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Jurisprudência da Segunda Turma
Relator:
Agravante:
JURISPRUDÊNCIA DA SEGUNDA TURMA
AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO N. 236.021 - RS
(Registro n. 99.0029232-4)
Ministro Paulo Gallotti
Estado do Rio Grande do Sul
Advogados: Maria Tereza Oltramari Velasques e outros
Elisabeti Benedetti dos Santos e outro Agravados:
Advogados: Sílvio Paulo Araldi e outros
137
EMENTA: Agravo regilnental - Prequestionalllento - Indenização - Dano llloral - Prova.
1. Havendo olllissão no julgado e não interpostos elllbargos de
declaração, subsiste a falta do requisito do prequestionalllento.
2. A indenização dos danos lllorais depende do prudente arbí
trio do juiz e, aferir a razoabilidade da sua fixação, illlplica no
reexallle de provas (Súlllula n. 7-STJ).
3. Agravo regilllental illlprovido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da
Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos vo
tos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, negar provimento
ao agravo regimental, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Partici
param do julgamento os Srs. Ministros Francisco Falcão, Francisco
Peçanha Martins e Eliana Calmon.
Brasília-DF, 21 de setembro de 1999 (data do julgamento).
Ministro Francisco Peçanha Martins, Presidente.
Ministro Paulo Gallotti, Relator.
Publicado no DJ de 3.1l.1999.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Paulo Gallotti: Cuida-se de agravo regimental interposto
RSTJ, Brasilia, a. 13, (142): 135-199, junho 2001.
138 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DEJUSTICA
pelo Estado do Rio Grande do Sul contra despacho da lavra do Sr. Minis
tro Aldir Passarinho Junior do seguinte teor:
"Vistos.
Trata-se de agravo de instrumento manifestado pelo Estado do
Rio Grande do Sul contra decisão que inadmitiu recurso especial que
versa sobre ação de reparação de dano decorrente de homicídio.
Reconsidero a decisão agravada quanto à instrução processual)
que) de fato) se acha completa.
Inobstante isso) as questões federais suscitadas no recurso espe
cial não foram objetivamente prequestionadas no acórdão a quo (fls.
36/38 - Súmulas n. 282 e 356 do STF). Ademais) a controvérsia re
cai no reexame do quadro fático para análise do critério estabelecido
pela Corte de 2"" grau na fixação dos valores indenizatórios) o que en
contra óbice na Súmula n. 7 do STJ.
Por fim) o dissídio não veio comprovado na forma do § 2"" do art.
255 do RISTL pelo que incide) na espécie) a Súmula n. 291 do STF.
Pelo exposto) nego provimento ao agravo." (fl. 172).
Aduz o Agravante que os dispositivos legais citados como violados fo
ram devidamente prequestionados) não sendo necessário o reexame de pro
vas.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Paulo Gallotti (Relator): O agravo regimental não
merece provimento.
Primeiramente) porque os dispositivos processuais tidos como malfe
ridos não foram objeto de exame pelo Tribunal de origem) carecendo do
requisito indispensável do prequestionamento.
Ademais) não foram opostos embargos de declaração visando a suprir
a eventual omissão do julgado.
Cumpre anotar) de outra parte) que a indenização por dano moral de
pende do prudente arbítrio do juiz) tornando-se difícil a sua fixação por ser
de natureza extrapatrimonial. A dor e o sofrimento) conseqüências do dano
RSTJ, Brasília, a. 13, (142): 135-199, junho 2001.
JURISPRUDÊNCIA DA SEGUNDA TURMA 139
moral, servem de parâmetro para a estipulação da indenização e variam con
forme o caso concreto.
A verificação de ter ou não havido desvio da razoabilidade no arbitra
mento dos danos morais implicaria em reexame da matéria fática, o que
esbarra na proibição contida no Enunciado n. 7 da Súmula desta Corte.
O dissídio juriSprudencial não restou caracterizado, porque para a fi
xação da referida indenização são utilizados critérios variáveis de caso a
caso, consideradas as peculiaridades que os cercam, imprestáveis para con
fronto.
Do exposto, nego provimento ao agravo.
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL N. 241.704 - ES
(Registro n. 99.0113187-1)
Relator: Ministro Paulo Gallotti
Agravante: Espírito Santo Centrais Elétricas S/A - Escelsa
Advogados: Lycurgo Leite Neto e outro
Agravados: Pedramar Mármores e Granitos Ltda e outros
Advogados: Osias Gonçalves Lima e outros
EMENTA: Processual Civil - Agravo regimental provido - Pre
paro - Deserção afastada.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da
Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos vo
tos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, dar provimento ao
agravo regimental, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Participa
ram do julgamento os Srs. Ministros Franciulli Netto, Francisco Peçanha
Martins e Eliana Calmon.
Brasília-DF, 24 de outubro de 2000 (data do julgamento).
RSTJ, Brasília, a. 13, (142): 135-199, junho 2001.
140 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
Ministro Francisco Peçanha Martins, Presidente.
Ministro Paulo Gallotti, Relator.
Publicado no Dl de 7.5.2001.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Paulo Gallotti: Trata-se de agravo regimental interpos
to contra despacho que decretou a deserção de recurso especial, visto que
o recolhimento das despesas relativas ao porte de remessa e retorno teria
sido efetuado a destempo.
Alega a Agravante que o preparo não se realizou quando da interpo
sição do recurso porque não tinha conhecimento de seu valor, já que o Tri
bunal de Justiça do Espírito Santo estabeleceu que as aludidas despesas se
riam pagas após a intimação, na forma da Resolução n. 13/1996, publicada
em 28.2.1997 no órgão oficial daquele Estado.
Este, em síntese, o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Paulo Gallotti (Relator): Conforme salientado na de
cisão agravada, o especial foi protocolado em 17.9.1998, na vigência ple
na da Lei n. 8.950/1994, que alterou o art. 511 do Código de Processo Ci
vil, quando se passou a exigir o preparo, inclusive o do porte de remessa e
retorno, no ato da interposição do recurso.
Assim, em tese, o recolhimento dessas despesas deve sempre ocorrer
no ato de apresentação do recurso, sob pena de ser considerada deserta a
irresignação.
O caso concreto, contudo, apresenta peculiaridade que não pode ser
desprezada, notadamente levando em conta o princípio constitucional da
ampla defesa.
Com efeito, verifica-se, pelo exame das peças contidas no recurso, que
o Tribunal de Justiça do Espírito Santo disciplinou em ato administrativo
o pagamento do porte de remessa e de retorno do recurso especial após a
intimação da parte, contrariando, em princípio, o comando da lei proces
sual.
Os Tribunais podem e devem fixar o valor dessas despesas, mas não
RSTJ, Brasília, a. 13, (142): 135-199, junho 2001.
JURISPRUDÊNCIA DA SEGUNDA TURMA 141
podem alterar o prazo de recolhimento, este objeto do mencionado art. 511
do CPC.
A resolução do Tribunal de Justiça do Espírito Santo, além de fixar os valores, alterou o prazo de pagamento.
Depara-se, então, com a seguinte situação: a parte, cumprindo a resolução do Tribunal de origem, efetuou o pagamento das verbas devidas, só o fazendo, contudo, após intimada, quando, inclusive, já estava recebido o recurso especial.
Diante dessa circunstância e tão-somente em razão dela, não parece razoável impedir que o recurso seja apreciado, sem que se esteja a desafiar o entendimento da Corte Especial do STJ sobre o tema.
Ante o exposto e enfatizando a situação peculiar que se está a exami
nar, o meu voto dá provimento ao agravo regimental, restando afastada a deserção reconhecida no despacho hostilizado.
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO N. 266.744 - PR
(Registro n. 99.0093652-3)
Reator: Ministro Castro Filho
Embargante: Fazenda Pública do Estado do Paraná
Advogados: Márcia Dieguez Leuzinger e outros
Embargada: Usina Alto Alegre S/A Açúcar e Álcool
Advogados: Luiz Renato Bettiol e outros
EMENTA: Recurso especial - Prequestionamento explícito -Desnecessidade - Decisão judicial - Fundamentação - Arts. 131 e 458, lI, do CPC; e 93, IX, da CFj1988 - Embargos de declaração -Ausência de vício no julgamento - Rejeição.
No exame dos pressupostos de admissibilidade do especial, o STJ não adotou a exigência de prequestionamento explícito do dispositi
vo de lei em que se funda a discussão, sendo suficiente o pronunciamento do Tribunal a quo quanto à matéria a ser veiculada no apelo nobre.
RSTJ, Brasília, a. 13, (I 42): 135-199, junho 2001.
142 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DEJUSTIÇA
Tem-se por atendidos os comandos dos artigos 131 e 458, II, do
Código de Processo Civil, e ainda, 93, IX, da Constituição Federal,
se a decisão encontra-se devidamente motivada, com a indicação dos
fundamentos que firmaram o convencimento do julgador, ainda que
não indicado o dispositivo legal de regência.
Na forma do que dispõe o art. 535 do Código de Processo Civil,
não devem ser acolhidos os embargos se não reluanesce no julgado
obscuridade, omissão ou contradição.
Embargos de declaração rejeitados.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da
Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos vo
tos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, rejeitar os embar
gos declaratórios. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Francisco
Peçanha Martins, Eliana Calmon e Franciulli Netto.
Brasília-DF, P' de março de 2001 (data do julgamento).
Ministro Francisco Peçanha J\llartins, Presidente.
Ministro Castro Filho, Relator.
Publicado no DI de 23.4.200l.
RELATÓRIO
o Sr. Ministro Castro Filho: Trata-se de embargos de declaração opos
tos pela Fazenda Pública do Estado do Paraná a acórdão da lavra da ilus
tre J\llinistra Nancy Andrighi, assim fundamentado:
"Agravo no agravo de instrumento. Tributário. ICMS. Embargos
do devedor. Execução fiscal. Álcool carburante. Contrato de parceria
agrícola.
o juiz da prova é quem melhor pode apreciar a necessidade da
produção. Assim, somente é cabível rever, na via especial, decisão a que
se aponta cerceamento de defesa, quando restar evidente que houve
violação à regra probatória, com impedimento de produção de prova
cuja falta foi o fulcro do julgado objurgado.
RSTJ, Brasília, a. 13, (142): 135-199, junho 2001.
____________________ ~J~U~R~I~S~P~R~U~D~E~'N~C~IA~D~A~S~E_G~U~N_D~A~T __ U_R_M_A __________________ ~143
É facultado aos litigantes o direito de produzir todos os meios de
prova que entendam hábeis a demonstrar a veracidade dos fatos alega
dos, e, a Lei de Execuções Fiscais (Lei n. 6.830/1980), em seu arti
gos 3''', parágrafo único, dispõe que a presunção de certeza e liquidez
da dívida ativa regularmente inscrita, é relativa e pode ser ilidida por
prova inequívoca, a cargo do executado ou do terceiro, a quem apro
veite.
Não tendo tal direito sido exercido em razão do julgamento an
tecipado da lide, configurado está o cerceamento de defesa,
Agravo no agravo de instrumento provido para conhecer o agra
vo de instrumento para dar provimento ao recurso especial, declaran
do nulo o processo, a partir da sentença, determinando-se a produção
da prova oportunamente requerida,"
A Fazenda Estadual aponta omissão do acórdão, no que se refere à falta
de prequestionamento da questão federal veiculada no recurso, vez que, em
nenhum momento, a Corte de origem se manifestou quanto à aplicação dos
artigos 458, II, do Código de Processo Civil, e 17 da Lei de Execução Fis
cal ao caso concreto. Aduz que o STJ firmou entendimento acerca da ne
cessidade de prequestionamento explícito dos dispositivos legais tidos por
violados no recurso especial.
Argumenta, ainda, haver obscuridade no acórdão embargado relativa
mente ao fundamento utilizado para anular a sentença, já que não foi indi
cado o dispositivo legal em que alicerçada a decisão, sendo certo que o úni
co fundamento do Código de Processo Civil que trata do cerceamento de
defesa por indeferimento de produção de provas, é o artigo 130, o qual não
foi apontado violado pela Agravante.
Ressalta, por fim, que faltou o traslado de peça essencial no agravo,
qual seja, a petição em que a Agravante requereu a produção da prova tes
temunhal, o que deveria ter impedido o seu acolhimento, pois que houve o
provimento do recurso, por cerceamento de defesa, sem que fosse demons
trada a existência de efetivo pedido nesse sentido.
É o relatório,
VOTO
De início, diferentemente do que sustenta a Embargante, no exame dos
RSTJ, Brasília, a. 13, (142): 135-199, junho 2001.
144 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
pressupostos de admissibilidade do especial, esta Corte não adotou a exi
gência de prequestionamento explícito da questão federal veiculada nas ra
zões recursais, mormente se entendida tal exigência como a menção expres
sa, no acórdão, do dispositivo de lei em que se funda a discussão, sendo su
ficiente o pronunciamento do Tribunal a quo quanto à matéria a ser vei
culada no apelo nobre, o que se verifica ter ocorrido na espécie.
Sobre o tema, por oportuno, destaco pronunciamento do eminente
Ministro Eduardo Ribeiro, no julgamento do Agravo Regimental no Agra
vo de Instrumento n. 62.048-RJ, verbis:
"A razão de ser da exigência do prequestionamento está em que
não se poderá considerar infringida a lei se a matéria por ela regula
da não foi objeto de exame pelo acórdão. Menos ainda será possível haver dissídio. O requisito ter-se-á por atendido, por conseguinte, se
examinada a matéria pela decisão recorrida. Tendo-o sido, não releva,
para o de que se cuida, haja sido ou não agitada pela parte no curso
do processo. Por outro lado, se não cogitada pelo acórdão recorrido,
não importa haja sido debatida pelas partes."
Assim dimensionada a questão, afigura-se-me que, no particular, não
prospera o inconformismo da Recorrente, posto ter a Câmara julgadora se
manifestado quanto à questão suscitada no especial, atinente aos requisitos
essenciais da sentença que, por isso, encontra-se devidamente prequestio
nada. Extrai-se do aresto recorrido:
"Na verdade, as questões de fato e de direito, suscitadas pelas
partes, foram devidamente apreciadas na r. sentença, estando, portan
to, isento de qualquer vício o decisuIll em exame."
Quanto à alegação de que o acórdão embargado carece de fundamen
tação legal para anular a sentença, também sem razão a Fazenda Estadual.
É o que se depreende da leitura do voto-condutor proferido pela ilustre
Ministra Nancy Andrighi, nos seguintes termos:
"Tenho que a questão refere-se não a reexame de prova, mas sim
a cerceamento de defesa, na medida em que permitiu-se o julgamento
antecipado da lide antes da realização da prova expressamente
requerida no l!.l. grau, tal qual apontado pelo Agravante.
O juiz da prova é quem melhor pode apreciar a necessidade de
RSTT, Brasília, 3.13, (142): 135-199, junho 2001.
JURISPRUDÊNCIA DA SEGUNDA TURMA 145
produção. Assim, somente é cabível rever, na via do especial, decisão
a que se aponta cerceamento de defesa, quando restar evidente que
houve violação à regra probatória, com impedimento de produção de
prova cuja falta foi o fulcro do julgado objurgado.
o caso em tela configura hipótese em que se justifica oportunizar
-se à parte a produção da prova requerida desde o oferecimento dos
embargos. Tal assertiva justifica-se pelo fato de que o aresto recorri
do isentou de qualquer vício a sentença de 12 grau, no entanto, negou
provimento à apelação sob o fundamento de que 'não restou por ela
comprovado que o crédito tributário objeto da execução embargada
refere-se à produção de cana própria, plantada em área de terceiros,
através de contratos de parceria agrícola celebrados em seu nome'.
Significa dizer que entendeu insuficientemente provado o fato de que
a cana-de-açúcar era de sua propriedade, e que, em razão disso, não
houve circulação de mercadorias - fato gerador do ICMS."
C·· .) "É facultado aos litigantes o direito de produzir todos os meIOS
de prova que entendam hábeis a demonstrar a veracidade dos fatos ale
gados, e, a Lei de Execuções Fiscais CLei n. 6.830/1980), em seu ar
tigo 32 , parágrafo único, dispõe que a presunção de certeza e liquidez
da dívida ativa regularmente inscrita, é relativa e pode ser ilidida por
prova inequívoca, a cargo do executado ou do terceiro, a quem apro
veite.
Não tendo tal direito sido exercido em razão do julgamento an
tecipado da lide, configurado está o cerceamento de defesa."
Observo inexistir na decisão retrotranscrita qualquer vício que possa
acarretar sua nulidade, estando, pois, devidamente fundamentada, em con
sonância com o comando dos artigos 93, IX, da Constituição Federal, e ain
da, 131 e 458, II, do Código de Processo Civil, no que se refere à necessi
dade de motivação das decisões judiciais, tendo a Ministra-Relatora, ao de
cidir a causa, fincado as razões de seu convencimento na existência de cer
ceamento de defesa, ainda que não indicado o dispositivo legal de regên
CIa.
Por fim, alega-se que faltou o traslado de peça essencial no agravo,
qual seja, a petição em que a Agravante requer a produção da prova teste
munhal.
RSTI, Brasília, a. 13, (142): 135-199, junho 2001.
146 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
Entendo que o momento próprio para se suscitar tal discussão é o do
oferecimento das contra-razões ao agravo, no entanto, o Embargante per
maneceu silente a esse respeito, operando-se, por conseguinte, a preclusão.
Ademais, via de regra, as peças cujo traslado é obrigatório na forma
ção do agravo estão enumeradas no § 1'"" do artigo 544 do Código de Pro
cesso Civil, acrescida a certidão de intimação do acórdão recorrido, nos ter
mos da Súmula n. 223 desta Corte.
Excepcionalmente, se entender indispensável ao julgamento do feito,
poderá o Sr. Ministro-Relator exigir a presença de outra peça não declinada
no mencionado dispositivo legal e na referida súmula, o que não é o caso
dos autos.
Feitas essas considerações, não vislumbrando presentes quaisquer dos
vícios elencados no artigo 535 da lei adjetiva civil, rejeito os embargos.
É como voto.
RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA N. 9.668 - GO
(Registro n. 98.0026747-6)
Relator: Ministro Francisco Peçanha Martins
Recorrente: Associação Goiana do Ministério Público - AGMP
Advogado: Divino Fernandes dos Reis
Tribunal de origem: Tribunal de Justiça do Estado de Goiás
Impetrado: Procurador-Geral de Justiça do Estado de Goiás
Recorrido: Estado de Goiás
Procurador: Luiz Carlos Duarte l\!lendes
ElVIENTA: Previdenciário - Servidores civis e Inilitares do Es
tado de Goiás - Contribuições para o Ipasgo - Leis Estaduais n.
10.150/1986 e 12.872/1996 - Custeio para assistência social e saúde
- Facultatividade.
1. A Lei Estadual Goiana n. 12.872/1996 revogou, tácita e parcial
Inente, a lei anterior, de n. 10.150/1986, estabelecendo contribuição
RST], Brasília, a. 13, (142): 135-199, junho 2001.
JURISPRUDÊNCIA DA SEGUNDA TURMA 147
compulsória, exclusivamente, para o custeio parcial das aposenta
dorias dos servidores estaduais civis e militares tornando, ipso fac
to, facultativa a contribuição para o custeio da assistência social e
de saúde.
2. A seguridade social abrange os direitos à saúde, à previdên
cia e à assistência aos contribuintes, financiados por toda a socie
dade, na forma da lei, por única fonte de custeio. A ünposição de
contribuições obrigatórias para cada qual desses benefícios consti
tui bitributação ou bis in idem.
3. Recurso ordinário conhecido e provido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da
Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos vo
tos e das notas taquigráficas a seguir, renovando-se o julgamento com a lei
tura de relatório e votos proferidos em sessõeS anteriores, a Turma, após os
votos dos Srs. Ministros Eliana Calmon e Franciulli Netto, por maioria,
conhecer do recurso ordinário e dar-lhe provimento. Vencido, o Sr. Minis
tro Aldir Passarinho Junior. Participaram do julgamento os Srs. Ministros
Ari Pargendler, Eliana Calmon e Franciulli Netto. Ausente, justificadamente,
o Sr. Ministro Paulo Gallotti. Ausentes, nesta assentada, os Srs. Ministros
Ari Pargendler e Aldir Passarinho Junior.
Brasília-DF, 19 de setembro de 2000 (data do julgamento).
Ministro Francisco Peçanha Martins, Presidente e Relator.
Publicado no Dl de 12.2.2001.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Ari Pargendler: A Associação Goiana do Ministério
Público impetrou mandado de segurança contra ato do Procurador-Geral de
Justiça do Estado de Goiás, visando a desonerar seus membros do recolhi
mento da contribuição mensal de 6% (seis por cento) para o Ipasgo - Ins
tituto de Previdência e Assistência dos Servidores do Estado de Goiás (fls.
2/1 O).
O egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Goiás denegou a ordem
RSTJ, Brasília, a. 13, (142): 135-199, junho 2001.
148 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
(fls. 218/228), Relator o eminente Desembargador Charife Oscar Abrão, em
acórdão assim ementado:
"Mandado de segurança coletivo. Contribuições previdenciárias.
Cumulatividade: para custeio de fundo de previdência e de benefícios
para fins de assistência à saúde e social. Legalidade. I - A partir da
incidência da lei estadual sobre os descontos previdenciários dos ser
vidores públicos torna-se de efeito concreto e específico, passível de
ser questionada por mandado de segurança, não se cogitando, destarte,
de lei em tese, genérica e impessoal. H - A Lei Estadual n. 12.872, de
16.5.1996, que impôs aos servidores públicos ativos, civis e militares
a contribuição mensal de 6% (seis por cento) de seus vencimentos,
para custeio parcial de fundo previdenciário (aposentadorias, reservas
remuneradas e pensões), ao lado de contribuição já existente, de igual
alíquota, destinada a custear os benefícios de assistência à saúde e as
sistência social, através do Ipasgo, tem suporte em disposições cons
titucionais da Carta Federal (arts. 194, 195 e 149, parágrafo único) e
da Estadual (art. 97, § 8.Q. - introduzido pela Emenda n. 13/1996), não
ensejando mandado de segurança, por inexistência de direito líquido
e certo, com o objetivo de desfiliação dos associados da impetrante do
Instituto (Ipasgo) e, conseqüentemente, de isentá-los do recolhimen
to da contribuição para fins de assistência à saúde dos servidores pú
blicos, até porque, pelo sistema previdenciário vigente no País, a
filiação ao referido sistema é obrigatória para todos os trabalhadores
efetivos. IH - Segurança denegada." (fl. 227).
Daí o presente recurso ordinário (fls. 244/252), a cUJo propósito o
Ministério Público Federal, na pessoa do eminente Subprocurador-Geral da
República Dr. Moacir Guimarães Morais Filho, opinou pelo provimento
(fls. 287/295).
VOTO
O Sr. Ministro Ari Pargendler (Relator): Os autos dão conta de que
os membros do Ministério Público do Estado de Goiás, embora tivessem as
aposentadorias custeadas pelo Erário, recolhiam contribuição para o Ipasgo
- Instituto de Previdência e Assistência dos Servidores do Estado de Goiás,
nos termos da Lei Estadual n. 10.150, de 1986, pela alíquota de 7%; usu
fruíam, em função disso, benefícios de natureza previdenciária e assistencial,
RSTJ, Brasília, a. 13, (142): 135-199, junho 2001.
JURISPRUDÊNCIA DA SEGUNDA TURMA 149
como sejam, auxílio-natalidade e assistência financeira (art. 15, I, a e b),
assistência médica e assistência social (art. 15, UI, a e b) - e, para os de
pendentes, auxílio-funeral, auxílio-reclusão, pecúlio e pensão (art. 15, II, a,
b, c e d).
A pensão para os dependentes era "paga com recursos próprios do Es
tado" (art. 40), na redação que lhe deu a Lei n. 10.618, de 1988.
Sobreveio a Lei Estadual n. 12.872, de 1996, cujo artigo F- dispôs do
seguinte modo:
"Art. 1 u. Os servidores ativos, CIVIS e militares, inclusive das
autarquias e fundações, bem assim os beneficiários da Lei n. 8.974, de
5 de janeiro de 1981, em atividade, contribuirão, mensalmente, para o
custeio parcial de suas futuras aposentadorias e reservas remuneradas
e das pensões que vierem a deixar a seus dependentes, com uma
alíquota de 6% (seis por cento), a ser calculada sobre a retribuição que
percebam em razão do exercicio de cargo, emprego ou função, de pro
vimento efetivo, em qualquer dos Poderes do Estado, incluídos os
membros dos Tribunais de Contas e do lvlinistério Público e os magis
trados em geral.
Parágrafo único. Para os efeitos deste artigo, a retribuição sujei
ta à incidência do percentual ora instituído é a constituída pelo ven
cimento, soldo ou salário básico, acrescido das vantagens incorporá
veis, para fins de aposentadoria ou reserva remunerada, percebidas pelo
servidor, na forma da lei."
A impetração sustenta que, depois disso, já não subsiste a contribui
ção para o Ipasgo - Instituto de Previdência e Assistência dos Servidores
do Estado de Goiás.
Salvo melhor juízo, esse efeito não resulta da Lei n. 12.872, de 1996,
cujo artigo 2U pressupõe a coexistência de ambas as contribuições, in
verbis:
"Art. 2U• Fica reduzido de 7% (sete por cento) para 6% (seis por
cento) o percentual de contribuição a que está sujeito o segurado obri
gatório do Ipasgo."
Nessa linha, a concessão da ordem depende do reconhecimento da
incompatibilidade da filiação obrigatória dos membros do Ministério Público
RSTJ, Brasília, a. 13, (142): 135-199, junho 2001.
150 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇ.'\
ao Instituto de Previdência e Assistência dos Servidores do Estado de Goiás
com a Constituição Federal de 1988.
Para o exame dessa questão, é importante ter presente o artigo 15 da
Lei n. 10.150, de 1986, in verbis:
"Art. 15. As prestações asseguradas pelo Ipasgo consistem nos
seguintes benefícios e serviços:
I - quanto ao segurado:
a) auxílio-natalidade;
b) assistência financeira;
c) aposentadoria ao serventuário da Justiça não remunerado pe
los cofres públicos;
d) aposentadoria ao segurado facultativo com contribuição em
dobro;
II - quanto aos dependentes:
a) auxílio-funeral;
b) auxílio-reclusão;
c) pecúlio;
d) pensão;
III - quanto aos beneficiários em geral:
a) assistência médica;
b) assistência social."
No regime constitucional anterior, examinando filiação obrigatória de
magistrado ao Instituto de Previdência do Estado do Rio Grande do Sul, o
Supremo Tribunal Federal, no RE n. 70.009-RS, Relator o eminente Mi
nistro Xavier de Albuquerque, decidiu:
"Magistrado. É constitucional e não ofende a garantia da
irredutibilidade de vencimentos, a imposição de contribuição para fins
previdenciários e assistenciais, de caráter geral e não discriminatório.
Revisão da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal. Recurso ex
traordinário conhecido, mas não provido." (RTJ n. 83, p. 74).
o desconto da remuneração dos magistrados, lá, era "constituído de
RSTJ, Brasília, a. 13, (142): 135-199, junho 2001.
JURISPRUDÊNCIA DA SEGUNDA TURMA 151 ------------------~~---------------------------------------------
três parcelas: uma, de 5%, como contribuição para pensões e outros even
tuais benefícios; a segunda, de 1 %, 'como contribuição assistencial médi
ca', e uma terceira, de 1 %, sobre o vencimento básico do padrão inicial do
Quadro Geral dos Funcionários Públicos, como contribuição para o pecúlio
post IllorteIll (p.p. 75/76).
o Relator originário, eminente Ministro Barros Ivlonteiro, deu provi
mento ao recurso extraordinário para conceder a ordem (p.p. 75/78). O
eminente Ministro Eloy da Rocha deu provimento, em parte, ao recurso
extraordinário, tão-só para excluir os descontos correspondentes à contri
buição para a assistência médica (p.p. 78/81). O eminente Ministro Xavier
de Albuquerque negou provimento ao recurso extraordinário (fls. 81/82).
Lê-se no voto do Ministro Xavier de Albuquerque:
"Considero, com todo respeito, excessiva a jurisprudência que o
Supremo Tribunal Federal assentou anteriormente, e pela qual repu
tou inconstitucionais imposições dessa ordem. Não só acompanho V.
Ex.a, como estendo ainda mais o meu pronunciamento. Conheço do
recurso, mas nego-lhe provimento, por inteiro, porque nem mesmo a
taxa de assistência médica, que V. Ex. a repele, eu a excluo. Desde que
se trata de contribuição geral, que visa à obtenção de uma contrapres
tação e tem, por isso, caráter nitidamente remuneratório, com a qual
o Estado supre a eventual imprevidência do funcionário e do magis
trado, não aceito, sinceramente, que ela ofenda o princípio da irreduti
bilidade de vencimentos." (p. 82).
O atual regime constitucional e as alterações legislativas que dele de
correram no Estado de Goiás exigem, no caso, solução diferente.
A Lei Estadual n. 10.150, de 29 de dezembro de 1986, já subsiste ape
nas em parte. A Lei Estadual n. 12.872, de 16 de maio de 1996, reduzindo
de 7% para 6% "o percentual de contribuição a que está sujeito o segura
do obrigatório do Ipasgo" (art. 2"-), criou nova contribuição "para o custeio
parcial de suas futuras aposentadorias e reservas remuneradas e das pensões
que (os servidores) vierem a deixar a seus dependentes, com uma alíquota
de 6% (seis por cento)" - (art. 1"-). Quer dizer, hoje, a contribuição paga
ao Instituto de Previdência e Assistência dos Servidores do Estado de Goiás
- Ipasgo se destina, exclusi'vamente, a garantir para o segurado "auxílio-na
talidade", "assistência financeira" e "assistência médica e social" (Lei Es
tadual n. 10.150, de 1986, art. 15, I, alíneas a e b, UI, alíneas a e b) - e,
RSTJ, Brasília, a. 13, (142): 135-199, junho 200l.
152 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
para os dependentes, "auxílio-funeral, auxílio-reclusão, pecúlio e pensão"
(art. 15, lI, a, b, c e d).
O auxílio-natalidade, o auxílio-funeral e o auxílio-reclusão não guar
dam correspondência com o montante das contribuições arrecadadas (falta
proporção e razoabilidade) - e do pecúlio sequer se sabe o montante (art. 30).
A assistência financeira não pode ser imposta a ninguém. A assistência mé
dica, financiada com recursos orçamentários, é acessível a todos (CF, art.
198, parágrafo único). Outro tanto se diga em relação à assistência social
(CF, art. 203).
Aparentemente, se trata de uma hipótese de revogação de lei ordiná
ria, em função de normas constitucionais supervenientes. Mas, salvo melhor
juízo, o caso é de inconstitucionalidade, em função da conexão com a Lei n. 12.872, de 1996, do Estado de Goiás, cujo artigo 2!!. teve efeito
confirmatório da exigência sub judice, reduzindo-lhe apenas a alíquota.
Voto, por isso, no sentido de, reconhecendo a inconstitucionalidade do artigo 5u, I, da Lei n. 10.150, de 29 de dezembro de 1986, do Estado de
Goiás, que a Turma encaminhe o processo ao egrégio Órgão Especial para
que decida a questão.
RETIFICAÇÃO DE VOTO
O Sr. Ministro Ari Pargendler (Relator): Antes do eminente Ministro
Aldir Passarinho Junior proferir o seu voto, quero retificar a parte conclusiva daquele que proferi na sessão do dia 20.8.1998.
Lá havia concluído pela remessa do processo à Corte Especial. Con
venci-me, no entanto, que não há necessidade, na espécie, de uma declaração de inconstitucionalidade do art. 5u, I, da Lei n. 10.150, de 29 de de
zembro de 1986, do Estado de Goiás. É que, produzida sob a égide da
Constituição anterior, sua incompatibilidade com a atual Constituição induz o efeito da revogação, e não da inconstitucionalidade.
Voto, por isso, no sentido de dar provimento ao recurso ordinário para
conceder a ordem.
VOTO-VISTA
O Sr. Ministro Aldir Passarinho Junior: Trata-se de mandado de segu
rança impetrado pela Associação Goiana do Ministério Público - AGMP
contra ato do Procurador-Geral de Justiça do Estado de Goiás, objetivando
RSTJ, Brasilia, a. 13, (142): 135-199, junho 2001.
JURISPRUDÊNCIA DA SEGUNDA TURMA 153
manter exclusivamente o desconto da alíquota de 6% sobre seus vencimen
tos estabelecida pela Lei Estadual n. 12.872, de 16.5.1996, afastando a de
dução de outros 6% a título de contribuição obrigatória para o Ipasgo -
Instituto de Previdência e Assistência dos Servidores do Estado de Goiás,
objeto da antiga Lei Estadual n. 10.150/1986, que ora lhes é cobrado
cumulativamente com aquele.
A segurança foi denegada pelo egrégio Tribunal de Justiça do Estado
de Goiás, pelo acórdão de fls. 218/232.
Interposto recurso ordinário pela Associação-impetrante, o eminente
Relator, SI. Ministro Ari Pargendler, reconheceu a inconstitucionalidade do
art. 5'\ I, da Lei Estadual n. 10.150, de 29.12.1986, determinando o enca
minhamento do processo à Corte Especial, nos termos regimentais.
A síntese do entendimento do ilustre Relator está contida no seguinte
trecho de seu voto, litteris:
"O atual regime constitucional e as alterações legislativas que dele
decorreram no Estado de Goiás exigem, no caso, solução diferente.
A Lei Estadual n. 10.150, de 29 de dezembro de 1986, já subsiste
apenas em parte. A Lei Estadual n. 12.872, de 16 de maio de 1996,
reduzindo de 7% para 6% 'o percentual de contribuição a que está su
jeito o segurado obrigatório do Ipasgo' (art. 2'"), criou nova contribui
ção 'para o custeio parcial de suas futuras aposentadorias e reservas
remuneradas e das pensões que (os servidores) vierem a deixar a seus
dependentes, com uma alíquota de 6% (seis por cento)' - (art. l!l).
Quer dizer, hoje, a contribuição paga ao Instituto de Previdência e
Assistência dos Servidores do Estado de Goiás - Ipasgo, se destina,
exclusivamente, a garantir para o segurado 'auxílio-natalidade', 'assis
tência financeira' e 'assistência médica e social' (Lei Estadual n.
10.150, de 1986, art. 15, I, alíneas a e b, IlI, alíneas a e b) - e, para os dependentes, 'auxílio-funeral, auxílio-reclusão, pecúlio e pensão'
(art. 15, lI, a, b, c e d).
O auxílio-natalidade, o auxílio-funeral e o auxílio-reclusão não
guardam correspondência com o montante das contribuições arrecada
das (falta proporção e razoabilidade) - e do pecúlio sequer se sabe o
montante (art. 30). A assistência financeira não pode ser imposta a nin
guém. A assistência médica, financiada com recursos orçamentários, é
acessível a todos (CF, art. 198, parágrafo único). Outro tanto se diga
em relação à assistência social (CF, art. 203).
RSTJ, Brasília, a. 13, (142): 135-199, junho 2001.
154 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE]USTIÇA
Aparentemente, se trata de uma hipótese de revogação de lei or
dinária em função de normas constitucionais supervenientes. Mas, salvo melhor juízo, o caso é de inconstitucionalidade, em função da cone
xão com a Lei n. 12.872, de 1996, do Estado de Goiás, cujo artigo 2"
teve efeito confirmatório da exigência sub judice, reduzindo-lhe ape
nas a alíquota."
Resumidamente, o entendimento firmado pelo ilustre Relator reside em
que se anteriormente, nos moldes da Lei Estadual n. 10.150/1986, o Ipasgo,
recebendo os resultados de uma alíquota de 7%, prestava mais benefícios que agora, a mera redução de 1 % (de 7% para 6%,) pela novel lei não guar
da proporção com as vantagens agora outorgadas, visto que parte delas foi
englobada pela Lei n. 12.872/1996.
Com a devida vênia, não identifico inconstitucionalidade ou incompa
tibilidade na concomitância de ambas as exações, ou seja, a antiga de 7% para o Ipasgo, reduzida agora para 6%, com os outros 6% instituídos pela
Lei n. 12.872/1996.
o fato é que o efeito fundamental da Lei n. 12.872/1996 não foi o de absorver benefício já prestado pelo Ipasgo, previsto na Lei n. 10.150/1986,
mas, sim, o de cobrar os servidores estaduais pelo custeio parcial das suas
próprias aposentadorias, que eram totalmente suportadas, antes da citada Lei
n. 12.872/1996, pelo Estado de Goiás. Mais claramente, ao inverso dos ser
vidores federais, no Estado de Goiás os funcionários nada recolhiam para o custeio da sua futura inatividade ou pensões de seus dependentes. Isto foi
alterado pela Lei n. 12.872/1996, cujo art. Preza:
"Art. 1"-. Os servidores ativos, civis e militares, inclusive das
autarquias e fundações, bem assim os beneficiários da Lei n. 8.974, de 5 de janeiro de 1981, em atividade, contribuirão, mensalmente, para o
custeio parcial de suas futuras aposentadorias e reservas remuneradas
e das pensões que vierem a deixar a seus dependentes com uma
alíquota de 6% (seis por cento), a ser calculada sobre a retribuição que percebam em razão do exercício de cargo, emprego ou função, de pro
vimento efetivo, em qualquer dos Poderes do Estado, incluídos os
membros dos Tribunais de Contas e do !vlinistério Público e os ma
gistrados em geral.
Parágrafo único. Para os efeitos deste artigo, a retribuição sujei
ta à incidência do percentual ora instituído é a constituída pelo ven
cimento, soldo ou salário básico, acrescido das vantagens incorporáveis,
RST], Brasília, a. 13, (142): 135-199, junho 2001.
JURISPRUDÊNCIA DA SEGUNDA TURMA 155
para fins de aposentadoria ou reserva remunerada, percebidas pelo ser
vidor, na forma da lei."
Assim, não vejo duplicidade de pagamento. Os servidores de Goiás
passaram a contribuir parcialmente por algo - aposentadoria - que antes
recebiam graciosamente do Estado de Goiás, que tudo lhes custeava.
Também penso ser difícil a avaliação pelo Poder Judiciário, especial
mente em mandado de segurança, de critério de proporcionalidade ou
razoabilidade, como o fez o eminente Relator em seu voto, para determi
nar se a redução de 7% (alíquota isolada cobrada pela Lei n. 10.150/1986
em prol do Ipasgo), para 6% (nova alíquota exigida cumulativamente com
os outros 6% da Lei n. 12.872/1996 - cf. art. 2'", à fl. 50), foi pequena em
relação aos benefícios que permanecerão sendo prestados pelo mencionado
instituto.
De efeito, se o percentual remanescente é, no entender do ilustre
Relator, muito, por outro lado o afastamento total da alíquota, como fez,
também configurará excesso.
Com razão o egrégio Tribunal de Justiça a quo, conduzido pelo voto do eminente Desembargador Charife Oscar Abrão, quando acentuando o
princípio constitucional da distribuição, de maneira geral, pela sociedade,
dos esforços para custeio dos benefícios outorgados pelo Estado, sustenta (fls. 221/225):
"Segundo dispõe a Constituição Federal, a seguridade social com
preende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes PÚ
blicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saú
de, à previdência e à assistência social (art. 194), competindo ao Po
der Público organizá-la (parágrafo único, art. cit.); e será financiada
por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei,
mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados,
do Distrito Federal e dos Municípios, e, ainda, das contribuições so
ciais, inclusive dos trabalhadores (art. 195, II).
A respeito, comenta Pinto Ferreira:
'O financiamento do sistema de seguridade social é deter
minado pelo art. 195 da Constituição Federal mediante recursos
provenientes da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos
Municípios e das contribuições sociais dos trabalhadores, dos
RSTJ, Brasília, a. 13, (142): 135-199, junho 2001.
156 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL
empregadores e dos concursos de prognósticos (as loterias ofi
ciais).
A primeira forma de financiamento é o desconto em folha
de salário feito pelo empregador e cujo recolhimento é determi
nado aos cofres da previdência social, cabendo salientar que nem
sempre tal recolhimento é efetivado, com o que se comete o cri
me de apropriação indébita.
A terceira fonte de contribuição é a dos trabalhadores, que
a fazem ao lado daquela resultante dos empregadores.' (Comen
tários à Constituição Brasileira, Ed. Saraiva, 1995, v. 7, p. 13).
Ainda, expressamente, consignou a Magna Carta, no artigo 149,
caput, que: 'Compete exclusivamente à União instituir contribuições
sociais, de intervenção no domínio econômico e de interesse das ca
tegorias profissionais ou econômicas, como instrumento de sua atua
ção nas respectivas áreas ( ... ), e sem prejuízo do previsto no art. 195,
§ 6'\ relativamente às contribuições a que alude o dispositivo'. Em
suma, isso significa que além das contribuições para custeio da previ
dência, a União pode instituir contribuição para custear a assistência
social e à saúde, para o que delegou competência, de forma expressa,
aos Estados, Distrito Federal e Municípios, conforme dispõe o pará
grafo único do referido artigo 149, verbis:
'Art. 149 .............................................................................. .
Parágrafo único. Os Estados, o Distrito Federal e os Muni
cípios poderão instituir contribuição, cobrada de seus servidores,
para custeio, em benefício destes, de sistemas de previdência e
assistência social.'
Daí, lembrar Pinto Ferreira:
'Para o exercício de tal competência pelos Estados, Distri
to Federal e Municípios, é indispensável lei do Legislativo com
petente, aplicando-se ao disposto no artigo 195, § 6D., da Cons
tituição Federal, as normas sobre vigência da lei.
Quase sempre os Estados-membros já têm os seus institutos
RSTJ, Brasília, a. 13, (142): 135-199, junho 2001.
JURISPRUDÊNCIA DA SEGUNDA TURMA 157
de assistência médica e hospitalar do servidor público.' (ob. cit.,
v. 5, p. 311).
Tendo em mira o permissivo da Carta Federal, veio a lume na Constituição do Estado de Goiás, através da Emenda n. 13/1996, o
§ 8Q do artigo 97, nos seguintes termos:
'§ 8 Q• As aposentadorias e pensões serão custeadas com re
cursos provenientes do Estado e das contribuições dos servido
res, na forma da lei, que não poderão ultrapassar os percentuais
estabelecidos pela União para o funcionalismo federal.'
De sorte que, em consonância com as disposições constitucionais
acima mencionadas, o Estado de Goiás editou a Lei n. 12.872, de 16
de maio de 1996, instituindo a contribuição para a previdência no Es
tado, até então suportada pelos cofres estaduais, contando, de agora em diante, também com a contribuição mensal de 6% (seis por cento) dos
servidores públicos ativos, civis e militares, inclusive das autarquias e
fundações, para custeio parcial de suas futuras aposentadorias, reser
vas remuneradas e pensões que vierem a deixar a seus dependentes. Ao
lado disso manteve a contribuição de mais 6% (seis por cento) para
assistência social e à saúde, como segurados obrigatórios do Ipasgo, incumbindo a esse órgão prestá-las.
81) :
É como bem frisou o Estado de Goiás em sua peça de defesa (f!.
'Pois bem. No Estado de Goiás, por força da edição da Lei
n. 10.150/1986, havia duas formas de contribuição, a saber: a pri
meira, para os segurados obrigatórios e aos dependentes, exclu
sivamente para fins de assistência à saúde (art. 15, I, a e b, U e
UI); esclarecendo-se, agora, que as pensões sempre foram solvi
das pelos cofres públicos estaduais, por dotação orçamentária específica da Secretaria Estadual da Fazenda; a segunda, de natu
reza previdenciária, para os titulares de serventias extrajudiciais
e para os contribuintes facultativos com contribuição em dobro
(art. 15, I, c e d). Essa é a situação de assistência à saúde e
previdenciária que perdurava no Estado de Goiás.
Posteriormente, com a permissão da Emenda Constitucional
n. 13, editou-se a Lei Estadual n. 12.872/1996, para a criação de
RSTJ, Brasília, a. 13, (142): 135-199, junho 2001.
158 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
uma fonte de custeio para pagamento de aposentadorias e pensões
dos servidores públicos estaduais) fato) de resto) expressamente
autorizado pelo art. 97) § 8'", da Constituição Estadual) e art. 195
da Constituição Federal, porquanto os cofres públicos estaduais
não suportavam mais arcar unilateralmente com o solvimento
daquelas obrigações.
Não há) portanto) como alega a peça inicial) a coexistência
de dupla fonte de custeio para a mesma finalidade. Apenas edi
tou-se nova legislação) em face do permissivo constitucional) para
se adequar a despesa pública à nova ordem econômica vigente no
País) tendo-se em vista sempre o interesse público) a conveniên
cia e a oportunidade da medida reclamavam.'
Sendo assim) a pretensão dos associados da Impetrante de verem
-se desfiliados do Ipasgo e) por conseqüência) desobrigados da contri
buição para custeio assistencial à saúde) mostra-se destituída de supor
te jurídico-legal) até porque pelo sistema previdenciário vigente no
País a filiação ao referido sistema é obrigatória a todos os trabalha
dores efetivos) sem distinções de classes. Aliás) no sentido da obrigato
riedade de filiação do servidor público ao referido sistema) é expres
so o artigo 52 da Lei Estadual n. 10.150/1986.
Oportuno sobre o tema em discussão) o pronunciamento do ín
clito Presidente do Supremo Tribunal Federal) Ministro Sepúlveda
Pertence) ao lançar seu voto) em julgamento plenário de 28.6.1996)
pelo indeferimento de medida liminar na Ação Direta de Inconstitucio
nalidade n. 1.441-2-DF) onde se questionava a Medida Provisória n.
l.415) de 29.4.1996 - instituidora de aumento de contribuição (15%)
relativa aos benefícios mantidos pela previdência social e ao custeio do
plano de seguridade social com o produto da arrecadação de contri
buições sociais obrigatórias dos servidores ativos e inativos dos três
Poderes da União) das autarquias e das fundações públicas -) quando
assim deixou assinalado) em acompanhamento ao voto do eminente
Ministro-Rela tor:
'O voto de S. Ex." convenceu-me de que a improcedência da
argüição de inconstitucionalidade é patente.
No fundo) as discussões sobre a chamada crise da Previdên
cia e da Seguridade Social têm sido prejudicadas) de um lado e
RST.J, Brasília, a. 13, (142): 135-199, junho 2001.
TURISPRUDÊNCIA DA SEGUNDA TURMA 159
de outro, por uma argumentação oportunística de ambas as par
tes: a de tomar-se a Seguridade Social ora como se tratasse de um contrato, ora como se se tratasse, e efetivamente se trata, de uma
ação estatal independente de cálculos e considerações atuariais.
Contribuição social é um tributo fundado na solidariedade
social de todos para financiar uma atividade estatal complexa e
universal, como é a da Seguridade.'
Destarte, as contribuições previdenciárias ora questionadas têm
amparo nas disposições constitucionais a respeito do tema, não havendo se falar em ilegalidade das mesmas. Tanto que na assembléia-geral
especial dos associados da Impetrante, de 16.8.1996, foi reconhecido
que a lei estadual não padece de qualquer inconstitucionalidade (±l.
29).
Por outro lado, não é verdade que a Lei n. 10.150/1986 não foi
recepcionada pelo diploma legal 12.872/1996, pois este, ao reduzir
para 6% 'o percentual de contribuição a que está sujeito o segurado
obrigatório do Ipasgo', ratificou expressamente a filiação obrigatória
do servidor ao Instituto, prevista naquela lei.
Com efeito, inexiste violação de direito líquido e certo a ensejar
a concessão da ordem impetrada, até porque, a rigor, não há se falar
em direito líquido e certo contra a Constituição. De outra parte, ne
nhum abuso de poder cometeu a autoridade-impetrada ao determinar
o cumprimento da lei em questão."
Ante o exposto, ousando dissentir, com a máxima vênia, do ilustrado
Relator, nego provimento ao recurso, mantendo o acórdão estadual que
denegou a segurança.
É como voto.
VOTO-VISTA
o Sr. Ministro Francisco Peçanha Martins: A Associação Goiana do
Ministério Público - AGMP, mediante mandado de segurança coletivo, in
surge-se contra a contribuição compulsória de 6% ao mês para o Instituto
de Previdência e Assistência dos Servidores do Estado de Goiás - Ipasgo,
em face da Lei Estadual n. 12.872/1996, que regulou o custeio das futuras
RST], Brasília, a. 13, (142): 135-199, junho 2001.
REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE
aposentadorias dos servidores civis, militares e das autarquias daquele Es
tado.
Denegada a ordem pelo Tribunal de Justiça, a Impetrante manifestou
recurso ordinário ao qual o eminente Relator, Ministro Ari Pargendler, deu
provimento por entender que a Lei n. 10.150/1986, instituidora da contri
buição para o Ipasgo, foi revogada face à sua incompatibilidade com a atual
Constituição Federal, tendo o eminente Ministro Aldir Passarinho manifes
tado voto divergente ao fundamento precípuo de que, antes da Lei n. 12.872/
1996, os servidores estaduais não contribuíam para as suas aposentadorias,
custeadas inteiramente pelo Estado de Goiás, e passaram a arcar parcialmente
com o custeio, não havendo duplicidade com a contribuição para o Ipasgo.
A Recorrente pretende, em última análise, que a contribuição social de
cunho meramente assistencial prevista na Lei Goiana n. 10.150/1986 para
custeio apenas de benefícios de natureza previdenciária e assistencial, tais
como, auxílio-natalidade e assistência financeira, assistência médica e as
sistência social e, para os dependentes, auxílio-funeral, auxílio-reclusão,
pecúlio e pensão, antes obrigatória, tornou-se facultativa em face da Lei n.
12.872/1996 que a revogou tacitamente, ao instituir contribuição compul
sória dos servidores estaduais para custear suas futuras aposentadorias.
Sobre a matéria assim se pronunciou o ilustre Procurador de Justiça
Dr. Eliseu José Tavares Vieira:
"Trata-se, verificando os autos, de questionamento a respeito da
legalidade da efetuação de dois descontos concomitantes, para duas
contribuições diferentes, mas com o mesmo desiderato, tendo por base
o mesmo permissivo constitucional, cuja fonte de custeio é única.
Ambas as contribuições versam sobre seguridade social, que tem
sua previsão constitucional nos arts. 149, 154, inciso I; e 195 da Constituição Federal.
Sendo assim, data venia, tenho comigo que as contribuições so
ciais são de natureza tributária e, portanto, sujeitam-se aos procedi
mentos e princípios definidos para os tributos, definidos por lei com
plementar (art. 146, inciso III, da Constituição Federal)."
Após citar os juristas Pinto Ferreira e Ives Gandra, acrescenta:
"Ad argurnentandurn, com base no princípio da não-cumulati
vidade, pelo qual não podem incidir dois impostos sobre o mesmo fato
RST], Brasília, a. 13, (142): 135-199, junho 2001.
JURISPRUDÊNCIA DA SEGUNDA TURMA 161
gerador, operou-se a revogação tácita e parcial da Lei n. 10.150/1986,
no que pertine ao caráter obrigatório e tributário dos descontos. Cria
do um novo tributo, desaparece o anterior, prevalecendo apenas uma
contribuição social.
Ressalte-se que a seguridade social engloba tanto a assistência à
saúde como a previdência social, e, nesse sentido, não podem haver
dois tributos com a mesma finalidade securitária, com a mesma fonte
de custeio e o mesmo fato gerador.
Assim, apesar da contribuição para aposentadoria se referir ape
nas à previdência e à contribuição para o Ipasgo versar sobre a assistência social, entendo serem iguais quanto ao permissivo constitucio
nal que os define, não podendo coexistir, daí a revogação desta, adqui
rindo o caráter facultativo.
Em nenhum momento se percebe, na edição da Lei n. 12.872/
1996, referências ao plano de custeio necessário ao financiamento dos
serviços e benefícios a serem conferidos pelos contribuintes, tampouco
se referindo à mencionada lei como sendo obrigatória a contribuição ao Ipasgo para fins do referido custeio de suas aposentadorias e pen
sões (dos contribuintes-servidores ativos)." (fls. 206/208).
Nessa linha de raciocínio, o douto Subprocurador-Geral, Dr. Moacir Morais Filho, aduziu em seu parecer de fls. 287/295:
"A nosso ver, a nova lei (Lei Estadual n. 12.872/1996) estabele
ceu uma única fonte de custeio, ao se referir ao custeio parcial para garantir as aposentadorias e pensões."
Concluindo, após tecer considerações pertinentes sobre a matéria:
"Assim sendo, tendo havido a revogação da Lei Estadual n. 10.150/
1986 pela Lei n. 12.872/1996, não há porque continuar-se a exigir dos
associados da recorrente, um outro percentual a título de contribuição,
destinada aos mesmos fins para uma outra finalidade, sob pena de estar
se ferindo o princípio da legalidade e tipicidade tributária.
A par disso, como bem salientou o eminente Ministro Ari
Pargendler: 'a Lei Estadual n. 10.150, de 29 de dezembro de 1986, já
subsiste apenas em parte. A Lei Estadual n. 12.872, de 16 de maio de
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162 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
1996, reduzindo de 7% para 6% 'o percentual de contribuição a que
está sujeito o segurado obrigatório do Ipasgo' (art. 2.0.), criou nova con
tribuição 'para o custeio parcial de suas futuras aposentadorias e re
servas remuneradas e das pensões que (os servidores) vierem a deixar a seus dependentes, com uma alíquota de 6% (seis por cento)' (art.
1.0.). Quer dizer, hoje, a contribuição paga ao Instituto de Previdência
e Assistência dos Servidores do Estado de Goiás - Ipasgo, se destina, exclusivamente a garantir para o segurado 'auxílio-natalidade', 'assis
tência financeira' e 'assistência médica e social' (Lei Estadual n.
10.150, de 1986, art. 15, I, alíneas a e b, IH, alíneas a e b) - e, para
os dependentes, 'auxílio-funeral, auxílio-reclusão, pecúlio e pensão' (art. 15, H, a, b, c e d)'. Acrescentando: 'O auxílio-natalidade, o au
xílio-funeral e o auxílio-reclusão não guardam correspondência com
o montante das contribuições arrecadadas (falta proporção e razoa
bilidade) - e do pecúlio sequer se sabe o montante (art. 30). A assistência financeira não pode ser imposta a ninguém. A assistência mé
dica, financiada com recursos orçamentários, é acessível a todos (CF,
art. 198, parágrafo único). Outro tanto se diga em relação à assistên
cia social (CF, art. 203)'. Por isso mesmo, ao reconsiderar sua indi
cação para que o egrégio Órgão Especial apreciasse a inconstitucionalidade do art. 5.0., I, da Lei n. 10.150/1986, S. Ex." reconheceu que
a incompatibilidade da mencionada lei goiana com a CF/1988 induz
ao efeito da revogação, e não da inconstitucionalidade."
Pouco se pode acrescentar a esses pronunciamentos. O próprio acórdão
recorrido afirma: "Segundo dispõe a Constituição Federal, a seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Pode
res Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à
saúde, à previdência e à assistência social (art. 194), competindo ao Poder
Público organizá-la (parágrafo único, art. cit.); e será financiada por toda
a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos
provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e, ainda, das contribuições sociais, inclusive dos trabalha
dores (art. 195, IH).
Ora, se a seguridade social abrange direitos à saúde, à previdência e à assistência financiados por uma única fonte de custeio, como se
depreende do parágrafo único do mencionado art. 194-CF, não se compre
ende a instituição de contribuições obrigatórias e distintas para cada qual
desses direitos, sob pena de configurar-se bis in idexn ou bitributação,
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JURISPRUDÊNCIA DA SEGUNDA TURMA 163
como acentuado por Ives Gandra Martins, citado pelo ilustre Procurador
de Justiça.
Em face do exposto, tendo em vista que a Lei Estadual n. 12.872/1996
estabeleceu contribuição compulsória exclusiva para custeio das futuras aposentadorias e pensões dos servidores, sem referir-se a essa obrigatoriedade
quanto à contribuição devida ao Ipasgo, considerando o princípio de que lex
posterior derrogat priori, considero que a lei anterior, de n. 10.150/1986,
foi parcialmente revogada, tornando-se facultativa a contribuição nela pre
vista.
À vista do exposto, acompanho, pois, o voto do Relator, dando provi
mento ao recurso.
RELATÓRIO E VOTO
(RENOVAÇÃO DE JULGAMENTO)
O Sr. Ministro Francisco Peçanha Martins: Atendendo à recomenda
ção do Ex. mo Sr. Ministro-Presidente desta Corte, e dando cumprimento à
disposição contida na Lei n. 9.756/1998, que acrescentou à Lei n. 8.038/
1990 os arts. 41-A e 41-B com respectivos parágrafos únicos, consoante a
qual "A decisão de Turma, no Superior Tribunal de Justiça, será tomada pelo voto da maioria absoluta de seus membros"; considerando que no julgamen
to do Recurso Ordinário n. 9.668-GO, na sessão de 15.12.1998 e subse
qüentes, presentes apenas três Ministros (Ar i Pargendler, Relator, Aldir Pas
sarinho Junior e Francisco Peçanha Martins), foram proferidos dois votos convergentes, dando provimento ao recurso, determinando-se, na sessão de
4.5.1999, que o julgamento deveria ser renovado oportunamente, considerando que dois dos julgadores, cujos votos foram anteriormente manifesta
dos, não mais integram esta egrégia Turma, hoje, possuindo quorum. sufi
ciente para decidir a questão em definitivo, a fim de permitir a coleta dos
votos de dois novos Ministros que dela participam não substitutos dos Mi
nistros que já votaram, procedo à leitura do relatório elaborado pelo emi
nente Ministro Ari Pargendler, ao tempo em que ratifico o meu pronunciamento convergente com o de S. Ex.a, dando provimento ao recurso.
VOTO-MÉRITO
RENOVAÇÃO DE JULGAMENTO
A Sra. Ministra Eliana Calmon: Sr. Presidente, entendo que as con
tribuições sociais, previdenciárias e as contribuições de um modo geral
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164 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
sofreram um afrouxamento no que diz respeito ao disciplinamento consti
tucional, sendo bem mais flexíveis que os tributos, exatamente em razão da
finalidade específica. Hoje, em relação às contribuições, não se questiona
mais se obedecem aos princípios constitucionais. Isso já está visto e revis
to. Questiona-se quanto à finalidade de cada contribuição. Parece-me que
V. Ex. a deixou bem claro: a Lei n. 12.872, ao ser instituída, objetivou uma
abrangência de uma assistência completa para os servidores aposentados ou
ativos, o que desqualifica, na finalidade, a lei anterior.
Em razão desse encaminhamento, entendo que há de se considerar
revogada a Lei n. 10.150, diante do que ficou estabelecido na Lei n. 12.872.
Daí por que voto com V. Ex.".
Conheço do recurso e dou-lhe provimento.
RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA N. 9.672 - MG
(Registro n. 98.0028324-2)
Relator: Ministro Francisco Peçanha Martins
Recorrente: Antônio Claret Caponi
Advogada: Maria Cristina Moraes de Oliveira
Tribunal de origem: Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais
Impetrados: Governador do Estado de l'víinas Gerais e Secretário
de Segurança Pública do Estado de Minas Gerais
Recorrido: Estado de Minas Gerais
EMENTA: Administrativo - Recurso ordinário - Mandado de se
gurança - Veículo automotor - Placas de identificação - Confecção
- Livre escolha do proprietário - Direito líquido e certo - Inexistên
cia.
- As placas de identificação de veículos automotores devem ser
confeccionadas de acordo com os padrões legalmente estabelecidos.
- Insere-se no poder discricionário da Administração Pública
credenciar empresas especializadas para fabricar as mencionadas
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JURISPRUDÊNCIA DA SEGUNDA TURMA 165
placas ou, dispondo de órgão aparelhado para esse fim, incumbi-lo
desse mister.
- Inexiste direito líquido e certo do proprietário à confecção das
placas de identificação por empresa não credenciada de sua livre
escolha.
- Recurso ordinário improvido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da
Segunda Turma do Superior Tribunal de Ju~tiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, negar provimento ao recurso ordinário. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Eliana
Calmon e Franciulli Netto. Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Pau
lo Gallotti.
Brasília-DF, 16 de novembro de 2000 (data do julgamento).
Ministro Francisco Peçanha Martins, Presidente e Relator.
Publicado no DI de 12.3.2001.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Francisco Peçanha Martins: Antônio Claret Caponi
impetrou mandado de segurança, com pedido de liminar, contra o Gover
nador e o Secretário de Segurança Pública de Minas Gerais objetivando anular a determinação segundo a qual as placas de identificação de veículos
fossem adquiridas, apenas, na Fábrica de Placas "Montes e" , por preço muito
superior aos praticados por outros fabricantes credenciados junto ao Detran
MG, ato que considera lesivo, não só ao direito líquido e certo do Impe
trante de escolher quem deve confeccionar a placa do seu veículo, como também, a qualquer cidadão.
Prestadas informações pelos Impetrados; indeferido o pedido de
liminar e com parecer desfavorável do Ministério Público Estadual, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais acolheu a preliminar de ilegitimidade
passiva do Governador do Estado e denegou a ordem, pelos motivos expos
tos no acórdão de fls. 109/113, assim resumidos na ementa:
"Mandado de segurança. Legitimidade passiva. Acolhimento da
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166 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DEJUSTIÇA
preliminar. Afastada da impetração a autoridade máxima do Poder Executivo. Ato de abuso e ilegalidade. Inocorrência. Impetração denegada. Interesse público justificado."
Inconformado, o Impetrante manifestou o presente recurso ordinário reiterando os argumentos expendidos na inicial e insistindo no seu direito de escolher livremente o fabricante da placa de seu veículo, pleiteando a reforma do acórdão.
Sem o oferecimento de contra-razões, o recurso foi regularmente processado e remetido a esta Corte.
A douta Subprocuradoria Geral da República opinou pelo improvimento.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Francisco Peçanha l\Ilartins (Relator):
Ementa: Administrativo. Recurso ordinário. Mandado de segurança. Veículo automotor. Placas de identificação. Confecção. Livre escolha do proprietário. Direito líquido e certo. Inexistência.
- As placas de identificação de veículos automotores devem ser confeccionadas de acordo com os padrões legalmente estabelecidos.
- Insere-se no poder discricionário da Administração Pública credenciar empresas especializadas para fabricar as mencionadas placas ou, dispondo de órgão aparelhado para esse fim, incumbi-lo desse mister.
- Inexiste direito líquido e certo do proprietário à confecção das placas de identificação por empresa não credenciada de sua livre escolha.
- Recurso ordinário improvido.
Insurge-se o recorrente, Antônio Claret Caponi, contra acórdão denegatório da segurança pleiteada, a fim de escolher livremente o fabricante da placa de identificação do seu veículo, que não a Fábrica de Placas Montese.
Das informações prestadas pelo Secretário de Segurança de Minas
Gerais, o único dos impetrados cuja legitimidade passiva foi reconhecida, extraio os seguintes tópicos:
1<STJ, Brasília, u. 13, (142): 135-199, junho 2001.
JURISPRUDÊNCIA DA SEGUNDA TURMA 167
"De se considerar que, a taxa, tarifa, emolumentos é estabelecida em lei, como as demais, inclusive a que se recolhe ao distribuir um feito no fórum, não se deparando, então, ilegalidade ou abuso, pois, o recolhimento se processa mediante guia própria e a confecção das placas fica a cargo da Fábrica de Placas Montese, que é uma repartição pública, integrante da estrutura desta Secretaria de Estado da Segurança, a se revestir de legalidade a exigência da taxa para possibilitar e convalidar o licenciamento e registro de veículo automotor, que exige critérios rígidos de segurança, com o escopo de resguardar o patrimônio de proprietário.
Como visto, a Administração, no exercício do lllunus de seu direito público subjetivo e dentro das fronteiras preestabelecidas em lei, segundo critérios de conveniência e oportunidade e com estrita observância dos pressupostos dos requisitos do ato administrativo e com fundamento em sua competência discricionária, houve por bem em reexaminando o procedimento anterior, revogar o credenciamento, para possibilitar que as placas viessem, como estão sendo, confeccionadas pela Fábrica de Placas Montese, que é uma repartição policial." (fl. 37).
Afirma, ainda, inexistir atualmente, em Poços de Caldas, empresa credenciada para fabricar placas de veículos e o Tribunal de Justiça, conforme cópia de acórdão acostada às informações, negou o pedido de segurança impetrado por Placas Caponi Indústria e Comércio Ltda contra o seu descredenciamento para esse fim.
A identidade do sobrenome do recorrente (Caponi) com a razão social da impetrante anterior (Placas Caponi Ind. e Com. Ltda) induz à suspeição de ser esta mais uma sortida em face do insucesso anterior, suspeita reforçada pelo pedido formulado da inicial no sentido de ser assegurado o direito de livre escolha do fabricante de placas de veículos, não só ao Impetrante como a qualquer outro cidadão.
Dos elementos constantes dos autos sobressai que a Fábrica Montese é integrante da Administração Pública, fazendo parte do Departamento de Material e Patrimônio da Superintendência Administrativa da Secretaria de Segurança, conforme autorizado pela Lei n. 5.845/1971. Sendo assim, como afirmou a autoridade-impetrada: " ... o licenciamento e registro de veículo são atos próprios e inerentes às atribuições do Detran-MG que se revestem e devem se revestir de segurança e de critérios seguros a propiciar resguar
do ao proprietário do veículo e da coletividade, e por essas razões devem ficar sob a responsabilidade de uma repartição policial...", nada mais legí
timo do que atribuir a essa repartição a responsabilidade de confeccionar
RSTJ, Brasília, a. 13, (142): 135-199, junho 2001.
168 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
as placas identificadoras em benefício de todos, sem ferir direitos líquidos e certos individuais.
Demais disso, sendo certo incumbir ao Conselho Nacional de Trânsito normatizar os procedimentos de registro e licenciamento de veículos, bem como operacionalizar o sistema de placas de identificação, podendo credenciar fábricas para confeccioná-las (CTN, art. 12, X; Resolução n. 754/ 1991, art. 7J:l.; e Portaria n. 19, de 6.6.1991, esta última reafirmando, nos §§ 1 J:l. e 2J:l. do art. 4J:l., o contido na resolução anterior de que incumbe aos Detrans o credenciamento de fabricantes de placas e tarjetas, bem como de cassar os credenciamentos das empresas, caso descumpridas as especificações estabelecidas pelo Contran), atribuição ínsita no poder discricionário da Administração e não havendo, como já esclarecido, na cidade de Poços de Caldas, empresa credenciada para esse fim, não há como possa ser reconhecido o direito líquido e certo do Recorrente de mandar confeccionar as placas do seu veículo ao seu inteiro alvedrio.
Por tais motivos, nego provimento ao recurso.
Relator:
Recorrente:
Recorrido:
Advogado:
Recorridos:
Advogados:
RECURSO ESPECIAL N. 50.413 - PR (Registro n. 94.0019048-4)
Ministro Francisco Peçanha Martins
Ministério Público do Estado do Paraná
Município de Curitiba
Antônio Moris Cury
José Mauro Gulin e outros
João Antônio Baptistella e outros
EMENTA: Processual Civil - Desapropriação - Apelações interpostas por ambas as partes - Desistência - Homologação - Transigência não apreciada - Remessa oficial prejudicada - Impossibilidade - Apreciação pelo TJ Estadual - Necessidade - CPC, art. 475.
- Se apenas os pedidos de desistência dos recursos de apelação interpostos pelas partes foram homologados, pendendo de apreciação pelo juiz monocrático a transação efetivada, subsiste a sen
tença.
RSTJ, Brasília, a. 13, (142): 135-199, junho 2001.
JURISPRUDÊNCIA DA SEGUNDA TURMA 169
- Não se configura qualquer inovação no processo, por isso que
o litígio não chegou ao final.
- IIllpõe-se o exaIlle da reIllessa obrigatória (CPC, art. 475) após a apreciação pelo juízo Illonocrático, do pedido de transigência das
partes.
- Recurso conhecido e provido parcialIllente.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso e dar-lhe parcial provimento. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Eliana Calmon, Paulo Gallotti e Franciulli Netto.
Brasília-DF, 5 de dezembro de 2000 (data do julgamento).
Ministro Francisco Peçanha Martins, Presidente e Relator.
Publicado no DI de 19.2.2001.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Francisco Peçanha Martins: O Ministério Público do Estado do Paraná manifestou recurso especial fundado nas alíneas a e c do permissivo constitucional, contra acórdão do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná que, por maioria, rejeitou os embargos infringentes, opostos pela ora recorrente, contra acórdão proferido nos autos da ação de desapropriação, proposta pela Municipalidade de Curitiba contra José Mauro Gulin e outros, homologando pedido de desistência de ambas as apelações, e julgou prejudicada a remessa oficial, entendendo, para tanto, que cabe ao juízo de 1 Q grau apreciar o pedido de homologação de transigência entre as partes.
O v. acórdão recorrido, proferido nos embargos infringentes opostos que manteve a decisão da douta Terceira Câmara Cível, rejeitou a argumentação de que "o Tribunal não pode interromper o curso da remessa oficial, cabendo-lhe reexaminar a sentença, confirmando-a ou reformando-a".
A ora recorrente opôs embargos de declaração que foram rejeitados, objetivando prequestionar os artigos 463, 475 e 521 do Cpc.
Daí o apelo especial, em que alega ter o aresto contrariado os artigos 463, 475, 11; e 521 do CPC, bem como divergido de julgado do Tribunal
RST}, Brasília, a. 13, (142): 135-199, junho 2001.
170 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
de Justiça de São Paulo, ao julgar prejudicado o reexame necessário face à
anterior formulação de transação entre as partes, determinando que o Juízo de 1.Q. grau apreciasse a autocomposição do litígio.
Contra-razões às fls. 290/294.
o recurso foi admitido no Tribunal a quo, subindo os autos a esta
egrégia Corte, onde vieram a mim conclusos.
Solicitei a ouvida do Ministério Público Federal que opinou pelo co
nhecimento e provimento do recurso, sustentando que o egrégio Tribunal a quo não poderia ter deixado de apreciar a remessa oficial, por ser um di
reito indisponível e insuscetível de ser objeto de transação, devendo ser anu
lados os atos posteriores.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Francisco Peçanha Martins (Relator): O Tribunal de
Justiça Estadual, apreciando recurso de apelação e reexame necessário nos autos de ação expropriatória proposta por Município de Curitiba contra
Valentim Gulin e Ana Menegusso Gulin, substituídos por José Mauro Gulin e outros, decidiram, por maioria, em face da transação de fls. 200/202 e da
desistência do recurso por parte dos Apelantes (fls. 198/199), julgar prejudicado o reexame necessário, a fim de que o Juízo de 1.Q. grau aprecie o pe
dido de homologação e transigência, como resumido na ementa de fl. 208:
"Recurso. Desistência.
O recorrente pode, a qualquer tempo, mesmo sem anuência do
recorrido, desistir do recurso (art. 501 do CPC), importando tal desistência em julgar-se prejudicado o reexame necessário, por efeito da transigência celebrada entre as partes."
Os embargos infringentes opostos pelo Ministério Público Estadual não tiveram o condão de modificar o julgado, restando rejeitados, nos termos resumidos a seguir (fl. 238):
"Embargos infringentes. Ação desapropriatória. Recursos voluntários e necessário. Transação entre as partes. Homologação do pedi
do de desistência do recurso de apelação. Reexame necessário julga
do prejudicado. Voto minoritário pelo conhecimento e julgamento da
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JURISPRUDÊNCIA DA SEGUNDA TURMA 171
remessa de oficio. Entendimento majoritário acolhido. Remessa necessária julgada prejudicada, com o encaminhamento dos autos ao Juízo a quo para que seja apreciado o pedido de homologação de transigência. Embargos rejeitados."
Contra as decisões transcritas foram opostos embargos de declaração, ao fim rejeitados, insistindo na tese da imprescindibilidade da apreciação do reexame necessário e da impossibilidade de ser a transação apreciada pelo juiz de 1!J. grau, a não ser com manifesta infração ao direito federal processual aplicável ao caso (arts. 463, 475 e 521, todos do CPC).
A irresignação recursal do Ministério Público Estadual sustenta divergência jurisprudencial e violação de preceitos infra constitucionais já referidos, resumindo a questão jurídica nos termos a seguir transcritos, in verbis:
"Consiste a vexata quaestio sob crivo, sobre ser ou não possível ao juiz monocrático, após sentenciar processo para o qual a lei prevê reexame obrigatório (art. 475, II, do CPC), no mesmo inovar, apreciando e decidindo pedido de homologação de transigência formula
do pelas partes."
Instado a se pronunciar, o Subprocurador-Geral da República emitiu parecer de fls. 308 a 311, opinando pelo provimento do apelo especial e concluindo (fl. 311):
"Como se sabe, o reexame necessário é estabelecido em benefí
cio das pessoas jurídicas de direito público, nos casos dos n. II e III (RTFR 161/419, apud Theotonio Negrão, 28>1 ed., p. 354), portanto, como se está tratando de direito indisponível, insuscetível de ser objeto de transação, certamente, não havendo a Instância Superior procedido o reexame necessário da sentença, como determina o art. 475, incisos II e III, do CPC, quaisquer atos havidos posteriormente deverão ser inquinados, inapelavelmente, do instituto da nulidade."
Impõe-se tecer algumas considerações.
Na hipótese dos autos, foram homologados apenas os pedidos de desistência dos recursos de apelação. A transação entre as partes ainda pende de apreciação pelo juiz monocrático para sua homologação. Destarte, subsiste a sentença. O juiz não inovou no processo, por isso que o litígio não chegou ao final.
Não vejo, portanto, configurada a violação ao art. 521 do CPC.
RSTJ, Brasília, a. 13, (142): 135-199, junho 2001.
172 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
Após a apreciação do pedido de transigência das partes pelo juízo
monocrático, deverão os autos subir ao Tribunal de Justiça Estadual, que examinará a remessa obrigatória, como determina o art. 475 do CPC.
Assim, conheço do recurso e dou-lhe parcial provimento para que, após a apreciação do acordo das partes, submeta-se o processo ao duplo grau de
jurisdição.
RECURSO ESPECIAL N. 68.010 - SP (Registro n. 95.0029599-7)
Relatora: Ministra Eliana Calmon
Recorrente: Município de São Paulo
Advogados: José Gabriel Nascimento e outros
Recorrido: Ulisses Solda
EMENTA: Adlllinistrativo e Processual Civil - Desapropriação - Título dOlllinial - Inexigibilidade.
1. Para propor e processar desapropriação de illlóvel, não se exige COlllO prova o registro illlobiliário.
2. O silllples cadastralllento do belll, na Prefeitura, legitillla a ação de desapropriação dirigida a quelll figura COlllO proprietário.
3. O registro illlobiliário é doculllento indispensável quando do levantalllento do valor da indenização - art. 34 do Decreto-Lei n. 3.365/1941 - razoável interpretação.
4. Recurso especial illlprovido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da
Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos vo
tos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, negar provimento ao recurso especial. Votaram com a Relatora os Srs. Ministros Paulo Gallotti, Franciulli Netto, N ancy Andrighi e Francisco Peçanha Martins.
Brasília-DF, 2 de maio de 2000 (data do julgamento).
RSTJ, Brasília, a. 13, (142): 135-199, junho 2001.
JURISPRUDÊNCIA DA SEGUNDA TURMA
Ministro Francisco Peçanha Martins, Presidente.
Ministra Eliana Calmon, Relatora.
Publicado no DI de 18.12.2000.
RELATÓRIO
173
A Sra. Ministra Eliana Calmon: Trata-se de recurso especial interposto contra acórdão proferido pelo TJSP em ação de desapropriação por utilidade pública, com base no art. 105, inciso lU, alíneas a e c, da CF/1988.
O TJSP manteve decisão monocrática, que determinou fosse comprovada a titularidade dominial do réu revel, sob o entendimento de que o art. 16 do Decreto-Lei n. 3.365/1941 determina que a citação na ação de desapropriação deverá ser feita na pessoa do proprietário dos bens.
Ressaltou o Tribunal a quo que a ação de desapropriação tem rito especial até a liminar de imissão antecipada na posse, seguindo, após, o procedimento ordinário, razão pela qual deve-se aferir o interesse processual e a legitimidade passiva ad causaIll.
Defende o Município de São Paulo a tese de que não se pode exigir do poder expropriante a juntada de título dominial do imóvel expropriando, principalmente em caso de revelia.
Afirma que o ônus da prova do domínio é do expropriado, quando do levantamento do preço, consoante o art. 34 do Decreto-Lei n. 3.365/1941, colacionando em reforço à sua tese precedentes do TJSP e do 2.Q. Tribunal de Alçada Cível do Estado de São Paulo.
Opinou o Ministério Público Federal pelo não-conhecimento do especial pela alínea a e pelo provimento do recurso pela alínea c.
É o relatório.
VOTO
A Sra. Ministra Eliana Calmon (Relatora): Não indica o Recorrente os artigos do Decreto-Lei n. 3.365/1941 que entende como violados, o que torna o recurso especial pela alínea a inadmissível, conforme demonstra o aresto a seguir transcrito:
"Embargos de divergência. Prequestionamento. Indicação dos dispositivos vulnerados. Conhecimento.
RSTJ, Brasília, a. 13, (142): 135-199, junho 2001.
174 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
Para o conhecimento do recurso especial é indispensável que o Recorrente indique qual ou quais os dispositivos legais que entende violados, sendo insuficiente a menção à norma.
Tratando-se de questões diversas, não se conhece dos embargos
de divergência.
Embargos não conhecidos." (EREsp n. 89.414-RJ, ReI. Min.
Garcia Vieira, Corte Especial, por unanimidade, DJ de 16.8.1999, p. 35).
Pela alínea c, afasta-se a divergência entre acórdãos do TJSP, em face do enunciado da Súmula n. 13 do STJ.
Restando comprovada a divergência jurisprudencial entre o TJSP e o 2il Tribunal de Alçada-SP, em torno da exigência do título dominial na ação de desapropriação à luz do Decreto-Lei n. 3.365/1941, passo ao exame do especial.
O imóvel estava cadastrado na Prefeitura em nome de Ulisses Solda,
perante o qual foi proposta a ação.
Se houve mudança do titular do domínio, tal aspecto fica para solução na fase do levantamento do preço, como bem indica o julgado.
Aliás, este é o entendimento majoritário do STJ, espelhado nas ementas
seguintes:
"Administrativo. Desapropriação. Perquirição sobre títulos de propriedade do bem expropriado. Possibilidade somente quando do levantamento do preço (art. 34, Decreto-Lei n. 3.365/1941). Título
registrado em nome dos expropriados.
É pacífico o entendimento assente na jurisprudência, segundo o qual a discussão sobre o domínio torna-se incabível, em sede de de
sapropriação, somente possível quando do levantamento do preço (art. 34 do Decreto-Lei n. 3.365/1941).
Subsiste o registro do título de propriedade de expropriado e produz todos os seus efeitos, até quando for eventualmente cancelado, pela publicidade e fé pública que dele advém.
Recurso provido, sem discrepância." (REsp n. 37.318-SP, ReI.
Min. Demócrito Reinaldo, Primeira Turma, unânime, DJ de 10.10.1994).
"Desapropriação. Levantamento do preço. Promitente-comprador. Contrato não registrado. Decreto-Lei n. 3.365/1941, art. 34.
RSTJ, Brasília, a. 13, (142): 135-199, junho 2001.
JURISPRUDÊNCIA DA SEGUNDA TURMA 175
Se o proprietário do imóvel expropriado está em lugar incerto e
não sabido e foi citado por edital, o promitente-comprador sem títu
lo registrado não tem direito ao levantamento do preço, ainda mais quando o curador especial se opõe ao deferimento dessa pretensão.
Recurso especial não conhecido." (REsp n. 136.824-SP, ReI. Min.
Ari Pargendler, Segunda Turma, unânime, DJ de 18.5.1998).
Em conclusão, nego provimento ao especial, confirmando a sentença.
ESCLARECIMENTOS
O Sr. Ministro Francisco Peçanha Martins (Presidente): Ministra Eliana Calmon, eu até proporia a suspensão do item III, porque a maioria
dos cidadãos brasileiros não tem propriedade; tem posse. V. Ex. a está dizen
do que o simples cadastramento do bem na Prefeitura legitima ação de desapropriação, e eu acho que sim. Não há nenhum barraco em loteamento
clandestino que não seja registrado na Prefeitura, porque o documento
comprobatório da posse é o IPTU Pobre faz questão de pagar IPTU, por
que é o documento que ele tem da posse. No nosso país, temos que valorizar também a posse e não só a propriedade, porque a propriedade é direito da minoria dos cidadãos.
A Sra. Ministra Eliana Calmon (Relatora): O que se está discutindo
é exatamente isso. Ele disse que não podia desapropriar, porque o imóvel já tinha sido vendido e que aquele nome que figurou na desapropriação não
existia mais. Por isso que tenho o item lI. O item III é uma explicação em
razão do que está no art. 34.
O Sr. Ministro Francisco Peçanha Martins: Na ementa - até no corpo do voto - pode estar significando que não estamos admitindo a desapro
priação do imóvel simplesmente possuído.
A Sra. Ministra Eliana Calmon (Relatora): Esse raciocínio de V. Ex. a
não é possível ninguém compreender por causa do item lI: "o simples cadastramento do bem na Prefeitura legitima a ação de desapropriação dirigida a quem figura como proprietário".
O Sr. Ministro Francisco Peçanha Martins: Mas o item III diz: "o re
gistro imobiliário é documento indispensável quando do levantamento".
Vamos admitir que um cidadão é expropriado e vai receber o valor que
lhe coube na desapropriação; se não tem documento relativo à propriedade,
RSTL Brasília, a. 13, (142): 135-199, junho 2001.
176 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
não poderia levantar a indenização que lhe cabe ao menos pelas benfeito
rias, na dicção literal do item lII.
A Sra. Ministra Eliana Calmon (Relatora): Sr. Presidente, o que diz o art. 34?
O Sr. Ministro Francisco Peçanha Martins: O art. 34 tem que ser interpretado dentro dessa realidade jurídica e social.
A Sra. Ministra Eliana Calmon (Relatora): A realidade deste caso é que estou dizendo: "moço, você está inconformado porque a desapropriação não foi no seu nome, mas na hora do levantamento você vai receber, moço, porque você é quem tem o título de propriedade". É isso que estou dizendo a ele.
O Sr. Ministro Francisco Peçanha Martins: E se ele não tiver?
A Sra. Ministra Eliana Calmon (Relatora): Na hipótese dos autos, ele tem.
O Sr. Ministro Francisco Peçanha Martins: !vias diga no voto. Estou ponderando que a nossa jurisprudência é posta no computador e quando um cidadão perguntar: exige-se documento para levantar a indenização? Vai surgir esse acórdão, com certeza.
A Sra. Ministra Eliana Calmon (Relatora): Em um precedente do Sr. Ministro Demócrito Reinaldo, S. Ex." incluiu isso na ementa, assim como fez também o Sr. Ministro Ari Pargendler. Por que não posso incluir?
O Sr. Ministro Francisco Peçanha Martins: Estou, então, vencido em parte.
O Sr. Ministro Franciulli Netto: Sr. Presidente, qual é o conflito? Não estou entendendo.
O Sr. Ministro Francisco Peçanha Martins: Estou ponderando que a colocação desse item III estará excluindo, em princípio, o recebimento da indenização por pessoas que não têm título e não têm registro de título, quando isso não é verdade. A posse e as benfeitorias são indenizáveis e não se pode exigir título registrado do possuidor.
O Sr. Ministro Franciulli Netto: Mas não exclui. Diz a ementa: "o processo pode ser ajuizado contra a pessoa que está cadastrada".
O levantamento é uma fase final.
A Sra. Ministra Eliana Calmon (Relatora): Inclusive ele está preocupado de, no final, não receber, porque a desapropriação não foi no nome dele.
O Sr. Ministro Francisco Peçanha Martins: Sra. Ministra Eliana
Calmon, sabe o que vai acontecer: quando D. Maria das Dores for receber
RSTJ, Brasílía, a. 13, (142): 135-199, junho 2001.
JURISPRUDÊNCIA DA SEGUNDA TURMA 177
um valor qualquer de uma indenização do seu barraco, um burocrata vai
dizer que não pode, porque a egrégia Segunda Turma do STJ já disse que
só com documento.
A Sra. Ministra Eliana Calmon (Relatora): Mas tenho que julgar no caso concreto.
VOTO
O Sr. Ministro Francisco Peçanha Martins (Presidente): Srs. Ministros, mantenho a ressalva no que diz respeito à ementa do recurso.
Relator:
RECURSO ESPECIAL N. 100.758 - BA (Registro n. 96.0043221-0)
Recorrente:
Ministro Paulo Gallotti
Estado da Bahia
Advogados:
Recorrido:
Advogado:
Pedro Augusto de Freitas Gordilho e outros
Jorge Faustino Evangelista dos Santos
Antônio Carlos Souza Azevedo
EMENTA: Processual Civil - Ação de indenização proposta contra o Estado por ato ilícito praticado por policial militar - Termo inicial da prescrição - Trânsito em julgado da sentença penal, esta ainda não prolatada quando do ajuizamento da ação de indenização.
1. Na hipótese, o termo inicial do prazo prescricional para ajuizamento da ação de indenização por ato ilícito é o trânsito eln julgado da sentença penal.
2. Precedentes da Corte.
3. Recurso especial não conhecido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos vo
tos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, não conhecer do
RSTJ, Brasília, a. 13, (142): 135-199, junho 2001.
178 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Franciulli Netto, Francisco Peçanha Martins e Eliana Calmon.
Brasília-DF, 12 de dezembro de 2000 (data do julgamento).
Ministro Francisco Peçanha Martins, Presidente.
Ministro Paulo Gallotti, Relator.
Publicado no DI de 7.5.2001.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Paulo Gallotti: O Estado da Bahia interpõe recurso especial, fundamentado nas alíneas a e c do permissivo constitucional, contra acórdão assim ementado:
"Ação de indenização contra o Estado. Ferimento à bala. Prescrição qüinqüenal não reconhecida. Apelo improvido.
O prazo prescricional estabelecido pelo art. 1 J2. do Decreto n. 20.910/1932 para as ações contra a União, o Estado e o Município é de cinco anos. Entretanto, tratando-se de responsabilidade civil por ato ilícito, a prescrição só ocorre cinco anos após a decisão oriunda da esfera criminal que apurou a materialidade e a autoria do fato, bastando que esta seja reconhecida para gerar a obrigação de indenizar." (fi.
85).
Sustenta o Recorrente negativa de vigência ao art. 1 J2. do Decreto n. 20.910/1932, além de dissídio jurisprudencial, aduzindo que a ação não se
fundou em sentença penal e foi ajuizada seis anos após o fato, sendo atingida pela prescrição, não tendo o autor, na inicial, demonstrado a Impos
sibilidade de ingressar ou ter ingressado antes com a ação.
Sem contra-razões, foi admitido o recurso especial, vindo os autos a esta Corte.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Paulo Gallotti (Relator): Trata-se de ação de indeni
zação movida por Jorge Faustino Evangelista dos Santos contra o Estado
RSTJ, Brasília, a. 13, (142): 135-199, junho 2001.
JURISPRUDÊNCIA DA SEGUNDA TURMA 179
da Bahia em virtude de disparo de arma de fogo efetuado por policial mi
litar, em abordagem realizada ao final de uma festa de formatura, em Sal
vador, visando à apresentação de documentos.
Ao contestar a ação, o Estado argüiu a prescrição qüinqüenal com base
no Decreto n. 20.910/1932.
A sentença de fls. 62/64, afastando a prescrição, julgou procedente o
pedido.
Inconformado, o Estado apelou, alegando, exclusivamente, a ocorrência
da prescrição qüinqüenal.
A Quarta Câmara Cível do Tribunal de Justiça da Bahia manteve a de
cisão de 111 grau, estando o voto-condutor do acórdão assim fundamentado:
"De fato, vigora o preceito legal que estabelece o prazo prescri
cional de cinco anos para as ações contra a União, o Estado e o Mu
nicípio.
Cumpre observar, entretanto, que no caso sub judice, à época da
propositura da ação, tramitava o processo-crime que apurava o fato,
sua autoria e a culpabilidade. A sentença resultante desse processo
constitui título executivo judicial, a teor do art. 584, inciso lI, do CPC.
Os fatos alegados na exordial não foram sequer contestados, le
vando a crer que a versão trazida aos autos pelo Apelado é verdadeira
e, certamente, será reconhecida pelo Juízo Militar que apura os aspec
tos criminais do fato.
A prescrição qüinqüenal prevista no multimencionado art. 111 do
Decreto n. 20.910/1932, a rigor, só passaria a ser contabilizada a par
tir da data em que fosse prolatada a decisão que apurou a materialida
de, autoria e culpabilidade do ato.
Acrescente-se que S. Ex.a, ao fundamentar sua decisão de não
acolher a preliminar de prescrição postulada pelo Apelante na contes
tação, ressalta com propriedade o sistema objetivo adotado pela Cons
tituição Federal em matéria de responsabilidade civil do Poder Públi
co, com base na teoria do risco administrativo, segundo o qual o Es
tado fica sujeito ao dever de indenizar o dano sofrido pelo particular
que não está obrigado a provar da Administração (sic), bastando de
monstrar o nexo causal. Ora, assim sendo, neste caso, à sentença-cri
me basta apenas reconhecer a materialidade e a autoria do fato, o que,
como já foi dito, não foi contestado pelo Apelante nesta ação.
RSTJ, Brasília, a. 13, (142): 135-199, junho 2001.
180 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
Por outro lado, cumpre ressaltar a argumentação do Apelado quanto ao fato de se encontrar, durante os cinco anos que transcorreram após o acidente, absolutamente impossibilitado de exercer o seu direito de ação contra o Estado pelas lesões que sofreu; lesões estas cujo tra
tamento perdurou até o ano de 1986, conforme atestados médicos carreados aos autos e não impugnados pelo Apelante." (fls. 88/89).
Ultrapassada a prejudicial de prescrição, no mérito decidiu:
"Assim, tendo em vista que a Administração Pública responde civilmente pelos atos praticados por seus servidores e agentes em prejuízo de terceiros, cabe-lhe indenizar o apelado pelos danos por ele suportados, os quais foram devidamente apurados e comprovados." (fl. 89).
Da leitura do processado verifica-se que o Recorrente impugna, tão-somente, a prescrição, corretamente afastada, a meu ver, pelo Tribunal-recorrido.
o fato delituoso ocorreu em 17.12.1983 e, conforme consta da inicial,
o Recorrido por aproximadamente dois anos não pôde trabalhar, sendo prolongada a sua recuperação diante da gravidade dos ferimentos provocados pelo tiro de metralhadora portátil que lhe atingiu.
Ao afastar a prescrição, a sentença singular afirmou que o ora recorrido:
" ... que não deu causa aos prejuízos sofridos nem teve condições para ajuizar o processo de conhecimento em cinco anos, a contar das lesões sofridas, até poderia aguardar o resultado da Ação Penal de n. 1.731/1985, em tramitação na Auditoria Militar, à qual responde o re
ferido policial, indiciado em inquérito policial militar e denunciado em decorrência do fato delituoso já narrado, para, com base no título ju
dicial, a sentença condenatória transitada em julgado, postular a ação indenizatória." (fl. 63).
Não se desconhece o entendimento da Corte no sentido de aplicar o art. F do Decreto n. 20.910/1932 nas ações de indenização propostas contra
a Fazenda Pública, podendo-se citar o precedente que guarda a seguinte
ementa:
"Prescreve em cinco anos, contados do fato ou ato ilícito, a ação de indenização contra o Estado." (REsp n. 114.676-SP, Relator o Mi
nistro Humberto Gomes de Barros, DJU de 13.10.1997).
RSTJ, Brasília, a. 13, (142): 135-199, junho 2001.
JURISPRUDÊNCIA DA SEGUNDA TURMA 181
No entanto, no caso concreto foi instaurada ação penal para a apuração do ocorrido, começando a correr o prazo prescricional da data do trânsito em julgado da respectiva sentença condenatória, esta ainda não prolatada quando do ajuizamento da ação de indenização.
Neste sentido:
A - "Processual Civil. Ação de ressarcimento promovida contra o Estado em decorrência de ato delituoso de funcionário. Prescrição qüinqüenal. Início do prazo prescricional.
A condenação do réu, na ação penal, importa na conseqüência de arcar, ele - ou o responsável civil - com o dever de reparar o prejuízo, desde que constitui efeito da condenação a obrigação de indenizar o dano resultante do crime.
Em face da lei vigente, a ação em que se postule o ressarcimento do dano (decorrente de ilícito penal) poderá ser proposta (no Juízo Cível) contra o autor do crime ou o responsável civil, iniciando-se a fluência do prazo prescricional da data do 'trânsito em julgado da sen
tença condenatória'.
A condenação criminal por delito funcional importa, ipso facto, no reconhecimento simultâneo da culpa administrativa e da culpa civil." (REsp n. 34.352-9-SP, Relator o Ministro Demócrito Reinaldo, DJU de 13.6.1994).
B - "Civil. Responsabilidade civil do Estado. Prescrição.
Se o ato do qual pode exsurgir a responsabilidade civil do Estado está sendo objeto de processo criminal, o termo inicial da prescrição da ação de reparação de danos inicia, excepcionalmente, da data do trânsito em julgado da sentença penal. Recurso especial conhecido e provido." (REsp n. 137.942-RJ, Relator o Ministro Ari Pargendler,
DJU de 20.3.1998).
C - "Responsabilidade civil. Indenização. Prescrição.
A prescrição qüinqüenal começa a correr na hipótese do trânsito em julgado da sentença penal condenatória. Recurso improvido."
(REsp n. 63.503-9-MG, Relator o Ministro Garcia Vieira, DJU de 19.6.1995).
o dissídio jurisprudencial não restou comprovado, p01S não há similitude fática entre os julgados postos em confronto.
Do exposto, não conheço do recurso.
RST], Brasília, a. 13, (142): 135-199, junho 2001.
182 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
RECURSO ESPECIAL N. 151.845 - CE (Registro n. 97.0073711-0)
Relator:
Recorrente:
Advogados:
Recorrida:
Ministro Franciulli Netto
Royal Importação e Exportação Ltda
José Carlos Cal Garcia e outros
União
EMENTA: Recurso especial - Ação rescisória - Ofensa a literal
disposição de lei e erro de fato - Pedido de desistência da ação
protocolado antes do oferecimento da contestação - Condenação a
custas e honorários.
As hipóteses de cabimento da ação rescisória são taxativas e
devem ser comprovadas estreme de dúvidas.
A sentença que condenou a autora a custas e honorários não
violou literal disposição de lei (artigo 485, V, Código de Processo Ci
vil), pois a condenação às verbas sucumbenciais, no caso dos autos,
apenas divergiu de orientação jurisprudencial, contra o que não
cabe ação rescisória.
O MM. Juiz sequer se pronunciou sobre o terna, apenas deter
minou a intimação da ré para manifestar-se sobre o pedido de de
sistência. Cabia à parte, na ocasião, provocar a apreciação judicial
da matéria e interpor o recurso cabível.
Recurso especial não conhecido. Decisão unânime.
ACÓRDÃO
Vistos e relatados os autos, em que são partes as acima indicadas, de
cide a Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade,
não conhecer do recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator, na
forma do relatório e notas taquigráficas constantes dos autos, que ficam
fazendo parte integrante do presente julgado. Votaram com o Sr. Ministro
-Relator os Srs. Ministros Francisco Peçanha Martins e Eliana Calmon. Au
sente, justificadamente, o Sr. Ministro Paulo Gallotti. Custas, como de lei.
Brasília-DF, 19 de setembro de 2000 (data do julgamento).
RSTJ, Brasília, a. 13, (142): 135-199, junho 2001.
JURISPRUDÊNCIA DA SEGUNDA TURMA
Ministro Francisco Peçanha Martins, Presidente.
Ministro Franciulli Netto, Relator.
Publicado no DJ de 19.2.200 l.
RELATÓRIO
183
O Sr. Ministro Franciulli Netto: Royal Importação e Exportação Ltda propôs ação rescisória perante o egrégio Tribunal Regional Federal da 5 ll
Região, contra a União Federal, fundamentada no artigo 485, incisos V e
IX, do CPC.
Informou que, em 3.11.1994, propôs medida cautelar inominada contra a Ré, que foi regularmente citada em 22.11.1994. Em 27.11.1994, entretanto, desistiu a Autora da demanda. O MM. Juiz de 111. grau, por seu turno, intimou a Fazenda Pública (que havia apresentado defesa em 29.11.1994) para que se manifestasse sobre o pedido de desistência.
Transcorrido o prazo assinado sem manifestação da Ré, houve por bem o ilustre Magistrado homologar a desistência, condenando, porém, a Autora às custas e honorários, que foram fixados em 5% sobre o valor da causa.
Argumentou a Recorrente que teria a sentença rescindenda, então, violado o art. 267, § 4'''-, do CPC, uma vez que "a lei processual assegura ao autor desistir da ação, sem o consentimento do réu, antes de decorrido o prazo para resposta". Assim, não haveria falar em sucumbência, pois, "o art. 26, em função do que prescrevem os arts. 20, 21 e seu parágrafo único; e 267, § 411., só pode ser aplicado quando houver lide, controvérsia, quando (não é
o caso dos autos) o réu provar que se onerou com a contratação do seu advogado".
Alem disso, afirmou que o MM. Juiz sentenciante, "ao dispor, ainda, sobre os honorários, resolveu arbitrá-los sobre o valor dado à causa. Com
" isso, ofendeu, frontal e literalmente, o disposto no § 411. do art. 20 do esta-tuto processual vigente", o qual "determina que, entre outros requisitos, nas causas em que não houver condenação, os honorários serão fixados consoante a apreciação eqüitativa do juiz, atendidas as normas das letras a e c do § 311 do mesmo art. 20".
Asseverou, ainda, que o MM. Juiz de 111. grau "não se deu conta de que o pedido de desistência fora protocolado antes de esgotado o prazo para resposta e de ter sido protocolada a contestação ( ... ) Se o MM. Juiz tivesse atentado para esse fato, não teria ouvido a Ré e homologaria a desistência sem a condenação à verba honorária".
RSTJ, Brasília, a. 13, (142): 135-199, junho 2001.
184 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
o Tribunal Regional Federal da SJl. Região julgou improcedente a
rescisória, em acórdão assim ementado:
"Processual Civil. Ação rescisória. Ofensa a literal disposição da lei. Sentença homologatória de pedido de desistência de ação cautelar com ônus da sucumbência pelo desistente. Alegação de desistência antes da contestação. Relevância dos fundamentos. Inaplicabilidade da rescisória por pretender substituir recurso específico.
Inexiste qualquer ofensa a dispositivo legal. A decisão mereceria ser reformada se a parte fizesse uso adequado do recurso cabível. A rescisória, entretanto, não pode ser utilizada como sucedânea de recurso específico de que não se valeu a autora.
Ação rescisória improcedente." (fi. 163).
Inconformada com esse resultado, interpôs a Autora recurso especial, fundamentado no artigo lOS, lII, alíneas a e c, da Constituição Federal. Alega que o v. acórdão atacado negou vigência aos artigos 20, § 42
; 267, § 42 ; e 485, V e IX, todos do Código de Processo Civil. Colaciona, para demonstrar a divergência jurisprudencial, entre outros, acórdão proferido pelo colendo TRF da 4Jl. Região, na Apelação Cível n. 9S.04.37191-4-RS, ReI.
Juiz Volkmer de Castilho, assim ementado:
"Ação. Desistência. Contestação. Sucumbência.
Se a desistência da ação foi posterior à contestação, são devidos os ônus da sucumbência pelo autor, pouco importando que o mandado de citação tenha sido juntado somente após aquele requerimento. Devidos os honorários (10%), mesmo em se tratando de cautelar, porque tem natureza contenciosa. Precedentes da Corte."
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Franciulli Netto (Relator): Alega a Recorrente que o v. acórdão atacado negou vigência aos artigos 20, § 42
; 267, § 42; e 48S, V
e IX, todos do Código de Processo Civil.
Convém lembrar, inicialmente, que o v. acórdão recorrido foi proferido em ação rescisória. Assim, não há falar em violação aos artigos 20, § 42 ; e 267, § 42
, porque apenas a sentença rescindenda teria violado tais
RSTJ, Brasília, a. 13, (142): 135-199, junho 2001.
JURISPRUDÊNCIA DA SEGUNDA TURMA 185
artigos. No processo em epígrafe, mesmo, entendeu unicamente o douto colegiado, ao julgar improcedente a ação rescisória, que, embora a sentença prolatada pelo MM. Juiz a quo merecesse reforma, não estavam presentes os pressupostos dos incisos V e IX do artigo 485 do CPC.
Deve ser ressaltado, outrossim, que o Estado tem interesse em proteger
a coisa julgada, em nome da segurança jurídica dos cidadãos, ainda que em prejuízo à busca pela justiça. Por esse motivo, as hipóteses de cabimento da
ação rescisória são taxativas e devem ser comprovadas estreme de dúvidas.
Como perlustra o clássico Joaquitn José Caetano Pereira e Souza, observada a redação original, verbis: "a autoridade da cousa julgada faz
presumir verdadeiro tudo, quanto se-contém na Sentença; e como esta
presumpção é juris et de jure, exc1úe tôda a prova contraria (Nota 547). Por isso se-diz, que a Sentença, que passou em julgado, - faz do branco
nêgro, e do quadrado redondo" - (cf. Primeiras Linhas sobre o Processo Civil, com prólogo de Augusto Teixeira de Freitas, Edição de Lisboa, Typ.
Garnier, Paris, nota 594, p. 218).
Dessa forma, ensina Pontes de Miranda que "na ação rescisória há
julgamento de julgamento. É, pois, processo sobre outro processo. Nela, e por ela, não se examina o direito de alguém, mas a sentença passada em jul
gado ( ... )" (in Tratado da Ação Rescisória, Bookseller, p. 135).
No caso em tela decidiu com acerto o Tribunal a quo, ao entender que "malgrado tratar-se de decisão contrária à interpretação aceita pela juris
prudência dominante, não pode ser acoimada de afrontar diretamente qual
quer norma processual. Ao contrário. À primeira vista, parece ter apenas
aplicado a norma processual, tendo em vista que ali não é feita, de modo
explícito, a distinção entre a desistência anterior ou posterior ao oferecimento da resposta pela ré" (fi. 153).
Permita-se transcrever os artigos 267, § 42 ; e 26, caput, do Código de Processo Civil:
"§ 4 2. Depois de decorrido o prazo para a resposta, o autor não
poderá, sem o consentimento do réu, desistir da ação."
"Art. 26. Se o processo terminar por desistência ou o reconhecimento do pedido, as despesas e honorários serão pagos pela parte que desistiu ou reconheceu."
Ora, a sentença que condenou a custas e honorários a Autora não
violou literal disposição de lei (art. 485, V, CPC), pois a condenação às
RST], Brasília, a. 13, (142): 135-199, junho 2001.
186 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DEJUSTIÇA
verbas sucumbenciais, no caso dos autos, apenas divergiu de orientação jurisprudencial, contra o que não cabe ação rescisória.
Por outro lado, é de bom conselho enfrentar a questão do erro de fato, pois, conforme ensina Pontes de Miranda, "se o juiz, na sentença, disse que constam dos autos documentos ou outra prova que não existe, ou que deles não consta documento ou outra prova que foi produzida, há, evidentemente, erro de fato" (opus cit., p. 347).
No caso em tela, poder-se-ia dizer, com razão, que eqUIvocou-se o magistrado, em virtude do pequeno intervalo entre o pedido de desistência e o oferecimento da contestação. Contudo, uma vez mais vem a calhar os ensinamentos do saudoso Mestre, no sentido de que "o que importa é tratar-se do ato ou fato que seja ponto de exame para o juiz" (opus cit., p. 348).
O MM. Juiz não se pronunciou sobre o tema, apenas determinou a intimação da Fazenda Nacional para manifestar-se sobre o pedido de desistência (fl. 131). Cabia à parte, na ocasião, provocar a apreciação judicial da matéria e interpor o recurso cabível.
Ademais, consoante as bem lançadas ponderações do MM. Juiz Barros Dias (vogal), "é claro que a exigüidade das datas 27 e 29 de novembro não permitiu que a Demandada tomasse conhecimento da desistência antes de apresentar sua defesa" (fl. 155). In casu, portanto, de acordo com a teleologia da dispensa da condenação às custas e honorários, não poderia ser aplicada tal regra, uma vez que a parte contrária sequer tomou conhecimento da desistência e arcou com o ônus da contestação como se não houvesse desistência alguma.
Vale ressaltar, ad argurnentandurn tanturn que, de acordo com o posicionamento anterior do magistrado-sentenciante, os honorários foram fixados com a correta aplicação do art. 20, § 4!l, do CPC. Ainda que, conforme acima demonstrado, a alegação de violação a esse artigo tivesse razão de ser, a discussão sobre o percentual arbitrado é obstada pela Súmula n. 7 desta Corte, uma vez que depende da análise de elementos fáticos presentes nos autos.
Acrescente-se, por seu turno, em relação à divergência alegada, que colaciona a Recorrente trechos de votos e ementas que tratam de hipóteses diversas da dos autos e de maneira genérica, sem realizar o necessário cotejo analítico dos acórdãos confrontados. Incide, portanto, a Súmula n. 291 do STF, o que determina o não-conhecimento do recurso especial nesse particular.
Ante o exposto, não conheço do recurso especial.
É como voto.
RSTJ, Brasília, u. 13, (142): 135-199, junho 2001.
Relator:
Recorrente:
Advogados:
Recorrida:
Advogado:
JURISPRUDÊNCIA DA SEGUNDA TURIvlA
RECURSO ESPECIAL N. 158.065 - SP (Registro n. 97.0087910-0)
Ministro Franciulli Netto
Instituto Nacional do Seguro Social - INSS
Adélia Leal Rodrigues e outros
Sociedade Educacional de Descalvado
Sílvio Bellini
187
EMENTA: Recurso especial - Embargos à execução fiscal - Con
tribuições previdenciárias - Decadência.
As contribuições previdenciárias anteriores à Emenda Consti
tucional n. 8/1977 tinham caráter tributário e, conseqüentemente,
tanto a prescrição como a decadência estavam submetidas ao pra
zo de cinco anos.
No caso dos autos, o lançamento das contribuições referentes
aos exercícios de agosto 1973 a maio de 1978 somente foi levado a
efeito em 19.5.1983 e inscrição na dívida ativa se deu em 29.5.1985.
O crédito já estava, portanto, fulminado pela decadência.
Recurso especial não conhecido. Decisão unânime.
ACÓRDÃO
Vistos e relatados os autos, em que são partes as acima indicadas, de
cide a Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade,
não conhecer do recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator, na
forma do relatório e notas taquigráficas constantes dos autos, que ficam fa
zendo parte integrante do presente julgado. Votaram com o Sr. Ministro
-Relator os Srs. Ministros Francisco Peçanha Martins e Eliana Calmon. Au
sente, justificadamente, o Sr. Ministro Paulo Gallotti. Custas, como de lei.
Brasília-DF, 19 de setembro de 2000 (data do julgamento).
Ministro Francisco Peçanha Martins, Presidente.
Ministro Franciulli Netto, Relator.
Publicado no DJ de 19.2.200 l.
RSTJ, Brasília, a. 13, (142): 135-199, junho 2001.
188 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE .JUSTIÇA
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Franciulli Netto: A Sociedade Educacional de
Descalvado opôs embargos à execução fiscal proposta pelo INSS para o
recebimento de contribuições previdenciárias não recolhidas pela entidade,
relativas ao período de agosto de 1973 a março de 1983, ao argumento de
que as parcelas referentes ao período de agosto de 1973 a janeiro de 1980
estariam prescritas e as restantes já quitadas pelos seus antecessores.
Encerrada a fase instrutória, o MM. Juiz julgou parcialmente proce
dente o pedido e excluiu da execução as contribuições vencidas até julho de
1980, mas determinou o prosseguimento em relação às parcelas referentes
ao período de agosto de 1980 a março de 1983 (fls. 17/24).
Inconformada, interpôs a Embargante recurso de apelação, no qual
pleiteava, além da aplicação da prescrição trintenária à hipótese dos autos,
o reconhecimento de que o prazo havia sido interrompido em decorrência
das "notificações conc1amando a Apelada a saldar seu débito, levadas a efeito
no procedimento administrativo".
o colendo Tribunal Federal de Recursos converteu o julgamento em
diligência, para a juntada aos autos do referido procedimento administra
tivo (fls. 34/35).
Com a extinção do Tribunal Federal de Recursos, os autos foram en
caminhados ao Tribunal Regional Federal da 3.0. Região, que, ao julgar o
feito, houve por bem dar parcial provimento à remessa ex officio e à ape
lação, para excluir da execução apenas o débito anterior a maio de 1978.
O acórdão restou assim ementado:
"Processual Civil. Embargos à execução fiscal. Contribuições
previdenciárias. Decadência e prescrição.
- O prazo de decadência e o de prescrição para cobrança das con
tribuições previdenciárias, antes de julho de 1991 (Lei n. 8.212), é de
cinco anos e trinta anos respectivamente, não se lhes aplicando os ar
tigos 173 e 174 do Código Tributário Nacional.
- Decadência parcial configurada.
- A Embargante não produziu prova apta a ilidir a presunção de
liquidez e certeza do título exeqüendo.
Apelação e remessa oficial parcialmente providas." (fl. 109).
RSTJ, Brasília, a. 13, (142): 135-199, junho 2001.
JURISPRUDÊNCIA DA SEGUNDA TURMA 189
Inconformado, interpôs o Instituto Nacional do Seguro Social recurso
especial, com base no artigo 105, alíneas a e c, da Constituição Federal.
Alega que o v. acórdão recorrido feriu o disposto no artigo 2'\ § 9'\ da Lei
n. 6.830/1980, que, a seu ver, determina que o prazo decadencial para a
cobrança das contribuições previdenciárias é de 30 anos. Colaciona, para
comprovar a divergência jurisprudencial, julgados do extinto Tribunal Fe
deral de Recursos e desta Corte, cujas ementas são as seguintes:
"Tributos sujeitos a lançamento por homologação. Contagem do
prazo de decadência.
I - No caso de não ter sido efetivada a antecipação do pagamen
to, instaura-se o lançamento de ofício (CTN, art. 149, V). Observar
-se-á, então, a regra do art. 173, I, do CTN, contando-se o prazo a par
tir do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamen
to poderia ter sido efetuado, vale dizer, o exercício seguinte ao término
dos cinco anos contados a partir do fato gerador.
U - Inocorrência, no caso, da decadência." (Apelação Cível n.
92.510-SP, Quarta Turma, DJU de 8.8.1985).
"Tributário. Contribuição previdenciária. Constituição do crédito
tributário. Decadência. Prazo (CTN, art. 173).
I - O art. 173, I, do CTN, deve ser interpretado em conjunto com
o seu art. 150, § 4'".
U - O termo inicial da decadência prevista no art. 173, I, do
CTN, não é a data em que ocorreu o fato gerador.
UI - A decadência relativa ao direito de constituir crédito tribu
tário somente ocorre depois de cinco anos, contados do exercício se
guinte àquele em que se extinguiu o direito potestativo de o Estado
rever e homologar o lançamento (CTN, art. 150, § 4'").
IV - Se o fato gerador ocorreu em outubro de 1974, a decadên
cia opera-se em 1'" de janeiro de 1985." (REsp n. 58.918-RJ, ReI. Min.
Humberto Gomes de Barros, j. em 24.5.1995).
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Franciulli Netto (Relator): Trata o presente recurso
RSTJ, Brasília, a. 13, (142): 135-199, junho 2001.
190 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
especial, fundamentalmente, da decadência para a cobrança de contribuições
previdenciárias.
O douto Colegiado a quo considerou que "por força dos artigos 80, 81 e 144 da Lei n. 3.807/1960, as contribuições sujeitavam-se à decadên
cia qüinqüenal e à prescrição trintenária. A partir de 24.7.1991, com o advento do novo Plano de Custeio da Previdência Social, o prazo de decadência e o de prescrição passaram a ser de dez anos, respectivamente (Lei n.
8.212, arts. 45 e 46)" e concluiu que, como o débito discutido nos autos referiu-se a contribuições com fatos geradores ocorridos no período de
agosto de 1973 a março de 1983 e o lançamento foi homologado em 20.5.1983, "a dívida anterior a maio de 1978 foi alcançada pela decadência, porquanto transcorrido período superior ao qüinqüênio legal".
Argumenta o Recorrente, por seu turno, que o v. acórdão teria violado o artigo 9.12., § 2.12., da Lei n. 6.830/1980, ao mencionar o artigo 144 da Lei n. 3.807/1960, dispõe que tanto para a prescrição como para a decadên
cia, o prazo é trintenário.
Além disso, aduz que, mesmo em se adotando o prazo qüinqüenal, não ocorreu a decadência, pois, como o lançamento da contribuição em análi
se se dá por homologação, observar-se-á o artigo 173, I, do CTN, que determina a contagem do prazo "a partir do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado, vale dizer, o exercício seguinte àquele em que a homologação, assim o lançamento, poderia efetivar-se, ou seja, o exercício seguinte ao término dos cinco anos conta
dos a partir do fato gerador".
A jurisprudência desta Corte, acompanhando o entendimento do Supremo Tribunal Federal, firmou-se no sentido de que, com o advento da Emenda Constitucional n. 8/1977 e da Lei n. 6.830/1980, que restabeleceu o artigo 144 da Lei n. 3.807/1960, o prazo prescricional para a cobrança
das contribuições era trintenário e o decadencial qüinqüenal.
É de ver, porém, que as contribuições previdenciárias anteriores à Emenda Constitucional n. 8/1977 tinham caráter tributário e, conseqüen
temente, tanto a prescrição como a decadência estavam submetidas ao prazo de cinco anos.
Em relação à contagem dos referidos prazos, quando se trata de contribuição sujeita a lançamento por homologação, esta pode ser efetuada em
5 anos a partir da ocorrência do fato gerador (art. 150, § 4'\ do Código Tributário Nacional). Assim, de acordo com a interpretação dada pela jurisprudência desta Corte ao artigo 173 do CTN, após a homologação, o INSS
RSTJ, Brasília, n. 13, (142): 135-199, junho 200!.
JURISPRUDÊNCIA DA SEGUNDA TURMA 191
ainda teria mais 5 anos para constituir o crédito tributário (vide: REsp n.
63.529-PR, ReI. Min. Humberto Gomes de Barros, DJ de 7.8.1995, v.u.;
REsp n. 189.421-SP, ReI. Min. José Delgado, DJ de 22.3.1999; v.u.; REsp
n. 13.902-SP, ReI. Min. Demócrito Reinaldo, DJ de 4.5.1999, v.u.; REsp
n. 148.698-SP, ReI. Min. Milton Luiz Pereira, DJ de 8.3.2000).
No caso dos autos, o lançamento das contribuições referentes aos exer
cícios de agosto de 1973 a maio de 1978 somente foi levado a efeito em
19.5.1983 (fi. 45) e a inscrição na dívida ativa se deu em 29.5.1985 (fi. 75).
O crédito já estava, portanto, fulminado pela decadência.
É certo que, entre a "notificação fiscal de lançamento de débito" e a
efetiva inscrição na dívida ativa decorreram apenas 2 anos. Por outro lado,
o lançamento foi efetivado após o prazo de 5 anos, que teve início com a
ocorrência do fato gerador e extinguiu o direito potestativo da Administração
de rever e homologar o lançamento. Conforme bem ressaltou o ilustre Mi
nistro Francisco Peçanha Martins, ao relatar o REsp n. 216.758-SP, publi
cado no DJU de 13.3.2000, verbis:
"De acordo com o ar!. 142-CTN, constitui-se o crédito tributá
rio pelo lançamento, sendo a inscrição da dívida o competente título
extrajudicial para desfechar a execução. Nas hipóteses, como a presente
em que o sujeito passivo da obrigação deve antecipar o pagamento do
tributo, sem exame prévio da Administração, o crédito se constitui
mediante o lançamento por homologação (art. 150), que se deve con
cretizar dentro de cinco anos, contados do fato gerador, sob pena de
decadência.
Ressalvados os casos comprovados de dolo, fraude ou simulação,
o crédito tributário extingue-se definiti'vamente nas circunstâncias pre
vistas no § 4.12. do art. 150/CTN, e crédito definitivamente extinto não
mais pode ser cobrado. Em outras palavras, a caducidade opera-se em
relação ao direito material de constituir o crédito tributário e, se tal
não se verifica no tempo aprazado, ele se extingue em definitivo,
descabendo sua cobrança posterior. Vale transcrever, na íntegra, a li
ção de AlioIllar Baleeiro:
'O direito de o Fisco rever o lançamento do sujeito passivo,
e, em conseqüência, exigir a diferença ou suplementação do tri
buto, ou, ainda, aplicar penalidade, salvo caso de dolo, fraude ou
simulação, caduca em 5 anos, reservado à lei do poder tributante
RSTJ, Brasília, a. 13, (142): 135-199, junho 2001.
192 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
fixar outro prazo menor. Se esgotar-se o prazo, há decadência do
direito de revisão por parte do Fisco, considerando-se automa
ticamente homologado o lançamento em que se baseou o sujeito
passivo para efetuar.'"
Assim, está o v. acórdão recorrido a desmerecer reparos, uma vez que
a decadência, de fato, alcançou as contribuições anteriores a maio de 1978.
Acrescente-se, por seu turno, em relação à divergência alegada, que
colaciona o Recorrente ementas que tratam da matéria discutida nos pre
sentes autos de maneira genérica e sem realizar o necessário cotejo analí
tico dos acórdãos confrontados. Incide, portanto, a Súmula n. 291 do STF,
o que determina o não-conhecimento do recurso especial nesse particular.
Diante do exposto, não conheço do recurso especial.
É como voto.
RECURSO ESPECIAL N. 173.076 - CE (Registro n. 98.0031255-2)
Relator: Ministro Franciulli Netto
Recorrentes: João Lycio Capote Soares e outros
Advogada: Mara Regina Siqueira de Lima
Recorrida: Fazenda Nacional
Procuradores: Mara da Graça Aragão e cônjuge
EMENTA: Tributário - Mandado de segurança - Reclamação
trabalhista - Gatilhos salariais - Precatório - Correção monetária
- Imposto de renda - Pessoa física - Incidência - Precedentes.
O conceito de acréscimos patrimoniais abarca salários, abonos
e vantagens.
A correção monetária não é um plus, mas, mera cláusula de
readaptação do valor da moeda corroída pela inflação, e, C01UO tal,
no caso em exame, integra-se aos proventos, para formar o quantum
da base de cálculo do imposto.
RST], Brasília, a. 13, (142): 135-199, junho 2001.
JURISPRUDÊNCIA DA SEGUNDA TURMA 193
Precedentes.
Recurso não conhecido. Decisão unânime.
ACÓRDÃO
Vistos e relatados os autos, em que são partes as acima indicadas, de
cide a Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade,
não conhecer do recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator, na
forma do relatório e notas taquigráficas constantes dos autos, que ficam
fazendo parte integrante do presente julgado. Votaram com o Sr. Ministro
-Relator os Srs. Ministros Francisco Peçanha Martins e Eliana Calmon. Au
sente, justificadamente, o Sr. Ministro Paulo Gallotti. Custas, como de lei.
Brasília-DF, 19 de setembro de 2000 (data do julgamento).
Ministro Francisco Peçanha Martins, Presidente.
Ministro Franciulli Netto, Relator.
Publicado no DI de 19.2.2001.
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Franciulli Netto: Trata-se de recurso especial interpos
to por João Lycio Capote Soares e outros, com fundamento no artigo 105,
inciso III, letra a, da Constituição Federal, contra v. acórdão proferido pela
Terceira Turma do Tribunal Regional Federal da 5Jl. Região, que deu pro
vimento à remessa oficial e apelação da Fazenda Nacional, em mandado de
segurança que impetraram contra o Delegado da Receita Federal em For
taleza - Ceará, cuja decisão do juízo monocrático havia concedido a segu
rança.
Pretendem a reforma do v. julgado, porquanto entendem ferido o ar
tigo 43 do Código Tributário Nacional, uma vez que os valores recebidos
são mero reajustamento monetário, que nada mais representam do que uma
reposição em razão da inflação ocorrida nos meses de abril e maio de 1988
e fevereiro de 1989, com base na Unidade de Referência de Preços - URP,
criada pelo Decreto-Lei n. 2.335, de 12.6.1987, e decorrentes de precatório
originado de execução de julgado em ação trabalhista.
Aduzem que, segundo a redação do artigo suso mencionado, para a
RSTJ, Brasilia, a. 13, (142): 135-199, junho 200l.
194 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
configuração do fato gerador do imposto de renda, é necessário que o con
tribuinte adquira a disponibilidade econômica ou jurídica de renda e
proventos de qualquer natureza, e, quanto a isto, questionam se tais valores constituem renda passível de tributação. Asseveram que esses valores não
representam vencimentos que ficaram retidos com o Recorrido, mas sim,
mera correção monetária dos vencimentos, impaga na ocasião oportuna.
Regularmente processado, não conta o recurso com as razões da Re
corrida, porquanto esta deixou transcorrer in albis o prazo recursal (cer
tidão de fi. 326).
Esse o sucinto relatório.
VOTO
o Sr. Ministro Franciulli Netto (Relator): Cuida-se de recurso espe
cial interposto por ex-servidores do Instituto Nacional do Seguro Social -
INSS, insurgindo-se contra a incidência de imposto de renda sobre valo
res recebidos a título de correção monetária de vencimentos em atraso - os
chamados "gatilhos salariais" -, em razão de decisão judicial.
A controvérsia está centrada em compreender-se a natureza jurídica das
verbas recebidas pelos Recorrentes, a título de correção monetária, para afe
rir se sobre elas incide o imposto de renda.
N o tocante ao imposto de renda, o artigo 43 do Código Tributário
Nacional assim disciplina renda e proventos de qualquer natureza:
"Art. 43. O imposto, de competência da União, sobre a renda e
proventos de qualquer natureza, tem como fato gerador a aquisição da
disponibilidade econômica ou jurídica:
I - de renda, assim entendido o produto do capital, do trabalho
ou da combinação de ambos;
II - de proventos de qualquer natureza, aSSlm entendidos os
acréscimos patrimoniais não compreendidos no inciso anterior."
Ora, na questão jurídica em exame, as quantias foram recebidas pelos
Recorrentes, devidas que eram pelo Decreto-Lei n. 2.335/1987, referentes
aos chamados "gatilhos salariais". É evidente que, sobre as quantias pagas
aos Recorrentes, a título de correção monetária, deve incidir o imposto de
renda, mesmo porque são derivadas de benefício nitidamente salarial, qual
RSTJ, Brasília, a. 13, (142): 135-199, junho 2001.
JURISPRUDÊNCIA DA SEGUNDA TURMA 195
seja, o "reajuste mensal dos salários, inclusive do salário mínimo, pensões,
proventos e remuneração em geral", apelidado de "gatilho salarial", e pre
conizado no decreto-lei em comento (artigo 8D.).
A bandeira "salário não é renda" de há muito foi sepultada pelo nos
so Direito Fiscal Positivo.
Isso, contudo, não permite confundir salários ou vencimentos com in
denização, como pretendem os Recorrentes. Nem essa possibilidade está agasalhada pelo sistema jurídico vigente.
Nos termos do artigo 153, inciso lII, ainda da Carta Política de 1988,
compete à União instituir impostos sobre "renda e proventos de qualquer
natureza".
A incidência da tributação deve obediência estrita ao princípio constitucional da legalidade (artigo 150, inciso I). O Código Tributário N acionaI, com a autoridade de lei complementar que o caracteriza, recepcionado pela atual Carta Magna (artigo 34, § 5D., do Ato das Disposições Cons
titucionais Transitórias), define o conceito de renda e o de proventos de
qualquer natureza (artigo 43, incisos I e II).
Se as verbas recebidas pelos Recorrentes fossem a título de indeniza
ção, aí, sim, haveria a isenção, porquanto a indenização não é produto do capital, do trabalho ou da combinação de ambos. Sobre não ser fruto do
capital, ociosas quaisquer considerações, por falta de relação entre causa e
efeito: do capital derivam valores com conteúdo econômico, tais como juros, ações, remunerações, dividendo, utilidades, enfim, riqueza, na acepção técnico-financeira do termo; mas, do capital, per si, não se extraem inde
nizações.
Na espécie, as quantias percebidas pelos Recorrentes se tratam de pro
duto do trabalho. Este origina salários, vencimentos, gratificações, em resumo, direitos e ganhos. Do trabalho não nascem indenizações; estas pode
rão surgir de outra relação entre causa e efeito, ou seja, do inadimplemento de direitos decorrentes do trabalho, o que não é o caso, ou em face da na
tureza intrínseca da verba, como, por exemplo, se dá em hipóteses de férias e licenças-prêmio não gozadas in natura.
É da sabença doutrinária e jurisprudencial que a correção monetária é atualização de valores, e visa a recompor a perda do poder de compra da moeda nacional. A sua não-aplicação conduziria a uma perturbação do equi
líbrio das relações jurídicas, porquanto empobreceria uns e enriqueceria
outros, à custa daqueles, desnaturando os postulados da Justiça de dar a cada um o que é seu.
RST], Brasília, a. 13, (142): 135-199, junho 2001.
196 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
Por outro lado, a correção monetária também não é um plus, mas, mera
cláusula de readaptação do valor da moeda corroída pela inflação, e, como
tal, no caso em exame, integra-se aos proventos, para formar o quantuIll
da base de cálculo do imposto.
Como é sabido, o conceito de acréscimos patrimoniais abarca salários
e abonos e vantagens pecuniárias, mas não indenizações (acidentárias do
trabalho e as trabalhistas), que a lei fiscal ordinária (Lei n. 7.713, de
22.12.1988) deixa à margem da tributação do imposto de renda, porque tais
hipóteses eram perfeitamente previsíveis (art. 6'\ incisos IV e V), bem as
sim aquelas contempladas pela tradição de nossa jurisprudência (indeniza
ção de desapropriação amigável ou judicial).
Por fim, impende asseverar que a legislação tributária nacional não
registra dispositivo legal a permitir que a correção monetária possa ser
deduzida, mediante o cálculo do imposto de renda.
N essa linha de raciocínio é o entendimento desta egrégia Corte, cns
talizado nos seguintes julgados: REsp n. 183.976-CE, ReI. Min. Hélio
Mosimann, DJU de 9.11.1999, e AgRg no Ag n. 224.753-CE, Rel." Min."
Nancy Andrighi, DJU de 1.8.2000, extraindo-se, deste último, a ementa que
segue:
"Agravo no agravo de instrumento. Tributário. Imposto de renda
de pessoa física. Mandado de segurança. Verba salarial paga a des
tempo. Rendimento tributável. Correção monetária. Incidência.
Incide imposto de renda sobre a atualização monetária de rendi
mentos provenientes do trabalho assalariado, pagos com atraso.
Tal incidência deve-se ao fato de que a correção monetária de
proventos de qualquer natureza constitui fato gerador do imposto de
renda, nos termos do artigo 43 do Código Tributário Nacional, na
medida em que se traduz em aquisição de disponibilidade econômica
ou jurídica.
A correção monetária integra-se aos proventos para formar o
montante da base de cálculo do imposto de renda.
Não existe autorização legal permitindo a dedução da correção
monetária do montante recebido, para efeito de cálculo do imposto de
renda.
Recurso a que se nega provimento."
RST], Brasília, a. 13, (142): 135-199, junho 2001.
JURISPRUDÊNCIA DA SEGUNDA TURMA 197
Pelo que precede, não conheço do recurso, com fulcro no artigo 105,
inciso III, alínea a, da Constituição Federal, porquanto não vulnerado o
artigo 43 do Código Tributário Nacional.
É como voto.
RECURSO ESPECIAL N. 251.944 - RN (Registro n. 2000.0026095-9)
Relatora: Ministra Eliana Calmon
Recorrente: Instituto Nacional do Seguro Social - INSS
Procuradores: Frederico Bernardino e outros
Recorrido:
Advogados:
Colégio Nossa Senhora das Neves
Roberto Trigueiro Fontes e outros
EMENTA: Administrativo - Isenção - Entidade filantrópica -
Renovação do certificado.
1. A garantia da isenção é constitucional, endereçada às enti
dades filantrópicas que atendam às exigências da lei (art. 195, § 752.,
da CFj1988).
2. Entidade que, embora atendendo às eX1gencias, requereu a
renovação fora dos moldes estabelecidos na Lei n. 8.212/1991.
3. Requerimento que, em atenção à Lei posterior, de n. 8.909/
1994, art. 32 , encaminhou a renovação à LBA e não ao INSS.
4. Correto proceder pela norma posterior, sem infração à Lei
n. 8.212/1991 e seu regulamento.
5. Recurso especial não conhecido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da
Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos vo
tos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, não conhecer do
RSTJ, Brasília, a. 13, (142): 135-199, junho 2001.
198 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
recurso especial. Votaram com a Relatora os Srs. Ministros Paulo Gallotti, Franciulli Netto e Francisco Peçanha Martins.
Brasília-DF, 3 de outubro de 2000 (data do julgamento).
Ministro Francisco Peçanha Martins, Presidente.
Ministra Eliana Calmon, Relatora.
Publicado no DJ de 27.11.2000.
RELATÓRIO
A Sra. Ministra Eliana Calmon: Trata-se de recurso especial interposto contra acórdão proferido pelo TRF da 5Jl. Região que manteve sentença concessiva de segurança, garantindo ao Colégio Nossa Senhora das Neves direito à isenção de pagamento de contribuição previdenciária.
Decidiu o Tribunal de Apelação que o Impetrante poderia requerer a renovação do Certificado de Entidades de Fins Filantrópicos através da Legião Brasileira de Assistência - LBA, consoante o art. 3!.l da Lei n. 8.909/ 1994, o que foi concretizado em 12.8.1994. Daí o inconformismo do INSS.
Com base na alínea a do permissivo constitucional, alega o Recorrente que houve violação aos arts. 55, § 1!.l, da Lei n. 8.212/1991; 32, § P, do Decreto n. 612/1992; e 111, II, do CTN.
Quanto ao primeiro dispositivo apontado, sustenta o INSS que o pedido de renovação deveria, obrigatoriamente, ter-lhe sido dirigido, e não à
LBA.
De referência ao segundo, defende a intempestividade do requerimento, posteriormente apresentado à autarquia em 30.5.1995, quando já escoado o prazo previsto no art. 32, § P\ do Decreto n. 612/1992, c.c. art. 11 da Lei n. 8.909/1994 (31.12.1994), e a perda da isenção, a qual só poderá ser concedida através de novo processo de concessão do benefício.'
Por fim, o art. 111, II, do CTN, refere-se à interpretação das normas concessivas de isenção.
Apresentadas as contra-razões, subiram os autos.
É o relatório.
VOTO
A Sra. Ministra Eliana Calmon (Relatora): Por disposição constitucional
RSTJ, Brasília, a. 13, (142): 135-199, junho 2001.
JURISPRUDÊNCIA DA SEGUNDA TURMA 199
estão isentas de contribuição para a seguridade social as entidades benefi
centes de assistência social que atendam às exigências estabelecidas em lei
(art. 195, § 712., da CFI1988).
Na hipótese dos autos, não se nega à entidade educacional recorrida
a qualidade de entidade de fim filantrópico.
O cancelamento da isenção deu-se por mera irregularidade burocrá
tica e procedimental, eis que o requerimento de renovação foi dirigido à
Legião Brasileira de Assistência - LBA e não ao INSS (Instituto Nacional
do Seguro Social), como está estabelecido no § 112. do art. 55 da Lei n. 8.212,
de 24.7.199l.
Com efeito, está assim redigido o dispositivo legal indicado pelo
INSS:
"Ressalvados os direitos adquiridos, a isenção de que trata este
artigo, será requerida ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS),
que terá o prazo de 30 (trinta) dias para despachar o pedido."
Entretanto, Lei posterior, de n. 8.909, de 6.7.1994, estabeleceu que o
INSS firmaria acordo de cooperação com a LBA, para a execução de ati
vidades relacionadas com a recepção, cadastro, análise inicial e parecer téc
nico sobre pedidos de registros e de concessões de Certificado de Entida
de de Fins Filantrópicos, para posterior homologação, até que sejam im
plantados os Conselhos Estaduais, do Distrito Federal e dos Municipios, de
Assistência Social.
Conseqüentemente, ao dirigir-se à LBA e não ao INSS, a entidade-re
corrida agiu com respaldo na lei, sem incompatibilizar-se com os diplomas
antecedentes.
A questão, aliás, tem chegado em numerosas demandas, diante da obs
tinação formal e fiscalista do INSS, sem atentar para a flexibilidade da pró
pria legislação.
Assim sendo, não conheço do recurso especial.
É o voto.
RSTJ, Brasília, a. 13, (142): 135-199, junho 2001.
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