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04/09/14 17:24 Quem manda por aqui é o consumidor Página 1 de 2 http://www.valor.com.br/imprimir/noticia/3679856/cultura/3679856/quem-manda-por-aqui-e-o-consumidor Imprimir () 03/09/2014 - 05:00 Quem manda por aqui é o consumidor Por Angela Klinke Seu filho provavelmente já "zerou" um game e o colocou na pilha de descartáveis. Prefere criar seu universo no Minecraft. Você, com o controle na mão, pode ter recorrido à programação de TV "on demand" porque quis determinar o que, como e quando ver. Pacote pronto, proposta-padrão, desafio monitorado = tédio. Os consumidores precisam que suas compras reflitam quem são, que as escolhas digam algo a respeito de sua identidade, para sentir-se senhores do destino. O desejo por personalização não é recente, mas vem se acelerando e ganhando contornos mais complexos. É o ritmo instantâneo dos "likes" e "dislikes" incorporado também ao mundo off-line, avalia a agência de tendências Trendwatching. "Há tanto a vontade de ser cocriador quanto a necessidade de ter um produto único. O consumidor está forçando sua diferenciação numa velocidade cada vez maior. Nenhum setor vai poder ficar fora desse processo", diz Luís Rasquilha, CEO da AYR, consultoria de tendências e inovação. A consultoria americana Tech Cast, por sua vez, prevê que a customização em massa deve ser responsável por 30% das vendas no varejo em 2017. No Brasil, o movimento começa a se tornar significativo. Para a cadeia de fast-food Bob's, por exemplo, isso significou sair da zona de conforto dos combos para a singularização dos sanduíches. "Fazemos pesquisas com os consumidores a toda hora e sentimos que a padronização antes entendida como um atributo perdeu a relevância, em especial para as novas gerações", conta Carlos Pollhuber, diretor de marketing do Bob's. A partir de um grupo multidisciplinar, a empresa trabalhou por dois anos para reconfigurar seu conceito de solução rápida de alimentação. "Redesenhamos o processo produtivo, repensamos fornecedores e insumos, mudamos o conceito das lojas, mas sem ferir o compromisso com o tempo." No novo modelo, o consumidor recorre ao autoatendimento para montar seu lanche "no tamanho de sua fome". Pode escolher entre sanduíches P, M ou G; decidir se quer incluir bacon ou tirar a cebola; ou ainda optar pela tecla "no capricho" e incrementar o queijo ou a salada (sem pagar mais por isso). Os molhos também são dosados por ele. O ambiente passou a ter mesas individuais, para família ou coletivas para captar as diferentes configurações e estados de espírito. Na primeira unidade, aberta há quase dois meses no Rio, a empresa já mediu os resultados. "Houve uma maior adesão e fidelização dos jovens. Eles passaram a vir mais vezes ao Bob's. Até mesmo o público mais velho, que antes recorria ao balcão de atendimento, tem preferido a liberdade de escolher e montar sozinho seu sanduíche." A empresa teve de importar máquinas, desenvolver novos equipamentos e investir em treinamento. Mesmo com o autoatendimento, diz Pollhuber, a equipe das lojas não foi reduzida. "Deslocamos gente do atendimento para a cozinha. Era preciso aumentar a produtividade para dar conta de tantos pedidos únicos e feitos na hora. O consumidor tem o poder e precisamos criar experiências de consumo mais ricas e prazerosas." Até agora, a rede

Valor Economico Brasil: Artigo "Quem manda por aqui é o consumidor". Empowerment & Personalization. AYRWW e INOVA BS

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03/09/2014 - 05:00

Quem manda por aqui é o consumidor

Por Angela Klinke

Seu filho provavelmente já "zerou" um game e o colocou na pilha de descartáveis. Prefere criar seu universo noMinecraft. Você, com o controle na mão, pode ter recorrido à programação de TV "on demand" porque quisdeterminar o que, como e quando ver. Pacote pronto, proposta-padrão, desafio monitorado = tédio. Osconsumidores precisam que suas compras reflitam quem são, que as escolhas digam algo a respeito de suaidentidade, para sentir-se senhores do destino.

O desejo por personalização não é recente, mas vem se acelerando e ganhando contornos mais complexos. É oritmo instantâneo dos "likes" e "dislikes" incorporado também ao mundo off-line, avalia a agência de tendênciasTrendwatching. "Há tanto a vontade de ser cocriador quanto a necessidade de ter um produto único. Oconsumidor está forçando sua diferenciação numa velocidade cada vez maior. Nenhum setor vai poder ficar foradesse processo", diz Luís Rasquilha, CEO da AYR, consultoria de tendências e inovação.

A consultoria americana Tech Cast, por sua vez, prevê que a customização em massa deve ser responsável por 30%das vendas no varejo em 2017. No Brasil, o movimento começa a se tornar significativo. Para a cadeia de fast-foodBob's, por exemplo, isso significou sair da zona de conforto dos combos para a singularização dos sanduíches."Fazemos pesquisas com os consumidores a toda hora e sentimos que a padronização antes entendida como umatributo perdeu a relevância, em especial para as novas gerações", conta Carlos Pollhuber, diretor de marketing doBob's. A partir de um grupo multidisciplinar, a empresa trabalhou por dois anos para reconfigurar seu conceito desolução rápida de alimentação. "Redesenhamos o processo produtivo, repensamos fornecedores e insumos,mudamos o conceito das lojas, mas sem ferir o compromisso com o tempo."

No novo modelo, o consumidor recorre ao autoatendimento para montar seu lanche "no tamanho de sua fome".Pode escolher entre sanduíches P, M ou G; decidir se quer incluir bacon ou tirar a cebola; ou ainda optar pela tecla"no capricho" e incrementar o queijo ou a salada (sem pagar mais por isso). Os molhos também são dosados porele. O ambiente passou a ter mesas individuais, para família ou coletivas para captar as diferentes configurações eestados de espírito. Na primeira unidade, aberta há quase dois meses no Rio, a empresa já mediu os resultados."Houve uma maior adesão e fidelização dos jovens. Eles passaram a vir mais vezes ao Bob's. Até mesmo o públicomais velho, que antes recorria ao balcão de atendimento, tem preferido a liberdade de escolher e montar sozinhoseu sanduíche."

A empresa teve de importar máquinas, desenvolver novos equipamentos e investir em treinamento. Mesmo com oautoatendimento, diz Pollhuber, a equipe das lojas não foi reduzida. "Deslocamos gente do atendimento para acozinha. Era preciso aumentar a produtividade para dar conta de tantos pedidos únicos e feitos na hora. Oconsumidor tem o poder e precisamos criar experiências de consumo mais ricas e prazerosas." Até agora, a rede

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tem cinco lojas operando nesse modelo. O investimento na abertura de 70 unidades, na remodelagem de franquiasexistentes e no marketing é de R$ 200 milhões para este ano. A previsão é que até 2017 todas as 1,5 mil unidadesvão ofertar hambúrguer sob medida.

A customização foi o diferencial estratégico para que os irmãos Carlos e Gustavo Freire investissem no setor derelógios. Em abril, lançaram o Brother & Brother, um e-commerce em que é possível montar um modeloescolhendo caixa, mostrador, ponteiros e pulseiras. As variáveis permitiriam até "450 mil combinações". Os preçosvariam de R$ 800 a R$ 1,2 mil. São cronógrafos e resistem a uma profundidade de até 100 metros. O maquinário éda japonesa Miyota Citizen.

"Queríamos oferecer os atributos de um produto de luxo de uma forma mais acessível. Ou seja, design customizadoa um custo democrático", explica Gustavo. Para tanto, ele morou seis meses em Hong Kong em busca dofornecedor que oferecesse as peças com a qualidade de acabamento que buscava. "Difícil foi achar uma empresaque mudasse tudo o que sempre fez para nos atender. Eles queriam entregar o relógio montado. Não entendiamnossa lógica."

Por enquanto, atuam em um nicho, eles sabem, mas é um apelo e tanto na concorrência com produtos licenciadosde marcas de moda. Depois de desenhado pelo consumidor e montado pelo técnico, eles mesmos conferem oresultado, um a um. Do momento do pedido até a entrega são quatro dias úteis. Outro trunfo da dupla é a própriaplataforma de seu e-commerce. "Podemos customizá-la para qualquer indústria ou para o setor de serviços. Ou atécriar um canal específico para uma marca numa ação de relacionamento", explica Carlos. Eles acabam deapresentar uma proposta, por coincidência, para uma empresa do ramo de alimentos.

Até mesmo na educação a customização ganha corpo por aqui. Rasquilha, da AYR, desenvolveu com a escola Inovaum modelo de grade disciplinar cocriada. "Cada área de especialização do MBA é discutida caso a caso com oaluno. É ele quem decide que temas quer abordar e nós desenvolvemos as ferramentas para um conteúdopersonalizado." O sistema já está disponível nas unidades de Campinas, Ribeirão Preto e ABC. Iscas de"engajamento" para a atenção volátil.

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