2011.2 Sobre o Otimismo e a Esperanca Metodologia Projeto

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CENTRO UNIVERSITRIO CARIOCA 2010.2 Prof. Marcio Mori

UNICARIOCA

METODOLOGIA DO TRABALHO CIENTFICO

ALUNOS

Redator: Gustavo Barroso Revisora: Ana Carolina Barros Revisora Crtica: Juliana Lemes Pesquisadores: Samuel Matos da Mota, Marcos Lima de Arruda, Juliana Paula.

AULA 1SOBRE O OTIMISMO E A ESPERANA

Era o ano de 1898. Todos falavam sobre o novo sculo que se aproximava, o sculo XX. Havia razes de sobra para otimismo. A humanidade estava prestes a ver realizada uma profecia feita 200 anos antes.Qualquer que tenha sido o incio desse mundo, certo que o fim ser glorioso e paradisaco... Os homens faro com que sua situao nesse mundo seja cada vez mais confortvel; prolongaro a sua existncia e ficaro cada vez mais felizes.

No

havia

nada

de

assombroso em que

nessa todos

profecia.

Ela

simplesmente

enunciava

aquilo

acreditavam.

Acreditavam que a histria da humanidade era uma longa epopeia que se iniciara h milhes de anos. Seu comeo fora insignificante. Insignificante uma semente: ningum suspeita da beleza e do tamanho da rvore que ela contm. Menor que uma ameba. Mas o tempo fez o seu trabalho. Novas formas vivas foram nascendo umas1

das

outras,

dramaticamente,

umas

desaparecendo,

outras

sobrevivendo, at que, finalmente, ao final desse processo tortuoso, um fruto maravilhoso: um homem belo, bom e inteligente. A semente se transformara em rvore de linda copa verde coberta de flores e frutos. Muitos frutos j haviam amadurecido, e os homens se haviam deliciado com o seu sabor. Mas a grande colheita estava por vir. A grande colheita seria no sculo XX. Por ocasio do septuagsimo aniversrio do poeta Walt Whitman, Mark Twain lhe escreveu uma carta maravilhosa, o maior documento de otimismo que conheo:

Tendes vivido os setenta anos que so exatamente os maiores da histria universal e os mais ricos em benefcios e progressos para os povos. Esses setenta anos tm feito muito mais no sentido de aumentar a distncia entre o homem e os outros animais do que o conseguiu qualquer dos cinco sculos que os precederam. Quantas coisas tendes visto nascer! (...) Demorai, porm, um pouco mais, porque o mais grandioso ainda est por vir. Esperai trinta anos e, ento, olhai para a terra com olhos de ver! Vereis maravilhas sobre maravilhas somadas quelas a cujo nascimento vindes assistindo; e, em volta delas, claramente visto, havereis de ver-lhes o formidvel Resultado o homem quase que atingindo, enfim, seu total desenvolvimento e continuando ainda a crescer, visivelmente crescendo sob vossos olhos... Esperai at verdes surgir essa grande figura e surpreendei o brilho remoto do sol sobre seu lbaro; ento, podereis partir satisfeito, ciente de terdes visto aquele para quem foi feita a terra, e com a certeza de que h de proclamar que o trigo humano mais importante que o humano joio, e passar a organizar os valores humanos nessa base.

Essa idia grandiosa de progresso aparecera, talvez pela primeira vez e sob uma forma religiosa, no pensamento de Joaquim2

de Fiori, um monge herege que morreu por volta do ano de 1200. A sua heresia estava nisso: a teologia da Idade Mdia via o universo semelhana da catedral gtica uma hierarquia vertical da beleza estrutural incomparvel, sada das mos de Deus pronta, imvel no tempo. Nela os movimentos eram todos verticais. Havia movimentos ascendentes, que levavam para o cu, e os movimentos descendentes, na direo do inferno. O universo era apenas um cenrio fsico para o grande drama espiritual da salvao. O destino dos homens, a sua salvao, estava acima, no alto, lugar da morada de Deus. Joaquim de Fiori pintou um mundo novo. O paraso no est no alto. Ele se encontra no futuro. O espao se transforma pelo poder do tempo. como uma mulher em dores de parto. A histria o movimento do universo engravidado por Deus. Primeiro, o pai. Depois, o filho. Finalmente, o Esprito Santo. Ao final, o parto. O paraso nasceria. O universo medieval-Catedral Gtica desmoronou. Tambm o universo de Joaquim de Fiori, que se movia pelo poder de Deus. Os cientistas examinaram os cus e o encontraram cheio de estrelas e galxias maravilhosas mas nenhum sinal das moradas de Deus. Deus foi despejado de sua manso nas alturas. Mas, sem o perceber, os homens o trouxeram para a terra e o fizeram morar num outro lugar, com um outro nome. Colocaram-no morando bem dentro da histria e lhe deram o nome de Razo. A Razo o poder divino que, dentro da histria, e a despeito dos erros e descaminhos dos homens, faz com que ela atinja um final paradisaco. Como no ser otimista vivendo num universo assim? O marxismo foi a maior expresso dessa religio sem Deus. Buscou dar bases cientficas ao otimismo. Da o seu fascnio. Quem no deseja ter certezas felizes sobre o futuro? Eu gostaria de ter certeza de que minhas netas iro viver num mundo paradisaco. Pois precisamente isso que o marxismo proclamou: atravs de um processo tortuoso e sofrido de lutas, semelhante quele descrito por Darwin, os homens haveriam de chegar a um mundo sem conflitos3

em que os contraditrios seriam reconciliados e seria possvel, ento, viver a fraternidade e a justia, e os homens poderiam, finalmente, encontrar a felicidade: uma verso secular das vises messinicas do profeta Isaas: o leo comendo a palha com o boi, os meninos brincando com as serpentes venenosas. Ao fim do sculo XIX, as conquistas maravilhosas da cincia e da tecnologia, a racionalizao da poltica atravs dos processos democrticos, o desenvolvimento da educao tudo eram evidncias que tornavam inevitvel um otimismo sem limites. o mundo maravilhosamente descrito pelos pintores impressionistas Monet e Renoir: a inocncia, a alegria, os reflexos coloridos da natureza, a leveza, a despreocupao. As telas de Renoir e Monet so manifestaes dessa alma feliz. Mas essa viagem maravilhosa na direo da Cidade Santa, fulgurante no alto da montanha, numa curva do caminho, revelou um outro destino: a barbrie. O homem se tornou possuidor de um conhecimento cientfico infinitamente superior a todo o conhecimento acumulado pelo passado. Revelou-se a fragilidade da educao: os saberes e a cincia no produzem nem sabedoria nem bondade. Foi esse homem educado e conhecedor da cincia que produziu duas guerras mundiais. Aconteceram os campos de extermnio do nazismo e do comunismo, a criao de armas monstruosas e mortais, uma riqueza jamais sonhada ao lado de milhes morrendo de fome, matanas, a destruio da natureza e das fontes de vida, as cidades infernais, a violncia, o terrorismo armado com armas produzidas e vendidas por empresas geradoras de progresso. E, repentinamente, o maravilhoso Resultado anunciado por Mark Twain aparece de forma monstruosa na pintura de Dal e de Picasso: o lado demonaco do homem, anunciado pela psicanlise. Hoje no h razes para otimismo. Hoje s possvel ter esperana. Esperana o oposto do otimismo. Otimismo quando, sendo primavera do lado de fora, nasce a primavera do lado de dentro. Esperana quando, sendo seca absoluta do lado de fora,4

continuam as fontes a borbulhar dentro do corao. Camus sabia o que era esperana. Suas palavras: E no meio do inverno, eu descobri que dentro de mim havia um vero invencvel... Otimismo alegria por causa de: coisa humana, natural. Esperana alegria a despeito de: coisa divina. O otimismo tem suas razes no tempo. A esperana tem suas razes na eternidade. O otimismo se alimenta de grandes coisas. Sem elas, ele morre. A esperana se alimenta de pequenas coisas. Nas pequenas coisas ela floresce. Basta-lhe um morango beira do abismo. Hoje tudo que temos ao nos aproximarmos do sculo XXI: morangos beira do abismo, alegria sem razes. A possibilidade da esperana... ALVES, Rubem. Concerto para corpo e alma. 4. Ed. Campinas: Papirus/Speculum, 1998.

ATIVIDADE 1 1. Leia todo o texto e anote as palavras desconhecidas. Consulte o dicionrio e descubra o significado dessas palavras. RESPOSTA:a) paradisaco

(latim paradisiacus, -a, -um, do paraso) adj.1. 2.

Relativo ou pertencente ao paraso. = CELESTIAL, EDNICO Que superiormente agradvel ou bonito. = DIVINAL, ENCANTADOR, MAGNFICO

b) epopeia

s. f.1. 2.

Poema que tem por assunto aces ou acontecimentos grandiosos. [Figurado] Srie de grandes acontecimentos.5

c) lbaro

(latim labarum, -i) s. m.1. 2.

Estandarte militar romano. Bandeira, estandarte, pendo.

d) joio

|i|

(latim lolium, -ii) s. m.1. 2. 3.

[Botnica] Planta pocea que nasce nos trigais e lhes nociva. = CIZNIA, LLIO [Botnica] Gro dessa planta. = LLIO [Figurado] Coisa m que prejudica outra boa.

separar o joio do trigo: separar o que mau do que bom.

e) heresia

(latim haeresis, -is, opinio, sistema, doutrina, heresia + -ia) s. f.1. 2. 3. 4.

Divergncia em ponto de f ou de doutrina religiosa. [Por extenso] Blasfmia. [Figurado] Opinio ou doutrina diferente s ideias recebidas. [Informal] Disparate; absurdo; contra-senso.

f) gtica - fem. sing. de gtico adj. 1. Relativo aos Godos. 2. Diz-se da arte que se espalhou na Europa do sculo XII Renascena.

g) fascnio

(latim fascinum, -i, encanto, feitio) s. m.1. 2.

O mesmo que fascinado. Mau-olhado; encantamento.6

h) fulgurante

(latim fulgurans, -antis, particpio presente de fulguro, -are, fulgurar) adj. 2 g. Que fulgura. = FULGENTE fulgente (latim fulgens, -entis, particpio presente de fulgeo, -ere, brilhar, reluzir) adj. 2 g. Que fulge (como relmpago ou o fuzil). = BRILHANTE

i) barbrie

(latim barbaries, -ei) s. f.1. 2.

Estado ou condio de brbaro. = BARBARIA Acto brbaro. = BARBARIDADE

j) abismo

(latim *abysmus, de abyssus, -i) s. m.1.

Grande profundidade que se supe insondvel e tenebrosa. = PROFUNDEZA

2. A seguir, trace uma linha, horizontal ou vertical, e coloque as datas que aparecem no texto. Deixe um longo espao entre as datas. O ttulo do trabalho ser LINHA DO TEMPO.

3. Na linha do tempo, insira (em ordem cronolgica) os nomes e as informaes que indicam temporalidade. Colorimo-las para facilitar7

o seu trabalho. Pesquise na rede ou em dicionrios ou livros especializados tudo o que voc inseriu na sua linha do tempo. Para facilitar o seu trabalho, procure, na pasta do professor, na Xerox, o texto As cincias - Breve histria das cincias, de Mttar Netto. 4. Qual o significado da palavra otimismo? E o de esperana? (Consulte o dicionrio.) RESPOSTA:optimismo (t) (ptimo + -ismo) s. m. 1. Costume ou sistema de achar que tudo ou resultar o melhor possvel. 2. Confiana no porvir. Antnimo Geral: PESSIMISMO Grafia alterada pelo Acordo Ortogrfico de 1990: otimismo Grafia no Brasil: otimismo. "Otimismo uma atitude que protege as pessoas de se deixarem cair em apatia, desespero ou depresso perante dificuldades. (Daniel Goleman).

esperana (esperar + -ana) s. f.1. 2.

Disposio do esprito que induz a esperar que uma coisa se h-de realizar ou suceder. Expectativa.8

3. 4. 5.

Coisa que se espera. Confiana. [Religio] Uma das virtudes teologais.

Esperana o suspiro final que insiste em suceder quele que acreditvamos ser o derradeiro. (Gustavo Barroso)

5. Procure na Internet o significado de morangos beira do abismo e responda questo: Qual o possvel significado de morangos beira do abismo? RESPOSTA: Encontrar um morango beira de um abismo sorrir para uma oportunidade que talvez no se repita. abraar a chance de obter algo bom quando tudo j parece perdido. Vivemos em uma nova era onde a esperana o que nos resta e onde pequenas felicidades, descobertas e sucessos devem ser tidos como um tesouro em meio a tanta chance para que tudo d errado. Encontrar o fruto ver o lado bom naquilo que, sbito, lhe ocorre em meio ao desespero e, por mais que no lhe salve a vida, te mostra quo valioso cada momento ao longo de sua imensa incerteza.

6. Leia o trecho abaixo, extrado do texto, e responda ao que se segue: Deus foi despejado de sua manso nas alturas. Mas, sem o perceber,os homens o trouxeram para a terra e o fizeram morar num outro lugar, com um outro nome. Colocaram-no morando bem dentro da histria e lhe deram o nome de Razo. A Razo o poder divino que,9

dentro da histria, e a despeito dos erros e descaminhos dos homens, faz com que ela atinja um final paradisaco. Explique, com suas palavras, o significado desse trecho.

RESPOSTA: A razo o cerne do bom senso. a inspirao que leva o homem a operar melhorias em seu meio e descobrir novos caminhos para a vida seguir em frente. Trata-se do advento do raciocnio, o milagre do pensamento que, dotado de poderes divinos e criatividade quase medinica serve de inspirao para permitir que o homem crie, se desenvolva e conviva bem em sociedade, a despeito do medo de punies e/ou recompensas previstas em quaisquer livros tidos como sagrados. A razo diretriz mxima dos limites humanos e a dvida a tentao de imaginarmos que os mesmos talvez no existem.

7. Pesquise os assuntos abaixo e, com suas palavras, redija um pargrafo para cada item (no mximo em 10 linhas cada um): a) Iluminismo

Com o propsito de afastar as trevas que cobriam a sociedade desde a idade mdia, surgiu na Frana no sculo XVII o movimento ideolgico chamado iluminismo, cujos defensores - filsofos de expressividade histrica pregavam a disseminao do domnio da razo. A evoluo do homem dependia da racionalizao dos fatos e dos pensamentos, deixando de lado misticismos e crenas religiosas que impediam o avano da humanidade ao explicar atravs da f aquilo que a raa humana poderia tentar esclarecer atravs do raciocnio. O Iluminismo influenciou revolues e chegou ao seu apogeu no Sculo XVIII, tambm conhecido como Sculo das Luzes. Seus principais precursores foram Rousseau, Montesquieu, Voltaire, Locke, entre outros.10

b) Cartesianismo

Tambm conhecido como Racionalismo, o Cartesianismo foi concebido por Ren Descartes, filsofo, fsico e matemtico do sculo XVI, primando pela idia de que devemos tomar como parmetro para a concepo da verdade apenas aquilo que inegvel, dispensando o que pode gerar dvida ou controvrsia. Tido como o primeiro filsofo moderno, Descartes iniciou a idia de mtodo, avanou a matemtica e a cincia em geral, ensinou a humanidade a questionar, analisar e, principalmente, a duvidar, levando-nos a comprovao da mxima penso, logo existo.c) O Mtodo de Descartes

Afastada a mitologia e qualquer crena que possa induzir o homem ao erro, o mtodo cartesiano ou metafsica cartesiana tem como objetivo a obteno do saber. Baseado nas evidncias, o Mtodo de Descartes uma proposta a anlise ctica e metodolgica, extraindo da observao dos fatos a verdade atravs da capacidade intelectual do racionalismo. Certeza, lgica e razo eram a composio totalitria de sua pedra filosofal.d) Positivismo Augusto Comte foi o primeiro defensor da idia positivista. Concebido sombra duradoura do Iluminismo, o positivismo se ope sutilmente na minha opinio ao racionalismo de Descartes por eliminar as observaes no campo da metafsica, primando apenas pela comprovao dos fatos e desprezando aquilo que no pode ser comprovado cientificamente. Uma filosofia mais nova, o positivismo nasceu em meados do sculo XIX e vem sendo aplicado e modificado at hoje. Observado por sua prpria tica, o positivismo define a si11

como a evoluo mxima dos trs estados propostos em sua lei: Teolgico, metafsico e o positivo. 8. Elabore trs argumentos sobre a afirmao : Hoje no h razes para otimismo. Hoje s possvel ter esperana. 1

A idia original do Otimismo nos remete a crena provvel de que as coisas ficaro melhores quando podemos ver a evoluo num futuro prximo. Hoje j no h mais espao para esse sentimento altrustico e nem se vislumbra no horizonte a aurora de um novo despertar da raa humana, repleto de novas idias inteligentes e revolucionrias que traro para o mundo e para aqueles que nele vivem e vivero um futuro prspero. No lugar disso, armas, guerras e insustentabilidade assombram nosso destino incerto. Diferente dos augrios dos sculos passados, o prognstico no nada pr e fica difcil afirmar que o homem acordar de seu frenesi antes da natureza alcanar um estado de torpor. Ante esta ameaa imposta pela prpria raa humana, outrora otimista e visionria, nos resta apenas a indefinio da esperana. Diferente do otimismo, a esperana aguardar por algo de bom que talvez possa vir a acontecer e, quem sabe at, nos salvar. A esperana a ltima que morre. O otimismo morre bem antes.

2 De acordo com os acontecimentos mundiais, podemos dizer que s podemos viver crendo que haver esperana para a humanidade e para o mundo, pois tudo est seguindo por um caminho sem volta. Um caminho no qual o homem no est pensando no mundo de amanh, mas sim no que12

est vivendo hoje. Explorando todos os bens que a natureza oferece sem pensar nas conseqncias que traro, guerras em Naes onde milhares de vidas so dizimadas, a violncia urbana nas grandes cidades, etc. H algumas dcadas a humanidade tinha uma viso otimista do mundo e do que estava por vir, acreditvamos que transformaramos o mundo em um lugar perfeito para a sobrevivncia humana, mas no foi isso o que aconteceu. Hoje vivemos acreditando que ainda h esperana para esse mundo no qual vivemos e que um dia os nossos sonhos, de viver em um mundo perfeito, tornem-se realidade.

3 Diferente do que se acredita, ainda h razo para ser otimista. Acreditar que j vislumbramos tudo que h de bom e imaginar que daqui pra frente s haver destruio e consumo um erro. Sempre achamos que j sabemos o bastante, mas preciso acreditar na criatividade. Otimismo ainda prerrogativa humana.

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