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Revista Ampla de Gestão Empresarial, Registro, SP, V. 3, N° 1, art. 13, p 215-229, abril 2014, ISSN 2317-0727 Revista Ampla de Gestão Empresarial www.revistareage.com.br MERCADO DE AÇÕES, VOLATIDADE, FORMAS DE INVESTIMENTO, E O PAPEL DO PROFISSIONAL DA CONTABILIDADE NESSA NOVA REALIDADE João Carlos Farber 1 Miguel Ferreira Luz 2 Fleuri Cândido Queiroz 3 Wanderley Adaid Munhoz 4 Indira Coelho de Souza 5 RESUMO Em um cenário mundial onde a economia se torna cada vez mais globalizada, descentralizada e a moeda não tem mais uma nacionalidade definida, pois, como exemplo, uma crise na Grécia afeta o valor de nossa moeda aqui no Brasil, vemos as empresas entrando nesse mesmo cenário, dividindo seus capitais sociais em várias ações que são comercializadas em bolsas de valores espalhadas por todo mundo e sofrem valorização e desvalorização por ação destes mesmos mercados, criando intensa volatilidade de seus valores. Esse processo se tornou muito rápido exigindo do contador uma correta e rápida escrituração e mensuração dessas variações de valores. O contador como profissional da área capaz de avaliar e escriturar ativos deve conhecer e se adaptar aos métodos de avaliação e escrituração desses ativos de forma a gerar, da melhor forma, aos usuários das informações contábeis, mensurações isentas, confiáveis, com estrita observância às Normas Brasileiras de Contabilidade e que atendam as necessidades comuns de todos os usuários, no caso, tanto dos grupos das investidas como dos grupos dos investidores. Palavras-chave: Ações. Lucro. Capital. Empresas. Escrituração. Mercado. 1 Mestre em Controladoria e Contabilidade Estratégica. Professor da Faculdade Peruíbe. 2 Doutor em Contabilidade e Controladoria. Professor da Faculdade Peruíbe. 3 Especialista em Marketing. Professor da Faculdade Peruíbe. 4 Mestre em Administração. Professor da Faculdade Peruíbe. 5 Mestre em Administração. Coordenadora da Faculdade Peruíbe.

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Revista Ampla de Gestão Empresarial www.revistareage.com.br

MERCADO DE AÇÕES, VOLATIDADE, FORMAS DE INVESTIMENTO, E O PAPEL DO

PROFISSIONAL DA CONTABILIDADE NESSA NOVA REALIDADE

João Carlos Farber 1 Miguel Ferreira Luz 2

Fleuri Cândido Queiroz 3 Wanderley Adaid Munhoz 4

Indira Coelho de Souza 5

RESUMO

Em um cenário mundial onde a economia se torna cada vez mais globalizada, descentralizada e a moeda não tem mais uma nacionalidade definida, pois, como exemplo, uma crise na Grécia afeta o valor de nossa moeda aqui no Brasil, vemos as empresas entrando nesse mesmo cenário, dividindo seus capitais sociais em várias ações que são comercializadas em bolsas de valores espalhadas por todo mundo e sofrem valorização e desvalorização por ação destes mesmos mercados, criando intensa volatilidade de seus valores. Esse processo se tornou muito rápido exigindo do contador uma correta e rápida escrituração e mensuração dessas variações de valores. O contador como profissional da área capaz de avaliar e escriturar ativos deve conhecer e se adaptar aos métodos de avaliação e escrituração desses ativos de forma a gerar, da melhor forma, aos usuários das informações contábeis, mensurações isentas, confiáveis, com estrita observância às Normas Brasileiras de Contabilidade e que atendam as necessidades comuns de todos os usuários, no caso, tanto dos grupos das investidas como dos grupos dos investidores. Palavras-chave: Ações. Lucro. Capital. Empresas. Escrituração. Mercado.

1 Mestre em Controladoria e Contabilidade Estratégica. Professor da Faculdade Peruíbe. 2 Doutor em Contabilidade e Controladoria. Professor da Faculdade Peruíbe. 3 Especialista em Marketing. Professor da Faculdade Peruíbe. 4 Mestre em Administração. Professor da Faculdade Peruíbe. 5 Mestre em Administração. Coordenadora da Faculdade Peruíbe.

Mercado de Ações, Volatidade, Formas de Investimento, e o Papel do Profissional da Contabilidade Nessa Nova Realidade

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1 INTRODUÇÃO

Com o constante crescimento dos mercados internacionais e o fortalecimento

das empresas multinacionais os mercados de ações se tornaram um forte atrativo

para empresas que desejam captar recursos para investir em si mesmas. Pode-se

afirmar que a abertura de seu capital social já não é mais uma opção e sim uma

obrigatoriedade para poder se expandir e alcançar esses novos mercados. De acordo com a revista exame edição nº 15 de agosto de 2010 nos próximo

5 anos os investidores em ações se tornarão 8 vezes mais do que temos hoje, esse

aumento exponencial de investidores e empresas que abrirão seus capitais para

serem negociadas em ações traz um grande desafio na forma de contabilizar os

ganhos monetários e a divisão de seu capital.

Os contadores têm o dever profissional de se adaptar a essa nova realidade e

se especializar a esses novos estilos de contabilizações mais agressivos, o

profissional da área contábil tem como objetivo acompanhar as empresas e suas

metas de crescimento, saber avaliar e como organizar esses ativos singulares é uma

boa forma de se destacar nesse mercado.

A correta escrituração das ações de acordo com o tempo de investimento,

modalidade, finalidade, tipo etc. traz ao profissional desta área como objetivo se

aperfeiçoar, acompanhar as tendências de marcado o que também faz parte do seu

crescimento profissional.

A rapidez como estes ativos se valorizam e desvalorizam traz ao profissional

da contabilidade um desafio maior ainda ao escriturar essas modificações nos

patrimônios dos clientes quer seja na personalidade de pessoa jurídica ou uma

física.

O objetivo deste trabalho é discutir a preparação do profissional da

contabilidade para avaliar e mensurar as operações com o mercado de ações e

também estudar as formas de escrituração e ajustes dos valores dessas operações.

A avaliação e a correta apresentação do desempenho de uma empresa traz

um forte atrativo para investidores, daí surge a necessidade das demonstrações

contábeis serem apresentadas de maneira coerente e organizada, com

apresentação das respectivas notas explicativas de forma completa e realista.

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Cabe ao profissional da contabilidade estar apto e se adaptar às exigências

do mercado e realizar corretas escriturações e avaliações dos ativos para transmitir

aos usuários internos e externos das informações, fatos reais sobre em que eles

estão investindo e a viabilidade da abertura de seu capital.

Os ativos deste tipo poderão ser avaliados pelo método de custo de aquisição

e de equivalência patrimonial, que utilizam - se de métodos matemáticos e

estatísticos para corrigi-los e demonstrá-los.

O mercado de ações é com certeza o futuro das empresas brasileiras como

demonstra gráfico abaixo.

Figura 1 – “O grande salto adiante” Fonte: Revista Exame, p.7

Temos o desafio de um mercado em expansão que cresceu mais de 500%

em apenas 7 anos, deve estar claro o papel do profissional contábil neste novo

ambiente que se forma e veremos mais adiante o que são ações e as formas como

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podem ser avaliados os ativos, formas de ajuste e escriturações. Apesar de ter tido

um crescimento significativo ainda temos um longo caminho até o desenvolvimento

máximo, pois em países como a China já existem mais de 73 milhões de

investidores contra meros 598 mil no Brasil, falta muito para alcançarmos

investimentos significativos como este. É o momento de abrirmos nossos olhos para

esta nova realidade que os investimentos estão mais descentralizados do que nunca

e é o profissional da contabilidade que deverá fazer o controle do fluxo desses

investimentos e organizá-los da melhor forma possível.

Tomando-se em consideração o critério de classificação de pesquisa proposto

por Vergara. Quanto aos fins e quanto aos meios tem-se:

Quanto aos fins esta pesquisa pode ser definida como de cunho exploratório,

em razão do atual mercado de trabalho com relação direta ao Ativo, Ações.

Quanto aos meios, a pesquisa pode ser classificada basicamente, como

pesquisa bibliográfica, enfatizando a importância do Mercado de Ações para

sociedade. Os dados foram coletados por meio de pesquisa bibliográfica em livros e

artigos pertinentes ao assunto, dicionários, revistas especializadas e sites da

Internet, em fontes primárias e secundárias.

Os dados tratados neste trabalho foram predominantemente qualitativos, em

função da natureza intrínseca do estudo, identificando as transformações que vêm

ocorrendo no Mercado de Ações em relação à Contabilidade.

O método do estudo apresenta limitações em razão de estar basicamente

focado em: pesquisa bibliográfica, artigos e consulta a informações coletadas na

Internet e considera a escassez de literatura sobre o Mercado de Ações que nos

permita uma pesquisa mais abrangente sobre o assunto.

Não foi objeto de estudo as Crises no mercado de Ações no âmbito Mundial

nem envolveu pesquisa de Campo junto aos profissionais atuantes do ramo nem ao

público-alvo desse mercado, trata-se de pesquisa de natureza exploratória que, por

sua vez, limita-se a discutir a Abertura do Capital Social e o seu respectivo mercado

de venda.

2 EMBASAMENTO TEÓRICO

Definindo Ações

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As ações também são chamadas de "papéis", pois, segundo a definição

formal, ações são "títulos nominativos" que representam frações do capital social de

uma empresa.

Então como vemos ações são pequenas partes do capital social de uma

empresa da modalidade Sociedade por Ações que podem ser comercializadas em

uma Bolsa de Valores, para tanto a empresa deve estar devidamente registrada na

Comissão de Valores Mobiliários (CVM) como nos mostra texto as seguir retirado do

site da CVM: Companhia Aberta é aquela que, através de registro apropriado junto à CVM, está autorizada a ter seus valores mobiliários negociados junto ao público, tanto em bolsas de valores, quanto no mercado de balcão, organizado ou não. Para que uma empresa possa se candidatar ao processo de abertura de capital deve estar constituída na forma jurídica de uma sociedade anônima, de acordo com o que preceitua a Lei nº 6.404, de 15/12/1976.(CVM)

A CVM registra não somente abertura de capitais de empresas como também

outros tipos de valores mobiliários conforme o art. 2º da Lei 6.385 de 1996: Art. 2o São valores mobiliários sujeitos ao regime desta Lei: I - as ações, debêntures e bônus de subscrição; II - os cupons, direitos, recibos de subscrição e certificados de desdobramento relativos aos valores mobiliários referidos no inciso II; III - os certificados de depósito de valores mobiliários; IV - as cédulas de debêntures; V - as cotas de fundos de investimento em valores mobiliários ou de clubes de investimento em quaisquer ativos; VI - as notas comerciais; VII - os contratos futuros, de opções e outros derivativos, cujos ativos subjacentes sejam valores mobiliários; VIII - outros contratos derivativos, independentemente dos ativos subjacentes; e IX - quando ofertados publicamente, quaisquer outros títulos ou contratos de investimento coletivo, que gerem direito de participação, de parceria ou de remuneração, inclusive resultante de prestação de serviços, cujos rendimentos advêm do esforço do empreendedor ou de terceiros.

A abertura de ações tem sido amplamente divulgada pela CVM que busca

atrair novos investidores não somente de empresas grandes e multinacionais, mas

pequenas empresas também podem realizar a abertura de seu capital desde que

dentro das normas da Lei 6404, de 15/12/1976.

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A abertura plena do capital se dá através do lançamento de ações junto ao público, dado o volume de negócios resultante e as transformações por que passa a companhia. Poder-se-ia dizer que a abertura de capital através dos outros valores mobiliários aqui considerados, sobretudo as debêntures conversíveis e os bônus de subscrição, seria um estágio preliminar à plena abertura. As razões que levam uma empresa a considerar a abertura de seu capital são determinantes na escolha do tipo de valor mobiliário a ser emitido, do tipo de lançamento a ser feito e do tipo de investidor mais apropriado aos seus objetivos. O status de companhia aberta não se restringe apenas às grandes companhias. Esta Comissão de Valores Mobiliários vem, inclusive, envidando esforços no sentido de regulamentar, criar e incentivar uma estrutura específica para negociação de títulos emitidos por empresas de pequeno e médio porte, o chamado Mercado de Balcão Organizado, como também, o Fundo Mútuo de Investimento em Empresas Emergentes. (Site CVM)

Ações como vimos são formas das empresas captarem recursos para suas

atividades e aumento da obtenção de Lucro e melhores resultados financeiros,

conforme estimativa da própria BOVESPA (vide figura 1 – Introdução), temos a

grande meta de aumentarmos nosso efetivo de investimentos em ações em 500% e

a CVM procura atingir não apenas empresas de grande porte mas também

empresas pequenas captando assim mais recursos para estas empresas e por sua

vez diminuindo a chance de falência desta empresas.

Conforme vimos, as ações têm um grande poder de atrair investidores e gerar

recursos para empresas que precisão de investimentos, a abertura de capital pode

ser uma solução para empresas que estão em desenvolvimento e necessitam de

maiores recursos financeiros para sua sobrevivência.

Requisitos para abertura de Capital

Conforme instrução contida no site da CVM, há a necessidade de

investimentos em várias áreas da empresa além de estar devidamente registrada

como empresa S/A:

A abertura do capital de uma empresa transcende à simples obtenção de

recursos.

Uma empresa aberta amplia de forma dramática seu círculo econômico e

social de relacionamento, o qual, nas empresas fechadas, geralmente se restringe a

empregados, fornecedores, bancos e clientes. A abrangência desse relacionamento

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implica uma exposição pública de suas decisões de negócios e de planejamento

muito maior.

O processo de abertura de capital de uma empresa requer o pedido de

registro da empresa como companhia aberta, para que seus títulos possam ser

negociados em bolsa ou mercado de balcão. Concomitantemente com o pedido de

abertura de capital é possível ser solicitado o registro e a autorização para a

distribuição de novos valores mobiliários através de subscrição pública

(underwriting), sendo o processo de análise, o registro e o deferimento efetuados

segundo os ditames das Instruções CVM Nos 13/80 e 202/93. Este processo exige o cumprimento de uma série de etapas, semelhantes para os diversos valores mobiliários, a saber: Análise preliminar; Contratação de Auditoria Externa Independente; Contratação de Intermediário Financeiro; Adaptação dos Estatutos; Contrato de Coordenação e Distribuição; AGE deliberativa da operação = Autorização da Assembléia Geral; Nomeação de um Diretor de Relações com Investidores; Criação de uma área de atendimento aos acionistas/debenturistas; Processos de obtenção dos registros na CVM (registro da emissão e registro de companhia); Processo de registro da empresa em Bolsa de Valores ou no Mercado de Balcão Organizado; Anúncio de início de distribuição pública; e Anúncio de encerramento de distribuição pública. A legislação básica referente a essas etapas consta das Leis nos 6.404/76 (Lei das S.A.) e 6.385/76 (criação da CVM), assim como das Instruções CVM nos 13/80 e 202/93.

O processo de registro da empresa infelizmente é dispendioso e necessita a

criação de setores próprios para controle dos sócios membros, com a informatização

em avanço constante esperasse que isto não seja mais um problema para abertura

de capital.

Formas de escrituração do Ativo e Avaliação dos Ativos

Com o método das partilhas dobradas a escrituração de ações tem dois lados

o do Investidor e a empresa Investida, ambos regidos pelas Leis 11.638/07 e

6.404/76 e deve ser feita apenas por profissional da contabilidade habilitado e

registrado no CRC. O novo Código Civil, na Seção III - Do Contabilista e outros Auxiliares, tratam das responsabilidades civis dos contadores

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(prepostos), definindo que são os mesmos responsáveis pelos atos relativos à escrituração contábil e fiscal praticados e ao mesmo tempo, respondendo solidariamente quando praticarem atos que causem danos a terceiros (clientes por exemplo). Nesse sentido, os artigos 1.177 e 1.178 tratam: Art. 1.177. Os assentos lançados nos livros ou fichas do preponente, por qualquer dos prepostos encarregados de sua escrituração, produzem, salvo se houver procedido de má-fé, os mesmos efeitos como se o fossem por aquele.

Nesse aspecto é dever apenas de um profissional da contabilidade o registro

de ativos, podendo ser responsabilizado (o contador) civilmente e criminalmente

aquele que assinar balanço feito por outra pessoa leiga ou que não pertença à área

ou que cause danos ao cliente final da contabilidade. Nesse estudo o profissional

contábil é responsável pela escrituração de ações e suas respectivas contas

envolvidas no processo.

Escrituração de Contas de Abertura de Capital da Empresa Investida

As contas envolvidas no processo de abertura de Capital são pertencentes ao

Ativo e ao Patrimônio Líquido e em raros casos Passivo. Esta envolve uma troca de

bens ativos, numerário e até mesmo dividas (direitos). Consistindo o objeto do

contrato na transferência do domínio de uma coisa mediante o pagamento de certo

preço, a parte que se obriga a transferir o domínio deverá cumprir a sua obrigação e

à outra parte, cabe pagar o preço (FRAN, 2002).

É simples de entender que apenas se trata de uma troca de títulos de capital

por um bem Ativo, não necessariamente tendo de ser moeda corrente e cabe a parte

investida pagar ao investidor o valor correspondente a sua participação.

Assim como um sócio faz um investimento em sua empresa aumentando seu

capital social, os títulos de ações, debêntures etc., serão da mesma forma lançados

como crédito no Capital Social como sócios e depois debitados em sua respectiva

conta ativa, geralmente Disponibilidades ou se for um bem Móvel ou Imóvel em

nome da ação Ativo não circulante subgrupo permanente, sendo, ainda possível,

uma ação para pagamento de uma divida podendo ser debitada uma conta passiva

para quitação da mesma.

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A lei das S/A’s prevê um livro especial para registro destas ações, cuja

propriedade se presume pela inscrição do nome do respectivo acionista no livro

“Registro de Ações Nominativas” (Almeida, 2003).

Escrituração de contas na compra de ações pela investidora e respectivas formas de avaliação

Neste caso devem ser levados em conta alguns fatores contidos em nossa

legislação especialmente na Lei 6404/76: Art. 183 - No balanço, os elementos do ativo serão avaliados segundo os seguintes critérios: III - os investimentos em participação no capital social de outras sociedades, ressalvado o disposto nos Arts. 248 a 250, pelo custo de aquisição, deduzido de provisão para perdas prováveis na realização do seu valor, quando essa perda estiver comprovada como permanente, e que não será modificado em razão do recebimento, sem custo para a companhia, de ações ou quotas bonificadas;

Ou seja, todos os Ativos após escriturados devem ser avaliados

constantemente subtraindo se necessário provisões e perdas, nisto não tratamos

somente de ações mas também de todos os ativos de acordo com Modesto

Carvalhosa e Latorraca (2007):

1. Deverão ser incluídos no ativo, entre outros: (i) “Direitos, Títulos de Crédito e Valores Mobiliários não classificados como investimento; (ii) Investimentos permanentes (participação no capital social de outras sociedades ( mas que não caracterizam investimentos em coligadas e controladas).”

Como nos mostra Carvalhos e Latorraca, os Ativos são todos os itens

descritos acima de forma que todos estão sujeitos a depreciações, amortizações e

exaustões.

Método de Custo de Aquisição

As Ações por sua vez tem algumas peculiaridades por poderem ser

classificadas de acordo com o tempo que ficarão em posse da empresa, se menor

de 1 ano classificadas no circulante ou a longo prazo, mais de 1 ano registradas no

Ativo Não Circulante Sub grupo Investimentos, além de nossa legislação mostrar

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mais uma divisão entre os possíveis investimentos pelo Método de Custo de

Aquisição e o de Equivalência Patrimonial.

I - as aplicações em instrumentos financeiros, inclusive derivativos, e em direitos e títulos de créditos, classificados no ativo circulante ou no realizável a longo prazo: (Redação dada pela Lei nº 11.638,de 2007) a) pelo seu valor de mercado ou valor equivalente, quando se tratar de aplicações destinadas à negociação ou disponíveis para venda; e (Incluída pela Lei nº 11.638, de 2007)

As ações com fins especulatórios, de curto prazo classificadas no ativo

circulante (com venda menos de 1 ano), com participações inferiores a 10% das

ações votantes de uma empresa ou não deverão ser avaliadas pelo valor de custo

de aquisição. b) pelo valor de custo de aquisição ou valor de emissão, atualizado conforme disposições legais ou contratuais, ajustado ao valor provável de realização, quando este for inferior, no caso das demais aplicações e os direitos e títulos de crédito; (Incluída pela Lei nº 11.638, de 2007)

Método de Equivalência Patrimonial

Esse Método consiste em ajustar o valor do Investimento ao valor Equivalente

ao Ativo da Investida. Como as ações são calculadas com base no Patrimônio

Líquido da empresa, qualquer modificação nesta acarretará uma valorização do

investimento ou uma perca de valor do mesmo.

Como nos mostra o item II do Art. 248 da Lei 11.638/07 da S/A: o valor do

investimento será determinado mediante a aplicação, sobre o valor do patrimônio

líquido referido no número anterior, da porcentagem de participação no capital da

coligada ou controlada.

As Ações foco deste trabalho são os investimentos em Controladas e

Coligadas por terem caráter de ficarem mais tempo registrados no Ativo da empresa

e são classificados no Ativo Não Circulante e em alguns casos como dispõe o artigo

248 da Lei 11.941/09 são avaliados pelo Método de Equivalência Patrimonial:

“Art. 248. No balanço patrimonial da companhia, os investimentos em

coligadas ou em controladas e em outras sociedades que façam parte de um mesmo

grupo ou estejam sob controle comum serão avaliados pelo método da equivalência

patrimonial.”

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As empresas controladas são as empresas na qual a investidora possui 50%

+1 do capital votante da empresa, estas serão sempre avaliadas pelo Método de

Equivalência Patrimonial.

Já as coligadas podem ou não ser avaliadas por esse método uma vez que a

própria redação da Lei 6.404/76 Art. 248 nos traz que somente investimentos em

coligadas maiores que 20% do Capital votante são avaliadas por esse método. No

caso do investimento em coligadas ser inferior a 20% do capital votante, serão

avaliadas pelo Método de Custo de Aquisição.

A diferença básica entre os dois métodos é simples, enquanto no Método de

Custo de Aquisição o Valor da Receita é reconhecido apenas no momento da Venda

da Ação, no caso um Ágio ou Deságio, pelo método de Equivalência Patrimonial são

reconhecidos instantaneamente quando são realizadas na Investida, ou seja,

qualquer mutação no Patrimônio Líquido acarreta uma variação no Valor da Ação.

Ágio e deságio no mercado de ações

Pode-se considerar como um valor adicionado ou subtraído do valor do

investimento, um ganho ou perda que será reconhecido no instante da venda da

ação.

O valor da ação deverá sempre ser ajustado com base nos dois conceitos

vistos, Valor de Mercado e Equivalência Patrimonial, no caso do Método de Valor de

Mercado caso haja uma variação positiva no valor da ação ela não será reconhecida

para fins de balanço patrimonial, como nos orienta o principio do Custo Histórico

como Base de Valor e o principio da Prudência. A Ação deverá ser ajustada para o

Valor Menor entre os dois Valores (Mercado e Custo Histórico) conforme consta na

alínea b) do inciso I do artigo 183 da Lei 11.638/07:

“b) pelo valor de custo de aquisição ou valor de emissão, atualizado conforme

disposições legais ou contratuais, ajustado ao valor provável de realização, quando

este for inferior, no caso das demais aplicações e os direitos e títulos de crédito;”

Mas para fins de Imposto de Renda e DRE esses valores serão apenas

reconhecidos como Receitas ou Despesas no momento de sua venda, ou seja, no

momento em que o investimento é baixado, apurando-se assim se houve ágio e

deságio na venda das ações.

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No caso do Método de Equivalência Patrimonial o valor das Ações será

ajustado de acordo com variações positivas ou negativas no PL da empresa

investida, como pagamento de dividendos, prejuízos, lucros, constituição de

reservas, aumento de capital e demais contas do PL.

Caso ocorra uma variação positiva ou negativa no valor da ação em

decorrência de aumento de patrimônio Líquido essa deverá ser reconhecida como

receita ou despesa no momento de sua realização.

O ágio e deságio apenas são reconhecidos no momento da venda da ação,

fazendo-se um cálculo matemático.

VALOR DE VENDA – VALOR INVESTIMENTO = ÁGIO OU DESÁGIO

O cálculo respeita o principio do Custo Histórico, sempre utilizado como base

para cálculos de fim de receita e despesa.

Em suma, a amortização sobre o ágio ou deságio na aquisição de

investimento não é computável na determinação do lucro real do período – base da

amortização, qualquer que tenha sido o fundamento econômico na constituição. O

ágio ou deságio será computado na apuração do lucro real no período – base da

alienação ou baixa do investimento, ainda que tenha sido amortizado na

escrituração comercial. A regra deveria ser a mesma na apuração da base de cálculo da Contribuição Social sobre Lucro, mas não há previsão legal. Como as adições e exclusões previstas na lei para apuração da base de cálculo da Contribuição Social sobre Lucro estão elencadas exaustivamente, em princípio a amortização do ágio é dedutível enquanto a amortização do deságio é tributável. O risco está na interpretação de cada agente fiscalizador. (BARBOSA, Denis Borges. Artigo Contabilidade na Venda e Reavaliação de Ações, 2004)

As empresas ainda estão sujeitas à muitas interpretações das leis federais

(na lei federal) o que torna os investimentos dessa área ainda mais arriscados do

que já são, o papel do profissional da contabilidade é estar sempre atendo a

modificações na legislação às necessárias orientações de seus clientes.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

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O estudo das Ações procurou trazer a tona a nova realidade que avança

sobre o mercado brasileiro, há alguns anos não se falavam em ações de empresas

como um investimento viável, o pequeno investidor sempre procurava investimentos

de baixo risco que não lhe proporcionassem perdas, mais isso também significava

um baixo ganho e hoje ainda mais muito ínfimo.

As empresas hoje procuram ainda mais a CVM para captar recursos para

suas atividades e muitas têm sido estimuladas à mudarem as suas formas jurídicas

para S/A’s, para poderem entrar nesse mercado e pegar uma fatia dos investidores.

As escriturações e balanços demonstram qual é o papel do profissional da

contabilidade nessa realidade, que podem ser entendidos como a ponte que liga as

empresas a esse mercado que já é muito usado internacionalmente e que, conforme

mostrado no presente trabalho, tende à crescer exponencialmente em alguns anos,

a projeção da CVM demonstra uma realidade de 500% de aumento em 7 anos,

salientando-se que serão os profissionais contábeis os responsáveis pelos registros

das aberturas de capitais nas demonstrações contábeis, das investidoras e das

investidas, controladas e coligadas.

Os profissionais contábeis passam, como nunca, a terem o desafio de

desempenharem o seu. Há ainda que se salientar que os órgãos regulamentadores

das práticas contábeis estão atentos ao cenário atual e têm ajustado as normas

internacionais de contabilidade visando a maior segurança e transparência na busca

de investimentos estrangeiros. Isso tudo é centralizado na forma de Ações.

Destaca-se que isso não é apenas uma projeção, é algo que está em franca

transformação e nessa realidade, o profissional que não se adaptar, em busca

constante de atualização às novas formas de mensuração, deixará de cumprir o seu

principal objetivo que é o de fornecer informações úteis aos usuários, denotando ser,

o profissional da contabilidade, o “motor” de todas as transformações, pois é ele o

profissional apto e capaz ao registro e mensuração dos lançamentos decorrentes

desse mercado de capitais.

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