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Inscrições abertas 35 atividades na Vila Olímpica. Pág. 15 Artigo O que é ser favelado? Pág. 10 e 11 Conjunto Esperança Muitas melhorias Pág. 11 Perfil Barba, treinador de futebol Pág. 3 Parada LGBT Marcada para 1º/09 Pág. 14 44 Ano IV, N o agosto de 2013 - Maré, Rio de Janeiro - distribuição gratuita Centro de Artes e Lona da Maré Pág. 15 Cinco das 16 comunidades da Maré ain- da não dispõem de entrega de correspon- dência domiciliar. Seguindo orientação dos Correios, os carteiros deixam os envelopes nas associações de moradores, que aca- bam cumprindo um dever do Estado. Os moradores, por sua vez, são obrigados a arranjar tempo para buscar as correspon- dências, situação que só será resolvida quando todas as ruas e casas estiverem devidamente identificadas. Pág. 8 e 9 O coronel Waldyr Soares, novo chefe de gabinete do comando geral da PM, estimula os moradores a não abrirem as portas para revista de suas casas sem mandado de busca e apreen- são. Ele ainda explica como denunciar os policiais que come- tem abusos: é preciso passar informações mínimas para que a corregedoria inicie uma investigação. Pág. 4 e 5 Presidentes das 16 Associações de Moradores da Maré se unem para ter mais força na busca por políticas públicas que melhorem a qualidade de vida no bairro. Pág. 6 Parte da Maré sem Correios Como e por que denunciar maus policiais Associações de Moradores unidas Hélio Euclides Elisângela Leite Elisânmgela Leite Elisânmgela Leite O morador Mateus Carneiro, de Marcílio Dias, buscando suas correspondências na associação Érica Ramalho / Divulgação Alerj Silvia Noronha

Maré de Notícias #44

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Leia no Maré de Notícias: entrevista com o novo chefe de gabinete do comando geral da PM; falta de carteiros e médicos; associações de moradores unidas; grafite nos muros e muito mais

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Page 1: Maré de Notícias #44

Inscrições abertas

35 atividades na Vila Olímpica. Pág. 15

Artigo

O que é ser favelado? Pág. 10 e 11

Conjunto Esperança

Muitas melhorias Pág. 11

Perfi lBarba,treinadorde futebol Pág. 3

Parada LGBTMarcada para 1º/09 Pág. 14

44Ano IV, No agosto de 2013 - Maré, Rio de Janeiro - distribuição gratuita

Centro de Artes e Lona da Maré Pág. 15

Cinco das 16 comunidades da Maré ain-da não dispõem de entrega de correspon-dência domiciliar. Seguindo orientação dos Correios, os carteiros deixam os envelopes nas associações de moradores, que aca-bam cumprindo um dever do Estado. Os moradores, por sua vez, são obrigados a arranjar tempo para buscar as correspon-dências, situação que só será resolvida quando todas as ruas e casas estiverem devidamente identi� cadas. Pág. 8 e 9

O coronel Waldyr Soares, novo chefe de gabinete do comando geral da PM, estimula os moradores a não abrirem as portas para revista de suas casas sem mandado de busca e apreen-são. Ele ainda explica como denunciar os policiais que come-tem abusos: é preciso passar informações mínimas para que a corregedoria inicie uma investigação. Pág. 4 e 5

Presidentes das 16 Associações de Moradores da Maré se unem para ter mais força na busca por políticas públicas que melhorem a qualidade de vida no bairro. Pág. 6

Parte da Maré sem Correios

Como e por quedenunciar maus policiais

Associações de Moradores unidas

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O que é ser favelado? O que é ser favelado? Pág. 10 e 11

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Notas da redação

Como nós, do Maré de Notícias, não conseguimos resposta da Cedae, esta-mos tornando público nosso questiona-mento sobre quando terão início as obras no sistema de esgoto das comunidades do bairro. Na Ed. 35, de novembro do ano passado, demos matéria de capa sobre as obras que, segundo a própria Cedae, teriam início em março. Publicamos a ma-téria acreditando na informação passada, mas até agora nada! Nem retorno aos nossos contatos.

A coluna Seus Direitos, da Equipe Social da Redes da Maré, volta na próxima edição.

CEDAEcadê você?

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Redes de Desenvolvimento da Maré Rua Sargento Silva Nunes, 1012,

Nova Holanda / Maré CEP: 21044-242 (21) 3104.3276 (21)3105.5531

www.redesdamare.org.br [email protected]

Os artigos assinados não representam a opinião do jornal.

Parceiros:

Fabíola Loureiro (Estagiária)

Fotógrafa Elisângela Leite

Projeto grá�coe diagramação

Pablo Ramos

Logotipo Monica Sof�atti

Colaboradores Anabela Paiva

André de LucenaAydano André MotaDiogo dos Santos

Flávia OliveiraMarcelo Belfort

Veri-vg

Coord. de distribuição Givanildo Nascimento

Impressão Grá� ca Jornal do Commércio

Tiragem 40.000 exemplares

Leia o Maré e baixe o PDF em www.redesdamare.org.br

Instituição Proponente Redes de Desenvolvimento da Maré

Diretoria Andréia Martins

Eblin Joseph Farage (Licenciada) Eliana Sousa Silva

Edson Diniz Nóbrega Júnior Helena Edir

Patrícia Sales Vianna

Coordenação de ComunicaçãoSilvia Noronha

Instituição Parceira Observatório de Favelas

Apoio Ação Comunitária do Brasil

Administraçãodo Piscinão de Ramos

Associação Comunitária

Roquete Pinto

Associação de Moradores e Amigos do Conjunto Bento Ribeiro Dantas

Associação dos Moradores e Amigos do Conjunto Esperança

Associação de Moradores do Conjunto Marcílio Dias

Associação de Moradores do Conjunto Pinheiros

Associação de Moradores do Morro do Timbau

Associação de Moradores do Parque Ecológico

Associação de Moradores do Parque Habitacional

da Praia de Ramos

Associação de Moradores do Parque Maré

Associação de Moradores do Parque Rubens Vaz

Associação de Moradoresdo Parque União

Associação de Moradores

da Vila do João

Associação Pró-Desenvolvimento da Comunidade de Nova Holanda

Biblioteca Comunitária Nélida Piñon

Centro de Referência de Mulheres da Maré - Carminha Rosa

Conexão G

Conjunto Habitacional Nova Maré

Conselho de Moradores da Vila dos Pinheiros

Luta pela Paz

União de Defesa e Melhoramentos do Parque

Proletário da Baixa do Sapateiro

União Esportiva Vila Olímpica da Maré

Editora executiva e jornalista responsável

Silvia Noronha (Mtb – 14.786/RJ)

Repórteres e redatores Aramis Assis

Hélio Euclides (Mtb – 29919/RJ)Rosilene Miliotti

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Editorial

Nem todos na Maré têm a felicidade de contar com um carteiro como o Carli-nhos da Nova Holanda, entrevistado na edição passada. O esforço de tornar o nome das ruas o� cial está a pleno vapor, para que possamos cobrar a entrega de correspondência domiciliar em todos os cantos da Maré. Enquanto isso, os mora-dores e as associações é que precisam dar conta do recado, como você poderá ler nas páginas 8 e 9.

Na pág. 6, você lerá também sobre a união das associações de moradores, que estão agindo coletivamente para ga-nhar força em prol da Maré, em todos os campos das políticas públicas. Mas ao folhear o jornal, você poderá ler sobre muitas outras iniciativas protagonizadas por moradores.

Esta edição foi fechada em meio ao bur-burinho a respeito da ocupação da Maré pela polícia para a instalação de uma UPP, até que, no dia do envio para a grá-� ca, em 7 de agosto, o novo comandan-te-geral da Polícia Militar, coronel José Luís Castro Menezes, deu entrevista ao RJTV, da Rede Globo, negando a ação para um momento próximo.

Independentemente de UPP, a questão que se coloca é o debate sobre a segu-rança pública que nós queremos. Por isso, este tema tem estado sempre em pauta no nosso jornal.

Boa leitura!

HUMOR - André de Lucena: “Descobertas científicas

Expediente

No mundo da bolaMorador dedica seu tempo à arte de ensinar futebol para a criançada

Um todos, todos por um

Hélio Euclides Elisângela Leite

Na maioria das favelas, surgem as es-colinhas de futebol nos campinhos. Na Maré não é diferente; e alguns desses instrutores se destacam. Um deles é Ade-mar Francisco de Andrade, de 63 anos, o popular Barba, da Vila do Pinheiro, que ganhou esse apedido por causa do per-sonagem de um famoso conto infantil, o Barba Azul. “Ele já treina há muitos anos, e bastantes alunos já passaram pela es-colinha. É um exemplo, porque além de ajudar as crianças, não esquece da sua esposa, dos � lhos e netinhos”, elogia o aluno Alessandro Cabral de Queiroz, que sugeriu a matéria sobre o professor para a equipe do Maré de Notícias.

Nascido na Bahia, Barba veio para o Rio de Ja-neiro aos 17 anos, como muitos, tentar uma vida melhor. Trabalhou com minério e peças de carro. Começou nas escolinhas ainda quando morava

no Parque União. Em 1983 foi para a Vila do

Pinheiro e um ano depois retomou as atividades com o futebol. Atualmente, ele conta com o apoio de dois pro� ssionais que trabalham lado a lado, Robson Luís Silva e Delmon Veloso. “Vejo o Barba como um pro� ssional completo e com muitas virtu-des”, ressalta Robson.

Interesse pela escola

Para o nosso personagem, o motivo maior do seu esforço é contribuir para o desenvolvimento das crianças. “O que espero é que tenham dis-

ciplina, força de vontade, que sejam pessoas exemplares, com humildade. Não visamos um jogador e sim um futuro promissor em qual-quer escolha pro� ssional”, a� rma Barba. O trei-nador lembra que a carreira de jogador de fu-tebol é uma questão de sorte. Ele acompanha o boletim de cada um e incentiva em palestras o interesse pela escola.

“Foi aqui onde comecei e aprendi tudo. Tenho os maiores sentimentos por ele”, diz o ex-aluno e jogador, João Wesley, de 19 anos. Barba só � ca triste ao ver crianças vagando na rua. “Dizem que na Maré tem muitos projetos, acredito que até falta. O governo precisa investir em cursos”, desabafa.

A Escolinha do Barba, que é gratuita, conta com mais de 200 meninos de 4 a 16 anos e funciona de segunda a sexta-feira na Arena da Mata, no Parque Ecológico, e Toca da Raposa, na Vila do Pinheiro. Hoje já tem ex-aluno que traz o � lho para treinar. Quando perguntado se é mais co-nhecido que nota de R$ 2, ele con� rma. “Sou reconhecido pelo trabalho, amizade e respeito”, � naliza o treinador.

, não conseguimos resposta da Cedae, esta-mos tornando público nosso questiona-mento sobre quando terão início as obras no sistema de esgoto das comunidades do bairro. Na Ed. 35, de novembro do ano passado, demos matéria de capa sobre as obras que, segundo a própria Cedae, teriam início em março. Publicamos a ma-téria acreditando na informação passada, mas até agora nada! Nem retorno aos

A coluna Seus Direitos, da Equipe Social da Redes da Maré, volta na próxima edição.A coluna Seus Direitos, da Equipe Social da Redes da Maré, volta na próxima edição.

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“Dizem que na Maré tem muitos projetos, acredito que até falta.

O governo precisa investirem cursos”

“Não visamos um jogador, “Não visamos um jogador,

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em qualquer escolha profi ssional”

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Coronel: Isso é uma forma de con� rmar se ele realmente é proprietário. Agora, o fato de a pes-soa não ter (a nota) não enseja responsabiliza-ção penal.

Maré: O policial não pode fazer nada.

Coronel: Entendo que não, porque a moradora não é obrigada a provar para ele que aquilo ali ela realmente comprou. Se sou eu o morador, até respondo que ganhei de presente. Alguém lhe dá presente e entrega a nota?

Maré: E o policial que pede conta de ener-gia elétrica para o morador? Parece ten-tativa de intimidação.

Coronel: A leitura que eu faço não é essa. O po-licial está querendo investigar se aquelas pes-soas são moradoras da casa ou se estão se es-condendo ali, em razão da operação.

Maré: O que o senhor pode dizer para quem não con� a na Polícia Militar?

Coronel: Eu diria que a Polícia Militar está nas comunidades com a missão de cumprir o seu dever pro� ssional que é servir. Somos servidores públicos. Se por ventura eles não estão fazendo isso, que os moradores da comunidade tragam a nós, com horários, locais, o maior número de dados, que nós vamos apurar e responsabilizar, como responsabilizamos 317 policiais em 2012 que insistiram em praticar desvio de conduta e foram responsabilizados.

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Coronel Waldir Soares: “Que os moradores da comunidade tragam a nós, com horários, locais, o maior número de dados, que nós vamos apurar e responsabilizar, como responsabilizamos 317

policiais em 2012.

“Vai lá buscar o mandado, depois vem com o mandado e entra”. Essa é a frase que o morador deve dizer quando um PM quiser entrar na sua casa, conforme orien-ta o novo chefe de gabinete do comando geral da PM, coronel Waldyr Soares Filho, que concedeu esta entrevista ainda como corregedor da Polícia Militar do Rio de Janeiro. As orientações da corregedoria se mantêm exatamente as mesmas que poderão ser lidas abaixo, segundo a as-sessoria de comunicação da PM.

O coronel diz que entende o medo dos morado-res (ele chega a falar em covardia), mas adianta que todos devemos ter coragem de denunciar. Segundo ele, denunciar os maus policiais é uma responsabilidade social do cidadão, que deve arcar com o ônus do enfrentamento das conse-quências daquilo que acha correto.

Nesta entrevista, o coronel Waldyr explica como fazer uma denúncia anônima, que não deve ser vaga demais, porque a total falta de informação in-viabiliza a apuração. Mas ele também reclama da atitude desrespeitosa de alguns moradores. Neste sentido, ele acha que as pessoas da Maré pos-suem a lógica do antagonismo com as forças poli-ciais. “A gente precisa conscientizar tanto um lado (moradores) quanto o outro (policiais)”, avalia ele.

Leia a seguir os principais trechos da entrevista, realizada em junho, dias antes da incursão do Bope que resultou na morte de 10 pessoas.

Maré de Notícias: Qual é o papel da Corregedoria?

Coronel Waldir: Somos regidos por normas, leis, regulamentos que devem ser � scalizadas pelo chefe direto (o regulamento disciplinar da PM está no Decreto 6.579/1983). Os desvios de conduta devem ser detectados, a princípio, pe-

los comandantes. No nível tático, o controle do comportamento da tropa é feito pela Correge-doria, que tem braços operacionais, que são as Delegacias de Polícia Judiciária Militar (DPJM).

Maré: Qual é a garantia de sigilo de quem denuncia um policial?

Coronel: Total. Vai a uma lan house se não quer falar de casa e bota apelido. O local do fato que é importante e a descrição do que aconteceu, e pode anexar foto. Nesse um ano e oito me-

ses (até início de junho), a prática de desvio de conduta diminuiu drasticamente. Eu crio esse juízo de valor até pelas próprias denúncias, que diminuíram. A corregedoria tem sido proativa. Já tivemos nove policiais presos no Batalhão de Polícia Rodoviária (BPRV), 11 no 41º BPM, detectamos em inquérito dez em São Gonçalo, prendemos 63 na Operação Puri� cação, pren-demos 53 em Bangu (ele não tinha informações sobre punição a policiais do 22° BPM).

Maré: Têm havido muitas punições?

Coronel: A denúncia anônima, apesar de per-mitida e valiosa, de certa forma inviabiliza uma punição com base única e exclusivamente nela, porque pode ser uma vingança. “Ah, o policial é cana dura, vamos fazer uma denúncia para tirar esse cara daqui”. Pode acontecer isso. É por isso que criamos essa possibilidade de a pessoa de-nunciar e juntar foto, documentos. Chegando à conclusão de que o fato é verdadeiro, o policial pode ser reformado ou excluído (expulso).

Maré: O que mais impede o andamento de uma apuração?

Coronel: Primeiro, uma covardia, no bom sentido até compreensível, das pessoas denunciarem. O medo está presente no ser humano; o psico-pata que não tem medo. Há uma responsabilida-de social a ser cobrada do cidadão. Ele precisa ter coragem de lutar contra aquilo que o a� ige. Como as pessoas não têm essa consciência da responsabilidade social, elas se deixam vencer pelo medo e acabam não denunciando. O que precisamos fazer? Receber a denúncia e in-vestigar. E essa cultura da investigação era um pouco deixada de lado. Neste 1 ano e 8 meses, conseguimos melhorar muito. Colocamos 317 policiais na rua, instaurei 518 inquéritos policiais militares. Nestes tivemos mais de 800 policiais indiciados. Temos trabalhado para reverter esse imaginário popular de que há tolerância.

Maré: A seguir, vamos fazer perguntas ba-seadas em situações que temos vivido ou ouvido. Nas UPPs, por exemplo, há uma quantidade maior de casos de desacato à autoridade. Por quê?

Coronel: Essa relação da polícia de proximida-de é uma via de mão dupla. Admito que exis-tam desvios por partes de alguns policiais, no sentido de querer impor, ser truculento. Tem que haver respeito mútuo. Hoje existe muito mais do que em tempos pretéritos. A própria UPP é um exemplo disso. Existem problemas na UPP, mas os problemas estão sendo reduzidos. Existem locais que são mais con� agrados, onde as pes-soas já estão com aquela lógica do antagonis-mo com as forças policiais. E talvez tenham uma intolerância maior, uma resistência maior, que eu acho que é o caso do Complexo da Maré ou do Complexo do Alemão. Não deve haver radi-

calismo nem por parte da comunidade que acha que o sistema policial é falido e não serve para nada, nem do Estado de achar que não tem jei-to, que tem que ser no cassetete. Está errado isso e a gente precisa conscientizar tanto um lado quanto o outro.

Maré: Na Maré há relatos até de roubo a morador. O que o morador deve fazer, porque normalmente esses policiais não andam com nome na farda?

Coronel: Devem denunciar o local, dia, circuns-tância na página da corregedoria. Agora, essa narrativa pode ser vazia: “No Complexo da Maré os policiais estão tomando os pertences dos moradores.” Esse tipo de denúncia sou obrigado a arquivar, vou fazer o que com isso? Se fosse rua tal, dia tal, tantas horas, viatura de número tal parou em frente a tal lugar, isso aí me dá con-dições de fazer alguma coisa.

Maré: Invasão de domicílio. O senhor acha certo?

Coronel: Se a pessoa não tem nada e não deve nada, ela não deveria abrir a porta e deveria di-

zer: “Se o senhor quiser entrar, vai ter que me trazer um mandado judicial para invadir a mi-nha casa, cercar a casa. Vai lá buscar o manda-do, depois vem com o mandado e entra”.

Maré: Essa frase do senhor é muito im-portante, porque, na prática, o policial pode se sentir afrontado com essa pos-tura.

Coronel: Mas como ele (o policial) é um defensor da lei, ele não pode se sentir afrontado. Essa é a postura correta, a não ser que ele tenha comprovação de que naquela casa esteja havendo a prática de um crime. A pessoa tem que ter essa coragem de dizer para o policial que ela quer que ele cumpra a lei. Arrombou a porta; tem que ter coragem de procurar um órgão correcional. É com bônus da cidadania que o cidadão tem seus direitos e tem o ônus também, que é o enfrentamento das consequências daquilo que acha correto.

Maré: Outra situação estranha é quando o policial militar exige nota � scal de pro-dutos do morador.

Morador não deve abrir a casa para a PM

Palavras do comando:

Em entrevista exclusiva ao Maré,o coronel da PM Waldyr Soares

orienta morador a denunciaros maus policiais

Denuncieà Corregedoria da PMSite: www.cintpm.rj.gov.br(clique no aba: Denúncia)Tel.: 2332-2646 / 2725- 9159Fax: 2725-9098

“Se a pessoa não tem nada e não

deve nada, ela não deveria abrir a

porta e deveria dizer: “Se o senhor

quiser entrar, vai ter que me trazer

um mandado judicial para invadir

a minha casa, cercar a casa. Vai lá

buscar o mandado, depois vem com o

mandado e entra”

“Em um ano e oito meses instaurei 518 inquéritos policiais militares.

Nestes tivemos mais de 800 policiais indiciados e quase 400 na rua.

Temos trabalhado para reverter esse imaginário popular de que há

tolerância”

“Admito que existam desvios

por partes de alguns policiais,

no sentido de querer impor,

ser truculento. Tem que haver

um respeito mútuo. Hoje existe

muito mais do que em tempos

pretéritos”Coronel Waldir Soares: “Que os moradores da

comunidade tragam a nós, com horários, locais, o

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PMs meteram o pé na porta da casa do professor Bruno Paixão,

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ES O que acontecee o que não deixa

de acontecer por aquiGra� te nos nossos murosJovens moradores que � zeram um curso de Consciência Cidadã, em parceria com o Luta pela Paz, estão gra� tando 20 muros da Nova Holanda e Rubens Vaz, entre os dias 3 e 17 de agosto. O grupo criou o projeto Cara Nova, com o objetivo de deixar a Maré mais bonita e ainda mais consciente de seus direitos.

Os gra� tes escolhidos, alguns incluindo fra-ses simbólicas, têm como tema os direitos hu-manos, os protestos que tomaram conta das cidades do país e o desenvolvimento pesso-al. “Nossa ideia é continuar o projeto”, conta Orlando João Lira, líder de comunicação do Cara Nova.

Jornada traz estrangeiros para a MaréMuitos peregrinos � caram hospedados em casas de moradores, durante a Jornada Mundial da Juventude, em julho. Além disso, a Maré recebeu a visita de centenas de estrangeiros. No dia 18, 220 jovens moradores da Inglaterra, mas de várias nacionalidades, estiveram na Baixa do Sapateiro. Eles � zeram uma reunião na Praça do 18 e depois seguiram para a Paróquia Jesus de Nazaré, na Rua Ivanildo Alves. Os jovens eram de um grupo da Igreja Católica intitulado Caminho Neocatecumenal.

Valdir Alves, integrante do grupo, fez questão de negar a polêmica sobre a suposta decisão da Igreja de proibir que peregri-nos � cassem hospedados na Maré, por ser área de risco. “Nós estamos com o espírito de acolher e temos pessoas em nossas casas”, a� rmou ele, na semana do evento.

Após o encerramento, a Maré recebeu ainda cerca de 200 croatas, que � zeram uma evangelização no muro da Real.

Intervenção cultural simulará barreira acústicaNo dia 23 de agosto, das 16h às 20h, acontecerá na Praça do Parque União uma intervenção do projeto Solos Culturais, com o objetivo de apresentar as diferentes práticas artísticas e culturais existentes na Maré. Será criada uma réplica do “muro acústico”, barreira que separa a Maré das Linhas Vermelha e Amarela. A ideia surgiu como forma de protesto, porque o muro acústico esconde a Maré e o que acontece por aqui. Haverá apresentação de bandas locais, a participação de Bianca Andrade, do Blog Boca Rosa, além de sarau, projeções de fotos, contação de histórias e jogo de capoeira.

A proposta dos jovens que participam do projeto é realizar intervenção itinerante em locais de grande circulação de pessoas. Antes da apresentação na Maré, a intervenção passará pelo Largo da Carioca, no centro, em 21 de agosto, e na Praça General Osório, em Ipanema, em 22 de agosto. O Solos Culturais é desenvolvido com jovens pelo Observatório de Favelas.

Posto do Parque União: falta médico e sobra goteiraO Maré de Notícias recebeu uma reclamação sobre as instalações do Centro Municipal de Saúde Parque União. Ao visitar a unidade pela primeira vez, em março, nos deparamos com baldes embaixo de goteiras. Em julho voltamos ao local. Um funcionário, que preferiu não se identi� car, disse que logo após a nossa primeira visita o telhado havia passado por uma solução emergencial, com limpeza, mas que não resolveu a questão ainda. “O nosso problema principal agora é a falta de médico clínico (apenas um trabalha no posto, que possui duas equipes, porém apenas uma completa). Com isso, há um acúmulo de atendimentos”, relatou.

O CMS Parque União é vital para os moradores por realizar vacinação, coleta de sangue, atendimento geral clínico, tratamento de hipertensão e diabetes. “Essa unidade era um sonho da comunidade há 20 anos. O

Jovens moradores que � zeram um curso de Consciência Cidadã, em parceria com o Luta pela Paz, estão gra� tando 20 muros da Nova Holanda e Rubens Vaz, entre os dias 3 e 17 de agosto. O grupo criou o projeto Cara Nova, com o objetivo de deixar a Maré mais bonita e

Os gra� tes escolhidos, alguns incluindo fra-ses simbólicas, têm como tema os direitos hu-

Silvia Noronha

Os presidentes das associações de moradores das 16 comunidades da Maré estão se organizando e atuan-do coletivamente em busca de mais qualidade de vida no bairro. Desde 5 de junho, os líderes comunitários fa-zem reuniões itinerantes, na sede de cada uma das associações, de modo a fortalecer as reivindicações perante o poder público.

Eles já se reuniram com representantes da Comlurb, da Cedae, da Light, da Subprefeitura e da Administração Regional; e encaminharam ofício solicitando audiência com o prefeito Edu-ardo Paes e com o governador Sergio Cabral. Neste mês de agosto, eles estavam cobrando as promessas feitas nos encontros já realiza-dos. Segundo Marquinhos Gargalo, presidente da Associação de Moradores da Vila do João, a preocupação é trazer melhorias efetivas para a Maré. “Não adianta apenas nos reunirmos

UM POR TODOS,Associações de moradores se unem para fortalecer

as reivindicações por melhorias na Maré

Reunião de 6 de agosto, na associação do Timbau: Braz (Parque União), Janaína (Vila do Pinheiro), Andréa (Nova Holanda), Marquinho (Vila do João), Eunice (Conjunto Pinheiro), Luciano (Marcílio Dias), Charles (Baixa do Sapateiro), Osmar (Timbau) e Waldir (Conjunto Esperança)

UM POR TODOS,UM POR TODOS,UM POR TODOS,TODOS POR UM!

com o poder público. Queremos ver o retorno”, ressalta ele.

Foco nos direitos dos moradores

Outra preocupação do grupo é que governantes e funcionários do Estado façam políticas públi-cas com base nos direitos dos moradores e não com � ns eleitoreiros. “Não vamos permitir que usem a máquina do governo para � ns eleitorais”, destaca Janaína Monteiro, presidente do Conse-lho de Moradores da Vila do Pinheiro. José Car-los Gomes Barbosa, presidente da Associação do Parque Maré, observa que muito do que vem sendo feito atualmente nas ruas é fruto das rei-vindicações apresentadas pelo grupo, por meio do projeto A Maré que Queremos, realizado des-de 2010 em parceria com a Redes da Maré.

“Nossas reuniões têm sido ótimas, porque ve-mos que todos nós passamos pelas mesmas di-� culdades. É uma terapia que fortalece a gente”, avalia o vice-presidente da Associação de Mar-cílio Dias, Luciano Aragão.

Desde junho, os líderes comunitários também se reuniram três vezes com a cúpula da Polí-cia Militar e, neste mês de agosto, estava para ser con� rmado mais um encontro, desta vez na Secretaria de Segurança Pública. Na última reunião, Osmar Camelo, presidente da Asso-ciação do Morro do Timbau, foi aplaudido ao pedir para que os líderes comunitários sejam respeitados pelos policiais. “As associações de moradores querem que o comando fale para a tropa que nós, presidentes, somos represen-tantes legais da comunidade. Queremos ser reconhecidos como instituição”, a� rmou Osmar.

Também em agosto, no dia 13, às 17h, os pre-sidentes tinham reunião marcada com os lí-deres comunitários das favelas do Alemão, do Lins, Manguinhos, Jacarezinho e Mangueira. E para 24 de agosto, a Redes da Maré, em parceria com as associações locais, está or-ganizando um seminário com representantes das associações da Zona da Leopoldina para debater segurança pública e trocar experiên-cias a respeito das UPPs.

problema é que só temos uma equipe completa e assim os pro� ssionais estão insatisfeitos. Outra coisa é o telhado, pois quando chove não tem atendimento, uma vez que alaga aqui dentro. A obra da Transcarioca está a todo vapor, enquanto aqui não há reforma. Esperamos que as autoridades nos olhem para chegar a uma solução”, criticou o presidente da Associação de Moradores do Parque União, Francisco Braz.

A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) informou que há planejamento para a realização de melhorias nas instalações do CMS Parque União. Contudo, não existe previsão para o início das obras. Com o intuito de estender a cobertura do programa de saúde da família, a SMS prevê a inauguração de duas clínicas da família na região, em 2014. (Texto: Hélio Euclides).

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Pesquisador da Uerj avalia os aspectos positivos das UPPs e os muitos desa� os existentes

Afinal, o que é isso?V DF LV LLVV LLE DDOVVFFA DDLLE LE LLE LA

Esperança na urbanização

“Nosso pensamento a respeito de nós mesmos vinha sendo mantido no esquecimento, oculto de nós mesmos, e substituído pelo pensamento preconceituoso que o restante da cidade construiu sobre nós”

O novo livro está terminado e aguarda a conclusão dos servi-ços grá� cos para ser lançado. Acompanhe pelo facebook (/redesdamare) e twitter (@redes-damare). Já a publicação sobre a Nova Holanda está no site da Redes da Maré redesdamare.org.br, na aba prateleira / pu-blicações. O segundo da série também � cará disponível para download.

ARTIGO

A Praia do Pinto, favela situada no Leblon, foi retirada da zona sul pelo governo estadual em 1969, por intermédio de um incêndio criminoso, e minha família foi removida para Nova Holanda, onde cresci, me casei e criei minha � lha. Só me mudei na década de 2000 para morar perto das novas escolas em que passei a lecionar, em Brás de Pina.

Olá, amigo leitor!

Eu sou Marcelo Belfort, nascido na Favela da Praia do Pinto e criado na favela de Nova Holanda. Represento a terceira geração de favelados de minha família tanto no que diz res-peito à parte de minha mãe, Maria Amélia, quanto no que diz respeito à parte do meu pai, Lourival. Por isso os múltiplos signi� cados de “ser favela-do” sempre me interessaram muito.

Recentemente a Rede Globo apresentou uma novela chamada “Salve Jorge” que, fora o velho maniqueísmo que opõe os bons e os maus, trouxe como novidade de cenogra� a o ambiente do Complexo do Alemão, conjunto de favelas que � cou conhecido pela invasão cinematográ� ca das forças públicas do Esta-do, com ampla cobertura da mesma emissora a que nos referimos.

Apesar de não tê-la assistido, não pude evi-tar as suas propagandas e os inúmeros co-mentários na TV e fora dela. Do que vi e ouvi, o que mais me chamou a atenção foi a re-presentação da ideia de “ser favelado” que esta novela veiculou, um verdadeiro festival de arremedos e caricaturas que, a despeito dos preconceitos destilados, foi, na opinião de muitos, o ponto alto do humor da novela.

Hélio Euclides Elisângela Leite

Com dois anos de mandato, a diretoria da Associação de Moradores do Conjunto Espe-rança vem modi� cando o espaço urbano. As obras de construção de quadra, reformulação de salão de festa, criação de parquinho, pre-servação da arborização, nova iluminação e pintura de blocos e muros são alguns pontos de mudança. A limpeza do canal e das ruas só foi possível através dos garis comunitários que trabalham todos os dias da semana. Para debater as demandas, a comunicação é pri-mordial na transformação. Por isso, os direto-res da associação costumam fazer reuniões trimestrais com síndicos e moradores.

Uma das novidades é a conservação da Rua José Moreira Pequeno, que ganhou gra� tes nos muros, latões de lixo e placas sobre como manter o espaço limpo. “Aqui estava abando-nado. A região administrativa iniciou as me-lhorias, logo em seguida veio a associação e completou os avanços”, conta o comerciante

Oberdan Teixeira.Mais recentemente ainda, mais uma vez, as forças públicas do Estado invadiram, desres-peitaram e mataram inúmeros moradores de Nova Holanda em uma atitude vil e desumana, mas plenamente justi� cada pelas autoridades do Estado que, para tanto, apresentaram outra idéia do que é “ser favelado”: O governador e o secretário de Segurança Pública valeram-se da mesma idéia veiculada no � lme “Tropa de Elite”: “Há uma guerra na cidade que precisa ser ven-cida”. E adivinhem quem é o inimigo?

Por estas duas representações, como podemos ver, apesar de já ser parte integrante da cidade há mais de um século, a favela tem sido vista como o “outro lugar” e os seus habitantes são vistos como “perigosos” � lhos ilegítimos da urbe, portanto, sem quaisquer direitos, inclusive o di-reito à vida! São representações nas quais pre-dominam imagens que estigmatizam a favela como lugar ameaçador e/ou exótico.

Mas, e para nós, o que é ser fave-lado a� nal?

Tive uma infância pobre na Nova Holanda, o que di� cultou bastante o atendimento das necessi-dades mais elementares como, por exemplo, a alimentação. Mas tenho ótimas lembranças das pessoas com as quais convivi e das brincadei-ras como jogar bola de gude (Triângulo, búlica, paredinha etc.), soltar pipa, jogar futebol (sobre-tudo no terreno baldio em frente às “Pernam-bucanas”, na Rua Bittencourt Sampaio), rodar pneu, pescar rã etc. Posso dizer, portanto, que para a minha época de criança, apesar dos pe-sares, “ser favelado” foi algo muito bom porque pude experimentar uma liberdade e uma criati-vidade que, mais tarde, constituíram-se em va-lores fundamentais a minha vida.

Já na adolescência, o preconceito e mesmo a humilhação a que eram submetidas as pessoas que moravam na favela me � zeram sentir ver-gonha e até mentir sobre a minha origem... Eu dizia na escola que morava em “Bonsucesso” e

não costumava trazer amigos e namoradas em minha casa.

“Ser Favelado” me parecia algo muito ruim!

Foi a postura crítica de minha mãe que, me obrigando a re� etir sobre a minha atitude e a questionar as causas da pobreza e pre-cariedade do meu lugar, bem como os por-quês da atitude hostil alheia, que me fez re-dimensionar minha posição, permitindo que eu entrasse na juventude mais esclarecido sobre a realidade da favela e disposto a lu-tar pelo seu lugar de direito na cidade: Um lugar de cidadania! A partir daí tornei-me militante do movimento popular em Nova Holanda e lutamos por saneamento básico, saúde, educação e, sobretudo, respeito.

O amigo leitor pode ver que, na minha trajetória na Nova Holanda, encontrei um signi� cado para a ideia de “Ser Favelado”: Sujeito de Luta pelo direito de Ser Cidadão!

E o amigo, o que pensa sobre “ser favelado”?

Mesmo que não pareça, o que você pen-sa sobre isso é muito importante, pois, até bem pouco tempo, o nosso pensamento a respeito de nós mesmos vinha sendo mantido no esquecimento, oculto de nós mesmos, e substituído pelo pensamento preconceituoso que o restante da cidade construiu sobre nós.

Foi por isso que um grupo de moradores e ex-moradores construíram o Núcleo de Me-mória e Identidade da Maré (Numim), um

projeto criado na Redes da Maré que bus-ca, fundamentalmente, repensar a Favela e o Ser Favelado a partir de nosso próprio protagonismo.

Com esta intenção, já produzimos o Livro “Memória e Identidade dos Moradores de Nova Holanda” e, brevemente, lançaremos um segundo livro sobre o Morro do Timbau e o Parque Maré.

Mas ainda há muito para ser feito!

Há pelo menos um século de silêncio que precisa ser resgatado... Por isso conta-mos com a sua voz! Participe conosco deste Resgate das Memórias e das Iden-tidades dos Moradores das Favelas do Rio de Janeiro. Envie-nos arquivos anti-gos (fotos, cartas, cartazes, documentos, etc.), conceda-nos depoimentos sobre sua história pessoal e a história do seu lugar, converse com seus vizinhos e ami-gos sobre a importância deste projeto e visitem o Núcleo de Memória e Identida-de dos Moradores da Maré – Numim, na Redes (Rua Sargento Silva Nunes, 1.012, Nova Holanda).

A partir desta edição, o Numim publicará, periodicamente, esta coluna comparti-lhando com todos os avanços desta nos-sa empreitada.

Então, até a próxima!

“Para a minha época de criança, apesar dos pesares, “ser

favelado” foi algo muito bom porque pude experimentar uma

liberdade e uma criatividade que, mais tarde, constituíram-se em

valores fundamentais na minha vida”

“O amigo leitor poderá ver

que, na minha trajetória na

Nova Holanda, encontrei um

signifi cado para a ideia de “Ser

Favelado”: Sujeito de Luta pelo

direito de Ser Cidadão!”

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Estudantes de três escolas municipais da Maré aprendem a mediare a resolver con� itos

Mediar é resolver

Na ordem: Wesley Lucas - Juliana Gomes - Vanessa de Farias - Ana Carolina - Gabriel Medeiros - Maike Alves - Samuel Lucas - Vanessa Dantas - Raquel Mendes

Hélio Euclides Elisângela Leite

Já imaginou um local coletivo, onde to-dos juntos se unem para lidar com os con� itos? Esse é o objetivo do projeto Mediando pela Paz, da ONG Parceiros Brasil, cuja � nalidade é desenvolver habilidades de resolução de con� itos. O projeto está sendo aplicado nos co-légios onde existe o programa “Escolas do Amanhã”, em parceria com a Secre-taria Municipal de Educação. Na Maré, acontece em três escolas municipais: Teotônio Vilela, no Conjunto Esperança; Quarto Centenário e Operário Vicente Mariano, no Timbau. Os alunos apren-dem a fazer a mediação entre seus colegas, utilizando técnicas para aju-dá-los a encontrar uma solução para con� itos escolares.

Ao contrário do que geralmente ocorre nas situações de con� itos, que muitas vezes são resolvidas com corretivos ou julgamentos

alheios, na mediação a solução vem do diálogo. Para isso, um conteúdo introdutório sobre os conceitos de mediação de con� itos é aplicado para todas as turmas a partir do 5º ano. Nas turmas de 8º ano, além desse conteúdo básico, há uma seleção para escolher alguns estudantes para participar de um curso. “O sucesso do projeto é que usamos as nossas palavras, com pessoas da mesma idade. Isso evita erro na comunicação. São técnicas � rmes”, ressalta Mike Alves, de 14 anos, da Escola Teotônio Vilela e um dos sete alunos da primeira turma de mediadores, formada no ano passado. “Aprendemos com a mediação a entender o próximo. A capacitação é legal, com brincadeiras que nos animam”, conta Samuel Lucas, de 14 anos, que também faz parte do grupo.

No curso eles aprendem a ouvir as partes, para que os alunos se sintam compreendidos em seus problemas. Aprendem ainda a fazer questionamentos que busquem os sentimentos envolvidos no con� ito e possíveis causas ocultas. Dessa forma, todos podem se entender melhor. A partir daí, � ca mais

fácil encontrar soluções que sejam boas para ambas as partes envolvidas.

O curso tem mudado a vida dos participantes. “Servimos de exemplo; por isso não podemos ter notas baixas, mas não somos melhores que ninguém, somos alunos da mesma escola. Já em casa, com a minha irmã, havia con� ito. Hoje melhorou, pois espero ela acalmar para conversar. Isso eu aprendi no curso”, conta Samuel.

Alunos protagonistas de suas histórias

A professora Viviane Couto conta que todos tentam usar as técnicas aprendidas no dia a dia e isso aproxima professores e alunos. “O interessante é que os alunos passam a ser os protagonistas de suas histórias, dialogando para resolver os con� itos entre eles. Assim, criamos a consciência de que todos somos responsáveis pelo bom andamento da unidade escolar”, realça. A aluna Vanessa de Farias concorda. “Visitamos as salas e os professores nos ajudam e apoiam. A mediação é uma forma de melhorar o ambiente”, enfatiza.

O grupo só não media casos graves, como agressão física. “Atuamos no início do con� ito, quando vemos que há xingamento, fofoca e bullying. Mostramos que há outra forma de resolver o problema, que não é falando alto e sim com o bate-papo. Não tomamos partido, somos neutros”, explica Vanessa Dantas, de 15 anos. Para Raquel Mendes, de 14 anos, o importante é entender as causas dos con� itos. “Usamos perguntas abertas, as respostas nunca são sim ou não. As pessoas podem explorar nas respostas suas vontades, sentimentos e decisões”, explica.

A facilitadora Juliana Gomes avalia que o trabalho tem uma boa aceitação e um resultado satisfatório. “Qualquer pessoa da comunidade escolar pode solicitar uma mediação, que só acontecerá se as partes concordarem”, esclarece. Uma das características mais importante do projeto é a apresentação de uma nova forma de lidar com os con� itos. “Mostramos que a briga não resolve nada. Acreditamos que o aluno é igual em qualquer colégio e que todo ser humano precisa ser educado para lidar com os seus con� itos. Esse trabalho aqui na Maré é signi� cativo. O objetivo é que no futuro seja transformado em política pública”, revela a facilitadora Ana Carolina Duarte de Souza.

Bullying ?! É o termo utilizado para descrever atos de violência física ou psicológica intencionais e repetidos, praticados por um indivíduo ou grupo de indivíduos, causando dor e angústia, sendo executados dentro de uma relação desigual de poder. (Fonte: Wikipedia)

“O sucesso do projeto é queusamos as nossas palavras,

com pessoas da mesma idade.Isso evita erro na comunicação” Mike Alves, de 14 anos

“Atuamos no início do con� ito, quandovemos que há xingamento, fofoca e bullying. Mostramos que há outra forma de resolver o problema, que não é falando alto e sim com o bate-papo. Não tomamos partido, somos neutroso” Vanessa Dantas, de 15 anos

Professora Viviane (à esqu.) com os alunos envolvidos no projeto, na Escola Teotônio Vilela, no Conjunto Esperança

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Palha ItalianaINSCRIÇÕES ABERTAS NA VILA OLÍMPICA

A Vila Olímpica da Maré (VOM) está com inscrições abertas para 35 atividades nas áreas de esporte, cultura, educação e também para as aulas destinadas a pessoas com de� ciência. As inscrições podem ser feitas de segunda a sexta-feira das 8h às 16h, e sábados e domingos das 8h às 12h. Os interessados devem se dirigir ao Setor de Inscrição, com os seguintes documentos: Identidade (original e cópia), CPF (original e cópia), comprovante de residência (original e cópia), declaração escolar para estudantes da escola municipal e atestado médico para as seguintes atividades: natação, hidroginástica, alongamento e ginástica, com validade de seis meses. Telefone de contato: 3977-5788 (ramal 1). Veja abaixo as atividades:

R. Ivanildo Alves, s/n - Nova MaréTels.: 3105-6815 / 7871-7692

[email protected] FACE: Lona da MaréTwitter: @lonadamare

Ingredientes:1 lata de leite condensado

8 colheres de sopa de chocolate em pó1/2 colher de sopa de margarina

1 pacote de biscoito maisena

Modo de preparar:1- Pique o biscoito em pe-daços pequenos e reser-ve;2- Faça um brigadeiro com o leite condensado, a margarina e o chocolate em pó;3- Assim que o brigadeiro começar a soltar do fun-do da panela, misture o biscoito picado até formar uma massa;4- Retire do fogo e colo-que a massa numa fôrma;5- Deixe esfriar, corte em quadradinhos e passe no açúcar re� nado (nesta foto, faltava ainda colocar o açúcar);6- Sirva à vontade.

Herbert ViannaLona cultural

PROGRAME-SE ! ENTRADA GRATUITA!

Veja a programação completaem www.redesdamare.org.br

R. Ivanildo Alves, s/n - Nova Maré

cultura

RECEITA - Enviada por Fabíola Loureiro

Dança de RuaSegundas, 17h30 às 18h30

iniciante18h30 às 19h30

avançado

As o� cinas retornam em 12 de agosto. Novos horários:

Consciência CorporalTerças, 17h30 às 19h30

Com Lylien Vass

PercussãoTerças, 19h30 às 21h30Com Marcelo Sant’Anna

aulas recomeçam em 20 de agosto

Dança contemporâneaQuarta, 18h30 às 19h30

Com Jeane Lima

Dança criativaQuarta: 17h30 às 18h30

Com Jeane Lima

Corpo e ExpressãoSexta, 17h30 às 18h30

Com Talitta Chagas

Dança de salãoSexta, 18h30 às 20h30 Com Roberto Queiroz

OFICINAS

Feira de Saúde e Parada LGBT Fabíola Loureiro veri-vg

No dia 1° de setembro acontecerá a 2° edição da Feira de Saúde “Maré Saudável”, seguida da Parada do Orgulho LGBT, que tem como objetivo mobilizar, articular e disseminar o conhecimento sobre as questões de prevenção das DST/ HIV/ AIDS e também sobre o preconceito e homofobia com a população LGBT moradora das favelas.

A feira contará com diversos serviços de ação social, entre eles a orientação para retirada de documentos, regularização do processo de in-serção em escolas para a população LGBT (lés-bicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros), encaminhamentos de denúncias de violência por orientação sexual e homofobia, entre outros.

Gilmar Cunha, diretor geral do Conexão G, gru-po organizador do evento, diz que a realização do evento na favela estimula a cultura de res-peito, a� rmação dos direitos e da promoção de saúde nos espaços populares.

Sábado (31/08) Às 19h: Mesa de abertura com re-presentantes de diversos movimen-tos sociais. No Centro de Artes da Maré (CAM), na Rua Bittencourt Sampaio, 179. Nova Holanda.

Domingo (01/09)Às 10h: Abertura da 2ª Feira de Saúde “Maré Saudável”

Das 10h30 às 16h: apresentações culturais e serviços sociais oferecidos pela feira, no Campo da Paty.

Às 17h: 2º Parada LGBT começando na Rua Teixeira Ribeiro, passando por ruas da Nova Holanda e terminando na Praça do Parque União.

Mais informações:Tel: [email protected]

Oficinas com inscrições abertas

CINECLUBE

Desenho BásicoA partir de 10 anos2as, de 10 às 12hProf.: Jandir Leite

Todas as sextas-feiras, às 16h30, sempre fi lme infantil

Oficina de MC’sA partir de 12 anos

2as e 4as, de 15 às 17hProf.: Succo Emici

Dança de salãoA partir de 16 anos

Sáb., 18 às 20hProf.: Roberto Queiróz

Gastronomia e GêneroA partir de 16 anos3as, de 14 às 16h -

4as, de 9h às 12h ou de 13 às 16hProf.: Marianna Aleixo

R. Ivanildo Alves, s/n - Nova MaréR. Ivanildo Alves, s/n - Nova Maré

R. Bitencourt Sampaio, 181 Nova Holanda. Programação no localou pelo tel. 3105-7265 De 2 a a 6a, de 14h às 21h30

1- Pique o biscoito em pe-daços pequenos e reser-

2- Faça um brigadeiro com o leite condensado, a margarina e o chocolate

3- Assim que o brigadeiro começar a soltar do fun-do da panela, misture o biscoito picado até formar

4- Retire do fogo e colo-que a massa numa fôrma;5- Deixe esfriar, corte em quadradinhos e passe no açúcar re� nado (nesta foto, faltava ainda colocar

Cultura / EducaçãoArtesanatoBallet - Canto/CoralCapoeira - FlautaDança FolclóricaHip-HopJazz - Mist DancePercussãoPiano - Violão

Programa de Pessoas com De� ciência (PCD)AtletismoHidroginásticaHidroterapiaJudô NataçãoTerapia Corporal

EsporteAtletismo - BadmintonBasquete - FutsalCaminhada EsportivaFutebol - HandebolGinástica/alongamentoGinástica ArtísticaHidroginásticaIniciação EsportivaJudô - Karatê - TênisNatação - Rugby - Vôlei

Fabíola Lourreiro

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O garoto apanhou da vizinha e a mãe, furiosa, foi tomar satisfação:- Por que a senhora bateu no meu filho?- Ele foi mal-educado e me chamou de gorda!- E a senhora acha que vai emagrecer batendo nele?

Um baiano, deitado na rede, pergunta pro amigo:- Meu rei... tem aí remédio pra picada de cobra?- Tem não, meu lindo. Por que, você foi picado?- Não, mas tem uma cobra vindo na minha direção...

Na prova de vestibular, veio a pergunta se a porta era opaca ou transparente. Uma das respostas: Quando está fechada é opaca e quando está aberta é transparente. kkkkkkk

Um psiquiatra faz um teste com dois pacientes, para saber se poderia liberá-los para casa. Um seria um vendedor de refrigerante e outro, o comprador. - Refrigerante 1 real- Tem em metro?- Só o quilo!

Briga de vizinhas

Ai, que pregui...

Porta “transparente”?

Quem quer refri?

Artes dos pequenos leitores

Ação social na Vila do João

“Algum lugar”

Envie seu desenho, foto, poesia, piada, receita ou sugestão de matéria.

Rua Sargento Silva Nunes, 1.012 – Nova Holanda Tel.: 3104-3276 – E-mail: [email protected]

O Diogo, de 10 anos, aluno da Escola Municipal Tenente General Napion, do Parque Roquete Pinto,

nos enviou mais um super dese-nho, feito por ele no último dia 14

de junho. Lindo! Parabéns!A � gura retrata o líder dos Thun-

derCats, Lion-O. E o outro, a Espa-da de Thundera.

Curtam também este desenho do Alessandro da Silva, aluno do Ciep Elis Regina, na Nova Holanda. Cheio de estilo! Parabéns!

No sábado, 29 de junho, várias atividades aconteceram na Vila do João, como tratamento de cabelo,

penteados afros, aferição de pressão e veri� cação de glicose, com apoio do Núcleo de Socorristas da Maré (Nuso-mar). O evento, intitulado Cruzada Só

Com Paz Jesus, foi organizado pelo Conselho de Ministros Evangélicos

do Complexo da Maré (Comebol), e contou com 15 denominações religio-

sas. Foi o terceiro evento desse tipo na Maré, que foi encerrado com uma

marcha vindo do Parque União.

Poesia enviada porAlex Bom� m Fernandes

Portanto, nem seiOnde estava meu ser.Esquecido algumas coisas,Lembrado outras,Tentando esquecer tantas.

pra Maré participar do Maré

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da sua comunidade!Busque um exemplar na Associação de

Moradores

todos os meses!

Diogo dos Santose Hélio Euclides

VEM FAZER O MARÉCOM A GENTE !

Caminhava sem destinoE mesmo com uma vontadeLouca de voltar à realidade,Permanecia iludido com asIn� uências do amor.

E era tudo muito complexo E desigual.Não falávamos com os lábios,Conversávamos pelo pensamento.Eu, ali perdido;Pedindo sua orientação eInseguro de tudo queNos cercava.

Ação social na Vila do João

da de Thundera.

Curtam também este desenho do Alessandro da Silva, aluno do Ciep Elis Regina, na Nova Holanda. Cheio de estilo! Parabéns!

Estávamos assim,Perdidos e des� gurados,Caminhando ao encontroDo nosso ser...

Hélio Euclides