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Ano V, N o setembro de 2014 - Maré, Rio de Janeiro - distribuição gratuita 57 Seu Atanásio Amorim relembra a vitória dos moradores que conseguiram evitar a remoção da Maré no final da ditadura militar, em 1979. Agamenon, Zé Careca, Clóvis, ele e outros criaram a Comissão de Defesa das Favelas da Área da Maré (Codefam) e mudaram o Projeto Rio que, a princípio, removeria os moradores daqui para construir a Linha Vermelha. O governo federal acabou ouvindo as demandas dos moradores e o Projeto Rio virou uma grande obra de urbanização. Pág. 4 a 6 História de Roquete Pinto Conheça também a história de Roquete Pinto contada por Seu Cabral Batista, que chegou à favela em 1952, removido da zona sul. “Aqui só era maré, não tinha luz, nem água. Comecei do zero” , lembra ele. Pág. 6 e 7 Já reparou como têm jovens andando de skate na Maré? A prática está ganhando mais adeptos entre os moradores, que ado- taram o longboard (skate grande) até como meio de transporte pela favela. Mas o que essa galera gosta mesmo é de fazer mano- bras em ruas largas e ladeiras. Conheça o grupo Maré longboard. Pág. 8 e 9 Venham conversar sobre o jornal A equipe do Maré aguarda vocês dia 06/10! Pág. 2 Alô crianças e adolescentes Moradores com até 17 anos, seus familiares e instituições estão convidadas para a 1ª Conferência Livre dos Direitos da Criança e do Adolescente da Maré, em 17/10 Pág. 13 Xampu caseiro contra piolho Uma receita de saúde Pág. 11 Lona da Maré Centro de Artes Pág. 15 Rosilene Miliotti Rosilene Miliotti Elisângela Leite Elisângela Leite Elisângela Leite Maré resiste à remoção desde sempre Olha aí o rolé de long!

Maré de Notícias #57

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Ano V, No setembro de 2014 - Maré, Rio de Janeiro - distribuição gratuita57

Seu Atanásio Amorim relembra a vitória dos moradores que conseguiram evitar a remoção da Maré no final da ditadura militar, em 1979. Agamenon, Zé Careca, Clóvis, ele e outros criaram a Comissão de Defesa das Favelas da Área da Maré (Codefam) e mudaram o Projeto Rio que, a princípio, removeria os moradores daqui para construir a Linha Vermelha. O governo federal acabou ouvindo as demandas dos moradores e o Projeto Rio virou uma grande obra de urbanização. Pág. 4 a 6

História de Roquete PintoConheça também a história de Roquete Pinto contada por Seu Cabral Batista, que chegou à favela em 1952, removido da zona sul. “Aqui só era maré, não tinha luz, nem água. Comecei do zero”, lembra ele. Pág. 6 e 7

Já reparou como têm jovens andando de skate na Maré? A prática está ganhando mais adeptos entre os moradores, que ado-taram o longboard (skate grande) até como meio de transporte pela favela. Mas o que essa galera gosta mesmo é de fazer mano-bras em ruas largas e ladeiras. Conheça o grupo Maré longboard. Pág. 8 e 9

Venham conversar sobre

o jornalA equipe do Maré aguarda vocês dia

06/10! Pág. 2

Alô crianças e adolescentes

Moradores com até 17 anos, seus familiares e instituições estão convidadas para a 1ª Conferência Livre dos Direitos da Criança e do Adolescente da Maré,

em 17/10 Pág. 13

Xampu caseiro contra piolho

Uma receita de saúde Pág. 11

Lona da MaréCentro de Artes

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Rosilene Miliotti Elisângela Leite

Virginia Lucia G. dos Santos, moradora da Nova Holanda e mãe do atleta Frederico Alfre-do, o Fred, de 13 anos, conta que o projeto fez muita diferen-ça na vida dela e na de seu fi-lho. Fred joga como fixo no Fla/Uevom, é filho único e até os 11 anos de idade não estava ma-triculado na escola. Hoje ele está no sexto ano e é bem di-ferente de dois anos atrás. “Eu brigava, mas não sei o porquê. O futsal me deixou mais calmo e o pessoal do projeto me colo-cou na escola”, conta ele.O núcleo de futebol de salão (futsal) da Maré é resultado da parceria entre o Clube de Regatas Flamengo e a União Esportiva Vila Olímpica da Maré (Uevom). O projeto, além de descobrir talentos, trabalha junto com a família e exige que o participante frequente a

Redes de Desenvolvimento da Maré Rua Sargento Silva Nunes, 1012,

Nova Holanda / Maré CEP: 21044-242 (21) 3104.3276 (21)3105.5531

www.redesdamare.org.br [email protected]

Os artigos assinados não representam a opinião do jornal.

Permitida a reprodução dos textos, desde que citada a fonte.

Parceiros:

Fotógrafa Elisângela Leite

Proj. gráfico e diagramaçãoPablo Ramos

Logomarca Monica Soffiatti

Colaboradores Anabela Paiva

André de LucenaHenrique Gomes

Higor AntonioMarcelo Lima

Numim/ Redes da Maré

Coordenadoresde distribuição

Luiz GonzagaSirlene Correa da Silva

Impressão Gráfica Jornal do Commercio

Tiragem 40.000 exemplares

Instituição Proponente Redes de Desenvolvimento da Maré

Diretoria Andréia Martins

Eblin Joseph Farage (Licenciada) Eliana Sousa Silva

Edson Diniz Nóbrega Júnior Helena Edir

Patrícia Sales Vianna

Instituição Parceira Observatório de Favelas

Apoio Ação Comunitária do Brasil

Administraçãodo Piscinão de Ramos

Associação Comunitária

Roquete Pinto

Associação de Moradores e Amigos do Conjunto Bento Ribeiro Dantas

Associação dos Moradores e Amigos do Conjunto Esperança

Associação de Moradores do Conjunto Marcílio Dias

Associação de Moradores do Conjunto Pinheiros

Associação de Moradores do Morro do Timbau

Associação de Moradores do Parque Ecológico

Associação de Moradores do Parque Habitacional

da Praia de Ramos

Associação de Moradores do Parque Maré

Associação de Moradores do Parque Rubens Vaz

Associação de Moradoresdo Parque União

Associação de Moradores

da Vila do João

Associação Pró-Desenvolvimento da Comunidade de Nova Holanda

Biblioteca Comunitária Nélida Piñon

Centro de Referência de Mulheres da Maré - Carminha Rosa

Conexão G

Conjunto Habitacional Nova Maré

Conselho de Moradores da Vila dos Pinheiros

Luta pela Paz

União de Defesa e Melhoramentos do Parque

Proletário da Baixa do Sapateiro

União Esportiva Vila Olímpica da Maré

Editora executiva e jornalista responsável

Silvia Noronha (Mtb – 14.786/RJ)

Editor assistente Hélio Euclides (Mtb – 29919/RJ)

Repórteres e redatores Fabíola Loureiro (estagiária)

Rosilene Miliotti

EDIT

OR

IAL

ESP

OR

TE

HUMOR - André de Lucena: “Recorde”

Expediente

Leia o Maré e baixe o PDF em www.redesdamare.org.br /redesdamare @redesdamare

Editorial

Venham debater o Maré de Notícias!

A equipe do jornal convida os leitores para um bate-papo na segunda-feira, 6 de outubro. O objetivo do encontro é ouvir sugestões, críticas e ampliar a troca de ideias para fazer o nosso Maré cada vez mais comunitário. Compareçam!

Nossa história em debate

A história da Maré é feita por todos nós que aqui convivemos, seja morando, trabalhando ou mesmo frequentando as ruas, casas e espaços culturais da favela. Pelas páginas do nosso jornal é possível ter um panorama sobre a Maré e seu cotidiano. A “Minuta Carta” apresentada por Seu Atanásio (nas páginas 4 a 6) e a vida em Roquete Pinto décadas atrás, conforme nos conta Seu Cabral (pág. 6 e 7), são bons exemplos da construção da história local.

Por sua vez, a reportagem sobre o Maré longboard (pág. 8 e 9), a luta da população LGBT das favelas (pág. 12) e a chamada para a Conferência Livre dos Direitos da Criança e do Adolescente (pág. 13) apresentam um pouco sobre a história atual.

Assim vamos intercalando as páginas do Maré, procurando mostrar a diversidade que pulsa na favela. Quer conhecer melhor esse trabalho? Você está convidado para debater o jornal conosco. Participe do nosso bate-papo no dia 6. Leia ao lado o horário, local e apareça!

A todos e todas, boa leitura!

Fla/Uevom6 Coordenador faz um desafio aos times locais: ninguém ganha do Fla/Uevom.Alguém se habilita?

“Um dia eu perguntei a ele o que ele queria ser e ele respondeu que queria ser

jogador de futebol. Eu disse ‘vamos lutar juntos’”

Virginia, mãe de Fred

Bate-papo sobre o Maré de NotíciasQuando: Segunda, 06/10, de 18h às 21hLocal: Centro de Artes da Maré (Rua Bittencout Sampaio, 181, Nova Holanda)Informações: 3105-5531 ou pelo e-mail [email protected]

escola. Em seis anos, cerca de 300 meninos já participaram do grupo e quatro estão em clubes cariocas.

O coordenador do projeto, Antonio Bezerra, explica que os profissionais do Fla/Uevom devem ser professores na essência, cuidando da criança dentro e fora da quadra. Ele também incentiva a presença dos responsáveis nos jogos, porque sente que isso influencia positivamente o desempenho dos jovens.

Por conta dessa recomendação, Virginia passou a assistir aos jogos, torcendo mais perto do filho. Fred, como muitos meninos, sonha em ser jogador de futebol para ajudar a mãe que vende bolo pelas ruas da favela. “Um dia eu perguntei a ele o que ele queria ser e ele respondeu que queria ser jogador de futebol. Eu disse ‘vamos lutar juntos’”, lembra Virginia.

Da Maré para a Gávea

O sonho de virar profissional também é incentivado pelo status que um jogador conquista na sociedade, aparecendo na mídia, ganhando fama e dinheiro. Porém descobrir um talento entre tantos meninos não é fácil, mas alguns estão conseguindo o seu espaço. “Se o Flamengo chegar aqui hoje e falar que quer um atleta, nós não prendemos ninguém”, afirma o coordenador.

Ele cita um garoto que passou pelo Fla/Uevom, José Araújo, de 14 anos, que atualmente joga no Fluminense. “O Flamengo quer tê-lo de volta”, conta Bezerra.

O coordenador cobra disciplina. No treino pode ir de sandália, mas no jogo o uso do tênis é regra. Ele justifica a rigidez dizendo que quando o menino for para um emprego, vai ter que cumprir regras e saber se apresentar.

Bezerra confia nos atletas e afirma que se qualquer time da Maré quiser jogar futsal, dentro das regras com o Fla/Uevom, ninguém ganha. Alguém se habilita?

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Há 35 anos, ainda na ditadura militar, um grupo de moradores criou uma comissão que conseguiu reverter a remoção que estava sendo planejada na Maré

e que poderia ter dado fim à favela

Higor Antonio da Silva / Numim Elisângela Leite Henrique Gomes e Marcelo Lima

Há mais de 35 anos, em 11 de junho de 1979, foi assinado pelo então ministro do Interior em exercício, Mário Andreazza, um documento que, embora muitos moradores não conheçam, faz parte e é símbolo de um mo-mento histórico da Maré. Trata-se da “Minuta Carta”, documento no qual o ministro reconhece a Comissão de Defesa das Fave-las da Área da Maré (Codefam) como representante dos mora-dores junto às autoridades que tratavam do Projeto Rio.

Dois dias antes, na manhã de sábado 9 de junho de 1979, o jornal O Globo havia publicado uma reportagem intitulada “Governo acaba com as 6 favelas da Maré”. Na matéria, o governo federal, na figura do mesmo ministro Andreazza, apresentava o Projeto Rio. Este projeto, entre outras ações, pretendia remover as favelas da Maré do seu lugar de origem. Para os moradores isso despertava o medo daquilo que eles mais temiam, ou seja, a remoção para lugares distantes e afastados do Centro do Rio de Janeiro, longe do trabalho, da família e dos amigos.

Detalhes dessa história e desses momentos de medo e angústia foram relembrados por Atanásio Amorim, morador do Timbau e um dos fundadores da Codefam, em entrevista à equipe de pesquisadores do Núcleo de Memória e Identidade dos Moradores da Maré (Numim).

Ele começa por citar a contribuição de Hortência Dunshee de Abranches, secretária de Serviço Social do extinto estado da Guanabara e diretora da antiga Companhia de Desenvolvimento de Comunidades (Codesco), cuja colaboração foi fundamental para a formação da Codefam, entidade que passou a organizar a defesa dos moradores e a luta pela permanência na Maré.

LEMBRO, LOGO EXISTO - Memória e Identidade

Maré resiste à remoção

Atanásio conta que Hortênsia o alertou sobre a ameaça de remoção. “Tinha uma senhora que foi presidente da Codesco que me tinha sempre aquela consideração, essa coisa toda, me telefonou, mandou um cartãozinho para mim: ‘Ô Atanásio, você sabe o quê que ta acontecendo?’ Eu disse: ‘Não’. Ela: ‘Você num leu O Globo de hoje? Saiu uma nota que vocês daí vão ser despejados e que aí vai passar uma linha vermelha’. Eu: ‘Poxa, eu num sei de nada, num to sabendo de nada’. Procurei o jornal e vi e perguntei: ‘E agora o quê que a gente vai fazer?’ Ela disse: ‘Ó, você vai, procura os presidentes daí e vai se arregimentar pra ver o quê que pode ser feito, porque vocês num podem ficar aí de mão atadas porque se não eles vão fazer e acontecer’. Pensei então: ‘E agora?’ Aí chamei o Clóvis, aí o Clóvis mandou chamar o Agamenon, aí todo mundo se reuniu...”, recorda-se.

A partir desse encontro, começa uma série de articulações entre os seis presidentes das associações de moradores e de outras lideranças da Maré, na tentativa de construir uma resistência à remoção. Assim nasceu a Codefam, instituição responsável pela articulação junto ao

governo federal sobre o que poderia ser feito em termos de melhorias dentro do território da Maré sem que acontecessem as temidas remoções.

Como conta Atanásio: “Sei que todo mundo se reuniu lá na Nova Holanda pra ver o que poderia ser feito em prol da comunidade, isso no próprio domingo. Quando foi de noite ela [Hortência] esteve aqui, nós nos reunimos, eu fui com ela lá, aí foi feita uma associação na mesma hora, era

a (...) Codefam (...) para defender nossos direitos, direitos do povo, e foi eleito o presidente da Codefam o Manuelino Silva, que era o presidente da Maré [Parque Maré] na época. E assim ela [Hortência] disse: ‘Bom, vai todo mundo pra casa, vai fazer uma minuta do que necessita e amanhã todo mundo aqui reunido’”.

Assim ficou combinado que haveria na noite de segunda feira, 11 de junho de 1979, uma nova reunião para que fosse feita uma carta a ser entregue às autoridades do governo federal. Hortência redigiu a carta para aprovação de todos. Mas ainda durante o dia Atanásio recebe uma ligação de Hortência para que fosse ao seu encontro. Nesse encontro, segundo Atanásio, ela disse: “’Eu fiz uma minuta da carta pra vocês e nós vamos levar essa minuta lá à noite pra vê o que a gente vai fazer’. Eu disse: ‘Tá bom!’. Aí me mostrou: ‘É essa minuta aqui, ta aqui!’ [mostrando o documento para os pesquisadores do Numim], e ela disse: ‘A gente já tá aqui na [centro] cidade, [aproveitando] vamos no gabinete do ministro na [rua] Marechal Câmara’. Aí eu fui com ela na Marechal Câmara”.

Clóvis,Agemenon,Zé Careca...

Hortência e Atanásio se dirigiram ao gabine-te do ministro Andre-azza. Atanásio assim conta: “Chegamos lá, conversamos. Ela era doutora, já tinha sido administradora, [e diz Hortência ao minis-tro]: ‘Olha ministro, acontece o seguinte: é que o senhor lan-çou um projeto da linha vermelha e a linha vermelha vai passar em cima de uma comunidade que tem muita gente boa lá e o pessoal tá meio apavora-do lá, sem saber o que vai fazer’. Aí ele [ministro] disse: ‘Hortência, eu não quero prejudicar ninguém não, mas tem que ser feito, alguma coisa tem que ser feita. E o pessoal lá como está?’ Aí ela: ‘tá todo mundo apa-vorado!’ [ministro] ‘Eles não têm nada? Eles não se reuniram pra

“A Codefam recebeu garantias de que os

moradores da Maré seriam ouvidos e de que seus

representantes poderiam dialogar com os técnicos que elaborariam o Projeto

Rio”

fazer alguma coisa?’ Ela disse: ‘Não, nós nos reunimos ontem, eu me reuni com eles ontem, vou reunir agora de noite com eles pra ver como é que a gente vai fazer esse pedido para o senhor [ministro]’. ‘Mas vocês não tem nada escrito?’ [Hortência] ‘Não. Nós temos uma minuta escrita que cada co-munidade vai se reunir lá [para] fazer uma minuta. E dessa minuta a gente vai tirar um crivo e mandar para o senhor’. [ministro diz] ‘Cadê essa minuta de vocês? Você represen-ta o quê?’ Aí ela ‘Eu represento a Baixa do Sapateiro porque seu Atanásio é de lá’. [minis-tro diz] ‘Deixa eu ver aqui’. Aí ele pegou essa minuta leu, leu... [ministro] ‘Ah! Tá muito bom, muito bom, é isso que eu quero...’ Aí escre-veu aqui [apontando para o documento] muito bom! [lendo a assinatura do ministro] ‘Mario de

Conheça a “Minuta carta”

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Morador conta detalhes de uma comunidade no entorno de uma

antena e de um Rio de Janeiro que não volta mais

Relembrando Roquete Pinto Hélio Euclides Elisângela Leite

Cabral Batista, de 90 anos, morador de Ro-quete Pinto, conheceu um Rio de Janeiro bem diferente do presente. Natural de Ita-baiana, na Paraíba, Seu Cabral veio para o Rio em 1946. “No Nordeste era difícil ga-nhar três ‘merréis’; diziam que aqui no Rio de Janeiro era melhor, o ganho era de 20 merréis. Comprovei que era verdade, na construção civil ganhava 25 merréis”, com-para ele.A sorte bateu em sua porta quando viu no jornal um anúncio da Light procurando profissional para tra-balhar nos bondes. Tinha 23 anos de idade e foi ser condutor com salário de 50 merréis. Trabalhou nesse mesmo emprego por quatro anos. “Sou do tempo dos bondes, que era um dos melhores transportes, bem ventilados. No passado eram grandes, tinham capaci-dade para 150 passageiros.

Os que restaram em Santa Teresa (com circulação in-terrompida há três anos e prestes a retornar) são pe-quenos. Tinha bonde para todos os lugares, trabalhei em várias linhas, da zona norte a zona sul”, relata. Ele também atuou como marceneiro, na Carroceria Metro-politana, onde fazia ônibus.

Cabral, primeiro, morou no morro do Sacopã, na La-goa, de onde foi removido. “O prefeito era o João Car-los Vidal e o presidente Getúlio Vargas. Eles expul-saram 300 famílias, por intermédio da burguesia do Jóquei Club; acharam melhor desocupar”, denuncia ele. O mais difícil foi ver a esposa com oito dias de resguardo tendo que se retirar do lar, numa total falta de respeito. “Vim para cá, mas aqui só era maré, não tinha luz, nem água, nem tão pouco rede de esgoto. Comecei do zero, numa vida sub-humana”, lembra.

Isso foi em setembro de 1952, quando a família de Cabral se acomodou em Roquete Pinto. Nessa fase a situação financeira era difícil, mas a cidade era de paz, não se falava em drogas, sequestros e armas. Na época ainda existia a antena e transmissores da Rá-dio Roquete Pinto na favela. Nosso entrevistado foi um dos primeiros comerciantes do local e tinha mordomia

de fechar na hora do almoço.

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“No passado eram poucas casas e muita pobreza. A água vinha da entrada da

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usávamos lampião e velas. Não tinha permissão para fazer as casas de tijolo, se

fizesse os guardas pegavam”

“As casas eram um metro acima da água, quando a maré subia, a solução era arregaçar a calça e pisar na água. O preço delas era de três mil (em dinheiro da

época), hoje chega até R$ 200 mil, valorizou”

Andeazza’. Aí ele deixou e deu a carta pra gente (...) Aí quando foi de noite ela veio pra cá com a gente, ela morava lá na La-goa, aí de noite ela tava aqui junto com a gente, aí nós fomos pra lá, chegamos lá todo (...) orgulhoso (...) estava lá todos os presidentes, Agamenon tava lá, o Clovis que já tava lá e o Zé Careca...”

A consequência dessa ação foi a realização de uma reunião do Departamento Nacional de Obras e Saneamento (DNOS) com representantes da Codefam, em 18 de junho de 1979. Nessa reunião, a Codefam apresentou as reivindicações dos moradores da Maré ao ministro Andreazza e ao diretor geral da DNOS. Como efeito prático do encontro, a Codefam recebeu garantias de que os moradores da Maré seriam ouvidos e de que seus representantes poderiam dialogar com os técnicos que elaborariam o Projeto Rio.

Manoelino Silva, presidente da comissão, ficou satisfeito com o resultado da reunião porque ela garantia a participação dos moradores nas discussões sobre as mudanças que deveriam ser feitas no Projeto Rio. Em reportagem do dia 19 de junho de 1979, o jornal O Globo, na página 09, noticiava as decisões tomadas na reunião entre o governo federal e os moradores da Maré.

Desse modo, a história da Codefam e de suas ações para evitar as remoções, bem como a organização para intervir no Projeto Rio, são fatos importantes não apenas porque se conseguiu reverter a decisão de retirar os moradores, mas também porque mostrou que mesmo no enfrentamento com o governo militar (não podemos esquecer que o Brasil vivia sob a ditadura) os moradores conseguiram impor suas reinvindicações. Fatos como esse mostram que a história das favelas, como é o caso da Maré, é rica em exemplos de luta, organização e perseverança de seus moradores na busca por melhores condições de vida.

Tempos difíceis

“Só que em 1958 um incêndio acabou com tudo; além de aproveitadores que me furtaram, fiquei devendo na praça. Não tinha água para apagar o incêndio, por isso que o fogo lambeu uns 600 barracos. A solução foi a água salgada da praia”,

recorda-se.

Cabral conta que teve um amigo comerciante que até perdoou sua dívida e foi fiador de um empréstimo num banco. Com essa força, ele construiu pessoalmente um barracão, num período em que o comércio ainda era fraco, mas ele vendia de tudo, menos bebida alcoólica e cigarro. “No passado eram poucas casas e muita pobreza. A água vinha da entrada da Ilha do Governador até aqui, tudo era precário. À noite usávamos lampião e velas. Não tinha permissão para fazer as casas de tijolo, se fizesse os guardas pegavam”, conta.

Foi em 1973 que o comerciante comprou sua casa atual. “Antes as casas eram em cima de assoalhos; minha filha caiu na maré, sorte que uma vizinha a salvou. As casas eram um metro acima da água, quando a maré subia, a solução era arregaçar a calça e pisar na água. O preço delas era de três mil (em dinheiro da época), hoje chega até R$ 200 mil, valorizou”, exclama.

No passado, comenta ele, a maré ia até onde hoje se localiza a empresa Mirian, na Av. Brasil. Cabral diz que as melhorias só vie-ram depois da fundação da Associação de Moradores de Roquete Pinto. Ele viu a comunidade ser aterrada e sente saudade de quan-do sentava na frente de casa e pendurava as pernas. Isso acabou com o fim das calçadas, que foram ocupadas com construções.

(!)Merréis era o jeito popular de chamar “mil réis”. E “réis” vem do plural dado pelo povo ao “real”. O real foi o nome da nossa moeda desde os tempos de Brasil Colônia até 1942, quando foi substituída pelo Cruzeiro. Em 1994, o real voltou à cena. Merréis ainda é citado pelas pessoas mais velhas, em geral se referindo a valores baixos, dinheiro que não vale muito.

Ele viu o progresso chegar e percebeu o crescimento vertical, com casa de até três andares. Contudo, acredita que o custo de vida onde mora ainda é bom, pois não paga IPTU, apenas luz e taxa de água. “Hoje tenho uma lojinha para me divertir e nunca quis sair daqui, pois sei que lá fora se paga o olho da cara. Pelo tempo que moro aqui, já sou quase carioca. Apesar dos pesares, amo o Rio de Janeiro”, diz, emocionado. Ele afirma que uma coisa nunca mudou: os políticos que sempre visitam a favela só inte-ressados em voto ganham eleição e nunca voltam, desabafa ele.

LEIA TRECHOS DA CARTA

“Que nós, diretores das Associações de Mora-dores dessas favelas,, tenhamos a possibilidade de dialogar com os técnicos que ora detalham este projeto (...)”

“Que 70% das áreas, já por nós semi-urbani-zadas, tenham sua urbanização completada (...)”

“Que as famílias que ora moram em palafitas recebam, na área a ser aterrada, lotes urbaniza-dos, onde os próprios moradores, em sistema de mutirão, construam suas casas (...)”

“Seria justo, num país com o déficit habitacional como o nosso, derrubar-se milhares de casas de alvenaria, muitas com valor superior a Cr$ 500.000,00, principalmente sabendo-se ser este investimento fruto da poupança de inúmeras famílias por longos e longos anos?”

Seu Cabral veio para cá após ter sido removido do morro do Sacopã, na Lagoa, em 1952

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Diego faz manobras na ladeira da Rua Olga, em Bonsucesso

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Há cerca de seis meses as ruas da Maré começaram a ser tomadas por “skates grandes” – é assim que muitas pessoas chamam o longboard que

vem sendo usado até como meio de transporte

rolé de long

O mascote da turma, Luan de Lima, 10 anos, com seu longboard quase do seu tamanho

“Dizem que somos loucos por causa do zig zag que

o long faz. As pessoas não conhecem e se espantam

quando veem. Aqui na Maré, os moradores já acham normal, mas andar pela orla é muito engraçado.

Acho que a galera de lá não anda de long igual a gente,

dançando”Marvin Pereira

Rosilene Miliotti

O grupo “Maré longboard” reú-ne moradores de várias comu-nidades da Maré e de outras partes da cidade para dar um rolé por aí. Áreas da zona sul ca-rioca, ladeiras de Bonsucesso

e Penha são apenas alguns dos locais frequentados

por essa galera; e quan-to mais alta e íngreme a descida, melhor.

Eles têm muitas histórias para contar e colecio-nam acidentes e cicatrizes, mas mesmo sim se sentem felizes e afirmam não haver nada me-lhor do que andar de ‘long’ para relaxar. O long-board é um esporte, mas também um meio de transporte. Muitos aproveitam o skate para ir de um lado a outro dentro da Maré. Os praticantes lamentam apenas a falta de educação no trân-sito por parte de motoristas.

Marvin Pereira, 20 anos, começou a andar de skate ainda criança, mas nunca levou muita fé no esporte porque sempre gostou de jogar bola e soltar pipa. Mas há quatro anos, com um salário do quartel, ele montou um long e voltou a andar. “Nós damos rolé, mas estamos aprendendo e um ajuda o outro. Dizem que

somos loucos por causa do zig zag que o long

faz. As pessoas não conhecem e se espantam quando veem. Aqui na Maré, os moradores já acham normal, mas andar pela orla é muito engraçado. Acho que a galera de lá não anda de long igual a gente, dançando”, se diverte.

Diego Reis, 17 anos, ganhou o primeiro long de presente, porém boa parte dos participantes do grupo trabalhou para comprar o seu. O longboard tem vários preços, mas é possível comprar um a partir de R$ 300. Entretanto, Marvin acredita que esse seja um dos presentes mais pedidos este ano no dia das crianças. E certamente não só as crianças vão querer um, porque não há limite de idade para tornar-se um skatista.

Skate X long

Velocidade, mobilidade e aerodinâmica. Marvin explica que o que mais diferencia o skate do long é a prancha. “É engraça-do porque antes as pessoas falavam que o long era um skate grande, mas cada shape (a prancha) tem um estilo. Aqui no grupo os mais usados são o tubarão e o freeride”.

Marvin lembra que cacos de vidros, tampi-nhas de garrafas e pequenas pedras podem fazer grandes estragos se estiverem no ca-minho. Queda não é novidade entre o gru-po e as cicatrizes são exibidas como parte da história desses jovens. Apesar de terem equipamento de segurança, poucos usam.

“Na competição existem vá-rias modalidades, mas a preferida é o downhill, des-cer ladeira, e na Maré

ainda falta ladeira pra gente praticar”, brinca Diego. Muitas competições acontecem pelo Rio de Janeiro e Marvin é o único do grupo que já competiu na modalidade free dance (descer uma ladeira dançando).

Os participantes também chamam atenção para a trilha sonora. Andar de long merece uma boa seleção musical e o fone de ouvido é um equipamento indispensável, mais até do que a joelheira. Os estilos variam entre reggae, hip hop, rap e eletrônico, os prefe-ridos, mas a maior parte do grupo concorda que funk e pagode – para praticar o esporte – nem pensar.

Quer dar um rolé com essa galera? Então acesse facebook.com/MLongboard

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O grupo da Maré na Rua Leopoldo Bulhões, em Manguinhos. O quinto a partir da esqu., de perfil, é o Marvin

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Diversas vezes, crianças andam pelas ruas com rostos pintados, lembrando alguma data. Isso ocorre após festas nas creches e escolas. No dia 22 de agosto, não foi diferente. O Espaço de Educação Infantil (EDI) Professora Kelita Faria de Paula, localizado no antigo Sesi, no Morro do Timbau, lembrou o Dia do Folclore.

Com as crianças paramentadas, cada turma fez uma apresentação. “Tudo partiu do princípio do nosso projeto político pedagógico anual. Queremos cultivar a temática do folclore, valorizando a origem das famílias da Maré, exaltando o baião e o forró”, conta a coordenadora pedagógica Raquel de Oliveira.

O folclore está relacionado ao saber tradicional dos povos, contado por meio de mitos, lendas, contos, danças e canções. “Emocionei-me com a dramatização da cantiga de roda Terezinha. Gostei da festa e os alunos curtiram ajudar a montar”, comenta a agente educadora Jucilene Antonia Paula.

Antonio Carlos Silva Azevedo, o Carlinhos, carteiro da Nova Holanda há mais de 30 anos, se aposentará no dia 15 de outubro. Vai sentir e deixar saudades. Afinal, os moradores estão habituados a encontrá-lo diariamente, sempre com seu jeito bem humorado.

Ele foi entrevistado pelo Maré na edição 43, de julho do ano passado, contando algumas pérolas vivenciadas na favela. Uma delas foi sobre a cachorrada que não o deixa trabalhar. “Já levei várias mordidas de cachorro, na barriga, no braço. Também ninguém nunca manda carta para os cachorros, deve ser por isso que eles não gostam de carteiros”, diverte-se.

Carlinhos diz que vai sentir falta do convívio com os moradores, mas que chegou a hora de descansar e curtir o tempo livre.

Os interessados em concluir os estudos podem procurar o curso supletivo da Rua Projetada D, 111, no Salsa e Merengue, em frente à Igreja São José Operário. Para o ensino fundamental, o aluno deve ter mais de 15 anos de idade; e para o ensino médio, a partir de 18 anos. Telefone: 3683-4446.

A presidente da Associação de Moradores da Nova Holanda, Andréa Pereira de Matos, está indignada. “Agora que o governo do estado está construindo unidade técnica e profissional na Maré apareceu um monte de padrinho político para dizer que é pai da ideia, mas tenho tudo documentado. Isso foi luta nossa, das associações de moradores”, afirma ela, pedindo para que todos saibam disso. Andréa tem razão. Os líderes comunitários fizeram várias reuniões para conseguir essa conquista.

O governo do estado está anunciando para outubro o início do programa Caminho Melhor Jovem na Maré, que visa a inclusão social e oferta de oportunidades para jovens de 15 a 29 anos, moradores de favelas ocupadas pelas forças de segurança. Os jovens receberão atendimento de acordo com as questões que eles próprios apresentarem, que podem ser relativas a curso, trabalho, drogas, álcool, entre outros.

Os interessados já podem se cadastrar pelo tele-fone e os atendimentos serão no antigo CCDC, na Rua Principal, em frente à praça do 18, na Baixa do Sapateiro. Contatos: Elymara (Tel: 99143-9847 / Email: [email protected] / Face-book: elymaracardoso) e Wellem (Tel: 994319151 | 986758101 / Email: [email protected] / Facebook: wellemchristina.costasousa.

Folclore em alta

Carlinhos carteiro vai se aposentar

Supletivo no Salsa Obra das associações

Caminho Melhor Jovem na Maré

O que acontece e o que não deixa de acontecer por aqui

Jeltovski / Morguefile

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Para reaproveitaro arroz: bolinho

RECEITA De Gisele Souza (Extraída do site: receitasdeminuto.com)

INGREDIENTES: • 3 xícaras (chá) arroz cozido • 1 gema (grande) • 3 colheres (sopa) queijo ralado • 1 clara • Salsinha e cebolinha• Farinha de rosca • Presunto e queijo • Óleo (limpo) para fritar

PREPARO: • 1 Triture o arroz no liquidificador e coloque em um recipiente grande. • 2 Junte a gema, queijo ralado e o cheiro verde

e misture bem com as mãos, até ficar tudo bem homogêneo. • 3 Unte as mãos com manteiga e faça os bolinhos. Se for rechear faça

primeiro um bolinha e com o polegar abra um buraco para adicionar o recheio. • 4 Depois de prontos, passe na clara e na farinha de

rosca e frite em óleo bem quente.

OBS: Você pode congelar esses bolinhos após empanados para ter sempre um tira gosto guardado.

RECEITA ESPECIAL Enviada pela equipe do projeto Nenhum a Menos, da Redes da Maré

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Xampu antiparasitário. Piolho nunca mais!Ingredientes:Sabão de coco - 100g de sabão de coco ruth

Plantas: Arruda - 2 copos de requeijãoMelão de são caetano - 2 copos de requeijãoBoldo (plectrantus barbatus) - 2 copos de requeijãoÁgua- 5 copos de requeijão de água (1 litro)

Modo de fazer:As plantas frescas devem ser lavadas e colocadas para secar, para tirar o excesso de água. Depois devem ser picadas com tesoura. Picar sabão em pequenos pedaços e juntar na água. Levar ao fogo brando até dissolver todo o sabão.Após adicionar as plantas, deixar levantar fervura e abafar até esfriar.Após no mínimo 15 minutos coar e colocar em vidro limpo e esterilizado.É importante água filtrada.

Obs: Considerar o copo de requeijão de aproximadamente 200ml.Caso use plantas desitratadas (secas), utilizar a medida de um copo de cada planta.Precauções: a arruda contém substâncias que podem provocar queimaduras quando a pele é exposta ao sol. Durante o tratamento evitar exposição ao sol.

Como usar:Lavar a cabeça com o xampu, esfregar bem até fazer bastante espuma. Deixar 10 minutos e depois enxaguar bem. Repetir o tratamento por 3 dias consecutivos. Parar por uma semana e repetir o tratamento por mais 3 dias.

Cuidados importantes:Utilizar o pente fino para retirar piolhos e lêndeas. Para facilitar a retirada das lêndeas, pode usar uma mistura de vinagre e água morna em partes iguais, umedecendo os cabelos meia hora antes de proceder a retirada que deve ser uma a uma. Toda a família deve ser examinada e tratada simultaneamente para evitar nova infestação. As roupas de cama devem ser trocadas todos os dias. As almofadas e colchas devem ser escovadas e colocadas ao sol.

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ASConferência de crianças e

adolescentes da MaréA luta das sete cores Fabíola Loureiro Rosilene Miliotti

No dia 7 de setembro aconte-ceu a 3ª Parada LGBT da Maré, começando no Parque União e terminando na Nova Holanda. Gilmar Cunha, coordenador do grupo Conexão G e organizador do evento, disse que a data foi escolhida por posicionamento político. “Pensamos nessa data da mesma forma que existe o Grito dos Excluídos e por sermos

uma população invisibilizada”, explica.

Propostas a serem elaboradas deverão ser levadas à Conferência Nacional em 2015

População LGBT pede respeito à diversidade sexual

“Não queremos mostrar que o mundo é colorido,

mas que lutamos por nossos direitos. Todas as pessoas merecem respeito, inclusive os

gays”

1ª Conferência Livre dos Direitosda Criança e do Adolescente da Maré

Sexta-feira, 17 de outubro, às 13hCentro de Artes da Maré (CAM)

Rua Bittencout Sampaio, 181 – Nova Holanda(altura da passarela 10)

Conexão G no Conselho Nacional de Juventude

O Grito é uma manifestação popular que acontece desde 1994, reunindo movimentos sociais e pessoas comprometidas com as causas dos excluídos.

O estudante Bruno (que preferiu não revelar seu sobrenome), de 25 anos, também conhecido como Hillary, disse que o evento é importante, pois é um local onde os gays se encontram. “Não queremos mostrar que o mundo é colorido, mas que lutamos por nossos direitos. Todas as pessoas merecem respeito, inclusive os gays”.

Paula Santos, 19 anos, disse que já apanhou na rua (fora da Maré) por conta de sua orientação sexual. Ela estava com

a namorada quando foi abordada por quatro rapazes que a xingaram e a agrediram. “Acho ruim quando o preconceito chega a um ponto em que as pessoas agridem os homossexuais. E eu só estava de mãos dadas. Acho esse evento importante, pois durante o dia tem a feira com várias atividades e discutimos nossos direitos. Mesmo que não aceitem, as pessoas têm que respeitar”, ressalta a estudante.

O evento LGBT da Vila do João, intitulado Maré sem preconceito, está marcado para 28 de setembro, no campo. De 10h às 14h acontecerá a feira de serviços e em seguida a Parada, que vai percorrer a Rua Principal (Rua 14).

Moradores com até 17 anos de idade, seus familiares e instituições que atuam junto a este público estão convidados para 1ª Conferência Livre dos Direitos da Criança e do Adolescente da Maré. O objetivo do evento é elaborar as propostas deste público do conjunto de favelas da Maré para serem levadas à 10ª Conferência Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, marcada para ocorrer de 14 a 18 de dezembro de 2015.

“Queremos levar as demandas e as necessidades do ponto de vista das crianças e adolescentes da Maré. Eles são os protagonistas desse debate. Por isso é fundamental a presença deles e de seus familiares”, ressalta Gisele Martins, coordenadora da Equipe Social da Redes da Maré, instituição que organiza o evento local e integra o Conselho Nacional.

O tema central será “Política e Plano Decenal dos Direitos Humanos de Crianças e Adolescentes - fortalecendo os Conselhos dos Direitos da Criança e do Adolescente. As propostas da Maré serão apresentadas para aprovação nas conferências preparatórias nos âmbitos municipal, estadual e regional.

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Maré de Notícias: O que motivou o Conexão G a buscar essa participação em nível nacional?

Gilmar Cunha: Hoje em dia precisamos estar em espaços onde não só acontecem discussões, mas onde haja de fato uma efetivação de políticas. O grupo vem estimulando diversos movimentos a vestirem a camisa e lutarem por uma população invisibilizada, levando em consideração que este espaço é de troca. Estar no conselho nacional se faz necessário como suporte para a implementação das demandas que o grupo vem defendendo e lutando na

conquista de direitos da população LGBT de favelas. Percebemos que o conselho nacional tem se mostrado um caminho onde as políticas voltadas para a juventude estão de fato sendo efetivadas.

Maré: Quais as principais pautas a serem levadas?

Gilmar: Existem várias demandas; a primeira é o reconhecimento dessa população, depois a criação de dados sobre a questão da violência dentro desses territórios a fim de dar subsídio para a construção de uma política voltada para esse grupo específico.

Em agosto, o Conexão G tomou posse no Conselho Nacional de Juventude (Conjuve), em Brasília. Nesta entrevista, Gilmar Cunha, coordenador do grupo, diz que o objetivo é desenvolver uma política voltada para a população LBGT de favelas. O Conselho tem, entre suas atribuições, a de formular e propor diretrizes voltadas para as políticas públicas de juventude, desenvolver estudos e pesquisas sobre a realidade socioeconômica dos jovens e promover o intercâmbio entre as organizações juvenis nacionais e internacionais.

Silvia Noronha

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Projeto TRAVESSIASAté 16 de novembro

Terça, quarta, sábado e domingo, das 10h às 18h - Quinta e sexta, das 10h às 20hGalpão Bela Maré (Rua Bittencourt Sampaio, 169)Site: www.travessias.org.br Facebook: Travessias 3 | Arte Contemporânea na MaréRealização: Observatório de Favelas e AutomaticaEntrada gratuita!

PROGRAMAÇÃO PARALELA

Narrativas inventam a vida e a vida inventa narrativas

Sábado, 11/10, 16hQuando as cidades ficam

prontas?Sábado, 1/11, 16h

As estéticas da periferia são centrais para cultura

contemporâneaSábado, 15/11, 16h

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Herbert ViannaLona cultural

PROGRAME-SE !

www.redesdamare.org.br - entrada gratuita

R. Ivanildo Alves, s/n - Nova MaréTels.: 3105-6815 / [email protected] FACE: Lona da MaréTwitter: @lonadamare

cultura

Arte – costura2ª feira, 8h às 10h

Desenho básico2ª feira, 10h às 12h

Educação Ambiental2ª e 4ª feira, 16h às 17h30

3ª feira, 10h às 11h30e de 14h às 15h30

Design têxtil4ª feira, 14h às 16h

Dança de salãoSábado, 18h às 20h

SkateSábado, 9h às 12h

Oficina do movimento - dançaSábado, 10h às 12h

Complementaçãopedagógica

Horário e locala confirmar

Na Maré da AbayomyAbayomy Afrobeat Orquestra convida OTTO

O pernambucano, ex-percussionista da primeira formação da Nação Zumbi e do

Mundo Livre S/A, mostrará seu ousado “Samba pra Burro” à tona

Sexta, 19/09, às 21h

Abayomy Afrobeat OrquestraConvida BNEGÃO

O carioca Bernardo Santos, o Bnegão, apresentará rap e hip hop.Sexta, 26/09, às 21h

Biblioteca PopularMunicipal Jorge Amado

Ao lado da Lona, atende a toda a Maré:Amplo acervo, brinquedoteca, gibiteca e

empréstimo domiciliar

OFICINAS

Segunda-feiraDança de Rua

Introdução ao ballet

Blocod’O Passo

Emboladas, Bois e canções populares que fazem visitar

o Brasil de ponta a ponta

Domingo, dia28/09, às 18h

DANÇANDO COM A MARÉ Conheça o processo criativo da Lia Rodrigues Companhia de

Danças e como foi elaborado cada espetáculo:Formas breves: Sexta, 10 de outubro, 20h

Pororoca: Sexta, 7 de novembro, 20h

Cia Carroça de Mamulengos

Espetáculo com brincantes, atores,

músicos, bonequeiros, contadores de

histórias e palhaçosSábado, 27/09,

às 18h

Sexta-feiraDança de salão

Quarta feiraDança Criativa

Dança contemporânea

Quinta-feiraBallet

Dança contemporânea Dança criativa

Terça-feiraBallet

Dança contemporânea Consciência corporal

Percussão

Oficinas da Escola Livre de Dança da Maré

ATIVIDADES GRATUITAS

Mostra Maréde Artes Cênicas

Classificação etária: Livre

R. Bitencourt Sampaio, 181, Nova Holanda. Programação no local ou pelo tel. 3105-7265

De 2 a a 6a, de 14h às 21h30

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Homenagem ao OsmarPresidente da Associação de Moradores do Morro do

Timbau era um dos líderes mais atuantes da MaréO assassinato de Osmar Paiva Camelo retira do cotidiano da Maré um dos seus maiores atuantes na condição de diretor de uma Associação de Moradores. Osmar foi um dos participantes mais dedicados do “Maré que Queremos”, projeto que desde fevereiro de 2009 reúne representantes das 16 favelas da Maré em um fórum de discussão e formulação de propostas para garantir, de maneira ampliada e coletiva, que direitos básicos cheguem à população local. Uma agenda estruturante, portanto, que vem viabilizando a chegada de projetos importantes à Maré.

Nesses encontros, mensais, Osmar mostrou um genuíno comprometimento com o que seria uma vida digna para quem reside na Maré, sempre reforçando a importância da criação de espaços democráticos de participação cidadã. Sua atitude construtiva e favorável ao diálogo ajudou a manter a interação do grupo de lideranças comunitárias. Morador da Maré há mais de 40 anos, Osmar acreditava que a vida poderia ser diferente na Maré com a superação das muitas violências que vem caracterizando muitas práticas aqui apresentadas. Com grande tristeza e em memória de Osmar continuamos a luta que é de todos nós.

Redes da Maré

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Desta vez a piada é a mulher do piadista Diogo dos Santos, morador da Baixa do Sapateiro e leitor do Maré que deu início

a este espaço “Rindo à toa”. Ele fez um vídeo do desafio do balde de gelo que ‘viralizou’ na internet (no YouTube, procure por: “Desafio do gelo de Macho”). Foi assistido por mais de 1,2

milhão de pessoas só no YouTube. Nele, Diogo acaba jogando o balde de gelo em

cima da sua mulher, que ficou irritada principalmente por estar com o celular na cintura. Felizmente, o aparelho secou e um dia depois voltou a funcionar. A

fama animou Diogo e o amigo Josinaldo Medeiros a abrir um canal no youtube chamado “Na favela!”, onde semanalmente está sendo postado um vídeo de humor filmado com moradores aqui mesmo na Maré. “Tá fazendo sucesso. Vale a pena

da uma olhada”, conta ele.

pra Maré participar do Maré

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POESIAS

-Ouça o som da maréO barulho das ondas-Ih não, é favela!-Vejam os quadros-Que beleza é lindo!Erguem-se os muros e lado a lado...-Favelado!A desculpa era uma proteção contra o barulho dos automóveis, a proteção da favela contra a cidade, ou será ao contrário? Quem pode saber?- Ninguém, são só 20 milhões.-É preciso tapar a visãoÉ preciso usar beleza.-Há um novo lugar.

-Tem que esconder?!

-Ih é área de risco

Vida

Por: Thaís Sousa - Olá, sou moradora da Maré, Morro do timbau, tenho 19 anos e adoro escrever poemas. Esse é o link do meu blog http://ruivalove.blogspot.com.br/)

Há algo em você que me atraime puxame levame eleva

É como se você fosse refúgiosaídaescudocalmaria

Ao seu ladome sinto protegidaseu calor e seu cheirosão um complemento imprescindívelsua voz e seu olhar são confortantesseu amor... ah seu amorindescritível

Confessote quero apenas para mimquero te amarte cuidarcontigo estar

Ah meu amoro que de ti posso dizerroubastes meu coraçãoe nada mais posso fazerapenas me entrego nessa louca paixão

Ah amor... és dono do meu coraçãote amopara todo o sempreminha vidaminha razão.

Rindoatoa)-arriscado pra quem?

De repente lixos, pedras, medos e hipocrisias são atirados pra trás dos muros, pra dentro da favela, dentro da cidade. E onde começa uma e onde termina a outra?

-Vamos erguer um muro, aliás os esteriótipos, não não, uma barreira acústica é melhor.

Vamos separar...segregar

-Segregar?

-O morador se sente protegido

A cidade fica mais segura.

-Ai é muito desorganizado

- Ouça o barulho da Maré

É sim a favela!

-Que beleza, é linda!

Embarreirando MaréTown

Por: MaréTown - Desenvolvido para uma intervenção urbana sobre o muro da Linha Vernelha que aconteceu na Praça do Parque União (MaréTown #acao1). No YouTube, busque: Embarreirando MaréTown (enviado por Iury de Carvalho Lobo)