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Ano VI, N o dezembro / 2014 a março / 2015 - Maré, Rio de Janeiro - distribuição gratuita 60 Chacina investigada 5 anos do nosso Maré A investigação da chacina que resultou na morte de 10 pessoas aponta pelo menos quatro autos de resistência, su- gerindo que os policiais do Bope agiram em legítima defesa. O resultado frustra expectativas, apesar de a investigação estar sendo conduzida com raro empe- nho quando se trata de morte provoca- da por policiais em favela. Pág. 6 e 7 Com esta edição, iniciamos o sexto ano do Maré de Notícias. A cada mês de aniversário, publicamos reportagem sobre o próprio jornal mas, desta vez, decidimos homenagear todos os que fazem comunicação comunitária neste país e contamos sobre o jornal Fala Manguinhos. Leia também artigo sobre a luta pela democrati- zação da comunicação. Pág. 4 e 5 Tem Griot na Maré? Descubra... na página 16 O que querem as crianças? As propostas dos pequenos para a nossa Maré Pág. 3 Cinema no beco Óleo virando cultura! Pág. 12 Boca de Siri História da Praia de Ramos Pág. 14 e 15 Reprodução / CRMM Rosilene Miliotti Bhega Silva Beleza negra em destaque Fortalecer a identidade da mulher negra é fundamental para combater o preconceito e valorizar a diversidade de nossa sociedade. Conheça ações e pessoas engajadas nesta causa na Maré. Pág. 8 a 11 Elisângela Leite Jorge Ferreira / CFN Margarida e Vera contra o preconceito Vitória adora seu cabelo crespo Valnei Succo 1ª Miss Black Power do Brasil

Maré de Notícias #60

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Ano VI, No dezembro / 2014 a março / 2015 - Maré, Rio de Janeiro - distribuição gratuita 60

Chacinainvestigada

5 anos do nosso Maré

A investigação da chacina que resultou na morte de 10 pessoas aponta pelo menos quatro autos de resistência, su-gerindo que os policiais do Bope agiram em legítima defesa. O resultado frustra expectativas, apesar de a investigação estar sendo conduzida com raro empe-nho quando se trata de morte provoca-da por policiais em favela. Pág. 6 e 7

Com esta edição, iniciamos o sexto ano do Maré de Notícias. A cada mês de aniversário, publicamos reportagem sobre o próprio jornal mas, desta vez, decidimos homenagear todos os que fazem comunicação comunitária neste país e contamos sobre o jornal Fala Manguinhos. Leia também artigo sobre a luta pela democrati-zação da comunicação. Pág. 4 e 5

Tem Griot na Maré?Descubra... na página 16

O que queremas crianças?

As propostas dos pequenospara a nossa Maré Pág. 3

Cinema no beco

Óleo virando cultura! Pág. 12

Boca de SiriHistória da Praia de Ramos

Pág. 14 e 15

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Beleza negra em destaqueFortalecer a identidade da mulher negra é fundamental para combater o preconceito e valorizar a diversidade de nossa sociedade. Conheça ações e pessoas engajadas nesta causa na Maré. Pág. 8 a 11

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Imagem de cabeçalho na capa:Grafite existente no CRMM-Maré,

na Vila do João.

Os artigos assinados não representam a opinião do jornal.

Permitida a reprodução dos textos, desde que citada a fonte.

Parceiros:

Proj. gráfico e diagramaçãoPablo Ramos

Logomarca Monica Soffiatti

Colaboradores Anabela Paiva

André de Lucena

Coordenadorde distribuição

Luiz Gonzaga

Impressão Jornal do Comércio

Tiragem 40.000 exemplares

Redes de Desenvolvimento da Maré

Rua Sargento Silva Nunes, 1012, Nova Holanda / Maré

CEP: 21044-242(21)3105.5531

www.redesdamare.org.br [email protected]

Instituição Proponente Redes de Desenvolvimento da Maré

Diretoria Andréia Martins

Eblin Joseph Farage (Licenciada) Eliana Sousa Silva

Edson Diniz Nóbrega Júnior Helena Edir

Patrícia Sales Vianna

Instituição Parceira Observatório de Favelas

Apoio Ação Comunitária do Brasil

Administraçãodo Piscinão de Ramos

Associação ComunitáriaRoquete Pinto

Associação de Moradores e Amigos do Conjunto Bento Ribeiro Dantas

Associação dos Moradores e

Amigos do Conjunto Esperança

Associação de Moradores do Conjunto Marcílio Dias

Associação de Moradores do Conjunto Pinheiros

Associação de Moradores do Morro do Timbau

Associação de Moradores do Parque Ecológico

Associação de Moradores do Parque Habitacional

da Praia de Ramos

Associação de Moradores do Parque Maré

Associação de Moradores do Parque Rubens Vaz

Associação de Moradoresdo Parque União

Associação de Moradores da Vila do João

Associação Pró-Desenvolvimento da Comunidade de Nova Holanda

Biblioteca Comunitária Nélida Piñon Centro de Referência de Mulheres da Maré - Carminha Rosa (CRMM)

Conexão G

Conjunto Habitacional Nova Maré

Conselho de Moradores da Vila dos Pinheiros

Luta pela Paz

União de Defesa e Melhoramentos do Parque

Proletário da Baixa do Sapateiro

União Esportiva Vila Olímpica da Maré

Editora executiva e jornalista responsável

Silvia Noronha (Mtb – 14.786/RJ)

Editor assistente Hélio Euclides (Mtb – 29919/RJ)

Repórteres e redatores Fabíola Loureiro (estagiária)

Rosilene Miliotti

Fotógrafa Elisângela Leite

EDIT

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HUMOR - André de Lucena: “Aquecimento global”

A taça é nossa!

Leia o Maré e baixe o PDF em www.redesdamare.org.br /redesdamare @redesdamare

EditorialJuntos para sempre

Chegamos à edição de número 60. Depois de uma brevíssima interrupção nesta virada de ano, o Maré de Notícias volta a circular pelas ruas, casas e instituições locais, como sempre fizemos nesses cinco anos de vida, completados em dezembro passado.

Vibramos com mais um aniversário e agradecemos a proximidade dos moradores e trabalhadores que se apropriam do jornal e o reconhecem como veículo profundamente enraizado na Maré.

O tema de capa – sobre a mulher negra, a partir da página 8 – visa aumentar a compreensão sobre a riqueza de nossa diversidade social e combater a imposição de padrões de beleza que afetam a auto-estima e a identidade de cada um. Essa reportagem circula agora na versão impressa do jornal, para que todos possam ler e entrar nesse debate.

Conforme noticiamos na edição 46, seis em cada 10 moradores da Maré são pretos ou pardos, segundo dados do IBGE. Por isso, consideramos importante apresentar outro ângulo dessa temática, porque entendemos a necessidade de fortalecer a nossa identidade e auto-estima. O combate ao preconceito racial e social cabe a todos nós.

A todos e todas, boa leitura!

Ficamos em 2º lugar na última edição do Prêmio Visibilidade das Políticas Sociais e do Serviço Social, do Conselho Regional de Serviço Social (Cress/RJ).

A matéria premiada foi “Vidigal: custo de vida lá no alto – Gentrificação”, do jornalista Aramis Assis, publicada na Ed. 53, de maio de 2014. Este foi o quarto prêmio Visibilidade recebido pelo Maré de Notícias.

Parabéns, Aramis! A matéria esclarece o processo de gentrificação que vem ocorrendo no Vidigal após a ocupação pelas forças de segurança. Ou seja, está havendo mudança no perfil dos moradores, já que o local vem sendo procurado por pessoas de classes mais altas, o que afeta a cultura local. Leia no site da Redes, clicando em Maré de Notícias e depois na edição 53.S

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ASA voz e a vez da garotada

Conheça as propostas de crianças, adolescentes e responsáveis para uma Maré com mais qualidade de vida

Fabíola Loureiro Elisângela Leite

Cerca de 200 pessoas definiram as propostas da Maré a serem apresentadas na Conferência Mu-nicipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, em maio. Caso sejam aprovadas, as sugestões serão levadas à Conferência Es-tadual e, posteriormente, à Con-ferência Nacional, marcada para dezembro. A Conferência Livre da Maré aconteceu no final do ano passado, no Centro de Artes. Segundo Gisele Martins, coordenadora da Equipe Social da Redes da Maré, instituição que organiza o processo participativo local e integra o Conselho Nacional, o objetivo foi discutir a forma como as crianças e adolescentes gostariam que as políticas públicas se desenvolvessem na Maré e nos demais espaços populares.

O estudante Jonathan Luiz, 10 anos, participou dos grupos de trabalho e gostou da conferência: “Achei uma ideia boa, teve a participação de pessoas variadas e também adultos. Dei uma ajuda no grupo e surgiram várias propostas diferentes”, contou ele.

A também estudante Iana Carolina, 10 anos, acha que o evento teve uma boa

participação. “É importante saber a nossa opinião. E não é todo dia que podemos expressar nossa opinião, sem que outras pessoas se intrometam. Um dos exemplos que me chamou atenção foi quando sugeriram: ‘Você bate em uma flor? Não. Então não devemos bater em uma mulher’”, finalizou Iana.

Pro p o s t a s Pro p o s t a s

1. Eixo Educação:

* Garantir na educação básica um currículo que contemple

temáticas como direitos humanos, prevenção de substâncias

psicoativas, diversidade sexual e de gênero, território e demais

temas conexos aos direitos das crianças e adolescentes;

* Promover o acesso aos equipamentos escolares, inclusive

nos finais de semana, como espaços de lazer e convivência

comunitária, com atividades esportivas e culturais em parceria com

as instituições locais;

* Fortalecer os espaços democráticos nas escolas com a

participação dos setores locais nas diversas políticas, tais como

saúde, esporte e lazer, segurança pública, cultura etc., possibilitando

ainda o protagonismo dos estudantes, de seus familiares e de toda

comunidade local;

* Garantir o acesso das crianças e adolescentes com deficiência

nas escolas públicas com espaços integrados e adaptados

às diversas necessidades com profissionais capacitados

periodicamente.

2. Eixo Segurança Pública:

* Criar políticas voltadas ao enfrentamento e erradicação do

trabalho de crianças e adolescente no tráfico de drogas;

* Fortalecer e exigir dos órgãos de defesa dos direitos da criança e

do adolescente um posicionamento público contrário à redução da

maioridade penal e às diversas formas de violência contra crianças

e adolescentes;

* Potencializar a atribuição dos Conselhos Tutelares de sistematizar

e encaminhar as denúncias e demandas locais aos órgãos

competentes para o planejamento de políticas públicas voltadas

para crianças e adolescentes;

* Fiscalizar e potencializar as instituições socioeducativas.

Evento contou com a participação ativa das crianças, que gostaram de ser ouvidas

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Para comemorar os

cinco anos do Maré,

parabenizamos todas

as pessoas que

fazem comunicação

comunitária e contamos

um pouco sobre o jornal

de Manguinhos

Silvia Noronha

Fazer comunicação comunitária é muito bom, mas não é nada fácil, principalmente se a proposta for ela-borar um jornal impresso. O paga-mento à gráfica e a necessidade de montar um sistema de distribuição tornam o desafio ainda maior. Este é o caso do nosso Maré de Notícias, que completou cinco anos em de-zembro passado, com 59 edições. Um feito, sem dúvidas, mas não so-mos os únicos; há muitos grupos fa-zendo comunicação comunitária, a maior parte pela internet. Entre os veículos impressos, além do Maré de Notícias, existem: Fala Roça, da Rocinha; Fala Manguinhos, do Complexo de Manguinhos; Voz das Comunidades, do Alemão (que no fim do ano voltou a ser impresso); e A Notícia Por Quem Vive, da Cidade de Deus.

Simone Quintella, uma das fundadoras do Fala Manguinhos e da Agência de Comunicação Comunitária de Manguinhos, conta que o lançamento do jornal foi pensado para democratizar as informações das 17 favelas que formam Manguinhos, onde moram cerca de 40 mil pessoas (IBGE, Censo 2010). “As coisas aconteciam, mas a informação não circulava, porque Manguinhos é grande. Apenas uns poucos privilegiados tinham acesso ao que ocorria por aqui. O jornal ameniza essa situação”, afirma Simone.

O Fala Manguinhos foi lançado em novembro de 2013 por um grupo de moradores. A ideia nasceu no grupo de comunicação do Conselho Comunitário de Manguinhos. Inicialmente tinha periodicidade mensal, mas depois passou para bimestral, por causa do custo. São 10 mil exem-plares, distribuídos pela própria equipe que es-

creve. Um exem-plar é deixado na porta de cada casa e nas insti-tuições locais (a exemplo do que fa-zemos com o nosso Maré).

Eles também estão tentando captar anúncios das empresas locais para garantir a existência do jornal que, atualmente, conta com apoio da Fio-cruz e recentemente recebeu verba do prêmio Favela Criativa, patrocina-do pela Light e Secretaria Estadual de Cultura. Fazem parte dos planos lançar uma rádio-web e remunerar a equipe, formada por 12 pessoas, sen-do 10 moradores.

Rio tem 118 veículos de comunicação comunitária

Além das ações citadas acima, a pes-quisa “Direto à comunicação e justiça racial”, do Observatório de Favelas, ma-peou a existência de 118 iniciativas co-munitárias de diversos tipos na Região Metropolitana do Rio. Desse total, 70 responderam a um questionário (nós fomos um deles!). A maior parte das ações de comunicação (52 de um to-tal de 70) existe somente pela internet (blogs, redes sociais, site, web-rádio e web-tv). Jornais e revistas impres-sos são apenas 10, de acordo com a pesquisa, concluída em 2014. Existem também seis canais de rádio comuni-tária e dois de TV. Vida longa a todos!

“As coisas aconteciam, mas a informação não circulava,

porque Manguinhos é grande. Apenas uns poucos

privilegiados tinham acesso ao que ocorria por aqui. O jornal

ameniza essa situação” Simone Quintella, do Fala Manguinhos

A equipe do jornal Fala Manguinhos, lançado em fins de

2013 por um grupo de moradores (Simone é a da esquerda)

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O FNDC sempre esteve formulando projetos de políticas públicas, denunciando as arbi-trariedades cometidas pelo oligopólio das grandes redes de comunicação, negociando e pressionando os poderes públicos, forman-do novos quadros e capacitando ativistas, coletando abaixo-assinados, fazendo cam-panha nas ruas e nas redes, travando várias batalhas e utilizando-se de várias estratégias para fazer avançar em nosso país essa luta pela democratização da comunicação.

Desde maio de 2013 estamos nas ruas, praças, escolas, universidades, igrejas e comunidades, coletando assinaturas para um Projeto de Lei de Iniciativa Popular (PLIP)

Democratização da comunicação

Luta ganha visibilidade após eleiçõesA luta pela Democratização da Comunicação em nosso país passou a ter alguma organicidade por volta de 1987, quando aconteceram as primeiras articulações e debates para tentar contribuir para o conteúdo da nova Constituição, que terminou sendo aprovada em 1988. Infelizmente, passados 25 anos da aprovação da nossa atual Constituição, os principais capítulos da mesma que tratam da comunicação não foram regulamentados. Os ‘barões da mídia’ e os ‘imperadores das teles’ não querem que haja nenhum tipo de regulação da mídia em nosso país. Dizem que isso seria uma censura, um atentado à liberdade de imprensa.

Na realidade, quem faz censura todos os dias são os donos das principais empresas de comunicação no país, impedindo a pluralidade de ideias, a diversidade de fontes de opinião, o debate do contraditório, e impondo um ‘pensamento único’, manipulando a informação, deturpando a notícia, contando ‘meias verdades’, exercendo na prática uma verdadeira ‘liberdade de empresa’. Suas TVs, rádios, jornais e revistas dizem o que querem, sua opinião passa a ser a ‘verdade’ nacional, e ninguém tem a oportunidade de divergir ou de contestar.

Desde 1991, o Fórum Nacional Pela Democratização da Comunicação (FNDC) vem organizando as principais lutas e campanhas pelo direito à comunicação, pela liberdade de expressão e pela democratização da comunicação. Do apoio à luta das rádios e TVs comunitárias, do fortalecimento da comunicação pública, da luta por uma internet livre e democrática e de boa qualidade (banda larga), da implantação do Canal da Cidadania na TV digital aberta, do apoio para dar sustentabilidade à comunicação alternativa, popular, independente e livre, nas vitórias para regulamentar a Lei do Acesso à Informação, a Lei do Serviço Condicionado (TV por Assinatura), o Marco Civil da Internet, da luta pela criação e implantação dos Conselhos de Comunicação, na luta pela organização e implementação da I Conferência Nacional de Comunicação (ConFeCom), à luta mais geral para conquistar um novo Marco Regulatório das Comunicações, o FNDC sempre esteve lá.

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da Mídia Democrática, iniciativa construída por mais de 500 entidades e organizações da sociedade civil brasileira, e que apenas pretende regulamentar os artigos da nossa Constituição que falam de Comunicação Social e todavia não foram regulamentados.

Lá está a regulamentação da complemen-taridade entre os sistemas de comunicação (privado, estatal e público), a proibição do monopólio e oligopólio no setor, a obrigatorie-dade de mais conteúdos regionais e indepen-dentes nas nossas rádios e TVs, a criação de um Conselho Nacional de Comunicação com participação do cidadão. Queremos obrigar o Congresso e o governo federal a assumirem a sua responsabilidade de fazer este debate acontecer e avançar neste direito de cidadania para todos os brasileiros e brasileiras.

Você também pode participar. Entre no site www.fndc.org.br ou no site www.paraexpressaraliberdade.org.br e você terá acesso a todos os materiais de campanha, incluindo aí a folha de coleta de assinaturas, Você pode imprimir, assinar e coletar outras assinaturas entre amigos, colegas, vizinhos e companheiros de luta.

Essas eleições gerais de 2014 no Brasil foram as mais duras dos últimos anos e nos deram algumas lições. A principal delas é que dificilmente haverá avanços ou mudanças estruturais em nosso país, nos próximos quatro anos, sem muita mobilização e pressão popular, nas ruas, nas redes e no Congresso Nacional. A segunda lição é que os setores democráticos, populares e progressistas precisam costurar rapidamente a sua unidade, buscando a centralidade em algumas lutas que são prioritárias e capazes de mobilizar grandes massas, criando um grande movimento popular cívico, como foram as lutas da ‘Anistia Ampla, Geral e Irrestrita’ e a das ‘Diretas, já!’

Entendemos que este movimento cívico poderia ter um mote como Mais Democracia, Mais Direitos!, e deveria focar prioritariamente em duas grandes lutas sociais e políticas, que saíram destas eleições com maior visibilidade: Democratização da Mídia e Reforma Política com Participação Popular! Esta tem sido a proposta do FNDC, não só aqui no Rio como em todo o Brasil. Vamos à luta, nas ruas e nas redes, 2015 promete ser um ano de muita mobilização.

“Quem faz censura todos os dias são os donos das principais empresas de

comunicação, impedindo a pluralidade de ideias, a diversidade de fontes de opinião, e impondo

um ‘pensamento único’, manipulando a

informação”

Orlando Guilhon - Executiva do Fórum Nacional de Democratização da Comunicação (FNDC)

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Pelo menos quatro mortes foram vistas como autos de resistência. Não há questionamento sobre a ação de vingança do Bope, nem

foi descoberto ainda o nome do policial que atingiu o garçom

Texto: Hélio Euclides e Silvia Noronha

A investigação sobre a cha-cina da Maré está sendo rea-lizada como raramente ocor-re quando se trata de morte provocada por policiais mi-litares em favela. E não es-tamos falando de poucos casos. Em 2013, ano da cha-cina da Maré, os policiais do Rio de Janeiro mataram 416 pessoas. No ano passado, o

Chacina da MaréComo estão asinvestigações

número aumentou 40%, sal-tando para 582 pessoas, de acordo com dados da pró-pria Secretaria de Seguran-ça Pública.No caso da chacina da Maré, na noite de 24 para 25 de junho de 2013, morreu primeiro um sargento do Batalhão de Operações Especiais (Bope), o que desencadeou uma ação de grandes proporções na favela. Vieram para cá 191 homens do Bope, ao longo da noite e no dia seguinte. Essa ação resultou na morte

de mais nove pessoas, todos civis, além de outras violações, como a entrada ilegal em várias casas de moradores.

Apesar do mérito de existir uma investigação, o resultado, até o momento, vem gerando algumas frustrações. Segundo o delegado titular da Divisão de Homicídios (DH), Rivaldo Barbosa, das 10 mortes foram esclarecida seis. Sobre os três mortos dentro de uma casa na Rua São Jorge, no Parque Maré – Fabrício Gomes Souza, 28 anos; André Gomes de Souza Junior, 18 anos; e Carlos Eduardo Silva Pinto, 23 anos –, a perícia constatou disparos de dentro para fora e com os jovens teriam sido

encontrados fuzis. No caso do adolescente Jonatha Farias da Silva, 16 anos, a polícia civil assegurou que ele foi morto atrás de um poste, armado. Renato Alexandre Mello da Silva, de 39 anos, de acordo com a DH, foi morto numa casa de endolação, com um único tiro. Ou seja, para a DH, foram autos de resistência e os policiais devem ser inocentados.

“Tudo foi levado ao Ministé-rio Público para aceitação ou não. Nossa conclusão é essa”, disse o delegado assistente da DH, Ginitom Lages. Rivaldo Barbosa, por sua vez, garante que a perícia não constatou sinais de tortura ou de facadas em qualquer um dos mor-tos. Segundo ele, a mesma equipe que atua na investi-gação da chacina trabalhou

Mobilização dos moradores no dia seguinte à chacina foi fundamental para que o Bope deixasse a Maré logo depois dessa caminhada

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A Anistia Internacional Brasil, parceira do jornal, lançará na Maré a campanha Jovem Negro Vivo. A iniciativa visa mobilizar a sociedade para romper com a indiferença em relação à morte dos jovens. Em 2012, 56.000 pessoas foram assassinadas no Brasil. Destas, 30.000 eram jovens entre 15 a 29 anos e, deste total, 77% deles negros. Menos de 8% dos casos chegam a ser julgados. A Anistia está recolhendo assinaturas para fortalecer o manifesto “Queremos ver os jovens vivos”. Acesse o site da campanha: https: / /an is t ia .org.br /campanhas/jovemnegrovivo.

O evento na Maré está previsto para sábado, 9 de maio, de 13h às 15h30, na Rua Teixeira Ribeiro, e de 16h às 19h, no Centro de Artes da Maré, na Rua Bittencourt Sampaio, 181, Nova Holanda.

Confira a programação no facebook, no twitter da Redes (redesdamaré), ou no site: redesdamare.org.br.

Campanha Jovem Negro Vivo na Maré

no caso do pedreiro Amarildo, da Rocinha, que resultou na prisão de 10 policiais militares.

Morte do garçom

Foi constatado que o garçom Eraldo Santos da Silva, de 35 anos, morreu com um tiro de fuzil, disparado possivelmente por um policial; porém, o autor ainda não foi identificado, segundo o delegado. “A princípio, o que mostra é que o tiro veio dos policiais, mas falta algo para finalizar o caso. Precisamos de testemunhas para solucionar os outros casos”, argumentou Rivaldo, que em dezembro esteve na Maré com sua equipe para prestar contas à população sobre o andamento das investigações. O sexto caso já finalizado é o da morte do sargento. Não foi possível identificar o autor.

Ainda sobre a morte do garçom, a equipe da DH disse ter o nome de cinco possíveis autores do disparo, mas falta chegar ao nome exato do policial. Como o projétil não foi localizado, isso dificultaria a identificação do autor.

Moradores contestam

Moradores e trabalhadores da Maré que ouviram a equipe da DH, no Centro de Artes,

fizeram alguns questionamentos importantes sobre a condução do caso. Um deles, que preferiu não ser identificado, disse ter visto cenas dos crimes adulteradas no dia seguinte à chacina, o que, segundo ele, dificultou a perícia, que ocorreu depois. Além disso, ele soube por testemunhas que o projétil da bala que matou o garçom foi retirado pelos próprios homens do Bope. “Nada justifica uma ação tão desastrosa. Quantas pessoas foram presas?, perguntou. Nenhuma. Isso, para ele, indica que o objetivo dos policiais naquela noite era matar, mas isso uma investigação da DH não questiona. A investigação se restringe a avaliar o momento de cada morte.

Raquel Willadino, do Observatório de Favelas, argumentou ser de suma importância o fim dos autos de resistência. Eliana Sousa Silva, da Redes da Maré, tem uma visão pedagógica do processo. “Vamos continuar esse trabalho de tentar ajudar a investigação. Houve mortes e muitas outras violações naquela noite. Falta da nossa parte buscar os outros inquéritos, que estão na 21ª DP, que também têm muito a ver com o tipo de abordagem do policial na favela. Esses relatos precisam de um espaço de reflexão. Esse trabalho é profundo, amplo e requer da gente muita perseverança para mudar isso”, avaliou Eliana.

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Mulheres negras sofrem mais com preconceito racial e social, como desemprego e salários baixos. Fortalecer a identidade negra é fundamental

para chegarmos a uma sociedade mais tolerante com as diferenças

Rosilene Miliotti

A assistente social Erika Fernanda de Car-valho, coordenadora do Centro de Refe-rência de Mulheres da Maré - Carminha Rosa (CRMM-CR), situado na Vila do João, diz que cerca de 70% das mulheres atendidas na unidade são negras. Muitas delas sofrem com a imposição do padrão de mulher que se sobrepõe em nossa so-ciedade, que é a branca de cabelos lisos, olhos claros e rica.

Um estereótipo que serve ao modo de sociedade em que vivemos, que ainda precisa avançar muito para acabar com os preconceitos, seja de raça, de gênero ou de orientação sexual.

O CRMM, projeto da UFRJ, não tem uma política específica para o atendimento de mulheres negras, porque entende que elas são sujeitos, sejam brancas, negras ou indígenas. A maior parte das pessoas atendidas são moradoras que sofreram algum tipo de violência doméstica, seja física ou emocional. “Mas não podemos tratar todas da mesma forma só porque sofreram violência; cada uma é uma expressão singular desse fenômeno e a condição social, de raça, gênero não deve ser impeditivo para que ela acesse seus direitos de forma plena”, explica Erika.

Segundo Izabel Solyszko, também assistente social, a maior parte das mulheres não chega ao CRMM se reconhecendo como vítima de violência. Muitas não sabem nem que têm o direito de ter direito, como já sinalizado pela filósofa Marilena Chauí. “Talvez a gente nunca tenha recebido uma queixa de racismo, mas ouvimos isso em atendimento individual e nas oficinas. Ouvimos que elas não são identificadas como clientes quando entram nas lojas e relatam discriminação por morar no bairro Maré. Muitas dizem que moram em Manguinhos, mas não falam que moram na Vila do João”.

A assistente social ressalta que a mulher negra também é menos valorizada no mercado de trabalho. “O homem branco ganha mais, o homem negro e a mulher branca recebem quase a mesma coisa. Já a condição da mulher negra nunca muda na faixa salarial. Além disso, na questão da maternidade, a taxa de mortalidade materna se reduziu nos últimos anos, menos entre as mulheres negras, que chega a ser 10 vezes maior do que a mortalidade materna das mulheres brancas. A desigualdade de classe, associada à desigualdade de raça, traz para as mulheres que a gente atende um componente de exposição e de maior vulnerabilidade”, analisa Izabel.

Racismo tem CEP e gênero

Mulheresnegras

12.5%

Mulheresbrancas

9.2%

5.3%

Homensbrancos

6.6%

Homens negros

Fonte: Retratosdas Desigualdade de Gênero e Raça, Ipea, 2011. Para saber mais: http://www.ipea.gov.br/

retrato/pdf/revista.pdf

Taxa de desemprego da população acima dos 16 anos

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Racismo tem CEP e gênero

“A taxa de mortalidade materna se reduziu nos

últimos anos, menos entre as mulheres negras, que

chega a ser 10 vezes mais do que a das mulheres

brancas. A desigualdade de classe, associada à

desigualdade de raça, traz para as mulheres que

a gente atende um componente de exposição e de

maior vulnerabilidade”Izabel Solyszko, do CRMM

Dia a dia mais difícil

As duas queixas mais ouvidas durante a apuração desta reportagem foram discriminação nas lojas e no mercado de trabalho. É mais difícil conseguir emprego sendo negra e tendo o cabelo crespo. Vera Lucia Jorge, 58 anos, dona de casa, moradora da Vila do João, afirmou no início da entrevista que nunca havia sofrido preconceito. Mas depois pensou e logo lembrou de uma perseguição dentro de um mercado na Nova Holanda, isso já há alguns anos.

“O que me deixou mais revoltada é que o segurança do mercado era negro igual a mim. Eu disse a ele que não ia roubar nada e que tinha dinheiro para comprar. Ele disse que não estava me perseguindo e logo se afastou. Outra vez, eu entrei no ônibus, ia fazer compras em Bonsucesso, aí uma senhora branca tirou o relógio bem rápido e o escondeu. Eu tinha 39 anos na época e minha vontade era de dar uma coça naquela mulher, mas falei pra ela que se eu fosse uma ladra, ela não teria tempo de tirar o relógio. Aí as pessoas no ônibus começaram a avançar na mulher e ela desceu no ponto seguinte”, conta.

Já Margarida Maria de Jesus, 65 anos, aposentada e também moradora da Vila do João, logo se lembrou de um fato quando ela ainda trabalhava no setor de limpeza no centro da cidade. “Quanta humilhação passei quando ia receber meu pagamento. Eu entrava no banco, sempre acompanhada com outras pessoas do trabalho (todas de pele clara) e o segurança logo me parava e perguntava se eu queria alguma informação. Eu respondia que não. Minha encarregada me chamava e dizia aos seguranças que eu estava com ela. O sentimento é de humilhação, mas fazer o quê, se não posso mudar de cor? Se a pessoa for negra e com dinheiro, ela tem os direitos garantidos. Mas não vejo pobre, favelado, negro reclamar os direitos e conseguir mudar alguma coisa. Olha só a desvantagem que eu tenho, sou preta e pobre”, diz ela, para quem o preconceito é ainda mais visível contra pessoas negras de classe econômica mais baixa.

Erika ressalta que as instituições que atuam na Maré têm responsabilidade de fazer com que essas mulheres sejam vistas como sujeitos de direito, que negras e brancas possam se unir para lutar por uma sociedade mais igual, tanto para homens quanto para as mulheres; e que as diferenças de cor ou de gênero possam ser vistas como algo positivo e não como objeto de opressão e desigualdade. Isso daria fim a situações como as relatadas por Vera e Margarida.

Homens brancos

R$ 1.491.00

Mulheresbrancas

R$ 957.00

Homens negros

R$ 833.50

Médiasalarial

Mulheres negras

R$ 544.40

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“As mulheres negras que estão na mídia estão embranquecendo. Essas celebridades têm responsabilidade no resgate de identidade. Elas são seguidas pela juventude e o que elas fazem se torna referência”, diz Erika. Mas é bom lembrar da atriz Taís Araújo e da cantora Margareth Menezes, por exemplo, que defendem o resgate da identidade negra.

Entretanto, de acordo com uma pesquisa da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), as mulheres negras não estão tanto nas telas de cinema quanto as brancas. Apesar de ser a maior parte da população feminina do país (51,7%), as negras apareceram em menos de dois a cada dez longas metragens entre 2002 e 2012. Atrizes pretas e pardas representaram apenas 4,4% do elenco principal dos filmes nacionais.

Além da atuação na TV e no cinema, não podemos esquecer a figura da mulata, mulher negra exuberante, objeto sexual, ligada ao carnaval. Outro exemplo são os modelos de propaganda de cuecas, sempre homens, em geral, negros e com corpos bem desenhados.

“No Brasil ninguém é 100% branco, mas o que prevalece no mundo publicitário é esse modelo, a exemplo do comercial de margarina. Temos poucos negros na publicidade; quando temos é a cota ou sob a exploração do corpo”, reflete Erika.

Para Margarida, o pior racista está dentro do Brasil. “Eu já até me acostumei com o racismo. As negras só aparecem na novela se forem empregadas. E os anúncios na TV? No comercial de fralda só tem criança branca

de olho azul. Quase não tem comercial de produtos para o nosso cabelo, quando aparece é produto para alisar o cabelo. Aqui mesmo, dentro da favela, não tem salão especializado em cabelo crespo. Quando a gente chega, já querem alisar”, reclama (O Guia de Empreendimentos da Maré cita dois salões afro, um em Bento Ribeiro Dantas e outro em Rubens Vaz).

Para Izabel, a colonização do Brasil retirou das mulheres a condição de sujeito. “As mu-lheres sempre foram vistas como coisas que deveriam trabalhar (servir de mão de obra), ter o corpo e a sexualidade explorados. Te-mos uma trajetória de mulheres que tiveram a sua religião expropriada. Tiveram toda sua história cultural atribuída a algo ruim. Exem-plo, o cabelo crespo. Tudo que é relacionado ao negro foi ‘coisificado’ como negativo, mas isso sobre o corpo das mulheres negras foi feito de uma maneira perversa”, critica ela.

Izabel lembra uma fala da militância negra que diz ‘nossos passos vêm de longe’, e é isso que para ela é preciso resgatar. “É muito triste que as mulheres, pensando na ascensão social, comecem a embranquecer, alisam e pintam os cabelos, afinam o nariz, usam roupas que não têm nada a ver com sua identidade. Fortalecer a identidade negra para essa luta é uma questão fundamental”, conclui

“No comercial de fralda só tem criança branca de olho azul. Quase não tem comercial de produtos para o nosso cabelo, quando aparece é produto para alisar o cabelo. Aqui mesmo, dentro da favela, não tem salão especializado em cabelo crespo. Quando a gente chega, já querem alisar”Margarida Maria de Jesus, da Vila do João

Margarida e Vera foram removidas, respectivamente

da favela do Pinto e do Esqueleto; conheceram-se

na Nova Holanda e se tornaram amigas e comadres

Erika, do CRMM: diferenças de cor ou de gênero vistas como algo positivo e não como objeto de opressão e desigualdade

Izabel: racismo se reflete no

mercado de trabalho

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Apareça no CRMM

Atendimento social, psicológico e jurídico e oficinas para mulheres maiores de 18 anos

Rua 17, s/n, (ao lado do posto de saúde da Vila do João) - Tel: 3104-9896

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Muitas iniciativas vêm acontecendo no país pela valorização da identidade negra, especialmente neste mês da consciência negra, em novembro. Uma das surpresas da São Paulo Fashion Week deste ano, por exemplo, foi o desfile de cabelos crespos pelos corredores do evento.

Nas ruas da Maré, notamos que as meninas estão começando a adotar o famoso estilo black power e a assumir os cachos. Vitória Rosa, de 14 anos, moradora da Nova Holanda, já alisou o cabelo, não gostou do resultado e diz que se sente linda com seus cachos. “Lavo o cabelo todos os dias e acho que as brasileiras não gostam do cabelo crespo porque dá trabalho, mas elas não sabem o quanto é bom e bonito”, frisa.

No dia 8 de novembro aconteceu, aqui no Rio, o 1º Miss Black Power, iniciativa do Mercado Di Preta, uma oportunidade para discutir assuntos relacionados ao cotidiano

da pessoa negra de maneira leve e democrática.

Paula Azeviche, uma das criadoras do Mercado Di Preta, diz que nem sempre as pessoas entendem a proposta do evento. “O Miss Black Power é um espaço de representação sócio racial valioso. Depois que a pessoa faz parte de um

concurso como esse é difícil ser a mesma porque as escolhidas acabam se tornando uma referência”, diz ela.

Cinquenta mulheres de diferen-tes estados se inscreveram, e quem levou o primeiro lugar foi a baiana Maria Priscilla de Je-sus, seguida da também baia-na Jaciene Mendes Souza e da mineira Elaine Serafim de Freitas.

Outra iniciativa voltada para as mulheres é o blog bloguei-rasnegras.org, que conta com várias articulistas sempre mar-cando posição contra iniciati-vas racistas e preconceituosas.

“Meu cabelo enrolado, todos querem imitar...”

As três finalistas do 1º Miss Black Power

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Introdução ao baléSegundas e quartas, 17h30 às 18h30

8 aos 14 anos

Danças Urbanas em Redes apresenta:

Sob RodasSábado, dia 14/03, às 18h

Dir. artística: Renato Cruz, coprodução Festival Panorama de 2014 (a partir 12 anos)

BaléTerças e quintas, 14h30 às 16h

intermediário

Dança de salãoSextas, de 18h30 às 19h30

e de 19h30 às 21h a partir de 16 anos

Dança criativaQuintas, 18h às 19h

6 aos 12 anos

Pilates para a 3a idadeSextas, 9h às 10h30(a partir de 06/03)

Teatro em comunidadesInício: sábado, dia 07/03,

9h30 às 12h30(parceria Redes e Unirio)

Dança contemporânea Terças e quintas, 16h às 17h30

a partir de 12 anosQuintas, 19h às 20h

intermediário

Consciência corporal Quartas, 9h às 10h30

Dança urbana Segundas, 18h30 às 19h30

iniciantesSegundas e quartas, 19h30 às 21h

intermediário

Homens, Santos e Desertos Quinta, 12 de março, às 19h

Espetáculo

Cine Clube Rabiola Sextas, 03,10, 17e 24 de abril, 17h

Lona Música Livre Sexta, 13 de março, às 21h

Café Frio + Los Chivitos+ Rafa Rocha + Botika

Oficinas de Verão De 13 de abril a 22 maio

4 oficinas (projeto amaréfunk), dança e DJ

Favela Rock Show Sexta, 27 de março, às 21hBandas Severe, Blind Horse

Sebastiana e Severina Quinta, 07 de abril, às 14h

Espetáculo Infantil

Sebastiana e Severina Quinta, 07 de abril, às 14h

Espetáculo Infantil

AMARÉFUNK Sábado, 11 de abril, às 21h

Abertura + 1ª Roda(Funk e Segurança)

Sábado, 25 de abril, às 21h 2ª Roda funk e Sensualidade

Favela Rock Show Sábado, 18 de abril, às 21h

Banda Forfun + banda abertura

Cia Solo Quarta, 29 de abril às 10h e 14h

Pedro Malazartee a Arara Gigante

Quarta, 15 de abril, às 14h Espetáculo Infantil

Novo projeto prevê a realização de oficinas e também de três módulos de atividades em 2015, o primeiro deles

dedicado à dança de rua.

Dança Maré!

R. Bitencourt Sampaio, 181,Nova Holanda.

Programação no local ou pelo tel. 3105-7265 De 2ª a 6ª, de 14h às 21h30

Herbert ViannaLona cultural

R. Ivanildo Alves, s/n - Nova MaréTels.: 3105-6815 / 7871-7692 - [email protected]

FACE: Lona da Maré - Twitter: @lonadamare

cultura

Biblioteca Popular Municipal Jorge AmadoAo lado da Lona, atende a toda a Maré:

Amplo acervo, brinquedoteca, gibiteca e empréstimo domiciliar

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E Óleo usado vira... cultura!A criatividade do cantor e compositor Bhega rende alegria e cultura com o projeto Cinema no

beco, que conquistou o prêmio de Ações Locais da Secretaria Municipal de Cultura

Hélio Euclides Rosilene Miliotti

Unir o útil ao agradável. Foi isso que o cantor e compositor Bhega da Silva fez. Para trabalhar na rua com uma “bicicleta de som”, ele começou a coletar óleo de cozinha usado e a vender para reciclagem. Além de contribuir para conscien-tizar as pessoas, com a renda, ele concluiu seu objetivo. Bhega ad-quiriu a bicicleta com a venda de 1.200 litros de óleo. Em seguida, com mais doações, ele conseguiu a caixa de som e uma bateria. “Quando olho as aquisições, percebo que tem a colaboração de muitas pesso-as”, lembra ele. As doações vêm de todos os cantos da Maré. “Com a divulgação no Maré de Notícias (edição 41, de maio de 2013) consegui em 15 dias um total de 600 litros, foi um recorde. Depois disso, quando pedalo nas ruas, as pessoas já

oferecem o óleo utilizado, pois sabem que eu faço a coleta”, conta ele, que tam-bém continua compondo músicas e lan-çou seu segundo CD, Perseverança, no ano passado.

Com mais óleo, Bhega conseguiu outro feito. Anos atrás, ele havia trabalhado num projeto de exibição de filmes pelas ruas da Maré. O projeto chegou ao fim e as crianças ficaram órfãs do cinema. O cantor não deixou a peteca cair e aplicou o dinheiro na aquisição de uma tela por-tátil e um aparelho de DVD. Só faltava o projetor, que foi doado por uma rede local de supermercados.

Assim surgiu o projeto “Cinema no beco, do Bheguinha”. O sucesso da ideia pôde ser visto numa rua da Praia de Ramos, na noite de 19 de janeiro, quando diver-sas crianças se reuniram na maior alegria para assistir o filme Tainá II e o documen-tário Mar Urbano, que mostra o trabalho do amigo do cantor, Jorge Tornado (leia sobre Tornado em breve no Maré).

“Essa minha história de coletar óleo e re-verter para a comunidade é um incentivo às pessoas a nunca jogarem este produ-to no esgoto ou no lixo, pois é ruim para o meio ambiente”, comenta. No câmbio, o preço do óleo usado é de R$ 0,80. Bhega vende para uma empresa de biodiesel.

No fim de fevereiro, Bhega recebeu uma boa notícia: o Cinema no Beco conquistou o prêmio de Ações Locais, da Secretaria Municipal de Educação. “Fiquei muito feliz. Foram mais de 700 concorrentes. O prêmio vai fortalecer o cineminha, com uma tela e DVD novos e uma bicicleta elétrica, na qual poderei subir até o Morro do Timbau”, conta ele.

Sempre que vai exibir filme na rua, os moradores locais apoiam com pipoca e refrigerante para os expectadores. “É muito bom para as crianças que não co-nhecem o cinema. Tenho muito prazer em ajudar esse evento cultural”, confessa o morador da Praia de Ramos, Nazioze-no Gomes.

Esse trabalho já é feito há um ano e três meses e, ao final de cada apresenta-ção, há sempre uma mensagem para as crianças: “Amigo do planeta é amigo do Bheguinha”.

Para doar óleo de cozinha usado ou agendar o Cinema no beco, telefone para o Bhega: 99206-5867 (OBS: Para o cinema chegar à sua comunidade, é importante a doação de pipoca e refrigerante).

Cinema no beco, na Praia de Ramos, atraiu crianças e adultos na noite de 19 de janeiro

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IAEssa tapioca é um sucesso!Dani conquista moradores com iguaria tipicamente brasileira. Difícil é a gente fazer igual em casa

Hélio Euclides Elisângela Leite

Daniele França Neri pode ser cha-mada de cozinheira de mão cheia. Nascida no Rio de janeiro, em 1982, hoje tem 22 anos de carreira como tapioqueira. No início, ainda criança, trabalhava com tapioca por obrigação, mas hoje vê que foi bom aprender esse ofício. Ela ain-da encontra tempo para cozinhar e vender quentinhas. “Para distri-buir bem o dia, tenho que dormir pouco, acordo às 2h50 e saio de Magé às 4h. Fico na Maré até as 21h e chego em casa por volta das 22h10”, conta a popular Dani, que mantém uma barraca na Rua Tei-xeira Ribeiro, esquina com Flávia Farnese, no Parque Maré. E lá se vão cinco anos por aqui. O funcionamento de sua barraca é de se-gunda a sábado. Às quartas e sábados há bolo de aipim, e no sábado, dia da feira, há ainda pamonha, cuscuz, massa de tapioca e pé de moleque na palha de banana. No domingo, não tem descanso; ela aproveita para agilizar o estoque.

As tapiocas são seu carro chefe, e isso já provoca elogios. “A tapioca é muito boa, eu vejo que a Dani faz com muita facilida-de. Fico tentando copiar, mas não consi-go fazer igual em casa”, conta Leonardo Castro. E nem adianta insistir porque ela não conta o segredo. “Eu vendo a massa da tapioca, mas há o macete, o gingado que só eu sei. O segredo eu não posso contar”, confessa ela, que até pretenden-tes conquista com seu trabalho. “A tapio-ca é uma delícia, o bolo é muito gostoso. Pela comida eu caso com ela”, brinca Le-onardo Marafião.

Outro que sempre tem o hábito de de-gustar a tapioca é o aluno do Observa-tório de Favelas, Marcos Costa. “A tapio-ca valoriza nossa cultura da periferia, além de ser algo antigo trazido pelos índios”, conta Marcos. De fato, a tapioca, também chamada de beiju, é uma igua-

Leonardo Marafião diz que se casa com Dani por causa da comida, brinca ele

ria tipicamente brasileira. Teria vindo do Nordeste, a partir da descoberta dos índios tupis que conseguiram extrair a goma da mandioca.

De Magé a Maré

Trabalhar na Maré é sempre uma aventura. Dani traz tudo no ônibus, algo pesado, pois são muitas caixas. Quando desce do outro lado da Avenida Brasil, ela encontra ajuda de amigas para atravessar a passarela.

O que Dani mais gosta é do frio, quando ela chega a fazer até 250 tapiocas por dia. Ela se orgulha de ter feito tapioca para Cláudia Abreu, Dudu Nobre, MV Bill e Juliana Paes. “O meu segredo é que gosto de cozinhar, faço como se estivesse em casa”, diz ela, que tem dois filhos. Para o futuro, ela pretende comprar um carro para economizar com fretes. “Depois disso quem sabe um dia eu não divulgue a minha marca”, sonha Dani.

RECEITA: Bolo de Aipim

Já que a Dani não conta o segredo da tapioca, ofereceu aos leitores esta receita abaixo:

Ingredientes:

3 quilos de aipim2 xícaras de açúcar (400g)1 lata de leite condensado1 xícara e meia de coco ralado250 gramas de margarina (qualy)1 pitada de sal

Modo de fazer:

Descasque o aipim, pique em rodelas pequenas, bata no liquidificador.Observe para não ficar uma massa aguada, e sim consistente.Acrescente a margarina.Coloque num pote e adicione a metade do coco, o açúcar, o sal, e o leite condensado.Misture tudo e coloque num tabuleiro untado e polvilhado (tamanho 500gr).Por fim, coloque o restante do coco por cima e leve ao forno por uma hora e meia.Depois é só servir.

Dani: “Meu segredo é gostar de cozinhar”

Barraca da DaniRua Teixeira Ribeiro esquina com Flávia

Farnese - De segunda a sábado. Ela começa a servir ainda pela manhã e

fica até as 21hTapiocas de R$ 2,50 a R$ 4,50

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L A Copacabana do SubúrbioNo início, era Praia de Maria Angu. O nome Praia de Ramos só veio depois, com a primeira faixa

de areia criada pelo dono, que decidiu aterrar o lugar

Hélio Euclides Elisângela Leite

“Da Praia de Maria Angu ao Pisci-não de Ramos”, esse foi o enredo criado pelo carnavalesco Valério Guidinelle para o Grêmio Recreati-vo Escola de Samba Boca de Siri. A escola preparou um desfile de pura recordação dessa praia que já foi conhecida como a Copacabana do Subúrbio. O enredo contou a histó-ria dessa área antes denominada Praia de Maria Angu, onde havia um porto de mesmo nome. Valério procurou dados para compor o trabalho e ficou triste. “Quando come-cei a pesquisar me senti mal, pois algo que faz parte da história da cidade não é lembrado. Só há dados em poucos lu-gares, na Biblioteca Nacional não existe nada. Parece que somos esquecidos, só tem importância do Caju para o Centro, por causa da Casa de Banho de Dom João VI”, desabafa.

Para recuperar o processo histórico foi preciso uma pesquisa com moradores antigos, que contaram o que vivenciaram e tinham fotografias. A Biblioteca de Ra-mos também ajudou com jornais antigos.

A primeira faixa de areia

A escola fez uma viagem ao passado, mostrando que, no início do século XX, quando o porto funcionava, quase tudo era mangue. Em 1912, as terras foram compradas pelo capitão Vieira Ferreira, passando a se chamar Fazenda Enge-nho da Pedra, onde havia muitos cajuei-ros. Foi ele quem fez o primeiro aterro, criando uma faixa de areia e rebatizando o lugar de Praia de Ramos.

Tempos depois, com a venda de lotes, surgiu a Vila Gerson, homenagem ao filho primogênito do proprietário. Com o crescimento do lugar, palafitas foram

construídas ao lado da variante, onde hoje é a Avenida Brasil. Essa pista era constantemente atravessada por pesso-as que iam buscar água do outro lado.

Em 1946, o governo tentou remover a fa-vela e, segundo contam, por influência de um bicheiro todos ficaram. À beira da praia, existia um balneário, com boate e cabines para troca de roupas. O lugar, que quase virou um cassino, abriga hoje a Escola Mu-nicipal Armando de Salles Oliveira.

As festas também não ficam fora do en-redo, como a de São Pedro, realizada por pescadores da colônia. Há personagens marcantes, também mostrados pela es-cola, como os fotógrafos que faziam os monóculos, os vendedores de raspa-raspa de groselha, os fo-liões fantasiados no mar, com direi-to a concurso.

Os banhistas ain-da tinham uma diversão diferente: assistiam os aviões aterrissarem, com charme. Alguns de-ram sorte e viram um que passou por baixo da ponte do Galeão.

O primeiro bar lo-cal chamava-se Sereia. Depois vie-ram outros como o Bar da Neguinha, local de rodas de pagode, com per-sonalidades, entre elas Beth Carva-lho, que retratou a praia num samba.

Com o passar do tempo, veio a po-luição e a praia deixou de ser fre-quentada. Até que, em 2000, morado-

res e amigos organizaram um abraço à praia, manifesto que gerou o piscinão, em 2001. Esse evento teve a influência dos cantores Dicró (falecido em 2012) e Bhega Silva. A partir daí, os frequenta-dores retornaram, dando mais vida ao lugar.

“Quando criei esse enredo, era para ho-menagear a praia, os habitantes. Hoje não somos só Praia de Ramos e Roque-te Pinto, somos Maré, um exemplo são os compositores que moram no Parque União. Queremos que a Maré toda abra-

A fantasia da esquerda representa o piloto Melo Maluco, que passou com seu avião por baixo da ponte do Galeão, cena assistida por moradores da Praia de Ramos. A fantasia das gotas representa os moradores que usavam lata para buscar água

Fantasia que representa

o pescador local

Esta

simboliza o

caranguejo

no mangue

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Bar da NeguinhaDe Flavinho Silva e Adilson Ribeiro.

Interpretação: Beth Carvalho

Fui no bar da Neguinha comer camarãoNa praia de Maria AnguTinha gente de todo lugarFoi o maior sururuTinha gente de todo lugarFoi o maior sururu

Tomei cana pra abrir o apetiteEspremi limão no bacalhauNo meio do povo vi gente da eliteForrando a mesa com jornalNa TV preto e branco num cantoO Brasil fez um gol ninguém viuEnrolaram na antenaUm pedaço de BombrilEncostei num cigarro acesoDerrubei o petisco no chãoE pedi pra NeguinhaFritar mais camarão

Pode fritar Que a turma do samba já tá pra chegar E eu também tô querendo camarãoFrita logo um montãoConvidei o Hélio Turco, Alvinho e JurandirComprido e Carlos CachaçaNelson Sargento chamou Dona ZicaMarrom, Dona Neuma e LecyJamelão já estava presenteCom Delegado, Elmo e XangôQuando o Chico ligou pro Darci e falouTambém vou

Pode fritar Que a minha Mangueira acabou de chegar E eu também tô querendo camarãoFrita logo um montão

ce o Boca de Siri”, comenta o carnavalesco, que pretende ao final arquivar o que pesquisou na Biblioteca de Ramos. A escola pertence ao Grupo C e desfilou na Av. Intendente Magalhães e ficou em oitavo lugar.

Por que Maria Angu

Sobre o nome da Praia de Maria Angu há diversas versões. Segundo pesquisou Valério, algumas pessoas contam que existia uma moradora que se chamava Maria e vendia angu. Para outros, o nome deriva de pássaros que viviam na praia, conhecidos como mariangu (ou curiango). Ainda há a ver-são de que índios habitavam o território e como aqui era mangue, na língua deles, dizia-se Maria angu. Valério acre-dita que infelizmente parte da história se perdeu, e pode não haver exatidão em relação ao nome.

Delícia querefresca e alimenta

FRUTAS AO LEITE

ESPECIAIS

POTES

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ao consumidor

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E POTÕES!

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Onde estou?Caramba. Peguei o ônibus errado!

Só descobri que estava na Bahia porque meu celular estava procurando rede.

pra Maré participar do MaréEnvie seu desenho, foto, poesia, piada,

receita ou sugestão de matéria.Rua Sargento Silva Nunes, 1.012 – Nova Holanda Tel.: 3105-5531

E-mail: [email protected]

Garanta seu jornal - busque seu exemplar na Associação de Moradores da sua comunidade todos os meses!

Tem Griot na Maré?Você sabe o que é Griot? Na África, Griot é a classe de homens e mulheres responsáveis por transmitir a história de geração em geração. Eles contam fatos e lendas locais que ajudam a preservar a história e os costumes de sua gente. Pois a nossa leitora Sara Alves enviou uma boa dica para todos nós e ainda um super elogio ao jornal, que nos deixou muito emocionados. Obrigado! Leiam o texto enviado pela Sara:

Uma dica para os Mareenses

O documentário “Sotigui Kouyaté- Um Griot no Brasil” (disponível no You Tube. É só colocar este título na busca) é simplesmente Fascinante! Analogicamente “falando”: existe Griot na Maré: o Nosso jornal Maré de Notícias! Ele, o Maré de Notícias, nasceu para preservar nossas lendas e fatos. É guardião da memória... nossas histórias são contadas e recontadas por quem vive as histórias...

Rindoatoa)

Hélio Euclides

No documentário, Sotigui, o Griot, comenta que quem conhece apenas um país da África, não conhece a África; penso que acontece o mesmo com a nossa Maré, pois quem conhece apenas uma ou algumas comunidades, não conhece “A” Maré. Cada comunidade tem sua particularidade, nasceu num determinado momento (histórico, político, social, econômico etc.) e cada uma tem suas histórias para contar – histórias essas que navegam com O NOSSO GRIOT MARÉ DE NOTÍCIAS, na Maré, no Brasil e no mundo. Um orgulho, acredito eu, para os Mareenses! Espero que gostem da dica!

Rep

rod

ução

Leite e iogurtes desnatados, queijos brancos, carnes magras, óleos

vegetais, alimentos cozidos, grelhados ou assados, cereais integrais, frutas,

verduras e legumes

Leites e iogurtes integrais, queijos amarelos, manteiga, banha, gordura trans (gordura vegetal, higrogenada), carnes gordas, frituras, refrigerantes

e bebidas alcoólicas.