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LINHA DO TEMPO – História de Paraty 1502 – a baía de Angra dos Reis é descoberta durante a segunda expedição portuguesa no Brasil 1554 - primeira notícia escrita de Paraty, vinda do alemão Hans Staden que esteve prisioneiro dos índios tamoios 1565 - Anchieta, acompanhado de expedição guerreira para combater os franceses e os índios tamoios em Uruçumirim (Rio de Janeiro), dorme na praia do Pouso ao sul de Paraty 1593 - doação da primeira sesmaria em Paraty, próxima ao rio Paraty- Mirim 1500 1532- Pero Vaz passa pela Ponta da Joatinga 1563 - o padre Anchieta passa duas ou mais vezes por Paraty tentando fazer um tratado de paz entre os portugueses e os índios tamoios 1573 - mercenários europeus a mando do Governador Antônio de Salema, fazem uma expedição de Cabo Frio até Paraty escravizando ou exterminando índios tamoios sobreviventes da batalha de Uruçumirim 1596 - uma expedição comandada por Martim Correa de Sá com “2.000 índios e 700 europeus” passa por Paraty com destino ao interior do país utilizando a trilha aberta pelos índios guaianases na serra de Paraty 1630 - João Pimenta de Carvalho chega em Paraty no dia dezesseis de agosto (Dia de São Roque) iniciando um povoado no atual morro do Forte 1646 - Maria Jácome de Melo doa parte de suas terras, entre os rios Perequê- Açu e Patitiba (atual Mateus Nunes) para a vila ali se estabelecer, com a condição de se respeitarem os índios que ali viviam ou passavam e que se construísse uma capela em louvor a Nossa Senhora dos Remédios 1667 - Paraty é oficialmente separada de Angra dos Reis com o nome de Villa de Nossa Senhora dos Remédios de Paraty

Paraty 2009 Dados E InformaçõEs

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LINHA DO TEMPO – História de Paraty  

1502 – a baía de Angra dos Reis é descoberta durante a segunda expedição portuguesa no Brasil1554 - primeira notícia escrita de Paraty, vinda do alemão Hans Staden que esteve prisioneiro dos índios tamoios 1565 - Anchieta, acompanhado de expedição guerreira para combater os franceses e os índios tamoios em Uruçumirim (Rio de Janeiro), dorme na praia do Pouso ao sul de Paraty1593 - doação da primeira sesmaria em Paraty, próxima ao rio Paraty-Mirim

1500

1532- Pero Vaz passa pela Ponta da Joatinga1563 - o padre Anchieta passa duas ou mais vezes por Paraty tentando fazer um tratado de paz entre os portugueses e os índios tamoios1573 - mercenários europeus a mando do Governador Antônio de Salema, fazem uma expedição de Cabo Frio até Paraty escravizando ou exterminando índios tamoios sobreviventes da batalha de Uruçumirim1596 - uma expedição comandada por Martim Correa de Sá com “2.000 índios e 700 europeus” passa por Paraty com destino ao interior do país utilizando a trilha aberta pelos índios guaianases na serra de Paraty1630 - João Pimenta de Carvalho chega em Paraty no dia dezesseis de agosto (Dia de São Roque) iniciando um povoado no atual morro do Forte1646 - Maria Jácome de Melo doa parte de suas terras, entre os rios Perequê-Açu e Patitiba (atual Mateus Nunes) para a vila ali se estabelecer, com a condição de se respeitarem os índios que ali viviam ou passavam e que se construísse uma capela em louvor a Nossa Senhora dos Remédios1667 - Paraty é oficialmente separada de Angra dos Reis com o nome de Villa de Nossa Senhora dos Remédios de Paraty

1695 - descoberta de ouro na região das minas gerais. Nessa época Paraty possuía o melhor acesso para as minas 1600

1630 - em quatro de outubro desse ano Maria Jácome de Melo recebe uma sesmaria de légua e meia de terras, cortadas pelo rio Perequê-Açu1660 - os Capitães Domingos Gonçalves de Abreu e Jorge Fernandes da Fonseca levantam o pelourinho numa tentativa de independência de Angra dos Reis

1680 (aprox.) - a vila é atacada por piratas mas são repelidos pelos moradores

1701 - Carta Régia determina o fechamento do caminho baiano para as minas

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1703 - Carta Régia determina a abertura das Casas do Quinto de Paraty e de Santos, fechando todas as demais1710 - proibido o uso do caminho de Paraty para transporte do ouro 1713 - Carta Régia proíbe a presença de ordens religiosas em zonas auríferas ou nos seus caminhos1720 - com a criação da Capitânia de São Paulo, Paraty passa para jurisdição dessa (em 1726 volta para a jurisdição do Rio de Janeiro)1722 – construção da igreja da Santa Rita, feita pelos pardos libertos1726 - aberto o Caminho Novo da Piedade, ligando por terra Rio de Janeiro a São Paulo. Até essa data o melhor caminho entre as duas cidades era o caminho marítimo/terrestre passando por Paraty1757 - mudança da capela de Nossa Senhora da Conceição do Mamanguá para Paraty-Mirim1787 - início da construção da atual igreja Matriz (terminada 86 anos depois)

1700

1702 - o governador do Rio de Janeiro torna obrigatório o uso do porto de Paraty para quem viesse das minas e complementa que pelo caminho baiano não se podia levar nenhuma mercadoria a não ser gado.1710- piratas tentam invadir a vila, mas são novamente repelidos1711- um exército de 580 paratienses comandados por Francisco Amaral Gurgel negocia a saída de 6.000 corsários franceses liderados por Renato Dugay Trouin que haviam tomado o Rio de Janeiro. O governador e o exército local haviam fugido da cidade.1720 - construção da capela Nossa Senhora da Conceição, no saco de Mamanguá1722 - com o título Descaminho do Ouro foi aberta uma devassa para apurar as responsabilidades do constante contrabando de metal precioso1725 - construção da igreja de Nossa Senhora do Rosário, feita pelos negros1726 - construção do primeiro cais de Paraty, provavelmente de pedras e na margem do rio Perequê-Açu1763 - a capital do Brasil passa de Salvador para o Rio de Janeiro, aumentando o comércio entre Paraty e Rio de Janeiro1800 - início do Ciclo do Café. Paraty era o porto utilizado para escoar o café do Vale do Paraíba1813 - a Villa de Nossa Senhora dos Remédios de Paraty é enobrecida com o título de Condado1844 - a vila é elevada à categoria de cidade1851 - construção do Chafariz do Pedreira

1888 - Abolição da escravatura . Paraty dependia muito da mão de obra escrava, seja para as lavouras seja para manter aberto os caminhos pela serra

1800

1800 - construção da igreja Nossa Senhora das Dores, feita pela aristocracia1808 - vinda da família real para o Brasil, dando um grande impulso no comércio de Paraty com Rio de Janeiro1822 - início da construção da Santa Casa1850 - Paraty possui mais de 150 alambiques para destilação de pinga, utilizada principalmente na troca por escravos

1870 - terminada a Estrada de Ferro D. Pedro II ligando o Vale do Paraíba direto ao Rio de Janeiro sem passar por Paraty. Início da decadência econômica da cidade1928 - iluminação elétrica chega na cidade1950 - aberta a estrada Paraty/Cunha, a primeira que permitia acesso a carro até Paraty 1970 - aberto o trecho da rodovia BR-101 ligando Rio de Janeiro a Santos, passando por Paraty. Início do desenvolvimento turístico 1900

1937 - tombamento da cidade pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional 1968 - refeito o trajeto e melhorada a estrada Paraty/Cunha

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1975 - correntes grossas impedem o acesso a carro dentro do centro histórico.

Colonização

Foi em 1502, durante a segunda expedição ao Brasil, que a região da baía de Ilha Grande foi descoberta. A colonização das terras brasileiras ocorreu pelo sistema de sesmarias, onde o donatário recebia um pedaço de terra e tinha a obrigação de colonizá-la no prazo de cinco anos, sob pena de perdê-la. No caso de Paraty e Angra dos Reis as sesmarias eram entregues a colonos da capitânia de São Vicente. A primeira sesmaria da região foi dada em 1560 em algum local do atual município de Angra dos Reis. Em 1593 foi doada nas proximidades do rio Paraty-Mirim a primeira sesmaria em Paraty.   Entretanto acredita-se que antes das doações da sesmaria já havia sido iniciado o processo de colonização de Paraty. Em 1563 o padre Anchieta passou duas ou mais vezes por Paraty visitando as aldeias de Iperoig (Ubatuba) e Araribá (Angra dos Reis), tentando fazer um tratado de paz entre os portugueses e os índios tamoios (ou tupinambás). Cunhambebe, cacique da aldeia Araribá e líder da Confederação dos Tamoios, manda construir para o padre Anchieta, no fundo do Saco de Mamanguá, à margem do rio Iriró, uma “casa grande de dizer missas e pernoitar”, em agradecimento ao padre por ter salvado índios da aldeia com varíola. Próximo a esse lugar existe um pico chamado Cairuçu que sendo uma corruptela de ocairuçu significa em tupi oca=casa e uçu=grande. Entretanto não conseguindo o acordo de paz, em 1565 o padre Anchieta passa mais uma vez por Paraty, pernoitando na praia do Pouso e acompanhado de expedição guerreira para combater os tamoios em Uruçumirim (atual bairro da Glória no Rio de Janeiro)  

No ano de 1573, mercenários europeus a mando do Governador Antônio de Salema, fazem uma expedição de Cabo Frio até Paraty escravizando ou exterminando índios tamoios que conseguiram escapar da batalha de Uruçumirim.   Outro motivo que leva a acreditar na colonização de Paraty começou antes das doações das sesmarias é que em 1596 o governador do Rio de Janeiro enviou uma expedição comandada pelo seu filho – Martim Correa de Sá - com “setecentos portugueses e dois mil índios” em busca de metal e índios tamoios, utilizando a trilha feitos pelos guaianases, próximo ao “porto denominado de Paratec”, demonstrado que o local já era conhecido como parada de embarcações. Martim Correa de Sá aguardou em Paraty (talvez em Paraty-mirim ou Mamanguá) a chegado de um índio de nome Aleixo vindo de Ubatuba liderando 80 índios flecheiros.   Alguns historiadores defendem que a expedição colonizadora de Martim Afonso esteve em Paraty no dia 16 de agosto de 1532, iniciando uma colonização portuguesa no local. Entretanto nessa época a região era dominada pelos índios tamoios, inimigos dos portugueses, que dificilmente permitiriam a permanência nessas terras.   Por razões geográficas seria fácil prever que Paraty seria rapidamente povoada: situada junto ao ponto mais baixo da Serra do Mar para passagem em direção ao interior; sua baía abrigada formava um porto natural; possuía água doce em abundância; a planície era boa para o cultivo e; estava situada no ponto intermediário entre os portos de Santos e Rio de Janeiro. Por outro lado, a planície costeira limitada pelo mar e pela serra, jamais permitiria que a vila tivesse uma grande atividade agrária, geradora de uma sólida economia urbana.   No ano de 1630 Maria Jácome de Melo recebeu uma sesmaria de “legoa e meia por costa” tendo o rio Perequê-Açu ao meio. Atendendo exigência do doador João Pimenta de Carvalho que chegou em Paraty no dia 16 de agosto (Dia de São Roque) daquele ano, construiu no alto do Morro do Forte uma capela dedicada a São Roque. A ocupação inicial da cidade ocorreu em torno dessa capela, localizada no Morro do Forte de onde se podia perceber com antecedência a chegada de navios inimigos.   Para que valorizasse suas terras, Maria Jácome de Melo doa em 1646 uma área em local próximo ao mar e compreendido entre os rios Perequê-Açu e Patitiba - área bastante alagadiça e sem possibilidade de cultivo - para que a povoação se estabeleça, com a condição de que se construísse uma igreja em louvor ao santo de sua devoção: Nossa Senhora dos Remédios.   Com a doação feita por Maria Jácome de Melo foi possível planejar de forma ordenada o crescimento da cidade. Em 1646 construiu-se, próximo ao rio Perequê-Açu, de pau-a-pique e cobertura de sapê, a primeira igreja matriz da cidade e o pequeno povoamento cresceu em sua volta. Em 1650 havia no povoado mais de 800 habitantes sem incluir os aborígenes. Em 1668 essa igreja foi demolida para ser construída em seu lugar outra de pedra e cal.   Paraty pertenceu ao município de Angra dos Reis até 28 de fevereiro de 1667, quando o rei D. Affonso VI, considerando o crescimento e a superioridade econômica de Paraty, passou o povoado para condição de vila com o pomposo nome de Villa de Nossa Senhora

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dos Remédios de Paraty. Esta é a data oficial de aniversário da cidade apesar do povoado já existir há vários anos. A população da vila era de aproximadamente 3000 pessoas.  

  No período que antecedeu o Ciclo do Ouro a economia do Brasil estava baseada na exportação do açúcar. Paraty vivia principalmente das plantações de cana e mandioca para a produção de açúcar, cachaça e farinha. A trilha da Serra do Facão ou Trilha Guaianá era o caminho utilizado para a troca de produtos agrícolas com as vilas do Vale do Paraíba, além de ser a ligação mais rápida entre as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, através de um caminho marítimo-terrestre (do Rio a Paraty ia-se por mar em quatro a cinco dias e, de Paraty a São Paulo por terra em dez a quinze dias). O porto da cidade recebia escravos africanos destinados às plantações paulistas.   Nos meses de inverno, os índios desciam a serra em busca de pescado, pois sabiam que o peixe parati, entre os meses de março a setembro, subia os rios para desova, tornando-se presa fácil. Por esse motivo os índios chamavam essa região de paratii que significa água do parati (“parati” = espécie de peixe da família Mugil, “i”=rio ou água). Os jesuítas, catequizadores dos índios e os primeiros a estudar suas línguas, tinham o costume de substituir o duplo “i” pela letra “y” ficando assim o nome da cidade de “Paraty”. Entretanto em 1943 quando houve uma reforma ortográfica eliminando, entre outros, o “y” do vocabulário, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) passou a escrever o nome da cidade com “i”, embora no Vocabulário Ortográfico Oficial, a Academia Brasileira de Letras considere que “os topônimos de tradição histórica secular não sofrem alteração alguma na sua grafia”, a exemplo do que ocorre com Bahia. Apesar da grafia “Parati” ser aceita, o correto é a forma “Paraty”.

O CICLO DO OURO

O porto de Paraty foi um dos mais movimentados durante o Ciclo do Ouro.A prospecção economicamente viável do ouro no Brasil ocorreu a partir de 1695, quando Paraty possuía o único caminho que ligava o Rio de Janeiro às minas, num percurso marítimo-terrestre que durava aproximadamente quarenta dias. Por sua posição estratégica e para evitar os descaminhos do ouro e o contrabando de diamante, em 1702 o governador do Rio de Janeiro torna obrigatório o uso do porto de Paraty para embarque do ouro vindo das “minas gerais”. Em 1703 foram criadas as Casas de Registro de Paraty e de Santos, fechando todas as demais. Pelo porto de Santos eram embarcadas as riquezas de Goiás e Mato Grosso e pelo de Paraty chegava o ouro das “minas gerais”Para proteger o ouro e o caminho de acesso para as minas contra os piratas, foram construídas em 1703 a fortaleza da Patitiba, junto ao rio de mesmo nome, e a fortaleza localizada no atual Morro do Forte.

Estima-se em mais de cento e cinquenta mil o número de portugueses que chegaram ao Brasil em busca do ouro e que, sendo o único caminho para as minas, obrigatoriamente passaram por Paraty. Limitada geograficamente para desenvolver a agricultura, a vila se dedicava ao comércio. Nessa época seu porto era o segundo mais movimentado do país, perdendo apenas para o do Rio de Janeiro.

Em 1710 estava pronto o Caminho Novo, iniciado por Garcia Rodrigues Paes em 1701, ligando o Rio de Janeiro direto às minas, num trajeto vinte e cinco dias mais curto que o caminho por Paraty. A Trilha Guaianás ou Trilha do Facão que passava por Paraty ficou então conhecida como Caminho Velho e o caminho que ligava as minas à Bahia era o Caminho do Sertão. Nesse ano, para facilitar o controle do ouro extraído, foi proibido o uso do Caminho Velho. Entretanto, devido à falta de alimento que ocorria nas minas e à pressão do povo paratienses,

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o Caminho Velho foi novamente liberado, mas apenas para viagens de ida, sendo proibido voltar por outro caminho que não fosse o Caminho Novo.

Umas da formas para “legalizar” o contrabando de ouro era transformar o metal em jóias, taças, perfumadores, broches e outros adornos. Para melhor fiscalizar o ouro, as autoridades concentraram todos os ourives numa única rua de Paraty.  

Paraty possuía seis fortificações para proteção do ouro.A criação da Casa do Quinto, quartéis, postos de fiscalização trouxe grande quantidade de funcionários públicos para a vila, que começaram a se estabelecer no local.  Com a demanda de produtos para atender a população das minas, Paraty passou de simples centro distribuidor de artigos - como o sal vindo de Pernambuco, azeite, vinho, caldeirões de cobres para produção de aguardente e manufaturados vindos da Europa - para produtor de gêneros alimentícios (feijão, milho, farinha de mandioca, queijo, rapadura, ovos, toucinho e legumes diversos). O comércio, a distribuição de artigos que chegavam pelos navios e a produção de gêneros alimentícios foram o sustentáculo da economia de Paraty desde sua origem até o ano de 1870. 

Na verdade, o ouro em si não trouxe prosperidade para a cidade. O período de escoamento do ouro através do porto de Paraty foi curto, aproximadamente 15 anos – período em que as minas estavam começando a ser descobertas e ainda não havia grande quantidade do metal. Na Casa de Registro de Paraty junto ao pé da serra havia apenas um sargento, dois soldados e um escrivão para fazer a cobrança do Quinto (imposto de 20% sobre o ouro).   Em 1717 Paraty ainda era descrita como uma pequena vila com menos de 50 casas. Não existia um bom cais e por isso o embarque e desembarque eram realizados pela praia ou pelas margens dos rios. Apenas em 1726 foi construído um cais, provavelmente de pedra, que também servia como uma espécie de trincheira em caso de ataques inimigos.

Graças ao comércio gerado em função do Ciclo do Ouro, ocorreu um crescimento econômico e populacional na vila. Apesar do Caminho Novo estar aberto desde 1710, ligando o Rio de Janeiro direto às minas, o Caminho Velho (via Paraty) era preferido para cargas mais pesadas pois podia ser transportada em lombo de burro, enquanto o Caminho Novo só podia ser transportada por escravos, de tão ruim que era aquela estrada (os melhoramentos necessários só foram terminados em 1767). Em 1722 é erguida a Igreja de Santa Rita e em 1725 a Igreja do Rosário. Em 1787 derruba-se novamente a Matriz para se fazer uma maior e definitiva. Em 1790 já havia 392 casas, sendo 35 sobrados, e a população era de 6.622 habitantes.

O ouro era embarcado em Paraty com destino à Portugal  Em 1720 quando a capitania de São Vicente foi desmembrada, Paraty passou a pertencer à capitania de São Paulo. Entretanto por motivos geográficos, em 1726 a vila volta à jurisdição do Rio de Janeiro.  Em 1728 o rio Perequê-Açu teve seu leito desviado, deixando de desaguar na praia do Jabaquara para desaguar no seu atual lugar, junto à praia do Pontal. Essa alteração teve grande influência sobre a formação da cidade. A antiga Vila Velha, localizada no Morro do Forte, onde começou a colonização, ficou isolada do resto pelo novo trajeto do rio, motivo pelo qual foi abandonada, tanto que já em 1800 observava-se apenas ruínas e vestígios das casas que ali existiram. Outra consequência da mudança do leito do Perequê Açu foi a aproximação da barra desse rio com o Patitiba, levando a acumular sedimentos sobre o mar, por um lado fazendo a vila avançar sobre o oceano (antigamente o mar chegava até a atual rua D. Geralda, motivo pelo qual se chamava rua da Praia)

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e por outro tornando seu porto mais raso (os navios eram obrigados a parar por traz da ilha do Mantimento ou da Bexiga - somente lanchas e sumacas conseguiam se aproximar do porto).  No ano de 1725 foi aberto o Caminho Novo da Piedade ligando por terra São Paulo ao Rio de Janeiro. Seja em razão da abertura dos novos caminhos, sem passar por Paraty, seja pela diminuição das jazidas de ouro, o certo é que de 1750 a 1800 houve uma queda no comércio da vila. Apesar dessa queda, Paraty se manteve como produtor de gêneros alimentícios e de aguardente – considerada a melhor da colônia - além de ser centro distribuidor de produtos vindos das vilas do Vale do Paraíba com destino ao Rio de Janeiro. Nesse período o único fato positivo para a economia paratiense foi a mudança em 1763 da capital da colônia de Salvador para Rio de Janeiro, fazendo aumentar o comércio com a capital.   O CICLO DO CAFÉ

No início do século XIX o café atingiu alto valor no mercado europeu. Aproveitando essa oportunidade, em 1830 já era o produto mais exportado pelo Brasil, desbancando o ouro e o açúcar. A principal região produtora de café era o Vale do Paraíba e, Paraty era o porto mais próximo para embarcar o café com destino a Europa. Começava na vila um movimento nunca antes visto.   Mais de 20.000 animais passavam por ano carregados com sacas de café e outros produtos agrícolas para serem vendidos no Rio de Janeiro. Renasceu o comércio, apareceram armazéns que compravam e/ou estocavam o café e que era inclusive plantado no município.   Nessa mesma época a economia paratiense foi beneficiada com a vinda da família real em 1808 para o Rio de Janeiro. Acompanhada de toda a nobreza de Portugal e acostumada com elevados índices de consumo, os produtos paratienses eram rapidamente vendidos na capital. Para atender essa demanda, havia uma navegação regular entre Paraty e o Rio de Janeiro feita por dez barcos a vela e um a vapor.   Com o fruto dessa atividade comercial, foi possível construir mais uma igreja - a de Nossa Senhora das Dores. Paralelo e pouco distante do Caminho do Ouro, abriu-se um novo caminho, todo calçado de pedra para que os tropeiros passassem com mais segurança. Em 1808 a população foi calculada em 6.128 habitantes.   Foi nesse período de crescimento que o calçamento das ruas da vila foi terminado. Em 1830 contava-se na vila mais de 400 casas, sendo 40 sobrados, e aproximadamente 10.000 habitantes, dos quais 3.500 eram escravos. Tão intenso estava o desenvolvimento da vila que em 1844 foi elevada com o título de cidade. Nas casas do centro predominavam a arquitetura de armazéns e lojas, com portas no lugar de janelas e, quando sobrado, o comércio era no térreo e a residência no andar superior.  

Em 1850 contava-se mais de 150 alambiques em Paraty e 16.000 habitantes. Entretanto a riqueza ficava na mão de poucos. O relevo montanhoso e recortado por vários rios dividia naturalmente as propriedades rurais entre vários pequenos agricultores e/ou produtores de aguardente (no censo de 1920 Angra dos Reis possuía 15 propriedades rurais enquanto em Paraty havia 133). Os intermediários, com seus armazéns e barcos para vender a mercadoria no Rio de Janeiro, conseguiam impor os preços ao produtor garantindo assim boa margem de lucro. Havia em Paraty, assim como em todo Brasil colonial, três classes de casa de negócios: comerciantes, negociantes e vendeiros.   A primeira delas era formada pelos proprietários de grandes capitais de giro, que compravam toda a produção das fazendas ou importavam diretamente os produtos da Europa, ficando com toda a carga dos navios que chegavam. Esses vendiam as negociantes que revendiam ao público final e aos vendeiros (proprietários de pequenas vendas nas áreas rurais).

O ISOLAMENTO DE PARATY

O problema das cidades de passagem, dedicadas exclusivamente ao comércio, é que sua prosperidade é afetada por uma simples mudança de caminho das pessoas ou das mercadorias.

Dois grandes golpes levaram à decadência da cidade. O primeiro foi a abertura de estrada de ferro D. Pedro II em 1870, ligando o Vale do Paraíba ao Rio de Janeiro, ficando mais rápido, seguro e barato o transporte do café via ferrovia do que o caminho terrestre-marítimo via Paraty.   O segundo golpe foi a promulgação da Lei Áurea em 1888 abolindo a escravatura. Paraty dependia muito da mão de obra escrava, seja para a lavoura da cana e do café, seja para os engenhos e alambiques, seja para a constante manutenção do caminho que cruzava a serra, seja para a limpeza de galhos e árvores que caiam nos rios e represavam a água.   Entre 1870 e 1900 tentou-se manter o comércio com o Vale do Paraíba de mercadorias ainda produzidas na cidade (bananas, farinha, cachaça, palmito, café, feijão). Entretanto sem a devida manutenção o caminho pela serra tornou-se intransponível.   Após 1900 ocorreu um grande êxodo populacional, especialmente de homens a procura de trabalho nas cidades vizinhas. Os estabelecimentos comerciais fecharam e viraram residências. Havia superávit residencial e muitas casas ruíram por falta de manutenção. Dos 150 alambiques que produziam aguardente restaram poucos.   O acesso a Paraty, tanto de pessoas como de mercadorias, era feito pelos barcos a vapor Presidente e Nacional que partiam do Rio de Janeiro. Em 1925 a Santa Casa estava fechada por falta de recursos e

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não havia um único médico ou dentista na cidade. Segundo moradores locais, dos 12.000 habitantes existentes em 1880 (dos quais 10.000 livres e 2.000 escravos) restaram apenas 600, entre velhos, mulheres e crianças.  

O isolamento gegráfico ajudou a preservar as tradições de Paraty   O isolamento geográfico e econômico permitiu Paraty manter suas características não apenas arquitetônicas, verificada no seu centro histórico, mas também culturais, verificadas nas procissões religiosas, nas comidas típicas, nos remédios caseiros a base de ervas e nas produções artesanais de canoas, balaios, bonecas, colchas, redes de pesca, etc...   Em 1928 o presidente da República Washington Luis visita a cidade. Logo depois, em 1937 Paraty é tombada pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional pelo Decreto-lei n. 25, com a finalidade de proteger o patrimônio arquitetônico e cultural. Em 1945 torna-se Monumento Histórico do Estado do Rio de Janeiro, pelo Decreto-lei n. 1450.   Em 1947, o Decreto Municipal n. 51 declara a cidade Monumento Histórico e em 1966 torna-se Cidade Monumento Nacional pelo Decreto n. 59077. Apesar da legislação protegendo os bens culturais da cidade muito da história se perdeu quando, durante a ditadura militar, o interventor da cidade queimou grande quantidade de documentos, julgando-os papéis inúteis. Atualmente a cidade está trabalhando para ser reconhecida junto à UNESCO como

Patrimônio da Humanidade.

CICLO DO TURISMO

Abandonados pelo governo estadual, os paratienses iniciaram um movimento para voltarem a fazer parte do Estado de São Paulo, na esperança de receberem mais atenção. Apesar de não haver alterado a jurisdição do município, essa campanha teve bastante repercussão na imprensa paulista, despertando o interesse pela cidade.

No início do século XX libaneses de famílias como Salomão, Tabet, Assad, Harb, Capaz, Elias, Afifi, Gibraiu e Klink se estabeleceram na região comprando várias terras. Na década de 1950 com a abertura da estrada ligando Paraty à Cunha e na década de 1970 com a abertura do trecho da BR-101, ligando as cidades do Rio de Janeiro e Santos, deu-se o início do desenvolvimento turístico em Paraty.

Em 1940 a população era de aproximadamente 3.570 habitantes. Vinte anos depois já era de 12.085, um aumento de 238,2%. O fornecimento de energia elétrica até meados da década de 1970 era feito por dois grupos geradores com um total de 170 HP, sendo 88% dos 350 consumidores residentes no centro histórico.

Devido ao tombamento da cidade por motivos culturais e da mata em volta, por motivos ecológicos, Paraty está limitada para se expandir. O turismo parece ser sua vocação definitiva, podendo talvez ser complementado por outras atividades do setor terceário como por exemplo a prestação de serviços na área náutica e artística, como já ocorre.

O CAMINHO DO OURO

O Caminho do Ouro é uma antiga trilha indígena que unia as tribos de Paraty com as do Vale do Paraíba. Em 1660 foi alargada por ordem de Salvador Corrêa de Sá e teve seu trajeto ligeiramente modificado. No início

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do século XVIII foi calçada com pedras, retiradas dos rios próximos, passando a ser usado para escoar o ouro das “minas gerais” e para abastecê-la com gêneros alimentícios.

História e natureza andam juntas pela estrada calçada com pedras que inicia próxima a Paraty e termina no alto da serra. A natureza bela, repleta de árvores, córregos e cachoeiras, envolve uma história feita de sangue, suor e ouro. Ouro que trouxe felicidade a alguns, mas suor e sangue para muitos índios e escravos forçados a trabalhar nas minas, na construção das estradas e no carregamento do ouro. Durante a colonização do Brasil, essa trilha foi aproveitada pelos portugueses para desbravar as regiões do Vale do Paraíba e de Minas Gerais. As tropas de mulas subiam e desciam tão intensamente essas trilhas que foi necessário calçar os trechos de serra para suportar o tráfego.   O trecho calçado com pedras começa, na sua parte mais baixa, junto à igreja do Penha, terminando, aproximadamente, dez quilômetros acima, próximo à divisa entre Paraty e Cunha. A maior parte do caminho está dentro da mata, sendo que alguns trechos estão coberto por terra e vegetação e, outros foram destruídos pelo tempo ou pelo homem. Porém em quase todo o trajeto o calçamento de pedras está visível.  

O passeio pelo Caminho do Ouro pode ser feito de três formas, descritas e planilhadas no capítulo de Trilhas:   1. Trecho dentro do Sítio Histórico e Ecológico Caminho do Ouro (SHECO): por iniciativa privada, historiadores, arqueólogos e arquitetos foram contratados para recuperar o trecho do caminho localizado dentro desse sítio. No local foram encontradas ruínas da Casa do Quinto. O Sítio Histórico e Ecológico organiza passeios levando turista desde Paraty. Informações podem ser obtidas nas agências de turismo da cidade.   2. Trecho abaixo do Sítio Histórico e Ecológico Caminho do Ouro: esse trecho está parcialmente destruído pela ação do tempo e do homem. Começa pouco antes do SHECO e termina na cachoeira do Tobogã.   3. Trecho completo: inicia junto à ruína do bar Fecha Nunca, localizado no alto da serra e, termina na cachoeira do Tobogã, passando pelo Sítio Histórico e Ecológico Caminho do Ouro.

O CAMINHO DO CAFÉ

O Caminho do Café cruzava a Serra do Mar até atingir o Vale do Paraíba  

Conhecido também como Caminho dos Degraus ou Estrada Nova da Serra, esse caminho, calçado com pedra pelos escravos, foi construído no início do século XIX, com a finalidade de escoar o café produzido no Vale do Paraíba, e se junta com o Caminho do Ouro após a serra.

Por ser mais recente que o Caminho do Ouro, utilizou-se técnicas de engenharia mais moderna, que podem ser percebidas no sofisticado sistema de drenagem de água, nas três galerias pluviais e nos muros de arrimo com até cinco metros de altura.   O caminho calçado possui largura de quatro metros e as pedras utilizadas no calçamento foram retiradas dos rios próximos, com superfície retangular de 30 por 40 centímetros de área e 60 centímetros de profundidade, possuindo encaixe a seco.   Por esse caminho passou o Marechal Duque de Caxias,

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em 1842, com as força legais enviadas pelo Governo do Império, para combater os revoltosos de Teófilo Otoni , em Minas Gerais.   Apesar de estar abandonado a mais de 200 anos, sem nunca haverem feito qualquer tipo de manutenção ou recuperação e, da floresta em sua volta ter quase fechado o caminho, trechos dessa estrada encontram-se em bom estado de conservação, com as pedras encaixadas num perfeito alinhamento. Para se fazer todo o Caminho do Café deve-se ir até próximo à Pedra da Macela, junto à divisa com Cunha e descer andando até Paraty (aproximadamente oito horas de caminhada). Uma opção mais curta é seguir a trilha que continua após a cachoeira da Pedra Branca e subir e depois voltar pelo mesmo percurso o Caminho do Café até o quanto você agüentar.

A MAÇONARIA

Cunhal de pedras e símbolos maçons  

A maçonaria surgiu durante a Idade Média na Europa, quando a poderosa Igreja Católica proibia reuniões de pessoas que pudessem questionar ou colocar em risco seu domínio. Assim, para fugir dos inquisidores católicos, grupos da iniciante classe média (intelectuais, artesões e comerciantes) formaram uma espécie de associação secreta, a maçonaria, que visava a busca da verdade através da razão e da ciência e não apenas através da fé.   Essa associação muito se baseou na organização dos pedreiros quando da construção do Templo de Salomão, no atual estado de Israel, onde trabalharam 153.000 operários. Para organizar um empreendimento desse porte, numa época que nem o papel era utilizado, criou-se uma metodologia simples e funcional: para fins de remuneração e obediência os pedreiros foram divididos em três classes: aprendiz, companheiro e mestre (apesar da maçonaria dividir seus membros em 33 clasesses, as três primeiras são denominadas de aprendiz, companheiro e mestre).   Cada classe tinha um conjunto de códigos e sinais secretos para que se reconhecessem entre si. Para não ocorrer tumultos ou brigas, freqüentemente havia reuniões onde os mestres conscientizavam a importância do respeito mútuo e ajuda ao próximo para que aquele empreendimento pudesse chegar ao fim. Daí vem a relação dos maçons com pedreiros e do uso de alguns símbolos relacionados com essa atividade profissional (maçom em francês significa pedreiro).   A simbologia maçônica possui uma linguagem lógica e complexa, utilizando desde símbolos com figuras geométricas a sinais, toques de mão e batidas especiais. Um dos poucos símbolos conhecidos pelos não-maçons é o triângulo, que representa Deus, ou como é mais conhecido pelos maçons, o Grande Arquiteto do Universo.  

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Sobrado com símbolos maçons   A maçonaria é uma organização não religiosa, cujos membros podem ser de qualquer credo religioso,

desde que acreditem num único Deus. Seus integrantes seguem o livro feito em 1723 por James Andersons para a Grande Loja de Londres, com rígidas normas morais e éticas. O lema “liberdade, igualdade, fraternidade” também é adotado pela maçonaria apesar de, contraditoriamente não permitirem o ingresso de mulheres e darem preferência a membros de classes sociais mais altas.   A maçonaria atual possui fins filantrópicos e filosóficos, buscando o progresso da humanidade. Apesar de não possuir definição político ou religiosa, a maçonaria sempre procurou interferir no campo político-ideológico, o que faziam ora estar no poder, ora serem perseguidos.

Perseguidos na Europa, começaram a chegar no Brasil no século XVIII, durante o ciclo do ouro. Muitos se estabeleceram em Paraty, que na época era o ponto intermediário entre a capital e as minas. Em 1833 fundaram na cidade a loja maçônica “União e Beleza” (na esquina da rua do Comércio com a rua da Cadeia) e muito influenciaram na arquitetura da cidade. O ano da fundação coincidência ou não, é um número de elevada importância para a Maçonaria que, segundo a interpretação ortodoxa da Bíblia, seria a duração em anos da vida de Cristo. Derivando desse número, o triângulo é o símbolo maçom por excelência.   A influência da maçonaria pode ser notada em vários detalhes da arquitetura da cidade. As casas do centro histórico que ficam em esquinas possuem três cunhais de pedra formando um triângulo imaginário. O centro histórico de Paraty foi construído com 33 quarteirões. As plantas das casas foram feitas na escala 1:33.33. E se na Europa os símbolos maçons tinham que ser discreto por causa das freqüentes perseguições, o mesmo não acontecia em Paraty: os sobrados cujos proprietários eram maçons possuem faixas repletas de desenhos geométricos de linguagem maçônica.   Um dos fundadores da loja maçônica em Paraty foi o vereador José Campos do Amaral, que convenceu a Câmara a formular em 1833 o código de postura e obras de Paraty, obedecendo alguns critérios maçons. Graças a esse código e ao isolamento geográfico ocorrido entre 1870 e 1950 a cidade manteve preservadas suas características arquitetônicas. Quando do fechamento da Loja União e Beleza alguns móveis com símbolos maçons foram doados à Câmara dos Vereadores, onde se encontram até hoje.   Para quem considera que o texto acima explica algo sobre a Maçonaria, necessário repetir a frase do General Albert Pike, líder supremo de uma das ordens da maçonaria: “A Maçonaria oculta os seus segredos de todos, à exceção dos seus seguidores e sábios, ou os Eleitos, e utiliza falsas explicações e falsas interpretações dos seus símbolos para induzir a erro aqueles que merecem ser

induzidos em erro; para ocultar a Verdade destes e para a manter afastada dos mesmos.”

A VIDA NO DIA A DIA COLONIAL

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Nas principais esquinas haviam lampiões movidos a óleo de baleia  

No século XVII, as casas da Villa de Nossa Senhora dos Remédios de Paraty, construídas ao redor da igreja matriz, eram mais espaçadas uma das outras, sendo comum terem ao fundo quintal cercado onde, devido a constante falta de mantimentos, eram plantadas hortas de subsistência além de criarem galinhas e porcos. As cozinhas dessas casas ficavam do lado de fora, junto ao quintal, evitando assim que a fumaça do fogão a lenha entrasse na casa. A classe dominante era formada pelos senhores de engenho que moravam em suas fazendas, e não na vila.

  No século XVIII, com a descoberta do ouro em Minas Gerais, a economia de Paraty se diversificou. O comércio de produtos para abastecimento das minas, fez aparecer uma nova elite: os comerciantes. Foram esses que começaram a construir os sobrados na vila, onde na parte inferior ficava o estabelecimento comercial e na parte superior a residência.   Até o fim do século XIX não havia água encanada nas casas. Para piorar a situação, a vila localizava-se muito próxima do mar, impedindo a construção de poços ou cisternas. A construção de dois chafarizes, um no largo Santa Rita e outro na praça do Chafariz, amenizaram o problema da falta d’água na vila. Ali os moradores ou seus escravos iam buscar a água para beber, banhar e limpar louças e panelas. Os homens preferiam tomar banhos nos rios para economizar água. Já as mulheres tomavam banho com ajuda de jarras de barro. Mas o mais comum, para ambos os sexos, era os “lava-pés”, onde se lavava apenas os pés para evitar o temido “bicho-do-pé”. Também não havia banheiro nas casas e as necessidades fisiológicas eram feitas nos urinóis e depois jogadas no mar ou no rio. O Código de Postura de Paraty, aprovado pela Câmara Municipal em 1870, regulamentava sobre o assunto no seu artigo 25: “Todo despejo de imundícies será feito no rio Perequê-Açu ou no mar, entrando o escravo ou a pessoa que o faça até dar água no joelho. Quando houver materiais fecais, não poderá ser feito o despejo senão em vasos bem tampados, e no período após toque de recolher e até as quatro horas da manhã.”  

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A comida básica era feijão com farinha de mandioca   As atividades diárias como acordar, comer, trabalhar e dormir, eram definidas pela luz do sol. Para iluminar as casas durante a noite eram utilizadas velas ou lamparinas movidas com óleo animal (em especial o de baleia) ou vegetal (como o de mamona), mas que devido à dificuldade de serem obtidos, eram logo apagados. Nas principais esquinas da cidade haviam lampiões que eram acesos depois do por do sol, durante vinte dias por mês - na semana de lua cheia não eram acesos. A luz elétrica, obtidas com geradores a diesel, chegou em Paraty em meados do século XX.   Se por um lado a arquitetura das casas da vila de Paraty seguia o estilo português, a forma de construir - paredes de pau a pique, telhados de sapês - e a mobília eram de origem indígena. Vieram dos índios as redes e esteiras da palha para dormir, a cerâmica de barro para cozinhar, as cestarias de fibra vegetal para guardar mantimentos, o pilão para socar milho. Os móveis de madeira no estilo europeu eram objetos escassos e caros, tanto que faziam parte de inventários nas partilhas das heranças. As camas começaram a ser utilizada no Brasil somente a partir de 1750. Até 1800 não se utilizava talheres ou pratos nas refeições. As comidas feitas nos fogões a lenhas e panelas de barros eram colocadas no chão e as pessoas se serviam com a mão. Em Paraty esse costume ainda é lembrado pelos mais velhos.   Era de responsabilidade das mulheres a comida, limpeza e organização da casa, o comando dos escravos doméstico (quando havia) e a indústria caseira (produção de sabão, doces em conservas, combustível para os lampiões, roupas, cortinas, tapetes, chapéus, balaios, vassouras de piaçava, espanador de pena). As mulheres brancas, raras no período colonial, eram proibidas de sair na rua pelos seus maridos ou pais, com exceção para as missas, teatros ou óperas e, mesmo assim, só acompanhadas. A vaidade já fazia parte das mulheres, tanto brancas como negras, que não saíam nas ruas sem estarem produzidas com jóias preciosas nas primeiras e colares com cruz ou figa de madeira nas últimas. As índias também se produziam com adornos feitos de penas, dentes, sementes e tinturas.  

Os fogões a lenha ficavam no lado de fora da casa por causa da fumaça   Nas refeições a comida básica era o feijão e a farinha de mandioca (o arroz foi introduzido no século XVIII) acompanhados de uma mistura - peixe ou carne de caça, geralmente secos ao sol e salgados. Faziam parte da culinária o milho para feitio de pães, bolos e fubá; doces como rapadura e marmelada; frutas silvestres e algumas hortaliças. Devido ao calor e à comida pesada, feita com banha de porco, era comum a sesta após o almoço.   Até 1710 o porto de Paraty era o principal acesso para as minas de ouro, sendo bastante visado pelos piratas. Para defender a vila de eventuais ataques foram construídas seis fortificações. Percebe-se assim que uma boa parte dos habitantes da vila estavam a serviço do exército. Havia nos fortes vigias de prontidão encarregados de avisar a população em caso de aproximação de navios piratas, para que todos pegassem suas armas e fossem ajudar na defesa do porto. As casas próximas ao mar possuíam no último piso uma pequena abertura no telhado para que se pudesse observar a chegada de navios. Se fossem piratas, o morador ia correndo para a igreja avisar ao padre para que tocasse o sino. Se fossem navios trazendo mercadoria o morador ia correndo para seu comércio abaixar os preços dos produtos, pois sabia que com a chegada de novas mercadorias o preço cairia rapidamente.   Para entretenimento da elite paratiense, havia um teatro onde se apresentavam comédias jocosas chamadas de óperas e as cavalhadas (espécie de torneio com cavalos). Mas a principal diversão da maioria era as xibas - festas que ocorriam nas roças com músicas e danças típicas da região. As festas religiosas também eram momentos de diversão para todos onde, depois de cumpridas as obrigações religiosas, havia músicas, danças e leilões de comidas e prendas.

O domingo era dia de descanso, sendo inclusive proibido abrir lojas e armazéns. Enquanto os homens gostavam de se reunir para caçar ou pescar, as mulheres aproveitavam o domingo para se encontrar, trocar receitas e fazer doces e outras guloseimas.PARATY OU PARATI ?

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Na época do descobrimento do Brasil, os índios do Vale do Paraíba desciam a serra em busca de pescado, pois sabiam que o peixe parati (Mugil curema), nos meses de inverno, subia os rios para desova, tornando-se presa fácil. Tamanha quantidade havia desse peixe que os índios chamavam este lugar de paratii que significa em tupi “água do parati” (“parati” =espécie de peixe e “i”=rio ou água).

  Os jesuítas, catequizadores dos índios e os primeiros a estudar suas línguas, tinham o costume de substituir o duplo “i” pela letra “y” passando assim o nome deste lugar de Paratii para Paraty.   Entretanto em 29 de janeiro de 1942 quando houve uma reforma ortográfica eliminando, o W, K e Y do vocabulário, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) passou a escrever erroneamente o nome da cidade com “i”.   O IBGE errou porque essa mesma reforma ortográfica – conhecida como Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa e aprovada unanimemente pela Academia Brasileira de Letras – diz em seu artigo 42 o seguinte:   Artigo 42: Os topônimos de tradição histórica secular não sofrem alteração alguma na sua grafia, quando já esteja consagrada pelo consenso diuturno dos brasileiros. Sirva de exemplo o topônimo “Bahia”, que conservará esta forma quando se aplicar em referência ao Estado e à cidade que têm esse nome. Observação: Os compostos e derivados desses topônimos obedecerão às normas gerais do vocabulário comum. Portanto a forma correta de escrever o nome da cidade é PARATY. Os derivados de Paraty, como por exemplo paratiense, são escrito com a letra “i”.  MONUMENTOS RELIGIOSOS

Igreja da Matriz   IGREJA MATRIZ DE NOSSA SENHORA DOS REMÉDIOS Começou a ser construída em 1787 só ficando pronta em 08 de setembro de 1873, 86 anos depois. Foi a terceira igreja construída no mesmo local (a primeira foi construída em 1646 com parede de pau-a-pique e teto de sapê e a segunda em 1668 com paredes de pedra e cal - ambas demolidas porque ficaram pequenas para atender o povoado). No dia de abertura da igreja Matriz foi realizada uma procissão transferindo algumas imagens da igreja Santa Rita para a Matriz, costume que se conserva até hoje por ocasião da Festa de Nossa Senhora dos Remédios.   A igreja Matriz está situada em frente à praça de mesmo nome e possui uma construção imponente e no estilo maneirístico. A obra não chegou a ser completada por falta de recursos. Na fachada da frente nota-se que as duas torres não foram terminadas, ficando pequenas para o tamanho da igreja e, ao fundo, pedras sobressaem das colunas externas indicando que seriam construídas mais paredes. Em 1863, o imperador D. Pedro II em visita a Paraty registrou em seu diário sobre essa igreja: “É grande e faltam torres e consistório.

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Pedem auxílio (financeiro) à província.”. No interior da igreja encontram-se imagens dos séculos XVII, XVIII e XIX entre outras a de São Roque (a mais antiga das imagens, vinda da primeira capela do povoado), a de São Miguel das Almas, a de São Francisco, a do Senhor dos Passos, a de Nossa Senhora das Dores e a do Sagrado Coração de Jesus. No altar-mor está a Padroeira Nossa Senhora dos Remédios, ladeada pelos seus pais, Sant’Ana e São Joaquim. Próximo à entrada, no lado esquerdo, está o batistério com a pia batismal em mármore. Aberta de terça a domingo das 09:00h às 12:00h e das 14:00h às 17:00h.   IGREJA DA SANTA RITA As igrejas em Paraty eram segmentadas pela cor da pele: a igreja de Santa Rita era para os mulatos libertos, a de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito era para os negros, a de Nossa Senhora das Dores era para a elite branca e a Matriz de Nossa Senhora dos Remédios destinada aos trabalhadores e pescadores brancos.   A igreja da Santa Rita, foi aberta ao público em 30 de junho de 1722, tornando-se a mais antiga igreja de Paraty devido às demolições da Capela de São Roque, das antigas igrejas Matriz e da igreja de Nossa Senhora do Mamanguá.   Lúcio Costa, o arquiteto que ajudou a projetar a cidade de Brasília, considerou esta a mais bela arquitetura religiosa da cidade, sendo interessante observar os detalhes trabalhados do gradil da sacada interna, o trabalho na madeira das portas e dos altares colaterais, o galo marcador de vento na torre externa e o relógio na fachada. Numa construção anexa à igreja, está o cemitério da Irmandade em estilo columbário (com tumbas embutidas), construído no século XIX. Existe nesse anexo um poço de água transparente que muitos acreditam ser milagrosa. Assim como todas as igrejas de Paraty, esta possui fachada voltada para o mar. Atualmente a Igreja da Santa Rita vem sendo utilizada para concertos, peças de teatro, exposições e conferências. Nos fundos da igreja está o Museu de Arte Sacra.   Aberta de quarta a domingo das 09:00h às 12:00h e das 14:00h às 17:00h.  

Igreja Santa Rita  

IGREJA DE NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO E SÃO BENEDITO Destinada aos escravos, teve sua construção iniciada em 1725 e terminada definitivamente em 1757, possuindo características do estilo maneirista. Notar nessa igreja a base em pedra do púlpito (tribuna onde os padres celebram a missa), o adorno em forma de abacaxi que serve de suporte ao lustre de cristal e os altares dourados de São Benedito e São João. O altar-mor é dedicado a Nossa Senhora do Rosário.   Aberta de terça a domingo das 09:00h às 12:00h e das

14:00h às 17:00h.   Igreja do Rosário e São Benedito   IGREJA DE NOSSA SENHORA DAS DORES Construída em 1800 pela aristocracia, até 1820 ainda não havia sido terminada. Com a decadência da cidade, a igreja ficou abandonada até 1901, quando a Irmandade de Nossa Senhora das Dores, composta somente por mulheres, a reformou. É atualmente conhecida com “Capela

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das Dores” ou “Capelinha”. Projetada para ter duas torres, apenas uma foi concluída. Na parte de traz da igreja há um cemitério em estilo columbário (com tumbas embutidas). Observar nessa igreja os detalhes da sacadas internas em madeira rendilhada e o galo marcador da direção dos ventos na torre.   Aberta de terça a domingo

das 09:00h às 12:00h e das 14:00h às 17:00h.   Igreja das Dores   IGREJA NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO DE PARATY-MIRIM Localizada em Paraty-Mirim. Construção térrea, de linha simples, possui fachada voltada para o mar. A igreja foi construída em 1757, tendo apenas um altar, dedicado a Nossa Senhora da Conceição. Interessante notar que não há uma torre e o espaço para o sino, que está desaparecido, é na lateral externa da igreja, apoiado em grande laje encravada na

parede.   Igreja Nossa Senhora da Conceição   OS PASSOS Os Passos são altares de aproximadamente três metros de altura cavados nas paredes externas de algumas casas, ricamente ornamentados, cujas portas trabalhadas em madeira de lei só são abertas nas solenidades da Semana Santa, para relembrar a paixão e morte de Cristo. Cada um dos seis Passos, espalhados pelas ruas do centro histórico, representa uma das paradas de Cristo a caminho da crucificação. A localização

dos Passos é a seguinte: um na lateral da Igreja da Santa Rita, três na rua do Comércio, dois na Rua D. Geralda.

MONUMENTOS MILITARES Detalhe do brasão da coroa portuguesa estampado nos canhões   Portugal sempre teve muita preocupação com a defesa militar da vila de Paraty. Primeiro pelo fato do ouro das minas passar por esse porto e, segundo, porque os portugueses sabiam que Paraty era um dos poucos pontos do litoral brasileiro com fácil acesso para o interior da então colônia e por essa razão poderia ser invadida pelos franceses ou espanhóis em busca do ouro.   Para defender a costa brasileira

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havia dez regimentos de infantaria. Cada regimento atendia a varias cidades. Entretanto, o 10o Regimento era destinado exclusivamente à Paraty. Além dessa unidade, ainda havia na vila os Capitães de Forasteiros, Capitão da Barra e a Companhia dos Homens Pardos.   Em 1714 desembarca em Paraty o engenheiro-militar Brigadeiro João Massé, construtor de vários fortes pelo Brasil e considerado o melhor nessa área.   Para defender de ataques inimigos a vila contava com seis fortificações e duas guardas. Enquanto os fortes serviam para defender a vila de ataques de navios estrangeiros, as guardas eram pontos de controle avançados para evitar o contrabando de metais preciosos e para evitar, em caso de ataque estrangeiro, a circulação do inimigo por terra. Os fortes tinham ordem de permitir a aproximação da vila apenas de lanchas - pequenas embarcações auxiliares dos navios - e, mesmo assim, no máximo duas ou três ao mesmo tempo. Além do permitido, deveriam ser afundados pelos canhões.   Os fortes, como ponto de defesa, eram os primeiros alvos de um ataque. Prevendo a possibilidade de ser sitiado pelo inimigo, havia dentro do forte local para os soldados dormir e estoque suficiente de água, comida e munição.   Entre 1828 e 1831 as fortificações foram desarmadas e a ação do tempo destruiu as edificações, restando apenas a do Forte Defensor Perpétuo. Das demais sobraram apenas ruínas e canhões que mostram onde eram suas localizações.   Talvez pelo seu poderoso sistema de fortificação que inibia tentativas de ataque, talvez pelo fato de tão raso ser o seu porto que os navios inimigos não conseguiriam chegar a uma distância suficientemente perto para as balas de canhões atingir a vila, houve apenas dois ataque de piratas (ou tentativa de) na vila. A primeira ocorreu no fim do século XVII, como mostra um ofício datado de 1686 “... que visto andar o inimigo nesta costa e se temer saltear esta Vila de Paratihi, como fez em Ilha Grande e intentou fazer a essa se valorosamente, os poucos moradores que nela se achavam, não tivessem feito frente a eles ...”. O segundo ataque ocorreu em 1710 quando o corsário francês João Batista Duclerc tentou desembarcar nesse porto. Não conseguindo desembarcar em Paraty, Duclerc aportou na região de Angra dos Reis e seguiu por terra em direção ao Rio de Janeiro, numa tentativa de dominar aquela cidade pela retaguarda. O pirata acabou sendo derrotado e aprisionado.   Por causa do eficiente sistema de defesa da vila, os navios piratas se escondiam ou na Ilha Grande ou em Trindade, local onde podiam abastecer seus navios com água e comida e onde aguardavam os barcos carregados com ouro vindos de Paraty para então saqueá-los.   Os monumentos militares de interesse turístico são o forte Defensor Perpétuo, o Quartel da Patitiba e o forte de Iticupê. A seguir uma descrição dos fortes.  

FORTE DEFENSOR PERPÉTUO O forte Defensor Perpétuo está localizado no morro ao norte e próximo à cidade (quinze minutos de caminhada a partir do centro histórico). Foi construído em 1703, contendo apenas uma trincheira (muro de pedras com aproximadamente um metro e meio de altura), um reduto (abrigo para os soldados) e quatro canhões. Em 1793 construiu-se nele a Casa da Pólvora e celas, ganhando novos armamentos, ficando assim com sete canhões de calibres de 12 e 18 libras (refere-se ao peso dos projéteis que podia ser uma bola de metal ou de pedra e eram impulsionados pelos gases da explosão da pólvora). Em 1822 o forte foi reformado e passou a ser chamado de Defensor Perpétuo, em homenagem a D. Pedro I, proclamado nesse ano imperador do Brasil.   O Forte Defensor Perpétuo está bem conservado e possui belíssima vista para a baía de Paraty. Espalhados pelo jardim, há oito canhões de diferentes calibres e enormes tachos de ferro onde se cozinhava óleo de baleia, utilizado para construção e iluminação.   A Casa da Pólvora é uma construção à parte, medindo aproximadamente nove metros quadrados e era o local onde ficava armazenada a pólvora. Para não explodir, caso fosse atingida por balas de canhões inimigos, suas paredes possuem quase um metro de espessura, além de estar cercada por alto muro com meio metro de espessura. No local onde era a cadeia do forte e o alojamento dos soldados está hoje o Centro de Artes e Tradições Populares de Paraty, um museu com exposição permanente de artesanato caiçara que procura mostrar aspectos importantes da vida do paratiense.   O Centro de Artes e Tradições Populares abre de quarta a domingo das 09:00h às 12:00h e das 14:00h às 17:00h. O forte abre

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diariamente das 9:00h às 17:00h.   Canhão no Forte Defensor Perpétuo  

QUARTEL DA FORTALEZA DA PATITIBA Situado ao lado da Igreja Santa Rita, sua construção data de 1703. Esse prédio era um dos elementos do que uma vez foi a Fortaleza da Patitiba e era utilizado como depósito de armas e munição, bem como alojamento das tropas que defendiam a foz do rio Patitiba.   Com a sua desativação, o prédio entrou em ruína. No fim do século XIX o local foi reformado e utilizado até o ano de 1980 como cadeia pública. Seguindo o padrão da arquitetura militar da época, possuía planta quadrangular com porta central. Na parte interna há seis compartimentos simétricos, sendo quatro celas (duas para brancos e duas para negros) com gradis de ferro em todos os vãos e, capacidade para até dez presos em cada, além de um repartimento para a guarda e um para o carcereiro.   Atualmente abriga a biblioteca Fábio Vilaboim, possuindo em seu acervo vários livros e documentos sobre a história de Paraty. Também abriga a Pinacoteca Marino Gouveia com exposição permanente de obras de arte. Os canhões da Fortaleza da Patitiba se encontram na Praça

do Porto, próxima ao cais da cidade.   Quartel do Forte da Patitiba. Atualmente abriga a Biblioteca Municipal  

FORTALEZA DE ITICUPÊ Situada na ponta do morro de Iticupê, possui trincheira de pedra e três canhões. Pelas ruínas percebe-se que um quarto canhão foi retirado do local. O lugar possui uma bonita vista da baía de Paraty. Acesso por mar, desembarcando numa pequena praia.  

FORTALEZA DA ILHA DA BEXIGA Montada sobre um platô no alto da ilha, possuía seis canhões. Numa ilustração, feita em 1827 por Jean Baptiste Debret, percebe-se nessa fortaleza uma haste para bandeira e uma edificação com uma larga porta e quatro janelas, que deveria ser usada como alojamento e depósito de munição. Atualmente os canhões estão amontoados sobre o chão e não existe ruína que indique onde eram suas posições.  

FORTALEZA DA PONTA GROSSA Num lugar mais elevado da Ponta Grossa encontram-se abandonados três canhões que parecem estar em seu local original. Uma pequena casa foi construída junto aos canhões. Sem interesse turístico.  

FORTALEZA DA ILHA DOS MEROS Apesar de atualmente não haver nenhum canhão ou ruína que demonstre a existência de um forte, antigos pescadores se lembram de haver dois canhões nessa ilha na década de 1970.  

GUARDA E REGISTRO DO BOQUEIRÃO DO INFERNO Em 1703 foi montada no início da serra uma Casa de Registro para controlar o ouro que vinha das minas. Havia junto à casa de registro uma guarda

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composta por poucos soldados, necessários para se fazer cumprir o pagamento do imposto sobre o ouro. Um trabalho arqueológico recente encontrou dentro do Sítio Histórico e Ecológico Caminho do Ouro as ruínas da Casa de Registro. Por volta de 1775 essa guarda mudou-se para um local mais perto da vila, conhecida como Cachoeira (atual Penha) onde funcionou até início da década de 1840).  

GUARDA DO CURRALINHO No caminho que ligava Paraty à Ubatuba, passando pelo atual trilha Corisco-Picinguaba, havia uma guarda para evitar o contrabando do ouro e a fuga de escravos que eram desembarcados em Paraty-Mirim.

MONUMENTOS CULTURAIS Ilustração da Casa da Cultura de Paraty   CASA DA CULTURA Um antigo sobrado do século XVIII abriga desde março de 2004 a Casa da Cultura de Paraty. Com projeto de 2,1 milhões de reais idealizado pela Prefeitura Municipal em parceria com a Eletronuclear, a Fundação Roberto Marinho e a Rede Globo, a Casa da Cultura possui exposição permanente, idealizada pela diretora teatral Bia Lessa, com peças do cotidiano paratiense, computadores com a história e dicas para os turistas, auditório para 180 pessoas, livraria, espaço para exposições e loja de artesanatos. MUSEU DA ARTE SACRA Localizado nos fundos da Igreja Santa Rita, este museu foi criado em 1973 e é administrado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Possui exposição permanente de imagens, pratarias, paramentos, alfaias e documentos pertencentes às antigas irmandades religiosas da cidade. Entrada franca.   Aberto de quarta a domingo das 09:00h às 12:00h e das 14:00h às 17:00h.  

CENTRO DE TRADIÇÕES E ARTES POPULARES Museu localizado dentro do Forte Defensor Perpétuo. Possui exposição permanente de artesanato caiçara mostrando aspectos importantes da vida desse povo.   O Centro de Artes e Tradições Populares possui entrada franca e abre de quarta a domingo das 09:00h às 12:00h e das 14:00h às 17:00h.  

PINACOTECA ANTÔNIO MARINO DE GOUVEIA Localizada no Quartel da Patitiba, junto à biblioteca Fábio Villaboim, possui exposição permanente de artistas como Di Cavalcanti e Djanira, além de artistas regionais. Na década de 1990 teve roubado quadros de Djanira e Anita Malfati.   Aberto de segunda a sexta das 9:00h às 12:00h e das 14:00h às 17:00h  

BIBLIOTECA MUNICIPAL FÁBIO VILLABOIM A Biblioteca Pública foi fundada em 1905 e em 1919 já haviam 2.109 livros devidamente catalogados. Esse acervo está incorporado na atual biblioteca municipal. Localizada no Quartel da Patitiba, possui além de livros genéricos, documentos históricos e livros

sobre a cidade.   Aberto de segunda a sexta das 9:00h às 12:00h e das 14:00h às 17:00h.

CENTRO HISTÓRICO As igrejas serviam de balizamento e polo de atração residencial   Em 1646 Maria Jácome de Melo, sesmeira da região, doou uma área de aproximadamente 1,3 quilômetros quadrado, entre os rios Patitiba e Perquê-açu, para que a vila se desenvolvesse. O balizamento definitivo da vila foi feito em 1719, colocando-se quatro marcos de pedra de noventa centímetros de altura acima da terra, em forma de cone, fincado nos quatro cantos do terreno.   Ciente da vocação portuária da vila, os engenheiros militares, presentes no Brasil desde a metade do século XVI, puderam definir como seriam as ruas e onde ficariam as igrejas, as praças, a cadeia, a câmara e os lotes residenciais. Seguiam assim o padrão das cidades portuguesas onde as igrejas serviam de balizamento e pólo de atração residencial. Como a vila tinha uma área limitada para crescer, dividiu-se os lotes de forma que as casas ficassem germinadas umas às outras, aproveitando melhor dessa forma o espaço disponível para construção.   Devido às epidemias de cólera e febre amarela que ocorriam em algumas partes do Brasil, havia em Paraty uma

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grande preocupação com a salubridade. O projeto da vila previa algumas medidas nesse sentido: as ruas foram feitas com uma leve curvatura para evitar vento encanado (considerado na época um transmissor de doenças); a Santa Casa de Misericórdia (1822) e o atual cemitério (1853) foram construídos em local afastado da vila, desativando em 1836 o cemitério que se localizava na atual praça da Matriz, isolando dessa forma os doentes e os mortos; para evitar incêndio foi proibida em 1831 as construções em madeira e coberturas de palha, bem como era obrigatório o aterramento e o cercamento de terrenos baldios.   Em 1799 a Câmara Municipal definiu que as novas edificações deveriam ter na sua fachada dezessete palmos e meio de altura e as portas onze palmos e meio com cinco de largura, além de vergas (parte superior do batente) circulares.  

As casas são construídas acima do nível da rua por causa das marés   A iluminação elétrica chegou apenas em 1928. Antes disso a cidade era iluminada por lampiões movidos a óleo de baleia.

O centro histórico possui trinta e um quarteirões (antigamente havia trinta e três quarteirões: ao lado da matriz, onde hoje há um estacionamento, haviam três grandes sobrados formando um quarteirão (no sobrado do meio funcionava desde 1667, a Câmara, Conselho e Cadeia Pública) e, a rua Santa Rita continuava até a rua Domingo Gonçalves Dias, formando mais um quarteirão), quatro praças (Bandeira, Santa Rita, Matriz e Rosário) e uma área de terreno destinada a eventos e estacionamentos. Contando com as ruas que margeiam o centro histórico, existem oito ruas no sentido norte/sul e seis ruas no sentido leste/oeste (sete se considerar a pequena rua do Fogo). Em frente a cada casa há um passeio de aproximadamente um metro, normalmente formado por grandes pedras retangulares colocadas perpendicularmente às paredes das casas. As ruas possuem uma depressão ao meio fio, de forma a escoar água da chuva e permitir a invasão de marés mais altas, motivo pelo qual as casas foram construídas pelo menos trinta centímetros acima do nível da rua. Permitir a entrada do mar pelas ruas era uma forma natural de manter a cidade limpa.  

O calçamento das ruas começou a ser feito no século XVIII   Nota-se ainda que em todas as esquinas do bairro histórico há três cunhais de pedra lavrada, formando um triângulo imaginário, símbolo maçônico que

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representa Deus. Existem três tipos de beirais nas casas do centro histórico: a cimalha (beiral coberto com madeira), o cachorro (beiral com caibros a vista) e a beira-seveira (beiral formado por duas ou mais camadas de telhas).   As janelas de vidro foram introduzidas nas casas a partir do século XIX. Antes disso eram usadas grades de treliças que possuíam boa ventilação além de permitir enxergar a rua sem que os transuentes conseguissem ver dentro das casas.   O calçamento das ruas de Paraty com pedras irregulares - conhecido como pé-de-moleque - começou a ser feito no século XVIII, graças ao desenvolvimento trazido pelo ciclo do ouro. Entretanto, foi a riqueza gerada pelo ciclo do café que terminou por calçar todas as ruas, por volta da década de 1830. As pedras eram necessárias porque as tropas de mulas, carregadas com ouro ou café, faziam grandes atoleiros nos dias de chuva e nuvens de poeiras nos dias de sol. As caravelas vindas de Portugal traziam em seus porões lastro de pedras para equilibrá-las. Esse lastro era desembarcado em Paraty e no seu lugar ia o ouro ou o café. Muitos afirmam que eram essas pedras portuguesas as utilizadas no calçamento das ruas, apesar de não haver registros históricos nem estudos geológicos que comprove esse hipótese.   Na década de 1970 os acessos ao centro histórico foram fechados com correntes, impedindo a entrada de veículos pelas ruas de pedras. Até 1980 o calçamento de pedras estava em perfeito estado, com as pedras alinhadas e todas na mesma altura. Entretanto, nesse ano, retiraram as pedras para a construção da rede de esgoto, e ao colocarem de volta não o fizeram corretamente.

ARQUITETURA COLONIAL A principal característica da arquitetura de Paraty é a sua simplicidade   Em meados do século XVII, quando a vila de Paraty estava começando a se formar, a elite social eram os fazendeiros proprietários de engenhos de açúcar. Estava nas fazendas, portanto, e não na vila as melhores casas. As primeiras construções da vila eram em sua maioria feitas com paredes de madeira e tetos de sapé. Raras eram as construções feitas em pau-a-pique e com telhas de barro e, mesmo destas, poucas restaram em pé.   As edificações do século XVIII encontradas hoje no bairro histórico são construções simples, a maior parte térreas, feitas de pau-a-pique e com pouca preocupação estética. As vergas (peça de pedra ou madeira que se põe horizontalmente sobre a ombreira ou batente) são de linhas retas.   Os sobrados, construídos a partir da segunda metade do século XVIII, eram muitas vezes feitos sobre casas térreas já existentes, motivo pelo qual percebe-se em alguns deles, misturas de estilos, como por exemplo portas com vergas retas no piso térreo e, janelas com vergas curvas no piso superior.   Com a elaboração do Registro de Posturas da Câmara Municipal da Villa de Paraty em 1829, as edificações passaram a ter uma padronização e maior preocupação estética. Os beirais das casas, por exemplo, definiam a posição social do proprietário: os do tipo cachorro eram de pessoas simples, os de cimalha eram dos mais ricos, as beiras-seveiras eram mais utilizadas nas construções religiosas e militares.  

O beiral de simalha e a telha em louça mostram que a casa pertencia a um rico morador   Abaixo alguns artigos do Registro de Posturas da Câmara Municipal da Villa de Paraty de 1829:   artigo 2: Querendo qualquer edificar ou reedificar ... será obrigado a requerer ao fiscal para lhe fazer alinhar pelo Arruador ... seguindo a melhor direção da rua   artigo 3: Os edifícios serão levantados sobre pilares de pedra e cal. As casas térreas terão altura de dezoito palmos (aproximadamente quatro metroParatys), as de sobrado trinta e cinco (aproximadamente oito metros) incluída a madeira em umas e outras. As janelas e as portas terão cinco palmos (um metro e dez centímetros) de largo, de altura estas doze e aquelas sete ...   artigo 5: Os edifícios que de novo se fizerem ou se reedificarem serão aformoseados na frente e externo das vias onde findar o pé direito sem

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cimalha ....   artigo 10: Os que possuem terreno ... serão obrigados a fechá-lo com parede rebocadas...   artigo 12: Dentro dos marcos da Villa é proibida a cobertura de casas de palha ou de sapê   Detalhe curioso sobre a arquitetura colonial são as alcovas - cômodos sem ventilação, situados no centro das habitações, utilizados como dormitório, despensa ou capela - que apareceram com a necessidade de se aproveitar espaços quando as casas eram contíguas.   No século XIX começou a procura por maior privacidade dentro das casas com a introdução de treliças - grade de madeira - nas janelas e portas, permitido a ventilação e impedindo a visão para dentro das casas. As janelas de vidros, no estilo guilhotina, chegaram no Brasil junto com a família real, no início do século XIX, mas até o fim desse mesmo século ainda era considerado artigo de luxo.PRINCIPAIS CONSTRUÇÕES COLONIAIS  SOBRADO DOS BONECOS

Construído em meados do século XIX, possui uma mistura de vários estilos arquitetônicos. Observar os batentes de granito, o gradil trabalhado nas sacadas, os lampiões de vidro e ferro, as cornetas de bronze usadas para escoar a água da chuva e as telhas de louça pintada. Localizado na rua do Comércio, logo depois do Café Paraty. Seu nome advém de cinco estátuas de louça que ficavam sobre sua platibanda e que foram retiradas e vendidas na década de 1930.

   CASA DA CULTURA

Situada na esquina das ruas Samuel Costa e Dona Geralda, esse belo sobrado foi construído em 1754, como mostra o florão acima da porta de entrada. No início do século XX funcionou com escola, virando, posteriormente, um clube (boate) até ser transformado em 1990 na atual Casa da Cultura. Segundo a UNESCO é o sobrado mais representativo da arquitetura do século XVIII.

   SANTA CASA DA MISERICÓRDIA

A primeira pedra da construção foi benzida na igreja da Matriz em 13 de outubro de 1822. Está localizada na margem esquerda do rio Perequê-Açu, fora do centro histórico. Especialmente construído para ser hospital, possui ventilação nos tetos dos quartos, pé direito alto e um pátio interno para iluminação e ventilação onde há uma estátua de Dom Pedro I.

   SOBRADO NA RUA DA MATRIZ

Localizado no início da rua da Matriz, próximo à igreja Santa Rita é considerado um dos sobrados mais antigos da cidade.

   CÂMARA MUNICIPAL

Situada na esquina das ruas do Comércio e Samuel Costa, teve sua parte inferior construída no século XVIII e a parte superior no século XIX. No seu interior encontra-se alguns móveis da antiga loja maçônica União e Beleza, entre os quais sofás com o triângulo maçom e o dossel (cobertura ornamental) sobre a mesa da presidência. Destaca-se também uma litografia de D. Pedro II do século XIX localizada no hall do Gabinete do Prefeito.

   SOBRADOS DA RUA DO COMÉRCIO

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Nos fundos da igreja Matriz estão quatro belos sobrados contíguos. No terceiro deles, cuja porta está a data de 1848, funcionou um teatro.

   SOBRADO DO PRÍNCIPE

Localizado na rua fresca, belíssimo sobrado cercado por paineiras imperial, pertencente à família real.

   MERCADO DE PEIXE

A região de Paraty e Angra dos Reis fornece 10% do peixe consumido no estado do Rio de Janeiro. No mercado de peixe de Paraty, próximo ao largo da Santa Rita e de frente para o mar, tem-se a oportunidade de comprar peixes, camarões, lulas, polvos absolutamente frescos, às vezes ainda vivos. Barcos de pesca de menor porte conseguem chegar até a porta do mercado para desembarcar a pesca do dia.

   CHAFARIZ DO PEDREIRA

Construído em 1851, abastecia de água os moradores da cidade e os tropeiros que faziam as viagens pela serra.Paraty

   CASAS NA RUA DR. PEREIRA

(próximas ao mercado de peixe)

Nenhuma das casas desse trecho da rua possuem janelas, indicando que ali, próximo ao cais, era a principal área de comércio da cidade com construções destinadas a armazéns, mercados e depósitos. Hoje, nessas mesmas casas estão vários ateliers.

   SOBRADO DOS ABACAXIS

Sobrado rico em detalhes arquitetônicos, com ornamentos maçons na fachada, sacadas com gradil de ferro trabalhado e adornos em forma de abacaxis.

FAZENDAS HISTÓRICAS

Enquanto nas fazendas do nordeste brasileiro haviam construções separadas para o engenho de açúcar, para a moradia, para a senzala e para a capela, no sudeste, uma única cobertura abrigava todas essas atividades.

  As antigas fazendas de Paraty eram áreas rurais destinadas a agricultura e à produção de aguardente e açúcar. Seus casarões eram construídos para atender essa finalidade rural/industrial e ainda serviam de residências aos proprietários e escravos. Todas as fazendas aqui mencionadas possuem (ou possuíam) rodas d’água que moviam o engenho e a casa de farinha (local de produção de farinha de mandioca).   Para facilitar a produção de pinga, os

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casarões eram construídos em três níveis. No nível superior ficava a roda d’ água e o engenho. Na parte externa do nível intermediário ficava o alambique (equipamento utilizado para destilar a pinga) que recebia por gravidade o caldo de cano vindo do engenho. Na parte interna desse nível estava a residência dos proprietários, sempre com vista privilegiada para a fazenda ou para o mar. No nível inferior ficava numa parte a senzala e, em outra, os barris de pinga, recebendo por gravidade a pinga destilada no alambique.   A produção das fazendas acompanhava os ciclos econômicos do Brasil. No século XVIII plantava-se cana-de-açúcar para produção de açúcar, melado e pinga. No século XIX plantava-se café, sem no entanto abandonar por completo a produção da pinga.  

Sede da Fazenda Boa Vista   As paredes dos casarões são, até hoje, de pau-a-pique (estrutura de troncos finos e verticais entrelaçados com bambu e preenchidos com barro) e os telhados são cobertos por telha colonial (moldadas nas coxas dos escravos), não possuindo forro. As fazendas não possuem a mesma área de terra de antigamente, mas seus casarões apesar de estarem mal conservados, são de grande beleza. Os alambiques que havia nelas também não estão mais em operação. Dos casarões das antigas fazendas restaram os seguintes:   Fazenda Boa Vista O alambique da fazenda Boa Vista foi um dos mais tradicionais de Paraty, produtor da pinga Quero Essa, hoje produzida em outro local. O casarão da sede da fazenda foi construído no século XVIII. Em 1854 foi adquirida pelo avô materno do escritor Thomas Mann. Posteriormente foi comprada por Miguel Freire da Mata que a vendeu para a Companhia Agrícola e Industrial Fluminense, falindo logo depois, ficando a fazenda e o casarão abandonados.   O casarão está localizado na beira do mar e possui belíssima vista para a baía de Paraty e para a cidade. No piso intermediário, onde era a residência dos proprietários, há uma sacada contornando todo o andar. O casarão foi tombado em 1957 pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Hoje é a sede de uma marina, onde ficam os veleiros do navegador Amyr Klink.   Fazenda Bananal Atualmente conhecida como Murycana, essa fazenda já pertenceu à Dona Geralda Maria da Silva e posteriormente a Samuel Costa, ambos figuras de importância histórica em Paraty. Possuia originalmente 314 alqueires. O antigo Caminho do Ouro, com seus tropeiros e bandeirantes, passava pela fazenda. O casarão da fazenda é uma edificação de uso residencial/industrial – sede da fazenda e engenho. As paredes foram construídas de pau a pique, sendo as colunas feitas de pedra e óleo de baleia. O pavimento superior era destinado à residência e o inferior servia de senzala e, posteriormente, para a fabricação de pinga. A roda d’água que move o engenho é de origem inglesa e possui aproximadamente 200 anos. No alambique já foram produzidas as pingas das marcas Paratiana, Serrana e Murycana. Atualmente o alambique não está mais funcionado.   Hoje o lugar é uma fazenda turística com pequeno museu, restaurante, passeios a cavalos e parques para criança e adultos, esse último possuindo equipamentos para prática de esporte de aventura como arvorismo e tirolesa.  

HISTÓRIA DAS EMBARCAÇÕES

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Caravela   Canoas indígenas As primeiras embarcações a navegar pelas águas fluviais e marítimas de Paraty foram as canoas indígenas feitas de um único tronco. Antes da chegada dos portugueses, os índios viviam na Idade da Pedra, motivo pelo qual não seria possível a construção de embarcações mais elaboradas. Essa condição limitava também o tamanho das canoas, pois era difícil escavar grandes troncos utilizando ferramentas de pedras. As canoas indígenas para dez ou mais lugares tornaram-se mais comum depois do contato com os portugueses, quando o índio passou utilizar o metal, cedido pelos portugueses em troca do pau-brasil.  Caravelas Embarcação de origem moura, foi modificada e melhorada pelos portugueses para viagens mais longas, sendo utilizada nos descobrimentos das rotas marítimas da África e Índia e para exploração do litoral brasileiro, incluindo aí a baía de Ilha Grande. Embarcação de porte médio, com até 200 toneladas, as caravelas possuíam uma relação entre comprimento e largura de 3:1. Tinham três mastros e velas latinas (retangulares ou triangulares). O casario da tripulação ficava na popa, motivo pelo qual esta era mais alta que a proa. Apesar de serem embarcações leves e ágeis foram logo substituídas pelas naus, maiores e de velame redondo. Este tipo de embarcação foi muito utilizada no fim do século XV e início do XVI.  

Nau   Naus Após o período dos descobrimentos, surgiu a necessidade de embarcações maiores para o transporte de cargas como o pau-brasil, açúcar, metais preciosos e escravos. Assim, chegavam no litoral brasileiro as naus, com porte médio de 1000 toneladas. Possuíam quatro mastros e velas redondas. arrendodado também era seu casco, tanto acima como abaixo da linha d’ água. Havia casario para mantimentos e cargas na popa e para a tripulação na proa.   Sumacas A partir de meados do século XVII toda a riqueza produzida no país e exportadas para a Portugal eram levadas aos principais portos. Surgia daí a necessidade de embarcações menores para levar as mercadorias dos centros produtores para os esses portos. Para atender a demanda deste tipo de barco são montados vários estaleiros no nordeste brasileiro. Começa assim a produção de sumacas, embarcações de origem holandesa, com dois mastros e velas latinas (retangulares ou triangulares), utilizadas para transporte de carga e passageiros entre portos nacionais. Em Paraty, durante o ciclo do ouro e do café, eram as sumacas que embarcavam esses produtos para serem levados ao porto do Rio de Janeiro, onde eram então exportadas. Substituídas pelos barcos a vapores em meados do século XIX, continuaram sendo usadas em Paraty até início do século XX para transporte de pescados e produtos agrícolas para o Rio de Janeiro.   Barcos a vapores Inventado nos Estados Unidos em 1807, chegaram ao Brasil aproximadamente cinquenta anos depois. Enquanto as sumacas

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navegavam no máximo à 16 km/h os barcos a vapores faziam 57 km/h, motivo pelo qual substituíram às sumacas. Dois barcos a vapores - o Nacional e o Presidente - faziam o transporte de passageiros e cargas entre Paraty e Rio de Janeiro, uma vez que até 1950 não havia nenhuma estrada ligando Paraty à outra cidade.   Canoas caiçaras Devido ao isolamento econômico e geográfico que Paraty viveu entre 1870 e 1950, a canoa caiçara era a embarcação mais utilizada pelos paratienses. De origem indígena e feita de um único tronco, pouco se modificou com o passar dos séculos. A construção de uma canoa impõe que seu construtor permaneça alguns dias na floresta para a escolha da árvore, o corte e a escavação grosseira do tronco, ficando assim mais leve para ser transportada até o mar. Dependendo do tipo de árvore utilizada varia o tamanho, a durabilidade, o peso e a estabilidade da embarcação. O cedro é considerado a melhor madeira por ser leve e bastante resistente à água salgada. O corte da árvore é feito na lua nova para evitar brocas e fungos. A proa da canoa fica do lado da raiz, por ser mais larga. Do lado mais chato do tronco é feita a boca da canoa. A pintura, feita com tinta óleo, possui cores alegres. A canoa é utilizada para a pesca, transporte, lazer e esporte. Para se ter uma idéia dos tamanhos de árvores que havia em Paraty basta observar algumas canoas para mais de dez pessoas, possuindo até motor de centro. É interessante reparar que apesar de não ser mais utilizado o vento para mover as canoas, em todas elas há um furo no banco dianteiro onde se pode encaixar um mastro com vela.  

Canoa Caiçara   Baleeiras Com a diminuição do pescado, veio a necessidade do caiçara ir cada vez mais longe em busca do peixe. Atendendo essa finalidade, as primeiras baleeiras apareceram em Paraty no final da década de 1950. Embarcações tipicamente brasileiras, as baleeiras foram projetadas para atividade pesqueira. O formato do seu casco permite enfrentar mar aberto e, no pequeno casario central há beliches e um fogão para que os pescadores possam dormir e cozinhar. O porão para guardar peixe fica na proa (parte da frente da embarcação) e é refrigerado à gelo. Apesar do nome, em Paraty, nunca foi usada para a pesca de baleia. As pescas mais comuns feitas de baleeira são o arrastão, o espinhel e a rede de espera. No arrastão uma ou duas baleeira puxam uma rede que vai capturando tudo que há pelo caminho. Já no caso do espinhel (cabo de aço com vários anzóis presos) e na rede de espera (rede com bóias na parte superior e pesos na inferior) a baleeira é utilizada para colocar e recolher esses instrumentos de pesca em determinados pontos em alto mar.   Com o aumento do turismo e a diminuição cada vez maior do pescado, muitos pescadores adaptaram suas baleeiras para atender essa nova demanda. Assim o casario central foi retirado e, na proa, onde antes havia o compartimento para armazenar o pescado, fizeram uma cobertura para que os turistas subam para tomar sol ou fiquem embaixo para se proteger do sol e do vento. Muitas também foram transformadas em barcos de cargas para levar materiais de construção às casas de veraneios construídas nas ilhas e costas.  

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Baleeira   Escunas O turismo trouxe para Paraty, além de veleiros e lanchas, um novo barco: as escunas. Com

capacidade para até cem passageiros, as escunas são de origem portuguesa e feitas na Bahia ou Maranhão. Uma dúvida que ocorre freqüentemente é qual a diferença entre escuna e saveiro. Existem vários tipos de escuna e um deles é o saveiro, distinguindo-se dos demais pelo formato do casco, quantidade e posição dos mastros e, principalmente, pela origem histórica. O saveiro é brasileiro. É uma adaptação do saveleiro, uma embarcação que os portugueses utilizam desde o século XV para a pesca do savel - espécie de bacalhau encontrado no Mar do Norte. O saveleiro foi escolhido pelos pescadores daquelas águas agitadas por suas excepcionais qualidades de segurança e facilidade de manobra, aliadas à boa capacidade de carga. Trazido para Bahia no início do século XIX, o saveleiro passou a ser contruído em diversos estaleiros da região, para ser utilizado na pesca e no transporte de cargas ou passageiros. Os baianos logo trataram de motorizá-lo e de encurtar seu nome para saveiro.

A BAIA DE PARATY Paraty está situada numa das maiores baías do país, a baía da Ilha Grande, com 1125 km2. Costuma-se

dividi-la em duas partes – a baía de Paraty e a de Angra dos Reis. A costa litorânea de Paraty é bastante recortada. Com extensão aproximada de 180 quilômetros, possui várias enseadas, penínsulas, pontas e ilhas, impedindo a circulação de correntes marítimas. A amplitude média das marés é de 2,0 metros.   Nos locais onde a serra e o mar se encontram, existe, junto a linha d’água, uma faixa de seixos -pedras que rolaram das montanhas - com formas arredondadas devido a ação das ondas. O amontoamento dessas pedras forma tocas onde moram e se escondem peixes, crustáceos e moluscos.   Na parte sul do litoral paratiense, compreendida entre Trindade e o centro histórico, as montanhas da Serra do Mar terminam diretamente no oceano. Nesse trecho o fundo do mar é formado, em sua maior parte, por areia e, a vegetação é a floresta da Mata Atlântica.  

Já na parte norte, compreendida entre o centro histórico e a divisa com Angra dos Reis, existe uma planície separando o mar das montanhas. Nesse trecho, as marés mais altas invadem a planície, originando uma vegetação típica de mangue, cujas principais características são os arbustos com raízes altas e o fundo lodoso, rico em mariscos e caranguejos.   Os ventos definem a temperatura e a claridade da água: os ventos sul e sudoeste sujam e esfriam a água, enquanto os de leste e norte, esquentam e limpam a água.   Por ser uma baía fechada, abrigada do mar aberto por várias ilhas e penínsulas, os passeios de barco são sempre agradáveis e seguros. Existem, apenas no município de Paraty, cinquenta e cinco ilhas, dez lajes cujas pontas estão acima do nível d’água e dezessete lajes submersas e mais afastadas da costa.  

O FENÔMENO DAS MARÉS

Centro histórico invadido pelo mar   Nas marés de sizígia ocorrem as maiores amplitudes da maré, devido à posição dos astros e as suas forças gravitacionais. Nesses dias, quando a maré abaixa ao ponto mínimo, o fundo do mar fica a vista em alguns locais, especialmente nas proximidades do cais e nas praias do Pontal e Jabaquara.   Por outro lado, quando a maré sobe, as águas invadem a cidade. As ruas foram projetadas para permitir a entrada e saída da água do mar, sendo uma forma natural de limpá-las. Já as casas foram construídas trinta centímetros acima do nível das ruas de forma a não entrar a água do mar. Esse fenômeno ocorre principalmente nos primeiros dias de lua cheia e de lua nova.  

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Nas marés muito fortes, quase todo o centro histórico fica alagado e é normal encontrar caiçaras com suas canoas remando pelas ruas. Nas marés normais, as ruas sempre invadidas pelo mar são as Dr. Pereira e Santa Rita. Por esse motivo, não estacione o carro nesses locais, em especial na rua Dr. Pereira próximo ao mercado de peixe. A altura que a maré atingiu dentro da cidade fica registrada em marcas horizontais nas paredes das casas das ruas mencionadas.   Cercada por dois rios e pelo mar, um grande perigo para a cidade é coincidir chuvas fortes fazendo os rios transbordarem, com marés muito altas, trazidas pelas marés de sizígia e por ventos vindo do mar em direção a terra.

A FAUNA MARINHA E BIODIVERSIDADES Os manguezais são criadouros naturais dos caranguejos.  

Os PeixesExistem centenas de espécies de peixes na baía de Paraty. Abaixo uma relação dos mais conhecidos, muitos dos quais pescados para a alimentação.

  Nome Comum Nome Científico Peso Máximo (kg)

Badejo-da-areia Mycteroperca microlepis 37

Badejo-mira Mycteroperca acutirostris 6

Badejo-quadrado Mycteroperca bonaci 100

Bagre-bandeira Bagre marinus 4,5

Baiacu-arara Lagocephalus laevigatus 4

Barracuda Sphyraena barracuda 50

Bicuda Sphyraena guachancho 2,5

Bonito-pintado Euthynnus alletteratus 16

Budião-comum Sparisoma viride 4

Caranha Lutkanus griseus 20

Carapau Caranx chrysos 8

Cavala-verdadeira Scomberomorus cavalla 45

Cherne Epinephelus niveatus 300

Corvina Micropoganias furnieri 4

Dentão Lutjanus vivanus 8,4

Dourado Coryphaena hippurus 40

Enchova Pomatomus saltator 14,5

Frade Pomacanthus paru 2,5

Garoupa-verdadeira Epinephelus marginatus 60

Jamanta Manta birostris 3000

Linguado-preto Paralichthys brasiliensis 12

Manjuba Anchoviella lepidentostole 0,08

Mero Epinephelus itajara 455

Moréia-pintada Gymnothorax moringa 5

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Pampo-galhudo Trachinotus goodei 2

Parati Mugil curema 1,5

Pargo Pagrus pagrus 8

Peixe-galo Selene setapinnis 4,6

Pescada-branca Cynoscion leiarchus 6,3

Piranjica Kyphosus incisor 10

Raia-manteiga Gymnura altavela 60

Raia-pintada Aetobatus narinari 227

Raia-prego Dasyatis americana 112

Robalo Centropomus undecimalis 24,5

Sargento Abudefduf saxatilis 0,4

Sargo-de-dente Archosargus probatocephalus 9,7

Sororoca Scomberomorus brasiliensis 6,8

Tainha Mugil liza 9

Vermelho Lutjanus buccanella 14

Xaréu Caranx hippos 32  Os Moluscos e Crustáceos Com exceção para o polvo, lagosta e mexilhão, os manguezais são os locais preferidos de criação e habitat da maioria dos moluscos e crustáceos da região, como sururu, vongoli, tarióba, praguaí, ostra, camarão, siri e caranguejo.  

A baía de Paraty possui várias espécies de golfinhos.   Os Mamíferos Marinhos A baía de Ilha Grande é o local onde existe a maior variedade de golfinhos e baleias do Brasil. Alimentação, descanso e cria dos filhotes são os principais usos que fazem da baía esses mamíferos, conhecidos cientificamente como cetáceos.   Assim como os humanos, os cetáceos amamentam com leite seus filhotes, possuem pulmão (e portanto precisam de ar para respirar) e têm sangue quente (temperatura de 36o C). De acordo com a espécie, alimentam-se de pequenos peixes, lulas ou plâncton. Respiram através de um orifício localizado no topo da cabeça e conseguem ficar até uma hora submersos.  

Durante os mergulhos é possivel encontrar tartarugas   Para se locomover e guiar utilizam tanto os mecanismos de visão como o de sonar (emitem ruídos que ao atingir um objeto retornam ao apurado sistema auditivo,

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informando a distância e tamanho do objeto). Os cetáceos se reproduzem a cada dois ou três anos, tendo um filhote de cada vez.  

As arraias costumam ficar descansando na areia.   Pesquisa realizada pelas biólogas Liliane Lodi e Bia Hetzel na baía da Ilha Grande registrou a presença dos seguintes cetáceos:   - Baleias: Franca do Sul (Eubalaena australis), Bryde (Balaenoptera edeni), Minke (Balaenoptera acutorostrata), Jubarte (Megaptera novaeangliae), Cachalote (Physeter macrocephalus), Orca (Orcinus orca), Falsa Orca (Pseudorca crassidens), Piloto de Peitorais Curtas (Globicephala macrorhynchus)   - Golfinhos: Flíper (Tursiops truncatus), Boto Cinza (Sotalia fluviatilis), Dentes Rugosos (Steno bredanensis), Pintado do Atlântico (Stenella frontalis) e Golfinho Comum (Delphinus delphis).

MATA ATLÂNTICA

O tucano é uma ave típica da Mata Atlântica   Originalmente a Mata Atlântica - também conhecida como Floresta Pluvial Tropical, Floresta Ombrófila Densa ou Floresta Atlântica - ocupava quase toda a faixa litorânea do Brasil, indo do Rio Grande do Sul ao Rio Grande do Norte, numa área de 1,3 milhões de quilômetros quadrado, equivalente a 15% de todo território nacional. Era a segunda maior floresta tropical, perdendo apenas para a Floresta Amazônica.   O início da devastação da Mata Atlântica ocorreu no ano de 1500 quando cortaram uma árvore para fazer uma cruz e rezar a primeira missa em solo brasileiro. Durante o ciclo do pau-brasil (Caesalpinia echinata) foram retirados 70 milhões de pés, utilizados para tingir tecidos europeus. No diário de bordo da nau Bretoa que esteve no Brasil em 1511 foi registrada uma carga de cinco mil toras de pau-brasil, três mil peles de onça e seiscentas araras.   O desmatamento continuou com os ciclos do açúcar e do café que derrubaram enormes áreas para plantação de cana-de-açúcar (Saccharum officinarum) e café (Coffea arabica), com o ciclo do ouro que poluía rios, lagos e mananciais, e com o crescimento das vilas e hoje das cidades. No fim das contas restaram apenas 7% da Mata Atlântica, concentradas em áreas descontinuadas das serras do Mar e da Mantiqueira.  

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Em Paraty a Mata Atlântica chega até o mar   A Mata Atlântica na região de Paraty também não escapou ilesa. No final do século XVIII havia na vila mais de 150 alambiques de pinga. Praticamente toda a área do município (917 km2 ou 2,12% do Estado do Rio de Janeiro) se tornou plantação de cana-de-açúcar. Hoje essa área foi naturalmente reflorestada formando uma mata secundária que cobre aproximadamente 80% do território paratiense. Em Paraty, encontra-se mata primária apenas na Reserva Ecológica da Joatinga e em alguns pontos mais altos da serra.   A biodiversidade da Mata Atlântica é muito grande e uma de suas características é o fato de muitas das espécies serem endêmicas, ou seja, só existem nessa floresta. A fauna é extremamente rica e variada. Existem aproximadamente 250 espécies de mamíferos (50 endêmicas), 1000 espécies de aves (190 endêmicas), 370 espécies de anfíbios (90 endêmicas), 350 espécies de peixes (130 endêmicas), 150 espécies de répteis e 800 espécies de árvores.   Na região de Paraty, existe uma série de ecossistemas associados à Mata Atlântica:   Mangues: com a maré alta, as águas dos rios são represadas alagando as planícies costeiras. Nessas áreas encontram-se os manguezais (rizophora mangle). Apesar de haver pouca diversidade de vegetação, é local de criadouro de aves, peixes, crustáceos e moluscos. Caracterizado pelos arbustos e árvores de raízes suspensas.   Restingas: pedaços planos e baixo de terra que se alongam até o mar. Possui vegetação rasteira.   Ilhas costeiras: a vegetação é igual à do continente. Nas ilhas maiores, costuma existir fontes de água doce.   Campos de altitude: localizados na serra do mar acima de 1400 metros de altura. Devido ao clima mais frios e constantes ventos a vegetação é rala e baixa, com a presença de arbustos.  

  Os principais representantes da fauna e flora da Mata Atlântica que habitam (ou habitavam) a região de Paraty:   Árvores de Grande Porte (mais de doze metros): Paineira (Chorisia crispiflora), Cedro (Cedrella fissilis), Ingá (Inga uragensis), Canela Preta (Nectandra sp), Indaiá (Attalea indayá), Sucupira (Bowdichia virgilicides), Jequitibá (Casiniana brasiliensis), Jacarandá (Jacaranda brasiliana)   Árvores de Porte Médio ou Pequeno (de quatro a doze metros): Palmito (Euterpe oleracea), Chorão (Tibouchina granulosa), Quaresma (Tibouchina pulchra), Abricó (Manikaria subsericea), Mangue Bravo (Rapanea goyanensis), Caixeta (Tabebuia obtusifolia), Goiaba (Psidium guajava),Pitanga (Eugenia uniflora)   Arbustos: Feijão da Praia (Sophora tomentosa), Cambará (Lantana camara), Pimentinha (Erythroxylum ovalifolium), Aroueira Vermelha (Schinus terebentifolius), Cipó (Marcgravia myriostigma), Caraguatá (Neoregelia johannis), Samambaia (Polipodiaceae sp), Folha da Fortuna (Bryophyllum pinatum), Lírio do Brejo (Hedychium coronarium)   Animais: jaguatirica, lontra, raposa, veado, gambéas, capivara (hydrochoerus hydrochoeris), paca, macacos, tatu, porco-do-mato (Tajassu pecari), cotia (Dasyprocta aguti), mono-carvoeiro (brachyteles arachonoides - maior primata americano)   Aves: sabiá, papagaio, periquito, pica pau, tucano, mutum, macuco, gaviões   Repteis: cobra, lagarto.UNIDADES DE CONSERVAÇÃO AMBIENTAL

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A parte leste do Saco de Mamanguá é protegida pela Reserva Ecológica da Joatinga   Em Paraty existem cinco unidades de proteção ambiental, cobrindo dois terços dos 917 km2 do município. Essas unidades são espaços territoriais protegidos por leis, visando a preservação dos atributos naturais. Em Paraty existem seis unidades de proteção ambiental: Parque Nacional da Serra da Bocaina, Área de Proteção Ambiental do Cairuçu, reserva Ecológica da Joatinga, Parque Ecológico de Paraty-Mirim, Área de Proteção Ambiental da Baía de Paraty e Estação Ecológica de Tamoios"   Existem diversos tipos de proteção. Nos Parques Ecológicos a propriedade da terra pertence ao governo e são permitidas a visitação controlada com fins turísticos, educativos ou de pesquisa. Nas Reservas Ecológicas só é permitida a visita com fins de pesquisa e a propriedade também é do governo. Nas Áreas de Proteção Ambiental a propriedade pertence a particulares que podem construir seguindo algumas normas de preservação. Coincidindo duas ou mais unidades de proteção na mesma área, fica valendo as normas da unidade mais restritiva. Em Paraty as unidades de proteção são:   Parque Nacional da Serra da Bocaina Criado pelo Decreto Federal 68.172/71 e alterado pelo Decreto 70.694/72, possui uma área de 110.000 hectares, dos quais 35.000 estão em Paraty. Abrange toda a Serra do Mar entre Paraty e Angra dos Reis, extendendo-se a oeste até São José do Barreiro. Ao sul faz divisa com o Parque Estadual da Serra do Mar, na região de Ubatuba. Toda área do parque pertence ao governo federal e nada se pode construir ou desmatar.   Área de Proteção Ambiental do Cairuçu A APA do Cairuçu, criada pelo Decreto Federal 89.242/83, visa racionalizar a ocupação do solo, protegendo tanto a natureza – espécies ameaçadas e recursos hídricos - quanto as comunidades caiçaras, cuja cultura é ainda preservada. Diferentemente de um Parque Nacional, uma Área de Proteção Ambiental é formada por propriedades privadas que devem observar algumas regras de uso visando a preservação ambiental.   A APA do Cairuçu inicia ao norte junto ao rio Mateus Nunes e termina ao sul em Trindade, na divisa com o estado de São Paulo. Pelo mar abrange 63 ilhas, desde a ilha do Algodão em Mambucaba, até a ilha de Trindade. Dentro dessa APA está a Reserva Ecológica da Joatinga, o Parque Ecológico de Paraty-Mirim e duas reservas indígenas com suas respectivas aldeias (Araponga e Paraty-Mirim).  

Reserva Ecológica da Joatinga Criada por Decreto Estadual em 1992, a reserva possui 10.000 hectares, envolvendo toda a península localizada entre o Saco de Mamanguá, Ponta da Joatinga e Ponta Negra. Situada dentro da APA do Cairuçu, possui algumas das mais belas praias de Paraty: Sono, Antigos, Antiguinhos, Ponta Negra, Martins de Sá, Pouso, Itanema, Calhaus, Itaóca e Grande da Cajaíba. A floresta dessa reserva é a única mata primária existente no município, diferenciando-se das demais pela grossura e altura das árvores e pela grande quantidade de palmito jussara existente.  

Parque Ecológico de Paraty-Mirim A antiga Área de Lazer de Paraty-Mirim foi transformada em Parque Ecológico para evitar que à forte presença turística na região pudesse prejudicar o ecossistema. Nela está a praia ,o rio e a Reserva Indígena de Paraty-Mirim. Também está situada dentro da APA do Cairuçu. Junto à praia está a igreja de Nossa Senhora da Conceição e algumas ruínas de casarios coloniais, ambos tombadas pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).  

Área de Proteção Permanente da Baía De Paraty Criada por lei municipal, visa proteger a baía de Paraty da pesca predatória, especialmente o arrastão, definindo os locais e as épocas permitidas para esse tipo de pesca  

Estação Ecológica de Tamoios Criada pelo Decreto Federal nº 98.864 em 1990, Estações Ecológicas são áreas representativas de ecossistemas brsileiros, onde devem ter preservação permanente de 90% ou mais da área e, na área restante poderá ser autorizada a realização de pesquisa.

RIOS NAVEGÁVEIS

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Rio Paraty Mirim   Em Paraty existe oito rios que permitem navegação com pequenas embarcações (botes, baleeiras, pequenas lanchas)   1- Rio Cairuçu (Saco do Mamanguá)2- Rio dos Meros (Saco da Cotia)3- Rio Paraty-Mirim4- Rio Mateus Nunes5- Rio Perequê-Açu6- Rio Barra Grande7- Rio Taquari8- Rio Mambucaba   Rio Cairuçu (Saco do Mamanguá) Acesso apenas com barco de pequeno. Recomenda-se não usar motor por ser uma região de criadouro de peixes e crustáceos. O início do rio Cairuçu está escondido no mangue do fundo do Saco de Mamanguá, logo após dobrar a Ponta do Bananal. No começo do rio a água é escura e a vegetação é de mangue. Após alguns minutos navegando a água fica cristalina e a vegetação muda para floresta da Mata Atlântica. Localização geográfica na barra do Rio 23o 17,68’S / 044o 38,40’W   Rio Paraty-Mirim Acesso apenas com barco de pequeno porte (bote ou lancha com motor de popa). O passeio pelo rio em sua parte navegável é feito dentro de um mangue com muitas aves. Localização geográfica na barra do Rio 23o 14,35’S / 044o 38,08’W   Rio Meros (Saco da Cotia) Rio de boa profundidade. Começa no fundo do Saco da Cotia e é navegável até a ponte que existe na rodovia BR-101. Belíssima vegetação de mangue com muitas aves. Local rico em caranguejos, ostras, sururu e vongoli. Localização geográfica na barra do Rio 23o 15,15’S / 044o 41,60’W   Rio Mateus Nunes Rio de boa profundidade que limita a periferia da cidade. Existem em sua margem vários pequenos estaleiros. A ocupação urbana em sua margem se deu de forma desorganizada e feia, fazendo não valer a pena um passeio pelo rio. Localização geográfica na barra do rio   Rio Perequê-Açu Rio localizado no centro da cidade. A parte mais rasa do rio fica junto à barra, no encontro com o mar. Passando esse trecho o rio torna-se profundo sendo possível a navegação com lanchas e baleeiras. Localização geográfica na barra do Rio 23o 12,98’S / 44o 42,50’W   Rio Barra Grande Sua navegação só é possível na maré alta e com botes pequenos ou canoas. Localização geográfica do início do Rio 23o 06,10’S / 044o 41,60’W   Rio Taquari Sua navegação só é possível na maré alta e com botes pequenos ou canoas. Localização geográfica na barra do Rio 23o 03,30’S / 044o 40,05’W   Rio Mambucaba O rio Mambucaba faz a divisa entre Paraty e Angra dos Reis e é o maior rio da região, permitindo a navegação com lanchas maiores. Localização geográfica na barra do Rio 23o 01,70’S / 044o 30,95’W  

OS POVOS PRÉ-HISTÓRICOS   De acordo com a tese das “Quatro Migrações” a América foi colonizada a partir de quatro fluxos migratórios. O primeiro, iniciado há 12.000 anos atrás, foi feito por povos de origem africana. Os demais foram feitos por populações mongóis, cujo DNA é o mesmo das populações indígenas atuais, e que assimilaram ou substituíram a primeira leva migratória. O caminho utilizado para chegar à América foi uma ponte de gelo formada nos períodos glaciais unindo a Ásia ao Alasca.   Os arqueólogos dividem as populações pré-históricas em tradições, de acordo com a maneira comum de fazer objetos e de se relacionar com o meio ambiente tais como, exclusivamente pescadores, caçadores e pescadores, ceramistas, horticultores.   As pesquisas arqueológicas realizadas em Paraty na década de 1970 puderam distinguir duas tradições nessa região: a Humaitá e a Tupi-guarani.   O povo mais

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antigo é o da tradição Humaitá - viveram a partir de 6600 anos AP (Antes do Presente). São extrativistas (caçadores, pescadores e coletores de frutos), produziam instrumentos em pedras (facas, raspadores, machados, quebra-coquinho, pontas de lanças), não conhecia a cerâmica, tinham em média 1,60 de altura e uma expectativa de vida inferior a trinta anos. Pôde-se definir três fases desse povo em Paraty. Na primeira, a alimentação era baseada principalmente em moluscos e crustáceo e, os instrumentos eram quase exclusivamente feitos em pedras. A fase seguinte caracteriza-se pela alimentação baseada em peixes e na produção de instrumentos feitos sobre ossos e dentes de peixe, destacando-se as pontas de ossos longos, esporões de raia e bico de peixe agulha. Por último, a caça foi introduzida na alimentação, permanecendo estáveis a produção de instrumento em pedras e ossos, acrescentando apenas a utilização de dentes de mamíferos terrestres possivelmente para adorno. Os hábitos alimentares indicam que esse povo era nômade, vivendo em tocas de pedras roladas ou abrigos provisórios.  

  Pela profundidade do material arqueológico encontrado nos sambaquis (lugar utilizado como abrigo, cozinha e sepultamento pelos povos antigos, em tupi samba=mariscos ki=amontoados), concluiu-se que o povo de tradição Tupi-guarani chegou à Paraty junto ou pouco antes da época do descobrimento. Esse povo seminômade caracteriza-se por ser horticultor (pequenas roças de mandioca e milho) e ceramista, sem no entanto abandonar a alimentação extrativista e deixar de utilizar instrumentos feitos em pedras, ossos e dentes. A cerâmica Tupi-guarani era destinada principalmente à culinária, seja para produção de panelas ou jarros para armazenamento de água e, possuem decorações características.   Também foram encontrados materiais arqueológicos de um povo fora das tradições Humaitá ou Tupi-guarani e que e estiverem em Paraty em algum período entre as duas. Esse material, composto por cerâmicas simples, pode ser da tradição Vieira ou da Taquara.   Na primeira camada das escavações arqueológicas, próxima à superfície, foram encontrados artefatos de indígenas aculturados, caracterizado pelo abandono dos instrumentos em pedras e ossos, substituídos por metal, e pela substituição dos motivos indígenas pelo europeu nas decorações das cerâmicas. A partir dessa fase muitos índios passaram a viver em aldeias, seja para facilitar a catequização seja pelo fato de não mais poderem andar livremente pelas terras.   Em Paraty, o abaixamento do mar em mais de dez metros da atual altura pôde ser constatado pelos buracos feitos por ouriços-do-mar em pedras localizadas na serra. Também se notou que os sambaquis mais antigos estavam próximos às serras, confirmando essa tese.