológicas demonstram que nos dias de Noé, os homens erigiam os altares dos seus ídolos e cultuavam a deuses falsos, esforçando-se para representarem Deus por meio de objetos materiais. De fato, “a terra estava corrompida aos olhos de Deus e cheia de violência” (Gn 6:11-13, NVI).

2. Idolatria nos tempos patriarcais. Embora o Dilú-vio nos dias de Noé destruísse todos os idólatras huma-nos, a idolatria surgiu de novo, despertada por Ninrode, que é descrito como “o primeiro homem poderoso na terra” (Gn 10:8, NVI). Por meio de seu comando, iniciou--se a construção de Babel e de sua torre, provavel-mente para ser usada na adoração idólatra, plano este que foi frustrado por Deus (Gn 11:1-9,27,28). Também

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em Ur dos Caldeus, cidade de Tera, pai de Abraão (Gn 11:27,28), a idolatria era praticada por seus moradores (Js 24:2). Labão, sogro de Jacó, neto de Abraão, tinha terafins, ou deuses da família (Gn 31:19,31,32). O pró-prio Jacó achou necessário instruir sua casa a livrar-se de todos os deuses estrangeiros e escondeu os ídolos que lhe foram entregues (Gn 35:2-4).

3. Idolatria nos tempos da Lei. Por terem vivido mais de 400 anos no Egito, o povo de Israel entrou em contato com a idolatria naquele país (Dt 29:16-20). A Lei que Deus dera a seu povo, depois de libertá-lo do Egito, foi explicitamente dirigida contra as práticas idólatras tão predominantes entre os povos antigos. O segundo dos Dez Mandamentos proibia expressamente que se fizesse, para adoração, uma imagem esculpida ou uma representação de qualquer coisa nos céus, na terra ou nas águas (Êx 20:1-6; Dt 5:8,9). Moisés ainda afirmou sobre a impossibilidade de se fazer uma imagem do Deus verdadeiro e avisou ao povo sobre o laço da ido-latria (Dt 14:15-19). Todos os acessórios da idolatria – altares, colunas sagradas, postes sagrados e imagens esculpidas – deviam ser destruídos (Dt 7:2-5).

Josué, sucessor de Moisés, ajuntou todas as tribos de Israel em Siquém e admoestou-as a remover os falsos deuses, bem como a servir fielmente ao Senhor Deus (Js 24:14,15). O povo concordou em fazer isso, e “Israel serviu ao Senhor durante toda a vida de Josué e dos líderes que sobreviveram depois dele” (Js 24:16,31).

4. Idolatria sob o governo dos reis. Durante os rei-nados de Saul, primeiro rei de Israel, de Is-Bosete, seu filho, e de Davi, não se menciona idolatria em grande escala por parte dos israelitas. Não obstante, há indícios de que a idolatria ainda subsistia naquele reino. A pró-pria filha de Saul, Mical, por exemplo, possuía um tera-fim (1Sm 19:13). Entretanto, na última parte do reinado de Salomão, filho de Davi, a idolatria começou a ser

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crassamente praticada, sendo que o próprio monarca, influenciado por suas esposas estrangeiras, sancionou--a. Construíram-se altares para Astorete, Quemós e Milcom ou Moloque. O povo em geral sucumbiu à adora-ção falsa e começou a curvar-se diante destes deuses--ídolos (1Rs 11:3-8, 33; 2Rs 23:13).

Devido à idolatria, o Senhor tirou dez tribos de Roboão, filho de Salomão, e deu-as a Jeroboão (1Rs 11:31-35; 12:19-24). Embora se lhe assegurasse que seu reino permaneceria firme caso continuasse ser-vindo fielmente a Deus, Jeroboão instituiu a adoração do bezerro, receando que o povo se revoltasse contra sua regência se continuasse subindo a Jerusalém para adorar (1Rs 11:38; 12:26-33). A idólatra adoração do bezerro continuou por todos os dias do reinado das dez tribos. Durante o reinado de Acabe foi introduzida a ado-ração a Baal (1Rs 16:30-33).

No reino de Judá, a situação não era muito diferente, salvo as reformas efetuadas por certos reis. Roboão, filho de Salomão, nada fez para evitar a idolatria. E, assim, ele e todo Judá apostataram (2Cr 12:1). O povo construiu para si altares idólatras, colunas sagradas e postes sagrados, e passou a praticar a prostituição ceri-monial (1Rs 14:21-24).

FORMAS DA IDOLATRIA

Os atos de idolatria, mencionados na Bíblia, incluem diversas práticas revoltantes, tais como:

1. Prostituição cerimonial, o sacrifício de crianças, a bebedice e a autoflagelação, a ponto de sangrar (1Rs 14:22-24; 18:28; Jr 19:3-5; Os 4:13,14; Am 2:8).

2. Veneração dos ídolos, partilhando com eles a comida e a bebida em festividades ou cerimônias em sua honra (Êx 32:6; 1Co 8:10).

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3. Curvar-se e oferecer sacrifícios aos ídolos, por meio de cânticos e danças diante de destes, e até mesmo beijá-los (Êx 32:8,18-20; 1Rs 19:18; Os 13:2).

4. Preparar uma mesa com alimentos e bebidas para os falsos deuses, fazer ofertas de bebidas, de bolos sacrificiais e de fumaça (incenso) sacrificial, e chorar em cerimônia religiosa (Is 65:11; Jr 7:18; 44:17; Ez 8:14).

5. Adoração de corpos celestiais (astrologia), tais como a lua, o sol e as estrelas (Ez 8:16; Dt 4:15,19; 17:2,3; 2Rs 17:16).

6. Adoração de animais, anjos, demônios e homens (Sl 106:19,20,28; Cl 2:8; Ap 9:20).

7. Fazer o filho passar pelo fogo, consultar adivinhos (búzios, tarô, sortes etc.), prognosticador (astrologia), agoureiros e feiticeiros; procurar encantadores, mágicos e necromantes (Dt 18:10-14).

AS CONSEQUÊNCIAS DA IDOLATRIA

A não obediência à Lei de Deus traz sérios danos à humanidade. Vejamos:

1. Desvia-se da verdadeira adoração a Deus. Jesus disse que “Deus é espírito” (Jo. 4:23,24). Portanto, ele não pode ser representado por figuras de animais nem de homens. Adorar a Deus, segundo Jesus, deve envolver nossos sentimentos, emoções e verdade.

2. Presta-se culto aos demônios. O apóstolo Paulo afirma que a comida dos ídolos e os ídolos não repre-sentam realidades, mas que os demônios são reais (1Co 10:14,19-22). Quando as pessoas pensam que estão sacrificando aos ídolos (deuses), na verdade, estão sacrificando aos demônios. Os primitivos cristãos foram, então, exortados a fugir desta forma de idolatria (At 15:20,29; 21:25; 1Jo 5:21).

3. Desfaz-se do verdadeiro mediador entre o homem e Deus. Havia uma doutrina herética, no pri-

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meiro século, que ensinava que havia muitos intermedi-ários entre Deus e o homem. Até hoje há muitos cristãos que creem na intercessão dos “santos” no céu, junto a Deus. Paulo salientou, porém, que há um só Mediador entre Deus e os homens – aquele que morreu pelos pecados de todos – Cristo Jesus, nosso Senhor (1Tm 2:5).

4. Não se herda o Reino dos Céus. O apóstolo Paulo, em sua primeira carta aos Coríntios, relaciona dez tipos de pessoas imorais, que procuram o estilo de vida mundano e que não possuem nenhum desejo de se elevar moralmente de sua degradação; entre esses, relaciona os que adoram ídolos (1Co 6:9,10). As pes-soas que se contentam em continuar nessa vida não herdarão o reino de Deus (Ap 21:8).

UMA PALAVRA FINAL

Desde os tempos antigos até os dias de hoje, a ido-latria constitui-se em uma afronta ao verdadeiro Deus. Os tempos mudaram, mas a natureza do homem per-manece a mesma. A inclinação da natureza carnal é pela prática da idolatria, pela criação de seus próprios “deuses”. É lamentável saber que ainda hoje animais, homens, a natureza e o próprio Satanás sejam adora-dos!

No meio cristão pode-se constatar formas disfarçadas de idolatria, a exemplo da desmedida importância dada a certos valores como o dinheiro, a fama, as ambições pessoais; valores estes que acabam sendo transforma-dos em verdadeiros “deuses”, que são entronizados no coração de adoradores, os quais, na teoria, dizem-se monoteístas, mas na pratica são autênticos politeístas. O Senhor Jesus deixou-nos o seguinte alerta: “Ninguém pode servir a dois senhores, porque há de odiar um e

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amar o outro ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom” (Mt 6:24).

PERGUNTAS PARA DISCUSSÃO EM CLASSE

1. Com suas palavras responda: O que é um ídolo? O significa idolatria? Todas as imagens de escultura cons-tituem ídolos? Por quê? (Êx 20:4,5; 25:1,18; 26:1,31-33)

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________2. Quais são as duas ordens proibitivas do segundo mandamento da Lei de Deus? Quais são as consequên-cias da desobediência a este mandamento? (Êx 20:4-6)

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________3. Onde começou a prática da idolatria? De que maneira ela se propagou pela Terra? (Is 14:12-14; Ez 28:13-15,17; Gn 3:1-7)

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________4. A Escritura, por diversas vezes, faz menção aos falsos deuses e ídolos com termos de desprezo. Cite e comente alguns deles. (1Cr 16:26; 1Re 15:13; Jr 11:13; Ez 16:36,37; 37:23)

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________5. O que a Bíblia diz sobre os “ídolos” fabricados pelo idólatra? (Sl 97:7; 115:4-8; 135:15-18; Is 37:19; 40:19,20; 44:9-20; 45:20; Jr 51:17,18)

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________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________6. Que deusa era adorada nos dias do profeta Jeremias? Ela ainda é adorada em nossos dias? De que maneira? Faça uma pesquisa e responda o que você descobriu sobre ela. (Jr 10:1-15; 44:17-26)

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________7. O que a prática de idolatria revela sobre o adorador? (Rm 1:21-23)

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________8. Os santos apóstolos e anjos aceitaram ser adora-dos pelas pessoas? Por quê? (At 10:25,26; 14:8-18; Ap 22:8,9)

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________9. Cite e comente com a classe sobre as diversas formas de idolatria. (Êx 32:6,8; Dt 4:15,19; 1Rs 14:22-24; Sl 106:19,20,28; Is 65:11; Ez 8:16; Jr 7:18; Os 4:13,14; Am 2:8; 1Co 8:10; Cl 2:8; Ap 9:20)

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________10. Quais são algumas das consequências da idolatria? (1Co 6:9,10; 10:14,19-22; Ap 21:8)

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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Domingo – Neemias 13:15-22

Em sua última invasão ao reino de Judá, Nabucodo-nosor, além de deportar quase todo o povo, queimou o Templo e destruiu os muros da cidade de Jerusalém. A imagem física deste reino retratava a sua condição espi-ritual. O relacionamento daquele povo com o Altíssimo estava no chão, em cinzas. Entretanto, o Senhor, por causa da sua fidelidade, iria preparar o retorno do seu povo. Assim como os Judeus haviam sido levados ao cativeiro em três levas, Deus os trouxe de volta em três retornos. Neemias liderou o terceiro retorno e, unido a Esdras, expôs as Escrituras aos judeus. Quebrantado, o povo se pôs a chorar, orar e jejuar, percebendo o quanto haviam desobedecido a Deus. Com o Templo e muro reconstruídos, restaurou-se também a espiritualidade. Agora, convictos da necessidade da restauração da fé, reestabeleceram, segundo o quarto mandamento da Lei de Deus, a observância do sábado, o Santo Dia do Senhor.

Segunda-feira – Isaías 58:13-14

Este trecho de Isaías estabelece grandes verdades com respeito ao sábado. Ele estabelece a relação entre obediência e bênção. O versículo 13 abarca a obediên-cia, enquanto o versículo 14, a bênção. O sábado não é um dia qualquer de descanso, escolhido pelo homem. O Senhor deixa claro que o sábado é o seu santo dia, e como tal somente os interesses dele devem ser cuida-dos. E quais são os interesses de Deus para este dia? Nós somos o interesse do Pai. Nossa vida espiritual é

Pr. Humberto Agnello Bolaños Cordeiro

MEDITAÇÕES BÍBLICAS DIÁRIAS

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objeto de grande preocupação. O sábado é para nosso prazer, para estarmos unidos como família e como irmãos, relembrando quem é o nosso criador. Neste dia, agradeça a Deus por ele se preocupar com o seu des-canso.

Terça-feira – Lucas 4:14-16, 31

Como observadores do sábado, nós, batistas do sétimo dia, temos costume de nos reunirmos neste dia para ler e ensinar as Sagradas Escrituras. Durante a Escola Bíblica Sabatina, crianças, jovens e adultos se debruçam a esquadrinhar a Palavra de Deus. Essa prá-tica não é uma tradição humana. Ao cultuarmos o Senhor no dia de sábado, estamos fazendo conforme Jesus fazia. No texto de hoje, podemos observar que ensinar aos sábados era um hábito de Cristo, pois tanto em Nazaré quanto na Galileia assim o fez. No texto grego, o verbo “ensinava” está conjugado no modo imperfeito do indicativo ativo, o que transmite a ideia de uma ação no passado que se repete constantemente, como uma prá-tica costumeira. Certamente, como cristãos, devemos seguir o exemplo do Salvador.

Quarta-feira – Atos 13:42-45

Há uma máxima popular que diz: “Os bons exem-plos devem ser seguidos”. Essa expressão também tem alguns equivalentes na Bíblia. Vejamos alguns desses exemplos nos escritos paulinos: “Sede meus imitadores, como também eu de Cristo” (1Co 11:1); “E vós fostes feitos nossos imitadores, e do Senhor” (1Ts 1:6); “Mas sejais imitadores dos que pela fé e paciência herdam as promessas” (Hb 6:12). Paulo foi um imitador de Cristo e também ensinava as Escrituras aos sábados. Cristo ensinava aos sábados, os apóstolos ensinavam aos

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sábados, os Batistas do Sétimo Dia ensinam aos sába-dos. Sim, nós imitamos o Mestre!

Quinta-feira – Atos 16:13-15

Qualquer comunidade habitada pelo menos por dez judeus adultos deveria ter um local designado onde pudesse reunir-se para estudar a Escritura e orar. Este local ainda hoje é chamado de sinagoga. É bem prová-vel que esse não fosse o caso de Filipos. Então, Paulo e Timóteo, diante da situação, foram para junto de um rio para orar num dia de sábado. Este trecho é bem escla-recedor quanto ao hábito de Paulo de orar aos sábados. Devemos ter em mente que Paulo era um seguidor de Cristo. Não era mais aquele Saulo, “fariseu de fariseus”, praticante das obras da Lei. Paulo não orava aos sába-dos somente porque a Lei de Moisés o obrigava. Agora ele orava neste santo dia por ordem da Lei de Deus.

Sexta-feira – Apocalipse 1:9-11

Era o dia do Senhor e João estava adorando, quando subitamente seus sentidos foram arrebatados e ele ouviu uma forte voz, atrás de si, que soava como um toque de trombeta. Era a voz do Senhor Jesus. Há comentaristas bíblicos que afirmam que a expressão “dia do Senhor” é uma referência ao primeiro dia da semana, domingo. Outros dizem que o mais provável é que João esteja referindo-se ao “Dia do Senhor”, comumente empregado nas Escrituras apocalípticas como referência ao dia da vinda de Cristo e de seu julgamento. Entretanto, também é possível interpretar o “dia do Senhor” como sendo o dia da semana em que os primeiros cristãos adoravam a Deus. E visto que as evidências neotestamentárias não estabelecem absolutamente que os cristãos haviam começado a observar o primeiro dia da semana como o

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“dia do Senhor”, só nos resta aceitar a verdade de que, como um judeu cristão, João está fazendo referência ao sábado, “santo dia do Senhor”, o único dia em que Jesus mesmo declarou ser Senhor (Mc 2:28), dia de descanso, prazer e honra (Is 58:13).

Sábado – Êxodo 20:8-11

Tenho um filho com 11 anos de idade, e temos o hábito de revisar constantemente os 10 mandamentos em sua ordem. Que benção maravilhosa vê-lo citar cada um deles sem errar! Confesso que fico todo orgulhoso. É uma benção saber que os santos princípios de Deus estão sendo gravados em sua mente. Segui-los é um grande passo para uma vida feliz. Ao ensinar a obser-vância do sábado, Deus quer nos fazer lembrar que este dia pertence exclusivamente a ele. Então somente ele pode dizer como deve ser este dia para nós. Neste dia abençoado, o Senhor deseja que descansemos de nossa lida diária, que nos lembremos dele como Cria-dor e mantenedor. O Deus eterno deseja que tornemos santo este dia, e só há uma forma de fazermos isto: pre-enchendo-o com o Santo de Israel.

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INTRODUÇÃO

Em nosso estudo hoje veremos mais um ponto fun-damental de nossa fé: o sábado. É um assunto que exige nossa atenção, quer gostemos ou não. E, no tocante a esse assunto, nossa mente é muitas vezes bombarde-ada por questões que se afloram. O que é o sábado? A “não referência” à guarda do sábado entre o período patriarcal e o mosaico torna o sábado irrelevante? Teria os milagres de Cristo, em dias de sábado, evidenciado que nosso Senhor estava abolindo este mandamento? A observância do sábado diz respeito aos cristãos? Que princípios deveriam nortear a guarda contemporânea do sábado? Essas são perguntas continuamente feitas e para as quais nós devemos ser capazes de dar uma resposta decisiva.

A ORIGEM DO SÁBADO

A palavra sábado é a tradução do hebraico shab-bath e significa descanso, inatividade, desistência. De acordo com o relato da criação, o sábado é um período

O Santo Dia do Senhor

Pr. Wesley Batista de Albuquerque21 de Setembroo de 2013

12TEXTO BÁSICO:

“Lembra-te do dia de sábado, para santificá-lo. Trabalharás seis dias e neles farás todos os teus trabalhos, mas o sétimo dia é o sábado dedicado ao Senhor teu Deus”. (Êx 20:8-10, NVI)

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no tempo para cessação de certas atividades, revigora-mento e descanso dos seres humanos (Gn 2:1-3).

A narrativa de Gênesis nos mostra claramente que houve um dia de cessação das atividades criadoras até então realizadas naquela semana.144 Este era o sétimo dia. Portanto, a sequência cronológica de tempo, em um ciclo limitado por dias, encontrou seu ponto final no sexto dia. No sétimo dia, algo diferente foi feito. E que ação foi essa? A ação de abençoar e santificar o sábado (Gn 2:3).

Sendo assim, a partir de Gênesis podemos inferir que:

1. O sábado foi instituído no fim da criação. A bela história da criação, no primeiro capítulo de Gênesis e no começo do capítulo dois, prepara o terreno para o sábado e suas implicações espirituais e morais na vida do homem. Este permanece como o ápice da história da criação e como um lembrete do poder de Deus. É o clímax do mais significativo evento da vida do homem e conduz a uma conclusão da mais perfeita expressão dos poderosos atos de Deus. Foi na criação que Deus mani-festou seu maior desejo, e o sábado torna-se o memorial da realização deste desejo.145 No fim da semana da cria-ção, quando os três reinos (mineral, vegetal e animal) tinham saído com absoluta perfeição da mão do Criador, ele estabeleceu o sábado.

A observância do sábado não era desconhecida antes da entrega da Lei no Sinai, como supõem muitos cristãos. Também não é uma instituição privativa dos judeus. O sábado é uma instituição que existe desde

144 A tradução que mais faz jus ao significado da palavra hebraica aqui não é descanso absoluto, ou seja, não fazer nada. Como bem destacou John Murray: “O Shabbath (...) não deve ser definido em termos de cessação das atividades, mas cessação do tipo de atividade que fazia parte do trabalho nos outros seis dias” [CAR-SON, D. A. (Org.). Do shabbath para o dia do Senhor. São Paulo: Cultura Cristã, 2006, p. 34].145 SAUNDERS, Herbert E. The Sabbath: symbol of creation and re-creation. Plainfield, New Jersey: ASTS, 1970, p. 19.

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a criação. Ele é parte da ordem da criação e tem sua origem naquele tempo.

No princípio, criou Deus os céus, a terra, o homem e o sétimo dia, o sábado. O sétimo dia foi a única parte da criação testemunhada por um ser humano. O des-canso divino no sétimo dia seria o primeiro exemplo para o homem que, mais tarde, Deus esperaria que seu povo seguisse. Karl Barth afirma que “Deus descansou no sétimo dia, e o abençoou e santificou. É o primeiro ato divino que o homem teve o privilégio de testemunhar; e ele mesmo pode guardar o sábado com Deus, comple-tamente livre do trabalho. É a primeira palavra dita a ele, a primeira obrigação colocada sobre ele”.146

2. O sábado foi abençoado e santificado por Deus. Neste primeiro sábado da semana da criação, Deus descansou e se deleitou com sua criação e com seu relacionamento com o homem. A história da criação divina do sábado mostra-nos três coisas que Deus fez com o sétimo dia (Gn 2:2,3).147

Em primeiro lugar, Deus descansou no sétimo dia. O Deus todo-poderoso não estava cansado da criação dos céus e da terra. No entanto, a Bíblia mostra que ele des-cansou no sétimo dia. Santificar o sábado por meio do descanso foi o primeiro exemplo divino para o homem. Aqui “descanso” simplesmente significa que Deus parou ou cessou seu trabalho criativo. O descanso de Deus não foi o descanso da inatividade. Foi um descanso para distinguir seus atos de criação realizados nos seis dias anteriores.

Em segundo lugar, Deus abençoou o sétimo dia. Isto significa que o Criador conferiu ao sétimo dia uma marca especial de bondade. Ele criou um tipo de benção para o sétimo dia, não concedida a nenhum outro dia da

146 BARTH, Karl. Church dogmatics. Nova York: Charles Scribner’s Sons, 1957, p. 216-219.147 Apesar de a palavra “sábado” não aparecer na história da criação em Gênesis, está claro que o sábado foi instituído na primeira semana.

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semana. Repare que nenhum outro dia da semana foi abençoado, somente o sétimo dia.

Em terceiro lugar, Deus santificou, ou tornou santo, o sétimo dia. Ao santificá-lo, Deus declarou e tornou o sétimo dia um tempo santo, separado ou consagrado. Este foi o ato final de Deus durante a semana da criação. Ele tomou o último dia da semana da criação (o sétimo dia) e o separou como um dia especial. Deus fez do sétimo dia, o sábado, um dia especial ao abençoá-lo e separá-lo dos outros seis dias.148 Abraham Joshua Hes-chel, um notório erudito judeu contemporâneo, declara que “as coisas criadas em seis dias ele considerou boas, mas o sétimo dia ele tornou sagrado”.149

Igualmente, é bom frisar que nosso Deus maravilhoso pensou no bem estar do ser humano desde a sua cria-ção. Tendo ele nos criado, sabia que precisaríamos de um dia para descansar e para nos dedicarmos à comu-nhão com ele, com nossa família, com nossos irmãos.

Herbert Saunders diz que há uma marca distinta naquele que regularmente guarda o sábado. O sábado, guardado fiel e conscientemente, gera qualidades dis-tintas à vida. O sábado nos traz descanso de corpo e mente. Ele nos traz o privilégio do louvor divino e da ado-ração santa, e nos dá a oportunidade de aprendermos mais sobre Deus e seu Filho, Jesus Cristo, nosso Salva-dor, e mais do trabalho do Espírito Santo no mundo. O sábado nos convoca a um reconhecimento da vida da alma, a feitos de misericórdia, às bênçãos da comunhão da vida familiar e, em momentos apropriados, à visitação amistosa.150

148 HENRY, Rodney Lee. O sábado: criação de Deus para o nosso benefício. Curi-tiba: CBSDB, 2005, p. 16-17.149 Apud SANDERS, Herbert E. The sabbath: symbol of creation and re-creation. Plainfield, New Jersey: ASTS, 1970, p. 21.150 SAUNDERS, Herbert E. Op. cit., p. 16-17.

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O SÁBADO NO ANTIGO TESTAMENTO

Conforme vimos anteriormente, o texto de Gênesis 2:1-3 já lançava luz sobre a importância do sábado na vida do ser humano. Mesmo que a Lei ainda não tivesse sido entregue, o sábado já encontrava seu lugar na ordem da criação.

Vejamos outras duas passagens veterotestamentá-rias importantes no tocante ao dia de descanso.

1. O sábado e o maná (Ex 16:16-30). A Bíblia não menciona nada sobre o sábado desde a queda do homem até a época de Moisés. Deus não havia abando-nado o sábado. Ele esperou até que seu povo estivesse pronto para recebê-lo. Deus tirou os israelitas da escra-vidão do Egito e os levou ao deserto. Então, ensinou--lhes o princípio da guarda do sábado. Deus escolheu ensinar a este povo obstinado o princípio da guarda do sábado por intermédio do estômago deles. Ele usou o maná como lição prática, o qual prepararia os Israelitas para receberem o quarto mandamento. O maná foi uma lição de fé ensinada por Deus concernente ao seu dia. Deus deu instruções a respeito da colheita do maná no sábado. As instruções eram específicas e requeriam fé por parte dos ouvintes. O maná foi uma lição sobre fé e guarda do sábado.151

Segundo Larry Graffius, ao unir a obediência da guarda do sábado ao fato de que o povo estava com fome, Deus empregou um dos métodos mais eficazes de ensino, pois segundo estudos modernos aprende-mos muito mais quando fazemos, e o maná foi um trei-namento na prática.152

2. O sábado na outorga da Lei (Êx 20:8-11). No encontro do povo com Deus, no Sinai, é indiscutível a forma de um mandamento explícito. O Senhor diz de

151 HENRY, Rodney Lee. Op. cit., p. 22.152 GRAFFIUS, Larry. Fiel ao sábado, fiel ao nosso Deus. Curitiba: CBSDB, 2006, p. 51-52.

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forma positiva que o sábado deve ser lembrado. E tal lembrança conduzia à implicação de santificá-lo. Estava nítida a intenção de Deus de que esse dia fosse enca-rado como um dia especial.

Como na ocasião da criação não foi intenção do autor destacar as atividades semanais destinadas ao homem, senão o fato de que ele deveria cultivar a terra que o Senhor havia preparado, coube ao Senhor especificar na Lei do Sinai quais atividades deveriam ser evitadas no dia de sábado, para que dessa forma ele fosse san-tificado: “Não farás nenhum trabalho, nem tu, nem o teu filho, nem a tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o forasteiro das tuas portas para dentro” (Êx 20:10).

A observância do sábado é eminentemente uma questão bíblica, e em nenhum lugar a questão é mais articuladamente expressa e respondida que no decá-logo. Reiterando a importância da observância do sábado, ordenada na criação por Deus, e dadas as impli-cações sociais de quando a doação do milagre diário do maná era suspensa apenas no sábado, o decálogo pôs o sábado no coração do relacionamento do homem com Deus e do relacionamento do homem com outros homens. O decálogo representa tudo o que um homem deve ser no aspecto espiritual, moral e ético.153

É geralmente reconhecido que o decálogo é o código moral legal mais elevado na história do homem. Tem implicações sociais e morais que alcançam muito além do judaísmo ou do cristianismo. É o fundamento das grandes leis do mundo e estabelece as prioridades para o comportamento humano. É significativo, então, e mais importante, que a Lei sabática seja parte deste código fundamental. Seja isto reconhecido ou não, o sábado e suas próprias implicações morais dão ao homem o ímpeto de ser o que ele deveria ser.

153 SAUNDERS, Herbert E. Op. cit., p. 22.

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Há algo no sábado que exige que este se torne uma parte da vida moral do homem. E esse algo é a qualidade espiritual dada na criação. Como assevera A. H. Lewis, um dos mais proeminentes autores batistas do sétimo dia, “o sábado não é sagrado porque sua observância é ordenada. Sua observância é ordenada porque ele é intrinsecamente sagrado”.154 Aqui está a representação de Deus na vida do homem – que lhe dá qualidade espi-ritual e o dota de uma natureza como a de Deus. Este mandamento reitera que o sábado foi ordenado e criado por Deus e dado ao homem para seu renovo moral e espiritual.155

Mas há algo muito mais significativo no sábado que nos lembra da qualidade que ele tem. “O mandamento sabático”, escreve M. L. Andreasen, “é o único man-damento na observância do qual Deus poderia se unir ao homem. [...] O homem pode guardá-lo; Deus pode guardá-lo. Assim o sábado é o lugar de encontro de Deus e do homem”.156

Há uma profunda qualidade espiritual no sábado simplesmente porque Deus e o homem podem observá--lo juntamente na comunhão espiritual: “Lembra-te do dia de sábado, para santificá-lo... Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor” (Êx 20:8,10). É o dia de Deus, mais do que o dia do homem. Sua santidade comemorativa foi dada por Deus e este foi oferecido ao homem para seu renovo espiritual e reflexão moral.

O SÁBADO EM O NOVO TESTAMENTO

Vejamos suscintamente a relação de Jesus e os apóstolos quanto ao sábado.

154 LEWIS, A. H. O elemento divino do dia de repouso semanal. The World’s Parlia-ment of Religions. Chicago: The Parliament Publishing Company, 1893, p. 742.155 SAUNDERS, Herbert E. Op. cit., p. 23-24.156 ANDREASEN, M. L. The sabbath: which day and why? Washington, D.C.: Re-view and Herald Publishing Association, 1942, p. 37-38.

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1. Jesus e o sábado. Jesus foi categórico ao afirmar que não veio destruir nem a Lei nem os profetas. Antes veio cumpri-los (Mt 5:17). Sem sombra de dúvidas, sua messianidade se destacou quando fez o que realmente era lícito fazer no sábado. O preceito positivo de Cristo para a observância do sábado é o seguinte: “É lícito fazer bem aos sábados” (Mt 12:12).

Aos olhos dos fariseus, Jesus era um transgressor da Lei (cf. Jo 9). Porém, ao contrário do que os fariseus pensavam, Jesus veio resgatar a dimensão original do sábado como um dia para honrar a Deus e para a ale-gria do ser humano. Os milagres que ele operou aos sábados não tinham o mero objetivo de provocar a ira do sinédrio ou anular o mandamento do sábado.157 Muito pelo contrário. As curas não iam contra a perspectiva do programa sabático de Deus. Mas sim, realçavam a inten-ção original de Deus, que sempre foi buscar o bem-estar espiritual e físico da humanidade. Jesus não veio trazer apenas um ideal de descanso. Jesus não quis apenas usar o sábado como uma ilustração para o descanso eterno e escatológico. Antes, ele levantou em cada sábado semanal (pelo menos naqueles em que realizou curas e ministrou ensinamentos) um memorial da reden-ção. E isso estava de pleno acordo com o conceito e ideal da criação (Gn 2:1-3).

Quando Jesus afirmou ser o Senhor do sábado (Mc 2:28), ele não estava autorizando uma mudança do dia de descanso. Antes, estava legitimando a continuidade do sábado como santo dia de Deus para benefício do ser humano. Seu senhorio sobre o sábado era a base para o cumprimento, e não para alteração. Seu senhorio autorizava a maneira como o sábado deveria ser guar-dado. Por isso é que, à luz do sentido que Jesus deu ao sábado, os cristãos sabatistas de hoje não devem

157 Cf. Lc 4:31-37; 4:38-39; 13:10-17; Mt 12:9-21.

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pensar na observância deste dia em termos de regras proibitivas apenas.

A abordagem de Jesus, em relação ao sábado, foi de restauração. Ele veio para restabelecer o sábado à posição que tinha no princípio dos tempos e ao signi-ficado moral do tempo de Moisés, uma posição agora sobrecarregada com exigências não naturais que nem a letra nem o espírito do quarto mandamento exigiam. Ele desejava restaurar o sábado ao seu lugar justo e assim encaixá-lo para o serviço no amor, e não sobrecarregá--lo com requerimentos ritualísticos.

Jesus não ensinou o abandono do sábado. Jesus nunca sugeriu uma mudança no sábado. Por outro lado, ele trabalhou para restaurar e aprofundar seu significado espiritual. Jesus resgatou o sábado tornando-o prático, assim o fez para servir ao homem. E fez deste dia um símbolo do propósito refinado e nobre de todas as dis-ciplinas e práticas religiosas. Ele fez do sábado uma oportunidade para obras de misericórdia e ministério cristão. O sábado é um símbolo do ministério expansivo e amável de Jesus para o bem-estar do homem.158

2. Os apóstolos e o sábado. Os seguidores de Jesus continuaram a observar o sábado após sua morte (Lc 23:54-56). “Preparação” é a palavra judaica para sexta--feira. As mulheres prepararam as especiarias e unguen-tos - substâncias aromáticas usadas para ungir o corpo dos mortos - antes do sábado, enquanto esperavam uma primeira oportunidade para uma visita ao túmulo. Porém, “no sábado repousaram conforme o manda-mento”. Como Mateus relata que a primeira visita deu-se ao pôr-do-sol no dia de sábado (Mt 28:1), entende-se que o verdadeiro sábado bíblico é o período de vinte e quatro horas do pôr-do-sol da sexta- feira ao pôr-do-sol do sábado (Lv 23:32; Ne 13:19; Mc 1:21).

158 HANSEN, Clifford W. P. The meaning of sabbath keeping in our days. In: The Sabbath Recorder, v. 192, maio 1957, p. 330-331.

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De igual forma, o sábado continuou sendo observado pelos apóstolos em Antioquia (At 13:14,15,42-44). Essas reuniões, ocorridas num período de dez anos (entre 45 e 55 d.C.), eram realizadas no sábado. Por que Lucas relatou todas essas reuniões que os apóstolos realiza-ram no sábado, sem dizer uma só palavra sobre alguma mudança com relação ao dia de guarda? Por certo, se houvesse algum conselho inspirado para prestar culto noutro dia ou para não prestar culto em dia algum, Lucas teria mencionado isso.

Um incidente interessante na vida de Paulo ocorre em Filipos. Paulo, Lucas e os demais companheiros desco-briram que não havia sinagoga em Filipos, mas ouviram falar de um lugar fora dos muros da cidade à beira de um rio “onde nos pareceu haver um lugar de oração” (At 16:13). Havia mulheres lá e eles lhes falaram de Cristo. Foi neste lugar, em um sábado, que Lídia tornou-se a primeira cristã convertida na Europa. Mais uma vez, o evangelho do Cristo ressuscitado foi dado a alguém no sábado, sem hesitação e sem nenhuma qualificação. Foi enquanto eles estavam a caminho deste lugar para adorar que Paulo curou uma menina escrava que tinha um “espírito adivinhador” (At 16:16). Tomando o exemplo de seu Senhor, Paulo fez o que era “bom” no sábado e restaurou uma jovem à plenitude da vida. Eles não foram lá porque o lugar era conveniente, ou para se encontra-rem com judeus, e, sim, porque nesse local lhes “pare-ceu haver um lugar de oração”. O relato demonstra que os apóstolos observaram o sábado como dia de oração e testemunho.

Alguns cristãos creem que Paulo ia às sinagogas no dia de sábado só porque podia encontrar ali uma assis-tência de judeus dispostos a ouvir o evangelho. Sem dúvida, Paulo usava as sinagogas como centro evange-lístico; mas ele guardava o sábado, quer fosse à sina-

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goga, quer não. O sábado foi também observado em Tessalônica e Corinto (At 17:1,2; 18:1,4,11).

A. H. Lewis oferece um bom resumo da situação do sábado nas igrejas paulinas:

Se houvesse alguma mudança feita ou começando a ser feita, ou se qualquer autoridade para a revogação da Lei sabática houvesse, os apóstolos saberiam. Alegar que havia é, portanto, acusá-los de deliberadamente ocultarem a verdade, e também de reconhecerem e referirem-se a um dia como sábado, não sendo o sábado. Mas alguns dirão, “Cristo e seus apóstolos fizeram tudo isto como judeus, simplesmente.” Se isto for verdade, então Cristo viveu e ensinou simplesmente como judeu e não como o Salvador do mundo. Pelo contrário, ele estava em guerra com as noções falsas e extravagantes do judaísmo em relação à verdade e ao dever. Se Cristo não fosse um “cristão”’, mas um “judeu”, o que é feito do sistema que ele ensinou? Se seus seguidores, que arriscaram tudo por ele e selaram sua fé com o próprio sangue, fossem apenas judeus, ou pior, fossem dissidentes, fazendo aquilo que cristãos não devem fazer por causa de política, onde os cristãos serão encontrados? A ideia morre por sua própria inconsistên-cia. Mais que isto, a história bíblica repetidamente afirma que os gregos foram ensinados sobre o sábado na mesma medida que os judeus, e nessas igrejas onde o elemento grego predominava não há traço de quaisquer ensinos ou costumes diferentes neste ponto. Os judeus mantive-ram suas instituições nacionais, como a circuncisão e a páscoa, enquanto todos os cristãos aceitaram o sábado como uma parte da Lei de Deus… Cristo reconheceu-o sob o evangelho, assim como reconheceu cada uma das outras Leis eternas com as quais o sábado está associado no Decálogo; reconheceu-as como as palavras eternas de seu Pai, cuja Lei ele veio para magnificar e cumprir.159

159 LEWIS, A. H. The sabbath in the New Testament. In: The Outlook, Jan. 1883, p. 77.

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A INSTITUIÇÃO DO DOMINGO COMO DIA DE GUARDA

Na primeira parte do quarto século, Constantino, o imperador romano, tornou-se cristão. Ele ainda era pagão quando decretou que os escritórios do governo, cortes e as oficinas dos artesãos deveriam fechar no primeiro dia da semana, “o venerável dia do sol”, como era chamado. E foi naquele mesmo século que o Concílio de Laodicéia (321 d.C.) expressou a preferência pelo domingo. Uma vez que muitos cristãos tinham sido adoradores do sol antes de sua conversão ao cristianismo e guardavam o primeiro dia da semana há séculos, tornar o domingo um costume cristão seria uma vantagem para a igreja.160

Assim, por vários séculos, ambos os dias foram observados lado a lado. De fato, essa prática paralela continuou até o século VI com o verdadeiro sábado sendo observado em muitas áreas do mundo cristão. Mas com o paganismo se infiltrando na igreja, sob a influência tanto da popularidade como da perseguição, o domingo foi enfatizado cada vez mais, e o sábado cada vez menos. Os escritos dos pais da igreja primitiva nos contam a história. Eles traçaram o caminho da apostasia. Eles registraram as práticas da igreja primitiva. Nenhum escritor eclesiástico dos primeiros três séculos atribuiu a origem da observância do domingo a Cristo, nem aos apóstolos.

Segundo Samuelle Bacchiocchi, em sua tese sobre a mudança do sábado para o domingo, é digno de nota que a liturgia e o repouso dominical começaram a ser praticados gradualmente, seguindo o sábado. De fato, a implicação completa do mandamento do sábado em um repouso físico ao domingo não foi conseguido antes dos séculos quinto e sexto. Isto corrobora nossa posição de que o domingo tornou-se o dia de repouso e culto não em virtude de um preceito apostólico, mas antes por auto-160 HENRY, Rodney Lee. Op. cit., p. 71.

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ridade eclesiástica exercida particularmente pela igreja de Roma. No passado, esta explicação foi considerada virtualmente por teólogos e historiadores católicos como um fato estabelecido: a observância do domingo tomou o lugar da observância do sábado, não em virtude de preceito, mas pela instituição da igreja católica.161

Portanto, podemos concluir que as razões para a mudança do sábado para o domingo são históricas, sociais e políticas, mas não são bíblicas.162

UMA PALAVRA FINAL

Como devemos observar esse dia tão gracioso e bendito? Em primeiro lugar, reservemos esse dia da semana para adorarmos a Deus. Isso envolve o nosso culto, estudo da palavra, orações e comunhão na igreja. E, em segundo lugar, como um dia para servirmos ao próximo, pregando o Evangelho, e dando assistência integral no tocante às mais variadas necessidades do ser humano. Se fizermos isso, cumpriremos toda a Lei.

O sábado não deve ser encarado como um dia de folga, segundo os padrões de nossa cultura, mas um dia para nos dedicarmos a Deus de maneira mais acentu-ada do que podemos fazer durante a semana. Façamos de Deus a nossa prioridade e veremos que, automati-camente, estaremos desviando nossos pés de profa-nar o sábado. O homem não é senhor do sábado, e sim Jesus. A maneira como ele guardou o sábado também é a maneira como devemos guardar!

161 BACCHIOCCHI, Samuelle. Do sábado para o domingo: uma investigação do surgimento da observância do domingo no cristianismo primitivo. 1974. 225 f. Tese (Doutorado em Teologia) – Instituto de Psicologia, Pontifícia Universidade Gregori-ana, Roma. 1974, pp. 195-196.162 HENRY, Rodney Lee. Op. cit., p. 71

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PERGUNTAS PARA DISCUSSÃO EM CLASSE

1. O que é o sábado? Quando ele foi instituído? A histó-ria da criação divina do sábado nos mostra três coisas que Deus fez com o sétimo dia. Quais são elas? (Gn. 2:1-3)

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________2. Há uma marca distinta naquele que regularmente guarda o sábado. A guarda do sétimo dia traz alguns benefícios. Quais são eles?

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________3. O que Deus usou para ensinar, de forma prática, aos israelitas a guarda do sábado? Quais foram as instru-ções dadas por Deus? Por que você acha que o Senhor usou esse método para ensinar seu povo? (Êx 16:16-30)

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________4. Como começa o Quarto Mandamento? Por que Deus usou esta redação? Quais são as recomendações quanto à observância do Sábado contidas nos Dez Man-damentos? (Êx 20:8-11)

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________5. Há algo muito mais significativo no sábado que nos lembra da qualidade que ele tem. O que seria?

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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6. Qual foi a relação de Jesus com o sábado? Ele trans-grediu o sábado? O que é lícito fazer aos sábados? Qual era a intenção de Jesus com relação ao sábado? (Mt 12:9-21; Lc 4:31-37; 4:38-39; 13:10-17, Jo 9)

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________7. De qual dia Jesus afirmou ser senhor? Isto implica em uma mudança no dia de adoração? O que Jesus quis dizer ao declarar que “o sábado foi feito por causa do homem, e não o homem por causa do sábado”? (Mc 2:24-28)

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________8. Qual o dia da semana que os seguidores de Cristo guardavam, após sua morte, e continuaram a fazer depois da ressurreição e ascensão dele? Por que os autores do Novo Testamento relataram todas essas reu-niões, que os apóstolos e demais seguidores de Cristo realizaram no sábado, sem dizer uma só palavra sobre alguma mudança com relação ao dia de guarda? (Lc 23:54-56; At 13:14,15,42-44; 16:13-16; 17:1,2; 18:1,4,11)

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________9. Quando e por quais razões a maioria da cristandade passou a observar o domingo como dia de culto?

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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Domingo – Atos 1:1-8

Os discípulos tinham aprendido muito com os ensinos e a convivência com Jesus. Mas isso não era o suficiente para que eles pregassem o evangelho por todo o mundo. Eles precisavam de algo mais; por isso, vem a orienta-ção de Jesus, antes de ser ascendido ao céu, para que os discípulos esperassem pela vinda do Espírito Santo. Somente por meio do poder do Espírito Santo, os discí-pulos teriam condições de pregar com ousadia e não se abaterem com as terríveis perseguições e aflições que enfrentariam. Então, para fazer discípulos, é necessário ter no mínimo dois requisitos, a saber: ser um discípulo de Cristo e ser cheio do Espírito Santo. Que cada um de nós cumpra com essas condições! Que busquemos a plenitude do Espírito Santo, assim como os discípulos fizeram.

Segunda-feira – Atos 11:19-21

Uma das razões por que o Senhor permite que pas-semos por dificuldades é para sairmos da nossa zona de conforto. Infelizmente, foi apenas depois da morte de Estevão que os cristãos se espalharam pelo mundo e começaram a cumprir a ordenança do Senhor, de pregar tanto aos judeus como aos gentios. E nós hoje, o que será que precisa acontecer para sairmos da nossa zona de conforto e começarmos a pregar o evangelho? Graças a Deus, vivemos em um país livre! Vamos apro-veitar essa liberdade e levarmos as pessoas que estão escravizadas pelo pecado, independentemente de quem elas sejam, à liberdade de Jesus e, além disso, trans-formá-las em discípulos de Cristo!

Daisy Moitinho

MEDITAÇÕES BÍBLICAS DIÁRIAS

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Terça-feira – Romanos 10:13-17

Há muitos “agentes secretos” de Cristo. Eles vão para o trabalho, para a escola, e ninguém sabe da fé deles. Mas não foi para isso que fomos chamados. Há muitas pessoas sedentas por Cristo, entre elas, o nosso colega de trabalho, com quem convivemos, pelo menos, 8 horas por dia, 5 dias na semana. O texto diz: “E como ouvirão, se não há quem pregue?” Nós temos a melhor notícia que alguém poderia ter. Quando assistimos a algo na televisão ou vemos uma notícia na internet, não temos nenhum receio de compartilhar com todos. Por que nos intimidamos quando é para falar de Jesus? Não podemos ser egoístas e guardar esta benção só para nós. Precisamos falar, pois “a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus”.

Quarta-feira – 2 Coríntios 4:1-6

Nem sempre quando pregarmos o evangelho, a pessoa que está sendo evangelizada aceitará as boas novas, mas isso não é motivo para desanimarmos. Este é o ministério que o Senhor Jesus deixou para cada um de nós. Precisamos lembrar também que o nosso testemu-nho é uma das melhores maneiras de evangelizar. Outro ponto importante na hora de levar a mensagem é saber que nós estamos levando Jesus para as pessoas, e não as nossas verdades, as nossas convicções, o que pen-samos ou o que achamos: “Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus, o Senhor”. Então, mesmo que uma pessoa rejeite a Jesus, não desista do seu ministério. Há muitas outras pessoas que procuram a Verdade.

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Quinta-feira – 2 Coríntios 5:17-21

Paulo diz: “Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Rm 3:23). Isto significa que todas as pessoas foram exoneradas da glória de Deus. O Senhor Jesus nos deu o ministério da reconciliação. Mas o que significa reconciliar? De acordo com o dicionário, um dos sentidos da palavra reconciliar é “restituir à graça de Deus”163. Então, o que nós devemos fazer é restituir as pessoas à graça de Deus. E como podemos fazer isso? Levando a palavra da reconciliação a elas. Um dia Deus usou alguém para trazer esta palavra até nós; pode ter sido um parente, um amigo, um colega de trabalho ou de escola, ou até um estranho. Vamos nós também ser reconciliadores?

Sexta-feira – 2 Timóteo 2:1,2

Paulo instruiu Timóteo a escolher homens fiéis e idô-neos, para que estes ensinassem outras pessoas. Antes de começarmos a treinar alguém para ser um discipu-lador, nós temos de checar se essa pessoa atende aos requisitos de nossa passagem das Escrituras. Um disci-pulador é um professor; logo, ele se torna uma referên-cia e um exemplo, principalmente para os novos con-vertidos. O professor tem que ser fiel. Ele precisa levar a Palavra de Deus como ela é, e não como ele acha que deve ser. Ele também precisa ter os conhecimen-tos, condições e competências necessárias para ensi-nar. Jesus disse: “pelos seus frutos os conhecereis” (Mt 7:20). Primeiro, precisamos analisar os frutos para não cometermos erros na escolha de uma pessoa para a função de discipulador.

163 Dicionário Priberam da Língua Portuguesa. Disponível em <http://www.prib-eram.pt/dlpo/>. Acesso em 01 deabrilde 2013.

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Sábado – Mateus 28:18-20

Jesus nos pede para ensinar a todas as nações. Ensinar é diferente de falar. Ensinar demanda tempo e dedicação. Jesus dedicou muito tempo, amor, atenção e convivência com os discípulos. Ele não ensinou apenas falando, mas fazendo e mostrando. Quando vamos dis-cipular alguém, temos de fazer como Jesus. Não apenas as nossas palavras contam, mas também o nosso cará-ter e o nosso conhecimento. Antes de ministrarmos um estudo, precisamos estudar o material, verificar se nosso caráter está de acordo com o que vamos ensinar, orar por nós e pela pessoa que receberá o estudo bíblico e pedir o auxílio do Espírito Santo. Pois assim estare-mos obedecendo à ordenança de Jesus, de forma a não envergonhar o nome de Cristo.

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INTRODUÇÃO

Uma das questões que tenho ouvido mais frequente-mente é: “Por que a nossa Igreja não cresce?”. Já des-pendi muito do meu tempo pensando em uma resposta que possa, além de responder ao interlocutor, satisfazer a minha própria consciência quanto a este assunto.

Rick Warren sugere que a pergunta deveria ser refor-mulada para: “O que tem impedido a igreja de crescer?”. Tal reformulação não se baseia num melhor arranjo sin-tático-linguístico. Feita desta maneira, a pergunta nos leva a entender nas entrelinhas o que às vezes deixa-mos escapar – a igreja e o crescimento são dois fatores que estão intimamente ligados. Ou seja, é natural que a igreja cresça. Este crescimento se dá tanto na qualidade quanto quantidade. Poderíamos listar muitas coisas. Se formos sinceros na resposta, ela convergirá para um único ponto: as pessoas não estão vivenciando a vida discipular. Se todos entenderem o verdadeiro conceito do que é ser um discípulo e agir como tal, então teremos uma Igreja que crescerá naturalmente!164

164 ALBUQUERQUE, Wesley Batista de. Discipulado. A visão de Cristo para o cres-cimento da igreja. Apostila da Disciplina de Discipulado do T.I.M.E, Curitiba: 2012, p. 3.

Chamados para

Fazer Discípulos

Pr. Jonas Sommer28 de Setembroo de 2013

13TEXTO BÁSICO:

“Portanto, ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo; ensinando-lhes a obedecer a todas as coisas que vos ordenei”. (Mt 28:18-19)

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Todo cristão, por definição, deve ser um discípulo. É o termo que Jesus, os apóstolos e os primeiros irmãos usaram. O termo discípulo aparece 260 vezes em o Novo Testamento. Mas o discipulado não é a simples aceita-ção dos ensinamentos de Cristo, tampouco a identifica-ção com uma igreja. É uma maneira específica de viver. Implica uma constante e ativa dedicação ao crescimento na maturidade espiritual e ao falar do Evangelho aos outros. E, depois que essas pessoas aceitam a Cristo, significa também ajudá-las a também se tornarem discí-pulos e discípulas consagrados.165

O projeto de Cristo para sua igreja foi o Discipulado. Sua morte pagou o preço que o pecado requeria, sua vida pagou o preço que o discipulado requeria! Foi ele quem nos deu a Grande Comissão, então avancemos e vejamos o que é o Discipulado e como ele pode funcio-nar em nosso contexto.

A GRANDE COMISSÃO

O discipulado só pode ser tratado de maneira ade-quada se ancorado na compreensão de Deus. Não temos outra fonte melhor de revelação confiável do que a Bíblia. Construiremos o prédio de nossas ideias sobre o alicerce seguro desta revelação sobrenatural.

É praticamente impossível meditar no anúncio do Evangelho, sem levar em consideração o mandado que o Senhor legou a seus discípulos em um monte da Galileia, antecedendo sua ascensão aos céus. Mateus, Marcos e Lucas nos mostram distintos aspectos dessa prática, e é a conjunção desses três testemunhos que foi chamada “A grande Comissão”. Marcos destaca o alcance univer-sal do chamado e a atenção que o Senhor dedica a “toda

165 SILVA, Ismael Morais da. Fundamentos da Fé: manual de discipulado. Lisboa: Embaixada cristã de Portugal, 2008, p. 54.

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criatura”, enquanto descreve os sinais que se seguirão à pregação. Lucas, entre outras coisas, sublinha o arrepen-dimento e o perdão dos pecados.

A ordem de nosso Senhor Jesus é contundente: “Por-tanto, ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando--os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensi-nando-os a observar todas as coisas que eu vos tenho mandado...” (cf. Mt. 28:18-20).

O verbo traduzido por “ide” em nossas versões em português, no original grego é poreutentes e está no parti-cípio aoristo passivo depoente nominativo.166 É a mesma forma que estão os verbos “batizando” e “ensinando”. O único verbo que está no imperativo aoristo ativo é “fazei discípulos” – mateteusate.167 Ou seja, a única ordem da incumbência de Cristo a todos os seus discípulos é “fazei discípulos”.

Berndt Wolter utiliza um gráfico interessante para ilus-trar essa ideia. A concepção é a de que o cristão, indo pela vida com as pessoas, é cha-mado a fazer outros discípu-los. Há uma ordem: um cristão discípulo de Jesus deve fazer outro discípulo para Jesus. Não há verdadeiro discípulo em pleno conhecimento da verdade que não faça outro discípulo, pois caso assim fosse, não seria obediente a essa ordem.168

Baker acentua que o fazer discípulos deve ser uma tarefa continuada dos seguidores de Jesus Cristo. É como se dissesse: “Enquanto atendeis aos trabalhos diários,

166 FRIBERG, Barbara; FRIBERG, Timothy. Novo Testamento grego analítico. São Paulo: Vida Nova, 1987, p.105.167 RIENECKER, Fritz; ROGERS, Cleon. Chave linguística do Novo Testamento G\grego. São Paulo: Vida Nova, 1985, p. 65.168 WOLTER, Berndt D. Discipulado cristão: treinando vidas para Cristo. s.e., p. 40.

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fazei discípulos!”. Isto combina com o conceito evangé-lico, uma vez que, no fundo, para fazer discípulos, temos necessidade de entrar em contato com os homens, e nenhum contato será melhor do que aquele que nos ofe-rece a convivência cotidiana com nossos semelhantes.169

Aqueles que estão mais avançados no conhecimento do Senhor devem ajudar aqueles que estão mais novos na fé a encontrarem plena realização, sentido de vida em Jesus Cristo e gosto pelo serviço a Deus e ao próximo. Não há obra que seja mais importante do que esta para a igreja. Nada que a igreja faça deve perder de vista o foco de fazer discípulos.

Mas, seja usando a palavra “ide” ou a palavra “indo”, há um ponto essencial em que estas duas expressões coincidem: ambas conotam ação por parte dos enviados do Senhor. Estes, movidos por seu mandato, caminham em busca dos necessitados. Um professor meu certa vez afirmou que “deixamos de ser a igreja do ‘Ide’ para ser a igreja do ‘Vinde’”. No entanto, o que Cristo nos ensinou é que:

• Aquele que é livre, vá ao encontro do cativo!• Aquele que recobrou a vista, vá até o cego para

abrir-lhe os olhos!• Aquele que ressuscitou, vá até aquele que está

morto para ressuscitá-lo! Há uma questão importante a ser tratada: quem deve

ir? Se pedíssemos uma opinião, ser-nos-iam dadas diversas respostas, revelando que existe uma grande confusão neste assunto. Alguns opinariam que o man-dato compete aos evangelistas; outros diriam que, além destes, compete aos pastores e mestres. Alguns senti-riam que cada cristão também deveria ir. Na Bíblia, não existia ninguém que fosse convertido e não fosse um discípulo. Todos os que criam em Jesus eram chamados de discípulos. Ser um discípulo significava ser salvo por

169 BAKER, Ivan M. Ide, fazei discípulos. Apostila sobre discipulado. 1998, p. 7.

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Jesus, alguém que havia deixado tudo por ele. Conforme asseverou Robert Coleman, “é certo que não são muitos os chamados a pastorear uma grande congregação ou mesmo ensinar numa classe, mas todos são chamados a participar na tarefa de fazer discípulo”. Se você é cristão, então é um discípulo; e se é um discípulo, esta ordem se aplica a você também.

FAZEI DISCÍPULOS

Lembremos que o discípulo é aquele que segue seu mestre porque aderiu totalmente aos seus ensinamentos e práticas. Isso, consequentemente, o leva a reproduzir a pessoa e a obra de seu Mestre. Ou, nas palavras de Greg Ogden: “Discípulo é aquele que responde com fé e obediência ao chamado misericordioso de seguir Jesus Cristo”.170

Recordemos que estamos falando de “fazer discí-pulos”, o que significa instruir, doutrinar, formar. Muitos de nós acreditamos que, porque entregamos a alguém um folheto ou conduzimos uma pessoa à reunião e ela levanta a mão como sinal de “ter aceitado Cristo”, já está tudo pronto e que daqui por diante só falta que assista às reuniões. Isto é o mesmo que pegar um bebê recém--nascido e privá-lo dos cuidados da mãe: morrerá irre-mediavelmente. A própria natureza nos ensina. Dar à luz pressupõe necessariamente o cuidado de um pai e de uma mãe, e são tantos os cuidados que um bebê requer que não é possível ter muitos de uma vez. Na ordem espiritual acontece a mesma coisa: Cristo formou apenas doze; você e eu poderemos ocupar-nos talvez de dois ou três de cada vez.

170 OGDEN, Greg. Elementos essenciais do discipulado: um guia para edificar sua vida em Cristo. São Paulo: Vida; 2010, p. 31.

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Podemos dizer, pois, que discipular não é um pro-grama ou um simples método. Segundo as Escritu-ras, discipulado é uma relação viva entre partes de um mesmo corpo, levando este corpo ao seu crescimento natural. Viver a vida discipular é ser um cristão em tempo integral. Assim como se comprometer com Deus não consiste em aderir a algumas regras, métodos ou pro-gramas, mas sim em se envolver com alguém, o mesmo se aplica ao discipulado.171 Sobre isso, Ogden também apresenta uma boa definição:

Discipulado é um relacionamento intencional no qual caminhamos ao lado de outros discípulos com a finali-dade de encorajar, equipar e desafiar uns aos outros em amor, para adquirirmos maturidade em Cristo. Esse rela-cionamento inclui preparar o discípulo para fazer outros discípulos. (...) O discipulado é um processo de morrer para o ‘eu’ e permitir que Jesus Cristo se torne vivo em nós.172

Tudo do que precisamos para poder discipular alguém é sermos discípulos, nada mais! Jesus exerceu seu ministério em duas frentes. Um viés público, onde se dirigia às multidões, proclamando-lhes o Evangelho e realizando curas e milagres. E o outro viés voltado para a formação de seus discípulos. Refletindo sobre o primeiro viés, a maioria dos cristãos pode até alegar: “Mas eu não sei pregar em público. E tem mais: Jesus não me deu o dom de operar milagres”. De certa forma há alguma lógica nisso. Deus distribuiu dons diferentes para pes-soas diferentes. Porém, nosso Deus não lhe deu o dom de simplesmente ouvir sermões, dizimar, colaborar com mutirões para construir templos e cantar alguns hinos. É mister olhar para o segundo viés de atuação do ministé-rio de Jesus. O corpo a corpo com os discípulos foi a sua prioridade. Sim, o Senhor Jesus investiu tudo o que tinha naqueles poucos. Mas por quê? Porque ele tinha pouco 171 ALBUQUERQUE, Wesley Batista de. Op. cit., p. 4.172 OGDEN, Greg. Op. cit., pp 23 e 31.

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tempo. Aproximadamente três anos de vida ministerial. E também porque estava certo de que se aqueles poucos viessem a entender sua mensagem, logo se tornariam muitos! Jesus não queria seguidores apenas, queria multiplicadores!173

O discipulador não é simplesmente um professor. Ele é alguém que, além de informar, também coopera na formação espiritual do seu aprendiz, tornando-se refe-rência para o discípulo. Mas devemos sempre lembrar que nenhum discipulador é modelo de perfeição, mas sim, um modelo de transformação, mostrando que assim como o discípulo, ele também está num processo, que a cada dia subirá um degrau na absorção do caráter de Cristo. Com este sincero objetivo ele poderá identificar--se com o discípulo. Seguindo o exemplo de Paulo, “(...) não que o tenha já recebido, ou tenha obtido a perfeição; mas prossigo para conquistar aquilo para o que também fui conquistado por Cristo Jesus” (Fp 3:12).

John Sittema nos lembra de que discipular é “repro-duzir a si mesmo e sua fé na vida de outros.”174 Eviden-temente não podemos confundir, porque o Senhor Jesus exige que façamos discípulos dele e não nossos. Nova-mente podemos citar Sittema observando que “esse pro-cesso requer o desenvolvimento de um relacionamento de confiança, de exemplo, de revelação do nosso cora-ção e da nossa fé ao discípulo que, por sua vez, deve imitar o padrão de fé do seu mestre.”175

Discipulado não é uma ação espasmódica de um momento ou período reduzido, não é algo que se possa fazer sem envolvimento completo da vida e não é algo que acontece por si mesmo ou por acaso. Intenciona-lidade é necessária; comprometimento e envolvimento, imprescindíveis.176

173 ALBUQUERQUE, Wesley Batista de. Op. cit., p. 5.174 SITTEMA, John. Coração de pastor. São Paulo: Cultura Cristã, 2004, p. 173.175 Ibidem.176 WOLTER, Berndt D. Op. cit., p. 49.

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AS GRANDES VANTAGENS DO DISCIPULADO

Eis algumas boas razões do porquê o Discipulado é o melhor plano para o avanço do Reino de Deus:

a) porque este era o plano de ação do próprio Jesus;b) porque não há forma mais eficiente de comunicar-

mos o amor de Deus e os propósitos de Deus aos outros;c) porque em longo prazo produz resultados grandio-

sos em termos de números;d) porque produz resultados melhores em termos de

qualidade. Ou seja, com a oportunidade de acompanhar o discípulo você poderá, por meio do ensino, estruturar uma boa base doutrinária. Essa doutrina deve transitar de sua mente para suas ações. Quando investimos na vida de um discípulo, temos de ser claros que não estamos comunicando apenas conhecimentos, mas vida. Conhe-cimento teológico sem piedade é inútil. Sobre isso, John Blanchard foi fantástico ao afirmar: “O crescimento cristão requer mais do que conhecimento da Bíblia; ninguém se alimenta decorando cardápios”177;

e) porque o discipulado estabelece uma rede viva de conexão com outras pessoas. Esta rede viva de relacio-namento proporcionará uma base de apoio para os novos convertidos em meio às crises por que passam ou em meio às muitas dúvidas que têm. Por exemplo, a pessoa que acabou de responder ao chamado de Cristo pode estar com problemas em sua família devido a sua pro-fissão de fé. Ou pode não saber responder com precisão sobre a razão de sua esperança para os colegas não cris-tãos. Ou, pode estar sendo assediada pelas ofertas da concupiscência da carne e dos olhos. Essa rede de apoio mútuo assume, com o tempo, contornos terapêuticos e construtivos. Sem apoio ninguém consegue prosseguir! Foi por isso que esse plano de Jesus foi um sucesso.

177 apud NEWTON, John. Parábola de um homem do mar. In: Revista fé para hoje. Editora Fiel: São José dos Campos, n.13, p.8.

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212 Estudos Bíblicos

DISCÍPULOS FORMANDO DISCÍPULOS

Antônio Carlos F. de Menezes advoga que “a evan-gelização é fruto de uma vida com Deus. Uma pessoa que não evangeliza nem testemunha o que Deus fez na sua vida não se converteu, ou está desviado dos cami-nhos do Senhor”.178 Quantas pessoas podem ser trans-formadas por Deus em discípulos e multiplicadores, se investirmos nelas instruindo-as na vida cristã? Vejamos alguns textos das Sagradas Escrituras que nos exortam ao discipulado: “E todos os dias, no templo e de casa em casa, não cessavam de ensinar e de pregar Jesus, o Cristo.” (At 5:42); “E o que da minha parte ouviste por meio de muitas testemunhas isso mesmo transmite a homens fiéis e também idôneos para instruir a outros.” (2 Tm 2:2); “Ora, é necessário que o servo do Senhor não viva a contender e sim deve ser brando para com todos, apto para instruir.” (2 Tm 2:24); “Tu, porém, fala o que convém à sã doutrina” (Tt 2:1).

O fiel discípulo de Jesus forma outros discípulos. Este princípio acontece em consequência da obediên-cia ao claro ensino da Escritura quanto ao crescimento do Corpo de Cristo. Luis Aranguren comenta que a rela-ção entre o discipulador e o aprendiz está “baseada no modelo de Cristo e seus discípulos, no qual o mestre reproduz no discípulo a plenitude de vida que ele pró-prio tem em Cristo, de tal forma que o discípulo se capa-cita para ensinar a outros.”179 Vejamos alguns exemplos deste princípio bíblico:

1. Jesus e o treinamento dos doze. O Senhor Jesus constantemente pregou às multidões, mas o seu ensino foi direcionado aos seus discípulos. Coleman afirma que “o objetivo inicial do plano de Jesus era o de arregimentar 178 MENEZES, Antônio Carlos F. de. Manual prático do evangelista. Belo Hori-zonte: Atos, 2005, p. 45.179 ARANGUREN, Luís. Discipulado transformador. São Paulo: LifeWay, 2002, p. 16.

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pessoas que fossem capazes de testemunhar a respeito de sua vida e manter sua obra em andamento depois que retornasse ao Pai”.180 A Escritura relata que “Jesus subiu a um monte e chamou a si aqueles que ele quis, os quais vieram para junto dele. Escolheu doze, designando-os apóstolos, para que estivessem com ele, os enviasse a pregar” (Mc 3:13-14, NIV). Nosso Mestre investiu mais de três anos de sua vida na vida destes doze homens, para que eles se tornassem multiplicadores.

2. Barnabé e Saulo (At 9:26-27; 13:1-3). No pri-meiro texto, vemos Barnabé tomando Paulo consigo e o apoiando em um momento em que enfrentava a oposi-ção dos irmãos que não acreditavam em Paulo. Vemos aqui que, apesar de todo conhecimento bíblico que Paulo possuía (At 22:3), ele agora precisava de alguém que o apoiasse e que o colocasse em condições de servir a igreja. Nesse direcionamento, Barnabé foi peça funda-mental. No capítulo 13, vemos Lucas mostrando uma lista de profetas e mestres. Nela, Barnabé está enca-beçando e Saulo é o último. Não sabemos exatamente se há implicações quanto a esta ordem na lista, mas no versículo 3 vemos ambos sendo separados pelo Espírito Santo e pelos irmãos e mandados juntos para sua pri-meira missão. Podemos perceber, portanto, que o perí-odo de discipulado já dava seus primeiros frutos.

3. Barnabé e João Marcos (At 13:13; 15:37-39; 2 Tm 4:11). Percebe-se num primeiro momento que João Marcos estava sendo objeto de contenda entre Paulo e Barnabé, em virtude de ele ter abandonado o apóstolo em uma missão recém-iniciada. Depois lemos Barnabé tomando João Marcos e fazendo o mesmo que fizera anteriormente com Paulo, ou seja, tomando alguém nas-cido de novo em Cristo, mas que necessitava de ajus-tes em seu caráter cristão. Por fim, vemos Paulo, já no final do seu ministério, recomendando a Timóteo que lhe 180 COLEMAN, Robert E. Plano mestre de evangelismo. São Paulo: Mundo Cris-tão, 2006, p. 16.

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enviasse João Marcos, pois lhe seria útil para o ministé-rio do apóstolo.

4. Paulo e Timóteo (At 16:1-2; 2 Tm 2:2). No texto de Atos, verificamos que Paulo tomou esse jovem e o fez acompanhá-lo. Com certeza seguiu-se, a partir daí, um período de discipulado, pois Paulo já no final do seu ministério se dirige a Timóteo com essas palavras: “e o que de minha parte ouviste, por meio de muitas testemu-nhas, isso mesmo, transmite a homens fiéis e também idôneos para que instrua a outros”.

Discipulado é muito mais do que simplesmente pas-sagem de informação; antes, é formação. Infelizmente, o que se observa em muitas igrejas é apenas uma trans-missão de lições, que não chega a ser um verdadeiro discipulado, pois não forma, apenas informa. O discipu-lado não pode ser apenas uma etapa antes do batismo. Cremos que um discípulo de Jesus não pode ser formado em apenas “algumas lições”, este é um trabalho a longo prazo e contínuo.

UMA PALAVRA FINAL

A responsabilidade de um discípulo é dupla: seguir os ensinamentos de nosso Mestre e ensiná-los aos outros. Mas nem sempre é fácil. Ser seguidor de Cristo exige qualidade, autodisciplina e dedicação. Deus chamou todos os crentes para que sejam seus seguidores. E isso não é uma opção. Mas como podemos ser bons discípu-los? Somente quando estudamos e praticamos os ensi-nos da Palavra de Deus. Nas páginas da Bíblia estão as instruções de que necessitamos para servir a Cristo. Mas não conheceremos esses ensinamentos até que estude-mos a Palavra de Deus.

Ser discípulo inclui também o ato de negarmos a nós mesmos para agradarmos a Deus em todos os aspec-

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tos de nossa existência. Portanto, devemos viver de uma maneira piedosa, que revele, com toda clareza, a graça e o poder de Deus em nossa vida. Parte da res-ponsabilidade do discipulado é falar de Cristo aos outros. À medida que crescemos em Cristo, desejamos cada vez mais anunciar o seu plano de salvação às pessoas. Também nos interessamos em ajudar nossos irmãos na fé, para que cresçam até serem cristãos maduros.

Ainda que não seja fácil ser discípulo, isso é plena-mente satisfatório. Quando descobrimos a presença diária de Deus em nossa vida, temos sua graça e força que nos ajudam em qualquer dificuldade.

Para proclamarmos esta mensagem especial, temos que nos soltar das amarras de uma institucionalização excessiva e restaurar a responsabilidade de cada discí-pulo. Precisamos de um exército de discípulos de Jesus, fazendo o que Jesus fazia: mais discípulos.181

PERGUNTAS PARA DISCUSSÃO EM CLASSE

1. O que é a Grande Comissão? Qual o seu alcance? Qual a ordem expressa que Jesus deu nela? O que é necessário para fazer discípulos? (Mt 28:18-20; Mc 16:15; At 1:8)

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________2. O que é discipulado? Quais as vantagens do discipu-lado?

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

181 WOLTER, Berndt D. Op. cit., p. 39.

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3. O que os primeiros cristãos faziam, todos os dias, de casa em casa? (At 5:42)

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________4. Que recomendações Paulo dá aos seus discípulos Timóteo e Tito? (2 Tm 2:2, 23-24; Tt 2:1-11)

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________5. Por que Jesus escolheu 12 e os designou apóstolos? (Mc 3:13-14). Quanto tempo ele passou com eles, ensi-nando-os?

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________6. O que podemos aprender com Barnabé e Paulo com relação ao discipulado? (At 9:26-27; 13:1-13; 15:37-39; 16:1-2)

______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________7. Diante do que aprendemos nesta lição, você se con-sidera um discipulador? Se não, que passos você pode dar para ser um?

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PÁGINA DO TESOUREIRO

Prezados irmãos e irmãs em Cristo Jesus,A Tesouraria da Conferência Batista do Sétimo Dia

Brasileira tem como objetivo melhorar cada vez mais o desempenho de suas atribuições e prestação de ser-viços. Mas, para tanto, a colaboração de cada um de vocês é indispensável, neste processo.

Solicitamos, portanto, que os valores referentes à remessa mensal sejam depositados impreterivelmente até 5º dia útil de cada mês, nas seguintes agências e contas bancárias, abaixo descritas, em nome da Confe-rência Batista do Sétimo Dia Brasileira:

1. Banco do Brasil: Agência 1458-3 / Conta Corrente n.

19941-9

2. Banco Bradesco: Agência 2037 / Conta Corrente n.

37693-0

3. Banco Itaú: Agência 3703 / Conta Corrente n. 06312-7

Por favor, não mandem o recibo original do depósito, pelo correio. Tirem uma fotocópia, se forem enviar pelo correio. Aqueles que puderem, usem o Scanner para copiar tanto o recibo de depósito quanto o recibo do talão de remessa, e enviem por e-mail para o seguinte endereço eletrônico: [email protected].

As cópias dos recibos de depósito bancário e o recibo do talão de remessa deverão ser enviados para o ende-reço da sede geral da CBSDB, no máximo até o dia 15 de cada mês. O tesoureiro que enviar os comprovantes de depósito e recibo de remessa por e-mail não preci-sará mandar pelo correio as cópias dos mesmos.

Muito Obrigado!