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Ano V, No novembro de 2014 - Maré, Rio de Janeiro - distribuição gratuita
Beleza negra59
Centro de Artes Pág. 13
Lona da MaréPág. 15
negra
Segurançapara quem?
Ação dos militares na Maré é questionada por moradores, líderes comunitários e orga-
nizações da sociedade civil. As de-núncias contra os militares, em geral acusados de abuso de autoridade,
aumentaram nos últimos meses. Pág. 6 e 7
Ainda nos dias de hoje, a mulher negra sofre precon-ceitos e enfrenta situações sociais menos favoráveis, como taxa de desemprego mais elevada do que a dos brancos e salários mais bai-xos. Nesta edição, relatamos algumas situações vividas por moradoras e mostramos iniciativas de valorização da identidade da mulher negra.
Pág. 8 a 12 identidade da mulher negra.
Pág. 8 a 12
Mídia em movimento
Show na Lona com Dudu de Morro Agudo e Bhega divulga � lme sobre
comunicação comunitária. Pág. 15
DireitosCrianças e adolescentes da Maré tiram
suas propostas. Pág. 4
CampanhaPelos jovens negros vivos. Pág. 2
Água na boca!Tapioca de sucesso e receita de bolo
de aipim. Pág. 14 e 15
suas propostas.suas propostas. Pág. 4
CampanhaCampanha
negra
Segurança
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1ª Miss Black Power do Brasil
As moradoras Vitória(de cabelo crespo), Margarida e Vera
Militar circula com câmera acoplada ao capacete
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...A ver navios
Hélio Euclides Elisângela Leite
Pescadores já planejam um protesto com um bolo por mais de um ano sem píer na colônia do Parque União. A obra virou novela e já foi paralisada diver-sas vezes. “Procurei o Instituto Estadual do Ambiente (Inea) e dessa vez alegaram que a obra parou por falta de segurança e furto de material. Prometeram uma visita, estou aguardando até hoje o agendamento para mostrar que o material está todo guardado”, conta Reinal-do Alberto da Silva, conhecido como Coelho.
Os artigos assinados não representam a opinião do jornal.
Permitida a reprodução dos textos, desde que citada a fonte.
Parceiros:
Logomarca Monica Sof�atti
Colaboradores Anabela Paiva
André de LucenaNumim/ Redes da Maré
Coordenadoresde distribuição
Luiz Gonzaga
Impressão Grá� ca Jornal do Commercio
Tiragem 40.000 exemplares
Redes de Desenvolvimento da Maré
Rua Sargento Silva Nunes, 1012, Nova Holanda / Maré
CEP: 21044-242(21)3104-3276 (21)3105.5531
www.redesdamare.org.br [email protected]
Instituição Proponente Redes de Desenvolvimento da Maré
Diretoria Andréia Martins
Eblin Joseph Farage (Licenciada) Eliana Sousa Silva
Edson Diniz Nóbrega Júnior Helena Edir
Patrícia Sales Vianna
Instituição Parceira Observatório de Favelas
Apoio Ação Comunitária do Brasil
Administraçãodo Piscinão de Ramos
Associação ComunitáriaRoquete Pinto
Associação de Moradores e Amigos do Conjunto Bento Ribeiro Dantas
Associação dos Moradores e
Amigos do Conjunto Esperança
Associação de Moradores do Conjunto Marcílio Dias
Associação de Moradores do Conjunto Pinheiros
Associação de Moradores do Morro do Timbau
Associação de Moradores do Parque Ecológico
Associação de Moradores do Parque Habitacional
da Praia de Ramos
Associação de Moradores do Parque Maré
Associação de Moradores do Parque Rubens Vaz
Associação de Moradoresdo Parque União
Associação de Moradores da Vila do João
Associação Pró-Desenvolvimento da Comunidade de Nova Holanda
Biblioteca Comunitária Nélida Piñon Centro de Referência de Mulheres da Maré - Carminha Rosa (CRMM)
Conexão G
Conjunto Habitacional Nova Maré
Conselho de Moradores da Vila dos Pinheiros
Luta pela Paz
União de Defesa e Melhoramentos do Parque
Proletário da Baixa do Sapateiro
União Esportiva Vila Olímpica da Maré
Editora executiva e jornalista responsável
Silvia Noronha (Mtb – 14.786/RJ)
Editor assistente Hélio Euclides (Mtb – 29919/RJ)
Repórteres e redatores Fabíola Loureiro (estagiária)
Rosilene Miliotti
Fotógrafa Elisângela Leite
Proj. grá�co e diagramaçãoPablo Ramos
EDIT
OR
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PO
VO
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A B
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HUMOR - André de Lucena: “A velocidade da moda”
CARTAS
Expediente
Leia o Maré e baixe o PDF em www.redesdamare.org.br /redesdamare @redesdamarewww.redesdamare.org.br /redesdamare @redesdamarewww.redesdamare.org.br /redesdamare @redesdamare
Editorial
Mês de luta contra o racismo
O quadro social no Brasil não disfarça as diferenças raciais que ainda marcam a nossa história. Trata-se de uma característica explícita que pode ser vista por onde quer que se olhe. Nas universidades públicas, ainda há mais brancos, não obstante os avanços possíveis a partir das cotas. Nos cargos gerenciais das empresas acontece o mesmo. Por outro lado, os negros são maioria nas prisões e no número de pessoas assassinadas no país. Ganham menos e possuem menos anos de escolaridade. Esse per� l de sociedade dá sinais de que precisamos mudar – e muito.
Trata-se de um tema bem perto de todos nós. Aqui mesmo na Maré, segundo o IBGE, cerca de 60% dos moradores são pretos ou pardos (como classi� ca o� cialmente o instituto).
No mês da Consciência Negra deste ano, decidimos contribuir trazendo re� exões sobre a condição da mulher negra (leia a partir da página 8). A ideia é lembrar que a luta contra o racismo passa pelo fortalecimento da identidade da pessoa negra. Vamos re� etir?
A todos e todas, boa leitura!
CARTAS
“Não pedi nada, vieram e ofereceram, no fi nal das contas só prometeram o píer, rampa nova e melhoria do entorno. Era melhor antes,
mexeram e fi cou inacabado”Reinaldo Alberto da Silva, o Coelho, pescador
Em 7 de novembro, a Secretaria de Estado do Ambiente (SEA) informou ao Maré de Notícias que a empresa contratada para a execução das obras, a Construtora Fleming, solicitou o cancelamento do contrato. “A SEA vai iniciar novo processo de licitação de prestador de serviço para retomar as obras no próximo ano”, se comprometeu a SEA, por meio de sua assessoria de comunicação.
A placa de divulgação da obra até caiu. Nela constava a data inicial de agosto de 2013, para a obra de implantação de píers no Canal do Fundão, construção e instalação de infraestrutura náutica. A intervenção é feita com recursos do Fundo Estadual de Conservação
Ambiental e Desenvolvimento Urbano (Fecam).
“Tenho medo, pois depois de 1º de janeiro muda a gestão e tudo � ca mais difícil. Não pedi nada, vieram e ofereceram, no � nal das contas só prometeram o píer, rampa nova e melhoria do entorno. Era melhor antes, mexeram e � cou inacabado”, reclama Coelho, temendo � car sem a conclusão da obra.
O estado do lugar é desolador. Até sem rampa os pescadores � caram. A antiga foi quebrada em outubro do ano passado para a construção do píer; e até agora nada.
Quer saber como é a vida de pescador da Maré? Leia nas próximas
edições!
Mais de um ano sem píer no Parque União deixa os pescadores em situação difícil
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O estado desolador do espaço dos pescadores após a interrupção das obras
Jovem negro vivo
Exemplares do Maré de Notícias inte-gram a Campanha Jovem Negro Vivo, lançada pela Anistia Internacional Brasil, no Aterro do Flamengo. A iniciativa visa mobilizar a sociedade e romper com a indiferença em relação à morte dos jo-vens. Em 2012, 56.000 pessoas foram assassinadas no Brasil. Destas, 30.000 eram jovens entre 15 a 29 anos e, deste total, 77% deles negros. A maioria dos homicídios é praticado por armas de fogo, e menos de 8% dos casos chegam a ser julgados. A Anistia está recolhendo assinaturas para fortalecer o manifesto “Queremos ver os jovens vivos” (site da campanha: https://anistia.org.br/campa-nhas/jovemnegrovivo).
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Antonio Bezerra, coordenador do projeto Fla/UEVOM da Vila Olímpica da Maré, recebeu o prêmio de Personalidade do Futsal , na categoria Melhor Treinador de Goleiro, concedido pela Federação de Futebol de Salão do Estado do Rio de Janeiro, em comemoração aos 60 anos da instituição.
“Estou feliz e surpreso com o prêmio. Apesar de ter ganhado várias competições e ter treinado grandes goleiros do futsal, não imaginava que tinha contribuído tanto para o esporte”, brinca Bezerra, que estava pensando em parar de trabalhar com gestão de projetos sociais e já repensa a decisão. “Meus goleiros atuais � caram orgulhosos por saber da minha história pelas redes sociais. E acho que agora a coisa mudou, amo o que faço. Estou com 42 anos e agora que me toquei que sou referência no treinamento de goleiro, isso é muito bom”, a� rma ele
A rede municipal de educação está com inscrições para matrículas abertas para novos alunos de qualquer faixa etária, inclusive jovens e adultos. O calendário vale também para os que desejam pedir transferência de unidade e para ex-alunos. Os responsáveis devem fazer primeiro uma pré-matrícula pela internet para depois efetivar a inscrição. Alunos que já estudam na rede municipal terão a matrícula renovada automaticamente.
Acesse o site: www.matriculadigital.rioeduca.rio.gov.br e esteja atento para o calendário abaixo. Quem quiser, poderá acessar a internet em um dos 56 pontos disponibilizados gratuitamente pela prefeitura. Para os moradores, o local mais próximo é na Escola Municipal Bahia, na Av. Guilherme Maxwell, 243, perto da Av. Brasil.
Victor Pereira Santos, morador do Salsa e Merengue, participará de uma exposição coletiva de artistas que pintam com a boca e os pés, na Cidade das Artes, da Barra da Tijuca. Segundo ele, a abertura do evento está marcada para o dia 3 de dezembro. Para saber mais, visite a página do Victor no facebook: Art pesant.
Na edição 56, de agosto passado, o Maré de Notícias trazia a boa notícia de mais uma linha de ônibus. Infelizmente a linha 334 parou de circular pela Maré em 19 de setembro. A empresa Gire informou que a linha teve o itinerário alterado. A opção agora é utilizar a linha 919 - Pavuna X Morro do Timbau.
A Secretaria Municipal de Transportes disse que autorizou a alteração com base em estudos técnicos. A linha 334 passou a ser denominada Cordovil - INTO via Praça das Nações. A Secretaria esclarece que, dentro das cláusulas de obrigações contratuais, as empresas de ônibus devem prestar todas as informações necessárias aos usuários sobre a execução dos serviços, como comunicar a alteração de itinerários. Os leitores que se sentirem prejudicados podem registrar suas reclamações por meio do telefone da Central de Atendimento ao Cidadão 1746.
Jeová Barbosa da Silva é o novo presidente da Associação de Moradores do Parque Maré. Na diretoria anterior, ele era tesoureiro. José Gomes Barbosa, o Carlinhos, que era o presidente, assumiu a diretoria social. A assembleia ocorreu em 10 de outubro, na presença de diversas lideranças da Maré e do presidente da Federação das Associações de Favelas (Faferj), Rossino Castro Diniz. Como não foi apresentada nenhuma chapa de oposição, foi declarada vencedora a única chapa concorrente.
A Faferj informou que em janeiro haverá eleições na Maré para escolha de presidente em duas associações, Nova Holanda e Morro do Timbau.
Períodos de inscrição:
04/11/2014 a 07/12/2014: Pré-escola, 1º ao 9º Ano e EJA09/12/2014 a 10/12/2014: Resultado classi� cação GEO11/12/2014 a 17/12/2014: Resultado da Pré ao 2º Ano08/01/2015 a 16/01/2015: Resultado do 3º ao 9º Ano e EJA23/01/2015 a 29/01/2015: Inscrição: 2º momento
Personalidade do futsal
Alguém aí fora da escola? Matricule-se e volte a estudar em 2015 Victor na Cidade das Artes
334 � ca pouco mais de um mês na MaréEleições no Parque Maré
O que acontece e o que não deixa de acontecer por aquiA voz e a vez da garotadaEvento realizado em outubro na Maré encaminhará propostas para a
Conferência Nacional em 2015
Fabíola Loureiro Elisângela Leite
O evento que aconteceu em 17 de outubro, no Centro de Artes da Maré, teve em torno de 200 partici-pantes, entre crianças, adolescen-tes e adultos. As propostas serão apresentadas para aprovação nas conferências preparatórias para a Conferência Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, que será realizada em 2015. Segundo Gisele Martins, coordenadora da Equipe Social da Redes da Maré, instituição que organiza o evento local e integra o Conselho Nacional, o objetivo foi discutir a forma como as crianças e adolescentes gostariam que as políticas públicas se desenvolvessem na Maré e nos demais espaços populares.
O estudante Jonathan Luiz, 10 anos, participou dos grupos de trabalho e gostou da conferência: “Achei uma ideia boa, teve a participação de pessoas variadas e também adultos. Dei uma ajuda no grupo e surgiram várias propostas diferentes”, contou ele.
A também estudante Iana Carolina, 10 anos, acha que o evento teve uma boa
participação. “É importante saber a nossa opinião. E não é todo dia que podemos expressar nossa opinião, sem que outras pessoas se intrometam. Um dos exemplos que me chamou atenção foi quando sugeriram: ‘Você bate em uma � or? Não. Então não devemos bater em uma mulher’”, � nalizou Iana.
espaços populares.
Pro p o s t a s Pro p o s t a s 1. Eixo Educação:
* Garantir na educação básica um currículo que contemple
temáticas como direitos humanos, prevenção de substâncias
psicoativas, diversidade sexual e de gênero, território e demais
temas conexos aos direitos das crianças e adolescentes;
* Promover o acesso aos equipamentos escolares, inclusive
nos � nais de semana, como espaços de lazer e convivência
comunitária, com atividades esportivas e culturais em parceria com
as instituições locais;
* Fortalecer os espaços democráticos nas escolas com a
participação dos setores locais nas diversas políticas, tais como
saúde, esporte e lazer, segurança pública, cultura etc., possibilitando
ainda o protagonismo dos estudantes, de seus familiares e de toda
comunidade local;
* Garantir o acesso das crianças e adolescentes com de� ciência
nas escolas públicas com espaços integrados e adaptados
às diversas necessidades com pro� ssionais capacitados
periodicamente.
2. Eixo Segurança Pública:
* Criar políticas voltadas ao enfrentamento e erradicação do
trabalho de crianças e adolescente no trá� co de drogas;
* Fortalecer e exigir dos órgãos de defesa dos direitos da criança e
do adolescente um posicionamento público contrário à redução da
maioridade penal e às diversas formas de violência contra crianças
e adolescentes;
* Potencializar a atribuição dos Conselhos Tutelares de sistematizar
e encaminhar as denúncias e demandas locais aos órgãos
competentes para o planejamento de políticas públicas voltadas
para crianças e adolescentes;
* Fiscalizar e potencializar as instituições socioeducativas.
Evento contou com a participação ativa das crianças, que gostaram de ser ouvidas
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Direito à segurança pública ainda distante dos moradores, que denunciam o aumento de violações cometidas pelas Forças Armadas na Maré
A presença da cha-mada Força de Pa-
ci� cação não alte-rou o panorama da segurança pública nas comunidades do bairro. Desde 5 de abril, quando teve início a ocu-pação pelas For-ças Armadas, pelo menos 11 pessoas foram mortas na Maré em diferen-tes situações.
Outras duas mortes por arma de fogo ocorreram durante a permanência do Bope e do Batalhão de Choque no período que antecedeu a chegada das forças federais
Tensão e mortes
“Estava na esquina com dois amigos quando veio o jipe dos militares, entrou na rua voado e enquadrou a gente. ‘Encosta aí, encosta aí’. Me encostaram na parede, me chutando, xingando. “Documento’. Eu falei: ‘Calma, está aqui. Isso é abordagem? Não precisa chutar!’. Na hora que fui olhar, eles jogaram spray (de pimenta) no meu rosto. Começou a arder, comecei a esfregar, quanto mais esfregava, mais ardia. Fui falar com eles de novo: ‘Não tem necessidade disso não; sou trabalhador’. Jogaram de novo o spray com mais força, entrou na minha boca, no meu nariz. Em momento nenhum xinguei eles; agarraram no meu braço e me botaram dentro do jipe; e no meu outro colega deram um tiro na barriga dele (de bala de borracha). Levaram nós dois pro CPOR (Centro de Preparação de O� ciais da Reserva, base dos militares na Av. Brasil). Eu lembro de quem me tacou. O nome dele era Paulo, mas ele saiu de moto com mais dois. Botaram a gente num contêiner, nisso veio um senhor e perguntou o que houve. Eu comecei a relatar o fato. Ficamos até as 5h da manhã (a abordagem na rua tinha sido às 21h40). Depois assinamos um montão de livro, não explicaram nada, foi
(de 21/03 a 04/04), totalizando 13 homicídios relacionados à falta de segurança pública em sete meses e meio.
Além disso, moradores e participantes do Maré que Queremos, projeto que reúne lí-deres comunitários e representantes de or-ganizações da sociedade civil, denunciam o aumento do número de casos de abusos co-metidos pelos homens das Forças Armadas.
“O Exército vem cometendo as mesmas atrocidades que a Polícia Militar na Maré. O Exército não pode receber R$ 1,2 milhão por dia em nome de uma paci� cação e fazer um controle de território sem inteligência e sem resultar na efetiva melhoria para o morador”, a� rma Eliana Sousa Silva, diretora da Redes da Maré. O valor citado é o custo do governo federal para manter as Forças Armadas aqui.
O presidente da Associação de Moradores e Amigos do Conjunto Esperança, Pedro Fran-cisco dos Santos, relata vários episódios de abuso de autoridade, dentre eles um jovem de 17 anos, que foi espancado por militares (leia mais no Box) e uma menina de 12 anos que foi ameaçada pela Força de Paci� cação e agora está com pânico de sair de casa. Os
soldados do Exército também têm quebrado cadeados dos prédios para subir nas lajes, colocando o morador em risco.
“O cidadão não tem mais tranquilidade para entrar e sair de casa. Peço às autoridades para rever seu modo de ação, para atuar com inteligência e não com poder bélico”, enfatiza ele.
Sem poder registrar queixa na DP
Na Vila do João, até o presidente da Associação de Moradores, Marco Antônio Barcellos, o Marquinho Gargalo, foi ameaçado de prisão ao pegar os militares em � agrante, arrobando a casa de um morador, sem mandado judicial. Segundo ele, as violações aumentaram nos últimos cinco meses e em 24 de outubro um trabalhador foi assassinado durante uma confusão na rua. Para conter a confusão, os militares deram tiros de arma de fogo fogo que, segundo moradores, atingiram duas pessoas; um deles não resistiu e morreu.
daí que deram uma folha lá de desacato, de coisa que não � z. Não me obrigaram, mas fomos assinando. Me levaram para 21ª DP, de lá me levaram para Bangu 10, onde � quei dois dias. Não desejo para ninguém. Eu ganho um salário mínimo; graças a Deus minha mãe e meu padrasto pagaram a metade da � ança (de R$ 2 mil) e também o pessoal da igreja. Estou respondendo. Tenho audiência no dia 12.”
Vicente de Melo, 29 anos, morador do Conjunto Bento Ribeiro Dantas, auxiliar de jardineiro, casado, um � lho
“Sou mãe de um adolescente de 17 anos. Vou dar um grito de desespero de dois meses, um grito de uma mãe que não está conseguindo mais dormir, porque um garoto de 17 anos quer ir para rua e você não pode conter. Ele trabalhando... (os militares) pegaram ele, colocaram ele atrás daquele carro, puxaram ele, falaram: ‘Você mesmo’. Confundiram ele com alguém. Arrebentaram ele atrás desse carro. Sorte que ele conseguiu correr, largou a moto e veio para casa com os mototáxis, que ajudaram ele. Ele entrou
no meu quarto desesperado: ‘Mãe, olha o que � zeram comigo’. Com a cara inchada, a orelha sangrando. Fui em frente à paróquia, fui falar (com os militares), todos eles � caram calados. Fiquei de 2h30 até 4h da manhã e eles dizendo que estavam passando um rádio, foi mentira, porque cheguei ao CPOR e ninguém sabia de nada. Fiz raio-x do maxilar, do rosto, fui na 21ª DP, falaram que eu não podia fazer ocorrência contra eles, que eu tinha que ir lá neles e eu fui lá falar a ocorrência e até hoje não deu em nada. Dois meses já e nesses dois meses meu � lho já sofreu outra. Tiraram ele do trabalho e jogaram ele dentro do prédio. ‘Vem aqui, neguinho, você nós já pegamos de madrugada’. E assim está acontecendo. Ele saiu do trabalho porque estão implicando com ele direto. Por que? Porque é preto, mora na favela? Meu � lho é trabalhador. Já virou (rixa) pessoal, eles (os militares) riem, debocham da cara dele”.
Angélica Moreira de Jesus Nascimento, moradora do Conjunto Esperança, mãe de adolescente de 17 anos que já sofreu quatro ameaças de um mesmo grupo de militares
Conheça dois casos denunciados por moradores
Um dos aspectos mais graves refere-se à impossibilidade de os moradores registrarem queixa contra os abusos na delegacia. Isto porque a Maré está sob uma operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), que dá poder de polícia às Forças Armadas. Os abusos só podem ser registrados aos próprios militares federais.
“Os casos de abuso e o número de homi-cídios aumentaram. E a comunidade ainda está perdendo a tradição de eventos, como pagode e funk, porque é difícil conseguir li-beração”, acrescenta o presidente da Asso-ciação de Moradores da Baixa do Sapateiro, Charles Guimarães.
Os participantes do Maré que Queremos solicitaram audiência com o secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, para tratar dessa situação.
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Silvia Noronha
“Segurança para quem?”, questionou Eliana Sousa sobre a trincheira
de guerra dos militares na entrada do Pinheiro (mostrada na foto)
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Mulheres negras sofrem mais com preconceito racial e social, como desemprego e salários baixos. Fortalecer a identidade negra é fundamental
para chegarmos a uma sociedade mais tolerante com as diferenças
Rosilene Miliotti
A assistente social Erika Fernanda de Car-valho, coordenadora do Centro de Refe-rência de Mulheres da Maré - Carminha Rosa (CRMM-CR), situado na Vila do João, diz que cerca de 70% das mulheres atendidas na unidade são negras. Muitas delas sofrem com a imposição do padrão de mulher que se sobrepõe em nossa so-ciedade, que é a branca de cabelos lisos, olhos claros e rica.
Um estereótipo que serve ao modo de sociedade em que vivemos, que ainda precisa avançar muito para acabar com os preconceitos, seja de raça, de gênero ou de orientação sexual.
O CRMM, projeto da UFRJ, não tem uma política especí� ca para o atendimento de mulheres negras, porque entende que elas são sujeitos, sejam brancas, negras ou indígenas. A maior parte das pessoas atendidas são moradoras que sofreram algum tipo de violência doméstica, seja física ou emocional. “Mas não podemos tratar todas da mesma forma só porque sofreram violência; cada uma é uma expressão singular desse fenômeno e a condição social, de raça, gênero não deve ser impeditivo para que ela acesse seus direitos de forma plena”, explica Erika.
Segundo Izabel Solyszko, também assistente social, a maior parte das mulheres não chega ao CRMM se reconhecendo como vítima de violência. Muitas não sabem nem que têm o direito de ter direito, como já sinalizado pela � lósofa Marilena Chauí. “Talvez a gente nunca tenha recebido uma queixa de racismo, mas ouvimos isso em atendimento individual e nas o� cinas. Ouvimos que elas não são identi� cadas como clientes quando entram nas lojas e relatam discriminação por morar no bairro Maré. Muitas dizem que moram em Manguinhos, mas não falam que moram na Vila do João”.
A assistente social ressalta que a mulher negra também é menos valorizada no mercado de trabalho. “O homem branco ganha mais, o homem negro e a mulher branca recebem quase a mesma coisa. Já a condição da mulher negra nunca muda na faixa salarial. Além disso, na questão da maternidade, a taxa de mortalidade materna se reduziu nos últimos anos, menos entre as mulheres negras, que chega a ser 10 vezes maior do que a mortalidade materna das mulheres brancas. A desigualdade de classe, associada à desigualdade de raça, traz para as mulheres que a gente atende um componente de exposição e de maior vulnerabilidade”, analisa Izabel.
Mulheres negras sofrem mais com preconceito racial e social, como
Racismo tem CEP e gênero
“A taxa de mortalidade materna se reduziu nos
últimos anos, menos entre as mulheres negras,
que chega a ser 10 vezes mais do que a das
mulheres brancas. A desigualdade de classe,
associada à desigualdade de raça, traz para as
mulheres que a gente atende um componente
de exposição e de maior vulnerabilidade”Izabel Solyszko, do CRMM
Dia a dia mais difícil
As duas queixas mais ouvidas durante a apuração desta reportagem foram discriminação nas lojas e no mercado de trabalho. É mais difícil conseguir emprego sendo negra e tendo o cabelo crespo. Vera Lucia Jorge, 58 anos, dona de casa, moradora da Vila do João, a� rmou no início da entrevista que nunca havia sofrido preconceito. Mas depois pensou e logo lembrou de uma perseguição dentro de um mercado na Nova Holanda, isso já há alguns anos.
“O que me deixou mais revoltada é que o segurança do mercado era negro igual a mim. Eu disse a ele que não ia roubar nada e que tinha dinheiro para comprar. Ele disse que não estava me perseguindo e logo se afastou. Outra vez, eu entrei no ônibus, ia fazer compras em Bonsucesso, aí uma senhora branca tirou o relógio bem rápido e o escondeu. Eu tinha 39 anos na época e minha vontade era de dar uma coça naquela mulher, mas falei pra ela que se eu fosse uma ladra, ela não teria tempo de tirar o relógio. Aí as pessoas no ônibus começaram a avançar na mulher e ela desceu no ponto seguinte”, conta.
Já Margarida Maria de Jesus, 65 anos, aposentada e também moradora da Vila do João, logo se lembrou de um fato quando ela ainda trabalhava no setor de limpeza no centro da cidade. “Quanta humilhação passei quando ia receber meu pagamento. Eu entrava no banco, sempre acompanhada com outras pessoas do trabalho (todas de pele clara) e o segurança logo me parava e perguntava se eu queria alguma informação. Eu respondia que não. Minha encarregada me chamava e dizia aos seguranças que eu estava com ela. O sentimento é de humilhação, mas fazer o quê, se não posso mudar de cor? Se a pessoa for negra e com dinheiro, ela tem os direitos garantidos. Mas não vejo pobre, favelado, negro reclamar os direitos e conseguir mudar alguma coisa. Olha só a desvantagem que eu tenho, sou preta e pobre”, lamenta ela, para quem o preconceito é ainda mais visível contra pessoas negras de classe econômica mais baixa.
Erika ressalta que as instituições que atuam na Maré têm responsabilidade de fazer com que essas mulheres sejam vistas como sujeitos de direito, que negras e brancas possam se unir para lutar por uma sociedade mais igual, tanto para homens quanto para as mulheres; e que as diferenças de cor ou de gênero possam ser vistas como algo positivo e não como
Mulheresnegras
12.5%
Mulheresbrancas
9.2%
5.3%
Homensbrancos
9.2%
Homens
6.6%
Homens negros
Homens brancos
R$ 1.491.00R$ 1.491.
Mulheresbrancas
R$ 957.00
Homens negros
R$ 833.50
Fonte: Retratosdas Desigualdade de Gênero e Raça, Ipea, 2011. Para saber mais: http://www.ipea.gov.br/
retrato/pdf/revista.pdf
Taxa de desemprego da população acima dos 16 anos
Médiasalarial
Mulheres negras
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Muitas iniciativas vêm acontecendo no país pela valorização da identidade negra, especialmente neste mês da consciência negra, em novembro. Uma das surpresas da São Paulo Fashion Week deste ano, por exemplo, foi o des� le de cabelos crespos pelos corredores do evento.
Nas ruas da Maré, notamos que as meninas estão começando a adotar o famoso estilo black power e a assumir os cachos. Vitória Rosa, de 14 anos, moradora da Nova Holanda, já alisou o cabelo, não gostou do resultado e diz que se sente linda com seus cachos. “Lavo o cabelo todos os dias e acho que as brasileiras não gostam do cabelo crespo porque dá trabalho, mas elas não sabem o quanto é bom e bonito”, frisa.
No dia 8 de novembro aconteceu, aqui no Rio, o 1º Miss Black Power, iniciativa do Mercado Di Preta, uma oportunidade para discutir assuntos relacionados ao cotidiano
da pessoa negra de maneira leve e democrática.
Paula Azeviche, uma das criadoras do Mercado Di Preta, diz que nem sempre as pessoas entendem a proposta do evento. “O Miss Black Power é um espaço de representação sócio racial valioso. Depois que a pessoa faz parte de um
concurso como esse é difícil ser a mesma porque as escolhidas acabam se tornando uma referência”, diz ela.
Cinquenta mulheres de diferen-tes estados se inscreveram, e quem levou o primeiro lugar foi a baiana Maria Priscilla de Je-sus, seguida da também baia-na Jaciene Mendes Souza e da mineira Elaine Sera� m de Freitas.
Outra iniciativa voltada para as mulheres é o blog bloguei-rasnegras.org, que conta com várias articulistas sempre mar-cando posição contra iniciati-vas racistas e preconceituosas.
“Meu cabelo enrolado, todos querem imitar...”
objeto de opressão e desigualdade. Isso daria � m a situações como as relatadas por Vera e Margarida.
Negras x mídia
“As mulheres negras que estão na mídia estão embranquecendo. Essas celebridades têm responsabilidade no resgate de identidade. Elas são seguidas pela juventude e o que elas fazem se torna referência”, diz Erika. Mas é bom lembrar da atriz Taís Araújo e da cantora Margareth Menezes, por exemplo, que defendem o resgate da identidade negra.
Entretanto, de acordo com uma pesquisa da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), as mulheres negras não estão tanto
nas telas de cinema quanto as brancas. Apesar de ser a maior parte da população feminina do país (51,7%), as negras apareceram em menos de dois a cada dez longas metragens entre 2002 e 2012. Atrizes pretas e pardas representaram apenas 4,4% do elenco principal dos � lmes nacionais.
Além da atuação na TV e no cinema, não podemos esquecer a � gura da mulata, mulher negra exuberante, objeto sexual, ligada ao carnaval. Outro exemplo são os modelos de propaganda de cuecas, sempre homens, em geral, negros e com corpos bem desenhados. “No Brasil ninguém é 100% branco, mas o que prevalece no mundo publicitário é esse modelo, a exemplo do comercial de margarina. Temos poucos negros na publicidade; quando temos é a cota ou sob a exploração do corpo”, re� ete Erika.
“No comercial de fralda só tem criança branca de olho azul. Quase não tem comercial de produtos para o nosso cabelo, quando aparece é produto para alisar o cabelo. Aqui mesmo, dentro da favela, não tem salão especializado em cabelo crespo. Quando a gente chega, já querem alisar”Margarida Maria de Jesus, da Vila do João
Margarida e Vera foram removidas, respectiva-
mente da favela do Pinto e do Esqueleto; conhe-
ceram-se na Nova Holanda e se tornaram amigas
e comadres
Erika, do CRMM: diferenças de cor ou de gênero vistas como algo positivo e não como objeto de opressão e desigualdadeIzabel: racismo se re� ete no
mercado de trabalho
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As três � nalistas do 1º Miss Black Power
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Segundas-feirasIntrodução ao balé
17h30-18h30 - a partir de 8 anosDança de rua, Iniciante
18-19h - a partir de 10 anosDança de rua, Avançado19h-20h30 - a partir de 10 anos
Sanduíche de Livro Espetáculo Infantil com
contadora de históriaUma velha bruxa se cansa da
� oresta e decide procurar um novo lugar para assustar. Ela se encanta
com a cidade grande, cheia de fumaça e barulho. Mas encontra
crianças, que farão seu feitiço virar contra a feiticeira. As crianças são
estimuladas a interagir o tempo todo!Classi� cação etária: livre
Sábado, 29/11, às 18h
Qual é a Música Espetáculo de dançaComo o corpo pode ser disponibilizado? Que estímulos podem surgir em uma construção coreográ� ca no momento de sua execução? O trabalho explora a interação entre o público e a criadora/intérprete.Classi� cação etária: livreDomingo, 30/11, às 18h
Sextas-feirasDança de Salão
18h-21h - a partir de 16 anos
Quintas-feirasDança criativa 18h-19h
Dança Contemporânea18h30-19h30 - a partir de 12 anos
Introdução ao balé14h30-16h - a partir de 14 anosDança Contemporânea
16h-18h - a partir de 14 anos
Terças-feirasIntrodução ao balé
14h30-16h - a partir de 14 anos
Quartas-feirasDança Criativa
17h-18h30 - de 6 aos 12 anos
Ofi cinas da Escola Livre de Dança da Maré ATIVIDADES GRATUITAS
Mostra Maré de Artes Cênicas - Último mês! Não perca!Em dezembro
R. Bitencourt Sampaio, 181, Nova Holanda. Programação no local ou pelo tel. 3105-7265De 2ª a 6ª, de 14h às 21h30
EVENTO
Mesa Redonda: Violência contra a Mulher, Movimentos Sociais e Estratégias de Resistência
Encontro aberto que marcará os 16 dias de ativismo pelo � m da violência contra as mulheres (de 25/11 a 10/12).
Data: 03/12Horário: 14h às 17h
Local: Auditório do Núcleo de Estudos em Políticas Públicas e Direitos Humanos (NEPP-DH), na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) - Campus Praia Vermelha (Urca/Botafogo) Organizado pelo CRMM
Apareça no CRMM
Atendimento social, psicológico e jurídico e o� cinas para mulheres maiores de 18 anosRua 17, s/n, (ao lado do posto de saúde da Vila do João) - Tel: 3104-9896
Para Margarida, o pior racista está dentro do Brasil. “Eu já até me acostumei com o racismo. As negras só aparecem na novela se forem empregadas. E os anúncios na TV? No comercial de fralda só tem criança branca de olho azul. Quase não tem comercial de produtos para o nosso cabelo, quando aparece é produto para alisar o cabelo. Aqui mesmo, dentro da favela, não tem salão especializado em cabelo crespo. Quando a gente chega, já querem alisar”, reclama (Na verdade, nossa reportagem descobriu dois salões afro na Maré, um no Parque União e outro na Vila do Pinheiro).
Para Izabel, a colonização do Brasil retirou das mulheres a condição de sujeito. “As mulheres sempre foram vistas como coisas que deveriam trabalhar (servir de mão de obra), ter o corpo e a sexualidade explorados. Temos uma trajetória de mulheres que tiveram a sua religião expropriada. Tiveram toda sua história cultural atribuída a algo ruim. Exemplo, o ca-belo crespo. Tudo que é relacionado ao negro foi ‘coisi� cado’ como negativo, mas isso sobre o corpo das mulheres negras foi feito de uma maneira perversa”, critica ela.
Izabel lembra uma fala da militância negra que diz ‘nossos passos vêm de longe’, e é isso que para ela é preciso resgatar. “É muito triste que as mulheres, pensando na ascensão social, comecem a embranquecer, alisam e pintam os cabelos, a� nam o nariz, usam roupas que não têm nada a ver com sua identidade. Fortalecer a identidade negra para essa luta é uma questão fundamental”, conclui
Qual é a Música Espetáculo de dançaComo o corpo pode ser disponibilizado? Que estímulos podem surgir em uma construção coreográ� ca no momento de sua execução? O trabalho explora a interação entre o público e a criadora/intérprete.Classi� cação etária: livreDomingo, 30/11, às 18h
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Espetáculo da Cia HíbridaTerceira e última parte da trilogia que discute Hip Hop e fragilidadeSegunda feira (01/12), às 19hÀs 17h, o� cina de danças urbanas
Maré de Espetáculos 2014 Fechamento de ano do projeto Teatro em Comunidade, com três apresentaçõesSábado, 06/12, às 17h, 18h e 19h30
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Essa tapioca é um sucesso!Dani conquista moradores com iguaria tipicamente brasileira. Difícil
é a gente fazer igual em casa
Hélio Euclides Elisângela Leite
Daniele França Neri pode ser chamada de cozinheira de mão cheia. Nascida no Rio de janeiro, em 1982, hoje tem 22 anos de carreira como tapioqueira. No início, ainda criança, tra-balhava com tapioca por obrigação, mas hoje vê que foi bom aprender esse ofício. Ela ainda en-contra tempo para co-zinhar e vender quenti-nhas. “Para distribuir bem o dia, tenho que dormir pouco, acordo às 2h50 e saio de Magé às 4h. Fico na Maré até as 21h e chego em casa por volta das 22h10”, conta a popular Dani, que mantém uma barraca na Rua Teixeira Ribeiro, esquina com Flávia Farnese, no Parque Maré. E lá se vão cinco anos por aqui. O funcionamento de sua barraca é de segunda a sábado. Às quartas e sá-bados há bolo de aipim, e no sábado, dia da feira, há ainda pamonha, cus-cuz, massa de tapioca e pé de mole-que na palha de banana. No domingo, não tem descanso; ela aproveita para agilizar o estoque.
As tapiocas são seu carro chefe, e isso já provoca elogios. “A tapioca é muito boa, eu vejo que a Dani faz com muita facilidade. Fico tentando copiar, mas não consigo fazer igual em casa”,
Leonardo Mara� ão diz que se casa com Dani por causa da comida, brinca ele
conta Leonardo Castro. E nem adianta in-sistir porque ela não conta o segredo. “Eu
vendo a massa da tapioca, mas há o macete, o gingado que só eu sei. O segredo eu não posso contar”, confessa ela, que até pretendentes conquista com seu trabalho. “A ta-pioca é uma delícia, o bolo é muito gostoso. Pela comida eu caso com ela”, brinca Leonardo Mara� ão.
Outro que sempre tem o hábito de degustar a tapioca é o aluno do Observatório de Favelas, Marcos Costa. “A tapioca valoriza nossa cultura da periferia, além de ser algo antigo trazido pelos índios”, conta Marcos. De fato, a tapio-ca, também chamada de beiju, é uma iguaria tipicamente brasi-leira. Teria vindo do Nordeste, a partir da descoberta dos índios
tupis que conseguiram extrair a goma da mandioca.
De Magé a Maré
Trabalhar na Maré é sempre uma aventura. Dani traz tudo no ônibus, algo pesado, pois são muitas caixas. Quando desce do outro lado da Avenida Brasil, ela encontra ajuda de amigas para atravessar a passarela.
O que Dani mais gosta é do frio, quando ela chega a fazer até 250 tapiocas por dia. Ela se orgulha de ter feito tapioca para Cláudia Abreu, Dudu Nobre, MV Bill e Juliana Paes. “O meu segredo é que gosto de cozinhar, faço como se estivesse em casa”, diz ela, que tem dois � lhos. Para o futuro, ela pretende comprar um carro para economizar com fretes. “Depois disso quem sabe um dia eu não divulgue a minha marca”, sonha Dani.
“Eu vendo a massa da tapioca, mas há o
macete, o gingado que só eu sei. O segredo eu
não posso contar”
Hhhhuuummm...
Barraca da DaniRua Teixeira Ribeiro esquina com Flávia FarneseDe segunda a sábado. Ela começa a servir ainda pela manhã e � ca até as 21hTapiocas de R$ 2,50 a R$ 4,50
Bolo de Aipim
Já que a Dani não conta o segredo da tapioca, ofereceu aos leitores esta receita abaixo:
Ingredientes:
3 quilos de aipim2 xícaras de açúcar (400g)1 lata de leite condensado1 xícara e meia de coco ralado250 gramas de margarina (qualy)1 pitada de sal
Modo de fazer:
Descasque o aipim, pique em rodelas pequenas, bata no liquidi� cador.Observe para não � car uma massa aguada, e sim consistente.Acrescente a margarina.Coloque num pote e adicione a metade do coco, o açúcar, o sal, e o leite condensado.Misture tudo e coloque num tabuleiro untado e polvilhado (tamanho 500gr).Por � m, coloque o restante do coco por cima e leve ao forno por uma hora e meia.Depois é só servir.
A equipe com a mascote da barraca: Daiane Gomes (à esqu.), Julia Freitas, Tatiane Peçanha e Daniele
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Herbert ViannaLona cultural
PROGRAME-SE !
R. Ivanildo Alves, s/n - Nova MaréTels.: 3105-6815 / 7871-7692 - [email protected]
FACE: Lona da Maré - Twitter: @lonadamare cultura
Oficina do movimento - dançaSábados, 10h às 13h
Complementação pedagógicaSegunda a sexta, 09h às 11h30 e 13h às 15h30
Maré sem LixoSextas, 13h30 às 17h
Educação AmbientalSegunda e sexta, 16h às 17h30
SkateSábados, 9h às 12h
Arte – costuraSegundas, 14h às 16h
Desenho básicoSegundas, 10h às 12h
Favela Rock Show
Bandas: Algoz | Canto Cego | Nove Zero Nove | Stereophant
Sexta, 07/11, 21h
Encerramentodo Ano
Música + Vídeos + Ginc anas+ Intervenções
Mutirão de Gra� te com os artistas Rafo Castro | Bruno
Zagri | Leonardo Rack | Cruz | Nata Família
Apresentações e atividades das o� cinas que acontecem na
Lona.Sábado, 20/12, às 21h
O Maré de Notícias está entre as quatro ini-ciativas de comunicação popular e alternativa que serão apresentadas no documentário “Mí-dia em Movimento”, projeto do Laboratório de Comunicação Dialógica (LCD) da Faculdade de Comunicação Social da Universidade Es-tadual do Rio de Janeiro (Uerj). Também serão documentados o Mídia Ninja, que � cou famo-so ao transmitir as manifestações de 2013 em tempo real; o Movimento Enraizados, que de-senvolve ações de comunicação e formação de jovens em torno do hip hop em Morro Agu-do, Nova Iguaçu; e a Rádio Resistência, fonte de informação e entretenimento para morado-res da região de Realengo.
Para divulgar o projeto do � lme, será realizada uma festa na Lona Cultural da Maré, com en-trada gratuita. Haverá shows do rapper Dudu de Morro Agudo, um dos fundadores do Enrai-zados; e do nosso Bhega, da Maré, que acaba de lançar o terceiro CD “Perseverança”.
As � lmagens já estão a pleno vapor, mas para viabilizar o longa metragem, os produtores lan-çaram uma campanha de � nanciamento co-letivo (crowdfunding) pela internet para com-plementar a verba necessária. Visite: http://
FESTA:Midia emmovimento
Festa de divulgação do documentário Mídia em
MovimentoAtrações: Bhega Silva tocando MPB, forró e samba; e Dudu de
Morro Agudo, hip hop.Sábado, 06/12, às 21h
Midia em movimento - a festa
Dezembro
Biblioteca Popular Municipal Jorge AmadoAo lado da Lona, atende a toda a Maré:
Amplo acervo, brinquedoteca, gibiteca e empréstimo domiciliar
OFICINAS
catarse.me/pt/midiaemmovimento. É possível apoiar com apenas R$ 10. Se apoiar com R$ 80, ganha uma camiseta do documentário. A campanha estará no ar até 31 de dezembro.campanha estará no ar até 31 de dezembro.
PROGRAME-SE !
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Para psicólogoO maníaco depressivo reclamou:
- Até Deus está contra mim! E o megalomaníaco respondeu:
- quem, Eu?????
Nome do filmeUm cara comeu um quilo de alho e depois escovou os dentes.
Qual e o nome do filme? Mudança de hálito
pra Maré participar do Maré
Moradores
todos os meses!
Envie seu desenho, foto, poesia, piada, receita ou sugestão de matéria.
Rua Sargento Silva Nunes, 1.012 – Nova Holanda Tel.: 3105-5531E-mail: [email protected]
Garanta o seu jornal
comunidade!Busque um exemplar
na Associação de
da sua
POESIASMais duas enviadas por alunos do Curso Pré-Vestibular da Redes da Maré
Rindoatoa)
Somente o que eu tenhoRonald Andrade
Convite a ArteIury de Carvalho Lobo
Hélio Euclides
Portanto no dia de hoje, farei algo bem e tão diferente:
Sorrirei para as estrelas, mesmo que eu não tenha motivo algum de alegria.
Certamente podes ter razão para sorrir para os outros, e ninguém conhece o teu coração,
mas tuas lágrimas quando, em teu silêncio descem por face a fora, ou no silêncio que ninguém vê;
vagam por dias ou noites a fora:palavras caladas, mentiras ocultas, orgulho mais do que o necessário.
Mas, por falar em palavras, lembranças não podem falar; apenas vagam nos pensamentos do nada,
e sem pedir permissão, nos perpassam de mãos dadas...
... em conjunto com o inerte que se faz repentino, e sorrateiramente nos abraça, nos toca, nos
afaga,toma-nos, nos contra-ataca:como faca nos fere, assolando a alma, revidando a persistência de dizermos “não”.
E quando deitamos na noite, conjecturando sobre a vida, a vida por si mesma nos ensina
dia pós dia,que dia se torna em noite, e noite se verte em dia.
Mas um conselho aos mais minuciosos e devaneadores:
olhe as fl ores e aprenda com as mesmas que são lindas e belas...
são ofertadas a quem amor nos tem como um imenso e lindo sentimento.
Flores são dadas em momentos mais do que importantes e acontecimentos especiais!
E só quem as recebe sabe o quanto são mais do que amadas, mais do que bem queridas, mais do
que importantes, mais do que sempre, sempre primordiais e jamais substituídas por
nenhum outro alguém.
E quem sabe o valor de tal entrega, quem oferta uma fl or nada mais do que deseja, é simplesmente
agradar com um retoque mais do que especial...
Somente Deus quem o diga, pois ali existe por certo virtudes e verdades, em que somente quem
possui sensibilidade sabe o valor de algo tão lindo e tão imenso.
Não se pode mentir a si mesmo, não se pode sufocar a grande magia do saber:
que em um coração fl ui e evolui algo que se chama amor, este que em silêncio se cala, afl ora em
lágrimas ocultas, suprimidas em dor, da voz que grita dentro do próprio peito com
o pudor:isto se chama nada mais e nada menos do que:
AMOR!...
...E explodiu cor, cores, jorrou tinta, pintou cor-pos, roupas, ruas, trilhas, jornadas, caminhos, favelas, travessias, então:
- Bora passar por aqui!- Não, vamos começar dali, oh é melhor!Logo os olhares, meio desatentos, curiosos,
pedintes, perdidos, confundiram e indagavam:
- Que isso gente?- Tão pintando a rua, né?Já não era só cor, agora embarcavam tantos
corpos, muito movimento, outros sons. E visão? Visão, projeção, em meio a tudo em meio ao:
- O verde ta acendendo!- Faz um desenho fi lha!- O azul ta irado!- Maneiro. Bota mais laranja!- Mandaram parar! Parou! Parou tudo! Parou?Caô! A infância brincava, pedia pra dançar, pular,
ganhávamos todos e tudo ban-hado pela liberdade, pela diversi-dade, alegria e festa. O caminho que sempre foi marcado por fi m sofreu, aliás sorriu mais um carimbo:
A arte passa, a arte fi ca, fi nca, fi nda, a arte trans-passa, a arte transcende.
- Posso entrar na foto tio? Namoral!E isso foi só um convite, vem ver arte, venha ser
arte...