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34 Cadernos UniFOA edição nº 13, agosto/2010

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CADERNOS UniFOACENTRO UNIVERSITÁRIO DE VOLTA REDONDA

FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA

ISSN 1809-9475

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CADERNOS UniFOACENTRO UNIVERSITÁRIO DE VOLTA REDONDA

FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA

ANO V - Nº 13 - agosto/2010

FOA

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Comitê Editorial

Agamêmnom Rocha SouzaMauro César Tavares de Souza

Rosana Aparecida Ravaglia Soares

Conselho EditorialAntônio Henriques de Araújo Junior

Carlos Roberto XavierClifford Neves Pinto

Edson Teixeira da Silva JuniorFlávio Edmundo N. HegenbergIlda Cecília Moreira da SilvaRenato Porrozzi de Almeida

Denise Celeste Godoy de Andrade Rodrigues

Revisão de textos

Língua PortuguesaMaricinéia Pereira Meireles da Silva

Claudia Maria Gil Silva

Língua InglesaMaria Amália Sarmento Rocha de Carvalho

Conselho Editorial ad hoc

Claudinei dos SantosDoutor em Engenharia de Materiais - Escola de Engenharia de

Lorena - Universidade de São Paulo - EEL/USP

Diamar Costa PintoDoutor em Biologia Parasitária - Fundação Oswaldo Cruz

Fabio Aguiar AlvesDoutor em Biologia Celular e Molecular

Universidade Federal Fluminense

Igor José de Renó MachadoDoutor em Ciências Sociais - Universidade Estadual de Campinas

- Professor do Departamento de Antropologia - UFSCAR

Maria José Panichi VieiraDoutora em Engenharia Metalúrgica pela Pontifícia Universidade

Católica do Rio de Janeiro

Ruthberg dos SantosDoutor em Administração pela Universidade de São Paulo

Douglas Mansur da SilvaDoutor em Antropologia Social – Universidade Federal de Viçosa

FOAPresidente

Dauro Peixoto Aragão

Vice-PresidenteJairo Conde Jogaib

Diretor Administrativo - FinanceiroIram Natividade Pinto

Diretor de Relações InstitucionaisJosé Tarcísio Cavaliere

Superintendente ExecutivoEduardo Guimarães Prado

Superintendência GeralJosé Ivo de Souza

UniFOAReitor

Alexandre Fernandes Habibe

Pró-reitora AcadêmicaCláudia Yamada Utagawa

Pró-reitora de Pós-Graduação,Pesquisa e Extensão

Maria Auxiliadora Motta Barreto

Cadernos UniFOAEditora Executiva

Flávia Lages de Castro

Editora CientíficaMaria Auxiliadora Motta Barreto

EXPEDIENTE

CapaDaniel Ventura

EditoraçãoLaert dos Santos

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FICHA CATALOGRÁFICABibliotecária Gabriela Leite Ferreira - CRB 7/RJ - 5521

C122 Cadernos UniFOA / Centro Universitário de Volta Redonda. - ano V, n°. 13, agosto, 2010. - Volta Redonda: FOA, 2010.

Quadrimestral

ISSN 1809-9475

1. Publicação periódica. 2. Ciências exatas - Periódicos. 3. Ciências sociais aplicadas - Periódicos. 4. Ciências da saúde - Periódicos. I. Fundação Oswaldo Aranha. II. Título.

CDD – 050

Centro Universtitário de Volta Redonda - UniFOA

Campus Três Poços

Av. Paulo Erlei Alves Abrantes, nº 1325Três Poços, Volta Redonda /RJ

CEP 27240-560Tel.: (24) 3340-8400 - FAX: 3340-8404

www.unifoa.edu.br

Versão On-line da Revista Cadernos UniFOAhttp://www.unifoa.edu.br/cadernos

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SUMÁRIO

EDITORIAL ..................................................................................................................................................................... 09

CIÊNCIAS EXATAS

Abordagem do Tema Reciclagem/Reutilização na Grade Curricular dos Cursos de Engenharia da UnifoaAnderson Luiz Carneiro Esteves, Marcella Mateus de Mello, Amanda Ligabo de Abreu, Simone Pereira Taguchi Borges ................... 11

Produção e Caracterização da Liga Ti-12Mo-3Nb para Aplicação BiomédicaJosé Vicente de Paiva Panaino, Paulo Roberto Mei, Carlos Angelo Nunes, Mariana Coutinho Brum, Sinara Borborema Gabriel ........ 17

Qualidade da Energia Elétrica em Sistemas de AutomaçãoJosé Maurício dos Santos Pinheiro ........................................................................................................................................................... 23

CIÊNCIAS DA SAÚDE

A importância dos sinais dermatológicos para o diagnóstico de Esclerose Tuberosa: Relato de caso.Paula de Oliveira Varella, Leandro Dinato Dutra, Suindara Reis Serrazina, Viviane Dias Balbino, Cláudia Yamada Utagawa .......... 33

Estudo Anatômico da Incidência do Canal Mesiopalatino em Primeiros Molares Superiores com Acesso Convencional ou Através de um Desgaste na Região de sua EmbocaduraMônica Viana dos Santos, Sylvio da Costa Júnior, Eduardo Meohas , Sergio Luiz Tavares Adriano, Gilberto Rocha Oliveira, Carlos Eduardo dos Santos Thuler ................................................................................................................................................................ 39

Transição nutricional no Brasil: análise dos principais fatoresElton Bicalho de Souza ....................................................................................................................................................... 49

CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS E HUMANAS

A cultura dos “Coitados”: trajetória social e sistema de arte.João Domingues ................................................................................................................................................................... 55

Conflito Interpessoal em equipes de trabalho: O papel do líder como gerente das emoções do grupo.Humberto Medrado Gomes Ferreira ......................................................................................................................................... 67

Eram os Revolucionários Românticos? O Romantismo Revolucionário em meio à arte engajada no período pós-1964.Rafael Willian Clemente ...................................................................................................................................................... 77

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LIST OF CONTRIBUTIONS

EDITORIAL ..................................................................................................................................................................... 09

ACCURATE SCIENCES

Recycling/Reuse Approaches in the Engineering Curriculum at UniFOAAnderson Luiz Carneiro Esteves, Marcella Mateus de Mello, Amanda Ligabo de Abreu, Simone Pereira Taguchi Borges ................... 11

Production and Characterization of Ti-12Mo-3Nb alloy for Biomedical ApplicationJosé Vicente de Paiva Panaino, Paulo Roberto Mei, Carlos Angelo Nunes, Mariana Coutinho Brum, Sinara Borborema Gabriel ........ 17

Quality of electrical energy in automation systemsJosé Maurício dos Santos Pinheiro ........................................................................................................................................................... 23

SCIENCES OF THE HEALTH

The importance of the dermatological signs on the diagnosis of Tuberous Sclerosis: Case report.Paula de Oliveira Varella, Leandro Dinato Dutra, Suindara Reis Serrazina, Viviane Dias Balbino, Cláudia Yamada Utagawa .......... 33

Anatomical Study of the impact of canal orifice in maxillary first molars with access through conventional or wear one in the region of its mouthMônica Viana dos Santos, Sylvio da Costa Júnior, Eduardo Meohas , Sergio Luiz Tavares Adriano, Gilberto Rocha Oliveira, Carlos Eduar-do dos Santos Thuler .............................................................................................................................................................. 39

Nutritional transition in Brazil: Analysis of the main factorsElton Bicalho de Souza ....................................................................................................................................................... 49

SOCIAL SCIENCES APPLIED AND HUMAN BEINGS

The “Poor” culture: social trajectory and the art systemJoão Domingues ................................................................................................................................................................... 55

Interpersonal conflict in working groups: the role of the leader as the manager of the group emotionsHumberto Medrado Gomes Ferreira ......................................................................................................................................... 67

Were the Revolutionaries Romantic? The Revolutionary Romanticism in the midst of engaged art in the post-1964.Rafael Willian Clemente ...................................................................................................................................................... 77

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Editorial

Cada número da Revista Cadernos UniFOA é para nós motivo de comemoração. Isto porque cada um é prova que uma revista multidisciplinar pode aliar qualidade guardando as especificidades de cada área e das ciências que se envolvem em nossa publicação.

Além disso, temos nossas portas abertas a cientistas de todo país, bem como prestamo-nos a debater o nosso quotidiano pedagógico e científico. Este número, especificamente, é prova disso. Apresentamos, por exemplo, desde uma análise interna que - tendo em vista a qualidade de nossos cursos de Engenharia e sua adequação ao tema reciclagem dada a emergencial necessidade do planeta - busca respostas para um futuro melhor e profissionais melhores, passando por uma análise do Romantismo Revolucionário elaborado por um Egresso do curso de História chegando ao debate – baseado em Bourdieu – de um Professor da Universidade Federal Fluminense, que nos brinda com uma análise da integração dos sujeitos segregados territorialmente no cenário urbano através dos consumos culturais e das atividades artísticas pelos “coitados”.

Com naturalidade, portanto, a Revista Cadernos UniFOA, conquista a cada número seu lugar na ciência nacional por sua constância, por sua simplicidade e, principalmente, por sua qualidade da qual não abrimos mão.

Boa leitura.

Flávia Lages de CastroEditora Executiva - Cadernos UniFOA

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Abordagem do Tema Reciclagem/Reutilização na Grade Curricular dos Cursos de Engenharia da Unifoa

Recycling/Reuse Approaches in the Engineering Curriculum at UniFOA

Anderson Luiz Carneiro Esteves1

Marcella Mateus de Mello1

Amanda Ligabo de Abreu2

Simone Pereira Taguchi Borges3

Resumo

O tema reciclagem/reutilização é amplamente discutido nos cursos de graduação em engenharia, independente da especialidade do curso e da existência de uma disciplina específica para esse assunto. O presente tra-balho enfoca como o tema reciclagem/reutilização está sendo abordado na grade curricular dos cursos de engenharia ambiental e engenharia me-cânica do Centro Universitário de Volta Redonda – Unifoa. Para tal, a grade curricular dos dois cursos foi levantada, com o intuito de definir os docentes alvos da pesquisa e respectivos períodos das disciplinas. Foi elaborado um questionário sobre reciclagem/reutilização, abordando o tema no dia a dia, no Unifoa e na comunidade imediata. Foi unânime a ideia que é de suma importância abordar o tema no curso de engenharia, contribuindo para a construção de sociedades sustentáveis por meio de ações voltadas à minimização de resíduos, conservação do meio ambien-te, melhoria da qualidade de vida e formação de pessoas comprometidas com estes ideais.

1 Discentes do Curso de Engenharia Ambiental - Centro Universitário de Volta Redonda - UniFOA2 Discente do Curso de Engenharia Industrial Química - Universidade de São Paulo- Escola de Engenharia de Lorena, USP-EEL/DEMAR3 Docente (Doutora) dos Cursos: Engenharia Ambiental - Unifoa; Curso de Engenharia de Materiais - EEL/USP

Abstract

The recycling/reuse theme is widely discussed in undergraduate engineering courses, independent on what kind of course it is and the existence of a specific discipline for that matter. This work focuses on how the theme of recycling/reuse is approached in the curriculum of the environmental engineering and mechanical engineering at Centro Universitário de Volta Redonda - Unifoa. To this end, the curriculums of both courses have been raised in order to define the teaching aims of the courses and their term. A questionnaire was developed on recycling/reuse, addressing the issue from day to day, at Unifoa and the community around. It was unanimous that this theme is very important to be discussed in the engineering course, helping to build suitable societies through actions aimed to waste minimization, environmental conservation, and improvement of quality of life and training of people engaged to these ideals.

Palavras-chave:

Reciclagem

Reutilização

Engenharia Ambiental

Engenharia Mecânica

ArtigoOriginal

Original Paper

Key words:

Recycling

Reuse

Environmental Engineering

Mechanical Engineering

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Introdução1.

A questão ambiental está na pauta da sociedade brasileira e mundial. Nesse contex-to, destaca-se a questão do esgotamento dos recursos naturais e o problema da destinação adequada dos resíduos. Nas últimas décadas, os países desenvol-vidos têm sido pressionados para reduzir a quan-tidade de material descartado como lixo após um único uso. O objetivo é a conservação das fontes naturais, incluindo a energia utilizada para pro-dução dos materiais e a redução do volume de material disposto em aterros ou por meio de inci-neração. A filosofia de gerenciamento de resídu-os empregando os “quatro Rs” visam a reduzir a quantidade de materiais usados, reutilizar os materiais uma vez formulados, reciclar materiais mediante processos de refabricação e recuperar o conteúdo energético dos materiais, caso não possam ser reutilizados ou reciclados1. O crescimento tecnológico sempre vem junto com a acessibilidade de consumo, que é bas-tante positivo para a comunidade. Mas, por outro lado, a produção de novos materiais, embalagens, dentre outros, gera também a formação de lixos e rejeitos, fruto dos desperdícios da nossa geração consumista. Da mesma forma que- no ensino, pes-quisa e extensão- as universidades podem e devem buscar excelência na gestão do consumo de mate-riais e na destinação de resíduos. Considerando o potencial de difusão e aperfeiçoamento de ideias, conceitos e propostas, torna-se recomendável que os meios de ensino adotem bons exemplos de prá-ticas ambientalmente adequadas.

O objetivo deste trabalho é identificar como o tema Reciclagem/Reutilização está sendo abordado nos cursos de engenharia am-biental e engenharia mecânica da Unifoa, por meio de entrevistas com os docentes de toda grade curricular dos dois cursos. Assim, espe-ra-se que este artigo possa abrir espaço para debate, no sentido de analisar como a univer-sidade pode contribuir e colocar em prática a reciclagem/reutilização.

Metodologia2.

Primeiramente, foi realizado um levan-tamento das disciplinas e respectivos docentes dos cursos de engenharia ambiental e enge-nharia mecânica da Unifoa. Por meio desse le-vantamento, foi possível conhecer toda a gra-de curricular desses cursos e identificar como cada disciplina pode contribuir ou não quanto ao tema reciclagem/reutilização. O instrumento de coleta de dados foi um questionário composto por questões optativas com o objetivo de investigar qual a opinião dos docentes quanto ao tema reciclagem/reuti-lização. Essa investigação se deu por meio de 13 perguntas, e cada uma tinha diversas alter-nativas de respostas. As respostas foram quantificadas e, após, elaborados gráficos para melhor síntese dos resultados. A Figura 1 mostra as etapas da pesquisa.

Figura 1 – Fluxograma do procedimento experimental desenvolvido neste trabalho.

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Resultados e Discussão3.

As questões eram destinadas a 80 docen-tes dos cursos de engenharia ambiental e enge-nharia mecânica, mas a adesão foi de apenas 34 docentes. Existem, atualmente, diversos estudos em nível de pesquisa e também em nível em-presarial, no ramo de reciclagem e reutilização, mas não existe uma disciplina sobre o assunto em nenhuma grade curricular dos cursos de engenharia ambiental e mecânica da UniFOA. Além disso, não são definidas, em ementa, quais as disciplinas que poderiam trabalhar de forma interdisciplinar sobre o assunto, embora esse tema seja abordado indiretamente em di-versas disciplinas. A maioria dos docentes entrevistados considera que o reaproveitamento de mate-riais, reduzindo a quantidade de lixo é uma boa definição para reciclagem, Figura 2. Na verdade, a definição é bem mais complexa e alvo de inúmeras discussões, inclusive quanto aos tipos de reciclagem, da viabilidade e sus-tentabilidade. A Figura 3 mostra alguns tipos de mate-riais e a opinião dos docentes quanto aos que podem ser reciclados/reutilizados. Dos do-centes entrevistados, 50% têm contato com o tema reciclagem/reutilização pelo menos uma vez ao dia (Figura 4).

Figura 2 – Gráfico referente à questão 1 do questionário destinado aos docentes do curso de Engenharia Ambiental e

Engenharia Mecânica da Unifoa.

A reciclagem é uma forma importante de coletar materiais residuais e transformá-los em produtos úteis que podem ser vendidos no mercado. Reciclar envolve transformar mate-riais sólidos descartados em produtos novos e úteis. Residências e locais de trabalho pro-duzem cinco tipos principais de materiais que podem ser reciclados: produtos de papel (in-clusive jornais, revistas, papel de escritório e papelão), vidro, alumínio (especialmente latas

de bebida), aço (sobretudo latas de alimentos em conserva) e alguns tipos de plástico1-3. Atualmente, o Brasil é o país que mais recicla latas alumínio no mundo, porém, vale destacar que isso é consequência da falta de oportunidade no mercado de trabalho, se apre-sentando como alternativa de subsistência para grande parte da população. Mesmo aumen-tando o material destinado à reciclagem, não houve redução na extração do minério bauxi-ta, atividade de intenso impacto ambiental4. A reciclagem das latas de Alumínio conta atualmente com uma adesão importante dos consumidores e comerciantes. As coope-rativas, no entanto, continuam sendo base do processo, responsáveis por 58% do material recolhido5.

Figura 3 – Gráfico referente à questão 2 do questionário destinado aos docentes do curso de Engenharia Ambiental e

Engenharia Mecânica da Unifoa.

Todos os entrevistados concordaram que o volume de lixo é um problema atualmente (Figura 5), e praticamente a maioria afirma que a reci-clagem contribui para proteger o meio ambiente (Figura 6). No entanto, pouco tem sido feito efe-tivamente por isso no dia a dia. Em relação à se-paração de lixo, a maioria dos docentes respondeu que faz a separação em casa e no trabalho, porém, alguns responderam somente em casa, outros so-mente no trabalho, e um número considerável ain-da não faz separação de lixo (Figura 7).

Figura 4 – Gráfico referente à questão 3 do questionário destinado aos docentes do curso de Engenharia Ambiental e

Engenharia Mecânica da Unifoa.

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Figura 5 – Gráfico referente à questão 6 do questionário destinado aos docentes do curso de Engenharia Ambiental e

Engenharia Mecânica da Unifoa.

Figura 6 – Gráfico referente à questão 7 do questionário destinado aos docentes do curso de Engenharia Ambiental e

Engenharia Mecânica da Unifoa.

Figura 7 – Gráfico referente à questão 4 do questionário destinado aos docentes do curso de Engenharia Ambiental e

Engenharia Mecânica da Unifoa.

A separação do lixo é um passo impor-tante antes da reciclagem, pois se o material estiver contaminado onera o processo e pre-judica a qualidade final do produto. O inves-timento em coleta seletiva proporciona uma série de vantagens relacionadas aos chamados custos ambientais2. Portanto, é evidente a im-portância da coleta seletiva ou a separação do lixo para facilitar o processo de reciclagem. A coleta seletiva pode ser realizada em qualquer lugar, em casa, na escola, no traba-lho, nas ruas, ou em lugares específicos cha-mados Ecoponto. 58% dos docentes conhecem o termo Ecoponto, Figura 8. Isso mostra que a informação é um bom meio de conscientizar as pessoas dentro da universidade.

Figura 8 – Gráfico referente à questão 5 do questionário destinado aos docentes do curso de Engenharia Ambiental e

Engenharia Mecânica da Unifoa.

O volume de lixo tornou-se um proble-ma, já que os lixões e aterros sanitários estão esgotados. A minimização de resíduos e tam-bém a reutilização tornam-se cada vez mais importantes para evitar o desperdício, isso aumenta a vida útil do material e adia a sua chegada nos lixões ou aterros. Grande parte das escolas hoje apresenta coleta seletiva, mas poucas destas já trabalha-ram com reciclagem/reutilização ou qualquer outro método a favor da minimização dos pro-blemas ambientais produzidos pelo próprio ho-mem. É de obrigação moral da universidade, principalmente, as que possuem cursos de en-genharia, envolver seus alunos culturalmente e tecnicamente nas questões ambientais. O curso de engenharia é diretamente envolvido com transformações, que podem ou não trazer danos ambientais. É de responsabilidade do docente contribuir para a conscientização dos alunos quanto à necessidade de produtos ambiental-mente sustentáveis e, se possível, trabalhar em pesquisas para desenvolver novas tecnologias em busca de soluções para os problemas já causados. Quase 50% dos docentes já partici-param ou participam de projetos envolvendo o tema reciclagem/reutilização, Figura 9.

Figura 9 – Gráfico referente à questão 9 do questionário destinado aos docentes do curso de Engenharia Ambiental e

Engenharia Mecânica da Unifoa.

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Foi perguntado aos docentes se a Unifoa possui um programa de reciclagem/reutilização que envolva a comunidade, alunos e docentes, e praticamente metade respondeu que sim e outra metade desconhece, Figura 10. Os programas de reciclagem/reutilização atingem alunos e docentes da universidade e também pode atin-gir a comunidade imediata, contribuindo para a conscientização da população sobre a impor-tância e benefícios da reciclagem. Os docentes acham que é possível a universidade influenciar na comunidade imediata utilizando um progra-ma de conscientização ambiental, Figura 11. 75% dos docentes acreditam que é ne-cessária a inclusão de uma disciplina sobre reciclagem/reutilização na grade curricular de um curso de engenharia, Figura 12, embora a grande maioria acha possível abordar o tema em suas disciplinas, Figura 13. 38% dos docentes afirmam que os gra-duandos da Unifoa não estão preparados para a Gestão Ambiental que é exigida hoje no mercado de trabalho, Figura 14, indicando que existe a necessidade de maiores discussões quanto à formalização da grade curricular em relação à gestão ambiental.

Figura 10 – Gráfico referente à questão 11 do questionário destinado aos docentes do curso de Engenharia Ambiental e

Engenharia Mecânica da Unifoa.

Figura 11 – Gráfico referente à questão 12 do questionário destinado aos docentes do curso de Engenharia Ambiental e

Engenharia Mecânica da Unifoa.

Figura 12 – Gráfico referente à questão 10 do questionário destinado aos docentes do curso de Engenharia Ambiental e

Engenharia Mecânica da Unifoa.

Figura 13 – Gráfico referente à questão 8 do questionário destinado aos docentes do curso de Engenharia Ambiental e

Engenharia Mecânica da UniFOA.

Figura 14 – Gráfico referente à questão 13 do questionário destinado aos docentes do curso de Engenharia Ambiental e

Engenharia Mecânica da UniFOA.

Conclusão4.

Não existe uma disciplina específica para o tema reciclagem nos cursos de engenharia do Unifoa. O assunto, quando abordado, é de forma indireta, como parte de algum assun-to específico das disciplinas, o que implica na possível ineficácia ou redundância de conteúdos referentes a meio ambiente. Dessa forma, é pos-sível que o aluno se gradue despreparado para a Gestão Ambiental, sendo que a maioria dos do-centes entrevistada considera o tema importante na grade curricular de um curso de engenharia.

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Considerando as respostas do total de 34 docentes entrevistados, a maioria dos docentes (75%) acredita que é importante uma disciplina sobre reciclagem/reutilização ser incluída nos cursos de engenharia da Unifoa (Figura 12). De acordo com a grade curricular dos cursos de engenharia ambiental e mecânica, muitas dis-ciplinas podem abordar esse tema sem prévio planejamento. Além disso, através de parcerias e com programas de reciclagem/reutilização, a uni-versidade pode atingir a comunidade e con-tribuir para a conscientização da população sobre a importância da reciclagem.

Referências5.

BAIRD, C. Química Ambiental. 2 ed. 1. Porto Alegre: Bookman, 2002.

VILHENA, A. Guia da coleta seletiva de 2. lixo. São Paulo: Cempre, 1999.

MILLER JR, G. T. Ciência Ambiental. 3. São Paulo: Cengage Learning, 2007.

Disponível em: <http://www.trern.gov.4. br/nova/inicial/links_especiais/coleta/download/metal.pdf>. Acesso em: 11/05/09.

Disponível em: <http://ambiente.hsw.uol.5. com.br/reciclagem-de-aluminio2.htm>. Acesso em: 3/06/2009.

Endereço para Correspondência:

Amanda Ligabo de [email protected]

Discente do Curso de Engenharia Industrial QuímicaUniversidade de São PauloEscola de Engenharia de Lorena, USP-EEL/DEMAR. Polo Urbo-Industrial, Gleba AI-6, s/n, Lorena-SPCEP. 12.600-000, Brasil.

Informações bibliográficas:Conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto científico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma:ESTEVES, Anderson Luiz Carneiro; MELLO, Marcella Mateus de; ABREU, Amanda Ligabo de; BORGES, Simone Pereira Taguchi. Abordagem do Tema Reciclagem/Reutilização na Grade Curricular dos Cursos de Engenharia da Unifoa. Cadernos UniFOA. Volta Redonda, Ano V, n. 13, agosto 2010. Disponível em: <http://www.unifoa.edu.br/cadernos/edicao/13/11.pdf>

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Produção e Caracterização da Liga Ti-12Mo-3Nb para Aplicação Biomédica

Production and Characterization of Ti-12Mo-3Nb alloy for Biomedical Application

José Vicente de Paiva Panaino1

Paulo Roberto Mei2

Carlos Angelo Nunes2

Mariana Coutinho Brum3

Sinara Borborema Gabriel3

Resumo

As ligas de titânio são bem satisfatórias para aplicações biomédicas de-vido a suas propriedades físicas, mecânicas e biológicas. Recentemente, houve muitas pesquisas voltadas para o desenvolvimento de ligas de Ti do tipo β, compostas de elementos não tóxicos (Nb,Mo,Ta,...), pois as vantagens destas ligas em relação as ligas do tipo alfa e alfa + βeta (Ti-6-Al-4V) incluem seu menor módulo de elasticidade, melhor plasticidade e, alem disso, as variáveis de processo podem ser controladas para produzir resultados selecionados. Este projeto focou o desenvolvimento e caracte-rização da liga Ti-12Mo-3Nb no estado bruto de fusão e após tratamento termomecânico. O material nas diferentes condições foi caracterizado por difrações de raios X, microscopia ótica, medida de microdureza e modulo de elasticidade. Os resultados mostraram que a liga Ti-12Mo-3Nb na con-dição forjada apresentou a melhor combinação de propriedades, sendo um promissor candidato para ser utilizado como implante.

1 Acadêmico do curso de Engenharia de Produção do Centro Universitário de Volta Redonda – UniFOA2 Doutor em Engenharia Mecânica pela Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP – Campinas3 Doutora em Engenharia Metalúrgica e de Materiais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – COPPE/UFRJ – Rio de Janeiro

Abstract

The titanium alloys are quite satisfactory for biomedical applications due to their physical, mechanical and biological properties. Recent studies focuses on the development of β type titanium alloys, composed of toxic elements (Nb, Mo, Ta ,...), because they have more advantages than alpha and alpha + beta (Ti- 6Al-4V) alloys, such as lower modulus of elasticity, better plasticity and, moreover, the process variables can be controlled to produce selected results. This project focused on the development and characterization of Ti-12Mo-3Nb alloy in the condition “as cast” and after thermomechanical treatment. The material was characterized in different conditions by X-ray diffraction, optical microscopy, microhardness measurements and elasticity modulus. The results showed that the forged Ti-12Mo-3Nb alloy showed the best combination of properties, being a promising candidate for use as implant.

Palavras-chave:

Liga de Ti

Microestrutura

Módulo de Elasticidade

Biomaterial

Key words:

Ti alloy

Microstructure

Elastic Modulus

Biomaterial

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Introdução1.

Nos dias de hoje há um grande aumento na demanda de materiais biomédicos, que são substitutos artificiais usados para recuperar funções do corpo humano na qual tenham sido retrocedidas pelo tempo e danificados por do-enças ou acidentes. Nessas ocasiões, as ligas de titânio são bem satisfatórias para aplicações médicas, devido as suas propriedades físicas, mecânicas e biológicas. [1, 2]

No entanto, os materiais metálicos con-vencionais mais utilizados como implantes são: o aço inoxidável, as ligas Co-Cr e Ti co-mercialmente puro (cp) e suas ligas. A liga de titânio mais usada atualmente é a Ti-6Al-4V. Porém, estudos recentes têm relatado que a liberação de íons de V da liga pode causar al-guns problemas de saúde a longo prazo e Al é um elemento questionável a desenvolver a doença de mal de Alzheimer. [3, 4]

Novos estudos estão visando ao desen-volvimento de novas ligas de Ti, do tipo β, compostas de elementos não tóxicos, como Nb, Ta, Mo, Zr e Sn.[3, 5] A vantagem dessas ligas inclui seu menor módulo e melhor ducti-lidade.[3, 6, 7] As ligas de titânio do tipo β são classifica-das em estáveis e metaestáveis. A estabilidade da fase β pode ser avaliada utilizando o conceito de equivalência de Mo que inclui os dois ter-mos βc e βs onde βc é definido como o teor mí-nimo crítico do estabilizador β para reter 100% da fase β em temperatura ambiente (em forma metaestável), e βs é o teor mínimo do estabiliza-dor β para estabilizar as ligas betas.[8] De acordo com Mythili et al. [9], o valor de βc para Mo é de aproximadamente 10,0% em peso. Este estudo foca o desenvolvimento e caracterização da liga Ti-12Mo-3Nb no esta-do bruto de fusão e após tratamento termome-cânico (tratamento a 1000°C/24h seguido de forjamento à quente).

Materiais e Métodos2.

A liga Ti-12Mo-3Nb foi preparada a partir de Ti, Mo e Nb de pureza comercial por fusão a arco com eletrodo não consumível de tungstênio em atmosfera de argônio. O lin-gote obtido foi tratado a 1000ºC por 24h em

um forno tubular com resfriamento em água a temperatura ambiente e então forjado a quente (900°C) até redução em área de ~ 70%. A microestrutura da liga foi investigada por um microscópio ótico (LEICA/DMIRM). A amostra foi montada a quente com resina e en-tão polida por técnicas padrões de metalográfia. As análises de fases da liga nas dife-rentes condições na forma polida foram rea-lizadas por difração de raio-X (DRX), usando uma Shimadzu modelo DRX 6000 difrato-metro operada à 40kV e 30 mA. Um filtro de CuKα (λ =1.5418 Å) foi usado para este es-tudo. As fases foram identificadas através da comparação com difratograma simulado. As simulações foram realizadas através do pro-grama Powdercell[10] inserindo dados das fases α, β e ω [11], como grupo espacial, parâmetros de rede e posições atômicas. A microdureza da liga nas diferentes condições (polidas) foi medida utilizando um equipamento Micromet 2004, Buehler, com uma carga de 200gf durante 30s. Os valores de microdureza representam a média de 5 me-didas. Os valores do Ti cp e da liga comercial Ti-6Al-4V também foram determinados para comparação. O módulo de elasticidade da liga nas di-ferentes condições foi determinado usando o método de pulso ultrassônico de acordo com a norma ASTM E 494-95[12]. Os valores do Ti cp e da liga comercial Ti-6Al-4V também foram determinados para comparação. Cada valor de módulo representa a média de 5 medidas.

Resultados e Discussão3.

A perda de massa antes e após a fu-são foi inferior a 1%, indicando que a com-posição da liga é próxima da esperada. A Figura 1 mostra o padrão de DRX da liga Ti-12Mo-3Nb (a) no estado bruto de fu-são, (b) após tratamento a 1000°C/24h e (c) após forjamento a quente. Em todos os difratogramas só foi possível identificar a presença da fase β, estrutura cúbica de cor-po centrado (ccc).

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Figura 1- Difratogramas de raios X da liga Ti-12Mo-3Nb nas seguintes condições:(a) estado bruto de fusão (b) tratada a 1000 °C/24h e (c) forjada a quente.

A liga nas diferentes condições foi obser-vada por microscopia ótica e as micrografias são apresentadas na Figura 2. Os resultados mostraram que uma microestrutura β, foi ob-servada em todas as condições, em consonância com os resultados de DRX. O material forjado

mostra uma estrutura com bandas de deforma-ção. O valor do Mo equivalênte (Moeq%) para esta liga é 12,84% (com base na composição nominal da liga), mais de 10 wt%, que classi-ficou esta liga na categoria β metaestável. Na verdade só a fase β foi identificada.

Figura 2- Micrografias óticas da liga i-12Mo-3Nb com aumento de 200x nas seguintes condições:(a) estado bruto de fusão (b) tratada a 1000 °C/24h e (c) forjada a quente.

A Tabela 1 mostra os resultados de du-reza e módulo de elasticidade da liga nas di-ferentes condições durante o processamento. Observou-se que em todas as condições a liga

apresentou valores de dureza superiores ao Ti cp. Já os valores de módulo de elasticidade em todas as condições foram inferiores ao Ti cp e a liga Ti-6Al-4V.

Tabela 1- Valores de microdureza e módulo de elasticidade para a liga Ti-12Mo-3Nb nas diferentes condições e para o Ti cp e a liga Ti-6Al-4V.

CONDIÇÕES MICRODUREZA MÓDULO DE ELASTICIDADE (GPA)

Estado bruto de fusão (HV) 98,81 ± 2,02Tratada a 1000ºC/24h 406,56 ± 10,76 83,87 ± 3,47Forjada a quente 309,9 ± 3,92 83,90 ± 4,60Ti cp 340,23 ± 17,80 113,03 ± 4,44Ti-6Al-4V 174.89 ± 8.931 123,76 ± 4,41Ti-6Al-4V 337.31 ± 15.808 123,76 ± 4,41

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Para medir a desempenho de bioma-teriais com baixo módulo de elasticidade e alta resistência para serem utilizados como substituto ósseo, geralmente utiliza-se a razão resistência por módulo de elasticidade, onde quanto maior o valor resultante maior será o potencial para uso nestas aplicações (13). Neste trabalho, utilizou-se a razão dureza por módu-lo de elasticidade para medir o desempenho das ligas nas diferentes condições e comparar com a liga Ti-6Al-4V e ao Ti cp.

A Figura 3 mostra a razão dureza por módulo de elasticidade da ligas Ti-12Mo-3Nb nas diferentes condições propostas neste traba-lho em comparação com a liga Ti-6Al-4V e Ti cp. Nas diferentes condições, esta apresentou valores superiores a liga Ti-6Al-4V e Ti cp, sendo que a liga na condição forjada a quente apresentou um menor módulo (~ 84 GPa) em comparação a liga no estado bruto de fusão e uma dureza similar a da liga comercialmente usada Ti-6Al-4V.

Figura 3- Razão dureza / módulo de elasticidade da liga Ti-12Mo-1Nb em diferentes condições e Ti-6Al-4V e Ti cp.

Conclusão4.

Verificou-se que a liga Ti-12Mo-3Nb nas diferentes condições de processamento apresen-tou uma microestrutura monofásica β de acordo com as técnicas de caracterização utilizadas. Entre as diferentes condições, a liga Ti-12Mo-3Nb na condição forjada a quente apre-sentou a melhor combinação de propriedades, sendo um promissor candidato para ser utili-zado como implante, porém, serão necessários

estudos adicionais envolvendo outras análises como: testes de fadiga, testes de corrosão, ci-totoxicidade, teste in vivo.

AGRADECIMENTOS: Agradecemos ao Prof. Joao Marcos Alcoforado Rebello do Laboratório de Ensaios não destrutivos do Programa de Engenharia Metalúrgica e de Materiais da COPPE/UFRJ.

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Endereço para Correspondência:

Sinara Borborema [email protected]

Centro Universitário de Volta Redonda – UniFOAAv. Paulo Erlei Alves Abrantes, nº 1325Três Poços, Volta Redonda - RJCEP 27240-560.

Informações bibliográficas:Conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto científico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma:PANAINO, José Vicente de Paiva; MEI, Paulo Roberto; NUNES, Carlos Angelo; BRUM, Mariana Coutinho; GABRIEL, Sinara Borborema. Produção e Caracterização da Liga Ti-12Mo-3Nb para Aplicação Biomédica. Cadernos UniFOA. Volta Redonda, Ano V, n. 13, agosto 2010. Disponível em: <http://www.unifoa.edu.br/cadernos/edicao/13/17.pdf>

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Qualidade da Energia Elétrica em Sistemas de Automação

Quality of electrical energy in automation systems

José Maurício dos Santos Pinheiro 1

Resumo

As redes de automação atuais resultam em sistemas de gerenciamento comple-xos, compostos por inúmeros protocolos, diversos meios para o transporte da in-formação e novas tecnologias de sinais. O seu proje-to deve incorporar dispositi-vos de alimentação, proteção e sistemas de aterramento elétrico capazes de ga-rantir a integridade dos ativos de rede contra falhas no sistema elétrico. Assim, a escolha de materiais de quali-dade e uma infraestrutura bem executada são quesi-tos importantes para o bom funcionamento de toda a rede.

1 Professor Especialista - Curso Tecnológico de Redes de Computadores – UniFOA

Abstract

The current automation nets result in systems of complex administration, com-posed by countless protocols, several means to the information transport and new signs technologies. Its project should incorporate feeding devices, protection and electrical grounding systems capable to guarantee the integrity of the net assets against flaws in the electric system. This way the choice of good quality materials and an infrastructure well executed are important requirements to the good opera-tion of the whole net.

Palavras-chave:

Automação

Disponibilidade

Condicionamento

Infraestrutura

Key words:

Automation

Availability

Conditioning

Infrastructure

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Introdução1.

Sistemas de automação são aplicações que necessitam de energia elétrica com alta disponibilidade e livre de distúrbios, ou seja, contar com um fornecimento de energia elé-trica confiável é um desafio por se tratar de sistemas os quais necessitam de alimentação de qualidade para maximizar sua eficiência e o seu tempo de funcionamento. Um dos requisitos mais críticos em re-des de automação é a proteção da inte-gridade da informação quando esta trafega através de um meio sujeito a distúr-bios no fornecimento da energia elétrica. Nesse aspecto, blindagem e aterramen-to elétrico são itens mandatários para garantir a integridade dos dados. Segundo Pinheiro (2008), “as ameaças mais comuns para os equipamentos eletrônicos são os ruí-dos elétricos, variações e transientes de tensão, interrupções no forne-cimento, entre outros.” Seguindo este raciocínio, Aldabó (2001) pre-coniza que “as soluções para os distúrbios na energia elétrica podem ser compreendidas e apli-cadas em três níveis distintos: aterramen-to apropriado, proteções e sistema al-ternativo de fornecimento.” Ou seja, através do planeja-mento da infraestrutura elétrica, associado com um projeto que inclua sistemas de aterramento elétrico e dispositivos de proteção, é possível eliminar ou pelo menos minimizar bastante as consequências que os distúrbios de energia elé-trica podem causar a uma rede de automação. Neste sentido é inquestionável a necessi-dade de um sistema que forneça e-nergia elé-trica de qualidade e confiabilidade e, através dele, espera-se obter uma rede com imunidade suficiente para operar sem degradação na pre-sença de dis-túrbios eletromagnéticos.

Qualidade da Energia Elétrica2.

O conceito de qualidade da energia elé-trica está relacionado ao conjunto de altera-ções que podem ocorrer no sistema elétrico e que podem ser representadas por qualquer problema de energia manifestado nos valores de tensão, corrente ou nas variações de frequ-ência, que resulte em falha ou má operação de equi-pamentos. Tais alterações podem ocorrer em várias partes do sistema elétrico, seja nas

instalações dos usuários ou no próprio sistema da concessionária de eletricidade. Segundo Aldabó (2001), “O conceito de qualidade de energia elétrica significa a busca por desenvolvimento de meios para erradicar ou minimizar os problemas em dispositivos alimentados por fontes de energia.” A qualidade da energia elétrica fornecida é relevante para aplicações críticas em todas as condições operacionais. Entretanto, ainda segun-do Aldabó (2001), “a energia elétrica comercial pode, ocasionalmente, ser fornecida com insta-bili-dades, oscilação, surtos e transientes além dos limites operacionais dos siste-mas.” Isso se deve a alterações na demanda da transmissão de energia elétrica, afetada por falhas de projeto ou por novas necessidades de conversão dos con-sumidores na rede elétrica. A realidade é que os problemas na qualidade da energia elétrica vêm se a-gravando em todo o mundo por diversas ra-zões, entre elas duas se destacam:

Instalação de cargas não lineares – uso de • equipamentos que aumen-tam os níveis de distorções e podem levar o sistema a condições de insta-bilidade durante o for-necimento da energia elétrica;Maior sensibilidade – os equipamentos • eletrônicos estão cada vez mais sensíveis aos efeitos dos distúrbios oriundos de fontes de alimentação elétrica. É cada vez mais comum a utilização de dispositivos de automação nos ambientes industriais, comerciais e residenciais.

Além dos problemas ocasionais no for-necimento de energia elétrica (quedas de ten-são, apagões, entre outros), a ocorrência dos impulsos elétricos de alta in-tensidade e de curta duração, normalmente provenientes das descargas atmosféricas, é extremamente pre-judicial a todo tipo de equipamento eletrônico usado nesses ambientes. Isso ocorre porque os equipamentos eletrônicos são cada vez mais sensíveis a problemas de qualidade de energia e mais poluidores também, provocando distúr-bios que podem afetar outros equipamentos próximos. Segundo Sanches (2003), “a inter-ferência eletromagnética provoca a aceleração da degeneração dos circuitos integrados devido aos transientes e surtos de tensões e correntes provocados no equipamento influenciado.”

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2.1. Fontes de Interferência

O ambiente eletromagnético de um sistema de automação pode ser encarado como o resultado do funcionamento dos diversos elementos adicionados ao ruí-do ambiente no qual estão inseridos e pode ser definido pelos seus diversos equipamentos e sistemas constituintes, tais como a rede elétrica, tipo de edifica-ção, infraestrutura, tipo de cabeamento, equipamentos instala-dos e pelo ambiente externo que o circun-da. Conforme Pinheiro (2008), “o ambiente eletromagnético pode ser alterado à medida que ocorrerem reformulações no layout dos equipamentos, do cabeamento e, principal-mente, na instalação elétri-ca.”

2.2. Interferência Eletromagnética

A Interferência Eletromagnética ou EMI (Electromagnetic Interference) pode ser de-

finida como a interferência ou ruído gerado nos sistemas eletroeletrônicos como resultado das características inerentes aos dispositivos instalados nesses sistemas. Sanches (2003), esclarece que “o nome genérico dado a toda energia eletromagnética, que cause resposta indesejável (ruído elétrico), sem considerar o ruído inerente ao próprio componente... é Interferência Eletromagnética...”. A EMI constitui-se num obstáculo à me-lhoria dos níveis de confiabilidade dos equipa-mentos utilizados nos sistemas de automação, afetando diretamente seus usuários e vem se tornando uma das maiores causas de falhas nas trans-missões de dados, imagens, monito-ração remota etc. Na figura 1 são apresentados dois exem-plos típicos de EMI que se propaga através da rede de energia elétrica ou por meio de ondas de rádio. As duas for-mas interferem no fun-cionamento do equipamento eletroeletrônico (aparelho de TV).

Figura 1 - Exemplos de EMI através da rede elétrica e sinais de rádio

Essa forma de interferência é um dos maiores causadores de falhas em redes de co-municação, principalmente quando são utiliza-dos protetores, cabos e acessórios inadequados para o sistema de energia elétrica. Ela pode ocorrer in-ternamente ou externamente ao sis-tema de comunicação, mas sua causa sempre se origina nas perturbações eletromagnéticas. Para se eliminar problemas de interferên-cia eletromagnética, todas as questões relativas à infraestrutura da rede devem ser levantadas durante o proje-to com vistas à melhor solu-ção. Por exemplo, o cabeamento metálico é um dos principais responsáveis pela conexão física entre os diversos dispositivos e a-cessórios que compõem uma rede de automação. Algumas

providências básicas podem ser tomadas para evitar que o ruído elétrico afete o funcionamen-to dos equipamentos a partir do cabeamento. Dentre os métodos de redução de ruídos desta-cam-se o balanceamento dos níveis de tensão nas extremidades dos cabos, a blindagem das estruturas por onde passa a rede de cabos de automação e, principalmente, o cuidado com a conexão dos cabos e o aterramento elétrico. Segundo Pinheiro (2003), “é importante obser-var que os conectores representam as ligações mais fracas de um sistema de cabeamento.” Pinheiro (2003) ressalta ainda que “as carac-terísticas e a eficiência do aterramento devem satisfazer às prescrições de segurança pessoais e funcionais da instalação.”

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2.2.1 Efeitos da Interferência Eletro-magnética

Todos os equipamentos eletrônicos pro-pagam a corrente elétrica e, con-sequentemen-te, produzem um campo eletromagnético. Esse campo eletromagnético é composto por duas entidades: um campo elétrico presente quando há tensão elétrica e um campo magnético, que existe quando há fluxo de corrente elétrica. Ambos os campos determinam o tipo de inter-ferência eletromagnética que estarão presentes no sistema, como mostra a Figura 2.

Figura 2 - Interação entre o campo elétrico e o magnético

A EMI pode ser responsável por diver-sos problemas, dentre eles podemos ter falhas na comunicação entre os dispositivos da rede, caracteres estranhos nas interfaces de vídeo, alarmes acionados sem motivo aparente, fa-lhas esporá-dicas e que não seguem uma ló-gica, queima de circuitos eletrônicos e ruídos elétricos gerados nas fontes de alimentação. Segundo Kouyoumdjian (1998), “as perturbações eletromagnéticas são devidas a fenômenos de diferentes tipos.” Na verdade, todo circuito eletrônico produz algum tipo de

campo magnético ao seu redor e, assim, se torna gerador de EMI. Como consequência, temos a transferência energia eletromagnéti-ca (ou acoplamento) entre um equipamento “fonte” e um equipamento “vítima”, que pode ocorrer por radiação ou condução, ou ambos. Em todos os casos temos o envolvimento de uma fonte de energia eletromagnética, um dis-positivo que responde a esta energia (vítima) e um caminho de transmissão (acoplamento) que permite a energia fluir da fonte até a víti-ma, conforme mostrado na Figura 3.

Figura 3 - Transferência entre fonte e receptor

Para diagnosticar um problema de EMI, o modelo fonte – acoplamento - re-ceptor pode se bastante útil. Como mencionado, são neces-sários os três compo-nentes, simultaneamente, para existir um problema de EMI:

Uma fonte de energia;• Um receptor, que possa ser perturbado • por essa energia;Um acoplamento (ou caminho) para trans-• ferir esta energia indesejável en-tre a fonte e o receptor.

Inicialmente, deve-se identificar a fonte de perturbação eletromagnética, o mecanismo de acoplamento (como que as perturbações eletromagnéticas gera-das são acopladas ao circuito) e a vítima (o circuito que está sendo afetado). En-tão é possível estudar uma solução para o problema tra-balhando-se em um ou mais destes com-ponentes para se reduzir o ruído acoplado. Na Figura 4, temos exemplos típicos desses três componentes. Observa-se ainda que existem diver-sas combinações possíveis entre eles, mas nem todas resultam em um problema de EMI.

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O problema da EMI pode ser solucionado através da intervenção num dos componentes do modelo: na fonte, no caminho ou no recep-tor, ocorrendo basi-camente de três formas:

Supressão da emissão de EMI na fonte;• O caminho de acoplamento deve ser o • mais ineficiente possível;Tornando o receptor menos susceptível • ao ruído elétrico.

2.2.2. Prevenção contra EMI

Uma instalação elétrica adequada é essencial para que os equipamentos não sejam afetados por EMI. É necessário man-ter os terminais de conexão dos compo-nentes curtos para minimizar indutâncias. O mesmo vale para conexões de filtros, blindagens e dispositivos de isolação para o potencial de terra. Outra preocupação, conforme Negrisoli (2004), “todas as par-tes metálicas de uma instalação que não te-nham por finalidade a condução de corrente elétrica, devem ser aterradas de modo a ga-rantir segurança a pessoas que se utilizam dessa instalação”. Uma providência importante é instalar protetores de transientes e filtros no ponto de entrada dos equipamentos para minimizar a poluição das conexões in-ternas. Quando se usam tanto protetores de transientes quanto filtros, é preciso instalar os protetores mais próximos da entrada de energia para proteger os filtros e outros dispositivos internos. Pode ser necessário combinar mais de um método de proteção, dependendo dos problemas que se quer prevenir ou solucionar e, assim, ofere-cer diversos níveis de proteção.

Dois conceitos básicos devem ser con-siderados: em primeiro lugar devem-se tratar todos os cabos como se fossem antenas não intencionais. Qualquer condutor com dimensão maior que 1/20 de comprimento de onda pode se com-portar como uma boa antena para essa onda. Considerar também que um cabo, mesmo blindado, poderá irradiar EMI. É muito comum que uma corrente de alta frequência seja aco-plada na blindagem, fazendo com que a blinda-gem do cabo se comporte como uma antena. Em segundo lugar devem-se determinar os circuitos mais críticos para atu-arem como transmissores não intencionais, por exemplo, circuitos que operam com sinais altamente repetitivos como o sinal de sincronismo. No caso dos cabos e conectores de rede, quanto mais alta a frequência de operação, maior deve ser a qualidade desses componentes. Cabos atuam como antenas não intencionais (tanto receptoras como transmissoras) para energia de RF. Conectores propiciam fuga não inten-cional de (e para) a blindagem do cabo e maus conectores podem tornar um ótimo cabo, ine-ficiente. Dessa forma, cabos e conectores de-vem ser considerados como um sistema e não individualmente. Uma analogia interessante é uma man-gueira de jardim. A conexão da mangueira à tor-neira e também entre a mangueira e a conexão, são tão importantes como o material da man-gueira. A melhor mangueira do mundo vaza se a conexão não for boa. O mesmo acontece com cabos e conectores para pro-blemas de EMI. Seguem-se algumas recomendações:

Blindagem • - Utilizar blindagem de qua-lidade para frequências de opera-ção até 10 MHz. Acima desta frequência, fugas

Figura 4 - Modelo Fonte – Acoplamento (caminho) – Receptor

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tendem a ocorrer através da blindagem. Nesse caso, devem-se utilizar malhas de alta cobertura, ou malhas sobre folhas metálicas. Somente folhas metálicas po-deriam ser utilizadas, mas uma ruptura poderia provocar fugas, portanto, malhas sobre folhas são preferíveis;

Conectorização • - Usar conectores de qualidade para qualquer frequência de operação, particularmente acima de 10 MHz. O objetivo é prover cober-tura de 360° na junção entre a blindagem do cabo e o chassi do equipa-mento. Cada junção não deve oferecer fugas (blindagem do cabo ao co-nector, conector a conector, e conector ao chassi);

Filtros • – Não sendo possível utilizar blindagem, devem-se filtrar os sinais no cabo. A filtragem é necessária para evi-tar que frequências mais altas entrem ou saiam do sistema através dos cabos. Pequenos filtros de alta frequência com-postos de ferrites e de capacitores de by-pass funcionam bem. Manter os terminais destes componentes curtos e capacitores de by-pass conectados ao potencial terra do chassi e não ao potencial terra do cir-cuito (a menos que estes dois terras sejam comuns). Os filtros devem ser instalados próximos dos conectores para minimizar a captação do ruí-do pelos circuitos inter-nos do equipamento;

Encaminhamento de cabos • - Cabos in-ternos ao equipamento também são ante-nas não intencionais. Deve-se tomar cui-dado com a rota desses cabos, evitando que passem perto de ranhuras no chassi (por exemplo, ranhuras de ventilação). Isso é especialmente crítico quando tais cabos transportam sinais analógicos de baixo nível de potência;

Aterramento de condutores • - Ao utili-zar flat cables, utilizar o maior núme-ro de fios possível para retornos de terra e os espalhe uniformemente no cabo. Isso minimiza áreas de loop que funcionam como antenas. A melhor condição é uma linha de retorno de terra para cada sinal.

Condicionamento e Fornecimento 3. Autônomo de Energia

Sistemas de automação são aplicações que necessitam de energia elétrica com alta disponibilidade e livre de distúrbios. No aten-dimento desses sistemas, na complementação ou substituição da eletricidade fornecida pela concessionária de energia, podemos contar com fontes de energia elétrica de reserva, ca-pazes de suprir a demanda de uma rede de co-municação com total confiabilidade.

3.1. Condicionamento de Energia

Condicionar energia significa estabe-lecer padrões de comportamento (conti-nui-dade no fornecimento, limites especificados, isenção de distúrbios) previsíveis para que a energia fornecida pelo sistema público de distribuição seja utilizada pelos consumido-res de forma eficiente e sem riscos de aciden-tes pessoais e materiais. Um dispositivo para condicionamento de energia recebe a eletricidade forne-cida pela concessionária (normalmente carregada de distúrbios e eventos poten-cialmente des-trutivos e imprevisíveis) e a transforma em energia condicionada com um comportamento previsível e aceitável para a maioria das car-gas que dela dependem. O condicionamento da energia para um sistema de automação pode ser con-seguido pela utilização de quatro tipos básicos de dispositivos:

UPS:• Quando existe queda ou interrup-ção da rede elétrica, a energia é suprida por um conjunto de baterias, que através de circuitos específicos, converte a ener-gia da forma contínua para alternada;

Estabilizadores de tensão:• mantém a tensão fornecida aos equipamentos dentro dos limites especificados, indicados como um valor percentual da tensão de opera-ção (tensão nominal);

Filtros: • Filtram os ruídos de alta frequên-cia proveniente da rede elétrica como as interferências de radiofrequência (RFI) e eletromagnéticas (EMI);

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Protetores de surto:• Dispositivos des-tinados a suprimir tensões perigosas da rede elétrica (proteção contra surtos de tensão e sobrecarga, tensões induzidas por descargas atmosféricas, contatos aci-dentais de linhas elétri-cas de diferentes potenciais, indução etc.).

3.2. Equipamentos Sensíveis

Equipamentos sensíveis são definidos como aqueles que têm seu desempe-nho mais amplamente afetado pelos distúrbios da rede elétrica. Dentre eles po-demos citar os equipamentos comumente encontrados nas redes de comunica-ção (computado-res, impressoras, modems, roteadores, swi-tches, hubs etc.), e-quipamentos de áudio e vídeo, equipamentos médico-hospitalares e de teleco-municações, entre outros. Motores elétricos, lâmpadas e eletrodomésticos em ge-ral costumam apresentar menor sensibi-lidade aos distúrbios mais comuns da re-de elétrica e, portanto, não são considerados equipamentos sensíveis. Conforme assinala Kouyoumdjian (1998), “impõe-se, portanto, o conhecimento das medidas que permitam a coabitação pacífica entre produtos sensíveis, de um lado, e produtos emissores de interfe-rências, de outro.” Igualmente, independente da sensibili-dade dos equipamentos, torna-se importante a escolha correta dos dispositivos de proteção (fusíveis e disjuntores), de tal modo que, na ocorrência de um defeito na instalação elétri-ca, a menor parte dela seja desligada. Negrisoli (2004) salienta que “a proteção mais próxima do defeito deve atuar primeiro”. Os dispositivos para condicionamento de energia visam corrigir um ou mais des-vios no fornecimento da eletricidade para as cargas e podem ser divididos em três catego-rias básicas:

Dispositivos que filtram ou regulam o for-• necimento de energia da conces-sionária:

□ Transformadores isoladores;□ Dispositivos para proteção contra surtos;□ Reguladores de tensão;□ Condicionadores de linha;□ Filtros harmônicos.

Equipamentos que regeneram a energia • fornecida pela concessionária de energia ou geram a sua própria energia:

□ Grupo Motor-Gerador (GMG)

Dispositivos de alimentação ininterrupta • de energia:

□ Uninterruptible Power Supply (UPS)

Os dispositivos para condicionamento de energia fazem parte de um grupo de equipa-mentos usados em sistemas de fornecimento de energia elétrica. Figueira (2005) esclarece que “sistema de energia é um termo genéri-co que especifica um grupo de equipamentos eletromecânicos e eletroeletrônicos que tem como objetivo a geração, a conservação e a transformação da energia elétrica.”

3.3. Criticidade do Sistema Elétrico para Automação

O nível de criticidade do sistema elétrico de uma rede de automação pode ser determi-nado através da análise das necessidades dos equipamentos constituin-tes dessa rede, da in-fraestrutura existente e da qualidade da ener-gia elétrica for-necida. Pode-se classificar esse nível de criticidade do sistema elétrico em:

Alta:• quando os equipamentos necessitam de 100% de confiabilidade e disponibili-dade de energia em função da importância de sua continuidade de funcionamento;

Média: • quando os equipamentos necessi-tam de 100% de confiabilidade de qualida-de de energia condicionada, porém, pode ser interrompido, desde que seja de uma forma programada. Isto é, numa situação de ausência de energia CA de entrada, o dispositivo de fornecimento e condiciona-mento de energia deve ter autonomia sufi-ciente para manter os sistemas em funcio-namento por um tempo mínimo para o seu desligamento programado;

Baixa: • quando os equipamentos necessi-tam apenas de confiabilidade na qualidade de energia condicionada, porém não so-frem e nem geram prejuízos com as inter-rupções prolongadas de energia. Este é um

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caso típico de equipamento sensível como sistemas de iluminação ambiente, onde as variações da má qualidade de energia, tais como, micro interrupções, transitórios e oscilações da energia ou mesmo nas si-tuações de falta de energia prolongadas, simplesmente se desliga sem danos ou prejuízos ao sistema.

3.4. Sistemas de Missão Crítica

A evolução da tecnologia e a integração entre as redes de automação e as redes corporati-vas criaram um novo desafio no projeto das ins-talações elétricas para os sistemas de comunica-ção: o aumento de cargas sensíveis e aplicações de missão crítica. Todo e qualquer equipamento que necessite de proteção con-tra distúrbios da rede elétrica é considerado uma carga sensível. Já a expressão “aplicações de missão cri-tica” faz referência aos sistemas que necessi-tam estar disponíveis 24 horas por dia durante os 365 dias do ano, siste-mas de automação, por exemplo. Esse tipo de sistema necessita de uma infraes-trutura adequada que propicie a disponibilidade necessária para atender as ne-cessidades constantes dos equipamentos, com energia elétrica segura e de qua-lidade. Outros sistemas de missão crítica de-vem ser igualmente protegidos e necessi-tam de formas de alimentação alternativas. Como permitir ou restringir o acesso de pessoas às instalações e setores da empresa se os sistemas de controle de acesso físico estão sem alimen-tação elétrica? Trancas com códigos, leitoras de cartões inteligentes, Etiquetas RFID, dispo-sitivos bio-métricos, CLP’s etc., são todos dependentes de energia elétrica. Siste-mas de captação e grava-ção de imagens (câmaras e gravadores de vídeo) devem estar sempre alimentados, bem como de-tectores de movimento e presença. Sistemas de comunicação, como enlaces de rádio e centrais telefônicas também devem possuir redundância de fontes de alimentação elétrica. Quanto mais críticos e importantes fo-rem os sistemas, maior será a exigência de redundância e segurança da infraestrutura da rede de suporte. Assim, há a necessidade de redundância de equipamentos de mesma fun-ção para garantir o suprimento de energia das cargas criticas e, nesses casos, devem ser usa-

dos sistemas de energia ininterrupta do tipo UPS e Grupo Motor-Gerador (GMG), além de rede elétrica adequada. A inspeção é outro quesito essencial nas instalações elétricas e deve ser rea-lizada mes-mo que voluntariamente. O ponto que garante a harmonia de todo o projeto é a manutenção, que aumenta a vida útil da instalação e reduz os riscos. Essa manutenção deve seguir alguns procedimentos padrão, estabelecidos de acor-do com norma ABNT NBR 5410 e deve ser realizada com uma periodicidade definida. A norma ABNT NBR 5410 cobre os di-versos tipos de instalações elétricas de baixa ten-são como edificações residenciais, comerciais e industriais em geral, sendo aplicável também no projeto elétrico das redes de automação.

Gerenciamento de Energia4.

O termo “gerenciamento de energia” ou Power Management é usado em di-versos contextos. Os mais comuns são em referência ao controle de consumo de energia elétrica e ao monitoramento de equipamentos para con-dicionamento e fornecimento ininterrupto de energia, como mostra a Figura 5. A instalação desses equipamentos cria um ambiente protegido dos distúrbios no for-necimento de energia elétrica, mas isso é feito com um propósito maior: preservar os dados que trafegam na rede e que são utilizados pelos diversos sis-temas. Para que isso seja possível, no entanto, é preciso que os equipamentos se-jam constantemente monitorados e que, em caso de alterações no fornecimento de energia, os sistemas implicados sejam adequadamente desligados antes que o corte de energia efeti-vamente aconteça.

Figura 5 - Conceito de Gerenciamento de Energia

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4.1. Sistemas Remotos de Gerenciamento

Uma boa parte dos novos equipamentos utilizados nos projetos de sistemas de auto-mação possui algum tipo de recurso de ge-renciamento de energia que permite colocá-lo em algum estado de consumo reduzido. Outros equipamentos eletrônicos como im-pressoras, copiadoras etc., também possuem modos de baixo consumo ou espera. De qual-quer maneira, depende do usuário configu-rar o que se chama de políticas de consumo, diretrizes que definem os limites de tempo utilizado para assumir quando o equipamento está ocioso e qual o estado de consumo em que ele deve ser colocado. Entretanto, a necessidade de intervenção do usuário para a configuração e habilitação desses mecanismos de controle pode se tornar um empecilho ao ge-renciamento de energia nos ambientes industriais, onde o número de equipamentos em rede é consideravelmente grande. Nesse tipo de estrutura é pouco pro-dutivo configurar cada equipamento individu-almente. Além disso, pode ser necessário es-tabelecer diferentes políticas de consumo para diferentes períodos do dia ou mesmo optar-se por não habilitar o gerenciamento de energia para evitar acidentes durante procedimentos não programados em que determinados equi-pamentos (servidores de rede e controladores lógicos, por exemplo), precisam estar acessí-veis na rede. Uma forma para contornar esses proble-mas é centralizar as operações que normal-mente seriam executadas em cada máquina através de um sistema remoto de gerenciamen-to. Desse modo, não só o administrador do sis-tema teria condições de configurar políticas de consumo para todos os equipamentos a partir de um ponto único, como poderia fazê-lo de maneira a não interferir com o andamento de outros processos na planta. Outro aspecto no qual a economia de energia pode desempenhar um papel impor-tante é o de redes cujos equipamentos são alimentados através de UPS. Neste caso, pode ser extremamente útil estender o tem-po de “sobrevida” propor-cionado pelas ba-terias do UPS. O propósito de estender esse tempo de autono-mia das baterias é permitir o desligamento correto e ordenado dos equi-

pamentos da rede em caso de falha prolonga-da no fornecimento de energia. Entretanto, para que esse processo seja eficiente, além de um elemento central capaz de monitorar as condições do fornecimento da energia e acionar remotamente o desligamento dos equipamentos ou sua entrada em modos de baixo consumo, também é necessário um sistema elétrico corretamente dimensionado e confiável. Alguns requisitos mínimos devem ser observados para correta instalação dos equipa-mentos. Devem ser considerados os seguintes aspectos:

Ambiente físico - área reservada para os • equipamentos, distâncias de pa-redes para ventilação, temperatura de operação, umi-dade relativa, presen-ça de partículas na atmosfera, área de manutenção;

Dispositivos de proteção - devem ser di-• mensionados os condutores de entrada e saída, bem como os respectivos disposi-tivos de proteção nos quadros de energia com seus graus de seletividade correta-mente dimensi-onados;

Cabeamento elétrico - os cabos de ener-• gia devem ser conectados com terminais adequados e protegidos através de canale-tas de acordo com as normas vigentes em relação às cores e seções mínimas para a redução das perdas de tensão;

Aterramento elétrico - o aterramento • deve apresentar boas condições de co-nexão, com resistência ôhmica baixa, e principalmente deve ser execu-tada a equalização de potenciais, ou seja, a in-terligação de todos os con-dutores terra a um barramento comum, a fim de evitar diferenças de poten-cial nas diversas áre-as de trabalho;

Documentação e Identificação – uma do-• cumentação atualizada é fun-damental para a adequação das cargas e futuras manutenções ou expan-sões da planta. A identificação dos quadros e numeração dos circuitos au-xilia na rápida detecção de defeito no caso de emergências.

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Conclusão5.

As instalações elétricas para uso em siste-mas de automação devem ser proje-tadas para suportar uma infinidade de equipamentos que, além de funcionarem de formas bem diferentes, exigem um fornecimento de energia constante e de qualidade. Os prejuízos relativos ao consu-mo de energia fora de condições ideais de for-necimento não se limitam aos gastos não orça-dos com a manutenção da infraestrutura elétrica em si. É essencial conhecer detalhadamente a estrutura do sistema elétrico que serve às redes de automação e, a partir desta informação, ma-pear as possíveis causas dos problemas elétri-cos e se prevenir contra eles através de políticas de manutenção adequadas.

Referências Bibliográficas6.

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PINHEIRO, J. M. S. InfraEstrutura Elétrica7. para Redes de Computadores. Rio de Janeiro: Editora Ciência Moderna, 2008.

SANCHES, Durval. Interferência 8. Eletromagnética. Rio de Janeiro: Editora Interciência, 2003.

Endereço para Correspondência:

José Maurício dos Santos Pinheirojm.pinheiro@ uol.com.br

Curso Tecnológico de Redes de ComputadoresCentro Universitário de Volta RedondaCampus Três PoçosAv. Paulo Erlei Alves Abrantes, nº 1325,Três Poços - Volta Redonda / RJCEP: 27240-560

Informações bibliográficas:Conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto científico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma:PINHEIRO, José Maurício dos Santos. Qualidade da Energia Elétrica em Sistemas de Automação. Cadernos UniFOA. Volta Redonda, Ano V, n. 13, agosto 2010. Disponível em: <http://www.unifoa.edu.br/cadernos/edicao/13/23.pdf>

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A importância dos sinais dermatológicos para o diagnóstico de Esclerose Tuberosa: Relato de caso

The importance of the dermatological signs on the diagnosis of Tuberous Sclerosis: Case report.

Paula de Oliveira Varella 1

Leandro Dinato Dutra 1

Suindara Reis Serrazina 1

Viviane Dias Balbino 1

Cláudia Yamada Utagawa 2

Resumo

Esclerose Tuberosa (ET) ou Síndrome de Bourneville é uma doença ge-nética de caráter autossômico dominante. Resulta de mutações nos ge-nes supressores tumorais ET-1 e ET-2 e caracteriza-se pela formação de tumores benignos denominados hamartomas, localizados em múltiplos órgãos, afetando principalmente a pele e o cérebro. Relata-se o caso de um adolescente, sexo masculino, 19 anos de idade que apresenta angio-fibromas em região nasal, malar e mentoniana, fibromas subungueais, manchas hipocrômicas pelo corpo, além de acometimento neurológico com crises convulsivas. A ET foi diagnosticada quando o paciente tinha seis meses de idade, por uma dermatologista após um episódio de crise convulsiva concomitante ao aparecimento das manchas hipocrômicas. É de grande importância o alerta médico para a presença de manifestações típicas da ET, já que o diagnóstico precoce é determinante no que diz respeito à evolução e ao prognóstico. Finalmente, destaca-se a importân-cia do aconselhamento genético.

1 Alunos do Curso de Medicina do Centro Universitário de Volta Redonda – UniFOA2 Mestre em Pediatria – FMUSP. Professora Responsável da disciplina de Genética Clínica do Curso de Medicina do UniFOA

Abstract

Tuberous Sclerosis (TS) or Bourneville Syndrome is a genetic autosomal dominant disease. It is a result of mutations on the TSC1 and TSC2 genes, and it is characterized by the benign tumors’ formation named hamartomas, located in multiple organs, which affects, specially, the skin and the brain. This is a 19 years old male adolescent’s report, with cutaneous features, angiofibroma on the nasal, malar and mentonian areas, ungual fibromas, hypochromic spots on the body, besides neurological features and epilepsy. In these current TS case, a dermatologist diagnosed it after a seizure concomitant to the appearance of the hypochromic spots when the patient was 6 months old. The doctors’ attention to the TS typical sign presence is extremely important for earlier diagnosis and it is determinant regarding evolution and prognosis. Finally, the genetic counseling is underlined.

Palavras-chave:

Esclerose Tuberosa

Angiofibromas

Manchas hipocrômicas

Key words:

Tuberous Sclerosis

Angiofibromas

Hypochromic spots

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Introdução1.

A Esclerose Tuberosa (ET) é uma doen-ça genética rara, de caráter autossômico domi-nante, caracterizada pela tríade: epilepsia, re-tardo mental e formação de tumores benignos hamartomatosos, que podem ser localizados em qualquer órgão, sendo que, frequentemen-te, os mais atingidos são a pele e o cérebro1. O nome da patologia em questão deriva-se da descrição de lesões tumorais feita por Bourneville em 1880, sendo, por isso, também conhecida como Síndrome de Bourneville ou ainda Epiloia (Epi: Epilepsia; loi: Baixa inteli-gência; a: Adenoma sebáceo). Acomete ambos os sexos e todas as raças na mesma proporção, numa incidência em torno de 1:10.000. Na maioria dos doentes, o diagnóstico é estabele-cido entre os 2 e 6 anos de idade2. A ET é classificada como uma síndrome neurocutânea com manifestações dermatoló-

gicas típicas. É, portanto, de suma importância o conhecimento dessas manifestações para o diagnóstico precoce da doença, uma vez que a patologia demanda uma rigorosa investigação do envolvimento sistêmico.

Relato de Caso2.

Paciente masculino, 19 anos, solteiro, estudante, natural de Além Paraíba-MG, resi-dente em Volta Redonda-RJ, deu entrada no pronto-socorro do Hospital São João Batista em março de 2009 com crise convulsiva tônico-clônica focal, sendo medicado com Diazepam e Fenitoína, apresentando melhora do quadro. Após sua estabilização, foi observado, durante o exame físico, a presença de hamartomas em região nasal, malar, mentoniana e subungueais (Figura 1 e 2), além de manchas hipocrômicas pelo corpo (Figura 3).

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Figura 1 - Hamartomas em região nasal, malar e mentonianaFigura 2 – Hamartomas subungueaisFigura 3 – Mancha hipocrômica em região escapular à esquerda

A mãe, que o acompanhava, relatou ser o paciente portador de Esclerose Tuberosa, a qual foi diagnosticado - quando o paciente tinha 6 me-ses de idade, após um episódio de crise convul-siva - por uma dermatologista, que correlacionou as manchas hipocrômicas com o quadro neuro-lógico. A mãe foi então orientada a procurar um neurologista, o qual solicitou alguns exames para

melhor investigação. Aos 3 anos de idade, foram realizados o eletroencefalograma, que eviden-ciou moderados sinais de disfunção de caráter inespecífico das estruturas centroencefálicas du-rante o sono e a Tomografia computadorizada do crânio, que demonstrou nódulos subependimais calcificados periventriculares (Figura 4) e cisto sub-aracnoideo frontal à esquerda” (Figura 5).

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A mãe relata que, aos 4 anos de idade surgiram os primeiros hamartomas em face e os subungueais, que se proliferaram na adoles-cência. Relata ainda que o paciente é o único filho do casal e desconhece caso semelhante na família. O paciente é ativo, com convívio social normal, ausência de retardo mental, em uso contínuo de carbamazepina, topiramato e fenitoína. Detalha a mãe que as crises convul-sivas costumavam ocorrer quando o paciente adormecia, porém, após a inclusão da fenitoí-na no tratamento, as crises vêm ocorrendo ao despertar, no período da manhã. O paciente está sendo acompanhado por um Neurologista e não há evidência clínica de acometimento de outros órgãos.

Discussão 3.

A ET é uma doença multissistêmica de herança autossômica dominante que, em 60% a 75% dos pacientes, surge como consequên-cia de mutação espontânea, sem acometer um dos pais 3. A doença é causada por mutações no ge-ne-ET1 ou gene-ET2. O gene-ET1, também de-nominado complexo esclerose tuberosa 1, está localizado no braço longo do cromossomo 9 e é responsável pela produção da proteína hamarti-na; o gene-ET2, também denominado complexo esclerose tuberosa 2, está localizado no braço curto do cromossomo 16 e é responsável pela produção da proteína tuberina. Essas proteínas são supressores da divisão celular e, a mutação no gene ET1 ou ET2 determina uma perda do

controle da divisão celular, o que predispõe à formação de tumores localizados em múltiplos órgãos como a pele, cérebro, coração, rins, pul-mões entre outros, afetando, principalmente, os sistemas nervoso e dermatológico 4. Os sinais e sintomas dependem do órgão atingido e podem ter vários níveis de gravidade. No caso apre-sentado, não foram detectadas manifestações em todos os sistemas comumente envolvidos. Houve predomínio de manifestações dermato-lógicas e achados em sistema nervoso central. As lesões dermatológicas estão presentes, inicialmente, em 83,3% dos casos e chegam a 98,7% com a evolução da doença, manifestan-do-se nas formas de manchas hipocrômicas, angiofibromas faciais, placas de Shagreen, fi-bromas ungueais, tumores de Köenen e placas na fronte, entre outras lesões1. As manchas hipocrômicas (Figura 3) re-presentam as lesões mais comuns e precoces da doença 5, o que corrobora com os achados deste estudo e são mais evidenciadas à Lâmpada de Wood. Sua presença implica maior chance de associação com epilepsia. Pelo fato dessas le-sões serem relativamente comuns na população, tem pouco valor como critério diagnóstico. Os angiofibromas ocorrem em 50 a 80% dos casos e é a mais clássica das lesões, surgin-do geralmente a partir dos três anos de idade e tendem a proliferar na puberdade. São pápulas ou nódulos lisos, duros, eritemato-amarelados ou acastanhados, predominantemente locali-zados na porção central da face 6 (Figura 1). O quadro histopatológico evidencia vasos san-guíneos dilatados e aumentados em número, permeados por fibrose dérmica.

Figura 4 – Tomografia Computadorizada de crânio: nódulos subependimais calcificados periventriculares

Figura 5 – Tomografia Computadorizada de crânio: cisto sub-aracnoideo frontal à esquerda

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Os Fibromas ungueais (Figura 2), fre-quentes em 15 a 20% dos casos, são geralmen-te presentes após a puberdade 5. São pápulas duras, firmes, que surgem nas dobras ungueais ou em suas adjacências. As manifestações neurológicas mais proe-minentes da ET são as crises convulsivas, retar-do mental e anormalidades do comportamento. A ET é uma síndrome com moderada variabi-lidade de sintomas, encontrando-se diferentes níveis de comprometimento, desde crises con-vulsivas refratárias e retardo mental grave até inteligência normal 7. No caso apresentado, a ausência de sintomatologia na família e a inte-ligência normal do paciente podem ser explica-das pela variabilidade de expressão da doença. Os achados imagenológicos do cérebro mais encontrados incluem nódulos subepen-dimais, tubérculos corticais, astrocitomas de células gigantes, áreas de hipoplasia cortical e substância cinzenta heterotópica. Os nódulos subependimais tipicamente localizados nos ventrículos laterais, com frequência, tornam-se calcificados. São consideradas as lesões originalmente precursoras do termo Esclerose Tuberosa 8. O paciente relatado apresenta típi-co envolvimento, com a presença de nódulos subependimais (Figura 4). Não existe cura para a ET, no entanto, existe um conjunto de soluções para o trata-mento dos sintomas da doença. Os doentes com epilepsia devem receber drogas antiepi-lépticas e em relação às lesões da pele, pode-se realizar cirurgia. Encontra-se atualmente em desenvolvimento a utilização de drogas como a Rapamicina 9. A experiência inicial tem sido positiva, no entanto são necessários mais estu-dos para se tornar uma terapia de escolha. O prognóstico é variável e dependente da gravidade dos sintomas. Os doentes com sintomas graves e comprometimento de vários órgãos possuem pior prognóstico. As principais causas de morte incluem doença renal por complicações dos múltiplos angiomiolipomas e cistos renais, insuficiência renal, tumores cerebrais múltiplos ou de gran-des dimensões, status epiléptico e linfangio-matose pulmonar 10.

Conclusão4.

É de grande importância o alerta médico para a presença de manifestações típicas da ET, já que o diagnóstico precoce é determinante no que diz respeito à evolução e ao prognóstico. Finalmente, destaca-se a importância do aconselhamento genético por tratar-se de uma doença hereditária autossômica dominante. O paciente é caso esporádico na família, entretanto, o risco de recorrência para sua prole é de 50%.

Referências Bibliográficas 5.

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Endereço para Correspondência:

Cláudia Yamada [email protected]

Centro Universitário de Volta RedondaCampus Três PoçosAv. Paulo Erlei Alves Abrantes, nº 1325,Três Poços - Volta Redonda / RJCEP: 27240-560

Informações bibliográficas:Conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto científico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma:VARELLA, Paula de Oliveira; DUTRA, Leandro Dinato; SERRAZINA, Suindara Reis; BALBINO, Viviane Dias; UTAGAWA, Cláudia Yamada. A importância dos sinais dermatológicos para o diagnóstico de Esclerose Tuberosa: Relato de caso. Cadernos UniFOA. Volta Redonda, Ano V, n. 13, agosto 2010. Disponível em: <http://www.unifoa.edu.br/cadernos/edicao/13/33.pdf>

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Estudo Anatômico da Incidência do Canal Mesiopalatino em Primeiros Molares Superiores com Acesso Convencional ou Através de um Desgaste na Região de sua Embocadura

Anatomical Study of the impact of canal orifice in maxillary first molars with access through conventional or wear one in the region of its mouth

Mônica Viana dos Santos 1

Sylvio da Costa Júnior 2

Eduardo Meohas 3

Sergio Luiz Tavares Adriano 4

Gilberto Rocha Oliveira 4

Carlos Eduardo dos Santos Thuler 5

Resumo

O conhecimento da anatomia interna dos dentes humanos é essencial para se conseguir o sucesso na terapia endodôntica. O quarto canal co-nhecido como mesiopalatino em molares superiores, sempre foi mo-tivo de discussão e polêmica. Foram analisados 50 primeiros molares superiores humanos, em que foi realizado o acesso convencional. Nos dentes em que não se constatou a presença do quarto canal, foi confec-cionado um desgaste, na sua possível embocadura, e esses elementos foram então, novamente avaliados pelos Cirurgiões Dentistas. Após essa manobra, os dentes em que o quarto canal (mesiopalatino), mais uma vez, não foi observado por nenhum dos Cirurgiões Dentistas, tive-ram a raiz mesiovestibular lixada, até a sua camada mais interna, com o objetivo de se constatar a presença ou não do quarto conduto. Com a tinta nanquim azul turquesa foi pintado o canal mesiovestibular e com o nanquim vermelho o canal mesiopalatino. O quarto canal mesiopalatino foi encontrado em 27 primeiros molares superiores (54%) com acesso convencional, com desgaste na região de sua embocadura em 18 dentes (36%), dos 5 dentes restantes que tiveram suas raízes lixadas, 4 não tinham o canal mesiopalatino (8%), e apenas 1 desses dentes possuía o quarto canal (2%). Pôde-se concluir que ocorreu uma elevada incidência da presença anatômica do quarto canal nas raízes mesiovestibulares dos primeiros molares superiores e que o desgaste na região de sua emboca-dura é essencial para se achar esse conduto e para que se tenha sucesso no tratamento endodôntico do primeiro molar superior permanente.

1 Especialista em Endodontia 2 Especialista em Saúde da Família pelo UniFOA/RJ e Mestrando em Saúde da Família da Universidade Estácio de Sá/RJ.3 Médico Hematologista e Mestrando em Saúde da Família da Universidade Estácio de Sá/RJ.4 Mestre em Endodontia pela UNITAU

Abstract

The knowledge of the internal anatomy of human teeth is essential to achieve success in an endodontic therapy. The fourth duct known as orifice in maxillary molars is a source of discussion and controversy. 50 maxillary first molars were analyzed by the conventional approach. In the teeth which the presence of the fourth duct was not found a tear was done and these elements were re-evaluated by the dentists.

Palavras-chave:

Primeiro Molar Superior Permanente

Canal Mesiopalatino

Endodontia

Key words:

First Permanent Molar

Canal Orifice

Endodontics

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After this maneuver, the teeth on the fourth duct (orifice) which were not observed by any dentists had their mesiobuccal root sanded up to their innermost layer with the aim to verify the presence or absence of the fourth conduit. The mesiobuccal duct was painted using turquoise Indian ink and the orifice duct was painted using red Indian ink. The fourth duct orifice was found in 27 first molars (54%) with conventional access, 18 teeth (36%) with tear in the region of its mouth, in the 5 other teeth that had their roots sanded, 4 didn’t have the orifice duct (8%) and only 1 of these teeth had the fourth duct (2%). It can be concluded that there was a high incidence of anatomical presence of the fourth duct in mesiobuccal roots of the first maxillary molars, and the tear in the region of its mouth is essential to find this conduct and in order to have success in the endodontic treatment of the first permanent molar.

Introdução1.

O sistema de canais radiculares ainda é um mistério a ser desvendado, mesmo pelo bom endodontista, pois podem existir inú-meras variações anatômicas que precisam ser esclarecidas para que o clínico possa in-terpretar e desenvolver o seu papel adequa-damente. O reconhecimento das variações anatômicas, seja em situações de normalida-de ou não, permite menor incidência de in-sucessos e falhas durante os procedimentos endodônticos. Um dos fatores essenciais para o su-cesso clínico do tratamento endodôntico é o completo conhecimento da anatomia interna dos dentes, assim como das suas variações anatômicas. Uma dessas variações que apresentam grande controvérsia na literatura, no que diz respeito a sua freqüência, e dada a sua impor-tância clínica e envolvimento com as demais especialidades odontológicas, é o reconheci-mento da presença do quarto canal nos primei-ros molares superiores. Esse canal é chamado mesiopalatino e se encontra na raiz mesioves-tibular desses elementos. Há alguns anos, os clínicos e até mesmo os endodontistas acreditavam que os primeiros molares superiores apresentavam-se apenas com três canais, o que justifica o grande nú-mero de insucessos encontrados no tratamento endodôntico desses dentes. Diante de tanta discussão, a avaliação da presença do quarto canal do primeiro molar su-perior permanente, é fundamental para o sucesso no tratamento endodôntico desses elementos.

Método2.

Foram selecionados 50 primeiros mola-res superiores humanos extraídos. Os dentes foram colocados em vidro com hipoclorito de sódio a 2,5% durante 6 ho-ras para desinfecção. O acesso foi realizado seguindo o for-mato convencional (segundo Pécora) com uma broca esférica nº 3 e uma broca Endo Z, e então a câmara pulpar foi inundada com EDTA 17% por 5 minutos para limpar a câma-ra e facilitar o encontro do conduto. Após esse procedimento, a câmara foi lavada e seca com algodão. Em seguida, 5 Cirurgiões Dentistas, Clínicos Gerais observaram os dentes com auxílio de uma lupa e limas tipo K 08 e 10 (Maileffer). Nos dentes em que não se cons-tatou a presença do quarto canal, foi confec-cionado um desgaste, na sua possível emboca-dura, com a broca de baixa rotação nº 0,5 na tentativa de facilitar sua observação, e esses elementos foram então, novamente avaliados pelos Cirurgiões Dentistas.

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27 primeiros molares superiores onde o 4º canal mesiopalatino foi encontrado através do acesso convencional

Desgaste realizado na região de embocadura

18 primeiros molares superiores onde o 4º canal mesiopalatino foi encontrado através do desgaste na região de embocadura.

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Após essa manobra, os dentes em que o quarto canal (mesiopalatino), mais uma, vez não foi observado por nenhum dos Cirurgiões Dentistas, tiveram a raiz mesiovestibular lixa-

da, primeiro com uma lixa de madeira e depois com uma lixa d`água, até sua camada mais in-terna, com o objetivo de constatarmos a pre-sença ou não do quarto conduto.

Dente que após ser lixado o 4º canal mesiopalatino foi observado e então pintado com a tinta nanquim vermelho, e o canal mesiovestibular com a tinta nanquim azul turquesa

Com a tinta nanquim azul turquesa foi pintado o canal mesiovestibular e com o nan-quim vermelho o canal mesiopalatino, para que pudessem ser observados de forma clara e dis-tinta. Os condutos foram, então, fotografados.

Resultados3.

Dos 50 primeiros molares superiores estudados, o quarto canal mesiopalatino foi encontrado em 27 dentes com o acesso con-vencional. Dos 23 dentes restantes em que o des-gaste na região de embocadura foi realizado, o quarto canal mesiopalatino foi observado em 18 desses dentes. Os 5 primeiros molares superiores que sobraram, em que não se localizou o quarto ca-nal com acesso convencional, nem com o des-gaste na região de embocadura, tiveram suas raízes lixadas e se constatou que apenas 1 des-ses tinha o quarto canal e os 4 dentes restantes não tinham o quarto canal mesiopalatino.

A tabela abaixo resume os resultados obtidos:

Método de acessoNúmero de dentes

submetidos ao estudoNúmero de dentes nos quais o quarto canal foi encontrado

Porcentagem

Convencional 50 27 54%

Desgaste na região de embocadura

23 18 78%

Lixamento da raiz 5 1 20%

Os 5 primeiros molares restantes foram lixados e apenas 1 tinha o 4º canal mesiopalatino

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Análise de Resultados4.

A cada dente da amostra foi atribuído um escore de acordo com a observação do quarto canal mesiopalatino:

Quarto canal observado mediante acesso 1. convencional;Quarto canal observado mediante desgas-2. te na região de embocadura;Quarto canal observado após o lixamento 3. da raiz;

Aos dentes da amostra nos quais o quarto canal não foi observado, mesmo após os proce-dimentos descritos, foram atribuídos escore 0.

Gráfico 1 – Histograma de frequência dos escores obtidos.

Podemos constatar que:

Em 54% das amostras o quarto canal foi • observado mediante acesso convencional.Em 36% das amostras o quarto canal foi • observado após o desgaste na região de embocadura.Em 2% das amostras, o quarto canal so-• mente foi observado mediante o lixamen-to da raiz.Em 8% das amostras, o quarto canal não • foi observado.

O gráfico a seguir indica as frequências relativas de cada escore obtido, de acordo com o procedimento, realizada para a observação do quarto canal.

Gráfico 2 - Frequência relativa de escores.

Dos 23 dentes submetidos ao desgaste na região de embocadura, o quarto canal foi ob-servado em 78% (18 dentes), enquanto que dos 5 dentes restantes submetidos ao lixamento da raiz, o quarto conduto foi observado em apenas um, ou seja, 20%. Os gráficos abaixo fornecem uma análise comparativa de cada grupo:

Gráfico 3 – Observação mediante acesso convencional.

Gráfico 4 – Observação mediantedesgaste na região de embocadura.

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Gráfico 5 – Observação mediante lixamento da raiz.

Observou-se que a maior frequência re-lativa de dentes nos quais o quarto canal pôde ser encontrado ocorreu na amostra submetida ao desgaste na região de embocadura: 78% contra 22% nos quais o quarto canal não foi encontrado. Na amostra observada mediante acesso conven-cional, o quarto canal foi encontrado em 54% dos dentes. O grupo submetido ao lixamento da raiz foi o único no qual a frequência relativa de dentes em que o quarto canal não pôde ser en-contrado foi maior, 80% contra 20%.

Gráfico 6 - Dos 50 dentes:92% tinham o 4º canal e 8% não tinham o 4º canal

Discussão5.

Para obtermos o sucesso no tratamento endodôntico, é necessário ter total conhecimen-to da anatomia dentária, principalmente em se tratando do primeiro molar superior que é consi-derado o maior dente em volume e o mais com-plexo do sistema de canais radiculares. Por ser um dos dentes mais importantes na Endodontia, o primeiro molar superior tem sido indiscutivelmente um dos elementos mais pes-quisados, e investigados, com o objetivo de au-mentar o sucesso clínico no tratamento endodôn-tico (BURNS, R.; HERBRANSON, E.J., 2000). Vários estudos já foram realizados para analisar a anatomia complexa do primeiro molar superior, principalmente da raiz mesiovestibu-

lar, no intuito de se achar o quarto canal (mesio-palatino), mesmo assim, ainda se trata, indiscu-tivelmente, do dente posterior com maior índice de insucesso no tratamento endodôntico. Dessa forma, julgamos pertinente fazer uma minuciosa avaliação da raiz mesiovesti-bular do primeiro molar superior, investigan-do assim a incidência do canal mesiopalatino nessa raiz que tem gerado mais pesquisas clí-nicas do que qualquer outro dente na boca. Os trabalhos publicados na literatu-ra apresentam uma variação nos índices da presença de 2 canais na raiz mesiovestibular. Essa discrepância pode ser explicada, em par-te, levando-se em consideração o método de pesquisa utilizado. Os estudos in vivo relatam índices menores da presença do canal mesio-palatino pelas dificuldades em identificá-lo durante o ato operatório. Em contraposição, os estudos in vitro demonstram porcentagens maiores de incidência do canal mesiopalatino (SEIDBERG, B.H., 1973). Vários são os trabalhos e relatos de casos clínicos encontrados na literatura que descre-vem o grande auxílio que nos traz a utilização do Microscópio Operatório. Antigamente, o segundo canal mesiopalatino situado na raiz mesiovestibular dos primeiros molares supe-riores, tinha uma incidência pouco relevante quando comparada a que é dita atualmente. Em busca da qualidade do tratamento endodôntico, o Microscópio Operatório surge com a finali-dade de reduzir alguns obstáculos encontrados pelos endodontistas (COUTINHO, F., 2006) (FOGEL, H.M., 1994) (FONTANA, C.E.; BUENO, C.E.S; CUNHA, R.S., 2004). O Microscópio Operatório vem revolu-cionando a maneira como os procedimentos são efetuados e também atualizando os vários conceitos que circundam o dia-a-dia clínico da Endodontia, principalmente por proporcionar uma magnitude visual ao tratamento. Mesmo as-sim, em muitos casos, essa visualização não será possível, necessitando, então, que o profissional tenha um conhecimento singular da anatomia. Essa afirmação está de acordo com muitos auto-res, que fizeram uso do Microscópio Operatório em suas pesquisas, e constataram sua impor-tância ao tentar localizar o canal mesiopalatino nos primeiros molares superiores (COUTINHO, F., 2006) (FOGEL, H.M., 1994) (FONTANA, C.E.; BUENO, C.E.S; CUNHA, R.S., 2004).

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No que diz respeito ao custo, esse equi-pamento ainda possui um preço relativamente alto, tornando-se inacessível para maioria dos profissionais da Odontologia. Por isso, julga-mos esse trabalho totalmente importante para Endodontia, pois apesar de todos os benefícios que o Microscópio Operatório nos oferece ele ainda está longe da realidade da maioria dos profissionais da Odontologia. Dessa forma, vol-tamos a afirmar a necessidade do conhecimento da anatomia dental interna e também de outros recursos como o desgaste na região de emboca-dura, aqui proposto para se obter o sucesso no tratamento endodôntico desses dentes. Queremos destacar, nesse momento, outro estudo realizado utilizando também o Microscópio Operatório, que comparou a incidência do quarto canal mesiopalatino na raiz mesiovestibular dos primeiros e segundos molares superiores, onde estatisticamente essa diferença não foi significati-va, porque a metodologia empregada nesse estudo não analisou todos os dentes com o Microscópio Operatório e sim de apenas uma pequena parte, isso explica o baixo índice do quarto canal loca-lizado com o auxílio do Microscópio Operatório, além disso esse trabalho também não explica que tipo de acesso foi realizado no experimento (KULILD, J. C., 1990). Em outra pesquisa, o número de primei-ros molares que tinham o segundo canal me-siopalatino foi extremamente baixo, o que nos faz desconfiar da metodologia empregada, pois a quantidade de primeiros, segundos e terceiros molares que foram utilizados nessa pesquisa não foi revelada. E está mais do que evidente na lite-ratura, que o índice do quarto canal nos primeiros molares superiores é bem maior do que foi acha-do nesse estudo (RODRIGUES, D. L., 2004). Além dessas metodologias, outros estu-dos foram realizados, em que através da técni-ca radiográfica e da diafanização, analisaram a morfologia e anatomia dos primeiros molares superiores, conseguindo como resultado um alto índice da presença do canal mesiopalatino. Tais resultados estão em concordância com outros autores, que afirmaram que a técnica de diafanização favorece a detecção e detalhes anatômicos com mais acuidade que outras técni-cas, pois confere transparência aos dentes estu-dados, além de preservar a sua forma anatômica original e permitir uma visão tridimensional do elemento dentário (COELHO, C. S. M., 2004).

Optamos neste trabalho por fazer um ex-perimento realizando um desgaste na região de embocadura dos primeiros molares superiores permanentes, em que se avaliou a importância que esse desgaste proporciona na localização do quarto canal na raiz mesiovestibular dos primeiros molares superiores permanentes. Essa metodologia é semelhante a empregada por outros autores. A modificação no acesso endodôntico dos primeiros molares superiores permanentes analisados neste estudo, não só aumenta o nú-mero de canais localizados, como também fa-cilita a visualização e entrada dos instrumentos endodônticos nesses dentes. Essa modificação deve ser incorporada na fase do acesso endo-dôntico de todos os molares superiores sujei-tos ao tratamento endodôntico. A experiência do operador na tentativa de se localizar o quarto canal mesiopalatino também é fundamental para se ter sucesso no tratamento endodôntico dos primeiros molares superiores. Essa afirmação corrobora com outro estudo realizado, que utilizou uma metodologia que levou 8 anos para ser concluída, e cons-tatou que com um operador mais experiente a chance de se achar o canal mesiopalatino é bem maior do que quando não se tem experiência (JOHN, J; STROPKO, D. D. S, 1999). No presente estudo a incidência do quar-to canal foi bastante significativa, o que nos leva a fazer uma análise cada vez mais cui-dadosa desse elemento dentário tão complexo que é o primeiro molar superior permanente, e de sua raiz mesiovestibular. Este estudo é discordante de outro traba-lho, onde a incidência do canal mesiopalatino foi de 37% do total de amostras investigadas, índice extremamente baixo, apesar de o autor desse experimento considerar uma incidência significativa. Vários experimentos encontraram a pre-valência de 2 condutos sobre 1 único, na raiz mesiovestibular dos primeiros molares superio-res, entretanto, outros estudos demonstram ín-dices menores em suas pesquisas (COELHO, C. S. M., 2004) (FOGEL, H. M, 1994) (KULILD, J. C, 1990). Um estudo utilizando somente a análise radiográfica na busca do canal mesiopalatino em primeiros molares superiores, mostrou um baixo índice desses canais, o que evidentemente

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foi determinado pela falha na metodologia, em que o autor não fez uso de outros recursos na sua pesquisa como o Microscópio Operatório. Tal resultado está em concordância com outra pesquisa, que obteve uma taxa percentual baixa ao analisar radiograficamente a trajetória do quarto canal no primeiro molar superior.Uma outra metodologia empregada demonstra a dificuldade de se localizar o canal mesiopala-tino quando se realiza um estudo in vivo, isso se dá, evidentemente, pela falta de habilidade e de conhecimento anatômico do operador. Alguns autores utilizaram outros meios para se achar o quarto canal nos primeiros mo-lares superiores, através do cateterismo explora-tório determinando a frequência desse conduto. Analisando os trabalhos de cada autor es-tudado, parece-nos claro afirmar que a experiên-cia do operador ao realizar o acesso endodôntico do primeiro molar superior é fundamental para se obter êxito no tratamento endodôntico do mesmo, e que o uso do Microscópio Operatório ajuda e muito o sucesso da terapia endodôntica. No estudo do caso clínico de um primeiro molar superior, observou-se a presença de um terceiro canal na raiz mesiovestibular, o que só foi pos-sível pela habilidade e conhecimento anatômico do operador, este trabalho nos mostra, mais uma vez, a importância da experiência e do conheci-mento do operador na terapia endodôntica. Todavia, apesar da alta taxa de sucesso alcançado nos tratamentos endodônticos, a raiz mesiovestibular ainda está associada a um nú-mero considerável de fracassos, devido à difi-culdade de se empregar uma técnica adequada para se achar o quarto canal mesiopalatino. No trabalho em que as raízes dos pri-meiros molares superiores foram cortadas e tingidas, encontrou-se, também, uma elevada porcentagem do quarto canal nesses dentes. Tal resultado demonstra, mais uma vez, que os estu-dos realizados no laboratório da raiz mesioves-tibular, o índice de achados do canal mesiopala-tino são superiores aos dos estudos in vivo. O conhecimento da anatomia interna dos dentes é de fundamental importância para a re-alização correta do tratamento endodôntico e vários são os erros cometidos pela falta do co-nhecimento anatômico. Esses argumentos jus-tificam estudos anatômicos desses elementos. Fazendo uma análise global do tema desse estudo, fica claro que a considerável va-

riação na incidência do canal mesiopalatino, deve-se, principalmente, às diversas metodo-logias empregadas e também à seleção das amostras pesquisadas. Cada vez mais novos estudos devem ser realizados em busca da presença do quarto ca-nal mesiopalatino nos primeiros molares su-periores, pois alguns resultados são ainda bas-tante conflitantes, apesar de toda a tecnologia hoje disponível.

Conclusão6.

Diante do exposto e dentro das condições estabe-lecidas para o experimento, é lícito concluir que:

Ocorreu uma elevada incidência da pre-• sença anatômica do quarto canal nas raí-zes mesiovestibulares dos primeiros mo-lares superiores.O desgaste na região de sua embocadura • é essencial para se achar o quarto canal (mesiopalatino) que se encontra na raiz mesiovestibular dos primeiros molares superiores permanentes.Esse desgaste fez o índice de localização • de canais subir de 54% para 90%.Apenas 2% dos canais não foram localizados • com o desgaste na região de embocadura.

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Endereço para Correspondência:

Sylvio da Costa Jú[email protected]

Rua Narcisa Amália 167 - Santa CecíliaResende - RJCEP:27520100

Informações bibliográficas:Conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto científico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma:SANTOS, Mônica Viana dos; COSTA JÚNIOR, Sylvio da; MEOHAS, Eduardo, ADRIANO, Sergio Luiz Tavares; OLIVEIRA, Gilberto Rocha; THULER, Carlos Eduardo dos Santos. Estudo Anatômico da Incidência do Canal Mesiopalatino em Primeiros Molares Superiores com Acesso Convencional ou Através de um Desgaste na Região de sua Embocadura. Cadernos UniFOA. Volta Redonda, Ano V, n. 13, agosto 2010. Disponível em: <http://www.unifoa.edu.br/cadernos/edicao/13/39.pdf>

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Transição nutricional no Brasil: análise dos principais fatores

Nutritional transition in Brazil: Analysis of the main factors

Elton Bicalho de Souza 1

Resumo

É incontestável que o Brasil experimenta, nos últimos, uma rápida tran-sição nutricional. Chama a atenção, o marcante aumento na prevalência de obesidade, consolidando-se como o agravo nutricional mais impor-tante, sendo associado a uma alta incidência de doenças crônicas não transmissíveis, como diabetes e doenças cardiovasculares. Alterações no estilo de vida, como a má-alimentação e redução no gasto calórico diário são os principais fatores que explicam o crescimento da obesidade. O aumento da prevalência de sobrepeso e obesidade no Brasil é relevante, e o quadro epidemiológico nutricional necessita de estratégias de saúde pública, capazes de modificar padrões de comportamento alimentar e da atividade física. A presente revisão de literatura tem como objetivo avaliar os principais componentes da transição nutricional ocorrida no Brasil e suas consequências na população.

1 Mestre em Nutrição Humana, docente do Curso de Nutrição do Centro Universitário de Volta redonda – UniFOA.

Abstract

It is undeniable that in the last years Brazil has undergone a fast nutritional transition. It calls the attention the increase of obesity held as the most important nutritional worsening, and associated to a high incidence of non-communicable chronic diseases, such as diabetes and cardiovascular diseases. Lifestyle changes, like poor eating and reduced energy expenditure are the main contributing factors to the increasing prevalence of obesity. The increase of overweight and obesity in Brazil is considerable, and nutritional epidemiological picture needs public health strategies able to change nutrition and physical activity patterns. The aim of this literature review is to evaluate the principal components of nutritional transition in Brazil and its consequences to the population.

Palavras-chave:

Transição nutricional

Obesidade

Nutrição

Atividade física

Key words:

Nutritional transition

Obesity

Nutrition

Physical activity

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Introdução1.

Apesar de um cenário conturbado, en-volvendo momentos marcantes nos campos da política, do esporte, da saúde e da educa-ção; o Brasil, assim como outros países me-nos desenvolvidos, passou por importantes transformações no processo de saúde/doença. Principalmente nos últimos cinquenta anos, são observadas alterações na qualidade e na quantidade da dieta, e, associadas a mudanças no estilo de vida, nas condições econômicas, sociais e demográficas, observam-se repercus-sões negativas na saúde populacional desses países (BATISTA FILHO & RISSIN, 2003; KAC & VELÁSQUEZ-MELÉNDEZ, 2003). Como consequência desses fatos, a prevalência de sobrepeso e da obesidade aumenta conside-ravelmente e, consequentemente, as doenças crônicas não transmissíveis, principalmente diabetes, hipertensão arterial, doenças car-diovasculares e cânceres, acarretando em mu-danças no padrão da distribuição das morbi-mortalidade das populações (SARTORELLI & FRANCO, 2003). O objetivo desta revisão é realizar uma avaliação dos principais com-ponentes da transição nutricional ocorrida no Brasil e suas consequências na população.

Mudanças no padrão alimentar 2. do brasileiro

Apesar da atual visibilidade no cenário mundial - em função do desenvolvimento cul-tural, científico e econômico - o Brasil situa-se entre os países de maior prevalência em defi-ciências nutricionais (ESCODA, 2002). Alterações nos padrões dietéticos e nu-tricionais da população brasileira de todos os estratos sociais e faixas-etárias vêm sendo ana-lisadas no processo da transição nutricional. Essa transição nutricional caracteriza-se pela redução nas prevalências dos déficits nutricio-nais e aumento expressivo de sobrepeso e obe-sidade (BATISTA FILHO & RISSIN, 2003). Alguns aspectos tentam explicar este fenômeno: com relação a termos de ocupa-ção demográfica, passamos de uma população rural (66% nos anos 50) para uma condição de país predominantemente urbano (80% das pessoas atualmente radicadas nos centros ur-

banos); outro episódio importante é o fato da inserção da mulher no mercado de trabalho, principalmente na década de 70, ocasionan-do uma família economicamente dependente da participação da renda da mulher no sus-tento da família. Com isso, perde-se um pou-co da figura da mulher “dona do lar”, o que transforma a qualidade da alimentação, uma vez que a mesma não dispõe de tanto tempo para preparar as refeições com tanta qualida-de, preferindo alimentos industrializados, e até mesmo a realização das refeições fora do lar, principalmente em restaurantes, pensões e fast-foods (BATISTA FILHO & RISSIN, 2003; KAC & VELÁSQUEZ-MELÉNDEZ, 2003; MENDONÇA & ANJOS, 2004). Como consequência, observou-se um aumento do consumo de ácidos graxos satura-dos, açúcares, refrigerantes, álcool, produtos industrializados com excesso de ácidos graxos “trans”, carnes, leite e derivados ricos em gor-duras, guloseimas como doces, chocolates, ba-las, etc. Em contrapartida, foi constatada uma redução considerável no consumo de carboi-dratos complexos, frutas, verduras e legumes. Esse fato gera um quadro de excesso calórico por conta da elevada ingestão de macronu-trientes (carboidratos, proteínas e lipídeos), e deficiência de micronutrientes (vitaminas e minerais) (ESCODA, 2002).

Redução da prática de 3. atividade física

Concomitante com a alteração da carac-terística da dieta, observa-se uma acentuada re-dução do nível de atividade física. Vários fato-res podem explicar este fato, mas as principais mudanças estão na distribuição das ocupações setoriais (da agricultura para a indústria) e um aumento do número de trabalhos com redu-ção do esforço físico ocupacional, em virtude do aumento da tecnologia (MENDONÇA & ANJOS, 2004). Também são observadas modificações nas atividades de lazer, que passam de ativi-dades com gasto energético acentuado, como práticas esportivas e longas caminhadas, para atividades sedentárias, como televisão, vide-ogame ou computador. Com relação às horas assistindo televisão, vale ressaltar dois prin-

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cipais aspectos: a diminuição do gasto ener-gético, devido à redução da atividade física propriamente dita, e o aumento da ingestão de alimentos com alta concentração calórica em frente à televisão e/ou decorrente dos anúncios por ela veiculados. Segundo FRUTUOSO et al (2003), foi observado que os anúncios da TV norte-americana relacionados à alimen-tação transmitidos entre 20 e 23 horas, 60% referiam-se a refrigerantes e outros produtos alimentícios açucarados, considerados perigo-sos quando consumidos em excesso. A utilização de recursos tecnológicos também contribui efetivamente para o au-mento do sedentarismo da população. Portões eletrônicos, escadas rolantes, vidros automá-ticos, veículos motorizados e o uso crescente de equipamentos domésticos como máquinas de lavar roupa e louça, ao invés de fazê-lo manualmente, são apontados como grandes responsáveis pela redução do gasto energéti-co com atividades diárias (PITANGA, 2002; FRUTUOSO et al, 2003; MENDONÇA & ANJOS, 2004).

Aumento do sobrepeso e da 4. obesidade

Em resposta às modificações no padrão de comportamento alimentar e da drástica re-dução na prática de atividades físicas, a tran-sição nutricional trouxe mudanças do perfil de saúde da população brasileira, sendo que o au-mento das prevalências do sobrepeso e da obe-sidade são os principais legados desta transição (GiGANTE et al, 1997; MARINHO et al, 2003; PINHEIRO et al, 2004; COUTINHO, 2008). A obesidade pode ser definida como o acúmulo excessivo de gordura corporal. Apesar das limitações de não considerar a di-ferença entre “massa magra” e “massa gorda”, o Índice de Massa Corporal (IMC) é atual-mente a ferramenta mais utilizada em estudos populacionais para o diagnóstico do excesso de gordura corporal, que é considerada um problema de Saúde Pública e, apesar de ainda relativamente incomum em países da África e da Ásia, pode ser considerada a mais im-portante desordem nutricional no mundo, por ter um aumento elevado de sua incidência. Estima-se que 10% da população dos países

desenvolvidos tenham excesso de peso e mais de um terço dos norte-americanos estejam acima do peso (GUIMARÃES & BARROS, 2001; COUTINHO, 2008). No Brasil, segundo o Estudo Nacional da Despesa Familiar (ENDEF-1975) e a Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição (PNSN, 1989), no intervalo de tempo entre os dois estudos houve um aumento de sobrepeso na proporção de 58% para homens e 42% para mulheres, e mais alarmante foi o aumento da obesidade, registrando o incrível aumento de 100% para o sexo masculino e 70% para o sexo feminino. Atualmente, o excesso de peso afeta 40% da população, sendo que, desse grupo, a obesidade atinge 11,1% (FRANCISCHI et al, 2000; KAC & VELÁSQUEZ-MELÉNDEZ, 2003; FERREIRA & MAGALHÃES, 2006; NUNES et al, 2007; SARTURI et al, 2010). As consequências do aumento do sobre-peso e da obesidade têm sido catastróficas. O excesso de peso é um dos principais fatores de risco para hipertensão arterial, hipercolestero-lemia, diabetes mellitus, doenças cardiovascu-lares e algumas formas de câncer. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a obe-sidade e a hipertensão arterial são os dois prin-cipais responsáveis pela maioria das mortes e doenças em todo mundo. Já no Brasil, as doen-ças cardiovasculares estão nas estatísticas de saúde como a primeira causa de morte há pelo menos quatro décadas. Nos últimos 20 anos, um aumento significativo na mortalidade por diabetes e algumas neoplasias malignas decor-rentes de um estilo de vida ruim também me-rece atenção especial (FELIPPE & SANTOS, 2004; FERREIRA & MAGALHÃES, 2006). Segundo o Consenso Latino Americano de Obesidade, cerca de 200 mil pessoas mor-rem por ano devido a doenças associadas ao excesso de peso e estima-se que nos Estados Unidos esse número seja de aproximadamente 300 mil pessoas. Estima-se que os gastos pú-blicos com o excesso de peso, nos países de-senvolvidos, seja de 2% a 7% dos orçamentos de saúde. No Brasil, este custo é de quase R$ 1 bilhão por ano (SOUZA et al, 2003; FELIPPE & SANTOS, 2004).

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Considerações finais5.

A comprovação de que a transição nutri-cional acarretou sérias alterações ao longo do tempo é notória. A diminuição progressiva da desnutrição e o aumento do excesso de peso, independente de idade, sexo ou classe social é uma realidade que há tempos os estudos de-monstram. Ao constatar tal evidência, faz-se ne-cessária a mobilização das autoridades para a determinação de prioridades para a definição de estratégias de ação de Saúde Pública. Para o combate do excesso de peso e das doenças crônicas não transmissíveis, ações de educa-ção alimentar e incentivo à prática de ativida-des físicas diárias merecem destaque. Em virtude desses fatos, o Ministério da saúde publicou os dez passos para o peso saudável. Esse material é oriundo do Plano Nacional para a Promoção da Alimentação Adequada e do Peso Saudável, visando à mo-dificação do estilo de vida da população brasi-leira, principalmente, sobre a prática alimentar e atividade física. Os dez passos são:

1. Comer frutas e verduras variadas, pelo menos duas vezes por dia;

2. Consumir feijão pelo menos quatro vezes por semana;

3. Evitar alimentos gordurosos como carnes gordas, salgadinhos e frituras;

4. Retirar a gordura aparente das carnes e a pele do frango;

5. Nunca pular refeições: fazer três refeições e um lanche por dia. No lanche escolher uma fruta;

6. Evitar refrigerantes e salgadinhos de pa-cote;

7. Fazer as refeições com calma e nunca na frente da televisão;

8. Aumentar a sua atividade física diária. Ser ativo é se movimentar. Evitar ficar parado, você pode fazer isto em qualquer lugar;

9. Subir escadas ao invés de usar o elevador, caminhar sempre que possível e não pas-sar longos períodos sentado assistindo à TV;

10. Acumular trinta minutos de atividade físi-ca todos os dias.

Essas atitudes já contribuem bastan-te para evitar um quadro e excesso de peso. Porém, a divulgação dos dez passos por si só não é satisfatória nem eficaz, e é cada vez mais notória a necessidade de políticas públicas mais eficientes, como projetos e programas in-tersetoriais objetivando a conscientização da necessidade de um estilo de vida mais ativo e de uma alimentação mais saudável. A mé-dio e longo prazo, essas políticas reduziriam consideravelmente os gastos com o tratamento da obesidade e doenças subsequentes. Logo, recomenda-se uma atenção especial e medidas emergências para o combate a essa epidemia, evitando a proliferação das complicações de-correntes do excesso de peso, visando à pre-servação da vida de milhares de brasileiros. Divulgação de campanhas educativas em rede nacional, incentivando o consumo de alimentos saudáveis e adoção de educação alimentar nas escolas, aumento do número de aulas de Educação Física e incentivos a prá-tica esportiva são alternativas que devem ser adotadas imediatamente para tentar reverter o atual quadro da epidemia do excesso de peso.

Referências bibliográficas6.

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KAC, G.; VELÁSQUEZ-MELÉNDEZ, G. 3. A transição nutricional e a epidemiologia da obesidade na América Latina. Cad. Saúde Pública, 19(Sup. 1):S4-S5, 2003.

SARTORELLI, D.S.; FRANCO, L.J. 4. Tendências do diabetes mellitus no Brasil: o papel da transição nutricional. Cad. Saúde Pública, 19 (Sup. 1): S29-S36, 2003.

ESCODA, M.S.Q. Para a crítica da 5. transição nutricional Ciência & Saúde Coletiva, 7(2): 219-226, 2002.

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MINISTÉRIO DA SAÚDE. 10 passos 19. para o peso saudável. Disponível em: <http://www.saude.gov.br>. Acesso em: 08/Mai/2009.

Endereço para Correspondência:

Elton Bicalho de [email protected]

Departamento de NutriçãoCentro Universitário de Volta Redonda – UniFOAAv. Paulo Erlei Alves Abrantes, nº 1325Três Poços, Volta Redonda - RJCEP 27240-560.

Informações bibliográficas:Conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto científico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma:SOUZA, Elton Bicalho de. Transição nutricional no Brasil: análise dos principais fatores. Cadernos UniFOA. Volta Redonda, Ano V, n. 13, agosto 2010. Disponível em: <http://www.unifoa.edu.br/cadernos/edicao/13/49.pdf>

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A cultura dos “Coitados”: trajetória social e sistema de arte.

The “Poor” culture: social trajectory and the art system

João Domingues 1

Resumo

O ensaio em questão tem como objetivo a apropriação da teoria proposta por Pierre Bourdieu, em especial, a relação entre o espaço social e o lugar, a fim se analisar as condições possíveis de serem percebidas no campo da produção da cultura (mais especificamente da produção cinematográfica) e a incorporação de agentes segregados, espacialmente como produtores no campo constituído. Para tanto, foi selecionado um produto audiovisual recente - Cidade de Deus, de Fernando Meirelles -, apresentando elemen-tos que sugerem que a trajetória pessoal dos indivíduos e a hiper-realidade construída pela obra criam as condições de inserção de sujeitos como pro-fissionais até então apartados do mercado formal de produção artística. A indicação prévia deste ensaio permite relacionar as condições da margi-nalidade assumida não apenas como desfrute do consumo cultural, mas da própria atividade artística, ambos produtos de um mesmo habitus. É justa-mente nesse habitus reiterado pelo cenário urbano que reside a possibili-dade de integração dos sujeitos segregados territorialmente. Ao tratamen-to de “coitados”, pretendemos sugerir que é desta incorporação simbólica, uma real possibilidade destes sujeitos de superar/aceitar os mecanismos societários de exclusão e assimilação no mercado formal de arte.

1 Professor Assistente do Curso de Graduação em Produção Cultural da Universidade Federal Fluminense Doutorando em Planejamento Urbano e Regional pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Abstract

This paper aims to discuss Pierre Bourdieu´s theory, specially regarding the relationship between social space and place, in order to analyze the possible conditions of being realized in the cultural production field (specially the movie production one) and the incorporation of segregated agents, specially, as producers in the constituted field. For this purpose, a recent audiovisual production was chosen - Cidade de Deus (City of God), directed by Fernando Meirelles - , which presents elements that suggest the personal trajectory of individuals and hyper-reality that were built by the work enabling to create conditions of insertion to the professionals since then put aside by the artistic production formal market. The previous indication of this paper allows to link the marginality conditions assumed not only as a cultural consumption but also as the artistic activity itself, both products come from the same habitus. And in this habitus, confirmed by the urban set, the possibility of integration of the segregated subjects lays. To the title of “poor”, we aim to suggest that it is a symbolic incorporation, a real possibility, to these subjects, of overcoming/accepting the society mechanisms of exclusion and assimilation in the art formal market.

Palavras-chave:

Habitus

Sistema de Arte

Trajetória Social

Key words:

Habitus

Art System

Social Trajectory

“negro drama, entre o sucesso e a lama.”Racionais Mc’s

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Política Cultural como Campo1.

Dizemos comumente das políticas cultu-rais a existência de dois sentidos não concorren-tes: o primeiro se apresenta em especial na rela-ção entre os Estados e instituições de fomento, as diversas cadeias produtivas da cultura e seus agentes, sugerindo a importância econômica dos bens culturais (Canclini, 2001) e, portanto, da possibilidade de sua sistematização em pro-gramas públicos ou privados de apoio à produ-ção de bens e à conservação da memória e do patrimônio; o segundo dirá da forma como os grupos sociais se apropriam de seus elementos simbólicos como meio de buscar garantias na vida política, apropriando-se de conteúdos mo-rais para questionar os elementos de estigma-tização, reforçando, desta forma, uma agenda político-prática de lutas por reconhecimento de novos direitos (Taylor, 1994). Para a sociologia da cultura, estes dois sentidos não escondem os conflitos do campo de lutas pela legitimação dos saberes culturais; o caráter seletivo na formação das estratégias de produção, difusão e consumo de produtos; e os embates pelo acesso e significação que cada grupo social dá aos seus bens raros de cultura. Para a construção do planejamen-to cultural, as abordagens são acumuláveis e inter-penetráveis, transitando entre o campo dos direitos, sendo expressos, em especial, nas políticas públicas. É, portanto, nas políticas culturais onde se medeiam e se reproduzem parte dos confli-tos sociais e as maneiras como os processos de significação são mobilizados no campo auto-nomizado da cultura; seja na forma como os mercados culturais desenvolvem os bens sim-bólicos produzidos, seja na pauta prioritária das agendas públicas para a cultura em seus diversos níveis. Do ponto de vista da moralidade, as po-líticas culturais alcançaram na contemporanei-dade duas funções essenciais: a possibilidade de formulação de planejamentos públicos com vistas à materialidade da pluralidade cultural e a concretização de um mercado de consumo de massa, um espaço mediado entre a tolerân-cia à diversidade cultural e a intensa transfor-mação das práticas culturais em mercadoria. É justamente neste último onde são de-terminados os meios de criação, circulação,

comercialização e consagração das práticas e da produção artística e as estratégias de legiti-mação das linguagens dos mais diversos esti-los artísticos, um “espaço estruturado de posi-ções e tomadas de posição, onde indivíduos e instituições competem pelo monopólio sobre a autoridade artística” (Wacquant, 2005). É também neste espaço que observamos parte dos elementos de distinção social e de habi-tus artísticos, onde as variáveis educacionais atuam incisivamente e onde as variáveis urba-nas aparecem com maior relevância em certos circuitos de promoção e produção da cultura. Ambas condicionam o processo de criação e apropriação das formas artísticas, ampliando ou limitando as possibilidades de acesso ime-diato ou mediato dos sujeitos sociais ao con-junto de possibilidades que as diversas práticas artísticas proporcionam, tanto em sua capaci-dade de acumular rendimentos econômicos, ou no reconhecimento em si que o papel do artista incide no conjunto social. Cabe relembrar que o domínio da lingua-gem artística e de sua transmissão - excluindo a da cultura popular, ainda que não de todo - está vinculado quase que exclusivamente ao mo-delo de educação erudita: nas escolas de artes plásticas, nas escolas de música, nas escolas de cinema, e quando muito podemos dizer, nas escolas fundamentais. O acesso aos recursos das linguagens promovem e reforçam o papel do artista e dos mediadores (os que, em geral, “criam os criadores”, nas palavras de Bourdieu) na divisão social do trabalho cultural. Da possibilidade de estabelecer a política e a produção cultural como um campo, impli-ca, portanto, recusar a prática artística suspensa das relações sociais, desmistificando qualquer resquício de caráter sagrado. A consagração da autoridade da criação artística repousa so-bre condições estruturais objetivas, e mesmo o ato de legitimação - o do especialista, crítico, aquele que domina os códigos efetivos do ca-pital simbólico do campo e mesmo a capaci-dade de intervenção na captação dos recursos necessários às produções de grande porte - são determinados por instrumentos de apropriação objetivamente observáveis, expressos na distri-buição dos agentes no espaço social. Desta feita, para viabilizar minimamente uma leitura capaz de ensaiar o objetivo deste ar-tigo, analisarei o campo da produção da cultura

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na forma como apresentada por Wacquant (op. cit.), sob três passos: a) a localização da produ-ção cultural como sub-campo do espaço social; portanto imerso em relações de poder e regras próprias construídas na continuidade de legiti-mação do campo; b) uma topologia interna do campo, onde esperamos assinalar não somente as regras de funcionamento, mas especialmente a forma como as regras de funcionamento do campo administram parte da disposição dos agentes que operam a continuidade do campo; e c) a construção das trajetórias sociais dos indi-víduos e coletivos no interior do campo, onde se demonstrará ser capaz de projetar suas formas de inserção como sujeitos legitimados social-mente para uma prática artística reconhecida. A construção da prática artística como um campo é uma chave explicativa capaz de esta-belecer as relações entre as estruturas objetivas da sociedade e as estruturas incorporadas nos agentes, a gênese das práticas e das preferên-cias (Bourdieu, 2007:10). Reconfigurada como descrição estrutural do mundo objetivo sem dissociá-la das ações dos indivíduos, a prática artística é um elemento potencial para captu-rar a relação entre estrutura social e disposição (incorporações sociais transformadas em estru-turas mentais pré-reflexivas) dos agentes como elementos de uma mesma realidade. Neste sentido, vários dos modelos propostos por Bourdieu para a apreensão das práticas sociais pela arte têm no consumo cultural - a distância ou proximidade em relação às normas e compe-tências das práticas artísticas - a expressão das preferências e a constituição de uma unidade social pela razão prática, que apreende a multi-dimensionalidade e a pluralidade de lógicas de estruturação e ação na vida social. É desta estruturação de força, da luta pela legitimidade dos códigos e do capital simbólico, a própria retradução simbólica de diferenças inscritas nas condições de existên-cia. A difusão dos saberes culturais e, portan-to, da possibilidade material de inserção nos circuitos consolidados de criação repousa so-bre condições estruturais tanto dos esquemas mentais de significação (establishment e näif, incorporados nos sujeitos sociais como siste-mas classificatórios mediadores da boa arte e da arte popularesca) quanto da possibilidade de sua inserção na reprodução do campo en-quanto criadores.

A constituição do gosto pela arte e das preferências no consumo da arte adere em con-formidade com a própria reprodução social, es-tratégias simbólicas de dominação. “A cultura dominante contribui para a integração real da classe dominante (assegurando uma comuni-dade imediata entre todos os seus membros e distinguindo-os das outras classes); para a in-tegração fictícia da sociedade no seu conjunto, portanto, à desmobilização (falsa consciência) das classes dominadas; para a legitimação da or-dem estabelecida por meio de estabelecimento das distinções (hierarquias) e para a legitimação das distinções. Este efeito ideológico, produ-lo (sic) a cultura dominante dissimulando a função da divisão na função da comunicação: a cultura que une (intermédio da comunicação) é também a cultura que separa (instrumento de distinção) e que legitima as distinções compelindo todas as culturas (designadas como subculturas) a defi-nirem-se pela sua distinção em relação à cultura dominante” (Bourdieu, 1998:10-11). Na construção objetiva deste processo - da oposição imediata entre dominantes e do-minados - pode ser observada em um duplo movimento complexo: uma ilusão de integra-ção de sujeitos, determinada por mecanismos muito precisos e rigorosos quanto à seleção de agentes que não necessariamente dispõem dos capitais requeridos à dominância do campo cultural; e a contraface dos mecanismos seleti-vos (permitidas no limite em que não se cons-tituem como um projeto a superar), que, ao in-corporar ou designar os agentes, realinham as hierarquias e promovem publicamente a pos-sibilidade de integração de novos discursos. Esta dimensão como caráter regulador do campo e das práticas, recriam as condições de promoção do “outro”, revelando novas pos-ses e atributos que se estabelecem à margem de um “estatuto natural do dominante”, como uma estratégia submersa de sobrevivência na ausência não-capturada pelos dominantes. Quando publicizado, este emprego que escapa à cultura dominante realiza o reordenamen-to do campo - novas lutas pela apropriação simbólica - e introduz novos significados de produção da realidade estabelecidos em con-dições muito particulares. As marcas distintivas também se referem a domínios, posses de bens sagrados e saberes. Inculcados como referência, a legitimidade em

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curso segue os padrões que consagram a auto-ridade da criação. O domínio da linguagem na diversidade de estilos artísticos não é exclusi-vidade do consumo e desfrute, mas da possibi-lidade de criar e das distinções das classes pro-fissionais de criação. A capacidade de articular um bom roteiro, o domínio da luz ou das téc-nicas de edição, os estudos de composição das personagens, todos os elementos de criação re-forçam o caráter sagrado da arte e consagram a autoridade da criação artística. É, em parte, este domínio o reflexo e reiteração do gosto distin-tivo, capaz de reautorizar o processo produtivo, fazendo valer sua reprodução no conjunto das práticas sociais autorizadas como boa arte. Às diferentes posições no espaço so-cial correspondem também diferentes estilos de vida, processos que retraduzem simboli-camente as diferenças objetivas inscritas nas condições de existência, correspondentes as trajetórias dos sujeitos. As diferentes posições no espaço social - e, por conseguinte, a capaci-dade de cada agente em administrar o volume de capitais requeridos à posição no campo - determinarão também a possibilidade que os agentes detém no domínio da criação, pela dis-tribuição relativa de capital cultural, econômi-co e social, não apenas na determinação legíti-ma da linguagem artística, mas de sua inserção nos circuitos legitimados. Especialmente ao capital social caberá a possibilidade de cone-xão entre os gostos (capital cultural, em geral) da real possibilidade da prática artística legiti-mada, bem como a determinação de uma pauta de execução do cenário de produção artística.

O “Coitado”. Espaço Reificado 2. e Trajetória

Pesa para a construção do campo artís-tico (champ artistique) em Bourdieu (1996a) dois elementos principais: a disputa em torno dos critérios de valor comercial e artístico e a luta simbólica dos valores que normatizam o campo. Para Bourdieu, os agentes produto-res se interpelam pela definição da linguagem e pelo valor dos trabalhos de acordo com o princípio predominante da percepção artística (Bourdieu, 2001). A suposição de Bourdieu é de que a “vocação artística” é um fenômeno do social, cujas “leis que regulam a vocação”

se assemelham em princípio às que regem os domínios da linguagem produzidas no capital cultural (Bourdieu e Darbel, 2003). Esta “vocação” está relacionada dire-tamente à capacidade que os agentes têm de interferir no campo produtivo, em especial nas etapas de captação dos recursos econômicos mínimos à possibilidade de produção. Aqui está expressa, no universo da organização dos meios de produção, uma agenda que pautará, segunda condições sócio-históricas, os bens passíveis de serem ou não produzidos e ex-perienciados. No caso brasileiro, esta agenda, operada por agentes que supõem controlar o poder do que está sendo produzido, expressa a possibilidade de movimentação de imensos recursos públicos e privados que garantem a materialidade da produção, sem que se conste, necessariamente, que os critérios que pautam essa agenda detém qualidades intrínsecas do reconhecimento da boa arte. Entendemos que parte de uma novíssima expressão de um capital artístico - marcado por uma experiência territorial que dá suporte e legitimidade aos significados buscados para parte da produção cultural brasileira, e que vem gerando imensos montantes de recursos financeiros - tem sido associado a expressão do capital cultural necessário à manifestação da lógica do campo e de um novo habitus ar-tístico legitimador. Este habitus é capaz de operar a inserção de certos sujeitos no processo produtivo e o desejo de se produzir como uma novidade, rei-vindicado pela agenda que reúne os agentes na operação do campo e na legitimação de seu ca-pital simbólico. É a origem social e a trajetória que constroem a objetivação que marca as pos-sibilidades e estratégias de integração dos su-jeitos na disputa pela legitimação dos códigos artísticos. O capital artístico referido é o lugar reificado, que expressa não apenas a realidade material dos agentes, mas os esquemas mentais interiorizados e as potencialidades inscritas nas posições que ocupam, tornando-se elementos capazes de superar os mecanismos societários de exclusão da prática artística, promovendo sua inserção no campo produtivo, e tornando reais as possibilidades de mudança no campo. Os agentes sociais se caracterizam pela posição que ocupam no espaço social, por po-sições relativas a outros agentes, onde, por sua

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dotação e volume de capitais, se determinam as condições de hierarquização social traduzi-das pelos elementos de distinção manifestos em mecanismos de exclusão mútua. Na visão de Bourdieu, as diversas posições ocupadas pelos agentes no espaço social retraduzem-se no espaço habitado, como uma “espécie de simbolização espontânea do espaço social” (Bourdieu, 2003:160), onde a própria noção de campo se manifesta como um “espaço social fisicamente objetivado”. A estrutura do espaço social (lógica das distinções e hierarquizações sociais) se manifesta sob a forma de oposições espaciais, onde o princípio de hierarquização do espaço social habita no espaço físico, ex-primindo as distâncias sociais. A proximidade dos agentes no espaço físico permitiria, assim, a capacidade que o espaço social tem em favo-recer a acumulação de capitais e a reprodução social; “uma parte da inércia das estruturas do espaço social resulta do fato de que elas estão inscritas no espaço físico e que não poderia ser modificadas senão ao preço de um trabalho de transplantação” (Bourdieu, 2003:161). O espaço social reificado sugere que os processos de segregação espacial determinam as condições de distanciamento físico e simbó-lico dos que não possuem o volume de capitais necessário às diversas formas de mobilidade social. Tal como os agentes dispersos pelo ter-ritório, a disposição dos bens e serviços ten-dem a reproduzir a lógica dos espaços sociais fisicamente objetivados, donde resultam as concentrações dos bens mais raros - e de seus proprietários - em certos lugares do espaço fí-sico. Pari pasu, a lógica de cada campo deter-minado no espaço social tende a se sobrepor aos espaços sociais reificados; a proximidade no espaço físico permite que a proximidade no espaço social produza seu efeito de facilitar e favorecer a acumulação de capitais. O espaço tem uma capacidade, por ser lugar da proximi-dade ou da distância que aplicam aos agentes, de favorecer acumulação de capitais e a repro-dução social, ou seu inverso. Especialmente na indústria audiovisual brasileira, a relação entre este habitus legiti-mador e as possibilidades de integração num mercado super-seletivo são partes interdepen-dentes deste novíssimo processo, solução con-temporânea para a apreensão de um universo que tenta expressar as relações de violência

física e moral de territórios das metrópoles brasileiras com o apego de estratégias próprias de encenação. O espaço social reificado é ele próprio, em alguma medida, a estrutura mental dos agentes territorialmente fixados. Este novo capital artístico se impõe so-bre um homologia entre a posição que o agen-te ocupa no espaço social e no espaço físico. É um capital artístico que origina uma arte base-ada num realismo exacerbado, onde variadas expressões poéticas colocam em evidência o território marginalizado nas práticas refe-rentes do campo artístico. Marca, portanto, a possibilidade de analogia na expressão entre o espaço-violência encenado e o espaço vivido, como um habitus auto-referente. Em especial, os agentes que ocupam estes espaços físicos que podem apropriar-se de uma estratégia de inserção, vista a partir de sua própria condição “excluída” e somente a partir de sua condição “excluída”, narrativa de um cenário que questiona a ordem social he-gemônica sem precisar romper com ela. Abre para a questão todo uma nova sorte de léxi-cos a utilizar: “ardor”, “pureza” e “o belo” são substituídos por “vida real”, “cruel”, “veros-símil”. A representação que se faz do espaço também gera um efeito concreto nas práticas dos agentes, onde também a apropriação física do espaço é relacionada às lutas em torno das representações destas mesmas práticas, como um domínio bastante especializado das expe-riências e da construção mental esquemática de uma mesma prática coletiva. É o papel do “coitado”, aquele que pode “fazer se tiver uma chance”, mas que impõe sua assimilação na prática artística por sua condição marginal. É este “coitado”, marginal, o mesmo que não dispõe dos recursos econô-micos suficientes para arcar com os custos de seu ingresso às obras produzidas ou ao campo de produção (seja ele nas técnicas de atuação, direção, edição ou captação de recursos e pauta da agenda produtiva), mas que se torna uma fi-gura facilmente sedutora aos consumidores da indústria audiovisual no Brasil. Aproveitando-se de uma disposição “a pretensão à glória”, e da “A fala de artista”, que “continua movendo, as ambições pessoais nesses locais, margina-lizados, de muitos modos, na cidade do Rio de Janeiro” (Zaluar, 1985), é na figura curiosa do vitimado que se enxerga a possibilidade de

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seu aproveitamento num regime muito parti-cular da produção cultural. Quanto aos anseios de inserção, trata-se de uma medida legítima, tanto aos interesses pessoais mais imediatos - da possibilidade da criação artística, quanto de seu aproveitamento num mercado de trabalho que retribui bem quanto ao valor do trabalho, interessado em suas características - quanto da possibilidade de mobilidade e ascensão social. Restaria dizer que a estratégia de recon-versão das classes populares às classes “ilu-minadas da arte” assume feição nada óbvia, em especial no plano das linguagens contem-porâneas. A inserção de um indivíduo neste plano se dá por sua posição no espaço social e o gosto artístico referente às suas experi-ências, enfrentando ou acordando os limites impostos pelo sistema de reprodução da arte - e, por conseguinte, dos gostos, no limite em que as propriedades que operam no distancia-mento territorial presentes no espaço físico e transformadas em capital simbólico são uma das “mediações através das quais as estrutu-ras sociais se convertem progressivamente em estruturas mentais e sistemas de preferência” (Bourdieu, 2003:162). É desta fronteira que se constrói a fundação mais perversa de par-te do campo da produção artística, em que a linguagem dos “coitados” opera nos vazios de indiferença do sistema de arte. Dado que a capacidade de dominar o es-paço social depende do capital que se possui, a proximidade no espaço físico permite que a proximidade no espaço social produza todos os seus efeitos, alimentando os processos de dis-tinção social. São os elementos de distinção que operam o cenário de integração; via-de-regra, integração parcial, intermediária - enquanto prá-tica artística - do périplo da concreção material da obra audiovisual. O domínio da linguagem do “coitado” e ao “coitado” é um conteúdo que reúne os elementos mínimos de integração. No caso, a origem social e a trajetória constroem a objetivação que marca as possibi-lidades e estratégias de integração dos sujeitos no campo artístico. Entender a trajetória e o habitus próprio desta origem social possibilita compor biografias comuns e uma série de posi-ções que os agentes ocupam no espaço social, tal como um sistema integrado de padrões iden-titários como elemento de sua inserção motiva-da no campo da prática artística. É em parte

desprezo por sua condição, parte necessidade de transformação de sua condição, o esquema operativo destas narrativas simbólicas, e esta dialogia marca, em geral, o argumento da obra e a seqüência lógica das cenas editadas. A estratégia apropriada nesta forma au-diovisual descreve os limites e etapas de ela-boração de uma mitologia urbana presente no imaginário social, reivindicando radicalmente a autoridade de demonstração da violência operada por sujeitos vitimados por uma “cida-dania incompleta” ou “a completar”. De forma mais clara, Bourdieu propõe que a apropriação do espaço físico expressa as distinções sociais (retomando seu projeto de construção con-ceitual do espaço social), quanto que a doxa dominante atribuirá propriedades ao espaço físico que são, na verdade, relações sociais. A descrição violenta dos territórios constrange qualquer possibilidade de sua integração com o corpo extenso da cidade, ampliando o poder de construção do discurso histórica da fave-la como o espaço do “perigo a ser erradicado pelas estratégias políticas que fizeram do fa-velado um bode expiatório dos problemas da cidade” (Zaluar, 1985). Este “coitado” é o perigo a ser controla-do, o pária urbano representado em uma con-cepção dualista de cidade, incapaz de inserir-se nas relações “auto-reguláveis” do espaço urbano sem o auxílio necessário dos que estão “de fora”. Desta feita, não apenas sua apropria-ção como o sujeito a documentar visualmente, mas o próprio sujeito produtor em si - embora não necessariamente de si - é a apropriação de um discurso que ao mesmo passo constrange sua trajetória como produtor (no limite em que a obra audiovisual necessita de uma apropria-ção roteirística, onde se supõe um caráter fic-cional) através da construção simbólica de seu espaço “de origem”, em geral consumida por sujeitos de diferentes habitus. Este vitimado se insere no mercado, não como alguém que - necessariamente - detém ou luta por legitimidade “cultural”, mas se impõe sobre o resto da sociedade como alguém que promove uma experiência mediada ao especta-dor ou ouvinte com a realidade social concreta com a qual deseja não ter contato. Este agen-te detém uma condição muito especial, como que um capital cultural relacionado ao espaço social reificado. É pelo domínio expresso na

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intimidade com seu espaço físico que se de-senvolve uma capacidade de ação de um estilo de vida que se submete às necessidades mais urgentes dos conteúdos audiovisuais. Neste contexto troca-se, por intermédio de outros agentes do campo, o conhecimento sugerido da vida reificada pelo conhecimento sugerido da atuação dramática. A gíria cotidiana e sua força de expressão hiper-real pela técnica de posicionamento, disposição da voz, construção corporal da personagem ante a câmera. Aqui se opera uma estratégia de inversão interessante. Este habitus distintivo dos sujei-tos segregados é submetido à operacionalidade última da produção audiovisual. A trajetória de vida dirá muito mais à possibilidade do agente em ser selecionado para a prática do que, ne-cessariamente, quaisquer outros ativos previa-mente recomendáveis ao domínio da prática audiovisual. O habitus distintivo é o controle dos códigos aceitos como violentos, o efeito do lugar ao invés do capital cultural academizado, mas atuando ele mesmo como o capital neces-sário da valorização do hiper-real demonstra-do. A figura central que dá ênfase ao processo é o negro pobre e favelado, de “índole” violen-ta, capaz de assegurar sua posição na “guerra urbana” sob o despejo de qualquer ação que indica o desapego à vida alheia ou às leis. A oposição a este habitus é justamente o que dá sentido à narrativa dominante, o corres-pondente de uma esperança de integração por uma vida justa, embora ancorada nas dificulda-des próprias da vida cotidiana da favela, e que por obviedade adere ao afeto mais imediato dos consumidores médios, reiterando a vio-lenta significação de que “ele pode conseguir, se tiver uma chance”, adicionando ao estigma do favelado uma outra significação: “veja, ele pode atuar a própria vida no cinema”. Vida co-tidiana e expressão cinematográfica desta for-ma se encontram, afastadas pela distância física da cidade e dos confortáveis assentos da sala de exibição, já que o mais comum das relações na cidade vem sendo a suspensão das causas so-ciais da violência e a necessidade de enquadrá-la numa experiência de aproximadamente duas horas, onde novos elementos podem assim ser adicionados (a boa música, a câmera “solta”, a boa fotografia) como estratégia de educação do olhar e conformação do mal-estar sobre a vio-lência e os violentados. Em geral, o espectador

suporta a condição do “negro-favelado-bandi-do” somente porque ao “negro-favelado-hones-to” é dada a chance de erguer-se ante às muitas dificuldades apresentadas, como o motivador necessário de sua superação. O jogo-jogado está presente em todos os participantes do processo: se o espaço social está inscrito tanto nas estruturas físicas, quanto nas estruturas mentais dos agentes, é pela obra artística que sintetiza o domínio do campo que esta se manifesta a violência simbólica como violência despercebida, reiterando o estigma espacial sem romper com os superficialismos das análises cotidianas. Os que não possuem o capital necessário “são mantidos à distân-cia, seja física, seja simbolicamente, dos bens socialmente mais raros e condenados a estar ao lado de pessoas ou dos bens mais indese-jáveis e menos raros” (Bourdieu, 2003:164), ou mesmo construir a intenção de se apropriar deles. No que toca ao processo de transforma-ção das representações em torno do espaço, os excluídos física e simbolicamente, estão desti-nados a permanecer nos lugares indesejáveis, onde a hiper-realidade e a realidade concreta se descolam com imensa facilidade. No caso, o destino do “negro-favelado-bandido” é sua remissão ou morte, enquanto que ao “negro-favelado-honesto” é destinado uma vivência posterior mais amena. O cenário dramático e as imagens ex-pressam uma propriedade em questão da esté-tica hiper-realista que não abandona as classi-ficações dualistas, mas reitera este “dualismo de representações tão presentes no pensamen-to e que criam um outro estrangeiro, distan-te e oposto” (Zaluar, 1985). A cidade repre-sentada é um Rio de Janeiro incompleto, sua representação midiática como depositário da desordem, e o favelado como o sujeito da de-sordem a reprimir, uma “categoria social que não participou de sua constituição, resultado de uma subordinação extrema e expressão de um imenso diferencial de poder” (Machado, 2002) que sintetiza a construção simbólica dos “problemas da cidade” e a decadência ur-bana. Já a integração do sujeito da atividade dramática apresenta contornos levemente di-ferentes; se a inserção dos “coitados” se dá por um processo seletivo baseado no domínio de ser estigmatizado, reiterando - inclusive pela aparência física - a figura do desordeiro, tem-

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se a noção que as manifestações culturais dos pobres não se esgotam nas fronteiras que se estabelecem entre eles e o resto da sociedade, mas, ao contrário, são altamente organizadas. O limite do processo é buscar qual o sujeito apto a narrar sua história, ciente seu habitus também o auxilia para enxergar a história nar-rada pela hiper-realidade com mediações mais refinadas que o consumidor médio, expressan-do significados distintos para os que de fato vivem a situação de pobreza.

Cidade de Deus. Os limites da 3. significação da violência.

Cidade de Deus é uma adaptação de romance homólogo de Paulo Lins, e narra a história do desenvolvimento do tráfico de dro-gas no conjunto habitacional da Zona Oeste do Rio de Janeiro, dando início a uma série de produções onde o espetáculo da violência urbana é seu mote central. A trama da obra gira em torno de duas personagens, atraves-sando suas histórias em meio há três décadas; Buscapé, jovem sonhador, que encarna a pos-sibilidade de ascensão social num meio urba-no amplamente degradado, e Zé Pequeno, que sintetiza a visão do diretor sobre a violência dominante na favela. Misturando linguagem documental (como a imagem final, de Sergio Chapelein no Jornal Nacional em 1979, noti-ciando a prisão de Mané Galinha), um padrão de narrativa cinematográfica clássica (uso de flashbacks e eventos em seqüência, narração de um protagonista como o ponto de vista cen-tral da trama), formato próximo ao videoclipe, qualidade técnica impressionante (jogo de edi-ção, câmera na mão, fotografia “suja”) e boa estratégia publicitária, Cidade de Deus conse-guiu atingir um grande número de espectado-res (3,2 milhões) para a média nacional, con-quistando também grande espaço no mercado internacional, com uma mistura de western no caos urbano carioca. O filme foi cercado de polêmicas desde o nascedouro. A locação escolhida - Cidade Alta - foi liberada pelo governador Anthony Garotinho após muita negociação, e as filma-gens só puderam começar após o envio do ro-

teiro e aprovação do chefe do tráfico local. Na estréia pública do filme, um homem foi preso durante a sessão no maior complexo de cine-mas do Rio, acusado de trabalhar nas opera-ções de tráfico de drogas. A vida no conjunto habitacional é retra-tada em três décadas, onde a degradação vai se ampliando com o decorrer do tempo, mos-trando como se deram os conflitos internos em Cidade de Deus pelo controle do tráfico de drogas. A sociabilidade no espaço é retratada de forma bastante precária, o sentido de priva-ção de oferta de bens aos moradores e de seu abandono e restrição ao conjunto da cidade é expressado logo ao início do filme: “a gente chegou na Cidade de Deus com a esperança de encontrar o paraíso, um monte de famílias tinha ficado sem casa, por causa das enchen-tes e de alguns incêndios criminosos em al-gumas favelas. A rapaziada do Governo não brincava... não tem onde morar, manda prá Cidade de Deus. Lá não tinha luz, não tinha ônibus, não tinha asfalto... mas num governo dos ricos, não importava o nosso problema. Mas como eu disse, Cidade de Deus não fa-zia parte do cartão-postal do Rio”.1 O roteiro conta ainda os clichês próprios da cinemato-grafia contemporânea, como o nível banal de estetização da violência ou a construção bas-tante pobre da rivalidade entre os personagens Zé Pequeno e Mané Galinha. O interesse do ensaio é entender o siste-ma de integração dos jovens atores nos papéis centrais da obra. A fala do diretor Fernando Meirelles já expressa um pouco a estratégia: “enquanto a gente tava trabalhando no roteiro, (…), a gente já tinha na cabeça que teríamos que fazer esse filme com atores não-profissio-nais. Eu queria que o espectador olhasse o Zé Pequeno e enxergasse o Zé Pequeno, não algum ator fazendo o Zé Pequeno, então a ideia de ter algumas caras desconhecidas era justamente para tirar esse filtro, o espectador se relacionar direto com o ator, então se relacionar direto com o personagem. Tudo isso eu achei que poderia me trazer a verdade que eu queria no filme”. Resta pensar, que as relações do campo se manifestam, via de regra, também em con-seqüência das normas de mercado, vistas pelas leis de renúncia fiscal e da mediação do Estado

1 Fala do personagem Buscapé. Cidade de Deus, direção de Fernando Meirelles, 2002.

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como agente financiador. Coube ao filme esca-par desta relação, com o risco (calculado, sem dúvida) de arcar com a maior parte as despesas de produção. A encenação com atores “reais” torna também os custos imediatos de produção mais baixos no pró-labore pago, recalculando as despesas para a preparação dos atores. Tal como no processo literário de Paulo Lins, revelou-se aqui uma estratégia de sobre-elevação do habitus marginal, capaz de narrar por dentro, a partir da ausência de suas falas na esfera pública e do aproveitamento de suas experiências pessoais, parte das contradições sociais da violência e da pobreza no Rio de Janeiro contemporâneo. Como nos revela Ribeiro (2003: 127), “pode-se dizer, assim, que se cumpria “aqui” o que emblematica-mente Geertz denominou de “estar lá” etno-gráfico, já que Lins, melhor do que ninguém, tanto viveu na Cidade de Deus quanto estudou a história do tráfico de drogas naquela comu-nidade a partir dos preceitos - e das ambigüi-dades - presentes na etnografia e no trabalho de campo, o que poderia situar sua narrativa como uma espécie de automodelagem artísti-ca” (grifo nosso). Durante o processo, foram feitas duas mil entrevistas com jovens da Rocinha, Cidade de Deus, Chapéu Mangueira, Vidigal e Santa Marta, sendo posteriormente seleciona-dos duzentos destes jovens para oficinas com Guti Fraga, diretor do grupo Nós do Morro. O processo de seleção foi motivado, em grande parte, pelas características físicas dos sujeitos segregados (negro/pobre/favelado): “a gente fez 2000 entrevistas com pessoas interessadas em fazer uma oficina de ator, a gente nunca falou que teria um filme na ponta, depois junto com a Katia, com o Guti e toda a turma do escritório, a gente ia escolhendo os garotos... esse é uma cara interessante, esse é uma cara feia, vamos trazer, esse é bonitinho, esse aqui é engraçado... muito subjetivo, era o carisma o nosso critério”.2

A escolha do diretor em trabalhar com atores desconhecidos (atores a serem feitos), legitimou-se, em sua fala, por enfrentar na ex-pressão simbólica da obra as questões da cri-minalidade urbana violenta carioca a partir da fala daqueles que “estavam no não-lugar des-

tas discussões, aqueles que majoritariamente mais sofrem com as tragédias geradas pela violência urbana: os mesmos outros fantasma-góricos que vivem nas favelas e periferias das grandes cidades brasileiras” (Ribeiro, 2003). O processo, entretanto, não suspende o grau de integração também violenta destes sujeitos ao processo de produção da cultura, dos níveis de nova estigmatização que os moradores de Cidade de Deus sofreram após o lançamento do filme - que evidentemente são relações que se movem acima da produção cinematográfica em si -, ou das possibilidades de seqüência de trajetória dos selecionados na vida artística. Os selecionados da oficina foram aos pou-cos modelando sua experiência pessoal - a con-dição inicial de sua integração na produção - à temática referida em Cidade de Deus. O espaço de suas vidas, contudo, sofreu por igual um fil-tro seletivo, característico da narração cinemato-gráfica: “porque na oficina, a galera foi pegando a essência da história... tudo bem, esse filme fala sobre guerra, sobre o tráfico de drogas... então nas nossas improvisações, era tudo relacionado ao filme”.3 A vida dos “coitados” improvisada nas oficinas e retratada no filme captura bem o que interessa atualmente ao mercado de arte e da pobreza retratada como fenômeno funcional à reprodução do seu sistema. A estratégia da preparação foi a execução do mais alto grau de realismo, capaz de expor a verossimilhança da obra à apropriação da vida real.

E o que resta aos “coitados”?4.

Inseridos por força de estratégias socie-tárias num “campo de lutas, no interior do qual os agentes se enfrentam, com meios e fins di-ferenciados, conforme sua posição na estrutura do campo de forças, contribuindo assim para a conservação ou transformação de sua estrutu-ra” (Bourdieu, 1996: 50), estes “párias urbanos selecionados” enxergam a possibilidade de mo-bilidade social tal como atores reais - no limi-te em que as alterações no campo devem ser entendidas como mudanças nas posições relati-vas dos atores no campo, onde podem, de fato operar estabelecer estratégias de subversão das regras do campo e da doxa conservadora.

2 Fala de Fernando Meirelles, dvd extra do filme Cidade de Deus, 2002.3 Fala de Leandro Firmino da Hora,dvd extra, Cidade de Deus.

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O novíssimo relevo deste processo se manifesta sob condições sócio-históricas que marcam modificações intensas na organização da cultura: sua importância no crescimento dos Produtos Internos Brutos dos países, seu uso como elemento de socialização, sua vin-culação às estratégias de renovação das políti-cas sociais, e a renovação da normatividade do direito. Como cenário complementar, a cultu-ra surge como um elemento central na reorga-nização da economia urbana, sendo objeto de preocupação política das cidades. Caberia aqui situar minimamente duas possibilidades de reconhecimento da trajetó-ria deste sujeito na expressão midiática como função da espetacularização do cotidiano. O primeiro nível de inserção dos “coitados” pode ser entendido como projeto coletivo, agindo em sintonia com o ambiente midiático, onde o “coitado” se entende como um ator efetivo, ca-paz de “usar” a mídia convencional (por meio de capitais acumulados nas tecnologias sociais) como projeto para seu “aparecimento” para o conjunto social. Evidentemente, esta tentativa é possível pelas novas condições materiais de desenvolvimento das linguagens audiovisuais, muito mais baratas e de acesso codificador mais simplificado. O segundo nível é de sua inserção individual e fragmentada, tal como um vitorio-so que sobrevive aos filtros naturalizados da especialização técnica do mercado de trabalho. Se a relação imediata não está inserida num projeto coletivo, é evidente que nos processos mediados nada pode remover deste indivíduo “a favela”. De qualquer forma, o espetáculo do cotidiano violento e sua inserção adquire rela-ção sincrônica entre lógica midiática e paradig-mas do mercado (Paiva, mimeo). Uma equação complexa, capaz de articular a produção au-diovisual - como um dos condutores da cultura global -, e as dificuldades em se entender a di-versidade das favelas para se entender a cidade de hoje, que acolhe e rejeita os territórios segre-gados espacialmente. No processo sociohistórico uma substi-tuição dos projetos de elevação da cultura como ferramenta de emancipação social, educação para a civilidade e transformação, apoiadas em uma perspectiva nacional-popular, das relações de dominação. O aparato público, organizado em geral na América Latina em torno de rela-ções entre os mecanismos de poder do Estado e

o capital privado que organiza parte da vida so-cial pela produção de bens, escora-se na cultura sobre uma outra dimensão. O universo do pla-nejamento cultural, já pensado na estrutura de-mocrática do Estado, guarda elementos de forte representação destes interesses, demonstrando diferentemente do projeto iniciado na década de 60, a integração de jovens em situação de marginalidade urbana por filtros seletivos mui-to específicos. Na verdade, é o planejamento cultural público em referência à atividade cul-tural privatizante, a ferramenta expressa desta relação, motivando a incorporação de alguns poucos no universo formal - cada vez mais exi-gente quanto à técnica especializada - do mer-cado de trabalho artístico. Cabe ressaltar a pergunta: o que constrói a legitimidade de incorporação destes atores? Sua integração, antes de tudo, desvencilha-se da clareza de um projeto popular constituído, para dar ênfase a uma vitória pessoal inequívoca. Vitória que, assimilada pelos agentes que lhe reconhecem no imediato da vida social traspas-sada à tela de cinema, não apenas orgulham-se de sua conquista, mas compreendem que este caminho é o guia de sua emancipação material e simbólica. Aceitar o ato da vitimização do “coitado” é, antes de tudo, uma saída legítima aos que são renegados social/espacialmente em tornar seu caminho turtuoso, uma universo de conquistas possíveis, reais e legitimadas. Sua presença como protagonista, encenada sob as condições de sua exclusão, e somente por elas, pode ser finalmente concretizada. Cidade de Deus é um filme que permite uma ampla discussão sobre o modo de inser-ção de certos sujeitos - atomizados - no mer-cado formal e profissional de arte, indicando caminhos posteriores de sua possível trajetória futura. Tentamos centrar a discussão na pers-pectiva, nada simples, do aproveitamento de sujeitos em situação de segregação espacial na produção da obra, sugerindo que a possibilida-de de sua integração tem por característica prin-cipal a reafirmação de um determinado habitus (princípio gerador das práticas) que expressa sua marginalidade. O auxílio de Bourdieu, e de seus conceitos principais, é uma ferramenta importante para compreender os mecanismos de inclusão de sujeitos privados de certos ca-pitais no cenário produtivo da cultura, num projeto que pretende realizar-se enquanto uma

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arte política, capaz - mesmo que de maneira inicial e precária - rascunhar os processos so-ciais e culturais que atravessam os meios de produção da cultura na atualidade. Tratamos de cadeias produtivas (sub-campos) com lógicas operacionais muito di-versas, e mesmo que tenhamos como modelo de análise um cinema fortemente amparado no Estado - no limite, responsável por mediar o processo produtivo e o compromisso com a cidadania -, o direito à produção artística aparece como um projeto a realizar, posto o esquecimento do território como uma cate-goria restringida pelos processos sociais de concretização da atividade cultural produtiva ou reconhecida como boa arte. Mesmo que possamos estabelecer uma retradução simbó-lica de diferenças inscritas nas condições de existência e relembrando a impossibilidade de estabelecimento de uma cultura urbana homo-gênea, o território marginalizado é esquecido como uma categoria essencial para o direito à produção artística, seja no planejamento de construção de equipamentos urbanos cultu-rais, seja como um item para a distribuição dos investimentos necessários à produção de bens; o processo de seu “aproveitamento” é a seleção de alguns poucos agentes. É o habitus marginal que garante sua integração, este mesmo habitus precário, re-visitado pelo efeito de lugar como a chave de integração, a possibilidade de superação dos mecanismos de exclusão e seleção do campo produtivo, e, portanto, da possibilidade de mu-dança no campo. É a sedução de ver um “coi-tado” “vencendo” que faz esquecer/suspender que o limite de sua integração é duplamente violenta. Seria menos violento saber que estes mesmos moradores, o centro do filme, não dis-põe das condições de acesso aos meios de re-produção cinematográfica? Centros culturais, salas de cinema, produtoras não estão na fave-la, expõe a composição de uma cidadania frag-mentada e restrita é alvíssaras das dificuldades de apropriação da linguagem artística - em especial pela pouca disponibilidade de capital econômico - e do capital artístico. Sua inserção é subordinada e precária, carregada de forte estigma, elemento capaz de acionar sua elimi-nação imediata do campo e fazê-lo(s) lembrar que seu lugar é a favela não mais representada. O conhecimento das regras do jogo permitem

àqueles que tem o poder de defini-las de posi-cionar-se de forma dominante no campo e da representação do mundo social. Os dominados jogam o jogo, no limite em que seu acúmulo de capitais permite que joguem, podendo es-tabelecer relações causais de transformação ou permanência das regras do jogo e da constitui-ção do campo. Neste caso, a pobreza aparece como um fenômeno funcional à reprodução do sistema de arte, tal que quando os “coitados” produzem no imaginário coletivo. Mas a pretensão de formulação de uma arte política - mesmo que genérica - traz pos-sibilidades de transformação na sociabilidade urbana, ressaltando que os caminhos para a inserção dos “coitados” não são de fácil solu-ção, suas oportunidades são raras. No momen-to, embora sua inegável criatividade revele possibilidades de reconhecimento no campo simbólico, este reconhecimento permanece submetido aos “mecanismos de reprodução de um modo fragmentado e fortemente hierarqui-zado de integração urbana” (Machado, 2002).

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Endereço para Correspondência:

João [email protected]

Universidade Federal FluminenseInstituto de Arte e Comunicação SocialRua Lara Vilela, 126 - São DomingosNiterói - RJCEP: 24210-590

Informações bibliográficas:Conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto científico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma:DOMINGUES, João. A cultura dos “Coitados”: trajetória social e sistema de arte. Cadernos UniFOA. Volta Redonda, Ano V, n. 13, agosto 2010. Disponível em: <http://www.unifoa.edu.br/cadernos/edicao/13/55.pdf>

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Conflito Interpessoal em equipes de trabalho: O papel do líder como gerente das emoções do grupo.

Interpersonal conflict in working groups: the role of the leader as the manager of the group emotions

Humberto Medrado Gomes Ferreira 1

Resumo

O propósito principal deste artigo é investigar o papel da liderança na administração de conflitos, objetivando analisar como este processo é percebido pelos colaboradores, e os impactos dessas atitudes para o de-sempenho organizacional. Primeiramente, revisam-se os fundamentos teóricos referentes ao tema; a seguir, demonstram-se os objetivos pro-postos pela pesquisa, assim como a metodologia utilizada. Finalmente, os resultados sugerem que a capacidade da liderança, enquanto gestor das emoções do grupo, é fator fundamental para o sucesso das organiza-ções e para a melhoria do relacionamento funcional, estando diretamen-te associada à capacidade do líder enquanto gestor organizacional.

1 Professor Assistente do Curso de Graduação em Produção Cultural da Universidade Federal Fluminense Doutorando em Planejamento Urbano e Regional pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Abstract

The purpose of this paper is to investigate the role of leadership in managing conflict, aiming to analyze how this process is perceived by employees, and their impacts in the organizational performance. First, review the theoretical foundations for the subject. Then, the goals proposed by the research and the methodology used are showed. Finally, the results suggest that the leadership capacity as manager of the group emotions is essential to the success of organizations and to improve the working relationship and are directly linked to the capacity of the organizational leader as manager.

Palavras-chave:

Gestão de Pessoas

Liderança

Conflito

Key words:

People Management

Leadership

Conflict

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Introdução1.

Os imperativos da competitividade -com a abertura da economia, a partir do início dos anos 90 no Brasil - incitaram uma reorgani-zação dos processos organizacionais, que le-varam, como implicação, mudanças nos perfis e comportamentos funcionais. Este processo é pano de fundo para a disseminação e surgi-mento de conflitos em equipes de trabalho. O gerenciamento dos conflitos organi-zacionais envolve o diagnóstico dos proces-sos que os envolvem, podendo ser percebidos como prejudiciais às organizações, pois, po-dem criar um ambiente organizacional dese-quilibrado, fruto da criação de situações hostis e sentimentos de desconfiança por parte das pessoas (RAHIM. 2002). Os conflitos, muitas vezes, não são inter-pretados sob a ótica positiva, criação de opor-tunidade de correção de processos organizacio-nais que podem parecer funcionar a contento. Segundo Robert Bacal (2004), os conflitos que ocorrem em organizações não têm, necessa-riamente, que ser destrutivos, contudo, um ge-renciamento eficaz desse processo, requer que todas as partes envolvidas conheçam a natureza do conflito dentro do ambiente organizacional. Segundo Robbins (2002), as evidências indicam que enquanto os conflitos de relacio-namento, na maioria das vezes, são prejudi-ciais aos grupos ou organizações, baixos níveis de conflito de processo – condução racional de uma atividade; e tarefa – execução de um tra-balho específico; no geral, são benéficos.

O Problema2.

As metas corporativas vêm se transfor-mando ao longo do tempo, à medida que novas tendências mundiais se fazem crescentes no ambiente das organizações, na busca incessante pela excelência de serviços, pelo aumento da rentabilidade e, principalmente, pela sobrevi-vência em um universo altamente competitivo. É critério de avaliação e caráter precípuo para a perfeita compreensão do trabalho, o en-tendimento e a compreensão do processo de conflito e suas variáveis emocionais coligadas, fator este, muitas vezes, originados da postura da liderança na gestão dessas emoções.

Revisão da Literatura3.

A fundamentação teórica se compõe de quatro principais temas: definição de equipes; competência emocional, teorias de conflito e o papel da liderança nesse processo, ambas as-sociadas a questões relativas ao gerenciamen-to das emoções no ambiente de trabalho.

3.1 Equipes de trabalho

Há dez anos, as pessoas não falavam em equipes. Elas existiam, mas eram convencio-nais, do tipo “orientadas para a função” – equi-pes de contabilidade, finanças, de produção e propaganda, todas compostas de especialistas nas funções; porém, uma revolução nas equi-pes aconteceu desde aquela época. Equipes convencionais ainda existem - dependendo da amplitude de controle e necessidade de resul-tados da organização - mas foram suplantadas por uma infinidade de equipes de “resultado”. Katzembach & Smith (1994) concluem que a única forma de se transformar um grupo em equipe é através da ação disciplinada, que se manifestará através de um propósito comum, em mesmas metas de desempenho e através de uma abordagem igualitária do trabalho. Ainda, para os mesmos autores, as equi-pes devem ter algumas características peculia-res como papéis compartilhados, comprome-timento, múltiplas funções e encorajamento para aparição de divergências e conflitos.

3.1.1 Definição de equipes

Para Robbins (2002), uma equipe pode ser entendida como dois ou mais indivíduos, interdependentes e interativos, que se juntam visando à obtenção de determinado objetivo. Por definição, equipes são pessoas trabalhan-do juntas e que têm em comum um elemento de identidade, de natureza simbólica, que as una, estando estas pessoas próximas ou não.

3.1.2 A diversidade dentro das equipes de trabalho

Diferenças entre as pessoas sempre existi-ram, e se impuseram como uma dificuldade para os propósitos e tentativas de unificação de ativi-dade laboral, mesmo com a tentativa de se apazi-

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guar diferenças em benefício de um bem comum. Esse processo de diversidade é também fator ge-rador de conflitos no ambiente de trabalho. Essa diversidade tem um efeito dúbio. Ela pode, por

um lado, reforçar as identidades sociais de for-ça de trabalho, mas pode também, certamente, fornecer um obstáculo poderoso para a forma-ção de equipes multifuncionais.

VANTAGENS DA DIVERSIDADE DESVANTAGENS DA DIVERSIDADE

Perspectivas múltiplas Ambiguidade

Maior abertura para novas ideias Complexidade

Interpretações múltiplas Confusão

Aumento da criatividade Deficiência de comunicação

Aumento da flexibilidade Dificuldade de chegar a um acordo

Fonte: N. J. Adler, International Dimensions Of Organizational Behavior, 3.ed. Adaptado de Robbins, Comportamento Organizacional

Liderança4.

4.1.1 Definição

O conceito de liderança tem hoje uma concepção diferente do que havia tradicio-nalmente na história do pensamento. Platão (apud Marisa Carvalho, 2003) nos textos da República, configura o líder como guardião do Estado. Aristóteles (apud Marisa Carvalho, 2003), nos textos de Política enfatiza as quali-dades naturais, ou seja, uns são predestinados a obedecer e outros a mandar. Para Robbins (2002), liderança “é a ca-pacidade de influenciar um grupo em direção ao alcance dos objetivos organizacionais”.

4.1.2 Abordagens sobre as teorias de liderança

Dentre toda literatura abrangente e ex-tensa que se refere às abordagens sobre teorias da administração, este estudo fará referência a duas das teorias mais recentes sobre liderança, procurando contextualizar os aspectos mais relevantes das teorias propostas por Hersey e Blanchard e Blake e Mouton. A teoria desenvolvida por Hersey e Blanchard (1969), trouxe aspectos vinculados aos estilos de liderança no que tange ao relacio-namento interpessoal e cumprimento de tarefas como objetivos principais das organizações. Essas variáveis criam o modelo situacio-nal ou contingencial de liderança, proposto por Hersey e Blanchard que levava em consideração as seguintes características sobre as quais deve-riam estar refletidas os perfis comportamentais de liderança na sua forma de gestão de pessoas:

Como condutor do processo organizacional• Como treinador de pessoas• Como participante ativo no processo or-• ganizacionalComo delegador de tarefas•

Teorias de 5. Conflito

Organizações criam descrições de car-gos, equipes especializadas de trabalho, fron-teiras jurisdicionais e relacionamentos de poder, com a intenção de facilitar a comunica-ção; mas, ao contrário, fazendo isso, separam as pessoas e criam o potencial para conflito. O conflito precisa ser percebido pelas par-tes envolvidas; a existência ou não de conflito é uma questão de percepção. Se ninguém tiver noção de sua existência, costuma-se estabelecer que ele não existe. Outros aspectos comuns nas definições são a oposição ou incompatibilidade e alguma forma de interação. Esses fatores esta-belecem as condições que determinam o ponto inicial do processo de conflito. Robbins (2002) define conflito como “um processo que tem início quando uma das partes percebe que a outra parte afeta, ou pode afetar, negativamente, alguma coisa que a pri-meira considera importante”. Há duas visões para avaliação do processo de conflito, segundo Bacal (2004), a boa e a ruim. A visão negativa sugere que conflito pode provocar reações distintas no âmbito das organi-zações. Ela diz respeito à noção de que as organi-zações são criadas para atingir objetivos e metas, com perfeita definição sobre tarefas, responsabi-lidades, autoridade e outras funções e que, nesta formação, poderão surgir processos de conflito.

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A visão positiva, diz respeito ao aspec-to questionador dos processos de conflito, como forma de estímulo aos membros da organização para incrementar seus conheci-mentos e habilidades, bem como contribuir para processos inovadores dentro de suas organizações. Os conflitos são construtivos quando melhoram a qualidade das decisões, estimu-lam a criatividade e inovação e encorajam interesses e a curiosidade entre membros de equipes, fornecem meios pelos quais os pro-blemas podem ser manifestados, diminuindo tensões, e fomentam um ambiente de autoava-liação e mudança (Bacal 2004). Pesquisas revelam que há três tipos de conflitos: de tarefa, de relacionamento e de processo.

O conflito de tarefa está relacionado ao • conteúdo do trabalho e metas estipuladas para o trabalho;O conflito de relacionamento envolve si-• tuações complexas, movidas por diferen-tes motivos e preocupações, sobre metas pessoais dos indivíduos, o relacionamen-to destes com outras pessoas e as metas de outras pessoas e;O conflito de processo está relacionado ao • fato de como o trabalho é executado.

Os processos de conflito que envolvem desempenho e performance da equipe são originários da distribuição de tarefas, po-dendo, posteriormente, evoluir para um caso mais amplo de conflitos de relacionamentos entre os membros das organizações, podendo comprometer a estrutura do processo e seus procedimentos.

5.1- Consequências funcionais e disfun-cionais do conflito

Nos modelos clássicos de gestão, o conflito era tido como algo prejudicial à or-ganização sendo, na maioria das vezes, igno-rada. No entanto, tendências contemporâneas visualizam-no como um fenômeno inevitável e que está presente nas organizações. Porém, acredita-se que o mesmo deva ser gerenciado adequadamente para promover mudanças no ambiente de trabalho.

O conflito funcional ocorre quando os interesses da organização são atendidos, como resultado de disputa ou desacordo. O conflito disfuncional ocorre quando a disputa ou desa-cordo prejudica a organização. O conflito funcional promove maiores níveis de desempenho por meios como: au-mento da motivação, habilidades em resolver problemas, criatividade, mudança construtiva. O conflito disfuncional é destrutivo em muitos aspectos como: desperdício de tempo e colocação do bem-estar pessoal acima dos interesses da empresa. O conflito pode desperdiçar tempo e energia, desviando as pessoas do caminho para alcançar metas importantes. Não é incomum, para dois gerentes em conflito, perderem tem-po trocando e-mails provocando situações es-pecíficas de disputa.

Emoções6.

6.1 Definição

A emoção é conhecida, geralmente, com os termos sentimento ou estado de ânimo. Para Soto (2005) a emoção é um estado interno – fisiológico e mental – do organismo que pode ser analisado a partir de uma dupla perspecti-va provocada pela resposta interna do sujeito diante de um estímulo percebido como agra-dável ou desagradável. A relevância da compreensão do proces-so de conflito interpessoal nas equipes e nas organizações se dá a partir do ponto em que as reações emocionais sejam reconhecidas como importante fator no processo de decisão das organizações, no momento em que se saiba re-tirar, desse processo, a emoção como elemen-to de interferência no julgamento das decisões da equipe (KIDA at al, 2001). Para Madrigal (2003), a emoção é o componente principal das vidas das pessoas. Emoções não variam somente em tipos, mas também em intensidade. E esta intensidade emocional é a mola propulsora para o entendi-mento de como comportamentos e sentimentos são influenciados fortemente pelas emoções. A dimensão afetiva é central no desen-volvimento de todo ser humano, assim como na formação de uma equipe.

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6.2- Competências emocionais básicas do líder

Um novo conceito de gestão emocio-nal é dado pela competência emocional. Por competência emocional entende-se a capaci-dade do indivíduo em gerir as suas próprias emoções e também gerir as emoções da equipe (GOLEMAN, 2001). Segundo Goleman (2001), essas compe-tências podem ser divididas em:

Autopercepção: Saber o que estamos • sentindo num determinado momento e utilizar as preferências que guiam nossa tomada de decisão; Autorregulamentação: Lidar com as pró-• prias emoções de forma que facilitem a tarefa que temos pela frente, em vez de interferir com ela; Motivação: Utilizar nossas preferências • mais profundas para impulsionar-nos e guiar-nos na direção de nossas metas;Empatia: Pressentir o que as pessoas es-• tão sentindo, ser capaz de assumir sua perspectiva e cultivar a sintonia com am-pla diversidade de pessoas.Habilidades sociais: Lidar bem com as • emoções nos relacionamentos e ler com precisão situações sociais e redes; intera-gir com facilidade.

6.2.1 Importância da inteligência emo-cional

Pela definição, inteligência envolve equi-líbrio e conhecimento de causa, fatores forte-mente vinculados à capacidade de liderança, cujos processos principais de gestão de pessoas envolvem a capacidade de negociação, de in-fluenciar e de cativar membros das equipes de trabalho, utilizando-se de padrões linguísticos, lógico e de relacionamento interpessoal para atingir essas pessoas (GOLEMAN, 2001). Para Daniel Goleman (2001), inteli-gência emocional, refere-se à capacidade de identificar nossos próprios sentimentos e os dos outros, de motivar a nós mesmos e de ge-renciar bem as emoções dentro de nós e em nossos relacionamentos, utilizando os senti-mentos para guiar o pensamento e a ação.

6.2.2 O líder como gestor das emoções das equipes

É cada vez mais importante a participa-ção da liderança na administração das emo-ções no ambiente corporativo. Essa importân-cia está associada ao fato de que pessoas são os recursos mais importantes dentro de um sistema produtivo, pois pensam, agem e moni-toram seus procedimentos levando em consi-deração o ambiente em que vivem. O líder atua em uma organização, tal qual em uma família. É designado gestor e precisa conscientizar-se da sua importância à medida que executa ações que são aceitas por todos os membros (GOLEMAN, 1999). A ideia da evolução da liderança como gestor das emoções, criando o gerente emo-cional é defendida por Pescosolido. Como argumento desta premissa, o autor explica que essa forma emergente de liderança re-quer que o gestor ajude a equipe a resol-ver seus problemas com bom senso, admi-nistrando suas reações em cada situação Pescosolido (2002). Para Pirola-Merlo (2002) “o gerencia-mento das emoções é um importante elemento da liderança efetiva, uma vez que a afetividade é um importante mecanismo pelo qual a lide-rança inspiradora pode afetar a performance de uma equipe de trabalho”. A capacidade emocional do líder assim como sua capacidade de administrar conflitos, objeto deste estudo, é determinada por suas ha-bilidades individuais e capacidade de influen-ciar os membros de sua equipe de trabalho. Por inteligência emocional especificamente aplicada ao trabalho, entende-se a capacidade primordial de saber se relacionar, em contra-ponto a exclusividade premissa de conhecer bem o que se faz (GOLEMAN 2001).

Modelo e Objetivo7.

O principal objetivo deste trabalho foi:

Examinar a consequência do processo de • conflito com a participação ativa ou pas-siva do líder e seu resultado para o desem-penho das equipes

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Metodologia e Procedimentos 8. do Trabalho

O método utilizado foi estritamente qualitativo, pois segundo Heloísa Martins (2004), a metodologia qualitativa, mais do que qualquer outra, levanta questões éticas, principalmente, devido à proximidade entre pesquisador e pesquisados. As principais ca-racterísticas desta pesquisa, segundo NEVES (1996), podem ser dadas pelo ambiente natu-ral como fonte direta de dados, por seu caráter descritivo, pelo significado que as pessoas dão as coisas e à sua vida, como preocupação do pesquisador e pelo enfoque indutivo. Inicialmente foram escolhidos os instrumen-tos e forma de aplicação. A seguir, foi efetuada uma visita a cada organização para coleta dos da-dos através de entrevista presencial, que foi condu-zida de forma imparcial, não gravada, por sugestão dos entrevistados, e descritas manualmente pelo entrevistador em condições literais, de expressão dos sentimentos e colocações acerca dos objetivos deste estudo. A forma transparente como o pro-cesso foi conduzido, parece ter contribuído para que os entrevistados usassem de toda sinceridade e espírito de colaboração, fazendo, por vezes, de “divã organizacional”, os momentos das entrevis-tas, não temendo represálias por parte da empresa. O público-alvo da pesquisa foi formado por traba-lhadores de empresas privadas e uma empresa do setor público, dos seguintes setores de serviços, e-business, hospitalar – público e privado.

Com o objetivo de delimitar a composi-ção da amostra, procurou-se obter uma homo-geneidade entre os entrevistados, restringindo a população a cargos e funções em suas res-pectivas organizações, aos setores Financeiro, Administrativo, RH e Operações. Procurou-se entrevistados maiores de 21 anos com, no mínimo, ensino médio com-pleto e que, por instituição deste pesquisador, conhecesse o que é uma equipe, sentir-se membro de uma delas e que tivessem uma li-derança explícita e reconhecida pela figura de um gerente ou diretor, que não foram objeto das entrevistas. Os entrevistadores foram selecionados pe-las respectivas direções, pelo tempo de serviço em cada empresa e por fazerem parte de equipes atuando juntos há, no mínimo, um ano. A amostra é considerada não probabilís-tica, pois, segundo Mattar (1999), é impossí-vel conhecer todos os elementos da população e, por conseguinte, nem todos os indivíduos da população, têm a mesma chance de serem selecionados. Pela classificação do mesmo autor, ainda pode-se dizer que a seleção da amostra foi por conveniência do pesquisador, que procurou empresas que se enquadravam nas caracterís-ticas desejadas e solicitou a seus funcionários que respondessem a entrevista. Cabe ressaltar que tanto as empresas quanto os entrevistados, pediram para não te-rem o seus nomes divulgados.

Tabela 3 - Descrição dos grupos observados

CÓDIGO EMPRESA HMP LAC W SMH

Ramo de Atuação saúde Serviços/saúde e-business saúde

Qtde de Entrevistas 7 16 22 4

N° equipes 2 3 6 1

Gênero do Grupo FMFF/MFF/ FFFFF/FMFMFFF/FFMF

FFFM/MFFF/FFMMMMFFFM

FMFFMFFF

Setores pesquisados Fin(4) ; Adm (3) Fin(7) ; Adm (5); Oper (4) Fin(4) ; Adm (4); Oper (14) Fin(4)

Média Idade 36 anos 30 anos 28 anos 33 anos

Escolaridade Ensino Médio Ensino Médio Ensino Superior Ensino Médio

Em cada empresa foi apresentado o objeti-vo do trabalho e o questionário. Foi colocado de forma clara como seria a condução do proces-so, com o entrevistador sugerindo, ao final de cada entrevista, que o entrevistado avaliasse as

proposições assinaladas, o que não foi realizado por nenhum dos entrevistados. Houve um apro-veitamento de 100% das entrevistas, dado pelo caráter qualitativo da pesquisa e compromisso das empresas e entrevistados com o propósito

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do trabalho, com agendamento prévio das entre-vistas o que não alterou a rotina de trabalho das organizações e contribuiu, substancialmente, para o aproveitamento integral destas. Cada colaborador foi convidado para uma entrevista, cujos dados foram coletados a partir de questionário estruturado – apêndice A. O questionário deste trabalho se referiu à observação in loco e entrevistas com membros de equipes de trabalho, realizado dentro das or-ganizações, em espaço reservado e privativo, para que os respondentes pudessem se sentir confortáveis e creditassem ao trabalho a validade qualitativa para pesquisa que esperava obter-se.

Resultados9.

As proposições que compõem o referido trabalho foram provenientes das seguintes ações: Mapear eventos relacionados ao surgimen-to do processo de conflito em suas raízes organi-zacionais e suas respectivas consequências; Durante a entrevista, objeto de avaliação da questão número 1, foi solicitado pelo en-trevistador a descrição de situações dentro das

organizações nas quais houvesse indícios de processo de conflito e se entre as pessoas das equipes, havia tido algum desentendimento. Descrever como as emoções influenciam o processo de conflito. Relacionar os aspectos do surgimento do processo de conflito com base na atuação da liderança de forma ativa ou passiva, confor-me a percepção dos membros de cada grupo entrevistado, bem como buscar a descrição de comportamentos que poderiam ser esperados do líder para lidar com situações de conflito. Nesta parte da entrevista, procurou-se investigar se o líder da equipe teve algum pa-pel para o surgimento do processo de conflito, de que forma – ativa ou passiva – o exercício da liderança contribui para o surgimento deste processo e quais comportamentos seriam im-portantes para o exercício da liderança. Como resultado final da análise inves-tigativa, procurou-se descrever qual (is) o (s) impacto (s) para a produtividade do indivíduo após as descrições dos eventos que geram conflitos, as emoções correlacionadas a este processo e seu comportamento frente aos pro-cessos de conflito e atitudes do líder.

IMPACTO NA PRODUTIVIDADE

Tema Preliminar Categoria Final Exemplo Empresa

Falta de reconhecimento por uma atividade executada.

Alta rotatividade“Aproveito para mandar currículo” W

“Fazer meu trabalho bem, só interessa a mim”. LAC

Desejo de deixar correr solto o trabalho, atrasando tarefas, comprometendo a eficácia do trabalho.

Sabotagem ao trabalho

“Tomo café, faço as coisas mais devagar que o normal”. W

“Tomo café, faço as coisas mais devagar que o normal”. LAC

Pessoas entram e saem da empresa, não criam um vinculo de identidade organizacional;

Perda de sinergia pela redução da cooperação

“Hoje é uma pessoa que tenho que treinar, amanhã outra...”. W

“Nem todo mundo se identifica com a empresa.Trabalhamos por trabalhar e termos dinheiro para pagar nossas contas”.

LAC

Adota uma postura alienada ao trabalho

Redução do comprometimento com a equipe

“Me pergunto às vezes, o que eu estou fazendo aqui”. W

“Meu corpo está aqui. Minha cabeça, bem longe, em outro lugar”. SMH

Ausência de perspectivas de valorização do trabalho.

Desejo de mudança

“Não tenho mais vontade de vestir a camisa da empresa”. W

“Quero mais do que me dão aqui. Se não me valorizam, vou atrás do que será melhor para mim”. SMH

Falta de integração entre os membros das equipes;

Redução do envolvimento com o trabalho

“A manutenção do status, quando relacionado ao cargo, fala mais alto do que a execução correta dos trabalhos”.

W

“Onde tem muita mulher tem confusão. É uma querendo aparecer mais do que a outra”. LAC

Falta de motivação para o trabalho

Terrorismo gerencial, o que estimula o desejo de sair da empresa.

“Domingo à noite entro em depressão só de imaginar ir para o trabalho”. W

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Conclusões10.

De todas as variáveis administrativas que as teorias nos mostram como: adminis-trar tarefas, ambiente, tecnologia e estrutura; a maior delas, gestão de pessoas, é das mais difíceis e relevantes para o estudo do processo de conflito. Vale reiterar a importância do estudo da Administração como ciência social, aqui evidenciada pelo estilo contemporâneo da Administração, que compreende a moderna gestão de pessoas, através de percepção de que os recursos, ditos humanos, são relevantes para o sucesso de toda organização. Foi utilizado o método da observação e sem obstruções – trabalho específico de entre-vista e avaliação das sensibilidades do entrevis-tado, que possibilitou a captura das sensações e dinâmicas típicas de conflitos – quando houve. Apenas pelo fato de existirem pessoas como componentes principais das organiza-ções, conflitos estão intimamente relacionados ao processo de gestão, aqui representado pela figura do líder como gestor emocional. Com base no exposto e considerando-se as amostras e peculiaridades da pesquisa, este trabalho conclui que: É de fato verdade que o conflito é parte inerente de qualquer equipe ou organização. Percebe-se o conflito de forma direta – quando manifestado pelo membro da equipe, e indi-reta – quando, sutilmente colocado por frases que denotam raiva ou tristeza. Pode não ser possível eliminá-lo completamente, mas pode ser tratado de forma a fazer de algo aparen-temente negativo, uma fonte de entendimento organizacional, de ajustes operacionais e coo-peração com foco no resultado e na competen-te administração de pessoas. Todos os conflitos mostraram-se disfun-cionais, alterando a rotina das empresas e dis-torcendo o ambiente de trabalho, sendo uma das principais responsabilidades dos gestores a de manter sua intensidade a mais baixa pos-sível sob pena de prejuízos individuais e orga-nizacionais. É alto e relevante o impacto do líder como gestor emocional dos membros de uma equipe, como reflexo direto de suas atitudes e até mesmo indireto destas, visto que sua omis-são também caracteriza combustível para fo-

mentar processos de conflito à medida que as pessoas se sentem livres para tomar decisões por si próprias. Sob este aspecto, a competên-cia emocional do líder torna-se fundamental na gestão deste processo. A lista de aspectos emocionais e situa-cionais associados aos conflitos e que impelem a várias reações demonstrou-se alarmante. Os situacionais, como o aumento da rotativida-de, a redução da satisfação dos funcionários, as ineficiências entre as unidades de trabalho, sabotagem, as queixas trabalhistas, tendências a boicotes e redução do empenho, não são ob-jetos de tratamento por parte dos líderes. Os emocionais, raiva, tristeza, depressão, medo, decepção e ausência de emoções (neutro), que, muitas das vezes, são o ponto de partida para males físicos e psicológicos são desco-nhecidos ou pouco avaliados pelos líderes. Em empresas cujo foco principal é o resultado – exclusivamente - em contraponto a busca do resultado através de pessoas e atendendo às expectativas destas, como as avaliadas neste estudo, tais proposições encontram-se dentro de um perfil organizacional que privilegia a lucratividade em detrimento do conhecimen-to, monitoramento e ajuste das necessidades dos indivíduos. Em síntese, para um bom líder construir e manter uma equipe bem coordenada deve-se ter noção de que o conflito trabalha contra esse objetivo. Em uma equipe de trabalho bem su-cedida, onde cada membro conhece seu papel, apoia o colega de trabalho e se envolve com a empresa para que estas premissas funcionem a contento; o todo se torna maior que a soma das partes. Este estudo conclui também que a grande maioria das empresas extrapola o limi-te de saturação funcional a partir do momento em que distribui mais tarefas do que aquelas previamente acordadas quando da contratação e ingresso do funcionário. O que em um pri-meiro momento se traduz pelo conformismo, passando à indignação e posteriormente à von-tade de sair da empresa.

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ROBBINS, H; FINLEY, M. Por que as 8. equipes não funcionam. Rio de Janeiro: Campus, 1997.

Endereço para Correspondência:

Humberto Medrado Gomes [email protected]

Centro Universitário de Volta Redonda – UniFOAAv. Paulo Erlei Alves Abrantes, nº 1325Três Poços, Volta Redonda - RJCEP 27240-560.

Informações bibliográficas:Conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto científico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma:FERREIRA, Humberto Medrado Gomes. Conflito Interpessoal em equipes de trabalho: O papel do líder como gerente das emoções do grupo. Cadernos UniFOA. Volta Redonda, Ano V, n. 13, agosto 2010. Disponível em: <http://www.unifoa.edu.br/cadernos/edicao/13/67.pdf>

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Eram os Revolucionários Românticos?O Romantismo Revolucionário em meio à arte engajada no período pós-1964.

Were the Revolutionaries Romantic?The Revolutionary Romanticism in the midst of engaged art in the post-1964.

Rafael Willian Clemente 1

Resumo

O presente artigo foi elaborado visando ao debate sobre um período con-turbado na história republicana brasileira. De 1964 a 1985 os governos militares configuraram uma época de autoritarismo e repressão à socie-dade civil; amplamente atingidos, os setores representativos viram-se em uma espécie de labirinto político. Os direitos políticos foram cassa-dos, juntamente com eles a liberdade de expressão e opinião também foi cerceada. Era uma época em que os intelectuais, artistas e até mesmo os cidadãos comuns eram punidos por suas manifestações. Embora a re-pressão tenha sido brutal, alguns artistas se opuseram ao regime vigente e através da arte engajada foram a voz do protesto. Restam-nos os deba-tes sobre o engajamento político dessa classe intelectual e cabe-nos uma pergunta: sob o aspecto revolucionário, eram eles românticos?

1 Graduado em História pelo Centro Universitário de Volta Redonda - UniFOA Pós-graduando em História do Brasil pela Universidade Federal Fluminense - UFF

Abstract

This article was prepared aiming to talk about a troubled period in the history of the Brazilian republic. From 1964 to 1985 the military government has shaped an era of tyranny and repression in the civil society; vastly affected the representative sectors found themselves in a kind of political maze. Political rights were stripped as well as the freedom of expression and opinion, which was also curtailed. It was a time that intellectuals, artists and even ordinary citizens were punished for their demonstrations. Although the crackdown had been brutal some artists opposed the regime and through the engaged art were the voice of protest. We are left with the discussion about the political engagement of this intellectual group and a question: concerning the revolutionary aspect, were they romantic?

Palavras-chave:

Romantismo Revolucionário

Ditadura Militar

Arte Engajada

Música Popular Brasileira

Key words:

Revolutionary Romanticism

Military Dictatorship

Engaged Art

Brazilian Popular Music

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Introdução1.

1964 foi um ano marcante na história brasileira, era o início de um período sombrio para a sociedade nativa. A tirania com que os governos militares – apoiados por uma ampla parcela da sociedade civil – conduziram o país levou a nação aos sombrios porões da ditadura militar – período em que os direitos e a liber-dade foram caçados em prol da força bruta e da escassez da democracia representativa. Se por um lado o período de 1964 – 1985 representou a “idade das trevas” na história nacional, a época de brutalidade governa-mental fez fortificar e florescer a contestação e com ela uma epopéia intelectual, que com seus frutos tornou ainda mais marcante a sutil e universal brasilidade. Ao contrário do que se pensa, e a historiografia nacional vem de-monstrando tais fatos – o engajamento político não nasceu junto com o golpe militar de 64, já existia antes deste, entretanto com a repres-são nos calcanhares de artistas e intelectuais, o reflorescimento da arte popular brasileira tornou-se extremamente relevante. À partir das avaliações de bibliografia pertinente ao tema, bem como a observação historiográfica das fontes nos restrinjimos a analisar somente as manifestações artísticas de protesto referentes à música popular brasileira e alguns de seus movimentos à época. Sob a luz teórica da história cultural observamos as composições localizadas no tempo que foram compostas e suas reverberações na sociedade atual. Canções, documentos dos órgãos de in-formação e a biografia de alguns autores nos auxiliaram na construção deste trabalho. De certo não temos a pretensão de tentar esgotar o tema nem mesmo fazer do nosso ponto de vista uma via de mão única na análise deste período e suas contradições. De objetivo mais modesto esperamos contribuir com a história utilizando suas próprias ferramentas metodo-lógicas a fim de que não se omita a riqueza

e os pormenores da história brasileira, prin-cipalmente aquela dos renegados e marginais da sociedade. Com isso este breve estudo visa uma contribuição que seja significativa nos estudos do movimentos intelectual engajado no enfrentamento ao governo de exceção im-plantado no Brasil após 1964. Portanto, o que analisamos – como todo objeto historiográfi-co – ultrapassa a ficção e se compromete em realizar a ciência história. Como a repressão é parteira da criatividade, intelectuais e artistas engajados, ou não, demonstraram com sua arte e sua história pessoal o cotidiano de uma so-ciedade presa às amarras da tirania, mas ainda assim o sol brilhava no parque.

Em busca do poder2.

Com a destituição de João Goulart do cargo de presidente da República os milita-res assumiram o poder da máquina estatal e em todos os seus setores procuraram exercer influência ou mesmo implantar de modo he-gemônico suas metas para erradicar a possi-bilidade de um governo de cunho socialista ou mesmo que possuísse algum vestígio de esquerdismo. Isso ficou evidenciado em todo o período da ditadura militar;1 houve uma verdadeira implantação de uma ordem social, política e econômica na qual o capitalismo ficou evidenciado, se anteriormente ao golpe o Brasil já imergia nessa estrutura amparado pelo liberalismo norte-americano, com o golpe esta situação ficou mais agravante do ponto de vista social. Entretanto, contra essa situação se insurge uma parcela da sociedade engajada na luta contra a ditadura que, instalada na nação, aparece não como um movimento uno e or-ganizado sob uma mesma liderança, mas com suas expressões artísticas, nos diversos setores de produção de arte, propõe à sociedade uma resistência ao poder vigente. Eram românticos - revolucionários?2

1 Por uma questão de nomenclatura utilizo o conceito de ditadura militar, embora esta só exista com apoio da sociedade civil. Alguns historiadores – dentre os quais a priori estava incluído – se referem a este período como ditadura civil-militar. Compartilho desta idéia, contudo faço referência ao período sob o primeiro aspecto. 2 Michael Löwy e Robert Sayre formuladores do conceito romantismo revolucionário e/ou utópico tratam do tema em diversas obras conceituadas. Dentre elas, Romantismo e Política na qual o romantismo é explicado em seus diversos modos e conceitos. Partindo da dinâmica de um romantismo que recusa o capitalismo a “visão romântica caracteriza-se pela dolorosa convicção de que faltam ao real presente certos valores humanos (...)”. Nessa vertente está o romantismo revolucionário, “para o qual a nostalgia do passado pré-capitalista é, por assim dizer, ‘investida’ na esperança de um futuro pré-capitalista. Recusando (...) a aceitação resignada do presente burguês, (...) aspira à abolição do capitalismo e ao advento de uma utopia futura, na qual certos traços e valores (...) seriam reencontrados”. Porém, não é uma simples volta ao passado, embora a busca pelo “homem novo” esteja entrelaçada com esse, mas é algo também modernizador. Com base nesses estudos, Ridenti volta o olhar para o processo de produção artística e intelectual no período pós-1964 e analisa-os sob a ótica romântica em sua obra intitulada Em busca do povo brasileiro e traz o conceito de Löwy e Sayre adaptado à realidade brasileira. O romantismo revolucionário é visto por Ridenti como a característica da manifestação dos artistas nacionais engajados na luta contra a ditadura militar. Entretanto, algumas delas são pertinentes e outras não, o revisionismo historiográfico não responderá a todas neste trabalho. O romantismo então é uma “visão de mundo [...] reação contra o modo de vida na sociedade capitalista e crítica à modernidade”, feita a partir de dentro”. LÖWY, Michael. Romantismo e política. Rio de Janeiro: Paz e terra, 1993. 98p.

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O romantismo, segundo Fischer (1993, p. 21), surge como “um movimento de pro-testo – de protesto apaixonado - (...) contra o mundo burguês capitalista”. Esse protesto se materializou de diversas formas contra o re-gime instaurado em 1964 pelos militares com apoio da sociedade civil, o enfrentamento atra-vés das armas não foi o único caminho desse protesto, as artes sempre ocuparam na huma-nidade um espaço muito representativo, tanto de oposição a algo quanto em seu apoio, se tratando do Brasil não foi diferente. Utilizada como ferramenta capaz de alcançar um grande público a música popular se tornou um veículo forte na transmissão das mensagens políticas. Do chamamento à população para uma resis-tência contra a ordem vigente, como a céle-bre canção “Pra não dizer que não falei das flores”, a qual Millôr Fernandes chamou de “a nova Marselhesa”, - cantada por Geraldo Vandré até um simples recado para um exila-do político como escreveu Chico Buarque em meu “Meu caro amigo” – canção para o dra-maturgo Augusto Boal. O engajamento políti-co tanto na música quanto no teatro, cinema e outras artes marcou consideravelmente a vida artística brasileira como uma arte de protes-to ao momento que o país vivia, buscava-se a volta à nascente democracia, como também à “ruptura com subdesenvolvimento” provoca-do pelo capitalismo. De fato, o mundo burguês capitalista mencionado por Fischer se concre-tiza e é representado pelos militares no poder e por toda sociedade civil que os apóia. Os protestos e enfrentamentos, em muitos casos demonstrações apaixonadas de luta contra a ditadura, se dão através de passeatas, nas pe-ças teatrais, em atos públicos, nas guerrilhas, na sociedade organizada, enfim, e um desses modos de manifestação, de protesto, está pre-sente nas canções.

Romantismo e revolução a 3. brasileira

Na contramão do capitalismo, que desde o seu advento sempre propôs uma reforma len-ta da ordem econômica e social, encontram-se os românticos revolucionários nacionais. “O romantismo-revolucionário brasileiro do perí-odo [...] recolocava o problema da identidade nacional e política do povo brasileiro, buscava-

se há um tempo suas raízes e a ruptura com o subdesenvolvimento”. (RIDENTI, 2000,p.33). O fenômeno romântico-revolucionário é a resposta a esta transformação branda que era o plano dos militares de plantão na caserna e nas casas do poder. Em certa medida foi o que aconteceu no período de 1964 a 1985, mas não sem resistência de uma parcela da população. Quando o Marechal Castello Branco as-sumiu o cargo de presidente, havia a promes-sa de uma transição política lenta, gradual e segura, uma volta controlada à democracia, à participação popular na atividade política do país, garantindo assim a continuidade do po-der político e econômico das classes dominan-tes. Essa abertura demorou mais de vinte anos para acontecer e mesmo assim de uma forma não tão democrática, veio sob tutela dos mes-mos que a usurparam em 1964. De encontro a esta proposta que consolidava os interesses burgueses na sociedade brasileira estavam os grupos de artistas que se identificavam com a volta imediata de um governo democrático e de uma abertura política que atendesse aos anseios e necessidades da sociedade como um todo. Muitos desses artistas que se engajaram na luta política não só através da produção de sua arte, mas também com envolvimento partidário foram censurados e proibidos de se manifestarem publicamente.

Principalmente após “o Ato Institucio-nal nº. 5, instrumento legal promulga-do em fins de 1968 que aprofundou o caráter repressivo do Regime Militar brasileiro [...] (no qual) houve um cor-te abrupto das experiências musicais ocorridas no Brasil ao longo dos anos 60”. (RIDENTI, 2000, p. 21).

Envolvidos pelo recrudescimento da repressão e a censura prévia na produção das canções poderíamos dizer que um grupo de músicos e artistas que se engajaram na luta política contra o Regime Militar formaram um modo de manifestação política e apoio àqueles que se engajavam contra os militares através da luta armada. Em seu livro Verdade Tropical Caetano Veloso expõe a simpatia “íntima e mesmo secreta por Marighella e os iniciadores da luta armada” e “a violência sagrada dos que partiram para a luta armada [contra] a violên-cia maldita dos que detinham o terrorismo ofi-

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cial” – os militares. (VELOSO, 1997, p. 118). Essas lutas povoaram o imaginário desses ar-tistas formando de acordo com o romantismo uma estrutura mental coletiva – usando uma expressão de Löwy - de combate aos adver-sários políticos, embora ela não estivesse tão organizada no coletivo da sociedade em união com os intelectuais engajados, podemos dizer que nem mesmo estes se portavam como uma coletividade una. Segundo Löwy, “tal estrutu-ra mental pode concretizar-se, expressar-se em domínios culturais diversos: na literatura e nas outras artes [...]” (LÖWY, 1995, p.30). Nesse caso a música serviu aos artistas engajados no pós-64 como canal da manifestação políti-ca e ideológica “na medida em que boa par-te da vida musical brasileira, naquela década, estava lastreada num intenso debate político-ideológico”. Esse debate buscava promover a volta da noite encantada com o luar – român-tica – contra um presente concreto e históri-co – militarismo. Esse é o romantismo, “que nasce como revolta contra este presente con-creto e histórico” (LÖWY, 1979, p. 78), uma busca pelo re-encantamento do mundo pela imaginação, pelas artes, pela música. “A cria-ção artística romântica pode ser concebida [...] como projeção utópica realizada no presente, pela imaginação”. (LÖWY, 1979, p. 78). O momento presente, vivido com supressão na li-berdade de produção da arte é enfrentado pela busca constante na imaginação de que os dias poderiam ser melhores a partir de uma revolta contra o que era concreto no momento, contra uma ordem que se tornou vigente a custa da liberdade de uma parcela social. A luta pelo alcance de uma produção cultural e intelectu-al que primasse pelo encontro da brasilidade, através da criação de obras pelos artistas e in-telectuais engajados já havia começado antes do golpe civil-militar de 1964 e nesse período foi intensificada e ao mesmo tempo reprimi-da. A arte engajada brasileira é anterior ao ano de 1964, desde o início da década de 1950 os artistas engajados já se faziam notar; o teatro, um dos principais redutos da intelectualida-de, traduzia em suas peças a realidade nacio-nal. O Centro Popular de Cultura(CPC) da UNE(União Nacional dos Estudantes) foi um dos principais redutos dos intelectuais engaja-dos durante as décadas de 1950 e 1960. Dele fi-zeram parte artistas de peso como Carlos Lyra,

um dos criadores da Bossa Nova, Guarnieri, do Teatro de Arena e Oduvaldo Vianna Filho, o Vianinha, outro dramaturgo muito impor-tante para o teatro engajado nacional. Nas ar-tes o cineasta Cacá Diegues produziu Ganga Zumba (1963), filme que teve a participação de Cartola; Gianfrancesco Guarnieri produziu em 1965 a peça teatral Arena conta Zumbi. Nessas produções artísticas “buscava-se [...] uma cul-tura popular autêntica para construir uma nova nação, ao mesmo tempo moderna e desaliena-da, no limite, socialista”. (BARCELOS, 1994, p. 213). Embora haja no romantismo brasileiro características peculiares, elas não estão des-vinculadas dos traços gerais do romantismo-revolucionário em sua escala internacional. Temas pertinentes a este como a “liberação sexual, a fruição da vida boêmia, a fusão entre a vida pública e privada, os padrões irregulares de trabalho são características que marcaram os movimentos sociais nos anos 60 [...] fazen-do lembrar a velha tradição romântica”.

MPB e revolução: o nacional-4. popular

“A música popular brasileira (MPB), sigla que sintetizava a busca de uma nova canção que expressasse o Brasil como projeto de nação, idealizado por uma cultura política influenciada pela (visão de mundo) nacional-popular” (NAPOLITANO, 2001) - “que desde meados dos anos 60 congregava a música de matriz nacional-popular ampliada a partir de 1968, na direção de outras matrizes culturais, como o pop” (NAPOLITANO, 2001) - era um canal a ser explorado para que o povo pudesse despertar a consciência contra o presente con-creto que se alastrava pela sociedade gover-nada pelos militares. Não cabe aqui o debate sobre o consumo da música popular brasileira e seus públicos, embora sejam temas pertinen-tes para um estudo. Embora não ocorresse de forma homogê-nea a manifestação contra o presente concreto e repressor vivido, os vários artistas envolvi-dos na extrema articulação contra os militares possuíam em comum uma profunda antipatia pelo regime. Isso de fato os unia em um ide-al único, ainda que com diferentes formas de luta e atividade política. Da mesma forma os

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românticos, com suas diferentes militâncias, possuíam também um ideal único: a antipatia pelo capitalismo. O romantismo se insurge dentro dessa sociedade, como fruto da indife-rença “da sociedade fundada sobre o dinheiro e sobre a concorrência que separa os indiví-duos em [...] hostis e indiferentes aos outros”. (LÖWY, 1995, p. 56). Portanto, “é uma recu-sa resignada a aceitação do presente burguês”, (IDEM, p. 56) do presente que oprime e sufoca a liberdade de criação. Contudo, a criatividade é aflorada, pois não se pode demonstrar com todas as palavras, é preciso tornar implícita as mensagens para que a censura não fosse capaz de identificá-las nas músicas. Em contrapartida os militares também incentivaram a produção cultural e intelectual, porém de um modo que estes funcionassem como um incentivo à produção intelectual ca-pitalista, ou seja, à máquina estatal. Parcerias com as grandes redes de TV e estímulo à cria-ção de agências estatais de telecomunicações que buscavam regular e propagar esta produ-ção intelectual.

“A partir dos anos 70, concomitante-mente à censura e à repressão política, ficou evidente o esforço modernizador que a ditadura já vinha esboçando, des-de a década de 60, nas áreas de comuni-cação e cultura, incentivando o desen-volvimento capitalista privado ou até atuando diretamente por intermédio do Estado”. (GASPARI, 2002, p.202).

Os românticos revolucionários solicita-vam a abolição do capitalismo advindo uma utopia futura, na qual certos traços e valores das sociedades pré-capitalistas seriam reen-contrados. Durante a década de 1960 os ar-tistas engajados buscavam a abolição de um regime que oprimia a sociedade, antes livre, e a volta de uma democracia aprimorada, que satisfizesse os anseios populares nacio-nais juntamente com uma sociedade livre dos malefícios do capitalismo. “Formulavam-se novas versões para as representações da (bra-silidade), não mais no sentido de justificar a ordem social existente, mas de questioná-la”. Com esse intenso questionamento era a hora para colocar em prática a revolução brasilei-ra que consequentemente tornaria o Brasil “o país da integração entre as raças, da harmonia

e da felicidade do povo, impedido pelo poder do latifúndio, do imperialismo e, no limite, do capital”. (RIDENTI, 2000, p. 74). Ainda que alguns artistas engajados per-tencessem à burguesia e esta fosse questionada por fazer parte de um sistema de integração com os militares, isso não retira o mérito das suas obras, juntamente com seu engajamento políti-co. Embora fossem de fato filhos dessa burgue-sia era claro o descontentamento com a opres-são exercida pelos militares e a forma como estes chegaram ao poder e nele se portaram nos anos de ditadura. Löwy já aponta este fenômeno quando trata do romantismo e afirma:

“Apesar de uma parte de seus escri-tores e de seu público pertencerem à burguesia, o romantismo constitui um profundo questionamento dessa classe e da sociedade que ela domina. Se o ro-mantismo é por essência anticapitalista, está nos antípodas de uma ideologia burguesa”. (LÖWY, 1993, p. 36).

Alguns artistas, antes comprometidos com a luta, reconciliam-se com a burguesia e provo-cam uma ruptura com a classe que continua a lutar pela liberdade. De certo modo, reconci-liam-se com o poder capitalista e rompem com a luta revolucionária, unem-se aos reacionários do poder ou mesmo deixam de lado suas antigas críticas à situação, deixam de lado o oposicio-nismo. “O fato é que a sociedade brasileira foi ganhando nova feição e a intelectualidade que combatia a ditadura aos poucos se adaptava à nova ordem” (NAPOLITANO, 2004). Esta nova ordem se utilizou da criação de um mercado de atuação e trabalho para esses profissionais críti-cos. Segundo Ridenti, havia um mercado para produtos culturais críticos. “A arte engajada de esquerda foi incorporada pelo mercado como uma das mais valorizadas formas do consumo cultural da classe média”. (RIDENTI, 2000, p. 106). Os artistas e intelectuais, antes engajados na luta política, agora estavam com sua aten-ção voltada para a profissionalização de seus trabalhos. Os setores públicos e privados agora ofereciam “ótimas oportunidades a profissio-nais qualificados entre os quais se destacavam os que se consideravam de esquerda, expoen-tes da cultura viva”. (RIDENTI, 2000, p. 106). Isso, porém foi iniciado “desde o final da déca-da de 60, [a própria MPB] passou a significar

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uma música socialmente valorizada, sinônimo de ‘bom gosto’ mesmo vendendo menos que as músicas consideradas de ‘baixa qualidade’ pela crítica musical”. Esse foi o novo estatuto im-plantado pela indústria fonográfica de modo que Milton Miranda, diretor da gravadora Odeon dirigiu-se ao estreante Milton Nascimento con-cedendo autonomia ao compositor: “Nós temos os nossos comerciais. Vocês mineiros são nossa faixa de prestígio. A gravadora não interfere. Vocês gravam o que quiserem”. Assim, o ca-pital implantava uma forma de desarticular os movimentos culturais românticos, agora o que estava no cerne da preocupação de uma parcela da intelectualidade não era mais o caráter dos movimentos populares ou mesmo sua atuação, não era “a ruptura coletiva da condição de sub-desenvolvimento nacional, (mas a preocupação com o bem-estar pessoal), o acesso individual ao desenvolvimento de um mundo globaliza-do”. (RIDENTI, 2000, p. 108). Em contraparti-da a MPB “culta” ofereceu a indústria fonográ-fica a possibilidade de consolidar um catálogo de artistas e obras de realização comercial mais duradoura e inserção no mercado de forma mais estável e planejada proporcionando uma indústria mais forte e rentável ao longo do tem-po. Ridenti levanta a problemática ao realizar a afirmativa de que “o intelectual militante, li-bertário, é substituído pelo intelectual passivo, a fruir sem culpa sua liberdade e relativa au-tonomia na modernidade”. (RIDENTI, 2000). Este intelectual se reconcilia com o mundo em que vive, com a situação em que se encontra; a indignação é abandonada, deixada de lado, a re-volta que faz propor um novo mundo é esqueci-da e em seu lugar nasce o comodismo reacioná-rio, embora em muitos casos o discurso desses intelectuais ainda seja de esquerda, entretanto, suas atitudes não são.

“No lugar do intelectual indignado, di-lacerado pelas contradições da socieda-de capitalista, agravadas nas condições de subdesenvolvimento, passava a pre-dominar o intelectual profissional com-petente e competitivo no mercado das idéias, centrado na carreira e no próprio bem-estar individual. Entrava em fran-co declínio o modelo de intelectual ou artista de esquerda [...], engajado, altru-ísta, em busca da ligação com o povo”. (RIDENTI, 2000, p. 224).

“A arte engajada de esquerda foi incor-porada pelo mercado como uma das mais va-lorizadas formas do consumo cultural” e isso modificou as estruturas da arte de contestação e seu consumo, tornando não só a música po-pular brasileira, mas, de um modo geral, toda arte engajada uma mercadoria a ser consumida com uma mínima ou nenhuma assimilação so-ciopolítica dos problemas da sociedade brasi-leira. Dessa forma muitos dos revolucionários de antes foram incorporados por esse mercado e se adaptaram à estrutura da indústria fono-gráfica com seus processos de produção de grandes sucessos. Na disputa do campo hegemônico a re-volução brasileira não saiu dos livros, embora ainda possa ocorrer com auxílio e conscienti-zação de todos os setores da sociedade, dentre eles os setores de produção cultural. Os revo-lucionários que se engajaram na luta por uma cultura intelectual e popular deixaram um rico legado a ser explorado e divulgado pela socie-dade e ainda podem ser reavivados para num futuro não muito distante serem colocados em prática na sociedade.

A arte engajada5.

O golpe civil militar de 1964 não inau-gurou a arte engajada, principalmente a músi-ca popular, porém, essa arte atingiu seu ápice durante os anos de chumbo. Isso aconteceu por vários fatores, dentre eles a repressão. Esta ajudou a criar um clima de descontentamento entre os artistas que tiveram suas obras censu-radas e não só os classificados como integrantes da MPB ou da Bossa Nova – movimentos que ganharam denotação política, mas até mesmo os considerados bregas foram censurados. Por outro lado os artistas que já estavam no enga-jamento foram mais perseguidos, mas tiveram sua produção artística mais qualificada, devido às artimanhas para escapar da censura. Não po-demos negar que esta atingiu não só os artistas engajados politicamente ou mesmo os simpa-tizantes do ideário esquerdista, a censura se voltou contra a produção musical das letras que segundo os censores atentavam contra a boa moral, os bons costumes e à família brasileira, de hábitos cristãos. Daí a censura ter se voltado contra cantores como Odair José, Nelson Ned,

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Waldick Soriano entre outros. Artistas que es-tavam na mídia e eram ouvidos por uma boa parte da população, em muitos casos classifica-dos como artistas das grandes massas, frequen-tadores de programas de auditório, nada tinham de revolucionários como outros artistas, que por assim dizer eram simpatizantes ao movimento esquerdista ou dele faziam parte. Se por um lado a dita revolução brasilei-ra não aconteceu e a esquerda saiu mais enfra-quecida do processo quando nele entrou é fato que não cabe recurso. Realmente os revolu-cionários que pretendiam modificar o país não conseguiram modificar a roda viva que girava como um rolo compressor sobre a sociedade. Mas por outro lado, a luta dessa esquerda foi totalmente válida e dentre os motivos do seu enfraquecimento estão as táticas cruéis usadas pelos militares, que aplicaram contra tudo e todos que se achavam de seu lado contrário o terrorismo “legalizado”, o terrorismo estatal. A luta contra o regime foi desleal, e muitos dos militantes foram assassinados sem as mí-nimas condições de defesa. Vale ressaltar que a música era um re-duto dos intelectuais que davam o apoio aos revolucionários da esquerda, entretanto, como já foi posto, a ditadura utilizou de podero-sas armas para neutralizar seus opositores, a censura, a tortura, o exílio e outras formas de repressão separaram o elo capaz de fortalecer a corrente da esquerda, durante tempos ela retardou o processo de luta e enfrentamento, mas era inevitável a resistência a uma forma de governo tão atroz. De fato, os revolucio-nários de plantão nas artes, cantaram em suas músicas, poesias, quadros e pinturas um novo tempo que poderia surgir a partir de um le-vante com o povo contra aqueles que haviam usurpado a legalidade democrática do país. Não foram poucos os manifestos, as passea-tas, as canções, os movimentos, que de algu-ma forma tentavam abalar a ditadura militar. Fazer com que o verdadeiro valor nacional não escapasse das mãos, que fosse valorizada a produção intelectual brasileira, isso também era cobrado por uma parcela dos artistas in-telectuais engajados. Porém o movimento não era unificado sob uma bandeira ou uma mes-ma linha ideológica, havia uma pluralidade no pensar a arte, no fazer a música, embora em alguns casos o partidarismo estivesse na sus-

tentação de alguns artistas. Mas o fato é que a luta se fazia contra um inimigo comum, um dragão que formaria sete cabeças e com sua calda varria a liberdade de expressão, de loco-moção, de pensamento. A luta se fazia contra a ditadura e se ideologicamente os artistas esta-vam sob bandeiras distintas, esse mal os uniria no campo da disputa hegemônica. Durante as décadas de 50 e 60 questio-na-se o predomínio da arte de esquerda no cenário cultural, ela realmente estava muito presente na vida dos grandes centros urbanos, mas já não ocupava do mesmo modo a gran-de mídia, embora tivesse espaço nos princi-pais programas artísticos, como os Festivais da Canção que eram televisionados e alguns programas de rádio. Essa arte, no entanto, começou a ser incorporada pela indústria do entretenimento e explorada como mercadoria, como fonte de conversão em capital. As mais famosas canções engajadas, como Disparada e Pra não dizer que não falei das flores – am-bas de Geraldo Vandré, ambas sucessos em festivais - sofreram esse processo. Com isso as músicas passaram a ter outro valor e até mesmo serem mais divulgadas, pois o merca-do precisava explorar seus públicos, na maio-ria dos casos o artista engajado é celebrizado no seu meio não como um intelectual capaz de mobilizar idéias e movimentar as pessoas, mas como um ser superior aos demais pela produção de arte, há uma “glamorização”. A arte revolucionária e questionadora da MPB, do teatro, do cinema foi modificada em mui-tos de seus aspectos, como vemos hoje em re-ferência ao passado. Os artistas e grupos antes tidos como revolucionários ou mesmo parti-cipantes do romantismo foram incorporados pelo sistema global, por essa indústria que se coloca portadora da cidadania. O romantismo revolucionário de ou-trora se perdeu nesse novo tempo os artistas revolucionários com sua apropriação por esse mercado produtor de sucessos mercantis fez deles apenas artistas, ainda intelectuais, mas sua resignação com o presente se calou, tam-bém sabemos do forçamento para se calarem, a repressão militar colaborou para isso, as constantes ameaças e torturas sofridas fizeram de muitos intelectuais engajados silenciosos resignados, com o próprio passado e com as ameaças do futuro.

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A revolução faltou ao show6.

Se a ditadura militar de 64 produziu na sociedade o terrorismo de estado, implantado pelo recrudescimento de um regime ilegal que se pautava nos bons valores morais e nos hábi-tos cristãos da boa família brasileira, também fortificou a chama da resistência contra o ca-pitalismo que de certo modo foi representado pelos militares de plantão. A sociedade não assistiu calada ao autoritarismo constante do regime militar, se cada vez mais eram produ-zidos atos institucionais para engessar a socie-dade, uma parcela desta também se organizou para combater os inimigos da liberdade. De fato não conseguiram realizar o que pela ma-triz teórica das lutas se pretendia, não chega-mos ao socialismo, a revolução brasileira não foi feita, mas houve enfrentamento, houve luta. Se muitos grupos de esquerda utilizaram as ar-mas para combater o regime militar, a arma de muitos outros foi arte. Na música popular brasileira as canções engajadas marcaram for-te presença na luta contra os militares. De fato a censura também era muito violenta contra as letras e artistas, muitas canções censuradas não tinham cunho político, mas “atentavam contra os bons costumes”. Entretanto, muitos artistas ousavam cantar o proibido e enfren-tar as ameaças do regime, a grande maioria foi presa e exilada, Gil e Caetano, expoentes do movimento tropicalista, juntamente com seus parceiros como Tom Zé e Torquato Neto ganharam o banimento do cenário nacional, quando não o banimento do solo nacional, caso dos dois primeiros. O próprio movimen-to tropicalista era criticado tanto pela direita quanto pela esquerda. Por ser um movimento que misturava as culturas brasileiras com as estrangeiras, eram tidos por americanizados, quando na verdade a Tropicália fazia disso uma das suas características mais interessan-tes, estavam na contramão da esquerda que valorizava o nacional-popular como única ferramenta de valorizar a brasilidade, uma arte autêntica, afastada da cultura da grande potência, vista como símbolo máximo do ca-pitalismo, principalmente após a polarização deixada pela Guerra Fria. Assim como sofreu

críticas da esquerda engajada, a Tropicália também foi criticada e censurada pela direita, como um movimento de excessos semelhantes à cultura hippie. Este movimento não foi tão homogêneo e seus anseios eram diferentes dos revolucionários da arte engajada. Por fim, a conclusão se faz sobre a base de que havia um plano revolucionário para mo-dificar as estruturas da sociedade brasileira, es-tava uma parte da sociedade comprometida em lutar mais do que contra um regime tirânico, mas contra uma estrutura capitalista de subde-senvolvimento e os artistas intelectuais3 engaja-dos, com sua complexidade cultural, se faziam presentes na constante luta por essa mudança. Os revolucionários foram derrotados perante as armas, mas saíram fortificados perante o legado que deixaram para a brasilidade.

3À partir das definições de Michael Löwy (1979:1) entendemos como intelectualidade uma “categoria social definida por seu papel ideológico: eles são os produtores da esfera ideológica, os criadores de produtos ideológico-culturais”, uma classe de “escritores, artistas, poetas, filósofos, sábios, pesquisadores, publicistas, teólogos, certos tipos de jornalistas, certos tipos de professores e estudantes etc.”.

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Referências bibliográficas7.

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LÖWY, Michael. 6. Romantismo e política. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1993. 98p.

LÖWY, Michael. 7. Por uma sociologia dos intelectuais revolucionários. São Paulo, Ciências Humanas, 1979.

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NAPOLITANO, Marcos. 9. A arte engajada e seus públicos. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, n. 28, p. 1-21. 2001.

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_______. 12. A música popular brasileira (MPB) dos anos 70: resistência política e consumo cultural. In: Actas del IV Congresso Latinoamericano de la Asociación para el Estúdio de la Música Popular, 2002.

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________. 14. Historiografia, memória e história do regime militar brasileiro. In: Revista Sociologia Política, Curitiba, n. 23, p. 193-196, nov. 2004.

________. 15. “Hoje preciso refletir um pouco”: ser social e tempo histórico na obra de Chico Buarque de Hollanda – 1971/1978. In: Revista História, São Paulo, n. 22, p. 115-134, 2003.

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RIDENTI, Marcelo. 17. Em busca do povo brasileiro: artistas da revolução, do CPC à era da tv. Rio de Janeiro: Record, 2000. 458 p.

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________. 19. Intelectuais e romantismo revolucionário. São Paulo Perspectiva, São Paulo, v. 15, n. 2, abr.- jun. 2001.

VELOSO, Caetano. 20. Verdade tropical. São Paulo: Cia. Das Letras, 1997. 524 p.

Endereço para Correspondência:

Rafael Willian [email protected]

Centro Universitário de Volta Redonda – UniFOAAv. Paulo Erlei Alves Abrantes, nº 1325Três Poços, Volta Redonda - RJCEP 27240-560.

Informações bibliográficas:Conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto científico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma:CLEMENTE, Rafael Willian. Eram os Revolucionários Românticos? O Romantismo Revolucionário em meio à arte engajada no período pós-1964. Cadernos UniFOA. Volta Redonda, Ano V, n. 13, agosto 2010. Disponível em: <http://www.unifoa.edu.br/cadernos/edicao/13/77.pdf>

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Instruções para Autores

Cadernos UniFOA é uma publicação quadrimestral arbitrada. Visa sustentar um espa-ço editorial de natureza inter e multidisciplinar. Publica prioritariamente pesquisas originais e contribuições de caráter descritivo e interpreta-tivo, baseadas na literatura recente, bem como artigos sobre temas atuais ou emergentes e co-municações breves sobre temas relevantes e inéditos desenvolvidos em nível de Graduação, e Pós-graduação Lato e Stricto Sensu. Seleção de artigos: na seleção de ar-tigos para publicação, avaliam-se a originalida-de, a relevância do tema e a qualidade da meto-dologia científica utilizada, além da adequação às normas editoriais adotadas pelo periódico. Revisão por pareceristas: todos os artigos publicados são revisados por parece-ristas resguardado o anonimato dos autores para uma avaliação mais acurada. Ineditismo do material: o conteúdo do material enviado para publicação na Revista Cadernos UniFOA não pode ter sido publicado anteriormente, nem submetido para publicação em outros locais. Para serem publicados em ou-tros locais, ainda que parcialmente, necessitam aprovação por escrito dos Editores. Os concei-tos e declarações contidos nos trabalhos são de total responsabilidade dos autores. Direitos Autorais: ao encaminhar um original à revista, os autores devem estar cientes de que, se aprovado para publicação, os direitos autorais do artigo, incluindo os de reprodução em todas as mídias e formatos, de-verão ser concedidos exclusivamente para a Revista Cadernos UniFOA. Para tanto é soli-citado ao autor principal que assine declaração sobre o Conflito de interesses e Transferência de Direitos Autorais e envie para Editora FOA - Campus Três Poços - Av. Paulo Erlei Alves Abrantes, nº 1325, Três Poços, Volta Redonda - RJ. CEP: 27240-560. (Conferir anexo).

Serão aceitos trabalhos para as seguintes seções:

(1) Revisão - revisão crítica da literatura sobre temas pertinentes à saúde pública (máximo de 10.000 palavras); (2) Artigos - resultado de pesquisa de natureza empírica, experimental ou conceitual (máximo de 10.000 palavras); (3) Notas - nota prévia, relatando resultados parciais ou preliminares de pesquisa (máximo de 2.000 palavras); (4) Resenhas - resenha crítica de livro relacionado ao campo temático de CSP, publicado nos últimos dois anos (máximo de 1.200 palavras); (5) Cartas - crítica a artigo publicado em fascículo anterior do Cadernos UniFOA – Pós-graduação ou nota curta, relatando observações de campo ou laboratório (máximo de 1.200 palavras); (6) Artigos especiais – os interessados em contribuir com artigos para estas seções

deverão consultar previamente o Editor: (7) Debate - artigo teórico que se faz acompanhar de cartas críticas assinadas por autores de diferentes instituições, convidados pelo Editor, seguidas de resposta do autor do artigo principal (máximo de 6.000 palavras); (8) Fórum - seção destinada à publicação de 2 a 3 artigos coordenados entre si, de diferentes autores, e versando sobre tema de interesse atual (máximo de 12.000 palavras no total). O limite de palavras inclui texto e referências bibliográficas (folha de rosto, resumos e ilustrações serão considerados à parte).

Apresentação do Texto:

Serão aceitas contribuições em português ou inglês. O original deve ser apresentado em espaço duplo e submetido eletronicamente, fonte Arial ou Times New Roman, tamanho 12, com margens superiores de 3,0 cm e as demais em 2,5 cm. Entre linhas deve-se respeitar o espaçamento de 2,0 cm. Deve ser enviado com uma página de rosto, onde constará título completo (no idioma original e em inglês) e título corrido, nome(s) do(s) autor(es) e da(s) respectiva(s) instituição(ões) por extenso, com endereço completo apenas do autor responsável pela correspondência. Notas de rodapé não serão aceitas.

Ilustrações: as figuras deverão ser enviadas em alta qualidade, em preto-e-branco e/ou diferentes tons de cinza e/ou hachuras. Os custos adicionais para publicação de figuras em cores serão de total responsabilidade dos autores. É necessário o envio dos gráficos, separadamente, no formato do programa em que foram gerados (SPSS, Excel, Harvard Graphics etc.), acompanhados de seus parâmetros quantitativos, em forma de tabela e com nome de todas as variáveis. Também é necessário o envio de mapas no formato WMF, observando que os custos daqueles em cores serão de responsabilidade dos autores. O número de tabelas e/ou figuras deverá ser mantido ao mínimo (máximo de sete tabelas e/ou figuras). Resumos: Com exceção das contribuições enviadas às seções Resenha ou Cartas, todos os artigos submetidos em português deverão ter resumo na língua principal e em inglês. Os artigos submetidos em inglês deverão vir acompanhados de resumo em português, além do abstract em inglês. Os resumos não deverão exceder o limite de 500 palavras e deverão ser acompanhados de 3 a 5 palavras-chave. Nomenclatura: devem ser observadas rigidamente as regras de nomenclatura zoológica e botânica, assim como abreviaturas e convenções adotadas nas disciplinas especializadas. Pesquisas envolvendo seres humanos: A publicação de artigos que trazem resultados

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de pesquisas envolvendo seres humanos está condicionada ao cumprimento dos princípios éticos contidos na Declaração de Helsinki (1964, reformulada em 1975, 1983, 1989, 1996 e 2000), da World Medical Association (http://www.wma.net/e/policy/b3.htm), além do atendimento a legislações específicas (quando houver) do país no qual a pesquisa foi realizada. Artigos que apresentem resultados de pesquisas envolvendo seres humanos deverão conter uma clara afirmação deste cumprimento (tal afirmação deverá constituir o último parágrafo da seção Metodologia do artigo). Em caso de dúvida e em não havendo Comitê especializado na IES de origem, o(s) autor(res) pode(m) entrar em contato com [email protected] (Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos) para maiores esclarecimentos e possível envio da pesquisa para avaliação neste. Agradecimentos - Contribuições de pessoas que prestaram colaboração intelectual ao trabalho como assessoria científica, revisão crítica da pesquisa, coleta de dados entre outras, mas que não preencham os requisitos para participar de autoria devem constar dos “Agradecimentos”. Também podem constar desta parte agradecimentos a instituições pelo apoio econômico, material ou outros. Referências: as referências devem ser identificadas indicando-se autor(es), ano de publicação e número de página, quando for o caso. Todas as referências devem ser apresentadas de modo correto e completo. A veracidade das informações contidas na lista de referências é de responsabilidade do(s) autor(es) e devem seguir o estabelecido pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).

Exemplos:

1 Livro:MOREIRA FILHO, A. A. Relação médico paciente: teoria e prática. 2. ed. Belo Horizonte: Coopmed Editora Médica, 2005.

2 Capítulo de Livros:RIBEIRO, R. A.; CORRÊA, M. S. N. P.; COSTA, L. R. R. S. Tratamento pulpar em dentes decíduos. In:CORRÊA, M. S. N. P. Odontopediatria naprimeira infância. 2. ed. São Paulo: Santos, 2005. p. 581-605.

3 Dissertação e Tese:EZEQUIEL, Oscarina da Silva. Avaliação da acarofauna do ecossitema domiciliar no município de Juiz de Fora, estado de Minas Gerais, Brasil. 2000. Dissertação (Mestrado em Biologia Parasitária)___FIOCRUZ, Instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2000.CUPOLILO, Sonia Maria Neumann. Reinfecção por Leishmania L amazonensis no

modelo murino: um estudo histopatológico e imunohistoquímico. 2002. Tese (Doutorado em Patologia)___FIOCRUZ, Instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2002.

4 Artigos:ALVES, M. S.; RILEY, L. W.; MOREIRA, B. M. A case of severe pancreatitis complicated by Raoultella planticola infection. Journal of Medical Microbiology, Edinburgh, v. 56, p. 696-698, 2007.COOPER, C. W.; FALB, R. D. Surgical adhesives. Annals of the New York Academy of Sciences, New York, v. 146, p. 214-224, 1968.

5 Documentos eletrônicos:INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER (Brasil). Estimativa 2006: incidência de câncer no Brasil. Rio de Janeiro, 2006. Disponível em: <http://www.inca.gov.br/ >. Acesso em 4 ago. 2007.

Envio de manuscritos:Os artigos devem ser enviados exclusivamente para o seguinte endereço eletrônico: [email protected] adicionais, devem ser enviados para UniFOA - Campus Universitário Olezio Galotti - Av. Paulo Erlei Alves Abrantes, nº 1325, Três Poços, Volta Redonda - RJ. CEP: 27240-560 – Prédio 15 –EDITORA FOA.

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Instructions For Authors

UniFOA Reports is a six-monthly journal that publishes original publishes ori-ginal research and contributions of descriptive character, based in recent literature, as well as articles on current or emergent subjects and brief communications on developed excellent and unknown subjects in level of Lato and Stricto Sensu pos graduation programs. The journal accepts articles for the following sections: (1) Literature reviews - critical reviews of the literature on themes pertaining to public health (maximum 10,000 words); (2) Articles - results of empirical, ex-perimental, or conceptual research (maximum 8,000 words); (3) Research notes - short com-munications on partial or preliminary resear-ch results (maximum 2,000 words); (4) Book reviews - critical reviews of books related to the journal’s thematic field, published in the last two years (maximum 1,200 words); (5) Letters - critiques of articles published in previous issues of the journal or short notes reporting on field or laboratory observations (maximum 1,200 words); (6) Special arti-cles - authors interested in contributing arti-cles to this section should consult the Editor in advance; (7) Debate - theoretical articles accompanied by critiques signed by authors from different institutions at the Editor’s invi-tation, followed by a reply by the author of the principal article (maximum 6,000 words); and (8) Forum - section devoted to the publication of 2 or 3 interrelated articles by different au-thors, focusing on a theme of current interest (maximum 12,000 words for the combined ar-ticles). The above-mentioned maximum word limits include the main text and biblio-graphic references (the title page, abstracts, and illustrations are considered separately). Presentations of Papers

Contributions in Portuguese or En-glish are welcome. The original should be dou-ble-spaced and submitted eletronically, using Arial or Times New Roman size 12 font with 2.5cm margins. All manuscripts should be sub-mitted with a title page, including the comple-te title (in the original language and English) and running title, name(s) of the author(s) and institutional affiliation(s) in full and the com-plete address for the corresponding author only. All manuscripts should be submitted with a diskette or CD containing the article’s file and identifying the software program and version used (Windows-compatible programs only). Footnotes will not be accepted. Authors are required to send a letter informing whether the article is being submitted for the first time or re-submitted to our Secretariat.

When sending a second version of the article, one print copy should be sent, to-gether with the diskette or CD. Illustrations: figures should be sent in a high-quality print version in black-and-white and/or different tones of gray and/or ha-chure. Any additional cost for publication of color figures will be covered entirely by the author(s). Graphs should be submitted sepa-rately in the format of the program in which they were generated (SPSS, Excel, Harvard Graphics, etc.), accompanied by their quanti-tative parameters in table form and with the names of all the variables. Maps should also be submitted in WMF format, and the cost of colored maps will be covered by the author(s). Maps that have not been generated electroni-cally must be submitted on white paper (do not use tracing paper). Tables and/or figures should be kept to a minimum (maximum se-ven tables and/or figures). Abstracts: with the exception of contributions submitted to the Book review or Letters sections, all manuscripts submitted in Portuguese should include an abstract in both the principal language and English. Articles submitted in English should include an abs-tract in Portuguese, in addition to the English abstract. The abstracts should not exceed 250 words and should include 3 to 5 key words. Nomenclature: rules for zoological and botanical nomenclature should be strictly followed, as well as abbreviations and con-ventions adopted by specialized disciplines. Research involving Ethical Princi-ples: publication of articles with the results of research involving human beings is conditio-ned on the ethical principles contained in the Helsinki Declaration (1964, revised in 1975, 1983, 1989, 1996, and 2000), of the World Medical Association (http://www.wma.net/e/policy/b3.htm), in addition to complying with the specific legislation (when existing) of the country in which the research was performed. Articles presenting the results of research in-volving human beings must contain a clear statement of such compliance (this statement should be the last paragraph of the article’s Methodology section). After acceptance of the article for publication, all the authors are re-quired to sign a form provided by the Editorial Secretariat of UniFOA Reposts – Pos gradua-tion stating their full compliance with the spe-cific ethical principles and legislation. Acknowledgements: Contributions of people, grants and institutions must consist the section of Acknowledgements. Declaration: the main author must send, by post office, declaration on the Con-flict of Interests and Transference of Copyri-ghts.

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References

References should be numbered con-secutively according to the order in which they appear in the manuscript. They should be identified by superscript Arabic numerals (e.g., Oliveira1). References cited only in ta-bles and figures should be numbered accor-ding to the last reference cited in the body of the text. Cited references should be listed at the end of the article in numerical order. All references should be presented in correct and complete form. The veracity of the informa-tion contained in the list of references is the responsibility of the author(s).

Examples:

a) Periodical articlesHedberg B, Cederborg AC, Johanson M. Care-planning meetings with stroke sur-vivors: nurses as moderators of the com-munication. J Nurs Manag, 15(2):214-21, 2007.b) Institution as authorEuropean Cardiac Arrhythmia Society - 2nd Annual Congress, April 2-4, 2006, Marseille, France.Pacing Clin Electrophysiol. Suppl 1:S1-103, 2006.c) Without author specificationRubitecan: 9-NC, 9-Nitro-20(S)-campto-thecin, 9-nitro-camptothecin, 9-nitrocamp-tothecin, RFS 2000, RFS2000. Drugs R D. 5(5):305-11, 2004.d) Books and other monographsFREIRE P e SHOR I. Medo e ousadia – O cotidiano do professor. 8 ed. Rio de Janei-ro: Ed. Paz e Terra, 2000. · Editor or organizer as authorDuarte LFD, Leal OF, organizers. Doen-ça, sofrimento, perturbação: perspectivas etnográficas. Rio de Janeiro: Editora Fio-cruz; 1998.· Institution as author and publisherInstitute of Medicine recommends new P4P system for Medicare. Healthcare Benchma-rks Qual Improv., 13(12):133-7, 2006.

e) Chapter of bookAggio A. A revolução passiva como hipó-tese interpretativa da história política lati-no- americana. In: Aggio, Alberto (org.). Gramsci: a vitalidade de um pensamento. São Paulo: Unesp, 1998.f) Events (conference proceedings)Vitti GC & Malavolta E. Fosfogesso - Uso Agrícola. In: Malavolta E, Coord., SEMI-NÁRIO SOBRE CORRETIVOS AGRÍ-COLAS. Campinas,SP. Fundação Cargill, p. 161-201, 1985.g) Paper presented at an eventBengtson S, Solheim BG. Enforcement of data protection, privacy and security in me-

dical informatics. In: Lun KC, Degoulet P, Piemme TE, Rienhoff O, editors. MEDIN-FO 92. Proceedings of the 7th World Con-gress on Medical Informatics; 1992 Sep 6-10; Geneva, Switzerland. Amsterdam: North Holland; 1992. p. 1561-5.h) Theses and dissertationsRodriques GL. Poeira e ruído na produção de brita a partir de basalto e gnaisse nas regiões de Londrina e Curitiba, Paraná: Incidência sobre os trabalhadores e Meio Ambiente. Tese (Doutorado). Universidade Federal do Paraná.Curitiba, 2004.i) Other published work· Journal articleLee G. Hospitalizations tied to ozone pollution: study estimates 50,000 admis-sions annually. The Washington Post 1996 Jun 21; Sect. A:3.· Legal documentsMTE] Ministério do Trabalho e Emprego. Secretaria de Segurança do Trabalho. Por-taria N°. 25 de 29/12/1994. Norma Regu-lamentadora N° 9: Programas de Preven-ção de Riscos Ambientais.

j) Electronic material· CD-ROMSeverino LS, Vale LS, Lima RLS, Silva MIL, Beltrão NEM, Cardoso GDC. Repi-cagem de plântulas de mamoneira visan-do à produção de mudas. In: I Congresso Brasileiro de Mamona - Energia e Susten-tabilidade (CD-ROM). Campina Grande: Embrapa Algodão, 2004· InternetUMI ProQuest Digital Dissertations. Dis-ponível em: <http://wwwlib.umi.com/dis-sertations/>. Acesso em: 20 Nov. 2001.

The articles must be sent for the follo-wing electronic address: [email protected] (declaration, photos, maps), must be sent to UniFOA - Campus Universitário Olezio Galotti - Av. Paulo Erlei Alves Abran-tes, nº 1325, Três Poços, Volta Redonda - RJ. CEP: 27240-560 – A/C Núcleo de Pesquisa/NUPE.

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Permutas Institucionais informações sobre [email protected]

ABMES - Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior – Brasília/DF

ANGRAD - Associação Nacional dos Cursos de Graduação em Administração - Duque de Caxias/RJ

Centro de Ensino Superior de Jatí - Jataí/GO

Centro Universitário Assunção - São Paulo/SP

Centro Universitário Claretiano - Batatais/SP

Centro Universitário de Barra Mansa - Barra Mansa/RJ

Centro Universitário de Goiás - Goiânia/GO

Centro Universitário Evangélica - Anápolis/GO

Centro Universitário Feevale - Novo Hamburgo/RS

Centro Universitário Leonardo da Vinci - Indaial/SC

Centro Universitário Moura Lacerda - Riberão Preto/SP

Centro Universitário Paulistano - São Paulo/SP

Centro Universitário São Leopoldo Mandic - Campinas/SP

CESUC - Centro Superior Catalão - Catalão/GO

CESUPA - Centro de Ensino Superior do Pará - Belém/PA

EBAPE - Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas - Rio de Janeiro/RJ

Escola de Serviço Social da UFRJ - Rio de Janeiro/RJ

FABES - Faculdades Bethencourt da Silva - Rio de Janeiro/RJ

FACESM - Faculdade de Ciencias Sociais Aplicadas do Sul de Minas - Itajubá/MG

FACI- Faculdade Ideal - Belém/PA

Facudade 2 de Julho - Salvador/BA

Facudades Integradas de Cassilândia - Cassilândia/MS

Faculdade Arthur Sá - Petrópolis/RJ

Faculdade de Ciências - Bauru/SP

Faculdade de Direito de Olinda - Olinda/PE

Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas - UFBA - Salvador/BA

Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro - Uberaba/MG

Faculdade de Minas - Muriaé/MG

Faculdade de Pimenta Bueno - Pimenta Bueno/RO

Faculdade de Tecnologia e Ciência - Salvador/BA

Faculdade Internacional de Curitiba - Curitiba/PR

Faculdade Metodista IPA - Porto Alegre/RS

Faculdade SPEI - Curitiba/PR

Faculdades Guarapuava - Guarapuava/PA

Faculdades Integradas Antônio Eufrásio de Toledo - Presidente Prudente/SP

Faculdades Integradas Curitiba - Curitiba/PR

Faculdades Integradas de Cassilândia - Cassilândia/MS

Faculdades Integradas do Ceará - Fortaleza/CE

Faculdades Integradas Torricelli - Guarulhos/SP

Faculdades Santa Cruz - Curitiba/PR

FAFICH - Universidade Federal de Minas Gerais - Belo Horizonte/MG

FAFIJAN - Faculdade de Jandaia do Sul - Jandaia do Sul/PA

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FAFIL - Filadélfia Centro Educacional - Santa Cruz do Rio Pardo/SP

FAPAM - Faculdade de Pará de Minas - Pará de Minas/MG

FCAP: Faculdade de Ciências da Administração de Pernambuco - Recife/PE

FECAP - Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado - São Paulo/SP

FGV - Fundação Getúlio Vargas - Rio de Janeiro/RJ

FOCCA - Faculdade Olindense de Ciências Contábeis e Administrativas - Olinda/PE

FUNADESP - Fundação Nacional de Desenvolvimento do Ensino Superior Particular - Brasília/DF

Fundação Educacional de Patos de Minas - Patos de Minas/MG

Fundação Santo André - Santo André/SP

Fundação Universidade Federal do Rio Grande do Sul - Rio Grande/RS

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - Centro de Documentação e Disseminação

de Informações - Rio de Janeiro/RJ

Instituição São Judas Tadeu - Porto Alegre/RS

Instituto Catarinense de Pós-Graduação -Blumenau/SC

Instituto de Administração do Rio de Janeiro - IARJ - Tijuca/RJ

Instituto de Estudo Superiores da Amazônia - Belém/PA

Instituto Municipal de Ensino Superior - São Caetano/SP

Mestrado em Integração Latino-Americana - Santa Maria/RS

MPF - Ministério Público Federal - Brasília/DF

MPRJ - Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro - Rio de Janeiro/RJ

Organização Paulista Educacional e Cultural - São Paulo/SP

PUC - Campinas: Pontifícia Universidade Católica - Campinas/SP

PUC - SP: Pontifícia Universidade Católica - Campinas/SP

TCE - Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais - Belo Horizonte/MG

The U.S. Library Of Congress Office - Washington, DC/USA

TJ - Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro - Rio de Janeiro/RJ

TRF - Tribunal Reginal Federal - RJ - Rio de Janeiro/RJ

Ucam - Universidade Cândido Mendes - Rio de Janeiro/RJ

UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro - Rio de Janeiro/RJ

UFF - Universidade Federal Fluminense - Niterói/RJ

UGB - Faculdades Integradas Geraldo Di Biase - Volta Redonda/RJ

UNB - Universidade de Brasília - Brasília/DF

UNIABEU - Assossiação de Ensino Superior - Belford Roxo/RJ

União das Faculdades de Alta Floresta - Alta Floresta/MT

Unibrasil - Faculdades Integradas do Brasil - Curitiba/PR

Unicapital - Centro Universitário Capital - São Paulo/SP

Unicastelo - Universidade Camilo Castelo Branco - São Paulo/SP

UNIDERP - Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal - Campo Grande/MS

UNIFAC - Assossiação de Ensino de Botucatu - Botucatu/SP

Unifeso - Centro Universitário da Serra dos Órgãos - Teresópolis/RJ

UniNilton Lins - Centro Universitário Nilton Lins - Amazonas/AM

Uninove - Universidade Nove de Julho - Vila Maria/SP

Permutas Institucionais informações sobre [email protected]

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Formando para vida.

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