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F oi por necessidade que o fanzine nasceu. A grande imprensa, preocupada em dialogar com as massas, deixava abertas lacu-

nas que eram preenchidas por seres apaixonados, ansiosos por co-nhecer e trocar informações com pessoas de interesses semelhantes. Assim surgiram inicialmente os fanzines de ficção científica, em seguida os de quadrinhos e, finalmente, os fanzines punks – ponto em que a idéia da autopublicação ganhou força e se espalhou para absolutamente todos os grupos culturalmente marginalizados.

Acontece que a realidade neste início de século é bem diferente. Graças aos incontáveis avanços da tecnologia, as possibilidades de comunicação não apenas se multiplicaram, como também tiveram seus custos barateados, facilitando o acesso tanto para quem con-some quanto para quem produz informação.

Paralelamente, boa parte dos movimentos contraculturais e sub-culturais – os maiores pólos produtores de zines – foram assimi-lados pelo gigante chamado sistema. As empresas estão cada vez mais atentas às demandas dos nichos específicos. Afinal, no mundo capitalista somos todos consumidores e nenhuma oportunidade pode ser desperdiçada. A própria idéia de cultura de massa é hoje vista com desconfiança.

Com tudo isso, o fanzine impresso deixou de ser necessário. Por que se dar ao trabalho de pesquisar, editar, diagramar, imprimir, dobrar, grampear, distribuir e – mais do que tudo – gastar dinheiro, se a informação pode ser disseminada com muito menos trabalho e sem custo algum?

A resposta é simples e incrivelmente libertadora: porque sim, oras. Os fanzines finalmente chegaram ao ponto em que não pre-cisam mais de desculpa alguma para existir. Se existem, é apenas pelo desejo e vontade de seus criadores.

Quando a fotografia se popularizou, no final do século XIX, mui-ta gente se apressou a declarar o fim da pintura. Consideravam que o trabalho que um pintor demoraria dias, semanas, até meses para realizar, poderia agora ser feito por um fotógrafo com mais perfei-ção e em muito menos tempo.

O tempo se encarregou de provar o engano. A pintura não ape-nas não morreu, como, livre de sua função mimética, pôde explorar novos rumos e revolucionar a História da Arte.

Guardadas as devidas proporções, o mesmo pode acontecer ago-ra com os fanzines. Não sendo mais o único meio de comunicação para os grupos que habitualmente o usavam, eles podem adquirir as mais diversas formas e funções, podem ousar mais, podem ser mais experimentais. Numa perspectiva otimista, podemos estar prestes a trocar a quantidade pela qualidade.

Difícil dizer se essa bela profecia irá se cumprir, mas uma coisa é certa: contrariando os derrotistas e os afoitos, os fanzines não mor-reram e passam bem, muito obrigado. Prova disso são os exatos 165 títulos que recebemos para essa edição do Anuário. Sem contar a grande quantidade de filmes, livros, eventos e trabalhos acadêmicos dedicados ao assunto – tópicos que também foram devidamente abordados nesta edição.

Dessa forma, pretendemos não apenas suprir com informações aqueles que se interessam pelo fascinante mundo das publicações alternativas, mas também dar nossa modesta contribuição para a chegada desta nova era.

Esperamos que aproveitem a leitura!Até o ano que vem!

Douglas Utescher

O fanzine está morto.Longa vida ao fanzine!

Douglas utescher tem 34 anos e está envolvido com essas coisas de underground há mais tempo do que consegue lembrar. Atualmente, coordena a Ugra Press.

[email protected]

Flávio grão tem 36 anos e é oriundo da cena punk/hardcore do ABC Paulista. É educador, ilustrador , faz fanzines e é um dos fundadores do blog Zinismo.

[email protected]

Márcio sno tem 37 anos e desde os 18 está envolvido com zines. Publicou a cartilha Fanzines de Papel e é organizador do documentário Fanzineiros do Século Passado.

[email protected]

thiago silva, 25 anos, traduz, revisa, escreve e mora longe. Gosta de seu metal como de seu café: PRETO.

[email protected]

Choveu zine em 2011!

pequeno guia de eventos zinístiCos

transFormando veLhas Caixas de papeLem um Lugar Chamado zineteCa

os Fanzines nasBiBLioteCas e nas teLas

os Fanzines invademas universidades

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editor: Douglas Utescher . Projeto gráfico e diagramação: Douglas Utescher . Pesquisa e redação: Douglas Utescher, Flávio Grão e Márcio Sno ilustrações: Flávio Grão . revisão: Thiago Silva . colaboração: Daniela C.P. Utescher. 2º Anuário de Fanzines, Zines e Publicações Alternativas é uma publicação da Ugra Press. Versão eletrônica disponível para download gratuito em www.ugrapress.wordpress.com . É permitida (e incentivada) a reprodução deste material desde que citada a fonte. Contatos: c/o Douglas Utescher - Caixa Postal 777 - São Paulo, SP - CEP: 01031-970.www.ugrapress.com.br Impresso em abril de 2012.

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Após anos de ostracismo, os zines voltaram a dar as caras em 2011. Várias iniciativas importantes surgiram para ajudar a movimentar o cenário. Uma nova geração de editores está se formando e editores aposentados estão retomando(ou recriando) seus trabalhos.Possibilidades diferentes, parcerias interessantes...Sim, nós estamos animados, e temos motivos para isso!No meio disso tudo, resolvemos dar uma espiada também no que nossos hermanos sul-americanos andam fazendo.E não nos arrependemos!A seguir, você irá se deparar com 44 páginas de resenhas de publicações independentes dos mais diversos tipos e entrevistas com alguns de seus editores.Esperamos que toda essa informação seja útil: que surjam novos contatos, novas amizades e muita inspiração!

Choveu zine em 2011!

Antes, algumas observações:Os comentários sobre as publicações são assinados e refletem exclusivamente a opinião do autor. Se você discorda, concorda outem algo a acrescentar, entre em contato. Os e-mails de todos os colaboradores podem ser encontrados perto do editorial.Os comentários estão assinados com as seguintes siglas: du (Douglas Utescher), fg (Flávio Grão) e ms (Márcio Sno).

2º ANUÁRIO DE FANZINES, ZINES E PUBLICAÇÕES ALTERNATIVASUGRA PRESS 54

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da leitura sobre diversos aspectos. Gosto de pensar nisto como o ato de apreciar uma obra de arte, onde todo o resto do mundo tem importância na leitura. A músi-ca que tu ouves, a luz que entra pela janela ou que vem de uma vela sobre uma caveira ou o lampião a gás do Du Champ que emite luz esverdeada... Para mim a obra poderá manter-se única desta forma.

Outro fator relevante é que cada original da página do zine passa a integrar o meu portifólio, aprecio muito os processos pe-los quais as coisas passam pois estes são a evidência de um ser pensante vivendo um momento que não se repetirá.

como um pai de família encara a mis-são de produzir algo que não coloca comida na mesa?WS – Não encara... Quando se dá conta já está fazendo! Por outro lado, se pensar-mos que o ato de fazer implica em ideias sendo associadas e conhecimentos sendo adquiridos onde o indivíduo passa a conhe-cer o mundo e a si mesmo, portanto está formando-se continuamente como pessoa e construindo melhor o trabalhador que co-locará com prazer a comida sobre a mesa. Há coisas do cotidiano que você compreen-de melhor quando afasta-se delas e imerge em outras atividades permitindo-se outras ideias, portanto estas atividades são im-portantes para ajudar a prover o sustento também.

www.hqeponto.blogspot.com

a lenDa Da Pantera negraIbiúna, SP – Brasile.u. (2010) | A6 | 16 ps. | xerox

Zine de mangá de-dicado àqueles que gostam de felinos,mas também com uma pegada lésbica.A primeira história conta a lenda de uma menina que, caso

fosse beijada por um homem, transfor-maria-se em uma pantera. A segunda também é uma espécie de lenda, mas ao inverso da anterior. Curiosidades: no perfil da autora ela de-clara ter “24 anos, mas com um corpinho de 13”. E rola uma versão da capa de “Born Again” do Black Sabbath em uma das histórias. ms [email protected]

a MuriçocaOsasco, SP – Brasil#8 ao #10 (2011) | A5 | 16 ps. | xerox

Essa publicação é uma iniciativa do pessoal do cursinho pré-ves-tibular Educamais de Osasco. Uma grande sacada, pois trata de questões do universo escolar, como esco-

lhas, carreiras e projetos de vida de forma muito descontraída, o que ajuda a aliviar a tensão do vestibular.Há dicas culturais e de profissões, palavras cruzadas, HQs, indicações de livros e perfis de alguns educandos. Destaque para a seção “Matutando”, que traz problemas de lógica que fazem qualquer um quebrar a cabeça e “Confronto”, onde pessoas com pontos de vista diferentes falam sobre determinado assunto.Na edição de número 9 há uma matéria sobre fanzines. ms [email protected] pessoaempessoa.blogspot.com

a.t.u.M.Belo Horizonte, MG – Brasil#1 (2007) a #4 (2010) | A5 | 36 ps. | offset

Zine de HQs under-ground feito pelos mineiros Victor Maia e Leandro Corrêa.A influência de ambos passa pelo trabalho dos autores clássicos nacionais (Angeli,

Glauco, Marcatti) e estrangeiros (Crumb, Gilbert Shelton etc).

4 Zines sortiDos Rio de Janeiro, RJ – Brasile.u. (2011) | vários formatos |digital + serigrafia + xerox

Essa é uma das mais curiosas iniciati-vas surgidas entre os fanzines brasileiros recentemente. Nas palavras de Germano Weiss, seu idealiza-dor: “É como um

pacote de figurinhas, eles custam 5 reais e carregam 4 zines sortidos. Dentro desses pacotes colocamos zines que nós mesmos fazemos e zines de outras pessoas, faze-mos cópias de zines interessantes da nossa própria coleção, etc. Foi uma das maneiras que encontramos de divulgar a cultura dos zines nas feiras que participamos no Rio de Janeiro.”Vale salientar que os zines vêm acondicio-nados em uma sacola de papel parecida com os tradicionais sacos de pão, com um belo trabalho de serigrafia.No pacote que recebemos estavam 4 exemplares da série “Edições Catador”, outra iniciativa do Germano que vale a pena conhecer. du [email protected] dodopublicacoes.wordpress.com

7 DayZFortaleza, CE – Brasile.u. (2010) | A5 | 72 ps. | offset

7 Dayz era um zine que virou livro após seu criador ser contemplado com o edital Revela Jovem da Secretaria de Cultura do Estado do Ceará. O que temos aqui,

na verdade, são as 4 partes da HQ “Submundície”, originalmente publicadas entre os números 6 e 9 do zine. Trata-se da história de Janine, uma jovem confusa, drogada e bissexual que engravida de um desconhecido após uma balada muito louca e tenta a todo custo desfazer o nó que virou sua vida.Poderia ser um drama teen piegas, mas está bem longe de sê-lo. Mérito do talentoso Vitor Batista, que prova ter grande domínio sobre o desenho e sobre a narrativa. Com seu traço econômico e despojado, um texto ágil e um enredo cheio de reviravoltas, o autor promove um raro equilíbrio entre humor e poesia, prendendo a atenção do leitor do começo ao fim do livro. du [email protected] blogzdovitor.blogspot.com

Os quadrinhos de Leandro Corrêa pos-suem um traço mais carregado e abordam, dentre outros assuntos, questões enfren-tadas quotidianamente pelos roqueiros independentes brasileiros.Já as aventuras de Edu Caray (de Victor Maia) têm como cenário inicial uma empresa em Belo Horizonte e após uma verdadeira epopéia (que dura os quatro zines) termina na Holanda. No recheio desta história ex-prostitutas, agentes corruptos da polícia, agiotas, motoboys e outros personagens carismáticos do coti-diano brasileiro dão as caras e ajudam Edu a concretizar seu sonho de viajar para a Europa nas férias.Tá certo que continuar a história (do per-sonagem Edu Caray) na edição seguinte (lembrando que a maioria do zines são aperiódicos) é sacanagem, mas a trama toma rumos e um desfecho tão inespera-dos (absurdos?) que acaba justificando a espera do leitor. fg [email protected] atumzine.blogspot.com

aDventure to nowhere São Paulo, SP – Brasil#1 (2011) | A5 | 24 ps. | digital

A versão impressa do Adventure to Nowhere é apenas um aperitivo para o #1 do zine, que pode ser baixado no site. São HQs colori-das, no estilo mangá.Spell World viveu

muito tempo em paz até o Rei dos Ogros Magos surgir e bagunçar tudo. Quer saber o final? Só no site! ms [email protected] atncomics.com

aFrobrasiliDaDeSão Paulo, SP – Brasil#1 (2011) | A7 | 16 ps. | digital

Pequeno zine informa-tivo/educativo sobre a África, seu povo e suas relações com o Brasil. São vários textinhos breves com informa-ções sobre cultura, re-ligiosidade e questões

sociais. Bacana, mas um pouco superficial. Incluir menos tópicos e desenvolvê-los melhor pode ser uma solução.Listar dicas de leitura para quem desejar se aprofundar no tema também seria de grande utilidade. du [email protected] fabimenassi.blogspot.com

em suas publicações você mostra cla-ramente sua paixão por zines. Por que essa declaração tão escancarada?WS – O Zine é apaixonante! Poético! É uma ligação com as origens presente nis-so que chamamos futuro, e o Zine tam-bém é futuro pois tem raízes arraigadas no Futurismo da década de 1910 (ano do Corinthians!). Sou de uma geração apai-xonada pelo que diz respeito ao futuro. O futuro para mim é um hoje constante que vira passado a cada vez que é registrado e é essa questão do registro como caracte-rística de identidade que me instiga, o Zine tem isso! Não é a minha foto, mas os meus pensamentos, memórias, sentimentos etc. e tal, e esta subjetividade é parte de minha identidade que o Registro Geral, vulgo RG, não carrega! você começou a publicar zines há pouco tempo, em uma época em que a tecnologia permite que uma pessoa produza um zine em poucos cliques. Porém, você optou em fazê-los de ma-neira mais “arcaica”, usando tesoura e cola. Por que?WS – A minha trajetória como editor de fanzine é recente, mas a minha ativida-de experimental nas artes plásticas vem desde a infância quando eu desenhava na areia ou nas paredes das casas alheias. Esses velhos costumes não costumam de-saparecer tão fácil, além do que, o suporte físico tem possibilidades que o meio digi-tal ainda não está podendo ofertar, como a textura, o cheiro do papel e o momento

3 PERGUNTAS PARA WendeLL saCramento

Detalhe da capa do Aisthésis #3

7 Dayz

2º ANUÁRIO DE FANZINES, ZINES E PUBLICAÇÕES ALTERNATIVASUGRA PRESS 76

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aisthésisSão Paulo, SP – Brasil#2 e #3 (2011) | A5 | 24 ps. | xerox

Caos. Fim do mundo. Estas são as primeiras impressões que temos quando folheamos um fanzine de Wendell Sacramento, que mis-tura um monte de téc-nicas para produzir os

cenários de suas histórias, com um visual próximo ao de Henry Jaepelt e Law Tissot, gerando um clima de “pra onde vamos?”.Seus roteiros promovem intervenções urbanas, a ação popular e a expressão ar-tística em forma de ação direta.Olhando com mais cuidado, é possível perceber a paixão do autor por fanzines, já que sempre há alguma referência ao assunto em suas histórias.O personagem principal criado por Wendell (que parece usar uma máscara de ferro) é tão marcante, que quando ele desenha pessoas “normais”, elas parecem ter sido criadas por outro autor. Curiosidade: Wendell é inspetor de alunos

em uma escola pública e faz suas HQs nos intervalos de atividades. ms [email protected] hqeponto.blogspot.com

alexyus cruZ –o enigMa que você é Piracicaba, SP – Brasile.u. (2011) | A5 | 12ps. | xerox

Sem dúvida este é um zine intrigante.Feito com recortes, colagens, dobraduras e desenhos com traços simples, o zine nos convida a um diálogo com o místico (e

mítico) personagem Alexyus. O diálogo se dá através de questionamentos e brinca-deiras feitas pelo personagem como numa espécie de jogo. Algumas páginas pos-suem dobraduras que são utilizadas como recursos lúdicos, como números e opções que escondem mensagens que permitem a interação entre o leitor e narrador.Ao final da leitura o leitor passa por al-guns questionamentos sobre temas como

a constituição do pensamento e as repre-sentações ou construção dos conceitos em nossa mente.A edição merecia um acabamento mais caprichado, mas sem dúvida é algo cria-tivo e inovador. fg [email protected] gibiscomcarisma.blogspot.com

alexyus cruZ –soPrar De asas congelaDasPiracicaba, SP – Brasile.u. (2011) | A5 | 52 ps. | offset

Outra publicação com o personagem Alexyus. Desta vez trata-se de uma narrativa mística com personagens e cenários repletos de simbolismos que lem-

bram (principalmente) autores como Neil Gaiman e J.R.R. Tolkien.A leitura se reveza entre HQ, poemas, desenhos e fotos e pode ser acompanhada pelo CD que vem incluso no zine, cujas faixas relacionam-se com os capítulos.

Esta ousada combinação precisa ser lida com calma e atenção aos detalhes, pois são muitas as fontes de inspiração, como a mitologia cristã, celta, as novelas de cava-laria e o universo dos RPGs.O traço dos desenhos é simples e funcio-nal, mas dá impressão de ter perdido um pouco da definição em algum momento entre a transposição do computador para o papel. A capa é muito bonita, feita à par-tir de um ensaio fotográfico, lembrando as capas do Dave Mckean para o Sandman.É um zine que tem de tudo para agra-dar a um nicho específico de leitores, em especial os que apreciam as referências mencionadas. fg [email protected] gibiscomcarisma.blogspot.com

anorMalRio de Janeiro, RJ – Brasil#11 (2011) | vários | 2 ps. | sublimação

Você já pensou em vestir um zine?Pois é, a nova edição do Anormal é um zinecamiseta. Impresso com trans-fer, na parte da frente temos editorial, cola-

gens e ilustrações, no usual estilo insano deste zine. No verso, uma gigantesca HQ com desenhos toscos e texto herege.Genial, mas o melhor dessa edição é sua contribuição para complicar ainda mais as tentativas de uma definição de (fan)zine. Antes do boom da internet, o fanzine já tinha virado audiozine e videozine. Em se-guida, invadiu a web nas formas de blogs, sites e arquivos pdf. E agora uma camiseta! A idéia de zine estaria, portanto, primor-dialmente relacionada a uma maneira específica de se comunicar, mais do que ao suporte que a sustenta? Quais seriam as características dessa comunicação? Essa explicação vale para o total do universo zineiro ou apenas para uma parte dele?Perguntas e mais perguntas. Só por elas o Anormal #11 já valeria a pena! du [email protected] partesforadotodo.blogspot.com

anuário De Fotos 2010 ZonaPunk São Paulo, SP – Brasil#1 (2010) | A6 | 24 ps. | offset

Apesar de terem es-paço consolidado no exterior, zines de foto nunca foram muito populares no Brasil, excetuando o extinto Fodido e Xerocado e, mais recentemente,

esse Anuário de Fotos, editado pelo site Zona Punk.Estão aqui reunidas 20 fotos publicadas no referido portal ao longo do ano de 2010, traduzindo em imagens os ingredientes de um bom show de rock: suor, catarse, teatralidade, tensão e drama.As imagens dos shows independentes são de longe as mais legais. Sem desmerecer o fotógrafo ou a banda, fotos bem tiradas do Metallica vemos aos montes, em qualquer lugar. Mas aquele instante, brilhantemente eternizado por um dos fotógrafos do Zona Punk, em que um fã agarrou pelo pescoço o vocalista do Dead Fish para cantar junto ao seu ídolo, exemplifica com precisão o que eu espero ver em um zine de fotos. du [email protected] zp.blog.br

arrotinhos curryRio de Janeiro, RJ – Brasil#2 (2011) | A5 | 56 ps. | xerox + serigrafia

Arrotinhos Curry não é um fanzine comum. A capa já deixa isso claro: é impressa num processo que combina xerox, serigrafia e imersão em um pre-parado de curry.

Dentro do zine, quadrinhos. Mas não quaisquer quadrinhos. Tem trabalhos de gringos (Kurt Wolfgang e Ivan Brunetti) e brasileiros (Rômolo e Laerte). Imagino que sejam pirateações, mas de qualquer forma, as escolhas são boas. O melhor do zine, porém, são as HQs “O Maioral do Balé Moderno” e “As Desventuras de Jânio Spif Pato, o Comburente”, criadas com técnicas de détournement. A segunda, especialmente, é um épico. Inteiramente construída aproveitando quadrinhos do Pato Donald, dos Peanuts e do Tex, narra a trágica história de Jânio, um pato alcoólatra e piromaníaco. Sensacional. du [email protected] dodopublicacoes.wordpress.com

artlectos & Pós-huManos João Pessoa, PB – Brasil#4 (2010) | A5 | 36 ps. | offset + digital#5 (2011) | A5 | 32 ps. | offset + digital

Edgar Franco per-tence a um seleto grupo que produz o gênero poético-filosófico em seus quadrinhos e ilustra-ções, permeados por um estilo futurista e

carregado de simbologia.Edgar não dá as mensagens “de bandeja”. É necessário entrar no universo do autor e viajar em seus traços cheios de detalhes complexos e seres que parecem estar em constante mutação. Sua arte me remete ao artista suíço H.R. Giger, principalmente no uso sugestivo de formatos fálicos.Destaque à versão de “A Caverna” baseada no mito de Platão que faz parte do #4. Artlectos & Pós Humanos é uma publica-ção da editora Marca de Fantasia. ms [email protected] marcadefantasia.com

as ruas são suas! ocuPeM-nas! Rio de Janeiro, RJ – Brasile.u. (2011) | A6 | 4 ps. | xerox

Livretinho desobe-diente editado pelo incansável povo do coletivo Hurra! O assunto aqui é a di-nâmica das manifes-tações e os esforços empreendidos pelo

sistema para neutralizá-las. De maneira objetiva e inflamada, este texto convida os rebeldes a saírem da calçada e ocuparem as ruas, recuperando o caráter combativo das manifestações do início do século XX.“As manifestações não são só demonstra-ções, são formas de fazer pressão. E temos de construir formas de pressão que sejam eficazes”. Tá dado o recado! du [email protected]

3 PERGUNTAS PARA edgar FranCo

o que seria o gênero poético-filosófico, no qual seu trabalho está enquadrado?EF – Em 1996 eu alcunhei um gênero pe-culiar de quadrinhos brasileiros de “poéti-co filosófico” em artigo publicado no livro “Histórias em Quadrinhos no Brasil: Teoria e Prática”, organizado por Flávio Calazans. Na época já destacava alguns expoentes do gênero como Gazy Andraus, Henry Ja-epelt e eu.

O pesquisador Elydio dos Santos Neto, em sua pesquisa de pós-doutorado dedi-cada aos quadrinhos poético-filosóficos realizada na UNESP, definiu esse gênero

de quadrinhos como genuinamente brasilei-ro e estipulou 3 características básicas dele: a intencionalidade poética e/ou filosófica, o número restrito de páginas – são HQs curtas como poemas hai-cais, e o forte experimenta-lismo no traço e roteiro.

em 2008 você comentou em uma entrevis-ta para Michelle ramos, que “brevemente as hqs não serão mais mídia de massa, serão uma forma de arte cult”. como você avalia hoje esse pensamento?EF – Continuo acreditando nisso, pois tenho percebido uma diminuição gradativa do inte-resse das novas gerações pelos quadrinhos. As HQs continuam em evidência na mídia por causa da crise de roteiros do cinema mains-tream que tem transformado dezenas de HQs em filmes, a maioria de qualidade duvidosa. Porém, isso aumenta muito pouco o número de leitores, as novas gerações já querem logo é o game das personagens. Como aconteceu agora com um sobrinho meu que viu Tin Tin no cinema, falei que tinha os álbuns, ele nem ligou, mas ficou louco pra jogar o game. As HQs tiveram seu tempo de mídia massiva no ocidente, agora se tornarão, inevitavelmente, uma mídia cult.

além de ilustrador, você também man-tém o projeto Posthuman tantra. De que forma alia música e ilustrações?EF – O Posthuman Tantra é minha banda performática que já lançou vários trabalhos e 2 CDs oficiais pela gravadora suíça Lega-tus Records. Trata-se da dimensão sonora e performática do meu universo ficcional da Aurora Pós-humana, universo que tenho uti-lizado como base para todos os meus tra-balhos como artista multimídia, dos quadri-nhos aos sites de web arte envolvendo vida artificial. Toda a parte visual do Posthuman Tantra é de minha responsabilidade, assim as capas de CDs e encartes criam a ambi-ência visual para as músicas, os videoclipes da banda apresentam uma visualidade con-catenada com minhas ficções. Nas apre-sentações ao vivo da banda, que incluem ví-deos exclusivos, efeitos computacionais em realidade aumentada e efeitos de mágica eletrônica, toda a visualidade é criada para apresentar à audiência múltiplos aspectos da “Aurora Pós-humana”.

Um abraço pós-humanista!

www.youtube.com/posthumantantra

Camila GLS Rock Zine

Detalhe da HQ “Neomaso Prometeu”, de Edgar Franco

2º ANUÁRIO DE FANZINES, ZINES E PUBLICAÇÕES ALTERNATIVASUGRA PRESS 98

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aviso FinalSão Caetano do Sul, SP – Brasil#28 (2011) | A5 | 12 ps. | xerox

Apostando na máxima “time que está ga-nhando não se mexe” o veterano Renato Donizete chega ao número 28 de seu fanzine Aviso Final mantendo a fórmula

que (após 21 anos) o tornou um dos mais longevos zines punks do Brasil.Na capa desta edição uma colagem do ícone Winston Smith e, no seu interior, entrevistas com as bandas ARD e Futuro. Temos ainda as tradicionais sessões de resenhas de zines e bandas e uma HQ que trata sobre questões do movimento.Sem frescuras ou afetação, o Aviso Final é um fanzine que preza pela informa-ção objetiva e direta ao ponto. Clássico é clássico. fg [email protected] fotolog.com/aviso_final

baD bones FunZineBuenos Aires – Argentina#4 (2011) | 20 x 28cm | 16 ps. | offset

Zine de Buenos Aires que trata da cena Hardcore e assuntos relacionados.A diagramação é feita de uma forma limpa e bem cuidada, há também uma boa

seleção de fotos que ilustram as matérias, formando um conjunto harmônico e de leitura prazerosa.Os tipos de textos são os clássicos de um bom fanzine de qualquer cena. As colu-nas trazem artigos que fazem análises a respeito de questões polêmicas no meio underground, como por exemplo a ética no download de bandas independentes. O zine aborda também temas locais como o

espaço cultural Circulo Felino, o Projeto de direitos de animais Quatro Patas entre outros. Há também entrevista com bandas como a argentina Bam Bam Estás Muerto e a internacional Limp Wrist. Como não poderia faltar, no final do zine, reviews de lançamentos musicais e gráficos.Destaque para a linguagem em que os tex-tos são escritos, que possuem certa dose de “pessoalidade”, permitindo que as opiniões ou assuntos sejam abordados de maneira mais sincera e menos fria. fg [email protected]

baratosFeraSão Paulo, SP – Brasil#-9 (2009) | A5 | 4 ps. | xerox#-8 (2010) | A5 | 4 ps. | xerox#-7 (2011) | A5 | 12 ps. | xerox

Se você reparou nos sinais de subtração junto aos números das edições, deve ter achado que foi um erro de digita-ção. Engano seu. Baratosfera começou a

ser publicado no número -9 (menos nove) e prosseguirá essa contagem até o número zero, quando o editor promete apresentar “novas metamorfoses”.Estranho? Você ainda não viu nada! Com desenhos bizarros e textos confusos, Baratão (editor e criador do zine) preen-che as páginas de sua publicação com um mix de propaganda anti-tabagismo, piadas de boteco, teorias conspiratórias e expli-cações esdrúxulas sobre o surgimento de vida em Encélado.Gramática não é o forte aqui, e o editor parece orgulhar-se disso. Na capa das três edições que recebemos há um convite: “Participe do Mega concurso ‘Atentado ao Português’ descubra erros e concorra a milhões de (prêmios)”. Se fosse de ver-dade, eu seria o novo Eike Batista. du [email protected] baratosfera.blogspot.com

bátiMaBrasília, DF – Brasile.u. (2011) | A6 | 16 ps. | digital

Paródias e releituras de super heróis podem não ser novidade, mas rendem ótimos resul-tados quando feitas pelo artista certo. Foi assim com os Zeróis, do Ziraldo, com o

Ano do Bumerangue, de Diego Gerlach e agora com o Bátima do André Valente.Não entrarei em detalhes porque a histó-ria é curta e não quero estragar a surpresa, mas posso adiantar que o Cavaleiro das Trevas aqui não trava lutas épicas contra vilões ardilosos, nem tem dilemas morais muito complexos. Pelo contrário: parece humano, demasiado humano. É uma his-tória engraçada, sim, mas dotada de certa melancolia. A relação texto x imagem também é interessantíssima, contrapondo fantasia e realidade através de duas narra-tivas paralelas.Dá para ler em 5 minutos, mas você vai querer fazer durar pelo menos 10. du [email protected] oandrevalente.com

benjaMin PePPeJaú, SP – Brasil#1 (2007) e #2 (2010) | A5 | 24 ps. | offset

Benjamin Peppe é um caso peculiar na ga-leria de personagens das HQs brasileiras. Criado em 1973 por Paulo Miguel dos Anjos (ou apenas Anjos, como assina),

suas histórias já foram publicadas em diversos fanzines do Brasil e alguns do ex-terior. Benjamin é um hippie, líder de uma “turma moderninha, ingênua, cheia de fantasias e imaginações”, segundo Anjos. Ele pratica esportes radicais (não tira seu

macacão e sua sandália nem para surfar), defende a natureza e tem como inimigos os membros de uma gangue de punks.Pela longevidade e repercussão do per-sonagem, eu imagino que ele tenha seu público. Anjos alega ter influência do es-tilo cubista de Pablo Picasso e diz que está trabalhando no projeto de um desenho animado da turma para ser veiculado na TV. Para meu gosto, os roteiros parecem desconexos e o traço parece simplório demais, até para os parâmetros de uma série infantil. Talvez eu que não esteja preparado para as aventuras politicamente corretas de Benjamin Peppe. du [email protected]

benjaMin PePPe FanZineSão Paulo, SP – Brasil#2 (2010) e #3 (2011) | A5 | 32 ps. | offset

O hippie surfista ataca novamente! A sacada aqui são as histórias escritas e desenhadas por diferentes autores para o Benjamin. Dão as caras alguns nomes conhecidos

como Laerçon (criador dos Paraibanos de

Subúrbio), Chagas Lima (criador do Icfire) e até o Shimamoto, além de muita gente nova. A qualidade dos trabalhos oscila bastante e as histórias, obviamente, falam sobre ecologia, esporte e tal. du [email protected]

benZineSto. André, SP – Brasil#1 (2010) ao #6 (2011) | A6 | 4 ps. | digital

Este é um zine com as tiras cômicas de-senhadas pelo Daniel Linhares e apresenta uma interessante solu-ção na divulgação de HQs, pois é gratuito, bimestral e possui um

formato econômico. Cada edição traz cinco tiras sempre hi-lárias e com boas sacadas, com temas e personagens inusitados como “Infernet”, “Juvenal Fagundes” e a escatalógica (e filosófica?) “Merdas no Asfalto”.Destaque para as capas do zine, pois man-têm um padrão de estilo (fonte, diagrama-ção e fotos), um recurso útil para destacar a publicação durante a sua distribuição.A opção por um zine tão curto acaba dei-

xando no leitor uma sensação de “já aca-bou?”, o que na verdade é um bom reflexo de quão divertidas são as tiras. fg [email protected] dogbiscuitpress.blogspot.com

biograFicZineJoão Pessoa, PB – Brasil#0 (2008) e #1 (2009) | A5 | 12 ps. | xerox

Nas aulas de “Formação de edu-cadores, Narrativas autobiográficas e Histórias em quadri-nhos” que habilita mestres em Educação, Elydio Santos Neto re-

solveu aplicar a atividade de fanzine com seus educandos. Chamou Gazy Andraus para conceituar e ensinar a turma a fazer fanzines e entrou com a proposta do que batizou de “biograficzines”.Elydio também produziu seu próprio “biograficzine” contando um pouco da sua história e influências, com breves bio-grafias de autores e produções pessoais em forma de textos, quadrinhos e ilustrações.Curiosamente, os fanzines são quase que totalmente escritos à mão, dando mais

Por que zine?DL – Porque é simples, direto e principal-mente físico, a tendência hoje é migrar para a internet, mas o trabalho impresso tem uma outra dimensão e valor, tanto para o autor, como também para o leitor.

o benzine tem como característica uma leitura bem dinâmica. isto influen-cia o modo como você distribui o zine?DL – Acho que influencia em uma parte da distribuição, alguns são distribuídos para quem já conhece e depois do boca a boca esse número cresce, outros vão em quan-tidade um pouco maior pelo correio para

outros estados, pra um pessoal que também ajuda na distribuição, porque ainda rola esse lance dos independentes se ajudando, o que é muito positivo, alguns ficam na HQ Mix em São Paulo e uma parte é distribuída nas gibi-tecas do ABC e são nesses locais que o fato de ser gratuito e de leitura rápida faz com que um mesmo exemplar tenha vários leitores, expan-dindo o alcance da publicação.

o benzine possui algumas tiras com temas bem inusitados como “infernet” ou “mer-das no asfalto”. como foram criadas?DL – Por trás da criação de cada tira existe uma história e essas histórias são bem dife-

rentes entre si. Infernet começou pelo tro-cadilho da palavra e então veio a questão: se a televisão é coisa do diabo, a internet também dever ser! A partir daí vieram as situações do diabo navegando na rede. Uma curiosidade dessa tira é que mesmo tendo um tema relacionado a internet, faço questão de publicá-las primeiro no zine, para depois irem para o blog.

Merdas no Asfalto foi criada enquanto caminhava para o trabalho, vi duas merdas na rua e em seguida um carro passou por cima de uma e eu ri da situação e pensei o que uma merda pode dizer para a outra diante desse acontecimento e a frase só poderia ser “a vida é uma merda!” e nisso a tira se formou automaticamente na mi-nha cabeça, fiz mais três ou quatro tiras, mas achei que as pessoas não iriam reagir bem a esta temática, essas tiras ficaram engavetadas por mais de um ano e quando decidi colocá-las no blog a receptividade foi muito positiva e então comecei a pro-duzí-las com mais frequência.

www.dogbiscuitpress.blogspot.com

3 PERGUNTAS PARA danieL Linhares

Comic Cow

Tira do Benzine #6

2º ANUÁRIO DE FANZINES, ZINES E PUBLICAÇÕES ALTERNATIVASUGRA PRESS 1110

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da tarde e nos dias chuvosos. Para lidar com isso, Jeison Placinsch preferiu se ren-der aos poemas. Seus escritos surgem em lugares e momentos diversos. Não existe um assunto específico: o autor fala sobre a ausência do pai, uma briga no trem, faz questionamentos sobre a humanidade.Assim é o Café sem Açúcar: reflexões sobre o cotidiano de quem tem a solidão como fonte de inspiração para escrever poemas que são quase crônicas. ms [email protected] facebook.com/cafesemacucar

caíDa corPorativa en PicaDaBuenos Aires – Argentina#1 (2011) | A6 | 4 ps. | xerox

Um dos zines de arte feitos pela argentina Debora Paula, lançado pela editora Ediciones de Cero. Nesta publi-cação a artista inter-preta alguns signifi-cados do termo caida

(queda) através de desenhos e colagens.O resultado é um bom exercício criativo que se resolve no pequeno formato de

inclusive destacando artistas locais, o que é, talvez a maior sacada do editor.Nessa edição, matérias sobre Jimi Hendrix, Lonnie Johnson, John Hammond, ZZ Top, entre outros. ms [email protected] blueseriazine.blogspot.com

caDernos De estuDos DeeDucação FísicaSão Caetano do Sul, SP – Brasil#2 ao #20 (2010) | A5 | 4 ps. | xerox

Existe uma diferença muito grande entre professor e educador. Geralmente professor de educação física de escola pública dá uma bola pros moleques jogar futebol e pronto.

Mas tem aqueles que são educadores, como Renato Donisete, aquele mesmo do zine Aviso Final. Ele dá aulas em uma escola pública e, com a sua experiência de mais de duas décadas como zineiro, faz um fanzine mensal para seus alunos, sem-pre com temas pertinentes às atividades e projetos desempenhados em quadra.

pessoalidade à proposta do biograficzine.Eis um belo exemplo de como utilizar o fanzine como ferramenta pedagógica. ms [email protected]

blueseriaAlvorada, RS – Brasil#5 (2010) | A5 | 20 ps. | xerox

É raro encontrar fan-zines sobre blues. Mas o gaúcho Denilson, que comanda a Tchê Produções, resolveu fazê-lo de uma forma bastante particular e criativa. A diagra-

mação segue o formato do corpo de um violão e ao invés de utilizar fotos dos bluesmen, convida alguns desenhistas para ilustrá-los. Além do que, a ótima impres-são contribui muito com o resultado final.Essa publicação faz muito jus ao nome fanzine, pois mostra mesmo uma “re-vista de fã”, com direito a foto do editor com músicos e ingressos de shows. Mas não fica naquelas de “ah, fulano é deus”, “cicrano é o tal”, o conteúdo é formado por biografias e comentários de shows,

o meio acadêmico tem dificuldade para visualizar as utilidades do fanzine como ferramenta pedagógica?ESN – Avalio que sim, o meio acadêmi-co tem dificuldades para ver os fanzines como uma possibilidade a ser utilizada a favor dos processos educativos formais. Ao longo do tempo de sua constituição a universidade terminou por se desenvol-ver numa perspectiva cartesiana e neste

imagens e a cultura visual no início foi difí-cil para muitos, acostumados tão somente a ler e interpretar textos escritos, mas pos-sibilitou-lhes perceber que o educador se enriquece e aos seus alunos, quando traba-lha imageticamente; 3. Puderam fazer uma experiência diferente com a imaginação, a criatividade, a autoria e a auto-expressão o que permitiu, a vários, resgatar um fio condutor possível para si mesmo dentro da própria história. Isso não é pouca coisa!; 4. Fizeram uma pequena experiência do que é uma comunidade fanzineira que troca e discute a própria produção, com liberdade e respeito pela produção autoral do outro. Gazy Andraus ajudou muito nisso; 5. Abri-ram um canal de comunicação rico com o mundo juvenil (às vezes composto também por adultos!), pois alguns levaram a experi-ência do fanzine para o trabalho no ensino fundamental e médio, com resultados bas-tante satisfatórios. Enfim, minha experiên-cia com os fanzines na educação, de modo especial na formação de professores, ain-da é pequena, mas tem se mostrado extre-mamente rica.

3 PERGUNTAS PARA eLYdio dos santos neto

ção. Era somente mais um recurso, entre tan-tos outros, que poderia ser utilizado. Segundo, eu teria que fundamentar muito bem, do ponto de vista teórico, os motivos pelos quais julgava o fanzine importante para a formação de edu-cadores. E terceiro, eu corria o grande risco de que a proposta de trabalho com os fanzines fosse interpretada pelos professores de uma maneira muito rígida e que terminasse por ser engessada, o que mataria completamente a originalidade transgressora, autoral, provoca-tiva, marginal e auto-expressiva dos zines. Por-tanto tomei todos os cuidados possíveis para, dentro dos limites da universidade, preservar estas qualidades em prol da formação daque-las pessoas e chamei para trabalhar comigo um zineiro de experiência, com amor pelos fan-zines e pelo ser humano, mas também com a referência do trabalho docente universitário e com a pesquisa: Gazy Andraus. Os resultados foram muito positivos:1. Ter que apresentar imagética e reflexivamente a própria trajetória biográfica num fanzine exigiu dos mestrandos recuperar a própria história e elaborá-la na perspectiva profissional e pessoal, e isso foi altamente enriquecedor; 2. Trabalhar com as

gens e depois desenvolver uma atenção crítica ao modo como nossas culturas usam as ima-gens para interferir em nossos processos de constituição como seres humanos. Juntamente com isso havia o desejo de ajudar os mestran-dos a quebrar um pouco da rigidez da repro-dução dos modelos de produção acadêmica e favorecer uma construção mais autoral. O Biograficzine foi uma maneira que encontrei de reunir em uma só proposta a criação autoral, a liberdade da auto-expressão, a consciência da trajetória biográfica e o trabalho combina-do de palavras e imagens. O objetivo: ajudar a desenvolver uma formação sensível junto aos educadores, mas também uma formação refle-xiva e crítica.

quais foram os principais resultados que conquistou junto aos seus educandos utili-zando a prática do biograficzine?ESN – Primeiramente é importante dizer que eu tinha claro que o trabalho com fanzines na for-mação de educadores e pesquisadores da área de educação, e especificamente o trabalho com o Biograficzine, não seria uma panacéia que resolveria todos os problemas da forma-

academia. Muitos dos acadêmicos, educado-res inclusos, nem sabem o que é um fanzine. Outros, que sabem o que é, o consideram por demais marginal para ser usado na educação formal, uma vez que oferece liberdade e foge às regras rígidas de construção e criação.

Por que resolveu levar o fanzine para suas aulas de mestrado?ESN – Algumas coisas vinham me preocupan-do na formação de professores, pois via nela uma racionalidade técnica muito desenvolvida em detrimento da experiência sensível com a complexidade humana - também no sentido do corpo, do afeto e da imaginação - tão funda-mental, em parceria com a racionalidade, no que diz respeito às relações entre as pessoas que são os educadores e os educandos. Nos processos educativos tudo passa pelas rela-ções e por aquilo que as pessoas são. Não é só razão. Nesta direção entendi que duas coisas poderiam me ajudar a facilitar aos professores o desenvolvimento desta sensibilidade: recu-perar a própria trajetória formativa, ou história de vida, se preferir; aprender a trabalhar com as imagens, primeiramente as próprias ima-

contexto suas abordagens de fundamentos da realidade e de metodologia de trabalho sobre esta mesma realidade ficaram muito rígidas e inflexíveis. Padrões metodológicos foram defi-nidos e eles muitas vezes dificultam e mesmo impedem o trabalho criativo. Se a metodolo-gia bem pensada e usada ajuda a construção científica, e isso é bom, por outro lado quando ela se enrijece então inviabiliza a criatividade e isso é muito ruim. É ruim, de modo especial, no campo das ciências humanas em geral, e na educação em especial, no qual a complexidade é tanta que os métodos precisam ser perma-nentemente criados e recriados. Então, veja... Uma das dificuldades dentro da academia é o trabalho com as imagens. Na academia, e na formação de professores, predomina a palavra, o verbo. Ela é logocêntrica. A imagem quando aparece é em esquemas didáticos ou então no campo das artes. A imagem, em conjugação com a palavra e numa perspectiva de formação autoral, precisaria ter um espaço maior e me-lhor explorado dentro da academia. Neste sen-tido, e também por outros motivos, oriundos, sobretudo, da expressão autoral livre, o fanzine tem dificuldades de reconhecimento dentro da

Por ter circulado no ano passado, boa parte dos temas são relacionados à Copa do Mundo de Futebol, mas também é possível encontrar tópicos como cuidados com o corpo, regras de esportes e histórias das modalidades. Inclusive alguns destes assuntos são interdisciplinares, pois de acordo com o tema, Renato pede para os alunos pesquisarem junto aos professores de História, Matemática e Geografia.Destaque para a edição sobre futebol de várzea, que é fantástica!Queria muito que meu professor de Educação Física fosse assim... ms [email protected] campossalles.wordpress.com

caFé seM açúcarPorto Alegre, RS – Brasil#3, #4 e #5 (2011) | A5 | 16 ps. | xerox

Viver sozinho é uma faca de dois gumes. A pessoa é livre para fazer o que quer, porém tem que lidar com alguns fantasmas – como a solidão, que se intensifica no cair

bolso (A4 dobrado quatro vezes). fg [email protected] flickr.com/photos/deborag

caMila Zine eDição esPecialIbiúna, SP – Brasil#5 (2008) e #6 (2010) | A6 | 8 ps. | xerox

Camila é um zine de bolso de histórias em quadrinhos feitos por Julia Albuquerque de Ibiúna em São Paulo.Os zines apresentam uma interessante com-binação de Mangá,

transexualismo, erotismo e bandas da cena underground brasileira.No #5, por exemplo, há uma aventura que envolve a personagem Camila com cria-turas japonesas como Gyodai e Ultraman, que na realidade é o Gepeto, vocalista da banda de hardcore Ação Direta.Já o #6, foi feito como homenagem a um evento de metal extremo que houve na cidade de Ibiúna. Esta HQ é baseada intei-ramente em trocadilhos com os nomes de algumas bandas de metal.Por mais que estas combinações se asse-

melhem a misturar feijoada com sushi, o resultado é sem dúvida divertidíssimo! fg [email protected]

caMila gls rock ZineIbiúna, SP – Brasil#1 (2010) e #2 (2011) | A6 | 16 ps. | xerox

Da mesma autora dos zines Camila, estas duas edições trazem além dos zines de HQs de bolso, DVDs com coletâneas de videos clipes de gêne-ros musicais diversos

(punk, metal, gótico etc).Nestas edições há um posicionamento mais marcado na questão de gênero sexual que já aparece em um lema de um dos editoriais “Transexualismo, quadrinhos & rock/metal”, e que está latente também nos quadrinhos dos zines.O vol. 1 é uma edição comemorativa dos cinco anos da personagem Camila e é composto por diversas tiras humorísticas com o característico traço mangá.O vol. 2 traz mais tiras divertidíssimas envolvendo todo o universo da persona-

2º ANUÁRIO DE FANZINES, ZINES E PUBLICAÇÕES ALTERNATIVAS 13

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construção remete à estruturas poéticas orientais, como a utilizada nos haicais. Como já dito no anuário passado, os fan-zines de Gazy exigem um grau de sensibi-lidade e intuição apurada, pois fogem dos esquemas narrativos (ocidentais) objetivos aos quais estamos habituados. E é justa-mente por isso que os recomendamos. fg [email protected] tesegazy.blogspot.com

caZar truenosLima – Peru#1 (2011) | A4 | 16 ps. | offset

Esta excelente publi-cação peruana não apenas se aventura por um terreno pouco explorado entre os fanzines sul-america-nos – a música experi-mental, especialmente

noise e estilos relacionados – como o faz de maneira exemplar. As entrevistas, que ocupam metade do conteúdo desta edição, são interessantes e informativas. Estão lá Ernesto Bohórquez (do projeto Animal Machine), Shazzula, Sergio Sanches (do selo Ruído Horrible) e o lendário Maurizio Bianchi. Temos ainda um texto de Bob Cobbing sobre poesia sonora, um artigo que trata das diferen-ças entre noise e arte sonora e muitas resenhas de discos. Tudo apresentado com uma diagramação simples mas eficiente, privilegiando a clareza da informação.Se você se interessa por sonoridades in-comuns e ruidosas, não deixe também de conhecer a Buh Records, o selo musical comandado por Luis Alvarado, editor de Cazar Truenos. du [email protected] buhrecords.blogspot.com

clase De PanRosario, Santa Fe – Argentinae.u. (2011) | A6 | 8 ps. | xerox

Sim, sim, é exata-mente isso! Este zine é uma receita de pão! Se fica bom eu não sei, mas certamente vou testar assim que aca-bar de escrever as re-senhas deste Anuário.

Livretinho simpático, todo manuscrito, feito pelo povo igualmente simpático que organiza a Zine Zelt (veja a matéria sobre eventos zineiros na página 54). du [email protected] zinezelt.com.ar

closerSto. André, SP - Brasil#1 (2011) | A5 | 36 ps. | xerox

Além de editar o zine Spellwork e organizar o Fanzinada, Thina Curtis escreve poesias. Reuni-las em um fan-zine seria óbvio, mas a moça alega que a idéia lhe soava vazia. A so-

lução foi convidar diversos amigos da área das artes visuais para ilustrar seus escritos, e o resultado é o zine Closer.O rol de colaboradores compreende artistas de diferentes estilos e técnicas – incluindo nomes conhecidos no fanzinato, como Gazy Andraus e Edgar Franco – que deram forma ao universo triste dos versos da autora.O zine se dá o luxo de ser colorido, mas infelizmente a qualidade da impressão não ajudou muito, prejudicando a nitidez de algumas imagens e a leitura dos textos. du [email protected] fanzinada.com.br

coletivo ZineRio de Janeiro, RJ – Brasil#1 (2011) | A5 | 64 ps. | digital

A proposta é nobre: criar uma publicação descentralizada, sem editor, sem tarefas definidas, onde os co-laboradores dividam o trabalho de acordo com suas possibilida-

des e contribuam da forma que quiserem.Bonito? Nem tanto. Apesar do ideal democrático da iniciativa, a falta de uma identificação maior entre os colaboradores acaba sendo justamente o ponto fraco do Coletivo Zine.

gem (transformismo, filmes trash, rock, cultura japonesa) e uma matéria sobre as kathoeys, transexuais da Tailândia. fg [email protected]

caMiño Di ratoUberlândia, MG – Brasil#4 ½ (2011) | A5 | 42 ps. | digital

Esta publicação é editada pelo jornalista Matheus Moura e vai a um ponto além dos zines de quadrinhos, pois traz discussões e reflexões a respeito da nona arte.

Todas as histórias são seguidas de textos de seus autores, abordando questões como o processo de criação ou reflexões sobre o tema abordado na HQ. Um momento interessante do zine é a provocativa HQ “Frígida” de Matheus Moura e Rosemario Souza, que mereceu uma réplica (ou re-leitura) na mesma edição – no caso, a HQ “Necrofilia”, feita pela autora Carmilla.Entre os diversos autores, desenhistas e estudiosos encontram-se alguns nomes conhecidos do gênero fantástico-filosófico como Gazy Andraus, Elydio dos Santos e Edgar Franco. fg [email protected] tokadirato.blogspot.com

cáucasoSão Vicente, SP – Brasile.u. (2011) | A5 | 8 ps. | xerox

O doutor em Ciências da Comunicação Gazy Andraus é um dos grandes promotores brasileiros de estudos, articulação e debates sobre as histórias em quadrinhos e os

fanzines. Exemplo disso é o trabalho que desenvolve com seus alunos da pós-gra-duação (que envolve a criação de fanzines autobiográficos) e também o Programa de Formação de HQ e Zine, organizado por ele em 2011, que promoveu debates, oficinas e palestras no Centro Cultural da Juventude, em São Paulo.Além de tudo isso, Gazy continua na ativa produzindo seus peculiares fanzines.O trabalho de Gazy faz parte do gênero genuinamente brasileiro conhecido como fantástico-filosófico, onde o autor explora temas como espiritualidade e filosofia.Em Cáucaso, aspectos da existência hu-mana são abordados em poucas palavras e desenhos, deixando grande parte da inter-pretação por parte do leitor. Esse modo de

O zine não é de todo ruim. Pelo contrário, tem colaborações ótimas, como os contos do Fábio Barbosa e do Wagner T. (edito-res dos zines Reboco Caído e Anormal, respectivamente) e as HQs do Dingo e do Dola. Não por acaso, além do talento de seus autores, esses quatro exemplos têm em comum a narração de histórias bizar-ras e cheias de humor negro. Juntos, for-mariam um conjunto diverso, mas coeso.O problema é que, entre uma coisa e outra, nos deparamos com material um pouco duvidoso e discrepante, como a HQ vampiresca “O Sabor do Pecado”, de Michael Kiss, e o texto “A Irmandade do Sino: artes negras & ciências ocultas”, uma alucinação conspiratória escrita pelo norteamericano William Dean Ross com tradução bem confusa do Cássio Aquino.Cheias de altos e baixos, as páginas do Coletivo Zine passeiam por temas, lingua-gens, humores e intenções tão diferentes que acabam carecendo de personalidade. Potencial o zine tem, mas talvez precise definir um mínimo de parâmetros. du [email protected] coletivozine.blogspot.com

coMic cowNiterói, RJ – Brasile.u. (2011) | 17,5 x 25cm | 36 ps. | digital

Denis Mello foi con-vidado para partici-par da famosa Cow Parade realizada no Rio de Janeiro e optou por preencher a sua vaca com duas HQs. Assim, fatalmente, co-

locou no mundo dois novos super heróis: Comic Cow e El Toro Negro.Com piedade dos mortais que não viram sua instalação, Denis resolveu publicar as histórias em um zine com Lado A e Lado B. Uma delas conta a origem da Comic

o blues é um estilo musical pouco con-vencional no brasil. qual o papel do blueseria para divulgar o blues?DR – Pelo fato do blues ser um estilo mu-sical pouco convencional no Brasil, quase marginal, é que o fanzine Blueseria surgiu. O papel da publicação é fazer chegar aos amantes do Blues espalhados pelo Brasil o que acontece no cenário blueseiro do Rio Grande do Sul onde comento sobre os mú-sicos gaúchos e os shows que acontecem em Porto Alegre de mestre do blues vindos dos EUA. Além disso, o zine tem um dife-rencial das demais publicações de música, incluindo o blues, que é trazer sempre os artigos e resenhas de shows com ilustra-ções de desenhistas de quadrinhos. As capas do Blueseria são verdadeiras obras de arte para quem curte ilustrações e mú-sica. Além disso, sempre que possível tem alguma HQ com a temática blues.

você está publicando desde 1987 a frente da tchê Produções hq, o que explica se dedicar tanto tempo a algo que não lhe traz retorno financeiro?DR – Paixão e resistência cultural! Meus amigos fanzineiros que resolveram ganhar dinheiro largaram os fanzines há mais de uma década para se dedicar ao jornalis-mo, publicidade, literatura ou buscar o mercado norte americano de quadrinhos desenhando super-heróis.

Da minha parte, continuei fazendo fan-zines por pura paixão e curtição ao que faço, pois é sempre gratificante editar um zine e ver o pessoal comentando e elogian-do minha persistência em produzir cultura sem o mínimo do retorno financeiro, ali-ás, muito pelo contrário, a fanedição traz sempre prejuízo. Mas vejo isto como in-vestimento na resistência por uma cultura livre do mercado. Mesmo que escreva um artigo sobre um super-herói ou uma estrela

do rock, faço pela minha cabeça, minhas ideias, sem me preocupar com o merca-do. Os fanzines são a pura expressão da imprensa alternativa e isso explica muito minha persistência em fanzinar há mais de duas décadas. Se você está lendo esta publicação, você é da resistência!

De que forma as publicações indepen-dentes impressas podem conviver har-monicamente com universo virtual?DR – Por muito tempo fui resistente ao universo virtual para as publicações de fanzines. Para um “dinossauro” como eu, tenho que pegar o fanzine nas mãos, folhe-ar página por página e colocar na coleção, sempre a disposição para ser manuseado e levado de um lado para o outro. Continuo pensando desta forma, fazendo zines im-pressos, colecionando fanzines e levando a eventos e reuniões para o pessoal poder manusear. Mas, hoje vejo que uma coisa não exclui a outra. Alguns novos leitores do fanzine Tchê me pediam as edições antigas de mais de 20 anos atrás e foi aí que per-cebi que seria interessante poder publicar estes zines na web e deixar o pessoal bai-xar no seu PC.

Claro que isso fica longe de migrar do papel para o virtual, uma coisa não deve excluir a outra. Quem como eu curte o pa-pel, os fanzines continuam impressos e, para aqueles que convivem bem – talvez a nova geração? – o universo virtual está aí.

Para finalizar, o virtual deve estar a ser-viço dos editores de publicações impres-sas, não devemos ver o virtual como con-corrente, pois os públicos são diferentes. E mais um detalhe, a partir do universo vir-tual, um novo público leitor pode descobrir as publicações independentes impressas.

blueseriazine.blogspot.com

3 PERGUNTAS PARA deniLson rosa dos reis

Duro

Ilustração de Diego Müller para o Blueseria #5

2º ANUÁRIO DE FANZINES, ZINES E PUBLICAÇÕES ALTERNATIVASUGRA PRESS 1514

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Cow (que dispara superjatos de leite tipo A) e a outra, “Amuuur em Barcelona” mostra como ela conheceu El Toro Negro.Contém ainda o esboço da obra e fotos da vaca original. ms [email protected] denismello.blogspot.com

conversas ParalelasPorto Alegre, RS – Brasil#6 e #7 (2010) | A5 | 12 ps. | xerox#8 (2011) | A5 | 16 ps. | xerox

“O Conversas Paralelas é um fan-zine. Um fanzine pes-soal. É uma das for-mas que encontrei de expressar as milhões de coisas que passam por minha cabeça

todos os dias”. A descrição, fornecida no editorial do #8, dá uma boa indicação do que o leitor encontrará nas páginas deste zine. Mas alto lá: não estamos falando aqui de um diário-tornado-público ou de um emaranhado de confissões que pouco interessariam a alguém. Há um tanto de poesia e universalidade no Conversas que o mantém sempre interessante. Em meio

Quem diria que o fanzine, mídia rebelde por natureza, poderia encontrar espaço também em cima do muro?Mas nem tudo segue esse caminho: Córtex, a nova publicação do Flávio Grão, por exemplo, se destaca justamente por apresentar um saudável equilíbrio entre os dois mundos. É zine de artista, sim, mas sem abandonar a alma punk. Isso não é surpresa alguma, entretanto, para quem já está familiarizado com o trabalho do autor. Fanzineiro da gera-ção 90 e ilustrador talentoso, Grão já emprestou seu traço para diversas bandas do hardcore paulista, escreve para o blog Zinismo e, desde 2010, publica espo-radicamente o pocketzine Manufatura. Na base de toda sua produção está o feliz casamento entre forma e conteúdo, uma rara convergência de criatividade e esmero a serviço de uma crítica social incisiva mas nunca panfletária.A grande novidade em Córtex é a técnica escolhida: a colagem, gloriosamente executada com estilete e cola bastão, como o autor faz questão de pontuar no final do zine. A publicação é composta de 14 imagens que, vistas em seqüência, formam uma surpreendente narrativa. É um trabalho repleto de ironia e rico em referências à sociedade de consumo de meados do século XX – bem à moda de Winston Smith e Gee Voucher, dois ícones da colagem punk.Com acabamento primoroso e imagens que atiçam tanto os olhos quanto a mente, Córtex é um desses prazeres que a fane-dição insiste em nos proporcionar. Mais do que isso, é o testemunho de um artista inquieto e disposto a desafios, mas igual-mente maduro e ciente de suas raízes. du [email protected] flickr.com/flaviograo

crateraSão Paulo, SP – Brasil#1 (2011) | A5 | 4 ps. | xerox

A HQ contida neste zine conta a história de um meteoro que caiu na extrema zona sul da capital paulista. Na cratera formada com o impacto foi criado o bairro de

Vargem Grande, que enfim recebe um ponto de leitura para a população local, carente de todos os recursos básicos para sobrevivência.O incansável Wendell Sacramento deu sua contribuição ao espaço com um fanzine falando de leitura – e fanzines, claro.Com as ilustrações características do autor, aliado a técnicas de colagem e mon-

tagem, essa publicação é uma espécie de tira-gosto para quem nunca teve contato com esse universo sem volta. ms [email protected] hqeponto.blogspot.com

crise Dos 20Fortaleza, CE – Brasil#1 (2011) | 10 x 10,5cm | 8 ps. | xerox

Zine pessoal, simples, pequenino e bonito editado pela Jéssica, do blog Implosão Sonora. Tem um vi-sual bem limpo, textos

manuscritos, desenhos e colagens. O for-mato é bem interessante: quando fechado é um quadrado, mas aberto ele revela uma dobra extra nas duas últimas páginas, tor-nando triplas as páginas duplas. Se você gosta de zines fofos, vai gostar desse aqui. Quem dera minha crise dos 20 tivesse sido assim... du [email protected] implosaosonora.blogspot.com

cultura trashNova Odessa, SP – Brasils.nº (2010) | A5 | 16 ps. | xerox

Material bem simples, sem muitas delongas. Feita no estilo recorta e cola, a diagramação segue um estilo ba-cana, utilizando ilus-trações, mapas e até rabiscos como fundos.

Também há um entrevistão com a banda Strip Cats e resenhas de filmes.Destaque para as poesias e crônicas da editora, área em que se sai muito bem. ms [email protected] insetoeditora.blogspot.com

curseD excruciationJoão Pessoa, PB – Brasil#5 (2011) | A4 | 50 ps. | xerox

O tridente no logotipo e a ilustração da capa, retratando a tortura de um homem engra-vatado com fones nos ouvidos e dinheiro em uma das mãos, não deixam dúvidas

de que estamos diante de uma publicação dedicada ao metal extremo. Como em quase todos zines musicais, a maior parte do conteúdo do Cursed Excruciation é reservada às entrevistas e às resenhas. Mas o grande diferencial aqui são as matérias. A primeira delas é

uma pesquisa de 6 páginas sobre o disco “Negatives”, obra polêmica da banda mineira Holocausto lançada em 1990. Apresenta tradução das letras, fotos da banda à época e depoimentos de seus membros. A segunda é a excelente “O Urro dos Excluídos”, uma pesquisa exem-plar sobre a rica história do Heavy Metal nordestino, com depoimentos de diversos pioneiros desta cena. A diagramação é boa e segue a tradição dos zines dedicados ao metal, com muitas caveiras e ossos adornando as páginas. du [email protected]

DankeRosario, Santa Fe - Argentina#3 (2011) | A6 | 16 ps. | xerox

Zine argentino de po-esias de colaboradores diversos. A falta de fluência no espanhol me impede de apro-veitar 100% de uma leitura como essa, mas eu gosto do tom va-

riado e despretensioso do material – algo raro em publicações do gênero. A edição é simples, restringindo-se aos textos, algumas boas ilustrações e os con-tatos dos colaboradores. du [email protected] dankezine.tumblr.com

DeDo Rio de Janeiro, RJ – Brasil#1 (2010) | A5 | 52 ps. | offset

Dedo é um fanzinede arte feito por quatro amigos que resolveram vivenciar uma das melhores ca-racterísticas deste tipo de publicação: a de poder controlar todo

seu processo de feitura e distribuição.O fanzine é dividido em quatro partes, ou quatro artistas com trabalhos diferentes entre si: Arthur Lacerda experimenta com livros, scanner e modelagem 3d; Fernando Rocha desenvolve um trabalho sobre o movimento; Lucas Pires apresenta uma bela narrativa sentimental construída a partir de fotos de sua família; e Rafael Meliga disponibiliza alguns trabalhos fei-tos na época da produção da publicação.A capa é customizada e as páginas inter-nas são impressas com tinta azul, confe-rindo ao zine um ar elegante e estetica-mente agradável.Um ponto que poderia ser aprimorado para um próximo número seria contextu-alizar melhor o zine, incluindo mais infor-

a frases e devaneios pessoais, escapam também momentos mais politizados que entregam a origem punk do editor, sem nunca ser panfletário ou impositivo. Ademais, Guilherme se expressa tão bem com as palavras quanto com as imagens, fazendo bom uso dos recursos mais tradicionais de produção de um fanzine: colagens, textos manuscritos, diagrama-ção livre e texturas geradas pela fotocópia. Uma leitura leve e agradável. du [email protected] flickr.com/setuabossafossenova

cortexSão Paulo, SP – Brasile.u. (2011) | A5 | 18 ps. | digital

Uma das mudanças mais significativas sofridas pelos fanzines nos últimos anos foi o declínio das publica-ções informativas em favor de empreitadas mais artísticas. Reflexo

óbvio da popularização da internet, com frequência esta mudança é acompanhada pelo abandono de um discurso, pelo receio – ou pela recusa – de emitir uma opinião.

En Los Nervios

Gênesis Apocalípticos + Os Inefáveis

2º ANUÁRIO DE FANZINES, ZINES E PUBLICAÇÕES ALTERNATIVASUGRA PRESS 1716

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mações sobre a produção, seus artistas e trabalhos, ou até mesmo sobre a intenção da publicação. Este tipo de recurso aproxi-maria mais os leitores dos artistas. fg [email protected] tambler-tambler.tumblr.com

DeMênciaFortaleza, CE – Brasil#4 (2011) | A5 | 52 ps. | digital

O Demência teve 3 edições lançadas entre 2004 e 2005. Chegou a ser dado como morto e seu editor foi tentar a sorte na internet com o blog Vomit Yourself. Mas eis que agora, 6 anos depois, somos surpreendidos

com uma nova edição impressa.Quem já conhecia o zine pode ficar tranqüilo que nada mudou. Já os novos leitores podem se preparar para uma avalanche de informações sobre os mais obscuros recônditos da música extrema, especialmente grindcore e suas variações, escritas com incomparável paixão pelo assunto e um aprazível senso de humor.As entrevistas com a banda Expurgo e com o proprietário do selo Terrotten Records são longas, minuciosas e descon-traídas. As resenhas de CDs, fitas e vinis ocupam quase metade desta edição e são interessantes, apesar de um pouco redun-dantes. Destaque para a sessão Texxxtos Libertinos, onde o editor expõe seu lado escritor e se aventura pela ficção erótica. O layout também é digno de nota: coe-rente com o tema abordado, abusa do al-tocontraste e da sujeira, mas sem compro-meter a organização e a legibilidade. du [email protected]

Dia Das MãesSão Paulo, SP – Brasil#1 (2011) | A7 | 8 ps. | xerox

Mais uma edição da Fabiana Menassi (vide Folclore) produzida para seus alunos na rede estadual de ensino de São Paulo. Confeccionado para ser entregue como

homenagem no dia das mães, este livrinho tem 8 páginas, cada uma com pequenas frases de declaração à progenitora, acom-panhadas de colagens ilustrativas .Uma alternativa criativa aos tradicionais modelos reproduzidos à exaustão nas es-colas em datas comemorativas. fg [email protected] fabimenassi.blogspot.com

Duro Santiago – Chile #1 e #2 (2010) | A5 | 12 ps. | xerox

Zine de HQs do chi-leno Rodrigo Duran. Apesar de seguir uma linha que podemos identificar como hu-morística, as histó-rias não se ocupam em criar situações

engraçadas o tempo todo. Sem dúvida há momentos muito divertidos, mas há também espaço para elementos dramáti-cos e até para crítica social. Também não existem personagens fixos, sendo que cada história é protagonizada por uma figura diferente: seja o garoto pobre filho de catador, o punk beberrão ou o trabalhador entediado. Simples e gostoso de ler. du [email protected] rajubid.blogspot.com

Dysángelos ZineSão Luis, MA – Brasil#2 (2011) | 10 x 21cm | 6 ps. | xerox

Informativo anarcopunk que tem como objetivo (conforme a etimologia do seu nome) anunciar más novas, porém traz material bacana como poesias, divul-gação de bandas e de zines.Impresso em formato de

folder, anda em parceria com o blog da

Crösta Möída Produções, que distribui materiais subversivos em geral. ms [email protected] crostamoida.blogspot.com

é tuDo nosso!São Paulo, SP – Brasil#5 (2011) | A6 | 12 ps. | xerox

O Programa Preparação para o Trabalho da Ação Comunitária foi desenvolvido du-rante cinco meses na comunidade Nossa Senhora Aparecida, na

periferia da zona sul de São Paulo, e uma das estratégias utilizadas pelos educadores foi o fanzine.E não pense que eles optaram pelo re-cortar e colar da internet e diagramar no computador: foi tudo produzido no velho esquema de tesoura, cola e alguns textos e ilustrações foram feitos a mão. Mesmo sendo seu primeiro contato com o fanzine, todos os educandos se saíram muito bem, abordando alguns dos temas que mais apetecem à juventude como: sexualidade, profissões, protagonismo juvenil etc. ms [email protected]

en los nerviosMontevideo – Uruguai#1 (2009) | A5 | 16 ps. | digital e xerox#2 (2010) | A5 | 20 ps. | digital e xerox#3 (2011) | A5 | 24 ps. | digital e xerox

3 PERGUNTAS PARA denis meLLo

alguns de seus zines têm histórias que já foram publicadas em outros veícu-los. qual o motivo da republicação?DM – Atingir o público de quadrinhos es-pecificamente. Nos quadrinhos publica-dos no jornal “O Meu Vascão” e na revista “Preliminar” eu e o Brenno Dias (roteirista) retratávamos momentos de glória do Vasco numa página colorida inteira do jornal, que era mensal e de circulação na capital e re-dondezas. Na revista republicamos as mes-mas histórias, com uma qualidade melhor de impressão e tiragem de 3000 se não me engano, e era distribuída gratuitamente nos jogos em que o Vasco era mandante de campo no Brasileiro de 2010. Muita gente viu, repercutiu em tudo que é site de notí-cias esportivas, como o do Globo Esporte, rendeu entrevista e etc, mas a real é que apesar de ser algo muito legal, não refletia tanto pra mim no mundo das HQs.

Com a repercussão que tenho hoje em dia sei que renderia mais, no caso de uma divulgação online que na época não alcan-çava o público que tenho hoje. Mas é disso que estou falando: Para o seu quadrinho repercutir no meio das HQs, você precisa inserir ele ali, caso contrário outros qua-drinistas e especialistas nunca vão saber o que você fez, vai passar despercebido. En-tão com a primeira edição da Rio Comicon, decidi pegar tudo o que eu já havia feito e reproduzir, mesmo que em zine xerocadão. Eu só precisava satisfazer esse desejo de que gente da área soubesse o que eu faço, senão é em vão. Seria triste não ter reco-nhecimento por trabalhos bacanas como esse e a hq sobre a lei Maria da Penha.

No caso da Comic Cow, foi algo pareci-do. A vaca da Cow Parade tinha ficado mui-to boa, mas ninguém da área veria, então adaptei as histórias desenhadas na super-fície da vaca pra uma revista que pudesse me acompanhar em qualquer lugar do Bra-sil. E felizmente vendeu muito bem, princi-palmente na Comicon, onde consegui levar a estátua que foi um grande chamariz, e que é o que eu realmente queria que o pes-soal da área visse, mais do que a revista.

qual a importância do fanzine para o aprimoramento de técnicas e desenvol-vimento de um estilo nas hqs?DM – No fanzine você tem uma liberdade sem igual, sendo seu próprio editor. Tra-balhar com o estilo e temática que quiser,

seja ela polêmica ou não. Eu gosto de variar bastante nesse aspecto: drama político, es-porte, humor, bebedeira, putaria, filosofia, super-herói, terror, música, drogas e outros. Já trabalhei quadrinhos de diversos tipos, e nesse momento já vejo muito mais claramente qual o tipo de quadrinho que vai me dar gosto de trabalhar pelos próximos tempos.

Quanto ao estilo no sentido técnico, no meu caso eu só usava canetinhas antes de ‘Palesti-na’, minha primeira hq. Ali eu comecei a traba-lhar com bico de pena, e um pouco de pincel, dei prosseguimento a esse mix, e hoje uso só pincel, mas tá rolando um namoro com caneta de novo. Quer uma maneira melhor de encon-trar o seu estilo e fazer laboratório do que nas suas próprias revistas?

O papel do editor vem crescendo dentro do quadrinho nacional, mas quando se trata de trabalhar com grandes editoras. No caso do fanzine, não faz sentido. Perderia a magia da experiência e descoberta.

a hq Palestina foi publicada inicialmente em zine e depois em forma de revista inde-pendente. qual foi a diferença na publica-ção nestes dois formatos?DM – Tem uma diferença muito grande no que diz respeito à qualidade de leitura, porque um formato maior proporciona uma apreciação mais adequada dos desenhos. Quando você desenha uma página em A3, você já pensa no formato em que ela vai ser impressa. No caso de ‘Palestina’, inicialmente seria um formato próximo do A4, seria impressa por um Comitê de Solidariedade à Palestina aqui do Rio, eles quem me procuraram, e foi uma jornalista de-

les quem escreveu os diálogos. Mas eles são enrolados, e desde 2009 nada fizeram com as páginas, então eu imprimi no fim de 2010 em xerocado, ficou no formato A5, então muitos detalhes, até mesmo hachuras que foram feitas pensando num formato A4, perderam muito de qualidade.Em 2011 fiz essa impressão em gráfica, com formato maior, qualidade de impres-são. Sinceramente, é uma experiência bem diferente ler num formato ou em outro. Não acho que seja um problema ler HQs peque-nas, desde que sejam pensadas nesse for-mato, caso contrário perde-se muito.

Além disso, no formato de revista, com capa colorida, mais páginas, formato maior, você pode aumentar (com justiça obviamente) o preço, alcançar um lucro maior, porque mesmo mais caro, o salto de qualidade vai fazer com que venda mais, além é claro do fato de que quanto melhor a apresentação do seu trabalho, melhor pra sua reputação. A revista vai ser o seu portfólio que centenas de pessoas vão car-regar pra todos os cantos do Brasil depois de um grande evento, então é importante que seja não só um bom trabalho para quem já conhece HQs, mas também algo bem apresentável que vai encher os olhos de quem não conhece, e pode se interessar em conhecer mais, trazendo um novo leitor pro mundo dos quadrinhos.

denismello.blogspot.com

Detalhe do álbum Palestina

Feto em Conserva

2º ANUÁRIO DE FANZINES, ZINES E PUBLICAÇÕES ALTERNATIVASUGRA PRESS 1918

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Não é todo dia que temos em mãos um zine uruguaio, e essa publicação dos irmãos André e Eduardo Delgado representa bem a cena punk rock de seu país.

As edições de En Los Nervios são repletas de entrevistas com bandas atuantes e até com algumas que já não existem mais.A diagramação é bastante limpa e harmo-niosa, dosando bem a relação entre o belo visual e o som agressivo das bandas que aparecem nas páginas do zine.O #2 vem acompanhado de um CD com algumas bandas (uruguaias, claro).Além do zine, En los Nervios também é uma distribuidora de discos. ms [email protected]

escena obscenaBuenos Aires – Argentina#2 (2011) | 19,5 x 27cm | 32 ps. | offset

Skate, punk e ativismo são palavras chaves para definir este bo-nito fanzine argentino. Há entrevistas com bandas de destaque na cena underground hermana, como

Eterna Inocência, Los Caídos e Mofa, re-senhas de discos, informações sobre o club de patinetas Parque Alamut (de acordo com o blog, Escena Obscena é o fanzine do referido clube), fotos de skatistas em ação, e a primeira parte de uma deli-ciosa série chamada “Skaterock – breve resumen gráfico local”, que compila fotos, flyers e cartazes de shows da cena skate/punk local entre os anos de 1988 a 2010.Destaque para o layout que, a exemplo de outras publicações argentinas, explora o lado mais artístico da tradicional estética “tesoura e cola” dos zines punks. du [email protected] escenaobscena.blogspot.com

estaDo vegetalSantiago – Chile#12 (2008) e #13 (2009) | 21,5 x 16,5cm |16 ps. | offset

Feche os olhos e pense num zine sobre veganismo e liberação animal. Não lhe culpo se você estiver imagi-nando um punhado de slogans, fotos de animais torturados e

uma entrevista com o vocalista da banda x Qualquer Coisa x sublinhando seu ódio incondicional aos carnívoros. Mas feliz-mente a coisa aqui é bem diferente. Bem escrito e variado, o maior mérito deste zine chileno é o de ampliar e apro-fundar a discussão, abordando questões pouco debatidas no meio sem abrir mão da auto-crítica. Também notável é seu senso de humor. No #12, por exemplo, um encarte de receitas veganas foi montado inteiramente em forma de fotonovela. Já no número 13, na sessão “Suplemento Surreanimalista”, há uma nota hilária chamada Poder Vegetal, onde se lê: “As plantas carnívoras foram declaradas ve-getais não-vegetais por parte da comuni-dade vegetariana/vegana internacional, que diz que um vegetal que come carne não é um vegetal, mas sim um assassino”. Sensacional! du [email protected] estadovegetalfanzine.blogspot.com

estuPra-MeContagem, MG – Brasil#1 (2008) | A5 | 24 ps. | xerox

Como é possível per-ceber pelo nome do zine, sutileza não é o forte nos quadrinhos do Desali. Mais co-nhecido pelo seu per-sonagem Zé Buceta (não falei?), Desali

mantém aqui o mesmo clima e os mesmos temas das aventuras de sua cria-mor. As histórias têm um ritmo vertiginoso e são regadas a sexo, drogas e violência, sem glamourização ou moralismo. Seus personagens transitam entre a euforia e o desespero, correndo, trepando e matando em cenários que parecem estar derre-tendo. O que conta aqui não são tanto os enredos. As histórias não obedecem ao esquema “começo-meio-fim” e a maioria delas nem texto tem. Em grande parte, a graça está na disposição aparentemente inesgotável do autor em experimentar, em extrapolar os limites e enveradar com sua arte por novos caminhos - expediente no qual, diga-se de passagem, Desali tem sido extremamente bem sucedido. du [email protected] flickr.com/odesali

Fábulas, a base Derecursos gráFicosBuenos Aires – Argentina#1 (2009) | A5 | 16 ps. | xerox

Este zine feito pela artista Debora Paula, da Ediciones de Cero, apresenta ilustrações em que os animais são os ícones dominantes. As ilustrações são fei-tas em técnicas diver-

sas, com muita sobreposição e colagem, valorizando os efeitos de texturas obtidos através do xerox. O efeito final, no papel verde, é extremamente agradável. fg [email protected] flickr.com/photos/deborag

Feto eM conservaJoinville, SC – Brasil#1 (2012) | A5 | 28 ps. | xerox

O editorial começa assim: “Feto em Conserva é o nome do meu primeiro zine. Eu tenho dezesseis anos e a primeira vez que coloquei a mão num zine foi há pouco mais

de um ano”. Taí um cara que nasceu para a coisa. Driblando a inexperiência e a idade, Victor Bello, o garoto em questão, fez um dos mais divertidos zines de HQs de 2011. A falta de noção e o humor politicamente incorreto são as características mais mar-cantes no trabalho deste jovem autor. Seus personagens são pescadores viciados em crack, camarões homossexuais e hipsters comedores de minhocas envoltos em situ-ações tão absurdas quanto suas próprias existências. Seu traço é sujo, debochado

e cheio de hachuras, seguindo a tradição das HQs undergrounds.Certamente ainda tem o que amadurecer, mas potencial tem de sobra! du [email protected] aberrantepublicacoes.tumblr.com

Fique ruDeRio de Janeiro, RJ – Brasil#5 (2011) | A4 | 22 ps. | xerox

O Fique Rude celebra a cultura tradicional oi! ou skinhead (favor não confundir com neonazismo ou white power, você não está assistindo a um tele-jornal sensacionalista)

e seus valores, como o companheirismo e o nacionalismo. Destaco a entrevista com a banda do Distrito Federal Causa Torpe, que faz um belo resgate da história do punk e hardcore na região e a matéria “Careca aos Quarenta”, originalmente escrita por Matt

Snyders, que conta a história de um grupo de skins norte americanos que se associa-ram a movimentos de esquerda e lutaram contra os white powers locais durante as décadas de 80 e 90. Finalizando, uma HQ imagina um inusitado encontro de Rude Boys com Marcelo D2... Treta na certa.O editorial e as referências bibliográficas são pontos que merecem mais atenção, pois às vezes não é possível identificar a autoria e a origem de alguns textos. fg [email protected] vontadeluta.blogspot.com

Folclore brasilSão Paulo, SP – Brasil#1 (2011) | A7 | 16 ps. | xerox

Fabiana Menassi é professora da rede Estadual de São Paulo e produz e distribui fanzines para seus alu-nos ao fim dos ciclos de aprendizagem.Este zine de bolso é

feito com desenhos, escrita e colagem, permitindo ao aluno se aprofundar de modo divertido nas questões relativas ao tema, passando pela definição, brincadei-ras, lendas e etc. Barato e fácil de fazer, o zine prova ser um ótimo recurso pedagógico e pode possuir um papel fundamental na formação dos alunos, ainda mais quando os situa como capazes de extrapolar a posição de consu-midores para produtores de cultura. fg [email protected] fabimenassi.blogspot.com

Frente joveM PalestinaPorto Alegre, RS – Brasil#3 (2011) | A5 | 16 ps. | xerox

Como o nome en-trega, este é um zine inteiramente dedicado à conscientização so-bre a causa palestina. Um tema incomum entre os zines, mas de extrema relevância.

3 PERGUNTAS PARA eduardo vomitorium

o Demência começou no papel em 2004, migrou para a internet e voltou a ser impresso em 2011. o que motivou esse retorno?EV – Alguns fatores estão envolvidos. Pri-meiro, acho que o prazer pessoal falou mais alto, a vontade de fazer tudo como sempre foi feito e a falta de saco para com o mundo virtual também ajudou, de repen-te eu me vi sendo o que tanto esculhambo. Segundo, as condições favoráveis mesmo. Pra colocar em prática um fanzine de pa-pel, tem que ter uma certa logística en-volvida, e como hoje me estabilizei numa cidade novamente, as crianças já estão mais crescidas, achei a hora certa pra exu-mação. Mas sempre tive planos de fazer no papel. Ainda bem que deu certo.

qual foi a resposta que você teve à re-tomada do impresso? você acha que perdeu leitores com essa mudança? isso te preocupa de alguma forma?EV – Fiquei até impressionado com o re-torno cara, a carência para com o formato é gritante, a necessidade de uma geração mais antiga (e uma galera mais nova com o velho espírito) apegada ao lado “físico” da cena é grande, muitos selos pegaram

da modernidade undergroundiana.

a seção “texxxtos libertinos”, com contos de sua autoria, é algo bem incomum em zines de música. como surgiu a ideia? já pensou em publicar textos de outros autores também?EV – Gosto muito de escrever besteiras, muitas coisas nunca mostrei pra ninguém. Tenho projetos e projetos, rabiscos e mais rabiscos. Quando era muleque gostava de ler os contos eróticos das revistas pornôs dos meus primos mais velhos... me mas-turbava exaustivamente. Inicialmente que-ria por alguma coisa sobre horror, algum conto do tipo, mas queria puxar uma veia anticlerical, pornografia bíblica / religiosa foi o que veio a mente, e me divirto bas-tante. É uma das coisas que mais chama a atenção (principalmente de mulheres, não sei o porquê) no zine, na época que tava parado, tinha gente que pedia pra eu escrever só os Texxxtos Libertinos. Velho, com certeza já pensei e quis publicar ou-tros autores, mas vem a velha questão da “qualidade”, e porra, não vou colocar um texto vagabundo no meu zine só porque o cara escreveu uma putaria blasfema. Mas quem sabe no futuro.

pacotes para distribuir. Com certeza eu perdi leitores, a visibilidade do Vom.It.Yourself era bem grande, mas era uma outra galera, uma outra postura. A Internet é um mundo instan-tâneo, tudo bate pronto, o cara não quer te mandar a demo, te manda o link da demo, não tem como eu propor uma troca no zine, isso é o que realmente me irrita, a descartabilidade, a facilidade a falta de essência, e na boa... Eu gosto mesmo é de zine, de tape e de disco, quer mandar o link, manda pra puta que pa-riu. Não me acostumei com esse mundo “Nes-cau”, tentava fazer do Vom.It.Yourself um zine impresso, não atualizava com freqüência, atu-alizava de tempos em tempos, mas era com MUITA coisa, como se fosse uma edição no papel. A maioria das pessoas que pegaram o zine já eram contatos meus bem antigos, mes-mo antes do Demência existir. Preocupação é algo que realmente não cabe, talvez uma refle-xão: Fiz trocas pra caralho, retomei contatos de muito tempo, e realmente é aqui que quero estar embaixo dos panos. Podem me chamar do que quiserem, mas NADA se compara, o underground está se transformando, mas al-gumas coisas ainda permanecem intactas. E com o tempo em vez de abrir minha cabeça, de absorver novas influências... está tudo ao inverso, cada vez mais rabugento e com asco

Gibiozine

2º ANUÁRIO DE FANZINES, ZINES E PUBLICAÇÕES ALTERNATIVASUGRA PRESS 2120

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3 PERGUNTAS PARA deBora pauLaNesta edição há divulgação do projeto Intifada (evento em que bandas indepen-dentes tocam para arrecadar alimentos para os refugiados palestinos no Brasil), o manifesto do Comitê pela Libertaçãoda Palestina, sinopse do documentário “To Shoot an Elephant” e outros textossobre o tema. A diagramação é simples, mas cumpre seu papel.Para melhorar, o zine vem acompa-nhado de um DVD com o documentário “Occupation 101”, de Sufyan e Abdallah Omeish. du [email protected]

gag: as Melhorestiras huMorísticasJoão Pessoa, PB – Brasile.u. (2009) | 14 x 20cm | 60 ps. |offset + digital

A editora Marca de Fantasia tem lançado excelentes publica-ções independentes relativas às Histórias em Quadrinhos e aos Fanzines.O editor Henrique

de Magalhães organizou este livro, uma coletânea de tiras de autores selecionados no GAG – Concurso de tiras humorísti-cas idealizado pela Marca de Fantasia e apoiado pelo Mestrado em Comunicação da Universidade Federal da Paraíba.O texto que abre a publicação, “Tiras: mais que um formato”, de Edgard Guimarães, faz um histórico pertinente sobre as HQs e, mais especificamente, das tiras, gênero que encontra grande difi-culdade de publicação no Brasil. Tanto o concurso quanto o livro visam justamente estimular esta produção.O livro mostra que, apesar dos poucos espaços para publicação, o gênero segue firme por todo o Brasil, com diversidade de temas e estilos e, principalmente, muito bom humor. fg [email protected] marcadefantasia.com

gag: o huMor é o MotorJoão Pessoa, PB – Brasile.u. (2011) | 14 x 20cm | 60 ps. |offset + digital

Esta segunda edição da GAG confirma o sucesso do Concurso e da Publicação que visam estimular a produção de tiras em quadrinhos no Brasil (promovidos pela

editora Marca de Fantasia e apoiado pela Universidade Federal da Paraíba).Neste número são 15 selecionados, entre novatos e veteranos. O ganhador do Concurso é o quadrinista Alisson Affonso, com a ótima série “Mundo Cruel”.Nesta edição há menos tiras que tratam de política e os temas estão mais diversifica-dos. Destaque para a qualidade surpre-endente, presente tanto nos argumentos com sacadas inteligentíssimas, quanto nos desenhos muito bem executados. fg [email protected] marcadefantasia.com

gênesis aPocalíPticos + os ineFáveisJoão Pessoa, PB – Brasile.u. (2011) | 16,5 x 24,5cm | 60 ps. | offset

Lewis Trondheim é um prolífico qua-drinista francês. Vencedor do grande prêmio do Festival de Angôuleme e duas vezes nomeado para o Eisner Awards,

Trondheim continua um nome pouco conhecido no Brasil. Sorte nossa termos um selo independente como a Marca de Fantasia, de Henrique Magalhães, dis-posto a corrigir esse lapso.Este volume reúne duas séries distin-tas, traduzidas pelo próprio Magalhães. A primeira, Gênesis Apocalípticos, foi inicialmente publicada num fanzine do autor e posteriormente redesenhada para compor um álbum. São histórias curtas onde Lewis trata com inteligência e ironia das teorias da Criação e da Evolução. A segunda série, Os Inefáveis, é composta

de diversas HQs de uma página que apareceram originalmente nas páginas da revista Lapin. São histórias banais sobre o quotidiano de personagens nada heróicos, carregadas de humor e reflexão.Em ambas as séries fica evidente o talento de Trondheim tanto para o desenho quanto para o texto. E não estamos falan- do de demonstrações de virtuosismo ou técnica, muito pelo contrário. O charme dessas histórias está justamente na espan-tosa capacidade do autor em ser sintético, limpo e conciso. É o tipo de trabalho que provavelmente não atrairá o público leitor de heróis e mangás, mas deve cair em cheio no gosto de quem se interessa por HQs autorais. Resta-nos torcer para a Marca de Fantasia publicar outros títulos da extensa biblio-grafia de Lewis. du [email protected] marcadefantasia.com.br

gibiZone – eDição esPecialBayeux, PB – Brasile.u. (2011) | A6 | 16 ps. | xerox

O educador Josival Fonseca utilizou uma estratégia muito bacana com seus educandos da turma de EJA (Educação de Jovens e Adultos): fez um pequeno fanzine

de histórias em quadrinhos.Parece nada demais, né? Mas a grande sa-cada é que em sua história ele exemplifica diversas técnicas e elementos que formam uma HQ: os tipos de falas, onomatopeias, sombras, quadros, personagens etc.

De quebra, ainda traz um texto com um breve apanhado sobre os tipos de publicações, gêneros etc. Muito didático e com linguagem acessível, esse mate-rial faz parte de seu trabalho de conclu-são de curso intitulado “Arte, Leitura e Colecionismo”. ms [email protected] gibiarte.blogspot.com

gibiZone – eD. esPecialPrática De ensinoBayeux, PB – Brasile.u. (2011) | A4 | 12 ps. | xerox

Coletânea de ativida-des realizadas com os educandos de Josival Fonseca nas turmas de EJA e Ensino Médio. São fotonovelas, tiras e intervenções (Eu Personagem). O mate-

rial faz parte da pesquisa feita por Josival para o seu TCC e é um bom exemplo de como utilizar fanzines em sala de aula. ms [email protected] gibiarte.blogspot.com

gibioZineSorocaba, SP – Brasil#9 (2011) | A5 | 56 ps. | offset + xerox

A percepção do potencial dos fanzines como ferramenta pedagógica já não é mais novidade alguma. Educadores de todo o país e das mais diversas

na argentina, os zines de ilustração têm uma produção muito mais acentu-ada do que no brasil. Fale-me um pou-co de como é essa cena em seu país e também sobre a ediciones de cero.DP – Acho que em Buenos Aires houve um cruzamento entre ovelhas negras do design gráfico, das escolas de arte, de in-teressados em street art, e todos se encon-traram em uma apreciação meio confusa do DIY local. Mas isso não seria possível se nesse encontro não conhecêssemos quem estava antes, desde a década de 80 e 90, e aqueles que vieram mais da cena musical, de raízes Old School, fazendo fanzines com opinião e distribuindo seus escritos, etc.

O que talvez aconteceu foi que, com a passagem do tempo e os designers e ar-tistas retomando a produção de fanzines, o fanzine também mudou seu espírito com-bativo para algo mais individualista e ego-cêntrico. A essa cena, eu a chamaria mais de fanzine-gráfico. Há vezes em que os tra-balhos não chegam, na minha opinião, a se ver como ilustrações ou desenhos, mas de algum modo contam uma história, desen-volvem um estilo e completam o trabalho editorial. Justamente por esse motivo, e como não me considero uma ilustradora, coloquei em vários zines da Ediciones de Cero a frase “A base de Recursos Gráficos”.

como é seu processo de criação?DP – No princípio é uma ideia! Um de-sejo incontrolável de visualizar alguma coisa. Pode ser qualquer coisa a partir de uma textura até uma série de animais, ou o que quer que seja. Uma vez que eu co-meço, concebo a seqüência e o formato

editorial... Meu trabalho nas “Ediciones de Cero” jamais foi o de juntar coisas ou peças de arte e montar um zine, mas pelo contrário, as ideias nascem diretamente como zines.

Após o entusiasmo pelo tema, cuja es-colha é livre e prazerosa, vem o processo de fotocópia, fita de papel e tinta preta, que são meus recursos de expressão. Vou e venho depois do trabalho, ou à noite, corto e colo e uso muito corretivo ou tinta acrílica branca. Trato de não ser caprichosa e ter-minar de desenvolver a intenção primária ou a ideia, e também de seguir intimamen-te vinculada a cada traço.

Finalmente, sento-me um dia e monto todo o original a mão.

o xerox, em seus fanzines, é usado como “linguagem artística.” gostaria que falasse sobre isso.DP – Talvez porque sou da época em que todos os trabalhos da faculdade se faziam a mão (e eu não conseguia parar de experi-mentar com fotocópias), pude ver como me achataram e me aplanaram tantos anos de trabalho editorial com computadores.

Um dia, no final dos anos noventa, tive a sorte de fazer um curso de “Printed Mat-ter” ( livros de artista) e foi aí que voltei a fazer o que eu mais gostava usando quase somente as mãos. Somado a isto, durante toda minha adolescência, me atraíam os “flyers” de eventos feitos com fotocópias (que ainda amo) que foram o meu maior gancho com o Do-it-yourself

flickr.com/photos/deborag.

Grude Sujo

2º ANUÁRIO DE FANZINES, ZINES E PUBLICAÇÕES ALTERNATIVASUGRA PRESS 2322

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3 PERGUNTAS PARA eduardo deLgado

disciplinas utilizam os fanzines como suporte para instruir, debater e entreter.Por mais louváveis que sejam essas iniciativas, porém, poucos destes zines apresentam uma leitura interessante para alguém que não pertença ao meio onde foram produzidos. O Gibio Zine, editado por professores e estudantes de “Prática e Pesquisa no Ensino de Ciências e Biologia” na UFSCar, é uma dessas raridades.O meio escolhido para transmitir os con-ceitos são as HQs. Obviamente ninguém espera que biólogos sejam exímios dese-nhistas e roteiristas, mas alguns colabo-radores do Gibio podem surpreender. Os traços vão desde simples bonequinhos de pau a elaboradas ilustrações realiza-das com recursos de computação gráfica, passando pelo desenho de humor e pelo mangá. O ponto comum é o senso de humor, e é precisamente isso que torna a leitura do Gibio agradável até para aqueles que não fazem a mínima idéia do que seja prófase, anáfase ou citocinese. du [email protected]

gibiograPhiaBayeux, PB – Brasil#1 (2011) | A5 | 12 ps. | xerox

Colecionadores de quadrinhos são seres peculiares, com preo-cupações, conquistas e valores que só eles mesmos entendem.Gibiographia é um fanzine do paraibano

Val Fonseca que trata deste universo de forma muito simpática. Aqui, o próprio editor – que também é quadrinhista – protagoniza HQs curtas onde ele nos conta um pouco sobre sua coleção e sobre os gibis que marcaram sua vida. Assim, compartilhamos com Val sua alegria ao completar a coleção de Akira 13 anos após tê-la iniciado e sua satisfação ao ganhar de um colega um novo exemplar do primeiro gibi que leu na vida.A arte das histórias é muito eficiente, seguindo uma linha entre o infantil e o caricatural. O único problema é a aplica-ção dos textos: o desenho dos balões ficou mal feito e a Comic Sans, além de ser uma fonte muito batida, não é agradável para leitura em corpos menores. du [email protected] gibiarte.blogspot.com

gruDe sujoContagem, MG – Brasil#1 (2008) | A5 | 20 ps. | xerox#2 (2009) |A5 | 40 ps. | xerox

Mais um zine do Desali, infame criador / editor do Estupra-me e do Zé Buceta. Aqui, ele divide as páginas com as poesias de Affonso Uchoa e as HQs do

Estandelau. Em comum, os 3 artistas possuem o gosto pela experimentação e a negação das fórmulas fáceis. É sempre uma alegria ver gente talentosa recu-

sando-se a ajoelhar para rezar o credo do mercado! O editorial do #1, aliás, explica bem o espírito que move essa turma, e é tão inspirador em sua defesa de uma arte que seja conscientemente marginal, que por si só já valeria a aquisição do zine. du [email protected] flickr.com/odesali

hoMeM caMaleãoSão Luís, MA – Brasil#6 (2010) ao #10 (2011) | A5 | 20 ps | xerox

Homem Camaleão é uma HQ roteirizada, desenhada e arte-finalizada por Ricelle Sullivan Suad, de São Luis (MA). Tanto a trama como os dese-nhos são influencia-

dos fortemente pelo universo das HQs de heróis da Marvel, DC e Image Comics, sendo que no traço há uma notável refe-rência também aos mangás japoneses.As histórias se passam neste universo típico de superheróis e seus alteregos, repleto de conspirações, “trairagens”,vinganças, reis do crime, heróis e anti- heróis uniformizados.As capas, exceto a do #6, são coloridas e os quadrinhos são em PB. Suad manda bem nas HQs, as histórias têm um ótimo ritmo, a diagramação é bem distribuída, e os tra-ços e a arte-final são muito profissionais.Uma única questão que pode ser levan-tada é a falta de elementos mais autorais e regionais ou que fujam à estética tradi-

cional dos superheróis, o que poderia pro-porcionar um diferencial a esta publicação perante outras do gênero. fg [email protected] homemcamaleao.blogspot.com

hoMeM caMaleão & the next – crossoverSão Luis, MA – Brasile.u. (2011) | A5 | 36 ps. | xerox

Uma nova aventura do Homem Camaleão, desta vez um crossover com personagens de outro autor, no caso o grupo de heróis cha-mado The Next.Um fato interessante

desta HQ é justamente esta junção de personagens e autores, ainda mais se consi-derarmos que tudo foi planejado via MSN. Os autores, Suad (Homem Camaleão) e Yagami Gijo e Yagami Bruno (The Next) vivem em lugares muito distantes do país – respectivamente São Luis (MA) e Joinvile (SC) – e não se conhecem pessoalmente!O interesse e paixão comum pelo mesmo gênero de HQs fez com que os auto-res vencessem as questões do espaço e tempo, visto que além da distância dos produtores, os heróis dos dois universos vivem em épocas diferentes (presente e futuro). Nada que um bom teletransporte não resolva! E dá-lhe pancadaria, tramas e conpirações! fg [email protected] homemcamaleao.blogspot.com

icFireNatal, RN – Brasil# 77 e #78 (2011) | A5 | 28 ps. | xerox# 79 (2011) | A5 | 24 ps. | xerox # 80 (2011) | A5 | 36 ps. | xerox

Só por chegar à 80ª edição essa publicação já merece respeito e aplausos, afinal, não é fácil publicar histórias em quadrinhos inde-pendentes no Brasil.Icfire é um herói

criado por Chagas Lima, que sozinho ou com a participação de outro herói, Ímpio, combate os males contemporâneos, onde o autor optou por utilizar técnicas de his-tórias em quadrinhos mais clássicas.As edições apresentam também uma seção de cartas em que Chagas responde às missivas dos leitores. ms [email protected] icfirehq.blogspot.com

iMaginárioItuiutaba, MG – Brasil# 1 (2010) | 23,5 x 31cm | 6 ps. | digital# 2 (2011) | 23,5 x 31cm | 8 ps. | digital

Esse fanzine já impressiona pelas ótimas capas, com fundo preto e belas ilustrações de Thiago Bertoni. A diagrama-ção também é ótima, contando inclusive

com anúncios harmonicamente distribu-ídos. Trata-se de um coletivo de artistas de várias áreas, unidos pelo intuito de produzir um material que aborde diversas manifestações artísticas, principalmente de Itaberaba.A primeira edição tem entrevista com Edgar Franco, alguns textos de conscienti-zação e tiras. Destaque na segunda edição para a matéria sobre os Novos Baianos. ms [email protected] zineimaginario.blogspot.com

para fugir da “frieza da virtualidade” da inter-net é fazer uma ideia errada da realidade que os autores têm que enfrentar. As palavras são virtuais, as ideias, as fantasias... E em todo caso é isso que temos que plasmar, e ao mes-mo tempo a coisa mais difícil de modelar.

Independente ou não, a música precisa da corporalidade e crescer para além do som. Os fanzines têm que ser reflexo disso que não é som, mas é música. O meio impresso é a forma mais evidente dessa relação.

quais os fanzines uruguaios que toda a américa latina deveria conhecer?ED – Eu gostaria de poder falar de outros fan-zines de outras épocas, mas eu não conheço.

Acho que os três que eu já falei, porque são reflexo do que esta acontecendo aqui. Mas

conseguiu o apoio de uma para vender algu-mas edições) o ponto de encontro são os sho-ws, especialmente de hardcore.

A produção é condicionada pela xerox. To-dos os fanzines são branco e preto, tamanho A4, poucas páginas.

Só tem três fanzines dedicados a música: Crecer, FTR Fanzine e En Los Nervios, também os únicos que fazem edições com regularida-de. Um é bem diferente do outro. O FTR, por exemplo, tem website, na intenção de difun-dir seu material por todo espaço possível, e é sempre gratuito.

no seu fanzine en los nervios, você abor-da essencialmente música. hoje, mesmo com a internet, o fanzine em papel ainda exerce um papel grande importância para

divulgação de música independente?ED – Exerce uma força que a internet não pode oferecer mas é imprescindível para manter os ânimos vivos, portanto é importante. O papel não é melhor do que a internet, nem vice-ver-sa. Os meios só podem ser avaliados pela sua idoneidade; o contexto vai falar melhor do que as tradições, e os meios vão criar os espaços e adaptar-se a eles. Se o fanzine impresso é importante é porque no contexto da música no Uruguai a criação de espaços físicos é de gran-de importância, a gente tem necessidade de se encontrar porque muita coisa que acontece só está acontecendo na presente geração; muita coisa morreu, então coisas têm que nascer com a ideia de que só nós podemos fazê-las.

Por outro lado, a gente vai ter sempre que lidar com o virtual. Fazer um fanzine impresso

tenho que dizer que “Crecer” é um que a América deve conhecer.

Crecer, o fanzine, foi o primeiro em mui-to tempo que começou a difundir material punk (portanto independente) com inten-ção de criar laços. Se você conhece Crecer, quer dizer que você conhece o selo Crecer Records, ambos projetos de Fabián Román que falam dum tempo que tá começando no underground local. Esse fanzine foi a inspiração que impulsionou o En Los Ner-vios, e divulgou música da região que ne-nhuma outra publicação divulgou.

Por outro lado, acho que En Los Nervios é outro zine que você tem que conhecer. É uma mistura rara de narrativa e entrevista; fala de música, mas não exatamente sobre notas e som; não tem críticas musicais.

como está a produção de fanzines impres-sos no uruguai atualmente?ED – Em Montevideo, a produção é pequena, e quase inexistente nas outras 18 cidades uru-guaias. São publicados fanzines sobre hardco-re e outras formas de punk, além de temáticas como comics, ilustrações e aquelas relaciona-das ao anarquismo e de liberação (tanto hu-mana quanto animal não-humana).

Os coletivos libertários foram capazes de ressuscitar a criação de fanzines, voltando a publicar edições e textos clássicos e de outros grupos, e distribuindo a cultura de dispor ban-quinhas em atividades como shows musicais ou outro tipo de eventos, oferecendo varieda-des de fanzines.

Dado que não têm lojas ajudando a dis-tribuir fanzines (ainda que En Los Nervios

Mundo Feliz

2º ANUÁRIO DE FANZINES, ZINES E PUBLICAÇÕES ALTERNATIVASUGRA PRESS 2524

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3 PERGUNTAS PARA riC ramos

janela PoDerosaRio de Janeiro, RJ – Brasil# 7 ao #9 (2011) | A6 | 8 ps. | digital

Editado e ilustrado por Ric Ramos, o Janela Poderosa é um fanzine de bolso que surpreende pela quan-tidade de informação que consegue dispor em tão pouco espaço.

Essencialmente, o Janela cobre a cena da região de Niterói, sendo que cada número possui um tema diferente, sempre dentro do universo do underground.O # 7 faz uma breve cobertura de iniciati-vas e personalidades “udigrudis” da região (destaque para a matéria com a Pepa Filmes); o # 8 é dedicado exclusivamente à banda Fungus & Bactérias; e o # 9 traz a primeira parte da HQ “Wer Wolf ”.Destaque para os desenhos de Ric, que dão um ar especial à publicação, seja de-senhando as personalidades que apare-cem no zine, seja através do personagem Cachorrão, que conduz as entrevistas em forma de HQ e abre o editorial dos zines de maneira divertida e informativa. fg [email protected] janelapoderosa.blogspot.com

jornal Do sábioRecife, PE – Brasil#1 (2007) e #337 (2011) | A4 | 1 p. | xerox

Essa é uma das publi-cações mais estra-nhas que recebemos. O Jornal do Sábio é publicado quinzenal-mente pelo pernam-bucano Antonio Andrade desde 2007.

Resume-se a uma folha A4 impressa em apenas um dos lados apresentando diversos desenhos, colagens e frases soltas. Existe uma propensão à crítica social neste material, mas de uma forma bem vaga e confusa. Na edição #337, por exemplo, há uma imagem do Cristo Redentor onde foi inserida a frase “Apóie o Enem” no lugar de seu braço esquerdo. Um pouco mais acima, dentro de um retângulo de linhas grossas, lê-se o texto “Ensinar é aprender. Provérbio japonês.” O que pretende o editor com esse material é uma pergunta que continua sem res-posta para mim. du R. D. João Moura, 305 – Recife / PE

CEP: 50730-030

justiça 40º: Maria Da PenhaNiterói, RJ – Brasile.u. (2010) | A5 | 8 ps. | xerox

Zine de HQ feito pela dupla Brenno Dias (roteiro) e Denis Mello (desenho e arte-final). Conta as aventuras de Carlos Guerra, ex-detetive particular que atua

como vigilante urbano, justiçando os cri-minosos impunes da Cidade Maravilhosa.A HQ é ótima, possui um roteiro interes-sante e uma trama bem cadenciada. Os desenhos de Denis Mello são muito bem feitos e dão conta do recado.Esta edição tem como tema especial a Lei Maria da Penha, assunto que aparece na trama através da filha de um personagem que sofre violência doméstica por parte de seu marido, um foragido da justiça.O criminoso não terá, porém, chance de ser julgado de acordo com a citada lei, pois Carlos Guerra fica sabendo de suas

atitudes e age impiedosamente. fg [email protected] denismello.blogspot.com

kaFeta transBelo Horizonte, MG – Brasil#2 (2011) | A5 | 32 ps. | xerox

É sempre bom co-nhecer fanzines com temáticas fora do con-vencional. Este é des-tinado para o público queer e é geralmente distribuído em even-tos relacionados com

o tema. Sua proposta é tão forte, que até agora não sei qual o gênero do editor. O visual da capa é muito bacana, utili-zando um papel abóbora que cria um bom contraste com o preto do xerox. A diagra-mação segue o velho esquema de recorta e cola analógico, que é bastante agradável.Os textos são basicamente sobre a cultura queer. Destaque para “Aumentar ou não o volume?”, seguido de um conto de Danilo Agrimani. ms [email protected]

l’atMosFereAlvorada, RS – Brasil#1 (2011) | A6 | 4 ps. | xerox

Apesar de ter uma linda capa feita pelo clássico Henry Jaepelt e um edito-rial contando breves novidades da Tchê Produções, essa publi-cação não chega exa-

tamente a ser um fanzine e sim uma base para o editor Denilson Reis escrever para seus contatos e inserir alguns flyers.

Pergunte sobre o CD-Rom com todas as edições do fanzine Tchê, tem muito mate-rial bacana. ms [email protected] tchezine.blogspot.com

la liberaciónMaceió, AL – Brasil#1 (2011) | A4 | 20 ps. | digital + xerox

Não sei se é fato ou mera impressão, mas os zines tratando so-bre questões relativas às sexualidades pare-cem se multiplicar.La Liberación é um dos que chegaram às

nossas mãos, e certamente o que mais me chamou a atenção. De cara já impressiona: é diagramado em formato horizontal so-bre papel cor de rosa e vem acondicionado em um envelope onde está impressa uma ilustração da sugestiva passagem bíblica em que Adão oferece uma maçã a Eva.Auto-proclamado um zine “pornoterro-rista”, La Liberación provoca, informa e educa. Fala sobre poliamor e transexu-alidade, faz questionamentos (“O que faz o meu pau inflar e a minha buceta ficar lubrificada?”) e parte para o ataque (“Open minded não passa de uma expres-são quando você se considera o exemplo de pessoa a ser seguido”). Sem contar as boas entrevistas com Pedro, coordenador do Grupo Mandacaru, e com o polêmico cineasta Bruce Labruce.Tudo muito bom, com exceção de algu-

mas páginas onde as letras miúdas e as linhas extensas tornam a leitura um tanto cansativa. Dividir o texto em duas ou três colunas já resolveria o problema. du [email protected]

la Mars societyBuenos Aires – Argentinae.u. (2010) | A5 | 16 ps. | xerox

Fotonovela é um tipo de narrativa gráfica com muitas possibi-lidades. Pena ser tão raro ver uma hoje em dia. Este zine é uma surpreendente exceção lançada pelos

argentinos da F.D.A.C.M.A. Sem entrar em muitos detalhes para não estragar a história, La Mars Society narra, com um humor sutil, o dia a dia de uma expedição de terráqueos em Marte. Recomendo! du [email protected] fdacma.com.ar

la PerMuraIguape, SP – Brasil#3 (2011) | A5 | 28 ps. | digital + estêncil

O trabalho de Rodrigo Okuyama é um dos grandes exemplos da importância do formato impresso para os fanzines. Ele não apenas imprime e distribui, mas produz

de uma forma que aguça no leitor o desejo de ter a publicação.Embalagem tetrapack, fita isolante, papel colorset, tinta e linha são alguns dos ele-mentos mais usados em suas produções. Para a capa impressa em estêncil, Rodrigo também utilizou uma tinta que, em con-tato com luz negra, revela uma comple-mentação do desenho.Com essa superprodução, o conteúdo po-deria ser qualquer um que passaria batido. Mas não. São HQs de alto nível feitas pelo próprio Rodrigo e seu parceiro Bruno de Castro, misturando diversos estilos e técnicas ora usando preto e branco, ora o colorido e ainda uma HQ feita em estêncil. Uma obra de arte. ms [email protected] flickr.com/rodrigo_okuyama

laDo [r]Natal, RN – Brasil#9 (2010) | 11 x 31cm | 32 ps. | offset

Esse fanzine é um dos mais legais lançados nos últimos tempos, por seu estilo peculiar, diagramação bem cuidada e matérias interessantes.Tem um pouco de tudo: his-tória em quadrinhos, matéria sobre Baracho (o bandido

quase santo), uma pequena entrevista com Emicida, matéria com a banda General Junkie e outra com o lutador Gleison Tibau (muito bacana, aliás), e uma maté-ria sobre maconha.Ainda tem um entrevistão com o “homem

em alguns números do janela Pode-rosa o personagem cachorrão faz as narrativas e entrevistas, tornando a leitura dinâmica e divertida. gostaria que falasse sobre isso.RR – O Cachorrão já existia antes do Jane-la. Eu havia criado um zine sobre Heavy/Rock que nunca saiu do primeiro e único impresso, o Folha Metálica. O mascote veio de lá e ainda mantém seu headphone. Ha-via outros personagens que não consegui colocar no zine por falta de espaço.

A redação imaginária do Janela. Eu já havia pensado em algo como tiras para o blog do zine... Um caso a pensar!

seu zine tem uma abordagem mais fo-cada na região de niterói (rj). na sua

opinião, qual a importância dos zines na articulação das cenas locais?RR – Bem, na verdade não. O Janela Poderosa, por ser um zine temático, não foca uma deter-minada região. Todo o foco está centrado no tema abordado. Se existe algo de uma deter-minada região que possa compor o mosaico de ideias, então ele será citado. Se estão lá é por mera pesquisa de campo.

Porém, os zines que informam a cena local são tudo. Zineiro geralmente não maquia o fato. Estará tudo relatado de forma apaixona-da e com detalhes.

Vale a pena ressaltar o ótimo trabalho do Fabio Barbosa com seu zine, “Reboco Caído”, e de seu programa de rádio na madruga, “Hora Macabra”, que fortalece muito a cena under-ground da região de Niterói.

como e onde é distribuído o janela?RR – A distribuição é feita via correio. Mas estou ainda estudando a possibilidade de deixar alguns exemplares em gibitecas.

janelapoderosa.blogspot.com

Misterorror

2º ANUÁRIO DE FANZINES, ZINES E PUBLICAÇÕES ALTERNATIVASUGRA PRESS 2726

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fanzine” Flávio Grão, que também é autor da ilustração da capa.A diagramação muito bem feita e a capa estilosa em papel grosso dão um toque profissional à publicação.Infelizmente, essa foi a última edição. Uma grande perda. ms [email protected] @ladoerre

lutanDo eM novo terrenoRio de Janeiro, RJ – Brasile.u. (2011) | A5 | 44 ps. | xerox + colagem

O mundo está mu-dando em passos acelerados. Conceitos e doutrinas políticas que há poucos anos ainda eram debatidos e relevantes hoje são obsoletos. O capi-

talismo também mudou e talvez tenha adquirido agora sua face mais perversa: o capitalismo do bem, da sustentabilidade e da tolerância, que assimila as críticas e dá voz aos seus críticos. Um olhar minima-mente atento, porém, percebe que as coi-sas continuam caminhando para o mesmo buraco podre de antes – difícil é detectar o

inimigo e encontrar meios de combatê-lo de forma eficaz, antes de ser engolidoe transformado em mais um produto.Mal e porcamente falando, esse é o ponto de partida dos textos que compõem este excelente zine editado pela Hurra!. São 5 textos perfeitamente traduzidos de autores de diferentes lugares do globo, cada qual apresentando sua análise do problema em questão e suas sugestões de superação. É notável, antes de tudo, a profundidade destas análises. Também chama atenção a disposição dos autores à auto-reflexão, ao reconhecimento dos erros e à identifica-ção de posturas que já não sejam condi-zentes com os novos parâmetros.Leitura indispensável para ativistas, rebel-des ou qualquer pessoa atenta às transfor-mações do mundo contemporâneo. du [email protected]

Ma que Mário?Iguape, SP – Brasile.u. (2011) | A7 | 8 ps. | estêncil

Rodrigo Okuyama é um dos grandes no-mes do fanzinato bra-sileiro atual. Com o La Permura estabeleceu um novo paradigma nos processos de con-fecção de zines.

Este mini-zine é o sinal de que o autor não para com suas experimentações, tanto nas narrativas como nos modos de fazer zines.Ma que Mário? é uma combinação dessas experimentações. Baseado no personagem dos vídeos games Super Mario, o zine foi feito através de impressão em três cores utilizando o estêncil em uma só folha de A4, que é dobrada e cortada, transfor-mando-se em um livreto de 8 páginas.A narrativa é uma homenagem ao perso-nagem e o mostra em algumas das fases conhecidas do game, terminando no en-frentamento do temido Rei de Copas. fg [email protected] flickr.com/rodrigo_okuyama

Mais barato grátisSão Paulo, SP – Brasil#2 (2011) | A6 | 16 ps. | offset

Mais barato, coisa nenhuma! Esse zine é grátis e distribuído em diversos pontos estratégicos.Os traços simples de Paulo Ito são aqui representadas em

quatro histórias. Uma sobre um sonho absurdo, outra em uma paródia muito en-graçada da canção “Desenho de Deus”, do

MariantöniosSão Paulo, SP – Brasil#1 (2011) | A5 | 16 ps. | offset

Marantönios é um zine on line criado por estudantes de um curso de pós-gradu-ação em Design. Em sua versão impressa, reúne os trabalhos considerados mais in-

teressantes já publicados na versão digital.Os artistas utilizam técnicas bem distintas (fotografia, ilustração digital, ilustra-ção manual, composições tipográficas, colagem, etc) e no geral se saem muito bem. O mais difícil, nessa era de excesso de informação, onde tudo é assimilado, apropriado e re-contextualizado, é parecer original. Por mais diferentes que as peças aqui apresentadas sejam umas das outras, a maior parte delas desperta uma sensação de familiaridade. De qualquer forma, essa busca por uma cara própria, que se impõe então como desafio-mor, é parte do projeto da publicação, como explica seu editorial: “o conteúdo desse caderno reflete as expressões e reflexões sobre arte dos participantes presentes nessas páginas, que buscam através de experimentações descobrir suas reais identidades”. O cami-nho é esse! du [email protected] mariantonios.com

MegaFoneAnaninveda, PA – Brasil#0 ao #7 (2010) | A7 | 12 ps. | xerox

O fanzine começa com o manjado número zero e pelo pouco cuidado na finalização da monta-gem, fica a impressão de que o zine é ruim. Engano feio. Tanto é,

que vou falar um pouco de cada edição, todas elas impressas em papel colorido e com dobras diferenciadas.No citado zine de estreia há uma inte-ressante reflexão sobre o tempo nos dias atuais e outro texto que compara o anime/mangá Naruto aos dilemas da vida real.“O acento em uma palavra de duas letras” é o grande destaque do número 1, que apresenta também uma entrevista com a banda Stereocope.O número 2 tem matéria sobre o filme “Iron Man” e o cantor Roberto Villar. Futebol é o tema da terceira edição. Na edição seguinte tem entrevista com Mombojó e um texto muito bacana sobre um cachorro.

A saudade é o tema do quinto número. Uma entrevista com o quadrinista Joe Bennett e matéria com a cantora Gaby Amarantos aparecem na sexta edição.A edição de número 7 talvez seja a mais impressionante. Prefiro não tecer comen-tários, veja você mesmo.Um fanzine pequeno no tamanho, mas gigantesco no conteúdo. ms [email protected] fanzinemegafone.blogspot.com

MicroFoniaJoão Pessoa, PB – Brasil#2 ao #4 (2011) | 23 x 32 cm | 4 ps. | offset

Tablóide paraibano de cultura alternativa em geral, feito por jornalistas experientes e bem humorados.Contém entrevistas, resenhas de CDs, shows, filmes e livros

(aliás, resenhas muito bem escritas, nesse último item). O visual é bem limpo e, mesmo com as letrinhas miúdas, é agra-dável de ler.Muito boas as tiras “Enquanto isso na re-dação”, de Josival Fonseca, e fantásticas as entrevistas com o cantor brega Balthazar e com o compositor Bráulio Tavares.Com tiragem de 3 mil exemplares, Microfonia tem até anúncio de um sex shop que promoveu troca de latas de leite por gel comestível! ms [email protected] facebook.com/jornalmicrofonia

MíDia Press Mail art ZineSão Paulo, SP – Brasil#5 e 6 (2011) | A5 | 8 ps. | xerox

José Nogueira faz parte da master old school dos fanzines brasileiros e até hoje mantém-se na ativa, sempre trazendo al-guma coisa nova.Há algum tempo

começou a desenvolver também trabalhos ligados à rede de mail art, que é a troca de postais e envelopes ilustrados ou mon-tados como obra única e exclusiva, que apenas os correspondentes desse circuito têm acesso.Nessa publicação, Nogueira mostra alguns exemplos de mail art que recebeu de seus amigos do mundo afora. No blog, que serve como extensão desse zine, é possível ver os postais e envelopes coloridos e tam-bém produções do próprio Nogueira. ms [email protected] inkonpapernogueira.blogspot.com

Armandinho, uma sobre pichação e outra sobre volta ao tempo.Para ler em dois minutinhos. Bacana. ms [email protected] flickr.com/pauloito

ManuFaturaSão Paulo, SP – Brasil#2 (2011) | 11,3 x 14,5 cm | 40 ps. | xerox

Flávio Grão não realiza um trabalho comum. Ele faz uma junção de ilustraçãoe poesia, sem usarsequer uma palavra. As únicas que apa-recem são onomato-

péias. Por isso, não basta passar o olho para entender o contexto.Seus traços fortes, rústicos, semelhan-tes a xilogravuras, viajam em um roteiro filosófico-poético, sempre passeando pelo inconsciente individual e coletivo.Nessa edição, subintitulada “Intempérie”, a história passeia por três estágios da vida de uma pessoa: as percepções, experi-ências e conteúdos que carregam para a eternidade.Com boa diagramação, impressão em papel vergê e tiragem numerada em 100 exemplares, Manufatura #2 mostra a evo-lução desse artista e educador. ms [email protected] flickr.com/flaviograo

Máquina De escreverFortaleza, CE – Brasil#1 ao #3 [5º ano] (2011) | A6 | 16 ps. | xeroxEdição Especial (2008) | A5 | 32 ps. | xerox

Rômulo foi uma das tantas figuras que tive o privilégio de co-nhecer em Fortaleza durante o seminário Cabeças de Papel em 2011. Jornalista, ofici-neiro e presença obri-

gatória nas discussões sobre a Fanzinoteca Imaginada, é também editor do Máquina de Escrever. Seu zine tem a cara da cena formada a partir do Zine-se, o encontro de zineiros do povo de lá: pessoal e poé-tico, trata das coisas do dia a dia e reflete sobre a cidade, tudo à base de colagens e textos manuscritos. A sacada do Máquina é eleger colaboradores e temas diferentes para cada edição, como “Renascimento”, “Você e Eu” e “Missões Urbanas”. Há também um número especial intitulado “Please Come Back the Tape”, onde editor e convidados comentam cada uma das 17 edições já lançadas do zine. du [email protected]

MisterorrorBarretos, SP – Brasil#2 (2011) | 20 x 14cm | 36 ps. | offset

Publicação de HQs criadas pelo Guilherme Silveira, incluindo algu-mas parcerias com o Matheus Moura, editor das revistas Camiño di Rato e A3.

Com histórias curtas e enredos não line-ares, Guilherme se propõe a explorar os limites dos elementos que compõem uma HQ. O resultado, como em boa parte das expressões artísticas experimentais, parece ser menos importante do que o processo, o que não desmerece de maneira alguma o material que o leitor verá nas páginas deste zine. Pelo contrário. Ao rejeitar os clichês e as soluções convencionais, o autor convida o leitor a desligar o piloto automático e entregar-se a uma leitura atenta e consciente. Talvez não seja o tipo de HQ para ser lido a qualquer momento, mas sem dúvidas é um interessante exercí-cio de estilo. du [email protected] misterorror.blogspot.com

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2º ANUÁRIO DE FANZINES, ZINES E PUBLICAÇÕES ALTERNATIVASUGRA PRESS 2928

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3 PERGUNTAS PARA oLga CostaMonoRio de Janeiro, RJ – Brasil#louco (2011) | A7 | 16 ps. | xerox

Quando recebi esta edição do Mono, reparei que na capa, ao lado do indicativo de número (#), havia apenas um rabisco. O mistério desfez-se dias depois, quando

o Zé Colméia, editor da parada, mandou a ficha de inscrição da publicação para o Anuário. “Número louco” é o que infor-mava a ficha. Como se os anteriores não tivessem sido!Folhear o Mono é como bisbilhotar aquela gaveta onde você vai guardando um monte de coisas que são legais mas não tem certeza se um dia vai usar. Pequenininho e despretensioso, sua pá-ginas trazem fotos, cartuns, ilustrações e colagens sem explicação alguma. Estão ali simplesmente porque o editor do zine curtiu – o que já é explicação mais do que suficiente, neste caso. E sem dúvida colabora o fato do Zé ter bom gosto e um senso de humor aguçado, além de mandar bem nos rabiscos. du [email protected] favodefelcomics.blogspot.com

MoonstoMP!Santos, SP – Brasil#1 (2010) | A5 | 12 ps. | xerox

A cultura skinhead no Brasil tem sido vítima da falta de informação e da distorção a res-peito do movimento.Este zine de Santos (SP) atua contra esses males e faz um bom

serviço informando sobre vários aspectos do movimento e da cultura original dos skinheads. Quando digo original, lembre-mos de reggae, jamaica, ska, Inglaterra e não de racismo ok?A matéria “Um pouco sobre o Skinhead Reggae” faz um histórico pertinente sobre as origens do ritmo e também do movi-mento, trazendo boas explicações sobre assuntos relacionados ao tema, como os mods, o rocksteady e o ska, explica tam-bém o modo como se deu a invasão do reggae jamaicano na Inglaterra.Destaque para a entrevista com Locksley Gichie, guitarrista do Cimarons, banda do lendário estúdio Trojan, tradicional grava-dora de música jamaicana na Inglaterra.Interessante pensar que um zine como esse ajuda e esclarece muito mais a res-peito do assunto do que anos de matérias

deturpadas na grande mídia. Por isso amamos fanzines. fg [email protected] flickr.com/felixbarreira

MunDo FeliZBrasópolis, MG – Brasile.u. (2011) | 14 x 20cm | 112 ps. | digital

Originalmente publi-cada em 15 capítulos divididos entre as edições dos anos 2001 a 2003 do fanzine QI, Mundo Feliz, série criada por Edgard Guimarães, final-

mente recebe sua edição completa pela editora Marca de Fantasia.A expressão “não julgue o livro pela capa” poucas vezes foi tão adequada. O título da obra, associado ao desenho de uma garota sorridente correndo de braços abertos, sugere ao leitor incauto tratar de uma HQ otimista voltada ao público infanto-juvenil. Bastaria a leitura do primeiro capítulo para provar o contrário: há pouca ou nenhuma felicidade no mundo onde esta história se passa.Mundo Feliz narra um causo lamentável – mas assustadoramente verossímil – cheio de surpresas, onde o leitor é levado a enfrentar seus próprios tabus. E consegue fazer isso com objetividade e elegância, sem apelar para o sensacionalismo.Mundo Feliz é também um delicioso exercício de linguagem. Guimarães não desperdiça a oportunidade de experimen-tar possibilidades diversas na aplicação de texto e imagem, brincando com a própria estrutura dos quadrinhos, com recursos de metalinguagem, diferentes enquadra-mentos e alterações no estilo do desenho.Complementa essa edição um farto ma-terial textual, incluindo comentários do autor e algumas das reações dos leitores originalmente publicadas na seção de cartas do QI. du [email protected]

MunDo MunDanoSão Paulo, SP – Brasil#1 (2010) | 15 x 19cm | 197 ps. | offset

Mais um livro lançado pelo selo Prólogo, Mundo Mundano reúne conteúdo selecionado entre ma-terial originalmente publicado no site de mesmo nome. Sendo

uma coletânea, os estilos e tons variam bastante. No geral, prevalece a linguagem mais objetiva e bem humorada, com jeitão de blog, mas também há espaço para tex-tos mais densos.A produção gráfica é boa, mas a diagra-mação deixa a desejar. A fonte conden-sada para textos longos é um pouco cansativa, e os espaços duplos entre os pa-rágrafos são desnecessários. Seria bacana também se cada texto fosse iniciado em uma página nova. du [email protected] prologoseloeditorial.com.br

Muy Mal hechoBuenos Aires – Argentina#1 (2009) | A5 | 20 ps. | xerox

Neste zine argen-tino lançado pela Ediciones de Cero, a artista Debora Paula mergulha na experimentação com colagens e traços utili-zando-se de diferentes

elementos gráficos, como ícones, letras, desenhos, palavras, fotos e padronagens.O resultado são páginas que alternam o caos e momentos suaves, provocando sen-sações ambíguas no leitor.Destaque para o modo como a autora uti-liza os efeitos do xerox como ferramenta e linguagem artística. fg [email protected] flickr.com/photos/deborag

na Mão jornalex unDergrounDLauro de Freitas, BA – Brasil#6 (2088), #7 (2009) e #8 (2011) | A5 |8ps. | xerox

Este fanzine – ou “jor-nalex underground”, como se definem – é publicado por alunos da Universidade Católica de Salvador e tem uma tiragem sur-preendente (20.000

exemplares na edição # 8).A tônica do Na Mão é a ironia e o humor, que à primeira vista parece “infantil”, mas nunca é gratuita, e está quase sempre atre-lada a uma postura de crítica ou reflexão, voltada principalmente, mas não apenas, aos temas locais.Fica a dica para as publicações universitá-rias que se afogam no pedantismo acadê-mico-teórico-revolucionário: o humor é um poderoso recurso comunicativo. fg [email protected] namaounderground.blogspot.com

não Fui euBrasília, DF – Brasil#1 (2011) | 21 x 21cm | 36ps. | digital

André Valente me dá tudo o que eu gosto e procuro em uma HQ. Para começar, o cara desenha muito. Seu traço é marcante, tem

personalidade, graça. Às vezes aparece mais solto e descompromissado, como na HQ sem título da página 7; às vezes aparece exuberante e cheio de detalhes, como na incompleta “Coelho”. Também adoro o fato do cara ainda fazer à mão o letreiramento – é uma pena que a maior parte dos quadrinhistas da atualidade tenha se esquecido que o texto também é um elemento gráfico. Mas não o André! Os enredos são sempre surpreendentes, injetando com sagacidade algo de ab-

o Microfonia tem tiragem de 3 mil có-pias. como é feita a distribuição?OC – Na marra! Ou seja, a gente bota a mão na massa mesmo! Separamos quan-tidades, colocamos nos envelopes, ende-reçamos, etc. Na Universidade Federal da Paraíba (UFPB) temos um parceiro/amigo Erivan que literalmente veste a camisa do jornal e distribui por lá. Temos vários pon-tos onde deixamos o jornal aqui na cida-de: lojas de discos, skate, tattoo, além de bares, bancas de revistas, mas não existe uma regra. Se tiver alguém ou algum lugar que queira o jornal a gente coloca na lista de distribuição. Além disso, temos tam-bém pessoas de outros Estados que en-viamos pelos correios e isso ainda é uma prática muito legal. Através do primeiro Anuário de Fanzines, Zines e Publicações Independentes da UGRA a gente constatou que existe muita coisa sendo publicada de forma independente, o que se torna uma inspiração imediata! Claudia Reitberg do Portal Rock Press comentou dia desses que era uma tortura administrar o espaço limitado imposto pelo papel e que hoje é um paraíso na net por não existir essa li-mitação... Tá... Beleza concordamos em 100%, mas aí a gente recebe via Renato Donizete (Aviso Final) o jornal/fanzine do Nenê Altro, o Pest: fonte pequena, 12 pági-nas (!) e muita informação! Não tem como comparar (risos). Vale salientar que todo o sacrifício da Claudia para diagramar a Rock Press ainda é uma inspiração latente quando nos vemos diante do que deixar ou cortar nas edições do Microfonia.

um de seus anunciantes é um sexshop. como é aliar a marca ao produto/con-teúdo de ambos?OC – Rapaz, isso foi uma sincronicidade. De um lado tínhamos um amigo que adora-va escrever sobre filmes eróticos e de outro um cara muito gente boa que amou nossa iniciativa! Na verdade não existiu um pla-no para aliar coisa alguma! Aconteceu e a gente deixou rolar!

o jornal tem um pé no underground e outro na cultura pop. como é lidar com diferentes tipos de leitores?OC – Qual é o pé do underground? E qual o da cultura pop? Foram essas duas ques-tões que vieram as nossas cabeças quan-do lemos essa pergunta.

O pé do underground estaria nas ban-das locais e de outros Estados que re-

senhamos que seguem a mesma linha, acrescentando aí uma linguagem um tan-to quanto descompromissada e na maioria das vezes “viajante” – como já foi denomi-nada por alguns leitores? Talvez sim, por-que a maioria das bandas resenhadas cor-re por fora do esquemão (ainda existe? Se existe as bandas de rock/pop foram exclu-ídas!). E o pé da cultura pop talvez esteja com nossos entrevistados – Tommy Keene que está na primeira edição, por exemplo, ele é pop, mas não é do mainstream, atu-almente, um dia foi; Balthazar, Cannibal e Braulio Tavares são pop? Talvez, diferentes nas posturas e conteúdo, porém, pop no alcance midiático irregular; mas temos entrevistados como a Banda Shock que é pop aqui e no Japão! E o Telegramadois-tresmeia que não é pop em lugar nenhum ainda, mas tem puta potencial... E os leito-res são diferentes? Se eles são diferentes, ainda não se manifestaram! Quer dizer, dentro das duas vertentes (risos). Então, por enquanto não precisamos lidar com nada! Só sabemos que a maior parte dos leitores assim que pega o jornal, vão logo ler a tirinha – Enquanto Isso na Redação. Isso a gente sabe que é ponto pacífico en-tre eles, o resto a gente não sabe... Ainda! (risos), mas gostaríamos de saber, então, cartas para a redação! Ops, para o e-mail, se preferirem:[email protected]

facebook.com/jornalmicrofonia.

Microfonia

Não Fui Eu

2º ANUÁRIO DE FANZINES, ZINES E PUBLICAÇÕES ALTERNATIVASUGRA PRESS 3130

Page 18: 2ADFZPA Pronto Para Download Mediafire

3 PERGUNTAS PARA Winter Bastossurdo às situações mais banais do nosso quotidiano. Não sei se é coincidência, mas o relacionamento homem-mulher é um tema recorrente em Não Fui Eu. Esse, aliás, é também o tema da única coisa que não é HQ aqui: o conto “A Donzela e o Ogro”, onde o autor prova que, além de tudo, também escreve bem. E eu nem falei que a edição é bonitona, que o formato quadrado ficou bacana, que o trabalho de cores na ilustração da capa e contra-capa é impressionante. André, eu sou seu fã. du [email protected] oandrevalente.com

neurótikas FanZineSão Paulo, SP – Brasil#7 (2011) | A5 | 8ps. | xerox

Zine feminista paulis-tano. Tem textos sobre as Mães de Maio, câncer de mama, edu-cação, preconceito no mercado de trabalho, uma reflexão sobre o uso de maquiagem

e um relato sobre o assédio de algumas garotas sobre o vocalista da banda inglesa

The Adicts durante o show em São Paulo. É um zine cheio de boas intenções, mas bem básico tanto em termos de informa-ção quanto de opinião. O potencial está aí, falta desenvolvê-lo. du [email protected] neurotikas.blogspot.com

ninguéM Presta! -alManacão De FériasSão Paulo, SP – Brasil#1 (2011) | A5 | 80ps. | digital + xerox

Ninguém Presta tem uma trajetória singular. Em 2010, en-quanto preparava uma pesquisa acadêmica sobre publicações in-dependentes de HQs, Ian Cichetto resolveu

sentir na pele a aventura da autopublica-ção e fez o número zero da NP. Acabou pegando gosto pela coisa e até o final de 2011 já tinha lançado mais 4 números. Reunidas e encadernadas, as 5 edições formam este “Almanacão de Férias”.Interessante notar as mudanças ocorridas nesta curta existência. As HQs, predomi-

nantes nos primeiros números, cederam cada vez mais espaço para textos e ilustra-ções. Paradoxalmente, nesse meio tempo o desenho do Ian evoluiu muito. No final das contas, o autor se dá bem tanto na HQ quanto no texto, mantendo sempre um senso de humor carregado de desencanto e niilismo que remete ao trabalho de Lourenço Mutarelli. Não por acaso, Mutarelli é homenageado já no nú-mero de estréia com a HQ “A Verdadeira História de Sólon”. Outras referências aparecem aqui e acolá durante a leitura: Lewis Carrol, Franz Kafka, Saint-Exupéry, Bukowski. Ou seja: bom gosto o cara tem!Ninguém Presta é o tipo de iniciativa que faz valer essa história de mexer com fan-zines. Não é uma publicação perfeita em sentido algum, mas é, certamente, uma publicação onde as idéias fervilham e a criatividade brota desavergonhada. du [email protected] zineninguempresta.blogspot.com

o berroNiterói, RJ – Brasil#14 (2009), #15 a #18 (2010), #19 e #20 (2011) | A5 | 12 ps. | xerox

Esse é um fanzine que faz muito jus ao seu nome: mete a boca em tudo que é assunto, como uma metralhadora.Estão entre seus alvos: a mídia, programas te-

levisivos, políticos, além de denúcias sobre problemas enfrentados em Niterói, onde residem os redatores do zine, e também questões de âmbito nacional.Além disso, inclui textos sobre literatura (muito bom o sobre Lima Barreto na edi-ção 19), e uma entrevista com Laerte (18).Também foi lançado um livro quando o zine completou um ano. ms [email protected] expressaoliberta.blogspot.com

o Diário Do alMiranteNiterói, RJ – Brasile.u. (2011) | 15 x 18cm | 8 ps. | xerox

Outra HQ da dupla Brenno Dias e Denis Mello (vide Justiça 40°). Esta edição traz histórias previamente publicadas em jornais e revistas dedicados

ao time carioca do Vasco da Gama.O tema, obviamente, são as façanhas do “Club de Regatas Vasco da Gama” pro-tagonizadas por alguns de seus maiores heróis: Juninho Pernambucano, Cocada,

Romário e Bellini.O futebol é um tema pouco explorado em histórias em quadrinhos no Brasil, e os autores se saem muito bem. A narrativa é empolgante e os desenhos se encaixam perfeitamente na trama, utilizando-se so-mente do preto, branco e tons de cinza.É muito interessante o modo como ambos conseguem condensar os feitos futebolís-ticos em poucos quadrinhos, sem omitir as informações essenciais. A capa da pu-blicação também merece destaque por seu “design” econômico e eficiente.Para os torcedores de outros times, fica a dica. fg [email protected] denismello.blogspot.com

o Fabuloso MunDo De cloFerraz de Vasconcelos, SP – Brasil#1 (2011) | A7 | 8 ps. | digital e xerox

Esse microzine é uma apresentação da criação de Cledson Bauhaus. Clo é uma contadora de his-tórias, que também escreve em um blog, dando dicas culturais

e falando coisas da vida.Clo vive com um pé em nosso mundo e o outro em um paralelo que é muito mais

legal. Porém, ela não descarta a ideia de melhorarmos esse aqui.O zine promete fazer links entre a edição impressa e a virtual, o que é uma iniciativa louvável. ms [email protected] mundodeclo.com.br

o naDaDorIguape, SP – Brasile.u. (2011) | A7 | 6 ps. | digital

Outro micro zine de Rodrigo Okuyama (Ma que Mário, La Permura) que traz as experimentações do autor. O Nadador propõe uma narra-tiva silenciosa feita de

modo extremamente criativo: uma folha de papel A4 dobrada 5 vezes formando 16 quadros, ocupando frente e verso.Ao abrir o zine você acompanha uma sequência de movimentos do nadador que acaba em um mergulho.Um detalhe interessante é que este per-sonagem foi confeccionado em papel de modo que se articulasse e pudesse ser escaneado em diferentes posições para “atuar” no zine. fg [email protected] flickr.com/rodrigo_okuyama

oriokNatal, RN – Brasil#2 (2011) | A5 | 24 ps. | xerox

Mais uma inicativa da Editora Universo Clima, de Chagas Lima, que também publica o Icfire.Segue na mesma linha do outro herói, mas dessa vez o protago-

nista é Oriok que, nessa aventura, teste-munha o nascimento de uma vampira. ms [email protected] icfirehq.blogspot.com

PaF! Santiago – Chile#1 ao #8 (2010) | A6 | 8 ps. | xerox

Paf! é um mini-zine xerocado, montado como um pequeno caderno sem grampo, lançado mensalmente com uma HQ com-pleta ou seriada. Seu criador é o chileno

Rodrigo Duran, e o material aqui segue a mesma linha do seu outro zine, o Duro, mas com maior ênfase no aspecto humo-rístico das histórias. Simpático e divertido,

Parte da sua produção você divulga no blog expressão liberta e a outra, no zine o berro. quais as principais diferenças entre publicar em veículo impresso e virtual?WB – Escrever em veículo virtual tem al-gumas vantagens: podemos postar sobre assuntos que acabaram de ocorrer, dando resposta imediata ao que acontece à nos-sa volta; não gasto um centavo sequer para publicar em blog; o que escrevo fica acessí-vel, no ato, a qualquer lusófono no mundo. Porém a imprensa alternativa escrita conti-nua imprescindível por alguns motivos: lê--se com muito mais atenção e comodidade o que está em papel; qualquer pessoa al-fabetizada pode curtir um fanzine quando o recebe, independente de ter acesso à in-ternet (houve um pedinte de rua que ficou felicíssimo quando lhe dei O Berro).

em um ano de fanzine, foi lançado um livro com o conteúdo produzido pelo o

berro até então. como é passar do forma-to mais básico para um mais “oficial”?WB – Foi muito gratificante alcançar isso. O jor-nalista Fabio Barbosa, grande amigo que fazia o zine comigo na época, correu atrás e conse-guiu que a Editora Independente (de Brasília) abraçasse o projeto. Assim nasceu o livro “Um Ano de Berro: 365 dias de Fúria”. Numa época em que tudo parece muito efêmero é bom ver uma produção zinística ser impressa em livro, que é um registro duradouro pra caramba.

o berro traz críticas a todo tipo de in-justiça e problema social. com o gran-de volume de informação produzida pela tv e internet, como é o desafio de nadar contra e tentar conscientizar as pessoas por intermédio de um zine?WB – É difícil nadar contra a corrente, pois os veículos de comunicação massificantes usam seu poder econômico extremo e nos afogam num mar de informações fúteis ou perniciosas. Mas, se pensarmos bem, te-mos uma força latente poderosa contra os tubarões da grande mídia. Podemos boico-tar seus jornalecos diários e suas revistas semanais idiotizantes, bem como parar de ver televisão, e, em vez disso, podemos nos voltar para fanzines, blogs, jornais comuni-tários, sindicais ou alternativos, lendo-os e também produzindo. Qualquer um de nós consegue, ao contrário do que a imprensa capitalista nos quer fazer acreditar.

expressaoliberta.blogspot.com

Ninguém Presta

Detalhe da capa do O Berro #14

2º ANUÁRIO DE FANZINES, ZINES E PUBLICAÇÕES ALTERNATIVASUGRA PRESS 3332

Page 19: 2ADFZPA Pronto Para Download Mediafire

trações (coloridas) de Isabele Frugiuele. Viva o impresso! fg [email protected] prologoseloeditorial.com.br

Pense aquiRio Claro, SP – Brasil#365 ao #367 (2011) | A5 | 12 ps. | xerox

Na cidade de Rio Claro, interior de São Paulo, existe uma ilha chamada Sechiisland. Essa ilha é gover-nada pelo artista José Roberto Sechi, proeminente figura

no meio da arte postal e é, na verdade, sua própria casa, convertida em galeria / biblioteca. Na Sechiisland, além de manter um acervo diversificado, Sechi organiza encontros e exposições. A revista é uma das ramificações deste projeto de ilha imaginária. Com uma estrutura simples e econômica, desde 2000 ela publica repro-duções dos trabalhos que Roberto recebe de todo o mundo, transformando-a numa espécie de “exposição permanente”. As es-tatísticas, publicadas na edição de número 365, são impressionantes: em 11 anos de publicação, Pense Aqui teve a colabora-ção de 1059 participantes de 72 países que enviaram um total de 8103 obras.Se você curte ou faz arte fora dos parâ-metros convencionais, esse é um trabalho digno da sua atenção. du [email protected]

Pest ZineSto. André, SP – Brasil#1 (2011) | 29 x 35cm | 12 ps. | rotativa

Nenê Altro é certa-mente um dos sujeitos mais ativos do un-derground nacional. Seja através de suas bandas, dos festivais que organiza, ou fan-zines que produz, está

sempre lutando contra a estagnação.Uma de suas mais recentes empreitadas é o fanzine Pest, que parece ter surgido da constatação de que a cena independente atual anda mal. O inflamado editorial desta edição clama por mudanças e ex-plica passos práticos e possíveis para isto.O scene report foge ao tradicional (e en-fadonho) modo como é feito na maioria dos fanzines - fragmentado e em tópicos. No Pest ele é escrito em primeira pessoa, com opiniões sinceras e em texto corrido, como em uma boa conversa. Realmente dá vontade de conhecer as bandas.Com um time de colaboradores de peso,

o zine certamente repetirá o alcance do Antimídia, antiga publicação do autor que circulou entre os anos de 1999 e 2009. Produzido em papel jornal, o Pest é tam-bém um dos poucos fanzines em atividade no Brasil em formato tablóide, o que casa perfeitamente com o seu conteúdo de co-lunas e editoriais. Além disso, vale desta-car o fato de ser gratuito, de possuir uma tiragem enorme para os padrões zinísticos (5000 exemplares) e de se sustentar com seus próprios recursos. fg [email protected] antireckordz.wordpress.com

PétalaSão Luís, MA – Brasil#1 (2011) | A4 | 12 ps. | xerox

O Pétala é um zine anarquista de São Luis (MA) editado pelos punks Jorge e Davi.Em tamanho A4, o zine foi confeccionado com sobreposição de colagens, que dá ao

zine a estética clássica dos zines punks.Nesta edição são entrevistadas as ban-das Guerra Urbana (Recife), e Restarts (Londres). Os editores fazem também boas reflexões a respeito de questões do movimento, como no texto “Enganando a si mesmo” que trata sobre o radicalismo excessivo de alguns membros da cena punk. Há também uma espécie de denún-cia a respeito do caos instalado na cidade de Paço do Lumiar.Punk is not Dead, meus amigos. fg [email protected] crostamoida.blogspot.com

Paf! é exemplo de uma forma simples, barata e eficaz de divulgar quadrinhos alternativos. du [email protected] rajubid.blogspot.com

Palestina: as PeDras Do caMinhoNiterói, RJ – Brasile.u. (2011) | 17,5 x 25cm | 36 ps. | digital

Com roteiro de Beth Monteiro e dese-nhos de Denis Mello (Justiça 40° e O Diário do Almirante) esta história em quadri-nhos foi feita para o Comitê de Luta

para o Povo Palestino no Rio de Janeiro, que segundo informações do desenhista, não cumpriu o acordo de correr atrás do recurso para a publicação. Sendo assim, o desenhista empreendeu e lançou inicial-mente a história em formato de fanzine (cujas 200 cópias esgotaram-se em dois dias na Rio Comicon de 2010). Esta versão é a segunda edição da mesma história, com capa colorida, miolo preto e branco e um acabamento profissional.A história explica a questão palestina atra-vés de uma conversa entre um avô palestino e seu neto, fazendo um retros-pecto histórico que começa há mais de dois mil anos e chega aos dias atuais.A trama é bem didática e põe o dedo na ferida, expondo manobras políticas, mas-sacres e guerras, não economizando críti-cas a Israel e ao movimento Sionista. fg [email protected] denismello.blogspot.com

Parece FilMe, Mas é viDa MesMoSão Paulo, SP – Brasile.u. (2011) | 15 x 20cm | 65 ps. | offset

Publicações indepen-dentes impressas que compilam material originalmente postado na internet são uma tendência que começa a se estabelecer e que nos faz acreditar cada

vez mais no “poder do papel”. É o caso deste livro que reúne crônicasda autora Camila Fremder publicadosanteriormente em seu blog (que possuio mesmo título do livro). As crônicas do livro, em tom pessoal, gi-ram em torno de temas da vida da autora, como relacionamentos, a vida na cidade de São Paulo e a internet, sempre sob o ponto de vista do universo feminino.O acabamento do livro é muito bem feito com páginas em papel couchê e belas ilus-

PiecesCampinas, SP – Brasil# 3 (2010) | A5 | 36 ps. | offset

O roteiro dessas oito histórias devem ter como base poesias, pois elas fluem às vezes de maneira fina, e em outras, de forma mais dura. E é exatamente com uma

poesia de Ana Recalde que a revista de Mario Cau é apresentada.Os traços de Cau tem um pézinho lá nos mangás, mas a referência maior em seu trabalho fica ali perto de Craig Thompson, com um traço simples mas bem traba-lhado. As mulheres que desenha lembram a escultura corporal de Druuna e Elektra Assassina. Ou seja, só mulherões!O foco das narrativas está na solidão, em relacionamentos mal resolvidos e até em crises criativas do autor. “Deslocado” é a história mais crítica e bem executada da edição, fazendo referências ao mundo virtual que vivemos.Curiosidade: Mario Cau fez parte do dream team do MSP+50, série de álbuns lançados pela Panini Comics em co-memoração aos 50 anos de carreira do Maurício de Souza, onde artistas de diferentes estilos e gerações apresentavam releituras da Turma da Mônica. ms [email protected] mariocau.com

PiratasSão Paulo, SP – Brasil#1 (2007) | 9,5 x 13cm | 16 ps. | digital#2 (2011) | A6 | 28 ps. | offset

3 PERGUNTAS PARA guido imBroisi

seu novo álbum, quadro negro verde, tem uma influência marcante do cine-ma, incluindo uma homenagem explí-cita ao filme “Medo e Delírio em las vegas” na hq “terra de sal”. Fale um pouco sobre os filmes / diretores que você gosta e de que forma eles influen-ciam seu trabalho.GI – O cinema é uma mídia que influência grande parte das pessoas que produzem quadrinhos, sendo que não sou exceção. Nos filmes sempre fico atento as perscti-vas visuais diante do cenários, o movimen-to das cameras, aos figurinos do persona-gens e a fotografia, como exemplo posso citar os trabalhos do Diretor Terry Gilliam, onde esses elementos são recorrentes a cada novo filme, como uma espécie de assinatura, sem mencionar que seus fil-mes na maioria tratam das questões do subconsciente, sanidade versos insanida-de e realidade versos fantasia, eu particu-larmente sempre me interessei muito por isso, e sempre tento trazer um pouco disso em minhas tramas. Na minha insignifican-te opinião acredito que a sua obra prima é o filme “ Brazil “,onde todos os elementos que eu citei anteriormente são encaixados de maneira realmente brilhante.

uma mudança significativa em qnv é o abandono das hachuras e detalhes excessivos e a adoção de uma estética mais limpa. Porque a mudança?GI – Bem essa pergunta eu sabia que ia rolar. O que acontece, durante a minha pequena trajetória, datando de 2007 prá cá minhas ilustrações e quadrinhos tinham um grande apelo pelas hachuras, sempre

indo ao máximo de preenchimento das su-perfícies e conforme o tempo foi passan-do, novas influências foram surgindo, e a maneira como pensamos e acreditamos no nosso trabalho vai mudando também, eu tenho acompanhado muito o trabalho de alguns japoneses como Katsuhiro Otomo que recentemente lançou um livro sobre ciclismo, Suehiro Maruo, Takato Yamamo-to, Hayao Miazaki e companhia limitada. Todos esses autores apresentam um traba-lho extremamente rico em detalhes visuais sem a utilização de hachuras muito car-regadas, acredito que essas novas velhas influências são um dos motivos da minha mudança pra com meu trabalho, mas digo aqui que isso não é um adeus as hachuras feitas com pontos.

inicialmente, qnv teria 3 histórias: “tunô”, “terra de sal” e “Dois Dois”. Porque essa última ficou de fora?GI – Essa história ficou de fora por duas ra-zões, primeiro: quando estive em reunião com Alex Vieira (Prego Publicações) ficou claro para nós que o quadrinho “Dois Dois” não dialogava com as demais histórias por apresentar um enredo de ficção científica, não que houvesse problema em publicar histórias com tramas e estilos diferentes, o que me leva ao segundo ponto: o fator tempo. Não ouso dizer que não tive tempo, mas infelizmente não consegui me organi-zar de maneira adequada para finalizar o quadrinho.

quadronegroverde.blogspot.com

Detalhe da HQ Tunô, publicada no álbum Quadro Negro Verde Querido Amigo

2º ANUÁRIO DE FANZINES, ZINES E PUBLICAÇÕES ALTERNATIVASUGRA PRESS 3534

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3 PERGUNTAS PARA FÁBio BarBosa

Piratas na caótica Rua 25 de Março e nos subterrâneos das cida-des brasileiras? Sim! E não são os piratas do Laerte, mas a indisci-plinada trupe criada por Marcos Venceslau.

Na verdade, os desenhos de Venceslau para seu bando criminoso guardam mais semelhança com os piratas que S. Clay Wilson criou para a lendária Zap nos idos dos anos 60. A diferença é que enquanto os baderneiros americanos entregavam-se sem pudor a orgias dignas de um Marquês de Sade, seus colegas brazucas estão en-volvidos com políticos corruptos, falsifi-cação de produtos e, logicamente, diversas trapalhadas em alto mar.Estas duas edições especiais de Piratas reunem histórias originalmente publica-das no zine Subterrâneo e no livro Tiras de Letras, além de material inédito. du [email protected] piratashq.blogspot.com

Poesia Para el PicaPorteBuenos Aires – Argentina#1 (2008) | 21 x 9cm | 7 lâminas | fotoduplicação

A exemplo da edição do Anormal resenhada neste Anuário, Poesia Para El Picaporte desafia as concep-ções usuais de “zine”, ou até mesmo de “publicação”.

A ideia é ótima: são 7 folhas soltas, recor-tadas no formato daqueles avisos de porta que se usam nos hotéis, cada uma delas com uma poesia de um autor diferente. Os temas e estilos das poesias variam bastante, e assim como eu apontei no zine Danken, não me sinto apto a comentar poesia em uma língua que eu não domino.De qualquer maneira, só a originalidade e a excelente apresentação visual já fazem Poesia Para El Picaporte valer a pena. du [email protected] fdacma.com.ar

PoPFuZZ ZineMaceió, AL – Brasil#1 e #2 (2011) | A5 | 12 ps. | xerox

Pop Fuzz é um co-letivo alagoano que resolveu levar o rock a sério. Realizam even-tos, apóiam iniciati-vas locais, organizam palestras e mesas redondas, distribuem

material independente e editam este zine.O primeiro número seguia a fórmula tradicional dos zines de rock, com en-trevistas, resenhas e informações sobre bandas. O número dois é mais estranho: começa com uma HQ tosca (e hilária!), segue com um texto que parece ter sido escrito por uma criança, um pôster do My Midi Valentine, tablaturas para músicas do Super Amarelo e Dad Fucked and The Mad Skunks, e finaliza com o release da banda Projeto Sonho. Bacana, especial-mente se você estiver familiarizado com essas bandas. O layout é bem “largado” e tem aquele jeitão de anos 90. du [email protected] popfuzz.com.br

Povo – literatura hiP-hoPianaSão Paulo, SP – Brasil# 02 (2011) | A5 | 28 ps. | xerox|

O rock é o estilo mu-sical que mais adotou os zines como veículo e, dessa forma, são poucas as publicações sobre a cultura hip- hop. Nesse tocante, a aparição do Povo é

uma grata surpresa.O conteúdo consiste em poesias sobre a cultura hip-hop e ilustrações no estilo de grafites, de diversas partes do mundo, provando que os Racionais MCs estavam certos quando afirmaram que “periferia é periferia em qualquer lugar”, pois as reali-dades e conteúdos dos textos e ilustrações são bem parecidos.Boa iniciativa, que outros manos e minas se inspirem e lancem mais títulos. ms [email protected] povo-povo.blogspot.com

PovoanDoPelotas, RS – Brasil#1 (2011) | A5 | 12 ps. | xerox

Povoando é um zine cujo objetivo decla-rado é “divulgar idéias através da arte”.Trata-se de uma com-pilação de ilustra-ções do artista Felipe Povo. O zine contém

uma ilustração por página, de traços bem marcantes e hachuras, formando ícones que remetem a desenhos de tatuagens da velha escola.

O tema dos desenhos transita pelo uni-verso da arte urbana, com sprays, palha-ços, skate e caligrafias estilizadas.Como os trabalhos são feitos em preto e branco, sem nuances e com traços vigo-rosos, a reprodução em xerox reproduz com fidelidade os desenhos, proporcio-nando assim um conjunto esteticamente poderoso. fg [email protected] flickr.com/ovop

PregoVila Velha, ES – Brasil#5 (2011) | 20 x 28cm | 80 ps. | offset

Após completar o ci-clo de 4 capas fazendo referência ao padrão de cores CMYK (ciano, magenta, ama-relo e preto), a revista Prego inaugura com esta “edição sonora”

a trilogia que contará também com uma edição sobre drogas e outra sobre sexo.Assim, o tema “som” – e não necessaria-mente “música” – permeia todas as pági-nas deste número. De qualquer maneira, há uma predominância de referências ao

algo que chama atenção no reboco caído é o fato de ele ser um zine políti-co que não levanta nenhuma bandeira específica. em nenhum momento ele se apresenta como uma publicação anarquista ou socialista, por exemplo. essa é uma decisão consciente ou ape-nas reflexo da sua própria postura?FB – Com certeza é um reflexo do meu eu. Há muito tempo não me sentia a vontade dentro de movimentos ou com o trabalho em grupo. Fui cada vez mais dando pre-ferência ao trabalho solitário. Não farei críticas a quem prefira atuar em grupo. Essa forma de agir também é importante. O caso é que, para mim, trabalhar sozinho foi se mostrando mais produtivo. O Reboco é o que penso e acredito como individuo. Não tenho de ser coerente ou manter uma postura. Mudo de opinião quantas vezes quiser e achar necessário. Esse trabalho não é o pensamento de um grupo, mas de um cara que não consegue se conformar com as coisas como estão e que não quer fazer parte dessa grande máquina de moer carne. É um grito inconformado.

e o impresso. Mas vamos ver. Quem sabe amanhã não mude de ideia e mergulhe no mundo virtual com a mesma vontade de antes? Não me obrigo a nada. O trabalho tem de fluir de forma natural e agradável.

os temas abordados pelo reboco caído extrapolam as fronteiras das subculturas jovens, onde estão, geralmente, os leito-res de zines. o que você espera do reboco e qual é o alcance que você crê que ele possa ter?FB – Essa pergunta é difícil, pois não penso nele dessa forma. Faço pela necessidade in-terna que tenho de fazer. Para onde vai e até quando não são questões que passem pela mi-nha cabeça. Até pensei nisso ao ler a pergunta, mas não consegui alcançar uma resposta.

reboco caído é também um blog. Porque manter as duas versões? qual o critério para decidir que material entra na versão impressa e qual vai para o blog?FB – Atualmente ele é apenas impresso. Es-tou meio enjoado de internet. Embora seja uma importante ferramenta, que abre muitas portas e apresenta inúmeros caminhos, não tem me dado o mesmo tesão que o impres-so. O blog não existe mais. Ainda mantenho o twitter, o facebook e o e-mail para receber in-formativos e passar as informações que julgo relevantes. A ideia é ficar apenas com o e-mail

rock and roll – o que não é surpresa, já que boa parte do time que edita a revista tem alguma ligação com este universo.Todo material aqui é de alto nível, com destaque para os colaboradores usuais, como Chico Felix, Diego Gerlach, Guido Imbroisi e Pietro Luigi.Outro ponto alto é a matéria sobre carta-zes punks, com reproduções de trabalhos antológicos da cena nacional e entrevistas com alguns dos mais destacados artistas deste meio. Leitura obrigatória. du [email protected] revistaprego.blogspot.com

ProDutoSão Paulo, SP – Brasile.u. (2011) | 14,5 x 10cm | 20 ps. |offset + serigrafia

Produto é um livreto de HQ feito por Rafael Química. O zine vem embalado por uma estilosa capa em pape-

lão impressa em vermelho e possui duas histórias interligadas. Ambas as histórias não possuem palavras e são conduzidas através de desenhos lim-pos e uma narrativa sutil, cujo persona-

gem principal é um tomate (exatamente, um tomate).Mas apesar da sutileza, este zine traz pertinentes reflexões a respeito das coisas, seus valores relativos e o modo como são transformadas em produtos. Metalinguagem, meus caros... fg [email protected] quimicarafa.blogspot.com

ProFeciaPinhalzinho, SC – Brasil#29 (2012) | A5 | 28 ps. | xerox

Embora seja datado de 2012, esse fanzine foi lançado no ano anterior, meio que brincando com o seu próprio nome.Profecia publica HQs de seu editor, Jerry

A. Souza, em dois estilos. Um da série “Brandar”, dividida em três partes, con-tando com a arte-final de Daniel HDR e Fernando Melo. Essa série é uma história no estilo ficção científica futurística, ima-ginando como seria o contato com seres de outros planetas. Mas Jerry se sobressai mesmo quando investe no humor e em

Piratas

2º ANUÁRIO DE FANZINES, ZINES E PUBLICAÇÕES ALTERNATIVASUGRA PRESS 3736

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3 PERGUNTAS PARA Joana Frederiqueseus traços mais descompromissados, como em “Gente que Faz” e “Profecia”.Curiosamente, suas histórias foram feitas no começo dos anos 1990.No final do zine há também o artigo “O que é fanzine 2.0”. ms [email protected]

PrólogoSão Paulo, SP – Brasil#1 (2009) | 14 x 21 cm | 74 ps. | offset

Em sua primeira edição, Prólogo reúne cinco escritorespaulistas de estilos bem diferentes um dos outros. O livro tem um visual bem bacana, com diagra-

mação moderna e capa colorida.O primeiro a apresentar seu trabalho é Raphael Gancz, poeta amargurado, pessimista, contra tudo e todos. Camila Fremder faz crônicas sobre a sua própria vida, usando e abusando do sarcasmo, sem nunca fugir da reflexão e com boas doses de bom humor. “Complexos de japonês” talvez seja o tema principal da contribuição de Vitor Akeda para essa coletânea. “Espiral da decadência alvaro- citava” é o seu conto mais bacana.Os textos de Mariana Portella são tão pessoais que às vezes fica a impressão de que ela fala em um dialeto dife-rente. Complexo, assim como as fadas e duendes. Finalizando esta edição, Flávia Melissa faz crônicas de seu cotidiano de-sastrado. “Se a moda pega” e “A flor” são engraçadíssimos. ms [email protected] prologoseloeditorial.com.br

ProMises are shitMendonza – Argentina#1 (2011) | A5 | 12 ps. | xerox

Um zine com o formato clássico dos zines dos anos 90: entrevistas com bandas, alguns textos, projeto gráfico híbrido entre o digital e o manual. Apesar de

não levantar bandeira, os bate-papos com John Porcell (membro de bandas como Youth of Today e Shelter) e com a banda Amenaza Fantasma, de Córdoba, indicam uma aproximação do Promises Are Shit com a cena straight edge. Também são entrevistados os integrantes do Pânico no Es El Mensaje e o criador do blog Pop to Core. Simples, mas passa seu recado. du [email protected] facebook.com/Yayartha

quaDro negro verDeVila Velha, ES – Brasile.u. (2011) | 19 x 23,5cm | 36 ps. | offset

Passado pouco mais de um ano da publica-ção de Vulgar Manual, Guido Imbroisi lança seu novo álbum, novamente pelo selo Prego Publicações. Em Vulgar Manual

a tônica era o exagero, com suas páginas tomadas de cenas grotescas carregadas de hachuras obsessivas e detalhes minúscu-los. Sem dúvida era possível antever ali o talento e o potencial de Imbroisi, mas ler Vulgar Manual foi um pouco como ter

o prazer de folhear o caderno de escola daquele moleque estranho que senta no fundão da classe e vive desenhando. O que mais surpreende em QNV é o tanto que esse artista capixaba amadureceu em tão pouco tempo. Temos aqui um autor conciso e seguro de seu estilo, sem aban-donar suas melhores características.“Tunô”, a primeira das duas histórias que compõem esse volume, chama atenção pelo seu visual clean, num estilo seme-lhante ao famoso “linha clara” do Hergé. O enredo é insólito e surpreendente como um filme do David Lynch e os diálogos são impagáveis. A segunda e última his-tória, “Terra de Sal”, é cheia de referências ao filme Medo e Delírio em Las Vegas, mantendo em alta o nível de insanidade do texto. Muito interessante a utilização dos tons de cinza na arte dessas páginas.A HQ independente brasileira vive uma boa fase, com uma nova geração de artistas publicando material de extrema qualidade, e Quadro Negro Verde é prova inequívoca deste fato. du [email protected] quadronegroverde.blogspot.com

quase ZineMaceió, AL – Brasil#3 (2008) | A5 | 24 ps. | xerox + serigrafia

O Daniel é foda: desenha pra cacete, é designer de mão cheia e colabora com o Sirva-se, um dos melhores blogs brasileiros dedicados à cultura alternativa.

Quase é o zine dele, e obviamente não poderia decepcionar.

Visualmente, a publicação prima pela simplicidade e clareza, com diagramação limpa e funcional. Um detalhe interes-sante é a capa e contra-capa, para as quais Daniel utilizou folhas de um livro antigo. O zine vem dentro de um envelope com uma ilustração serigrafada e acompanha 5 stickers com desenhos que, acredito, são de autoria do próprio Daniel.O conteúdo do Quase reflete o gosto do editor pelo design, pelo punk rock e pela cultura do skate. Temos lá uma boa entrevista com o artista plástico e músico Sesper e um bate papo com o fotógrafo e também artista plástico Flávio Samelo, conhecido entre os skatistas por seus trabalhos para revistas como 100% e Vista. Finaliza a edição um conto de Victor de Almeida ilustrado pelo Daniel.Inteligente e despretensioso, Quase é um zine de leitura rápida e interessante. Apesar dessa edição ser de 2008, espero que o Daniel dê sequência ao projeto. du [email protected] quasezine.blogspot.com

queriDo aMigoRio de Janeiro, RJ – Brasile.u. (2011) | A5 | 8 ps. | xerox

Este fanzine foi feito pela autora como uma alternativa às facilidades da internet para divulgar seus desenhos de forma física. É um zine de ilustrações feito com

afeto e cuidado, como um diário. Só que neste caso o diário tem acertadamente um rústico martelo desenhado na capa.E é neste contexto de “conforto des-confiado” que se situam os desenhos da Mariana: criaturas “fofas” aparentemente inocentes que carregam consigo sempre um ícone de estranhamento (tatuagens, garrafas, cruzes). Um sutil exercício de criatividade e estilo.Desconfie das criaturas fofas, sempre. fg [email protected] flickr.com/mariana_moyses

reboco caíDoNiterói, RJ – Brasil#4 e #5 (2011) | A5 | 24 ps. | xerox

Reboco Caído nasceu tímido, sem alarde, mas com muita garra. Agora em sua quinta edição, o zine mostra que veio para ficar. A grande força desta publicação são os

você chama “saída pela porta dos fun-dos” de livro-coisa. o que seria isso?JF – Na verdade, quando fiz esse zine eu não tinha a intenção de publicar. Fiz para repensar algumas coisas que tinha viven-ciado, a forma como eu e as pessoas ao meu redor se relacionam e a forma como eu estava lidando com essas relações. Criei muitos desenhos e textos para con-seguir visualizar o que estava sentido. Por isso comecei a chamar de livro-coisa, por-que não sabia direito o que era aquilo.

no brasil não é muito comum os perzi-nes (personal zines). como é publicar um “livro aberto” de sua vida tendo o fanzine como veículo?JF – Mostrei para algumas pessoas mais próximas que acabaram se identificando com alguns pedaços dele e por isso tive-mos conversas incríveis. Foi aí que percebi que poderia ser uma boa ideia transformá--lo em zine, porque trata de questões pessoais que todxs passamos mas muitas vezes deixamos de lado porque “é pesso-al”, e não discutimos embora sabemos que essas “questões pessoais” são grande parte das nossas vidas e influenciam dire-tamente nas nossas decisões e posiciona-mentos políticos. Eu acredito sim que “o pessoal é político” e que temos que parar

com besteiras como “em briga de marida e mulhero não se mete a colher”.

você edita seu fanzine de forma pouco convencional, utilizando-se de diversos recursos e materiais como tecido, pa-péis de gramaturas e transparências diversas, cores etc. Por que optou por um formato tão peculiar?JF – Eu acredito que não são só os dese-nhos ou os textos que comunicam alguma coisa, toda a forma como esse material é editado e organizado podem fazer muita diferença. Por isso, cada detalhe de pa-pel, cor, espaço em branco foi pensado e embora não sejam notados num primeiro momento, acredito que essa composição faz parte de como a pessoa vai perceber o material e digerir aquela informação. Por exemplo, tem uma parte que coloco um texto em uma transparência, depois um desenho no papel vegetal e depois outro desenho em um papel sulfite, quando você olha os três juntos, dá para perceber as camadas e como aquelas coisas que estão nos papéis mais transparentes são difíceis de ler, porque tratam de coisas sutis que acontecem e que acabam encobertando toda uma relação de poder bizarra (re-presentada no último desenho da folha sulfite).

Quadro Negro Verde

2º ANUÁRIO DE FANZINES, ZINES E PUBLICAÇÕES ALTERNATIVASUGRA PRESS 3938

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textos. Com sua escrita objetiva e bem articulada, Fábio Barbosa está sempre provocando, questionando e expondo sua indignação, sem apelar para a pregação ideológica. Pelo contrário, é notório o es-forço do editor em reunir no zine vozes de diferentes setores e perspectivas. Assim, entre os entrevistados figuram nomes que vão de Carlos Pankararu, líder do Acampamento Indígena Revolucionário, até nosso querido Law Tissot, mentor da Fanzinoteca Mutação; da escritora Helena Ortiz, editora do jornal Panorama da Palavra, até o irreverente Hulkabilly, vocalista da banda Kães Vadius. Faz falta apenas um textinho introdutório para as entrevistas, para que o leitor entenda quem é o entrevistado e porque ele está ali. Um pouco mais de imagens também ajudaria, especialmente quando o entre-vistado é artista visual.Além das entrevistas, completam o zine pequenas crônicas, poesias e artigos, todos imbuídos da onipresente crítica social. du [email protected] rebococaido.blogspot.com

revista cineMinhaRio Claro, SP – Brasil#1 e #2 (2011) | A5 | 28 ps. e 36 ps. | offset

A Revista Cineminha é mais uma inicia-tiva que revela uma tendência que começa a se estabelecer: a de blogs (fudidosemal-pagos.wordpress) ou sites que sentem a

necessidade de materializar-se impressos.Aqui o tema é o cinema independente. A revista dispõe um panorama interessante e crítico sobre o assunto através de diversos tipos de textos (resenhas, artigos, matérias etc) que dosam o local e o global, o pas-sado e o futuro da sétima arte.Na “Primeira Transgressão (#1)” destaco a inspiradora história do personagem Georgitos de Itararé (SP), a matéria a respeito da “Gambiologia” (ciência da Gambiarra) aplicada ao audiovisual e o texto de Bruno Nicoletti “Um Cinema de Expressão”, que discorre sobre a influên-cia da estrutura narrativa e da verossimi-lhança no cinema atual.Na “Segunda Transgressão” há um pertinente aprofundamento no posicio-namento político (não partidário) da revista, que conduz a discussão para um questionamento sobre a função do cinema brasileiro dentro de nosso atual contexto sócio-econômico.A Revista Cineminha cumpre perfei-tamente a função de inserir o leitor no

universo do Cinema Independente e au-têntico, e possibilita que este agregue in-formações relevantes sobre o assunto. fg [email protected] fudidosemalpagos.wordpress.com

rock aos MontesMontes Claros, MG – Brasil#1 (2011) | 15 x 10cm | 10 ps. | digital

Ultimamente, mui-tos universitários da área de comu-nicação pesquisam sobre os fanzines

em diversos pontos de vista. Essa publica-ção é o produto do trabalho de conclusão de curso de Ricardo Guimarães.O fanzine foi montado de uma forma diferente, com dobraduras inteligentes em uma folha de couché A3, impresso em ambos os lados, colorido.Nessa edição de estreia, encontram-se ma-térias sobre bandas locais, fanzines, discos clássicos, livros e ainda entrevista com duas personalidades da cidade: Wagner Black e Marcos Philipe.Rock aos Montes conta ainda com uma versão on-line e promete sair bimestral-mente. Se mantiver a qualidade gráfica e continuar divulgando os talentos locais, vida longa! ms [email protected] zinerockaosmontes.blogspot.com

ruMo à Mais queer Das insurreiçõesRio de Janeiro, RJ – Brasile.u. (2011) | A6 | 20 ps. | xerox

A potência deste livreto é inversamente proporcional ao seu tamanho. A pauta aqui é a compreensão da identidade queer, a identificação de seus oponentes e um cha-

mado à luta. E a luta aqui não é pela inte-gração e assimilação dos queers às institui-ções como elas existem hoje, mas sim pela destruição destas instituições. Ao lançar este convite insurrecional, o texto apro-veita também para fazer uma pertinente crítica à numerosa parcela da comunidade gay que luta por sua inclusão no exército ou pela legalidade do casamento entre pessoas do mesmo sexo. “Se genuinamente queremos destruir essa totalidade, preci-samos criar uma ruptura. Não precisamos de inclusão no casamento, no exército ou no estado. Precisamos destruí-los”. Wow!Confesso que a utilização do x em subs-tituição aos indicativos de gênero nas pa-lavras (como em “elxs” ao invés de “eles”,

por exemplo) me incomoda um bocado. Por mais que seja uma escolha politi-camente correta e coerente com o tema abordado, provoca algumas confusões e torna a leitura um pouco cansativa. du [email protected]

sagraDo brutal coreSão Paulo, SP – Brasil#3 (2007) | A5 | 16 ps. | xerox

Curiosamente lançado em 07/07/07, esse zine segue bem ao contrá-rio do caminho do 666, divulgando, nessa edição, bandas que propagam mensagens evangélicas.

Essa publicação faz parte do grupo Sarau Comics Edition, resultado de um sarau realizado na zona sul de São Paulo.Além de releases das bandas, tem entre-vista com Trino, letras de músicas e textos.Cópias com qualidade muito boa, mas faltou um cuidado maior com os limites das margens. ms [email protected] facebook.com/saraucomicsedition

saíDa Pela Porta Dos FunDosSão Paulo, SP – Brasil#1 (2011) | 15 x 17cm | 50 ps. |xerox + colagem

No Brasil, não são muito comuns os perzines, aqueles fanzines nos quais seus editores contam suas histórias, sejam elas de forma direta

ou em metáforas. E esse “livro-coisa” de Joana Frederique representa bem as pou-cas publicações desse gênero. Não apenas pelo tipo de assunto, mas pelo formato físico da publicação que conta com os mais diversos tipois de materiais, como papel paraná, vegetal, tecido, transparên-cia, além de intervenções com lápis de cor, grafite, canetinha e ainda recortes que se intercalam com as páginas.O conteúdo segue em forma de crôni-cas, poesias e ilustrações que contam de diversas formas as angústias e resoluções enfrentadas pela autora.Uma publicação muito bem feita e cor-rendo por fora dos padrões que estamos acostumados a ver. ms [email protected]

saiDêraNiterói, RJ – Brasil#1 (2010) | 30 x 21cm | 32 ps. | digital#2 (2011) | 20 x 28cm | 36 ps. | digital

“Revista indepen-dente, sem patrocínio e sem medo de colo-car a cara a tapa”. É as-sim que Denis Mello define sua publicação. Os dois primeiros itens são fáceis de

entender, já o último, só lendo mesmo.Denis tem um traço muito bom, um humor bastante apurado e suas histórias funcionam muito bem.A primeira edição foi a publicação mais vendida durante a Rio Comicon 2010 e totalizou mais de mil exemplares vendidos em 2011 – um ponto mais que positivo tratando-se de quadrinhos autorais.Algo muito comum em suas histórias é que o álcool sempre dá as caras e o under-ground carioca está sempre presente.Bacana também são as atividades e de-safios para os leitores, sempre ligados ao personagem principal e, claro, álcool.Curtição boa, mas “desaconselhável para menores de 16 anos e gente chata”. ms [email protected] denismello.blogspot.com

saloMão ventura –caçaDor De lenDasAraruama, RJ – Brasil#2 (2011) | 16,5 x 24cm | 24 ps. | offset

Essa HQ indepen-dente foi feita inte-gralmente por Giorgio Galli e apresenta o personagem Salomão Ventura em uma de suas aventuras.Salomão serve na ver-

dade como elemento para que o autor ex-plore as lendas brasileiras com uma abor-dagem nada infantil, calcada nos estudos do folclorista brasileiro Câmara Cascudo e na tradição dos quadrinhos brasileiros de terror. Nesta edição, o Curupira apavora um grupo de cientistas gringos em missão de biopirataria na Amazônia brasileira.A produção desta edição é muito capri-chada, com desenhos e arte-final excelen-tes. O roteiro também soma pela atuali-dade, originalidade e pelo fato de inserir temas nacionais na trama.Em meio à repetição das desgastadas fór-

Povoando

Salomão Ventura - Caçador de Lendas

2º ANUÁRIO DE FANZINES, ZINES E PUBLICAÇÕES ALTERNATIVASUGRA PRESS 4140

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3 PERGUNTAS PARA danieL meLim

mulas de super heróis, Salomão Ventura é uma HQ que merece respeito. fg [email protected] salomaoventura.blogspot.com

sangue nos olhosMaceió, AL – Brasil#7 (2011) | 15 x 23cm | 32 ps. | xerox

Zine de Maceió (AL) feito pelos zineiros Gilson, xSacix e Jean, cobre a cena straight edge brasileira através de entrevistas (bandas Libellulla, Meia Lua e Soco e Vivenciar),

poemas, quadrinhos e muita reflexão.Os textos reflexivos aparecem em formas de poemas ou artigos que trazem questio-namentos sobre assuntos locais e globais, como sociedade, cotidiano, ecologia e veganismo, sem nunca fugir da “atitude mental positiva”.

A diagramação é clássica, feita com letras e colagens. Em uma próxima edição os editores poderiam tomar mais cuidado com os quadrinhos, pois neste número (talvez por questão de espaço) eles foram reduzidos de modo excessivo em seu tamanho, o que comprometeu um pouco sua leitura e visualização. fg [email protected] fotolog.com/sanguenosolhos

sei lá ZineSão Paulo, SP – Brasil#1 (2009) ao #10 (2011) | A5 | 8 ps. | xerox

As três primeiras edi-ções desse zine foram dedicadas à história em quadrinhos “A flor”. Até a edição 6, Wallace manteve as histórias sempre liga-das ao amor e perdas.

A partir da sétima edição, há um editorial

só Meu gato Me entenDeFortaleza, CE – Brasil#17 (2011) | 10,5 x 10 | 12 ps. | xerox

Pequeno zine literário fortalezense escrito e editado pelo Filipe Teixeira. Nesta edi-ção temos o conto “Revolution (ou o

MST não destrói apenas pés de laranja)”, uma história elíptica sobre amores e ideo-logias. Temos também a crônica “O Herói Fuma” – um desabafo sobre o enfadonho mundo politicamente correto – e a seção “Vox Populi”, com alguns comentários de leitores sobre outros textos do autor.A escrita aqui é fluída, sóbria e livre de maneirismos, fazendo deste zine uma lei-tura prazerosa e marcante.Vale a pena também visitar o blog Eu Digo Porque Vi, outro canal utilizado pelo Filipe para publicar seus textos. du [email protected] eudigoporquevi.blogspot.com

soFia alvareZ

Sofia é uma artista co-lombiana que atua nas áreas de ilustração, design, quadrinhos e animação. Ela nos mandou um envelope com 4 pequenos zines de sua autoria: Fauna

Para Tomar El Te, Fiesta de Los Animas Mutantes, Uaaargghh! e Lãs Bañistas. Todos no formato sanfona, coloridos e com tiragem limitada a 50 cópias. Os de-senhos de Sofia têm algo de infantil, com suas linhas trêmulas e pintura que parece ter sido feita com canetinha hidrocor. Os temas, no entanto, são insólitos, bizarros, e geram um leve desconforto, criando um contraste interessante. Não é exatamente um trabalho original – seu estilo se asse-

melha a imagens que vemos na MTV ou na revista Zupi –, mas é certamente o tra-balho de uma artista muito talentosa. du [email protected] sofia-alvarez.blogspot.com

soMos vivosSão Paulo, SP – Brasil#3 (2011) | A5 | 16 ps. | xerox

Publicado pelo co-letivo homônimo, Somos Vivos é um zine de protesto, com textos e desenhos que tratam de assuntos como saúde, aborto, grafite e a busca pela

liberdade em uma sociedade castrativa.A intenção é obviamente das melhores, mas ainda há bastante coisa para apri-morar. Os textos poderiam fundamentar melhor suas argumentações e apresentar mais cuidado com a gramática. Os dese-nhos são bons, mas parecem inacabados.No geral o zine cumpre sua função. Dispensando mais atenção aos detalhes, os próximos números certamente serão mais eficazes no propósito de divulgar suas ideias libertárias. du [email protected]

sPaMBuenos Aires – Argentinae.u. (2010) | 10 x 14cm | 4 ps. | xerox

Sabe aquele spam que vira e mexe brota na sua caixa de entrada te convidando a participar de uma tresloucada operação bancária internacio-nal? Pois então, Spam,

o zine, é um livretinho com o texto inte-gral deste e-mail, acrescido de algumas fotos. Simples assim! Mais um zine com a

o subsolo, dentre outros assuntos, tra-ta sobre a pixação. como é a presença do zine nesse meio?DM – O zine sempre permeou esse meio. Seja como forma de informação, na era pré-internet aqui no Brasil, ou como forma de divulgar a cena. Tanto no graffiti, quanto na pixação são comuns os cadernos (bla-ckbooks ou agendas) onde além de esbo-ços, escritos de outras gangues e recortes de jornal com alguma matéria, serve como registro e arquivo sobre essa arte maldita - por ser uma intervenção efêmera o que fica sempre são os registros. Assim o zine vem de encontro a esse tipo de arquivo próprio do movimento. Isso possibilitou a articu-lação da arte de rua entre outros estados, outros artistas, produtores, assim como a divulgação no exterior, fazendo a primeira ligação e apresentando a cena brasileira mundo afora, atualmente considerado um dos grandes pólos de arte urbana.

maior, que explica melhor a proposta do zine e o autor aposta também em poesias, contos e fecha com chave de ouro com a crônica “Verdade” na edição de número 10, que é uma reflexão muito bacana, principalmente para os zineiros que gas-tam muito para divulgar seu trabalho. ms [email protected] seilazine.blogspot.com

shuFFleSão Paulo, SP – Brasile.u. (2008) | A6 | 8 ps. | xerox

Reimpressão do origi-nal lançado em 2008. É uma publicação de HQs com a intenção de conscientizar as pessoas sobre Jesus.Publicado pela Sarau Comics Edition. ms

[email protected] facebook.com/saraucomicsedition

além do subsolo, o studio 13 também já publicou zines de tiras (o robô nunca Faz greve). há a intenção de expandir para ou-tros tipos de publicação? quais?DM – Antes desses, o Studio 13 já editava outros zines, como o Stencil Art, PlanoB e o LadoB (esse ultimo era vendido em farois, na reigão de Mauá, pelos prórpios artistas que tinham seus poemas registrados no zine, sen-do sustento destes durante um curto período). mas eram tiragens bem baixas e de pouca di-vulgação. O Stencil Art teve, de certa forma, varias aparições e circulou durante um tempo, ajudando a divulgar o trabalho de um artista da região do ABC, o Melim - que conseguiu vários contatos e articular seu trabalho - Agora es-tamos preparando uma nova edição do Stencil Art, que na verdade a arte já estava pronta des-de 2009, mas foi xerocado esses dias.

Sobre projetos futuros, queremos expandir essa dialética, mas acabamos sempre pas-sando por essas vertentes mais urbanas. Tem

um novo projeto, sendo produzido agora com fotos analógicas sobre locais aban-donados e intervenções, na região do ABC Paulista, falando um pouco da desindus-trialização que afetou o subúrbio. E outro de desenhos, mas ainda sem um projeto definido. Mas a ideia é tentar editar uma gama maior de fanzines e publicações in-dependentes nesse ano.

o subsolo # 2 abrange diversos tipos de manifestações do underground ur-bano, como pixação, graffiti e o punk. qual a importância dos zines impres-sos para estas cenas?DM – A internet possibilitou uma conexão maior com a toda a galera, mas também criou algo meio “fast-food”, onde se conso-me informações e imagens de forma mui- to rápida. E o que passou, passou, poucos voltam a “página”. Já o zine possibilita essa informação mais tranquila, em termos de leitura e de registro. Nas paginas você pode voltar, e fica tudo compilado naquela edição. Outro lance é o esquema tátil que o zine promove e esse meio underground tem tudo a ver com a edição e leitura de zines.

studiotreze.blogspot.com

qualidade F.D.A.C.M.A. du [email protected] fdacma.com.ar

sPellworkSto. André, SP – Brasil#8 (2011) | A5 | 40 ps. | xerox

Se você está minima-mente inteirado sobre o que acontece entre os fanzines brasileiros, certamente o nome Thina Curtis lhe é familiar. Além de editar os zi-

nes Spellwork e Closer, Thina é a criadora do evento itinerante Fanzinada, que só em 2011 teve 4 edições em 3 estados diferentes (São Paulo, Goiás e Rio Grande do Sul). Fanzinada também é o nome dado a um movimentado grupo que a moça criou no Facebook, reunindo editores, artistas, cartunistas e simpatizantes de diferentes tendências. Não é à toa que Thina tenha recebido o apelido de “Dona Fanzine”.Pois bem, a oitava e mais recente edição do Spellwork sinaliza algumas mudanças em relação às edições anteriores. Se no passado era possível entendê-lo como um zine gótico aberto a manifestações cultu-rais diversas, agora a equação se inverteu. O espaço para a cena gótica está ali, ga-rantido, mas diversidade é a característica predominante do novo Spellwork. Assim, no decorrer de suas 40 páginas, o leitor encontrará entrevistas com Júlio César Parreira (encadernador / restaurador), Denílson Roque (diretor de programação do espaço Cidadão do Mundo), Sandra Coutinho (da banda As Mercenárias) e com a banda alemã Eternal Afflict; além de informações sobre o projeto Bodega do Brasil e sobre o coletivo Ativismo ABC, biografias das bandas As Diabatz e Éden, diário da passagem de Alan Wilder (ex-Depeche Mode) pelo Brasil, resenha

Subterrâneo Especial

2º ANUÁRIO DE FANZINES, ZINES E PUBLICAÇÕES ALTERNATIVASUGRA PRESS 4342

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3 PERGUNTAS PARA henrique magaLhÃesdo livro Só Garotos e comentários sobre a Fantasticon 2010, conto, HQ, dicas de turismo (!) e as obrigatórias resenhas de zines e discos. As entrevistas ainda podem evoluir bas-tante, propor questões que tratem mais das peculiaridades do entrevistado ao in-vés das genéricas “quais são as influências da banda” ou “cite um momento marcante em sua carreira”. Vale a pena também prestar mais atenção com os errinhos de português, especialmente concordância.Fora esses detalhes, Spellwork é um zine muito bacana que está trilhando novos e interessantes caminhos. du [email protected] fanzinada.com.br

street grounDSão Paulo, SP – Brasil# 01 (2011)| A5 | 12 ps. | xerox |

O zine faz bem aquilo que se propõe a fazer: falar sobre música, skate e arte urbana.Contém matérias com Raymond Pettibon (o artista plástico que criou as barrinhas do

Black Flag), uma entrevista com o artista urbano Eric Marechal e entrevista com a banda The Pushmongos.A diagramação está bonita, no estilo recorta e cola (mas montado em compu-tador), cheio de sujeirinhas pelos cantos, dando aquele velho aspecto dos zines mais tradicionais, mas sempre com o bom senso de deixar o texto legível.Um zine que deixa um gosto de “quero mais”, o que sempre que é bom. ms [email protected] arttilldeath.blogspot.com

subsolo – ruas Do abcSão Bernardo, SP – Brasil#2 (2011) | 14,5 x 13cm | 92 ps. | offset

Segundo número do zine feito pelo studio 13, que evoluiu em ta-manho, qualidade de impressão e variedade de conteúdo.São cem páginas em papel couchê e capa

em papel duro (impresso em tinta pra-teada) que trazem um rolê pelas ruas do ABC paulista e suas várias manisfestações, como a pixação, o grafitti e o punk.

Pacheco e Leonardo Melo de uma difícil missão: cada um deles deveria criar um ro-teiro que unisse os episódios dos diferentes personagens da publicação. As 5 histórias resultantes dessa experiência foram poste-riormente compiladas neste volume.No geral, o resultado é satisfatório. As his-tórias são divertidas e convincentes, ape-sar de alguns momentos meio forçados.O mais interessante aqui, porém, é justa-mente acompanhar o exercício e reparar nos artifícios usados pelos roteiristas. du subterrâ[email protected] subterraneo.zine.zip.net

subterrâneo esPecialSão Paulo, SP – Brasil#5 (2009) | A5 | 28 ps. | offset

Edição especial do Subterrâneo, apre-sentando uma HQ longa criada a muitas mãos: o roteiro é de Leonardo Santana e os desenhos são divididos entre

Luigi Colafigli, Márcio Garcia, Marcos Venceslau, Paulo Mansur e Will. Aqui, os personagens que povoam as edi-

em 2005, você comentou que as gran-des editoras não percebiam o potencial dos fanzines como objeto de estudo. como você avalia essa sua afirmação após sete anos?HM – Após sete anos, nada mudou, as grandes editoras continuam com a ceguei-ra de sempre, salvo raras exceções. Acon-tece que os autores não esperam mais pelo mercado para produzir seu trabalho, vão à luta para publicar sua obra, mesmo assumindo os custos e não contando com retorno financeiro ou lucro. É uma espécie de investimento na carreira, que pode dar certo se o trabalho chegar ao exterior, para depois ser importado pelo Brasil. Temos vários exemplos disso, desde “Histórias Gerais”, de Colin e Srbek aos álbuns dos irmãos Moon e Bá. Há mentalidade mais provinciana do meio empresarial deste país periférico?

quais são os prós e contras de tocar um projeto como a Marca de Fantasia?HM – A grande vantagem de comandar

O fino acabamento valorizou ainda mais as fotos, com destaque para os trabalhos de Mario Barbosa e Leonardo Araújo.Uma novidade desta edição são as maté-rias escritas, como a entrevista com o gra-fiteiro Chorão e o pixador Bio (Malditos) e o relato sobre a história do punk no ABC e dos Punk Anjos, escrito pelo soció-logo Miro Zagrakalin.Um digno e merecido registro para as vo-zes dissonantes desta região industrial. fg [email protected] studiotreze.blogspot.com

subterrâneoSão Paulo, SP – Brasil#42 ao #44 (2011) | A6 | 4 ps. | digital

Este zine é a prova da eficácia das idéias simples. Ao invés de se perderem em idéias mirabolantes, os edi-tores do Subterrâneo idealizaram uma pu-blicação fácil de edi-

tar, de baixo custo e que não gere sobre-carga de trabalho para nenhum membro da equipe. Some a isso muita dedicação e um tanto de talento e temos o resultado: 7 anos de atividade ininterrupta, 44 edições regulares, 6 edições especiais, 1 exposição comemorativa e 1 troféu HQ Mix.Subterrâneo é uma folha A4 impressa frente e verso com máximo aproveita-mento de espaço. A cada edição publicam 4 pequenas histórias de diferentes autores (Luigi Colafigli, Marcio Garcia, Marcos Venceslau e Will são “residentes”), uma ilustração ou cartum de um colaborador convidado e a seção “Boca de Lobo”, com curiosidades sobre os autores e suas cria-ções. E ainda sobra espaço para uma capa caprichada e um pequeno editorial!Os estilos dos autores/colaboradores diferem bastante, mas em geral estão em algum ponto entre o humor e a aventura. Destaco a série Franco, de Luigi Colafigli, cuja arte lembra a do mestre Laerte.Vida longa ao Subterrâneo! du subterrâ[email protected] subterraneo.zine.zip.net

subterrâneo coletâneaSão Paulo, SP – Brasile.u. (2009) | 15,5 x 11 cm | 36 ps. | offset

Entre o número 20 e o número 24 do Subterrâneo, os editores do zine incumbiram os rotei-ristas Daniel Esteves, Leonardo Santana, Harriot Junior, Eloyr

uma editora como a Marca de Fantasia é publi-car só o que gosto, sem preocupação com o ta-manho do público. Para isso, sempre realço o companheirismo dos autores, que se engajam nessa aventura sem interesses comerciais. Por outro lado, o trabalho solitário e quixotesco tem seu limite logístico e chega à exaustão. O ideal seria montar uma equipe com esse mes-mo espírito “fanzine” para produzir os álbuns, livros e revistas por prazer, mas visando a am-pliação do público no sentido de dar mais visi-bilidade às obras e atingir certo grau de profis-sionalismo – sem a servidão do mercado.

como pioneiro na pesquisa sobre fanzines no brasil, você já presenciou a produção

de zines impressos em alta e em baixa. hoje, como você observa a produção de fanzines de papel e como vê o futu-ro desse formato?HM – É muito evidente um enorme recuo da produção de fanzines impressos no país, ao menos no campo dos quadrinhos, que mais me interessa. O termômetro des-sa “crise” é a seção de resenhas do fanzi-ne “QI”, de Edgard Guimarães, que faz o recenseamento desses fanzines no país. A cada número a seção encolhe mais, dando a impressão que apenas alguns obstinados e uma porção de neófitos se aventuram em sua produção. Já há alguns anos os fanzi-nes impressos foram perdendo o impacto, o charme e a sedução frente à expansão da internet e outras mídias digitais, que são muito mais ágeis, praticamente sem custo e cheias de recursos audiovisuais. Enqua-dro-me nesses resistentes, embora sinta o crescente desinteresse do público por esse tipo de publicação.

www.marcadefantasia.com

ções regulares do Subterrâneo em histórias separadas juntam-se a pedido de Albert Einstein (ele mesmo) para ajudá-lo a com-bater o físico Niels Henrick David Bohr, que enlouqueceu no ano de 2742 após decifrar a teoria do campo unificado e pre-tende agora desestabilizar todo o universo e suas dimensões. Haja imaginação! du subterrâ[email protected] subterraneo.zine.zip.net

sujeito siMPlesSão Paulo, SP – Brasil#1 (2011) | 10 x 10cm | 12 ps. | xerox

Este livreto, feito pela escritora Fernanda de Aragão, contém poe-sias escritas e visuais.A autora aproveita o pequeno espaço com soluções criativas e combinações entre

palavras e imagens, que se complementam perfeitamente.O tema preponderante é o relacionamento afetivo e seus momentos de encantamento, posse, ausência e desencantamento. fg [email protected] letracorrida.com.br

sustentare artZineSão Paulo, SP – Brasile.u. | 10 x 10,5cm | 6 ps. | xerox

Mais uma publica-ção da Sarau Comics Edition, trata-se de um mini-zine com temas ligados ao meio ambiente e sustentabi-lidade, contando tam-bém com uma poesia

de Arnaldo Antunes e Lenine e ainda a campanha “Quem ama espera”. Para ler em menos de dois minutos. ms [email protected] facebook.com/saraucomicsedition

the Funeral oF tearsCaucaia, CE – Brasil#4 (2010) e #5 (2011) | A5 | 44 ps. | xerox

Vem do ensolarado e colorido Ceará um dos mais renomados zines góticos brasilei-ros. Cria do incansável Azriel, The Funeral of Tears exala dedicação e cumpre à risca a car-

Víboras - A Base de Recursos Gráficos

2º ANUÁRIO DE FANZINES, ZINES E PUBLICAÇÕES ALTERNATIVASUGRA PRESS 4544

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tilha deste meio, apresentando conteúdo equilibrado entre música, poesia, artes plásticas, cobertura de eventos e cinema. Muito bacana a preocupação do editor em abrir espaço para bandas de diferentes Estados e até do exterior (caso do equa-toriano Hemophilia, entrevistado no #4). A diagramação é caprichada e condizente com os temas abordados.A exemplo de vários outros zines que recebemos, o The Funeral of Tears carece de mais atenção com a revisão gramatical. Para um zine que vai tão bem, vale a pena o editor atentar a este detalhe. du [email protected] thefuneraloftears.blogspot.com

toP! toP!João Pessoa, PB – Brasil#24 (2008) | A5 | 44 ps. |offset + digital#25 (2009) | A5 | 40 ps. | offset + digital

Clássica publicação de Henrique Magalhães, a maior referência de zines no país.O Top! Top! sempre destaca um quadri-nista em cada edição, apresentando uma en-

trevista gigante e ilustrações do homena-geado. Márcio Baraldi e Edgar Franco es-tão nas edições enviadas, respectivamente.A única fase não-manual do fanzine é a impressão da capa, em offset, o restante é todo feito por Henrique, utilizando a mesma técnica que faz com os lançamen-tos da Marca de Fantasia, ou seja: impres-são, montagem, costura, colagem e corte.Também inclui as seções “Chamada Geral”, com os lançamentos da editora e os recebidos via correio, e a “Lero-Lero” que é a troca de cartas entre o editor e as pessoas que escrevem enviando material ou comentando os lançamentos da Marca de Fantasia. ms [email protected] marcadefantasia.com

tuDo o que é granDe se constrói sobre MágoaSão Paulo, SP - Brasile.u. (2011) | 13,5 x 21cm | 114 ps. |digital + serigrafia

O segundo lança-mento da Ugra Press chega em alto estilo, montado com técnicas de costura e até silks-creen, com um resul-tado final lembrando publicações antigas. As

ilustrações de Flávio Grão reforçam essa pegada vintage. Cada um dos livros foi

feito manualmente, com tiragem de cem exemplares.Leandro Márcio Ramos também debuta no formato, porém já compartilha seus escritos há muito tempo por intermédio de fanzine e blog. Suas histórias mostram cenas do cotidiano, contando com muita destreza nas palavras. Dividos em três partes (A Cidade, A Mulher e A Mágoa), os contos têm pesonagens que geralmente vivem sozinhos e estão em busca de algo que os façam felizes.A imaginação dos personagens aliada ao sarcasmo e senso de humor impagável talvez sejam os pontos mais marcantes dos escritos deste livro. Embora o título sugira um texto denso, a leitura é muito agradá-vel, ao ponto do leitor se identificar com alguns personagens. ms [email protected] ugrapress.wordpress.com

tuDo seMPre terMina coM Perguntas, Mas elas taMbéMPoDeM iniciarRio de Janeiro, RJ – Brasile.u. (2011) | A5 | 48 ps. | xerox

Sexo, relacionamento, abuso, consentimento, submissão, respeito, tabu. A vida afetiva do ser humano é essa complexa teia de desejos, realizações e frustrações.

Neste zine, o povo sempre inspirado do coletivo Hurra! reúne um material que pode ajudar o leitor tanto a se livrar de alguma situação indesejável quanto a se tocar se não está ele mesmo protagoni-zando uma. du [email protected]

últiMo ano no MelvinSão Caetano do Sul, SP – Brasile.u. (2011) | A5 | 12 ps. | xerox

O “tio” Renato Donisete investe no zine como prática pedagógica agora em outra escola, a EE Melvin Jones, na peri-feria de São Paulo.Dessa vez, Renato

preparou com sua turma de 4ª série, uma fotonovela que resgata diversos momentos vividos pelo grupo no decorrer do ano, como recordação.Aulas de Educação Física, de Matemática, a hora do lanche, aulas de informática, a azaração, as colas durante as provas e até as idas ao banheiro, são alguns dos mo-mentos registrados pela turma nesse zine.

Quando estiverem na faculdade, cer-tamente lembrarão com carinho deste momento! ms [email protected]

un FunZine sin noMbreBuenos Aires – Argentina#♥ (2011) | A5 | 16 ps. | xerox

Funzine argentino edi-tado por Mirting que apresenta uma série de textos e desenhos feitos a mão, como em uma carta.O diálogo se estabe-lece entre o editor (em

primeira pessoa) diretamente com o leitor, como numa conversa descontraída que passa por diversos temas e pensamentos.O zine celebra justamente este tipo de comunicação, despretensiosa, informal e divertida, que era encontrada facilmente nas cartas entre amigos. Por isso, não é de se estranhar que este zine tenha uma lin-guagem associada à de uma carta, já que zines e cartas andam juntos.E assim segue a conversa, leve e agradável, numa ode à liberdade de se escrever sem um fim específico, pelo simples prazer que o ato gera em si e de poder se falar sobre as boas coisas da vida. Poético. fg [email protected]

un Passo Más alláSantiago – Chile#18 (2008) | 21,6 x 16,5cm | 16 ps. | offset#19 (2010) | 21,6 x 16,5cm | 20 ps. | offset

Publicação humorís-tica chilena / argen-tina que completou 10 anos de existência com sua 19ª edição. No geral, o UPMA (si-gla para Um Paso Más Allá) nos remete aos

antigos jornais e revistas satíricos como O Pasquim, Casseta Popular, Bundas, etc. Seu humor se baseia em questões políti-cas, comportamento, coisas do quotidiano ou proposições completamente absurdas e há mais ênfase nos textos do que nas imagens. Além do zine, os editores tam-bém são responsáveis por um programa de rádio na web e um canal de vídeos no YouTube. Vale a pena conferir. du [email protected] estadovegetalfanzine.blogspot.com

urbenautaSão Paulo, SP – Brasil#1 ao #5 (2011) | 10 x 29,5cm | 8 ps. | offset

É muito bacana quando um grupo de jovens consegue incentivos para publicar um fanzine. Essa foi uma con-quista do CAST - Coletivo Arte Social Talismã, que viabilizou esse zine por in-termédio do programaVAI,

da Prefeitura de São Paulo.O grupo faz questão de direcionar seus textos para valorizar os talentos locais da periferia de São Paulo e ainda sugerir e in-centivar a mudança da realidade. Contém entrevistas, haicais, matérias em um for-mato estilo folder, em cores.Uma das grandes sacadas é a seção “Onde fica esse lugar?”, onde colocam uma foto de um local da cidade e na edição seguinte é dada a resposta.Contam também com blog, que expande o conteúdo das matérias do zine. ms [email protected] zineurbenauta.blogspot.com

velho rabugentoSão José do Egito, PE – Brasil#59 ao #61 (2011) | A6 | 20 ps. | digital

As primeiras edições do Velho Rabugento eram lançadas em A5, até que seu editor re-solveu passar parao A6, que talvez sejao formato definitivo.Essa publicação está

focada no cenário hardcore, com entre-vistas de bandas, resenhas de discos etextos de protestos.Destaque para as seções Sonidos Rabi-osos, Top 5 e Faixa a Faixa, que poderiam ser fixas. As resenhas de discos também são boas.O zine vai seguindo no caminho certo, evoluindo sempre. Também foi lançada a coletânea “Gritando, lutando, resistindo...” com algumas bandas que apareceram no Velho. ms [email protected] fotolog.com/velhorabugento

vestinDo outubrosSão Paulo, SP – Brasil#2 (2010) e #3 (2011) | A7 | 6ps. | xerox

O Vestindo Outubros é um “Pocket Zine”, manifestação em papel da união de dois blogs (cinco-deoutubro.blogspot e vestindoletras.blogs-pot) e duas escritoras,

Fernanda Aragão e Leticia Mendonça.

o que explica manter uma publica-ção por mais de 60 edições, mesmo sendo um “velho rabugento”?JR – Nem eu sei explicar muito bem como o zine conseguiu se manter du-rante todo este período, mas tenho certeza que um dos motivos foi justa-mente por eu ser um Velho Rabugento.O VR se mantém graças à minha insa-tisfação de ver que a arte/cultura vem sendo tratada como algo sem valor e, desde o número 1, tento mudar este ce-nário com todas as minhas forças.

o seu fanzine evoluiu em todos os aspectos nesse decorrer. quando é que chega a hora de resolver mudar o tamanho, diagramação e conteú-do de um fanzine?JR – Por conta do VR já existir há quase 8 anos já teve vários formatos, linhas editoriais e números de páginas. Sem-pre que modifiquei algo no zine foi por EU não esta contente com o andamen-to do zine, na tentativa de dar um novo gás, principalmente para mim mesmo. E tem também o lance de novos inte-resses e opiniões que o zineiro vai ad-quirindo ao longo dos tempos...Acho que no fim um zine é apenas o re-flexo da personalidade de seu criador!

além de lançar periodicamente o velho rabugento, você ainda se dá o luxo de lançar coletâneas em cD. Para quem vive independente é muito difícil ficar apenas em uma “frente de atuação”?JR – É velho, como falei lá em cima, não consigo me conformar como a cultura vem sendo tratada. E a minha pequena contribuição para mudar isso é com a distro/selo que mantenho. Na minha opinião é complicado você ficar só reclamando e não colocar a mão na massa para modificar aquilo que te ir-rita. E, no final, uma coisa acaba com-plementando a outra.

www.fotolog.com/velhorabugento

3 PERGUNTAS PARAJosÉ ediLsonramos

Os zines são feitos no formato no staples, uma elegante solução gráfica que permite transformar uma folha A4 em um livreti-nho de 8 páginas e impressão de um lado só da folha.O tema do zine é literatura, que aparece não só em forma de poemas, mas também em pequenos textos que trazem reflexões pertinentes acerca do modo como a lite-ratura ou a leitura são tratadas e aborda-das em nosso país. fg [email protected] cincodeoutubro.blogspot.com

via universalSão Vicente, SP – Brasile.u. (2010) | 10 x 21cm | 6 ps. | xerox

Outra produção de Gazy Andraus (vide resenha de Cáucaso), que neste caso foi criada no curso “Histórias em quadrinhos para um (re) conhecimento dessa arte imagética e seu potencial de informação”,

ministrado pelo autor para educadoresdo município de São Paulo.Este “HQZINE” é constituído atravésde duas ilustrações, cada uma ocupando um lado de uma folha A4, onde Gazy expressa-se através de traços gestuais e abstratos, de forma mais condensadaque a habitual.O zine traz o contexto de sua produção,

2º ANUÁRIO DE FANZINES, ZINES E PUBLICAÇÕES ALTERNATIVASUGRA PRESS 4746

Visibilidad y Legitimación

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3 PERGUNTAS PARA desaLi

nota: optamos por publicar esta entre-vista sem revisão ou edição alguma.

sexo e violência são elementos cen-trais nas histórias do Zé. o persona-gem parece guiado apenas por seus instintos e seu comportamento está em desacordo com uma postura so-cialmente aceitável, mas sua história é desconhecida. quem é o Zé buceta?D – realmente o sexo e a violencia fica muito escancaradaisso e para desfocar o sentido real do roteiro , o ze siquinifica o o declinio da triade familiar, pai, mae e filho. o ze buceta e o pai a maria piroca e a mae e o ze maria e o filho , por isso o ze usa so a camisa e o tenis a maria usa so a causa e o filho a roupa completa , todos os tres no fim sao uma unica pessoa em crise por nao saber se adaptar a essa ideia de familia. o punk junin que pixa vende- se pelo mundo e o oporto ele ainda acredita na familia. a ideia de familia que o junin tem pra continuar existindo ele tem que vender tudo o que ja foi feito para existir algo melhor.o joao cu manipula ambas as partes ze buceta eo junin , como se os dois fossem duas mariones. joao cu representa o vigia as prisoes a lei eo capital.a base de tudo sao esses personagem

o editorial do grude sujo #1 defende a arte que ousa trafegar à margem. qual sua ambição enquanto artista? é

um recurso interessante que quebra a distância entre o autor e o leitor. fg [email protected] tesegazy.blogspot.com

víboras, a base Derecursos gráFicosBuenos Aires – Argentina#1 (2010) | A5 | 16 ps. | xerox

Outro zine de artes feito pela argen-tina Debora Paula e Ediciones de Cero. Nesta edição, a ar-tista explora o tema (víboras) através de desenhos, traços e

pinceladas gestuais que evocam o uni-verso e ambiguidade feminina utilizando como elementos as cobras, suas curvas e, é claro, o veneno.O belo acabamento resulta em uma esté-tica limpa e agradável de se ler. fg [email protected] flickr.com/deborag

visibiliDaD y legitiMaciónBuenos Aires – Argentinae.u. (2011) | 11 x 14 cm | 32 ps. | offset

Compilação de ilus-trações que parecem ter alguma relação com a fotonovelaLa Mars Society (veja resenha na página 27). As imagens, criadas pelo argentino Lino

Divas, retratam instantes frívolos em realidades muitas vezes insólitas (como o astronauta jogando golfe), e seu traço é espontâneo e limpo.A edição é caprichada, com miolo em papel vergê e capa impressa em um tom de roxo que casou muito bem com o cinza do papel. du [email protected] big-sur.com.ar

vitalino – o Menino que virou MestreCaruaru, PE – Brasile.u. | 17 x 24cm | 90 ps. | offset

Em 2009, o recifense Sill lançou um livro chamado Cordel Comix, compilando material lançado ao longo de duas décadas no zine homônimo. Publicado com verba

de edital, o volume apresentava um desfile

dos tipos e temas recorrentes na obra do cartunista, quase todos relacionados ao homem nordestino, seus hábitos, sua cul-tura e suas idiossincrasias.Em seu novo livro, novamente financiado pela prefeitura de Recife, Sill dá continui-dade ao tema, mas dessa vez apostando em uma história longa e didática ao invés dos cartuns e tiras debochados que são sua marca registrada. Trata-se da biografia em quadrinhos de Vitalino Pereira dos Santos, ceramista popular nascido em Pernambuco que ganhou notoriedade a partir dos anos 1960 com peças que retratavam o quotidiano, a natureza e os personagens do interior do Estado. Com produção gráfica caprichada e a característica simplicidade dos desenhos do Sill, Vitalino – O Menino Que Virou Mestre é um livro atraente e que deve cumprir exemplarmente a proposta de despertar nos jovens leitores o interesse pela cultura nordestina em geral e pela pela obra deste importante artista brasi-leiro em particular. du [email protected] sillhqvitalino.wordpress.com

Zé bucetaContagem, MG – Brasil#3 (2009) | A5 | 34 ps. | xerox

36 páginas de insa-nidade e subversão com o sem noção Zé Buceta e a recalcada Castradora. Tudo com o certificado de garan-tia Desali, que nunca nos deixou na mão.

Nem pense em perder. du [email protected] flickr.com/odesali

Zine intervençãoSão Paulo, SP – Brasil#1 (2011) | A5 | 24 ps. | xerox

Publicação política, voltada à divulgação de ideias libertárias por meio de textos in-formativos, protestos e dicas culturais.A qualidade do con-teúdo é um pouco

irregular, apresentando textos bem construídos (como “Partidarização e Burocratização do Movimento Estudantil”, uma análise clara e pertinente sobre o tema) e outros muito básicos (como “Ya Basta!”, sobre o direito à igualdade).Creio que, de modo geral – ou seja, não me refiro exclusivamente ao Intervenção

– falta aos zines políticos entender quem são seus leitores. São os cidadãos comuns, sem familiaridade alguma com o discurso apresentado? Ou são as pessoas que já simpatizam com suas ideias? No primeiro caso, textos simples e objetivos talvez se-jam uma escolha mais acertada, enquanto para o segundo caso uma argumentação muito introdutória não seria nada além de mera repetição. E ainda: quão disposto está o cidadão comum a ler um zine? Sendo ele o alvo, não existiriam meios mais eficazes de comunicação?Não existem respostas conclusivas para essas perguntas, mas talvez elas possam ajudar editores de zines deste gênero a definir com clareza seus objetivos e a dar relevância a suas publicações. du [email protected] forcadeexpressaohcpunk.blogspot.com

Zine oFicialBrasília, DF – Brasil#33 ao #36 (2011) | A6 | 16 ps. | offset

A cena roqueira de Brasília é cheia de peculiaridades. Hiperativa, possui representantes dos mais diversos gêneros e, em geral, mantém a convivência amistosa

e integrada entre eles. Também chama atenção a quantidade de festivais bem sucedidos dedicados ao rock underground que existem na região. Mais legal ainda: há um zine cuja missão é a de dar su-porte a esses festivais, apresentando suas programações, entrevistando as bandas participantes e resgatando a memória destes heróicos eventos. Esse zine é o Zine Oficial.Editado pelo obstinado Tomaz André, o Z.O. já é tão parte da história do rock’n’roll local quanto suas mais expressivas bandas. Cumpre com louvor duas funções: por um lado, ajuda a divulgar os eventos, tarefa sempre complicada para empreitadas independentes, por outro, está documen-tando com abundância de informação a história da cena candanga. As edições que recebemos referem-se aos festivais Quaresmada (#33), Headbanger´s Attack (#34), Marreco´s Fest (#35) e Retina Rock (#36), das quais destaco a edição 34, especialmente pela boa entre-vista com Alex Podrão (vocalista da banda BSB-H), e a edição 36, pelo interessante texto “Primórdios da História Cultural do Cruzeiro”. du [email protected] zineoficial.com.br

Zine orienteManaus, AM – Brasil#1 (2011) | A5 | 16 ps. | xerox

Sem perder tempo com apresentações, editoriais ou introdu-ções, este zine literário manauara vai direto ao que interessa. E o que interessa a ele são textos: pequenos con-

tos cheios de poesia, poesia pura e (nem tão) simples e uma matéria sobre o Sebo Arqueólogo, que funcionou por 9 anos no Centro de Manaus e encerrou atividades em 2011, deixando desamparada uma legião de fiéis clientes. Os textos provém de autores de diversos cantos do país e surpreendem pela qualidade. A diagrama-ção segue a tradição “tesoura e cola”, com algumas colagens bem bacanas. Uma boa estréia, tomara que tenha seqüência. du [email protected] issuu.com/rosielmendonca

Zine-ZeltRosario, Santa Fe – Argentina#1 (2011) | A5 | 8 ps. | xerox

Em agosto de 2011, Ana Wandzik armou uma barraca de camping em Rosário, na Argentina, e a equipou com máquina de xerox, guilhotina, grampeadores, com-

putador e tudo o que fosse necessário para fazer um zine. Além dos zines, a barraca também abrigou show do Pol Nada e uma aula prática de pão (presumo que utilizando a receita do zine Clase de Pan). Zine Zelt, o zine, é um registro deste pe-culiar evento, com fotos, agradecimentos, anotações e ideias deliciosamente manus-critas, coladas e xerocadas. du [email protected] zinezelt.com.ar

possível viver de arte sem fazer con-cessões?D – o grude sujo foi se esclarecendo com o tempo, cada participante dessa edicao atualmente vive uma vida mutavel entre a margem e o mundo academico, o under-graud e a vida social estavel , criando e de-semvolvendo seus trabalhos a partir do que e importo, como modo de sobrevivencia atualmente nao somos um so mas varios

a arte de rua tem sido progressiva-mente assimilada pelo circuito de arte convencional. como você, que também desenvolve um trabalho com cartazes, enxerga isso?D – os cartazes sao feitos para serem co-lados expostos em galerias tmbm , atual-mente desenvolvo uma serie que foca nos deputados e no prefeito aqui de bh sao cartazes toscos pornograficos e violentos retratando o que tem acontecido aqui em bh, esses cartazes servem como arquivo do que acontece , importante que esses fatos nao entrem no esquecimento na po-pulacao, que sempre que estiver esposto em alguma galeria ela lembrara o que fula-no de tal fez e deixo de fazer essa serie de cartazes nao tem nada de subjetividade e poetica e pra toca na ferida mesmo erritar quem esta fazendo merda aqui em bh

flickr.com/odesali

Zé Buceta

2º ANUÁRIO DE FANZINES, ZINES E PUBLICAÇÕES ALTERNATIVASUGRA PRESS 4948

Un Funzine Sin Nombre

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o s primeiros títulos começaram a apare-cer em 1993, época em que a produção de

zines atingiu sua melhor fase. Antes disso, não existiam publicações sobre fanzines no Brasil. E aí surge a pergunta: quais foram as referências do primeiro pesquisador de fanzines brasileiro? Henrique Magalhães, o nosso precursor sobre o assunto, dá uma parte da resposta na bibliografia ao final do livro O Rebuliço Apaixonante dos Fan-zines ou seja, o autor baseou-se quase que total-mente nos próprios zines. Esse livro é uma adap-tação da tese Os Fanzines Brasileiros de Histórias em Quadrinhos: O Espaço Crítico dos Quadrinhos Brasileiros, que teve uma edição reduzida, resul-tando no raro O Que é Fanzine?, da clássica série Primeiros Passos da Editora Brasiliense, lançada em 1993.

No ano seguinte, Bia Albernaz e Mauricio Pel-tier, empolgados com o boom de fanzines no Brasil, publicaram pela própria editora, a Arte de Ler, o Almanaque de Fanzines, que mostrava diversos tipos e temáticas de fanzines, as especi-ficidades, curiosidades, entrevistas e resenhas de muitas publicações da época. O almanaque, que atualmente está fora de catálogo, ilustrava frag-mentos do cenário do tempo em que fanzines brotavam de tudo que era canto.

Publicações nacionais: contando nos DedosUau! Em dois anos, duas publicações sobre o as-sunto! Começamos bem! Só começamos. De lá pra cá surgiram poucos livros nacionais a respei-to. O próprio Magalhães lançou por sua editora Marca de Fantasia mais dois títulos de sua auto-ria, A Nova Onda dos Fanzines (2004), A Muta-ção Radical dos Fanzines (2005) e ainda Fanzi-ne, de Edgard Guimarães, que teve sua primeira versão em formato de fanzine lançada em 2000.

As maiores fontes para quem pesquisa sobre zines no Brasil são os livros citados, além de ar-tigos publicados na internet, revistas e jornais. “As editoras comerciais ainda não perceberam a potencialidade dos fanzines como objeto de es-tudo”, comentou Henrique Magalhães em 2005, e até hoje nenhuma editora “grande”, além da Brasiliense, lançou algum livro que abordasse o tema. Todos os outros títulos foram publicados de forma independente ou por meio de projetos. Ou seja, o “faça você mesmo”, que é lema de ban-das e fanzines, também se estendeu aos livros.

Em 2006, Antônio Carlos de Oliveira lançou pela Achiamé Os Fanzines Contam uma História Sobre Punks e que, a exemplo de Magalhães, é re-sultado da pesquisa que fez na faculdade de His-tória, concluída em 1993. Onde, mais uma vez, os fanzines serviram como as principais fontes de pesquisa para explicar a história do movimen-to punk no Brasil pois, segundo o autor, as “fon-tes oficiais” mostravam apenas o lado negativo e, por muitas vezes, deturpado do movimento.

Mesmo não saindo em “formato oficial”, a cartilha Fanzines de Papel, que editei em 2005 (com nova versão em 2007), conta um pouco da história dos fanzines e ainda dá dicas de como

Os fanzines nasbibliotecas e nas telas

Registros apontam que os primeiros fanzines surgiram no Brasil na década de 1960. Porém, as pesquisas sobre o assunto só começaram três décadas depois e até hoje, para quem realiza pesquisas sobre o fanzine no Brasil, a primeira dificuldade encontrada são as referências bi-bliográficas disponíveis.

Por Márcio Sno

produzir, servindo como uma boa fonte de in-formações sobre o assunto.

As primeiras pesquisas de Olga Defavari, que resultou em Imprensa Alternativa no ABC – A História Contada pelos Independentes, de 2008, estavam focadas nos veículos de comunicação mais convencionais, como jornais e revistas. No decorrer de seu trabalho de conclusão do curso de Jornalismo, Olga descobriu a existência dos fanzines e dedicou um capítulo à eles. O livro foi lançado por intermédio de um fundo de cultura de sua cidade, Santo André, e pode ser adquirido diretamente com a autora.

A editora da Universidade Federal do Ceará reuniu artigos sobre fanzines e publicou, com or-ganização de Cellina Muniz, Fanzines – Autoria, Subjetividade e Invenção de Si, que mostra o zine visto de diversos ângulos como: dentro de sala de aula, sua forma de escrita e como porta-voz do movimento punk. Lançado em 2010, conta com textos de Gazy Andraus, Elydio dos Santos Neto, Ioneide Santos do Nascimento, Fernanda Meire-les, entre outros. Pode ser adquirido com os res-pectivos autores e com a organizadora.

Alguns textos que foram resultados de pes-quisas em cursos de graduação, pós, doutorado e mestrado ameaçam em sair em formato de livro. Vamos torcer.

is that all, folks?Para quem domina apenas a língua portuguesa é isso que há. Porém, se você tem alguma fami-liaridade com o inglês, existe um leque muito maior de publicações que falam sobre fanzines around the world.

Uma das primeiras publicações sobre zine foi How to Publish a Fanzine, de Mike Gunderloy, editor do guia de fanzines Factsheet Five. Esse livro, de 1988, hoje disponível para download, segue bem a ideia do título, explicando passo a passo cada etapa da produção de um fanzine.

O mesmo autor lançou no ano seguinte Why Publish? que reúne depoimentos de diversos edi-tores sempre respondendo à pergunta que dá nome à publicação. O que resultou em respos-tas simples, diretas e outras bastante complexas e longas. É curioso observar a visão de cada um sobre a criação de suas próprias publicações. Também disponível para download.

V.Vale publicou em 1996 e 97 duas edições de Zines!, que não chega a ser exatamente um livro, mas uma espécie de revista que privilegia entre-vistas gigantes com editores de zines, resenhas, artigos, muitas fotos e ilustrações.

Em 2001, Stephen Duncombe, lançou a que talvez seja a mais completa pesquisa sobre zines, o Notes from Underground: Zines and the Poli-tics of Alternative Culture. Embora seja um texto mais complexo e técnico, aborda não só as carac-terísticas dos fanzines, mas também o perfil do editor e o meio que o circunda, o tal do under-ground. Esse livro foi lançado pela Microcosm Publishing, uma importantíssima editora esta-dunidense que tem em seu catálogo importantes

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títulos sobre zines, cultura alternativa, guias para fanzineiros, além de camisetas, bótons, docu-mentários e, claro, fanzines.

A editora Graphia lançou em 2006 o livro mais bacana sobre zines, por sua qualidade grá-fica, proposta visual e “cara de zine”: Whatcha Mean, What’s a Zine? – The Art of Making Zines and Mini Comics. Mark Todd e Esther Pearl Wat-son capricharam nesse misto de livro, cartilha, almanaque, how to make... Coisa linda!

A inglesa Amy Spencer dedicou metade de seu livro DIY – The Rise of Lo-Fi Culture, em um capítulo que chamou de The zine revolution. Ela exemplifica os tipos de fanzines e a sua impor-tância enquanto porta-voz de movimentos, ide-ologias e vitrine para divulgar bandas novas. O livro, originalmente publicado em 2005, foi ree-ditado em 2008 pela Marion Boyars.

Joe Biel e Bill Brent, via Microcosm, escre-veram Make a Zine! When Words and Graphics Collide!, que tem a capa mais espetacular de to-das sobre o assunto. O livro conta a tradicional história e definição dos fanzines, dicas de como fazer e diagramar, além de uma vasta lista de contatos de lojas, distribuidoras, fanzinotecas, eventos, revistas e zines. Por ter sido lançado em 2008, muitos dos contatos estão desatualizados. Eis uma boa desculpa para uma nova edição re-vista e ampliada, ainda mais Biel sendo um dos sócios da editora.

Também tem o polêmico Fanzines de Teal Triggs, publicado em 2010 pela editora inglesa Thames & Hudson. É um livrão bem colorido, repleto de capas de fanzines de várias épocas e localidades, incluindo aí uma pincelada sobre a história dos zines. Considerado polêmico, ali-ás, pelo fato da editora ter reproduzido capas de fanzines sem a autorização dos editores e cole-cionadores de quem “emprestou” as imagens. In-dependente disso, é um livro muito bonito.

Deixando o inglês e passando para o espa-nhol, uma boa referência é o zine Pez, editado por Mon Magán. Trata-se de uma publicação que pesquisa cenas de fanzines de diversos luga-res do mundo e que até o momento já mapeou as Ilhas Canárias, Itália, França, Rússia, Barcelona e Japão. Também discute o fenômeno de publi-car, além de divulgar fanzinotecas, feiras e even-tos sobre cultura independente. Todas as edições estão disponíveis para download gratuito.

Há ainda muitas publicações falando sobre fanzines de forma indireta, como The Encyclope-dia of Punk de Brian Cogan e The Philosophy of Punk – More Than Noise! de Craig O’Hara.

Existem também alguns sites que se propõem a discussão sobre zines em diversos aspectos, como ZineWiki, Zine World, The Book of Zines e também a comunidade We Make Zines, com diversos fóruns e vasto material.

Há muitos títulos que não foram citados aqui que podem ser facilmente encontrados e adqui-ridos em sites como Amazon, sem impostos. Além, é claro, das redes sociais com suas comu-nidades específicas de todos os cantos do mundo.

Zines em movimentoSe o primeiro livro brasileiro sobre fanzines sur-giu apenas em 1993, um documento audiovisual só foi surgir vinte anos após a tese de Magalhães.

Um dos motivos que me impulsionou à pro-duzir a série Fanzineiros do Século Passado foi o fato de não ter encontrado um documentário nacional que tratasse exclusivamente do assunto. O máximo que achei foram inserções do tema em filmes como À Espera Do Carteiro, de Ali-ne Ebert e estrelado por Daniel Villaverde, Vai Vendo! de Débora Zampier, com o zineiro Ricar-do Tubá e Pro Dia Nascer Feliz, de João Jardim, que comentam sobre zines de uma forma sucin-ta, dentro de um outro contexto.

Faltava ainda falar especificamente sobre o fanzine e um pouco de tudo que o circunda. O primeiro capítulo do Fanzineiros, lançado em 2011, foi batizado de Capítulo 1: As dificuldades para botar o bloco na rua e a rede social analó-gica, cujo objetivo era traçar um perfil do editor de zines pré-internet, sua forma peculiar de pro-dução e os macetes utilizados para colocar a in-formação para circular. Estão previstos mais dois capítulos que abordarão os fanzines dentro de diversos aspectos. O filme está disponível para streaming e download gratuitos.

Logo após a esse lançamento, Gladson Caldas documentou o clássico encontros de fanzineiros em Fortaleza onde foram criadas diversas Zonas Autônomas Temporárias (TAZ) para trocarem ideias, zines e fortalecerem o movimento na ci-dade. O resultado foi o Zine-se: Mensageiros de Papel, que também foi o trabalho de conclusão de curso do diretor do filme. São diversos de-poimentos com os principais personagens desse movimento e que também contam um pouco da história dos próprios zines. Este importante do-cumento registra uma iniciativa que talvez seja uma das mais representativas no que diz respeito ao fanzinato nacional.

Por enquanto, essas são as referências que te-mos de produções audiovisuais que adotam os zines como temática. Existem algumas ameaças de novos documentários surgindo por aqui e al-guns outros já estão em fase de produção.

além-marEm 2004, José Lopes registrou o tradicional en-contro anual de fanzineiros em Lisboa e aprovei-tou para explicar, por meio de especialistas da área como Geraldes Lino (uma espécie de Hen-rique Magalhães português) o que é fanzine e suas diversas formas e temáticas. DocZine Vol.1 documenta o “ouro dos loucos” de uma forma simples, mas que traça um panorama dos zines na época, com seus prós e contras, o que é algo bem bacana.

A internet parece sempre ser a vilã no discur-so dos entrevistados, porém, o encontro gravado mostra que muitos ainda resistem. É o primei-ro documentário lusitano sobre fanzines e ain-da acompanha uma história em quadrinhos feita pelo diretor do filme.

Existe o Vol. 2, mas ainda não tive acesso ao material, uma vez que que ele só é distribuído em formato físico.

Zineiro é Zineiro em qualquer lugarComo são os fanzineiros em lugares distantes do nosso país? Talvez as maiores diferenças sejam o idioma e o clima. De resto é quase tudo igual.

A bielorussa Sasha Borovikova mostra incons-cientemente essa semelhança em KinaZina, onde relata como eram as trocas de cartas e a comuni-cação antes da internet, a fabricação de envelo-pes artesanais e até o tal do “selo vacinado” (ou reciclado). O filme está disponível na internet.

Montado em sua bicicleta, o estadunidense Joe Biel, (sim, aquele mesmo da Microcosm) cir-culou pelo nordeste de seu país gravando depoi-mentos de fanzineiros, resultando em $100 and a T-shirt. O título faz uma brincadeira com o quanto foi gasto na primeira versão do filme lan-çada em 2004. Biel coloca fanzineiros para res-ponder perguntas como “o que é fanzine?”,“por que fazer?”, conta um pouco da história do fan-zinato local e discute o futuro dos zines. O DVD ainda inclui uns bônus bacanas.

Fils de Zine é um curta francês conduzido por Philipe Morin e produzido pelo grupo The Art Pack. O filme faz um apanhado rápido da histó-ria dos fanzines e os tipos de assuntos abordados nessas publicações. Uma boa oportunidade para sentir como eles são produzidos por lá.

Os hermanos de Argentina também possuem material audiovisual sobre o assunto. A série Una Parte conta um pouco da história do punk naquelas redondezas, mais precisamente do que foi produzido na década de 1980. Um de seus capítulos é dedicado aos fanzines. A produção caseira de Jose Saraiva é cheia de personagens, além de muitas imagens de zines e, de quebra, canções de bandas locais.

na linha de frenteTalvez o documentário que tenha um “algo a mais” é o Fanzini sa Marsa (Fanzines de Marte), que faz um apanhando da produção da Sérvia nos anos 1980 e 90, quando a região vivia cons-tantes conflitos e ainda fazia parte da república iugoslava. Esse documentário muito bem pro-duzido por Sinisa Dugonjic mostra o compor-tamento dos fanzines naquela época e a forma como eles eram carregados de posições contra e a favor da independência do país. Também pas-seia pelo movimento punk e, aliás, tem uma tri-lha sonora muito boa.

Fazendo uma busca em sites como YouTube e Vimeo é possível achar inúmeros documentários e vídeos sobre fanzines. Com uma internet rápi-da, você conseguirá ver muita coisa bacana feita em todos os cantos do mundo.

o que está por virO espanhol Mon Magán está produzindo o do-cumentário audiovisual Grapas, com contribui-ções de todo o mundo, que discute o porquê de se publicar fanzines.

Algo parecido está sendo produzido pelo pes-soal do Stanford Zine Library, de Londres, que assim como Magán, está coletando depoimentos de fanzineiros de diversos países.

Bom, esse é um pequeno apanhado das refe-rências bibliográficas e audiovisuais que contam um bocado sobre os fanzines. Tenho certeza de que existe um monte de materiais que não ci-tei aqui que têm igual importância. Mas já é um bom começo para iniciar suas pesquisas.

A história dos zines continua em construção e sempre faltarão assuntos e pessoas para falar a respeito. Você mesmo pode criar uma fonte de pesquisa, seja em formato de livro ou documen-tário! Afinal, se ninguém faz, façamos!

links:

cellina Muniz:[email protected] Defavari:[email protected]

achiamé:achiame.comMarca de Fantasia:marcadefantasia.comMarion boyars:marionboyars.co.ukMicrocosm Publishing:microcosmpublishing.comPez:www.monmagan.comthames & hudson:thamesandhudson.comthe book of Zines:zinebook.comwe Make Zines:wemakezines.ning.comZinewiki:zinewiki.comZine world:undergroundpress.org

Fanzines de Papel:issuu.com/marciosnohow to publish a fanzine:zinebook.comwhy Publish?:zinebook.com

à espera do carteiro:ninaflores.netDocZine:fanzinesdebandadesenhada.blogspot.comFanzineiros do século Passado:vimeo.com/marciosnoFils de Zine:theartpack.frkinaZina:archive.org/details/KinaZina

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“Os fanzines invadem as universidades

No Anuário de 2010, uma das matérias trazia como tema os fanzines na sala de aula, um fenômeno perce-bido através de ações plurais que ocorrem em escolas e instituições de ensino de diversos locais do Brasil.No ano de 2011, uma outra tendência que se evidenciou foi a da escolha dos fanzines como tema de Trabalhos de Conclusão em cursos de graduação e pós-graduação.

Por Flávio Grão

Trabalharcom o fanzine em sala de aulaé trabalhar aberto parao novo”.

a tentos a este fenômeno, entramos em con-tato com alguns autores dos mais recentes

trabalhos nesta área para entender um pouco do interesse dos acadêmicos pelo fanzine e tam-bém para divulgar os mesmos, visto que uma das maiores dificuldades relatadas na realização des-tes estudos é justamente a falta de outros traba-lhos acadêmicos publicados sobre o tema.

A maioria dos trabalhos acadêmicos sobre fanzines aos quais tivemos acesso é da área de Educação. Muito disso se deve à possibilidade da aplicação dos fanzines como recurso eficiente de aprendizagem devido a algumas característi-cas inerentes, como o exercício da criatividade e olhar crítico. Há também que se citar a influên-cia nesta área, dos métodos aplicados e estudos realizados e pelos professores Gazy Andraus e Elydio dos Santos Neto.

Um exemplo desta influência encontra -se na dissertação de Mestrado de Ioneide Nascimen-to, Autoria, Consciência e Formação Docente: Os Fanzines como Recurso Formativo na Escrita de Trajetórias Formativas em Formação Inicial.

Ioneide utilizou o fanzine como recurso de formação no Curso Normal Superior propon-do aos seus alunos uma investigação e refle-xão sobre seus próprios processos formativos e concluiu que este apresentou-se como uma rica estratégia nesse sentido, “no qual os alunos exer-citaram a narratividade de forma pessoal, singu-lar e reflexiva dando significado e sentido as suas trajetórias de formação inicial. Com os relatos, também evidenciamos que as escritas das nar-rativas, possibilitaram aos interlocutores uma revisitação aos processos vividos ao longo de sua trajetória, bem como conhecimento de outros mecanismos de escritas de si, que lhes possibi-litaram se reconhecerem como autores de sua

própria história”.O fanzine possibilitou aos professores em for-

mação o exercício reflexivo e também deu mar-gem à escrita autoral na condição de exercício formativo.

O trabalho de Ioneide possui muita afinidade com o Mestrado em Educação de Melissa Eloá Silveira Nascimento: Pedagozinando em Sala de Aula: Artes de Dizer e Pedagogias de Fazer. O neologismo representa um pouco da busca de Melissa, segundo suas palavras “um ato pedagó-gico que inspire a criação, a ousadia, a troca de idéias e a liberdade de expressão, trabalhar com o fanzine em sala de aula é trabalhar aberto para o novo”. A pesquisa foi realizada com alunos do curso de Pedagogia da UERJ, que fazem fanzines nas aulas do professor André Brown.

Entre as perguntas e questionamentos surgi-das nesta pesquisa, há a de se compreender como se configura a criação de fanzines em um espaço hegemônico de saber e também como funciona a lógica fanzinística em relações cotidianas que envolvem a verificação de desempenho (prova).

De qualquer forma, Melissa destaca uma importante característica do fazer de fanzines, que é necessária e pode justificar plenamente seu uso na formação de professores : o exercício da criatividade : “Exercício da criatividade é uma prática constante que será exigida no dia a dia da prática educativa, afinal de contas, o profissional/professor convive em um ambiente imprevisível, em que cada sala de aula pode ser um desafio diário”.

Já a Dissertação de Mestrado do professor Hidelbrando Cesário Penteado, na área de Edu-cação e Ciências Sociais, Fanzine: Expressão Cul-tural de Jovens em uma Escola de Periferia de São Paulo, teve como foco a produção de fanzines

2º ANUÁRIO DE FANZINES, ZINES E PUBLICAÇÕES ALTERNATIVASUGRA PRESS 5554

Melissa Eloá

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““ em sala de aula, principalmente para seus alunos do Ensino Médio.

“Vale ressaltar que não foi um projeto da esco-la ou afins, mas sim um entrosamento entre eu e os alunos que tinham um posicionamento um pouco mais crítico em relação a temas que os mesmos estavam inseridos enquanto jovens de uma comunidade pobre. Eu já era fanzineiro desde o final dos anos 80 e ao começar a lecionar nesta escola decidi fazer esta experiência junto aos garotos e garotas sendo que alguns deles liga-dos diretamente a atividades ilícitas como tráfico de drogas e venda de armas, muitos deles hoje percorrem um caminho positivo e não se identi-ficam mais com o mundão, mas alguns já morre-ram ou estão envolvidos com o crime na região de Francisco Morato”.

Hidelbrando destaca como algo muito positi-vo durante as oficinas de fanzines a quebra de alguns paradigmas na relação professor-aluno.

Ainda na área da Educação, há outros traba-lhos com um enfoque em outros aspectos do fan-zine, como a estética ou linguagem. É o caso de Insensato – Um Experimento em Arte, Ciência e Educação, dissertação de Mestrado em Educação de Jamer Guterres de Mello (do blog Zinescópio) que propõe inovações ao tradicional pensamento linear na pesquisa e escrita acadêmica (e cientí-fica) na área de Ciências Humanas, com a utili-zação de novas formas de fazer-sentido através da utilização do método dos cut-ups de William Burroughs e a estética dos fanzines: “O uso tanto do fanzine quanto da técnica do cut-up possui uma estratégia estética que prioriza o absurdo da narrativa fraturada na produção escrita como força que nos permite experimentar outras visu-alidades e conexões entre os conceitos. É na pos-sibilidade de confundir as características textuais

e imagéticas da palavra, na desordem potenciali-zada pelo choque do dado imediato da imagem, que se encontra a potência da utilização de fan-zines como articulação de fragmentos de textos e imagens no âmbito da Educação e das Artes Visuais.”

A Cultura dos Fanzines no Brasil – Leitura e História foi o trabalho desenvolvido por Marco Antonio Milani. A pesquisa enfocou fanzines punks brasileiros da década de 1980 e 1990 e as relações de poder no grupo envolvido.

O pesquisador concluiu que o fanzine foi o meio estabelecido para troca de informações e debates no movimento punk em todo Brasil. Os fanzines constituíram uma verdadeira rede de trocas de saberes de várias naturezas, ultrapas-sando muitas vezes as fronteiras nacionais.

Marco destaca também as disputas e debates que representavam as relações de poder e resis-tência dentro desta rede, entre os vários grupos do cenário, como os arnacopunks, feministas e neonazistas.

Uma das dificuldades apontadas por Marco (e também por outros pesquisadores deste artigo) foi a dificuldade da Academia lidar com os fanzi-nes. Mais especificamente, na área de história: “o tema traz dificuldades metodológicas para a his-tória, uma vez que os documentos com os quais os historiadores trabalham são muito diferentes dos fanzines. Os mais próximos são os jornais e revistas da mídia comercial, mas de que forma alguma dão conta da abordagem necessária aos fanzines”.

Uma das frentes de atuação do fanzine em todo mundo é justamente cobrir a cena cultu-ral que a grande mídia não enxerga. O Trabalho de Conclusão de Curso em Comunicação Social Jornalismo de Ricardo Guimarães, Fanzine como

Divulgação do Jornalismo Rock´n Roll aborda justamente este viés.

Neste trabalho Ricardo fez uma pesquisa sobre a evolução do jornalismo cultural rela-cionado ao rock e sua inserção na mídia. Como parte final do trabalho produziu um fanzine cha-mado Rock aos Montes, que tinha como objetivo cobrir a cena cultural de sua região (Montes Cla-ros – MG), “O fanzine serviu como potenciali-zador de um tema que a mídia da minha cidade esquece, o rock”.

O processo de pesquisa e feitura do Rock aos Montes fez com que Ricardo se aproximasse e se apaixonasse pelos fanzines: “Busquei mais infor-mações e no fim compreendi a importância que os fanzines têm para a comunicação e, no meu caso, para os públicos mais underground”.

O autor explica que sua relação com os fanzi-nes despertou interesse por outros aspectos des-te tipo de publicação: “Hoje quero evoluir nessa pesquisa e chegar às discussões do fanzine como objeto de educação, alfabetização, etc. que tam-bém descobri recentemente”.

consideraçõesOs trabalhos aqui apresentados são amostras de algumas iniciativas de pesquisa e problematiza-ção a respeito dos fanzines. Esse artigo, de forma alguma, tem a pretensão de esgotar o assunto, ou de cobrir todas as pesquisas sobre o assunto.

De qualquer forma, mediante as leituras des-tes trabalhos, algumas colocações são possíveis de serem feitas, de modo a levantar caracterís-ticas comuns dos trabalhos, ou até novos cami-nhos de estudo a respeito dos fanzines:

- Os fanzines têm sido bem recebidos e aplica-dos no meio da educação, em todos os níveis, do ensino fundamental à pós-graduação. Algumas

caracteríticas inerentes a este tipo de publica-ção são responsáveis por esta afinidade, como a possibilidade de exercitar o texto reflexivo e crí-tico, além da possibilidade de deslocar o aluno da posição de mero consumidor, para produtor ativo e autor de textos escritos. Como citado, porém, há de se problematizar a inserção dos fanzines no meio escolar, tendo em vista que uma das princi-pais características destes seja justamente a mani-festação espontânea de seus autores.

- Algumas características estéticas e de lingua-gem dos fanzines, decorrentes tanto de opções conscientes de seus autores, como por supera-ções de questões práticas na feitura dos zines (exemplo: os zines eram feitos com colagem na época em que os computadores não eram popu-lares) são ricas fontes de pesquisa e campos ain-da poucos explorados pelos pesquisadores.

- Um dos motivos que fazem dos fanzines objetos de pesquisa é o caráter de documento histórico. O modo como retratam com rara fran-queza aspectos de culturas consideradas “margi-nais”, ignoradas pela grande mídia ou cobertas de modo supérfluo e estereotipado , como o caso das culturas punk e gêneros relacionados.

- Uma das características principais dos fan-zines é sua circulação restrita a nichos e culturas específicas. Esta restrição dificulta seu acesso a pessoas que não fazem parte destes círculos cul-turais e gera uma das maiores dificuldades rela-tadas pelos pesquisadores: a do acesso às publi-cações. Esta dificuldade soma-se ao fato de haver algum preconceito por parte do meio acadêmico em considerar os fanzines como publicações dig-nas de serem foco de estudo ou pesquisa.

Quero evoluir nessa pesquisa e chegar às discussões do fanzine como objeto de educação e alfabetização, que descobri recentemente.”

Eu já era fanzineiro

desde o final dos anos 80

e ao começar a lecionar

nesta escola decidi fazer

a experiência com os garotos

e as garotas.”Hildebrando Cesário Penteado

Ricardo Guimarães

2º ANUÁRIO DE FANZINES, ZINES E PUBLICAÇÕES ALTERNATIVASUGRA PRESS 5756

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a ssim como os próprios fanzines, entre os eventos dedicados a eles impera a diversidade. Alguns são mais

informais e descontraídos, outros são mais sérios e reflexivos.Há aqueles que privilegiam os quadrinhos e os que focam no espírito punk do “faça-você-mesmo”. Seja como for, são sempre excelentes oportunidades para ampliar contatos, divulgar trabalhos e fortalecer a rede de faneditores.Pensando nisso, fizemos um levantamento dos eventos zinísticos que têm rolado pela América do Sul. Agora é só encher a mochila de zines e pôr o pé na estrada!

buenos aires FanZine Fest

o que é: Feira de fanzinessobre: É um projeto que nasceu humilde, sem outra intenção que a de juntar zineiros em uma feira. Em dois anos de realização duplicou-se a quantidade de participantes e visitantes. Reina a diversidade entre os tipos de publicação participantes.onde: Capital Federal, Buenos Aires - Argentinaquando: Algum sábado durante o mês de outubro.como participar: Participação aberta até que não haja mais espaço físico para mesas no local.e-mail: [email protected]: www.buenosairesfanzinefest.com

[a]Mostra Dos inDePenDentes De Porto alegre

o que é: Exposição da fanzines, shows, palestras,exibição de filmes e documentáriossobre: Surgiu em 2010 com o objetivo de movimentar a cena independente da região metropolitana dePorto Alegre.onde: Porto Alegre, RS - Brasilquando: Anualmente, sempre no mês de maio.como participar: Basta fazer contato e enviar material. Aceitam sugestões de temas, palestrantes, filmes e bandas.e-mail: [email protected]: -

FanZinaDa

o que é: Encontro, debates, exposições, lançamentos e shows.sobre: O primeiro Fanzinada aconteceu em 2011, no Espaço Gambalia, no ABC Paulista, em comemoração ao Dia Internacional do Fanzine (30 de abril). O evento despertou interesse de zineiros, artistas e pesquisadores e no mesmo ano ganhou mais quatro edições: uma em Goi-ânia, uma no vão livre do MASP e duas no Rio Grande do Sul (Porto Alegre e Campo Bom).onde: Itinerantequando: Não tem data certa para acontecer. como participar: O evento é aberto a todos que quiserem contribuir ou participar. Acompanhe as convocatórias no site para mais informações.e-mail: [email protected]: www.fanzinada.com.br

Feria De FanZines

o que é: Feira de fanzines, quadrinhos e ilustraçõessobre: É um evento autogestionado de convocatória aberta realizado mensalmente desde fevereiro de 2011. Além da feira, o evento também conta com workshops, palestras, concursos e música. A cada edição reúne cerca de 30 expositores e 200 pessoas. Está se tornando uma janela tanto para as novas gerações de quadrinistas quanto para os mais consagrados. onde: Santiago - Chilequando: Mensalcomo participar: Aberto e gratuito para os expositores e para o públicoe-mail: [email protected]: www.feriadefanzines.com

Feria De narrativa gráFica “coMiconce”

o que é: Exposições, oficinas, palestras e shows.sobre: O evento visa fomentar uma instância cultural de reflexão, criação, exposição e difusão de trabalhos gráficos, tanto os independentes quanto aqueles lançados por editoras. Reúne escritores, desenhistas, coloristas, designers, fotógrafos e leitores, mesclando gerações a fim de propiciar a troca de informações entre jovens talentos e profissionais de trajetória já reconhecida.onde: Parque Ecuador, Concepción - Chile.quando: Dias 2, 3 e 4 de março de 2012como participar: Participação aberta. Os interessados devem enviar e-mail com seus dados pessoais e o registro de seus trabalhos.e-mail: [email protected]: www.comiconce.cl

Feira De selos e eDitores inDePenDentes

o que é: Feira de produções independentes.sobre: A Feira surgiu da ideia de juntar quem tem selo/edi-tora/zine para promover a produção cultural independente. Foram realizadas duas feiras em 2011 (uma em setembro, a outra em dezembro), somando quase 50 expositores e mui-ta gente interessada em adquirir materiais independentes.onde: São Paulo, SP - Brasilquando: Por enquanto o evento se mantém esporádicocomo participar: Selos, editoras e zineiros interessados em participar devem apenas confirmar presença com antece-dência para viabilizar a organização do espaço.e-mail: [email protected]: www.heartsbleedblue.com

FanZine exPo

o que é: Palestras e Feira de fanzinessobre: Com 9 anos de existência e 24 edições realizadas, Fanzine Expo é considerada a maior feira de fanzines do Brasil. Integra a programação de eventos como Anime Dreams, Anime Friends e Ressaca Friends. Está aberta a publicações de qualquer tema, mas como parte integrante de eventos voltados para o mangá, é natural que fanzines com esse tema tenham mais aceitação do público visitante.onde: São Paulo, SP - BrasilQuando: Janeiro (Anime Dreams), Julho (Anime Friends) e Dezembro (Ressaca Friends)como participar: Basta preencher a Ficha de Inscrição Online localizada no site do evento e efetuar o pagamento da inscrição. e-mail: [email protected]: fanzineexpo.wordpress.com

Fanzine Expo

Pequeno Guia deeventos zinísticos

2º ANUÁRIO DE FANZINES, ZINES E PUBLICAÇÕES ALTERNATIVASUGRA PRESS 5958

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PrograMa De ForMação eM hq e Zine

o que é: Programa de formaçãosobre: Organizado pelo professor, pesquisador e zineiro Gazy Andraus, o evento levou a educadores e interessados a discussão e a formação da cultura das histórias em qua-drinhos e dos fanzines através de debates, palestras e mini--cursos oferecidos por autores e pesquisadores renomados. Não há previsão de que o evento volte a acontecer em 2012.onde: Centro Cultural da Juventude Ruth Cardoso –São Paulo, SP – Brasilquando: Aconteceu de março a setembro de 2011, mais a palestra de Sérgio Macedo em outubro.como participar: Programa aberto a jovens e adultos, com participação gratuita por inscrição.e-mail: [email protected]: www.ccjuve.prefeitura.sp.gov.br

Mostra De FanZines casa Do aDolescente

o que é: Exposição, palestras e workshopsobre: A Mostra é fruto do trabalho desenvolvido pela equipe multidisciplinar que realiza a Oficina de Fanzine nas Casas do Adolescente I, II e III. Com o grande nú-mero de publicações concluídas, surgiu a necessidade de organizar uma exposição e de transmitir o conhecimento dessa cultura por meio de palestras e workshops. onde: Centro Histórico e Cultural de Itapetininga –Itapetininga, SP – Brasilquando: A primeira edição aconteceu entre os dias 16 e 23 de novembro de 2011. Em 2012, deve acontecer em março e em julho.como participar: Aberta à participação do publico. São enviados convites à escolas e projetos sociais.e-mail: [email protected]: –

verão revolução

o que é: Show, feira de zines e atividades contra-culturaissobre o evento: Verão Revolução é uma idéia, um levante com organização totalmente descentralizada onde qual-quer pessoa interessada em resgatar o espírito ativo da cena independente pode aderir. Para realizar um evento parti-cipante do Verão Revolução, o organizador deve seguir 10 critérios básicos, sendo que um deles prevê que o evento deve, obrigatoriamente, ter uma feira de zines ou livros. onde: Por todo país.quando: Todos os anos, de 1º de janeiro a 31 de marçocomo participar: Basta estar de acordo com os critérios estipulados (visite o blog para mais informações) e entrar em contato.e-mail: [email protected]: veraorevolucao.wordpress.com

Zine exPo

o que é: Feira de quadrinhos sobre o evento: Fundada em 2009 por um grupo de qua-drinistas independentes, a Zine Expo hoje é referência quando se trata de novidades, especialmente no segmento de mangá. Organizam áreas especiais em eventos no Rio de Janeiro onde trabalhos de todo Brasil são expostos e colo-cados à venda. Também prestam auxílio a novos editores.onde: Rio de Janeiro, RJ – Brasilquando: Em julho e dezembro dentro do evento Anime Family e outras 3 vezes ao ano em datas variadas dentro do evento Anime Wings.como participar: Basta entrar em contato pelo e-mail e en-viar o trabalho para uma breve avaliação. Não há restrições de gêneros. e-mail: [email protected]: zineexpo.blogspot.com

Zine-se

o que é: Troca, venda, distribuição e exposição de zines.sobre: Tradicional evento que completa 10 anos de exis-tência em 2012 e acontece geralmente em algum espaço público da cidade. Informal e descentralizado, no Zine-se todo mundo é convidado e anfitrião ao mesmo tempo!onde: Fortaleza, CE – Brasilquando: Foi mensal por 6 anos, depois espaçou-se e voltou a ser mensal em 2012.como participar: Comparecendo, de preferência com zi-nes. Quem não reside em Fortaleza pode mandar suas publicações pelo correio. Os interessados podem também ajudar a divulgar fazendo sua própria versão do cartaz ou webflyer.e-mail: [email protected]: esputinique.wordpress.com

Zine Zelt o que é: Uma “casa de cópias sem dono”sobre: Por dois dias, em agosto de 2011, Ana Wandizk con-verteu uma antiga barraca de camping num espaço para exposição, confecção e reprodução de fanzines. Chamado Zine Zelt, o espaço surgiu com a proposta de sociabilizar uma coleção bem grande de fanzines em um formato de reunião experimental que pode tomar formas distintas.Durante todo o ano o acervo pode ser consultado no Club Editorial Rio Paraná, também em Rosário.onde: Rosario, Provincia de Santa Fé – Argentinaquando: Não há periodicidade definida. como participar: Os interessados podem enviar suas publi-cações para a coleção e para o diretório online.e-mail: [email protected]: www.zinezelt.com.ar

seMinário cabeças De PaPel

o que é: Mesas com debates e partilha de experiências; ofi-cinas, exposição e Zine-se de encerramento.sobre: Idealizado e realizado por membros da ONG ZIN-CO - Centro de Estudo, Produção e Documentação, o evento teve 3 edições até agora: a primeira em 2005 com o tema “Zines e Protagonismo”, a segunda em 2007 com o tema “Zines e Educação” e a terceira em 2011 com o tema “Zines como Patrimônio Material e Imaterial”.onde: Fortaleza, CE – Brasilquando: Inicialmente era bienal. Após uma pausa de 3 anos, pretende agora ser anual. A próxima edição está pro-gramada para novembro de 2012.como participar: Datas, programação e instruções de ins-crição são informadas no blog do evento.e-mail: [email protected]: cabecasdepapel3.blogspot.com

ugra Zine Fest

o que é: Exposição, oficinas, palestras, debates, feira, mostra de vídeos e showssobre: Organizado pela Ugra Press, o evento foi concebido para ser um pólo de fomentação e reflexão sobre as publicações independentes, além de um espaço de confraternização entre editores, leitores e agitadores culturais. Reune nomes de destaque no meio em atividades minuciosamente elaboradas.onde: São Paulo, SP – Brasilquando: Anualmente, em dois dias, entre os meses de fevereiro e marçocomo participar: Todas atividades, com exceção dos shows e das oficinas, são gratuitas. As inscrições para as oficinas devem ser feitas com antecedência por e-mail. e-mail: [email protected] url: ugrapress.wordpress.com

Mostra eDitar De Publicações inDePenDentes

o que é: Exposição / mostra com ênfase em publicações de distribuição gratuitasobre: Idealizado pelo editor do Feira Moderna Zine, o evento tem como intuito reunir publicações indepen-dentes dos mais variados estilos, promovendo a integra-ção não somente entre seus responsáveis, mas também chamando a atenção do público, principalmente o mais jovem, para as publicações independentes em formato impresso.onde: Marica, RJ – Brasilquando: Sem periodicidade definida. A mostra faz parte da programação dos eventos organizados pela Latitude Zero Produções.como participar: Basta enviar material para Caixa Postal 100075, Niterói/RJ CEP 24 020 971 A/C: Rafael A.e-mail: [email protected]: www.feiramodernazine.com

Buenos Aires Fanzine Fest

Ugra Zine Fest

UGRA PRESS60

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o primeiro arquivo parti-cular de zines que vi foi o

do Weaver Lima, que apareceu num ensaio da minha banda, em 1996, com uma pilha deles. Essa pilha morou umas sema-nas dentro de uma gaveta vazia no meio da sala onde ensaiáva-mos, no apartamento desocu-pado do meu avô. Weaver fazia parte dos Seres Urbanos (com o Lupin, Marcílio, Michel, Galba e Elvis) e mantinha cor-respondência com zineiros de todo o Brasil. Foi nessa épo-ca que li/vi zines do Bruno Privatti, Mini Bittercourt, Leonardo Panço, Joacy James, Alberto Monteiro, Law Tissot, entre muitos outros.

Comecei minha coleção com meus próprios zines a partir de então, depois com os zines coletivos das oficinas e com os zines que começaram a pipocar loucamente a cada Zine-se (dá pra saber mais sobre esse evento em outra página do Anuário, acho!). Daí, escrevendo o Esputinique, zine-catálogo, montei um esquema de correios que quadruplicou o acervo.

Logo estava ganhando acervos alheios. Gente que cresce, se muda, viaja, muda de interesse... ou não. Quando alguém doa uma caixa de zines, sublinha a importância do acervo, diz: “Mesmo que não precise mais estar comigo, que esteja num lugar bacana”. E a idéia que se tem desse lugar bacana geralmente se inicia com a imagem de alguém, com um nome. Fulano gosta tanto de zine, fulano guardará bem, e vai evoluindo para fulano pode fazer algo com isso, fulano pode redistribuir, fulano pode mostrar pra mais gente, fulano pode usar em oficinas.

Mas aí pode não ser mais apenas o barato de um fulano. Abrir um acervo ou um conjunto de acervos de zines é criar outra coi-sa: uma zineteca. Trata-se de criar e executar política pública, seja isto feito dentro de um governo ou não. Talvez exista uma parte íntima de todos nós que transborde nos zines e que seja, de algum modo COMUM. Não no sentido de ordinário, sem importância, pelo contrário, trata-se de algo tão essencial em todas essas vidas – pedaços de vidas – gravados em páginas de zine que por isso mes-mo é valioso: por ser comum a todos nós.

Para quem vive o universo dos zines com intensidade – seja como leitor ou autor ou os dois – estar frente a um arquivo parti-cular de zines é um deleite. Lembro quando, em 2002, busquei na casa do George Frizzo (então músico da Insanity e editor do zine Consumatum Est) uma caixona de zines. Mal podia esperar para chegar em casa e abrir, ia espiando entre sinais vermelhos. Depois essa caixa morou ao lado da minha cama enquanto escrevia o zine

Esputinique, sentindo um ca-lor no peito e uma energia in-crível por dormir ao lado de tanta gente-em-versão-papel. Lia tudo e espirrava, e fazia co-nexões entre autores, cidades, cenas, temas, etc. Tive insights incríveis e o sentimento de fa-zer parte de uma grande rede invisível se fortalecia a cada sessão de leitura.

Pois agora multiplique essas sensações e vamos adentrar uma zineteca. Visitei algumas: Fanzinothéque de Poitiers, na França e duas inglesas, a 56a Infoshop, e a Woman´s Library. Puxa, há vida/obra além, mas não só, há vidas/obras entrecruzadas e dispos-tas de forma organizada para quem mais quiser chegar e des-

cobrir/ler de pertinho. E tem mais: tem gente que se dedica a tor-nar tudo isso possível. É incrível!

Desde 2004 pensamos a criação da Zineteca de Fortaleza, pro-cesso coletivo que do ano passado pra cá está deslanchando, ainda mais depois do seminário “Cabeças de Papel 3”, quando consegui-mos juntar 30 pessoas durante um sábado inteiro pensando for-mas possíveis de estruturar, manter, financiar, organizar, abrir ao público, articular ações... para esse lugar que será de leitura, pro-dução, pesquisa, encontro, re-encontro, estalos e luzes acendendo pelo lado de dentro da cabeça de quem entra.

Carolina Ruoso, cearense agora morando na França, enquanto termina o doutorado em História da Arte, às vésperas do seminário “Cabeças de Papel 3” nos presenteou com um texto em que reflete sobre zines como patrimônio material e imaterial. Ela questiona o que faz os zineiros (ou ex-zineiros) montarem zinetecas, abrirem seus arquivos ou mesmo mantêlos em suas casas, naquelas famo-sas caixas de resmas ou de sapatos. Seria o medo do esquecimento? Saudosismo? Não, mas para viver juntos outro tipo de experiência com zines e nossas identidades, completo eu, tão mutantes quan-to eles.

Zines como patrimônio de fronteira, já que não são apenas obje-tos, mas sim uma prática. Uma experiência. Sim, estamos entrando numa parte da história também tão divertida quanto chamar ami-gos pra fazer um zine, que é chamar para inventar uma zineteca.

Fernanda Meireles é zineira desde 96, agora estuda a correspondência entre zinei-ros no mestrado em Comunicação Social pela UFC e planeja a Zineteca de Fortaleza com um grupo de ninjas – que às vezes se denomina ONG ZINCO – Centro de Estudo Pesquisa e Produção em Mídia Alternativa.

Transformando velhas caixas de papelem um lugar chamado zineteca

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