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5ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE ÁGUAS LINDAS DE GOIÁS EXMO. SR. JUIZ DE DIREITO DA VARA DAS FAZENDAS PÚBLICAS DA COMARCA DE ÁGUAS LINDAS DE GOIÁS Distribuição por dependência em relação à ação de busca e apreensão 201203842729 O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, por sua Promotora de Justiça signatária, vem, perante Vossa Excelência, no uso de suas atribuições legais, com lastro nos artigos 127, 129, III e 37, caput e incisos XXI da Constituição Federal, artigos 117, III e 92, inciso XXI, da Constituição Estadual, art. 17 da Lei n.º 8.429/92, com fulcro no inquérito civil autuado sob o nº 201200300131, propor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA em face de GERALDO MESSIAS DE QUEIROZ, brasileiro, casado, técnico em contabilidade, RG 1029314 SSP/DF, CPF nº 457.320.356-72, residente na residente na AV4-A e AV4-B, da quadra 89, Conjunto A, Setor 11, situado no Loteamento Parque da Barragem, nesta Cidade;

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5ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE ÁGUAS LINDAS DE GOIÁS

EXMO. SR. JUIZ DE DIREITO DA VARA DAS FAZENDAS PÚBLICAS DA COMARCA DE ÁGUAS LINDAS DE GOIÁS

Distribuição por dependência em relação

à ação de busca e apreensão nº

201203842729

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, por

sua Promotora de Justiça signatária, vem, perante Vossa Excelência, no uso de

suas atribuições legais, com lastro nos artigos 127, 129, III e 37, caput e incisos

XXI da Constituição Federal, artigos 117, III e 92, inciso XXI, da Constituição

Estadual, art. 17 da Lei n.º 8.429/92, com fulcro no inquérito civil autuado sob o

nº 201200300131, propor a presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

em face de

GERALDO MESSIAS DE QUEIROZ, brasileiro, casado,

técnico em contabilidade, RG 1029314 SSP/DF, CPF nº

457.320.356-72, residente na residente na AV4-A e AV4-B, da

quadra 89, Conjunto A, Setor 11, situado no Loteamento

Parque da Barragem, nesta Cidade;

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JAIR ESTEVES MACHADO JÚNIOR, brasileiro, divorciado,

advogado, CPF 313.058.491-91, residente e domiciliado em R

12 Chac 144 Casa C 10, Residencial Solarium Vicente Pires,

Cep 72007520, Brasilia - Df;

JOSÉ BONIFÁCIO DA SILVA MELO, brasileiro, casado,

servidor público municipal, RG 606654 SSP/DF, CPF

121.983.403-30, residente na quadra 16, lote 13, Camping

Clube, nesta Cidade;

HELDER MORATO AXHCAR, brasileiro, casado, RG 451395

SESPDS/DF, CPF 150.159.041-34, residente na Colônia

Agrícola Vicente pires, chácara 307, lote 28, Vicente Pires/DF,

com domicílio profissional no Posto ALE, Águas Lindas de

Goiás, Setor 06, nas proximidades do Supermercado

Rodrigues;

MARCOS ANTONIO DOMINGOS, brasileiro, filho de Nair

Gonçalves Domingos, nascido em 24/04/1967, CPF

256.068.401-20, residente na Qd Smt Conjunto 02, Casa 4,

Taguatinga Taguatinga, Cep 72000000 Brasília – DF;

AUGUSTO PEREIRA GOMES NETO, brasileiro, divorciado,

RG 4853352 SSP/GO, CPF 489.491.403-49, residente na

quadra 100, casa 07, Cidade Jardim, nesta Cidade;

ÂNGELO CHAVES DE QUEIROZ, brasileiro, solteiro,

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administrador, RG 031346 SSP/DF, CPF 400.565.201-82,

residente e domiciliado na quadra 27, conjunto A, lote 05,

Setor 3, Parque da Barragem, nesta Cidade;

EVERALDO RAMIRO DA SILVA, brasileiro, divorciado,

identidade 1383891 SSP/DF, CPF 564.647.971-15, com

endereço na quadra 21, lote 05, Jardim Brasília, nesta Cidade,

em razão dos fatos e fundamentos a seguir articulados:

1 – DOS FATOS

O Município de Águas Lindas de Goiás, durante a gestão do primeiro

réu, Geraldo Messias de Queiroz, como Prefeito, no período de 2009 a 2012,

promoveu inúmeras doações de imóveis públicos, em total dissonância aos ditames

legais, provocando grave prejuízo ao erário municipal, valendo-se, para isso, da

Lei nº 571/2006, conhecida como Lei do PROMUDE.

Esta Lei Municipal tinha como premissa propiciar a promoção do

desenvolvimento industrial e comercial, por meio de doações condicionadas de

imóveis públicos e concessão de incentivos fiscais a empresas particulares, que

ficariam responsáveis pela geração de empregos e renda para o Município.

No inquérito civil que tramitou nesta Promotoria de Justiça (Autos nº

201200300131), que segue anexo a esta, apurou-se que, utilizando-se da Lei nº

571/2006 (Lei do Promude), os seis primeiros Réus, GERALDO MESSIAS

QUEIROZ, JAIR ESTEVES MACHADO JÚNIOR, JOSÉ BONIFÁCIO DA SILVA

MELO, HELDER MORATO AXHCAR, MARCOS ANTONIO DOMINGOS e

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AUGUSTO PEREIRA GOMES NETO, uniram esforços para dilapidar o

patrimônio do Município e agraciar pessoas que eram de seu interesse

pessoal, efetuando doações de áreas públicas, sem realização de qualquer

procedimento licitatório ou transparência na escolha dos beneficiários.

As doações ilegais que estavam sendo praticadas pelo

Município foram denunciadas ao Ministério Público por Severino João

Ramos, servidor municipal lotado na Secretaria de Habitação e Regularização

Fundiária. No depoimento prestado por ele ao Ministério Público relatou

que, os interessados em se beneficiar com o programa PROMUDE abriam

um CNPJ usando próprio computador da Secretaria de Habitação

Municipal, acessando o Portal do Empreendedor Individual, com a

finalidade de obter CNPJ e, no mesmo dia já, eram beneficiadas pelo

Programa PROMUDE.

Então, era lavrada uma escritura pública de doação

condicionada, na qual o imóvel passava a ser escriturado em nome do

beneficiário e poucos dias depois, era encaminhada uma carta de

anuência, algumas assinadas pelo ex-prefeito Geraldo Messias de Queiroz

(constantes no Anexo III e IV do inquérito civil) e outras pelo Procurador

do Município à época (fls. 811 e 836 dos autos principais do inquérito

civil), declaravam que a empresa havia cumprido todos as obrigações constantes

na escritura pública de doação condicionada e determinava que o Cartório

retirasse as cláusulas de obrigações e reversibilidade ao patrimônio

público, momento em que o imóvel passava a ser livre e desembaraçado.

Após este ato, muitos imóveis foram alienados pelos

beneficiários a terceiros, o que é inadmissível, pois as doações tinham a

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natureza jurídica de incentivo material para que a empresa beneficiária se

mantivesse funcionando no Município, para atender à finalidade descrita

no art. 1º, da Lei 571/2006, que era a industrialização, urbanização e a

geração de emprego e renda.

Em inspeção realizada in locu pelos Oficiais de Promotoria

desta Cidade, averiguou-se que de todos os imóveis doados pelo

Município, apenas dois deles mantém empresa em funcionamento. A maior

parte dos imóveis são áreas vazias sem funcionamento de qualquer

empresa.

Conforme bem demonstram os documentos anexados aos autos do

Inquérito Civil, o primeiro Réu, GERALDO MESSIAS DE QUEIROZ, com o auxílio

dos outros cinco Réus, JAIR ESTEVES MACHADO JÚNIOR, JOSÉ BONIFÁCIO DA

SILVA MELO, HELDER MORATO AXHCAR, MARCOS ANTONIO DOMINGOS e

AUGUSTO PEREIRA GOMES NETO, promoveram a alienação indiscriminada de

um total de 136 (cento e trinta e seis) imóveis públicos (fls. 519/526),

com indevida dispensa de licitação, sem avaliação prévia e, poucos dias

depois, em relação a 98 (noventa e oito) imóveis retiraram qualquer

gravame e a cláusula de reversibilidade, aduzindo que o beneficiário teria

cumprido todos os requisitos da Lei do PROMUDE (entre os quais geração

de emprego e renda na Cidade), contudo o que se constatou é que em

98% (noventa e oito por cento) dos imóveis sequer existe empresa

construída, estando alguns imóveis apenas murados e a maioria

abandonados, conforme se verifica nas certidões dos oficiais de

promotoria que se encontram no anexo III e IV, do inquérito civil nº

201200300131.

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Averiguou-se nos autos do inquérito civil, que houve uma verdadeira

festa de doações, tendo sido até mesmo desvirtuada a própria natureza dessas

doações, que deveriam ter sido somente em favor de pessoas jurídicas, para

beneficiar quem era do interesse dos Requeridos, em total afronta à

Constituição Federal, à Lei nº 8.666/93, a Lei 6.766/79 e à própria Lei do

Promude.

Apurou-se que entre os beneficiários das doações do

PROMUDE, 07 (sete) pessoas físicas foram agraciadas, entre as quais o

irmão do próprio GERALDO MESSIAS DE QUEIROZ, ANGELO CHAVES DE

QUEIROZ, último réu, que recebeu dois imóveis, conforme será melhor

delineado adiante.

Averiguou-se também que também foi agraciado o candidato a

vice-Prefeito na chapa em que Geraldo Messias de Queiroz concorria à

reeleição (fls. 794/796), de nome Everaldo Ramiro da Silva (fls.

744/747), o qual é proprietário da empresa LML MAGAZINE E PROMOÇÕES

DE VENDAS LTDA (fls. 596 do inquérito civil). Em seu depoimento (fls.

755/759) o próprio Everaldo confirmou que efetuou um ato de simulação

de venda para sua companheira para conseguir liberação de valores de

financiamento junto à Caixa Econômica Federal.

Evidente que esses atos praticados pelo ex-gestor do Município e seus

aliados, tiverem por finalidade, tão somente, dilapidar o patrimônio público para

atender a interesses privados, beneficiando pessoas e empresas, fazendo novos

aliados políticos, sem qualquer preocupação com o princípio da supremacia do

interesse público, e os princípios constitucionais da legalidade, impessoalidade e

moralidade, descritos no art. 37, caput, da Carta Magna.

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Diante da constatação de desrespeito a diversas normas legais que as

doações eivadas de vícios insanáveis e, devido ao excessivo número de imóveis,

este órgão ministerial propôs 31 (trinta e uma) ações de desconstituição de ato

jurídico com o objetivo de reaver os imóveis ao patrimônio do Município, conforme

tabela a seguir:

PETIÇÃO 01 - Autos Judiciais:

201401502101

Imóveis de matrículas 13.770 e 13.726

PETICÃO 02 Autos judiciais 201401508698

Imóveis de matrículas 42449, 39265, 42448

PETIÇÃO 3 – autos judicias 201401508949

Imóveis de matrículas 42861, 43296, 42709, 13767, 13725

PETIÇÃO 4 - Autos Judiciais: 201401503122

Imóveis de matrículas 13736,13759, 13760, 13764, 13737

PETIÇÃO 5 - Autos Judiciais:

201401508388

Imóveis de matrículas 13755, 13727,

13724

PETIÇÃO 6 – Autos judiciais: 201401518472

13751, 13766, 13728, 13765, 13763

PEITÇÃO 7 - Autos Judiciais: 201401526602

Imóveis de matrículas 13721, 42872, 13710, 13709

PETIÇÃO 8 - Autos Judiciais:

201401516100

Imóveis de matrículas 13741, 13754,

13730

PETIÇÃO 9 - Autos Judiciais: 201401503270

Imóveis de matrículas 3849, 6128, 9312, 43298

PETIÇÃO 10 - Autos Judiciais: 20101532211

Imóveis de matrículas 5195, 41112, 43208

PETIÇÃO 11 - Autos Judiciais:

201401502240

Imóveis de matrículas 43096, 43097,

3652

PETIÇÃO 12 - Autos Judiciais: 201401515953

Imóveis de matrículas 13723, 13748, 13747, 6814

PETIÇÃO 13 - Autos Judiciais: 201401530634

Imóveis de matrículas 13718, 13719, 13720, 13722, 13706

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PETIÇÃO 14 - Autos Judiciais: 201401528877

Imóveis de matrículas 13712, 13703, 13735, 43703

PETIÇÃO 15 - Autos Judiciais:

201401508132

Imóveis de matrículas 13716, 13757

PETIÇÃO 16 - Autos Judiciais: 201401519932

Imóveis de matrículas 13702, 13711, 13715, 13744, 13745

PETIÇÃO 17 - Autos Judiciais: 201401509082

Imóveis de matrículas 13707, 13756

PETIÇÃO 18 – Autos judiciais:

201401527625

Imóveis de matrículas 13731, 13732,

13704

PETIÇÃO 19 – Autos judiciais: 201401527781

Imóveis de matrículas 13773, 13733, 42710

PETIÇÃO 20 - Autos Judiciais: 201401525517

Imóveis de matrículas 13713, 13739

PETIÇÃO 21 - Autos Judiciais:

201401517670

Imóveis de matrículas 13705, 13749

PETIÇÃO 22 - Autos Judiciais: 201401514175

Imóveis de matrículas 42700, 39085

PETIÇÃO 23 - Autos Judiciais: 201401515791

Imóveis de matrículas 3713, 3727, 42865, 43207

PETIÇÃO 24 - Autos Judiciais:

201401519460

Imóveis de matrículas 13742, 13743

PETIÇÃO 25 - Autos Judiciais: 201401514884

Imóveis de matrículas 13708, 13750

PETIÇÃO 26 - Autos Judiciais: 201401514868

Imóveis de matrículas 13740, 13738

PETIÇÃO 27 - Autos Judiciais:

201401528281

Imóveis de matrículas 43297, 14004,

13729

PETIÇÃO 28 - Autos Judiciais: 201401513527

Imóveis de matrículas 39263, 39264

PETIÇÃO 29 – Autos Judiciais:

201401504013

Imóveis de matrículas 42871, 43515,

44539

PETIÇÃO 30 – Autos judiciais

201401502240

Imóveis de matrículas 13752, 13717,

13762

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PETIÇÃO 31 - Autos Judiciais: 201401503548

Imóveis de matrículas 42014

As ações civis públicas citadas acima foram propostas em relação a todos os imóveis que já constavam em suas matrículas a averbação da alienação,

que totaliza 98 (noventa e nove) imóveis. Quanto aos imóveis que, apesar de ter sido lavrada escritura pública de doação condicionada, estes atos de alienação ainda não se encontravam averbados em suas matrículas, foi expedida a

recomendação nº 03/2014, para que o Município instaurasse ato administrativo para apurar a ilegalidade das doações, pelo princípio da autotutela dos atos

administrativos (fls. 573/575).

Em relação ao imóvel que foi beneficiado o Réu Ângelo Chaves

de Queiroz, foi proposta a ação civil pública de anulação de ato jurídico,

protocolada sob nº 201401513527. A área de cada um dos imóveis é de

13.330 metros quadrados (matrícula nº 39.263) e 3568,82 metros

quadrados (matrícula nº 39.264), situados na AV4-A e AV4-B, da Quadra

89, Conjunto 11, do loteamento denominado Parque da Barragem, cujos

locais são utilizados para a moradia do próprio GERALDO MESSIAS DE

QUEIROZ, conforme será melhor exposto a seguir.

No que diz respeito ao imóvel doado ao candidato a vice-

prefeito, Everaldo Ramiro da Silva, a ação civil pública para

desconstituição do ato de doação é de atribuição do Ministério Público

Federal, devido à Caixa Econômica Federal ter interesse no feito porque

constava como interveniente em financiamento imobiliário, motivo pelo

qual este órgão ministerial remeteu os documentos para apreciação

daquele órgão (fls. 594/600).

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2 – DO DIREITO

2.1) DA LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO:

A Carta Magna, em seu art. 127, incumbiu ao Ministério Público, o

dever de defender a ordem jurídica, o regime democrático, bem como os

interesses sociais e, em especial, os interesses difusos.

A Lei nº 8.625/93, em seu artigo 25, inciso IV, “a”, de igual modo,

preconiza o seguinte:

Art. 25. Além das funções previstas nas Constituições Federal

e Estadual, na Lei Orgânica e em outras leis, incumbe, ainda,

ao Ministério Público:

IV - promover o inquérito civil e a ação civil pública, na

forma da lei:

a) para a proteção, prevenção e reparação dos danos

causados ao meio ambiente, ao consumidor, aos bens e

direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e

paisagístico, e a outros interesses difusos, coletivos e

individuais indisponíveis e homogêneos;

A Ação Civil Pública é a via processual adequada para

responsabilizar o agente público que pratica ato improbidade administrativa, em

prejuízo de interesses difusos ou coletivos, sendo parte legítima o Ministério

Público, por expressa disposição do artigo 5º, inciso I da Lei nº 7.347/85.

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A partir do advento da Lei de Ação Civil Pública, em 1985, o

MINISTÉRIO PÚBLICO passou a ser o principal agente na defesa dos interesses

transindividuais, atuando como fiscal da lei, preservação da ordem jurídica e do

regime democrático, em especial, promovendo as medidas necessárias para

responsabilizar os agentes públicos que deixam de cumprir com o seu dever de

probidade e de observância aos princípios que devem reger a Administração

Pública.

Por isso, a Lei nº 8.429/92, através de seus artigos, 14, §2º, 15,

16, 17 e 22, também explicitam a legitimidade ativa do MINISTÉRIO PÚBLICO para

a ação judicial para responsabilizar o agente público que causa prejuízo ao

patrimônio público, seja material ou imaterial, com a imposição das sanções

previstas no artigo 12 da mesma lei.

2.2) DA LEGITIMIDADE PASSIVA

A Lei nº 8.429/92 prevê que se sujeitam às sanções por ato de

improbidade administrativa, tanto o agente público que praticou o ato, quanto os

particulares que induzam, concorram ou se beneficiem do ato de forma indireta ou

direta. (arts. 1º, 2º e 3º da Lei nº 8.429/92).

Os seis primeiros Requeridos praticaram os atos ora questionados na

condição de agentes públicos e executaram, diretamente, atos administrativos que

resultaram nas doações ilegais de imóveis públicos, bem como na retirada da

cláusula de reversibilidade que incidia sobre os imóveis, fazendo com que o bem

ficasse livre e desembaraçado, tendo ocorrido até mesmo diversas alienações pelos

donatários. GERALDO MESSIAS QUEIROZ era Prefeito, JAIR ESTEVES

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MACHADO JÚNIOR exercia a função de Procurador-Geral do Município,

JOSÉ BONIFÁCIO DA SILVA MELO exercia a função de Chefe do

Departamento de Fiscalização de Obras e Posturas, HELDER MORATO

AXHCAR era o Secretário de Habitação, MARCOS ANTONIO DOMINGOS era

o Secretário de Obras, AUGUSTO PEREIRA GOMES NETO exercia a função

de Assessor Técnico do PROMUDE. ÂNGELO CHAVES DE QUEIROZ foi

beneficiado com a doação de dois imóveis públicos que constituem,

justamente, o local de moradia do prefeito da época, que é seu irmão;

enquanto EVERALDO RAMIRO DA SILVA era candidato a vice-prefeito nas

eleições 2012, formando a chapa com GERALDO MESSIAS DE QUEIROZ

que era candidato à reeleição e, mesmo assim foi agraciado com imóvel

público pelo seu próprio parceiro de campanha.

2.3) DAS CONDUTAS ÍMPROBAS PRATICAS PELOS RÉUS

2.3.1) DA CONDUTA DE GERALDO MESSIAS DE QUEIROZ EM EFETUAR

DOAÇÃO DE DOIS IMÓVEIS AO SEU PRÓPRIO IRMÃO, ANGELO CHAVES DE

QUEIROZ, TENDO SE VERIFICADO QUE, NA VERDADE, O PRÓPRIO

GERALDO MESSIAS É O PROPRIETÁRIO DE FATO – documentos constam

no anexo III do inquérito civil

O último Réu, Ângelo Chaves de Queiroz é irmão de Geraldo

Messias de Queiroz e, durante a gestão deste como Prefeito, foi agraciado

com a doação de dois imóveis públicos, em seu próprio nome, como

pessoa física, embora a Lei do PROMUDE somente contemplasse como

beneficiário pessoa jurídica.

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Averiguou-se que o primeiro réu, GERALDO MESSIAS DE QUEIROZ,

assinou um contrato particular de concessão de direito real de uso do solo

em nome do Município com seu próprio irmão, último Réu, contudo na

ocasião em que encaminhou ofício ao cartório de registro de imóveis,

requereu a lavratura de escritura pública de doação, o que foi formalizado

pelo Oficial de Cartório à época, o qual atualmente já é falecido. Na ocasião, foi

averbada na matrícula dos imóveis ato de doação condicionada, a qual

descrevia que o imóvel estava sendo doado para instalar um distrito

industrial, com o encargo do donatário iniciar a obra em 90 dias e dar

início às atividades em 2 (dois) anos.

A escritura pública de doação foi assinada pelo próprio GERALDO

MESSIAS DE QUEIROZ, na condição de Prefeito, tendo como donatário seu próprio

irmão, em que foram doados os seguintes imóveis em favor de ÂNGELO CHAVES

DE QUEIROZ: a) Lote AV4-A, da quadra 89, Conjunto A, Setor 11, situado

no Loteamento Parque da Barragem, nesta Cidade, com área de 13.330

m², objeto da matrícula 39.263; b) Lote AV4-B, da quadra 89, Conjunto A,

Setor 11, situado no Loteamento Parque da Barragem, nesta Cidade, com

área de 3568,82 m², objeto da matrícula 39.264.

O valor do prejuízo ao erário em decorrência da doação dessas duas

áreas é superior a R$ 8.400.000,00 (oito milhões e quatrocentos mil reais), pois a

área total desses dois lotes é 16.898,82 m² e, calculando-se no valor do metro

quadrado da área mais desvalorizada de Águas Lindas de Goiás que gira em torno

de R$ 500,00 (quinhentos reais)

Não bastasse a própria ilegalidade da doação em si, tanto pela

inexistência de licitação e avaliação, como por beneficiar pessoa física

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parente do próprio gestor municipal, os Oficiais de Promotoria desta

Comarca estiveram nos imóveis objeto das doações e constataram que o

local é uma chácara residencial, a qual é utilizada para a moradia o ex-

prefeito Geraldo Messias de Queiroz, conforme certidões anexas.

Ao conceder entrevista perante a TVCMN, GERALDO MESSIAS

DE QUEIROZ admitiu que reside no imóvel que o Município doou ao irmão

dele, por meio de escritura pública assinada pelo próprio Geraldo Messias

(fls. 616), bem como pessoas inquiridas nesta Promotoria de Justiça

confirmaram que GERALDO MESSIAS DE QUEIROZ reside no imóvel (fls.

644; 649).

Além disso, embora o ato praticado de fato pela Administração

Municipal tenha sido uma doação condicionada, foi averbada no Cartório a

mando do ex-prefeito, GERALDO MESSIAS DE QUEIROZ, uma carta de

anuência representando o Município, a qual afirmava que o beneficiário

(seu irmão) teria cumprido todas as condições da doação e o imóvel (que

era construir em 30 dias e iniciar atividades empresariais em 2 anos).

A partir de então, o imóvel ficou livre e desembaraçado,

contudo o que se percebe é que nenhuma empresa funciona no local. O

imóvel foi escriturado para uma pessoa física, quando o objetivo da

suposta doação seria a formação de um distrito industrial.

Em relação a esses dois imóveis doados pelo ex-gestor ao seu próprio

irmão, constatou-se que a má-fé dos réus GERALDO MESSIAS DE QUEIROZ e

ANGELO CHAVES DE QUEIROZ é ainda mais cristalina, posto que já tramitava

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ação reivindicatória proposta pelo Município de Águas Lindas no ano de

2005, questionando a ocupação ilegal dessa área por parte de GERALDO

MESSIAS (Autos nº 200503896297).

Nos documentos que constam naqueles autos (anexo III do

inquérito civil), o Município alegava que GERALDO MESSIAS DE QUEIROZ

era invasor da área pública e havia construído no imóvel uma verdadeira

mansão que contempla casa, piscina, churrasqueira, campo de futebol e casa de

caseiro, conforme relatório emitido pela Secretaria de Habitação e Regularização

Fundiária, lavrado em 24 de maio de 2005.

Consta, inclusive fotografia do próprio GERALDO MESSIAS no

interior do imóvel, comprovando, claramente, que ele reside no imóvel

desde 2005, caracterizando a ocupação ilegal de área pública.

Quando GERALDO MESSIAS DE QUEIROZ assumiu o poder

como Prefeito, incumbiu-se em tentar “legalizar” a sua posse em relação

ao imóvel em que residia, ignorando o zelo que todo administrador deve

ter pelo patrimônio público. Assim, efetuou a malfadada doação do imóvel

em favor de ÂNGELO CHAVES DE QUEIROZ, sem qualquer observância ao

princípio da legalidade, impessoalidade e moralidade administrativa, pois o

real intuito do ato de doação era enriquecer ele próprio e seu irmão de forma

ilícita, na tentativa de legitimar a sua posse sobre o bem.

Não bastasse isso, o Réu também tentou ludibriar o Juízo da Vara da

Fazenda Pública, nos autos da ação popular nº 201200204446, que tem por

objeto os aludidos imóveis, juntando petição e documentos alegando que

teria ocorrido a rescisão do contrato particular de direito real de uso do

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solo que ele firmou com seu próprio irmão, aduzindo em sua petição que a

demanda teria perdido seu objeto, contudo esta alegada rescisão não foi

lavrada por instrumento público e, por isso, o imóvel continuava

escriturado em nome de ÂNGELO CHAVES DE QUEIROZ e estava livre e

desembaraçado devido à carta de anuência, somente passando a ser

bloqueado em virtude de decisão liminar proferida naquela ação popular.

Não menos ilegal e imoral foi a conduta de ANGELO CHAVES DE

QUEIROZ em figurar como donatário dos imóveis em que seu irmão

residia, compactuando com o ato que causou grave prejuízo ao erário

municipal e contribuindo para enriquecimento ilícito próprio e o de seu

irmão.

Há também documentos anexados à Ação Reivindicatória nº

200503896297 que demonstram que outros ocupantes de área pública

teriam supostamente adquirido a posse dos imóveis por meio de ato

oneroso praticado por ANGELO CHAVES DE QUEIROZ, demonstrando que

tanto ele, quanto o seu irmão eram invasores de áreas públicas e com o

ato de administrativo ilegal de doação pretenderam arrumar um jeito de

escriturar o imóvel em nome de um membro da família, para que tivessem

a propriedade do bem, sendo que ÂNGELO CHAVES DE QUEIROZ ficou

como proprietário de direito e GERALDO MESSIAS como proprietário de

fato.

Estas condutas praticadas pelos Réus, ANGELO CHAVES DE QUEIROZ

e GERALDO MESSIAS DE QUEIROZ, caracterizam tanto ato de improbidade

administrativa que importa enriquecimento ilícito, previsto no art. 9º,

caput e incisos I e XI, da Lei nº 8.429/92, como ato de improbidade

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administrativa que violou os princípios da legalidade, impessoalidade e

moralidade, descrito no art. 11, caput, e inciso I, da mesma Lei.

2.3.2) DESVIRTUAMENTO DA LEI DO PROMUDE - CONDUTAS DO RÉU

GERALDO MESSIAS DE QUEIROZ E DOS MEMBROS DO CONSELHO

DELIBERATIVO DO PROMUDE EM DISPENSAR INDEVIDAMENTE A

LICITAÇÃO, CONCRETIZAR AS DOAÇÕES E CONCEDER CARTA DE

ANUÊNCIA

Geraldo Messias de Queiroz, aproveitou-se de seu cargo de Prefeito

para realizar inúmeras desafetações de áreas públicas, tanto das institucionais

como de áreas verdes e recreativas, que haviam sido destinadas ao Município em

decorrência de registro de Loteamentos (locais onde se deveriam construir escolas,

praças e hospitais) para a garantia da qualidade de vida da população que lá

habitasse.

Os imóveis objeto das doações do PROMUDE são todos provenientes

de desafetações e desmembramentos que ofenderam a Lei nº 6.766/79. Geraldo

Messias de Queiroz, de forma totalmente ilícita, e sem se importar com a

manutenção da qualidade de vida da população, efetuou inúmeras doações de

áreas públicas com o intuito de conseguir aliados políticos, tornando o Município

um verdadeiro, loteador, o que não é sequer admissível em nossa legislação.

Foram tantas as alienações de imóveis praticadas (136 imóveis) e,

devido ao não fornecimento dos documentos necessários à investigação por parte

de GERALDO MESSIAS DE QUEIROZ e de seu procurador JAIR ESTEVES MACHADO

JÚNIOR, Segundo Réu, que foi necessária a propositura de ação de busca e

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apreensão (autos nº 201203842729) por parte do Ministério Público, com o intuito

de colher as provas necessárias à investigação dessas doações ilegais.

A Carta Magna de 1988, em seu art. 37, caput, estabeleceu a

obrigação de a Administração atender aos princípios da legalidade, impessoalidade,

moralidade, publicidade e eficiência. O inciso XXI, do mesmo dispositivo

estabeleceu a obrigatoriedade de licitação, tanto nas compras quanto nas

alienações realizadas pelo ente público.

Art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal:

XXI - ressalvados os casos especificados na legislação, as

obras, serviços, compras e alienações serão contratados

mediante processo de licitação pública que assegure

igualdade de condições a todos os concorrentes, com cláusulas

que estabeleçam obrigações de pagamento, mantidas as

condições efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual

somente permitirá as exigências de qualificação técnica e

econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das

obrigações.

Por sua vez, em seu art. 22, XXVII, a Carta Magna atribuiu

competência à União para legislar sobre normas gerais de licitação. Este

dispositivo foi devidamente regulamentado pela Lei nº 8.666/93, a qual, por sua

vez, sobre a alienação de imóveis públicos dispôs o seguinte:

Art. 17. A alienação de bens da Administração Pública,

subordinada à existência de interesse público devidamente

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justificado, será precedida de avaliação e obedecerá às

seguintes normas:

I - quando imóveis, dependerá de autorização legislativa para

órgãos da administração direta e entidades autárquicas e

fundacionais, e, para todos, inclusive as entidades

paraestatais, dependerá de avaliação prévia e de licitação

na modalidade de concorrência, dispensada esta nos

seguintes casos:

a) dação em pagamento;

b) doação, permitida exclusivamente para outro órgão

ou entidade da administração pública, de qualquer esfera

de governo, ressalvado o disposto nas alíneas f, h e i;

(Redação dada pela Lei nº 11.952, de 2009)

c) permuta, por outro imóvel que atenda aos requisitos

constantes do inciso X do art. 24 desta Lei;

d) investidura;

e) venda a outro órgão ou entidade da administração pública,

de qualquer esfera de governo; (Incluída pela Lei nº 8.883, de

1994)

f) alienação gratuita ou onerosa, aforamento, concessão de

direito real de uso, locação ou permissão de uso de bens

imóveis residenciais construídos, destinados ou efetivamente

utilizados no âmbito de programas habitacionais ou de

regularização fundiária de interesse social desenvolvidos por

órgãos ou entidades da administração pública; (Redação dada

pela Lei nº 11.481, de 2007)

g) procedimentos de legitimação de posse de que trata o art.

29 da Lei no 6.383, de 7 de dezembro de 1976, mediante

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iniciativa e deliberação dos órgãos da Administração Pública

em cuja competência legal inclua-se tal atribuição; (Incluído

pela Lei nº 11.196, de 2005)

h) alienação gratuita ou onerosa, aforamento, concessão de

direito real de uso, locação ou permissão de uso de bens

imóveis de uso comercial de âmbito local com área de até 250

m² (duzentos e cinqüenta metros quadrados) e inseridos no

âmbito de programas de regularização fundiária de interesse

social desenvolvidos por órgãos ou entidades da administração

pública; (Incluído pela Lei nº 11.481, de 2007)

i) alienação e concessão de direito real de uso, gratuita ou

onerosa, de terras públicas rurais da União na Amazônia Legal

onde incidam ocupações até o limite de 15 (quinze) módulos

fiscais ou 1.500ha (mil e quinhentos hectares), para fins de

regularização fundiária, atendidos os requisitos legais;

(Incluído pela Lei nº 11.952, de 2009)

II - omissis

§1º Os imóveis doados com base na alínea "b" do inciso I

deste artigo, cessadas as razões que justificaram a sua

doação, reverterão ao patrimônio da pessoa jurídica doadora,

vedada a sua alienação pelo beneficiário.

§ 2o A Administração também poderá conceder título de

propriedade ou de direito real de uso de imóveis, dispensada

licitação, quando o uso destinar-se: (Redação dada pela Lei nº

11.196, de 2005)

I - a outro órgão ou entidade da Administração Pública,

qualquer que seja a localização do imóvel; (Incluído pela Lei

nº 11.196, de 2005)

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II - a pessoa natural que, nos termos da lei, regulamento ou

ato normativo do órgão competente, haja implementado os

requisitos mínimos de cultura, ocupação mansa e pacífica e

exploração direta sobre área rural situada na Amazônia Legal,

superior a 1 (um) módulo fiscal e limitada a 15 (quinze)

módulos fiscais, desde que não exceda 1.500ha (mil e

quinhentos hectares); (Redação dada pela Lei nº 11.952, de

2009)

§ 2º-A. As hipóteses do inciso II do § 2o ficam dispensadas de

autorização legislativa, porém submetem-se aos seguintes

condicionamentos: (Redação dada pela Lei nº 11.952, de

2009)

I - aplicação exclusivamente às áreas em que a detenção por

particular seja comprovadamente anterior a 1o de dezembro

de 2004; (Incluído pela Lei nº 11.196, de 2005)

II - submissão aos demais requisitos e impedimentos do

regime legal e administrativo da destinação e da regularização

fundiária de terras públicas; (Incluído pela Lei nº 11.196, de

2005)

III - vedação de concessões para hipóteses de exploração

não-contempladas na lei agrária, nas leis de destinação de

terras públicas, ou nas normas legais ou administrativas de

zoneamento ecológico-econômico; e (Incluído pela Lei nº

11.196, de 2005)

IV - previsão de rescisão automática da concessão, dispensada

notificação, em caso de declaração de utilidade, ou

necessidade pública ou interesse social. (Incluído pela Lei nº

11.196, de 2005)

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§ 2o-B. A hipótese do inciso II do § 2o deste artigo: (Incluído

pela Lei nº 11.196, de 2005)

I - só se aplica a imóvel situado em zona rural, não sujeito a

vedação, impedimento ou inconveniente a sua exploração

mediante atividades agropecuárias; (Incluído pela Lei nº

11.196, de 2005)

II – fica limitada a áreas de até quinze módulos fiscais, desde

que não exceda mil e quinhentos hectares, vedada a dispensa

de licitação para áreas superiores a esse limite; (Redação

dada pela Lei nº 11.763, de 2008)

III - pode ser cumulada com o quantitativo de área decorrente

da figura prevista na alínea g do inciso I do caput deste artigo,

até o limite previsto no inciso II deste parágrafo. (Incluído

pela Lei nº 11.196, de 2005)

IV – (VETADO) (Incluído pela Lei nº 11.763, de 2008)

§3o Entende-se por investidura, para os fins desta lei:

(Redação dada pela Lei nº 9.648, de 1998)

I - a alienação aos proprietários de imóveis lindeiros de área

remanescente ou resultante de obra pública, área esta que se

tornar inaproveitável isoladamente, por preço nunca inferior

ao da avaliação e desde que esse não ultrapasse a 50%

(cinqüenta por cento) do valor constante da alínea "a" do

inciso II do art. 23 desta lei; (Incluído pela Lei nº 9.648, de

1998)

II - a alienação, aos legítimos possuidores diretos ou, na falta

destes, ao Poder Público, de imóveis para fins residenciais

construídos em núcleos urbanos anexos a usinas hidrelétricas,

desde que considerados dispensáveis na fase de operação

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dessas unidades e não integrem a categoria de bens

reversíveis ao final da concessão. (Incluído pela Lei nº 9.648,

de 1998)

§ 4o A doação com encargo será licitada e de seu

instrumento constarão, obrigatoriamente os encargos, o

prazo de seu cumprimento e cláusula de reversão, sob

pena de nulidade do ato, sendo dispensada a licitação no

caso de interesse público devidamente justificado; (Redação

dada pela Lei nº 8.883, de 1994)

§5o Na hipótese do parágrafo anterior, caso o donatário

necessite oferecer o imóvel em garantia de financiamento, a

cláusula de reversão e demais obrigações serão garantidas por

hipoteca em segundo grau em favor do doador. (Incluído pela

Lei nº 8.883, de 1994)

Os requisitos exigidos são, portanto, os seguintes: a) interesse

público devidamente justificado; b) autorização legislativa; c) avaliação

prévia; d) licitação na modalidade concorrência; e) obrigatoriedade de

constar no instrumento os encargos da doação, de seu prazo de

cumprimento e da cláusula de reversão.

A dispensa de licitação somente seria admissível em caso de interesse

público devidamente justificado, fato inexistente, pois, na verdade, foi violado o

interesse público consistente na manutenção da qualidade de vida da população

que residia em loteamentos para beneficiar particulares e formar aliados políticos

para ex-gestor GERALDO MESSIAS DE QUEIROZ.

Além disso, não houve qualquer autorização legislativa

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específica em relação a cada um dos imóveis que permitisse as doações. A

Lei Municipal nº 571/2006 (PROMUDE) previu, tão somente, o regime jurídico

dessas doações, mas não descreveu quais imóveis seriam objeto das doações. Não

houve qualquer lei municipal que autorizasse de forma específica a

doações dos imóveis que foram efetuadas pelos seis primeiros Réus.

Averiguou-se que os seis primeiros réus não se preocuparam em

seguir as normas legais, pois os documentos que se encontram arquivados

no Município sequer podem ser chamados de processos administrativos. O

que existe nos arquivos são algumas pastas com documentos dos imóveis,

mas em nenhuma delas consta a avaliação dos imóveis, a motivação da

dispensa da licitação e a demonstração de interesse público devidamente

justificado (CD às fls. 727). Além disso, em relação a alguns imóveis não

consta qualquer documento nos arquivos do Município, conforme relação

fornecida pela Secretaria de Habitação e Regularização Fundiária que

menciona que aqueles imóveis não existem documentos no Município (fls.

716/725).

Na ação de busca e apreensão em trâmite (autos nº 201203842729),

o próprio Réu GERALDO MESSIAS, na qualidade de Prefeito, e JAIR

ESTEVES, na qualidade de Procurador-Geral do Município afirmaram em

petição, que não localizaram todos os documentos. Os documentos anexados

pelo Município na referida ação somente contemplaram algumas empresas

beneficiadas e é possível constatar que não foram cumpridos os requisitos exigidos

pela Lei nº 8.666/93. O descaso com o patrimônio público foi tamanho que o

próprio Município afirmou não ter localizado os documentos, ainda na

gestão do ex-prefeito Geraldo Messias de Queiroz.

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O que se sabe, é que esses imóveis foram doados pelo Município,

todos com dispensa de licitação, em total afronta ao art. 17 da Lei nº

8.666/93, sem que fosse proferida qualquer declaração de interesse

público devidamente justificado em relação a cada um desses imóveis, não

foi realizada avaliação prévia desses imóveis e as desafetações efetivadas

em data anterior às doações também estão eivadas de nulidade.

As doações efetuadas foram totalmente ilegais, visto que a regra para

alienação de bens imóveis pela Administração Pública a particulares é a licitação

na modalidade concorrência (art. 17, I e seu §4º da Lei nº 8.666/93). A Lei

dispensa a licitação quando o beneficiário é outro ente da administração pública e

não um particular.

Como corolário dos princípios da publicidade, moralidade e probidade

administrativa, exige-se motivação do ato administrativo que decida pela

dispensa de licitação de forma devidamente justificada desde que haja

interesse público relevante (art. 50, inciso IV, da Lei nº 9.784/99).

A dispensa de licitação é uma exceção e deve ser devidamente

justificada em interesse público, desde que preenchidos os requisitos do

art. 26 da Lei nº 8.666/93, devendo ser observada a razão de escolha do

beneficiário e também a publicidade, que só se concretiza com a

divulgação do ato na imprensa oficial. Nada disso ocorreu, justamente

porque o prefeito pretendia beneficiar seus aliados políticos e até mesmo

ele próprio e seu irmão.

O Réu GERALDO MESSIAS DE QUEIROZ e os supostos membros

do Conselho Deliberativo do PROMUDE, os Réus JOSÉ BONIFÁCIO DA SILVA

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MELO, HELDER MORATO AXHCAR, Secretário de Habitação, MARCOS

ANTONIO DOMINGOS, Secretário de Obras, AUGUSTO PEREIRA GOMES

NETO, faziam supostamente parte de um Conselho Deliberativo do

PROMUDE, que deveria ser o órgão responsável por deliberar acerca da

escolha dos beneficiários, bem como para aferir se os beneficiários estavam

atendendo aos requisitos legais.

Ressalte-se que a Lei do PROMUDE, Lei Municipal nº 571/2006 previu

a existência deste Conselho Deliberativo do PROMUDE, órgão a quem competia

uma série de responsabilidades, consoante será melhor delineado adiante e o

referido programa tinha como beneficiárias, tão somente, pessoas jurídicas que

desenvolvessem atividades econômicas legais e que viessem instalar-se ou realizar

sua expansão em Águas Lindas de Goiás, priorizando a geração de empregos, em

que seria definido o número mínimo de vagas a serem preenchidas de acordo com

os diversos ramos da atividade empresarial.

Vejamos o que diz a referida lei:

Art. 2º - O Programa ora criado regerá uma nova política

municipal de incentivos fiscais e estímulos materiais que

beneficiará pessoas jurídicas, constituídas nos ramos

industrial, comercial e prestadoras de serviços, além de

cooperativas e fundações diversas, que desenvolvam

atividades econômicas legais, com ou sem fins lucrativos, e

que venham instalar-se, realizar sua expansão, ou reativação

no Município de Águas Lindas de Goiás.

Art. 3º - Dentre as diversas pessoas jurídicas elencadas no

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art. 2º desta Lei, serão beneficiárias do PROMUDE Águas

Lindas, aquelas que preencham os requisitos mínimos

exigidos por esta Lei, a serem estabelecidos e

verificados por uma Conselho Deliberativo instituído

para tanto, conforme dados indicados pelas interessadas em

formulário padrão de carta-consulta, a serem fornecidos pelo

Município.

Art 5º - Os incentivos fiscais municipais poderão ser

concedidos, mediante análise do Conselho Deliberativo do

PROMUDE – Águas Lindas e de comprovação de

enquadramento nesta Lei, priorizando-se a quantidade de

empregos oferecidos, compreendendo:

2. Isenção de até 100% do Impostos Predial e Territorial

Urbano –IPTU, incidente sobre o imóvel destinado ao

empreendimento da pessoa jurídica pelo prazo de até 5

(cinco) anos, a contar da data a ser fixada pelo Conselho

Deliberativo do “PROMUDE – Águas Lindas”..

3. Isenção de até 100% do Imposto Sobre Serviços de

Qualquer Natureza – ISSQN, pelo prazo de até 10 (dez) anos,

a contar do início das atividades específicas da empresa ou do

início das atividades do estabelecimento ampliado ou

reativado;

4. Isenção da contribuição de melhoria até o limite de 100%

do valor lançado;

5. Isenção de taxas municipais, nas condições definidas pelo

Conselho Deliberativo do PROMUDE – Águas Lindas

§1º - omissis

§2º - omissis

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Art. 6º - Os estímulos materiais, serão constituídos pela

contribuição ou participação do Município, mediante:

I – doação, venda, permuta, arrendamento, dação em

pagamento, concessão e/ou permissão de uso, e concessão do

direito real de uso pelo prazo de até 10 (dez) anos, com

opção de compra para o beneficiário, desde que

cumpridas todas as exigências legais e contratuais,

nesse interregno, dos bens imóveis e áreas de instalação dos

parques dos diversos seguimentos empresariais;

§1º Na venda de imóveis destinados ao fomento

empresarial, na forma preconizada na presente Lei,

poderá, por deliberação da Comissão Municipal de

Desenvolvimento Econômico, poderá ser concedido

prazo de carência para pagamento do imóvel, com ou

sem estipulação de juros e correção monetária no mesmo

período;

§2º - As condições de pagamento para a aquisição de

imóveis, garantias, encargos e outras que poderão ser

fixadas pelo Conselho Deliberativo do PROMUDE –

Águas Lindas constarão do edital de licitação específico;

§3º - Uma vez concluída a indenização do imóvel, a que se

refere o §1º, o Município transmitirá ao cessionário, em

Cartório competente, a propriedade do imóvel.

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.

Art. 19 – Em se tratando de incentivos materiais,

principalmente imóveis, os mesmos reverterão ao

Município, respeitados os prazos de cumprimento

estabelecidos nos respectivos contratos, sendo válida

sua imediata imissão na posse quando:

I – não utilizados em suas finalidades;

II – não cumpridos os prazos e demais condições

contratadas;

III- houver paralisação das atividades por período

superior a 12 (doze) meses;

IV – se verificar indícios de inviabilidade econômica ou falência

da empresa;

V – houver transferência do estabelecimento para outro

Município;

.

Art. 20 – Fica vedada a alienação dos imóveis

adquiridos pelos beneficiários deste Programa, no todo

ou em parte, antes de decorridos 10 (dez) anos do início

das atividades e, cumpridas as obrigações por parte da

empresa beneficiada, salvo decisão do Conselho

Deliberativo do PROMUDE.

Como bem se verifica, o art. 2º da Lei do PROMUDE prevê

especificamente que os beneficiários do Programa são pessoas jurídicas. No

entanto, alguns imóveis foram doados a pessoa física, inclusive o irmão do

prefeito, recebeu dois imóveis, com fundamento nesta norma de forma

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totalmente ilegal.

Além disso, como transparece o art. 6º da referida Lei, o incentivo

material na forma de doação deveria se dar pelo prazo de até dez anos,

com opção de compra para o beneficiário e, mesmo assim, teria que ser

devidamente observada a regra da licitação disciplinada na Lei nº

8.666/93, que é Lei Federal de normas gerais, que têm força cogente e, portanto,

deve ser observada pelo Município.

Já o art. 19 da Lei do PROMUDE prevê a reversibilidade do imóvel

ao Patrimônio Municipal ao final do prazo contratual ou quando a empresa

beneficiária não estivesse atendendo à finalidade da Lei, ou seja, quando

não estivesse promovendo a geração de emprego e renda para o Município.

Por sua vez, o art. 20, embora vede a alienação dos imóveis

adquiridos pelos beneficiários do Programa, antes de 10 anos do início das

atividades e cumpridas as obrigações da empresa, em sua parte final, previu que o

Conselho Deliberativo poderia excepcionar essa regra para permitir a alienação do

imóvel pelo beneficiário antes de decorrido o referido prazo.

Embora o citado dispositivo seja questionável, por ofender totalmente

a Constituição Federal, a Lei nº 8.666/93 e a própria finalidade da Lei do PROMUDE

ao permitir que se excepcione a regra do prazo de dez anos (que era trazer

geração de renda e emprego para o Município, por meio da industrialização e

urbanização), o que se percebe é que os membros do Conselho Deliberativo

do PROMUDE praticaram atos administrativos que diziam que o

beneficiário tinha atendido aos requisitos legais e após isso, era emitida a

carta de anuência pelo gestor do Municípo, GERALDO MESSIAS DE

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5ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE ÁGUAS LINDAS DE GOIÁS

QUEIROZ, retiramdo a cláusula de reversibilidade e diversos imóveis

passaram a ser alienados a terceiros em total prejuízo ao Município.

É clarividente que houve utilização indevida da Lei nº

571/2006, com o seu desvirtuamento, causando grave prejuízo ao erário,

pois houve retirada das cláusulas de reversibilidade sem que os

beneficiários do PROMUDE tenham cumprido as condições das doações.

No anexo III e IV do inquérito civil que acompanha esta,

constam certidões dos Oficiais de Promotoria que compareceram aos

imóveis objeto das doações e constataram que não funciona empresa nos

locais. Ressalte-se que no anexo III constam as doações efetuadas na

gestão de Geraldo Messias de Queiroz, enquanto o Anexo IV, embora as

doações tenham sido efetuadas por José Pereira Soares, as cartas de

anuência foram todas expedidas por GERALDO MESSIAS DE QUEIROZ, as

quais declaravam que a empresa havia cumprido os requisitos da Lei e

determinava a retirada de cláusula de reversibilidade, mesmo sem estar

funcionando qualquer empresa no local.

Assim, percebe-se que GERALDO MESSIAS DE QUEIROZ

praticou ato de improbidade administrativa descrita no art. 10, I, III, VIII,

XII, da Lei nº 8.429/92 ao dispensar indevidamente licitação, bem como

violação ao art. 11, caput, e inciso I, da mesma lei. Em relação aos citados

membros do Conselho deliberativo do PROMUDE a conduta deles será descrita de

forma mais detalhada no próximo item.

2.3.3) DA INEXISTÊNCIA FÁTICA E JURÍDICA DO CONSELHO

DELIBERATIVO DO PROMUDE E DO ATO DE IMPROBIDADE PRATICADO

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PELOS RÉUS JOSÉ BONIFÁCIO DA SILVA MELO, HELDER MORATO AXHCAR,

MARCOS ANTONIO DOMINGOS e AUGUSTO PEREIRA GOMES NETO

Na investigação realizada por esta Promotoria de Justiça, todas as

testemunhas inquiridas, as quais laboraram na Secretaria de Habitação e

na Procuradoria-Geral do Município informaram que nunca viram qualquer

reunião do Conselho Deliberativo do PROMUDE ser realizada. Além disso, foi

apurado que as Atas do Conselho do Promude que constam no bojo do

inquérito civil e na ação de busca e apreensão não se encontram

registradas em qualquer livro, não se sabendo se essas efetivamente

existiram.

Na verdade, essas Atas de Conselho do PROMUDE somente

foram apresentadas ao Ministério Público após a citação do Município na

ação de busca e apreensão proposta por este órgão ministerial, cuja

medida cautelar pleiteada não foi deferida, tendo sido proferida initio litis

uma determinação de exibição de documentos como medida cautelar

substitutiva da busca e apreensão requerida. Por isso, os Réus tiveram

ciência da decisão judicial antes mesmo dessas atas serem trazidas aos

autos.

O Réu HELDER MORATO AXHCAR, ao prestar esclarecimentos

nos autos do inquérito civil, afirmou que assinou diversas Atas do

Conselho Deliberativo do PROMUDE em um único dia, embora as atas

apresentassem datas diversas (fls. 679/680). Relatou ainda que esse ato

foi praticado no final do mandato de GERALDO MESSIAS DE QUEIROZ,

período temporal que coincide com a data em que o Município foi citado

para apresentar os documentos na ação de busca e apreensão que é

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cautelar à presente demanda.

Analisando algumas atas desse suposto Conselho Deliberativo

do PROMUDE é possível perceber que de fato foram forjadas, pois consta

nos autos ato de nomeação do Secretário e Habitação Helder Morato

Axhcar ocorrido em 01/02/2011 (fl. 557), contudo algumas atas do

Conselho Deliberativo estão assinadas por Helder Morato como Secretário

de Habitação, nas quais consta data anterior à própria nomeação dele no

cargo, datadas de 30/09/2010 e 31/01/2011, o que bem comprova as

alegações dele de que assinou várias atas em um só dia (fls. 775/776).

Como bem se percebe, ele sequer era Secretário Municipal na

data em que é informada no documento. Isso bem demonstra que o

documento foi assinado em data totalmente diversa!!!

Esse Conselho Deliberativo do PROMUDE, na verdade, nunca existiu

de fato. Essas atas anexadas à ação de busca e apreensão foram construídas e,

para isso, concorreram os Réus JOSÉ BONIFÁCIO DA SILVA MELO, HELDER

MORATO AXHCAR, Secretário de Habitação, MARCOS ANTONIO

DOMINGOS, Secretário de Obras, AUGUSTO PEREIRA GOMES NETO, alguns

desses sequer poderiam fazer parte do Conselho Deliberativo, conforme

será explanado a seguir.

Em relação à inexistência jurídica desse Conselho, de acordo com a

própria Lei do PROMUDE, Lei nº 571/2006, o Conselho Deliberativo possuía a

seguinte composição:

Art. 8º da Lei do PROMUDE:

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Art. 8º - Fica criado o Conselho Deliberativo do PROMUDE

Águas Lindas constituído por 03 (três) membros:

I – pelo Secretário Municipal de Indústria, Comércio, Turismo

e Cooperativismo, como Presidente;

II – pelo Secretário Municipal de Obras e Serviços Urbanos, e

III – pelo Secretário Municipal de Habitação e Ação Fundiária.

Apartada a discussão acerca da constitucionalidade dessa composição,

tendo em vista que os cargos de Secretários Municipais são de confiança do chefe

do Poder Executivo e, por isso, estão sujeitos à influência do interesse político e

pessoal do Prefeito para emitir suas deliberações, o que inevitavelmente acarreta

ofensa ao princípio da prevalência do interesse público sobre o particular, deve-se

observar que todas as atas do Conselho Deliberativo do PROMUDE a que

este órgão ministerial teve acesso, seja na investigação do inquérito civil,

seja na ação de busca e apreensão, consta as assinaturas de apenas dois

Secretários: o de Obras e o de Habitação. O terceiro membro do Conselho

Deliberativo que deveria ser o Secretário de Finanças não participou das

deliberações.

Isso significa dizer, que as Atas do Conselho Deliberativo do

PROMUDE sequer poderiam produzir efeitos e deveriam ser consideradas

inexistentes do ponto de vista jurídico, visto que foram subscritas sem um

de seus membros, tendo participado, em seu lugar, o JOSÉ BONIFÁCIO

que sequer deveria tomar parte naquele ato administrativo.

Por sua vez, a pessoa de AUGUSTO PEREIRA GOMES NETO que

constava como integrante da comissão técnica (fl. 775/788) também não

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poderia fazer parte do Conselho, pois não possui qualquer curso superior,

conforme ele mesmo declarou em seu depoimento nesta Promotoria (fls.

661/663), pois o art. 9º, da Lei Municipal nº 571/2006 (Lei do Promude) prevê

que deveria ser um engenheiro agrônomo, in verbis:

“Art. 9º – O Conselho deliberativo contará com o apoio de

Comissão Técnica a ser nomeada por meio de Decreto do

Chefe do Poder Executivo, que deverá ser integrada por:

I – 1 (um) representante da Assessoria Jurídica Municipal;

II – 1 (um) Engenheiro Agrônomo Municipal”

art. 10 – O Conselho Deliberativo deverá reunir-se

ordinariamente, pelo menos de 15 (quinze) em 15 (quinze)

dias, e, extraordinariamente, sempre que for necessário, e

suas decisões deverão ser reduzidas a termo em Ata

apropriada, sendo dado conhecimento ao Prefeito Municipal”.

Além disso, o Município informou que não foi localizado qualquer

decreto de nomeação da pessoa de AUGUSTO PEREIRA GOMES NETO e ele mesmo

afirmou desconhecer qualquer ato de sua nomeação para compor esse Conselho

Deliberativo (fl. 663 e 543/553), não foi encontrado em sua pasta funcional

qualquer ato referente ao conselho, tendo sido apenas comprovado que ele exercia

o cargo de Diretor de Convênios no Município.

JOSÉ BONIFÁCIO DA SILVA MELO era o principal mentor do que seria

assinado pelos supostos integrantes do Conselho Deliberativo do Promude. As

testemunhas inquiridas confirmaram que todo o trâmite no Município para

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liberação das doações ficavam a cargo de JOSÉ BONIFÁCIO (fls. 666/669).

A testemunha Irani Gomes Abbadia inclusive relatou que JOSÉ

BONIFÁCIO e ANGELO CHAVES DE QUEIROZ iam até as áreas públicas mostrar

imóveis a empresários interessados, bem como mencionou que diversas áreas

foram doadas para pessoas amigas de GERALDO MESSIAS DE QUEIROZ (fls.

691/693).

Verifica-se, portanto, que os Réus JOSÉ BONIFÁCIO DA SILVA

MELO, HELDER MORATO AXHCAR, MARCOS ANTONIO DOMINGOS,

Secretário de Obras, AUGUSTO PEREIRA GOMES NETO, estavam em

conluio para tentar legitimar as doações ilegais praticadas pelo Prefeito

GERALDO MESSIAS DE QUEIROZ, com o suporte jurídico e material

fornecido por JAIR ESTEVES MACHADO JUNIOR, Procurador do Município.

Os Requeridos forjaram documentos que, na verdade, nunca

existiram, na tentativa de respaldar as práticas ilegais de doações de

áreas públicas efetuadas pelo então Prefeito GERALDO MESSIAS DE

QUEIROZ, pois as atas do Conselho Deliberativo não foram confeccionadas

em reunião.

Além disso, O Réu JOSÉ BONIFÁCIO DA SILVA MELO era Chefe

do Departamento de Fiscalização de Obras e Posturas, tendo sido apurado

que todos os procedimentos de doação de imóveis era de sua

responsabilidade. José Bonifácio era quem atendia os interessados no

interior da Secretaria de Habitação e até disponibilizava o próprio

computador da Secretaria para que os aliados políticos de Geraldo Messias

abrissem uma empresa e se cadastrassem no programa (fls. 107/108).

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Assim agindo, os Réus JOSÉ BONIFÁCIO DA SILVA MELO, HELDER

MORATO AXHCAR, MARCOS ANTONIO DOMINGOS e AUGUSTO PEREIRA GOMES

NETO praticaram ato de improbidade administrativa, tanto por concorrer para

incorporação ao patrimônio particular de bens do Município, quanto por

participarem da dispensa indevida de licitação, cujos atos amoldam-se às condutas

descritas no art. 10, inciso I, II, VIII, XII, e art. 11, caput, e inciso I, da Lei nº

8.429/92.

2.3.4) DAS CONDUTAS PRATICAS PELO PROCURADOR GERAL DO

MUNICÍPIO JAIR ESTEVES MACHADO JUNIOR

O Procurador Geral do Município JAIR ESTEVES MACHADO JÚNIOR

contribuiu para a prática de todas essas doações ilegais de áreas e públicas, bem

como das desafetações. Ressalte-se que a ele competia orientar juridicamente

Chefe do Poder Executivo para agir de acordo com as normas legais.

Contudo, o que se verificou foi que JAIR ESTEVES arquitetou,

juntamente com GERALDO MESSIAS DE QUEIROZ, a forma de concretizar essas

doações, orientando o então Prefeito a desafetar áreas públicas para, em seguida,

proceder a lavratura de escritura pública de doação condicionada e, após a emitir

cartas de anuência encaminhado-as para averbação nas matrículas dos imóveis,

ocasião em que os bens ficavam livres e desembaraçados em nome de

particulares, tendo sido, inclusive, vários deles alienados a terceiros.

É possível verificar nos autos do inquérito civil, que duas cartas de

anuências foram assinadas pelo próprio JAIR ESTEVES MACHADO JÚNIOR,

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comprovando que ele praticou não apenas orientação jurídica, mas

também atos materiais que contribuíram para as alienações indevidas com

sério prejuízo ao erário e enriquecimento ilícito de particulares (fl. 811;

836).

Em relação ao imóvel doado por GERALDO MESSIAS DE QUEIROZ,

como representante do Município, ao seu próprio irmão, a má-fé na conduta de

JAIR ESTEVES MACHADO JUNIOR é evidenciada na petição juntada à fl.

143 dos autos da ação reivindicatória nº 200503896297, na qual JAIR

ESTEVES MACHADO JÚNIOR assinou em nome do Município pedido de

desistência neste feito, após o GERALDO MESSIAS DE QUEIROZ ter

conseguido escriturar o imóvel em nome de seu próprio irmão –

documentos constam no ANEXO II do inquérito civil nº 201200300131

anexo à exordial).

Na citada ação, proposta no ano de 2005, o Município de Águas

Lindas pleiteava o imóvel em que GERALDO MESSIAS reside até hoje, onde

consta que GERALDO MESSIAS era ocupante da área pública. Ao assumir o

posto de Prefeito, GERALDO MESSIAS arquitetou uma forma de “legitimar”

a sua posse sobre o imóvel, concretizando uma doação totalmente ilícita

em favor de seu próprio irmão ÂNGELO CHAVES DE QUEIROZ.

Na ocasião em que JAIR ESTEVES MACHADO JUNIOR

peticionou no processo requerendo desistência, ele estava defendendo os

interesses pessoais de seu Chefe e aliado GERALDO MESSIAS DE

QUEIROZ, que foi quem o nomeou para o cargo de confiança de

Procurador Geral do Município, pois agiu contrariamente ao interesse

patrimonial do Município.

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Ao formular o pedido de desistência, JAIR ESTEVES MACHADO

JÚNIOR demonstrou sua má-fé, que caracterizando ato de improbidade

administrativa, pois naquela data o imóvel já tinha sido escriturado em

nome de ÂNGELO CHAVES DE QUEIROZ e, com o seu pedido de desistência

acreditava que a discussão seria encerrada, tirando essa “dor de cabeça”

do seu Chefe, que a partir de então ocuparia o imóvel de forma “regular”.

Ressalte-se que na data em que ele peticionou requerendo a

desistência, agindo como Procurador do Município, já havia determinação

de citação do vice-prefeito, tendo em vista que foi percebido que o

interesse do Município era conflitante com o interesse do prefeito à época

(GERALDO MESSIAS), mas antes mesmo que o vice-prefeito fosse citado,

JAIR ESTEVES MACHADO JÚNIOR requereu a desistência da ação. Isso

demonstra, mais uma vez, que ele não estava agindo em nome do

Município, na verdade, estava atendendo interesses pessoais de GERALDO

MESSIAS, o que caracteriza, sem dúvida, improbidade administrativa.

O entendimento jurisprudencial é uníssono neste sentido:

TJAC-002062 - PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO.

AGRAVO DE INSTRUMENTO. PREFEITO MUNICIPAL.

SERVIÇOS. PROCURADOR DO MUNICÍPIO. DEFESA.

INTERESSE PARTICULAR. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA.

AÇÃO. CONHECIMENTO. 1. Configura ato de improbidade

administrativa a defesa do Prefeito Municipal por Procurador

Jurídico na hipótese de interesses antagônicos entre o gestor

público e o ente municipal. 2. Agravo improvido. (Agravo de

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Instrumento nº 0002538-67.2011.8.01.0000 (11.918),

Câmara Cível do TJAC, Rel. Eva Evangelista de Araújo Souza.

j. 17.01.2012, unânime, DJe 31.01.2012).

JAIR ESTEVES MACHADO JÚNIOR praticou ainda outra conduta que

demonstra o seu total envolvimento nessas doações ilegais de área pública. JAIR

ESTEVES MACHADO JÚNIOR emitiu a Portaria nº 003/2012, determinando

a instauração de sindicância contra o servidor público municipal

SEVERINO RAMOS DE FREITAS, bem como determinando o seu

afastamento cautelar de suas funções, justamente um dia depois que o

referido servidor protocolou Representação no Ministério Público narrando

as ilegalidades que vinham sendo praticadas nas doações de imóveis, com

a utilização do subterfúgio da Lei 571/2006 (PROMUDE) – Documentos constam

nos autos do Inquérito Civil registrado sob o nº 201200278956 que segue

anexo à exordial.

O Ministério Público somente tomou conhecimento das ilegalidades

das doações que o Município vinha praticando em decorrência de representação

protocolada por SEVERINO RAMOS DE FREITAS, fato que deu início às

investigações que foram o inquérito civil nº 201200300131. Inconformado com

isso, JAIR ESTEVES MACHADO JUNIOR afastou SEVERINO RAMOS de sua

função, exatamente um dia depois, demonstrando que seu ato foi

praticado em perseguição política, para que a testemunha se calasse, no

intuito de demonstrar poder sobre a testemunha. Em decorrência desse fato,

foi instaurado o Inquérito Civil Público nº 201200278956, que acompanhará esta

exordial.

Ressalte-se que SEVERINO RAMOS somente voltou a exercer suas

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funções em virtude de medida liminar concedida em ação de mandado de

segurança proposta por ele, atualmente em trâmite nesta Comarca, protocolada

sob o nº 201201957871/0002.

Verifica-se, assim, que JAIR ESTEVES MACHADO JÚNIOR praticou

três atos de improbidade administrativa que demonstram, de forma cristalina,

a sua contribuição para prática das doações e sua atitude para garantir a

impunidade e a manutenção das ilegalidades. JAIR ESTEVES assinou cartas de

anuência, formulou pedido de desistência na ação reivindicatória (nº

200503896297) e publicou Portaria nº 003/2012, afastando do cargo o

servidor que denunciou os fatos ao Ministério Público, os quais caracterizam

atos de improbidade administrativa descritos no art. 10, incisos I, III, XII, art. 11,

caput, e inciso I, da Lei nº 8.429/92.

2.3.5) DA DOAÇÃO DE IMÓVEL PÚBLICO AO CANDIDATO A VICE-PREFEITO

NA CHAPA DE GERALDO MESSIAS DE QUEIROZ

No inquérito civil nº 201200300131 também se apurou que o

candidato a vice-prefeito nas eleições 2012, fazendo parte da chapa de

GERALDO MESSIAS DE QUEIROZ (fls. 747), de nome EVERALDO RAMIRO

DA SILVA também foi beneficiado com um imóvel do PROMUDE, cuja

matrícula nº 37.188, pois é o proprietário da empresa LML – MAGAZINE E

PROMOÇÕES DE VENDAS LTDA -ME. (fls. 745/746).

Em seu depoimento perante esta Promotoria de Justiça, Everaldo

Ramiro da Silva confessou que era candidato a vice-prefeito na chapa de Geraldo

Messias de Queiroz, bem como afirmou a atual proprietária que consta na

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matrícula do imóvel, LUCIANA MACHADO LIMA é sua companheira, demonstrando

que ele efetuou uma simulação de venda, colocando como interveniente, a Caixa

Econômica Federal, tendo sido lavrado com esta instituição bancária um contrato

de mútuo com alienação fiduciária (fls. 755).

Em casos de simulação de negócio jurídico o Código Civil considera o

ato nulo, como se verifica no art. 167:

Art. 167. É nulo o negócio jurídico simulado, mas

subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e

na forma.

§ 1o Haverá simulação nos negócios jurídicos quando:

I - aparentarem conferir ou transmitir direitos a

pessoas diversas daquelas às quais realmente se

conferem, ou transmitem;

II - contiverem declaração, confissão, condição ou

cláusula não verdadeira;

III - os instrumentos particulares forem antedatados, ou pós-

datados.

§ 2o Ressalvam-se os direitos de terceiros de boa-fé em face

dos contraentes do negócio jurídico simulado.

Art. 168. As nulidades dos artigos antecedentes podem ser

alegadas por qualquer interessado, ou pelo Ministério

Público, quando lhe couber intervir.

Parágrafo único. As nulidades devem ser pronunciadas pelo

juiz, quando conhecer do negócio jurídico ou dos seus efeitos

e as encontrar provadas, não lhe sendo permitido supri-las,

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ainda que a requerimento das partes.

Art. 169. O negócio jurídico nulo não é suscetível de

confirmação, nem convalesce pelo decurso do tempo.

Art. 170. Se, porém, o negócio jurídico nulo contiver os

requisitos de outro, subsistirá este quando o fim a que

visavam as partes permitir supor que o teriam querido, se

houvessem previsto a nulidade.

No depoimento de Everaldo Ramiro da Silva prestado nesta

Promotoria de Justiça foi perceptível que o investigado efetuou o negócio jurídico

simulado, com o intuito de tentar impedir que o imóvel retornasse ao erário

municipal, trazendo a Caixa Econômica Federal como interessada para dificultar o

desfazimento do ato que o beneficiou.

Nos documentos referentes ao imóvel (fls. 792/796), verifica-se que

GERALDO MESSIAS DE QUEIROZ doou, em nome do Município, imóvel à pessoa

que era seu aliado político EVERALDO RAMIRO DA SILVA. Tamanha era a

proximidade de GERALDO MESSIAS com EVERALDO, que este passou a compor a

sua chapa de candidatura à reeleição, como consta no documento de fl. 747.

A referida doação além de caracterizar grave lesão ao erário, ofendeu

os princípios da legalidade, moralidade e impessoalidade.

Assim agindo GERALDO MESSIAS DE QUEIROZ praticou ato de

improbidade descrito no art. 10, inciso I, III, XII, e art. 11, caput e inciso I,

enquanto EVERALDO RAMIRO DA SILVA praticou ato de improbidade descrito no

art. 9º, I e XI, art. 11, caput, e inciso I, todos da Lei nº 8.429/92.

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2.3.6) DA VIOLAÇÃO PRINCÍPIOS DO ART. 37 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL

E DO DANO AO ERÁRIO

Os Demandados violaram justamente a própria Constituição

Federal, Lei Maior do Estado Democrático de Direito, ferindo também o princípio da

impessoalidade, pois os agentes públicos estão obrigados a praticar os atos

administrativos, visando, tão somente, o interesse público.

“A impessoalidade da atuação administrativa impede,

portanto, que o ato administrativo seja praticado visando a

interesses do agente ou de terceiros, devendo ater-se à

vontade da lei, comando geral e abstrato em essência...

...Qualquer ato praticado com objetivo diverso da satisfação

do interesse público será nulo por desvio de finalidade”

(ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO, Vicente. Direto

administrativo descomplicado. São Paulo: Método, 2008, p.

198).

Quanto ao princípio da moralidade

“torna jurídica a exigência de atuação ética dos agentes da

Administração Pública. A denominada moral administrativa

difere da moral comum, justamente por ser jurídica e pela

possibilidade de invalidação dos atos administrativos que

sejam praticados com inobservância deste princípio”.

(ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO,Vicente. Direto

administrativo descomplicado. São Paulo: Método, 2008, p.

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195).

Na concepção do ilustre HELY LOPES MEIRELLES, apoiado em

Manoel Oliveira Franco Sobrinho, a moralidade administrativa nada mais é do que

a atuação honesta e proba do agente público, em resguardo do interesse coletivo:

“A moralidade administrativa constitui, hoje em dia,

pressuposto de validade de todo o ato da Administração

Pública (CF, art. 37, caput). Não se trata - diz Hauriou, o

sistematizador de tal conceito - da moral comum, mas sim

de uma moral jurídica, entendida como o "conjunto de

regras de conduta tiradas da disciplina interior da

Administração. Desenvolvendo sua doutrina, explica o

mesmo autor que o agente administrativo, como ser

humano dotado de capacidade de atuar, deve,

necessariamente, distinguir o Bem do Mal, o honesto do

desonesto. E, ao atuar, não poderá desprezar o elemento

ético de sua conduta. Assim, não terá que decidir somente

entre o legal e o ilegal, o justo e o injusto, o conveniente e

o inconveniente, o oportuno e o inoportuno, mas também

entre o honesto e o desonesto. Por considerações de

Direito e de moral, o ato administrativo não terá que

obedecer somente à lei jurídica, mas também à lei ética da

própria instituição, porque nem tudo que é legal é

honesto, conforme já proclamavam os romanos: "nom

omne quod licet honestum est". A moral comum, remata

Hauriou, é imposta ao homem para sua conduta externa, a

moral administrativa é imposta ao agente público para sua

conduta interna, segundo as exigências da instituição a

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que serve e a finalidade de sua ação: o bem comum”.

(Direito Administrativo Brasileiro, Malheiros Editores,

1993, 19a. ed., p. 83).

Por isso tudo, também é imprescindível a condenação dos Réus nas

sanções catalogadas na Lei de Improbidade, para resguardar o Estado Democrático

de Direito e os princípios da Administração Pública, em especial, o da legalidade,

moralidade e da impessoalidade.

O dano ao patrimônio público exacerbado, pois foram doadas um

total de 136 (cento e trinta e seis) áreas públicas, que perfazem área superior a

399.700 m². Se colocarmos o valor de R$ 500,00 (quinhentos reais) o metro

quadrado, que é o valor da região mais desvalorizada de Águas Lindas de Goiás,

verificamos que o valor do dano material ao Município supera a quantia de R$ R$

199.871.400,00 (cento e noventa e nove milhões, oitocentos e setenta e

um mil e quatrocentos reais).

Como já foi exposto em linhas pretéritas, a restituição das áreas ao

erário já está sendo pleiteada em ação civil pública específica, contudo devem os

Réus serem condenados pelo dano moral coletivo, como será detalhado no

próximo item.

2.4) DO DANO MORAL COLETIVO

Não bastasse o dano material causado ao Município (a perda da

propriedade dos imóveis), que está sendo pleiteada em ação própria, os Réus

violaram a legislação pátria e os princípios basilares do Estado Democrático de

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5ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE ÁGUAS LINDAS DE GOIÁS

Direito, praticando a famigerada improbidade administrativa, sobressaindo patente

a lesão aos valores imateriais da coletividade, o que, gera um dano moral com

repercussão coletiva.

Desse modo, na medida em que os Réus descumpriram as ordens

irradiantes da Constituição Federal e incidiram nas condutas descritas nos arts. 9º,

10 e 11 da Lei nº 8.429/92, é indene de dúvidas que causaram danos ao regime

democrático, criando um inexorável dano coletivo.

No caso em tela a responsabilidade de Geraldo Messias de Queiroz,

Ângelo Chaves de Queiroz e Everaldo Ramiro da Silva foram extremas, posto que

se valeram do cargo de comandante do Poder Executivo Municipal, exercido pelo

primeiro para galgar interesses pessoais.

Geraldo Messias de Queiroz além de ter sido responsável por

desafetar as áreas públicas, dispensar a licitação em relação a todas as alienações

realizadas com base na Lei do PROMUDE (Lei Municipal nº 571/2006), assinou as

escrituras públicas de doação dos imóveis e emitiu cartas de anuência retirando a

cláusula de reversibilidade dos imóveis, ferindo a Lei nº 8.666/93.

Por sua vez, o Procurador do Município, Jair Esteves Machado

Júnior, emitiu duas cartas de anuência, requereu desistência em ação

reivindicatória em desacordo com o interesse do Município e ainda afastou do

cargo o servidor público que fez as denúncias de irregularidade perante o

Ministério Público.

Os demais Réus deram suporte para a realização de todas essas

ilegalidades, assinando atas de Conselho Deliberativo do Promude, as quais

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serviram de suporte jurídico para que o gestor do Município praticasse as

alienações. Os membros do Conselho lavraram diversas atas, nas quais constava

que as empresas atendiam aos requisitos legais, contudo o que se averiguou in

locu é que não houve implementação de empresas nos locais objeto das doações à

exceção de três imóveis, conforme certidão dos oficiais de promotoria constante

nos autos.

Por tudo isso, incumbe ao Poder Judiciário determinar que os

Requeridos reparem os danos causados, por seu atos ímprobos. E, pela lesão

causada a interesse ou direito difuso e coletivo, o sujeito passivo da ação civil

pública poderá ser condenado ao pagamento de uma determinada quantia em

dinheiro a título de indenização pelos danos morais coletivos causados, em especial

pelo dano causado à imagem do Poder Público Municipal, provocando um

descrédito da população.

O dano moral na moderna doutrina é toda agressão injusta

àqueles bens imateriais, tanto de pessoa física quanto jurídica, insusceptível de

quantificação pecuniária, porém indenizável com tríplice finalidade: satisfativo para

a vítima ou sociedade, dissuasório para o ofensor e de exemplaridade para a

sociedade.

Hugo Nigro Mazzili ensina que:

“a) o ordenamento jurídico admite em vários casos a

presunção de lesividade ao patrimônio público; b) ainda que

não haja dano patrimonial, a lesividade ao erário pode

decorrer da própria ilegalidade do ato praticado; c) a Lei de

Improbidade Administrativa não sanciona apenas os atos que

causem dano ao erário ou enriquecimento ilícito ao agente,

mas também os atos que importem violação a princípios da

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Administração; d) as sanções da Lei de Improbidade

Administrativa independem, pois da efetiva ocorrência de dano

ao patrimônio público; e) é ato de improbidade administrativa,

que presumivelmente causa prejuízo ao erário, frustrar a

licitude de processo licitatório ou dispensá-lo indevidamente,

ou ordenar ou permitir a realização de despesas não

autorizadas em lei ou regulamento; f) não só os danos

patrimoniais, como os danos morais devem expressamente ser

objeto da ação de responsabilidade.” MAZZILLI, Hugo Nigro. A

defesa dos interesses difusos em juízo. São Paulo: Saraiva,

2008, p. 197).

A indenização por dano moral coletivo tem por finalidade a

recomposição da imagem das instituições públicas, em especial a do Município.

Trata-se de medida pedagógica, como já mencionado, dissuasório para o ofensor e

de exemplaridade para a sociedade.

Para caracterização do dano moral basta que se verifique: a

conduta antijurídica do agente, a ofensa a valores extrapatrimoniais essenciais,

identificados no caso concreto, reconhecidos e inequivocamente compartilhados

por uma determinada coletividade (titular de interesses morais protegidos pela

ordem jurídica), e o nexo causal entre a conduta e a lesão social.

Com a Constituição da República de 1988, destacou-se a

importância da proteção dos direitos transindividuais e sua proteção, bem como

ressaltou a necessidade de reparação por dano causado, ainda que moral,

consoante se observa em seu artigo 5º, incisos V e X.

A possibilidade jurídica do pedido de indenização por dano

moral coletivo decorre de expresso dispositivo legal: o art. 1º, caput, da Lei da

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Ação Civil Pública (Lei Federal n° 7.347/85):

Art. 1º. Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular, AS AÇÕES DE

RESPONSABILIDADE POR DANOS MORAIS e patrimoniais causados (...) A QUALQUER outro INTERESSE DIFUSO OU

COLETIVO.

O valor devido à título de indenização por danos morais coletivos,

observa CARLOS ALBERTO BITTAR:

“(...) deve traduzir-se em MONTANTE QUE REPRESENTE

ADVERTÊNCIA AO LESANTE E À SOCIEDADE DE QUE SE NÃO SE ACEITA O COMPORTAMENTO ASSUMIDO, OU O EVENTO LESIVO ADVINDO. Consubstancia-se, portanto,

em IMPORTÂNCIA COMPATÍVEL COM O VULTO DOS INTERESSES EM CONFLITO, REFLETINDO-SE DE MODO

EXPRESSIVO, NO PATRIMÔNIO DO LESANTE, A FIM DE QUE SINTA, EFETIVAMENTE, A RESPOSTA DA ORDEM JURÍDICA AOS EFEITOS DO RESULTADO LESIVO

PRODUZIDO. DEVE, POIS, SER QUANTIA ECONOMICAMENTE SIGNIFICATIVA, EM RAZÃO DAS

POTENCIALIDADES DO PATRIMÔNIO DO LESANTE. Coaduna-se essa postura, ademais, com a própria índole da teoria em debate, possibilitando que se realize com

maior ênfase, a sua função inibidora de comportamentos. Com efeito, o peso do ônus financeiro é, em um mundo

em que cintilam interesses econômicos, a resposta pecuniária mais adequada a lesionamentos de ordem

moral.” (Reparação Civil por Danos Morais” in RT, 1993, pp. 220-222). (Grifos nossos).

O Egrégio Tribunal Regional Federal da 4ª Região também

admite a configuração do dano moral com repercussão coletiva, senão vejamos:

AÇÃO CIVIL PÚBLICA. OFENSAS CONTRA COMUNIDADE INDÍGENA. DANO MORAL COLETIVO. MAJORAÇÃO. 1. Tendo restado demonstrada a discriminação e o

preconceito praticados pelos réus contra grupo indígena Kaingang, é devida indenização por danos moral. 2. O

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dano moral coletivo tem lugar nas hipóteses onde exista um ato ilícito que, tomado individualmente, tem pouca

relevância para cada pessoa; mas, frente à coletividade, assume proporções que afrontam o senso comum. 3. Indenização por danos morais majorada para R$

20.000,00, a ser suportada de forma solidária por ambos os réus desta ação (TRF 4ª Região, Apelação Cível,

Processo n.° 200371010019370, relatora Vânia Hack de Almeida). (Grifos nossos).

Portanto, considerando a gravidade do ato de improbidade

administrativa praticado, que causou violação a um dos princípios fundamentais da

República Federativa do Brasil, que é o pluralismo político e por, consequência, ao

regime democrático, deve o valor do dano moral coletivo ser fixado em patamares

suficientes para alentar o sentimento de indignação da sociedade e para reparar o

dano causado à imagem do Município, além de funcionar como fator de inibição de

outras ilegalidades.

Por essas razões, o Ministério Público do Estado de Goiás

entende que, que deve ser fixado o dano moral coletivo em importe proporcional à

conduta de cada um dos Requeridos, pugnando pela condenação de GERALDO

MESSIAS DE QUEIROZ no valor de R$ 3.000.000,00 (três milhões de reais) tendo

em vista que praticou os atos de desafetação, dispensa de licitação e ainda usou o

cargo público para auferir lucro, efetuando doação de dois imóveis ao seu próprio

irmão; ANGELO CHAVES DE QUEIROZ, no valor de R$ 1.000.000,00 (um milhão de

reais) porque assinou como donatário escritura pública de dois imóveis, sabendo

que estava legitimando a sua própria posse e a do seu irmão sobre os bens em

prejuízo ao erário. Ressalte-se que o valor auferido por estes dois réus em

decorrência das doações é superior a R$ 8.400.000,00 (oito milhões e

quatrocentos mil reais), pois foram beneficiados com área total de 16898,68 m²,

devendo-se considerar que Geraldo Messias de Queiroz foi responsável por

efetuar doações ilegais de um total de 399.742,80 m², que constitui um

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dano ao erário de aproximadamente R$ 199.871.400,00 (cento e noventa

e nove milhões, oitocentos e setenta e um mil e quatrocentos reais).

Quanto a EVERALDO RAMIRO DA SILVA requer o Ministério

Público a sua condenação em dano moral coletivo no valor R$ 200.000,00

(duzentos mil reais), posto que utilizou sua influência política para obter lucro,

uma vez que foi candidato a vice-prefeito de Geraldo Messias de Queiroz e foi

agraciado pelo seu aliado político com a doação de um imóvel público; JAIR

ESTEVES MACHADO JUNIOR no valor de R$ 400.000,00 (quatrocentos mil reais),

posto que praticou três atos de improbidade (assinou cartas de anuência, afastou o

servidor que denunciou os fatos ao Ministério Público e ainda assinou petição com

pedido de desistência em ação reivindicatória de autoria do Município, para

defender interesse pessoal do Chefe do Poder Executivo. Os demais Requeridos

JOSÉ BONIFÁCIO DA SILVA MELO, HELDER MORATO AXHCAR, MARCOS ANTONIO

DOMINGOS, AUGUSTO PEREIRA GOMES NETO, este órgão entende que deverão

ser condenados em dano moral coletivo no valor de R$ 200.000,00 (duzentos mil

reais), tendo em vista que forneceram suporte material e jurídico para GERALDO

MESSIAS DE QUEIROZ promovesse as indiscriminadas doações de áreas públicas,

assinando atas de Conselho Deliberativo do Promude, sem promover qualquer

publicidade, sem sequer realizar efetivas reuniões.

Os valores decorrentes desta condenação, deverão ser

revertidos ao erário público municipal, ou melhor, para os cofres do município de

Águas Lindas de Goiás.

3 – DOS PEDIDOS FINAIS

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Diante desses argumentos, requer o Ministério Público:

1. seja esta petição inicial autuada juntamente com os documentos

que a acompanham, notificando-se a parte Ré para a apresentação de

manifestação prévia, no prazo de quinze dias, consoante prevê o artigo 17, § 7º,

da Lei n.º 8.429/92;

2. após o oferecimento de tal manifestação, ou transcorrido o prazo

legal sem sua apresentação, seja recebida esta petição inicial por este juízo de

Direito, citando-se a parte Requerida para oferecimento de contestação sob pena

de revelia e confissão, no prazo ordinário de quinze dias, conforme disposto no

artigo 17, § 9º, da Lei n.º 8.429/92;

3. seja o Município de Águas Lindas de Goiás notificado, para tomar

ciência do ajuizamento desta ação e para que, querendo, integre o polo ativo da

mesma, conforme autorização do artigo 17, § 3º, da Lei n.º 8.429/92;

4. conforme o grau de irregularidade que reste reconhecido por esse

juízo após a instrução do feito, que sejam impostas aos Réus as sanções descritas

no art. 12, da Lei nº 8.429/92, da seguinte maneira:

a) quanto à GERALDO MESSIAS DE QUEIROZ:

a.1) que seja reconhecida a improbidade por prática das

condutas descritas no art. 9º e 10 da Lei nº 8.429/92, que sejam-lhes

aplicadas as sanções previstas no art. 12, inciso I e II, da mesma lei, com

a reparação integral do dano, por meio de condenação em dano moral coletivo no

valor de R$ 3.000.000,00 (três milhões de reais), perda de função ou cargo

público, suspensão dos direitos políticos pelo prazo de até dez anos, pagamento de

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multa civil de até três vezes o valor do acréscimo patrimonial e proibição de

contratar com o poder público ou receber benefícios ou incentivos fiscais e

creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da

qual seja sócio majoritário, pelo prazo de dez anos;

a.2) subsidiariamente, que GERALDO MESSIAS DE QUEIROZ seja

condenado pela conduta do art. 11, da Lei nº 8.429/92, ainda que na

modalidade culposa, com o ressarcimento integral do dano, por meio de

condenação em dano moral coletivo no valor de R$ 3.000.000,00 (três

milhões de reais), perda da função pública, suspensão dos direitos

políticos de cinco anos, pagamento de multa civil de cem vezes o valor da

remuneração percebida pelo agente e proibição de contratar com o Poder

Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou

indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja

sócio majoritário, pelo prazo de três anos;

b) quanto à ANGELO CHAVES DE QUEIROZ:

b.1) que seja reconhecida a improbidade por prática de

conduta descrita art. 9º da Lei nº 8.429/92, que sejam-lhes aplicadas as

sanções previstas no art. 12, inciso I, da mesma lei, com a reparação integral

do dano, por meio de condenação em dano moral coletivo no valor de R$

1.000.000,00 (um milhão de reais), perda de função ou cargo público, suspensão

dos direitos políticos pelo prazo de dez anos, pagamento de multa civil de até três

vezes o valor do acréscimo patrimonial e proibição de contratar com o poder

público ou receber benefícios ou incentivos fiscais e creditícios, direta ou

indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio

majoritário, pelo prazo de dez anos;

b.2) subsidiariamente, que ANGELO CHAVES DE QUEIROZ seja

condenado pela conduta do art. 11, da Lei nº 8.429/92, ainda que na

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modalidade culposa, com o ressarcimento integral do dano, por meio de

condenação em dano moral coletivo no valor de R$ 1.000.000,00 (um milhão de

reais), perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de cinco anos,

pagamento de multa civil de cem vezes o valor da remuneração percebida pelo

agente e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou

incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio

de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de três anos;

c) quanto a JAIR ESTEVES MACHADO JUNIOR:

c.1) que seja reconhecido ato de improbidade administrativa

descrito no art. 10, da Lei nº 8.429/92, com a aplicação das sanções

dispostas no art. 12, inciso II, da mesma lei, com o ressarcimento integral do

dano moral coletivo no valor de R$ 400.000,00 (quatrocentos mil reais), perda dos

bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, perda da função pública,

suspensão dos direitos políticos de oito anos, pagamento de multa civil de duas

vezes o valor do dano e proibição de contratar com o Poder Público ou receber

benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que

por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de

cinco anos;

c.2) subsidiariamente, que JAIR ESTEVES MACHADO JUNIOR

seja condenado pela conduta do art. 11, da Lei nº 8.429/92, ainda que na

modalidade culposa, com o ressarcimento integral do dano moral coletivo, no

valor de R$ 400.000,00 (quatrocentos mil reais), perda da função pública,

suspensão dos direitos políticos de cinco anos, pagamento de multa civil de cem

vezes o valor da remuneração percebida pelo agente e proibição de contratar com

o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou

indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio

majoritário, pelo prazo de três anos;

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d) quanto ao Réu EVERALDO RAMIRO DA SILVA:

d.1) que seja reconhecida a improbidade por prática de

conduta descrita art. 9º da Lei nº 8.429/92, que sejam-lhes aplicadas as

sanções previstas no art. 12, inciso I, da mesma lei, com a reparação integral

do dano moral coletivo no valor de R$ 200.000,00 (duzentos mil reais), perda de

função ou cargo público, suspensão dos direitos políticos pelo prazo de oito anos,

pagamento de multa civil de três vezes o valor do acréscimo patrimonial e

proibição de contratar com o poder público ou receber benefícios ou incentivos

fiscais e creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa

jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de dez anos;

d.2) subsidiariamente, que EVERALDO RAMIRO DA SILVA seja

condenado pela conduta do art. 11, da Lei nº 8.429/92, ainda que na

modalidade culposa, com o ressarcimento integral do dano, por meio de

condenação em dano moral coletivo no valor de R$ 200.000,00 (duzentos mil

reais), perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de cinco anos,

pagamento de multa civil de cem vezes o valor da remuneração percebida pelo

agente e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou

incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio

de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de três anos;

e) quantos aos Réus JOSÉ BONIFÁCIO DA SILVA MELO,

HELDER MORATO AXHCAR, MARCOS ANTONIO DOMINGOS e AUGUSTO

PEREIRA GOMES NETO:

e.1) que seja reconhecido ato de improbidade administrativa

descrito no art. 10, da Lei nº 8.429/92, com a aplicação das sanções

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dispostas no art. 12, inciso II, da mesma lei, com o ressarcimento integral do

dano moral coletivo no valor de R$ 200.000,00 (duzentos mil reais), perda dos

bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, perda da função pública,

suspensão dos direitos políticos de oito anos, pagamento de multa civil de duas

vezes o valor do dano e proibição de contratar com o Poder Público ou receber

benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que

por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de

cinco anos;

e.2) subsidiariamente que sejam condenados pela conduta do

art. 11, da Lei nº 8.429/92, ainda que na modalidade culposa, com o

ressarcimento integral do dano, por meio de condenação em dano moral coletivo

no valor de R$ 200.000,00 (duzentos mil reais), perda da função pública,

suspensão dos direitos políticos de cinco anos, pagamento de multa civil de cem

vezes o valor da remuneração percebida pelo agente e proibição de contratar com

o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou

indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio

majoritário, pelo prazo de três anos;

5. a condenação dos Réus aos pagamentos de custas processuais e

demais verbas de sucumbência;

7. no caso de serem julgados procedentes os pedidos aqui

formulados, sejam oficiados o Tribunal Superior Eleitoral no caso de suspensão dos

direitos políticos, o Banco Central do Brasil – para que este comunique às

instituições financeiras oficiais a proibição de contratar com o poder público e

receber incentivos e benefícios fiscais ou creditícios – e, para o mesmo fim, seja

determinada a inclusão do nome dos Requeridos no Cadastro de Créditos Não

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Quitados de Órgãos e Entidades Federais – CADIN.

Dá à causa o valor de R$ 250.000.000,00 (duzentos e

cinquenta milhões de reais).

Águas Lindas-GO, 25 de setembro de 2014.

TÂNIA D'ABLE ROCHA DE TORRES BANDEIRA

Promotora de Justiça