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A CONSTRUÇÃO DE PARÂMETROS PARA O ENSINO DO DESENHO DE ESTAMPARIA CORRIDA Celso Tetsuro Suono UTFPR Câmpus Apucarana, Curso Superior de Tecnologia em Design de Moda [email protected] Tamissa Juliana Barreto Berton UTFPR Câmpus Apucarana, Curso Superior de Tecnologia em Design de Moda [email protected] Gisely Andressa Pires UTFPR Câmpus Apucarana, Curso Superior de Tecnologia em Design de Moda [email protected] Resumo No Design de Superfície (DS) percebe-se a necessidade de estudos que contribuam para o entendimento dos processos, dos sistemas e das ferramentas projetuais próprias desse meio. Este trabalho pretende trazer contribuições para a construção de parâmetros no ensino e no aprendizado do conteúdo de desenho de estamparia corrida para os cursos de moda, com proposta metodológica para encaixe de motivos de desenho por meio de sistema de vértices. Apresenta como resultado uma classificação de nomenclatura para as diferentes possibilidades construtivas de rapport para estampas impressas em grandes áreas. Palavras-chave: design de superfície, desenho de estamparia corrida, rapport. Abstract In Surface Design it can be noticed the necessity of studies that contribute to comprehension of process, systems and proper project tools of this environment. In this way, this work intents to contribute for building of parameters in teaching and learning this content of printing drawing made with cylinder to fashion area courses, with methodological purpose to fitting drawing motifs through a system of vertices. It presents as result a nomenclature tabulation to different building possibilities of rapport to prints in big areas. Keywords: surface design, printing drawing made with cylinder, rapport.

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A CONSTRUÇÃO DE PARÂMETROS PARA O ENSINO

DO DESENHO DE ESTAMPARIA CORRIDA

Celso Tetsuro Suono UTFPR – Câmpus Apucarana, Curso Superior de Tecnologia em Design de Moda

[email protected]

Tamissa Juliana Barreto Berton UTFPR – Câmpus Apucarana, Curso Superior de Tecnologia em Design de Moda

[email protected]

Gisely Andressa Pires UTFPR – Câmpus Apucarana, Curso Superior de Tecnologia em Design de Moda

[email protected]

Resumo

No Design de Superfície (DS) percebe-se a necessidade de estudos que contribuam para o entendimento dos processos, dos sistemas e das ferramentas projetuais próprias desse meio. Este trabalho pretende trazer contribuições para a construção de parâmetros no ensino e no aprendizado do conteúdo de desenho de estamparia corrida para os cursos de moda, com proposta metodológica para encaixe de motivos de desenho por meio de sistema de vértices. Apresenta como resultado uma classificação de nomenclatura para as diferentes possibilidades construtivas de rapport para estampas impressas em grandes áreas.

Palavras-chave: design de superfície, desenho de estamparia corrida, rapport.

Abstract

In Surface Design it can be noticed the necessity of studies that contribute to comprehension of process, systems and proper project tools of this environment. In this way, this work intents to contribute for building of parameters in teaching and learning this content of printing drawing made with cylinder to fashion area courses, with methodological purpose to fitting drawing motifs through a system of vertices. It presents as result a nomenclature tabulation to different building possibilities of rapport to prints in big areas. Keywords: surface design, printing drawing made with cylinder, rapport.

1 Introdução

A expressão “Design de Superfície” ou “Surface Design” foi introduzida no Brasil pela

designer gaúcha Renata Rubim após retornar de um período de estudos entre os anos

de 1985 e 1987, quando frequentou o departamento de Design Têxtil, na Rhode Island

School of Design, nos Estados Unidos.

O DS se dá na fabricação de diversos produtos por meio de matérias-primas como

a cerâmica, o vidro, o plástico, o papel e o tecido. No caso do setor de moda e têxtil, é

comum verificar o uso constante de tecidos estampados em peças de vestuário

criadas pelos designers para as suas coleções.

Chataignier (2006) define os tecidos estampados como sendo aqueles que após a

tecelagem, recebem no acabamento a aplicação de desenhos variados e decorativos,

com uma ou mais cores e que são percebidos apenas do lado direito do tecido.

Com o crescimento gradativo de cursos técnicos e superiores responsáveis pela

inserção de novos profissionais de moda para o mercado, percebe-se a necessidade

de reflexões sobre o cuidado na formação dos alunos, em especial àqueles que

pretendem desenvolver projetos para superfícies.

O DS ocupa no mercado status em plena expansão e se consolida como campo

de conhecimento científico e de atuação profissional. É importante que haja o

direcionamento de estudos sobre as particularidades desse campo, no sentido de

promover novas abordagens no ensino e no aprendizado dos processos, dos sistemas

e das ferramentas projetuais utilizados para projetos nessa área.

2 O design de superfície

Rubim (2010) afirma que o DS é sempre um projeto destinado para uma superfície,

seja ela de que natureza for. De acordo com Rüthschilling, a definição de superfícies

pode ser dada da seguinte maneira:

As superfícies são objetos ou parte dos objetos em que o comprimento e a largura são medidas significantemente superiores à espessura, apresentando resistência física suficiente para lhes conferir existência. A partir dessa noção, entende-se a superfície como um elemento passível de ser projetado. Alia-se a isso, muitas vezes, seu caráter autônomo em relação ao resto do objeto, o que configura o design especificamente desenvolvido para essas superfícies como uma nova especialidade. (RÜTHSCHILLING, 2008, p. 24)

Para Rüthschilling (2008), o DS não se limita apenas à “inserção de desenhos,

cores e texturas sobre um substrato, cuja função principal seria apenas conferir

qualidades às superfícies por meio de projetos de revestimento”. Conforme descreve a

autora, a noção de superfície como elemento bidimensional pode ser ampliada e

passar a ser considerada como estrutura gráfica espacial com propriedades visuais,

táteis, funcionais e simbólicas, com atributos que a tornam uma estrutura auto-

sustentável e independente de qualquer suporte, ou seja, uma superfície-objeto.

Tais resultados orientam caminhos para “novas experiências visuais e sensações

perceptivas através de estímulos sensoriais” que mudam as relações entre objeto e

observador (RÜTHSCHILLING, 2008, p. 52). Isso tem demonstrado que o DS

representa um campo bastante amplo para investigação, com muitas fronteiras que

ainda precisam ser exploradas.

3 O desenho decorativo e o design de superfície

Em seu livro “Curso de Desenho para os Cursos de Nível Médio”, publicado no ano de

1970, Penteado entendia a decoração como a forma mais primitiva de arte. Esse

pensamento configurava a introdução dos conceitos de desenho decorativo nos cursos

de nível médio nas turmas anteriores aos anos de 1970, atribuindo aos alunos da

época fundamentos sobre esse conteúdo na formação educacional.

O autor considerava o conceito de “decorativo” como sendo o “estilizado” e

explicava que o processo de estilização obedecia à tendência de reduzir ao essencial

tudo aquilo que se podia encontrar na natureza e que interessava às artes plásticas.

Com o tempo, a ideia de decoração sofreu mudanças e o termo “decorativo” foi

substituído por outra terminologia na área do design, definida como “design de

superfície”.

É interessante observar que determinados conceitos dos ensinamentos de

Penteado sobre o desenho decorativo ainda são aplicados até os dias de hoje em

projetos de DS. Para o autor, o “decorativismo” apresentava uma tendência para a

“padronização”, que era alcançada por meio da análise objetiva da forma modelada de

acordo com esquemas e ritmos regulares.

4 O design de estamparia corrida

Existem diversos processos e tipos de aplicações para a estamparia. Dentre os mais

empregados, destaca-se a “estamparia localizada” – conhecida também como

estamparia com quadros – e a “estamparia corrida” ou estamparia com rolos.

De acordo com Udale (2009), uma das principais vantagens da estamparia

cilíndrica é que ela permite a impressão dos desenhos em superfícies com grandes

extensões, sendo uma técnica mais rápida e eficiente se comparada à estamparia com

quadros.

No desenvolvimento das padronagens para a estamparia corrida, o designer pode

utilizar de técnicas e de ferramentas que facilitam o raciocínio projetual e que

colaboram para o alcance dos resultados. A “modularização” é uma das ferramentas

que contribui nos aspectos metrológicos de fabricação dos produtos industriais e que,

segundo Filho (2009), “favorece a montagem e desmontagem dos conjuntos bem

como a customização de acordo com preferências, interesses e necessidades

individuais dos usuários”.

Uma técnica utilizada nas indústrias brasileiras é aquela que trabalha a

composição de estampas corridas como um desenho em repetição modular, também

conhecido como “rapport”. As pesquisas desenvolvidas pelo Núcleo de Design de

Superfície da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – NDS-UFRGS –

apresentam o processo de “encaixe dos motivos entre módulos” como uma técnica

que prevê os pontos de encontros das formas entre um módulo e outro e que quando

justapostos de maneira predeterminada pelo sistema de repetição definido ou

escolhido pelo designer, forma o desenho (RÜTHSCHILLING, 2008, p. 64).

Segundo Rüthschilling (2008), o encontro dos elementos de desenho entre os

módulos é responsável pela continuação e pela fluência visual que traz como

resultado uma composição harmoniosa gerada pela junção dos mesmos. O

posicionamento dos módulos também se caracteriza como aspecto importante para o

desenvolvimento dos projetos de DS, pois essas escolhas tornam-se responsáveis

pela geração de resultados estéticos com efeitos variados (Figura 1).

Figura 1: Rapport de listras e resultados de efeitos conforme posicionamento dos módulos. (Fonte: adaptado de Rütschilling, 2008, p. 64 e 69)

5 A construção de parâmetros para o desenvolvimento do rapport

Alguns estudos experimentais com relação ao ensino e ao aprendizado do desenho de

estamparia corrida foram desenvolvidos com alunos de design de moda de duas

instituições de ensino superior – uma particular e outra pública – respectivamente

localizadas nas cidades de Maringá e Apucarana, na região norte do Paraná.

Esses estudos deram início por volta do ano de 1998 e foram inseridos nas

instituições de ensino a partir do ano de 2001, sendo prosseguidos até os dias de hoje.

É possível perceber algumas semelhanças desses estudos com a técnica de “encaixe

dos motivos entre módulos”, difundida e aplicada pelo NDS-UFRGS. Por outro lado,

ações experimentais em sala de aula demonstraram a existência de algumas

particularidades que diferenciam esses estudos com outros já existentes e que são

aplicados no ensino e no aprendizado para a construção do rapport.

Um desses aspectos é aquele que se refere à determinação de uma nomenclatura

para os tipos de rapport na elaboração de estampas produzidas com maquinários

cilíndricos. Essa nomenclatura classifica o rapport em seis tipos denominados como

“rapport direto”, “rapport saltado”, “rapport barrado”, “rapport rotativo” (simétrico ou

assimétrico), “rapport espelhado ou rebatido” e “rapport duplo-espelho”.

A inserção dessa nomenclatura nos meios acadêmicos no estado do Paraná

ocorreu por volta do ano de 1998 pela professora Vera Lígia Gilbert – na época

docente e coordenadora do curso de moda da Faculdade Santa Marcelina na cidade

de São Paulo. Nesse período, Gilbert ministrou a disciplina de Estamparia Têxtil na

primeira turma de especialização em Estilismo em Moda da Universidade Estadual de

Londrina – um curso de pós-graduação que tinha como foco a formação de docentes

para atuar no curso superior de moda do município.

Posteriormente, os ensinamentos de Gilbert começaram a ser repassados pelo

professor Celso Tetsuro Suono – aluno da primeira turma de especialização da UEL –

para outras instituições. As primeiras incursões aconteceram no curso de moda do

Centro Universitário de Maringá, entre os anos de 2001 e 2006 e a partir do ano de

2007, passaram a ser trabalhadas nas turmas do curso superior de tecnologia em

design de moda da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, no município de

Apucarana, e que continuam sendo aplicadas até os dias de hoje.

As técnicas para a construção dos diversos tipos de rapport difundidas por Gilbert

por meio de exercícios manuais e artísticos foram adaptadas por Suono com o uso de

ferramentas gráficas informatizadas para alcançar resultados mais precisos na

composição dos desenhos. Por outro lado, ao longo dessa experiência notou-se que

apenas os conhecimentos sobre a classificação dos tipos de rapport e o uso de

ferramentas informatizadas começavam a se tornar insuficientes para atender os

objetivos no aprimoramento do ensino e do aprendizado do desenho de estamparia

corrida para as turmas.

Em função disso, Suono iniciou alguns estudos para identificar determinadas

características que pudessem subsidiar a lógica para a construção de cada tipo de

rapport apresentado por Gilbert. Uma das particularidades identificadas por ele foi a de

que a relação da nomenclatura para cada tipo de rapport poderia estar atrelada ao fato

de como os elementos da composição se encaixavam em função de uma parte do

módulo, ou seja, o “vértice”. A partir daí, surgiu como proposta a construção de

parâmetros que pudessem contribuir na compreensão para cada tipo de sistema e que

são apresentados na sequência.

Rapport Direto:

As dimensões atribuídas para o desenvolvimento do rapport direto basicamente

devem seguir as especificações técnicas determinadas pela largura do tecido e pelo

perímetro do cilindro. Esse tipo de rapport parte do princípio da construção da

estampa com apenas um módulo. O encaixe dos elementos posicionados nos vértices

horizontal e vertical deve coincidir, diretamente, com a combinação desses mesmos

elementos nos próximos vértices paralelos para cada sentido.

Essa relação pode ser observada no esquema da Figura 2, em que os elementos

posicionados no vértice 1 (sentido horizontal) se encaixam no próximo vértice paralelo

do mesmo sentido (vértice 1’). Essa mesma situação também se faz presente para os

elementos posicionados nos vértices em sentido vertical (vértice 2 e vértice 2’). Esse

tipo de sistema costuma apresentar resultados de estampas com efeito estático,

evidenciando mais a percepção visual para linhas ortogonais de direcionamento.

Figura 2: Rapport Direto e sistema de distribuição dos módulos. (Fonte: Dos autores, 2001)

Rapport Saltado:

Para facilitar a construção do rapport saltado é aconselhável que se faça uma

divisão da área total do rapport em duas partes iguais (S1 e S2). O encaixe dos

elementos posicionados em todos os vértices horizontais e verticais da primeira área

(S1) segue o mesmo princípio de combinação nas paralelas, porém com uma pequena

diferença. Nesse caso, a combinação dos elementos acontece em paralelas

intercaladas, ou seja, os desenhos alocados sobre os vértices da primeira área (S1)

farão o seu encaixe somente nos vértices da segunda área (S2).

Conforme demonstra a Figura 3, os elementos posicionados sobre um

determinado vértice (vértice 1) devem saltar o próximo vértice paralelo e fazer o

encaixe de seus desenhos no vértice paralelo seguinte (vértice 1’). O efeito visual

atribuído com o uso desse sistema promove, propositalmente, a percepção visual dos

elementos em linhas de direcionamento no sentido diagonal, proporcionando maior

dinamismo estético sobre o resultado final da estampa.

Figura 3: Rapport Saltado e sistema de distribuição dos módulos. (Fonte: Dos autores, 2001)

Rapport Barrado:

Antes de tudo, é importante fazer uma diferenciação entre “faixa” e “barrado”. A

faixa se constitui de uma composição feita com elementos bem simples e pode estar

localizada em qualquer posição do vestuário. Já o posicionamento de uma estampa

barrada deve-se fazer presente somente na parte inferior da peça, ou seja, na barra da

roupa.

O rapport barrado apresenta como resultado uma composição com motivos e

desenhos organizados de maneira um pouco mais complexa do que na faixa. Devido à

essa complexidade, recomenda-se que a área total do rapport seja subdividida em

várias partes para setorizar a distribuição dos desenhos.

Outro aspecto importante que deve ser observado no desenvolvimento desse tipo

de rapport é aquele que diz respeito quanto às dimensões das partes localizadas nas

extremidades da área total do próprio rapport. A parte da extremidade inferior costuma

ser denominada como “zona morta” e recomenda-se trabalhar com motivos simples ou

até mesmo nenhum tipo de elemento – isso porque no momento em que é feita a

costura da barra da peça há uma perda aparente do desenho da estampa. Além disso,

aconselha-se também que a altura da zona morta tenha no mínimo uma medida que

varie entre 5 e 7 centímetros, pois os acabamentos padrões de costura nas barras das

peças costumam variar entre 1 e 3 centímetros.

Quanto à parte da extremidade oposta à zona morta – especificada no exemplo da

Figura 4 como “área B3” – é preciso ter o cuidado de considerar para a sua altura um

valor que seja múltiplo da medida restante para o fechamento da composição da

estampa, pois é essa parte que irá se repetir na extensão superior do tecido.

Conforme se observa, os elementos posicionados sobre o vértice vertical (vértice 1)

executam o encaixe dos desenhos no próximo vértice vertical paralelo (vértice 1’) e

seguem o mesmo raciocínio de combinação de elementos utilizado no rapport direto.

Figura 4: Rapport Barrado e sistema de distribuição dos módulos. (Fonte: Dos autores, 2001)

Rapport Rotativo (Simétrico ou Assimétrico):

Segundo Perazzo & Valença (1997), uma composição simétrica é aquela em que

os elementos se associam a outros idênticos, que estão rebatidos e situados no lado

oposto de um eixo. A compreensão de simetria no rapport rotativo se dá pela

disposição dos desenhos organizados a partir de um eixo no sentido diagonal que se

inicia no ponto inferior da extremidade esquerda do módulo e que se estende até o

ponto superior da extremidade direita.

De acordo com Calfa (1996), a geometria descritiva é a parte da matemática

aplicada que tem por objetivo representar sobre um plano as figuras do espaço, de

modo a resolver, com o auxílio da geometria plana, os problemas em que se

consideram três dimensões.

Algumas convenções da geometria descritiva são utilizadas para facilitar o

entendimento e a construção do rapport rotativo. A principal delas é a adoção do

sistema e da nomenclatura que convenciona os planos de projeção, perpendiculares

entre si, em quatro regiões denominadas como “diedros”.

Um aspecto importante a ser observado na construção do rapport rotativo é que

existe uma limitação quanto à escolha das formas dos módulos para esse tipo de

rapport. Ao contrário dos sistemas anteriores – rapport direito, rapport saltado e

rapport barrado, que trabalham como parâmetro principal o encaixe dos elementos da

estampa posicionados nos vértices a partir de linhas paralelas – o rapport rotativo

utiliza um sistema de encaixe feito por meio de linhas perpendiculares entre si e que

partem do mesmo ponto de origem.

Para que haja uma combinação adequada e correta dos elementos entre os

vértices de encaixe é necessário o uso de formas com dimensões iguais nessas

mesmas linhas. Dessa maneira, apenas formas quadradas e circulares são aceitáveis

para a construção do rapport rotativo. Por outro lado, a observação comparativa

quanto ao uso dessas duas formas – quadrados e círculos – revelou ainda outra

característica importante que determina a delimitação das áreas para o módulo do

rapport.

No caso das formas quadradas, a única possibilidade de escolha para o tamanho

do módulo equivale a uma fração de ¼ da composição, enquanto que nas formas

circulares existem alternativas de se trabalhar com frações de áreas diferentes. Isso

ocorre em função de todos os vértices de encaixe para as formas circulares

equivalerem ao raio da circunferência, tendo dimensões iguais em todos os sentidos

(Figura 5).

Figura 5: Possibilidades de áreas para o módulo do Rapport Rotativo. (Fonte: Dos autores, 2001)

No desenvolvimento do rapport rotativo existe a opção para distribuir os elementos

dentro do módulo tanto no contexto simétrico quanto no assimétrico, porém vale

ressaltar um aspecto interessante que os diferencia quanto ao encaixe dos desenhos

posicionados nos vértices.

Apesar de utilizar como critério de distribuição um sentido de rotação anti-horário –

que parte do ponto de encontro dos vértices a serem combinados e que são

perpendiculares entre si – o resultado adquirido na composição final do rapport rotativo

simétrico acaba por produzir o mesmo efeito quando efetuado o espelhamento dos

módulos nos outros diedros. As práticas experimentais em sala de aula demonstraram

que esse fenômeno costuma ocasionar confusão no raciocínio projetual dos alunos,

promovendo o surgimento de erros na representação gráfica dos esquemas de

construção para esse tipo de rapport.

Essas dúvidas sobre a lógica da construção e do encaixe para o rapport rotativo

simétrico acabam sendo esclarecidas quando os alunos desenvolvem a construção do

rapport rotativo assimétrico logo na sequência. Isso acontece porque caso eles façam

o encaixe dos vértices por meio de espelhamento ao invés do uso da rotação anti-

horária, o resultado da distribuição da composição final acaba por não apresentar o

efeito estético rotativo para os elementos que formam o desenho da estampa (Figura

6).

Figura 6: Rapport Rotativo (simétrico e assimétrico) e sistema de distribuição dos módulos. (Fonte: Dos autores, 2001)

Rapport Espelhado ou Rebatido:

O rapport espelhado – também conhecido como rebatido – se caracteriza pelo

procedimento em se rebater o módulo do rapport uma única vez para determinada

direção. Conforme se observa na Figura 7, a combinação dos elementos que são

posicionados nos vértices em que não acontece o rebatimento segue o mesmo

princípio de encaixe do sistema direto, ou seja, em linhas paralelas (vértice 1 e vértice

1’).

Figura 7: Rapport Espelhado ou Rebatido e sistema de distribuição dos módulos. (Fonte: Dos autores, 2001)

A principal particularidade na construção desse rapport recai sobre o cuidado na

escolha dos desenhos que são alocados exatamente no vértice em que o

espelhamento acontece (vértice 2). Nesse caso, é necessária a aplicação de

elementos simétricos sobre essa linha, pois o rebatimento implica no surgimento da

metade desses mesmos elementos para o lado oposto em sentido inverso.

Quando se opta por não trabalhar com elementos sobre o vértice rebatido é

recomendável que se posicione os outros elementos internos do módulo próximos ao

eixo espelhado, pois isso ajuda a evitar a percepção de uma linha divisória entre o

módulo do rapport e o módulo rebatido.

No rapport espelhado ou rebatido também é importante considerar a articulação

dos desenhos que possuem lados diferentes (cabeça e pé), posicionando-os em

várias direções, uma vez que a quantidade e o tamanho dos motivos na composição

acabam influenciando na boa adequação do resultado final da estampa.

Dessa forma, recomenda-se trabalhar com desenhos menores e em quantidade

maior, de modo que os elementos ocupem o máximo possível da área do módulo.

Essa prática costuma evitar a ideia do desenho da estampa estar “de ponta cabeça” e

deixa quase imperceptível a visão do módulo espelhado.

Rapport Duplo-Espelho:

Ao contrário do rapport rotativo – que limita o uso de apenas dois tipos de formas

(quadrados e círculos) – o rapport duplo-espelho permite o uso de estruturas como

quadrados, círculos, retângulos e elipses. Isso porque o encaixe dos elementos

posicionados nos vértices acontece na própria linha em que eles se encontram.

A compreensão da distribuição dos módulos nesse sistema é a mesma utilizada

no rapport rotativo, com a organização feita por meio de diedros. Uma vez que os

resultados dos desenhos alocados nos eixos de rebatimento se constituem na metade

desses elementos em sentido oposto, é fundamental trabalhar com formas que sejam

simétricas ou contínuas.

A principal característica para esse tipo de rapport é que o raciocínio para a lógica

do espelhamento do módulo acontece sob a condição do uso de todos os vértices de

encaixe (horizontal e vertical) e em duas etapas distintas.

Na primeira delas, o módulo do rapport é rebatido para o lado esquerdo em função

do vértice vertical e em direção ao 2º diedro (1º espelhamento). Nessa etapa temos

como resultado parcial a metade da composição do desenho da estampa. Em seguida,

os módulos localizados nos 1º e 2º diedros são selecionados ao mesmo tempo e

rebatidos para baixo em função do vértice horizontal (2º espelhamento), trazendo

como resultado final a visualização de toda a estampa (Figura 8).

Figura 8: Rapport Duplo-Espelho e sistema de distribuição dos módulos. (Fonte: Dos autores, 2001)

6 Conclusão

O campo do DS aponta para muitos territórios que podem ser explorados para

investigação. Os parâmetros para a representação gráfica na construção de desenhos

de estampas produzidos com maquinários cilíndricos e que são apontados neste

estudo, apresentam uma soma às pesquisas já existentes e têm o intuito de trazer

novas contribuições para os interessados sobre o assunto.

Cientes de estar à mercê de diversos questionamentos e de algumas

contestações, as contribuições trazidas neste trabalho não pretendem, sob nenhum

aspecto, representar uma privilegiada incursão dos parâmetros aqui apresentados

para as instituições de ensino. Muito pelo contrário: o objetivo principal consiste em

promover reflexões que aprimorem o conhecimento científico e propaguem as

particularidades existentes em projetos de DS – em especial no que diz respeito ao

ensino e ao aprendizado das possíveis técnicas e ferramentas que podem ser

utilizadas na concepção do desenho de estamparia corrida e que facilitem o raciocínio

projetual dos alunos em exercícios nos meios acadêmicos.

Agradecimentos

À professora Vera Lígia Gilbert, pelos ensinamentos sobre o desenho de estamparia

corrida introduzidos na primeira turma de pós-graduação em especialização em

Estilismo em Moda, da Universidade Estadual de Londrina, no ano de 1998.

Referências

CALFA, Humberto Giovanni. Noções de geometria descritiva. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, 1996.

CHATAIGNIER, Gilda. Fio a fio: tecidos, moda e linguagem. São Paulo: Estação das

Letras, 2006.

FILHO, Antonio Nunes Barbosa. Projeto e desenvolvimento de produtos. São

Paulo: Atlas, 2009.

PENTEADO, José de Arruda. Curso de desenho: para os cursos de nível médio. 9ª

ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1970.

PERAZZO, Luiz Fernando; VALENÇA, Máslova T. Elementos da forma. Rio de

Janeiro: Ed. Senac Nacional, 1997.

RUBIM, Renata. Desenhando a superfície. 2ª ed. São Paulo: Edições Rosari, 2010.

RÜTHSCHILLING, Evelise Anicet. Design de superfície. Porto Alegre: Ed. da

UFRGS, 2008.

UDALE, Jenny. Fundamentos de design de moda: tecidos e moda. Porto Alegre: Bookman, 2009.