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O que veio para Ilha de Maré

“Ah, eu vim de Ilha de Maré minha senhora Prá fazer samba na lavagem do Bonfim Saltei na rampa do mercado e segui na direção

Cortejo armado na Igreja da Conceição, Aí de carroça andei, comadre, Aí de carroça andei, compadre...”

Ilha de MaréComposição : Walmir Lima e Lupa

Fotografia: Leonardo RattesLegendas: Mariana Alcântara

A Ilha de Maré, pertencente ao município de Salvador, está localizada na região nordeste da Baía de Todos-os-Santos.

O acesso à ilha é difícil e não há um sistema de transporte interno. Para as viagens diárias são utilizados pequenos barcos de motor de proprietários locais. A Travessia custa R$ 2.

A localidade de Bananeiras, que possui cerca de 700 habitantes, tem como principal fonte de renda a pesca artesanal, a catação de mariscos e a agricultura familiar.

As mulheres exercem um importante papel na geração de renda para as famílias por meio da mariscagem. A Tradição da “catação” é passada de geração em geração.

Para as comunidades de pescadores e marisqueiras, o mangue representa a extensão de suas casas. Basta uma lata e uma colher para garantir a alimentação de toda a família.

A intoxicação ambiental por metais pesados como chumbo e cádmio tem consequências diversas. Nas mulheres, provoca alteração nos ciclos menstrual e hormonal, disfunção renal, anemia severa, problemas neurológicos, dentre outros problemas de saúde.

Os resultados da análise do chumbo nos mariscos indicaram que no chumbinho foram encontrados índices oito vezes maiores do que os permitidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

O diagnóstico no siri e no sururu também ultrapassou os índices considerados benéficos para a saúde humana, sendo de 2,17 µg/g e 3,19 µg/g, respectivamente. O limite tolerável proposto pela Organização Mundial de Saúde (OMS) é de 2 µg.

A análise do chumbo no cabelo e no sangue em crianças com até 6 anos mostrou que a população infantil de Ilha de Maré possui índices do metal no organismo de até 19,2 µg /dL, para sangue e 21,2 µg/g, para cabelo. Números superiores ao limite máximo permitido pela OMS, que é de 10 µg.

O organismo das crianças absorvem cinco vezes mais compostos químicos do que o dos adultos. Na foto, meninos brincam de catar conchas no meio dos manguezais poluídos.

Marizélia Carlos Lopes, presidente da Colônia de Pescadores Z-4, de Ilha de Maré, afirma que a população da ilha sofre com constantes odores de produtos químicos como amônia. De acordo com ela, muitos moradores se queixam de ardência nos olhos, garganta irritada e pele áspera.

Marizélia e seu pai, o pescador Djalma Ernandes, lembram que os moradores que já sofrem de problemas respiratórios são os mais afetados. Eles disseram que uma criança de cinco anos, com problemas de asma, morreu ao passar mal depois de sentir o cheiro da amônia.

O pescador Djalma Ernandes aponta para o Porto de Aratu e diz que a poluição gerada por ele é a principal fonte de acidentes ambientais na região, como o derramamento do combustível de um navio no mar, em 2008, fazendo com que o sururu de pedra desaparecesse durante muitos meses.

Ao observar o Porto de Aratu, Seu Djalma sonha em ter uma paisagem diferente da atual, longe de navios, poluição, peixes mortos e fumaça. “Eu tenho esperança de que a justiça será feita”, diz.

De janeiro a outubro de 2010, passaram pelo Porto de Aratu 4,7 milhões de cargas contendo produtos químicos altamente poluentes como amônia, buteno, nafta, soda cáustica e benzeno.

GRANÉIS SÓLIDOS GRANÉIS LÍQUIDOS PRODUTOS GASOSOS

Alumina Nafta Butadieno

Concentrado de cobre Metanol Propeno

Carvão Mineral Soda Cáustica Amônia

Enxofre Dicloroetano Buteno

Fertilizantes Xilenos MVC

Rocha Fosfática Acrilatos

Minério Manganês Benzeno

Magnesita Acrilonitrilo

Alcoois

Estireno

Gasolina

Óleo Diesel

Etanol

Produtos químicos que são transportados pelo Porto de Aratu

Diariamente, passam pelo Porto de Aratu cargas de alta toxidade transportados em granéis sólidos, líquidos e gasosos. Enxofre, soda cáustica e amônia são alguns exemplos.

A marisqueira Roquilda José Bonfim conta que alguns moluscos não são mais encontrados, como, por exemplo, o sururu.

Os estudos da nutricionista Neuza Miranda apontam que a contaminação química por metais pesados já foi incorporada pelo organismo humano por meio da cadeia alimentar.

Durante a infância, a falta de equipamentos de esporte e lazer em Martelo, levou a estudante Aline de São Pedro, de 15 anos, a brincar na área proibida onde está localizado o poço de petróleo da Petrobras.

Em toda a extensão da ilha existem escolas para crianças somente até a quarta série. Para cursar o ensino médio, o estudantes são obrigados a se dirigir para Salvador ou Candeias.

Além da falta de equipamentos de lazer e esportes, a população de Ilha de Maré também sofre com a falta esgotamento sanitário.

O esgoto proveniente das casas lançam os dejetos no mangue e no mar, contribuindo para poluir ainda mais o meio ambiente da Ilha de Maré.

De acordo com moradores de Bananeiras, a coleta de lixo é realizada pela Limpurb durante duas vezes por semana. No entanto, eles a consideram o trabalho precário e insuficiente.

Alguns dos produtos gerados pela Refinaria Landulpho Alves são propano, propeno, iso-butano, gás de cozinha, gasolina, nafta petroquímica, querosene comum e de aviação, parafinas, óleos combustíveis e asfaltos .

Os dutos da Petrobras saem da terra e, por meio do mar, vão em direção à Refinaria Landulpho Alves, localizada no município de São Francisco do Conde.

Na localidade de Martelo está situado um dos doze poços de extração de petróleo que funcionam em plena atividade em Ilha de Maré.

A falta de um trabalho prático de responsabilidade socioambiental por parte das empresas, e de conscientização da população frente aos perigos da tubulações, fazem com que as crianças teimem em entrar na zona de acesso restrito ao pessoal da Petrobras.

A marisqueira Maria Helena dos Santos, que sofre de hipertensão, diz que frequentemente acorda de manhã e vê uma espécie de neblina com pó esbranquiçado, além de sentir cheiro semelhante à urina.

No povoado de Martelo, os moradores convivem com o perigo iminente dos dutos da Petrobras. Na foto, está a casa de Dona Maria Helena, que pela falta de informação, teme que os dutos explodam por conta do calor do sol.