2004-Artesanato Industrial Criação Artística e Repetição Na Obra de Dalton Trevisan

Embed Size (px)

DESCRIPTION

-

Citation preview

  • Acta Scientiarum. Human and Social Sciences Maring, v. 26, n. 2, p. 201-208, 2004

    Artesanato industrial: criao artstica e repetio na obra de Dalton Trevisan

    Arnaldo Franco Junior

    Departamento de Estudos Lingsticos e Literrios, Instituto de Biocincias, Letras e Cincias Exatas, Universidade Estadual Paulista, campus de So Jos do Rio Preto, Rua Cristvo Colombo, 2264, Jardim Nazareth, 15054-000, So Jos do Rio Preto, So Paulo, Brasil. e-mail: [email protected]; [email protected]

    RESUMO. Avalia-se, neste ensaio, o valor da repetio no trabalho de criao literria de Dalton Trevisan. Por meio da anlise do conto O leito de espinhos, demonstra-se como a repetio, procedimento caracterstico do processo de produo do contista curitibano, integra um projeto literrio crtico em relao aos paradigmas de criao e de crtica herdados do Modernismo. Palavras-chave: conto, forma narrativa, ps-modernismo, repetio.

    ABSTRACT. Industrial craft: Artistic creation and repetition in Dalton Trevisans work. This paper analyzes the importance of repetition in Dalton Trevisans literary production. Studying the short story O leito de espinhos (Bed of thorns), we can see how repetition integrates a critical literary project which regards the creation paradigms and the critique inherited from Modernism. Key words: short story, narrative form, post-modernism, repetition.

    Introduo

    O trabalho de criao de Dalton Trevisan regulado pelos seguintes dispositivos-matrizes, a partir dos quais os elementos constitutivos de sua obra tm de ser pensados:

    1. uma obsessiva reescrita dos mesmos textos, que progressivamente despoja cada texto reescrito de elementos acessrios (artigos, preposies, conectivos, trechos explicativos, adjetivao redundante e/ou excessiva, aes secundrias, etc.) para concentrar-se nos elementos essenciais da narrativa (personagem, ao, intriga, anedota, temrio e trama);

    2. uma estratgia de encolhimento que faz de cada fragmento narrativo uma sindoque que remete a histria ali contada para uma histria maior, da qual ela nada mais do que uma cena ou captulo (um episdio, ainda que completo em si mesmo tal como o fait divers), um fragmento que ilumina o todo sem que este precise ser enunciado;

    3. um apagamento do dilogo intertextual que os textos mantm com a tradio literria brasileira e ocidental, apagamento que sugere, nas histrias narradas, a verso degradada, na vida, daquilo que fora, antes, esplendoroso na

    literatura, na arte1; 4. uma importante funo crtica da repetio,

    procedimento onipresente que contamina todos os demais elementos e procedimentos caractersticos do trabalho do escritor. por meio da repetio que reconheceremos, na obra de Trevisan, tanto um trao funcional e econmico como uma racionalidade que se aproxima da racionalizao na produo de arte.

    Cada um desses dispositivos-matrizes cria efeitos que devem ser considerados em uma avaliao do projeto literrio que parece animar a obra do escritor curitibano. Vejamos:

    1. a reescrita obsessiva dos mesmos textos cria o que, segundo Rosse Marye Bernardi (1983), caracteriza uma potica da reduo em que o texto mnimo pretende atingir a mxima intensidade dramtica e o mximo impacto sobre o leitor;

    2. a retomada obsessiva dos mesmos elementos bsicos na estruturao dos textos permite que se reconhea cada texto como o resultado da combinatria de um conjunto limitado de elementos estruturais, que remetem ao

    1 Na obra de Trevisan a arte precede a vida que, em uma inverso

    irnica do modelo terico descrito por Plato em A Repblica, torna-se o simulacro da primeira.

  • 202 Franco Junior

    Acta Scientiarum. Human and Social Sciences Maring, v. 26, n. 2, p. 201-208, 2004

    folhetim e ao fait divers2, maneira das imagens criadas a partir de um conjunto limitado de fragmentos coloridos em um caleidoscpio;

    3. o apagamento da intertextualidade3 funciona, ao mesmo tempo, como uma indicao de pistas e um despistamento que permite que as obras sejam lidas com diferentes modulaes tanto pelo leitor culto como pelo leitor comum, tanto numa clave metalingstica como numa clave naturalista. Se lida de uma perspectiva metalingstica, a degradao em kitsch, caracterstica da contstica trevisaniana, tem uma mo dupla voltada para a relativizao crtica das diferenas que, porventura, instalem-se entre a histria da vida e as histrias da literatura. Tal discriminao, na verdade, ser percebida como diferencial de classe social - modo, portanto, de ressaltar o preconceito j que a clave naturalista tambm enganadora, pois sua funo criar a iluso de atmosfera de obra pornogrfica e/ou de literatura-verdade;

    4. a repetio caracterizar a obra de Dalton Trevisan como produo marcada pela idia de serializao cujas idiossincrasias de cada texto especfico no anulam a idia da existncia de matrizes estruturais que, aqui e ali, apresentam uma ou outra diferena. Ela far, pois, com que reconheamos que esta

    2 O fait divers , segundo Barthes (2003), uma estrutura narrativa

    completa em si mesma, dispensando qualquer saber prvio para ser consumida. Esse trao ser perseguido por Trevisan na construo de sua obra. De fato, pode-se isolar qualquer uma das muitas verses de um mesmo conto, considerando-a o suficiente para a compreenso da potica de seu autor. Esse, alis, o modo mais comum pelo qual Trevisan lido. No entanto, a contnua reviso e reescrita dos mesmos contos deve, cremos, ser considerada como fator integrante da potica trevisaniana, fator que produz, inclusive, efeitos de sentido no previstos e/ ou valorizados pelo prprio autor.

    3 A intertextualidade na obra tanto inter como intratextual. No primeiro caso, opera por citao, apropriao estilstico-discursiva ou, ainda, por apropriao e deslocamento de elementos que passam a exercer uma nova funo e a gerar um campo semntico que contrasta com aqueles pertinentes ao texto-matriz do qual foram tomados. As citaes (ttulos de obras consagradas da literatura e, tambm, do cinema e da msica popular so feitas tanto nos ttulos como no corpo dos contos. Ver, por exemplo, Em busca de Curitiba Perdida (Trevisan, 1979); Joo, o estripador (Trevisan, 1976); Apanhei-te cavaquinho (Trevisan, 1988). A apropriao estilstico-discursiva evidencia-se nos contos epistolares, nos que imitam o discurso jurdico como Certido (Trevisan, 1979) e Debaixo da ponte preta (Trevisan, 1975), nos que imitam textos bblicos como Lamentaes de Curitiba (Trevisan, 1979). Para um exemplo da apropriao que desloca elementos e cria uma tenso semntica com o texto-matriz, leia-se Chapeuzinho vermelho (Trevisan, 1974). J a intratextualidade criada pela retomada dos mesmos contos, reescritos e/ou reaproveitados para compor novos contos. A reduo das personagens a uma pequena galeria de tipos cujos nomes universalizam-se at a abstrao , tambm, fator que caracteriza a intratextualidade trevisaniana. Alm disso, h uma reduo do anedotrio dos contos a seqncias marcadas pelo desenvolvimento de aes articuladas segundo uma previsibilssima combinatria.

    obra marca-se pela idia de combinatria de um conjunto finito de elementos que, repetidos, mas articulados de vrias formas, garantem simultaneamente a afirmao de tais matrizes e a individualidade de cada um dos clichs (re)produzidos a partir delas.

    No caso de Trevisan , talvez, mais exato falar-se em produo do que em criao, pressupondo-se a distino entre o que est prximo da atividade industrial (a produo do tipo linha de montagem, serializada, racionalizada pelo fordismo) e o que est prximo da manufatura, que mantm vivos os traos do artesanato. Obviamente, esta distino , aqui, apenas um elemento didtico, pois o trao do artesanato, que evidencia o fazer singular do artista, aparecer no prprio retrabalhar dos fait divers recolhidos da vida e/ou imaginados pelo escritor - dado evidente na obra de Dalton. No entanto, preciso fazer esta distino, sobretudo, porque ela dialoga, paradoxal e ironicamente, com o desenvolvimentismo que tanto caracterizou o Brasil eufrico dos anos 40 - 60, com destaque para os anos JK; como caracterizou, tambm, um certo modo de pensar a atividade das artes de vanguarda a partir de 1922. Octavio Paz nos ensina que muito difcil - e mesmo grotesco - afirmar que as artes progridem (Paz, 1976: 136), mas no deixa de ser curioso observar que tal idia lastreou, discreta, um certo modo de pensar a atividade literria no Brasil ps-Semana de 22, vinculada idia de arte como expresso vanguardista, seja em esttica, seja em poltica.

    Destaque-se que a repetio no vista, aqui, como trao pejorativo. Ela se constitui, no trabalho de Dalton Trevisan, em um desafio irnico a certas idias e valores herdados das poticas modernistas que hipervalorizaram as idias de originalidade e unicidade da obra de arte. Pode-se dizer que o escritor leva ao extremo tais idias - criando obras originais e nicas - exatamente por meio de um processo que, por natureza, avesso a elas: a produo serializada, racionalizada, cuja estrutura assemelha-se da linha de montagem.

    No deixa de ser irnico o fato de que um dos contistas mais originais de toda a literatura brasileira valha-se de um processo de produo que perfaz um comentrio crtico em relao s pretenses de originalidade herdadas de um certo modo de se pensar a atividade de vanguarda na arte. No deixa de ser irnico e crtico o fato de que tal processo cumpra uma funo paradoxal: por um lado, mimetiza o que, para os padres da atividade econmica brasileira da poca (anos 40-60), era revolucionrio: o modo de produo industrial; por outro lado, ao escolher e privilegiar como referente de sua produo a vida daqueles que habitam as margens das grandes cidades que so fruto da revoluo industrial - no limite,

  • Criao artstica e repetio na obra de Dalton Trevisan 203

    Acta Scientiarum. Human and Social Sciences Maring, v. 26, n. 2, p. 201-208, 2004

    talvez, a representao do conjunto da sociedade brasileira pela vida mesquinha, sem graa, montona das classes sociais mais baixas e da pobreza -, Dalton Trevisan cria um curto-circuito crtico no entusiasmo moderno/ modernista, revelando-o como perigosamente alienado e virtualmente alienador - ideologia conformadora. Neste sentido, o escritor questionar tanto a idia de que o progresso tcnico capaz de produzir espontaneamente maior felicidade e harmonia social - dado que caracteriza um dos aspectos crticos das poticas ps-modernistas (Subirats, 1987: 23-46) - como questionar, tambm, as idias de originalidade, de inveno, de liberdade criativa, de libertao dos aspectos irracionais da existncia por meio da racionalizao. Questionar, enfim, a Modernidade e o Modernismo na vida e na arte, enfatizando a convivncia perversa entre tcnica e irracionalidade, progresso e misria4 - o que se faz presente no carter performtico de seus prprios textos, capazes de mimetizar aquilo que criticam.

    Pode-se afirmar que o referente em Trevisan remete inevitavelmente ao naturalismo. Remete, mas no comunga com o traado ideolgico dessa escola literria. A prpria repetio, aliada ao fato de que nos contos afirma-se uma inverso da relao comumente estabelecida entre a vida e a arte - com a vida sendo a cpia deformada da arte - coisa que o oposto do que pretende o naturalismo -, acaba corroendo as amarras do projeto naturalista.

    O trao naturalista a partir do qual a literatura de Trevisan foi, sempre, hipervalorizada por certa crtica literria, que, muitas vezes, descurou do alcance dos demais traos caractersticos de sua potica, responde apenas pelo referente presente nos contos. Sua obra, considerada do ponto de vista de sua atividade de escrita o oposto dos propsitos naturalistas: fruto de pesquisa constante, de elaborao que no teme a reelaborao e que nega as verses anteriores de um trabalho em favor de cada nova verso do mesmo. Tal recurso projeta, queira-se ou no, a idia da obra de arte perfeita, resultado do apuro tcnico a partir do qual foi progressivamente trabalhada por seu criador. Lavor de joalheiro? Sim, mas note-se que o preciosismo, o barroquismo, o excesso e a afetao so banidos do horizonte da produo. A obra de

    4 Segundo Walter Benjamin, Uma nova forma de misria surgiu

    com esse monstruoso desenvolvimento da tcnica, sobrepondo-se ao homem. A angustiante riqueza de idias que se difundiu entre, ou melhor, sobre as pessoas (...) o reverso dessa misria. Porque no uma renovao autntica que est em jogo, e sim uma galvanizao.(...) nossa pobreza de experincias apenas uma parte da grande pobreza que recebeu novamente um rosto, ntido e preciso como o do mendigo medieval. Pois qual o valor de todo o nosso patrimnio cultural, se a experincia no mais o vincula a ns? (...) prefervel confessar que essa pobreza de experincia no mais privada, mas de toda a humanidade. Surge assim uma nova barbrie (Benjamin, 1988: 115).

    Trevisan marca-se por uma potica do menos5. Nela, menos sempre melhor do que mais, sobretudo se, por efeito de sugesto, disser mais.

    esta paradoxal harmonizao de naturalismo com uma escrita que mimetiza os processos de produo em srie, uma escrita industrial, pois, que, surgindo nos anos 40, mas afirmando-se nos anos 50-60, no Brasil, dialogar tensa e criticamente com certos aspectos da modernizao da vida brasileira, com os valores da Modernidade e, tambm, com o entusiasmo modernista para com as idias de progresso, de tcnica, de planejamento e de racionalizao da vida e da arte. essa paradoxal sntese que, constituindo-se na obra de Dalton Trevisan, simultaneamente afirma e questiona, reitera e, por saturao, ironiza alguns dos aspectos basilares do projeto moderno/ modernista.

    Um conto exemplar Tomemos como objeto de leitura o conto O leito

    de espinhos, de A guerra conjugal6 (Trevisan, 1969: 45-48). Podemos consider-lo um conto que sintetiza as caractersticas fundamentais das histrias de Joo e Maria7 contadas por Dalton Trevisan, pois ele resume a tipologia morfolgica das personagens e, tambm, as possibilidades de estruturao sinttica do relacionamento do casal que elas formam. Vejamo-las.

    Na noite de npcias, Joo agride Maria, armando escndalo e acusando-a de no ser virgem. As aes das personagens, aliadas aos segmentos de suas falas incorporados voz do narrador, compem o episdio folhetinesco/ melodramtico que, manifestando-se, transforma o drama ntimo em espetculo pblico, marcado por roteiro, gesto e falas previsveis aos quais, notao caracterstica do narrar trevisaniano, no faltam um qu de ridculo e de cmico. Note-se:

    No casamento de Joo e Maria houve grande festa.

    5 Segundo Berta Waldman, ao aliar repetio, clich e reduo da

    extenso de seus contos a cada nova verso dos mesmos, Trevisan projeta no discurso um ideal de silncio: A realidade para o escritor catalptica. Morta-viva. Porque preciso encontrar a forma que, fixando, esteja em lugar de todo movimento. Da, talvez, a aspirao de Dalton trevisan palavra nica, ao risco, ao trao, ao silncio. Porque o vazio seria, ento, signo de plenitude (Waldman, 1989: 51-52).

    6 Todas as outras citaes do conto includas em nosso artigo pertencem a esta edio. As demais citaes, demarcadas espacialmente, pertencem 2 e 4 verses revistas, publicadas respectivamente em 1970 e 1975 pela mesma editora.

    7 Trata-se de contos cujas principais caractersticas so: a) apresentam narrador de 3 pessoa, distanciado, que se vale geralmente do foco narrativo narrador onisciente neutro para contar as histrias e, por vezes, harmoniza tal foco com outro, a oniscincia seletiva, por meio da qual incorpora a voz das personagens sua; b) centram-se na temtica do inferno conjugal; c) valorizam as falas das personagens; d) reiteram, no plano das aes que constrem a intriga, a idia de que as personagens so tteres da pobreza e do imaginrio folhetinesco do qual elas so, sempre, uma verso degradada.

  • 204 Franco Junior

    Acta Scientiarum. Human and Social Sciences Maring, v. 26, n. 2, p. 201-208, 2004

    s duas da madrugada, entre risos, recolheram-se os noivos ao quarto nupcial. Meia hora mais tarde foi uma gritaria medonha. Gemendo e arrancando os cabelos, arrastava-se a moa no corredor, enquanto Joo a agredia aos berros: Ai mulher, que eu te arrebento! Havia sido desfeiteada, choramingou a pobre Maria, por ter o marido imaginado no fosse pura - onde no lenol a prova de que era moa? Enquanto ela se abraava na me em lgrimas, o pai de voz severa anunciou que, submetida a filha a exame, no caso de sua inocncia ele mataria o marido e, verdadeira a suspeita de Joo, este deveria acabar com a esposa. Joo, que no era de morticnio, bem que se desculpou da dvida. No dia seguinte mudou-se para o seu ninho. (p.45-46, grifos nossos)

    Temos, no incio da histria, um marido tirano e uma mulher submissa. A exploso de fria do marido na noite de npcias ganha as caractersticas do cmulo, elemento tpico do fait divers, j que articula contrastivamente dois extremos para caracterizar uma ao desmedida na qual o acaso - a falta de uma mancha de sangue no lenol - passa a significar. As aes das personagens so tpicas, compondo um quadro folhetinesco estereotipado: Joo, como o pai da noiva, o macho, comporta-se como o rei da famlia, dando-se o direito de, com a agresso fsica, passar da suspeita certeza na acusao do comportamento indigno da noiva; Maria, como sua me, debulha-se em lgrimas, teatral na expresso do sofrimento, ocupando o papel de mrtir. Os lugares-comuns, as expresses estereotipadas, os clichs de linguagem sublinham o trao folhetinesco/melodramtico que caracteriza o universo das personagens, ressaltando a sua falta de originalidade, o seu mau gosto, a sua natureza maquinal, kitsch.

    Uma vez na prpria casa, Joo e Maria continuam a ocupar os papis e funes de macho tirano e de escrava domstica, com a mulher sendo a vtima das suspeitas, dos xingamentos e da falta de carinho do marido: Joo a acusa de indigna por, segundo ele, ter-se casado quando no era virgem (p.46), alega falta de tempo para passeios, acusa-a de gastadeira, controlando, sovinamente, a compra de roupas e sapatos.

    Maria enamora-se de Ovdio, senhor mais velho que conhece em um ponto de nibus aps uma briga com Joo. Apaixona-se, mas, uma vez grvida, repelida pelo amante. Amaldioa a criana, afirmando que a arrancaria da barriga, nem que fosse com as prprias mos (p.46-47). Depois do parto, torna-se outra, substituindo a escrava domstica pela mulher fatal tirana.

    Aps o nascimento do filho, Maria no parou mais em casa, deixando de cozinhar as refeies, espanar os mveis, lavar a roupa de Joo. Pretendia ir visitar

    os pais; em vez, l deixava o menino e rumava para outros lugares. De volta, o marido encontrava o fogo apagado e ficava sua espera at horas mortas. No podia andar atrs dela, era homem de trabalho: sua vida era de casa para o servio. Ao chegar, Maria lhe recusava o corpo, como se fosse um estranho, e ainda dizia: V pegar alguma vagabunda na rua. (p.47)

    Maria inverte o jogo de dominao, passando a agredir e a humilhar Joo, negando-lhe sexo e carinho, abandonando os servios domsticos, recusando-se a usar aliana, acusando-o diante do sogro de no ser homem e, por fim, traindo-o com a alegao de trabalhar como manicura. Torna-se uma vitrina de anis, brincos e pulseiras (p.47-48), surgindo cada vez mais linda aos olhos de Joo, rendido de amor (p.48).

    Submetido pelo amor, Joo passa de macho tirano a manso humilhado: Maria lhe deu o maior desprezo (p.48), proibindo-o de beijar a criana que, afirma ela, nem era dele e sim de certo Ovdio (p.48). O conto termina com a inverso da morfologia das personagens:

    Joo revelou-se homem sem grandes pecados. Caseiro, pacato, sacrificava-se pelo menino e a mulher, a quem entregava todo o salrio, ficando com algum trocado para o cigarro e o nibus. Um dia era feliz, outro infeliz, com fama de orgulhoso porque, s de vergonha, no cumprimentava os vizinhos. (p.48)

    Note-se que embora haja uma inverso da condio morfolgica das personagens, que passam de um extremo ao outro das polaridades estereotipadas redutveis oposio dominante/dominado, a estrutura sinttica da relao no muda, permanecendo inabalvel. Deste modo, as histrias de Joo e Maria afirmam que o amor fora que fragiliza o amante, colocando-o fatalmente merc dos caprichos, mandos e desmandos egostas do amado. Alm disso, afirmam que dentro ou fora do casamento, a estrutura da relao ertico-amorosa permanece sempre igual a si mesma, resistente a qualquer mudana, ainda que comporte uma ou outra pequena variao, logo reduzida condio de perverso e/ou desvio que s faz reforar a imutabilidade da norma. neste sentido, pois, que os atributos identificados com o kitsch passam a desempenhar uma funo crtica no apenas neste conto, mas tambm nas demais histrias de Joo e Maria.

    Repetio e elipse

    A repetio, atributo que fundamenta a ontologia das personagens e de suas histrias, ganha sentido, passa a significar. Ela faz com que reconheamos nas personagens e em suas histrias, bem como no

  • Criao artstica e repetio na obra de Dalton Trevisan 205

    Acta Scientiarum. Human and Social Sciences Maring, v. 26, n. 2, p. 201-208, 2004

    prprio texto que lhes serve de suporte, os sinais da estereotipia, do clich, da previsibilidade, do automatismo, da ausncia de qualquer trao de individualidade, originalidade, novidade. No que se refere ao modo de produo caracterstico de Trevisan, a repetio afirma-se, como esperamos demonstrar a seguir, e talvez revelia do prprio autor8, como procedimento capaz de devorar criticamente a herana moderna/ modernista, levando-a a um extremo que a coloca em crise.

    Comparando-se trechos das duas verses de O leito de espinhos, poderemos avaliar o valor e o sentido da repetio na potica trevisaniana.

    O leito de espinhos No casamento de Joo e Maria houve grande festa. s duas da madrugada, entre risos, recolheram-se os noivos ao quarto nupcial. Meia hora mais tarde foi uma gritaria medonha. Gemendo e arrancando os cabelos, arrastava-se a moa no corredor, enquanto Joo a agredia, aos berros: Ai mulher, que eu te arrebento! Havia sido desfeiteada, choramingou a pobre Maria, por ter o marido imaginado no fosse pura - onde no lenol a prova de que era moa? Enquanto ela se abraava na me em lgrimas, o pai de voz severa anunciou que, submetida a filha a exame, no caso de sua inocncia ele mataria o marido e, verdadeira a suspeita de Joo, este deveria acabar com a esposa. Joo, que no era de morticnio, bem que se desculpou da dvida. No dia seguinte o casal mudou-se para o seu ninho. Segundo Joo, indigna seria a moa, por ter-se casado quando no era virgem. Maria queixava-se dos sofrimentos com to poucos dias de noiva. Nunca viveu bem com ele, havia muita discusso e briga: entre o marido e o pai, ficava sempre ao lado do pai. (2 ed., 1970, p.45-48)

    O leito de espinhos9 No casamento de Joo e Maria houve grande festa. s duas da madrugada, entre risos, recolheram-se [os noivos] ao quarto nupcial. Meia hora mais tarde foi uma gritaria medonha. Gemendo e arrancando os cabelos, arrastava-se a moa no corredor [, enquanto] Joo a agredia, aos berros: Ai mulher, que [eu] te arrebento! [Havia sido] desfeiteada, choramingou a pobre

    8 Dalton Trevisan reconhece o carter de obra em progresso de

    seu trabalho na medida em que o reescreve continuamente. No entanto, enftico ao afirmar, nas poucas entrevistas concedidas, que renega as verses anteriores de seus contos em favor da ltima, sempre. Isso, claro, constitui tambm a defesa de um modo de ler que difere daquele aqui adotado. A considerao das vrias verses de que se compem os contos da obra , para ns, fundamental, uma vez que torna visvel a paradoxal afirmao de procedimentos e paradigmas de criao modernos/modernistas que, retomados e repetidos, comentam, ainda que involuntariamente, com ironia o iderio, as utopias e os limites da Modernidade e o projeto esttico das vanguardas modernistas.

    9 Nesta ltima verso, os trechos entre colchetes indicam as supresses e os trechos em negrito indicam os acrscimos feitos pelo escritor.

    Maria, por ter o marido imaginado no fosse pura - onde no lenol a prova de que era moa? Enquanto ela se abraava na me em lgrimas, o pai de voz severa anunciou que, submetida a filha a exame, no caso de [sua] inocncia ele mataria o marido e, verdadeira a suspeita de Joo, [este] esse deveria acabar com a esposa. Joo, que no era de morticnio, [bem que] pronto se desculpou da dvida. [No] dia seguinte o casal mudou-se para o seu ninho. Segundo Joo, indigna seria a moa, por ter-se casado quando no era virgem. Maria queixava-se dos sofrimentos [com to poucos dias de noiva. Nunca viveu bem com ele,] havia muita discusso e briga: entre o marido e o pai [ficava] sempre ao lado do pai. (4 ed., 1975, 36 - 39)

    Comparando a 2 e a 4 verses, respectivamente de 1970 e 197510, no difcil reconhecer que a elipse o recurso utilizado para condensar o texto.

    Chamando de lies cada uma das verses de um mesmo conto, Rosse M. Bernardi define o estilo elptico de Trevisan nos seguintes termos:

    Ao nvel da linguagem, as supresses concorrem para a sua rarefao, criando um estilo onde a elipse predomina. As oraes longas, recheadas de metforas e imagens comparativas dos textos-base e das primeiras lies vo, aos poucos, despindo-se dos atavios retricos e articulando-se num estilo de cauda curta, que sempre surpreende o leitor com o seu bote certeiro. Sistematicamente suprimem-se os termos redundantes, as conjunes subordinadas, grande parte das conjunes coordenadas e as preposies, tendendo a desaparecer do discurso os nexos explicativos e os elementos de ligao. Normativo ainda o desaparecimento gradual de pronomes pessoais, de locues e palavras adverbiais, de adjetivos e verbos, seguindo as diretrizes de um projeto esttico onde a frase nominal, rpida e nervosa, ganha um espao privilegiado (Bernardi, 1983: 24-25).

    Quanto mais sinttico o conto, mais intenso tende a ser o conflito dramtico ali expresso, mais despojado de elementos acessrios e inteis, portanto, maior o impacto da narrativa sobre o leitor. Note-se, entretanto, que tal concepo eminentemente funcional, tipicamente moderna e anti-retoricista, pode ter o seu valor relativizado quando notamos que a repetio constitui no o procedimento que complementa, mas aquele que rege a operao de reescrita calcada na elipse.

    A prpria Bernardi reconhece que, alm da elipse, a repetio um dado fundamental que no pode ser negligenciado na avaliao do projeto esttico trevisaniano:

    as profundas alteraes que acompanhamos no evoluir dos textos e que se configuram nos fenmenos

    10 A 4 verso mantm-se inalterada at hoje, momento em que o

    livro, cujo ttulo foi reduzido para Guerra conjugal, est na 10 edio (Trevisan, 1995: 43-46).

  • 206 Franco Junior

    Acta Scientiarum. Human and Social Sciences Maring, v. 26, n. 2, p. 201-208, 2004

    de supresso, acrscimo, substituio e inverso, no so, como parecem primeira vista, inerentes apenas obsesso perfeccionista do autor para chegar a uma potica da elipse. Vinculados a um projeto muito mais amplo que se realiza atravs da obra em progresso, essas variaes, motivadas por necessidades internas do processo criador, tm como objetivo principal - ousamos afirmar - refletir e levar reflexo sobre os problemas da criao literria num mundo em que tudo se transforma rapidamente, menos o homem. (Bernardi, 1983: 482)

    necessrio, pois, avaliar o projeto literrio trevisaniano como algo marcado pelos dois procedimentos que, articulados, levam ao extremo certos valores e procedimentos modernos/modernistas inveno, originalidade estilstica, experimentalismo formal - e, que, simultaneamente, os comentam criticamente, na medida mesma em que os submetem, como tudo nos contos, repetio, reduzindo-os condio de clichs da mquina de contar de Trevisan. A assinatura estilstica do autor no deixa de manifestar-se, mas, como demonstra o processo do qual ela resulta, negando e afirmando, simultaneamente, a sua originalidade e, tambm, a prpria idia de originalidade.

    Se os elementos mais importantes da fbula (personagens, ao, intriga, temrio) remetem necessariamente a gneros anteriores ao conto - o romance-folhetim/ melodrama, o fait divers11 -, os procedimentos dos quais eles resultam, no trabalho de criao artstica, so o correspondente irnico do modo de produo que cria a serializao que faz de qualquer dos contos que integra a obra uma simulao de um produto massificado. Como, portanto, identificar neste e nos demais contos de Trevisan, a aura a que se refere Walter Benjamin (1978: 05-28) e que foi, dado o carter aristocrtico das vanguardas, mantida como valor tanto na criao como na crtica modernistas? Como atestar, nelas, o hic et nunc do original [que] constitui aquilo que se chama de sua autenticidade (Benjamin, 1978: 11, colchetes nossos)? Parece-nos evidente que o trabalho de Dalton Trevisan exige uma reviso crtica de certos postulados caractersticos da utopia criativa das vanguardas modernistas para ser avaliado.

    No centro desta avaliao est, pois, a repetio, que, tanto no que se refere anedota como no que se refere ao processo de criao passa a significar, cumprindo, no segundo caso, uma funo

    11 Marlyse Meyer assinala, na imprensa, o vnculo entre o fait

    divers e o romance popular voltado para a explorao dos dramas da vida no perodo que vai de 1871 a 1914: O folhetim ficcional inventando fatias de vida servidas em fatias de jornal, ou os fait divers dramatizados e narrados como fico, ilustrados ambos com essas gravuras de grande impacto, ofereciam s classes populares o que desde os tempos da oralidade e das folhas volantes as deleitava: mortes, desgraas, catstrofes, sofrimentos e notcias (...) reatualizados nos termos da modernidade industrial e urbana. (Meyer 1996: 224)

    metalingstica crtica. Segundo Berta Waldman:

    A repetio a que ele promove no a do sempre igual, antes a repetio do vilancete que projeta suas voltas em torno do mesmo mote, ponto de expanso e retrao de um movimento que Gilles Deleuze d ao termo repetio: on oppose donc la gnralit, comme gnralit du particulier, et la rptition comme universalit du singulier. Desse modo, a generalidade dominada pelos smbolos da igualdade, em que cada termo pode ser substitudo por outros. S pode e deve ser repetido o insubstituvel. Na linguagem artstica, por exemplo, a repetio se faz para expressar matria anloga (porm diferente) que, se equacionada e reduzida a um denominador comum, se transforma em generalidade, lei, forma vazia da diferena, forma invarivel da variao. Assim, a repetio exprime um ato de transgresso com referncia generalidade. Ela questiona a lei, denuncia o carter geral em nome de uma realidade mais profunda. Sendo por natureza exceo, manifestando sempre uma singularidade frente aos particulares submetidos lei, ela se constitui num universal contra as generalidades que fazem a lei. neste sentido que se deve entender a repetio em DT. O fato de sua matria ser a repetio, o seriado gerado pelo racionalismo do sistema e o fato de ele lanar mo de uma linguagem que resduo cultural (cultura de massas) permite certa confuso que se desfaz quando se observa, por exemplo, que sua formalizao pode ser lida em dois graus: apegado matria a ponto de se confundir com ela, dela se desprende para, distncia, coment-la. Num primeiro momento desfaz a distncia obra/mundo, noutro, a restabelece. E nessa dialtica de aproximao e distanciamento que est a sutileza do procedimento e que fazem dele repetio no sentido que lhe d Deleuze (Waldman, 1977: 252-253).

    Acrescente-se a tais pertinentes consideraes a observao de que a repetio instala, na obra de Trevisan, uma pane nos paradigmas herdados do Modernismo.

    Concluso

    O elogio da diferena efetuado paradoxal e ironicamente por meio da repetio porta uma ambigidade que preciso considerar. No se trata apenas, portanto, de criticar a tautologia, o mau gosto e o kitsch inerentes, segundo a visada modernista, cultura de massas criada sob a ordem industrial, mas de, tambm e simultaneamente, comentar, com a mesma paradoxal ironia, os limites daquilo que, na arte, se afirmou a partir da proposio aristocrtica de negar tal cultura e seus produtos caractersticos: a vanguarda.

    A repetio, no anedotrio trevisaniano, congela as personagens, suas aes, seus conflitos dramticos,

  • Criao artstica e repetio na obra de Dalton Trevisan 207

    Acta Scientiarum. Human and Social Sciences Maring, v. 26, n. 2, p. 201-208, 2004

    os enunciados que as falam12, etc. - modo de afirm-las como universais e trans-histricas, fantasmticas, uma irnica caricatura do ideal burgus e moderno de indivduo. No plano do fazer literrio, da reflexo sobre a criao artstica que fatalmente atravessa a obra do contista curitibano, a repetio congela, paradoxal e ironicamente, muitos dos paradigmas fundamentais pelos quais se pautaram as vanguardas modernistas: a iluso de progresso infinito nas artes, a iluso de que a racionalidade tcnica em expanso permanente favorea a criatividade, a positivizao do novo, a pretenso de antecipao do futuro, a concepo teleolgica de tempo e de histria inerente a tais iluses.

    Note-se que os procedimentos sofisticados da escrita vinculados elipse e supresso - incorporao equilibrada do registro coloquial que combate o retoricismo beletrista, construo de frases e perodos elpticos capazes de fazer soar na voz do narrador as falas e pensamentos constitutivos do universo de valores das personagens, economia de imagens e figuras que revelam uma grande fora expressiva e potica, pesquisa permanente no que tange abordagem formal dos temas, afirmao de um repertrio de imagens e de expresses que funcionam como a marca estilstica nica do artista criador - nivelam-se, por efeito do sentido criado pela repetio que os rege, condio e ao valor dos elementos caractersticos de gneros considerados degradados por sua condio popular e industrial.

    Apropriando-nos dos procedimentos de Dalton Trevisan para produzir uma nova e cada vez mais condensada verso do mesmo trecho do conto aqui estudado, poderamos projetar, por exemplo, a seguinte verso de O leito de espinhos:

    [O] Leito de espinhos13

    No casamento de Joo e Maria [houve], grande festa. s duas da madrugada, entre risos, recolheram-se ao quarto nupcial. Meia hora mais tarde [foi], [uma] gritaria medonha. Gemendo e arrancando os cabelos, arrastava-se a moa no corredor. Joo a agredia, aos berros: Ai mulher, [que] te arrebento! Desfeiteada, choramingou a pobre Maria [,] . [por ter] O marido [imaginado] imaginou no fosse pura - onde no lenol a prova de que era moa? Ela se abraava na me em lgrimas, o pai [de], voz

    12 As personagens de Trevisan no so sujeitos do discurso que

    enunciam, mas assujeitadas por este. Reificadas ao extremo, elas so faladas pelos enunciados que pronunciam, pelos enredos que protagonizam. Segundo Merleau-Ponty (1971), a fala falada um sintoma de profunda alienao do indivduo que, sem desenvolver a capacidade de filtrar individual e criticamente o que herda das instituies sociais e da ideologia, atua como mero reprodutor destas em sua vida e em suas relaes e interaes sociais.

    13 Neste nosso exerccio de produo de uma nova verso do conto, os trechos entre colchetes indicam as supresses e os trechos em negrito indicam os acrscimos.

    severa, anunciou: [que,] submetida a filha a exame, no caso de inocncia, [ele] mataria o marido e, verdadeira a suspeita, [de] Joo [, esse] deveria acabar com a esposa. Joo [, que] no era de morticnio, [bem que] se desculpou da dvida. Dia seguinte o casal mudou-se para o seu ninho. Segundo Joo, indigna [seria] era a moa, [por ter-se casado] casando-se quando no era virgem. Maria queixava-se dos sofrimentos, [havia] muita discusso e briga: entre o marido e o pai, [ficava sempre] ao lado do pai.

    O que este exerccio de produo de uma possvel nova verso do conto de Dalton Trevisan nos revela sobre o valor metacrtico da repetio em seu projeto literrio? Ele evidencia, por exemplo, que, regidos pela repetio, os instrumentos de trabalho que permitem a contnua condensao e, mesmo, a fragmentao de contos para a produo de novos textos14, apagam as noes de autoria, de criao, de criador, de gnio individual. Neste sentido, a repetio comenta, ainda que de modo ambguo, o esgotamento da ideologia do novo e da concepo moderna e burguesa de indivduo criativo caractersticas da utopia das vanguardas modernistas. Comenta, tambm, e no sem um vis irnico, a condio do artista sob o industrialismo e na era da cultura de massas: arteso que industrializa o seu modus faciendi para, mantendo-se criativo na era da reprodutibilidade tcnica, dialogar com o que, na apocalptica viso moderna de Adorno e Horkheimer (1985), foi definido, no sem alguma contestao, como uma nova barbrie.

    Referncias ADORNO, T. W.; HORKHEIMER, M. Dialtica do esclarecimento. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985. BARTHES, R. Crtica e verdade. 3. ed. So Paulo: Perspectiva, 2003. BENJAMIN, W. A obra de arte na poca de suas tcnicas de reproduo. In: BENJAMIN, W. et al. Os Pensadores. So Paulo: Abril, 1978, cap. 1, p. 05-28. BENJAMIN, W. Magia e tcnica, arte e poltica. So Paulo: Brasiliense, 1988. BERNARDI, R. M. Dalton Trevisan, a trajetria de um escritor que se rev. 1983. Tese (Doutorado em Literatura Brasileira) - Faculdade de Filosofia, Letras e Cincias Humanas, Universidade de So Paulo, So Paulo, 1983. MERLEAU-PONTY, M. Fenomenologia da percepo.

    14 Obra em progresso, cada conto da produo de Trevisan

    sempre passvel de retomada, reviso e reduo, dando origem, por vezes, a paradoxais novos textos que, compostos a partir de fragmentos de outros j publicados, guardam e apagam a intratextualidade que os perpassa. o caso de muitas das ministrias que compem Ah, ? (1994). A maioria das curtssimas narrativas desse livro composta a partir de fragmentos de contos anteriores que, ligeiramente modificados ou no, compem algo como instantneos capazes de, por efeito de sindoque, remeter a um todo previsibilssimo, esclarecendo-o a partir de um efeito de sugesto.

  • 208 Franco Junior

    Acta Scientiarum. Human and Social Sciences Maring, v. 26, n. 2, p. 201-208, 2004

    Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1971. MEYER, Marlyse. Folhetim, uma histria. So Paulo: Companhia das Letras, 1996. PAZ, O. Signos em rotao. So Paulo: Perspectiva, 1972. SUBIRATS, E. Da vanguarda ao ps-moderno.3. ed. So Paulo: Nobel, 1987. TREVISAN, D. A guerra conjugal. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 1969. TREVISAN, D. A guerra conjugal. 2. ed. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 1970. TREVISAN, D. Desastres do amor. 3. ed. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 1974. TREVISAN, D. Guerra conjugal. 4. ed. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 1975. TREVISAN, D. O vampiro de Curitiba. 4 ed. rev. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 1975.

    TREVISAN, D. Abismo de rosas. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 1976. TREVISAN, D. Mistrios de Curitiba. 4 ed. rev. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 1979. TREVISAN, D. Meu querido assassino. 2 ed. Rio de Janeiro: Record, 1988. TREVISAN, D. Ah, ?. Rio de Janeiro: Record, 1994. TREVISAN, D. Guerra conjugal. 10. ed. Rio de Janeiro: Record, 1995. WALDMAN, B. Dalton Trevisan: A linguagem roubada. Revista Iberoamericana, Pittsburg, v. 98/99, p. 247-255, 1977. WALDMAN, B. Do vampiro ao cafajeste. 2. ed. So Paulo: HUCITEC, 1989.

    Received on August 19, 2004. Accepted on December 02, 2004.