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Estado do Paraná 1 PODER JUDICIÁRIO FORO CENTRAL DA COMARCA DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA 14 a Vara Cível I Autos n"169912012 Vistos. ANGELA MARIA ESCORSIN, MARCELA ZANELATO RODRIGUES, MARCIA DAMASCENO PINHEIRO, DlEGO TADASHI MORIKA WA E MARIANA PICANÇO DE MIRANDA, ITAMAR VINICIUS CARDOSO, MONIQUE MOREIRA CARDOSOE SONIA REGINA MENDES ajuizou a presente AÇÃO INDENIZATÓRIA POR DANOS MATERIAIS, MORAIS E LUCROS CESSANTES em face de MRV - ENGENHRIA E PARTICIPAÇÕES S/A aduzindo em suma que firmaram contrato de compra e venda de imóvel com a requerida e que vinham regularmente realizando os pagamentos das prestações. Disse que o prazo para conclusão da obra restou previsto para agosto/2010 a janeiro/20JJ, com prorrogação por 180 dias. Pediram a aplicabilidade da legislação consumerista na espécie para o fim de reconhecer abusiva a clausula de tolerância. Teceram comentários acerca do inadimplemento contratual, mencionando os artigos 398 e 475 do Código Civil. )O Sustentaram a abusividade da taxa de corretagem e intermediação. Pediram a não inclusão de juros remuneratórios antes da entrega das chaves, indenização por danos morais e materiais (lucros cessantes). Citado, o requerido apresentou sua defesa ar .ndo preliminarmente a ilegitimidade passiva e denunciação a lide. Disse que ala tores , tinham ciência dos prazos previstos para a conclusão da obra (e entual prorrogação. Sustentou a ausência do dever de indenizar e impug o lO didos dos requerentes.

1 PODER JUDICIÁRIO - keg.com.brkeg.com.br/wp-content/uploads/2014/07/Sentenca-Di-Bettega.pdf · materiais, morais e lucros cessantes em face de mrv - ENGENHRIA E PARTICIPAÇÕES

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Estado do Paraná

1

PODER JUDICIÁRIOFORO CENTRAL DA COMARCA DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA

14a Vara Cível

I

Autos n"169912012

Vistos.

ANGELA MARIA ESCORSIN, MARCELA

ZANELATO RODRIGUES, MARCIA DAMASCENO PINHEIRO, DlEGO

TADASHI MORIKA WA E MARIANA PICANÇO DE MIRANDA, ITAMAR

VINICIUS CARDOSO, MONIQUE MOREIRA CARDOSOE SONIA

REGINA MENDES ajuizou a presente AÇÃO INDENIZATÓRIA POR DANOS

MATERIAIS, MORAIS E LUCROS CESSANTES em face de MRV -

ENGENHRIA E PARTICIPAÇÕES S/A aduzindo em suma que firmaram

contrato de compra e venda de imóvel com a requerida e que vinham regularmente

realizando os pagamentos das prestações. Disse que o prazo para conclusão da obra

restou previsto para agosto/2010 a janeiro/20JJ, com prorrogação por 180 dias.

Pediram a aplicabilidade da legislação consumerista na espécie para o fim de

reconhecer abusiva a clausula de tolerância. Teceram comentários acerca do

inadimplemento contratual, mencionando os artigos 398 e 475 do Código Civil.

)O Sustentaram a abusividade da taxa de corretagem e intermediação. Pediram a não

inclusão de juros remuneratórios antes da entrega das chaves, indenização por

danos morais e materiais (lucros cessantes).

Citado, o requerido apresentou sua defesa ar .ndo

preliminarmente a ilegitimidade passiva e denunciação a lide. Disse que ala tores,tinham ciência dos prazos previstos para a conclusão da obra (e entual

prorrogação. Sustentou a ausência do dever de indenizar e impug o lO didos

dos requerentes.

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14" Vara Cível

Os autores impugnaram a contestação apresentada

reiterando os argumentos expandidos na inicial rechaçando o que fora exposto pela

defesa.

Voltaram os autos conclusos para prolação de

sentença.

É a síntese do necessário.

oDecido.

A preliminar de ilegitimidade passIva nao deve

prosperar, porquanto os autores imputam ao demandado a responsabilidade pelo

atraso da entrega do obra de modo a se tomar sujeito da relação jurídica de direito

material descrita na peça angular. Se houve ou não atraso e cabível possível

indenização, tudo isso é matéria de mérito, e como tal será analisada.

,-Afinal, como bem sustentou Kazuo Watanabc, is.""

condições da ação devem ser analisadas in status assertionis, ou seja, à luz das

alegaçôes do demandante, independentemente de sua procedência ou não - matéria

de fundo.

Nesse sentido, a lição de Luiz Rodrigues Wambier,

de que "para a aferição da legitimidade, não importa saber se procede ou não a

IItensão do autor; não importa saber se é verdadeira ou não a descrição do

( onflito por ele apresentado. Isso constituirá o próprio julgamento de mérito. AI /J aferição da legitimidade processual antecede logicamente o julgamento de mérito"

~ (Curso Avançado de Processo Civil, vai l, 5" ed, RT, p.l29).

o

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14" Vara Cível

Da mesma forma nao há que se falar em

denunciação a lide, uma vez que o demandado expressamente tentou eximir-se de

sua responsabilidade pelo evento danoso, atribuindo-a a terceiro. Destarte, como a

denunciação a lide pressupõe o direito de regresso resultante de lei ou de contrato,

não há como ser reconhecida a possibilidade prevista no artigo 70, do Cõdigo de

Processo Civil.

Inicialmente verifica-se nos contratos firmados

entre as partes que os prazos para a entrega do imõvel foram convencionados em

agosto de 2010 a janeiro de 2011, com previsão de prorrogação em 180 dias

(cláusula 5).

Todavia, a cláusula contratual que prevê a carência

de 180 dias no prazo de entrega do imõvel, sem qualquer justificativa, é abusiva e

nula de pleno direito, na medida em que coloca o consumidor em desvantagem

exagerada, restringindo direito inerente à natureza do contrato e ameaçando o

necessário equilíbrio contratual (art. 51, inciso IV e ~1°, incisos 11e III do CDC).

Isso porque, ao se optar por este ou aquele

empreendimento, o prazo de entrega prometido é umas das. . .

pnnclpms

características consideradas pelo consumidor, servindo de verdadeiro atrativo e

possuindo especial relevãncia na escolha do empreendimento. Com base ncle

(prazo de entrega) o consumidor faz suas programações, seus sonhos c proje es

pessoais e financeiras.

Assim, deixar ao alvedrio do fornece or alte ação,do prazo de entrega do imóvel, sem qualquer justificaljva plau ívcl ou fato

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14° Vara Cível

concreto suficiente, desequilibra por demais e contratação e impõe ao consumidor

desvantagem exagerada, beirando à potestatividade.

E não socorre o fornecedor a disposição constante

no artigo 48, ~2° da Lei nO4.591/64. Uma por se tratar de norma que sucumbe

àquelas constantes do Código de Defesa do Consumidor. E duas porque aludido

dispositivo não permite a prorrogação injustificada do prazo de entrega, antes

exige que sejam indicadas condições e formas para tanto. ()

Com efeito, aludido norma legal dispõe que "Do

contrato deverá constar o prazo da entrega das obras e as condições e formas de .

sua eventual prorrogação". Ou seja, não dá ao construtor liberdade para prorrogar o

prazo de entrega do imóvel ao seu bel-prazer e sem qualquer justificativa. Ao

contrário, exige que constem do contrato as condições capazes de levar à

prorrogação da entrega do bem, bem como a indicação da forma como tal deverá

se dar.

cLogo, ao se estipular no contrato que a conclusão

da obra poderá ser prorrogada por até 180 dias corridos, sem qualquer justificativa,

condição ou forma, se está a violar não somente as normas c princípios do Código

de Defesa do Consumidor, como também a própria letra do ~2° do artigo 48 da Lei

nO 4.591/64.

11 Apenas se pode admitir a prorrogação do prazo

Ir a ntrega da obra na ocorrência de fatos concretos, supervenientes e sufidentes

ta to - a exemplo do que ocorre em caso fortuito ou força maior -, visto que DOr c0jstrutor fornecedor incumbem os ônus e riscos do negócio.

I

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Estado do Paraná

i4a Vara C/vel

Neste sentido é a jurisprudência:

PRo.MESSA DE Co.MPRA E VENDA E iMÓVEL-

ATRASO.NA ENTREGA DA o.BRA-iNDENiZAÇÃo. Po.R LUCRo.S CESSANTES-

TEo.RlA DA iMPREViSÃo.-iNAPLiCABiL1DADE PRo.RRo.GAÇÃo. DO. PRAZO

DE To.LERÂNCiA - CLÁUSULA ABUSiVA-CÓDiGO. DE DEFESA DO.

Co.NSUMlDo.R.9...) 3. A CLAUSULA QUE FACULTA À Co.SNTRUTo.RA o.

ADiAMENTO DA ENTREGA DA o.BRA Po.R Do.ZE MESES APÓS o. PRAZO.

PREViSTO. É ABUSiVA E NULA DE PLANO. DiREiTO., Po.R Co.NFiGURAR

NÍTIDO. DESEQUILÍBRiO Co.NTRATUAL. RECHAÇADO. PELO. Código de

Proteção e Defesa do Consumidor. (TJ/DF - 5a T C/v., Ap. C/v. Na 4824511998,

Rei. Des. Adelith de Carvalho Lopes,julg. 08.03.i 999)

EMENTA - Co.MPRo.MISSo. DE Co.MPRA E

VENDA DE iMÓVEL A PRESTAÇÃO. PRAZO. DE ENTREGA DO. IMÓVEL

Co.MPRo.MIo.SSADo. iNADiMPLENCiA DA Co.MPRo.MiSSARo.A

VENDEDo.RA, PRAZO. DE TOLERANCIA PREVISTO. NO. Co.NTRATo.

; Considera-se inadimplente a construtora e compromissária vendedora quando não,faz a entrega do bem compromissado no prazo previsto no contrato, autorizando o

acolhimento do pedido de rescisão feito pelo compromissário comprador, com

devolução de fodas as parcelas pagas, devidamente corrigidas, mais juros de mora

e outras penalidades previstas em contrato, O prazo de tolerância previsto no

contrato somente é Justificativa para a prorrogação do prazo contratual de

entrega do imóvel compromissado quando ocorrer caso fortuito ou força maio

devidamente comprovados no saltos. (TJ/MG - 7aC. Civ., Ap. C/v. Na 36i743! ',Rei. Des. José Afonso da Costa Côrtes,}. 06.06.2002). \' !

! II

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Estado do Paraná

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14" Vara Cível

Sob esse prisma é possível, portanto, entender que

é abusiva qualquer cláusula que simplesmente prorrogue o prazo da construtora

para o cumprimento da obrigação de entregar o imóvel (art. 51, IV e XV do COC)

Portanto, pelos fundamentos supra mencionados

deve a cláusula 5 ser declarada nula.

Portanto, pelos documentos juntados, bem como

alegações das partes, é evidente que houve descumprimento contratual por parte de)requerida, O que enseja o direito da parte autora de rescindir o contrato ou exigir-

lhe o cumprimento, com a cabível indenização por perdas e danos.

A legislação civil pátria prevê: "Art. 475. A parte

lesada pelo inadimplemento pode pedir a resolução do contrato, se não preferir

exigir-lhe o cumprimento, cabendo, em qualquer dos casos, indenização por

perdas e danos. "

Havendo o descumprimento contratual por parte d.•

requerido, o que é inconteste nos autos, cinge-se a controvérsia recursal à verificar

a ocorrência de lucros cessantes advindo do atraso na entrega das chaves do imóvel

objeto do contrato de promessa de compra e venda firmado entre as partes.

Nada obstante, em que pese o art. 333, I, do CPC,

atribuir à par)o/ Autora o onus probandi dos fatos constitutivos de seu direito

indenizarri~ á situações excepcionais em que a prova do dano é dispensada, por

presunç~o orrente da própria lei.,

,

I

PODER JUDICIÁRIOFORO CENTRAL DA COMARCA DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA

Estado do PaIaná14a Vara Civel

É O caso do ar!. 402 do Código Civil, que assim

menciona; "Salvo as exceções expressamente previstas em lei, as perdas e danos

devidas ao credor abrangem, além do que ele efetivamente perdeu, o que

razoavelmente deixou de ganhar".

Lucro cessante é o refluxo futuro do ato ilícito

sobre o patrimônio da vítima, a perda do ganho esperável, a frustração da

() expectativa de lucro ou a diminuição potencial do patrimônio. É justamente aquilo

que se deixou de ganhar durante o atraso na conclusão do empreendimento

imobiliário.

Segundo GUSTAVO TEPEDlNO, a expressão "o

que razoavelmente deixou de ganhar" corresponde aos lucros cessantes, que se

pautam pelo princípio da razoabilidade. Citando AGOSTiNHO ALVIM, afirma

oque até prova em contrário, deve ser atribuído ao credor o valor que lucraria se

os fatos se desenrolassem dentro do seu curso normal, tendo em vista os

antecedentes. (TEPED1NO, Gustavo et alli. Código Civil interpretado conforme a

Constituição da República. Rio de Janeiro: Renovar, 2004, p. 727.)

Nesse sentido, destaca-se a posição adotada pelo

Superior Tribunal de Justiça, no sentido de aceitar a presunção, de acordo com oI

bom senso, daquilo que se deixou de lucrar nas hipóteses em que há atraso na dat/

de entrega de empreendimento imobiliário: /

/!I _

"AGRAVO REG/MENTAL EM AGRA VO. AÇAO, ._ I i

DE RESC1SAO DE CONTRATO DE COMPRA E VENDA C/C P E11'{fASE

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Estado do Paraná

I4a Vara Cível

DANas E LUCRas CESSANTES P RaDUçÃa P RaBATÓRiA. ALEGAÇÃO.

DE CERCEAMENTO. DE DEFESA. LIVRE caNVENCIMENTa Da

MAGISTRADO REEXAME DE PRaVA EM SEDE ESPECIAL.lNVIABILIDADE.

SÚMULA 7/STJ ATRAsa NA ENTREGA Da IMÓVEL. LUCRas CESSANTES

PRESUNÇÃO C ABIMENTORESCISÃa caNTRATUAL. DESCUMPRIMENTO.

DE ADITIVa caNTRATUAL. CULPA DA P RaMITENTE-VENDEDaRA.

REEXAME DE MATÉRIA FÁTICA. IMPaSSIBILIDADE. PRECEDENTES

AGRAVa REGIMENTAL DESPRaVIDO" (AgRg nos EDcl no AREsp 30.786/SC,

Rei. Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, Terceira Turma, julgado /r)21/08/2012, DJe 24/08/2012)

Ressalta SÉRGIO SAVI que para a configuração

dos lucros cessantes não basta a simples possibilidade de realização de lucro, mas

também não é indispensável a absoluta certeza de que estes teriam se verificado

sem a interferência do evento danoso. O que deve existir é uma probabilidade

objetiva que resulte do curso normal das coisas e das circunstâncias do caso

concreto (SAVI, Sérgio. Inadimplemento das Obrigações, Mora e Perdas e Danr:

(arts. 389 a 405). In: Obrigaçôes: estudos na perspectiva civil-constitucional.

Coord. Gustavo Tepedino. Rio de Janeiro: Renovar, 2005, p. 480.)

Veja-se o entendimento do Egrégio Tribunal dc

Justiça do Estado:

IMÓVEL. AI sa NA :NTREGA - LUCRaS CESSANTES - PRESUNÇÃO. -

CAB1\1D rio. DEC1SAo. AGR4V4DA J1ANTlDA - I\1PIWVIMENTo. l.- A' V r ..

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Estado do Paraná14a Vara Civel

jurisprudência desta Casa é pacífica no sentído de que, descumprido o prazo para

entrega do imóvel objeto do compromisso de compra e venda, é cabivel a

condenação por lucros cessantes. Nesse caso, há presunção de prejuizo do

promitente-comprador, cabendo ao vendedor, para se eximir do dever de

indenizar, jazer prova de que a mora contratual não lhe é imputável. Precedentes.

2.- O agravo não trouxe nenhum argumento novo capaz de modificar o decidido,

que se mantém por seus próprios fundamentos. 3.- Agravo Regimental improvido. "

() (AgRg no REsp 1202506/RJ, Rei. Ministro Sidnei Reneti, Terceira Turma, julgado

em 07/02/2012, DJe 24/02/2012.) grifos meus

"CIV1L E PROCESSUAL EMBARGOS

DECLARATÓRIOS CUJAS RAZÕES SÃO EXCLUSIVAMENTE INFRINGENTES

FUNGIBILIDADE DOS RECURSOS RECEBIMENTO COMO AGRAVO

REGIMENTAL. COMPRA E VENDA. IMÓVEL. ATRASO NA ENTREGA.

LUCROS CESSANTES PRESUNÇA-o. PROVIMENTO 1. Nos termos da mais

recente juri5prudência do STJ, há presunção relativa do prejuízo do promitente-

{ "\ comprador pelo atraso na entrega de imóvel pelo promitente-vendedor, cabendo a\ ..1

este, para se eximir do dever de indenizar, jazer prova de que a mora contratual

não lhe é imputável. Precedentes. 11. Agravo regimental provido. "( AgRg no Ag

1036023/RJ, Rei. Ministro Aldir Passarinho Junior, Quarta Turma, julgado em

23/11/2010, DJe 03/12/2010.) - grifos meus

Dessa forma, considerando que a parte Requer'U

não se desincumbiu do ônus de demonstrar a inexistência dos lucros qu eI

presumem que a parte Autora deixou de ganhar durante o per o e

inadimplemento contratuaL devida é a indenização por lucros cessantes.

10PODER JUDICIÁRIO

FORO CENTRAL DA COMARCA DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBAEstado do Paraná

i4a Vara Cível

Em relação ao valor a ser indenizado a título de

lucros cessantes, tem-se que os autores colacionaram aos autos, avaliações

mercadológicas correspondentes ao valor de aluguel do imóvel, as quais não foram

impugnadas pelo requerido, de modo a prevalecer as importâncias mensais de R$

1.100,00 (hum mil e cem reais) para os autores: Ângela e Edson, Marcia, Diego e

Mariana, Itamar e Monique e de R$ 912,50 (novecentos e doze reais e cinquenta

centavos) para os autores: Marcela e Sonia.

oDeve o requerido portanto, ser condenado ao

pagamento dos valores acima, desde a data em que deveriam ter sido entregues a

obra até a efetiva entrega das chaves.

Neste sentido é o entendimento jurisprudencial:

Re!:Jponsabilidadeda construtora em razão da

demora na entrega das chaves de apartamento em condomínio, adquirido pelo

demandante - Cálculo da indenização conforme o aluguel pago pelo autor, com 0\)reajustes legais, a partir da data prevista para a entrega das chaves _

Responsabilidade até a efetiva entrega das chaves -Recurso a que se dá

provimento parcial para os fins acima." (TJ/SP - ia C. Dir. Priv., Ap. Cív. na

28.22i-4/8-00, Rei. Des. Luís de Macedo.julg. 24.03.i 998) grifos meus

"APELAÇÃO. CÍVEL - RESPo.NSABiLiDADE

CiViL -iNfD M LEMENTo. Co.NTRATUAL - LUCRo.S CESSANTES. A~RAVo.

RETiDO. (.r' M ,RiTO. Co.MPRo.MiSSo. DE Co.MPRA E VENDA DE iMo.VEL-I .

APUC.ABlyJDAtc.' DO. CDC - ATRASO. NA ENTREGA - AUSENCiA DE CASO.

i

PODER JUDICIÁRIOEstado do Paraná

11

SV\\FORO CENTRAL DA COMARCA DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA

I4a Vara Cível

(I

o

FaRTUITO au FaRçA MAJOR - CULPA CARACTERIZADA - DEVER DE

INDENIZAR - LUCRaS CESSANTES - VALaRES REFERENTES AO.ALUGUEL,

CAsa TIVESSE SIDO.ENTREGUE Na PRAZO.- "QUANTUM" - LIQUIDAÇÃO.

DE SENTENÇA - paSSIBILIDADE. Ainda que o imóvel tenha sido adquirido

para posterior locação, aplicam-se os dispositivos do Código de Defesa do

Consumidor, pois o promissário comprador amolda-se àfigura do consumidor, na

medida em que não se vislumbra habitualidade ou profissionalismo no ramo de

locação de imóveis, capaz de caracterizá-lo como fornecedor. Se a construtora,

sem causa, não entrega o imóvel no prazo previsto no compromisso, resta

caracterizado seu inadimplemento, a autorizar sua condenação em lucros

cessantes, equivalentes ao valor da locação do imóvel, calculados a partir da data

em que deveria ser entregue a obra. Eventual discussão acerca de ônus sobre o

terreno, onde eslava sendo efetuada a obra, não pode ser considerado caso

fortuito ouforça maior, posto que não há prova de motivo que pudesse ensejar sua

paralisação. AGRAVa RETIDa DESPRaVIDo. APELa DESPROVIDO." -

Grifei. (TJ/PR, Ac. na 16.294, da 10a C.Cv., Rei. Des. Arquelall Araújo Ribas, DJ

de 09.06.2009). grifo.' meus

Ainda em relação aos autores Marcela, Diego e

Mariana, Itamar e Monique foi levantada a ilegalidade das cobranças relativas a

taxa de intermediação. No que tange a legitimidade dos pagamentos relativos a

serviços de corretagem e assessoria imobiliária restou incontroverso que a

intermediação (eorretagem+despaehante) foi celebrada no mesmo ato da eompr'

venda. Não há, pois, como negar que referido contrato foi ofertad

verdadeira "venda casada", vedada pelo Código de Defesa do Consu

Artigo 39: "É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outra

\

Estado do Paraná

12PODER JUDICIÁRIO

FORO CENTRAL DA COMARCA DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA

}4" Vara Cível

abusivas: I condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao fornecimento

de outro produto ou serviço, bem como, sem justa causa, a limites quantitativos".

A contratação no mesmo ato da compra e venda

imobiliária com outros de intermediação (corretagem+despachante) sobre o mesmo

empreendimento, sem dúvida que implica em reconhecer a denominada "venda

casada", vedada pelo Código de Defesa do Consumidor no artigo 39, inciso I.

É importante frisar, ainda, que, embora seja praxe

no mercado imobiliário a presença do corretor de imóveis nas transações de

compra c venda de imóveis, também é praxe que a taxa de corretagem fique a

cargo do vendedor, no caso a ré, e não do comprador.

Nesse sentido: "O art. 39, I, do CDC, inclui no rol

das práticas abusivas a popularmente denominada "venda casadatl, ao estabelecer

que é vedado ao fornecedor "condicionar o fornecimento de produto ou de serviço

ao fornecimento de outro produto ou serviço, bem como, sem justa causa, a limit~i

quantitativos. Na primeira situação descrita nesse dispositivo, a ilegalidade se

configura pela vinculação de produtos e serviços de natureza distinta e usualmente

comercializados em separado, tal como ocorrido na hipótese dos autos. (STJ Resp.

n. 384284-RJ ReI. Min. Herman Benjamim T2 j. 15/12/09).

/( / Assim, devem ser devolvidas as importâncias pagas

a titulo de t~xà de corretagem e despachante, valor que perfaz a importãncia de R$

R$16.196,tlp (dercsseis mil cento e noventa e seis reais) ..Iv

o

13

PODER JUDICIÁRIOFORO CENTRAL DA COMARCA DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA

Estado do Paraná14" Vara Cível

Quanto a nulidade das clánsulas que preveem a

incidência de juros antes da entrega das chaves entendo que razão não assiste aos

autores. Segundo entendimento do STJ "(. ..) 1. Na incorporação imobiliária, o

pagamento pela compra de um imóvel em fase de produção, a rigor, deve ser à

vista. Nada obstante, pode o incorporador oferecer prazo ao adquirente para

pagamento, mediante parcelamento do preço. Afigura-se, nessa hipótese, legítima a

cobrança de juros compensatórios. 2. Por isso, não se considera abusiva cláusula

contratual que preveja a cobrança de juros antes da entrega das chaves, que,

ademais, confere maior transparência ao contrato e vem ao encontro do direito à

informação do consumidor (art. 60, m, do CDC), abrindo a possibilidade de

correção de eventuais abusos. 3 No caso concreto, a exclusão dos juros

compensatórios convencionados entre as partes, correspondentes às parcelas pagas

antes da efetiva entrega das chaves, altera o equilíbrio financeiro da operação e a

comutatividade da avença. 4. Precedentes: REsp n. 379.941/SP, Relator Ministro

CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO, TERCEIRA TURMA, julgado em

3/10/2002, DJ 2/12/2002, p. 306, REsp n. L133.023/PE, REsp n. 662.822/DF,

REsp n.1.060.425/PE e REsp n. 738.988/DF, todos relatados pelo Ministro ALDlR

\1 PASSARINHO JÚNIOR, REsp n. 681.724/DF, relatado pelo Ministro PAULO

FURTADO (Desembargador convocado do TJBA), e REsp n. 1.193.788/SP,

relatado pelo Ministro MASSAMI UYEDA. 5. Embargos de divergência providos,

para reformar o acórdão embargado e reconhecer a legalidade da cláusula do

contrato de promessa de compra e venda de imóvel que previu a cobrança de juros

compensatórios de 1% (um por cento) a partir da assinatura do contrato. (ER. P

670.JJ 7/PB, ReI. Ministro SIDNEI BENETI, ReI. p/ Acórdão Ministro

CARLOS FERREIRA, SEGUNDA SEÇAO, julgado em 13/06/2 1 D e

26/11/2012)

,,,

FORO CENTRAL DA COMARCA DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA

]40 Vara CívelEstado do Paraná

PODER JUDICIÁRIO

Na mesma esteira veja-se:

14

PRo.CESSUAL CIVIL. AGRAVO. Na RECURSO.

ESPECIAL. AÇÃO. REVISIONAL DE Co.NTRATO DE PRo.MESSA DE Co.MPRA

E VENDA. JURo.S Co.MPENSATÓRlo.S.Co.BRANÇA ANTES DA ENTREGA DO.

IMÓVEL. Po.SSIBILIDADE.- Nos contratos de promessa de compra e venda de

imóvel em construção, não se considera abusiva cláusula contratual que preveja a

cobrança de juros antes da entrega das chaves. - Agravo no recurso especial nã()

provído. (AgRg no REsp 1225437/RJ, ReI. Mínistra NANCY ANDRlGHI,

TERCEIRA TURMA, julgado em 18/12/2012, DJe 04/02/2013)

NA FUNDAMENTAÇÃO. SÚMULARECURSO. ESPECIAL.

AGRAVO.

DEFICIÊNCIA

REGIMENTAL. AGRAVO. EM

284/STF "JURo.S NO. PÉ". SÚMULA 83/STJ1. Configura deficiência de

fundamentação do recurso especial a alegação genérica de violação a artigos de

lei, sem contudo demonstrar em que extensão e como se deu a suposta

violação.lncidência da Súmula 284/STF2. A Segunda Seção, no julgamento d~.•;

EREsp 670.117/PB, decidiu que não é abusiva a cláusula de cobrança dejuros

compensatórios incidentes em período anterior à entrega das chaves nos contratos

de compromisso de compra e venda de imóveis em construção sob o regime de

incorporação imobiliária (ReI. originário Min. Sidnei Beneti, ReI. para acórdão

Min. Antonio Carlos Ferreira, julgados em 13.6.2012, pendente de publicação). 3.

Agravo regimental a que se nega provimento. (AgRg no AREsp 48.968/MG, Rei.

Ministra MARIA f BEL GALLo.TTI, QUARTA TURMA, julgado em 09/10/2012,

DJe 18/10/2(12/

, I\ 'V

FORO CENTRAL DA COMARCA DA REGIÃO METROPOUTANA DE CURlTIBA

]4" Vara CívelEstado do Paraná

,PODER JUDICIARIO

Portanto, reputo válidas as cláusulas citadas.

15

Por fim, não há como ignorar que a conduta da

requerida deve ser considerada grave, porque, afinal, o inconveniente do atraso da

obra resultou em intensos aborrecimentos ao autor. Some-se a isso o fato de que a

compra de um novo imóvel gera, em seu adquirente, imensas expectativas quanto à

mudança para um novo lar, e que a demora na entrega cria, sem dúvida, uma

( ) situação incomoda e constrangedora.

Nesse norte:

APELAÇÃO. CÍVEL - RESCISÃO. Co.NTRATUAL-

PRo.MESSA DE Co.MPRA E VENDA DE IMÓVEL - ATRASO. NA Co.NCLUSÃo.

E ENTREGA DO. IMÓVEL - INADIMPLÊNCIA DA Co.NSTRUTORA -

DEVo.LUÇÃo. DE PARCELAS PAGAS - FRUSTRAÇÃO. EM ADQUIRIR

(í CASA PRÓPRIA - DANO. Mo.RAL Co.NFIGURADo. - INDENIZAÇÃO. DEVIDA -

PRECEDENTES JURISPRUDENCIAIS - RECURSO. PRo.VIDo. - o. atraso ou

falta da entrega de imóvel caracteriza inadimplemento culposo do contrato,

ensejando ao adquirente o exercício do direito de ser indenizado pelos danos

morais soji-idos, ante a frustração do sonho de adquirir a casa própria. (TJPR -

17" Câmara Cível - Apelação Cível 288959-8 - Rei.: Des. Dimas o.rtencio d

Mello - J. 17/05/2005). /

Assim, bem sopesadas e ponderad s t is!

circunstâncias, condeno a requerida ao pagamento de indenização por da moral,

no importe de R$ 5.000,00 a parte autora, quantia que se afigura satisfatória,

FORO CENTRAL DA COMARCA DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA

14" Vara CívelEstado do Paraná

,PODER JUDICIARIO

16

evitando-se, de um lado, o enriquecimento sem causa deste c, de outro, a ausência

de resposta à conduta daquela.

Face ao exposto e considerando o mais que dos

autos consta, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE o pedido inicial para

o fim de:

a) DECLARAR a nulidade da cláusula 5 do contrato firmado entre as partes.,~'-)

b) CONDENAR o requerido ao pagamento de lucros cessantes na importância

mensal de R$ 1.100,00 (hum mil e cem reais) para os autores: Ângela e

Edson, Marcia, Diego e Mariana, Itamar e Monique e de R$ 912,50

(novecentos e doze reais e cinquenta centavos) para os autores: Marcela e

SODia, referente ao valor de aluguel dos imóveis, desde a data em que

deveriam ter sido entregues até a efetiva entrega das chaves, devendo os

valores serem corrigidos monetariamente pelo INPC desde a data da

sentença e acrescido de juros moratórios da data da citação."

c) DETERMINAR a devolução das importâncias pagas pelos autorC

MarceJa, Diego e Mariana, Itamar c Monique, a titulo de taxa de corretagem

e despachante, o que importa em R$ R$ 16.196,00 (dezesseis mil cento e

noventa e seis reais) sendo que em tal valor deverá incidir juros de mora de

1% (um por cento) ao mês corrigido pelo índice do INPC desde a sentença.

d) CONDENAR o requerido ao pagamento de indenização moral na

importâ cia de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), a cada comprador, sendo que

em ta valor deverá incidir juros de mora de 1% (um por cento) ao mêsm,.o"~"'.ore " 'N"C ,,,"o """'",'

Estado do Paraná

PODER JUDICIÁRIOFORO CENTRAL DA COMARCA DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA

14" Vara Cível

Pela sucumbência mínima dos autores, condeno o

requerido ao pagamento das custas e despesas do processo, bem como dos

honorários advocatícios da parte contrária, os quais fixo 10% sobre o valor da

condenação, com base no artigo 20, li 3°, do CPC.

Publique-se. Registre-se. Intimem-se.

Curitiba, 24 de outubro de 2013.

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