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5ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE ÁGUAS LINDAS DE GOIÁS
EXMO. SR. JUIZ DE DIREITO DA VARA DAS FAZENDAS PÚBLICAS DA COMARCA DE ÁGUAS LINDAS DE GOIÁS
Distribuição por dependência em relação
à ação de busca e apreensão nº
201203842729
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, por
sua Promotora de Justiça signatária, vem, perante Vossa Excelência, no uso de
suas atribuições legais, com lastro nos artigos 127, 129, III e 37, caput e incisos
XXI da Constituição Federal, artigos 117, III e 92, inciso XXI, da Constituição
Estadual, art. 17 da Lei n.º 8.429/92, com fulcro no inquérito civil autuado sob o
nº 201200300131, propor a presente
AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA
em face de
GERALDO MESSIAS DE QUEIROZ, brasileiro, casado,
técnico em contabilidade, RG 1029314 SSP/DF, CPF nº
457.320.356-72, residente na residente na AV4-A e AV4-B, da
quadra 89, Conjunto A, Setor 11, situado no Loteamento
Parque da Barragem, nesta Cidade;
5ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE ÁGUAS LINDAS DE GOIÁS
JAIR ESTEVES MACHADO JÚNIOR, brasileiro, divorciado,
advogado, CPF 313.058.491-91, residente e domiciliado em R
12 Chac 144 Casa C 10, Residencial Solarium Vicente Pires,
Cep 72007520, Brasilia - Df;
JOSÉ BONIFÁCIO DA SILVA MELO, brasileiro, casado,
servidor público municipal, RG 606654 SSP/DF, CPF
121.983.403-30, residente na quadra 16, lote 13, Camping
Clube, nesta Cidade;
HELDER MORATO AXHCAR, brasileiro, casado, RG 451395
SESPDS/DF, CPF 150.159.041-34, residente na Colônia
Agrícola Vicente pires, chácara 307, lote 28, Vicente Pires/DF,
com domicílio profissional no Posto ALE, Águas Lindas de
Goiás, Setor 06, nas proximidades do Supermercado
Rodrigues;
MARCOS ANTONIO DOMINGOS, brasileiro, filho de Nair
Gonçalves Domingos, nascido em 24/04/1967, CPF
256.068.401-20, residente na Qd Smt Conjunto 02, Casa 4,
Taguatinga Taguatinga, Cep 72000000 Brasília – DF;
AUGUSTO PEREIRA GOMES NETO, brasileiro, divorciado,
RG 4853352 SSP/GO, CPF 489.491.403-49, residente na
quadra 100, casa 07, Cidade Jardim, nesta Cidade;
ÂNGELO CHAVES DE QUEIROZ, brasileiro, solteiro,
5ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE ÁGUAS LINDAS DE GOIÁS
administrador, RG 031346 SSP/DF, CPF 400.565.201-82,
residente e domiciliado na quadra 27, conjunto A, lote 05,
Setor 3, Parque da Barragem, nesta Cidade;
EVERALDO RAMIRO DA SILVA, brasileiro, divorciado,
identidade 1383891 SSP/DF, CPF 564.647.971-15, com
endereço na quadra 21, lote 05, Jardim Brasília, nesta Cidade,
em razão dos fatos e fundamentos a seguir articulados:
1 – DOS FATOS
O Município de Águas Lindas de Goiás, durante a gestão do primeiro
réu, Geraldo Messias de Queiroz, como Prefeito, no período de 2009 a 2012,
promoveu inúmeras doações de imóveis públicos, em total dissonância aos ditames
legais, provocando grave prejuízo ao erário municipal, valendo-se, para isso, da
Lei nº 571/2006, conhecida como Lei do PROMUDE.
Esta Lei Municipal tinha como premissa propiciar a promoção do
desenvolvimento industrial e comercial, por meio de doações condicionadas de
imóveis públicos e concessão de incentivos fiscais a empresas particulares, que
ficariam responsáveis pela geração de empregos e renda para o Município.
No inquérito civil que tramitou nesta Promotoria de Justiça (Autos nº
201200300131), que segue anexo a esta, apurou-se que, utilizando-se da Lei nº
571/2006 (Lei do Promude), os seis primeiros Réus, GERALDO MESSIAS
QUEIROZ, JAIR ESTEVES MACHADO JÚNIOR, JOSÉ BONIFÁCIO DA SILVA
MELO, HELDER MORATO AXHCAR, MARCOS ANTONIO DOMINGOS e
5ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE ÁGUAS LINDAS DE GOIÁS
AUGUSTO PEREIRA GOMES NETO, uniram esforços para dilapidar o
patrimônio do Município e agraciar pessoas que eram de seu interesse
pessoal, efetuando doações de áreas públicas, sem realização de qualquer
procedimento licitatório ou transparência na escolha dos beneficiários.
As doações ilegais que estavam sendo praticadas pelo
Município foram denunciadas ao Ministério Público por Severino João
Ramos, servidor municipal lotado na Secretaria de Habitação e Regularização
Fundiária. No depoimento prestado por ele ao Ministério Público relatou
que, os interessados em se beneficiar com o programa PROMUDE abriam
um CNPJ usando próprio computador da Secretaria de Habitação
Municipal, acessando o Portal do Empreendedor Individual, com a
finalidade de obter CNPJ e, no mesmo dia já, eram beneficiadas pelo
Programa PROMUDE.
Então, era lavrada uma escritura pública de doação
condicionada, na qual o imóvel passava a ser escriturado em nome do
beneficiário e poucos dias depois, era encaminhada uma carta de
anuência, algumas assinadas pelo ex-prefeito Geraldo Messias de Queiroz
(constantes no Anexo III e IV do inquérito civil) e outras pelo Procurador
do Município à época (fls. 811 e 836 dos autos principais do inquérito
civil), declaravam que a empresa havia cumprido todos as obrigações constantes
na escritura pública de doação condicionada e determinava que o Cartório
retirasse as cláusulas de obrigações e reversibilidade ao patrimônio
público, momento em que o imóvel passava a ser livre e desembaraçado.
Após este ato, muitos imóveis foram alienados pelos
beneficiários a terceiros, o que é inadmissível, pois as doações tinham a
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natureza jurídica de incentivo material para que a empresa beneficiária se
mantivesse funcionando no Município, para atender à finalidade descrita
no art. 1º, da Lei 571/2006, que era a industrialização, urbanização e a
geração de emprego e renda.
Em inspeção realizada in locu pelos Oficiais de Promotoria
desta Cidade, averiguou-se que de todos os imóveis doados pelo
Município, apenas dois deles mantém empresa em funcionamento. A maior
parte dos imóveis são áreas vazias sem funcionamento de qualquer
empresa.
Conforme bem demonstram os documentos anexados aos autos do
Inquérito Civil, o primeiro Réu, GERALDO MESSIAS DE QUEIROZ, com o auxílio
dos outros cinco Réus, JAIR ESTEVES MACHADO JÚNIOR, JOSÉ BONIFÁCIO DA
SILVA MELO, HELDER MORATO AXHCAR, MARCOS ANTONIO DOMINGOS e
AUGUSTO PEREIRA GOMES NETO, promoveram a alienação indiscriminada de
um total de 136 (cento e trinta e seis) imóveis públicos (fls. 519/526),
com indevida dispensa de licitação, sem avaliação prévia e, poucos dias
depois, em relação a 98 (noventa e oito) imóveis retiraram qualquer
gravame e a cláusula de reversibilidade, aduzindo que o beneficiário teria
cumprido todos os requisitos da Lei do PROMUDE (entre os quais geração
de emprego e renda na Cidade), contudo o que se constatou é que em
98% (noventa e oito por cento) dos imóveis sequer existe empresa
construída, estando alguns imóveis apenas murados e a maioria
abandonados, conforme se verifica nas certidões dos oficiais de
promotoria que se encontram no anexo III e IV, do inquérito civil nº
201200300131.
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Averiguou-se nos autos do inquérito civil, que houve uma verdadeira
festa de doações, tendo sido até mesmo desvirtuada a própria natureza dessas
doações, que deveriam ter sido somente em favor de pessoas jurídicas, para
beneficiar quem era do interesse dos Requeridos, em total afronta à
Constituição Federal, à Lei nº 8.666/93, a Lei 6.766/79 e à própria Lei do
Promude.
Apurou-se que entre os beneficiários das doações do
PROMUDE, 07 (sete) pessoas físicas foram agraciadas, entre as quais o
irmão do próprio GERALDO MESSIAS DE QUEIROZ, ANGELO CHAVES DE
QUEIROZ, último réu, que recebeu dois imóveis, conforme será melhor
delineado adiante.
Averiguou-se também que também foi agraciado o candidato a
vice-Prefeito na chapa em que Geraldo Messias de Queiroz concorria à
reeleição (fls. 794/796), de nome Everaldo Ramiro da Silva (fls.
744/747), o qual é proprietário da empresa LML MAGAZINE E PROMOÇÕES
DE VENDAS LTDA (fls. 596 do inquérito civil). Em seu depoimento (fls.
755/759) o próprio Everaldo confirmou que efetuou um ato de simulação
de venda para sua companheira para conseguir liberação de valores de
financiamento junto à Caixa Econômica Federal.
Evidente que esses atos praticados pelo ex-gestor do Município e seus
aliados, tiverem por finalidade, tão somente, dilapidar o patrimônio público para
atender a interesses privados, beneficiando pessoas e empresas, fazendo novos
aliados políticos, sem qualquer preocupação com o princípio da supremacia do
interesse público, e os princípios constitucionais da legalidade, impessoalidade e
moralidade, descritos no art. 37, caput, da Carta Magna.
5ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE ÁGUAS LINDAS DE GOIÁS
Diante da constatação de desrespeito a diversas normas legais que as
doações eivadas de vícios insanáveis e, devido ao excessivo número de imóveis,
este órgão ministerial propôs 31 (trinta e uma) ações de desconstituição de ato
jurídico com o objetivo de reaver os imóveis ao patrimônio do Município, conforme
tabela a seguir:
PETIÇÃO 01 - Autos Judiciais:
201401502101
Imóveis de matrículas 13.770 e 13.726
PETICÃO 02 Autos judiciais 201401508698
Imóveis de matrículas 42449, 39265, 42448
PETIÇÃO 3 – autos judicias 201401508949
Imóveis de matrículas 42861, 43296, 42709, 13767, 13725
PETIÇÃO 4 - Autos Judiciais: 201401503122
Imóveis de matrículas 13736,13759, 13760, 13764, 13737
PETIÇÃO 5 - Autos Judiciais:
201401508388
Imóveis de matrículas 13755, 13727,
13724
PETIÇÃO 6 – Autos judiciais: 201401518472
13751, 13766, 13728, 13765, 13763
PEITÇÃO 7 - Autos Judiciais: 201401526602
Imóveis de matrículas 13721, 42872, 13710, 13709
PETIÇÃO 8 - Autos Judiciais:
201401516100
Imóveis de matrículas 13741, 13754,
13730
PETIÇÃO 9 - Autos Judiciais: 201401503270
Imóveis de matrículas 3849, 6128, 9312, 43298
PETIÇÃO 10 - Autos Judiciais: 20101532211
Imóveis de matrículas 5195, 41112, 43208
PETIÇÃO 11 - Autos Judiciais:
201401502240
Imóveis de matrículas 43096, 43097,
3652
PETIÇÃO 12 - Autos Judiciais: 201401515953
Imóveis de matrículas 13723, 13748, 13747, 6814
PETIÇÃO 13 - Autos Judiciais: 201401530634
Imóveis de matrículas 13718, 13719, 13720, 13722, 13706
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PETIÇÃO 14 - Autos Judiciais: 201401528877
Imóveis de matrículas 13712, 13703, 13735, 43703
PETIÇÃO 15 - Autos Judiciais:
201401508132
Imóveis de matrículas 13716, 13757
PETIÇÃO 16 - Autos Judiciais: 201401519932
Imóveis de matrículas 13702, 13711, 13715, 13744, 13745
PETIÇÃO 17 - Autos Judiciais: 201401509082
Imóveis de matrículas 13707, 13756
PETIÇÃO 18 – Autos judiciais:
201401527625
Imóveis de matrículas 13731, 13732,
13704
PETIÇÃO 19 – Autos judiciais: 201401527781
Imóveis de matrículas 13773, 13733, 42710
PETIÇÃO 20 - Autos Judiciais: 201401525517
Imóveis de matrículas 13713, 13739
PETIÇÃO 21 - Autos Judiciais:
201401517670
Imóveis de matrículas 13705, 13749
PETIÇÃO 22 - Autos Judiciais: 201401514175
Imóveis de matrículas 42700, 39085
PETIÇÃO 23 - Autos Judiciais: 201401515791
Imóveis de matrículas 3713, 3727, 42865, 43207
PETIÇÃO 24 - Autos Judiciais:
201401519460
Imóveis de matrículas 13742, 13743
PETIÇÃO 25 - Autos Judiciais: 201401514884
Imóveis de matrículas 13708, 13750
PETIÇÃO 26 - Autos Judiciais: 201401514868
Imóveis de matrículas 13740, 13738
PETIÇÃO 27 - Autos Judiciais:
201401528281
Imóveis de matrículas 43297, 14004,
13729
PETIÇÃO 28 - Autos Judiciais: 201401513527
Imóveis de matrículas 39263, 39264
PETIÇÃO 29 – Autos Judiciais:
201401504013
Imóveis de matrículas 42871, 43515,
44539
PETIÇÃO 30 – Autos judiciais
201401502240
Imóveis de matrículas 13752, 13717,
13762
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PETIÇÃO 31 - Autos Judiciais: 201401503548
Imóveis de matrículas 42014
As ações civis públicas citadas acima foram propostas em relação a todos os imóveis que já constavam em suas matrículas a averbação da alienação,
que totaliza 98 (noventa e nove) imóveis. Quanto aos imóveis que, apesar de ter sido lavrada escritura pública de doação condicionada, estes atos de alienação ainda não se encontravam averbados em suas matrículas, foi expedida a
recomendação nº 03/2014, para que o Município instaurasse ato administrativo para apurar a ilegalidade das doações, pelo princípio da autotutela dos atos
administrativos (fls. 573/575).
Em relação ao imóvel que foi beneficiado o Réu Ângelo Chaves
de Queiroz, foi proposta a ação civil pública de anulação de ato jurídico,
protocolada sob nº 201401513527. A área de cada um dos imóveis é de
13.330 metros quadrados (matrícula nº 39.263) e 3568,82 metros
quadrados (matrícula nº 39.264), situados na AV4-A e AV4-B, da Quadra
89, Conjunto 11, do loteamento denominado Parque da Barragem, cujos
locais são utilizados para a moradia do próprio GERALDO MESSIAS DE
QUEIROZ, conforme será melhor exposto a seguir.
No que diz respeito ao imóvel doado ao candidato a vice-
prefeito, Everaldo Ramiro da Silva, a ação civil pública para
desconstituição do ato de doação é de atribuição do Ministério Público
Federal, devido à Caixa Econômica Federal ter interesse no feito porque
constava como interveniente em financiamento imobiliário, motivo pelo
qual este órgão ministerial remeteu os documentos para apreciação
daquele órgão (fls. 594/600).
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2 – DO DIREITO
2.1) DA LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO:
A Carta Magna, em seu art. 127, incumbiu ao Ministério Público, o
dever de defender a ordem jurídica, o regime democrático, bem como os
interesses sociais e, em especial, os interesses difusos.
A Lei nº 8.625/93, em seu artigo 25, inciso IV, “a”, de igual modo,
preconiza o seguinte:
Art. 25. Além das funções previstas nas Constituições Federal
e Estadual, na Lei Orgânica e em outras leis, incumbe, ainda,
ao Ministério Público:
IV - promover o inquérito civil e a ação civil pública, na
forma da lei:
a) para a proteção, prevenção e reparação dos danos
causados ao meio ambiente, ao consumidor, aos bens e
direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e
paisagístico, e a outros interesses difusos, coletivos e
individuais indisponíveis e homogêneos;
A Ação Civil Pública é a via processual adequada para
responsabilizar o agente público que pratica ato improbidade administrativa, em
prejuízo de interesses difusos ou coletivos, sendo parte legítima o Ministério
Público, por expressa disposição do artigo 5º, inciso I da Lei nº 7.347/85.
5ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE ÁGUAS LINDAS DE GOIÁS
A partir do advento da Lei de Ação Civil Pública, em 1985, o
MINISTÉRIO PÚBLICO passou a ser o principal agente na defesa dos interesses
transindividuais, atuando como fiscal da lei, preservação da ordem jurídica e do
regime democrático, em especial, promovendo as medidas necessárias para
responsabilizar os agentes públicos que deixam de cumprir com o seu dever de
probidade e de observância aos princípios que devem reger a Administração
Pública.
Por isso, a Lei nº 8.429/92, através de seus artigos, 14, §2º, 15,
16, 17 e 22, também explicitam a legitimidade ativa do MINISTÉRIO PÚBLICO para
a ação judicial para responsabilizar o agente público que causa prejuízo ao
patrimônio público, seja material ou imaterial, com a imposição das sanções
previstas no artigo 12 da mesma lei.
2.2) DA LEGITIMIDADE PASSIVA
A Lei nº 8.429/92 prevê que se sujeitam às sanções por ato de
improbidade administrativa, tanto o agente público que praticou o ato, quanto os
particulares que induzam, concorram ou se beneficiem do ato de forma indireta ou
direta. (arts. 1º, 2º e 3º da Lei nº 8.429/92).
Os seis primeiros Requeridos praticaram os atos ora questionados na
condição de agentes públicos e executaram, diretamente, atos administrativos que
resultaram nas doações ilegais de imóveis públicos, bem como na retirada da
cláusula de reversibilidade que incidia sobre os imóveis, fazendo com que o bem
ficasse livre e desembaraçado, tendo ocorrido até mesmo diversas alienações pelos
donatários. GERALDO MESSIAS QUEIROZ era Prefeito, JAIR ESTEVES
5ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE ÁGUAS LINDAS DE GOIÁS
MACHADO JÚNIOR exercia a função de Procurador-Geral do Município,
JOSÉ BONIFÁCIO DA SILVA MELO exercia a função de Chefe do
Departamento de Fiscalização de Obras e Posturas, HELDER MORATO
AXHCAR era o Secretário de Habitação, MARCOS ANTONIO DOMINGOS era
o Secretário de Obras, AUGUSTO PEREIRA GOMES NETO exercia a função
de Assessor Técnico do PROMUDE. ÂNGELO CHAVES DE QUEIROZ foi
beneficiado com a doação de dois imóveis públicos que constituem,
justamente, o local de moradia do prefeito da época, que é seu irmão;
enquanto EVERALDO RAMIRO DA SILVA era candidato a vice-prefeito nas
eleições 2012, formando a chapa com GERALDO MESSIAS DE QUEIROZ
que era candidato à reeleição e, mesmo assim foi agraciado com imóvel
público pelo seu próprio parceiro de campanha.
2.3) DAS CONDUTAS ÍMPROBAS PRATICAS PELOS RÉUS
2.3.1) DA CONDUTA DE GERALDO MESSIAS DE QUEIROZ EM EFETUAR
DOAÇÃO DE DOIS IMÓVEIS AO SEU PRÓPRIO IRMÃO, ANGELO CHAVES DE
QUEIROZ, TENDO SE VERIFICADO QUE, NA VERDADE, O PRÓPRIO
GERALDO MESSIAS É O PROPRIETÁRIO DE FATO – documentos constam
no anexo III do inquérito civil
O último Réu, Ângelo Chaves de Queiroz é irmão de Geraldo
Messias de Queiroz e, durante a gestão deste como Prefeito, foi agraciado
com a doação de dois imóveis públicos, em seu próprio nome, como
pessoa física, embora a Lei do PROMUDE somente contemplasse como
beneficiário pessoa jurídica.
5ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE ÁGUAS LINDAS DE GOIÁS
Averiguou-se que o primeiro réu, GERALDO MESSIAS DE QUEIROZ,
assinou um contrato particular de concessão de direito real de uso do solo
em nome do Município com seu próprio irmão, último Réu, contudo na
ocasião em que encaminhou ofício ao cartório de registro de imóveis,
requereu a lavratura de escritura pública de doação, o que foi formalizado
pelo Oficial de Cartório à época, o qual atualmente já é falecido. Na ocasião, foi
averbada na matrícula dos imóveis ato de doação condicionada, a qual
descrevia que o imóvel estava sendo doado para instalar um distrito
industrial, com o encargo do donatário iniciar a obra em 90 dias e dar
início às atividades em 2 (dois) anos.
A escritura pública de doação foi assinada pelo próprio GERALDO
MESSIAS DE QUEIROZ, na condição de Prefeito, tendo como donatário seu próprio
irmão, em que foram doados os seguintes imóveis em favor de ÂNGELO CHAVES
DE QUEIROZ: a) Lote AV4-A, da quadra 89, Conjunto A, Setor 11, situado
no Loteamento Parque da Barragem, nesta Cidade, com área de 13.330
m², objeto da matrícula 39.263; b) Lote AV4-B, da quadra 89, Conjunto A,
Setor 11, situado no Loteamento Parque da Barragem, nesta Cidade, com
área de 3568,82 m², objeto da matrícula 39.264.
O valor do prejuízo ao erário em decorrência da doação dessas duas
áreas é superior a R$ 8.400.000,00 (oito milhões e quatrocentos mil reais), pois a
área total desses dois lotes é 16.898,82 m² e, calculando-se no valor do metro
quadrado da área mais desvalorizada de Águas Lindas de Goiás que gira em torno
de R$ 500,00 (quinhentos reais)
Não bastasse a própria ilegalidade da doação em si, tanto pela
inexistência de licitação e avaliação, como por beneficiar pessoa física
5ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE ÁGUAS LINDAS DE GOIÁS
parente do próprio gestor municipal, os Oficiais de Promotoria desta
Comarca estiveram nos imóveis objeto das doações e constataram que o
local é uma chácara residencial, a qual é utilizada para a moradia o ex-
prefeito Geraldo Messias de Queiroz, conforme certidões anexas.
Ao conceder entrevista perante a TVCMN, GERALDO MESSIAS
DE QUEIROZ admitiu que reside no imóvel que o Município doou ao irmão
dele, por meio de escritura pública assinada pelo próprio Geraldo Messias
(fls. 616), bem como pessoas inquiridas nesta Promotoria de Justiça
confirmaram que GERALDO MESSIAS DE QUEIROZ reside no imóvel (fls.
644; 649).
Além disso, embora o ato praticado de fato pela Administração
Municipal tenha sido uma doação condicionada, foi averbada no Cartório a
mando do ex-prefeito, GERALDO MESSIAS DE QUEIROZ, uma carta de
anuência representando o Município, a qual afirmava que o beneficiário
(seu irmão) teria cumprido todas as condições da doação e o imóvel (que
era construir em 30 dias e iniciar atividades empresariais em 2 anos).
A partir de então, o imóvel ficou livre e desembaraçado,
contudo o que se percebe é que nenhuma empresa funciona no local. O
imóvel foi escriturado para uma pessoa física, quando o objetivo da
suposta doação seria a formação de um distrito industrial.
Em relação a esses dois imóveis doados pelo ex-gestor ao seu próprio
irmão, constatou-se que a má-fé dos réus GERALDO MESSIAS DE QUEIROZ e
ANGELO CHAVES DE QUEIROZ é ainda mais cristalina, posto que já tramitava
5ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE ÁGUAS LINDAS DE GOIÁS
ação reivindicatória proposta pelo Município de Águas Lindas no ano de
2005, questionando a ocupação ilegal dessa área por parte de GERALDO
MESSIAS (Autos nº 200503896297).
Nos documentos que constam naqueles autos (anexo III do
inquérito civil), o Município alegava que GERALDO MESSIAS DE QUEIROZ
era invasor da área pública e havia construído no imóvel uma verdadeira
mansão que contempla casa, piscina, churrasqueira, campo de futebol e casa de
caseiro, conforme relatório emitido pela Secretaria de Habitação e Regularização
Fundiária, lavrado em 24 de maio de 2005.
Consta, inclusive fotografia do próprio GERALDO MESSIAS no
interior do imóvel, comprovando, claramente, que ele reside no imóvel
desde 2005, caracterizando a ocupação ilegal de área pública.
Quando GERALDO MESSIAS DE QUEIROZ assumiu o poder
como Prefeito, incumbiu-se em tentar “legalizar” a sua posse em relação
ao imóvel em que residia, ignorando o zelo que todo administrador deve
ter pelo patrimônio público. Assim, efetuou a malfadada doação do imóvel
em favor de ÂNGELO CHAVES DE QUEIROZ, sem qualquer observância ao
princípio da legalidade, impessoalidade e moralidade administrativa, pois o
real intuito do ato de doação era enriquecer ele próprio e seu irmão de forma
ilícita, na tentativa de legitimar a sua posse sobre o bem.
Não bastasse isso, o Réu também tentou ludibriar o Juízo da Vara da
Fazenda Pública, nos autos da ação popular nº 201200204446, que tem por
objeto os aludidos imóveis, juntando petição e documentos alegando que
teria ocorrido a rescisão do contrato particular de direito real de uso do
5ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE ÁGUAS LINDAS DE GOIÁS
solo que ele firmou com seu próprio irmão, aduzindo em sua petição que a
demanda teria perdido seu objeto, contudo esta alegada rescisão não foi
lavrada por instrumento público e, por isso, o imóvel continuava
escriturado em nome de ÂNGELO CHAVES DE QUEIROZ e estava livre e
desembaraçado devido à carta de anuência, somente passando a ser
bloqueado em virtude de decisão liminar proferida naquela ação popular.
Não menos ilegal e imoral foi a conduta de ANGELO CHAVES DE
QUEIROZ em figurar como donatário dos imóveis em que seu irmão
residia, compactuando com o ato que causou grave prejuízo ao erário
municipal e contribuindo para enriquecimento ilícito próprio e o de seu
irmão.
Há também documentos anexados à Ação Reivindicatória nº
200503896297 que demonstram que outros ocupantes de área pública
teriam supostamente adquirido a posse dos imóveis por meio de ato
oneroso praticado por ANGELO CHAVES DE QUEIROZ, demonstrando que
tanto ele, quanto o seu irmão eram invasores de áreas públicas e com o
ato de administrativo ilegal de doação pretenderam arrumar um jeito de
escriturar o imóvel em nome de um membro da família, para que tivessem
a propriedade do bem, sendo que ÂNGELO CHAVES DE QUEIROZ ficou
como proprietário de direito e GERALDO MESSIAS como proprietário de
fato.
Estas condutas praticadas pelos Réus, ANGELO CHAVES DE QUEIROZ
e GERALDO MESSIAS DE QUEIROZ, caracterizam tanto ato de improbidade
administrativa que importa enriquecimento ilícito, previsto no art. 9º,
caput e incisos I e XI, da Lei nº 8.429/92, como ato de improbidade
5ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE ÁGUAS LINDAS DE GOIÁS
administrativa que violou os princípios da legalidade, impessoalidade e
moralidade, descrito no art. 11, caput, e inciso I, da mesma Lei.
2.3.2) DESVIRTUAMENTO DA LEI DO PROMUDE - CONDUTAS DO RÉU
GERALDO MESSIAS DE QUEIROZ E DOS MEMBROS DO CONSELHO
DELIBERATIVO DO PROMUDE EM DISPENSAR INDEVIDAMENTE A
LICITAÇÃO, CONCRETIZAR AS DOAÇÕES E CONCEDER CARTA DE
ANUÊNCIA
Geraldo Messias de Queiroz, aproveitou-se de seu cargo de Prefeito
para realizar inúmeras desafetações de áreas públicas, tanto das institucionais
como de áreas verdes e recreativas, que haviam sido destinadas ao Município em
decorrência de registro de Loteamentos (locais onde se deveriam construir escolas,
praças e hospitais) para a garantia da qualidade de vida da população que lá
habitasse.
Os imóveis objeto das doações do PROMUDE são todos provenientes
de desafetações e desmembramentos que ofenderam a Lei nº 6.766/79. Geraldo
Messias de Queiroz, de forma totalmente ilícita, e sem se importar com a
manutenção da qualidade de vida da população, efetuou inúmeras doações de
áreas públicas com o intuito de conseguir aliados políticos, tornando o Município
um verdadeiro, loteador, o que não é sequer admissível em nossa legislação.
Foram tantas as alienações de imóveis praticadas (136 imóveis) e,
devido ao não fornecimento dos documentos necessários à investigação por parte
de GERALDO MESSIAS DE QUEIROZ e de seu procurador JAIR ESTEVES MACHADO
JÚNIOR, Segundo Réu, que foi necessária a propositura de ação de busca e
5ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE ÁGUAS LINDAS DE GOIÁS
apreensão (autos nº 201203842729) por parte do Ministério Público, com o intuito
de colher as provas necessárias à investigação dessas doações ilegais.
A Carta Magna de 1988, em seu art. 37, caput, estabeleceu a
obrigação de a Administração atender aos princípios da legalidade, impessoalidade,
moralidade, publicidade e eficiência. O inciso XXI, do mesmo dispositivo
estabeleceu a obrigatoriedade de licitação, tanto nas compras quanto nas
alienações realizadas pelo ente público.
Art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal:
XXI - ressalvados os casos especificados na legislação, as
obras, serviços, compras e alienações serão contratados
mediante processo de licitação pública que assegure
igualdade de condições a todos os concorrentes, com cláusulas
que estabeleçam obrigações de pagamento, mantidas as
condições efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual
somente permitirá as exigências de qualificação técnica e
econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das
obrigações.
Por sua vez, em seu art. 22, XXVII, a Carta Magna atribuiu
competência à União para legislar sobre normas gerais de licitação. Este
dispositivo foi devidamente regulamentado pela Lei nº 8.666/93, a qual, por sua
vez, sobre a alienação de imóveis públicos dispôs o seguinte:
Art. 17. A alienação de bens da Administração Pública,
subordinada à existência de interesse público devidamente
5ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE ÁGUAS LINDAS DE GOIÁS
justificado, será precedida de avaliação e obedecerá às
seguintes normas:
I - quando imóveis, dependerá de autorização legislativa para
órgãos da administração direta e entidades autárquicas e
fundacionais, e, para todos, inclusive as entidades
paraestatais, dependerá de avaliação prévia e de licitação
na modalidade de concorrência, dispensada esta nos
seguintes casos:
a) dação em pagamento;
b) doação, permitida exclusivamente para outro órgão
ou entidade da administração pública, de qualquer esfera
de governo, ressalvado o disposto nas alíneas f, h e i;
(Redação dada pela Lei nº 11.952, de 2009)
c) permuta, por outro imóvel que atenda aos requisitos
constantes do inciso X do art. 24 desta Lei;
d) investidura;
e) venda a outro órgão ou entidade da administração pública,
de qualquer esfera de governo; (Incluída pela Lei nº 8.883, de
1994)
f) alienação gratuita ou onerosa, aforamento, concessão de
direito real de uso, locação ou permissão de uso de bens
imóveis residenciais construídos, destinados ou efetivamente
utilizados no âmbito de programas habitacionais ou de
regularização fundiária de interesse social desenvolvidos por
órgãos ou entidades da administração pública; (Redação dada
pela Lei nº 11.481, de 2007)
g) procedimentos de legitimação de posse de que trata o art.
29 da Lei no 6.383, de 7 de dezembro de 1976, mediante
5ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE ÁGUAS LINDAS DE GOIÁS
iniciativa e deliberação dos órgãos da Administração Pública
em cuja competência legal inclua-se tal atribuição; (Incluído
pela Lei nº 11.196, de 2005)
h) alienação gratuita ou onerosa, aforamento, concessão de
direito real de uso, locação ou permissão de uso de bens
imóveis de uso comercial de âmbito local com área de até 250
m² (duzentos e cinqüenta metros quadrados) e inseridos no
âmbito de programas de regularização fundiária de interesse
social desenvolvidos por órgãos ou entidades da administração
pública; (Incluído pela Lei nº 11.481, de 2007)
i) alienação e concessão de direito real de uso, gratuita ou
onerosa, de terras públicas rurais da União na Amazônia Legal
onde incidam ocupações até o limite de 15 (quinze) módulos
fiscais ou 1.500ha (mil e quinhentos hectares), para fins de
regularização fundiária, atendidos os requisitos legais;
(Incluído pela Lei nº 11.952, de 2009)
II - omissis
§1º Os imóveis doados com base na alínea "b" do inciso I
deste artigo, cessadas as razões que justificaram a sua
doação, reverterão ao patrimônio da pessoa jurídica doadora,
vedada a sua alienação pelo beneficiário.
§ 2o A Administração também poderá conceder título de
propriedade ou de direito real de uso de imóveis, dispensada
licitação, quando o uso destinar-se: (Redação dada pela Lei nº
11.196, de 2005)
I - a outro órgão ou entidade da Administração Pública,
qualquer que seja a localização do imóvel; (Incluído pela Lei
nº 11.196, de 2005)
5ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE ÁGUAS LINDAS DE GOIÁS
II - a pessoa natural que, nos termos da lei, regulamento ou
ato normativo do órgão competente, haja implementado os
requisitos mínimos de cultura, ocupação mansa e pacífica e
exploração direta sobre área rural situada na Amazônia Legal,
superior a 1 (um) módulo fiscal e limitada a 15 (quinze)
módulos fiscais, desde que não exceda 1.500ha (mil e
quinhentos hectares); (Redação dada pela Lei nº 11.952, de
2009)
§ 2º-A. As hipóteses do inciso II do § 2o ficam dispensadas de
autorização legislativa, porém submetem-se aos seguintes
condicionamentos: (Redação dada pela Lei nº 11.952, de
2009)
I - aplicação exclusivamente às áreas em que a detenção por
particular seja comprovadamente anterior a 1o de dezembro
de 2004; (Incluído pela Lei nº 11.196, de 2005)
II - submissão aos demais requisitos e impedimentos do
regime legal e administrativo da destinação e da regularização
fundiária de terras públicas; (Incluído pela Lei nº 11.196, de
2005)
III - vedação de concessões para hipóteses de exploração
não-contempladas na lei agrária, nas leis de destinação de
terras públicas, ou nas normas legais ou administrativas de
zoneamento ecológico-econômico; e (Incluído pela Lei nº
11.196, de 2005)
IV - previsão de rescisão automática da concessão, dispensada
notificação, em caso de declaração de utilidade, ou
necessidade pública ou interesse social. (Incluído pela Lei nº
11.196, de 2005)
5ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE ÁGUAS LINDAS DE GOIÁS
§ 2o-B. A hipótese do inciso II do § 2o deste artigo: (Incluído
pela Lei nº 11.196, de 2005)
I - só se aplica a imóvel situado em zona rural, não sujeito a
vedação, impedimento ou inconveniente a sua exploração
mediante atividades agropecuárias; (Incluído pela Lei nº
11.196, de 2005)
II – fica limitada a áreas de até quinze módulos fiscais, desde
que não exceda mil e quinhentos hectares, vedada a dispensa
de licitação para áreas superiores a esse limite; (Redação
dada pela Lei nº 11.763, de 2008)
III - pode ser cumulada com o quantitativo de área decorrente
da figura prevista na alínea g do inciso I do caput deste artigo,
até o limite previsto no inciso II deste parágrafo. (Incluído
pela Lei nº 11.196, de 2005)
IV – (VETADO) (Incluído pela Lei nº 11.763, de 2008)
§3o Entende-se por investidura, para os fins desta lei:
(Redação dada pela Lei nº 9.648, de 1998)
I - a alienação aos proprietários de imóveis lindeiros de área
remanescente ou resultante de obra pública, área esta que se
tornar inaproveitável isoladamente, por preço nunca inferior
ao da avaliação e desde que esse não ultrapasse a 50%
(cinqüenta por cento) do valor constante da alínea "a" do
inciso II do art. 23 desta lei; (Incluído pela Lei nº 9.648, de
1998)
II - a alienação, aos legítimos possuidores diretos ou, na falta
destes, ao Poder Público, de imóveis para fins residenciais
construídos em núcleos urbanos anexos a usinas hidrelétricas,
desde que considerados dispensáveis na fase de operação
5ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE ÁGUAS LINDAS DE GOIÁS
dessas unidades e não integrem a categoria de bens
reversíveis ao final da concessão. (Incluído pela Lei nº 9.648,
de 1998)
§ 4o A doação com encargo será licitada e de seu
instrumento constarão, obrigatoriamente os encargos, o
prazo de seu cumprimento e cláusula de reversão, sob
pena de nulidade do ato, sendo dispensada a licitação no
caso de interesse público devidamente justificado; (Redação
dada pela Lei nº 8.883, de 1994)
§5o Na hipótese do parágrafo anterior, caso o donatário
necessite oferecer o imóvel em garantia de financiamento, a
cláusula de reversão e demais obrigações serão garantidas por
hipoteca em segundo grau em favor do doador. (Incluído pela
Lei nº 8.883, de 1994)
Os requisitos exigidos são, portanto, os seguintes: a) interesse
público devidamente justificado; b) autorização legislativa; c) avaliação
prévia; d) licitação na modalidade concorrência; e) obrigatoriedade de
constar no instrumento os encargos da doação, de seu prazo de
cumprimento e da cláusula de reversão.
A dispensa de licitação somente seria admissível em caso de interesse
público devidamente justificado, fato inexistente, pois, na verdade, foi violado o
interesse público consistente na manutenção da qualidade de vida da população
que residia em loteamentos para beneficiar particulares e formar aliados políticos
para ex-gestor GERALDO MESSIAS DE QUEIROZ.
Além disso, não houve qualquer autorização legislativa
5ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE ÁGUAS LINDAS DE GOIÁS
específica em relação a cada um dos imóveis que permitisse as doações. A
Lei Municipal nº 571/2006 (PROMUDE) previu, tão somente, o regime jurídico
dessas doações, mas não descreveu quais imóveis seriam objeto das doações. Não
houve qualquer lei municipal que autorizasse de forma específica a
doações dos imóveis que foram efetuadas pelos seis primeiros Réus.
Averiguou-se que os seis primeiros réus não se preocuparam em
seguir as normas legais, pois os documentos que se encontram arquivados
no Município sequer podem ser chamados de processos administrativos. O
que existe nos arquivos são algumas pastas com documentos dos imóveis,
mas em nenhuma delas consta a avaliação dos imóveis, a motivação da
dispensa da licitação e a demonstração de interesse público devidamente
justificado (CD às fls. 727). Além disso, em relação a alguns imóveis não
consta qualquer documento nos arquivos do Município, conforme relação
fornecida pela Secretaria de Habitação e Regularização Fundiária que
menciona que aqueles imóveis não existem documentos no Município (fls.
716/725).
Na ação de busca e apreensão em trâmite (autos nº 201203842729),
o próprio Réu GERALDO MESSIAS, na qualidade de Prefeito, e JAIR
ESTEVES, na qualidade de Procurador-Geral do Município afirmaram em
petição, que não localizaram todos os documentos. Os documentos anexados
pelo Município na referida ação somente contemplaram algumas empresas
beneficiadas e é possível constatar que não foram cumpridos os requisitos exigidos
pela Lei nº 8.666/93. O descaso com o patrimônio público foi tamanho que o
próprio Município afirmou não ter localizado os documentos, ainda na
gestão do ex-prefeito Geraldo Messias de Queiroz.
5ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE ÁGUAS LINDAS DE GOIÁS
O que se sabe, é que esses imóveis foram doados pelo Município,
todos com dispensa de licitação, em total afronta ao art. 17 da Lei nº
8.666/93, sem que fosse proferida qualquer declaração de interesse
público devidamente justificado em relação a cada um desses imóveis, não
foi realizada avaliação prévia desses imóveis e as desafetações efetivadas
em data anterior às doações também estão eivadas de nulidade.
As doações efetuadas foram totalmente ilegais, visto que a regra para
alienação de bens imóveis pela Administração Pública a particulares é a licitação
na modalidade concorrência (art. 17, I e seu §4º da Lei nº 8.666/93). A Lei
dispensa a licitação quando o beneficiário é outro ente da administração pública e
não um particular.
Como corolário dos princípios da publicidade, moralidade e probidade
administrativa, exige-se motivação do ato administrativo que decida pela
dispensa de licitação de forma devidamente justificada desde que haja
interesse público relevante (art. 50, inciso IV, da Lei nº 9.784/99).
A dispensa de licitação é uma exceção e deve ser devidamente
justificada em interesse público, desde que preenchidos os requisitos do
art. 26 da Lei nº 8.666/93, devendo ser observada a razão de escolha do
beneficiário e também a publicidade, que só se concretiza com a
divulgação do ato na imprensa oficial. Nada disso ocorreu, justamente
porque o prefeito pretendia beneficiar seus aliados políticos e até mesmo
ele próprio e seu irmão.
O Réu GERALDO MESSIAS DE QUEIROZ e os supostos membros
do Conselho Deliberativo do PROMUDE, os Réus JOSÉ BONIFÁCIO DA SILVA
5ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE ÁGUAS LINDAS DE GOIÁS
MELO, HELDER MORATO AXHCAR, Secretário de Habitação, MARCOS
ANTONIO DOMINGOS, Secretário de Obras, AUGUSTO PEREIRA GOMES
NETO, faziam supostamente parte de um Conselho Deliberativo do
PROMUDE, que deveria ser o órgão responsável por deliberar acerca da
escolha dos beneficiários, bem como para aferir se os beneficiários estavam
atendendo aos requisitos legais.
Ressalte-se que a Lei do PROMUDE, Lei Municipal nº 571/2006 previu
a existência deste Conselho Deliberativo do PROMUDE, órgão a quem competia
uma série de responsabilidades, consoante será melhor delineado adiante e o
referido programa tinha como beneficiárias, tão somente, pessoas jurídicas que
desenvolvessem atividades econômicas legais e que viessem instalar-se ou realizar
sua expansão em Águas Lindas de Goiás, priorizando a geração de empregos, em
que seria definido o número mínimo de vagas a serem preenchidas de acordo com
os diversos ramos da atividade empresarial.
Vejamos o que diz a referida lei:
Art. 2º - O Programa ora criado regerá uma nova política
municipal de incentivos fiscais e estímulos materiais que
beneficiará pessoas jurídicas, constituídas nos ramos
industrial, comercial e prestadoras de serviços, além de
cooperativas e fundações diversas, que desenvolvam
atividades econômicas legais, com ou sem fins lucrativos, e
que venham instalar-se, realizar sua expansão, ou reativação
no Município de Águas Lindas de Goiás.
Art. 3º - Dentre as diversas pessoas jurídicas elencadas no
5ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE ÁGUAS LINDAS DE GOIÁS
art. 2º desta Lei, serão beneficiárias do PROMUDE Águas
Lindas, aquelas que preencham os requisitos mínimos
exigidos por esta Lei, a serem estabelecidos e
verificados por uma Conselho Deliberativo instituído
para tanto, conforme dados indicados pelas interessadas em
formulário padrão de carta-consulta, a serem fornecidos pelo
Município.
Art 5º - Os incentivos fiscais municipais poderão ser
concedidos, mediante análise do Conselho Deliberativo do
PROMUDE – Águas Lindas e de comprovação de
enquadramento nesta Lei, priorizando-se a quantidade de
empregos oferecidos, compreendendo:
2. Isenção de até 100% do Impostos Predial e Territorial
Urbano –IPTU, incidente sobre o imóvel destinado ao
empreendimento da pessoa jurídica pelo prazo de até 5
(cinco) anos, a contar da data a ser fixada pelo Conselho
Deliberativo do “PROMUDE – Águas Lindas”..
3. Isenção de até 100% do Imposto Sobre Serviços de
Qualquer Natureza – ISSQN, pelo prazo de até 10 (dez) anos,
a contar do início das atividades específicas da empresa ou do
início das atividades do estabelecimento ampliado ou
reativado;
4. Isenção da contribuição de melhoria até o limite de 100%
do valor lançado;
5. Isenção de taxas municipais, nas condições definidas pelo
Conselho Deliberativo do PROMUDE – Águas Lindas
§1º - omissis
§2º - omissis
5ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE ÁGUAS LINDAS DE GOIÁS
Art. 6º - Os estímulos materiais, serão constituídos pela
contribuição ou participação do Município, mediante:
I – doação, venda, permuta, arrendamento, dação em
pagamento, concessão e/ou permissão de uso, e concessão do
direito real de uso pelo prazo de até 10 (dez) anos, com
opção de compra para o beneficiário, desde que
cumpridas todas as exigências legais e contratuais,
nesse interregno, dos bens imóveis e áreas de instalação dos
parques dos diversos seguimentos empresariais;
§1º Na venda de imóveis destinados ao fomento
empresarial, na forma preconizada na presente Lei,
poderá, por deliberação da Comissão Municipal de
Desenvolvimento Econômico, poderá ser concedido
prazo de carência para pagamento do imóvel, com ou
sem estipulação de juros e correção monetária no mesmo
período;
§2º - As condições de pagamento para a aquisição de
imóveis, garantias, encargos e outras que poderão ser
fixadas pelo Conselho Deliberativo do PROMUDE –
Águas Lindas constarão do edital de licitação específico;
§3º - Uma vez concluída a indenização do imóvel, a que se
refere o §1º, o Município transmitirá ao cessionário, em
Cartório competente, a propriedade do imóvel.
5ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE ÁGUAS LINDAS DE GOIÁS
.
Art. 19 – Em se tratando de incentivos materiais,
principalmente imóveis, os mesmos reverterão ao
Município, respeitados os prazos de cumprimento
estabelecidos nos respectivos contratos, sendo válida
sua imediata imissão na posse quando:
I – não utilizados em suas finalidades;
II – não cumpridos os prazos e demais condições
contratadas;
III- houver paralisação das atividades por período
superior a 12 (doze) meses;
IV – se verificar indícios de inviabilidade econômica ou falência
da empresa;
V – houver transferência do estabelecimento para outro
Município;
.
Art. 20 – Fica vedada a alienação dos imóveis
adquiridos pelos beneficiários deste Programa, no todo
ou em parte, antes de decorridos 10 (dez) anos do início
das atividades e, cumpridas as obrigações por parte da
empresa beneficiada, salvo decisão do Conselho
Deliberativo do PROMUDE.
Como bem se verifica, o art. 2º da Lei do PROMUDE prevê
especificamente que os beneficiários do Programa são pessoas jurídicas. No
entanto, alguns imóveis foram doados a pessoa física, inclusive o irmão do
prefeito, recebeu dois imóveis, com fundamento nesta norma de forma
5ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE ÁGUAS LINDAS DE GOIÁS
totalmente ilegal.
Além disso, como transparece o art. 6º da referida Lei, o incentivo
material na forma de doação deveria se dar pelo prazo de até dez anos,
com opção de compra para o beneficiário e, mesmo assim, teria que ser
devidamente observada a regra da licitação disciplinada na Lei nº
8.666/93, que é Lei Federal de normas gerais, que têm força cogente e, portanto,
deve ser observada pelo Município.
Já o art. 19 da Lei do PROMUDE prevê a reversibilidade do imóvel
ao Patrimônio Municipal ao final do prazo contratual ou quando a empresa
beneficiária não estivesse atendendo à finalidade da Lei, ou seja, quando
não estivesse promovendo a geração de emprego e renda para o Município.
Por sua vez, o art. 20, embora vede a alienação dos imóveis
adquiridos pelos beneficiários do Programa, antes de 10 anos do início das
atividades e cumpridas as obrigações da empresa, em sua parte final, previu que o
Conselho Deliberativo poderia excepcionar essa regra para permitir a alienação do
imóvel pelo beneficiário antes de decorrido o referido prazo.
Embora o citado dispositivo seja questionável, por ofender totalmente
a Constituição Federal, a Lei nº 8.666/93 e a própria finalidade da Lei do PROMUDE
ao permitir que se excepcione a regra do prazo de dez anos (que era trazer
geração de renda e emprego para o Município, por meio da industrialização e
urbanização), o que se percebe é que os membros do Conselho Deliberativo
do PROMUDE praticaram atos administrativos que diziam que o
beneficiário tinha atendido aos requisitos legais e após isso, era emitida a
carta de anuência pelo gestor do Municípo, GERALDO MESSIAS DE
5ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE ÁGUAS LINDAS DE GOIÁS
QUEIROZ, retiramdo a cláusula de reversibilidade e diversos imóveis
passaram a ser alienados a terceiros em total prejuízo ao Município.
É clarividente que houve utilização indevida da Lei nº
571/2006, com o seu desvirtuamento, causando grave prejuízo ao erário,
pois houve retirada das cláusulas de reversibilidade sem que os
beneficiários do PROMUDE tenham cumprido as condições das doações.
No anexo III e IV do inquérito civil que acompanha esta,
constam certidões dos Oficiais de Promotoria que compareceram aos
imóveis objeto das doações e constataram que não funciona empresa nos
locais. Ressalte-se que no anexo III constam as doações efetuadas na
gestão de Geraldo Messias de Queiroz, enquanto o Anexo IV, embora as
doações tenham sido efetuadas por José Pereira Soares, as cartas de
anuência foram todas expedidas por GERALDO MESSIAS DE QUEIROZ, as
quais declaravam que a empresa havia cumprido os requisitos da Lei e
determinava a retirada de cláusula de reversibilidade, mesmo sem estar
funcionando qualquer empresa no local.
Assim, percebe-se que GERALDO MESSIAS DE QUEIROZ
praticou ato de improbidade administrativa descrita no art. 10, I, III, VIII,
XII, da Lei nº 8.429/92 ao dispensar indevidamente licitação, bem como
violação ao art. 11, caput, e inciso I, da mesma lei. Em relação aos citados
membros do Conselho deliberativo do PROMUDE a conduta deles será descrita de
forma mais detalhada no próximo item.
2.3.3) DA INEXISTÊNCIA FÁTICA E JURÍDICA DO CONSELHO
DELIBERATIVO DO PROMUDE E DO ATO DE IMPROBIDADE PRATICADO
5ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE ÁGUAS LINDAS DE GOIÁS
PELOS RÉUS JOSÉ BONIFÁCIO DA SILVA MELO, HELDER MORATO AXHCAR,
MARCOS ANTONIO DOMINGOS e AUGUSTO PEREIRA GOMES NETO
Na investigação realizada por esta Promotoria de Justiça, todas as
testemunhas inquiridas, as quais laboraram na Secretaria de Habitação e
na Procuradoria-Geral do Município informaram que nunca viram qualquer
reunião do Conselho Deliberativo do PROMUDE ser realizada. Além disso, foi
apurado que as Atas do Conselho do Promude que constam no bojo do
inquérito civil e na ação de busca e apreensão não se encontram
registradas em qualquer livro, não se sabendo se essas efetivamente
existiram.
Na verdade, essas Atas de Conselho do PROMUDE somente
foram apresentadas ao Ministério Público após a citação do Município na
ação de busca e apreensão proposta por este órgão ministerial, cuja
medida cautelar pleiteada não foi deferida, tendo sido proferida initio litis
uma determinação de exibição de documentos como medida cautelar
substitutiva da busca e apreensão requerida. Por isso, os Réus tiveram
ciência da decisão judicial antes mesmo dessas atas serem trazidas aos
autos.
O Réu HELDER MORATO AXHCAR, ao prestar esclarecimentos
nos autos do inquérito civil, afirmou que assinou diversas Atas do
Conselho Deliberativo do PROMUDE em um único dia, embora as atas
apresentassem datas diversas (fls. 679/680). Relatou ainda que esse ato
foi praticado no final do mandato de GERALDO MESSIAS DE QUEIROZ,
período temporal que coincide com a data em que o Município foi citado
para apresentar os documentos na ação de busca e apreensão que é
5ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE ÁGUAS LINDAS DE GOIÁS
cautelar à presente demanda.
Analisando algumas atas desse suposto Conselho Deliberativo
do PROMUDE é possível perceber que de fato foram forjadas, pois consta
nos autos ato de nomeação do Secretário e Habitação Helder Morato
Axhcar ocorrido em 01/02/2011 (fl. 557), contudo algumas atas do
Conselho Deliberativo estão assinadas por Helder Morato como Secretário
de Habitação, nas quais consta data anterior à própria nomeação dele no
cargo, datadas de 30/09/2010 e 31/01/2011, o que bem comprova as
alegações dele de que assinou várias atas em um só dia (fls. 775/776).
Como bem se percebe, ele sequer era Secretário Municipal na
data em que é informada no documento. Isso bem demonstra que o
documento foi assinado em data totalmente diversa!!!
Esse Conselho Deliberativo do PROMUDE, na verdade, nunca existiu
de fato. Essas atas anexadas à ação de busca e apreensão foram construídas e,
para isso, concorreram os Réus JOSÉ BONIFÁCIO DA SILVA MELO, HELDER
MORATO AXHCAR, Secretário de Habitação, MARCOS ANTONIO
DOMINGOS, Secretário de Obras, AUGUSTO PEREIRA GOMES NETO, alguns
desses sequer poderiam fazer parte do Conselho Deliberativo, conforme
será explanado a seguir.
Em relação à inexistência jurídica desse Conselho, de acordo com a
própria Lei do PROMUDE, Lei nº 571/2006, o Conselho Deliberativo possuía a
seguinte composição:
Art. 8º da Lei do PROMUDE:
5ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE ÁGUAS LINDAS DE GOIÁS
Art. 8º - Fica criado o Conselho Deliberativo do PROMUDE
Águas Lindas constituído por 03 (três) membros:
I – pelo Secretário Municipal de Indústria, Comércio, Turismo
e Cooperativismo, como Presidente;
II – pelo Secretário Municipal de Obras e Serviços Urbanos, e
III – pelo Secretário Municipal de Habitação e Ação Fundiária.
Apartada a discussão acerca da constitucionalidade dessa composição,
tendo em vista que os cargos de Secretários Municipais são de confiança do chefe
do Poder Executivo e, por isso, estão sujeitos à influência do interesse político e
pessoal do Prefeito para emitir suas deliberações, o que inevitavelmente acarreta
ofensa ao princípio da prevalência do interesse público sobre o particular, deve-se
observar que todas as atas do Conselho Deliberativo do PROMUDE a que
este órgão ministerial teve acesso, seja na investigação do inquérito civil,
seja na ação de busca e apreensão, consta as assinaturas de apenas dois
Secretários: o de Obras e o de Habitação. O terceiro membro do Conselho
Deliberativo que deveria ser o Secretário de Finanças não participou das
deliberações.
Isso significa dizer, que as Atas do Conselho Deliberativo do
PROMUDE sequer poderiam produzir efeitos e deveriam ser consideradas
inexistentes do ponto de vista jurídico, visto que foram subscritas sem um
de seus membros, tendo participado, em seu lugar, o JOSÉ BONIFÁCIO
que sequer deveria tomar parte naquele ato administrativo.
Por sua vez, a pessoa de AUGUSTO PEREIRA GOMES NETO que
constava como integrante da comissão técnica (fl. 775/788) também não
5ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE ÁGUAS LINDAS DE GOIÁS
poderia fazer parte do Conselho, pois não possui qualquer curso superior,
conforme ele mesmo declarou em seu depoimento nesta Promotoria (fls.
661/663), pois o art. 9º, da Lei Municipal nº 571/2006 (Lei do Promude) prevê
que deveria ser um engenheiro agrônomo, in verbis:
“Art. 9º – O Conselho deliberativo contará com o apoio de
Comissão Técnica a ser nomeada por meio de Decreto do
Chefe do Poder Executivo, que deverá ser integrada por:
I – 1 (um) representante da Assessoria Jurídica Municipal;
II – 1 (um) Engenheiro Agrônomo Municipal”
art. 10 – O Conselho Deliberativo deverá reunir-se
ordinariamente, pelo menos de 15 (quinze) em 15 (quinze)
dias, e, extraordinariamente, sempre que for necessário, e
suas decisões deverão ser reduzidas a termo em Ata
apropriada, sendo dado conhecimento ao Prefeito Municipal”.
Além disso, o Município informou que não foi localizado qualquer
decreto de nomeação da pessoa de AUGUSTO PEREIRA GOMES NETO e ele mesmo
afirmou desconhecer qualquer ato de sua nomeação para compor esse Conselho
Deliberativo (fl. 663 e 543/553), não foi encontrado em sua pasta funcional
qualquer ato referente ao conselho, tendo sido apenas comprovado que ele exercia
o cargo de Diretor de Convênios no Município.
JOSÉ BONIFÁCIO DA SILVA MELO era o principal mentor do que seria
assinado pelos supostos integrantes do Conselho Deliberativo do Promude. As
testemunhas inquiridas confirmaram que todo o trâmite no Município para
5ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE ÁGUAS LINDAS DE GOIÁS
liberação das doações ficavam a cargo de JOSÉ BONIFÁCIO (fls. 666/669).
A testemunha Irani Gomes Abbadia inclusive relatou que JOSÉ
BONIFÁCIO e ANGELO CHAVES DE QUEIROZ iam até as áreas públicas mostrar
imóveis a empresários interessados, bem como mencionou que diversas áreas
foram doadas para pessoas amigas de GERALDO MESSIAS DE QUEIROZ (fls.
691/693).
Verifica-se, portanto, que os Réus JOSÉ BONIFÁCIO DA SILVA
MELO, HELDER MORATO AXHCAR, MARCOS ANTONIO DOMINGOS,
Secretário de Obras, AUGUSTO PEREIRA GOMES NETO, estavam em
conluio para tentar legitimar as doações ilegais praticadas pelo Prefeito
GERALDO MESSIAS DE QUEIROZ, com o suporte jurídico e material
fornecido por JAIR ESTEVES MACHADO JUNIOR, Procurador do Município.
Os Requeridos forjaram documentos que, na verdade, nunca
existiram, na tentativa de respaldar as práticas ilegais de doações de
áreas públicas efetuadas pelo então Prefeito GERALDO MESSIAS DE
QUEIROZ, pois as atas do Conselho Deliberativo não foram confeccionadas
em reunião.
Além disso, O Réu JOSÉ BONIFÁCIO DA SILVA MELO era Chefe
do Departamento de Fiscalização de Obras e Posturas, tendo sido apurado
que todos os procedimentos de doação de imóveis era de sua
responsabilidade. José Bonifácio era quem atendia os interessados no
interior da Secretaria de Habitação e até disponibilizava o próprio
computador da Secretaria para que os aliados políticos de Geraldo Messias
abrissem uma empresa e se cadastrassem no programa (fls. 107/108).
5ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE ÁGUAS LINDAS DE GOIÁS
Assim agindo, os Réus JOSÉ BONIFÁCIO DA SILVA MELO, HELDER
MORATO AXHCAR, MARCOS ANTONIO DOMINGOS e AUGUSTO PEREIRA GOMES
NETO praticaram ato de improbidade administrativa, tanto por concorrer para
incorporação ao patrimônio particular de bens do Município, quanto por
participarem da dispensa indevida de licitação, cujos atos amoldam-se às condutas
descritas no art. 10, inciso I, II, VIII, XII, e art. 11, caput, e inciso I, da Lei nº
8.429/92.
2.3.4) DAS CONDUTAS PRATICAS PELO PROCURADOR GERAL DO
MUNICÍPIO JAIR ESTEVES MACHADO JUNIOR
O Procurador Geral do Município JAIR ESTEVES MACHADO JÚNIOR
contribuiu para a prática de todas essas doações ilegais de áreas e públicas, bem
como das desafetações. Ressalte-se que a ele competia orientar juridicamente
Chefe do Poder Executivo para agir de acordo com as normas legais.
Contudo, o que se verificou foi que JAIR ESTEVES arquitetou,
juntamente com GERALDO MESSIAS DE QUEIROZ, a forma de concretizar essas
doações, orientando o então Prefeito a desafetar áreas públicas para, em seguida,
proceder a lavratura de escritura pública de doação condicionada e, após a emitir
cartas de anuência encaminhado-as para averbação nas matrículas dos imóveis,
ocasião em que os bens ficavam livres e desembaraçados em nome de
particulares, tendo sido, inclusive, vários deles alienados a terceiros.
É possível verificar nos autos do inquérito civil, que duas cartas de
anuências foram assinadas pelo próprio JAIR ESTEVES MACHADO JÚNIOR,
5ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE ÁGUAS LINDAS DE GOIÁS
comprovando que ele praticou não apenas orientação jurídica, mas
também atos materiais que contribuíram para as alienações indevidas com
sério prejuízo ao erário e enriquecimento ilícito de particulares (fl. 811;
836).
Em relação ao imóvel doado por GERALDO MESSIAS DE QUEIROZ,
como representante do Município, ao seu próprio irmão, a má-fé na conduta de
JAIR ESTEVES MACHADO JUNIOR é evidenciada na petição juntada à fl.
143 dos autos da ação reivindicatória nº 200503896297, na qual JAIR
ESTEVES MACHADO JÚNIOR assinou em nome do Município pedido de
desistência neste feito, após o GERALDO MESSIAS DE QUEIROZ ter
conseguido escriturar o imóvel em nome de seu próprio irmão –
documentos constam no ANEXO II do inquérito civil nº 201200300131
anexo à exordial).
Na citada ação, proposta no ano de 2005, o Município de Águas
Lindas pleiteava o imóvel em que GERALDO MESSIAS reside até hoje, onde
consta que GERALDO MESSIAS era ocupante da área pública. Ao assumir o
posto de Prefeito, GERALDO MESSIAS arquitetou uma forma de “legitimar”
a sua posse sobre o imóvel, concretizando uma doação totalmente ilícita
em favor de seu próprio irmão ÂNGELO CHAVES DE QUEIROZ.
Na ocasião em que JAIR ESTEVES MACHADO JUNIOR
peticionou no processo requerendo desistência, ele estava defendendo os
interesses pessoais de seu Chefe e aliado GERALDO MESSIAS DE
QUEIROZ, que foi quem o nomeou para o cargo de confiança de
Procurador Geral do Município, pois agiu contrariamente ao interesse
patrimonial do Município.
5ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE ÁGUAS LINDAS DE GOIÁS
Ao formular o pedido de desistência, JAIR ESTEVES MACHADO
JÚNIOR demonstrou sua má-fé, que caracterizando ato de improbidade
administrativa, pois naquela data o imóvel já tinha sido escriturado em
nome de ÂNGELO CHAVES DE QUEIROZ e, com o seu pedido de desistência
acreditava que a discussão seria encerrada, tirando essa “dor de cabeça”
do seu Chefe, que a partir de então ocuparia o imóvel de forma “regular”.
Ressalte-se que na data em que ele peticionou requerendo a
desistência, agindo como Procurador do Município, já havia determinação
de citação do vice-prefeito, tendo em vista que foi percebido que o
interesse do Município era conflitante com o interesse do prefeito à época
(GERALDO MESSIAS), mas antes mesmo que o vice-prefeito fosse citado,
JAIR ESTEVES MACHADO JÚNIOR requereu a desistência da ação. Isso
demonstra, mais uma vez, que ele não estava agindo em nome do
Município, na verdade, estava atendendo interesses pessoais de GERALDO
MESSIAS, o que caracteriza, sem dúvida, improbidade administrativa.
O entendimento jurisprudencial é uníssono neste sentido:
TJAC-002062 - PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO.
AGRAVO DE INSTRUMENTO. PREFEITO MUNICIPAL.
SERVIÇOS. PROCURADOR DO MUNICÍPIO. DEFESA.
INTERESSE PARTICULAR. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA.
AÇÃO. CONHECIMENTO. 1. Configura ato de improbidade
administrativa a defesa do Prefeito Municipal por Procurador
Jurídico na hipótese de interesses antagônicos entre o gestor
público e o ente municipal. 2. Agravo improvido. (Agravo de
5ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE ÁGUAS LINDAS DE GOIÁS
Instrumento nº 0002538-67.2011.8.01.0000 (11.918),
Câmara Cível do TJAC, Rel. Eva Evangelista de Araújo Souza.
j. 17.01.2012, unânime, DJe 31.01.2012).
JAIR ESTEVES MACHADO JÚNIOR praticou ainda outra conduta que
demonstra o seu total envolvimento nessas doações ilegais de área pública. JAIR
ESTEVES MACHADO JÚNIOR emitiu a Portaria nº 003/2012, determinando
a instauração de sindicância contra o servidor público municipal
SEVERINO RAMOS DE FREITAS, bem como determinando o seu
afastamento cautelar de suas funções, justamente um dia depois que o
referido servidor protocolou Representação no Ministério Público narrando
as ilegalidades que vinham sendo praticadas nas doações de imóveis, com
a utilização do subterfúgio da Lei 571/2006 (PROMUDE) – Documentos constam
nos autos do Inquérito Civil registrado sob o nº 201200278956 que segue
anexo à exordial.
O Ministério Público somente tomou conhecimento das ilegalidades
das doações que o Município vinha praticando em decorrência de representação
protocolada por SEVERINO RAMOS DE FREITAS, fato que deu início às
investigações que foram o inquérito civil nº 201200300131. Inconformado com
isso, JAIR ESTEVES MACHADO JUNIOR afastou SEVERINO RAMOS de sua
função, exatamente um dia depois, demonstrando que seu ato foi
praticado em perseguição política, para que a testemunha se calasse, no
intuito de demonstrar poder sobre a testemunha. Em decorrência desse fato,
foi instaurado o Inquérito Civil Público nº 201200278956, que acompanhará esta
exordial.
Ressalte-se que SEVERINO RAMOS somente voltou a exercer suas
5ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE ÁGUAS LINDAS DE GOIÁS
funções em virtude de medida liminar concedida em ação de mandado de
segurança proposta por ele, atualmente em trâmite nesta Comarca, protocolada
sob o nº 201201957871/0002.
Verifica-se, assim, que JAIR ESTEVES MACHADO JÚNIOR praticou
três atos de improbidade administrativa que demonstram, de forma cristalina,
a sua contribuição para prática das doações e sua atitude para garantir a
impunidade e a manutenção das ilegalidades. JAIR ESTEVES assinou cartas de
anuência, formulou pedido de desistência na ação reivindicatória (nº
200503896297) e publicou Portaria nº 003/2012, afastando do cargo o
servidor que denunciou os fatos ao Ministério Público, os quais caracterizam
atos de improbidade administrativa descritos no art. 10, incisos I, III, XII, art. 11,
caput, e inciso I, da Lei nº 8.429/92.
2.3.5) DA DOAÇÃO DE IMÓVEL PÚBLICO AO CANDIDATO A VICE-PREFEITO
NA CHAPA DE GERALDO MESSIAS DE QUEIROZ
No inquérito civil nº 201200300131 também se apurou que o
candidato a vice-prefeito nas eleições 2012, fazendo parte da chapa de
GERALDO MESSIAS DE QUEIROZ (fls. 747), de nome EVERALDO RAMIRO
DA SILVA também foi beneficiado com um imóvel do PROMUDE, cuja
matrícula nº 37.188, pois é o proprietário da empresa LML – MAGAZINE E
PROMOÇÕES DE VENDAS LTDA -ME. (fls. 745/746).
Em seu depoimento perante esta Promotoria de Justiça, Everaldo
Ramiro da Silva confessou que era candidato a vice-prefeito na chapa de Geraldo
Messias de Queiroz, bem como afirmou a atual proprietária que consta na
5ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE ÁGUAS LINDAS DE GOIÁS
matrícula do imóvel, LUCIANA MACHADO LIMA é sua companheira, demonstrando
que ele efetuou uma simulação de venda, colocando como interveniente, a Caixa
Econômica Federal, tendo sido lavrado com esta instituição bancária um contrato
de mútuo com alienação fiduciária (fls. 755).
Em casos de simulação de negócio jurídico o Código Civil considera o
ato nulo, como se verifica no art. 167:
Art. 167. É nulo o negócio jurídico simulado, mas
subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e
na forma.
§ 1o Haverá simulação nos negócios jurídicos quando:
I - aparentarem conferir ou transmitir direitos a
pessoas diversas daquelas às quais realmente se
conferem, ou transmitem;
II - contiverem declaração, confissão, condição ou
cláusula não verdadeira;
III - os instrumentos particulares forem antedatados, ou pós-
datados.
§ 2o Ressalvam-se os direitos de terceiros de boa-fé em face
dos contraentes do negócio jurídico simulado.
Art. 168. As nulidades dos artigos antecedentes podem ser
alegadas por qualquer interessado, ou pelo Ministério
Público, quando lhe couber intervir.
Parágrafo único. As nulidades devem ser pronunciadas pelo
juiz, quando conhecer do negócio jurídico ou dos seus efeitos
e as encontrar provadas, não lhe sendo permitido supri-las,
5ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE ÁGUAS LINDAS DE GOIÁS
ainda que a requerimento das partes.
Art. 169. O negócio jurídico nulo não é suscetível de
confirmação, nem convalesce pelo decurso do tempo.
Art. 170. Se, porém, o negócio jurídico nulo contiver os
requisitos de outro, subsistirá este quando o fim a que
visavam as partes permitir supor que o teriam querido, se
houvessem previsto a nulidade.
No depoimento de Everaldo Ramiro da Silva prestado nesta
Promotoria de Justiça foi perceptível que o investigado efetuou o negócio jurídico
simulado, com o intuito de tentar impedir que o imóvel retornasse ao erário
municipal, trazendo a Caixa Econômica Federal como interessada para dificultar o
desfazimento do ato que o beneficiou.
Nos documentos referentes ao imóvel (fls. 792/796), verifica-se que
GERALDO MESSIAS DE QUEIROZ doou, em nome do Município, imóvel à pessoa
que era seu aliado político EVERALDO RAMIRO DA SILVA. Tamanha era a
proximidade de GERALDO MESSIAS com EVERALDO, que este passou a compor a
sua chapa de candidatura à reeleição, como consta no documento de fl. 747.
A referida doação além de caracterizar grave lesão ao erário, ofendeu
os princípios da legalidade, moralidade e impessoalidade.
Assim agindo GERALDO MESSIAS DE QUEIROZ praticou ato de
improbidade descrito no art. 10, inciso I, III, XII, e art. 11, caput e inciso I,
enquanto EVERALDO RAMIRO DA SILVA praticou ato de improbidade descrito no
art. 9º, I e XI, art. 11, caput, e inciso I, todos da Lei nº 8.429/92.
5ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE ÁGUAS LINDAS DE GOIÁS
2.3.6) DA VIOLAÇÃO PRINCÍPIOS DO ART. 37 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL
E DO DANO AO ERÁRIO
Os Demandados violaram justamente a própria Constituição
Federal, Lei Maior do Estado Democrático de Direito, ferindo também o princípio da
impessoalidade, pois os agentes públicos estão obrigados a praticar os atos
administrativos, visando, tão somente, o interesse público.
“A impessoalidade da atuação administrativa impede,
portanto, que o ato administrativo seja praticado visando a
interesses do agente ou de terceiros, devendo ater-se à
vontade da lei, comando geral e abstrato em essência...
...Qualquer ato praticado com objetivo diverso da satisfação
do interesse público será nulo por desvio de finalidade”
(ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO, Vicente. Direto
administrativo descomplicado. São Paulo: Método, 2008, p.
198).
Quanto ao princípio da moralidade
“torna jurídica a exigência de atuação ética dos agentes da
Administração Pública. A denominada moral administrativa
difere da moral comum, justamente por ser jurídica e pela
possibilidade de invalidação dos atos administrativos que
sejam praticados com inobservância deste princípio”.
(ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO,Vicente. Direto
administrativo descomplicado. São Paulo: Método, 2008, p.
5ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE ÁGUAS LINDAS DE GOIÁS
195).
Na concepção do ilustre HELY LOPES MEIRELLES, apoiado em
Manoel Oliveira Franco Sobrinho, a moralidade administrativa nada mais é do que
a atuação honesta e proba do agente público, em resguardo do interesse coletivo:
“A moralidade administrativa constitui, hoje em dia,
pressuposto de validade de todo o ato da Administração
Pública (CF, art. 37, caput). Não se trata - diz Hauriou, o
sistematizador de tal conceito - da moral comum, mas sim
de uma moral jurídica, entendida como o "conjunto de
regras de conduta tiradas da disciplina interior da
Administração. Desenvolvendo sua doutrina, explica o
mesmo autor que o agente administrativo, como ser
humano dotado de capacidade de atuar, deve,
necessariamente, distinguir o Bem do Mal, o honesto do
desonesto. E, ao atuar, não poderá desprezar o elemento
ético de sua conduta. Assim, não terá que decidir somente
entre o legal e o ilegal, o justo e o injusto, o conveniente e
o inconveniente, o oportuno e o inoportuno, mas também
entre o honesto e o desonesto. Por considerações de
Direito e de moral, o ato administrativo não terá que
obedecer somente à lei jurídica, mas também à lei ética da
própria instituição, porque nem tudo que é legal é
honesto, conforme já proclamavam os romanos: "nom
omne quod licet honestum est". A moral comum, remata
Hauriou, é imposta ao homem para sua conduta externa, a
moral administrativa é imposta ao agente público para sua
conduta interna, segundo as exigências da instituição a
5ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE ÁGUAS LINDAS DE GOIÁS
que serve e a finalidade de sua ação: o bem comum”.
(Direito Administrativo Brasileiro, Malheiros Editores,
1993, 19a. ed., p. 83).
Por isso tudo, também é imprescindível a condenação dos Réus nas
sanções catalogadas na Lei de Improbidade, para resguardar o Estado Democrático
de Direito e os princípios da Administração Pública, em especial, o da legalidade,
moralidade e da impessoalidade.
O dano ao patrimônio público exacerbado, pois foram doadas um
total de 136 (cento e trinta e seis) áreas públicas, que perfazem área superior a
399.700 m². Se colocarmos o valor de R$ 500,00 (quinhentos reais) o metro
quadrado, que é o valor da região mais desvalorizada de Águas Lindas de Goiás,
verificamos que o valor do dano material ao Município supera a quantia de R$ R$
199.871.400,00 (cento e noventa e nove milhões, oitocentos e setenta e
um mil e quatrocentos reais).
Como já foi exposto em linhas pretéritas, a restituição das áreas ao
erário já está sendo pleiteada em ação civil pública específica, contudo devem os
Réus serem condenados pelo dano moral coletivo, como será detalhado no
próximo item.
2.4) DO DANO MORAL COLETIVO
Não bastasse o dano material causado ao Município (a perda da
propriedade dos imóveis), que está sendo pleiteada em ação própria, os Réus
violaram a legislação pátria e os princípios basilares do Estado Democrático de
5ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE ÁGUAS LINDAS DE GOIÁS
Direito, praticando a famigerada improbidade administrativa, sobressaindo patente
a lesão aos valores imateriais da coletividade, o que, gera um dano moral com
repercussão coletiva.
Desse modo, na medida em que os Réus descumpriram as ordens
irradiantes da Constituição Federal e incidiram nas condutas descritas nos arts. 9º,
10 e 11 da Lei nº 8.429/92, é indene de dúvidas que causaram danos ao regime
democrático, criando um inexorável dano coletivo.
No caso em tela a responsabilidade de Geraldo Messias de Queiroz,
Ângelo Chaves de Queiroz e Everaldo Ramiro da Silva foram extremas, posto que
se valeram do cargo de comandante do Poder Executivo Municipal, exercido pelo
primeiro para galgar interesses pessoais.
Geraldo Messias de Queiroz além de ter sido responsável por
desafetar as áreas públicas, dispensar a licitação em relação a todas as alienações
realizadas com base na Lei do PROMUDE (Lei Municipal nº 571/2006), assinou as
escrituras públicas de doação dos imóveis e emitiu cartas de anuência retirando a
cláusula de reversibilidade dos imóveis, ferindo a Lei nº 8.666/93.
Por sua vez, o Procurador do Município, Jair Esteves Machado
Júnior, emitiu duas cartas de anuência, requereu desistência em ação
reivindicatória em desacordo com o interesse do Município e ainda afastou do
cargo o servidor público que fez as denúncias de irregularidade perante o
Ministério Público.
Os demais Réus deram suporte para a realização de todas essas
ilegalidades, assinando atas de Conselho Deliberativo do Promude, as quais
5ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE ÁGUAS LINDAS DE GOIÁS
serviram de suporte jurídico para que o gestor do Município praticasse as
alienações. Os membros do Conselho lavraram diversas atas, nas quais constava
que as empresas atendiam aos requisitos legais, contudo o que se averiguou in
locu é que não houve implementação de empresas nos locais objeto das doações à
exceção de três imóveis, conforme certidão dos oficiais de promotoria constante
nos autos.
Por tudo isso, incumbe ao Poder Judiciário determinar que os
Requeridos reparem os danos causados, por seu atos ímprobos. E, pela lesão
causada a interesse ou direito difuso e coletivo, o sujeito passivo da ação civil
pública poderá ser condenado ao pagamento de uma determinada quantia em
dinheiro a título de indenização pelos danos morais coletivos causados, em especial
pelo dano causado à imagem do Poder Público Municipal, provocando um
descrédito da população.
O dano moral na moderna doutrina é toda agressão injusta
àqueles bens imateriais, tanto de pessoa física quanto jurídica, insusceptível de
quantificação pecuniária, porém indenizável com tríplice finalidade: satisfativo para
a vítima ou sociedade, dissuasório para o ofensor e de exemplaridade para a
sociedade.
Hugo Nigro Mazzili ensina que:
“a) o ordenamento jurídico admite em vários casos a
presunção de lesividade ao patrimônio público; b) ainda que
não haja dano patrimonial, a lesividade ao erário pode
decorrer da própria ilegalidade do ato praticado; c) a Lei de
Improbidade Administrativa não sanciona apenas os atos que
causem dano ao erário ou enriquecimento ilícito ao agente,
mas também os atos que importem violação a princípios da
5ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE ÁGUAS LINDAS DE GOIÁS
Administração; d) as sanções da Lei de Improbidade
Administrativa independem, pois da efetiva ocorrência de dano
ao patrimônio público; e) é ato de improbidade administrativa,
que presumivelmente causa prejuízo ao erário, frustrar a
licitude de processo licitatório ou dispensá-lo indevidamente,
ou ordenar ou permitir a realização de despesas não
autorizadas em lei ou regulamento; f) não só os danos
patrimoniais, como os danos morais devem expressamente ser
objeto da ação de responsabilidade.” MAZZILLI, Hugo Nigro. A
defesa dos interesses difusos em juízo. São Paulo: Saraiva,
2008, p. 197).
A indenização por dano moral coletivo tem por finalidade a
recomposição da imagem das instituições públicas, em especial a do Município.
Trata-se de medida pedagógica, como já mencionado, dissuasório para o ofensor e
de exemplaridade para a sociedade.
Para caracterização do dano moral basta que se verifique: a
conduta antijurídica do agente, a ofensa a valores extrapatrimoniais essenciais,
identificados no caso concreto, reconhecidos e inequivocamente compartilhados
por uma determinada coletividade (titular de interesses morais protegidos pela
ordem jurídica), e o nexo causal entre a conduta e a lesão social.
Com a Constituição da República de 1988, destacou-se a
importância da proteção dos direitos transindividuais e sua proteção, bem como
ressaltou a necessidade de reparação por dano causado, ainda que moral,
consoante se observa em seu artigo 5º, incisos V e X.
A possibilidade jurídica do pedido de indenização por dano
moral coletivo decorre de expresso dispositivo legal: o art. 1º, caput, da Lei da
5ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE ÁGUAS LINDAS DE GOIÁS
Ação Civil Pública (Lei Federal n° 7.347/85):
Art. 1º. Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular, AS AÇÕES DE
RESPONSABILIDADE POR DANOS MORAIS e patrimoniais causados (...) A QUALQUER outro INTERESSE DIFUSO OU
COLETIVO.
O valor devido à título de indenização por danos morais coletivos,
observa CARLOS ALBERTO BITTAR:
“(...) deve traduzir-se em MONTANTE QUE REPRESENTE
ADVERTÊNCIA AO LESANTE E À SOCIEDADE DE QUE SE NÃO SE ACEITA O COMPORTAMENTO ASSUMIDO, OU O EVENTO LESIVO ADVINDO. Consubstancia-se, portanto,
em IMPORTÂNCIA COMPATÍVEL COM O VULTO DOS INTERESSES EM CONFLITO, REFLETINDO-SE DE MODO
EXPRESSIVO, NO PATRIMÔNIO DO LESANTE, A FIM DE QUE SINTA, EFETIVAMENTE, A RESPOSTA DA ORDEM JURÍDICA AOS EFEITOS DO RESULTADO LESIVO
PRODUZIDO. DEVE, POIS, SER QUANTIA ECONOMICAMENTE SIGNIFICATIVA, EM RAZÃO DAS
POTENCIALIDADES DO PATRIMÔNIO DO LESANTE. Coaduna-se essa postura, ademais, com a própria índole da teoria em debate, possibilitando que se realize com
maior ênfase, a sua função inibidora de comportamentos. Com efeito, o peso do ônus financeiro é, em um mundo
em que cintilam interesses econômicos, a resposta pecuniária mais adequada a lesionamentos de ordem
moral.” (Reparação Civil por Danos Morais” in RT, 1993, pp. 220-222). (Grifos nossos).
O Egrégio Tribunal Regional Federal da 4ª Região também
admite a configuração do dano moral com repercussão coletiva, senão vejamos:
AÇÃO CIVIL PÚBLICA. OFENSAS CONTRA COMUNIDADE INDÍGENA. DANO MORAL COLETIVO. MAJORAÇÃO. 1. Tendo restado demonstrada a discriminação e o
preconceito praticados pelos réus contra grupo indígena Kaingang, é devida indenização por danos moral. 2. O
5ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE ÁGUAS LINDAS DE GOIÁS
dano moral coletivo tem lugar nas hipóteses onde exista um ato ilícito que, tomado individualmente, tem pouca
relevância para cada pessoa; mas, frente à coletividade, assume proporções que afrontam o senso comum. 3. Indenização por danos morais majorada para R$
20.000,00, a ser suportada de forma solidária por ambos os réus desta ação (TRF 4ª Região, Apelação Cível,
Processo n.° 200371010019370, relatora Vânia Hack de Almeida). (Grifos nossos).
Portanto, considerando a gravidade do ato de improbidade
administrativa praticado, que causou violação a um dos princípios fundamentais da
República Federativa do Brasil, que é o pluralismo político e por, consequência, ao
regime democrático, deve o valor do dano moral coletivo ser fixado em patamares
suficientes para alentar o sentimento de indignação da sociedade e para reparar o
dano causado à imagem do Município, além de funcionar como fator de inibição de
outras ilegalidades.
Por essas razões, o Ministério Público do Estado de Goiás
entende que, que deve ser fixado o dano moral coletivo em importe proporcional à
conduta de cada um dos Requeridos, pugnando pela condenação de GERALDO
MESSIAS DE QUEIROZ no valor de R$ 3.000.000,00 (três milhões de reais) tendo
em vista que praticou os atos de desafetação, dispensa de licitação e ainda usou o
cargo público para auferir lucro, efetuando doação de dois imóveis ao seu próprio
irmão; ANGELO CHAVES DE QUEIROZ, no valor de R$ 1.000.000,00 (um milhão de
reais) porque assinou como donatário escritura pública de dois imóveis, sabendo
que estava legitimando a sua própria posse e a do seu irmão sobre os bens em
prejuízo ao erário. Ressalte-se que o valor auferido por estes dois réus em
decorrência das doações é superior a R$ 8.400.000,00 (oito milhões e
quatrocentos mil reais), pois foram beneficiados com área total de 16898,68 m²,
devendo-se considerar que Geraldo Messias de Queiroz foi responsável por
efetuar doações ilegais de um total de 399.742,80 m², que constitui um
5ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE ÁGUAS LINDAS DE GOIÁS
dano ao erário de aproximadamente R$ 199.871.400,00 (cento e noventa
e nove milhões, oitocentos e setenta e um mil e quatrocentos reais).
Quanto a EVERALDO RAMIRO DA SILVA requer o Ministério
Público a sua condenação em dano moral coletivo no valor R$ 200.000,00
(duzentos mil reais), posto que utilizou sua influência política para obter lucro,
uma vez que foi candidato a vice-prefeito de Geraldo Messias de Queiroz e foi
agraciado pelo seu aliado político com a doação de um imóvel público; JAIR
ESTEVES MACHADO JUNIOR no valor de R$ 400.000,00 (quatrocentos mil reais),
posto que praticou três atos de improbidade (assinou cartas de anuência, afastou o
servidor que denunciou os fatos ao Ministério Público e ainda assinou petição com
pedido de desistência em ação reivindicatória de autoria do Município, para
defender interesse pessoal do Chefe do Poder Executivo. Os demais Requeridos
JOSÉ BONIFÁCIO DA SILVA MELO, HELDER MORATO AXHCAR, MARCOS ANTONIO
DOMINGOS, AUGUSTO PEREIRA GOMES NETO, este órgão entende que deverão
ser condenados em dano moral coletivo no valor de R$ 200.000,00 (duzentos mil
reais), tendo em vista que forneceram suporte material e jurídico para GERALDO
MESSIAS DE QUEIROZ promovesse as indiscriminadas doações de áreas públicas,
assinando atas de Conselho Deliberativo do Promude, sem promover qualquer
publicidade, sem sequer realizar efetivas reuniões.
Os valores decorrentes desta condenação, deverão ser
revertidos ao erário público municipal, ou melhor, para os cofres do município de
Águas Lindas de Goiás.
3 – DOS PEDIDOS FINAIS
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Diante desses argumentos, requer o Ministério Público:
1. seja esta petição inicial autuada juntamente com os documentos
que a acompanham, notificando-se a parte Ré para a apresentação de
manifestação prévia, no prazo de quinze dias, consoante prevê o artigo 17, § 7º,
da Lei n.º 8.429/92;
2. após o oferecimento de tal manifestação, ou transcorrido o prazo
legal sem sua apresentação, seja recebida esta petição inicial por este juízo de
Direito, citando-se a parte Requerida para oferecimento de contestação sob pena
de revelia e confissão, no prazo ordinário de quinze dias, conforme disposto no
artigo 17, § 9º, da Lei n.º 8.429/92;
3. seja o Município de Águas Lindas de Goiás notificado, para tomar
ciência do ajuizamento desta ação e para que, querendo, integre o polo ativo da
mesma, conforme autorização do artigo 17, § 3º, da Lei n.º 8.429/92;
4. conforme o grau de irregularidade que reste reconhecido por esse
juízo após a instrução do feito, que sejam impostas aos Réus as sanções descritas
no art. 12, da Lei nº 8.429/92, da seguinte maneira:
a) quanto à GERALDO MESSIAS DE QUEIROZ:
a.1) que seja reconhecida a improbidade por prática das
condutas descritas no art. 9º e 10 da Lei nº 8.429/92, que sejam-lhes
aplicadas as sanções previstas no art. 12, inciso I e II, da mesma lei, com
a reparação integral do dano, por meio de condenação em dano moral coletivo no
valor de R$ 3.000.000,00 (três milhões de reais), perda de função ou cargo
público, suspensão dos direitos políticos pelo prazo de até dez anos, pagamento de
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multa civil de até três vezes o valor do acréscimo patrimonial e proibição de
contratar com o poder público ou receber benefícios ou incentivos fiscais e
creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da
qual seja sócio majoritário, pelo prazo de dez anos;
a.2) subsidiariamente, que GERALDO MESSIAS DE QUEIROZ seja
condenado pela conduta do art. 11, da Lei nº 8.429/92, ainda que na
modalidade culposa, com o ressarcimento integral do dano, por meio de
condenação em dano moral coletivo no valor de R$ 3.000.000,00 (três
milhões de reais), perda da função pública, suspensão dos direitos
políticos de cinco anos, pagamento de multa civil de cem vezes o valor da
remuneração percebida pelo agente e proibição de contratar com o Poder
Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou
indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja
sócio majoritário, pelo prazo de três anos;
b) quanto à ANGELO CHAVES DE QUEIROZ:
b.1) que seja reconhecida a improbidade por prática de
conduta descrita art. 9º da Lei nº 8.429/92, que sejam-lhes aplicadas as
sanções previstas no art. 12, inciso I, da mesma lei, com a reparação integral
do dano, por meio de condenação em dano moral coletivo no valor de R$
1.000.000,00 (um milhão de reais), perda de função ou cargo público, suspensão
dos direitos políticos pelo prazo de dez anos, pagamento de multa civil de até três
vezes o valor do acréscimo patrimonial e proibição de contratar com o poder
público ou receber benefícios ou incentivos fiscais e creditícios, direta ou
indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio
majoritário, pelo prazo de dez anos;
b.2) subsidiariamente, que ANGELO CHAVES DE QUEIROZ seja
condenado pela conduta do art. 11, da Lei nº 8.429/92, ainda que na
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modalidade culposa, com o ressarcimento integral do dano, por meio de
condenação em dano moral coletivo no valor de R$ 1.000.000,00 (um milhão de
reais), perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de cinco anos,
pagamento de multa civil de cem vezes o valor da remuneração percebida pelo
agente e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou
incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio
de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de três anos;
c) quanto a JAIR ESTEVES MACHADO JUNIOR:
c.1) que seja reconhecido ato de improbidade administrativa
descrito no art. 10, da Lei nº 8.429/92, com a aplicação das sanções
dispostas no art. 12, inciso II, da mesma lei, com o ressarcimento integral do
dano moral coletivo no valor de R$ 400.000,00 (quatrocentos mil reais), perda dos
bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, perda da função pública,
suspensão dos direitos políticos de oito anos, pagamento de multa civil de duas
vezes o valor do dano e proibição de contratar com o Poder Público ou receber
benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que
por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de
cinco anos;
c.2) subsidiariamente, que JAIR ESTEVES MACHADO JUNIOR
seja condenado pela conduta do art. 11, da Lei nº 8.429/92, ainda que na
modalidade culposa, com o ressarcimento integral do dano moral coletivo, no
valor de R$ 400.000,00 (quatrocentos mil reais), perda da função pública,
suspensão dos direitos políticos de cinco anos, pagamento de multa civil de cem
vezes o valor da remuneração percebida pelo agente e proibição de contratar com
o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou
indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio
majoritário, pelo prazo de três anos;
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d) quanto ao Réu EVERALDO RAMIRO DA SILVA:
d.1) que seja reconhecida a improbidade por prática de
conduta descrita art. 9º da Lei nº 8.429/92, que sejam-lhes aplicadas as
sanções previstas no art. 12, inciso I, da mesma lei, com a reparação integral
do dano moral coletivo no valor de R$ 200.000,00 (duzentos mil reais), perda de
função ou cargo público, suspensão dos direitos políticos pelo prazo de oito anos,
pagamento de multa civil de três vezes o valor do acréscimo patrimonial e
proibição de contratar com o poder público ou receber benefícios ou incentivos
fiscais e creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa
jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de dez anos;
d.2) subsidiariamente, que EVERALDO RAMIRO DA SILVA seja
condenado pela conduta do art. 11, da Lei nº 8.429/92, ainda que na
modalidade culposa, com o ressarcimento integral do dano, por meio de
condenação em dano moral coletivo no valor de R$ 200.000,00 (duzentos mil
reais), perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de cinco anos,
pagamento de multa civil de cem vezes o valor da remuneração percebida pelo
agente e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou
incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio
de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de três anos;
e) quantos aos Réus JOSÉ BONIFÁCIO DA SILVA MELO,
HELDER MORATO AXHCAR, MARCOS ANTONIO DOMINGOS e AUGUSTO
PEREIRA GOMES NETO:
e.1) que seja reconhecido ato de improbidade administrativa
descrito no art. 10, da Lei nº 8.429/92, com a aplicação das sanções
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dispostas no art. 12, inciso II, da mesma lei, com o ressarcimento integral do
dano moral coletivo no valor de R$ 200.000,00 (duzentos mil reais), perda dos
bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, perda da função pública,
suspensão dos direitos políticos de oito anos, pagamento de multa civil de duas
vezes o valor do dano e proibição de contratar com o Poder Público ou receber
benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que
por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de
cinco anos;
e.2) subsidiariamente que sejam condenados pela conduta do
art. 11, da Lei nº 8.429/92, ainda que na modalidade culposa, com o
ressarcimento integral do dano, por meio de condenação em dano moral coletivo
no valor de R$ 200.000,00 (duzentos mil reais), perda da função pública,
suspensão dos direitos políticos de cinco anos, pagamento de multa civil de cem
vezes o valor da remuneração percebida pelo agente e proibição de contratar com
o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou
indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio
majoritário, pelo prazo de três anos;
5. a condenação dos Réus aos pagamentos de custas processuais e
demais verbas de sucumbência;
7. no caso de serem julgados procedentes os pedidos aqui
formulados, sejam oficiados o Tribunal Superior Eleitoral no caso de suspensão dos
direitos políticos, o Banco Central do Brasil – para que este comunique às
instituições financeiras oficiais a proibição de contratar com o poder público e
receber incentivos e benefícios fiscais ou creditícios – e, para o mesmo fim, seja
determinada a inclusão do nome dos Requeridos no Cadastro de Créditos Não
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Quitados de Órgãos e Entidades Federais – CADIN.
Dá à causa o valor de R$ 250.000.000,00 (duzentos e
cinquenta milhões de reais).
Águas Lindas-GO, 25 de setembro de 2014.
TÂNIA D'ABLE ROCHA DE TORRES BANDEIRA
Promotora de Justiça