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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DA ____ VARA DA SEÇÃO JUDICIÁRIA FEDERAL DE ________________ xxxxxxxxxxxx, brasileiro, (estado civil), (profissão), residente e domiciliado na xxxxxxxxxx, RG n.º xxxxxxxxxx, CPF n.º xxx.xxx.xxx-xx, neste ato através de seu procurador, com OAB-xx n.º xxx.xxx, estabelecido na xxxxxxxxxxxxx, onde normalmente recebe intimações, vem à presença de Vossa Excelência ajuizar: AÇÃO ÓRDINARIA DE CORREÇÃO DO FGTS COM PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA

001 Peticao Inicial FGTS 1999-2013

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Petição FGTS

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Page 1: 001 Peticao Inicial FGTS 1999-2013

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DA ____ VARA DA SEÇÃO JUDICIÁRIA FEDERAL DE ________________

xxxxxxxxxxxx, brasileiro, (estado civil), (profissão), residente e

domiciliado na xxxxxxxxxx, RG n.º xxxxxxxxxx, CPF n.º

xxx.xxx.xxx-xx, neste ato através de seu procurador, com OAB-xx

n.º xxx.xxx, estabelecido na xxxxxxxxxxxxx, onde normalmente

recebe intimações, vem à presença de Vossa Excelência ajuizar:

AÇÃO ÓRDINARIA DE CORREÇÃO DO FGTS COM

PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA

em face de CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, pessoa jurídica

de direito privado, CNPJ n.° xxxxxxxxxxxx, através de sua agência

n.º xxxx, localizada na xxxxxxxxxxxxxxxxxxx, cidade – Estado, pelos

fatos e fundamentos que passa a expor :

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I – DOS FATOS

A presente ação trata-se de uma questão de extrema

importância para o requerente, assim como, para milhões de

trabalhadores e diz respeito ao Fundo de Garantia por Tempo de

Serviço – FGTS.

Como é cediço, o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço foi

criado na década de 60 para proteger o trabalhador, como

sucedâneo da antiga estabilidade decenal. É constituído por valores

depositados pelas empresas em nome de seus empregados

possibilitando que o trabalhador forme um patrimônio.

Consta do sítio eletrônico da Caixa Econômica Federal – CEF

que o FGTS hoje financia programas de habitação popular,

saneamento básico e infraestrutura urbana, sendo regido pelas

disposições da Lei 8.036, de 11 de maio de 1990, por normas e

diretrizes estabelecidas pelo seu Conselho Curador e gerido pela

Caixa Econômica Federal.

Dos artigos 2º e 13 da Lei 8.035/90 extraímos que há uma

obrigatoriedade de correção monetária e de remuneração através

de juros dos depósitos efetuados nas contas vinculadas ao FGTS,

senão vejamos:

Art. 2º “O FGTS é constituído pelos saldos das contas vinculadas

a que se refere esta lei e outros recursos a ela incorporados,

devendo ser aplicados com atualização monetária e juros, de

modo a assegurar a cobertura de suas obrigações.”

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Art.13 “ Os depósitos efetuados nas contas vinculadas serão

corrigidos monetariamente com base nos parâmetros fixados

para a atualização dos saldos dos depósitos de poupança e

capitalização de juros de (três) por cento ao ano”.

Ressalte-se que o parâmetro fixado para a atualização dos

depósitos dos saldos dos depósitos de poupança e

consequentemente dos depósitos do FGTS é a Taxa Referencial –

TR, conforme prescrevem os artigos 12 e 17 da Lei 8.177, de 1º de

março de 1991, com redação da Lei 12.703, de 7 de agosto de

2012 cuja dicção é a seguinte:

Art. 12. Em cada período de rendimento, os depósitos de

poupança serão remunerados:

I - como remuneração básica, por taxa correspondente à

acumulação das TRD, no período transcorrido entre o dia do

último crédito de rendimento, inclusive, e o dia do crédito de

rendimento, exclusive;

II - como remuneração adicional, por juros de: (Redação dada

pela Lei n º 12.703, de 2012)

a) 0,5% (cinco décimos por cento) ao mês, enquanto a meta da

taxa Selic ao ano, definida pelo Banco Central do Brasil, for

superior a 8,5% (oito inteiros e cinco décimos por cento);

ou (Redação dada pela Lei n º 12.703, de 2012)

b) 70% (setenta por cento) da meta da taxa Selic ao ano, definida

pelo Banco Central do Brasil, mensalizada, vigente na data de

início do período de rendimento, nos demais casos. (Redação

dada pela Lei n º 12.703, de 2012)

 § 1° A remuneração será calculada sobre o menor saldo

apresentado em cada período de rendimento.

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§ 2° Para os efeitos do disposto neste artigo, considera-se

período de rendimento:

I - para os depósitos de pessoas físicas e entidades sem fins

lucrativos, o mês corrido, a partir da data de aniversário da conta

de depósito de poupança;

II - para os demais depósitos, o trimestre corrido a partir da data

de aniversário da conta de depósito de poupança.

§ 3° A data de aniversário da conta de depósito de poupança será

o dia do mês de sua abertura, considerando-se a data de

aniversário das contas abertas nos dias 29, 30 e 31 como o dia 1°

do mês seguinte.

§ 4° O crédito dos rendimentos será efetuado:

I - mensalmente, na data de aniversário da conta, para os

depósitos de pessoa física e de entidades sem fins lucrativos; e

II - trimestralmente, na data de aniversário no último mês do

trimestre, para os demais depósitos.

Art. 17. A partir de fevereiro de 1991, os saldos das contas do

Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) passam a ser

remunerados pela taxa aplicável à remuneração básica dos

depósitos de poupança com data de aniversário no dia 1°,

observada a periodicidade mensal para remuneração.

Parágrafo único. As taxas de juros previstas na legislação em

vigor do FGTS são mantidas e consideradas como adicionais à

remuneração prevista neste artigo.

Sobressai da Lei 8.177/91 a forma como a TR será calculada.

Art. 1° O Banco Central do Brasil divulgará Taxa Referencial (TR),

calculada a partir da remuneração mensal média líquida de

impostos, dos depósitos a prazo fixo captados nos bancos

comerciais, bancos de investimentos, bancos múltiplos com

carteira comercial ou de investimentos, caixas econômicas,

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ou dos títulos públicos federais, estaduais e municipais, de

acordo com metodologia a ser aprovada pelo Conselho Monetário

Nacional, no prazo de sessenta dias, e enviada ao conhecimento

do Senado Federal.

§ 2° As instituições que venham a ser utilizadas como bancos de

referência, dentre elas, necessariamente, as dez maiores do País,

classificadas pelo volume de depósitos a prazo fixo, estão

obrigadas a fornecer as informações de que trata este artigo,

segundo normas estabelecidas pelo Conselho Monetário

Nacional, sujeitando-se a instituição e seus administradores, no

caso de infração às referidas normas, às penas estabelecidas

no art. 44 da Lei n° 4.595, de 31 de dezembro de 1964.

§ 3° Enquanto não aprovada a metodologia de cálculo de que

trata este artigo, o Banco Central do Brasil fixará a TR (grifamos).

A metodologia cálculo foi há muito tempo definida pelo Banco

Central – Conselho Monetário Nacional (CMN), e hoje está vigente

sob a forma da Resolução nº. 3.354, de 31 de março de 2006.

Ocorre que há muito tempo, a TR não reflete mais a correção

monetária, tendo se distanciado completamente dos índices oficiais

de inflação. Nos meses de setembro, outubro e novembro de 2009,

janeiro e fevereiro de 2010 fevereiro e junho de 2012 em diante, a

TR tem sido completamente anulada, como se não existisse

qualquer inflação no período passível de correção.

Eis a razão desta ação.

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II – DA LEGITIMIDADE PASSIVA DA CAIXA ECONÔMICA

FEDERAL

Posto que a lide versa sobre correção monetária dos

depósitos de FGTS, sobressai irrefutável a legitimidade passiva e

exclusiva da Caixa Econômica Federal, conforme precedentes do

STJ, senão vejamos:

AÇÃO RESCISÓRIA. ADMINISTRATIVO. FGTS. CORREÇÃO

DOS SALDOS DAS CONTAS VINCULADAS. DIFERENÇAS DE

EXPURGOS INFLACIONÁRIOS. TEMA JÁ PACIFICADO NO

STJ. PROCEDÊNCIA DA AÇÃO

1. A matéria referente à correção monetária das contas vinculadas

ao FGTS, em razão das diferenças de expurgos inflacionários, foi

decidida pela Primeira Seção deste Superior Tribunal, no REsp n.

1.112.520 – PE, de relatoria do Exmo. Min. Benedito Gonçalves,

ambos submetidos ao regime do art. 543-C do CPC e da

Resolução 8/08 do STJ, que tratam dos recursos representativos

da controvérsia, publicados no DJe de 4.3.2010

(...)

3. Quanto às demais preliminares alegadas, devidamente

prequestionadas, esta Corte tem o entendimento no sentido de

que, nas demandas que tratam da atualização monetária dos

saldos das contas vinculadas do FGTS, a legitimidade

passiva é ad causam é exclusiva da Caixa Econômica

Federal, por ser gestora do Fundo, com exclusão da União e

dos bancos depositários. (Súmula 249/STJ)

(...)

(AR 1.962/SC, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES ,

Primeira Seção, julgado em 08/02/2012, DJe 27/02/2012)

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Súmula 249/STJ – A Caixa Econômica Federal tem

legitimidade passiva para integrar um processo em que se

discute a correção monetária do FGTS.

Assim, a presente ação se dirige exclusivamente contra a

Caixa Econômica Federal, conforme pacificamente definido pela

jurisprudência pátria.

III – DA PRESCRIÇÃO

Quanto ao prazo prescricional, já está amplamente assentado

na doutrina e jurisprudência, que em relação ao pleito de correção

monetária do FGTS, a prescrição é trintenária.

Nesse sentido, decisão do STJ:

RECURSO ESPECIAL. TRIBUTÁRIO. FGTS. CORREÇÃO DOS

SALDOS DAS CONTAS VINCULADAS. DIFERENÇAS DE

EXPURGOS INFLACIONÁRIOS. TEMA JÁ JULGADO PELO

REGIME DO ART. 543-C DO CPC E DA RESOLUÇÃO N. 8/08

DO STJ . QUE TRATAM DOS RECURSOS REPRESENTATIVOS

DE CONTROVÉRSIA,

(...)

3. No REsp n. 1.112.520 – PE, por seu turno,firmou-se o seguinte

entendimento:

Outrossim não deve prevalecer a interpretação da recorrente

quanto à ocorrência de prescrição qüinqüenal, pois este

Tribunal já decidiu que é trintenária a prescrição para

cobrança de correção monetária de contas vinculadas ao

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FGTS, nos termos da Súmula 210/STJ: “ A ação de cobrança

de contribuições para o FGTS prescreve em trinta anos”.

(...)

(REsp 1150446/RJ, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL

MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 10/08/2010, DJe

10/09/2010).

Assim, a ação ora proposta não está alcançada pela

prescrição trintenária conforme se demonstrará a diante.

IV – DO DIREITO

A correção monetária

A correção monetária existe entre nós desde a época de

1960. O principal teórico da Correção Monetária, o Advogado

Tributarista Bulhões Pedreira explica o seguinte:

“Por analogia com as unidades de medidas físicas podemos dizer

que o nível geral dos preços é o padrão primário do valor

financeiro, enquanto que a unidade monetária serve como padrão

secundário – usado, na prática, para exprimir o valor financeiro,

mas deve ser aferido pelo padrão primário porque sujeito a

modificações”

Segundo este entendimento, a moeda seria um padrão

secundário, o que implicaria cindir em duas as suas funções,

atribuindo-se ao padrão primário, nível geral de preço, a função de

medida de valor, e às peças monetárias emitidas a função de meios

de pagamento ou troca.

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Letácio Jansen diz que Bulhões Pedreira teria conseguido

institucionalizar e colocar em prática a sua doutrina principalmente

através da Lei.4.357, de 1964, que criou o primeiro indexador da

Economia Brasileira- a ORTN (obrigação reajustável do tesouro

nacional), uma obrigação monetária cuja função era fazer variar

periodicamente, a moeda nacional segundo seus respectivos

poderes aquisitivos.

Desde esta data, uma plêiade de índices de correção

monetária foi se sucedendo, até a entrada em vigor da Medida

Provisória nº 294, de 31 de janeiro de 1991, que se transformou na

Lei nº 8.177, de 1º de março de 1991. Nesta oportunidade o

Governo Collor pretendeu substituir a série de indexadores

tradicionais da correção monetária brasileira (ORTN, OTN, BTN)

que eram vinculados à variação dos níveis gerais de preços, pela

Taxa Referencial, que tinha natureza financeira.

Ainda hoje permanece a perplexidade em relação à natureza

jurídica da TR, até por conta da própria inconsistência da lei que a

criou, que ora a trata como taxa de juros (art.39) ora como

indexador (art.18).

Taxas de juros objetivam promover a remuneração do

capital. São calculadas por quem disponibiliza o capital em

benefício de outra pessoa, física ou jurídica, para que empregue

para satisfação de determinada necessidade, na expectativa de

lucro. Os indexadores, por outro lado, podem ser entendidos como

índices calculados a partir da variação de preços de mercado

em determinado período. O seu objetivo está na correção dos

efeitos inflacionários, quando se compara valores monetários em

diferentes épocas.

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Pois bem. Quando o STF enfrentou o tema da natureza da

TR, disse através do voto vencedor da ADI 493-0/DF que:

A Taxa Referencial (TR) não é índice de correção monetária, pois,

refletindo as variações do custo primário da captação dos

depósitos a prazo fixo, não constitui índice que refletia a

variação do poder aquisitivo da moeda.

Não obstante, os Ministros vencidos Celso de Mello, Marco

Aurélio e Ilmar Galvão entenderam que a estrutura de cálculo da

taxa referencial não era suficiente para impedir sua utilização como

parâmetro de indexação de economia.

Mesmo assim, naquela oportunidade, o STF entendeu que a

TR possuía natureza de taxa de juros e declarou inconstitucional o

art. 18 da Lei 8.177/91, cujo texto original estabelecia que os saldos

devedores e as prestações dos contratos integrantes do SFH,

passariam a ser atualizados pela taxa aplicável à remuneração

básica dos Depósitos de Poupança. Vale a pena transcrever a

ementa deste julgado.

Ação direta de inconstitucionalidade – Se a lei alcançar os efeitos

futuros de contratos celebrados anteriormente a ela, será esta lei

retroativa (retroatividade mínima) porque vai interferir na causa,

que é um ato ou fato ocorrido no passado. – O disposto no art. 5º,

XXXVI, da Constituição Federal se aplica a toda e qualquer lei

infraconstitucional, sem qualquer distinção entre lei de direito

público e lei de direito privado, ou entre lei de ordem pública e lei

dispositiva. Precedente do S.T.F. – Ocorrência, no caso, de

violação de direito adquirido. A taxa referencial (TR) não é índice

de correção monetária, pois, refletindo as variações do custo

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primário da captação dos depósitos a prazo fixo, não constitui

índice que reflita a variação do poder aquisitivo da moeda. Por

isso, não há necessidade de se examinar a questão de saber se

as normas que alteram o índice de correção monetária se aplicam

imediatamente, alcançando, pois, as prestações futuras de

contratos celebrados no passado, sem violarem o disposto no art.

5º, XXXVI, da Carta Magna. – Também ofendem o ato jurídico

perfeito os dispositivos impugnados que alteram o critério de

reajuste das prestações nos contratos já celebrados pelo sistema

do Plano de Equivalência Salarial por Categoria Profissional

(PES/CP). Ação direta de inconstitucionalidade julgada

procedente, para declarar a inconstitucionalidade dos artigos 18

“caput” parágrafos 1 e 4 ; 20; 21 e parágrafo único; 23 e

parágrafos; e 24 e parágrafos, todos da Lei nº 8.177, de 1 de maio

de 1991. (ADI 493, Relator(a): Min: MOREIRA ALVES , Tribunal

Pleno, julgado em 25/06/1992, DJ 04-09-1992 PP14089 EMENT

VOL- 01674-02 PP- 00260 RTJ VOL- 00143-03 PP- 00724)

Por algum tempo, o próprio STJ rejeitou a TR como índice de

correção monetária, tanto para a poupança quanto para o SFH.

Nesse sentido:

COMERCIAL. MÚTUO RURAL. CORREÇÃO MONETÁRIA.

VINCULAÇÃO AO CRITÉRIO DE REAJUSTE DOS DEPÓSITOS

EM CADERNETA DE POUPANÇA. LICITUDE. SUBSTITUIÇÃO

PELA TR NOS MESES SUBSEQUENTES A FEVEREIRO/91.

PREVISÃO DE UTILIZAÇÃO DA OTN. INDEXADOR

CONTRATUALMENTE ELEITO. SUBSTITUIÇÃO EX LEGE PELA

TR. INCONSTITUCIONALIDADE DECLARADA. ADOÇÃO DO

INPC. PRECEDENTES:

I- NO CONTRATO DE MÚTUO RURAL É LÍCITO O PACTO DE

VINCULAÇÃO DA CORREÇÃO MONETÁRIA AO CRITÉRIO DE

ATUALIZAÇÃO DOS DEPÓSITOS EM CADERNETAS DE

POUPANÇA, RESULTANDO DEVIDA A INCIDÊNCIA DO

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MESMO INDEXADOR NOS MESES SUBSEQUENTES A

FEVEREIRO/91 (ART.13 DA LEI 8.177).

II- EM FACE DA POSIÇÃO DO SUPREMO TRIBUNAL

FEDERAL INADIMITINDO A TR COMO FATOR DE

ATUALIZAÇÃO MONETÁRIA SUBSTITUINDO O BTN, A

CORREÇÃO DOS VALORES, CUJA FORMA DE REAJUSTE

ESTAVA, POR LEI OU CONTRATO, ATRELADA A VARIAÇÃO

DO VALOR DE REFERIDO TÍTULO DA DÍVIDA PÚBLICA,

CUMPRE SEJA PRECEDIDA, A PARTIR DA LEI 8.177/91, COM

BASE NO INPC.

(REsp. 40.777/GO, Rel. Min. SÁLVIO DE FIGUEIREDO

TEIXEIRA, QUARTA TURMA, julgado em 13/11/1995, DJ

11/12/1995, p. 43225) (grifamos)

ADMINISTRATIVO – SFH – REAJUSTE DAS PRESTAÇÕES E

DO SALDO DEVEDOR – PLANO DE EQUIVALÊNCIA SALARIAL

(PES) – INAPLICABILIDADE DA TR – ADIN 493-0/STF –

VANTAGENS PESSOAIS INCORPORADAS DEFINITIVAMENTE

AO SALÁRIO – INCLUSÃO NO CÁLCULO – DIVERGÊNCIA

JURISPRUDENCIAL NÃO COMPROVADA – RISTJ . ART. 255 E

PARÁGRAFOS – SÚMULA 13/STJ – PRECEDENTES STJ.

- Nos contratos vinculados ao PES, o reajustamento das

prestações deve obedecer à variação salarial dos mutuários, a fim

de preservar a equação econômico- financeira do pactuado.

-As vantagens pessoais incorporadas, definitivamente ao salário

ou vencimento do mutuário, incluem-se na verificação da

equivalência para fixação das parcelas.

-Declarada pelo STF a inconstitucionalidade da TR como fator

de correção monetária (ADIN 493-0), o reajustamento do

saldo devedor, a exemplo das prestações mensais, também

deve obedecer ao Plano de Equivalência Salarial.

- Recurso conhecido e parcialmente provido

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(REsp 14.839/BA, Rel. Ministro FRANCISCO PEÇANHA

MARTINS , SEGUNDA TURMA, julgado em 23/11/1999, DJ

21/02/2000, p. 112) (grifamos)

SFH. PLANO DE EQUIVALÊNCIA SALARIAL. REAJUSTE DAS

PRESTAÇÕES. ILEGITIMIDADE PASSIVA DA UNIÃO.

NULIDADE DO ACÓRDÃO. INOCORRÊNCIA. VANTAGENS

PESSOAIS. INCLUSÃO. CORREÇÃO PELA TR.

IMPOSSIBILIDADE. PRECEDENTES.

(...)

4. Inaplicável a TR como fator de correção monetária

consagrado nesta Corte na esteira de orientação traçada pelo

STF.

5. Recurso Especial conhecido e parcialmente provido

(REsp 209.466/BA Rel. Ministro FRANCISCO PEÇANHA

MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 07/08/2011 , DJ

17/06/2012, p. 231) (grifamos).

Todavia, a Corte de Justiça, fazendo uma releitura do voto do

Ministro Moreira Alves do STF, mudou entendimento, e passou a

adotar a constitucionalidade da TR como índice de correção

monetária, conforme demonstra o seguinte julgado :

SISTEMA FINANCEIRO DA HABITAÇÃO. SALDO DEVEDOR.

ATUALIZAÇÃO MONETÁRIA. TR.

1. Não é inconstitucional a correção monetária com base na

Taxa Referencial - TR. O que é inconstitucional é sua

aplicação retroativa. Foi isso o que decidiu o STF da ADI

493/DF, Pleno, Min. Moreira Alves, DJ de 04.09.1992, ao

estabelecer o âmbito de incidência da Lei 8.177, de 1991.

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2. Aos contratos de mútuo habitacional firmados no âmbito do

SFH que prevejam a correção do saldo devedor pela taxa básica

aplicável aos depósitos da poupança aplica-se a Taxa

Referencial, por expressa determinação legal. Precedentes da

Corte Especial: AGEREsp 725917 / DF, Min. Laurita Vaz, DJ

19.06.2006; DERESP 453600 / DF, Min. Aldir Passarinho Junior,

DJ 24.04.2006.

3. Embargos de divergência a que se nega provimento

(EREsp 752. 879/DF, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI,

CORTE ESPECIAL, julgado em 19/12/2006, DJ 12/03/2007, p.

184) (grifamos)

Em relação ao FGTS, há até súmula do STJ sobre a aplicação

da TR como índice de correção monetária. Neste sentido:

A Taxa Referencial (TR) é o índice aplicável, a título de correção

monetária, aos débitos com o FGTS recolhidos pelo empregador

mas não repassados ao fundo.

(Súmula 459, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 25/08/2010, DJe

08/09/2010)

Como dito alhures, aplicação de índice de correção monetária

se presta para recuperar o poder de compra do valor emprestado.

Este poder de compra é diretamente influenciado por um processo

inflacionário. O próprio STJ reconhece a influência da inflação como

correção monetária, senão vejamos:

" PREVIDENCIÁRIO E ECONÔMICO. TÍTULO EXECUTIVO

JUDICIAL. DETERMINAÇAO DE CORREÇAO MONETÁRIA

PELO IGP-M. ÍNDICES DEDEFLAÇAO. APLICABILIDADE.

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OFENSA AO PRINCÍPIO DA IRREDUTIBILIDADE

DOS VENCIMENTOS. NAO OCORRÊNCIA. PRESERVAÇAO DO

VALOR NOMINAL DA OBRIGAÇAO. PRECEDENTES.

1. "A correção monetária nada mais é do que um

mecanismo de manutenção do poder aquisitivo da moeda,

não devendo representar, consequentemente, por si só, nem

um plus nem um minus em sua substância. Corrigir o valor

nominal da obrigação representa, portanto, manter, no

tempo, o seu poder de compra original, alterado pelas

oscilações inflacionárias positivas e negativas ocorridas no

período. Atualizar aobrigação levando em conta apenas

oscilações positivas importaria distorcer a realidade econômica

produzindo um resultado que não representa a simples

manutenção do primitivo poder aquisitivo, mas um indevido

acréscimo no valor real. Nessa linha, estabelece o Manual de

Orientação de Procedimento de Cálculos aprovado pelo Conselho

da Justiça Federal que, não havendo decisão judicial em

contrário,"os índices negativos de correção monetária (deflação)

serão considerados no cálculo de atualização", com a ressalva

de que, se, no cálculo final,"a atualização implicar redução

do principal, deve prevalecer o valor nominal"" (Corte

Especial, REsp 1.265.580/RS, Rel. Min. TEORI ALBINO

ZAVASCKI, DJe 18/4/12).

2. No precedente da Corte Especial, mencionado na

decisão agravada, ficou expressamente consignado que se,

na atualização da dívida, houver redução do principal,

deve prevalecer o valor nominal, em respeito ao princípio

da irredutibilidade de vencimentos, previsto nos

arts. 7º, VI e 37, XV, da Constituição Federal.

3. A compreensão no sentido de que não há violação ao princípio

da irredutibilidade dos vencimentos, quando preservado o valor

nominal da obrigação, encontra respaldona jurisprudência do STF

e do STJ.

4. Agravo regimental improvido.

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(AgRg nos EREsp 1252558/RS, Rel. Min. SÉRGIO KUKINA,

PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 13/03/2013, DJe 21/03/2013)";

(grifos nossos)

Não podemos nos esquecer que a cultura da correção

monetária está de tal forma arraigada ao nosso sistema econômico,

que o próprio Código Civil de 2002, traz diversos dispositivos

garantindo atualização monetária.

Este retrospecto da evolução legal e jurisprudencial a respeito

da aplicação da TR como índice de correção monetária se faz

necessário para que pudéssemos chegar ao núcleo do argumento

desta ação.

Hoje no país, há dois tipos de correção monetária. Índices que

refletem a inflação e, portanto, recuperam o valor de compra do

valor aplicado, como IPCA e INPC, e um índice que não reflete a

inflação, e consequentemente não recupera o poder de compra do

valor aplicado – a Taxa de Referencial/TR.

Historicamente, é preciso lembrar que a Taxa Referencial

nunca foi igual à inflação. Nem quando experimentamos a

hiperinflação, nem quando experimentamos deflação. Todavia, os

índices da TR, do INPC e do IPCA sempre andaram próximos. Em

outros palavras, imperava a razoabilidade dos índices da TR para

que pudessem atingir a finalidade de correção do valor do capital.

ANO TR INPC IPCA

Page 17: 001 Peticao Inicial FGTS 1999-2013

1991 335,51% 475,11% 472,69%

1992 1.156,22% 1.149,05% 1.119,09%

1993 2.474,73% 2.489,11% 2.477,15%

1994 951,19% 929,32% 916,43%

1995 31,6207% 21,98% 22,41%

1996 9,5551% 9,125% 9,56%

Não obstante, o cenário começa a mudar a partir de 1999. A

TR se distancia expressivamente do INPC e IPCA, ao ponto de hoje

a inflação hoje superar 6% ao ano e a TR ser igual a zero. Logo, ela

não se presta para o fim de manter o poder aquisitivo dos depósitos

do FGTS, que são um patrimônio do trabalhador.

O sentimento geral é que há muito tempo o FGTS é um fundo

iníquo por ele não ter recomposição inflacionária dos seus recursos.

Na verdade, o trabalhador não está financiando programas de

habitação popular, saneamento básico e infraestrutura urbana, ele

está subsidiando.

Ao contrário de outros investimentos, o FGTS não é um fundo

de livre disposição por parte do trabalhador, não podendo ele

decidir sponte propria quais as aplicações que lhe são mais

convenientes ou rentáveis. O trabalhador tem que se submeter a

políticas econômicas e sociais que lhe são altamente prejudiciais.

Ora, mas a própria Lei do FGTS diz em seu art.2º que é

garantida a atualização monetária e juros. Quando a TR é igual

a zero este artigo é descumprido. Quando a TR é mínima e

Page 18: 001 Peticao Inicial FGTS 1999-2013

totalmente desproporcional em relação à inflação, este artigo

também é descumprido e o patrimônio do trabalhador é

subtraído por quem tem o dever legal de administrá-lo.

Em um ano de TR zero estamos diante de uma situação de

confisco. O Governo Federal, através da Caixa Econômica

Federal, está confiscando os rendimentos dos trabalhadores, para

subsidiar políticas públicas, sem a menor ingerência destes

trabalhadores.

Assim como em nosso Estado Democrático de Direito, a

Constituição veda que se utilize tributo com efeito de confisco, o

trabalhador não pode ser punido com confisco do que a própria

Caixa define em seu sítio eletrônico, como um patrimônio do

trabalhador, e definitivamente o é.

Quando se fala em patrimônio, imediatamente sobrevém lição

da Professora Maria Helena Diniz ao comentar o art. 91 do Novo

Código Civil :

Art. 91. Constitui universalidade de direito o complexo de

relações jurídicas, de uma pessoa, dotadas de valor

econômico.

Universalidade de direito: é a constituída por bens

singulares corpóreos heterogêneos e incorpóreos (complexo de

relações jurídicas), a que a norma jurídica, com o intuito de produzir

Page 19: 001 Peticao Inicial FGTS 1999-2013

certos efeitos, dá unidade, por serem dotados de valor econômico,

como p. ex., o patrimônio (...) O patrimônio e a herança são

consideradas como um conjunto, ou seja, como uma

universalidade. Embora se constituam ou não de bens materiais e

de créditos, esses bens se unificam numa expressão econômica,

que é o valor. O patrimônio é complexo de relações jurídicas de

uma pessoa apreciável economicamente. Incluem-se no

patrimônio: a posse, os direitos reais, as obrigações e as ações

correspondentes a tais direitos. O patrimônio abrange direitos

deveres redutíveis a dinheiro. (Código Civil Anotado, Ed. Saraiva,

pág. 100) (grifamos).

Levando em conta que a relação jurídica entre os

trabalhadores e a Caixa é de direito pessoal, o art.233 do Código

Civil se torna inafastável, na medida que determina que a obrigação

de dar coisa certa abrange os acessórios ainda que não

mencionados.

Art. 233 A obrigação de dar coisa certa abrange os acessórios

dela embora não mencionados, salvo o contrário resultar do título

ou das circunstancias do caso.

Ora, acessórios de dinheiro são juros e a correção monetária.

E então voltamos à Taxa Referencial.

Page 20: 001 Peticao Inicial FGTS 1999-2013

Manipulação da TR pelo Banco Central/CMN

Independentemente da discussão sobre sua natureza jurídica,

vamos aqui partir do pressuposto, assentado pela jurisprudência,

principalmente pelo STJ, que a TR é índice de correção monetária.

Tanto o art. 1º da Lei 8.177/91 quanto o art. 5º da Lei

10.192/01 (que convolou a MP 1.053/95) atribuíram ao Banco

Central a regulamentação da metodologia de cálculo da TR,

conforme critério estabelecido na lei e a expedição das instruções

necessárias ao cumprimento do artigo que criou a TBF.

Art. 1° O Banco Central do Brasil divulgará Taxa Referencial (TR),

calculada a partir da remuneração mensal média líquida de

impostos, dos depósitos a prazo fixo captados nos bancos

comerciais, bancos de investimentos, bancos múltiplos com

carteira comercial ou de investimentos, caixas econômicas, ou

dos títulos públicos federais, estaduais e municipais, de acordo

com metodologia a ser aprovada pelo Conselho Monetário

Nacional, no prazo de sessenta dias, e enviada ao conhecimento

do Senado Federal. (Lei nº 8.177/91)

Art. 5o Fica instituída Taxa Básica Financeira - TBF, para ser

utilizada exclusivamente como base de remuneração de

operações realizadas no mercado financeiro, de prazo de duração

igual ou superior a sessenta dias.

Parágrafo único. O Conselho Monetário Nacional expedirá as

instruções necessárias ao cumprimento do disposto neste artigo,

podendo, inclusive, ampliar o prazo mínimo previsto no caput. (Lei

nº 10.192/01)

Page 21: 001 Peticao Inicial FGTS 1999-2013

No mister de regulamentar a TR, o Banco Central/CMN vem

ao longo dos anos criando e reinventando fórmulas para encontrá-

la. Pelo menos desde a Resolução 2.075, de 26 de maio de 1994,

há formulas para encontrar a TR. Todavia com a instituição da Taxa

Básica Financeira, pela Medida Provisória 1.053/95, de 30 de junho

de 1995, que a forma de cálculo da TR sofre uma expressiva

reviravolta.

Desde a Resolução 2.437 , de 30 de Outubro de 1997, a TR é

calculada levando em conta a Taxa Básica Financeira e um

Redutor.

A Resolução 3.354/06, hoje vigente sobre o assunto, diz o

seguinte:

Art. 1º Estabelecer que, para fins de cálculo da Taxa Básica

Financeira - TBF e da Taxa Referencial - TR, de que tratam os

arts. 1º da Lei 8.177, de 1º de março de 1991, 1º da Lei 8.660, de

28 de maio de 1993, e 5º da Lei 10.192, de 14 de fevereiro de

2001, deve ser constituída amostra das 30 maiores instituições

financeiras do País, assim consideradas em função do volume de

captação efetuado por meio de certificados e recibos de depósito

bancário (CDB/RDB), com prazo de 30 a 35 dias corridos,

inclusive, e remunerados a taxas prefixadas, entre bancos

múltiplos, bancos comerciais, bancos de investimento e caixas

econômicas.

Art. 2º A TBF e a TR são calculadas a partir da remuneração

mensal média dos CDB/RDB emitidos a taxas de mercado

Page 22: 001 Peticao Inicial FGTS 1999-2013

prefixadas, com prazo de 30 a 35 dias corridos, inclusive, com

base em informações prestadas pelas instituições integrantes da

amostra de que trata o art. 1º, na forma a ser determinada pelo

Banco Central do Brasil.

Art. 4º Para cada dia do mês - dia de referência -, o Banco Central

do Brasil deve calcular a TBF, para o período de um mês, com

início no próprio dia de referência e término no dia correspondente

ao dia de referência no mês seguinte, considerada a hipótese

prevista no § 2º, inciso IV.

Art. 5º Para cada TBF obtida, segundo a metodologia descrita

no art. 4º, deve ser calculada a correspondente TR, pela

aplicação de um redutor "R", de acordo com a seguinte

fórmula:

TR = max {0,100 {[ (1 + TBF/100) / R ] - 1}} (em %).

§1º o Valor do redutor “R” deve ser calculado para todos os dias,

inclusive não úteis, de acordo com a seguinte fórmula:

R: (a+b.TBF/100), onde:

TBF = TBF relativa ao dia de referência;

a = 1,005;

b = valor determinado de acordo com a tabela abaixo, em função

da TBF obtida,

segundo a metodologia descrita no art. 4º, em termos percentuais

ao ano:

TBF (% a.a.) b

TBF maior que 16 0,48

TBF menor ou igual a 16 e maior que 15 0,44

TBF menor ou igual a 15 e maior que 14 0,40

TBF menor ou igual a 14 e maior que 13 0,36

TBF menor ou igual a 13 e maior ou igual a 11 0,32

§ 2º Fica o Banco Central do Brasil autorizado a determinar o

valor do parâmetro "b" no caso de a TBF obtida ser inferior a

11% a.a. (onze por cento ao ano)

Page 23: 001 Peticao Inicial FGTS 1999-2013

O peculiar nesta determinação do Banco Central/CMN que de

resto se repete desde 1997, é que TBF e TR são exatamente

iguais em sua gênese até o momento em que se determina que se

aplique um redutor à TBF para se chegar à TR.

Não há na Lei da TR previsão de aplicação do redutor,

assim como também não há na Lei que criou a TBF. Todavia

causa estranheza que diante de um comando aberto como o do art.

5º da MP nº 1.503/95 (Lei nº. 10. 192/01), o Banco Central/CMN,

com amplos poderes para regular o assunto, não tenha instituído

um redutor, mas o tenha feito ao regulamentar o art. 1º da Lei nº.

8.177/91, que não era tão flexível.

O economista César Roberto Buzin explica o quê o Banco

Central/CMN está fazendo com a TR, neste trecho do parecer

econômico que se junta a esta inicial:

Objeto de discussão é a utilização da TR como índice de correção

monetária, que apesar de não ter sido criada como índice de

indexação monetária, vem sendo utilizada para tal finalidade na

correção dos valores aplicados à caderneta de poupança e outras

aplicações como depósitos do FGTS pertencentes aos

trabalhadores, porém com gestão de terceiros.

A posição adotada pelo Superior Tribunal de Justiça, em agosto

de 2010, a respeito da utilização da TR como índice de correção

monetária foi sacramentada por meio da criação da Súmula 454,

com a seguinte redação: “Pactuada a correção monetária nos

contratos do SFH pelo mesmo índice aplicável à caderneta de

poupança, incide a Taxa Referencial (TR) a partir da vigência da

Lei 8.177/91.

Page 24: 001 Peticao Inicial FGTS 1999-2013

A TR é calculada a partir da Taxa Básica Financeira (TRF), uma

media de taxa de juros pagas nas aplicações em certificados de

depósitos bancários (CDB) emitidas pelas trinta maiores

instituições financeiras.

Para calcular o valor da TR, é preciso aplicar um redutor sobre a

TRF, que depende de dois parâmetros, chamados de “a” e “b”. O

parâmetro “a” é o fator de 1,005, equivalente à remuneração da

caderneta antiga, ou seja, 0,5% ao mês, ou 6,27% ao ano de

juros remuneratório. Enquanto que o “b” é um decimal menor que

1 arbitrado pelo BACEN e que varia de acordo com a taxa de

juros básica da economia, divulgada após reuniões do Comitê de

Política Monetária do BC (Copom).

Para calcular o redutor (R) o parâmetro “b” é multiplicado pelo

valor da TBF e somado ao parâmetro “a” , ou seja:

R = a+b x TBF

TR= 1+TBF - 1

R

A fórmula significa que novos dispositivos realizados nas contas

de depósito de poupança tenham como remuneração adicional

(TR), (i) 0,5% a.m enquanto a média da taxa SELIC, taxa básica

de juros, definida pelo BACEN, estiver acima de 8,5% a.a e (ii)

70% da meta da taxa SELIC, mensalizada, vigente na data do

início do período do rendimento.

No nível atual de taxa de juros decrescente de uma economia

estabilizada e num cenário para os próximos anos, de juros

baixos, a TR permanecerá por um longo período indeterminado

como zero.

Page 25: 001 Peticao Inicial FGTS 1999-2013

Na esteira do que foi deduzido no parecer comparativo entre

os percentuais da TR, INPC e IPCA, desde 1997, os depósitos nas

contas vinculadas do FGTS dos trabalhadores estão perdendo

poder de compra, notadamente a partir de 1999.

ANO TR INPC IPCA

1997 9,7849% 4,34% 5,22%

1998 7,7938% 2,49% 1,65%

1999 5,7295% 8,43% 8,94%

2000 2,0962% 5,27% 5,97%

2001 2,2852% 9,44% 7,67%

2002 2,8023% 14,74% 12,53%

2003 4,6485% 10,38% 9,30%

2004 1,8184% 6,13% 7,60%

2005 2,8335% 5,05% 5,69%

2006 2,0377% 2,81% 3,14%

2007 1,4452% 5,15% 4,46%

2008 1,6348% 6,48% 5,90%

2009 0,7090% 4,11% 4,31%

2010 0,6887% 6,46% 5,91%

2011 1,2079% 6,07% 6,50%

2012 0,2897% 6,17% 5,84%

2013 (até

março)

0,00% 2,05% 1,94%

Excelência, hoje, o trabalhador que tem seu dinheiro aplicado

no FGTS, e de lá não pode retirá-lo para outro investimento, está

Page 26: 001 Peticao Inicial FGTS 1999-2013

sendo remunerado com 0,247% de juros ao mês e mais nada. Não

há nem correção monetária nem Taxa Referencial

(independentemente de sua natureza jurídica), em flagrante ofensa

ao art. 2º da Lei nº. 8.036/90, que impõe a correção monetária dos

valores depositados pelo empregador.

Ainda que se argumente que a aplicação do Redutor pelo

Banco Central/CMN seja legal, sua redução a zero em um cenário

de inflação superior a 6% ao ano, configura afronta ao art. 2º da Lei

8.036/90, que determina a atualização monetária, bem como ao art.

233 do Código Civil, quando sonega os acessórios da obrigação de

dar.

Mas é necessário ir mais além e revisar o entendimento

jurisprudencial sobre a TR como índice de correção monetária,

máxime a partir da instituição de um Redutor que tem por efeito

zerar o índice da TR em ambiente de inflação.

O quadro comparativo mostra que a TR não se presta como

atualizador monetário do FGTS, pelo menos desde janeiro de 1999.

Desde o momento em que o Banco Central/CMN estabeleceu um

redutor para TR, ela deixou de ser índice confiável para atualizar

monetariamente as contas do FGTS, porque se descola dos índices

de inflação, sendo reduzido ano a ano. A finalidade da correção

monetária é manter o poder de compra do capital, e esta finalidade

nem de perto vem sendo alcançado pela TR. A anulação total da

TR é só desfecho desta política predatória para o trabalhador.

O trabalhador, que luta para formar um patrimônio, tem que

poder confiar na lei. Esta confiança está quebrada.

Page 27: 001 Peticao Inicial FGTS 1999-2013

Há nítida expropriação do patrimônio do trabalhador, na

medida em que se nega a ele a devida atualização monetária.

Como dito no estudo acostado na inicial.

A atualização monetária é o elemento mais importante do

mercado financeiro, pois sem a medição precisa de perda do

poder aquisitivo da moeda com o decorrer do tempo, ocorre

uma gigantesca destruição de valor. O objetivo fundamental da

escolha é o índice de atualização nos ativos (negócios, contratos,

aplicações, etc) é de proteger o patrimônio, evitando que ele seja

corroído pela inflação.

O Poder Judiciário há de se opor a este esbulho, confisco,

expropriação que o trabalhador está sofrendo, desde 1999, com as

constantes reduções da TR em relação aos índices de inflação,

culminando na sua completa nulidade, desde setembro de

2012.

Em 1991 e 1992, quando o STD julgou a ADIN 493-0/DF, ele

deixou bem assentado que a TR não constituía índice que refletia a

variação do poder aquisitivo da moeda. Esta característica da TR

tem se confirmando ao longo dos anos. A sua aplicação aos saldos

dos depósitos do FGTS “gigantesco valor” do patrimônio do

trabalhador. Há anos, os trabalhadores que têm depósitos no FGTS

não experimentam ganhos reais em sua aplicação. Ao contrário. Há

muito tempo, os trabalhadores tem rendimentos inferiores à

inflação, mesmo levando em conta a remuneração dos juros de 3%

ao ano.

Page 28: 001 Peticao Inicial FGTS 1999-2013

O que torna um índice inidôneo é a intensa ingerência do

Banco Central/CMN na sua formulação. Como explica o economista

César Buzim:

A TR deveria servir como referência para os juros vigentes no

Brasil, sendo divulgada mensalmente, a fim de evitar que a taxa

de juros do mês corrente refletisse a inflação do mês anterior,

apesar das suas características, foi usada como índice econômico

de correção monetária (...)

A mudança no comportamento da TR não se deve somente as

oscilações da economia, mas também á sistemática apuratória

desde índice.

Inicialmente ficou estabelecido que o BACEN efetuaria o cálculo

da TR a partir da remuneração mensal média dos certificados e

recibos de depósito bancário (CDB/RDB), emitindo uma amostra

de instituições financeiras, levando em conta a taxa média de

remuneração dos CDB/RDB’s e um redutor fixado por resolução

do CMN.

Como conseqüência da atuação do BACEN, a taxa referencial

deixou de refletir o índice inflacionário a partir de 1999.

(...)

O prejuízo causado aos trabalhadores devido à aplicação da TR

como índice de correção monetária é tamanho que quando

analisado o fator de correção acumulado do FGTS visualiza-se

que a rentabilidade desse fundo não supera os índices

inflacionários desde 2002, rendendo menos que a inflação a partir

de 2007, apesar da aplicação de juros de 3% a.a.

Diante do exposto podemos afirmar que a TR não repõe mais as

perdas inflacionárias, o que afeta consideravelmente os

poupadores, bem como os trabalhadores que possuem o FGTS

(...)

Page 29: 001 Peticao Inicial FGTS 1999-2013

Com base nas norma Resolução CMN nº 2.437 de 30.10.98,

Resolução CMN nº 2.604, de 23.04.99, Resolução CMN 2.809 de

21.12.00, Resolução CMN nº 3.3.54, de 31.03.2006, Resolução

CMN nº 3.336, de 05.03.2007 e Circular nº 3.356, estabeleceram

no decorrer dos anos a forma de cálculo da TR, bem como nas

informações disponibilizadas pelo BACEN foi construída planilha

demonstrando a evolução do fator de ponderação “b”, elemento

essencial para o cálculo redutor da TR.

As primeiras mudanças significativas da TR ocorreram através

das Resoluções CMN nº 2.387/97 e nº 2.437/97 que

estabeleceram a fórmula de cálculo do redutor da TR com duas

novas variáveis, ambas definidas pelo BACEN, quais sejam: a

constante “a” e o fator de ponderação “b”.

A partir da Resolução CMN nº 2.809/2000, o BACEN passou a

determinar o fator “b” sem critério técnico conhecido, a partir de

certo patamar, conforme visualizado na tabela abaixo:

O parâmetro “b” é o valor determinado em função da meta

estabelecida para a taxa SELIC, em termos percentuais ao ano:

MS- é a Meta para a taxa SELIC em (%a.a)

MS “b”

MS > 16 0,48

16 >= MS >15 0,44

15 >= MS >14 0,40

14 >= MS >13 0,36

13 >= MS >12 0,32

12 >= MS >11 0,28

11 >= MS >10 0,24

10

Abaixo de 10 fator “b” determinado pelo BACEN

Page 30: 001 Peticao Inicial FGTS 1999-2013

Essa discricionariedade do BACEN na valoração do fator “b”

acolhida pelas circulares e resoluções posteriores, impactou o

cálculo do Redutor da TR.

De pouco adiantaria ao trabalhador que fosse determinado ao

Banco Central/CMN que recalculasse a TR, pois, uma nova fórmula

estaria igualmente sob a discricionariedade e subjetivismo total do

Banco. Basta avaliara a sucessão de Resoluções do Banco

Central/CMN sobre o tema, conforme Parecer do referido

Economista.

Partindo da premissa inequívoca que a TR e as perdas

monetárias dos depósitos do FGTS, outro caminho não existe se

não o de adotar um novo índice que verdadeiramente corrija estes

depósitos.

Índices que efetivamente produzem correção monetária

A Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro

estabelece em seu art. 5º que na aplicação da lei, o juiz atenderá

os fins sociais a que ela se dirige e as exigências do bem comum.

A lei do FGTS tem um fim social indiscutível, proteger o

trabalhador e constituir um patrimônio que lhe sirva de arrimo em

várias situações da vida.

Page 31: 001 Peticao Inicial FGTS 1999-2013

Diante de tudo que foi demonstrado, a juiz atenderá os fins

sociais da Lei do FGTS ao reconhecer que correção monetária,

reposição dos índices inflacionários de forma a garantir o poder de

compra daquele dinheiro ali depositado no Fundo, é efetivamente

devida pela Caixa.

Se a TR não pode ser considerada como um índice idôneo,

sobrevém a necessidade de substituí-la por um índice que

realmente reponha as perdas monetárias. E então, nada obsta que

o juiz considere índice previsto em outra legislação.

Até por questão de equidade, o melhor índice para substituir a

TR é o índice que corrige monetariamente o salário dos

trabalhadores e os benefícios previdenciários. Este índice está

previsto na Lei 12.382, de 25 de Fevereiro de 2011, cujos primeiros

artigos trazem a seguinte dicção.

Art. 1o  O salário mínimo passa a corresponder ao valor de R$

545,00 (quinhentos e quarenta e cinco reais). 

Parágrafo único.  Em virtude do disposto no caput, o valor diário

do salário mínimo corresponderá a R$ 18,17 (dezoito reais e

dezessete centavos) e o valor horário, a R$ 2,48 (dois reais e

quarenta e oito centavos). 

Art. 2o  Ficam estabelecidas as diretrizes para a política de

valorização do salário mínimo a vigorar entre 2012 e 2015,

inclusive, a serem aplicadas em 1o de janeiro do respectivo ano.  

§ 1o  Os reajustes para a preservação do poder aquisitivo do

salário mínimo corresponderão à variação do Índice Nacional de

Preços ao Consumidor - INPC, calculado e divulgado pela

Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE,

acumulada nos doze meses anteriores ao mês do reajuste. 

Page 32: 001 Peticao Inicial FGTS 1999-2013

§ 2o  Na hipótese de não divulgação do INPC referente a um ou

mais meses compreendidos no período do cálculo até o último dia

útil imediatamente anterior à vigência do reajuste, o Poder

Executivo estimará os índices dos meses não disponíveis. 

§ 3o  Verificada a hipótese de que trata o § 2o, os índices

estimados permanecerão válidos para os fins desta Lei, sem

qualquer revisão, sendo os eventuais resíduos compensados no

reajuste subsequente, sem retroatividade. 

§ 4o  A título de aumento real, serão aplicados os seguintes

percentuais: 

I - em 2012, será aplicado o percentual equivalente à taxa de

crescimento real do Produto Interno Bruto - PIB, apurada pelo

IBGE, para o ano de 2010;

II - em 2013, será aplicado o percentual equivalente à taxa de

crescimento real do PIB, apurada pelo IBGE, para o ano de 2011; 

III - em 2014, será aplicado o percentual equivalente à taxa de

crescimento real do PIB, apurada pelo IBGE, para o ano de 2012;

IV - em 2015, será aplicado o percentual equivalente à taxa de

crescimento real do PIB, apurada pelo IBGE, para o ano de 2013. 

§ 5o  Para fins do disposto no § 4o, será utilizada a taxa de

crescimento real do PIB para o ano de referência, divulgada pelo

IBGE até o último dia útil do ano imediatamente anterior ao de

aplicação do respectivo aumento real. 

Não há porque ter dois pesos e duas medidas. Se o salário

mínimo é corrigido monetariamente pelo INPC, o depósito do FGTS

que, em última análise, é um salário indireto do trabalhador,

também há de sê-lo.

Page 33: 001 Peticao Inicial FGTS 1999-2013

E observe que o objetivo da Lei em corrigir o salário

mínimo pelo INPC decorre exclusivamente da necessidade de

preservar seu poder aquisitivo. A necessidade de preservar o

poder aquisitivo é uma constante em todas as transações

financeiras, e ela só se aperfeiçoa quando repõe efetivamente

perdas inflacionárias.

Outro índice que se mostra aplicável, na hipótese deste douto

juízo entender que não aplicaria o INPC, é o IPCA, índice oficial do

Governo Federal para medição das metas inflacionárias,

contratadas com o FMI, a partir de, julho de 1999.

Ambos os índices são infinitivamente mais adequados a

preservar o poder aquisitivo dos depósitos do FGTS do que a

aniquilada TR.

O outro lado da moeda

Ainda é necessário aprofundarmos um pouco mais nas

conseqüências que esta subtração de recursos do patrimônio do

trabalhador traz a todos, individual e coletivamente.

É de conhecimento geral que o Sistema Financeiro de

Habitação dispõe dos recursos do FGTS para financiar o maior

sonho de todo brasileiro – a casa própria. Também é de

conhecimento geral que a Caixa Econômica Federal é o Banco que

Page 34: 001 Peticao Inicial FGTS 1999-2013

mais se utiliza destes recursos do SFH para financiar, emprestar

dinheiro para os brasileiros comprarem a casa própria.

Embora em princípio, não haja correlação entre o trabalhador

que tem depósito no FGTS que são emprestados para financiar a

casa própria, e aqueles que se valem do empréstimo do SFH para

adquirir sua casa própria, em algum momento, trabalhador e

mutuário são a mesma pessoa.

E neste conceito de mutuário e trabalhador serem a mesma

pessoa é que se evidencia a maior sordidez da história deste País.

Já seria reprovável o fato de a Caixa pegar dinheiro a juros

baixos e sem nenhuma correção e empresta-lo a juros muito mais

altos, mesmo sem correção (uma vez que a TR também corrige as

prestações do SFH), a instituição bancaria leva imensa vantagem

nesta negociação.

Mas a situação piora consideravelmente quando, a Caixa

pega dinheiro a juros baixos, sem nenhuma correção para o

trabalhador, e empresta para ele mesmo.

Suponhamos que um trabalhador queira adquirir uma casa

própria utilizando os recursos do seu FGTS. Ele encontra o imóvel,

mas verifica que seus recursos não são suficientes para adquiri-lo.

Então se dirige a um Banco para financiar a diferença,

comprometendo sua renda por muitos anos.

A maioria dos trabalhadores brasileiros, quando quer adquirir

seu imóvel, dirigi-se à Caixa Econômica Federal.

Page 35: 001 Peticao Inicial FGTS 1999-2013

Todavia, se o depósito do FGTS tivesse sido devidamente

corrigido, se ele mantivesse seu poder de compra, ou o empréstimo

seria menor ou sequer haveria necessidade de o trabalhador

comprometer sua renda e anos de trabalho para adquirir aquilo que

é o nosso sonho mais primário, nossa necessidade mais real como

indivíduo e como povo brasileiro.

A caixa está emprestando para o trabalhador aquilo que

ela deixou de pagar a ele a título de correção monetária na sua

conta de FGTS.

O trabalhador não merece isso!

A Caixa vale-se da fragilidade humana para colocar-se como

realizadora de sonhos, ao mesmo tempo que, ano após ano, aufere

lucros exorbitantes às custas do trabalhador.

Na ADI 4.357,fala-se em alteração alternativa para o IPCA,

senão vejamos :

“VERBAS REMUNERATÓRIAS. CORREÇÃO MONETÁRIA E JUROS DEVIDOS PELA FAZENDA PÚBLICA. LEI 11.960/09, QUE ALTEROU O ARTIGO 1º-F DA LEI 9.494/97. DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE PARCIAL POR ARRASTAMENTO (ADIN 4.357/DF). 1. O art. 1º-F da Lei 9.494/97, com redação conferida pela Lei 11.960/2009, que trouxe novo regramento para a atualização monetária e juros devidos pela Fazenda Pública, deve ser aplicado, de imediato, aos processos em andamento, sem, contudo, retroagir ao período anterior a sua vigência. 2. "Assim, os valores resultantes de condenações proferidas contra a Fazenda Pública após a entrada em vigor da Lei 11.960/09 devem observar os critérios de atualização (correção monetária e juros) nela disciplinados, enquanto vigorarem. Por outro lado, no período anterior, tais acessórios deverão seguir os

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parâmetros definidos pela legislação então vigente" (REsp 1.205.946/SP, Rel. Min. Benedito Gonçalves, Corte Especial, DJe 2.2.2012). 3. O Supremo Tribunal Federal declarou a inconstitucionalidade parcial, por arrastamento, do art. 5º da Lei 11.960/09, que deu nova redação ao art. 1º-F da Lei 9.494/97, ao examinar a ADIn 4.357/DF, Rel. Min. Ayres Britto. 4. A Suprema Corte declarou inconstitucional a expressão "índice oficial de remuneração básica da caderneta de poupança" contida no § 12 do art. 100 da CF/88. Assim entendeu porque a taxa básica de remuneração da poupança não mede a inflação acumulada do período e, portanto, não pode servir de parâmetro para a correção monetária a ser aplicada aos débitos da Fazenda Pública. 5. Igualmente reconheceu a inconstitucionalidade da expressão "independentemente de sua natureza" quando os débitos fazendários ostentarem natureza tributária. Isso porque, quando credora a Fazenda de dívida de natureza tributária, incidem os juros pela taxa Selic como compensação pela mora, devendo esse mesmo índice, por força do princípio da equidade, ser aplicado quando for ela devedora nas repetições de indébito tributário. 6. Como o art. 1º-F da Lei 9.494/97, com redação da Lei 11.960/09, praticamente reproduz a norma do § 12 do art. 100 da CF/88, o Supremo declarou a inconstitucionalidade parcial, por arrastamento, desse dispositivo legal. 7. Tendo em vista a declaração de inconstitucionalidade parcial do art. 5º da Lei 11.960/09: (a) a correção monetária das dívidas fazendárias deve observar índices que reflitam a inflação acumulada do período, a ela não se aplicando os índices de remuneração básica da caderneta de poupança; e (b) os juros moratórios serão equivalentes aos índices oficiais de remuneração básica e juros aplicáveis à caderneta de poupança, exceto quando a dívida ostentar natureza tributária, para as quais prevalecerão as regras específicas. 8. O Relator da ADIn no Supremo, Min. Ayres Britto, não especificou qual deveria ser o índice de correção monetária adotado. Todavia, há importante referência no voto vista do Min. Luiz Fux, quando Sua Excelência aponta para o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, que ora se adota. 9. No caso concreto, como a condenação imposta à Fazenda não é de natureza tributária, os juros moratórios devem ser calculados com base no índice oficial de remuneração básica e juros aplicados à caderneta de poupança, nos termos da regra do art. 1º-F da Lei 9.494/97, com redação da Lei 11.960/09. Já a correção monetária, por força da declaração de inconstitucionalidade parcial do art. 5º da Lei 11.960/09, deverá ser calculada com base no IPCA, índice que melhor reflete a inflação acumulada do período. 10. Agravo regimental provido em parte. (STJ,

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Relator: Ministro CASTRO MEIRA, Data de Julgamento: 15/08/2013, T2 - SEGUNDA TURMA)”

VI – CONCLUSÕES

A Taxa Referencial, enquanto índice de correção monetária

assim considerada pela atual jurisprudência pátria, não pode ser

reduzida a Zero, como tem sido nos últimos meses, pois afronta

flagrantemente o art.2º da Lei. 8.036/90, que garante a atualização

monetária aos depósitos feitos no FGTS.

Como índice de correção monetária, a TR deveria garantir o

poder aquisitivo dos depósitos do FGTS, que perfaz levando em

conta os índices de inflação. Desde janeiro de 1999, a TR se

distanciou sensivelmente dos índices oficiais de inflação, impingindo

profundas perdas aos depósitos do FGTS, tornando-se inidônea

para garantir a reposição das perdas monetárias.

A inidoneidade da TR como índice de correção monetária

decorre de mudanças introduzidas na sua metodologia de cálculo

pelo Banco Central do Brasil/CMN que, através do mecanismo

econômico de um redutor, vem nitidamente manipulando o índice

que ele se desprenda da inflação até anula-la completamente, a

despeito de um quadro de inflação persistente no País.

A Caixa Econômica Federal está se prestando ao papel de

espoliador do FGTS, na medida em que dispõe do patrimônio do

trabalhador sem a devida contraprestação. A correção monetária

aplicada ao FGTS tem sido há muito tempo menor que a inflação

registrada, de forma que descumpre não só o art. 2º da Lei.

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8.036/90, art. 233 do Código Civil, mas também toda lógica e

princípios do mercado econômico.

Quem empresta tem direito a ser remunerado com juros e a

totalidade da correção monetária. O trabalhador não pode ser

obrigado a subsidiar ainda mais os projetos do Governo Federal.

O ‘ainda mais” decorre do fato de os juros de 3% do FGTS serem

menores do mercado, o que por si só, demonstra que ele já está

fazendo sua parte sob a perspectiva social.

Negar o direito de correção monetária aos depósitos do qual o

trabalhador não pode simplesmente sacar seu dinheiro para aplicar

em outro fundo mais rentável, configura ato de tirania, incompatível

com um Estado Democrático de Direito e deve ser de pronto

rechaçado.

Se o Governo Brasileiro remunerasse os investidores

internacionais com TR 3% a.a como faz os trabalhadores, haveria

uma fuga em massa nos investimentos no País, e certamente

estaríamos experimentando uma tsunami econômica e não uma

simples “marolinha”.

Sendo a TR inidônea para restabelecer o poder aquisitivo dos

depósitos do FGTS, sua substituição por outro índice que melhor

recomponha as perdas monetárias e torna imperioso, a fim de fazer

prevalecer o art. 2º da Lei. 8.036/90 e art. 233 do Código Civil.

Posto que desde janeiro de 1999 o redutor criado pelo Banco

Central/CMN promoveu o completo distanciamento da TR dos

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índices oficiais de inflação, temos que desde então ela perdeu sua

condição de repor as perdas inflacionárias dos depósitos do FGTS,

devendo desde esta data ser substituída pelo INPC,

alternativamente, pelo IPCA.

VII – DA TUTELA ANTECIPADA

O artigo 273 do Código de Processo Civil preceitua que é

possível a concessão de Tutela Antecipada se o juiz se convencer

da verossimilhança da alegação e houver fundado receio de dano

irreparável ou de difícil reparação.

A verossimilhança da alegação já foi amplamente

demonstrada.

O fundado receio de dano de difícil reparação advém do fato

de que a correção monetária é uma obrigação de trato sucessivo.

O art. 12 da Lei nº 8.177/ 91, com Redação da Lei nº

12.073/12, determina que a remuneração dos depósitos será feita

em cada período de rendimento.

Cada período de rendimento que a Caixa sonega a correção

monetária dos depósitos do FGTS, o dano contra o trabalhador se

configura.

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O dano que a ausência de correção monetária traz é,

indubitavelmente, individual homogêneo. O nexo entre o sujeito

ativo e o responsável pelo dano se dá em uma situação jurídica

com origem comum para todos os titulares do direito violado.

Apesar da origem comum, não se exige que cada um dos

indivíduos atingidos pela violação do direito padeçam do mesmo

mal. O dano é divisível.

Mas mesmo sendo divisível é de difícil percepção que, no

geral, a ausência de correção monetária implica em menos dinheiro

à disposição do trabalhador para a consecução dos seus negócios

jurídicos naquelas hipóteses em que a lei permite.

Cada casa que o trabalhador deixa de comprar, cada

prestação de imóvel que ele deixa de abater, cada tratamento de

neoplasia maligna que ele deixa de fazer, cada remédio para o

tratamento do HIV que ele deixa de comprar porque seu FGTS

perdeu o poder aquisitivo, é um dano de difícil reparação que se

renova.

Acresça-se a este dano, a situação de refém que o

trabalhador com depósito do FGTS se encontra quando quer

financiar seu imóvel pelo SFH com a Caixa. Hoje, e enquanto durar

a TR zero, ele terá que financiar mais do que seria necessário, pois

o que lhe pertence de direito – correção monetária – não está

incidindo sobre ser depósito.

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E ao que tudo indica, este dano continuará se repetindo por

um longo período. Ressai do Estudo Econômico que ao tempo em

que esta ação perdurar, a TR continuará anulada, ou reduzida a

patamares mínimos, impondo aos trabalhadores mais perda de seu

poder aquisitivo, mais dilapidação do seu patrimônio, mais

restrições à sua capacidade de fazer negocio jurídico.

Não há dúvida de que há um risco de difícil reparação na

medida em que não é possível quantificá-lo, mas não há como

nega-lo, tanto se levarmos em conta o trabalhador individualmente

considerado como a coletividade de trabalhadores.

Assim, imperioso é que desde já a TR seja substituída pelo

INPC, índice que corrige o salário mínimo ou pelo IPCA, índice

oficial de medida de inflação. Índices que minimamente repõem as

perdas monetárias haja vista que hoje não há nenhum tipo de

correção monetária dos depósitos do Fundo.

Por outro lado, não há dano de irreversibilidade do provimento

antecipado porque é de natureza do FGTS ser um fundo de

aplicação de longo prazo. Eventual decisão que não reconheça o

direito ora pleiteado, permitirá que a Caixa utilize de mecanismos

legais para promover a devida compensação ao longo do tempo.

Assim, requer a concessão da tutela para substituir

imediatamente a TR, como índice de correção monetária nos

depósitos do FGTS dos ora substituídos, pelo INPC, IPCA ou índice

que, no entender deste Juízo, melhor reflita as perdas inflacionarias

daqui por diante, até o transito em julgado do presente feito.

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Recentemente em Foz do Iguaçu (PR), em janeiro de

2014, foi proferida Sentença de primeiro grau procedente, senão

vejamos (além de outro em Novo Hamburgo (RS) e Pouso Alegre

(MG), todas em anexo a esta inicial) :

“PROCEDIMENTO COMUM DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL Nº 5009533-35.2013.404.7002/PRAUTOR : CINERLANDES MARCOS DE OLIVEIRAADVOGADO : JEAN CARLO CANESSORÉU : CAIXA ECONÔMICA FEDERAL – CEF

DispositivoAnte o exposto, JULGO PROCEDENTES os pedidos, condenando a CEF a pagar à parte autora os valores correspondentes à diferença de FGTS em razão da aplicação da correção monetária pelo IPCA-E desde janeiro de 1999 em diante até seu efetivo saque, cujo valor deverá ser apurado em sede de cumprimento de sentença. Caso não tenha havido saque, tal diferença deverá ser depositada diretamente na conta vinculada do autor.Sem custas e honorários advocatícios (artigos 54 e 55 da Lei nº 9.099/95 c/c artigo 1º da Lei 10.259/01).Sentença publicada e registrada eletronicamente. Intimem-se.Havendo recurso(s), intime(m)-se a(s) parte(s) contrária(s) para apresentação de contrarrazões, no prazo de dez dias. Recebo, desde já, eventual recurso no efeito devolutivo.Juntados os eventuais recursos e as respectivas contrarrazões apresentadas no prazo legal devem ser os autos remetidos à Turma Recursal.Foz do Iguaçu (PR), 15 de janeiro de 2014.Diego Viegas VérasJuiz Federal Substituto”

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VIII – DO PEDIDO

Ante o exposto, o Autor requer:

1) PRÉ-QUESTIONAMENTO CONSTITUCIONAL - para

declarar a inconstitucionalidade parcial superveniente

do art. 13 da lei 8.036/90 c/c arts. 1º e 17 da lei 8.177/91,

desde 01/06/1999, pela não vinculação da correção

monetária do FGTS a índice que venha recompor a

perda de poder aquisitivo da moeda.

a1) A concessão de tutela antecipada para que a TR seja

substituída pelo INPC como índice de correção dos depósitos

efetuados em nome dos substituídos, ou alternativamente pelo

IPCA, a partir de sua concessão até o transito em julgado da

presente ação, com a conseqüente aplicação do novo índice sobre

os depósitos constantes das contas vinculadas dos trabalhadores

representados pelo autor, ou

a2) que a TR seja substituída para correção dos depósitos

efetuados em nome dos substituídos a partir de sua concessão até

o trânsito em julgado da presente ação, ou alternativamente para o

IPCA, com conseqüente aplicação do novo índice sobre os

depósitos constantes das contas vinculadas dos trabalhadores

representados pelo autor, ou

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a3) a aplicação de qualquer outro índice que reponha as

perdas inflacionárias do trabalhador nas contas do FGTS, no

entender deste Juízo, até o trânsito em julgado da presente ação,

com a conseqüente aplicação do novo índice sobre os depósitos

constantes das contas vinculadas dos trabalhadores representados

pelo autor.

b) a citação da requerida, para querendo, contestar a presente

ação.

c) Ao final, a confirmação da tutela antecipada e a

condenação da Caixa para:

c1) pagar, a favor do autor o valor correspondente às

diferenças do FGTS em razão da aplicação da correção monetária

do INPC nos meses em que a TR foi zero, nas parcelas vencidas e

vincendas; E

c2) pagar, em favor do autor, o valor correspondente às

diferenças de FGTS em razão da aplicação da correção monetária

pelo INPC, ou alternativamente pelo IPCA, desde janeiro de 1999,

nos meses em que a TR não foi zero, mas foi menor que a inflação

do período: OU

c3) pagar, a favor do autor o valor correspondente às

diferenças de FGTS em razão da aplicação da correção monetária

pelo IPCA nos meses e que a TR foi zero; E

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c4) pagar em favor do autor, o valor correspondente às

diferenças de FGTS em razão da correção monetária pelo IPCA

desde Janeiro de 1999, ou alternativamente pelo IPCA, nos meses

em que a TR não foi zero, mas foi menor que a inflação do período;

OU

c5) pagar, a favor do autor, o valor correspondente às

diferenças de FGTS em razão da aplicação da correção monetária

por qualquer outro índice que reponha as perdas inflacionarias do

trabalhador nas contas do FGTS, no entender deste Douto Juízo,

desde janeiro de 1999, inclusive nos meses em que a TR foi zero.

d) Sobre os valores devidos pela condenação de que tratam

os itens acima, deverão incidir correção monetária desde a

inadimplência da Caixa, bem como os juros legais.

e) A condenação da Caixa ao pagamento das custas e

honorários sucumbenciais de 20% sobre o valor da condenação ;

f) depósito dos honorários advocatícios em conta vinculado a

esse juízo, podendo ser levantado pelo causídico, face possuir

poderes para “receber e dar quitação” ;

g) depósito em conta judicial dos contratos extintos e depósito

em conta vinculado ao FGTS sob o contrato em vigor do

Reclamante .

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Protesta provar o alegado por todos os meios de prova

admitidos em direito, principalmente documental.

Dá-se a causa o valor de R$ 0.000,00 (valor este obtido

através de cálculo da diferenças entre a TR e o INPC, com planilha

em anexo).

Nestes termos,

Pede deferimento

ADVOGADO

OAB-xx n.º xxx.xxx