TEMADECAPA - Edifícios e Energia · as vivendas, os edifícios de apartamentos, os hospitais, as...

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A partir da década de 80, as preocupações ambientais co-meçaram a ganhar importância e a ocupar um espaço que rapidamente se propagou e contagiou todas as áreas da sociedade, economia e indústria. A sustentabilidade das

nossas cidades e edifícios é hoje um vector de progresso e é nesta lógica e oportunidade que os sistemas de certificação de edifícios fazem parte de uma nova equação ambiental. Mitigar o impacto da construção, dos materiais e dos equipamentos e sistemas em funcio-namento com o foco no aproveitamento dos recursos e poupanças energéticas é um desafio a que várias organizações internacionais procuram dar resposta. Uma visão da sustentabilidade que, colada às vantagens económicas e de rentabilidade, despertou a necessidade da criação de vários modelos. Estes distinguem-se logo, à partida, como sendo obrigatórios e não obrigatórios, embora em alguns casos possam estar nas duas frentes. Do lado dos sistemas obrigatórios, temos as directivas e regulamentação que cada país adopta. É do lado dos sistemas não obrigatórios e, por isso, privados, que pretendemos entender as suas vantagens, oportunidade, âmbito e limitações. Os principais sistemas internacionais estão a ganhar escala e hoje são encarados como um cartão de visita e argumento de marketing importantes a quem quer criar a diferença. Embora assentes numa série de procedimentos e avaliações, estes selos ganharam, em alguns casos, uma conotação comercial que acaba por se sobrepor ao seu desígnio inicial. São várias as organizações internacionais com vista à promoção e disseminação de práticas de construção sustentável assentes em sistemas ou ferramentas criados para a implementação de modelos, definição de requisitos e avaliação de projectos e/ou aplicação de tecnologias. Os principais objectivos são claros e comuns a cada um dos sistemas: criar as bases de actuação, orientar e identificar a relevância ambiental dos edifícios por meio de categorias e classificação com base em rótulos ou selos de qualidade ligados às performances que estimulem a procura de edifícios amigos do ambiente e sustentáveis também quanto a aspectos económicos. As estratégias são várias mas todas passam por uma estrutura baseada num número determinado de categorias com uma diversidade de variáveis que permitem a ava-liação económica, energética, social e ambiental. A definição e peso das variáveis diferem de sistema para sistema e é curioso verificar as diferenças que apresentam quanto ao âmbito e posicionamento no mercado. Mas existe um denominador comum e muito importante: não é suficiente que os edifícios sejam “verdes”, importa que apresentem vantagens do lado da poupança e rentabilidade em todas as suas vertentes. O investimento deverá ser interessante e a rentabilidade garantida. Esta actividade, embora levada a cabo por entidades na sua maioria sem fins lucrativos, apresenta-se como uma actividade remunerada, que envolve pessoas, meios, investigação, formação, etc., sendo esta vertente de negócio mais vincada nuns casos do que noutros. No entanto, todos estão de acordo: a sustentabilidade ganha-se quando analisamos o ciclo de vida do edifício como um todo - energia, materiais, água e resíduos. Mais, as cidades estão no horizonte destas preocupações e a ambição e o desafio apontam para a criação de condições, onde, para além da eficiência energética e relevância ambiental, se actue no desempenho urbano numa lógica de aproveitamento de recursos e ganhos económicos.

Sistemas de certificação de edifícios

Selos para a sustentabilidadeOs edifícios do futuro querem-se sustentáveis. A gestão de recursos, de resíduos e o impacto ambiental ao longo do ciclo de vida são parâmetros essenciais para alcançar esse objectivo. Sistemas de certificação, como o LEED ou o BREEAM, surgem em resposta a um mercado para o qual a sustentabilidade é, cada vez mais, um requisito indispensável.

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Embora existam várias organizações e sistemas de certifica-ção, escolhemos apenas três que espelham este mercado e se destacam pela sua escala a nível internacional: o iiSBE de origem canadiana através da SBTool, o americano Green Building Council com o LEED e o BREEAM, o sistema mais antigo e desenvolvido pelo Reino Unido e mais utilizado na Europa. Importa perceber onde concorrem uns com os outros, onde estão as vantagens de cada um deles tanto do lado do projecto como para o cliente final. O que leva os clientes a aderirem a estas chancelas, o que diferencia estes modelos dos obrigatórios definidos pela União Europeia, e, no nos-so caso, quais as vantagens e como podem evoluir estes sistemas numa visão de progresso na área da energia e do ambiente? Importa também conhecer o impacto que esta área tem na actividade de projecto e de que forma pode alargar os horizontes das nossas empresas. Destes três modelos, apenas o iiSBE está representado a

nível nacional. No entanto, Portugal conta com outros dois sistemas com uma elevada expressão no nosso país: o LiderA e o Domus Natura (ver pág. 16).

O IISBE E O SBTOOL PORTUGUÊSCriado no Canadá, o iiSBE (International Initiative for a Sus-tainable Built Environment) é um sistema de certificação voluntário, sedeado no Canadá, que conta com os contributos e participação de 16 países na “promoção de práticas susten-táveis na indústria da construção e promove a investigação e alteração de políticas, com especial ênfase no desempenho global dos edifícios e na sua avaliação”. O destaque vai para o seu sistema de avaliação de sustentabilidade, o SBTool e, no caso português, o SBToolPT®. É justamente aqui que surge a principal diferença em relação a grande parte dos outros sistemas. Segundo Manuela Almeida, da direcção do iiSBE Portugal, “o sistema de avaliação da sustentabilidade SBToolPT® permite avaliar e certificar, de forma isenta e rigorosa, edifícios sustentáveis através de uma metodologia devidamente adaptada ao contexto português”. Uma das principais críticas apontadas aos sistemas internacionalmente reconhecidos surge exactamente na dificuldade, nalguns casos e países, na adaptação dos critérios base. “Esta metodologia está em sintonia com os mais recentes desenvolvimentos a nível internacional na área da avaliação de sustentabilidade de edifícios, como por exemplo o trabalho desenvolvido no âmbito do comité europeu de normalização (CEN/TC 350) e suas recentes publicações normativas”. Manuela Almeida explica as vantagens deste sistema: “na perspectiva de alguém

que deseje construir ou reabilitar um edifício, a utilização do sistema SBToolPT® é uma ferramenta poderosa para efectuar a avaliação de sustentabilidade desde as fases iniciais do projecto, permitindo não só melhorar o desempenho desse edifício a nível ambiental e do conforto como também um controlo mais rigoroso dos custos”. Neste sentido, para a responsável, “pelo lado das empresas de construção, a ava-liação de sustentabilidade permite não só comparar o nível de sustentabilidade de diferentes soluções, possibilitando a escolha das melhores soluções existentes no mercado, como também pode servir de guia de boas práticas na construção de edifícios mais sustentáveis, podendo a certificação surgir como uma vantagem de mercado em relação a outras empresas que pratiquem a construção convencional”. E acrescenta que “como o sistema SBToolPT® está devidamente adaptado ao contexto português é absolutamente desnecessário importar ferramentas de outros países (LEED, BREAM, etc.) que estão

descontextualizadas da situação particular da construção em Portugal”. Segundo a informação disponibilizada, o sistema de avaliação e certificação da sustentabilidade SBToolPT® possui neste momento um módulo que permite avaliar edifícios residenciais. Este módulo foi lançado em 2009 e até agora foram avaliados mais de uma centena de edifícios. Para além deste módulo ao nível dos edifícios, encontram-se, neste momento, em fase de conclusão dois novos módulos que permitirão avaliar a sustentabilidade de edifícios de serviços e de empreendimentos turísticos. Segundo o iiSBE Portugal, verifica-se neste momento a necessidade de alargar a es-cala de aplicação do conceito de sustentabilidade passando do nível do edifício para o nível urbano. Por este motivo, a iiSBE Portugal tem desenvolvido trabalho no âmbito da sustentabilidade urbana, encontrando-se igualmente em fase de conclusão, uma metodologia e uma ferramenta que permitirão avaliar o nível de sustentabilidade de operações de planeamento urbano.

O BREEAMO sistema BREEAM (Building Research Establishment En-vironmental Assessment Method) foi desenvolvido pelo BRE (Building Research Establishment) para ser aplicado no Reino Unido. No entanto, nas versões posteriores, houve o cuidado de possibilitar a sua utilização a nível internacional, favorecendo para isso a adaptabilidade a condições locais e sendo actualmente utilizado na Alemanha, Holanda, Suécia e Espanha, entre outros.Foi o primeiro esquema de certificação ambiental para edifícios,

Os principais objectivos são claros e comuns a cada um dos sistemas: criar as bases de actuação, orientar e identificar a relevância ambiental dos edifícios por meio de cate-gorias e classificação com base em rótulos ou selos de qualidade ligados às performan-ces que estimulem a procura de edifícios amigos do ambiente e sustentáveis também quanto a aspectos económicos.

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criado em 1990 e, passados 20 anos, mais de oitocentas mil habitações e cerca de vinte e três mil edifícios foram acredita-dos. O BREEAM offices é obrigatório em todos os edifícios de escritórios novos e reabilitados do governo central britânico. É composto por oito ferramentas específicas, abrangendo as vivendas, os edifícios de apartamentos, os hospitais, as prisões, os edifícios de escritórios, as escolas, os edifícios industriais e os edifícios fora do Reino Unido.O BREEAM classifica os edifícios de acordo com o número de pontos obtidos em subcategorias de nove categorias principais ponderadas - gestão (12%), saúde e bem-estar (15%), energia (19%), transporte (8%), água (6%), materiais (12.5%), resíduos (7.5%), utilização do solo e ecologia (10%) e contaminação (10%). Além desta pontuação, existem pontos directos para requisitos exemplares e para a inova-ção. Os níveis possíveis de obter são: Aprovado (30-44 %), Bom (45-54%), Muito Bom (55-69%), Excelente (70-85%) e Excepcional (> 85%).O objectivo do BREEAM é minimizar os efeitos negativos dos edifícios nos ambientes locais e globais, promovendo

o conforto e saúde nos espaços interiores. Já são vários os casos de certificação BREEAM em Portugal desenvolvidos por consultores certificados, como é caso do Fórum Sintra, que em 2012, foi classificado com um “bom” na escala BREEAM.

O LEEDO LEED é provavelmente o sistema de certificação com maior escala e divulgação. Por trás, existe toda a máquina de marketing e comunicação do US Green Building Council. Surge nos EUA em 1998 e é dominado pelas normas da ASHRAE e modo de pensamento norte-americano. O LEED possui um grande prestígio internacional demons-trado pela sua aplicação em mais de cento e trinta países, somando um portefólio de mais de cinquenta mil edifícios, dos quais 90% se localizam nos EUA e um pouco mais de 3% pertencem à Europa.É composto por nove ferramentas específicas, abrangendo as habitações, novas construções, os edifícios existentes, as unidades de saúde, as escolas, as lojas, os edifícios comerciais, projectos de desenvolvimento de bairros e os projectos de envolvente e parte central de edifícios de utilização colectiva.O LEED classifica os edifícios de acordo com o número de pontos obtidos em subcategorias de cinco categorias prin-cipais, implantação sustentável (26), utilização racional da água (10), energia e atmosfera (35), materiais e recursos (14) e qualidade do ambiente interior (15). Além desta pontuação, existem bónus de 6 pontos para a concepção e

inovação e 4 pontos para a componente regional. Os níveis LEED possíveis de obter são: Certificado (40-49 pontos), Prata (50-59 pontos), Ouro (60-79 pontos) e Platina (>79 pontos).O objectivo do LEED é estabelecer um padrão comum de avaliação dos edifícios e servir como exemplo para a cons-trução “verde”. Entre os vários casos existentes em Portugal sobressai o edifício Sonae Maia Business Center com clas-sificação Gold (ver caixa 2).

A IMPORTÂNCIA DOS SELOS LEED E BREEAMMuitos projectos internacionais de construção ecológica exigem a certificação dupla BREEAM e LEED, uma vez que isso lhes proporciona mais oportunidades de reconheci-mento e recompensa às práticas de construção verde. Um exemplo é o edifício que a Siemens construiu em 2012 em Londres, o Crystal, centro de desenvolvimento da sustenta-bilidade urbana, o primeiro no mundo a obter a mais alta acreditação em ambos os sistemas BREEAM (Outstanding) e LEED (Platina).Em Março de 2012, numa mesa redonda em Paris sobre o

tema da certificação LEED de edifícios existentes e históricos europeus, Scot Horst, vice presidente do USGBC, anunciou que este sistema irá reconhecer a atribuição de pontos de BREEAM. “LEED sempre reconheceu a liderança no mercado de BREEAM, e ao estabelecer estes níveis de equivalência, reconhece que BREEAM é um sistema sofisticado e maduro com um recorde bem sucedido na promoção da construção sustentável no Reino Unido e noutros países. A ideia é haver uma interacção entre os sistemas e isso seja mais eficiente para os utilizadores que decidem”, afirmou. Mas quais as vantagens objectivas, em investir em sistemas como o LEED ou o BREEAM, para os quais não existe corres-pondência directa no nosso país? Para Miguel Feliz, até há pouco tempo com certificado LEED, “este sistema tem uma grande vantagem: a aposta na comprovada rentabilidade dos projectos em termos de medidas e requisitos, sendo este o princípio subjacente no processo”.Ricardo Sá, responsável pela Edifícios Saudáveis Consultores, que possui profissionais com qualificações LEED accredited professional e BREEAM international assessor, identifica algumas vantagens para o cliente que decide por estas chancelas: em primeiro lugar, “a garantia da qualidade do ‘produto final’ (edifício construído) em particular AVAC, iluminação, instalações hidráulicas e alguns aspectos par-ticulares da arquitectura (ex: selecção de envidraçados). Para além dos aspectos ligados à eficiência energética e hídrica (eficiência dos equipamentos, qualidade do controlo, etc.) existem outros aspectos funcionais (adequação dos

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Diariamente, construímos convosco uma forte parceria baseada na confiança, continuidade e partilha de informações. É nossa ambição contribuir para o vosso bem-estar e dos vossos clientes, enquanto pensamos no futuro.Com base na nossa experiência e na capacidade da nossa equipa, desenvolvemos soluções seguras e sustentáveis para integração nos segmentos de mercado comercial e industrial.

Vamos pensar juntos o futuro! – Think Far*

lennoxemeia.com

O LEED possui um grande prestígio internacional demonstrado pela sua aplicação em mais de cento e trinta países, somando um portefólio de mais de cinquenta mil edifí-cios, dos quais 90% se localizam nos EUA e um pouco mais de 3% pertencem à Europa.

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AS DIFERENÇAS ENTRE O LEED E O BREAM

Materiais e recursos14

Energia e atmosfera15

Qualidade do ambienteinterior

15

Implantação sustentável26

Utilização da água10

Categorias LEED

BREEAM

34%

LEED

16 pts

Mais parecidos que diferentes

Sistemas Pontos fortes Pontos fracos

BREEAM

n  Permite a comparação da pontuação obtida por diferentes edifícios

n  Auditoria independente de avaliaçãon  Permite a adaptação a contextos locais

n  Requisitos muito exactosn  Sistema complexo de ponderaçãon  Requer assessores qualificados

LEEDn  Marketing forten  Muita informação disponível para aplicar o métodon  Não exige um certificador acreditado

n  Está muito ligado às normas da ASHRAEn  Requer muita documentaçãon  Falta uma auditoria independente de avaliação

Resíduos, 7,5%

Utilizção do soloe ecologia, 10%

Contaminação, 10%

Gestão, 12%

Saúde e bem-estar, 15%

Energia, 19%

Transporte 8%

Água, 6%

Materiais, 12,5%

Categorias BREEAM

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UM CASO LEED GOLDFomos falar com a Sonae e ouvir a perspectiva do cliente que tinha a ambição de construir um edifícios de excelência e que fosse uma referência na sua vertente ambiental. Para a escolha da certificação LEED pesou, não só a relação de confiança com a empresa consultora nesta área e o Sonae Maia Business Center, mas também a notoriedade inter-nacional desta marca. Segundo os seus responsáveis, “as vantagens são múltiplas e o balanço que podemos fazer é altamente favorável”. O projecto e a construção do edifício Sonae Maia Busi-ness Center foram orientados no sentido de garantir um ambiente interior de excelência – sobretudo ao nível da qualidade do ar e conforto térmico –, e em simultâneo de minimizar os impactos ambientais, como os resultantes do consumo de energia e água, da utilização de mate-riais de construção e da geração de resíduos. Ao nível da eficiência energética, o aquecimento e o arrefecimento do edifício são garantidos por calor excedentário de um processo industrial de geração de electricidade para con-sumo pelos edifícios e equipamentos existentes no Parque de Negócios das Empresas Sonae. Também os elevadores estão dotados de uma gestão inteligente e eficiente que

proporciona importantes poupanças. Noutro nível, no uso da água, foram implementados equipamentos eficientes e foi criado um sistema de tratamento que permite reciclar a água para descargas, bem como um processo de apro-veitamento das águas pluviais. Foram adoptadas janelas amplas, que oferecem a 95% dos nossos colaboradores luz natural e vista para o exterior, garantindo condições de habitabilidade e bem-estar de excepção. Garante-se assim uma importante luz natural, ainda complementada por um sistema de iluminação inteligente que se adapta às flutuações de luminosidade ao longo do dia”. Quanto ao interesse económico do projecto, para a Sonae , “os ganhos de produtividade e de redução de absentismo que a boa qualidade do ambiente interior do edifício proporciona são claras vantagens competitivas. Três anos após a sua inauguração, constatámos que este projecto ecoeficiente do edifício foi, sem margem para dúvidas, uma aposta ganha, com poupanças a prazo muito superiores aos valores investidos. O maior desafio assentou no facto de estarmos a entrar num terreno pouco ou nada experimentado em Portugal, e mesmo na Península Ibérica, onde não existia qualquer edifício certificado”.

• Aquecimento e o arrefecimento garantidos por calor excedentário de um processo industrial de geração de electricidade;

• 50% de redução no consumo de energia para iluminação;• 40% de redução de consumo de água potável (100% das descargas sanitárias asseguradas por água reciclada de lavatórios e chuveiros);

• 95% de redução nos caudais dos escoamentos pluviais, em caso de chuvada forte (minimizando o risco das inundações ligadas ao excesso de impermeabilização dos solos urbanos);

• 90% da água pluvial descarregada na rede com tratamento prévio (evitando a contaminação dos cursos de água); • 95% das madeiras provenientes de florestas geridas de forma sustentável; • 90% dos resíduos de construção reaproveitados ou reciclados;• 95% dos colaboradores com luz natural e vista para o exterior;• 100% das tintas, colas, vedantes e alcatifas com muito baixo teor de produtos químicos nocivos; • Estacionamento prioritário para automóveis “eco-eficientes”;• Autocarro dedicado ligando o edifício às estacões de metro mais próximas.

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sistemas à utilização prevista para o edifício), para os quais a experiência dos consultores (e não apenas a certificação) representa uma mais-valia muito significativa”. Em segundo lugar, “o potencial de comunicação. ‘Passe o exagero’, hoje, não há edifício que não se anuncie como ‘verde’, sendo que em muitos casos pouco ou nada justifica este anúncio”. Este consultor explica que, por vezes, os clientes procuram obter “apenas” uma certificação ambiental e encontram um contributo que vai muito mais além das suas expecta-tivas, “uma vez que os ajudam a tornar os seus projectos mais eficientes e integrados, resultando num produto final equilibrado e comprovadamente melhor”.Continua: “para nós, que sobrevivemos exclusivamente porque estabelecemos parcerias de qualidade com os nossos clientes, é fundamental conhecermos bem estes sistemas. A sua notoriedade é muito importante porque os clientes, mes-mo sem qualquer conhecimento técnico, confiam e sabem que podem tirar duplo partido desse investimento: por um lado, são garante da qualidade do edifício construído (ou da sua operação e manutenção), por outro porque sabem que podem tirar partido comercial e/ou em termos de imagem de uma certificação com este nível de reconhecimento”. A diferenciação e imagem são pontos-chave para o lado do

cliente, mas qual a vantagem deste investimento em tempo, formação e qualificações para os profissionais projectistas? Ricardo Sá não hesita - “para a internacionalização dos serviços de engenharia que a Edifícios Saudáveis presta é fundamental”. Para Miguel Feliz, a adesão a estes sistemas é uma ferramenta de internacionalização e notoriedade im-prescindível aos projectistas que queiram alargar horizontes. “É uma ponte para o reconhecimento internacional”, declara. UMA TENDÊNCIA DOS SISTEMAS OBRIGATÓRIOSAo lado destas chancelas, existem orientações obrigatórias que convergem neste sentido. São várias as Directivas eu-ropeias que se aproximam destes objectivos, mas há ainda muitas diferenças. Desde logo, a agilidade e a flexibilidade na mudança ou aperfeiçoamento não são comparáveis. Estes sistemas privados, embora com uma componente técnica e académica fortíssima, vão bebendo e incorporando as melhores práticas e modelos. Esta agilidade contrasta com a complexidade da legislação que a maioria dos países vão produzindo sobre estas matérias. Paralelamente, a vertente económica é aqui um factor chave e com especial evidência nos critérios de classificação dos vários modelos destas organizações. Para Manuela Almeida, “existem grandes vantagens económicas, tecnológicas e ambientais dos edi-fícios sustentáveis em relação aos edifícios convencionais

quando se considera todo o ciclo de vida, que é o que tem de se fazer quando se pretende assegurar a nossa pró-pria sustentabilidade a médio prazo”. No caso da Directiva Europeia para os edifícios, por exemplo, os aspectos da viabilidade económica só há pouco tempo apareceram e as metodologias nacionais para os implementar têm sido uma dor de cabeça. Por outro lado, não existe facilidade a nível regulamentar na agregação das várias áreas como a energia, a água, os resíduos e materiais e parte do sucesso destes esquemas voluntários têm a ver com a facilidade dessa agregação e comunicação funcional. Mas será que os vários sistemas ou regulamentação tendem a caminhar para estes modelos? Ricardo Sá é pessimista nesta matéria: “não faço ideia como é que esses sistemas vão evoluir, sei apenas que precisam de evoluir. Pessoal-mente, acho difícil (e não sei se será desejável) transformar esquemas voluntários e tecnicamente muito válidos em esquemas obrigatórios, necessariamente menos ambiciosos”. Por seu lado, Manuela Almeida considera que existe uma complementaridade entre estas duas realidades, “pois to-mando como exemplo o caso português, a avaliação de sustentabilidade efectuada no SBToolPT® considera aspectos que não são considerados no SCE. Mas, no entanto, os siste-

mas de certificação de sustentabilidade podem substituir os sistemas existentes de avaliação energética, porque estes sistemas já avaliam a utilização de energia e avaliam ainda outros critérios de forma holística. O SBToolPT® recorre in-clusivamente a indicadores que são calculados utilizando os métodos preconizados no SCE. Uma evolução dos sistemas de certificação obrigatórios actuais incidirá naturalmente num alargamento do seu campo de avaliação para se tornarem mais abrangentes e consequentemente mais parecidos com os sistemas de avaliação e certificação de sustentabilidade. Em alguns países, a certificação de sustentabilidade dos edifícios já é obrigatória, como acontece na Alemanha para os edifícios públicos, pelo que, nesses casos, já substituiu ou expandiu a certificação energética, permitindo uma análise muito mais abrangente dos edifícios e assim promovendo uma grande melhoria a nível ambiental, social e económico. Esta tendência ganha especial relevância quando se tem em conta o pacote normativo que está neste momento em desenvolvimento no Comité Europeu de Normalização (CEN), pelo Comité Técnico 350. Conclui-se assim que no futuro, a avaliação e certificação de sustentabilidade será uma realidade incontornável no contexto legislativo. Quanto mais cedo esta questão se tornar realidade, mais cedo serão dados passos importantes rumo à sustentabilidade do ambiente construído”. n

Por vezes, os clientes procuram obter “apenas” uma certificação ambiental e encontram um contributo que vai muito mais além das suas expectativas, “uma vez que os ajudam a tornar os seus projectos mais eficientes e integrados, resultando num produto final equilibrado e comprovadamente melhor”.

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