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DIVERSIDADE SEXUAL ESERVIÇO SOCIAL
Elementos de uma prática profissional para o enfrentamento à violência contra LGBT
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Beatriz Gershenson Aguinsky
Porto AlegreDezembro de 2011
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do SulFaculdade de Serviço Social
Trabalho de Conclusão de Curso
Guilherme Gomes Ferreira
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1. INTRODUÇÃO2. SOMOS TODOS HOMO (sapiens)?: DA SATANIZAÇÃO DO GÊNERO E DA SEXUALIDADE À
AFIRMAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS2.1 GÊNERO PERFORMÁTICO E CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADE: SUBVERSÕES DE PRESSUPOSTOS2.2 CONSIDERAÇÕES SOBRE A SEXUALIDADE EM SUA HISTORICIDADE2.3 DIREITOS HUMANOS E SEUS MARCOS LEGAIS, ÉTICOS E INSTITUCIONAIS2.4 CENÁRIO ATUAL DE CONQUISTAS DE DIREITOS3. SEXUALIDADE E RELAÇÕES DE GÊNERO NO CAMPO DO SERVIÇO SOCIAL: O QUE SE FALA E O QUE
SE CALA NA PROFISSÃO3.1 O OLHAR DAS TEORIAS MARXISTAS FRENTE À DIVERSIDADE SEXUAL3.2 NEOLIBERALISMO, CAPITALISMO E QUESTÃO SOCIAL3.3 DIREITO À IGUALDADE E DIREITO À DIFERENÇA: O PROJETO ÉTICO-POLÍTICO E OS DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS3.4 MOVIMENTO SOCIAL LGBT BRASILEIRO E A PRODUÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS: ENTRE A INVIBILIDADE E A
VISIBILIDADE PERVERSA4. O ARMÁRIO E O PROJETO DE INTERVENÇÃO: UMA ANÁLISE DO PROCESSO DE ESTÁGIO EM
SERVIÇO SOCIAL4.1 O CAMPO SÓCIOINSTITUCIONAL E SUAS CONTRADIÇÕES4.2 ACOMPANHAMENTO DOS PROCESSOS ADMINISTRATIVOS E O ARTIGO 150 DA LEI ORGÂNICA MUNICIPAL4.3 O LUGAR DO GOVERNO MUNICIPAL JUNTO ÀS POLÍTICAS PÚBLICAS E A ARTICULAÇÃO COM OS MOVIMENTOS
SOCIAIS4.4 REFLEXÕES SOBRE O PROJETO DE INTERVENÇÃO E ALGUNS ACHADOS DA ATUAÇÃO: IDENTIDADE,
NECESSIDADES E (RE)CONHECIMENTO5. CONSIDERAÇÕES FINAIS: O MEIO DA TRAVESSIA
SUMÁRIO
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ESPAÇO SÓCIOINSTITUCIONAL
Fonte: Dados sistematizados (FERREIRA, 2011). 3
Orientação sexual e identidade de gênero enquanto objetos de disputa pública em que diversos saberes, discursos, análises e injunções o investigam (FOUCAULT, 1988). Instituições recaem historicamente sobre a sexualidade, ditam comportamentos e práticas mais ou menos consensualizadas.
Heterossexualidade compulsória (heteronormatividade) em que um sistema social e histórico de dominação instituído e instituinte afirma um padrão inquestionável.
Sexo + Gênero + Desejo afetivo/sexual = harmonia heterossexual. Sexualidade não heterossexual vista como imoral, patologia e crime.
DIVERSIDADE SEXUAL NA HISTÓRIA
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Essas populações têm tido os seus direitos violados na história em toda a ordem e ainda hoje há que se lutar por esses direitos que só resultam do movimento histórico em que são debatidos (COUTO, 2004), já que não nascem todos de uma vez e nem de uma vez por todas (BOBBIO, 2004).
A possibilidade de casar, de adotar uma criança em conjunto, a liberdade de expressão de afeto em espaços públicos, o direito à segurança, à não discriminação na escola, nos serviços de saúde e no sistema de justiça são alguns direitos negados à essa população cotidianamente.
DIVERSIDADE SEXUAL E DIREITOS HUMANOS
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Também a exposição às expressões de violências tem sido
agravada nos últimos tempos, conforme mostram algumas
pesquisas: entre 2000 e 2007, há no Brasil o registro de 1040
assassinatos e 1290 episódios de violência não letal no Brasil
praticados por homofobia (MARTINS, M; FERNANDEZ;
NASCIMENTO, 2010, p. 1) . Só em 2010 o GGB contabilizou o total de
260 assassinatos contra LGBT (MOTT, 2010).
DIVERSIDADE SEXUAL E VIOLÊNCIA
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Violência enquanto expressão da questão social e, portanto, objeto de intervenção do assistente social.
O assistente social é assim requisitado a enfrentar as desigualdades sociais impostas pelo binarismo do gênero e pela perversidade da heterossexualidade.
Profissional comprometido com a defesa intransigente dos direitos humanos enquanto direitos afirmados pela garantia de acesso a toda a população brasileira.
Empenho na eliminação de todas as formas de preconceito, incentivando o respeito à diversidade, à participação de grupos socialmente discriminados e à discussão das diferenças (CFESS, 2009)
DIVERSIDADE SEXUAL E SERVIÇO SOCIAL
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Tema: análise das formas como a administração pública municipal vem respondendo às demandas sociais da população LGBT, em especial às relacionadas com a violência a que esses sujeitos estão vulneráveis, problematizando as políticas públicas existentes que atendem essa população e como a garantia dessas demandas pode proporcionar o reconhecimento social desses sujeitos .
Pressuposto de que a administração pública municipal tem uma resposta às demandas que partem de cidadãos LGBTs, e a maneira como é dada essa resposta pode convergir para produção de, por um lado, vulnerabilidade, e por outro, satisfação com o sistema e constituição de autoimagem de cidadão.
PROJETO DE INTERVENÇÃO
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PROJETO DE INTERVENÇÃO
OBJETIVOS DO PROJETOAmpliar o acesso aos direitos da população LGBT por meio do reconhecimento das demandas sociais e da identidade desses sujeitos como um grupo social, criando condições para a proposição de iniciativas e políticas públicas específicas a essa população e o acesso à informação dos direitos já conquistados.
1. Qualificar o atendimento oferecido à população LGBT por meio da reativação de um GT entre representantes da administração municipal e de capacitações em direitos humanos e diversidade sexual a esses mesmos servidores, sugerindo a proposição de políticas públicas para esses sujeitos.
2. Monitorar os processos administrativos alusivos à discriminação praticada contra LGBTs a fim de que esses sujeitos se reconheçam como cidadãos, como coletivo e como partícipes das tomadas de decisões referentes à garantia dos seus direitos.
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3. Acolher as denúncias de violação de direitos humanos da população LGBT, utilizando a instrumentalidade apropriada, no intuito de encaminhar a demanda apresentada com qualidade e compromisso com os valores éticos da profissão.
4. Articular a rede de atendimento específica para a população LGBT através da participação ativa e itinerante de ações de outras organizações que atendam a esse público, apresentando e divulgando o projeto e atendendo a população LGBT nos espaços sociais já reconhecidos como referência, tais como movimentos sociais e organizações não-governamentais, representando o serviço do CRVV.
5. Publicizar e divulgar a legislação existente em Porto Alegre no que tange os direitos da população LGBT, como o Artigo 150 da LOM em locais frequentados pela população LGBT e em espaços públicos propícios à socialização desses grupos, onde há na atualidade notícias de atos discriminatórios alusivos à homofobia, lesbofobia e transfobia.
PROJETO DE INTERVENÇÃO
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GRUPO DE TRABALHO SOBRE A LIVRE ORIENTAÇÃO SEXUAL
12 encontros do GTLOS, que se mantinham quinzenalmente no
primeiro semestre de 2011 e que passaram a ser mais frequentes
diante da organização do Seminário de Direitos Humanos e
Diversidade Sexual para servidores da PMPA. Importa salientar
que o GT não retomava a continuidade dos encontros desde
2009 e que sua organização acabou sendo oficialmente
responsabilidade do estagiário já no segundo semestre de 2011,
com a produção da I Conferência Municipal de Políticas Públicas
e Direitos Humanos de LGBT de Porto Alegre.
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ART. 150 E AS DISCRIMINAÇÕES HOMOFÓBICAS
N: 17 PAs
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ART. 150 E AS DISCRIMINAÇÕES HOMOFÓBICAS
Sobre os processos administrativos envolvendo situações de homo/lesbo/transfobia, 70,58% deles ainda não foram finalizados (2002-2011).
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12 situações de violação de direitos humanos contra pessoas LGBTs por preconceito e discriminação.
ATENDIMENTOS
Há quatorze anos desembarquei nesta capital, vinda do distante estado do Piauí na esperança de uma vida melhor [...]. Nesta capital morei na rua por dois anos, passei fome, frio e sofri os mais variados abusos sem contar a discriminação que sofri [...]. No entanto em nenhum momento perdi a esperança de dar a volta por cima e manter minha dignidade por mínima que fosse. [...] Um dia cansado de andar nas ruas, percebi que sem um lar seria impossível de me organizar enquanto cidadão, foi aí que procurei a Fasc e me orientaram a procurar o Departamento Municipal de Habitação, expor minha necessidade por uma moradia e aqui estou há quase oito anos lutando por uma moradia. Doente, tomo remédios diários com fortes efeitos colaterais para controlar o HIV, preciso de uma vida regrada que exige cuidados. Sinto-me vulnerável e meu maior temor é ter que voltar a morar nas ruas. Já protocolei um pedido de moradia neste departamento, mas foi perdido. (FERREIRA, 2010a).
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OUTRAS AÇÕES Produção de um manual para os usuários do CRVV com os contatos de
serviços da rede de atendimento específica para cada violação de direitos humanos.
Capacitações para as técnicas do CRMVA e do CRVV sobre sexualidade e relações de gênero. (Oficina sobre o assunto e uma visita do grupo no Programa de Transtorno de Identidade de Gênero do Hospital de Clínicas de Porto Alegre) .
Seminário de Diversidade Sexual e Direitos Humanos destinado aos servidores municipais
I Conferência Municipal de Políticas Públicas e Direitos Humanos de LGBT de Porto Alegre.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
É preciso pensar sobre a sexualidade e as relações de gênero na ótica dos direitos humanos sabendo que esses temas estão inscritos em uma ordem social que é capitalista e neoliberal, e justamente por isso o assistente social vem atuar sobre essa realidade na medida em que sua configuração beneficia alguns e prejudica outros. É um desafio para o profissional que luta por igualdade de direitos e que reconhece nessa sociedade que se alimenta das desigualdades a atuação nas demandas profissionais necessárias para o provimento de uma justiça social que só surgirá na história como uma conquista.
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REFERÊNCIASBOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Tradução de Carlos Nelson Coutinho. 3. ed. Rio de Janeiro: Editora Elsevier, 2004. 232 p.
CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL. Código de Ética Profissional dos Assistentes Sociais. Brasília: CFESS, 1993. In: CONSELHO REGIONAL DE SERVIÇO SOCIAL 10ª REGIÃO. Coletânea de Leis. Porto Alegre: Dacasa Editora, 2009.
COUTO, Berenice Rojas. O direito social e a assistência social na sociedade brasileira: uma equação possível? São Paulo: Cortez, 2004. 198 p.
FOUCAULT, Michel. História da sexualidade I: a vontade de saber. Tradução de Maria Thereza da Costa Albuquerque e J. A. Guilhon Albuquerque. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1988. 176 p.
MARTINS, Marco Antônio Matos; FERNANDEZ, Osvaldo; NASCIMENTO, Érico Silva do. Acerca da violência contra LGBT no Brasil: entre reflexões e tendências. In: FAZENDO GÊNERO 9: DIÁSPORAS, DIVERSIDADES, DESLOCAMENTOS, 2010, Santa Catarina. Anais... Florianópolis: UFSC, 2010. p. 1-9.
MOTT, Luiz Roberto de Barros et al. Epidemia do ódio: 260 homossexuais foram assassinados no Brasil em 2010. Disponível em: <http://www.ggb.org.br/Assassinatos%20de%20homossexuais%20no%20Brasil%20relatorio%20geral%20completo.html>. Acesso em: 27 nov. 2011.
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