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• Sobrinho de Émile Durkheim
• Pai da escola antropológica francesa
• Militante socialista na França da 3ª República
• Obra difusa e não sistemática
• Temas: magia, morfologia social, noção de pessoa, técnicas do corpo, morte, dádiva
Marcel Mauss(1872-1950)
Marcel Mauss(1872-1950)
Émile Durkheim (1858-1917)
Raymond Aron(1905-1983)
Pierre Bourdieu(1930-2002)
Claude Lévi-Strauss(1908-2009)
Philippe Descola(1949-)
Escola da Regulação Economia das
Convenções
Ensaio sobre a dádiva (1923-24)
• Como funcionam economias sem contratos e sem moedas modernas?
• Evidência comparativa ampla: Melanésia, Polinésia, África e Américas
[C]hegaremos a conclusões de certo modo arqueológicas sobre a natureza das
transações humanas nas sociedades que nos cercam ou que imediatamente nos
precederam. [...]. Nelas veremos o mercado antes da instituição dos mercadores, e
antes de sua principal invenção, a moeda propriamente dita; de que maneira ele
funcionava antes de serem descobertas as formas, pode-se dizer modernas
(semítica, helénica, helenística e romana), do contrato e da venda, de um lado, e a
moeda oficial, de outro. Veremos a moral e a economia que regem essas transações.
E, como constataremos que essa moral e essa economia funcionam ainda em nossas
sociedades de forma constante e, por assim dizer, subjacente, como acreditamos ter
aqui encontrado uma das rochas humanas sobre as quais são construídas nossas
sociedades, poderemos deduzir disso algumas conclusões morais sobre alguns
problemas colocados pela crise de nosso direito e de nossa economia, e nos
deteremos aí.
Mauss, M. Ensaio sobre a dádiva, p.188-189.
Nas economias e nos direitos que precederam os nossos, nunca se constatam, por assim
dizer, simples trocas de bens, de riquezas e de produtos num mercado estabelecido entre
os indivíduos. Em primeiro lugar, não são indivíduos, são coletividades que se obrigam
mutuamente, trocam e contratam; as pessoas presentes ao contrato são pessoas morais:
clãs, tribos, famílias, que se enfrentam e se opõem seja em grupos frente a frente num
terreno, seja por intermédio de seus chefes, seja ainda dessas duas maneiras ao mesmo
tempo. Ademais, o que eles trocam não são exclusivamente bens e riquezas, bens móveis
e imóveis, coisas úteis economicamente. São, antes de tudo, amabilidades, banquetes,
ritos, serviços militares, mulheres, crianças, danças, festas, feiras, dos quais o mercado é
apenas um dos momentos, e nos quais a circulação de riquezas não é senão um dos
termos de um contrato bem mais geral e bem mais permanente. Enfim , essas prestações
e contraprestações se estabelecem de uma forma sobretudo voluntária, por meio de
regalos, presentes, embora elas sejam no fundo rigorosamente obrigatórias, sob pena de
guerra privada ou pública. Propusemos chamar tudo isso o sistema das prestações
totais.
Mauss, M. Ensaio sobre a dádiva, p.190-191.
[Nas tribos do noroeste americano] aparece uma forma típica, por certo, mas evoluída e
relativamente rara dessas prestações totais. Propusemos chamá-la potlatch. Essas tribos,
muito ricas, que vivem nas ilhas ou na costa, ou entre as Rochosas e a costa, passam o
inverno numa perpétua festa: banquetes, feiras e mercados, que são ao mesmo tempo a
assembleia solene da tribo. Esta se dispõe segundo suas confrarias hierárquicas, suas
sociedades secretas, geralmente confundidas com as primeiras e com os clãs; e tudo, clãs,
casamentos, iniciações, sessões de xamanismo e culto dos grandes deuses, dos totens ou
dos ancestrais coletivos ou individuais do clã, tudo se mistura numa trama inextricável
de ritos, de prestações jurídicas e econômicas, de determinações de cargos políticos na
sociedade dos homens, na tribo e nas confederações de tribos, e mesmo
internacionalmente. Mas o que é notável nessas tribos é o princípio da rivalidade e do
antagonismo que domina todas essas práticas. [...]. Há prestação total no sentido de que é
claramente o clã inteiro que contrata por todos, por tudo o que ele possui e por tudo o
que ele faz, mediante seu chefe. Mas essa prestação adquire, da parte do chefe, um
caráter agonístico muito marcado. Ela é essencialmente usurária e suntuária, e assiste-se
antes de tudo a uma luta dos nobres para assegurar entre eles uma hierarquia que
ulteriormente beneficiará seu clã.
Mauss, M. Ensaio sobre a dádiva, p.191-192.
Aliás, todo o Kula intertribal não é senão, a nosso ver, o caso exagerado, mais solene
e mais dramático, de um sistema mais geral. Ele tira a tribo inteira d o círculo
estreito de suas fronteiras, e mesmo de seus interesses e de seus direitos; mas
normalmente, no interior, os clãs e as aldeias estão ligados por vínculos do mesmo
gênero. Só que então são somente os grupos locais e domésticos, e seus chefes, que
saem de suas casas, visitam -se, negociam e casam-se. [...]
Enfim, ao lado ou, se quiserem, por cima, por baixo, ao redor e, em nossa opinião, no
fundo desse sistema do kula interno, o sistema das dá divas trocadas permeia toda a
vida econômica e moral dos trobriandeses. Ela está “ impregnada” dele, como disse
muito bem Malinowski. É um constante “dar e tomar” . É como que atravessada por
uma corrente contínua e em todos os sentidos, de presentes dados, recebidos,
retribuídos, obrigatoriamente e por interesse, por grandeza e por serviços, como
desafios e garantias.
Mauss, M. Ensaio sobre a dádiva, p.225-227.
Ensaio sobre a dádiva (1923-24)
[O kula] É exercido de maneira nobre, com uma aparência puramente
desinteressada e modesta. É cuidadosamente diferenciado da simples troca
econômica de mercadorias úteis, que leva o nome de gimwali. Esta, com
efeito, pratica-se, juntamente com o kula, nas grandes feiras primitivas que são
as assembleias do kula intertribal: distingue-se por uma negociação muito tenaz
das duas partes, procedimento indigno do kula. De um indivíduo que não
conduz o kula com a grandeza de alma necessária, diz-se que ele o conduz como
um gimwali. Aparentemente, pelo menos, o kula — assim como o potlatch do
noroeste americano — consiste em dar, da parte de uns, e de receber, da
parte de outros, os donatários de um dia sendo os doadores da vez seguinte.
Mauss, M. Ensaio sobre a dádiva, p.215.
Ensaio sobre a dádiva (1923-24)
“A ideia que convém fazer dessas tribos melanésias, ainda mais ricas e
comerciantes que as polinésias, é portanto muito diferente da que
costuma ser feita. Esses povos têm uma economia extra-doméstica e
um sistema de troca muito desenvolvido, com um ritmo
mais intenso e precipitado, talvez, que o que conheciam nossos
camponeses ou as aldeias de pescadores de nossas costas há menos
de cem anos. Têm uma vida econômica extensa que ultrapassa as
fronteiras das ilhas e dos dialetos, e um comércio considerável. Ora,
eles substituem com vigor, através de dádivas feitas e
retribuídas, o sistema de compra e venda”.
Mauss, M. Ensaio sobre a dádiva, p.230-231.
Antropologia da dádiva
Circuito de dádivas e contra-dádivaspromove a recriação permanente do laço social.
Antropologia da dádiva
• Economia (Bruno Théret)
• Política (Pierre Clastres, Marcos Lanna)
• Parentesco (Claude Lévi-Strauss)
• Mitologia e religião (Claude Lévi-Strauss)
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