View
107
Download
4
Category
Preview:
DESCRIPTION
Gravidez na Adolescência
Citation preview
Departamento de Sociologia
A Gravidez na Adolescncia: Percursos Interrompidos
Denise Alexandra de Castro Mirrado Tomaz
Dissertao submetida como requisito parcial para obteno do grau de
Mestre em Famlia e Sociedade
Orientadora:
Doutora Maria das Dores Guerreiro, Professora Auxiliar,
ISCTE-IUL
Outubro, 2010
Agradecimentos
Agradeo, em primeiro lugar, Professora Maria das Dores Guerreiro, por ter aceite
orientar este trabalho, bem como pelo sentido crtico apresentado e interesse
manifestado em todos os momentos.
Um agradecimento sentido Empresa Municipal de Habitao Social de Cascais
Emgha, na pessoa da Presidente do Conselho de Administrao, Dra. Conceio Carp,
por prontamente ter aceite a realizao do presente estudo.
s jovens que participaram no estudo, muito obrigada! Sem o vosso testemunho este
trabalho no existiria.
Um obrigada especial minha colega e amiga Zelinda Santos, por todos os momentos
em teve uma palavra de incentivo a horas tardias, enquanto caminhvamos nesta
odisseia. Obrigada pelo apoio e pela amizade!
Aos meus pais agradeo o apoio incondicional de sempre Este passo na minha
formao acadmica fruto do vosso constante investimento em mim! Obrigada!
Ao meu marido, agradeo o apoio incondicional manifestado desde o primeiro
momento! Jamais teria conseguido sem a tua ajuda e incentivo Filhote, a mam j no
tem de ir para a escola! Agora o tempo todo para a nossa famlia!
Por ltimo, um agradecimento ao ISCTE e especialmente ao Departamento de
Sociologia, pela oportunidade de cimentar e aumentar conhecimentos na rea da
Sociologia da Famlia.
ndice Geral
ndice
ndice de Quadros ------------------------------------------------------------------------------- 2
I Introduo ------------------------------------------------------------------------------------ 3
II Enquadramento Terico ------------------------------------------------------------------ 6
III Metodologia ------------------------------------------------------------------------------- 19
1. Objecto de estudo
2. Hipteses de Estudo
3. Dimenses de Anlise
4. Mtodo e Tcnicas
IV Anlise Emprica ------------------------------------------------------------------------- 22
V Consideraes Finais --------------------------------------------------------------------- 36
VI Referncias Bibliogrficas ------------------------------------------------------------- 38
VII - Anexos ------------------------------------------------------------------------------------ 49
ndice de Quadros
Quadro 1 Interrupes voluntrias da gravidez entre os anos 2007 e 2009
Quadro 2 N de nascimentos de crianas de mes com idade inferior a 20 anos
em pases da Unio Europeia
Quadro 3 Evoluo do n de interrupes voluntrias da gravidez em pases
da Unio Europeia
Quadro 4 Caracterizao social das entrevistas
I. Introduo
O fenmeno da gravidez na adolescncia tem assumido nos tempos que correm maior
visibilidade, embora seja do conhecimento geral que tal no se trata de um problema da
actualidade. visto na nossa sociedade como um problema de ndole social, atendendo
a que muitas vezes a ele esto associadas situaes como o abandono escolar precoce, a
baixa escolaridade, a pobreza, o desemprego ou at mesmo actividades laborais pouco
qualificadas, entre muitas outras caractersticas que, por sua vez, so tpicas da grvida
adolescente, bem como dos seus progenitores e, at mesmo, dos seus companheiros.
Em Portugal, at Abril de 2007, qualquer adolescente que engravidasse, em
termos legais, no teria outra opo que no levar a gravidez a termo e s
posteriormente se afeririam as medidas a tomar relativamente ao beb, uma vez que a
figura do aborto no estava previsto no corpo da lei, a no ser em casos especiais,
conforme ilustrado na Lei n 6/84 de 11 de Maio, em especfico na alterao ao artigo
140 do Cdigo Penal que contempla o seguinte:
1.No punvel o aborto efectuado por mdico, ou sob a sua direco, em
estabelecimento de sade oficial ou oficialmente reconhecido, e com o consentimento
da mulher grvida quando, segundo o estado dos conhecimentos e da experincia da
medicina:
a) Constitua o nico meio de remover o perigo de morte ou de grave e irreversvel leso
para o corpo ou para a sade fsica ou psquica da mulher;
b) Se mostre indicado para evitar perigo de morte ou de grave e duradoura leso para o
corpo ou para a sade fsica ou psquica da mulher grvida, e seja realizado nas
primeiras 12 semanas de gravidez;
c) Haja seguros motivos para prever que o nascituro venha a sofrer, de forma incurvel,
de grave doena ou malformao, e seja realizado nas primeiras 16 semanas de gravidez;
d) Haja srios indcios de que a gravidez resultou de violao da mulher, e que seja
realizado nas primeiras 12 semanas de gravidez;
2. A verificao das circunstncias que excluem a ilicitude do aborto deve ser
certificada em atestado mdico, escrito e assinado antes da interveno por mdico
diferente daquele por quem, ou sob cuja direco, o aborto realizado.
3. A verificao da circunstncia referida na alnea d) do n 1 depende ainda da
existncia de participao criminal da violao.
A Lei n16/2007, de 17 de Abril Excluso de ilicitude nos casos de
interrupo voluntria da gravidez veio introduzir alteraes bastante significativas
em relao possibilidade de se prosseguir ou no com uma gravidez no planeada e
no desejada.
O presente estudo tem como objectivo perceber de que modo a introduo da Lei
n 16/2007 de 17 de Abril, relativa legalizao da Interrupo Voluntria da Gravidez
(IVG) at s 10 semanas por opo consciente da mulher, produziu ou no efeitos no
nascimento de nados vivos de mes adolescentes entendidas estas como todas as
jovens entre os 12 e os 19 anos pretendendo-se tambm conhecer as implicaes que
as opes tomadas representam nos seus percursos de vida.
De uma forma sucinta, podemos considerar os seguintes objectivos do estudo:
Aferir a representatividade da problemtica da gravidez na adolescncia em
Portugal;
Contextualizar a problemtica em anlise no concelho de Cascais, em especfico
nos bairros de habitao social geridos pela EMGHA Empresa de Gesto e
habitao Social de Cascais EM, SA;
Perceber que motivaes compulsam as adolescentes em prosseguir com a
gravidez e consequentes implicaes nos seus percursos de vida.
Metodologicamente procedeu-se ao recurso anlise quantitativa, passando
sobretudo pela pesquisa bibliogrfica, anlise de dados documentais, aplicao de
entrevistas semi-estruturadas a 17 adolescentes (grvidas ou com filhos nascidos a partir
de Novembro de 2007) e ainda recolha e anlise de dados.
Atendendo abrangncia nacional da temtica, no descurando uma anlise aos
dados relativos situao do pas, delimitou-se o raio de aco do estudo aos inquilinos
residentes em fogos municipais sitos no concelho de Cascais e geridos pela EMGHA.
De acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatstica (INE), a taxa de nados
vivos de filhos de adolescentes tem vindo a diminuir ao longo dos ltimos 5 anos, no
entanto, Portugal continua a ser um dos pases da Unio Europeia com taxas superiores
relativamente a este problema social.
Se considerarmos as implicaes pessoais, familiares e sociais das gravidezes
em jovens adolescentes, facilmente entendemos que se trata de uma temtica que
continua a ter bastante relevncia na sociedade contempornea e para a qual todos os
contributos so vlidos.
Ao pensar nesta questo, rapidamente assumimos que estas jovens tm como
que percursos de vida interrompidos. Interessa perceber se quem vivncia essas
situaes tambm tem a mesma viso ou se, por outro lado, considera que o nascimento
de um filho, quando muitas delas ainda so umas crianas, a forma que tm de
atriburem um sentido s suas vidas e em que medida se vm confrontadas a ter de
alterar objectivos h muito traados ou em algumas (muitas situaes) definir e
construir um projecto de vida, mais ainda quando actualmente existe outra opo
legalmente instituda.
II. Enquadramento terico
incontornvel recorrer a estudos sobre famlia no mbito deste projecto de pesquisa,
uma vez que a adolescente que passou pela experincia da gravidez no pode ser
dissociada da famlia que contribuiu para o seu processo de socializao. Importa, no
entanto, frisar que no se pretende minimizar a importncia da escola, dos pares e do
meio envolvente no processo de socializao de qualquer indivduo.
Famlia, no sentido restrito de agregado familiar, poder, assim, ser definida
como um grupo de duas ou mais pessoas relacionadas por laos de sangue, por aliana
ou por outro tipo de afinidades, que residam em conjunto, partilhem um oramento
comum, se apoiem mutuamente e possam prestar cuidados a crianas ou outros
coabitantes dependentes (Guerreiro, 2001).
De acordo com Murdock, a famlia define-se como um grupo social que se
caracteriza pela residncia em comum, pela cooperao econmica e pela reproduo
(cit. in Barata, 1998).
Robert Burguess, terico da corrente da Escola de Chicago, consensualmente
considerado o pai da Sociologia da Famlia americana, apresenta a famlia como uma
unidade de personalidades em interaco, que existe para a gratificao mtua dos seus
membros que esto unidos por uma coeso interna, mais do que por presses externas.
Importa referir que, reportando ao contexto histrico que se vivia, a crise de 1929,
Burguess conseguiu aferir que existiam famlias em inter ajuda e que conseguiam
ultrapassar as adversidades. Se considerarmos que a famlia transversal a qualquer
cultura ou religio, h indubitavelmente necessidade de se assumir que ao longo dos
tempos tm sido variadas as formas de abordagem e de anlise da mesma.
Contudo no ser necessrio recuar-se muito na histria da Humanidade para se
perceber que realidades como a famlia e as relaes que se estabelecem no seio do
mesmo, estiveram, esto e estaro sempre em constante mutao, at porque essencial
no esquecer que a vida faz-se de mudana
As transformaes sociais tm sido regulares ao longo dos ltimos 30/40 anos.
Noutros tempos, a famlia era o pilar da sociedade, o centro de todas as aces e no seio
da qual eram discutidas todas as decises, sempre com maior destaque atribudo ao
papel do homem, a quem cabia as grandes decises. Tratava-se de uma estrutura assente
num regime patriarcal exercido com grande controlo social. Contudo esta realidade
sofreu alteraes e no seio da sociologia da famlia, o grupo domstico deixa de ser
considerado como um todo cujos comportamentos so julgados em funo apenas do
emprego do chefe de famlia, e os cnjuges reencontram, ao nvel da anlise sociolgica,
uma autonomia de comportamento (Segalen, 1999).
A relao dos indivduos com a sociedade teve inevitavelmente de se alterar,
uma vez que a relevncia outrora conferida ao todo, ao grupo, famlia alargada, passa
agora a centralizar-se no indivduo, com consequncias imediatas para o processo de
modernizao das famlias. Se por um lado, existem os que atribuem a estas alteraes,
responsabilidades acrescidas, nomeadamente ao nvel do comportamento de risco nos
jovens, por outro lado so inmeros os aspectos positivos destas transformaes.
De acordo com a teoria do controle social de Travis Hirschi, a famlia crucial
em todo o processo de socializao e de estabelecimento de relaes afectuosas, uma
vez que a ausncia das mesmas poder constituir-se como causa do desvio. Esta
situao verifica-se, uma vez que tendo em conta que no existem laos afectivos entre
os pares, no existe qualquer motivo que leve os indivduos a terem de agradar quem
lhes mais prximo. Logo de acordo com esta teoria, as ligaes sociais dbeis, podem
culminar em prticas desviantes. precisamente esta falta de apego, a quebra de laos
que fazem com que as relaes entre os elementos que compem os agregados
familiares se tornem cada vez mais frgeis e distantes. Importa ressalvar que esta
fragilidade transversal a todos os estratos sociais, embora os efeitos mais imediatos
sejam, obviamente mais visveis nos agregados familiares mais desprotegidos.
Embora no possamos incorrer em generalizaes tendenciosas, de facto,
verifica-se que uma parcela significativa das adolescentes que engravidam proveniente
de agregados familiares mais frgeis e socialmente desfavorecidos. No entanto, importa
tambm reter que as adolescentes grvidas das classes mdia/alta recorrem a outro tipo
de servios e nem to pouco so confrontadas com situaes de to grande
vulnerabilidade social.
Muitos estudos tm sido feitos sobre as famlias destas adolescentes. Grande
parte chega-nos dos Estados Unidos da Amrica, onde se observou que a maioria das
adolescentes provm de famlias com um baixo nvel socioeconmico e de habitaes
superpovoadas e promscuas, o que as leva a passarem muitas horas fora de casa. Outras
provm de famlias com melhor nvel, mas onde, em geral, o equilbrio est alterado, ou
por divrcio dos pais, ou pela ausncia da figura de um dos progenitores, mais
frequentemente da figura paterna (Almeida, 1987).
A citao supra citada, embora j no muito recente, continua bastante actual,
uma vez que a maternidade na adolescncia, tem vindo a assumir contornos de
problema social, inclusivamente devido s repercusses que estes acontecimentos tm
na vida das adolescentes, nas suas famlias e na sociedade em geral.
Assim, podemos afirmar que a gravidez na adolescncia pode estar associada a
variados factores, como: as transformaes da sociedade, nomeadamente a maior
liberalizao da sexualidade; os factores socio-econmicos, como pertencerem a um
agregado familiar multiproblemtico, residirem em contextos de pobreza e de excluso
social, com grande destaque para os baixos nveis de escolaridade e pouco
conhecimento das prticas contraceptivas (apesar do grande investimento na rea); e
ainda a factores psicolgicos, onde a gravidez poder funcionar como uma forma de
compensao e de preenchimento de um vazio de sentimentos e de afectos.
curioso que, de acordo com alguns registos da literatura, consegue-se aferir
que muitas adolescentes encaram os seus bebs como uma forma de compensao
narcsica, pela vida dura e m que tiveram De alguma forma, conseguem assim ter
algum que as ama incondicionalmente e que pelo menos numa primeira fase da vida,
depende delas (mes). Estes bebs possibilitam aquisio de status. A minha me
sempre me tratou mal, por isso que eu tive este bebe. Assim, pelo menos, posso
demonstrar e manifestar todo o meu amor por ele, um sentimento que nunca ningum
manifestou por mim (Musick, 1993, traduo livre).
Alheias s alteraes que a condio de mes lhes ir provocar no percurso de
vida, poder ser interessante perceber o que leva estas jovens a prosseguir com a
gestao, considerando que em Portugal, desde Abril de 2007 (Lei n 16/2007, de 17 de
Abril), j possvel proceder-se interrupo voluntria da gravidez, por opo da
mulher, at s 10 semanas de gestao.
Independentemente das motivaes, percebe-se claramente que o papel da
famlia de grande destaque em todo este processo e certamente existiro situaes em
que houve um manifesto apoio s adolescentes, e outras, porm, em que poder ter sido
necessrio recorrer a auxlio extra-familiar.
A adolescncia trata-se de um perodo da vida que merece toda a ateno social,
atendendo a que desta transio da infncia para a idade adulta, podem advir, ou no,
problemas futuros para o desenvolvimento dos indivduos em causa. O termo
adolescncia, provm do latim adolescere que significa crescer, fazer-se
homem/mulher (Muuss, 1979), sendo que apenas a partir do final do sculo XIX foi
entendida como uma etapa distinta do desenvolvimento. uma fase da vida que pode
ser definida pelas suas dimenses psicobiolgica e histrica, poltica, econmica, social
e cultural. A definio da Organizao Mundial de Sade (OMS), refere-se dimenso
biolgica e psicolgica da adolescncia.
Actualmente a adolescncia vista como um perodo balizado entre a infncia e
a idade adulta, no qual ocorrem inmeras transformaes, quer fsicas, quer psicolgicas,
que propiciam o surgimento de comportamentos irreverentes e o questionamento dos
modelos e padres infantis que so necessrios ao prprio crescimento.
Para a OMS, a adolescncia compreende a faixa etria que vai dos 10 aos 19
anos. Caracteriza-se por mudanas fsicas aceleradas e caractersticas da puberdade,
diferentes do crescimento e desenvolvimento que ocorrem em ritmo constante na
infncia. Essas alteraes surgem influenciadas por factores hereditrios, ambientais,
nutricionais e psicolgicos (OMS, 1965).
De acordo com Littr (Loureno, 1998) a partir do perodo da adolescncia que
os indivduos se tornam aptos a procriar. Para Justo (2000) o contexto social em que os
adolescentes crescem tambm palco de inmeras modificaes ligadas directamente
ao fenmeno da reproduo, pois uma das facetas que mais se desenvolveu na nossa
sociedade foi a sexualizao da cultura.
A tendncia actual de iniciar mais precocemente a actividade sexual aumentou,
como bvio, o risco de maternidade na adolescncia (Canavarro & Pereira, 2001 cit in
Canavarro, 2001). Para justificar este facto, podemos, de forma geral, apresentar
factores como a maior disponibilidade de contracepo, a crescente erotizao de
diversos aspectos sociais, a mudana de valores relativamente sexualidade, a famlia,
aos padres da nupcialidade e a prpria fase da adolescncia (Hardy e Zabin, 1991;
Stevens-Simon e Kaplan, 1998 cit in Canavarro, 2001).
Ao abordar-se a questo da gravidez na adolescncia imprescindvel
centrarmo-nos e debruarmo-nos sobre o modo de vida dos adolescentes, a sua classe
social, a sua cultura e costumes, para alm dos aspectos psicolgicos inerentes prpria
condio de adolescente.
Uma rapariga que engravida durante a adolescncia considerada em risco de
excluso social, pelo risco em termos de sade e pelo facto de a maioria destas jovens se
encontrarem inseridas em famlias desestruturadas, possurem problemas emocionais e
scio-econmicos e ausncia de uma educao sexual adequada. Depreende-se pois, que
surjam repercusses ao nvel da prpria adolescente, do pai da criana, da famlia,
nomeadamente, dos pais do jovem, do meio social, da sade da me e da criana que
nasce. Alis, podemos afirmar que as gravidezes no desejadas representam o fracasso
das estruturas sociais em providenciar alternativas adequadas para que essas pudessem
ser evitadas. Autores referem que pode se atribuda uma responsabilidade social pelo
crescente nmero de gravidezes no planeadas/desejadas, na medida em que a sociedade
no providencia a informao necessria s mulheres acerca do seu corpo, sexualidade,
reproduo e nascimentos, atravs do acesso a mtodos contraceptivos e servios
eficientes (Silva, 1998).
A maior parte dos estudos disponveis, conduzidos em Portugal e nos restantes
pases ocidentais, d conta que, se bem que em todos os estratos sociais existam
adolescentes a engravidar, tendencialmente encontramos com maior taxa de
probabilidade uma adolescente grvida em famlias provenientes de meios socialmente
mais desfavorecidos. O mesmo dizer: habitao carenciada ou do tipo social;
famlias numerosas (grandes fratrias e vrios nveis familiares agregados no mesmo
agregado familiar); nvel de escolaridade baixo ou nulo (tanto para a adolescente que
engravidou, como para com os que a rodeiam); formao profissional inexistente (tanto
para a adolescente como para os seus progenitores); desemprego crnico, etc. (Justo,
2000). Muitas das adolescentes, ao engravidarem, j no se encontram inseridas em
qualquer sistema de ensino nem to pouco possuem um projecto de vida definido
(Canavarro e Rolim, 2000). Nveis elevados de envolvimento com a escola esto
associados a um adiamento da experincia da gravidez. Jovens com nveis mais
elevados de desempenho e de aspiraes escolares tm menor probabilidade de serem
sexualmente activas e maior probabilidade de utilizarem mtodos contraceptivos
(Manlove, 1998, in Canavarro & Pereira, 2001).
As condies sociais e econmicas desfavorveis com maior frequncia
assinaladas como estando na gnese da gestao na adolescncia so as seguintes:
pobreza, baixos nveis educacionais e a excluso do sistema escolar e do emprego.
Impor referir que qualquer uma das condies anteriormente assinaladas so
regularmente citadas em estudos sobre a temtica, realizados quer no nosso pas
(Almeida, 1987; Grande, 1997; Jongenelen, 1998, Pacheco, Costa e Figueiredo, 2003,
Pacheco, Figueiredo, Costa e Magarinho, 2003, Silva e Nbrega, 1983, cit in Figueiredo,
et al. 2006), quer nos restantes pases ocidentais (e.g. Alvarez, Burrows, Zvaighat e
Santiago, 1987; Coley e Chase-Lansdale, 1998; Stevens-Simon e McAnarney, 1996, cit
in Figueiredo, et al., 2006).
A pobreza um factor antecedente especialmente importante, chegando mesmo
a existir alguns autores que a apontam como, talvez o melhor preditor da gravidez na
adolescncia (cit in Canavarro & Pereira, 2001). A pobreza no propicia um ambiente
familiar de harmonia e recursos suficientes que permitam cuidados parentais adequados.
Pelo contrrio, fomenta um ambiente comunitrio e mais desfavorecido (Canavarro &
Pereira, 2001). Experincias de vida associadas com a pobreza, a alienao da escola,
modelos de parentalidade fora do casamento, desemprego, falta de oportunidades
educativas e ausncia de perspectiva de carreiras estveis (Coley e Chase-Lansdale,
1998, cit in Canavarro & Pereira, 2001), so aspectos que contribuem para percepcionar
os custos de uma gravidez precoce como baixos.
Os factores sociais e culturais so fulcrais na forma como a gravidez na
adolescncia vivenciada. Muitos destes factores restringem a liberdade pessoal e
social das jovens e a sua capacidade de escolha e construo em relao ao seu projecto
de vida, atendendo a que muitas destas jovens no planeavam nem desejavam ser mes
to cedo. A questo escolar um bom exemplo destas restries na medida em que ao
no atingirem os resultados pretendidos, iniciam precocemente actividade laboral, numa
situao bastante precria (Almeida, 1987).
Estudos mais recentes verificam que iguais circunstncias desfavorveis so
facilmente constatveis junto dos pais dos bebs das mes adolescentes (Ekeus e
Christensson, 2003; Pirog-Good, 1995 cit in Figueiredo et al., 2006).
Ambiente familiar caracterizado por stress, presso e conflito (Ravert e Martin,
1997, cit in Canavarro & Pereira, 2001), maior disfuncionalidade e rigidez (Garrett e
Tdwell, 1999; Loureno, 1996, cit in Canavarro & Pereira, 2001), abuso fsico, sexual e
emocional e baixa qualidade da relao entre pais e filhas, podem ser factores de risco
de uma gravidez precoce (Canavarro & Pereira, 2001). Verifica-se que o risco de uma
gravidez na adolescncia aumenta exponencialmente medida que aumenta o nmero
de condies adversas durante a infncia, as quais tm um efeito cumulativo e so, na
opinio de alguns autores, as principais circunstncias de risco para a gestao na
adolescncia (Hillis, Anda, Felitti, Marchbanks e Marks, 2004, in Figueiredo et al.,
2006).
Importa ainda mencionar o factor da transgeracionalidade do fenmeno da
gravidez na adolescncia, atendendo a que estudos comprovam que filhas de mes
adolescentes com histrias de gravidez na adolescncia (Manlove, 1998, in Canavarro
& Pereira, 2001; Card, 1981; Furntenberg, Levine & Brooks-Gunn, 1990) e irms de
mes adolescentes (Records, 1993, in Canavarro & Pereira, 2001) tm maior
probabilidade de serem tambm elas, mes adolescentes. Numa perspectiva social
poder-se-ia explicar a gravidez na adolescncia enquanto assumpo, no consciente, de
um novo papel na famlia/comunidade, isto , tal como anteriormente referido, um papel
idntico ao das suas mes, irms e vizinhas, repetindo o ciclo de excluso e
evidenciando comportamentos imediatistas, de no planeamento, que conduzem
manuteno dos ciclos de excluso pela no aquisio de competncias de auto-
determinao e de construo de projectos de vida.
Em termos de acompanhamento mdico, no mbito das consultas de pr-natal,
tambm frequente verificar-se que em muitos casos as gravidezes no so vigiadas o
que por si s acarreta srias consequncias tanto para as futuras mes como para os
bebs. Consequentemente as grvidas adolescentes apresentam maior predisposio
para partos antes de fim de tempo, com o nascimento de bebs com pesos baixos, e
muitas vezes com graves problemas de sade associados (Chandra, Schivello, Ravi,
Weinstein & Hook, 2002).
Devido ao desenvolvimento fsico, especfico da adolescente e grande
probabilidade de existncia de problemas orgnicos durante a gestao, no parto e no
ps-parto, a OMS qualificou de alto risco as gravidezes em adolescentes. Este problema
assenta essencialmente na deficiente maturidade biolgica das adolescentes, menores de
15 ou 16 anos, cujos bebs tm maior probabilidade de nascer prematuros, com baixo
peso para a sua idade gestacional, com maior mortalidade nos dias a seguir ao parto e no
primeiro ano de vida. Alguns autores referem ainda que estas crianas podem estar mais
susceptveis a sofrerem de problemas neurolgicos, epilepsia, paralisia cerebral, surdez
e cegueira.
Nas adolescentes mais velhas, os aspectos psicolgicos e sociais apresentam
maior relevncia, associados a todas as questes inerentes s mudanas que da adviro.
Devido a todas as condicionantes acima referidas, Callau (1985) caracteriza a gravidez
na adolescncia como de alto risco, pelas suas dificuldades obstetrcias, psicolgicas e
sociais.
Conseguir equilibrar a gravidez/maternidade com o prprio desenvolvimento,
exige maturidade e um grande apoio familiar e social. A maternidade condicionada
pelas caractersticas do filho, pelo tipo de recursos e suportes sociais existentes e pelas
caractersticas psicolgicas (Sampaio, 1998). So estes suportes existentes que vo
influenciar o futuro sustentado da jovem, do seu filho e do pai, da a sua elevada
importncia e necessidade de existncia.
Face a este problema social transversal a todas as sociedades, importa tentar
aferir algumas respostas para o facto de na poca dos anticoncepcionais existirem ainda
tantas adolescentes a engravidar? Muitos autores apontam que a habilidade ou a falta
dela, das adolescentes usarem os meios anticoncepcionais de forma adequada est
intimamente relacionada com a satisfao das necessidades psicolgicas.
Do ponto de vista psicolgico, a gravidez e o feto podem representar uma
tentativa de superar um dfice narcsico e o preenchimento de um vazio dele resultante.
A necessidade imperativa que se traduz no desejo de um beb, resulta de desejos
psicolgicos insatisfeitos. A gravidez, neste contexto, denota imaturidade psquica,
uma forma de auto satisfao quando outras possveis compensaes no funcionam,
como por exemplo, o sucesso escolar.
Isabel Leal (1990) chama a ateno para o facto de a gravidez na adolescncia
poder ser uma forma de confirmao da feminilidade da adolescente, mas no
corresponder a nenhum projecto de ser me. Por isso importante ter em conta que
gravidez e maternidade so noes completamente distintas e que por si s com
diferentes sentimentos e sensaes associados. A gravidez refere-se ao perodo, de
mais ou menos 40 semanas, que medeia entre a concepo e o parto. Nesta fase, toda a
espectacularidade vai para as alteraes fsicas. Estas acarretam, obviamente, vivncias
psicolgicas particulares. Entretanto, as repercusses sociais deste acontecimento so,
nas gravidezes desejadas, reduzidas. Tudo se passa dentro da prpria mulher (Leal,
1990). A maternidade assume-se como sendo um projecto de longo prazo (no mnimo
18 anos), envolvendo a suficiente prestao de cuidados e ddiva de amor que
possibilitem um desenvolvimento sadio e harmonioso, criana recm-nascida. Como
projecto de longo prazo que , distancia-se em quase tudo do nascimento biolgico que
a gravidez. Requer que, mais do que se deseje ter um filho, se deseje ser me. Ora, o
desejo de ter um filho e o desejo de ser me, no so desejos sempre coincidentes (Leal,
1990).
Aspectos de origem inconsciente tambm devero ser considerados na
compreenso da gravidez na adolescncia, sendo que as jovens podem utilizar a
gravidez como forma de auto-afirmao, preenchimento de carncias afectivas,
conseguir a ateno dos pais para a desestruturao da famlia entre muitos outros
motivos (Guimares, 2001). Tratando-se a adolescncia de uma fase desorganizao
psquica, a adolescente no possui ainda a capacidade de organizar os seus conflitos e
aspectos primitivos que emergem e ao lidarem com estes impulsos agressivos e sexuais,
ao invs de elabor-los internamente, eles, muitas vezes descarregam-se numa aco
para satisfazerem os seus desejos mais imediatos.
Borges (sd, cit in Melo, 2001) verificou, ao longo de uma pesquisa que
desenvolveu, que muitas adolescentes engravidam porque alimentam um sonho de
serem reconhecidas como mulheres, porque acreditam que isso que o namorado quer,
revelando que a socializao e valorizao da menina passa pela maternidade futura,
pois o papel de me grandemente valorizado e desejado na sociedade. Como tal, a
gravidez pode permitir adolescente a possibilidade de estruturar a sua vida a partir de
uma perspectiva nova, ainda que no planeada.
Os avanos na medicina tm permitido ao longo dos tempos, mudanas ao nvel
das respostas disponveis no mbito das gravidezes no planeadas. Exemplo disso foi a
introduo da plula do dia seguinte no mercado portugus, ao abrigo da Lei n 12/2001,
de 29 de Maio o que veio permitir uma interveno imediata aquando suspeita de
possibilidade uma gravidez no planeada. No entanto, j anteriormente, em 1998
aquando realizao do referendo acerca da legalizao do aborto at s 10 semanas de
gestao (Concorda com a despenalizao da interrupo voluntria da gravidez, se
realizada, por opo da mulher, nas 10 primeiras semanas, em estabelecimento de sade
legalmente autorizado?), tentava-se dar passos no sentido de procurar respostas mais
adequadas, do que as praticadas muitas vezes em condies desumanas e com serias
implicaes na sade e bem-estar das mulheres. Importa relembrar que nesse primeiro
referendo sobre o aborto, os resultados ficaram-se pelos 50,9% de respostas para o no
(i.e. no concordando com a despenalizao) contra 49,1% de respostas positivas. Em
Maro de 2004 foram discutidos na Assembleia da Repblica projectos de resoluo
com vista realizao de novo referendo nacional, todos eles rejeitados. Na mesma
ocasio foram igualmente rejeitados projectos de lei sobre a despenalizao da IVG,
tendo sido aprovada a Resoluo n 28/2004 referente a medidas de preveno no
mbito da IVG, centradas antes na educao, apoio maternidade e planeamento
familiar (Provedoria da Justia, 2004).
Atendendo especificidade do assunto em questo e tambm ao facto de os
resultados do primeiro referendo terem deixado bem claro que a vitria do no em
nada se revelou inequvoca, aps nova auscultao em 2007, foi aprovada a Lei n
16/2007 de 17 de Abril que regulamente a excluso de ilicitude nos casos de interrupo
voluntria da gravidez. Para alm dos casos em que j estava prevista a possibilidade de
interrupo da gravidez, esta lei veio possibilitar que a IVG fosse realizada, por opo
da mulher, nas primeiras 10 semanas de gravidez (corpo da Lei n 16/2007, de 17 de
Abril), em estabelecimento autorizado para o efeito.
Ora, atendendo a esta alterao legislativa, torna-se interessante aferir de que
forma poder ter infligido repercusses ao nvel do nmero de nascimentos de bebs de
mes adolescentes. A partir de Abril de 2007, ficou acessvel a qualquer
adolescente/mulher a possibilidade de interromper a gravidez at s 10 semanas de
gestao, ou seja, em teoria, j no deveriam existir bebs a nascer que no apenas os
desejados. No entanto, bem sabemos que tal no se verifica desta forma to taxativa e
da considerarmos pertinente aferir se de facto, a alterao da lei produziu ou no efeitos
no nmero de nascimentos de filhos de mes adolescentes e em que moldes estas
consubstanciam as suas opes.
De acordo com dados da Direco Geral de Sade (DGS) o nmero de
interrupes voluntrias da gravidez, legalmente efectuadas em hospitais durante o ano
2007 foi de 6107, contrariando uma tendncia de valores consideravelmente inferiores
(ver quadro na pgina seguinte). Os valores aumentam exponencialmente quando
apresentados os dados referentes ao ano 2008, em que as interrupes voluntrias da
gravidez atingiram as 18.014. No ano 2009 registou-se um aumento de cerca de 937
intervenes, resultando num total de 18951. O aumento das interrupes voluntrias da
gravidez tem que ser analisado com cuidado e inserido no contexto das alteraes
legislativas, em particular de 2006 para 2007.
No que concerne aos dados especficos das interrupes voluntrias da gravidez
no concelho de Cascais, foi possvel aferir atravs de informao disponibilizada pela
DGS que apenas existem dados para as IVG concretizadas no ano 2007, no Centro
Hospital de Cascais, e que correspondeu a um total de 34. Para os anos de 2008 e 2009
no existe informao disponvel atendendo a que por motivos deontolgicos, o corpo
mdico do Centro Hospital de Cascais declarou-se objector de conscincia, no
efectuando IVG. Face a esta situao as mulheres so encaminhadas para outras
unidades de sade pblicas e privadas devidamente certificadas para o efeito, tornando
inquantificvel o nmero de IVG realizadas a mulheres residentes em Cascais.
Relativamente faixa etria, e no ano 2007, a IVG em jovens com idades
inferiores a 20 anos representou um total de 662. Para o ano de 2008 registou-se um
valor total de 2.182 interrupes voluntrias da gravidez; e finalmente, no ano transacto,
2.357 jovens com idade inferior a 20 anos recorreram aos servios especializados a fim
de proceder IVG. A ttulo meramente informativo, importa referir que, durante os anos
2007 a 2009, 250 jovens com idades inferiores a 15 anos recorreram aos servios de
sade a fim de efectuarem a IVG.
Quadro 1. Interrupes Voluntrias da Gravidez entre os anos 2007 e 2009
Fonte: Direco Geral de Sade, Ministrio da Sade
Relatrios dos registos das interrupes da gravidez ao abrigo da Lei 16/2007 de 17 de Abril
Ano 2007 2008 2009
Classe etria N IVG N IVG N IVG
< 15 27 97 126
15 19 625 2085 2231
20 -24 1307 3876 4145
25 29 1345 4071 4228
30 34 1365 3882 3990
35 - 39 942 2709 2896
>= 40 477 1290 1332
Desconhecida 19 4 3
Total 6107 18014 18951
Panorama internacional e nacional do fenmeno da gravidez na adolescncia e
interrupo voluntria da gravidez
consensual que o fenmeno da gravidez na adolescncia continua a constituir na
actualidade, e de forma intensa, um problema para as sociedades ocidentais
industrializadas. Nos pases ocidentais, as taxas de prevalncia da gravidez e
maternidade na adolescncia so motivo de preocupao poltico-social. Os E.U.A
apresentam a mais elevada taxa de gravidez e maternidade na adolescncia (Soares et al,
sd).
A gravidez na adolescncia um dos problemas realados no relatrio sobre o
estado de sade dos jovens da Unio Europeia, uma vez que implica um aumento do
risco para o mau funcionamento social, econmico e de sade da me e do beb.
De acordo com os dados estatsticos mais recentes do Eurostat, que remontam a
informao relativa ao ano de 2006, a incidncia da gravidez na adolescncia tem vindo
a diminuir progressivamente. Contudo importante salientar que pases como a Frana
e a Romnia, ambos Estados Membro da Unio Europeia, apresentavam em 2006
valores da incidncia da gravidez em jovens at aos 19 anos, na ordem dos 23 mil
nascimentos, o que por si s revelador de que ainda h um longo caminho a percorrer
nesta rea.
Em Portugal, desde o ano de 1997 a 2006, verificou-se um acentuado
decrscimo do nmero de nados vivos de mes com idades inferiores a 20 anos,
apontando os ltimos dados disponveis para um valor de 4410 nascimentos.
Quadro 2. N de nascimentos de crianas de mes com idade inferior a 20 anos em pases da Unio Europeia
Pas 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
ustria 3033 2935 2985 2951 2956 2932 2787 2912 2723 2577
Alemanha -- -- -- -- -- -- -- -- -- 2582
Dinamarca 1544 1438 1333 1277 1219 795 768 732 763 --
Finlndia 1293 1339 1424 1502 1567 1602 1477 1509 1468 1359
Frana -- 19061 20624 22442 23302 22101 21521 21959 21808 21688
Itlia 7948 -- -- -- -- -- -- -- -- --
Reino Unido 4442 4477 4545 4007 3978 4003 -- 3507 3123 2724
Sucia -- 1478 1518 1605 1526 1576 1462 1470 1536 1617
Portugal 6933 6666 6668 6823 6101 6069 5535 5191 4965 4410
Fonte: http://appsso.eurostat.ec.europa.eu/
Ao nvel da evoluo do nmero de IGV em alguns pases da Unio Europeia,
verifica-se atravs dos dados disponveis, que o mesmo no teve tendncia para
aumentar a longo prazo. Foi na dcada de 50 que se iniciou o processo de introduo da
legislao destinada a permitir a interrupo da gravidez em condies seguras,
procurando dar resposta evidente percepo de que o aborto em condies
inapropriadas constitua um elevado risco para a sade das mulheres, provocando em
muitas situaes a sua morte.
Quadro 3. Evoluo do n de IVG em pases da Unio Europeia
Pas Ano de
despenalizao
Idade Fetal 10 anos depois ltima
avaliao
Tendncia
III - Metodologia
3.1 Objecto de estudo
Com a presente dissertao, pretende-se abordar a problemtica da gravidez na
adolescncia, analisada luz das recentes alteraes legislativas que conferem mulher
a possibilidade de at s 10 semanas de gestao, proceder interrupo voluntria da
gravidez (Lei n16/2007, de 17 de Abril). Pretende perceber-se o que impele estas
jovens a prosseguir com a gravidez, quando existe actualmente uma medida legal qual
poderiam recorrer para terem esses bebes.
Face ao objectivo delineado, delimitou-se o objecto de estudo a jovens com
idades compreendidas entre os 12 e os 19 anos, residentes em fogos municipais sitos
nos diferentes bairros camarrios do concelho de Cascais e geridos pela Emgha
Empresa de Gesto da Habitao Social de Cascais, SA., grvidas ou com filhos
nascidos a partir de Novembro de 2007.
Embora tenham sido interpeladas 21 jovens a fim de se constituram como
amostra para o estudo, apenas foi possvel aplicar o guio da entrevista semi-estruturada
a 17, umas vez que, no obstante as inmeras diligncias efectuadas, 4 das jovens
faltaram sistematicamente aos momentos agendados.
3.2 Hipteses de Estudo
A problemtica da gravidez na adolescncia, embora actualmente com contornos menos
acentuados, continua a apresentar-se como uma questo social que merece de todos ns,
toda a ateno e cuidado, na medida em a sua existncia acarreta consequncias para
todos os actores sociais.
Com a alterao da legislao, essas jovens que engravidam tm agora hiptese
de no prosseguir com a gravidez, interrompendo-a em equipamento legal e
devidamente certificado para o efeito, desde que a mesma seja detectada at s 10
semanas. Porm, ainda so muitas as histrias de vida com desfechos diferentes, e
porqu?
Alguns anos de experincia no terreno e aps contacto com realidades em que a
gravidez na adolescncia atinge propores acentuadas, apraz-nos apresentar as
seguintes hipteses:
a) As jovens optam por prosseguir com a gravidez, apenas porque sim!
Confrontadas com a notcia e, num rasgo de inconscincia decidem que est na
altura de serem mes.
b) A gravidez encarada como uma substituio / compensao emocional. As
jovens canalizam para este bebe sentimentos de dependncia e de proteco, que
as faz sentir insubstituveis. De repente surge algum nas suas vidas que
dependente inteiramente delas e que, por outro lado, ir am-las
incondicionalmente.
c) A gravidez entendida como um meio para constiturem a sua prpria famlia.
Ainda nos tempos de hoje, jovens consideram vivel alterar o percurso natural
da vida e iniciar uma vida conjugal, que deveria comear por dois elementos,
com trs elementos. A opo da manuteno da gravidez apresenta-se como uma
fuga famlia de origem e consequente inicio de uma relao conjugal, nem
sempre cimentada em valores partilhados.
3.3 Dimenses de Anlise
Com vista a obter informao abrangente acerca das vivncias das entrevistas, quer
antes da gravidez, quer depois da experincia da maternidade, foram colocadas questes
relativas s seguintes reas:
1. Contextos familiares de origem
2. Percursos escolares e profissionais
3. Conhecimentos e atitudes sobre sexualidade e gravidez
4. Informaes sobre a nova lei
5. Motivaes para a gravidez
6. Situao familiar presente
7. Trajectos passados e futuros
A informao obtida em cada uma das dimenses apresentadas permitiu traar um
perfil individual das vivncias de cada uma das entrevistas, com especial relevncia
para as implicaes nas suas vidas do nascimento de um filho.
3.4 Mtodos e Tcnicas
A opo metodolgica com recurso ao mtodo qualitativo, com anlise documental ao
nvel da recolha da documentao e de dados estatsticos.
A estratgia de recolha de informao passou inicialmente por uma recolha
bibliogrfica acerca da temtica. O papel da teoria tornar visvel o invisvel, definir
padres e conferir significados aos tipos de observaes que normalmente so
efectuados pelos investigadores sociais quando estudam as sociedades e as culturas
(Moreira, 1994).
No que diz respeito aos mtodos de recolha de dados, consideramos que face ao
objecto de estudo, a opo que maior enriquecimento iria acrescentar seria o recurso
aplicao de entrevistas semi-estruturadas s jovens.
Aps a aplicao do guio da entrevista procedeu-se a uma anlise detalhada e
individual de cada uma das 17 entrevistas, e posterior esquematizao dos aspectos mais
relevantes a fim de facilitar a anlise global da informao.
Atravs da entrevista semi-estruturada aplicada s 17 jovens foi possvel aferir
as diferentes percepes que apresentam sobre a gravidez na adolescncia, as reais
motivaes para a prossecuo da mesma e implicaes das suas escolhas.
IV - Anlise Emprica
4.1 Caracterizao das Entrevistadas
Actualmente as 17 entrevistas distribuem-se pelas faixas etrias das menores de 15 anos,
dos 15 aos 19 anos e dos 20 aos 24 anos. Porm importante frisar que as idades
apresentadas reportam actualidade, e no idade da concepo, uma vez que apenas
foram consideradas jovens que tenham sido mes ou que se encontrem grvidas, com
idade no superior a 19 anos. De facto, data da concepo os intervalos de idades a ter
em considerao para efeitos da anlise, situam-se entre as jovens menores de 15 e entre
os 15 e 19 anos. Importa reforar que apenas foram entrevistas jovens grvidas ou com
filhos com idades at aos 3 anos, uma vez que a nova lei apenas entrou em vigor em
Abril de 2007.
No que concerne nacionalidade, constata-se que das 17 entrevistadas, 10 so
de nacionalidade portuguesa. As restantes nacionalidades aqui representadas
correspondem s segundas e terceiras geraes residentes em Portugal, que de alguma
forma esto afastadas das suas razes culturais, contudo ainda no aculturadas. Face a
esta situao difcil tecer qualquer tipo de inferncia relativamente posio das
diferentes culturas relativamente gravidez e maternidade precoce.
Relativamente ao estado civil, as 17 jovens apresentavam uma situao de
solteiras, mantendo uma relao de namoro com os pais dos seus filhos, porm data da
experincia da gravidez 2 delas viviam em situao de unio de facto. Actualmente
apenas 6 das jovens mantm uma relao de namoro com os pais dos filhos e 1 mantm
a unio de facto.
A populao entrevistada reside em bairros municipais do concelho de Cascais e
cuja gesto do patrimnio encontra-se atribuda EMGHA.
N Nome
Fictcio
Data de
nascimento Nacionalidade Escolaridade
Idade na
gravidez
Idade
actual
N de
filhos
Idade da
me na 1
gravidez
Agregado Familiar
quando engravidou
Agregado Familiar
actual
Situao face ao
emprego
Fonte de
rendimentos
1 Isabel 27-09-1993 Angolana 7 ano 14 16 1 N/ sabe Sogros, namorado e
cunhado Sozinha com o filho Desempregada RSI
2 Carina 12-01-1990 Cabo Verdeana 6 ano 19 20 1 17 Me e 2 irms Me, 2 irms e filha Desempregada Famlia
3 Diana 16-07-1989 Guineense 11 ano 18 21 2 18 Pais e 5 irmos Pais, 5 irmos, 2
filhas e namorado Empregada Salrio
4 Susana 19-07-1992 Portuguesa 9 ano 17 18 1 21 Me, pai e irm Me, irm e filha Desempregada RSI
5 Carolina 30-07-1990 Portuguesa 9 ano 19 20 1 20 Mo, pai e 3 irmos Mo, pai,3 irmos e
filha Desempregada Famlia
6 Sara 14-09-1990 Portuguesa 7 ano 18 19 1 19 Sogro e namorado Sogro, namorado e
filho Desempregada RSI
7 Patrcia 26-09-1991 Portuguesa 9 ano 15 18 2 17
Pai, me, irmo,
cunhada, sobrinho e
filha
Pai, me, irmo,
cunhada, sobrinho e
2 filhas
Desempregada RSI
8 Elsa 31-10-1989 Cabo Verdeana 6 ano 18 20 1 N/ sabe Me e 2 irmos Me, 2 irmos e filho Empregada Salrio
9 Marta 09-10-1995 So Tomense 8 ano 13 14 1 16 Me e irmo Me, irmo e filho No se aplica Famlia
10 Tatiana 21-12-1990 Portuguesa 6 ano 18 20 2 18 Me, padrasto e
irmo
Me, padrasto, irmo
e 2 filhos Empregada Salrio
11 Cludia 30-04-1990 Portuguesa 12 ano 19 20 1 24 Me e 3 irmos Me, 2 irmos e filha Desempregada Famlia
Quadro 4 - Caracterizao Social das Entrevistadas
12 Marisa 15-11-1987 Portuguesa 9 ano 19 22 1 18 Me, irmo, 2 irms
e sobrinha
Me, irms, sobrinha
e filha Empregada Salrio
13 Maria 07-06-1990 Cabo Verdeana 12 ano 19 20 1 16 Me e 2 irmos Me, 2 irmos e filha Desempregada Famlia
14 Cristina 14-03-1990 Portuguesa 5 ano 17 20 1 18 Me, av, irm e
irmo
Av, irmo, irm,
sobrinho e filho
Empregada (no
declarada) RSI e salrio
15 Ana 21-11-1991 Portuguesa 5 ano 18 18 1 18 Me, av, irm e
irmo
Av, irmo, irm,
sobrinho e filho Desempregada RSI
16 Neuza 10-10-1987 Guineense 10 ano 19 21 1 18 Me, irmo Me, irmo e filha Empregada (no
declarada) RSI e salrio
17 Mafalda 12-06-1990 Portuguesa 6 ano 18 20 1 29 Irm, cunhado, 3
sobrinhos e pai
Irm, cunhado, 3
sobrinhos e filha Desempregada RSI
4.2 As nossas origens
A opo pela anlise do fenmeno da gravidez nos bairros de habitao social do
municpio de Cascais, geridos pela Empresa de Gesto de Habitao Social, adiante
designada EMGHA, permitiu de certa forma, traar um padro de experincias que
norteiam as vidas das 17 jovens entrevistadas.
Todas provm de contextos familiares carenciados e que de certa maneira,
condicionam a sua viso sobre os percursos de vida que pretendem delinear para si
prprias. Relativamente s nacionalidades identificadas, 10 das entrevistadas so de
nacionalidade portuguesa, enquanto as restantes 7 remetem para nacionalidades de
pases africanos, como Angola, Guin, So Tom e Prncipe ou Cabo Verde. Importa
contudo referir, que embora ainda com nacionalidade estrangeira, todas as jovens
nasceram em territrio portugus, porm atendendo a que aquando do seu nascimento
os pais mantinham a nacionalidade estrangeira, as crianas foram igualmente registadas
com as nacionalidades de origem dos pais.
A corroborar o que descreve a literatura, das 17 entrevistas, 9 encontrava-se
inseridas em contexto de famlias monoparentais, cabendo ao pai o papel da figura
ausente. Curiosamente algumas das jovens reforaram que os seus percursos de vida e
as escolhas que tomaram podero ter sido condicionadas pela ausncia da figura
masculina de referncia. Uma das jovens afirmou que face inexistncia da figura
paterna, os 2 irmos mais velhos assumiram o papel parental e com alguma emoo
abordou a forma como transmitiu famlia a notcia da gravidez. Eles ficaram tristes
porque sou a caula (a mais nova) e a nica que tinha seguido para a faculdade; entrei
em enfermagem! Por causa da gravidez, desisti ou melhor, acho que adiei esse sonho
Sentiram-se trados (Maria, me aos 19 anos).
No momento da concepo, a grande maioria destas jovens (15) namorava e 2
encontravam-se em situao de unio de facto. Em qualquer umas das duas ltimas
situaes, o fundamento para a mudana teve por base dificuldades de relacionamento
com as suas famlias de origem. Aps o nascimento dos bebes, e em relao s situaes
de unio de facto, verificou-se uma alterao a este quadro, na medida em que uma das
jovens regressou a casa da famlia de origem. Curiosamente apenas 6 das jovens
mantm a relao de namoro com o pai dos seus filhos.
Extrapolando para a idade em que as mes das jovens tiveram o 1 filho,
verifica-se uma replicao de comportamentos e atitudes, amplamente retratados na
literatura, onde vrios estudos comprovam que filhas de mes adolescentes com
histrias de gravidez na adolescncia, e irms adolescentes, apresentam maior
probabilidade de serem elas prprias mes adolescentes. Verifica-se um perpetuar de
aces, directamente relacionadas com os seus modelos de referncia. 8 das entrevistas
foram mes numa idade ainda mais precoce do que as suas prprias mes. O desalento
das mes das jovens, foi com regularidade verbalizado pelas filhas no decurso das
entrevistas: a minha me no queria isto para mim Ela dizia-me sempre para
estudar e organizar a minha vida, antes de ser me, porque sofreu muito quando teve o
meu irmo aos 16 anos (Marta, me aos 13 anos).
Identificar situaes de gravidez na adolescncia na rede familiar ou de amigos
traduziu-se numa tarefa de demasiada facilidade de execuo, na medida em que todas
as jovens apontaram algum conhecido com percurso de vida semelhante.
Curiosamente, os pensamentos oscilaram entre o no querer ser me to nova, como
que vo sustentar esse beb e o to bom! Um beb para a famlia!. Houve ainda
jovens que referiram no ter emanado ou sentido qualquer opinio em relao notcia
da gravidez.
A transversalidade do sentimento foi unnime: fizemos o que as mulheres das
nossas famlias fizeram, mas sabemos que sofreram e que no queriam isto para ns.
Em suma, as 17 entrevistadas so todas provenientes de famlias residentes em
bairros municipais do concelho de Cascais e cuja gesto do patrimnio encontra-se sob
a gesto da Emgha. Os bairros onde residem podem ser caracterizados como bairros
onde predomina a multiculturalidade atendendo a que o realojamento promove a
integrao de vrias comunidades num mesmo bairro. Partilham experincias entre si,
contudo no podemos afirmar que exista uma influncia predominante de uma cultura
sob a outra. Talvez seja mais adequado afirmar que, a questo gravidez na adolescncia
ultrapassa culturas e sim, transversal a estas jovens que em comum partilham uma
histria familiar desestruturada, demasiado tempo desocupado e, a grande maioria, falta
de empenho e motivao para a escola.
4.3 Breves experincias na escola e no mundo do trabalho
Existe uma estreita correlao entre gravidez na adolescncia e abandono ou absentismo
escolar. Das 17 entrevistas apenas 8 frequentavam equipamento de ensino aquando da
gravidez. importante frisar que destas, 5 apresentaram pelo menos duas retenes ao
longo do seu percurso escolar, o que por si s revelador do pouco investimento
atribudo educao formal. A desvalorizao da instituio escola e a replicao de
comportamentos fica espelhada nos valores identificados em relao aos nveis de
escolaridade. Das 17 entrevistadas, 2 atingiram o 1 ciclo; 7 completaram o 2 ciclo; 6
concluram o 3 ciclo e apenas 2 finalizaram o ensino secundrio.
A expresso desempregadas talvez no retrate de forma mais fidedigna a situao
de das entrevistas, atendendo a que algumas das jovens ainda no tinham atingido a
maioridade, nem tinham o nvel de escolaridade mnimo (9 ano) para serem integradas
no mercado de trabalho. De qualquer forma, 6 das entrevistadas quando engravidaram
no exerciam actividade profissional e j haviam deixado a frequncia escolar h muito
tempo, situao esta consubstanciada nos baixos nveis de escolaridade identificados.
As restantes 3 entrevistadas encontravam-se integradas no mercado de trabalho. De
referir que uma delas, data da gravidez, encontrava-se em situao laboral estvel,
pertencendo aos quadros da superfcie comercial, onde ainda hoje exerce actividade
profissional como caixeira pelo menos quando engravidei j tinha o meu trabalho. No
sou como aquelas midas que engravidam e ficam a depender dos outros ou do
rendimento (RSI Rendimento Social de Insero) (Marisa, me aos 19 anos).
A desvalorizao da aprendizagem formal uma constante no discurso da
grande maioria destas jovens. Eu no era boa aluna, alis tinha sempre ms notas e as
professoras j nem queriam saber de mim. Para isso mais valia ficar no recreio com o
resto da malta (Cristina, me aos 17 anos).
Importa frisar que de acordo com os relatos das entrevistadas, fora raras
excepes, no existiu tambm investimento por parte dos seus familiares em que
frequentassem a escola. No havia envolvimento, nem conhecimento do que era o dia-a-
dia destas jovens na escola, s vezes havia reunies l na escola, aquelas reunies com
a directora de turma e os pais, mas a minha me nunca ia. Alis no me lembro da
minha ter ido pelo menos uma vez. Dizia sempre que j sabia que s ia ouvir as minhas
asneiras e que para isso tinha mais que fazer (Sara, me aos 18 anos). Sem reforo em
casa, e sem grande motivao pessoal, no pois de estranhar que grande parte destas
jovens desvalorizasse a escola.
Referem com frequncia que o que importa ter dinheiro para cuidar dos filhos,
contudo o meio de obteno do mesmo no ter necessariamente de passar por concluir
pelo menos a escolaridade mnima obrigatria, nem pelo exerccio de uma actividade
laboral.
4.4 A nossa sabedoria
A primeira vez, um momento to importante para umas jovens, para outras, apenas
mais uma experincia que em nada tem a ver com amor, maturidade e acima de tudo
respeito por si prpria. A insensibilidade, o desprendimento de umas, a contrastar com a
inocncia de outras Eu nunca pensei que podia engravidar na minha primeira vez
(Marta, me aos 13 anos).
Da amostra tida em considerao para o estudo, 6 admitiram ter iniciado a
actividade sexual com idade igual ou inferior a 15 anos, tendo apontado como
motivao a vontade do namorado e o facto das amigas j terem experimentado. A
urgncia em agradar o outro e a necessidade de pertena e de aceitao num grupo,
compulsam-nas a tomar decises e a optar por caminhos que, na generalidade, so
bastante sinuosos!
As escolhas dos parceiros sexuais so por vezes to aleatrias, como quando
escolhem o local para se divertirem por uma noite. Encontros fugazes que por vezes
redireccionam vidas e as transformam, sem que para tal tenha existido algum aviso
prvio. Abordadas sobre a forma como conheceram os pais dos seus filhos, 4 das 17
jovens referiram que nem os conheceu na verdadeira acepo da palavra. A gravidez
resultou de trs ou quatro encontros, sem que tivesse havido tempo e at mesmo
vontade de saberem algo mais intimo um do outro, do que os nomes e nmeros de
telemvel. Uma vez sai com as minhas amigas. Fomos a um bar e estavam l vrios
rapazes que se comearam a meter connosco e ns demos conversa. Aconteceu tudo to
depressa e s o vi mais duas vezes. Quando soube que estava grvida fui ao mesmo bar
vrios dias seguidos, mas ele nunca mais apareceu e o nmero de telemvel que eu tinha
nunca mais esteve disponvel (Susana, me aos 17 anos).
As conversas sobre sexualidade ocorrem com maior vontade e regularidade,
pelas declaraes prestadas, no seio do grupo de pares, contrariando esteretipos
associados ao facto da diferena de idades entre mes e filhas ser potenciador de
conversas mais abertas entre elas. Porm, e tratando-se as amigas as conselheiras de
eleio, 5 das entrevistas referiu no abordar esta temtica com ningum.
Embora as questes da sexualidade estejam h muito includas nos programas
educativos, nem sempre a informao transmitida assimilada na sua plenitude, da que
algumas das jovens no tenham atribudo grande relevncia a esta eventual fonte de
informao escola.
Contrariamente ao esperado e tendo em conta o investimento existente na rea
da divulgao de questes relacionadas com a sade reprodutiva, em particular com a
sexualidade, comportamentos de risco e preveno, 8 das 17 entrevistas afirmou nunca
ter recorrido a consultas de planeamento familiar. Na verdade, 3 referiram total
desconhecimento da existncia destes servios especializados.
A boa prtica de recurso a um mtodo contraceptivo, cingido plula ou ao
preservativo, no ocupa lugar de destaque quando pensam no acto sexual em si.
Inclusivamente consideram a preveno de uma gravidez no desejada, a mais-valia do
uso de qualquer um dos mtodos contraceptivos existente no mercado, desvalorizando
quase na totalidade a imperiosa preveno contra doenas sexualmente transmissveis
(DSTs). O mtodo contraceptivo hormonal - plula foi apontado por 8 das jovens
como o mais frequentemente utilizado, contudo todas, sem excepo, tambm
afirmaram que com bastante regularidade negligenciam a sua administrao,
potenciando acentuadamente a sua taxa de ineficcia.
Os encontros e desencontros fugazes, o desconhecimento do funcionamento do
seu corpo, o desconhecimento da existncia de servios especializados na rea da
sexualidade e a m administrao de mtodos contraceptivos so factores cruciais
apontados por estas jovens que as suas vidas se pautem por trilhos sinuosos.
4.5 Informadas, contudo fora de tempo
A alterao legislativa impressa pela entrada em vigor da Lei n 16/2007, de 17 de Abril,
que determinou a Excluso de Ilicitude nos Casos de Interrupo Voluntria da
Gravidez, veio permitir mulher uma escolha: querer ou no prosseguir com uma
gravidez, desde que identificada at s 10 semanas de gestao. Se anteriormente apenas
as situaes salvaguardadas no artigo 1 da Lei n 6/84 de 11 de Maio, onde se procedeu
a uma alterao dos artigos 139, 140 e 141 do Cdigo Penal, permitiam que se
concretizasse uma interrupo da gravidez em local devidamente credenciado para o
efeito, hoje em dia a legislao mais condescendente.
Do universo das 17 jovens consideradas para efeitos do presente estudo, 13
assumiram ter conhecimento da introduo da nova lei, contra apenas 4 que referiram
desconhecer tal alterao legislativa.
A comunicao social impem-se como o melhor veculo de difuso da
informao, tendo sido apontada por 10 entrevistadas, a fonte atravs da qual tiveram
conhecimento da alterao legislativa.
Importa reforar que das 4 jovens que desconheciam totalmente a alterao ao
corpo da lei, duas tiveram acesso informao aquando da primeira consulta em
instituio especializada (hospital/centro de sade), porm, por motivaes diferentes
prosseguiram com a gravidez.
Apenas uma das jovens referiu, directamente, ter tido conhecimento da alterao
legislativa em consequncia de ter j efectuado um aborto. Eu no sabia que a lei tinha
mudado e estava juntar dinheiro para fazer um aborto com uma senhora que me
indicaram, mas houve um dia em que tive muitas dores e tive de ir ao hospital. Estava
com 9 semanas e l puseram-me a par de tudo. Eu no hesitei! O pai desse bebe no
prestava para nada (Mafalda, me aos 18 anos).
Embora a grande maioria estivesse a par da alterao legislativa, em termos de
efeitos prticos, e nas suas situaes especficas tal no se revelou uma mais-valia,
especialmente porque em quase todas as situaes analisadas a gravidez foi
diagnosticada num tempo de gestao superior s 10 semanas previstas na lei para
efeitos da interrupo voluntria.
4.6 Fomos mes!
Foram apontadas vrias hipteses que fundamentassem a opo destas jovens em
prosseguir com a gravidez, nomeadamente:
a) Porque sim!
b) Substituio/compensao em termos emocionais
c) Constituio da sua prpria famlia
As motivaes para a prossecuo da gravidez baseiam-se em fundamentos
diferentes. O planear da gravidez no fez, decididamente, parte do imaginrio destas
jovens, j que 16 assumiram que a gravidez foi resultado de um descuido, de um
esquecimento do uso de contraceptivo. Apenas 1 jovem declarou que a gravidez foi
planeada; curiosamente a mesma que referiu ter anteriormente recorrido ao Servio
Nacional de Sade para proceder interrupo da primeira gestao.
Relativamente postura perante o aborto, 11 manifestaram-se a favor da
possibilidade da mulher poder escolher, considerando-a uma prtica legitimadora,
contra 6 que se declararam contra a medida, alegando tratar-se de uma questo de
princpios e crenas religiosas.
Contudo, embora a maioria das jovens se tenha posicionado a favor da interrupo
voluntria da gravidez, nenhuma optou por essa via. Um contra-senso? No! Na
realidade das trs hipteses inicialmente apontadas, apenas uma foi efectivamente
verbalizada, especificamente a que diz respeito a considerar a gravidez como uma forma
de substituio, de compensao em termos emocionais. O meu filho no foi planeado,
mas quando soube que estava grvida, fiquei muito feliz! Pelo menos tenho algum que
me vai amar para sempre e que precisa de mim (Elsa, me aos 18 anos).
Embora num outro contexto de compensao, uma das jovens teve a segunda filha
aos 17 anos, ainda que alegadamente resultado de uma gravidez no planeada, para
confirmar se conseguiria ter um bebe saudvel. Foi me aos 15 anos e dessa gravidez
nasceu uma menina, com graves problemas neurolgicos (paralisia cerebral). De facto,
esta segunda filha veio colmatar um vazio deixado pela primeira experincia, pelo que a
jovem nunca to pouco equacionou a hiptese de recorrer interrupo voluntria da
gravidez. Claro est que neste caso em particular, a rede familiar, em especfico os pais
da jovem tm sido o seu grande suporte financeiro, embora com grandes dificuldades,
mas acima de tudo, o grande apoio emocional.
Na gnese destas situaes que deram lugar ao nascimento destas crianas, esteve
associado um factor dominante 12 das jovens foram confrontadas com a notcia da
gravidez com um tempo de gestao superior ao legalmente permitido para se proceder
IVG, ou seja, o tempo gestacional era superior s 10 semanas. Houve, inclusivamente,
uma das entrevistadas que soube da gravidez com 10 semanas e 5 dias, tendo de
imediato sido excluda a possibilidade de proceder IVG. Ainda assim, e porque
considerava no ter condies para ser me, tentou o recurso a comprimidos, contudo os
mesmos no surtiram o efeito desejado Emocionada, referiu que passou o restante
tempo da gravidez preocupada com os efeitos colaterais que a administrao dos
referidos comprimidos poderiam provocar na sade da sua bebe tomei tantos, tantos
comprimidos, mas ainda assim a minha bebe resistiu. Estava com muito medo de lhe ter
provocado alguma deficincia (Carina, me aos 19 anos).
Na generalidade dos casos, referiram que fisicamente no se apercebiam de grandes
alteraes, especialmente porque muitas continuaram menstruadas e supostamente a sua
falta que deveria constituir motivo para preocupao/alarme.
Verifica-se uma estreita correlao entre o no planear a gravidez e o no se
aperceber da existncia da mesma, na medida em que, as jovens tornam-se menos
expeditas a identificar quaisquer sinais que apontem para a existncia de um ser humano
a crescer, a desenvolver-se dentro delas. Quando finalmente percebem que alguma coisa
mudou, passaram as 10 semanas previstas na lei e ou se resignam ou tentam caminhos
alternativos, com consequncias incalculveis para a sua sade e bem-estar.
Os tempos da lei no so efectivamente coadunantes com as distraces destas
jovens e de outras, que antes ainda de conhecerem o seu prprio corpo, o emprestam e
utilizam sem pensar nas consequncias
4.7 O antes e o agora
Promover um regresso ao passado no um exerccio fcil, principalmente porque estas
jovens vivem essencialmente o presente O lema o passado j l vai, e o futuro
ainda demora, por isso a nica preocupao o hoje, o imediato.
Embora 9 das jovens j no frequentasse equipamento de ensino, na sua maioria
verbalizaram que antes da gravidez pretendiam voltar a estudar, dando preferncia a
formaes e posteriores profisses relacionadas com crianas, como por exemplo
educadores de infncia ou auxiliares de aco educativa.
Hoje em dia e aps a experincia da maternidade, apenas 6 referiram empatizar
com a ideia de voltar a estudar, muito embora em termos concretos apenas a mais nova
das entrevistas, com 14 anos, tenha efectivamente procedido a todas as diligncias para
retomar os estudos no presente ano lectivo 2010-2011.
Em relao ao namoro, a postura foi unnime, no pensavam muito no assunto,
pois consideravam algo natural e prprio das suas idades.
Hoje pensam que talvez pudessem ter aproveitado mais a adolescncia se no
tivessem comeado a namorar to cedo. Uma das jovens chegou a afirmar: comecei a
namorar aos 13 anos e perdi a virgindade aos 14. Hoje olho para trs e penso que nem
sabia bem o que era ter relaes sexuais S espero que a minha filha seja mais
inteligente do que eu! (Susana, me aos 17 anos).
J em relao conjugalidade, em partilhar a vida com outra pessoa, algumas
jovens fizeram questo de afirmar que antes sonhavam com um casamento de sonho,
com uma vida a dois, maravilhosa! Outras, em funo do que eram as suas realidades
familiares, afirmaram que casar, morar com algum, nunca fez parte dos seus planos.
Cada um no seu espao, com uma relao de namoro! Nada mais do que isso, pois
queria ser senhoras do seu nariz, sem maridos a comandar as suas vidas.
Agora com os seus filhos, algumas mudaram de opinio em relao
conjugalidade. Das entrevistas, 8 considera que um dia gostaria de refazer a sua vida
amorosa, valorizando o papel do pai e da me no crescimento e formao das crianas,
ainda que ressalvem que o pai poder no ser o biolgico, desde que d amor, carinho
e educao. O meu filho quase de certeza que nunca vai conhecer o pai verdadeiro,
mas tambm nem vale a pena, porque j se percebeu que no vale o ar que respira.
Assim um dia quando tiver um bom namorado, pode ser que o meu filho encontre
tambm um bom pai (Susana, me aos 17 anos). De facto, foi curioso perceber que
cerca de 10 das entrevistas no mantm actualmente qualquer relacionamento com o pai
dos seus filhos. As restantes mantm a relao de namoro, iniciada antes da gravidez.
Ainda assim, e no que diz respeito actual situao familiar, excepo feita a uma das
jovens que, data da gravidez residia com os sogros e namorado e actualmente reside
sozinha com o filho, no fogo municipal do qual titular, todas as outras mantiveram
residncia nas habitaes dos pais e familiares. Embora o desejem, nenhuma conseguiu
autonomizar-se, quer por motivos financeiros, quer por motivos relacionais.
Embora provenientes de famlias tendencialmente numerosas, com pelo menos
trs irmos, excepo feita a uma jovem que antes da gravidez dizia desejar ter sete
filhos, as restantes afirmaram que nunca pensaram em ter mais de dois ou trs filhos.
Justificavam-no, acima de tudo, com questes financeiras e com o facto de quererem
dar-lhes mais do que elas prprias tiveram. Valorizaram tambm as questes
emocionais, na medida em que reforaram que com muitos filhos no possvel dar
ateno a todos e h sempre os que so mais prejudicados.
Presentemente, das 3 jovens que j tm dois filhos, apenas uma manifestou
vontade em aumentar a prole, contudo frisou vrias vezes no decorrer da conversa, que
desejavelmente esse desejo s se concretizaria pelo menos num prazo de 10 anos,
curiosamente sentindo-se aqui a carga cultural da procriao as gmeas ainda so
pequenas e precisam de muita ateno, mas na nossa cultura ter s dois filhos muito
pouco. Eles so uma bno e eu vou querer mais, mas s daqui a uns bons anos
(Diana, guineense, me aos 18 anos). As restantes manifestaram inteno de ter apenas
mais um filho, contudo sem grande convico do que verbalizavam.
Tal como referido anteriormente, ao nvel do enquadramento profissional, estas
jovens manifestavam interesse em actividades associadas infncia. Na sequncia da
gravidez, para a maioria delas as prioridades alteraram-se. Embora grande parte sem
desempenhar qualquer tipo de actividade remunerada, as que pretendem ser
independentes so unnimes num pensamento: apenas pretendem ter um emprego que
lhes permita proporcionar bem-estar, cuidados de sade e educao aos seus filhos,
independentemente do sector de trabalho.
importante referir que ainda que sem emprego, 8 destas jovens beneficia de
prestao social Rendimento Social de Insero traduzindo esta na sua fonte de
rendimento. Ora, reportamo-nos para jovens de 16, 17, 18 ou 19 anos, que antes j viam
as mes a beneficiar de subsdios, ficando em casa. E qual a resposta da sociedade?
Manter e fomentar esta subsdio dependncia, em jovens perfeitamente capazes de
lutar por um futuro melhor para si e para os seus. Um aspecto relevante a enunciar
facto de termos registado duas situaes em as jovens so simultaneamente
beneficirias do RSI e auferem um rendimento no declarado, ainda que baixo, da
actividade de empregada de limpeza. Verifica-se a existncia de um mercado paralelo,
no qual estas jovens se movem to facilmente, de alguma ludibriando tambm os
servios de forma a manterem subsdios sociais que de outro modo no conseguiriam
manter. Se eu disser s doutoras que trabalho nas limpezas umas horas, elas cortam-
me o rendimento. E depois, como que eu e o meu vivemos? Assim olha, so
enganadas! Mas no sou s eu! Nem imaginas o que as pessoas fazem H ai muita
gente com grandes carros a viver do rendimento! (Ana, me aos 18 anos).
Apenas 4 das entrevistas desenvolvem actividade profissional devidamente
regularizada, cingindo-se as actividades laborais a reas relacionadas com a prestao
de servios, como empregada de limpeza, auxiliar de cozinha e caixeira.
Acresce informar que todas as jovens, sem excepo beneficiaram/beneficiam
dos abonos pr-natal e de famlia, sendo os mesmos com frequncia utilizados para
adquirir o enxoval dos bebes e posteriormente para os gastos em funo das
necessidades da criana.
Confrontadas com a existncia de filhos, todas as jovens apontaram como uma
grande dificuldade o acesso a equipamentos sociais onde possam integrar os seus filhos.
Curioso que, se para algumas das jovens a integrao das crianas seria uma forma de
estarem mais disponveis para o mercado de trabalho, para outras seria apenas para os
filhos estarem com outras crianas e terem uma professora para lhes ensinar coisas
importantes. Em algumas situaes a creche ou jardim-de-infncia tida como pelo
menos umas horas descanso, porque ser me o dia inteiro tambm cansativo! (Sara,
me aos 18 anos). Em contraste, existem situaes relatadas que referem que sendo as
mes beneficirias de RSI, tm maior dificuldade em conseguir a vaga no equipamento,
atendendo a que supostamente se beneficia do subsdio e no trabalham, podem
perfeitamente ficar com as crianas em casa para dar lugar a famlias que efectivamente
necessitem.
V - Consideraes Finais
A gravidez na adolescncia constitui-se como um problema social na medida em que
afecta no s as jovens directamente envolvidas, como tambm as suas famlias e a
prpria sociedade que de alguma forma procura dar respostas com vista integrao
social das mes adolescentes e dos seus filhos.
Globalmente e de acordo com os dados disponveis (Eurostat e INE), podemos
afirmar que os nmeros da gravidez na adolescncia em Portugal tm vindo
progressivamente a decrescer desde 1997, sendo que data registava-se um total de
6993 nascimentos de crianas com mes com idade inferior a 20 anos e em 2008 o total
de nascimentos cifrava um total de 4551.
Provenientes de contextos familiares com algumas fragilidades do ponto de vista
emocional e financeiro, estas jovens acabam por replicar comportamentos. As suas
mes tiveram o primeiro filho muito novas e, salvo algumas excepes, o mesmo se
passa com as suas filhas. A grande diferena subsiste no facto de hoje em dia existir
mais informao sobre formas de prevenir uma gravidez no desejada, assim como se
verificou uma alterao legislativa introduzida em Abril de 2007, que conferiu mulher
o poder de decidir por espontnea vontade se quer ou no prosseguir com a gravidez,
desde que detectada at s 10 semanas de gestao.
De facto, das premissas apresentadas como eventuais fundamentos para
hipteses de estudo, apenas uma delas (gravidez como forma de substituio /
compensao emocional) se confirmou e ainda assim, sem relevncia de maior atribuda
pelas entrevistas. Concluiu-se ento que para a maioria das jovens entrevistas, a
prossecuo da gravidez ficou a dever-se a um desconhecimento do seu prprio
metabolismo, do funcionamento do seu corpo, na medida em que apenas detectaram a
gravidez num tempo gestacional superior s 10 semanas.
Se por um lado, com frequncia apontamos a existncia da gravidez, um factor
determinante para que estas jovens deixem de frequentar estabelecimento de ensino, por
outro lado, ficou claro que, na grande maioria das vezes, parte destas jovens aquando da
gravidez j deixou h muito de frequentar a escola.
Ainda que com a informao e com os programas escolares a abordar questes
relacionadas com a sexualidade, existem, hoje em dia, jovens que desconhecem
totalmente estas matrias. Onde que a sociedade est a falhar?
Algumas, so jovens sem ambies, que dificilmente sairo dos limites do bairro,
para quem o Rendimento Social de Insero e subsdios congneres constituem-se como
suficiente forma de subsistncia. Outras, outrora com sonhos mais arrojados, tentam
contrariar as poucas expectativas que pairam sobre si e lentamente vo lutando por um
futuro melhor para si e para a sua famlia. Pena , que estas, sejam to poucas!
Com grande dificuldade em tecer quaisquer comentrios sobre o futuro, quase
no conseguindo vislumbrar para alm do dia que vivem, verbalizam sonhos, como ser
rica ou ganhar o euro milhes. Ainda assim e aps repetidamente se questionar
acerca de um sonho ou de uma aspirao acabam por admitir que apenas desejam o que
todas as pessoas desejam: sade para si para os seus filhos, um trabalho e uma casa; a
sua independncia.
Partindo da realidade, ou seja, assumindo na plenitude a existncia desta
problemtica necessrio que desde cedo se verifique um grande investimento na
formao das nossas adolescentes.
Claro que questes culturais so difceis de alterar, contudo necessrio
encontrarem-se respostas para as situaes que vo surgindo.
A simples atribuio de subsdios no constitui uma resposta vivel para
promover o crescimento e formao destas mes. Contrariamente, dever ser
incentivado o regresso formao escolar, para que possam beneficiar de um leque
mais alargado de oportunidades de trabalho.
Paralelamente, imperioso o investimento em respostas sociais, em
equipamentos com valncia de creche e jardim-de-infncia, onde os filhos destas jovens
possam crescer, brincar, socializar. Esta necessidade foi consequentemente verbalizada
pelas jovens mes que participaram no presente estudo.
Nem todos os solos so arveis, contudo com o devido tratamento, ateno e
investimento, muitos deles do lugar a lindo pomares
VI Referncias Bibliogrficas
ALMEIDA, Jos Miguel Ramos (1987), Adolescncia e Maternidade, Lisboa,
Fundao Calouste Gulbenkian (3 Edio, 2007).
CANAVARRO, M.C. & Pereira, A. I. (2001), Gravidez e maternidade na
adolescncia: perspectivas tericas, In Canavarro (Ed.) Psicologia da gravidez
e da maternidade, Coimbra, Quarteto Editora.
CARLOS, Ana et al. (2007), Comportamento parental de mes adolescentes,
Anlise Psicolgica 2 (XXV)
Direco Geral de Sade: www.dgs.pt
FIGUEIREDO, B., Pacheco, A. & Margarinho, R. (2005), Grvidas adolescentes
e grvidas adultas diferentes circunstncias de risco? Acta Mdica Portuguesa.
GUERREIRO, Maria das Dores (2001), Novos Conceitos de Famlia, Revista
Pretextos
Instituto Nacional de Estatstica: www.ine.pt
JUSTO, J. (2000), Gravidez adolescente, maternidade adolescente e bebs
adolescentes: causas, consequncias, interveno preventiva e no s, Revista
Portuguesa Psicossomtica.
LEAL, Isabel (1990), Nota de Abertura de Psicologia da Gravidez e da
Maternidade, Anlise Psicolgica, n 4 VIII
LEAL, Isabel e Ouro, Ana. (1998), O Ventre sacia-se, os olhos no. O suporte
social em adolescentes que prosseguiram a gravidez e mulheres que recorreram
interrupo voluntria da gravidez na adolescncia. Anlise Social 3 (XVI)
LEAL, Isabel (1992), Psicologia da Maternidade: Alguns aspectos da teoria e
prtica de interveno, Anlise Psicolgica 2 (X)
Lei n 6/84 de 11 de Maio - Excluso de ilicitude nos casos de interrupo
voluntria da gravidez
Lei n 16/2007 de 17 de Abril Excluso de ilicitude nos casos de interrupo
voluntria da gravidez
LOURENO, M.M.C. (1998), Textos e contextos da gravidez na adolescncia:
A adolescente, a famlia e a escola, Lisboa, Fim do Sculo
MEADE, Christina e Kershaw, Trace (2008), The Intergenerational Cycle of
Teenage Motherhood: An Ecological Approach, Health Psychology, n 4
MUSIK, Judith (1993), Young, poor and pregnant: The psychology of teenage
motherhood, USA, Yale University.
RELVAS, A. P. (1996), O Ciclo Vital da Famlia perspectiva sistmica,
Edies Afrontamento
SARACENO, Chiara (1997), Sociologia da Famlia, Lisboa, Editorial Estampa.
SEGALEN, Martine (1999) Sociologia da Famlia, Lisboa, Terramar
SILVA, J.P (1998), Pregnancy during adolescence: Wanted vs. unwanted,
International Journal of Ginecology & Obstetrics
VII Anexos
Questionrio
O presente questionrio tem como objectivo contribuir para melhorar a
percepo do fenmeno da gravidez / maternidade na adolescncia e ainda aferir
se a alterao legislativa de Abril de 2007, alterou padres.
O questionrio ser aplicado a jovens at aos 21 anos de idade grvidos e/ou
com filhos at aos 3 anos de idade.
O questionrio annimo e as respostas absolutamente confidenciais.
Muito obrigada pela sua Colaborao
A) Dados pessoais
1. Diga-nos os seus dados pessoais e do pai da criana
Dados pessoais Grvida / Me Pai da Criana
Data de nascimento
Naturalidade
Nacionalidade
Estado civil
Habilitaes literrias
Freguesia de residncia
2. Em relao aos seus pais
Idade Profisso /
Ocupao
Empregada (o) /
Desempregada (o)
Habilitaes
Literrias
Me
Pai
B) Percursos escolares e profissionais
3. Situao face escola
Grvida /
Me
Pai da
Criana
Situao
Frequenta a escola
Frequentava a escola mas abandonou quando soube
da gravidez
No frequentava a escola
3.1 Se frequentava a escola, que idade tinha aquando da gravidez? ______________
3.2 Qual o ano de escolaridade que frequentava? ____________________________
3.3 Existiram retenes? Sim No
Se sim, quantas e em que anos? _________________________________________
___________________________________________________________________
3.4 Identificava-se com as colegas de turma? Sim No
3.5 data, que planos formativos tinha para o futuro? _______________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
4. Situao face ao emprego
Situao Grvida / Me Pai da Criana
Est empregada (o)
Sim No Sim No N/S
Profisso / Ocupao
H quanto tempo
C) Contextos familiares de origem
5. Quando engravidou, o seu agregado familiar apresentava a seguinte composio
Grau de
parentesco
Idade Profisso / Ocupao Empregada (o) /
Desempregada (o)
6. Quantos anos tinha a sua me quando teve o primeiro filho? ________________
7. Houve na sua famlia ou rede de amigos prxima, experincias de gravidezes em
jovens adolescentes? Sim No
7.1 Se sim, qual o grau de parentesco? ____________________________________
7.2 Que idade tinha essa jovem quando engravidou? _________________________
7.3 Recorda-se do que sentiu quando soube que essa sua familiar/amiga, ainda to
jovem, estava grvida? _____________________________________________
________________________________________________________________
________________________________________________________________
________________________________________________________________
D) Conhecimentos e atitudes sobre sexualidade e gravidez
8. Abordava questes sobre sexualidade com os seus pais? Sim No
8.1 Se No, com quem conversava acerca das suas dvidas:
Ningum
Amigas
Namorado
Professores
Especialistas e planeamento familiar (Centro de Sade)
Outros. Quem? ________________________________________________
9. Com que idade iniciou a sua vida sexual? _______________________________
10. Quantos namorados teve? ___________________________________________
11. Recorria ao uso de algum mtodo contraceptivo quando tinha relaes sexuais?
Sim No
11.1 Se sim, quais?
Plula
Preservativo
Implante Cutneo
Outros. Quais? ________________________________________________
12. Alguma vez recorreu ao Servio Nacional de Sade, nomeadamente s consultas
de planeamento familiar, a fim de obter mais informaes acerca de questes
relacionadas com a sexualidade? Sim No
12.1 Se No, porque motivo?
Desconhecimento
No sentiu necessidade
Vergonha
Outro. Qual? _________________________________________________
E) Situao relativa gravidez
13. Em relao ltima gravidez:
Foi planeada
No foi planeada, porque no utilizou qualquer mtodo contraceptivo
Usou o mtodo contraceptivo _________________________, contudo no
foi eficaz porque _____________________________________________________
14. Quando soube que estava grvida, ficou:
Feliz
Triste
Preocupada
Indiferente
Com medo. Do qu / de quem? ____________________________________
15. As suas maiores preocupaes foram (assinalar as mais relevantes):
Relacionamento com os seus pais
Relacionamento com o pai da criana
Relacionamento com os amigos / conhecidos /vizinhos
Relacionamento com os professores e outros tcnicos
Como sustentar o filho
Ter de interromper os estudos
Ter de comear a trabalhar
Como cuidar do beb
O futuro do seu filho
A sade do seu filho
O parto
O seu aspecto
Recommended