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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
MEDITAR É PRECISO: OS EFEITOS DA MEDITAÇÃO
TRANSCENDENTAL NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM À
LUZ DA NEUROCIÊNCIA
Por: Antônio Ricardo Alves do Nascimento
Orientador
Prof. Marta Pires Relvas
Rio de Janeiro
2014
DOCUMENTO PROTEGID
O PELA
LEI D
E DIR
EITO AUTORAL
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
MEDITAR É PRECISO: OS EFEITOS DA MEDITAÇÃO
TRANSCENDENTAL NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM À
LUZ DA NEUROCIÊNCIA
Apresentação de monografia à AVM Faculdade
Integrada como requisito parcial para obtenção do
grau de especialista em Neurociência Pedagógica
Por: Antônio Ricardo Alves do Nascimento
AGRADECIMENTOS
Agradeço a todos que, direta ou indiretamente,
contribuíram para realização deste trabalho, em especial:
a minha filha Nathalia pela compreensão e paciência
quando das ausências, devido as horas de estudos
nas quais precisei me dedicar e aos demais
membros da minha família pelo carinho e incentivo;
à Martha Relvas, minha orientadora, pela forma
generosa e gentil, de compartilhar seus
conhecimentos e conduziu-me à conclusão dessa
jornada;
aos meus colegas do curso de especialização em
neurociência pedagógica, pela parceria e
companheirismo durante esse processo de
conhecimento e descoberta.
DEDICATÓRIA
A você que, não por acaso, encontra-se com este
trabalho diante dos olhos prestes a ser apreciado pelos
lobos frontais
RESUMO
A prática de MT propicia, por meio da plasticidade cerebral,
modificações mensuráveis nas áreas ligadas ao sistema límbico, responsável
pelos processos relacionados às emoções (ansiedade, estresses etc.), do
córtex pré-frontal, este voltado para o planejamento, comportamento social,
pensamentos complexos etc., o hipocampo responsável pelos processos
ligados à aprendizagem e memória.
A neurociência desempenha um papel de significativa importância, no
sentido de desmistificar a prática da MT, fornecendo fundamentação científica
necessárias ao esclarecimento da relação entre os estados alterados da
consciência e o processo de aprendizagem.
O trabalho em tela estimula uma reflexão sobre o possível uso, no
âmbito escolar, de uma ferramenta de relativa simplicidade de aplicação,
natural e de comprovada eficácia, somando-se ao arsenal pedagógico,
necessário ao atual docente, visando ao atendimento das necessidades cada
vez mais demandantes dos alunos, fruto dessa nova era ditada pela tecnologia
da informação.
Palavras chave: Aprendizagem. Educação. Meditação Transcendental.
Neurociência. Plasticidade Cerebral.
METODOLOGIA
O estudo proposto será realizado por meio de pesquisa bibliográfica
qualitativa em artigos acadêmicos e científicos específicos, periódicos, sítios
eletrônicos, tendo em conta critérios como credibilidade e cientificidade,
revistas especializadas no tema, livros de autores consagrados em assuntos
relativamente à meditação, psicologia, educação e neurociência, tais como:
Antônio R. Damásio; Augusto Cure; Daniel Goleman; Leonor B. Guerra;
Elkonon Goldberg; Leonardo Mascaro; Marta Pires Relvas; Ramon M. Cosenza
e Richard Davidson
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I - O cérebro e a aprendizagem 09
CAPÍTULO II - Neurociência da Meditação 20
CAPÍTULO III – Meditação e Aprendizagem 33
CONCLUSÃO 43
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFIAS 45
ÍNDICE 48
8
INTRODUÇÃO
Em consonância com as mais recentes pesquisas no campo da
neurociência, possibilitadas pelo atual avanço tecnológico e, considerando a
constante evolução comportamental do atual público alvo - os alunos - em
decorrência da popularização de ferramentas tecnológicas de informação e
comunicação, tais como: internet móvel, facebook, telefones celulares de
última geração, tablets, aparelhos de multimídia, ipods, iphones etc., todas
concorrendo pela a atenção e foco dessa “clientela”, contribuindo desta forma
para uma relativa sensação de estresse e ansiedade que, de certa maneira,
compromete o processo de aprendizagem, o presente trabalho, busca abordar,
com base nas atuais pesquisas e publicações científicas, os mecanismos que
envolvem processo de meditação, especificamente, a meditação
transcendental, sua influência nas respostas neuorofisiológica do cérebro,
contribuindo como mais uma ferramenta do processo pedagógico. Para tanto,
no capitulo I, são descritos os aspectos funcionais das principais estruturas
cerebrais, relacionando-as aos processos de memória e aprendizagem; no
capítulo II, argumenta-se sobre a neurociência voltada para a meditação e
suas implicações nos estágios meditativos; por fim, no capítulo III, são
abordadas as aplicações da meditação, no âmbito educacional, evolvendo a
propriedade de neuroplasticidade cerebral no processo de aprendizagem.
9
CAPÍTULO I
O CÉREBRO E A APRENDIZAGEM
Embora dez por cento não se aplique para
quanto nós usamos nosso cérebro, pode
aplicar-se a quanto nós entendemos como
nossos cérebros funcionam.
Robynne Boyd
1.1 – Estrutura cerebral: arquitetura e aspectos funcionais
O cérebro é, notoriamente, o maior e mais poderoso órgão da
constituição biológica do ser humano. Formado por cerca de 90 bilhões de
neurônios e mais de 10 trilhões de conexões entre os mesmos (sinapses).
Todo esse arsenal faz-se necessário para dar conta da complexidade
que é o perfeito funcionamento do ser humano. Inclusive permitindo o
desenvolvimento de atividades totalmente autônomas, como é o caso da
respiração, sono, batimentos cardíacos etc.
É neste fascinante órgão que se dá o processamento das emoções,
pensamentos e aprendizagem. Esta última, intimamente ligada à memória que,
segundo LENT, 2013, refere-se aos processos de adquirir, formar, conservar e
evocar informações, sendo a faze de aquisição coloquialmente chamada de
“aprendizagem”, enquanto a evocação recebe as denominações de expressão,
recuperação e lembrança.
Para desempenhar essas funções, dentre outras, o cérebro necessita de
consumir energia. Para ser ter uma idéia dessa necessidade e do desempenho
cerebral, sabe-se que o custo energético do cérebro para manter uma
10
atividade mínima do corpo em repouso gira em torno de 1/4 do oxigênio
consumido pelos tecidos, apesar deste órgão representar apenas 1/50 da
massa corporal.
O processo de aprendizagem ou memória é codificado pelos neurônios,
armazenado em redes neurais e evocadas por estas mesmas redes ou por
outras (LENT, 2013).
Os neurônios constituem a unidade funcional do cérebro, tanto que
alguns autores referem-se ao cérebro como sendo uma “máquina neural”.
Essa unidade fundamental pode ser classificada em mais de mil tipos
diferentes, porem possuem uma arquitetura
básica, sendo:
• corpo celular – constituído de
núcleo e pericário, geralmente
encontrado em áreas restritas do
sistema nervoso, que formam o
Sistema Nervoso Central (SNC),
ou nos gânglios nervosos,
localizados próximo da coluna
vertebral, sendo responsável por dar
suporte metabólico para toda célula;
• dendritos - geralmente são curtos, medindo de alguns micrômetros a
alguns milímetros de comprimento, possuem ramificações
semelhantes a galhos de uma árvore, em ângulo agudo, originando
dendrites de menor diâmetro. Apresentam contorno irregular, sendo
responsáveis pela comunicação entre os neurônios por meio das
sinapses e;
Fonte:http://www.sogab.com.br/anatomia/sistemanervosojonas.htm
Figura 1 – Estrutura Básica do Neurônio
11
• axônio – filamento único, geralmente mais longo do que os dendritos,
podendo atingir alguns metros, contento poucas ramificações.
Conduz o impulso a partir do corpo celular para fora através de
ramificações terminais com bastões sinápticos e transmissores.
Contém neurofibrilas e neurotúbolos. É recoberto pela membrana
plasmática (neurilema) e por uma bainha de mielina. A mielina é uma
substância branca, rica em lipídios e atua como um isolante,
influenciando na transmissão dos impulsos nervosos.
Assim, a complexidade do comportamento humano depende menos da
especialização de cada neurônio e mais do fato de que essas células formam
circuitos anatômicos precisamente determinados na arquitetura do cérebro.
Isso significa que neurônios com propriedades similares podem produzir, a
partir de suas próprias atividades, diferentes ações simplesmente pela forma
que estejam conectados entre si, pelos diferentes circuitos cerebrais
(MASCARO, 2008).
Juntamente com os neurônios têm-se as chamadas células da glia que,
dentre suas inúmeras funções, algumas ainda pouco estudadas, destacam-se:
a participação na formação da bainha de mielina, anteriormente citada; síntese
de compostos bioquímicos especializados; armazenamento de energia;
manutenção do equilíbrio iônico, realizado em perfeita harmonia com os
neurônios; modulagem de neurotransmissores etc.
O cérebro, constituído em sua grande parte por neurônios e células da
glia, encontra-se dividido em duas metades, os hemisférios cerebrais,
esquerdo e direito, conectados em sua parte central por fibras nervosas
chamadas de corpo caloso, o qual atua como ponte, permitindo, deste modo,
que os dois hemisférios comuniquem-se entre si.
O hemisfério direito é, de uma maneira geral, responsável pelo
processamento das emoções, das informações sensoriais proveniente de
12
diferentes canais. Neste hemisfério a memória é armazenada sob forma de
imagens visuais e auditivas. Constitui-se, desta forma, na parte mais criativa e
intuitiva do cérebro, votada para o pensamento simbólico.
Por outro lado, o hemisfério esquerdo é responsável pelo
processamento da fala e da linguagem, sendo responsável processamento
lógico e seguencial, habilidades de abstrações e raciocínio. Neste hemisfério a
memória é armazenada sob a forma de linguagem, possuindo duas áreas
especializadas em linguagem: a área de Broca, responsável pela motricidade
da fala e; a área de Wernicke, responsável pela compreensão verbal. Sendo,
portanto, mais detalhista e racional.
Cada hemisfério encontra-se subdividido em lóbos que desempenham
diferentes tarefas:
• lobos frontais – responsável
pela elaboração do
pensamento, planejamento e
ação. Estudos demonstram a
relação entre a ativação destas
estruturas e a expressão
emocional do indivíduo. Assim,
quanto maior a ativação de áreas
corticais do lobo frontal esquerdo, maior a emergência de emoções
positivas, tais como o otimismo, entusiasmo, bom humor etc. Certos
tipos de emoções negativas relacionadas a comportamentos
violentos, irracionais e anti-sociais, parecem estar ligados a sub-
ativações dos lobos frontais;
• lobos temporais – estão relacionados com o sentido de audição,
possibilitando o reconhecimento de tons específicos, intensidade do
som, compreensão da fala, aprendizagem e memória de curto prazo,
Fonte:http://bunkernerd.com.br/brain-turbine-seu-cerebro/
Figura 2 – Lobos Cerebrais
13
reconhecimento facial, funções ligadas ao controle de temperamento
e humor;
• lobos parietais – relacionam-se com o processamento sensorial e de
sua discriminação, inclusive as somáticas como dor.
Adicionalmente, são também responsáveis pela habilidade de
reconhecimento de padrões, aspectos ligados a auto-imagem e auto-
estima;
• lobos occipitais – estão relacionados ao processamento das funções
de visão e da interpretação das informações visuais. Juntamente
com as áreas posteriores dos lobos parietais, participa do
reconhecimento dos objetos. Alem de estarem diretamente
envolvidos com o processo de relaxamento e à facilitação do sono.
1.2 – O cérebro emocional: sistema límbico, memória e
aprendizagem
No interior do cérebro existe um conjunto de estruturas que funcionam com se
fossem uma central de processamento das emoções, as quais estão
intimamente ligadas ao processo de aprendizagem e memória, sendo
conhecida como “cérebro emocional” ou sistema límbico. Além disso, este
sistema também está envolvido com a regulação do comportamento sexual,
das emoções e dos ritmos biológicos. Os sintomas de alterações funcionais
nestas estruturas envolvem, desde a perda do sentido olfativo até a perda do
controle emocional e da capacidade de integrar a memória recente.
As principais estruturas do sistema límbico são:
• amígdala – desempenha a função de
um autêntico sistema de alarme
neural. Realiza constantes varreduras
Fonte:http://neuroinformacao.blogspot.com.br/2012/08/o-sistema-limbico.html
Figura 3 – Sistema Límbico
14
dos sinais aferentes – os que chegam ao cérebro – em busca de
indícios de problemas ou situações incomuns. Caso detecte algo
ameaçador, gerador de medo, repugnância ou algo desagradável,
esta estrutura reage imediatamente, enviando sinais a diversas áreas
do cérebro que, de uma forma ou de outra, estarão envolvidas na
reação do indivíduo àquela ameaça. Mobilizando respostas de
ataque ou fuga, pela liberação de hormônios na corrente sanguínea,
principalmente a noradrenalina, aumentando, com isso, a reatividade
do cérebro, deixando os sentidos mais aguçados e o individuo em
estado de alerta. Ativas as áreas motoras e o sistema cardiovascular.
Também, ativa os sistemas de memória do córtex cerebral na busca
imediata de informações relevantes que possam fazer frente à
situação de alerta apresentada. Por meio de um feixe de neurônios,
proveniente do tálamo, promove uma resposta emocional mais
rápida, sem necessidade de aguardar o processamento dos centros
corticais superiores, responsáveis por traduzir os sinais recebidos, na
busca de estabelecer um “plano de ação” em resposta ao estímulo
percebido. Desta forma, pode-se inferir que este circuito é
responsável pelas reações instintivas, quando a emoção
praticamente neutraliza o processo de racionalidade feito pelas
estruturas corticais;
• hipocampo – responsável pelo processamento de formação de
memória e de aprendizagem, sendo que as memórias de longo prazo
então distribuídas no córtex cerebral. Esta estrutura armazena o fato
em si, desprovido de qualquer atributo emocional, ficando esta
função a cardo da amígdala;
• fórnix – faz a integração do hipocampo com o septum, corpos
mamilares e o hipotálamo, o qual, além das funções de controle de
variáveis físicas, tais como: temperatura corpórea, sede, fome etc.,
participa do circuito que envolve a amígdala, hipocampo e córtex, no
15
que tange ao gerenciamento das respostas corpóreas as mais
variadas situações;
• corpo mamilar – essa estrutura tem como principal função a conexão
com a amígdala e o hipocampo bem como responde pela memória e
as funções olfativas;
• giro cingulado – sabe-se que a sua porção frontal coordena odores, e
visões com memórias agradáveis de emoções anteriores. Participa
ainda, da reação emocional à dor e da regulação do comportamento
agressivo, depressão e ansiedade;
• septum – relaciona-se com as sensações de prazer, principalmente
aquelas associadas às experiências sexuais;
• bulbo olfatório – área olfatória primária do cérebro, sofrendo
influência das conexões do sistema límbico o eu demonstra a ligação
direta entre estímulos olfativos e situações emocionais;
Do ponto de vista endócrino o cérebro possui três glândulas, a saber:
(i) hipotálamo – que possui amplas
conexões com as demais áreas
do cérebro. Lesão dos núcleos
hipotalámicos interfere com
diversas funções vegetativas e
com alguns dos chamados
comportamentos motivados, tais
como: sexualidade,
combatividade, fome e sede. Esta
estrutura também exerce importante papel, dentre outros, no
controle endócrino, regulação da temperatura corporal,
regulagem do comportamento emocional e ritmo circadiano;
Fonte: http://las-hormonas.blogspot.com.br/2012/10/las-hormonas-del-cerebro.html
Figura 4 – Glândulas Cerebrais
16
(ii) hipófise ou pituitária – situada na base do cérebro, dentro de um
pequeno “berço ósseo” denominado sella túrcica. Sabe-se que
uma pequena lesão ou simples anormalidade na formação do
berço ósseo pedem acarretar distúrbio tanto de ordem física
como mental, moral e de aprendizagem. Esta glândula é
também denominada “glândula mestra” por alguns autores, por
ser responsável pela regulação e funcionamento de todas as
demais glândulas do corpo. Sabe-se que a queda de atividade
desta glândula, observada no processo natural de
envelhecimento, está ligada ao mau funcionamento do relógio
interno e, consequentemente, dos padrões de sono. A ação
desta glândula no processo de aprendizagem está ligada a sua
influência no funcionamento da tireóide onde a baixa atividade
desta, pode acarretar uma fluidez mais lenda do sangue pelas
artérias, levando, com isto, pouco nutrientes e oxigênio para o
cérebro, tento com conseqüência a perda na concentração e a
baixa capacidade de aprendizagem e;
(iii) pineal – conectada diretamente aos olhos, trabalhando em
conjunto com a hipófise, recebe informações sobre claro e
escuro, participa regulando ritmo circadiano e demais ritmos do
organismo. Durante muito tempo acreditava-se que esta
glândula era apenas um apêndice sem função no cérebro,
porém, hoje em dia, sabe-se que a pineal, age no processo de
prevenção ao envelhecimento, por meio da produção de
substancias químicas antioxidantes, regulação da pressão
arterial, produção diária de melatonina, fortalecimento do
sistema imunológico, produção de serotonina –
neurotransmissor importante em sua atuação no processo de
manutenção do bom humor e emoções positivas etc.
17
Os processos do sistema límbico estão intimamente correlacionados aos
processos de aprendizagem e memória. De acordo com LENT, 2013, é mais
sensato falar de memórias e não de memória, já que existem vários tipos de
memórias, tantas quantas forem as experiências possíveis. Algumas dessas
memórias, dependendo do tipo de experiência vivida, podem ser adquiridas em
segundos, como é de ter colocado o dedo em uma tomada energizada, outras
em semanas, como andar de bicicleta, outras em anos como uma formação
universitária. Podem ser visuais, olfativas, motoras. Algumas estão
relacionadas ao prazer, outras associadas a experiências não muito
agradáveis etc.
Sendo assim, pode-se concluir que os mecanismos empregados pelo
sistema nervoso central (SNC), para formar e armazenar cada um desses tipos
de memórias são igualmente diferentes.
Ainda, conforme LENT, 2013, pode-se distinguir basicamente dois
grandes tipos de memórias: as declarativas ou explicativas e as memórias
procedimentais ou implícitas, as quais muitos denominam também hábitos, por
serem evocadas de forma quase automática. As memórias declarativas são
aquelas que contem informações de acesso consciente. Inclui-se neste tipo, o
conhecimento de nossa história pessoal e sobre o mundo ao nosso redor,
podendo ser subdividida em memória episódica, aquela que contém
informações sobre a nossa própria vida e eventos a ela relacionados; e
semânticas, que contem informações sobre o ambiente que nos rodeia e da
qual somos capazes de lembrar sem saber como, quando e onde adquirimos.
As memórias procedimentais, contem informações à qual não temos
acesso consciente, tal como um procedimento automático de dirigir um
automóvel, envolvendo aprendizado motor e condicionamento. Na formação
das memórias declarativas participam varias regiões corticais, tais como: pré-
frontal, parietal etc. Este tipo de memória também conta com participação do
hipocampo.
18
Já, na formação das memórias implícitas, além de envolver as regiões
corticais e o hipocampo, tem-se a contribuição dos circuitos subcorticais,
implicando o núcleo caudado ou as áreas cerebelares.
Com relação ao período ou tempo de armazenamento tem-se a
subdivisão da memória em dois grupos, a saber:
(i) memória de curto prazo (MCP) – a qual contem fatores limitantes
como extensão e tempo de armazenamento. Alguns autores
estimam que o tempo de retenção da memória de curto prazo gira
em torno de quinze a trinta segundos. A informação armazenada
na MCP pode ser transferida para memória de longo prazo antes
do término deste período. Caso isso não ocorra a informação é
perdida. O tipo de conteúdo ou da experiência vivenciada
favorece ou não a passagem da informação da MCP para MLP.
Portanto, este tipo de memora determina se a informação é útil
para o individuo e deve ser armazenada ou se esta informação
deve ser descartada, dependendo do tamanho da informação.
Estão envolvidas no processo de MCP as estruturas como o
hipocampo, a amígdala, o córtex e o giro para-hipocampal, sendo
depois transferida para as áreas de associação do chamado
neocórtex parietal e temporal e;
(ii) memória de longo prazo (MLP) – compreende o processo de
formação de arquivos e consolidação deste, podendo durar
horas, meses ou décadas. Este tipo de memória influencia as
percepções do mundo e, por conseguinte a tomada de decisões.
A MLP está relacionada com as estruturas cerebrais que inclui o
lobo temporal medial, incluindo o hipocampo, o córtex entorrinal,
o córtex para-hipocampal e do diencéfalo. Pessoas idosas com
disfunção dos lobos frontais têm mais dificuldades para a
memória episódica do que para a memória semântica. Por outro
19
lado, lesões no lobo parietal esquerdo apresentam prejuízos na
memória semântica.
Aprendizagem de habilidades motoras, decorrente de um tipo
MLP chamada por vários autores de memória implícita, depende
de aferências corticais de áreas sensoriais de associação para o
corpo estriado ou para os núcleos da base. O condicionamento
das respostas da musculatura esquelética depende do cerebelo,
enquanto o condicionamento das respostas emocionais depende
da amígdala, como já visto anteriormente. Sabe-se que o neo-
estriado e o cerebelo estão envolvidos na aquisição e no
planejamento das ações, constituindo, então, por meio das
conexões entre o cerebelo e o tálamo e entre o cerebelo e os
lobos frontais.
20
CAPÍTULO II
NEUROCIÊNCIA DA MEDITAÇÃO
Não deixe as vozes das opiniões dos outros
afogarem sua voz interior. E, mais importante,
tenha coragem de seguir seu coração e sua
intuição. De alguma forma, eles já sabem o
que você realmente quer se tornar.
Steve Jobs (em discurso para uma turma de
formandos da Universidade de Stanford)
2.1 – Impulsos elétricos do cérebro e suas implicações
Sabe-se que cérebro é um órgão elétrico e, sendo assim, possui
atividades elétricas que podem ser medidas objetivamente. Estas atividades
são, em última instância, fruto da somatória de atividades elétricas individuais
de cada uma das centenas de milhares de neurônios que possuem seus
corpos celulares dispostos no córtex cerebral.
Desta forma, em um processo meditativo, cientificamente controlado, o
que se mede são as atividades elétricas corticais do cérebro, ou seja, dos
neurônios, buscando-se, com isso, estabelecer uma relação entre estas
atividades elétricas e os diferentes estados de consciência alcançados durante
o processo meditativo. Adicionalmente, segundo MASCARO, 2008, pode-se
também relacionar a tensão muscular, por meio da eletromiografia (EMG), para
realizar avaliações do nível de relaxamento em que o paciente se encontra
durante as sessões de meditação, associadas a um analisador de espectro
especialmente desenvolvido, denominado Mind Mirror, oriundo do estudo de
mestres na arte da meditação.
21
Assim, têm-se basicamente quatro categorias de ondas cerebrais –
atividades elétricas produzidas pelo cérebro – com suas frequências e suas
amplitudes, sendo estas as duas dimensões consideradas na análise dos
ritmos elétricos cerebrais, que podem ser medidas pela eletroencefalografia
(EEG), por meio de contatos (eletrodos) colocados na superfície da cabeça.
Sabe-se que a frequência e amplitude, produzidas pelas ondas
cerebrais, caracterizam a velocidade de transmissão de informações entre os
neurônios, relacionando-se ao número de vezes em que, em um segundo, um
neurônio comunica-se com outros (sinapse), sendo que cada neurônio pode
estar conectado com cerca de outros dez mil (MASCARO, 2008).
Considerando-se os cerca de 90 bilhões de neurônios existentes em nosso
cérebro, pode-se estimar, com isto, que em torno de dez trilhões de conexões
estão envolvidas no processo de pensamento, movimento, dor, sonhos,
emoções etc. Portanto, isto é mais do que o número estimado de estrelas no
universo, o que demonstra a grande dimensão de atividades no interior do
cérebro humano.
Com isso, o número de vezes em que cada neurônio emite um pulso de
informação para outro neurônio em um segundo, denomina-se de frequência e
é medido em Hertz (Hz). Já a amplitude está relacionada com a intensidade de
cada impulso elétrico, sendo medida em microvolts (µV).
Assim, segundo, MASCARO, 2008, a transmissão de informações entre
os neurônios no córtex cerebral é representada pelas letras gregas – alpha (α);
beta (β); delta (δ) e theta (θ), conforme sua velocidade, sendo: beta (β) – 14 Hz
– 38 Hz; alpha (α) – 8 Hz a 14 Hz; theta (θ) – 4 Hz a 8 Hz e; delta (δ) – 0,5 Hz
a 4 Hz. Pode-se, então, inferir que as quatro categorias de velocidades
(frequências) representam diferentes níveis de processamento da informação
no cérebro.
22
Alguns autores descrevem estas diferentes freqüências relacionando-as
em termos de dinâmica psíquica bem como a diferentes estados de
consciência, tais como:
• beta (β) – 14 Hz – 38 Hz – a mais
rápida das frequências cerebrais,
onde ocorre a atividade mental
consciente e a capacidade de
pensar. Por tanto, representa
predominantemente o nosso
estado de vigília, ou seja, nossa
mente analítica;
• alpha (α) – 8 Hz a 14 Hz – frequência comumente relacionada ao
estado meditativo, pois, durante muito tempo acreditava-se que esta
freqüência de atividade cerebral era o objetivo a ser alcançado pelos
meditadores transcendentais. De fato, segundo alguns autores, a
frequência alpha está relacionada ao estado de relaxamento, porém
possuindo-se ainda uma consciência interna, ou seja, uma
autopercepção dos pensamentos e dos processos internos, aumento
da criatividade, bem estar, memorização e abstrações. Para
MASCARO, 2008, a frequência alpha representa a ponte entre a
nossa mente consciente, em beta, e nosso subconsciente em theta.
Funcionando, como lente que ajusta o olho míope da mente
consciente, permitindo a ela ler o conteúdo distante do
subconsciente, a fim de vivenciarmos nossas experiências interiores;
• theta (θ) – 4 Hz a 8 Hz – frequência que representa um estado mais
profundo de relaxamento, com baixa atividade cerebral,
correspondente a sua baixa frequência. Está relacionada ao
subconsciente, sendo mais frequentemente observada durante o
sono do tipo REM, do inglês, Rapid Eye Movement (movimentos
Fonte: http://www.neuroterapia.com.br/ondas-cerebrais-neurofeedback.html
Figura 5 – Frequências das Ondas Cerebrais
23
rápidos dos olhos), geralmente associado à experiência de sonhar,
ao acesso a memórias remotas, aprendizagem acelerada,
criatividade, habilidades e vocações. Segundo, MASCARO, 2008,
crianças, até nove anos de idade, apresentam predominância de
frequência theta, do córtex límbico, sendo tudo que vivem gravado
neste tipo de arquivo emocional. Deste modo, justifica-se fase
criativa e de pensamentos mágicos vividos pelas crianças durante
este período de vida. Quando na fase adulta o funcionamento
cerebral migra para frequência beta, situada no córtex cerebral,
restando o funcionamento na freqüência theta para o período
noturno, durante o sono;
• delta (δ) – 0,5 Hz a 4 Hz – é a frequência mais lenta do
nosso cérebro, caracterizada pelo sono profundo, neste estado é
produzido o hormônio do crescimento, proporcionando a
regeneração celular. Nesta freqüência cerebral têm-se acesso ao
inconsciente e à intuição. Diferentemente de theta, mais relacionado
dimensão pessoal e individual, a frequência delta está vinculada,
segundo alguns autores, a experiências mais sutis da inconsciência
denominada inconsciente coletivo.
Desta forma, as diferentes composições dessas quatro frequências
determinam, de certa maneira, os variados estados de consciência que o ser
humano experimenta ao longo de sua vida. Há, no entanto, uma quinta
frequência, mencionada por MASCARO, 2008, cuja maior produção é
alcançada durante o processo meditativo, denominada frequência gama, que
pode alcançar índices acima de 40 Hz. Sua presença tem sido registrada em
monges com extenso treinamento em meditação, chegando à faixa de 70 Hz a
80 Hz. Assim, os impulsos cerebrais podem circular entre o consciente,
subconsciente, inconsciente e estado alterado da mente conforme as
frequencias beta, theta, delta e gama, respectivamente.
24
2.2 – O cérebro no controle do cérebro
O cérebro humano é um órgão “treinado” para responder de forma
eficiente aos estímulos externos. Esta capacidade vem garantindo a
sobrevivência da humanidade deste dos tempos mais remotos até os dias de
hoje. No entanto, um ambiente rico em estímulos pode agir como um fator de
distração para esse órgão. Para equilibrar essas múltiplas solicitações
externas, GOLDBERG, 2002, sustenta o fato de que o cérebro humano teve
que evoluir, lentamente, de estágios mais simples de reação ao caos externo
para um estágio mais complexo, onde esse órgão fosse capaz de agir
deliberadamente na seleção desses estímulos. Neste sentido, este autor
descreve o teste de Stroop, onde a pessoa é solicitada a olhar para uma lista
de nomes de cores, impressas em cores discordantes, como por exemplo, a
palavra “vermelha” impressa em cor azul ou ao contrário. Desta forma, pede-se
para o indivíduo nomear as cores, em vez de ler as palavras. Assim, a
tendência natural de uma pessoa alfabetizada é ler o material escrito, embora
a tarefa seja nomear as cores. Para ter êxito nesta tarefa, por tanto, deve-se
seguir um plano interno em detrimento do impulso natural.
Esse experimento mostra a capacidade da maioria das pessoas em
exercer uma orientação do comportamento por meio de uma representação
interna. Isto, segundo GOLDBERG, 20012, acontece tão sem esforço que
tomamos por uma condição garantida, porém, por mais trivial que isso possa
parecer, esta capacidade emerge relativamente tarde na evolução cerebral e
está ligada a atenção.
Segundo DAVIDSON & BEGLEY, 2013, a desatenção impede que uma
pessoa se concentre nos detalhes e, consequentemente, faz com que ela
cometa erros nas tarefas escolares, no trabalho bem como em outras funções,
fazendo com que a pessoa se distraia constantemente. Segundo esse mesmo
autor, dados mais recentes do governo americano mostram que
aproximadamente 9,5% da população do país com idade entre 4 e 17 anos, o
25
que equivale a 5,4 milhões de crianças e adolescentes, receberam diagnóstico
de Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Embora os
sintomas dos diferentes tipos de TDAH indiquem a existência desajustes em
vários processos cerebrais, o foco do problema parece estar nos circuitos
responsáveis pela a atenção e pela inibição de resposta, ou seja, a capacidade
de conter os impulsos. DAVIDSON & BEGLEY, 2013, exemplificam, ainda,
que em uma análise de 16 estudos, que envolveram 184 pacientes com TDAH
e 186 pessoas que não apresentavam o transtorno, pesquisadores do Centro
de Estudos sobre Crianças da Universidade de Nova York descobriram que
várias regiões do córtex pré-frontal relacionadas com a atenção seletiva e a
inibição de resposta (em particular a região do córtex pré-frontal inferior)
apresentavam baixa atividade no grupo que sofria de TDAH, sendo esta região
fortalecida pela prática de meditação, possibilitando desta forma, o
aprimoramento vários aspectos da atenção e consequentemente da
aprendizagem.
Neste sentido, MASCARO, 2008,
argumenta sobre a demonstração da existência,
pelos neurocientistas Moruzzi e Magoun, em
1949, da Formação Reticular Ativadora, uma rede
de neurônios que parece especificamente
adaptada, tanto no que diz respeito à sua
estrutura morfológica quanto no que se refere ao
seu funcionamento, para desempenho do papel
de regulador de estado do córtex cerebral,
alterando seu tônus e modulando os diferentes estados de atenção e
consciência. A excitação neural se espalha por essa estrutura gradualmente,
modulando toda a atividade do sistema nervoso central (SNC). Sua
estimulação na parte posterior do hipotálamo e estruturas subtalâmicas
adjacentes evoca uma resposta fisiológica que pode ser traduzida como um
alerta, gerando um acréscimo excitabilidade e aguçando a sensibilidade o que
torna o indivíduo mais susceptível aos estímulos externos.
Fonte: http://www.cerebromente.org.br/n15/tecnologia/sonoterapia.html
Figura 6 – Formação Reticular Ativadora
26
Segundo Lúria (apud MASCARO, 2008, p. 81), o sistema nervoso, do
ponto de vista funcional, dividi-se em três principais unidades, todas
igualmente necessárias para qualquer tipo de atividade mental:
i- regulação do tônus, vigília e estados mentais;
ii- obtenção, processamento e armazenamento da
informação e;
iii- programação, regulação e verificação da atividade mental.
Cada uma dessas unidades é hierárquica em estrutura e consiste
em, ao menos, três zonas corticais construídas uma sobre a outra:
primária, de projeção; secundária, de projeção/associação e; terciária de
sobreposição, constituindo os últimos sistemas corticais a se
desenvolverem no cérebro humano e estando responsáveis pelos
processos mentais superiores e mais complexos que requerem a
participação de diversas áreas corticais simultaneamente, sendo a
Formação Reticular Ativadora pertencente à primeira delas.
Segundo, MASCARO, 2008, o córtex cerebral e o Sistema
Ativador Reticular (SAR), parte integrante da Formação Reticular
Ativadora, modulam, um ao outro, de modo a manter o nível de
estimulação ideal. Neste caso, se estímulo que chega ao córtex torna-se
muito intenso, o SAR envia sinais inibitórios no sentido de reduzir a
excitação cortical, por outro lado, se o estímulo proveniente córtex é
muito fraco, o SAR envia sinais tônicos ao córtex, objetivando, com isso,
manter o tônus cortical no nível mais adequado possível. Deste modo,
por participar da regulação do tônus cortical, deduz-se que o SAR
desempenha um papel de alta relevância no processo fisiológico da
meditação e dos estados alterados da consciência.
27
Ainda segundo, MASCARO, 2008, pelo seu posicionamento, o
SAR funde-se com o sistema límbico, o qual é o principal responsável
pelo processamento emocional, formação da memória e aprendizagem.
Este também exerce um papel determinante em algumas alterações
sensoriais e de percepção relacionadas aos estados de euforia, de
consciência dual (observação de si mesmo), perda de consciência dos
limites corporais, sensação de flutuações corporais e experiências
visuais incomuns, regulação de respostas fisiológicas de relaxamento e
a chamada reação de ataque e fuga. A ação integrada entre o sistema
límbico e o SAR, na modulação dos estados de consciência e de
percepção, envolve, também, a participação do Sistema Nervoso
Central que funciona como uma espécie de regulador das funções vitais,
por meio do Sistema Nervoso Autônomo: Simpático – de ação rápida
relacionada ao estado de alerta fisiológico, onde toda a fisiologia se
prepara para ação, com aumento da respiração, dos batimentos
cardíacos, do consumo de oxigênio e da pressão arterial e
Parassimpático – de ação mais lenta, correspondente a resposta de
relaxamento, queda do consumo de oxigênio, diminuição da freqüência
cardíaca e da pressão arterial, com menor produção de adrenalina e
corticóides, o que é acompanhado por sensações de tranquilidade,
calma e serenidade.
Sabe-se que as atividades cerebrais podem ser monitoradas por
meio da eletroencefalografia (EEG). Assim, quando uma pessoa é
submetida a este exame, pode-se evidenciar um possível estado de
excitação ou stress, por meio de um aumento do perfil do tônus cortical,
marcado por uma maior produção de ondas betas, por outro lado, se a
pessoa apresenta um estado de relaxamento, este pode ser, também,
evidenciado pela diminuição das ondas e betas e o aumento das ondas
thetas, alphas e, dependendo do estado de relaxamento ou meditativo,
o aumento das ondas deltas ou gamas. Neste sentido, segundo, Lesh
(apud MASCARO, 2008, p. 94) o quadro a seguir, ilustra a relação entre
28
os estados meditativos subjetivos e os padrões de atividade elétrica
cortical:
Quadro 1: Tabela de estados meditativos subjetivos
TABELA DE ESTADOS MEDITATIVOS SUBJETIVOS Nº de
Lesh Correlatos subjetivos de estado Ritmo EEG (Mind Mirror)
0
• Começando a relaxar
• Dificuldade em acalmar a
mente
• Estado desatenção,
distração
• Um sentimento de “por
que estou fazendo isso?”
• Uma sensação de
aquietar-se, sossegar
• Beta contínuo, muitas vezes
com alguns disparos de
outras frequências
• Possível alpha intermitente
1
• Mente em estado
“nebuloso” ou “enevoado”
• Sentindo-se tonto ou
confuso
• Sentindo-se sob o efeito
de um anestésico
• Sensação ocasional de
náusea
• Mente repleta de afazeres
do dia a dia – quase como
evitando a tranquilidade
interior
• Beta algo reduzido, mas
ainda presente
• Alpha com maior magnitude,
mas intermitente
29
Quadro 1: Tabela de estados meditativos subjetivos (continuação) TABELA DE ESTADOS MEDITATIVOS SUBJETIVOS
Nº de
Lesh Correlatos subjetivos de estado Ritmo EEG (Mind Mirror)
1
• Sensação de energias
dispersas
• Sensação de adormecer
ou de ter sido retirado do
limiar do sono
• Beta algo reduzido, mas
ainda presente
• Alpha com maior magnitude,
mas intermitente
2
• Energias dispersas
começam a se reunir
• Começando a sentir calma
e relaxamento
• Flashes vívidos de
imagens não solicitadas
• Flashbacks de infância
• Imagens do passado
distante a imediato
• Atenção não muito
sustentada
• Uma sensação de estar
“entre estados”
• Estado de transição
• Beta reduzido
• Alpha com maior magnitude,
podendo ser contínuo
• Theta intermitente (baixa
frequência)
3
• Maior sentimento de
estabilidade
• Estado bem definido
• Sensações corporais de
flutuação, leveza ou
balanço
• Leve movimento rítmico
ocasional
• Beta marcadamente
reduzido
• Alpha contínuo
• Theta possivelmente mais
contínuo, com frequência
e/ou amplitude aumentadas
30
Quadro 1: Tabela de estados meditativos subjetivos (continuação)
TABELA DE ESTADOS MEDITATIVOS SUBJETIVOS
Nº de
Lesh Correlatos subjetivos de estado Ritmo EEG (Mind Mirror)
3
• Concentração facilitada e
fortalecida
• Imagens mais claras e em
maior quantidade
• Habilidade incrementada
para seguir visualização
conduzida
• Beta marcadamente
reduzido
• Alpha contínuo
• Theta possivelmente mais
contínuo,com frequência
e/ou amplitude aumentadas
4
• Percepção extremamente
clara da respiração,
batimentos cardíacos,
fluxo sanguíneo ou outras
sensações corporais
• Sensação de perda dos
limites corporais
• Sensação de membros
adormecidos
• Sensação de estar cheio
de ar
• Sensação de crescer
enormemente ou
contrariamente, tornar-se
muito pequeno
• Sensação de grande
leveza ou peso
• Alternando, algumas
vezes, entre a percepção
exterior e interior
• Beta marcadamente
reduzido
• Alpha contínuo
• Theta aumentado
31
Quadro 1: Tabela de estados meditativos subjetivos (continuação)
TABELA DE ESTADOS MEDITATIVOS SUBJETIVOS
Nº de
Lesh Correlatos subjetivos de estado Ritmo EEG (Mind Mirror)
5
• Estado de consciência
marcadamente lúcido
• Sensação de profunda
satisfação
• Estado de alerta, calma e
distanciamento intensos
• Sensação de desaparecer
do ambiente e/ou do
próprio corpo
• Visualização
extremamente vívida,
quando desejado
• Sensação de estado
alterado ausente das
descrições fornecidas nos
níveis anteriores, de 0 a 4
• Sensação de experiência
de pico, insight intuitivo ou
“sacada” do tipo “a-ha”
• Alta performance
• Pronunciado domínio sobre
beta – indo de uma ausência
completa de pensamentos a
pensamentos criativos
• Apha e Theta contínuos,
com alpha em freqüências
mais próximas das de Theta
6
• Nova forma de se sentir
• Insight intuitivo de velhos
problemas, como que
vistos de um nível de
maior percepção
• Síntese de opostos de
união superior
• Quatro padrões possíveis no
Mind Mirror:
a) Mente Desperta (beta, alpha,
theta, delta)
b) Meditação plena (alpha,
theta, delta)
32
Quadro 1: Tabela de estados meditativos subjetivos
TABELA DE ESTADOS MEDITATIVOS SUBJETIVOS
Nº de
Lesh Correlatos subjetivos de estado Ritmo EEG (Mind Mirror)
6
• Sensação de estar envolto
em luz
• Sensação de maior
consciência espiritual
• Sensação de “nada
importa”, a não ser existir,
ser
• Experiência de
contentamento
• Experiência de paz
indefinível
• Sensação de maior
conhecimento do universo
c) Atividade elétrica cerebral
muito baixa (indicando
possível saída do corpo)
d) Mente evoluída (padrão
circular incluindo beta, alpha,
theta e delta, porém sem
gargalos)
Fonte: MASCARO, 2008, p. 94 – modificado
33
CAPÍTULO III
MEDITAÇÃO E APRENDIZAGEM
A faculdade de trazer de volta
voluntariamente uma atenção divagadora,
muitas e muitas vezes é a própria raiz do
juízo, do caráter e da vontade
Willian James
3.1 – O processo meditativo
Tanto os processos meditativos quanto a definição de meditação ainda
são muito discutidos dentro dos meios científicos e acadêmicos. Segundo o
Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, meditar significa, entre outras
definições, pensar, refletir etc., porém, sabe-se que durante a prática de
meditação, notadamente na Meditação Transcendental (MT) o objetivo é
justamente o oposto, ou seja, evitar a corrente de pensamentos, deixando que
a mente foque apenas um objeto, símbolo ou mantra. Assim, durante a
meditação transcendental, o esforço executado pelo cérebro para se
concentrar em um único ponto torna-o mais ativo, ao contrário do senso
comum de que a meditação nada mais é do que um estado de repouso.
Neste sentido, GOLEMAN, 2014, compara o processo meditativo ao ato
de executar exercícios físicos para o fortalecimento dos músculos, uma vez
que, na meditação, particularmente, a do tipo transcendental, ocorre a
orientação para manutenção do foco em um mantra (tipo de som, palavra ou
34
até mesmo a própria respiração), quando, inevitavelmente, a mente começar a
divagar, o meditante a traz de volta ao seu ponto focal e mantém a atenção
neste ponto. Quando a mente voltar a divagar o retorno da atenção é
provocado. Sendo este procedimento realizado repetidamente ao longo da
prática da meditação. Assim, segundo o citado autor, neurocientistas da
Universidade Emory, em Atlanta, usaram imagens feitas por ressonância
magnética para estudar os cérebros de meditantes que passaram por esse
simples movimento da mente. Desta forma, esses cientistas constataram que
durante a divagação da mente, o cérebro ativa os circuitos mediais habituais.
No instante em que se percebe que a mente divagou, outra rede de atenção, a
de ênfase, entra em atividade. E quando se muda o foco para o mantra e o
mantém, os circuitos de controle cognitivo pré-frontais assumem o comando.
Com isso, como em qualquer exercício físico, quanto mais repetições são
feitas, mais forte fica o músculo, ou seja, analogamente, quanto mais se
pratica a meditação, fortalece-se, com isto, as regiões pré-frontais do cérebro,
desta forma os benefícios funcionais advindos desta estrutura são
naturalmente obtidos.
Como visto anteriormente, testes/exames com etroencefalografia vêm
demonstrando que a concentração, uma das etapas iniciais da prática
meditativa, é um processo cognitivo que requer treinamento e integração de
diferentes redes neurais. Desta forma, o aumento de atividade de ondas alpha,
theta e delta que refletem estados de relaxamento, atenção, criatividade etc, e
redução de ondas beta, que indicam estado de pensamentos conscientes,
ansiedade etc, durante a meditação transcendental, mostram que o cérebro se
encontra mais orientado internamente quando desta prática.
DAVIDSON & BEGLEY, 2013, descrevem uma investigação ocorrida na
Universidade Wisconsin-Madison, nos Estados Unidos, onde fora estudada a
atividade eletroencefalográfica de indivíduos que meditavam diariamente havia
mais de 20 anos e de um grupo-controle. Os autores observaram o surgimento
de ondas cerebrais amplas, do tipo gama (acima de 40 Hz), somente em
35
indivíduos que meditavam diariamente, mostrando grande concentração e
aumento de atividade neuronal. Adicionalmente, os autores também
constataram, em um abade voluntário, com mais de 10 mil horas de
meditação, um aumento da porção do córtex cerebral esquerdo, em relação às
outras 150 pessoas sem experiência de meditação, estudadas. O que,
segundo os referidos autores, tal padrão de excitabilidade sinaliza um bom
estado de espírito, ou seja, um "estilo emocional positivo". Por outro lado, as
pessoas mais infelizes e pessimistas apresentam o predomínio de atividades
no lado direito do córtex pré-frontal.
Contudo, no intuito de provar que as modificações neuronais
observadas nos indivíduos meditantes não eram inatas, os acima citados
autores, recrutaram voluntários entre funcionários de uma empresa de
biotecnologia, dividindo-os em dois grupos aleatórios. Metade formou um grupo
de controle, enquanto os 23 restantes receberam treinamento em meditação
com aulas de duas de duas a três horas semanais, complementadas por uma
hora diária de treino em casa. Assim, de acordo com as medições efetuadas
por eletroencefalografia (EEG), a atividade no lobo frontal daqueles que
participaram do curso de meditação deslocou-se da direita para a esquerda.
Isso refletiu no bem estar dos voluntários que relataram a diminuição dos
medos e um estado de espírito mais positivo. Entre os que não meditaram,
nenhum deslocamento no padrão das ondas cerebrais foi verificado. Conclui-
se, então que a meditação pode modificar, pra melhor, o padrão da atividade
cerebral de qualquer pessoa.
GOLEMAN, 1988, resume várias técnicas de meditação diferindo-as na
duração, no objeto, no método, usos de mantras etc. No entanto, os resultados
finais bem como os efeitos produzidos no cérebro são semelhantes, ou seja,
verifica-se com a prática e, mais efetivamente, com a meditação
transcendental, um aumento das atividades do córtex cingulado anterior, região
relacionada à atenção e à concentração; do córtex pré-frontal, ligado, dentre
outras funções, à realização de planejamento, pensamentos complexos e
36
comportamento social; do hipocampo, principal sede da memória. Sabe-se,
também, da influência da meditação nas funções do sistema límbico como
todo, regulando as emoções bem como diretamente no hipotálamo,
responsável pelo processo de relaxamento, decorrente da meditação, pela
regulagem do Sistema Nervoso Autônomo, com subsequente ativação do
sistema nervoso parassimpático, diminuindo a freqüência cardíaca, a taxa
respiratória e, consequentemente, a atividade do Cerúleo ou locus coeruleus,
resultando na diminuição da noradrenalina, regulação da produção de
hormônios ligados ao stress, tais como: hormônio adrenocorticotrófico (ACTH);
cortisol e arginina-vasopressina (AVP), proporcionando, desta forma, uma
situação muito favorável para consolidação da memória e do aprendizado.
Assim, segundo informa o sitio eletrônico da Sociedade Internacional de
Meditação Transcendental, foi estabelecido, em 2005, Comitê para Escolas
Livres de Estresse, em parceria com a Fundação David Lynch para Educação
Baseada na Consciência e Paz Mundial, uma organização internacional sem
fins lucrativos, que tem, dentre os propósitos, a implantação de um projeto de
prática de meditação transcendental para estudantes e professores, em
escolas públicas e particulares em todo o mundo bem como fornecer recursos
para universidades e instituições de pesquisa para avaliar os efeitos da
meditação transcendental na criatividade, inteligência, desempenho
acadêmico, Transtorno do Déficit de Atenção Hiperatividade (TDAH),
ansiedade, depressão, uso de substancias e outros distúrbios de
aprendizagem. Este programa consiste, basicamente, em ministrar duas
sessões de 10 a 15 minutos de meditação transcendental, baseada no
programa de Meditação Transcendental de Maharishi Mahesh Yogi, por ser
uma técnica simples e natural, comprovada cientificamente, por mais de 600
estudos controlados.
Neste sentido, no Brasil, tem-se implantada a prática da meditação
transcendental em diversas escolas da rede estadual, dentre estas, pode-se
citar as escolas: Bernardo Valadares de Vasconsellos, em Sete Lagoas (MG),
37
com 1.400 alunos que realizam todos os dias, o “Tempo de Silêncio”. Onde,
quem desejar pode aproveitar os 15 minutos para meditar. Quem não quiser,
pode apenas descansar; o CIEP Helio Pelegrino e o Colégio José Leite Lopes
(NAVE), ambos no Rio de Janeiro, onde os resultados da prática da meditação
transcendental pode ser melhor exemplificada por meio dos depoimentos dos
alunos R. C. (NAVE) e C.H.O (CIEP), dado ao sitio eletrônico da Secretaria
Estadual de Educação. Assim, para R. C. :
Existem algumas situações que se repetem em minha vida e que eu costumava lidar de uma mesma maneira. Hoje, com pouco tempo de Meditação, já posso notar que a minha atitude é diferente. E mudou para melhor. Eu já não ajo impulsivamente, me seguro mais. A Meditação para mim é o meu mantra, meu estilo de vida. É uma nova maneira de ver o mundo. E é uma amizade comigo mesma.
Já, para C. H. O., a prática da meditação transcendental, ao longo de
duas semanas, também surtiu efeito:
Eu sou um garoto muito estressado, mas ultimamente tenho ficado muito mais tranquilo, mais paciente com tudo e com todos. A Meditação ajuda mesmo a centrar e acredito que vá me trazer muitos benefícios futuramente. Vou aprender a ser uma pessoa mais calma, mais reservada e serena. Meditação é saúde física e mental, como comprovado cientificamente. Na verdade, eu não acreditava em nada disso, eu era ignorante nesse assunto. Mas como saber se é bom ou não se a gente nunca experimentou? Então eu resolvi experimentar e gostei. Aqui fica o meu conselho: faça Meditação. Ela vai transformar a sua vida.
3.2 – Neuroplasticidade e aprendizagem
Segundo LENT, 2013, Neuroplasticidade ou Plasticidade Neuronal,
como é mais amplamente conhecida, trata-se da propriedade do sistema
nervoso em promover alterações em sua função e/ou estruturas em respostas
as influências ambientais que o atingem. Essas alterações podem ser
extremas ou sutis. Por exemplo, do lado extremo, elas podem ser provenientes
de uma lesão traumática, cirúrgica ou congênita e podem levar a mudanças de
38
posição de setores funcionais com o redirecionamento de circuitos neurais,
que podem ser comprovadas por meio de técnicas de neuroimagens. Por outro
lado, um simples fato novo que é presenciado pode resultar em alterações
sinápticas moleculares capazes de possibilitar a memorização daquele
episódio por um longo tempo durante a vida. Em ambos os casos trata-se de
neuroplasticidade.
Neste sentido, em consonância com a definição anteriormente citada,
pode-se inferir que o processo educacional, tendo por conseguinte a
aprendizagem, em última análise, provoca a neuroplasticidade no aluno.
Sabe-se, atualmente, que tanto durante o desenvolvimento quanto na
vida adulta, a neuroplasticidade pode manifestar-se. Ainda, segundo LENT,
2013, a neuroplasticidade apresenta-se sob três maneiras distintas, a saber:
I) morfológica – mediante alterações nos axônios, nos dendritos e
nas sinapses;
II) funcional – mediante alterações na fisiologia neuronal e sináptica
e;
III) comportamental – mediante alterações relacionadas com
fenômenos de aprendizagem e memória. Esta última, por óbvio,
relacionada à educação.
Sabe-se que a intensidade de variação da plasticidade cerebral varia
com a idade do indivíduo. Segundo LENT, 2013, durante o desenvolvimento
ontogenético o sistema nervoso é mais plástico e tudo se molda a partir das
“informações” do genoma em conjunto com as influências exercidas pelo meio
ambiente. Neste sentido, a plasticidade ontogenética confunde-se com o
próprio desenvolvimento normal do indivíduo, devido à semelhança entre os
seus mecanismos. Por outro lado, na fase adulta a capacidade plástica do
39
cérebro diminui ou se modifica significativamente. Pode-se melhor observar os
tipos e características da neurorplasticidade cerebral no quatro a seguir:
Quadro 2: Tipos e Características da Neuroplasticidade
Segundo a IdadeSgundo a Mnifestação
Segundo o Alvo Segundo o Fenômeno ObservadoSegundo a Intensidade
Regeneração de fibras lesadas ForteBrotamento de fibras íntegras Forte
Dentrítica Ramificação e brotamento de espinhas ForteSináptica Sinaptogênese Forte
Funcional Neuronal Parâmetro de atividade neuronal ForteComportamental Sináptica ? ?Comportamental - Aprendizagem memória Forte
Regeneração de fibras lesadas no SNP ForteBrotamento de fibras íntegras Fraco
Dentrítica ? ?Sináptica Formação de novas sinápses ?
Funcional Sináptica Habituação, sensibilização, LTP, LTD e outras Forte
Comportamental - Aprendizagem memória Forte
Axônica
Plasticidade Ontogenética
Plasticidade Adulta
AxônicaMorfológica
Morfológica
Fonte: LENT, 2013, capítulo 6, p. 113
Desta forma, de acordo com o alvo de atuação, temos:
i) plasticidade axônica – ocorre com maior intensidade no período
chamado crítico, que varia entre 0 a 2 anos de idade (segundo a
maioria dos autores), sendo fundamental para o estabelecimento
de um desenvolvimento normal do Sistema Nervoso;
ii) plasticidade dendrítica – caracterizada por alterações no número,
no comprimento, na disposição espacial e na densidade das
espinhas dendríticas, constituídas, principalmente, de
micropetídeos privilegiados que concentram íons e pequenas
moléculas influentes na transmissão de informações entre os
neurônios nas fases iniciais de desenvolvimento do indivíduo;
40
iii) plasticidade somática – que pode ser entendida como a
capacidade de regular a proliferação ou a morte de células
nervosas. Neste sentido, somente o sistema nervoso central
embrionário é dotado de tal capacidade e ele não responde a
influências do meio externo;
iv) plasticidade sináptica – caracteriza-se por alterações nas
sinapses entre as células nervosas, uma espécie de “musculação
sináptica”, conforme postulado pela chamada lei de Hebb que
envolve um mecanismo de detecção de coincidências temporais
nas descargas neuronais, ou seja: se dois neurônios estão
simultaneamente ativos, suas conexões são reforçadas, caso
apenas um esteja ativado em dado momento, suas conexões são
enfraquecidas e adicionalmente;
v) plasticidade regenerativa – consiste no recrescimento de axônios
lesados. Sua ocorrência é maior no sistema nervoso periférico e é
facilitada pelas células não neurais que compõem o
microambiente dos tecidos. No sistema nervoso central,
entretanto, a dificuldade ou mesmo a impossibilidade de
regeneração tem se constituído em um grande enigma da
neurobiologia. Ao contrário do sistema nervoso periférico, as
reações regenerativas do sistema nervoso central, se ocorrem, de
um modo geral, não conseguem garantir recuperação funcional,
embora existam regiões restritas do sistema nervoso central
adulto que mantêm capacidade proliferativa de neurônios que
degeneram.
Considerando-se a modificação cerebral – plasticidade – sob a
perspectiva de respostas a estímulos internos, a exemplo do que acontece no
processo de meditação, DAVISON & BEGLEY, 2013, descreve um
experimento científico que exemplifica essa propriedade de modificação do
41
cérebro em consequência dos pensamentos e intenções, incluindo alterações
de funções de algumas áreas cerebrais, fortalecimento ou enfraquecimento de
conexões entre diferentes regiões cerebrais, modificação do nível de atividade
em circuitos cerebrais específicos bem como modulação de substâncias
neuroquímicas. Trata-se do experimento denominado de “piano virtual”, onde
um grupo de cientista liderado por Álvaro Pascual-Leone, da Universidade de
Harvard, solicitou que a metade de um grupo de voluntários aprendesse tocar
uma música de acordes simples no teclado de um piano, utilizando os cinco
dedos da mão direita e que praticasse durante uma semana. Os cientistas,
então, realizaram exames de imagem cerebral para determinar se houve
modificação do tamanho da área do córtex motor responsável pelos
movimentos desses dedos e constataram que a prática no piano havia
expandido essa região.
Dando prosseguimento ao experimento, os cientistas pediram que a
outra metade do grupo de voluntários apenas imaginasse estar tocando as
mesmas notas, sem efetivamente usar as teclas. Posteriormente, mediram o
córtex motor para verificar se ele havia sofrido alguma modificação. E
descobriram que a região cerebral que controla os dedos da mão direita se
expandira nos pianistas virtuais de forma semelhante à constatada nos
voluntários que realmente tocaram o piano. Comprovando, deste modo, que
apenas o pensamento havia aumentado a área do córtex motor dedicada
àquela função específica.
Segundo MASCARO, 2009, tal processo é denominado ativação cortical
consciente. Desta forma, o treinamento destes grandes aglomerados de
neurônios torna-os mais ressonantes ou responsivos às demandas funcionais
corticais, integrando-se ao processamento cerebral como um todo, tendo como
resultado, em um espaço relativamente curto de tempo, uma maior clareza e
agilidade mental, maior equilíbrio emocional, com maior concentração e,
consequentemente, maior aprendizagem. Além disso, o aumento de atividades
neurofisiológicas remete, também, a plasticidade estrutural do cérebro, uma
42
vez que esses pontos de atividades corticais intensificados passam a funcionar
como pólos de atração para migração de dendritos e a consequente formação
de novas sinapses entre estes neurônios recém ativos e seus pares de regiões
vizinhas. Todo esse processo vai reconfigurar, de forma favorável, os arranjos
das atividades corticais, favorecendo a mudança dos padrões celebrais
estabelecidos, responsáveis pela percepção e consciência e, desta forma,
abrindo-se as portas para o caminho do autoconhecimento, autoregulação e
mudança.
Adicionalmente, sabe-se que, situações desafiadoras, ambientes:
complexos, agradáveis e divertidos, desempenham um papel extra na
capacidade do cérebro reconfigurar-se, estas condições podem servir de
estímulos para induzir o cérebro a autoreparação. Neste sentido, aprender
uma nova tarefa ou jogo que exija exercício mental, ler e refletir sobre um tema
de interesse, além de realizações de exercícios físicos, aumentam a produção
de endorfina, responsável pela sensação de bem estar bem como facilitam a
circulação sanguínea no cérebro, levando, com isso, mais oxigênio as áreas
menos irrigada, por conseguinte, aumentando a quantidade de conexões
neurais, melhorando a memória, a capacidade de aprendizagem e raciocínio.
(RELVAS, 2009).
43
CONCLUSÃO
Apreende-se, pelo exposto neste trabalho, que o cérebro, ao contrário
do que se acreditava há algum tempo atrás, apresenta plasticidade, variando
de características e intensidades, conforme a idade do indivíduo, grau de
comprometimento de suas estruturas, tipo e condições de estímulos,
provenientes de origem externa ou interna. Neste último caso, temos como
exemplo, a técnica da meditação transcendental. O exercício desta técnica
propicia modificações mensuráveis nas áreas ligadas ao córtex pré-frontal -
responsável pelos processos de planejamento, comportamento social,
pensamentos complexos -; sistema límbico/hipocampo – ligado às emoções,
memória e aprendizagem. Além de proporcionar um estado de maior
concentração e foco bem como uma diminuição da ansiedade e estresses,
promovendo com isto uma melhora global no processo cognitivo do praticante.
Considerando-se que o processo educacional corresponde, em última
análise, a uma prática social que tem, dentre seus principais objetivos, o de
promover a mudança do comportamento humano, pode-se então inferir que
não há como mudar esse comportamento sem mudar, de alguma forma, os
componentes cerebrais por meio da neuroplasticidade.
Sendo assim, abre-se uma importante janela de oportunidades, para
todos os profissionais de educação que, com isto, podem lançar mão de
modernas ferramentas e tecnologias “neuroeducacionais”, visando orientar e
fundamentar suas atividades pedagógicas em princípios científicos de
comprovada eficácia. Neste sentido, a conscientização destes profissionais
para as implicações da neurociência no processo de aprendizagem, tornasse
de suma importância.
44
Ressalta-se que, apesar das inúmeras provas científicas sobre os
benefícios da prática da meditação transcendental no campo da saúde
física/mental, a correlação desta com o processo de aprendizado ainda carece
de mais investigações e aprofundamento, tornando-se, por tanto, um tema
desafiante que vale a pena ser mais explorado no âmbito científico e
pedagógico, englobando, desta forma, outros saberes necessários, porém
ainda não amplamente presentes, ao currículo educacional voltado ao
atendimento das necessidades dos alunos desta nova era.
45
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFIAS
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Paulo: ARTMED, 2011.
CURY, Augusto. Ansiedade: como enfrentar o mal do século: a síndrome do
pensamento acelerado: como e por que a humanidade adoeceu coletivamente,
das crianças aos adultos. 1. ed. Rio de Janeiro: Saraiva, 2014.
DAMÁSIO, António. Em Busca de Espinosa: prazer e dor na ciência dos
sentimentos. São Paulo: Companhia das Letras, 2004
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48
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I
O CEREBRO E A APRENDIZAGEM 9
1.1 – Estrutura cerebral: arquitetura e aspectos funcionais 9
1.2 – O cérebro emocional: sistema límbico, memória e aprendizagem 13
CAPÍTULO II
NEUROCIÊNCIA DA MEDITAÇÃO 20
2.1 – Impulsos elétricos do cérebro e suas implicações 20
2.2 – O cérebro no controle do cérebro 24
CAPÍTULO III
MEDITAÇÃO E APRENDIZAGEM 33
3.1 – O processo meditativo 33
2.2 – Neuroplasticidade e aprendizagem 37
CONCLUSÃO 43
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 45
ÍNDICE 48
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