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[REVISTA CONTEMPORÂNEA – DOSSIÊ REDEMOCRATIZAÇÕES E TRANSIÇÕES POLÍTICAS NO MUNDO CONTEMPORÂNEO] Ano 5, n° 7 | 2015, vol.1 ISSN [22364846] 1 30 Anos da Transição no Brasil: luta de classes e dependência na constituição do Brasil contemporâneo Roberto Santana Santos * Resumo: Nos trinta anos do fim da Ditadura e da Transição no Brasil o artigo propõe uma reflexão sobre o referido processo histórico, tendo como pontos de debate uma dupla visão: um panorama estrutural, para compreendermos as modificações econômicas globais de meados da década de 1980 e que tiveram forte impacto para o fim do regime de exceção; e o entendimento da Transição como um agudo momento de luta de classes, onde dois projetos de sociedade se enfrentaram pela liderança do novo Brasil pós-ditatorial. Essa disputa se desenvolve através de momentos-chave da história recente do país, como o Colégio Eleitoral de 1985, a Assembleia Nacional Constituinte e as eleições presidenciais de 1989. Palavras-chave: Transição, Dependência, Nova República 30 Years of Transition in Brazil: class struggle and dependence in the constitution of contemporary Brazil Abstract: In the thirty years since the end of dictatorship and the processes of democratic Transition in Brazil, the article propose a reflection on that historical process, based on a double vision : a structural view , to understand the global economic changes of the mid- 1980s which had a strong impact to the end of the authoritarian regime; and the understanding of the transition as a moment of acute class struggle , where two projects of society faced by the leadership of the new post- dictatorial Brazil . This dispute develops through key moments of the recent history of the country, such as the 1985 Electoral College, the National Constituent Assembly and the 1989 presidential elections. Keywords: Transition, Dependency, New Republic * Doutorando em Políticas Públicas pelo Programa de Políticas Públicas e Formação Humana da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (PPFH/UERJ). Graduado em História e Mestre em História Política pela mesma instituição. Secretário Executivo Adjunto da REGGEN (Rede de Economia Global e Desenvolvimento Sustentável) da UNESCO (Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura) e UNU (Universidade das Nações Unidas). Contato: [email protected]

30 Anos da Transição no Brasil: luta de classes e dependência na

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30 Anos da Transição no Brasil: luta de classes e dependência na constituição do Brasil

contemporâneo Roberto Santana Santos*

Resumo: Nos trinta anos do fim da Ditadura e da Transição no Brasil o artigo propõe uma reflexão sobre o referido processo histórico, tendo como pontos de debate uma dupla visão: um panorama estrutural, para compreendermos as modificações econômicas globais de meados da década de 1980 e que tiveram forte impacto para o fim do regime de exceção; e o entendimento da Transição como um agudo momento de luta de classes, onde dois projetos de sociedade se enfrentaram pela liderança do novo Brasil pós-ditatorial. Essa disputa se desenvolve através de momentos-chave da história recente do país, como o Colégio Eleitoral de 1985, a Assembleia Nacional Constituinte e as eleições presidenciais de 1989. Palavras-chave: Transição, Dependência, Nova República 30 Years of Transition in Brazil: class struggle and dependence in the constitution of contemporary Brazil Abstract: In the thirty years since the end of dictatorship and the processes of democratic Transition in Brazil, the article propose a reflection on that historical process, based on a double vision : a structural view , to understand the global economic changes of the mid- 1980s which had a strong impact to the end of the authoritarian regime; and the understanding of the transition as a moment of acute class struggle , where two projects of society faced by the leadership of the new post-dictatorial Brazil . This dispute develops through key moments of the recent history of the country, such as the 1985 Electoral College, the National Constituent Assembly and the 1989 presidential elections. Keywords: Transition, Dependency, New Republic

*   Doutorando em Políticas Públicas pelo Programa de Políticas Públicas e Formação Humana da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (PPFH/UERJ). Graduado em História e Mestre em História Política pela mesma instituição. Secretário Executivo Adjunto da REGGEN (Rede de Economia Global e Desenvolvimento Sustentável) da UNESCO (Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura) e UNU (Universidade das Nações Unidas). Contato: [email protected]

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O ano de 2015 marca a data de trinta anos do fim da Ditadura no Brasil e a

instalação do atual sistema político liberal em que vivemos. Na historiografia e na

imprensa esse fato ficou conhecido como Transição, e o período histórico por ele

inaugurado e que se prolonga até hoje como Nova República.

Aproveitando a data redonda, o presente artigo apresenta uma reflexão sobre o

referido processo histórico, tendo como pontos de debate uma dupla visão acerca da

Transição: um panorama estrutural, para compreendermos as modificações

econômicas globais de meados da década de 1980 e que tiveram forte impacto para o

fim do regime de exceção; e o entendimento da Transição como um agudo momento

de luta de classes, onde dois projetos de sociedade se enfrentaram pela liderança do

novo Brasil pós-ditatorial. Essa disputa perpassa momentos-chave, como o Colégio

Eleitoral de 1985, a Assembleia Nacional Constituinte e as eleições presidenciais de

1989.

Dessa forma, apresentamos um rápido panorama do nascimento de nosso atual

momento histórico, tanto na análise econômica, quanto nas disputas políticas.

Finalizaremos o artigo com uma reflexão sobre nosso atual sistema político e

eleitoral, suas pretensões democráticas, acertos e limites formulados ao longo das

últimas três décadas.

1) Panorama Estrutural da Transição

Os primeiros indícios de uma crise internacional do capitalismo já apareceram

em 1967, com a baixa na taxa de lucros de grandes empresas e a estagnação das

principais economias mundiais. No entanto, a crise passa a ser mais sentida na década

de 1970, com os choques do petróleo (1973 e 1979), o fim do padrão-ouro do dólar

estadunidense e a alta do desemprego, minando a sustentação do modelo keynesiano e

o estado de bem-estar social.

Ao entrarmos nos anos 1980, observamos importantes transformações na

economia capitalista mundial como resposta à crise. Estava então em marcha a

consolidação hegemônica do neoliberalismo como conjunto de ideias redefinidoras do

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sistema em escala global. Os governos de Ronald Reagan nos Estados Unidos (1981-

1989) e Margareth Thatcher na Inglaterra (1979-1990) foram os baluartes dessa onda

conservadora, que logo passou a ser implementada também nos países periféricos.

Essas mudanças ocorrem simultaneamente aos anos finais da Ditadura e ao período de

Transição no Brasil.

Medidas como privatizações, flexibilização dos direitos trabalhistas,

terceirização e liberalização do comércio passam a ser aplicadas na política

econômica de diversas nações. Para recuperar suas finanças baseadas num enorme

déficit público, o governo Reagan nos Estados Unidos, assim como outros países

centrais, eleva de forma drástica os juros e amortizações da dívida dos países

subdesenvolvidos (SANTOS, 2004).

Esse novo cenário da economia mundial vai prejudicar fortemente os países

mais pobres, que estavam em situação de grande endividamento. O caso brasileiro é

notório, com a queda nos indicadores econômicos. A média anual de inflação na

década de 1980 foi de incríveis 330% ao ano.1 A população brasileira cresceu 1,7%,

mas a população moradora de favelas aumentou 7,65% no mesmo período. O

coeficiente de GINI do Rio de Janeiro, cidade com grande avanço da favelização no

período, subiu de 0,58 em 1981, para 0,67 em 1989, indicando um aumento da

desigualdade social. (DAVIS, 2006. P 160-161). No ano de 1983 o desemprego

chegava a 15% da população economicamente ativa, e a inflação a 250% (Dados do

IBGE. GIANNOTTI, 2009. P. 255).

Entendemos o Brasil como um país capitalista dependente, dentro dos

conceitos formulados por Ruy Mauro Marini. Países dependentes são nações

formalmente emancipadas, mas que possuem sua economia numa relação subordinada

e constantemente modificada pelo mercado internacional comandado pelas nações

centrais, na qual o resultado do desenvolvimento de suas economias é gerar formas

mais complexas de dependência (MARINI, 2000, p. 109).

Os anos 1980 se apresentam como um momento de formulação da

globalização capitalista, onde os interesses do capital internacional se traduzem na 1 Fonte IBGE. In: PORTAL BRASIL. Inflação. Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/economia-e-emprego/2012/04/inflacao>. Acesso em 25 de dezembro de 2013.

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aplicação do ideário neoliberal, derrubando restrições ao comércio de bens e serviços,

abrindo novos espaços de reprodução do capital (por meio de privatizações, por

exemplo), aumentando o grau de exploração da força de trabalho – terceirizações e

redução de direitos – e forçando uma forte intervenção estatal a favor do capital

financeiro, que se torna hegemônico a partir desse momento.

O discurso do “Estado mínimo”, apesar de propagandeado pela mídia

monopolizada, se aplica a setores sociais, não a favorecimentos ao grande capital. A

economia dos países, principalmente do capital privado, gira cada vez mais em torno

do endividamento público (que desloca recursos para o capital financeiro) e gastos

estatais - como a indústria militar, de softwares, ou mesmo o trabalho terceirizado

utilizado na esfera pública. O governo que inaugurou essas políticas foi justamente o

de Ronald Reagan, tido como um dos maiores defensores do neoliberalismo

(SANTOS, 2004).

Em um momento de rearranjo da economia mundial, principalmente a norte-

americana, as dívidas dos países da América Latina serviram para transferência de

valor da periferia para as economias centrais. O Brasil apresentava forte

endividamento externo devido à política de desenvolvimento da Ditadura, baseada no

financiamento internacional. Desde o final da Segunda Guerra Mundial (1945) até o

fim da Ditadura (1985), a dependência se manifestava no capitalismo brasileiro por

meio do investimento direto das multinacionais em nossa economia. A

implementação de unidades produtivas dessas empresas em nosso país visava o

controle do mercado interno brasileiro, ainda fechado para a importação de

determinados produtos. A transferência de valor para o centro do sistema capitalista

internacional se dá pela remessa de lucros das empresas estrangeiras, a apropriação de

mais-valia pela circulação das mercadorias produzidas no Brasil no mercado

internacional e o pagamento de juros, empréstimos e dividendos (MARINI, 2000).

Com a globalização neoliberal a situação muda em grande medida. Com um

aumento avassalador da produção, assim como rebaixa nos custos da mesma – devido

à instalação de fábricas na Ásia, as empresas multinacionais pressionam para a

liberalização total do comércio mundial. Seu intuito é construir um mercado mundial

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de consumidores, sem restrições para a circulação de capitais, bens e serviços. Para

isso, era necessário terminar com qualquer tipo de barreira para a livre circulação,

representada essencialmente, em políticas protecionistas e alfandegárias.

Esse panorama internacional foi um dos motivos da profunda crise econômica

que acompanhou os anos finais da Ditadura empresarial-militar em nosso país e

contribuiu consideravelmente para o seu término. Dessa forma, a Transição de regime

no Brasil ocorre simultaneamente a uma outra transição, de caráter estrutural, que

demarca a passagem de uma fase da dependência à outra. Trata-se do fim da

dependência baseado no investimento direto no mercado interno brasileiro pelas

transnacionais e início da adequação de nossa dependência aos padrões da

globalização neoliberal.

A Crise da Dívida é a contrapartida para a periferia do advento neoliberal.

Nesse primeiro momento o receituário neoliberal estava sendo aplicado nas

economias centrais. O papel da Crise da Dívida periférica foi garantir a transferência

de valor dos países dependentes para as nações hegemônicas. Suas economias são

destroçadas para a rearticulação dos países centrais, principalmente os Estados

Unidos, num intenso processo de acumulação de capital aproveitado pelas gigantes

multinacionais e pelo capital financeiro. O endividamento internacional funcionou

como uma enorme drenagem de recursos, gerando dívidas impagáveis, que levaram

países como o Brasil a uma situação econômica de hiperinflação e aumento da

pobreza e desigualdade social.

Com as economias centrais fortificadas, O Fundo Monetário Internacional

(FMI) e o Banco Mundial, com a participação ativa do Tesouro estadunidense,

propuseram políticas de renegociações das dívidas2 dos países latino-americanos ao

final dos anos 1980 e início dos 1990. Por meio do refinanciamento dos países

endividados, foram impostos ajustes estruturais por esses órgãos multilaterais que

direcionavam as economias periféricas à adoção de medidas neoliberais, como a

2 Não é objetivo do artigo destrinchar essas políticas. Cito aqui o Plano Brady, de 1989, que refinanciou os países então mergulhados no endividamento externo, com abatimento de parte da dívida e aliviamento dos juros.

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abertura dos mercados e a privatização de empresas estatais e serviços públicos. Esses

ajustes estruturais ficaram conhecidos como Consenso de Washington.

O Consenso de Washington configura-se então como um segundo passo.

Primeiro a quebra das economias latino-americanas, com a Crise da Dívida,

reforçando as economias centrais. Posteriormente, condicionar o refinanciamento das

nações dependentes e a rolagem da sua dívida mediante a adoção dos ajustes

estruturais impostos pelo FMI. Assim, o grande capital internacional consegue

derrubar qualquer tipo de protecionismo ou restrição à livre circulação. Como

colocado anteriormente, a liberalização do comércio é uma condição vital para essa

nova fase do capitalismo. Da mesma forma, novos espaços para o investimento de

capital privado transnacional se abrem, por meio da privatização de setores públicos e

pela maior exploração da força de trabalho com terceirizações e retirada de direitos

trabalhistas.

Essa transição estrutural se deu lentamente ao longo dos anos 1980 e 1990.

Passamos da dependência do investimento direito, para uma nova fase, da

globalização neoliberal. Nessa etapa, os países dependentes na América Latina

passam por um forte processo de reprimarização, desindustrialização e

transnacionalização. Suas economias perdem muito do setor secundário, já que não

conseguem competir com os produtos importados, fabricados principalmente na Ásia

por empresas transnacionais. Por outro lado, os produtos primários voltam a ser

dominantes em nossas exportações, com forte participação do capital estrangeiro

(CARCANHOLO, 2014). O endividamento público como forma de transferência de

valor para o setor financeiro e especulativo também representa uma característica do

momento atual do capitalismo dependente brasileiro.

Portanto, o momento da Transição política no Brasil ocorre concomitante a

mudanças estruturais no capitalismo dependente do país. Essas transformações

estruturais tiveram importante papel para o esgotamento da política de

desenvolvimento da Ditadura, a mudança do regime político e também para as

disputas pelos rumos do país nos primeiros anos da Nova República.

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Isso se manifesta no embate de forças que marcam o período da Transição.

Essas forças podem ser divididas basicamente em dois grupos: os partidos e

organizações comandados pelo empresariado brasileiro, que no período entre 1985 e

1990 vão amadurecendo a defesa de medidas neoliberais na economia; e, por outro

lado, um grupo de forças mais à esquerda, que compreendiam a Transição como um

momento ímpar para passar o país a limpo, num projeto de reformas democrático-

populares, que tinha importante eixo, na distribuição de renda e na melhora de

condições socioeconômicas da maioria da população.

O que estava em jogo estruturalmente, e se manifestava na arena política, era

se o novo regime iniciado em 1985 seria uma ferramenta para a renovação e

aprofundamento da dependência, ou, se seu desenvolvimento significaria ampliar a

participação popular nos rumos do país e melhorar as péssimas condições de vida das

massas, condições herdadas do período ditatorial. Essa luta de classes permeia a

construção da Nova República nos anos imediatamente posteriores ao fim da

Ditadura, aparecendo de forma veemente na Assembleia Nacional Constituinte (1986-

1988) e tendo seu embate definitivo nas eleições presidenciais de 1989.

2) A Transição e os embates políticos

a) Diretas Já x Colégio Eleitoral

A crise internacional do capitalismo enfraqueceu a Ditadura, inviabilizando

seu projeto de desenvolvimento em aliança com o capital internacional. A Crise da

Dívida afundou economicamente o país, que não encontrava mais credores

internacionais, devido ao seu crescente endividamento e impossibilidade de pagar os

débitos contraídos. O ambiente de crise reascendeu as movimentações pró-

democracia. Desde 1979 o regime já estava em um processo de Abertura com o

presidente João Baptista Figueiredo. O AI-5, o bipartidarismo e a censura já haviam

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sido revogados e a Anistia decretada. Eleições diretas para governadores em 1982

deram ampla vitória para a oposição.3

A partir desse momento as forças progressistas ganham terreno e passam a

reivindicar as eleições diretas para presidente da República. A campanha das Diretas

Já (1983-84) tomaria as ruas de todo o país e uniria no palanque as principais

lideranças contrárias à Ditadura, desde os liberais Ulysses Guimarães, Tancredo

Neves e Fernando Henrique Cardoso (todos, neste momento, do PMDB – Partido do

Movimento Democrático Brasileiro) até as lideranças de esquerda, como Leonel

Brizola (PDT – Partido Democrático Trabalhista), herdeiro do trabalhismo e porta-

voz de um grupo que unia nacionalistas, socialistas e anti-imperialistas; e Luis Inácio

Lula da Silva (PT – Partido dos Trabalhadores), partido que congregava uma base

sindical, das comunidades eclesiais de base da igreja católica e vários movimentos

sociais.

As Diretas Já se tornaram um dos maiores movimentos de massa da história

brasileira, com comícios que arrastaram milhões de pessoas por todo o país,

principalmente nas capitais. Essa mobilização seria a oportunidade de uma derrubada

do regime ditatorial, tendo a população como grande protagonista. Esse era o desejo,

principalmente, das forças de esquerda que se tornavam atores de grande relevo na

política nacional e tentavam impulsionar a participação de sindicatos, movimentos

sociais e instituições de massa para as grandes mobilizações. O objetivo central da

Campanha era, por meio da mobilização popular, impor ao regime a convocação

imediata de eleições diretas para presidente, nas quais era dada como certa a derrota

de qualquer candidato indicado pelo governo ditatorial.

Da mesma forma, os militares e civis que compunham o regime encaravam

com preocupação a Campanha das Diretas, enxergando nela a possibilidade de

radicalização do processo de Transição. Para as forças conservadoras, a Transição

deveria ser totalmente controlada, de modo que as Forças Armadas não fossem

responsabilizadas pelos crimes da Ditadura, garantindo ainda a sobrevivência política

3 Um retrato do avanço da oposição se deu com a vitória nos três principais estados da Federação. São Paulo, com Franco Montoro (PMDB); Minas Gerais, com Tancredo Neves (PMDB); e Rio de Janeiro, com Leonel Brizola (PDT), esse último, herdeiro direto do trabalhismo golpeado em 1964.

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dos quadros civis do regime. Os políticos reunidos no então PDS, herdeiro da

ARENA, partido da Ditadura, precisavam manter suas carreiras viáveis em um

momento que as disputas políticas passariam a ser realizadas pelo sistema de eleições

diretas.

Uma radicalização do processo e uma ascensão de forças como PT, PDT,

MST (Movimento dos trabalhadores Sem Terra), CUT (Central Única dos

Trabalhadores) e lideranças como Lula e Brizola, poderia colocar em risco a transição

ordenada em que as forças ditatoriais desejavam. Era preciso que a Transição

significasse continuidade, sem grandes radicalismos políticos, ou mudanças bruscas

na economia brasileira, muito menos o julgamento dos militares pelos seus crimes de

assassinatos, torturas e sequestros.

A Campanha das Diretas Já foi derrotada em 1984, já que a Emenda Dante de

Oliveira, que colocava a proposta de eleições direitas para presidente não recebeu os

2/3 necessários para sua aprovação, mesmo conseguindo votos até de dentro do PDS.

A partir desse momento, Tancredo Neves (PMDB) passou a articular sua candidatura

no Colégio Eleitoral, com o intuito de rachar o partido governista, o PDS, e obter a

maioria necessária para sua eleição (SANTOS, 2014. P.177-209).

Esse racha se inicia quando José Sarney, então presidente do PDS, abandona a

sigla para ser vice na chapa de Tancredo e do PMDB. Outros líderes do PDS fazem o

mesmo, porém criando uma nova sigla, a Frente Liberal. 4 Dessa maneira, Tancredo,

por meio de costuras políticas que duraram cerca de um ano, evitou uma eleição

direta, onde seu partido escolheria Ulysses Guimarães, se apresentou de forma

palatável aos militares, prometendo uma transição política sem radicalismos, e atraiu

boa parte das lideranças civis da Ditadura para um bloco que lhe elegeu presidente e

comporia seu ministério, como demonstrado pela obra de um de seus assessores,

Ronaldo Costa Couto (COUTO, 1998. P. 345-399).

Configura-se dessa maneira, uma Transição sob o signo da continuidade. A

permanência de antigas lideranças civis da Ditadura no novo governo, e uma mudança

4 A Frente Liberal se tornaria partido ainda em 1985, o Partido da Frente Liberal (PFL). O partido seria refundado em 2007, quando adota seu nome atual, Democratas (DEM).

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de regime realizada não pela mobilização popular, mas sim, por meio das conversas

de gabinete, fica evidente no depoimento de José Sarney:

A transição deu certo, porque nós constituímos um grupo de políticos. A união do Tancredo, do Ulysses, Aureliano, Marco Maciel, eu, os outros todos. E fizemos uma coisa fundamental: tomamos vacina contra a área militar. Para inibir reações de setores militares antagônicos. Isso foi feito com o general Leônidas, no Exército. O Aureliano ajudou junto à Marinha, com os almirantes Sabóia e Maximiano (...) O brigadeiro Murilo Santos na Aeronáutica, e assim por diante. Assim, tínhamos um esquema que, na hipótese de qualquer reação, O III Exército, com o general Leônidas, garantiria. Ele fez um proselitismo dentro das Forças Armadas para que a transição fosse feita, fosse bem-sucedida. Graças a isso, nós tivemos a segurança de fazê-la. É a minha tese, que repito sempre: a transição tinha que ser feita com as Forças Armadas, não contra as Forças Armadas. Quer dizer: o contrário do caso argentino. A ideia de que a transição deveria significar a derrubada dos militares do poder, essa era extremamente perigosa. Então nós fizemos justamente com o Tancredo. Foi feito com Tancredo, com as Forças Armadas. Ninguém sabe disso até hoje [1997]! (COUTO, 1998. P. 380)

Devemos compreender que indivíduos representam interesses históricos de

determinados grupos sociais. O empresariado nacional e estrangeiro verificou a

necessidade de fim do regime, não só pela crescente polarização “governo x

oposição”, mas pelo entendimento de que o estado militarizado interventor da

economia não mais cumpria um papel benigno à reprodução do capital. O sistema de

governo e a política econômica brasileira iam, naquele momento, na contra mão das

reformas neoliberais que começavam a gracejar mundo afora. Parte do setor

empresarial já começava a defender uma “modernização” da economia brasileira, o

que se traduzia na defesa das ideias neoliberais.

A classe dominante, autóctone e estrangeira, necessitava naquele momento

evitar o avanço de forças populares, garantir a sobrevivência e viabilidade de seus

quadros políticos civis – descolando-os do regime ditatorial, no intuito de que estes

fossem capazes de manter o poder por meio de vitórias eleitorais. Ao mesmo tempo, a

Transição deveria ser apresentada como uma concessão das elites, misturado com

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sentido de “missão comprida” por parte dos militares. Tudo para evitar a imagem de

uma Transição que fosse uma vitória popular ou uma derrubada da Ditadura.

Florestan Fernandes sintetizou na época a situação da Transição como uma

conciliação conservadora e seus efeitos sobre o país:

Determinar o sucessor e as condições políticas da “transição” constituíam dois objetivos centrais, mas não os mais importantes. O essencial consistia (e ainda consiste) em impedir um deslocamento de poder, com uma acumulação de forças políticas acelerada das classes subalternas. O que os militares temiam era ainda mais temido pela massa reacionária da burguesia. Trocar a ditadura por um governo de “conciliação conservadora” era uma barganha imprevista, que o sistema de poder e de propagação ideológica da burguesia fortaleceu com estardalhaço por todos os meios possíveis (conferindo, inclusive, à campanha eleitoral de Tancredo Neves o estatuto de um movimento de salvação nacional). A partir daí, o PMDB perdera a capacidade de afirmar-se numa linha de combate coerente pela democracia e adernou à direita, arrastando na queda sua “esquerda parlamentar” e sua riquíssima irradiação popular. O antiditatorialismo passou por um processo análogo ao esvaziamento do republicanismo, provocado pela aliança dos fazendeiros com os “republicanos históricos”. Os touros estavam soltos na praça. Mas não havia toureiros. Os próceres do PMDB ocupavam-se em “matar as cobras com o próprio veneno”, enquanto estas mudavam de covil e se instalavam confortavelmente entre as cobras que infestavam o PMDB. Em seu clímax, o movimento político popular sofrera um golpe mortal. A “transferência de poder” converteu-se numa troca de nomes e, como afirmou um notável comentarista político, as velhas e as novas raposas aplainaram o caminho que levava à satisfação de seus apetites. Esse era o desdobramento que mais convinha às elites econômicas, culturais e políticas das classes dominantes. Esvaziar a praça pública, recolher as bandeiras políticas “radicais”, matar no nascedouro o movimento cívico mais impressionante da nossa história – restaurando de um golpe as transações de gabinete, as composições entre os varões “liberais” da República, o mandonismo político. Não o que negar: as figuras de proa, como Tancredo Neves, Ulisses Guimarães, Marco Maciel e Aureliano Chaves à frente, lavraram um tento. Exibiram um profissionalismo político de causar inveja. E tiveram êxito. O que consagra a ação política é a vitória. Vitoriosos, eles demonstraram o seu valor e a sua competência. E a Nação? Esta foi inapelavelmente empurrada da estrada principal. Moldura e cenário de uma reestruturação específica, que nos coloca metade na década de [19]20 e outra metade na década de [19]40. Mais que a eleição direta de um presidente, perdeu-se a oportunidade histórica única de usar o rancor contra a ditadura e a consciência geral da necessidade de

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mudar profundamente como o ponto de partida de uma transformação estrutural da sociedade civil e do Estado. E se ganhou uma mistificação monstruosa: a montagem política e ideológica de Frankenstein, batizado de Nova República e trombeteado pela cultura da comunicação de massa como uma “vitória do Povo na luta pela democracia! (FERNANDES, 1985. P. 27-28)

Os mesmos deputados e senadores que derrubaram a Emenda Dante de

Oliveira, que restituiria as eleições presidenciais direitas e responderia positivamente

aos desejos da campanha das Diretas Já, foram os que garantiram, alguns meses

depois, o fim da Ditadura por meio da eleição indireta de Tancredo Neves. Com esse

ar de continuidade começava a Nova República em 1985.

b) José Sarney: sentido do primeiro governo pós-ditatorial

Com o falecimento de Tancredo Neves antes da posse, seu vice, José Sarney,

assumiu a presidência. Seu governo, de 1985 a 1989, ficou marcado pela promulgação

da nossa atual Constituição, pela continuidade dos graves problemas econômicos e,

consequentemente, da insatisfação popular.

Para tentar controlar a inflação, Sarney e sua equipe econômica, lançaram

várias medidas, das quais a de maior relevo foi o Plano Cruzado. Consistia no

congelamento de preços e salários na tentativa de conter a inflação de três dígitos. No

início, o Plano parecia exitoso, mas com o tempo os preços voltavam a subir, sem os

salários aumentarem na mesma proporção. Mais do que isso, o Plano Cruzado foi

utilizado como uma poderosa arma eleitoral.

Nas eleições para governadores de 1986, os preços foram congelados antes do

pleito, para favorecer os candidatos do PMDB. A medida foi um enorme sucesso,

com o partido se saindo vitorioso em todos os estados, com exceção de Sergipe.

Semanas depois, por meio do Plano Cruzado II, o congelamento foi cancelado e os

preços voltaram a subir. A sensação de armação eleitoral ficou no ar e o PMDB não

seria perdoado pela população nas eleições presidenciais seguintes.

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A desilusão crescente com um governo civil que não resolvia os graves

problemas socioeconômicos, as jogadas eleitorais do Plano Cruzado e a inflação

galopante aumentavam ainda mais o descontentamento popular. Greves pipocavam

por todo o país e a CUT (Central Única dos Trabalhadores) se tornava um ator de

peso na cena política brasileira.

Foram mais de 9 milhões de grevistas em 1987, com destaque para a

paralisação da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional). Contra as três greves

ocorridas na CSN o governo Sarney utilizou um triste expediente dos tempos de

Ditadura. O Exército foi convocado para ocupar a Companhia, desbaratar a greve e

forçar os operários a voltarem ao trabalho. Em 1988 três operários foram assassinados

pelas forças militares, até que os trabalhadores conquistassem o aumento salarial e a

diminuição de horas de trabalho. Em 1989, a maior paralisação em todo o país: 15

milhões de grevistas contra o arrocho salarial (GIANNOTTI, 2009. P. 261-267).

Lançado em 28 de fevereiro de 1986, o Plano Cruzado não conteve a inflação,

que corroia o poder de compra da classe trabalhadora e dos miseráveis. Observamos

que o valor do salário-mínimo em dólares teve uma leve queda ao final do governo

Sarney. Se em março de 1986, o salário-mínio brasileiro era no valor de U$ 114,94,

em dezembro de 1989, ele se apresentava no patamar de U$ 103,07.5 A política

econômica do governo Sarney não se desdobrava em diferença significativa para a

classe trabalhadora, levando o início da Nova República ao mesmo embate de classes

de outrora no regime ditatorial. O aumento das greves e outras formas de contestação

social revelam que a intensidade da luta de classes no Brasil não esmorecia no novo

sistema político.

O aumento gradual de trabalhadores e trabalhadoras paralisadas corresponde à

maneira encontrada para reaver as perdas salariais corroídas pela inflação. Contra elas

foram utilizadas todo um aparato herdado da Ditadura e não desmantelado: a

utilização das Forças Armadas como forma de repressão a contestações sociais e

trabalhistas, a atuação do SNI (Sistema Nacional de Informações) que continuava

5 IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). Disponível em < http://www.ipeadata.gov.br/salárioerenda/ipea>. Acesso em 05 de julho de 2015.

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espionando forças de esquerda e só seria desmantelado no governo Collor, e o

poderoso aparato de mídia, monopolizada nas mãos de poucas famílias.

Esses acontecimentos ocorriam ao mesmo tempo em que a nova Carta Magna

era discutida. A tese aqui defendida é que o sentido do governo Sarney era manter a

hegemonia conservadora no momento de formação e atuação da Assembleia Nacional

Constituinte e na posterior corrida presidencial para as primeiras eleições diretas

(marcadas para 1989). O desejo da burguesia era conter as forças de esquerda,

formular uma constituição que lhe permita uma primazia do capital sobre o trabalho e

concedê-la uma vantagem para seus candidatos conservadores chegarem com chances

ao pleito presidencial (SANTOS, 2014. P. 210-229).

c) A Assembleia Nacional Constituinte

A formulação de uma nova constituição era o principal passo para a

consolidação do novo regime político. Seus trabalhos durariam dois anos (1986-1988)

e formulariam nossa atual Carta Magna. O processo de eleição de deputados

constituintes, os trabalhos da Assembleia e sua promulgação foram palco de algumas

polêmicas.

A história da Constituinte guarda algumas tentativas de se decidi-la pelo alto,

com a menor participação popular possível. Primeiramente, a vontade de Tancredo

Neves não era a formulação de uma nova carta magna. Seu objetivo era que o

Congresso vigente “reavaliasse” a constituição de 1967, feita pela Ditadura

(SANTOS, 1994. P. 272). Mais uma vez o conservadorismo de Tancredo se sobressai

sobre a figura mítica que se criou dele após sua morte.

Segundo, não houve uma eleição para deputados constituintes. O que houve

foi uma eleição para o legislativo federal, de deputados e senadores, em 1986, que

foram transformados em constituintes e após o fim dos trabalhos permaneceram

exercendo seus mandatos até o fim. Isto levou a uma situação, no mínimo,

desconfortável, onde congressistas eleitos pelas antigas regras continuam com seus

mandatos vigentes sob uma nova constituição. O mais adequado seria uma eleição

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para deputados constituintes e após o término dos trabalhos a dissolução da

Assembleia e a convocação de novas eleições, agora sob as regras da nova carta.

Em outro agravante, as eleições para deputados e senadores que se tornaram

constituintes ocorreram junto com as eleições para governadores em 1986. Isso tirou a

importância do pleito e confundiu o eleitorado, que não deu muita importância para as

eleições legislativas, apresentando um número alto de votos brancos e nulos (SAAB,

1987. P. 265-273). Seria salutar que a eleição para deputados constituintes tivesse

uma importância maior. A população brasileira vinha de uma Ditadura com eleições

inexistentes ou altamente manipuladas e restritas. É natural que boa parte da

população tivesse dificuldade em compreender o funcionamento e objetivo do pleito.

Por fim, a constituição aprovada não passou por um referendo da população.

Após o trabalho dos constituintes, o mais democrático a fazer seria um referendo, para

a população aprovar ou não o novo texto constitucional. Parecia que o objetivo era

correr com os trabalhos e passar logo essa fase de suma importância para o destino de

um país.

A conjugação de tantos fatos não pode ser encarada como mera coincidência.

Essa é mais uma manifestação do que caracterizamos como o caráter conservador da

Transição, onde a meta era tomar decisões de cúpula e afastar a população dos

momentos decisivos. As forças conservadoras, agora tanto os ex-partidários da

Ditadura, como a antiga oposição liberal liderada pelo PMDB, controlavam todos os

momentos importantes, temendo que o jogo se radicalizasse, isto é, que a soberania

popular fosse exercida de fato.

A utilização do Plano Cruzado pelo PMDB nas eleições para governadores em

1986, também se manifestou no pleito para deputados e senadores constituintes. O

PMDB sozinho fez mais da metade dos deputados eleitos, 260 de 487, caracterizando

53,39% do total. Somado a outros partidos, como o PFL, PDS (antiga ARENA) e

outras siglas fisiológicas menores, esse agrupamento tinha ampla maioria dentro da

Assembleia. A atuação conjunta de tais forças recebeu o nome de “Centro

Democrático”, porém ficou mais conhecido pelo apelido “Centrão”, pretensamente

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uma união de forças de centro, que na verdade era uma força de direita. Vejamos sua

função como colocada por René Dreifuss:

Nascido no interior do PMDB e PFL, esse agrupamento marcaria o início da fragmentação do primeiro e o enquadramento direitista de ambos. O deputado peemedebista Expedito Machado, um dos líderes do grupo (juntamente com os deputados Carlos Sant’Anna e Roberto Cardoso Alves, ambos do PMDB, e os peefelistas Ricardo Fiúza e Luiz Eduardo Magalhães), relacionaria as metas desta formação suprapartidária, que englobava cerca de metade do Congresso: alterar o Regimento Interno, modificar e ‘enquadrar’ as propostas da Comissão de Sistematização, que eram tidas como ‘muito influenciadas pela esquerda’, especialmente na questão social, no tocante à reforma agrária e ao mandato presidencial. Entre os pontos a serem modificados estavam: a garantia de emprego contra a demissão imotivada; o salário mínimo nacional unificado; a participação dos trabalhadores nos lucros e na gestão da empresa; o pagamento em dobro da hora extra e a redução da jornada de trabalho. A função do Centro Democrático era juntar, num só movimento de força, os parlamentares que poderiam redesenhar o perfil da futura Constituinte, que, como tinha sido esboçado pela progressista Comissão de Sistematização, contrariava uma diversidade de interesses entrincheirados – entre eles os do empresariado urbano e rural. Mais: o grupo pretendia servir de plataforma de sustentação à atuação política do governo Sarney. Sua tarefa básica era a luta contra a ampliação das faixas de estatização da economia e contra o que via como verdadeira subversão da ordem social vigente. Enfim, procurando delinear uma Constituinte de corte ‘privatista’, além de conservadora do ponto de vista político e social. (DREIFUSS, 1989. P. 111-112)

Para dar suporte as ações do Centrão e reverberar as reivindicações da

burguesia brasileira e internacional, diversas entidades representativas das elites

fizeram intenso lobby durante a constituinte. Alguns dos principais grupos foram a

União Brasileira de Empresários (UB), União Democrática Ruralista (UDR) e a

Associação Brasileira de Defesa da Democracia (militares). A Embaixada dos Estados

Unidos também influenciava em nome dos interesses de transnacionais, como Esso,

Xerox, General Motors, Ford, IBM, Banco de Boston e Citibank. (DREIFUSS, 1989.

P. 191-192)

Os políticos do bloco direitista tinham ampla participação nos meios de

comunicação. Sua participação na mídia sempre vinha acompanhada de exaltação à

iniciativa privada como eficaz, empreendedora e um caminho para um “Brasil

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moderno”. Ao mesmo tempo, o setor público era apresentado como um antro de

corrupção e incapaz de atender a população com qualidade. Foi no ano de 1988 que

os trabalhos constitucionais terminaram, no qual Fernando Collor lançou sua

candidatura à presidência com seu slogan “caçador de marajás”.

O objetivo de toda essa articulação da direita por meio do Centrão e da

influência de organismos e instituições representativas das elites era minar os direitos

trabalhistas ao máximo, vistos como custos ao empresariado, assim como, garantir em

diversos setores a participação do capital estrangeiro. As forças de esquerda, junto a

centrais sindicais e movimentos sociais, defendiam os direitos dos trabalhadores e

uma proteção, quando não monopólio, a empresas públicas e nacionais frente à

concorrência estrangeira.

A ação do Centrão, portanto, indicava não só uma perpetuação do caráter

dependente da economia brasileira e os interesses patronais contra os trabalhadores.

Ela expressava, em vários momentos, a adequação da estrutura socioeconômica

brasileira ao novo momento do capitalismo internacional, atualizando a dependência e

a superexploração do trabalho aos moldes da globalização neoliberal.

Os trabalhos da Constituinte desenrolam-se então como uma intensa luta de

classes, conectada com as mudanças estruturais que ocorriam na economia brasileira e

mundial. O Centrão se colocava contra medidas como o salário-mínimo, a licença

maternidade e licença paternidade, o adicional de férias, entre outras. Conseguiram

embarrerar a estabilidade no emprego. Conseguiram permitir também a participação

do capital estrangeiro em várias áreas de interesse nacional, como a mineração

(DREIFUSS, 1989). Posições que revelam a defesa da flexibilização de direitos

trabalhistas e a participação cada vez maior do capital estrangeiro em setores

econômicos antes resguardados à ação estatal.

Mesmo com ampla maioria o Centrão não conseguiu emplacar toda sua

agenda conservadora e o culpado por tal intento foi o próprio caráter fisiológico de

boa parte de suas forças constituintes. A esquerda, apesar de minoritária, era mais

coesa e se posicionava em bloco. O Centrão possuía uma série de políticos que

vislumbravam serem candidatos nas eleições seguintes e não queriam ficar

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reconhecidos como aqueles que votaram contra os direitos dos trabalhadores.

Algumas empresas nacionais, como as empreiteiras, viam com receio o avanço do

capital estrangeiro em algumas áreas e também possuíam seus defensores dentro do

corpo político, fazendo a atuação do Centrão vacilar em certos momentos. Isso

assegurou muitas vitórias trabalhistas, além de incentivos ao desenvolvimento

tecnológico nacional em alguns setores, como a informática.6

Dessa forma, o embate de classes dentro da Constituinte foi grande, com

vitórias e derrotas em ambos os lados. A disputa na Assembleia apenas reverberava o

retrato do Brasil daquele momento entre uma elite que preparava uma nova fase do

capitalismo dependente brasileiro e um agrupamento de forças que representava o

anseio dos trabalhadores por uma renovação social total. Essa disputa teria seu palco

final nas eleições presidenciais de 1989, a primeira direta em quase trinta anos no

país.

d) A eleição presidencial de 1989

A elite brasileira ainda se decidia por um candidato presidencial após a

Constituinte. O PMDB não era mais uma opção naquele contexto. A jogada eleitoral

do Plano Cruzado em 1986 teve uma recepção pública negativa, assim como as

articulações antipopulares do Centrão durante a Assembleia Constituinte.

A resposta eleitoral a esse comportamento fisiológico do PMDB viria rápida.

Ainda em 1988 o partido vê a saída de importantes lideranças como Mario Covas,

Fernando Henrique Cardoso e José Serra, que fundariam o PSDB (Partido da Social-

Democracia Brasileira). Nas eleições municipais do mesmo ano, apesar de ainda

ganhar o maior número de municípios (1606), o PMDB encolheu drasticamente nas

capitais – de 19 para apenas 4 prefeituras. Nas eleições presidenciais de 1989 sua

derrota seria acachapante, quando seu candidato, Ulysses Guimarães, fez somente

4,43% dos votos. O partido passaria décadas sem ter candidato próprio.

6 Boa parte dessas vitórias da esquerda na Constituinte seriam desmontadas no governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).

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Boa parte do empresariado, inclusive a poderosa FIESP (Federação das

Indústrias do Estado de São Paulo), percebia um PMDB vacilante, e incapaz de

realizar as reformas desejadas para o capital. Com o documento “Livre Para Crescer.

Propostas para um Brasil Moderno”, a Federação demonstrava claramente a posição

de boa parte da burguesia brasileira, ao defender, no final da década de 1980, a

implementação de políticas neoliberais. Criticava que o “déficit público ficou muito

agravado com a introdução das inovações criadas pela Constituição de 1988”,

clamando pela “redução das concessões constitucionais que oneram as contas

públicas”, numa clara crítica aos direitos trabalhistas conquistados na Assembleia

Constituinte. Consistiam também em posições da burguesia brasileira nesse momento

a defesa da independência do Banco Central, os critérios de funcionamento das

empresas públicas através do mercado, “como o são para qualquer empresa privada”,

e o fim do que chamavam de “discriminação” aos produtos importados, desde que

estadunidenses e europeus, como forma de liberalização do comércio (FEDERAÇÃO

DAS INDÚSTRIAS DO ESTADO DE SÃO PAULO, 1990. P. 292-323).

A direita precisava de um nome para a eleição de 1989 capaz de seduzir o

eleitorado mais pobre, castigado com o pauperismo e o subconsumo, e afastá-lo das

candidaturas do PT e PDT. Nas eleições municipais de 1988 essas duas siglas

venceram nas duas principais capitais do país, São Paulo (PT com Luiz Erundina) e

Rio de Janeiro (PDT com Marcelo Alencar). As pesquisas de intenção de votos

apresentavam o pedetista Brizola na liderança e o petista Lula seguindo de perto, o

que representava um cenário de total derrota para a direita liberal, que não conseguia

emplacar um candidato.

Fernando Collor de Melo não foi o candidato inicial da elite brasileira. Sua

escolha foi resultado de um processo de “fabricação” de um candidato, no qual outros

nomes foram sendo eliminados pelo caminho. Marco Maciel, Orestes Quércia,

Aureliano Chaves e Afif Domingos, entre outros, foram colocados de lado, assim

como alguns que chegaram a sair candidatos, como Ulysses Guimarães (PMDB) e

Mario Covas (PSDB). Os motivos variavam, desde a não confiança em alguns

candidatos devido sua participação na Constituinte (caso de Covas, que votou junto à

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esquerda em diversas ocasiões), até o fato do repúdio nas urnas de boa parte dos

pertencentes ao Centro Democrático durante os trabalhos de formulação da nova carta

magna. Boa parte dessas figuras não cumpria os requisitos para ser o “novo” que a

direita precisava para aquele momento político. Talvez Quércia se enquadrasse no

mesmo perfil de Collor. Mas o político paulista foi barrado dentro do PMDB pela

ambição pessoal de Ulysses Guimarães em ser presidente (ambição que não seria

satisfeita). Afif Domingues também poderia ser uma saída para o empresariado, mas

foi avaliado como sem penetração popular. (DREIFUSS, 1989)

Collor construiria sua retórica não só sobre o discurso de levar o Brasil para a

modernidade, em consonância com a posição de classe apresentada pela FIESP, mas

também sobre o signo de oposição. O campo de direita aliado à sua candidatura,

principalmente por meio dos meios de comunicação, capitaliza a ideia de mudança

radical, de rompimento de anos de inflação e miséria e dos políticos tradicionais da

Ditadura. Era com esse sentimento que a população aguardava a eleição presidencial

de 1989, a primeira em quase trinta anos.

Em um trabalho de marketing midiático, Collor foi fabricado como um

contestador do sistema, pegando vácuo no sentimento de renovação. A classe

dominante lançava sua candidatura para realizar as mudanças econômicas necessárias

e atualizar o caráter dependente do capitalismo brasileiro. Para reforçar sua imagem

de oposição e contrário à “política tradicional”, abandonou o PMDB durante seu

mandato como governador de Alagoas e filiou-se a um partido nanico, o PRN

(Partido da Reconstrução Nacional), apenas para se candidatar à presidência.

Nos seus discursos e comícios, usou o genérico termo da corrupção para atacar

a política estatal. Dizia que seria o “caçador de marajás”, em alusão a funcionários

públicos que enriqueciam com dinheiro público sem trabalhar. Nesse discurso já se

encontra a retórica neoliberal, em apresentar o estatal/público como sinônimo de

ineficaz e corrupto, enquanto a iniciativa privada seria exemplo de lisura e bom

funcionamento. Collor não seria um político tradicional, porque esses seriam “todos

iguais”, numa clara tentativa de se mostrar diferente de todos os demais candidatos.

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Contribuiu para uma derrota da esquerda o fato de PT e PDT não terem

formulado uma chapa conjunta com seus nomes mais fortes, respectivamente, Lula e

Brizola. Tanto PT, quanto PDT, não se colocavam como partidos revolucionários,

nem defendiam que, caso seus candidatos fossem eleitos presidente, este seria o

primeiro passo para a instalação do socialismo no Brasil. Certo é que, tanto Lula

quanto Brizola, significava naquele momento a ruptura com o controle político por

parte da classe dominante e o real significado que o povo esperava da Transição: uma

modificação radical do pauperismo e do estado de penúria que vivia a maior parte da

população.

As propostas tanto do PT, como do PDT, passavam por pontos que

desagradavam claramente o empresariado, como a distribuição de renda, os serviços

públicos, a reforma agrária, a participação do Estado na economia, o controle da

remassa de lucros, dos bancos e principais recursos econômicos do país. No caso do

PDT, havia um diferencial importante que consistia na sua radical posição anti-

imperialista, atacando ferozmente o pagamento da dívida externa, as multinacionais,

os organismos internacionais, como o FMI, e o governo estadunidense. Entre as

promessas de Brizola durante a campanha estava, caso eleito, “fechar a Rede Globo

no dia seguinte”.

Essas propostas permitiriam um empoderamento político dos trabalhadores

organizados e representariam um forte golpe contra as elites nacionais e

internacionais. Portanto, em caso de vitória de Brizola ou Lula, era clara a situação de

revés para a classe dominante, a qual estaria num terreno muito incerto, já que as

forças populares seriam colocadas em posição mais vantajosa na luta pelo poder.

O projeto presidencial do PDT e do PT era um projeto de transição real para

uma democracia no sentido mais amplo, que abarcava não só direitos civis

constitucionais, mas também justiça social. Suas propostas objetivavam a

readequação da economia para as necessidades das massas, a busca pela soberania e

autonomia do país, uma maior proteção trabalhista contra as ambições do grande

capital e a participação política dos trabalhadores de forma efetiva. Contra tudo isso,

se formava um bloco de forças conservadoras ao redor da candidatura Collor.

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A propaganda midiática foi primordial para a vitória de Collor. Primeiro, as

mídias monopolizadas, principalmente a Rede Globo, criaram a imagem do candidato

como um modelo de sucesso individualista. Depois, trataram de dar forma ao discurso

da austeridade fiscal, da falência do Estado, do falso moralismo contra a corrupção. O

combate às forças de esquerda também foi realizado através do monopólio midiático.

Repetidas vezes eram veiculadas cenas da queda do Muro de Berlim (ocorrida

também em 1989) para associar Lula e Brizola com uma ideologia supostamente

falida. Collor também repetia o discurso do “pacto social”, ou seja, a posição

empresarial de que todas as classes sociais deveriam se sacrificar num momento de

crise profunda como aquele.

A eleição de 1989, por meio de projetos políticos tão distintos e antagônicos

representados pelas principais candidaturas, configurou-se dessa maneira como mais

uma aguda luta de classes no período da Transição, tal como tinham sido o embate

Diretas Já x Colégio Eleitoral e os trabalhos da Constituinte. Além disso, a eleição

presidencial era a evidência de que o país passaria por uma reforma estrutural

profunda. O caráter dessa reforma também era diverso de acordo com o lado da

disputa que saísse vitorioso: o projeto popular, com duas candidaturas separadas,

Brizola e Lula; ou o projeto de modernização reflexa do capitalismo dependente,

capitaneado por Fernando Collor de Mello.

Graças ao trabalho midiático, Collor ficou em primeiro lugar no primeiro

turno com 28,52% dos votos. Lula e Brizola brigaram voto a voto pelo segundo lugar.

No fim, Lula (16,08%) avançou ao segundo turno, com Brizola (15,45%) em terceiro.

Os demais resultados foram: Covas do PSDB com 10,78%, Maluf do PDS com

8,28%, Afif Domingos do PL com 4,53% e Ulysses Guimarães do PMDB com 4,43%

(GIANNOTTI, 2006, p. 268). As urnas mostraram um claro rechaço aos políticos

tradicionais e a necessidade de mudança em relação à situação socioeconômica do

país.

O segundo turno colocaria frente a frente um empresário e um líder sindical.

Numa rara cena, ainda mais se tratando de um país periférico, a luta eleitoral

evidenciou a luta de classes e dois projetos antagônicos de país. Lula significava a

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participação política das massas num processo de desenvolvimento com referência no

social. Enquanto isso, Collor era o rosto do individualismo burguês, que apresentava

“modernização” como sinônimo de consumismo e acesso aos padrões de vida das

elites do Primeiro Mundo, tendo como método para isso, a adoção de privatizações e

flexibilizações nos moldes neoliberais.

Na semana final antes do segundo turno, a Rede Globo, maior cabo eleitoral

de Collor, promoveu um debate entre os dois candidatos. Esse debate foi editado de

modo a mostrar eloquentes respostas de Collor e somente os momentos em que Lula

balbuciou ou não se saiu tão bem em uma questão. Essa versão editada do debate foi

repetida a exaustão nos dias anteriores à votação, assim como cenas da queda do

Muro de Berlim. Era clara a tentativa de mostrar Lula como alguém despreparado

para ser presidente, principalmente por uma estética preconceituosa de classe, já que

“não sabia falar direito” e não “tinha diploma”.7

Collor vence as eleições no segundo turno com 53,03% contra 46,96% de

Lula. O povo brasileiro foi enganado, não por um candidato, mas sim, por uma peça

de publicidade, um personagem criado pela grande mídia, em especial a Rede Globo

de televisão. Sua vida de presidente seria curta, sofrendo um impedimento em 1992,

com forte mobilização popular. Por ironia, o estopim para sua derrocada foram

justamente denúncias de casos de corrupção e favorecimento, o que Collor jurou

combater durante a campanha eleitoral.

A vitória de Collor significou o desfecho de uma articulação de classe do

capital desde o momento que se configurou a insustentabilidade do regime militar. A

luta na Transição contra uma vitória das ruas, com a campanha das Diretas Já, que foi

sufocada pelo Colégio Eleitoral; os embates de classe durante os trabalhos da

Assembleia Nacional Constituinte, principalmente em relação aos direitos trabalhistas

e a participação do capital estrangeiro na economia brasileira; culminando com a

eleição de Collor, derrotando duas claras opções de esquerda (Lula e Brizola, que

7 Décadas depois a Globo confessaria que editou o debate de forma deliberada para favorecer Collor. A confissão foi realizada por um de seus mais famosos produtores, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni. Também houve uma confissão da empresa nos programas especiais de 50 anos do canal de televisão em 2015, com a desculpa de que em 1989, a Globo ainda estava “aprendendo com a democracia como todo o país”.  

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apoiou o candidato petista no segundo turno). Todos esses movimentos podem ser

compreendidos como etapas de modificação do sistema político brasileiro, sem a

ameaça de radicalização do processo, ou a perda de controle das rédeas do país para

grupos que representavam os interesses da classe trabalhadora. O empresariado

nacional e estrangeiro travou lutas contra as forças populares para impedir sua

chegada ao poder, mas também, para readequar o capitalismo dependente brasileiro a

um novo momento do capitalismo internacional.

A vitória de Collor fecha o ciclo do investimento estrangeiro direto no

mercado interno e passa o Brasil para a nova fase da divisão internacional do trabalho,

o capitalismo globalizado. A super exploração do trabalho seria aprofundada com a

adoção da multifuncionalidade do trabalhador, o desemprego estrutural, a

terceirização, o crescimento da informalidade e a diminuição da participação

industrial na economia brasileira. O século XXI se aproximava e, de fato, o mundo

caminhava para o encurtamento de distâncias geográficas, mas também, para o

crescimento das distâncias socioeconômicas.

3 – Considerações finais

O processo de Transição no Brasil foi complexo e plural. Muitas opções

estavam disponíveis e forças políticas de matizes diversas tiveram participação ativa

na conjuntura. Se a Transição não foi realizada de forma violenta, isso não quer dizer

que foi isenta de disputas entre projetos bem diferentes.

A eleição de Tancredo Neves em 1985, de forma indireta pelo Colégio

Eleitoral, já se constituiu como um intricado jogo político. A Ditadura evitou ser

derrubada pela gigantesca mobilização popular da Campanha das Diretas Já, para

realizar uma transição mais suave, por meio de um pacto com um opositor liberal-

conservador que era Tancredo. Estava em jogo desde a garantia do não julgamento

dos militares pelos crimes cometidos durante o regime de exceção, passando pela

manutenção de uma política econômica excludente, e chegando a necessidade de não

permitir o crescimento de siglas de esquerda, como o PT e o PDT.

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Dessa maneira, afastou-se a população do papel de protagonista da Transição,

para que o processo fosse decidido pelas negociações escusas dos bastidores e

gabinetes. Boa parte dos políticos civis partidários da Ditadura e agrupados naquele

momento no PDS (sucessor da antiga ARENA) abandonaram o barco governista às

vésperas do Colégio Eleitoral, para formar um novo partido, o PFL (atual

Democratas), enquanto uma de suas principais lideranças, José Sarney, rumou para o

PMDB e se tornou vice na chapa de Tancredo Neves. Essa manobra assegurou a

maioria do Colégio Eleitoral para Tancredo e pois fim a Ditadura.

Sarney, ex-presidente do partido da Ditadura e recém-convertido à

“democrata”, viu a presidência cair em seu colo com o falecimento de Tancredo antes

da posse. Assim a Transição acabou sendo capitaneada por um antigo prócer da

Ditadura. Seu governo (1985-1989) ficou marcado pela continuidade da crise

inflacionária, da extrema pobreza que permanecia castigando boa parte dos brasileiros

e brasileiras, da utilização das Forças Armadas para conter movimentos grevistas

reivindicatórios da classe trabalhadora, assim como, planos econômicos com víeis

eleitoreiros.

A maior dessas empreitadas foi o Plano Cruzado que assegurou a seu partido,

o PMDB, uma grande vitória nas eleições estaduais de 1986 e na escolha dos

congressistas da Assembleia Constituinte. Na mesma proporção, que seu posterior

fracasso e revelação da jogada eleitoral condenariam o partido a sucessivas derrotas

no futuro.

A Assembleia Nacional Constituinte reunida durante o governo Sarney

formulou uma nova carta magna para o país. Seu conteúdo de garantias civis e

democráticas foi um avanço. Seus embates como vimos, se trataram de um verdadeiro

conflito de classes por meio de propostas irreconciliáveis entre capital e trabalho,

como o caso dos direitos trabalhistas, e sob o signo da dependência, como nos debates

sobre a participação do capital estrangeiro em determinados setores da economia.

Esse conflito se arrastou até as eleições presidenciais de 1989, onde projetos de nação

distintos se enfrentaram, numa cena não usual nos nossos dias: um segundo turno que

materializou a luta de classes em viés eleitoral, ao colocar um membro da elite

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empresarial contra um líder sindical na disputa pelo posto mais importante da política

nacional.

O que esses acontecimentos que marcaram o período da Transição nos

colocam é a confrontação entre projetos distintos em um momento em que era

perceptível a necessidade de uma reestruturação socioeconômica do país. Essa

reestruturação estava ligada à conjuntura internacional, de ascensão do neoliberalismo

e da globalização, novos pilares de funcionamento do sistema capitalista

internacional. E também à conjuntura interna, onde o modelo de desenvolvimento da

Ditadura chegou à exaustão com a Crise da Dívida. Boa parte da população brasileira

almejava o novo regime político como caminho para uma grande mudança no

conjunto da sociedade, dando resposta aos graves indicadores sociais do Brasil na

época.

O projeto das elites saiu vitorioso, aparado por um potente sistema midiático

monopolizado. Esse projeto, iniciado no governo Collor (1990-1992) e seu sucessor

pós-impeachment, Itamar Franco (1992-1994), aprofundado durante o governo de

Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e com ecos até nos governos do PT no

século XXI (já diferenciado e com algum contorno social, devido à crise de

hegemonia que o pensamento neoliberal vive desde a virada do século) tem como

pilar a readequação da economia brasileira dependente ao capitalismo globalizado.

As políticas neoliberais vêm se manifestando no Brasil das últimas três

décadas pelo Fenômeno RDT: reprimarização, desindustrialização e

transnacionalização. Boa parte do aparato público brasileiro foi privatizado, as leis

trabalhistas flexibilizadas e aumentou o número de profissionais terceirizados. Ao

mesmo tempo, houve um encolhimento do setor industrial e um agigantamento do

agronegócio, num processo de reprimarização da economia, que responde hoje por

mais da metade dos indicadores de exportações brasileiras. Boa parte desse e de

outros setores, está na mão de empresas estrangeiras de influência global. Metade do

PIB brasileiro é deslocado para o pagamento de juros e amortizações da dívida

pública, revelando uma grande fonte de lucros para o capital financeiro e especulativo

internacional.

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É inegável que a Nova República se apresenta como um grande avanço em

relação ao período ditatorial, onde nenhum tipo de movimentação política popular era

permitido. Nossa atual constituição garante direitos civis, Justiça e participação

política a todos os cidadãos. Além disso, os principais cargos da República são

decididos em eleições periódicas e multipartidárias. Tudo isso se conjuga como a

visão liberal de regime democrático na atualidade.

Contudo, a realidade subdesenvolvida do Brasil e a herança de séculos de

violência e repressão contra a maioria do seu povo ainda pesam. Soma-se ao fato que

até o fim do século XX, os governos da Nova República foram incapazes de diminuir

a miséria absoluta. Muito pelo contrário, a situação social brasileira continuou

degradante durante a década de 1990 e piorou, principalmente em relação ao

desemprego, com a adoção das políticas neoliberais e as sucessivas crises enfrentadas

pela economia brasileira durante o governo Fernando Henrique Cardoso devido à

vulnerabilidade de nosso país no mundo das finanças internacionais.

Mesmo com as melhorias sociais alcançadas durante os governos Lula (2003-

2010) e Dilma (2011-...), nossa democracia continua truncada. Os direitos civis são

constantemente violados, muitas vezes pelo próprio Estado, por meio da polícia,

Justiça e outros órgãos. Percebemos que os direitos de um indivíduo em nossa

sociedade são mais ou menos respeitados de acordo com questões classistas e raciais.

Quanto mais rico e branco uma pessoa é, mas direito a ser tratada como cidadão ela

possui. Caso contrário, o indivíduo é vista como um inimigo em potencial da

sociedade.

Questões como o financiamento empresarial de campanhas impedem um

aprofundamento democrático e permitem a vitória de forças políticas somente se

financiadas por representantes do grande capital brasileiro e estrangeiro. A chamada

“crise de representatividade”, tão discutida nas academias e na imprensa atual, e

escancarada no Brasil com as Jornadas de Junho de 2013, trata-se de uma crise da

“democracia” liberal como um todo.

Movimentos em todo mundo vem nos últimos anos questionando os limites

desse sistema, como o Occupy Wall Street nos Estados Unidos, ou os Indignados na

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Espanha, além de governos progressistas na América Latina, como Venezuela e

Bolívia, que desenvolvem mecanismos de democracia representativa junto à

democracia direita. Nosso tempo histórico presencia um início de contestação à

concentração de poderes e riquezas, mas que parece não ter ainda assumido uma

forma organizativa clara.

Nesse ponto, os significados da Nova República nesses seus 30 anos, como

um processo de democratização e justiça social, não se concretizaram por completo,

encontrando resistências na estrutura socioeconômica brasileira, na conjuntura

histórica e na ação de grupos privilegiados do Brasil e do exterior. Grandes desafios

para uma verdadeira Nova República estão colocados, como a dependência da

economia brasileira, baseada cada vez mais na reprimarização, desindustrialização e

transnacionalização, e a falta de representatividade política, além da seletividade

classista e racista dos direitos sociais no Brasil.

Todas as forças principais da Nova República nessas três décadas (PMDB,

PSDB e PT) já passaram pelo governo federal e foram incapazes (ou se negaram por

posicionamento político) a realizarem as reformas necessárias para o povo brasileiro

superar esses grandes entraves para seu desenvolvimento justo e soberano.

Cabe às novas gerações superarem os limites da Nova República. Formularem

novas forças políticas capazes de oxigenar o cenário político nacional e colocar em

prática um projeto popular que realmente solucione os problemas civilizacionais do

Brasil e que se arrastam desde a sua formação enquanto povo, insistindo em nos

assolar com sua miséria, violência e servilismo internacional.

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