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HAICAIS Andorinhas chegam, Em revoada na praça: Chão fertilizado. Manoel F. Menendez SP Há pouco chovia Agora apenas o vento É dono da rua. Humberto Del Maestro ES Flores de café Se desprendem com o vento, Cobrindo o gramado. Renata Paccola SP Dessas flores murchas, Se entorno a água do vaso, Virão novas flores. Neide Rocha Portugal PR Sertão nordestino, Fogueiras, fogos, bebidas... Noite de São João. João Batista serra-Ce Pássaro azul, Na contenção do seu vôo, Sobra perspicácia. Na manhã de domingo, Passeio a colher flores: Só trouxe gardênia. Aí vem setembro: Crianças querem saber Quando é Cosme-e-Damião. Tapete de cores Para alguma santidade: Paineiras floridas. Sanhaço perscruta, Silente, meu mamoeiro: Tem mamão devês. Caminho do mar: A navalha no meu rosto, Corta que nem gelo. Trilha do mosteiro: O andarilho vai convicto, Buscar paz de espírito. Vai de galho em galho, Pára, olha, me vigia: Esquilo mineiro... Cai um temporal Sobre o calor de domingo: São águas de março. Chove em Parati: Mil peixinhos vêm à tona, Provar outras águas. Antonio Cabral Filho RJ TROVAS Felicidade, um evento, Uma graça fugidia... Como lufada de vento, Passa por nós, algum dia! Fernando Vasconcelos Pr Desse jeito, esperneando, Considero-te a criança, Que sempre tenta chorando Quando o que quer não alcança João Batista Serra CE Dê-se ao jovem liberdade Para sem medo ele ousar. - É no ardor da mocidade Que o sonho aprende a voar. A. A. de Assis - PR Raia o dia, terno e lindo, Piam na mata, nambus, E o sol acorda sorrindo Dentro de um ninho de luz. Humberto Del Maestro ES Se a tua cruz é pesada, E vives só de lamento, Hás de encontrar pela estrada Outros com mais sofrimento. Jessé Nascimento RJ A lenda de Cantagalo, Encontro mui benfazejo: Do belo canto do galo Com o nome do lugarejo. Henny Kropf RJ Não confies no destino, Pois na última viagem Não vale o desatino, Bondade vira passagem. Osael de Carvalho RJ Brigar com gente de saia, Foi coisa que nunca fiz, É tudo rabo de arraia, Padre, mulher e juiz. Arlindo Nóbrega SP Eu velejo mar adentro, Sem temer a tempestade, Indo em busca do meu centro A toda velocidade. Ivone Vebber RS Nesta pedra está gravada Toda a minha emoção De saber que não sou nada Além de mera ilusão. Silvério da Costa SC Urubu sobre o telhado E voando abertamente Ficou muito bem olhado Pelo suspiro da gente. Franc Assis Nascimento - Go Ao brincar com seu cabelo E puxar o seu vestido, Vento sede a um sexy apelo E revela ter crescido. Olivaldo Júnior SP Ano VIII nº61 Nov/Dez 2014 Distribuição Gratuita Editor: Antonio Cabral Filho Rua São Marcelo, 50/202 Rio de Janeiro RJ Cep 22.780-300 Email: [email protected] http://blogdopoetacabral.blogspot.com.br / http://letrastaquarenses.blogspot.com.br Filiado à FEBAC

Letras Taquarenses Nº 61 * Antonio Cabral Filho - Rj

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Page 1: Letras Taquarenses Nº 61 * Antonio Cabral Filho - Rj

HAICAIS

Andorinhas chegam,

Em revoada na praça:

Chão fertilizado.

Manoel F. Menendez – SP

Há pouco chovia –

Agora apenas o vento

É dono da rua.

Humberto Del Maestro – ES

Flores de café

Se desprendem com o vento,

Cobrindo o gramado.

Renata Paccola – SP

Dessas flores murchas,

Se entorno a água do vaso,

Virão novas flores.

Neide Rocha Portugal – PR

Sertão nordestino,

Fogueiras, fogos, bebidas...

Noite de São João.

João Batista serra-Ce

Pássaro azul,

Na contenção do seu vôo,

Sobra perspicácia.

Na manhã de domingo,

Passeio a colher flores:

Só trouxe gardênia.

Aí vem setembro:

Crianças querem saber

Quando é Cosme-e-Damião.

Tapete de cores

Para alguma santidade:

Paineiras floridas.

Sanhaço perscruta,

Silente, meu mamoeiro:

Tem mamão devês.

Caminho do mar:

A navalha no meu rosto,

Corta que nem gelo.

Trilha do mosteiro:

O andarilho vai convicto,

Buscar paz de espírito.

Vai de galho em galho,

Pára, olha, me vigia:

Esquilo mineiro...

Cai um temporal

Sobre o calor de domingo:

São águas de março.

Chove em Parati:

Mil peixinhos vêm à tona,

Provar outras águas.

Antonio Cabral Filho – RJ

TROVAS

Felicidade, um evento,

Uma graça fugidia...

Como lufada de vento,

Passa por nós, algum dia!

Fernando Vasconcelos – Pr

Desse jeito, esperneando,

Considero-te a criança,

Que sempre tenta chorando

Quando o que quer não alcança

João Batista Serra – CE

Dê-se ao jovem liberdade

Para sem medo ele ousar.

- É no ardor da mocidade

Que o sonho aprende a voar.

A. A. de Assis - PR

Raia o dia, terno e lindo,

Piam na mata, nambus,

E o sol acorda sorrindo

Dentro de um ninho de luz.

Humberto Del Maestro – ES

Se a tua cruz é pesada,

E vives só de lamento,

Hás de encontrar pela estrada

Outros com mais sofrimento.

Jessé Nascimento – RJ

A lenda de Cantagalo,

Encontro mui benfazejo:

Do belo canto do galo

Com o nome do lugarejo.

Henny Kropf – RJ

Não confies no destino,

Pois na última viagem

Não vale o desatino,

Bondade vira passagem.

Osael de Carvalho – RJ

Brigar com gente de saia,

Foi coisa que nunca fiz,

É tudo rabo de arraia,

Padre, mulher e juiz.

Arlindo Nóbrega – SP

Eu velejo mar adentro,

Sem temer a tempestade,

Indo em busca do meu centro

A toda velocidade.

Ivone Vebber – RS

Nesta pedra está gravada

Toda a minha emoção

De saber que não sou nada

Além de mera ilusão.

Silvério da Costa – SC

Urubu sobre o telhado

E voando abertamente

Ficou muito bem olhado

Pelo suspiro da gente.

Franc Assis Nascimento - Go

Ao brincar com seu cabelo

E puxar o seu vestido,

Vento sede a um sexy apelo

E revela ter crescido.

Olivaldo Júnior – SP

Ano VIII nº61 Nov/Dez 2014 Distribuição Gratuita Editor: Antonio Cabral Filho

Rua São Marcelo, 50/202 Rio de Janeiro – RJ Cep 22.780-300 Email: [email protected]

http://blogdopoetacabral.blogspot.com.br / http://letrastaquarenses.blogspot.com.br Filiado à FEBAC

Page 2: Letras Taquarenses Nº 61 * Antonio Cabral Filho - Rj

Ando de pé por prazer,

De ônibus por vaidade,

Mas de pé consigo ver

A sujeira da cidade.

Gilson de Abreu Marinho – RJ

As lágrimas, pra quê servem,

Além de molhar a face?

Pra demonstrar alegria

Ou pra chorar de saudade.

Cida Micossi – SP

Desperto e ainda indolente,

Tenho teu corpo abraçado,

Pois sonhando no presente,

Vivo este amor do passado.

Fernando Câncio Araújo – CE

Eis um fato que deplora

Meu coração rico e nobre,

Muito rico sempre explora

O trabalho do mais pobre

Renato Báez – MS

Quando Mãe Eva, imprudente,

Provou, também, da maçã,

A serpente foi semente

Das gerações do amanhã.

Pedro Giusti – RJ

Olhai, racistas papalvos,

Das mães o exemplo de amor:

Seios negros, seios alvos

Dão leite da mesma cor.

Jacy Pacheco – RJ

Separou-se e...com mais pique

Justifica encabulada:

Marido que dá chilique,

Não consegue dar mais nada.

Maria Nascimento – RJ

OS ESPELHOS

Os espelhos que vivem em mim

Encontram nos seus olhos

O afeto, o silêncio

E a sinceridade.

Espelho

Minha imagem pelo ar,

Solto os impulsos

Nos fios de ternura

E me alimento dos desejos

Que moram em sua pele.

Luiz Fernandes da Silva - Pb

Primavera

Hibiscos vermelhos floridos

Pinhados de beija-flores.

Selmo Vasconcellos – RO

PAUTA

Solam guitarras

Sutis enlevos

Alcoóis

Ventríloquos

À meia voz flutuam

Inevitável silêncio

A sede e a fome sacio

Imaginária paisagem

Balem ovelhas ao longe

Incompleto

O meu nome balbucio

Dias semanas não sei

Quiprocós

Tartamudo repasso

Notas de uma canção

Hélvio Lima – MG

LONGA ESTRADA

Todo poeta

Tem a cabeça cheia

De letras,

Palavras, frases,

Pensamentos loucos,

Que tenta, com a mão,

Colocar no papel,

Na máquina de escrever,

No teclado do PC.

Porém, como é longa

E acidentada a estrada

Entre a cabeça e a mão

do poeta!

Araci Barreto – RJ

OCULTO

Visto ao longe

Sou nebuloso

Como alto da serra

Em dia cinza,

Coberto

Meu verde-mistério

Só pra quem vê de perto.

Marlos Degani – RJ

BLA-BLA-BLA

Bla-bla-bla

Bla-bla-bla

Existe muita gente no senado

Bla-bla-bla

Bla-bla-bla

Muita gente na

Câmara dos deputados

Bla-bla-bla

Bla-bla-bla

Muita gente com fome

Sem casa

Bla-bla-bla

Bla-bla-bla

De dois em dois anos eleições

Bla-bla-bla

Bla-bla-bla

Bla-bla-bla

Lírian Tabosa – RJ

POEMAS DO TOUCHÉ

Pássaros no ninho:

Novas vidas que iluminam

Os olhinhos do menino.

GUERREIRA ILUMINADA

Aquém do escuro silêncio

Servido em redomas azuis;

No sorriso da guerreira

Brilha a lúcida trincheira

Em versos de ira e luz.

FRUTA

Eu te amo como quando

Saboreio as fruta madura,

Na cumplicidade da degustação.

Te amo como quando

Page 3: Letras Taquarenses Nº 61 * Antonio Cabral Filho - Rj

Mordo com prazer.

Enterrando os dentes

Em polpas e fibras

Amparando o sumo

Na ponta da língua.

Amar

É a consistência da semente.

Gênese.

CHAMA

A saudade é azul...

Cinzentas

São as tempestades.

Que rabis na alma...

Antonio Luiz Lopes Touché – SP

AMANHECE

Orvalho cai

Gotas de mel

De teus lábios

De rosa

Eu beija-flor

Sugo-te o

Doce

Faço-te prosa

Semíramis Reis – RJ

SALDO ESCASSO

Após devorar

A sagrada esperança

De Agostinho Neto,

Com gosto de suor africano

Explorado em solo brasileiro,

Regada a muito café

E mergulhado em insônia,

Vou passear no quintal

Ver se colho um poema

Ou o sal da escassez.

NOITE

Depois de trabalhar

O dia inteiro

A noite fica exausta

E se dependura

Lá do céu sobre nós

E dorme como os morcegos...

É por isso que acordamos

Chamuscados de escuridão.

METAPOÉTICA

De tanto

Alavancar o poema

Acabei pavimentando

O verso

E instalando a poesia

Sempre no ponto final.

COMPLEXO DE KAFKA

Não fossem os calafrios

Da pobre coitada mãe

Que vivia em panos quentes

Pra manter seu pai

Em banho-maria

Teríamos mais psicanalistas

Tentando livrar as pessoas

Dos estados parasitários

E Kafka transformado

em barata.

LARGO DA BATALHA

Já diz tudo

O nome do local

Que nos lembra

Algo longe

Transido de combates

E ainda agora

Nos seus arredores

Chegam avisos da pólvora:

Seguem escaramuças

Por seu corpo escarpado,

Todo respingado de rubro.

PONTO CEM RÉIS

Não sei quantos reis

Passaram por este ponto

E não sei ainda

Se era sem réis

Caso houvesse pedágio

Transitar livremente.

ENQUETE

O vovô anarquista

Perguntou para o netinho

Se acreditava em Papai Noel:

- Por quê, vai me dar presente?

Inquiriu o garoto, todo serelepe,

Enquanto o avô confabulava

Com seus bigodes:

- Que menino materialista!

ANTI GULLAR

Inútil a luta corporal

Sem poemas concretos

Sobre romances de cordel

A sós dentro da noite veloz

Pra cometer poema sujo

E acender uma luz no chão

Em plena vertigem do dia

Causar crime na flora

E sair por aí fazendo barulhos

Com muitas vozes

E argumentação contra

A morte da arte

Pleno de antologias...

HORA DA RVOLUÇÃO

É hora da revolução!

É hora da revolução!

Não! Não é nenhum

Sinal dos tempos

Nem devido à queda

De algum ditador.

É que eu vi

Um homem no ônibus

Lendo o Manifesto Comunista.

CACETE BAIANO

Depois de apanhar

Até gato morto miar,

Por dizer gracinhas

Para a menina dos olhos

Do paizão ciumento,

Diz que ganhou

O maior cacete baiano.

APROPRIAÇÃO INDÉBITA

Eu sei que o boca-a-boca

É a melhor propaganda,

Mas não adianta resmungos

Nem choro pelos cantos.

Page 4: Letras Taquarenses Nº 61 * Antonio Cabral Filho - Rj

Só devolvo o beijo

Que te roubei dormindo,

Se vieres tomá-lo

Boca-a-boca...

DEUSES DE PAUPÉRIA

Era uma cidade

Fundada por ATA

E lá estava escrito:

Artigo Único –

Aqui todos somos felizes,

Pela graça dos deuses.

E todos tudo fazem

Para o bem de todos.

§ Único – Revogam-se

as disposições em contrário.

POEMINHO IDEOLÓGICO

Comunismo,

Você, foi-se....

Eu martelo,

Hasta la revolución !

Antonio Cabral Filho – RJ

MAIS TROVAS DO CABRAL

Não sinto nenhum perigo

Numa sexta-feira treze;

Minha jornada eu

prossigo

E meus amigos são treze.

&

Meu coração é um cofre

Carregado de troféus;

Ninguém sabe por que

sofre,

Mas seu amor anda ao

léu.

&

Futebol, mulher e pinga

Não discuto com

ninguém,

Pois lá na casa do Tinga

Todo mundo é de

ninguém.

&

Meu avô nunca foi rico

Mas não invejava nobre;

Diz que título de pobre

É nunca pedir pinico.

&

Dia 26 de Julho

É data muito bacana,

Pois El Che é meu

orgulho

Da revolução cubana.

&

Amor tem três

dimensões:

É pai, mãe e professor;

Mas pai, mãe, são

ligações,

Professor, só puro amor.

&

Te escrevi a zero três,

Respondeste a zero sete;

Não sou tipo que se mete

Onde tem bola da vez...

&

Vai sem olhar para trás

Quem acha que sempre

acerta,

Sem saber que a vida faz

Estoque de porta aberta.

&

Acordei Morubixaba

Bem disposto esta manhã

E sem ligar pra piaba,

Brinquei logo com a

cunhã.

&

Esqueça das horas

mortas,

Que o futuro se anuncia,

Pois tudo que mais

importa

É termos um novo dia.

&

Os poetas são

pescadores,

Que fazem do peito

lavra,

Tomam para si as dores

Do pescador de palavra.

0020

Os poetas são pescadores

Que fazem do peito mar,

Tomam para si as dores

De quem não sabe remar.

&

Pulsa lá nas profundezas

A flecha do olhar

sentido,

Que suspirava tristezas

Sem amor

correspondido.

&

Parabéns programadores

Pela data celebrada,

Mas 12e 13 são dores

Por tanta pule lavrada.

&

Nas profundezas do peito

Guardei as mágoas

sentidas,

E cuidei sempre com

jeito

Até serem esquecidas.

&

Amizade com poesia

São flores em nossas

vidas;

Desejo-lhes todo dia

Mil primaveras floridas.

&

Minha terra tem

palmeiras,

Disse o poeta a cantá-las;

Mas pra cantar as

palmeiras

Precisamos replantá-las.

&

Um raio de sol me guia

Por onde o amor impera,

Mostrando-me mais um

dia

Nos reinos da primavera.