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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ GUSTAVO DOS SANTOS CAIRES A CULPABILIDADE DO PSICOPATA NO ÂMBITO DO DIREITO PENAL CURITIBA 2017

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

GUSTAVO DOS SANTOS CAIRES

A CULPABILIDADE DO PSICOPATA NO ÂMBITO DO DIREITO

PENAL

CURITIBA

2017

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GUSTAVO DOS SANTOS CAIRES

A CULPABILIDADE DO PSICOPATA NO ÂMBITO DO DIREITO

PENAL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Direito da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito principal para obtenção de título de Bacharel em Direito.

Orientador: Prof. Luiz Renato Skroch Andretta

CURITIBA

2017

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GUSTAVO DOS SANTOS CAIRES

A CULPABILIDADE DO PSICOPATA NO ÂMBITO DO DIREITO

PENAL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Direito da

Faculdade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para a obtenção do grau de

graduada em Direito.

Aprovada em: ….. de …………. de 2017.

____________________________

Prof. Dr. PhD Eduardo de Oliveira Leite Universidade TUIUTI do Paraná

Curso de Direito

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________ Professor Luiz Renato Skroch Andretta.

(Orientador – Universidade Tuiuti do Paraná)

___________________________________________________ Prof.º ………………………………………………

(Membro – Universidade Tuiuti do Paraná)

__________________________________________________ Prof.º ………………………………………………..

(Membro – Universidade Tuiuti do Paraná)

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AGRADECIMENTOS

À Deus, por guiar meus passos e fazer com que eu possa estar aqui hoje

agradecendo.

À todos os meus familiares, especialmente à minha mãe, Dra. Maria Porfiria,

por toda a sabedoria, paciência, carinho e amor à mim dedicados.

À minha namorada Karina, pelo amor e companheirismo, por sempre acreditar

em mim e por tornar os meus dias ainda melhores.

Aos meus mestres, todos os professores que tem o dom do magistério, pelos

ensinamentos passados no decorrer do curso.

Ao Prof. Dr. Luiz Renato Skroch Andretta, pela imprescindível orientação ao

longo deste trabalho.

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Dedico este trabalho a minha mãe Maria, a todo o seu esforço e dedicação para

formar o meu caráter e quem eu sou, obrigado mãe te amo.

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“Cada dia uma página em branco”. (Chico Xavier)

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RESUMO

O presente trabalho aborda um tema de grande relevância social, onde todos nós, direta ou indiretamente, somos afetados e, talvez, não tenhamos conhecimento: a figura do psicopata e o que o Direito Penal, dentro da sua característica como ultima ratio, oferece de resposta para a sociedade. No primeiro momento, a partir da teoria do crime, aborda-se o elemento mais importante para o presente trabalho, qual seja, a culpabilidade. Nesse sentido, esgota-se seus conceitos adentrando nos elementos que a compõe, sendo o mais importante a imputabilidade. Passando pela psicologia forense, assim como pela psiquiatria, procura-se demonstrar quais as principais características da psicopatia, suas formas de diagnóstico, e como o Direito Penal nos oferece (ou não) o controle social. Pretende-se discutir a relação entre a psicopatia e os crimes, frente à nossa atual legislação, para que assim seja possível definir parâmetros para a culpabilidade do psicopata, levando em conta o que outras ciências como a psiquiatria, a psicologia forense e a neurociência, nos dizem a respeito desses indivíduos. Tendo em vista que a parcela psicopata da população é relevante e, levando em consideração que a nossa atual legislação é no mínimo omissa, a problemática repousa na maneira como devem ser julgados os criminosos psicopatas. A partir do direito comparado, analisa-se o tratamento dado pelo Direito Penal Brasileiro ao assunto.

Palavras-chave: Direito Penal. Psicopata. Imputabilidade. Lei. Culpabilidade.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO....................................................................................... 9

2 CULPABILIDADE NO DIREITO PENAL................................................ 11

2.1 CONCEITO............................................................................................. 11

2.1.1 Teoria psicológica da culpabilidade........................................................ 13

2.1.2 Teoria psicológico-normativa ou normativa da culpabilidade................. 14

2.1.3 Teoria normativa pura da culpabilidade.................................................. 15

2.1.4 Conceito funcional da culpabilidade....................................................... 17

2.2 ELEMENTOS DA CULPABILIDADE....................................................... 18

2.2.1 Imputabilidade........................................................................................ 18

2.2.2 Causas de exclusão da imputabilidade.................................................. 21

2.2.2.1 Exclusão da imputabilidade por doença mental ou desenvolvimento

mental incompleto...................................................................................

21

2.2.2.2 Imputabilidade diminuída........................................................................ 22

2.2.2.3 Exclusão da imputabilidade por menoridade.......................................... 23

2.2.2.4 Exclusão da imputabilidade por embriaguez.......................................... 24

2.2.2.5 Potencial consciência da ilicitude........................................................... 25

2.2.2.6 Exigibilidade de conduta diversa............................................................ 26

3 DO PSICOPATA..................................................................................... 28

3.1 INTRODUÇÃO........................................................................................ 28

3.2 BREVE HISTÓRICO............................................................................... 29

3.3 IDENTIFICAÇÃO E DIAGNÓSTICO...................................................... 29

3.4 CONCEITO E CARACTERÍSTICAS DOS PSICOPATAS....................... 33

3.5 PSICOPATAS E O CRIME...................................................................... 35

4 DA CULPABILIDADE DO PSICOPATA................................................. 38

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................... 45

REFERÊNCIAS...................................................................................... 46

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1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como objetivo demonstrar como se define a

culpabilidade do indivíduo diagnosticado com psicopatia no âmbito do direito Penal,

analisando as características desses perversos indivíduos que representam um

grande perigo à sociedade.

A partir disso, procura-se a resposta que o Direito Penal, na atribuição de

suas funções, oferece.

Busca-se, no sentido da culpabilidade, qual seria o julgamento ideal de

criminosos psicopatas, sabendo que sujeitos assim são de quase impossível

recuperação.

Na seara do Direito Penal, muito se discutiu ao longo do tempo a respeito das

mentes criminosas, estudando o seu comportamento antissocial, analisando as suas

características físicas, ambiente onde vive, traçando assim um método de estudo que

possibilita a sua identificação.

Neste diapasão surge a criminologia, que é o conjunto de conhecimentos que

se ocupa do crime, da criminalidade e suas causas, da vítima, do controle social do

ato criminoso, bem como da personalidade do criminoso e da maneira de ressocializá-

lo, conforme Fernandes e Fernandes (2002, p. 315).

A psicologia forense, dentro da área da criminologia, define conceitos e

presta o auxílio necessário para o Direito Penal, que é o foco da pesquisa, no sentido

de prestar um estudo meticuloso acerca do criminoso.

Eis que surge então uma figura intrigante, que carece de um conceito

definitivo, que provavelmente será fruto de muita discussão ainda, o psicopata. A

pesquisa se encaminha para discutir sobre como determinado indivíduo psicopata

encara e discerne sobre a ilicitude dos atos que comete, liame principal da nossa

legislação, se assim ele pode ser responsabilizado, culpado.

A psicopatia é uma disfunção comportamental que tem despertado calorosos

debates entre clínicos e pesquisadores ao longo do tempo, sendo, na maioria das

vezes, indivíduos frios, calculistas, inescrupulosos, dissimulados, mentirosos,

sedutores que visam apenas seu próprio benefício, doa a quem doer, segundo Silva

(2012, p. 102).

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Nesse sentido, o que se procura elucidar é se o psicopata tem consciência do

caráter ilícito e total discernimento no momento da conduta, isto é se ele pode ser

culpável.

Segundo Cezar Roberto Bittencourt apud Welzel (2015, p. 221) “a

culpabilidade é um elemento constitutivo do crime, sem a qual este não se aperfeiçoa”.

O trabalho, em sua primeira parte, procura situar o conceito de crime,

extraindo o elemento da culpabilidade, explicando seus conceitos e teorias de acordo

com a evolução histórica.

Na segunda parte, trata-se da psicopatia, um breve relato histórico do seu

conceito, a forma eficaz do seu diagnóstico, as características dos psicopatas e por

fim a sombria relação do psicopata com o crime, com o caos midiático e os famosos.

Por outro lado, traça-se um paradigma entre o que foi possível expor e a

resposta que o Direito Penal, na sua atribuição de suas funções, oferece (ou não) para

a sociedade. De igual forma, busca-se definir qual a maneira segundo a ótica de

juristas, psiquiatras e psicólogos forenses, de melhor julgar estes indivíduos.

Por último, faz-se uma análise de como o Direito Penal de outros países

tratam estes criminosos, visto que a maioria do conhecimento que se tem acerca do

assunto é de origem estrangeira, e diante do nosso ordenamento e características do

nosso sistema estatal, seria a melhor maneira de cuidar destes criminosos,

considerando todos os seus aspectos.

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2 CULPABILIDADE NO DIREITO PENAL

2.1 CONCEITO

O crime no Brasil, através da Lei de Introdução ao Código Penal, no seu artigo

1°, é definido da seguinte forma.

Considera-se crime a infração penal a que a lei comina pena de reclusão ou detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa; contravenção, a infração a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão simples ou de multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente.

Conforme o doutrinador Cezar Roberto Bittencourt (2011, p. 591) “o atual

Código Penal (1940, com a Reforma Penal de 1984) não define crime, deixando a

elaboração de seu conceito à doutrina nacional”.

O sistema tripartido de definição de crime, o qual foi adotado no presente

trabalho, é o entendimento majoritário da doutrina e jurisprudência brasileira. Portanto,

segundo a referida teoria, crime é definido como fato típico, antijurídico e culpável,

dentro do conceito analítico.

Ainda acerca do conceito analítico de crime, Bittencourt (2015, p. 469)

assinala:

O próprio Welzel, na sua revolucionária transformação da teoria do delito, manteve o conceito analítico de crime. Deixa esse entendimento muito claro ao afirmar que “o conceito da culpabilidade acrescenta ao da ação antijurídica — tanto de uma ação dolosa como não dolosa — um novo elemento, que é o que a converte em delito”20. Com essa afirmação Welzel confirma que, para ele, a culpabilidade é um elemento constitutivo do crime, sem a qual este não se aperfeiçoa.

Desta forma, a culpabilidade se apresenta como um elemento indispensável

para a caracterização do crime no Direito Penal Brasileiro.

O conceito de culpabilidade forma-se através do juízo de reprovação sobre o

autor de determinado fato e sua capacidade de responder pelas consequências deste,

se poderia agir de maneira diversa, em conformidade com o direito, porém opta por

violá-lo.

Nesse sentido Cezar Roberto Bittencourt (2011, p. 984):

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Tradicionalmente, a culpabilidade é entendida como um juízo individualizado de atribuição de responsabilidade penal, e representa uma garantia para o infrator frente aos possíveis excessos do poder punitivo estatal. Essa compreensão provém do princípio de que não há pena sem culpabilidade (nulla poena sine culpa). Nesse sentido_, a culpabilidade apresenta-se como fundamento e limite para a imposição de uma pena justa.

Ainda segundo o autor Bitencourt (2011, p. 201): “a reprovação pessoal contra

o agente do fato fundamenta-se na não omissão da ação contrária ao Direito ainda e

quando podia havê-la omitido”.

Segundo Welzel, culpabilidade é a reprovabilidade da configuração da

vontade. Portanto, toda culpabilidade é culpabilidade de vontade, ou seja, somente se

pode reprovar ao agente, como culpabilidade, aquilo a respeito do qual pode algo

voluntariamente.

Conforme Eugênio Raúl Zaffaroni (2015, p. 541) este conceito de

culpabilidade é um conceito de caráter normativo, que se funda em que o sujeito podia

fazer algo distinto do que fez, e que, nas circunstâncias, lhe era exigível que fizesse.

Porém, antes de se aprofundar neste conceito, se faz necessário relatar a

evolução histórica da culpabilidade penal.

Destaca Santos apud Von Liszt (1993, p. 69) que “pelo aperfeiçoamento da

teoria da culpabilidade mede-se o progresso do direito Penal”.

Nesse sentido leciona Juarez dos Santos (1993, p. 69):

A evolução do conceito de culpabilidade é a história das transformações do principal elemento que esta possui, qual seja, a consciência e vontade do fato e, após, se reduz para consciência e vontade do fato. Posteriormente, este elemento é ampliado para a consciência e vontade do fato e do valor do fato, também chamada de consciência da antijuridicidade. Essas fases de consciência correspondem às teorias psicológica, psicológica normativa e normativa pura da culpabilidade.

A respeito da evolução das teorias dogmáticas da culpabilidade, Bittencourt

(2015, p. 440) diz que “essa compreensão da culpabilidade como predicado do crime

não é fruto, portanto, portanto, do arbítrio, mas resulta de um longo processo de

evolução da dogmática jurídico-penal.”

Ante o exposto, para compreensão do objeto de estudo, é necessário uma

breve exposição da evolução das teorias da culpabilidade, como veremos a seguir.

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2.1.1 Teoria psicológica da culpabilidade

A teoria psicológica da culpabilidade, segundo Sheila Bierrenbach (2009, p.

61), também conhecida como teoria clássica, tem como os seus principais expoentes

Liszt e Beling1 sendo aperfeiçoada posteriormente por Radbruch.

Luiz Régis Prado (2008, p. 368) afirma essa teoria é produto do positivismo

científico (causalismo naturalista) imperante no final do século XIX, quando o

paradigma de ciência é a causal-explicativa, ciências naturais e sociais, impulsionadas

pelas teorias de Darwin, Spencer e Comte.

Para Liszt e outros doutrinadores, o delito poderia ser dividido em duas

faces- a face objetiva, que era constituída pelo processo causal externo (conduta,

resultado e nexo causal entre ambos) e a face subjetiva, que correspondia a

conteúdo da vontade, consoante Bierrenbach (2009, p. 61).

Desta maneira, Bittencourt apud Von Liszt (2015, p. 301) “culpabilidade é a

responsabilidade do autor pelo ilícito que realizou”.

De acordo com Bierrenbach apud Listz (2015, p. 62):

A relação subjetiva entre o ato e o autor. Esta relação deve tomar como ponto de partida o fato concreto, mas ao mesmo tempo se apartado mesmo, conferindo então ao ato o caráter de expressão de natureza própria do autor, deixando claro o valor metajurídico da culpabilidade.

Em suma, a teoria afirma que dolo e culpa passa a ser as únicas espécies de

culpabilidade, sendo que o mero vínculo entre o autor e o fato é a forma de mensurá-

la.

Zaffaroni leciona que o problema da culpa, tal como da imputabilidade não

poderia ser resolvido dentro desta concepção. (Zaffaroni, 2015 p 541)

Neste sentido vemos que a teoria psicológica não explica, por exemplo, o

doente mental, pois o mesmo age com relação psicológica, assim nesse caso poderia

ser explicado, se abandonasse o liame psicológico entre autor e fato.

Nas palavras de Bittencourt (2015, p. 444):

Diante da insuficiência comprovada da teoria psicológica, que, na verdade, não conceitua a culpabilidade, mas apenas apresenta um dos seus elementos,foi

1 (Regis Prado (2015, p. 368) aduz se ainda aqui a contribuição complementar de beling, mediante sua teoria do tipo (die lehre vom verbrechen 1906).

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inevitável o surgimento de um conceito integral de culpabilidade, que preferimos ,como alguns ,denominar psicológico-normativo, em razão de conservar elementos da natureza psicológica.

2.1.2 Teoria psicológico-normativa ou normativa da culpabilidade

Diante dos apontamentos falhos da teoria psicológica da culpabilidade,

Reinhardt Frank, em 1907, concebe considerando a relação psicológica juntamente

com o juízo de reprovação, segundo Greco apud Juarez Tavares (2015, p. 438) “de

mera relação psicológica entre agente e fato, a culpabilidade passou a constituir-se

de um juízo de censura ou reprovação pessoal, com base e, elementos

psiconormativos”.

Cezar Roberto Bittencourt (2015, p. 444) assim define:

O fundador da teoria normativa da culpabilidade, também conhecida como psicológico normativa, foi Reinhard Frank, concebendo-a como reprovabilidade, sem, no entanto, afastar-lhe o dolo e a culpa. Frank foi o primeiro a advertir que o aspecto psicológico normativo que se exprime no dolo ou na culpa não esgota todo o conteúdo da culpabilidade, que também precisa ser censurável.

Diante disso, afirma-se que a culpabilidade não se resume tão somente à

relação psíquica, diferenciando a ordem jurídica e o dever. Nesse sentido, Régis

Prado apud Golschimdt (2008, p. 369) diz que “a culpabilidade é uma valoração do

próprio fato típico. Assim, não é o fato psicológico em si, mas sua valoração de acordo

com a exigência normativa.”

Na visão de Bittencourt (2015, p. 370), “poderá existir o dolo sem que haja a

culpabilidade, a exemplo das causas de exculpação, momentos em que há conduta

dolosa, mas não há reprovabilidade.”

Sobre o assunto, Bittencourt (2015, p. 447) afirma que:

Essa concepção, que preferimos denominar psicológico-normativa, vê a culpabilidade como algo que se encontra fora do agente, isto é, não mais como um vínculo entre este e o fato, mas como um juízo de valoração a respeito do agente, em vez de o agente ser o portador da culpabilidade em si, no seu psiquismo, ele passa a ser o portador da culpabilidade, de carregar a culpabilidade em si, no seu psiquismo, ele passa a ser o objeto de um juízo de culpabilidade que é emitido pela ordem jurídica.

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Segundo Dámasio de Jesus (2010, p. 369) “Cunhou-se o nome “psicológico-

normativa”, pois contém o dolo como elemento psicológico e exigibilidade como fato

normativo.

A culpabilidade surge, então, como vínculo psicológico e como

reprovabilidade por ausência de causas de inexigibilidade de outra conduta São seus

elementos a) imputabilidade; b) dolo ou culpa (formas de culpabilidade); c)

exigibilidade de conduta diversa, conforme Prado (2008, p. 370).

Nesta teoria vemos que se exigem pressupostos para a culpabilidade, a

imputabilidade, dolo e culpa e a exigibilidade de conduta diversa.

Assim, Régis Prado (2008, p. 388) afirma que:

“Dolo seria a vontade e a consciência de realizar o fato proibido pela lei, enquanto a culpa seria uma vontade defeituosa. Por ser entendido como dolus malus, além da vontade de realizar o fato seria necessário também o conhecimento da ilicitude do fato.”

Nas palavras de Rogério Greco (2015, p. 401) “Por fim, a inexigibilidade de

conduta diversa passou a ser entendida como exclusão da culpabilidade. Não poderia

então, atuar culpavelmente, aquele à quem não pode ser exigida uma conduta distinta

da realizada”.

Em síntese, para a referida teoria, dolo e culpa não eram suficientes para

apurar a culpabilidade do indivíduo, sendo necessário que o autor soubesse que

estava praticando conduta contrária à ordem jurídica.

2.1.3 Teoria normativa pura da culpabilidade

No início do século XX, em 1931, Hans Welzel publicou o livro “causalidade

e ação”, concebendo assim o finalismo.

Segundo Eugênio Raul Zaffaroni e José Henrique Pierangelli (2015, p. 542-

543):

“da construção acabada de Hans Welzel, o dolo e a culpa passaram a localizar-se no tipo, a culpabilidade ficou livre destes componentes que ninguém sabia bem como tratar. Foi só então que se pôde falar de uma verdadeira teoria “normativa” da culpabilidade, posto que apenas neste momento a culpabilidade ficou limitada a pura reprovabilidade (...)”

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Um dos principais pontos da evolução reside no finalismo, que retira os

elementos subjetivos da culpabilidade (dolo e culpa), fazendo residir perenemente no

tipo penal.

Segundo Cezar Roberto Bittencourt (2015, p. 449):

As consequências que a teoria finalista da ação trouxe consigo para a culpabilidade são inúmeras. Assim, a separação do tipo penal em tipos dolosos e tipos culposos, o dolo e a culpa não são mais considerados como espécies (Teoria psicológico-normativas), mas como integrantes da ação e do injusto pessoal , constituem o exemplo mais significativo de uma nova direção no estudo do direito Penal, num plano geral, e a adoção de um novo conteúdo para a culpabilidade, em particular.

Assim Pontua Régis Prado apud Welzel (2008, p. 370) “a culpabilidade é

reprovabilidade de decisão da vontade”.

Nas lições de Damásio de Jesus (2010, p. 506), o conteúdo da culpabilidade

sob a ótica finalista passa a ser, então a imputabilidade, a possibilidade de

conhecimento do injusto (potencial consciência da ilicitude) e exigibilidade de conduta

diversa.

Nesse sentido, Zaffaroni e Pierangelli (2015, p. 543), precisamente lecionam:

vemos na culpabilidade, como, critérios legais de reprovação do injusto ao seu autor, dois núcleos temáticos que constituem árduos problemas jurídicos: a possibilidade de compreensão da antijuridicidade e um certo âmbito de autodeterminação do agente. Dito de outro modo: para reprovar uma conduta ao seu autor (Isto é, para que haja culpabilidade) requer-se que este tenha tido a possibilidade exigível de compreender a antijuridicidade de sua conduta e que tenha atuado em certo âmbito de autodeterminação mais ou menos amplo, ou seja, que não tenha estado em uma pura escolha.

Bittencourt apud Maurach (2015, p. 569):

Ao conceito de culpabilidade restavam então apenas juízos normativos. A culpabilidade passou a ser composta pela imputabilidade, como capacidade de culpabilidade, a potencial consciência da ilicitude a inexigibilidade de conduta diversa, reduzida, portanto, a puro juízo de valor.

A teoria finalista criada por Welzel e a teoria normativa pura formaram um

grande marco para o direito Penal.

Segundo Rogério Greco (2015, p. 442) “O finalismo resolvia com perfeição o

problema do dolo, pois este se confundia com a própria finalidade da conduta”.

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Porém Damásio se Jesus (2010), afirma que tal conceito não se pode aplicar

aos delitos culposos

Ainda Jesus (2010) afirma que seguindo o exemplo no que diz respeito a

culpa, Welzel afirmava que o resultado nos delitos culposos era resultado da

inobservância o mínimo de direção finalista capaz de impedir a sua produção. Desta

maneira, o fato imprudente seria “evitável finalmente”, o que introduzia no conceito um

momento valorativo, próprio da culpabilidade e não do tipo

2.1.4 Conceito funcional da culpabilidade

Nas lições de Régis Prado (2008) o conceito funcional da culpabilidade é

fundado essencialmente nos fins da pena e na sua necessidade, considerando seus

aspectos político-preventivos e sua justificação social da mesma.

Nesse sentido o autor apud Muñoz Conde (2008, p. 301):

Há ainda, quem, entenda que a culpabilidade, no sentido material, tem fundamento na função motivadora individual da norma penal, isto é, as normas cumprem uma função motivadora de condutas adequadas. A culpabilidade, com isso, relaciona-se estreitamente com os fins da pena-prevenção especial.

Ante o exposto, conceitua-se a culpabilidade com relação direta pedagógica,

motivadora estritamente ligada com a pena.

Cezar Roberto Bittencourt apud Roxin (2015, p. 466):

A responsabilidade depende de dois dados que devem ser acrescentados ao injusto: a culpabilidade do sujeito e a necessidade preventiva da sanção penal, que devem ser deduzidas da lei. O Sujeito atua culpavelmente quando realiza um injusto jurídico-penal, a despeito de poder alcançar o efeito de chamada de atenção da norma na situação concreta e possuir suficiente capacidade de auto controle, de modo que lhe era psiquicamente acessível uma alternativa de conduta conforme ao direito.

Ainda segundo o autor, o próprio Roxin manifesta, expressamente, que os

conceitos culpabilidade para a fundamentação da pena e culpabilidade para a

medição devem ser separados, dado que, na sua ótica, como acabamos de ver, estes

elementos da responsabilidade possuem pressupostos distintos.

Régis Prado apud Jakobs (2008, p. 372) “prega a irrelevância da culpabilidade

como categoria dogmática”.

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Sobre o pensamento de Jakobs, assim expõe Prado (2008, p. 373): “Afirma-

se a culpabilidade como responsabilidade, quando existe um déficit de motivação

jurídica dominante em um comportamento ilícito. A culpabilidade significa falta de

fidelidade ao direito”.

Ainda segundo o autor (2008, p. 374):

Para ele, a finalidade da pena é manter a confiança geral na norma, e, assim estabilizar o ordenamento. O conceito de culpabilidade, segundo esse autor, deve ser configurado funcionalmente, isto é, como um conceito que produz um resultado de regulação, de acordo, com determinados princípios-requisitos do fim da pena-, para uma sociedade de estrutura determinada.

Nota-se que neste conceito funcionalista, para medir-se a culpabilidade e

desta forma aplicar-se a pena, reflete-se se a medida será necessária para garantir a

norma positiva.

2.2. ELEMENTOS DA CULPABILIDADE

Rogério Greco (2015, p. 447) afirma que “nos moldes da concepção trazida

pelo finalismo de Welzel, a culpabilidade é composta pelos seguintes elementos

normativos: a) Imputabilidade; b) potencial consciência sobre a ilicitude do fato; c)

exigibilidade de conduta diversa”.

Após a exposição sobre as principais teorias e conceitos da culpabilidade, é

necessário aprofundar-se no seu principal elemento: a imputabilidade.

2.2.1 Imputabilidade

A imputabilidade é o primeiro elemento da culpabilidade, o nosso código Penal

não define a imputabilidade, a contrário sensu define os inimputáveis.

Régis Prado apud Aníbal Bruno (2008, p. 376) assim define imputabilidade:

É a plena capacidade (estado ou condição) de culpabilidade, entendida como capacidade de entender e de querer, e, por conseguinte, de responsabilidade criminal (o imputável responde pelos seus atos). Costuma a ser definida como o “conjunto das condições da maturidade e sanidade mental que permitem ao agente conhecer o caráter ilícito do seu ato e determinar-se de acordo com este entendimento.

Desta maneira Rogério Greco (2015, p. 448) aponta:

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Para que o agente possa ser responsabilizado pelo fato típico e ilícito por ele cometido é preciso que seja imputável. A imputabilidade é a possibilidade de se atribuir, imputar o fato típico e ilícito ao agente. A imputabilidade é a regra, a inimputabilidade é a exceção.

Nas palavras de Zaffaroni e Pierangelli (2015, p. 558): “para que se possa

reprovar uma conduta a seu autor, é necessário que ele tenha agido com um certo

grau de capacidade, que lhe haja permitido dispor de um âmbito de auto

determinação”.

Ainda neste sentido, os autores (2015, p. 559) complementam:

A capacidade psíquica requerida para se imputar a um sujeito a reprovação do injusto é a necessária para que lhe tenha sido possível entender a natureza de injusto de sua ação, e que lhe tenha podido permitir adequar sua conduta de acordo com esta compreensão da antijuridicidade.

Régis Prado (2008, p. 376) afirma: “essa capacidade possui, logo, dois

aspectos: cognoscitivo ou intelectivo (capacidade de compreender a ilicitude do fato);

e volitivo ou de determinação da vontade (atuar conforme essa compreensão)”.

Nesse sentido Cezar Roberto Bittencourt (2015, p. 473) “é a capacidade de

culpabilidade, é a aptidão para ser culpável.

Ainda nas palavras do autor apud Muñoz Conde (2015, p. 473) “quem carece

desta capacidade, por não ter maturidade suficiente, ou por sofrer de graves

alterações psíquicas, não pode ser declarado culpado, e, por conseguinte, não pode

ser responsável penalmente pelos seus atos, por mais que sejam típicos e

antijurídicos.

No artigo 26 do Código Penal, encontra-se a definição de inimputabilidade:

Art. 26. É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.

Dentro da doutrina existem três sistemas adotados como critérios para

medição da inimputabilidade, são eles: a) biológico; b) psicológico c) biopsicológico.

O ministro Francisco Campos (2015, p. 474) conceitua o sistema biológico

como “O sistema biológico condiciona a responsabilidade à saúde mental, à

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normalidade da mente. Se o agente é portador de uma enfermidade ou grave

deficiência, deve ser declarado irresponsável.

Régis Prado (2008, p. 376) leva em consideração a doença mental, enquanto

patologia clínica, ou seja, o estado anormal do agente. Seu protótipo vem a ser o artigo

64 do código Penal Francês de 1810 “não crime nem delito, quando o agente estiver

em estado de demência ao tempo da ação”.

Sobre o segundo critério, o psicológico, Zaffaroni e Pierangelli (2015, p. 477):

“o efeito psicológico que produz a incapacidade psíquica de culpabilidade é a

perturbação de consciência, e a causa da perturbação pode ser a doença mental ou

o desenvolvimento incompletos ou retardado (art. 26, caput, CP)”.

Nesse sentido Bittencourt (2015, p. 474) assim pontua:

O método psicológico não indaga se há uma perturbação mental mórbida; declara a irresponsabilidade se, ao tempo do crime, estava abolida no agente, seja qual for a causa, a faculdade de apreciar a criminalidade do fato (momento intelectual) e de determinar-se de acordo com essa apreciação (momento volitivo).

Ainda sobre o critério psicológico Régis Prado (2008, p. 376): “tem em conta

apenas as condições psicológicas do agente a época do fato. Diz respeito apenas as

consequências psicológicas dos estados anormais do agente. Sua base Primeira é o

código canônico: deliciti sunt incapaces qui actu carent usu rationis”.

No nosso país, ainda o Código Criminal do Império (1830) no seu artigo 10

tinha a seguinte redação: “Art. 10 Também não se julgarão os criminosos, os loucos

de todo o gênero, salvo se tiverem lúcidos e intervalos e neles cometerem o crime”.

O critério psicológico leva em consideração apenas as condições

psicológicas, anormalidade psíquica do agente a época do fato.

Porém o critério adotado pela legislação Brasileira é o critério bio-psicológico.

Sendo assim, Cezar Roberto Bittencourt (2015, p. 474) explana que “O direito

Penal Brasileiro adota, como regra geral, o sistema biopsicológico e, como exceção,

o sistema puramente biológico para a hipótese do menor de 18 anos (arts.228 da CF

e27 do CP)”.

Nesse sentido Régis Prado (2008, p. 376):

Atende tanto as bases ás bases biológicas que produzem a inimputabilidade como as suas consequências na vida psicológica ou anímica do agente. Resulta, assim, da combinação dos anteriores: exige, de um lado, a , a

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presença de anomalias mentais , e de outro, a completa incapacidade de entendimento (fórmula do art 26, CP ) .É o acolhido , na atualidade , pela maioria das legislações penais(ex: Código Penal italiano,art.88;Código Penal espanhol de 1995 ,art.20; Código Penal alemão, arts. 20 e 21; Código Penal português, art.20 etc.).

Desta maneira precisamente Bittencourt (2015, p. 475)

o método bio-psicológico é a reunião dos dois primeiros :a responsabilidade só é excluída se o agente , em razão de enfermidade ou retardamento mental, era, no momento da ação, incapaz de entendimento ético-jurídico e autodeterminação.

Ante o exposto, conclui que a junção dos dois critérios anteriores formam o

critério bio-psicológico; se existia uma enfermidade, desenvolvimento mental

retardado e se ao tempo da ação ou omissão era possível entender o caráter ilícito da

mesma.

2.2.2 Causas de exclusão da imputabilidade

2.2.2.1 Exclusão da imputabilidade por doença mental ou desenvolvimento mental

incompleto

A lei penal divide entre doença mental (enfermidade mental) e o

desenvolvimento mental incompleto.

No entendimento de Zaffaroni e Pierangelli (2008, p. 564) doença mental:

para conseguir este objetivo, e não estreitar indevidamente o conceito até levá-lo, de maneira absurda, á punição sem culpabilidade, torna-se mister entender “enfermidade” como algo contrário saúde.se a saúde é um estado de equilíbrio biopsiquíquico (definição da Organização Mundial de Saúde), a enfermidade será um estado de desequilíbrio biopsíquico, que pode ser mais ou menos duradouro, ou inclusive transitório.

Nas palavras de Luiz Régis Prado (2008, p. 337)

Por doença mental, entendem-se todas as alterações mórbidas da saúde mental, qualquer que seja sua origem. Assim, se incluem não somente as psicoses como também as neuroses, embora estas dificilmente conduzam à completa incapacidade de entendimento ou de autodeterminação.

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Sobre desenvolvimento mental incompleto Rogério Greco apud Nelson

Hungria (2015, p. 449):

Sob o título do desenvolvimento mental incompleto ou retardado se agrupam ainda nas lições de Hungria” não só os deficitários congênitos do desenvolvimento psíquico ou oligofrênicos (idiotas, imbecis, débeis mentais), como os que são por carência de certos sentidos(surdos-mudos) e até mesmo os silvícolas inadaptados.

Conforme Cezar Roberto Bittencourt (2015, p. 475)

A falta de sanidade mental ou a falta de maturidade mental podem levar ao reconhecimento da inimputabilidade, pela incapacidade de culpabilidade. Podem levar, dizemos, porque a ausência da sanidade mental ou da maturidade penal constitui um dos aspectos caracterizadores da inimputabilidade, que ainda necessita de sua consequência, isto é, do aspecto psicológico, qual seja, a capacidade de entender ou de autodeterminar-se de acordo com esse entendimento.

Diante dos conceitos, nota-se que para que seja configurada a

inimputabilidade, é necessário que o agente apresente as duas capacidades:

intelectiva, que é o entendimento sobre o significado da conduta e a volitiva que é a

sua autodeterminação no momento da ação ou omissão.

Nas palavras de Rogério Greco (2015, p 450):

merece ser ressaltado que, se comprovada a total inimputabilidade do agente, deverá ele ser absolvido, nos termos do inciso VI do art.386 do Código de Processo Penal, de acordo com a nova redação que lhe foi dada pela lei n 11.690, de 9 de junho de 2008, aplicando-lhe, por conseguinte, medida de segurança.

Cumpre também ressaltar que o nosso ordenamento não permite a

cumulação da pena com a medida de segurança.

2.2.2.2 Imputabilidade diminuída

O parágrafo único do Código Penal, prevê uma redução na pena em

determinados casos, segue a sua redação:

Art. 26 parágrafo único:

A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou desenvolvimento mental incompleto ou

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retardado não era inteiramente capaz de entender do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento

Rogério Greco (2015, p. 450) esclarece

a diferença básica entre o caput do art.26 e seu parágrafo único reside no fato de que, neste último, o agente não era inteiramente capaz de entender a ilicitude do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. Isso quer dizer que o agente pratica um fato típico, ilícito, e culpável. Será, portanto condenado e não absolvido, como acontece com aqueles que se amoldam ao caput do art.26.Contudo o juízo de censura que recairá sobre a conduta do seu agente deverá ser menor em virtude se sua perturbação da saúde mental ou de seu desenvolvimento mental incompleto ou retardado, razão pela qual a lei determina ao julgador que reduza sua pena entre um a dois terços.

Diante destes casos o sujeito, é imputável, porém pelo fato de ter a sua

culpabilidade diminuída, em virtude perturbação mental, que nestas situações,

reduzem o entendimento do caráter ilícito. Porém e não retiram a plena capacidade

de entendimento e de se autodeterminar-se de acordo com este entendimento.

Neste sentido, Cezar Roberto Bittencourt (2015, p. 481):

Enfim, nas hipóteses de inimputabilidade o agente é “inteiramente “incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com este entendimento”, ao passo que nas hipóteses de culpabilidade diminuída- em que o Código fala em redução da pena – o agente não possui a “plena capacidade” de entender a ilicitude do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. Há efetivamente uma diversidade de intensidade entre as causas de inimputabilidade e as causas de diminuição da culpabilidade (semi-culpabilidade), aquelas eliminam a capacidade de culpabilidade, estas apenas reduzem.

2.2.2.3 Exclusão da imputabilidade por menoridade

A imputabilidade, por pressuposto legal, no tocante aos adultos se dá a partir

dos 18 anos. Como já citado anteriormente, o legislador nesse sentido, abandona o

critério psicológico para adotar somente o critério biológico no que diz respeito a idade

do indivíduo, exceção do critério biopsicológico.

A inimputabilidade também foi prevista no artigo 27 do Código Penal, que na

sua redação “os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente inimputáveis ficando

sujeito ás normas estabelecidas na legislação especial”.

Nesse sentido, Bittencourt (2015, p. 399):

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A eleição de idade pelo legislador de idade pelo legislador se deu, por política criminal, pela imaturidade natural inerente aos menores de 18 anos, pressupondo que os mesmos não possuem plena capacidade de entendimento que lhes permita imputar um fato típico e ilícito. Neste caso, adotou-se apenas o critério biológico.

Segundo Régis Prado (2008, p. 377)

Consagra-se aqui o princípio da inimputabilidade absoluta por presunção (art.27 CP), com fulcro no critério biológico da idade do agente, e que, a partir da carta de 1988, tem assento constitucional (art. 228 CF). Porém ficam os menores de 18 anos sujeitos às disposições específicas do Estatuto da Criança e do Adolescente (art.104 Lei 8069/90).

2.2.2.4 Exclusão da imputabilidade por embriaguez

Embriaguez é o conjunto de reações manifestadas pelas ingestão de álcool

ou substancias análogas, através do uso imoderado, que altera a percepção, os

sentidos e a capacidade psíquica do indivíduo.

A legislação prevê no art.28 parágrafo 1°do Código Penal “É isento da pena o

agente que, por embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou força maior,

era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente capaz de entender o caráter ilícito

do fato ou de determinar-se de acordo com este entendimento”.

Nesse sentindo Régis Prado (2008, p. 378) conclui

comporta ela as espécies e graus seguintes: 1. Não acidental: voluntária (doloso-querida) ou culposa (deflui de culpa-o estado de ebriedade é previsível) - não exclui a imputabilidade penal (art.28, II CP); constitui circunstância agravante, se preordenada (art.61,II,1CP); 2. Acidental: derivada de caso fortuito ou de força maior - na primeira, não há vontade ou culpa, o agente não quis, nem previu ou podia fazê-lo; na segunda, decorre da inevitabilidade - exclui a imputabilidade pena l- se completa; reduz a pena, se incompleta (art.28 II, pg. 1° e 2°, CP).

Segundo a doutrina Brasileira, em sua classificação mais tradicional, a

embriaguez se divide em no seu primeiro estágio de excitação passando para o

segundo estágio intermediário em que começa a depressão, e no seu terceiro e último

estágio em que se caracteriza a embriaguez letárgica com o sono/coma profundo.

Ainda sobre a embriaguez o autor Régis Prado (2008, p. 379): “Ainda nessa

seara deve ser mencionada a teoria da actio libera in causa (ação livre na causa), que

constitui uma exceção ao princípio de considerar as categorias do delito relativamente

ao tempo da prática do fato punível.”

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Damásio de Jesus (2010, p. 338:

teoria da actio in causa trata extremamente dos casos de conduta livremente desejada, mas cometida no instante, em que o sujeito se encontra em estado de inimputabilidade, isto é, no momento da prática do delito o agente não possuiu capacidade de querer e entender. Teria havido, assim, liberdade originária, mas não liberdade atual (no momento do cometimento do fato).

Nesse sentido, o indivíduo que pratica a ação ou omissão, no momento do

fato é inimputável, porém o resultado é punível, tendo este indivíduo, voluntariamente

posto neste estado, quando assume ou deveria prever o resultado desta conduta.

Segundo Bittencourt (2015, p. 498), “tudo o que foi dito sobre embriaguez pelo

álcool aplica-se aos efeitos decorrentes de outras substâncias de efeitos análogos”.

Ainda segundo o autor (2015, p. 498), nessa hipótese não há dúvida não

somente quanto a preordenação criminosa, mas quanto à punibilidade bem como a

agravação da pena, em razão da maior censurabilidade da conduta (art. 62, II, I CP).

Além da imputabilidade, a culpabilidade tem outros elementos de composição,

porém o presente trabalho foca na imputabilidade, já que esta questão será aplicada,

mais adiante, nas questões envolvendo os psicopatas. Desta forma será feito um

breve relato, sobre os elementos da culpabilidade que ainda não foram abordados.

2.2.2.5 Potencial consciência da ilicitude

É o elemento intelectual da reprovabilidade, sendo a consciência ou o

conhecimento atual ou possível da ilicitude da conduta. Trata-se, então, da

possibilidade de o agente poder conhecer o caráter ilícito de sua ação-consciência

potencial (não real da ilicitude, conforme Régis Prado (2008).

Ainda nesse sentido o autor (2008, p. 379)

esse conhecimento potencial não se refere as leis penais, basta que o agente saiba ou tenha podido saber que o seu comportamento contraria ao ordenamento jurídico. Fato ilícito significa tão somente aquele proibido pela lei, independentemente de seu aspecto imoral ou antissocial.

Rogério Greco (2015, p. 459), pontua a evolução histórica deste conceito:

Com o finalismo de Welzel, dolo e culpa devem ser analisados quando do estudo do fato típico. O elemento subjetivo que antes estava alocado na culpabilidade dela foi retirado e transferido para o tipo, mas especificamente

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para a conduta do agente.Com essa transferência, o dolo deixou de ser considerado normativo, pois seu elemento normativo, vale dizer, a potencial consciência da ilicitude do fato, dele foi retirado e mantido na culpabilidade.

Nesse sentido o que procura-se saber é, se no momento do fato, nas

condições em que se encontrava o agente, ele tinha as condições de reconhecer o

caráter ilícito da conduta que estava praticando.

O dispositivo adotado no artigo 21 do Código Penal, “o desconhecimento da

lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se evitável. Isenta de pena, se

evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço”.

2.2.2.6 Exigibilidade de conduta diversa

Para que se possa afirmar que o ato praticado pelo indivíduo é reprovável, e

necessário que se possa exigir do mesmo, uma conduta diversa daquela praticada.

Nesse sentido Régis Prado apud Welzel (2008, p. 391):

Trata-se do elemento volitivo da reprovabilidade, consistente na exigibilidade de obediência à norma. Para que a ação do agente seja reprovável, é indispensável que se lhe possa exigir comportamento diverso daquele do que teve isso significa que o conteúdo da reprovabilidade repousa no fato de que o autor devia e podia adotar uma resolução de vontade de acordo com o ordenamento jurídico e não de uma decisão ilícita.

Cezar Roberto Bittencourt (2015, p. 499):

Nosso Código Penal prevê, expressamente, duas situações que excluem a culpabilidade, em razão da inexigibilidade de comportamento diverso; em outros termos, são causas legais que excluem a culpabilidade; a coação irresistível e a obediência hierárquica (art. 22), por eliminarem um de seus elementos constitutivos, qual seja, a exigibilidade de comportamento de acordo com a ordem jurídica.

A coação irresistível e a obediência hierárquica estão previstos no artigo 22

do Código Penal. Na primeira hipótese, trata-se de coação de um agente sobre o

outro, obrigando-o a cumprir aquele determinado mal. Na segunda, aplicado à

autoridades de Direito Público, trata-se de ação no estrito cumprimento do dever legal.

Nessas duas situações o agente deverá ser absolvido.

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Deste modo conclui Cezar Roberto Bittencourt (2015, p. 500):

sintetizando, em virtude da subordinação hierárquica, o subordinado cumpre ordem do superior, desde que essa ordem não seja manifestamente ilegal. Porque, se a ordem for legal, o problema deixa de ser culpabilidade, podendo caracterizar causa de exclusão de ilicitude. Se o agente cumprir ordem legal de superior hierárquico, estará no exercício de estrito cumprimento de ver legal, não apresenta nenhuma conotação de ilicitude, ainda que se configure alguma conduta típica; ao contrário caracteriza a sua exclusão (art. 23).

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3 DO PSICOPATA

3.1 INTRODUÇÃO

”A psicopatia refere-se à disposição da personalidade de encantar, manipular e explorar impiedosamente outras pessoas. As pessoas psicopatas têm falta de consciência e sentimento para os outros; Eles egoisticamente levam o que eles querem e fazem o que quiserem sem o menor sentimento de culpa ou arrependimento. A psicopatia está entre A personalidade mais antiga e, sem dúvida, mais pesadamente pesquisada, bem validada e bem estabelecida” (HARE, NEUMANN, WIDIGER)

Primeiramente, quando se pensa em Psicopata, logo vem à mente um

criminoso, um assassino em série, um sujeito mal arrumado “pinta de bandido” , e de

desvios morais e éticos tão gritantes que chega até ser fácil de identificar. Porém não

é bem assim, grande engano.

Segundo Ana Beatriz Barbosa Silva (2012, p. 16), não é fácil de se identificar

um psicopata;

Os psicopatas enganam e representam muitíssimo bem! Seus talentos teatrais e seu poder de convencimento são tão impressionantes que chegam a usar as pessoas com a única intenção de atingir seus sórdidos objetivos. Tudo isso sem qualquer aviso prévio, em grande estilo, doa a quem doer.

Segundo Kerry Daynes (2011, p. 69)

À medida que a raça humana evoluiu, desde que fomos perdendo o excesso de pelos do corpo e aprendemos a caminhar eretos, sempre houve pessoas que parecem imunes às regras normais ou insensíveis aos sentimentos daqueles que os cercam - lembre de Àtila, o Bárbaro, de Calígula e Hitler.

Ainda a autora (2011, p. 69) esclarece:

A palavra psicopata significa literalmente “mente doente”, mas, embora possam desenvolver estado temporários de doença mental como outra pessoa qualquer, os psicopatas não são dementes. Eles têm total consciência e controle do seu comportamento. Seus atos ainda são mais assustadores por não poderem ser considerados conseqüência de uma doença temporária, mas, sim de uma permanente indiferença fria e calculista em relação aos outros.

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Passa-se a abordar um breve histórico evolutivo, até chegar a conceitos mais

atuais.

3.2 BREVE HISTÓRICO

Em 1930 Patridge, definiu um subgrupo de indivíduos que tinham como

sintoma dificuldades de, ou se recusavam a adaptar-se às regras sociais, afirmando

que teriam “personalidade sociopática”.

Kraepelin (1856-1925, psiquiatra alemão) foi o criador do termo psicopata,

definiu como “aqueles que não se adaptam a sociedade e sentem necessidades de

ser diferente”.

Finalmente, em 1941, surge o primeiro estudo detalhado sobre a psicopatia,

Hervey Cleckey publica “the mask of sanity (A mascára da sanidade).

Segundo Daynes (2011, p. 69) “Foi ele que introduziu o termo na cultura

popular. O objetivo do livro era ajudar a detectar e diagnosticar o psicopata ardiloso,

e foi o primeiro a fazer distinção entre psicopatas e portadores de distúrbios mentais

significativos, que são claramente “anormais”.

Robert Hare, atualmente um dos mais reconhecidos e ativos pesquisadores

do tema, influenciado por Cleckley, iniciou suas pesquisas na década de 1960 (Hare,

1993), o que culminou com o lançamento de uma escala de avaliação de psicopatia,

a Hare Psychopathy Checklist (PCL), que teve sua versão definitiva publicada em

2003, a Psychopathy Checklist Revised (PCL-R), e de seu livro mais conhecido

Without Conscience, em 1993. A construção da PCL-R é um marco no campo das

pesquisas sobre psicopatia; um número significativo de publicações a utiliza como

referência (Edens, Boccaccini, & Johns (artigo introdução a psicologia forense Juruá).

3.3 IDENTIFICAÇÃO E DIAGNÓSTICO

Inspirado nas 21 características apontadas por Cleckey (1941) em seu texto

original. Hare criou a PCL-R, deste modo Daynes (2011, p. 22):

Hare reuniu características comuns de pessoas com esse perfil para montar um sofisticado questionário, dominado de escala, onde mede o grau em que

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uma pessoa demonstra as vinte qualidades fundamentais de um psicopata. Atualmente é o método mais confiável na identificação de psicopatas.

Nesse sentido José Osmir Fiorelli (2012) afirma que as bases para a definição

de psicopatia oscilam entre aspectos orgânicos e sociais. O consenso parece estar

nas principais características que definem o transtorno, a seguir elencadas, de acordo

com o checklist de pontuação do protocolo Hare.

A seguir os itens listados da referida escala, conferem pontuação de 0 a 2 por

item conforme a sua intensidade, a soma é o que define qual o grau de psicopatia do

indivíduo, nesse sentido quem atinge mais de 30 pontos é considerado psicopata.

a) Fator 1 - Traços de Personalidade

Charme superficial

Forte autoestima

Mentira patológica

Astúcia/manipulação

Falta/ausência de remorso culpa

Emocionalmente superficiais

Insensibilidade/falta de empatia

Descontrole comportamental

Impulsividade

Irresponsabilidade

Incapacidade de se responsabilizarem por suas ações

b) Fator 2 - Relacionados ao estilo de vida:

Estilo de vida socialmente desviante

Necessidade de estimulação/tendência para o aborrecimento

Estilo de vida parasita

Pouco controle comportamental

Comportamento sexual promíscuo

Falta de objetivos a longo prazo(realísticos)

Delinqüência juvenil

Problemas comportamentais precoces

Revogação da liberdade condicional

Versatilidade criminal

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Nesse sentido Paulo Cesar Busato e Giovana V. Munhoz da Rocha (2012, p.

91)

Importa ressaltar, até para afastar o estigma jurídico da periculosidade, que a psicopatia não é uma doença mental. Nenhum distúrbio psiquiátrico descrito no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais [DSM-5] (Associação de Psiquiatria Americana, 2014) é capaz de descrevê-la em sua totalidade.

Segundo Ana Beatriz Barbosa Silva (2008, p. 37):

No entanto, em termos médico-psiquiátrico, a psicopatia não se encaixa na visão tradicional das doenças mentais. Esses indivíduos não são considerados loucos, nem apresentam qualquer tipo de desorientação. Também não sofrem de delírios ou alucinações (como a esquizofrenia) e tampouco apresentam intenso sofrimento mental (como a depressão ou o pânico, por exemplo).

O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais [DSM-5]

(Associação de Psiquiatria Americana, 2014), o termo psicopatia é usado como

análogo ao Transtorno de Personalidade Antissocial (TPAS), conforme Paulo Cesar

Busato e Giovana V. Munhoz da Rocha (2012).

Cumpre ressaltar que a que preenchem os critérios diagnósticos para TPAS

não são psicopatas, enquanto que a maioria dos psicopatas atendem aos critérios

diagnósticos para TPAS, Os autores ainda afirmam que a prevalência de TPAS na

população é três vezes maior do que a de psicopatia, segundo Paulo Cesar Busato e

Giovana V. Munhoz da Rocha (2012).

Além desta escala supracitada, que se baseia em características e

comportamentos para então diagnosticar o indivíduo psicopata, segundo Paulo Cezar

Busato (2012, p. 182), “é de suma importância ressaltar que nos dias atuais há uma

forte linha de pesquisa neurocientífica que utiliza o Fmri (functional magnetic

resonence imaging) imagens funcionais de ressonância magnética para analisar o

cérebro do indivíduo”.

O estudo da neurociência explica que os cérebro dos psicopatas parece ser

diferente, segundo Daynes (2011) as técnicas de neuroimagem revelaram que,

quando os psicopatas são solicitados a realizar tarefas que requerem processamento

de palavras que contem emoção, as partes do seu cérebro que são ativadas, não são

as mesmas do grupo comum.

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O Caso de Phineas Gage em 1848, tornou-se determinante para o avanço

das pesquisas neurocerebrais. Em 1848 Cage, que em virtude de seu senso de

responsabilidade, liderança, eficiência e companheirismo, foi nomeado como o

capataz de um grupo de trabalhadores que construíam uma via férrea, em Vermont,

EUA. Durante as atividades laborais, Gage sofre um acidente com explosivos, neste

acidente uma barra de ferro atravessou sua bochecha e saiu na parte de cima da

cabeça, atravessando seu olho e a parte do seu córtex pré-frontal, conforme sítio

eletrônico ciência (2011).

Ele se recuperou bem, porém passou a ter comportamentos, não mais

condizentes com sua pessoa, tornando-se uma pessoa extravagante, mentirosa e

com péssimas maneiras. Pesquisadores concluíram que a área afetada no cérebro de

Gage, o sistema límbico (córtex- frontal), foi o fator determinante na sua

personalidade, dificultando as tomadas de decisões do ponto de vista moral, formando

indivíduos com personalidade anti-social.

Nesse sentido além da escala desenvolvida por Hare, há outros mecanismos

científicos no auxílio ao diagnóstico da psicopatia.

Segundo estudos realizados pala universidade de Wiscorsin-Madison (s.d., p.

1):

Basicamente, os psicopatas tem menos conexões entre o córtex pré-frontal ventromedial ou vmPFC), que é a parte do cérebro responsável por empatia ou culpa , e a amígdala, relacionada ao medo e ansiedade As imagens que foram extraídas desses estudos , mostraram que a redução de integridade entre as partes q que coordenam a empatia e a culpa (vmPFC), com a amígdala .As imagens feitas com ressonância magnética funcional (fMRI), mostram menos atividades entre os dois.

Ante o exposto, verifica-se que além das questões psicológicas há também a

questão biológica, de alterações cerebrais que norteiam o diagnóstico da psicopatia,

aliando as ferramentas psicológicas com a escala de critérios introduzida pro Cleckey

em 1944 e posteriormente desenvolvida por Hare (PCL-R) aos instrumentos médicos-

científicos como o FMRI, que diagnosticam as alterações no cérebro dos psicopatas

em relação as pessoas do grupo comum.

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3.4 CONCEITO E CARACETRÍSTICAS DOS PSICOPATAS

Os maiores especialistas da área forense definirão a psicopatia como uma

disposição a seduzir, mentir, manipular e desumanamente explorar os outros.

Psicopatas não possuem empatia, egoisticamente obtém o que desejam e fazem o

que lhes dá prazer sem sentir culpa ou remorso, conforme Hare, Neumann, & Widiger

(2012)

Nas palavras de Ana Beatriz Barbosa e Silva (2012, p. 37)

Os Psicopatas em geral são indivíduos frios calculistas, inescrupulosos, dissimulados, mentirosos, sedutores e que visam apenas o próprio benefício. Eles são incapazes de estabelecer vínculos afetivos ou de se colocar no lugar do outro. São desprovidos de culpa ou remorso e, muitas vezes, revelam-se agressivos e violentos. Em maior ou menor nível de gravidade e com formas diferentes de se manifestarem os seus atos, os psicopatas são verdadeiros “predadores sociais”, em cujas veias e artérias corre um sangue gélido.

Observador, geralmente identifica as fraquezas alheias, e ali passa a trabalhar

em busca do seu objetivo, daquilo que lhe satisfaz.

Ele conquista nossa confiança como amigo, parceiro sexual, colega de

trabalho, médico, consultor financeiro. Até que caia sua máscara de normalidade e ele

mostre que, ao contrário de sua encenação, não sente remorso nem vergonha ao agir

de forma imoral, segundo horta (2009).

Robert Hare (2009) afirma que os psicopatas não nascem psicopatas, sim

com tendências para a psicopatia, e que não é um característica descritiva e sim uma

medida como alto, baixo, gordo e magro.

Os psicopatas, podem ser desde uma mulher linda, um homem de sucesso,

um diretor de uma multinacional, um psiquiatra, um sujeito de aparência feia, uma

pessoa linda, uma mãe de 5 filhos, enfim, não há um estereótipo que defina os

psicopatas.

Segundo Daynes (2015) o única característica em comum inerentes aos

psicopatas é a série de problemas com emoção e comportamento antissociais

capazes de causar estragos em famílias, organizações e até comunidades inteiras.

Fallon (2013, p. 1) em entrevista na BBC descreveu alguns dos traços típicos

de um psicopata: "Psicopatas possuem um narcisismo agressivo, charme,

desenvoltura aliada à superficialidade, senso de superioridade, tendência a manipular,

são emocionalmente rasos, não sentem culpa, remorso ou vergonha".

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Nesse sentido a história do neurocientista James Fallon é curiosa. A partir da

década de 1990 Fallon (2013), passou a estudar o cérebro de assassinos psicopatas

e percebeu que todos tinham o mesmo dano no córtex orbito frontal, acima dos olhos

região que é associada à tomada de decisão e conduta ética

Posteriormente Fallon (2013), soube de histórico de assassinos em sua

família, e decidiu mapear o seu próprio cérebro, para sua surpresa, descobriu que

compartilha com os psicopatas, a mesma condição cerebral “O exame mostrava baixa

atividade em certas áreas dos lobos frontal e temporal que estão associadas à

empatia, moralidade e ao auto-controle", conforme Fallon (2013).

Fallon (2013) afirma que foi o amor de sua família que o impediu que se torna-

se um criminoso violento, cita características como ser competitivo ao extremo,

situações em que há falta de empatia, e até um ser humano, como sua própria mulher

diz um “sujeito perverso.”

A afirmação de Fallon (2009, p. 1) corrobora no que diz Hare

o ambiente tem grande peso, mas não mais do que a genética .Na verdade, ambos atuam em conjunto.Os pais podem colaborar para o desenvolvimento da psicopatia tratando mal os filhos.Mas uma boa educação está longe de ser uma garantia do que o problema não aparecerá lá na frente, visto que os traços de personalidade podem ser atenuados, não apagados.O que um ambiente com influências positivas proporciona é um melhor gerenciamento dos riscos.

Ante o exposto conclui que, Kaynes (2015) nem todo o psicopata é criminoso,

que existem talvez psicopatas dotados de Inteligência superior à média que não se

envolve em crimes. Nesse sentido esses desenvolvem, habilidade para “trabalhar”,

“atuar” no estrito limite legal, em diversos âmbitos da sociedade, manipulando,

mentindo, usando todas as características inerentes a estes indivíduos, porém não

cometendo crimes. Estão sim infringindo as normas, porém de natureza moral. Como

no caso acima descrito de Fallon (2009) um psiquiatra renomado.

Muitos não chegam ao crime ao assassinato, porém matam diariamente os

sonhos, confiança e sentimentos de outras pessoas que se relacionam no dia a dia.

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3.5 PSICOPATAS E O CRIME

Como anteriormente demonstrado no presente trabalho, conclui-se que

psicopatia não é sinônimo de crime, portanto nem todo psicopata é um criminoso.

No entanto cabe diferenciar, dentro do sistema carcerário, daqueles que são

recuperáveis, que merecem a segunda chance

Porém, bem define Ana Beatriz Barbosa Silva (2008, p. 37) “seus atos

criminosos não provem de mentes adoecidas, mas sim de um raciocínio frio e

calculista combinado com uma total incapacidade de tratar outras pessoas como seres

humanos pensantes e com sentimentos”.

Nesse sentido apresenta-se alguns dados fornecidos por Giovanna Munhoz

da Rocha e Paulo César Busato apud Hare (2012, p. 92):

Hare (2010) apresenta alguns dados internacionais de prevalência de psicopatia: 1% na população geral; 20% em homens criminosos na América do Norte; 10% em Mulheres Criminosas na América do Norte; 20% em agressores conjugais persistentes; 10% em abusadores de crianças; 35% em estupradores; e 65% quando os indivíduos molestam crianças e também estupram pessoas de outras faixas etárias. Ainda, segundo Hare (2010), 45% dos assassinos de policiais são psicopatas (Pinizzotto & Davis, 1992); 75% dos cafetões (Spidel et al., 2006); 70% dos criminosos reincidentes violentos; e 90% dos assassinos em série. Ressalte-se que nenhuma dessas estatísticas trata especificamente da população brasileira, mas, dado o caráter universal da psicopatia, infere-se que os números sejam semelhantes.

Estudos de prevalência de psicopatia no Brasil ainda são escassos. Schmitt,

Pinto, Gomes, Quevedo e Stein (2006) encontraram 2,86% de adolescentes

psicopatas dentre infratores violentos internos de um centro de socioeducação no

Estado de Santa Catarina (Centro de Educação Regional de Chapecó). Em uma

amostra de 11 adolescentes infratores de alto risco, Rocha e Busato (2012) encontrou

2 psicopatas.

Nesse sentido o que é possível extrair em primeira análise é que entre os

criminosos, aumenta-se a possibilidade de encontrar psicopatas, nesse sentido

Daynes (2015, p. 36)

não é de se admirar, portanto, que a probabilidade de encontrar psicopatas em presídios seja pelo menos quinze vezes mais elevadas do que na população em geral. Os psicopatas representam uma imensa preocupação para todos nós que trabalhamos no sistema penal, pois eles são responsáveis por um maior número e uma maior variedade de crimes que qualquer outro grupo. Em geral, eles têm mais probabilidade de cometer crimes violentos ou

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de outras formas de crimes caracterizados por agressão e truculência do que os criminosos comuns.

Dessa forma, esclarece Ana Beatriz Barbosa Silva (2008, p. 40) a respeito dos

criminosos psicopatas.

[...] basta observar a grande quantidade de pessoas mostradas na mídia diariamente: assassinos em série, pais que matam seus filhos, filhos que matam seus pais, estupradores, ladrões, golpistas, estelionatários (os famosos “171”), gangues que ateiam fogo em pessoas, homens que espancam as esposas, criminosos de colarinho branco, políticos corruptos, seqüestradores.

Ainda segundo a autora (2008, p. 41) todos estes crimes cometidos por essas

pessoas de pouca ou de grande relevância social, deixam a todos, tão perplexos que

é necessário que se busque algum tipo de explicação razoável.

Alguns casos ganham notoriedade e explicam bem esta relação perversa

entre crime e psicopatia.

Como o caso de Ted Bundy, estudante de direito, aluno brilhante, boa

aparência, impressionava pelas atitudes, acima de qualquer suspeitas, em muitos

momentos dignas de uma pessoa generosa altruísta. Pois na verdade tudo não

passava de uma máscara, segundo estimativas, entre 1974 e 1978 Ted matou em

torno de 35 mulheres, em muitos casos abusava e torturava psicologicamente as

vítimas dando a certeza da morte a elas.

Beleza, carisma, começou a se envolver com política visto com um jovem

promissor. Diante do tribunal, dispensou a defesa que seus amigos haviam

conseguido (por acreditar na sua inocência), fez sua própria defesa no tribunal sendo

elogiado pelo juiz. Dizia nunca ter se arrependido de seus crimes, pois não tratava

suas vítimas como seres humanos. Morreu em 1989 na cadeira elétrica aos 42 anos,

conforme Gshow (2014).

No Brasil temos vários casos midiáticos, mas um que ilustra bem, do que é

capaz um psicopata dentro de um ambiente carcerário é o de “Pedrinho Matador”,

segundo Ana beatriz Barbosa Silva (2008, p. 73):

Pedro Rodrigues Filho, o “Pedrinho Matador”, é um serial Kiler que afirma com orgulho ter matado mais de 100 pessoas, inclusive seu próprio pai. Na Penitenciária do Estado, em São Paulo, ele é temido e respeitado pela comunidade carcerária. A primeira vez que matou, Pedrinho tinha apenas 14 anos e nunca mais parou. Com vários Crimes nas costas, Pedro Rodrigues foi preso aos 18 anos, em 1973, e continuou matando dentro da própria

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prisão. Ele é considerado o maior homicida da história do sistema prisional e diz que só na cadeia já matou 47 pessoas. Mata sem misericórdia quem atravessa seu caminho ou simplesmente porque não vai com a cara do sujeito. Pedrinho sabe que matar é errado, mas justifica seus atos como algo que vem de família: pais e avós também foram matadores. Para “Pedrinho Matador”, tirar a vida de alguém é somente mais um trabalho bem-sucedido. E para que ninguém se esqueça do que é capaz, tatuou no braço a frase “Mato por prazer”.

Conclui que, os crimes que geralmente chocam a sociedade, estão ligados há

um autor psicopata. No Brasil tivemos outros casos midiáticos de pessoas em todas

as classes, desde atriz, empresários, pobres como ao “maníaco do parque”, que

chocaram a sociedade que se enquadram dentro da psicopatia.

E qual a resposta que o Direito Penal, dá a sociedade em casos assim, passa-

se a tratar no seguinte capitulo, qual a culpabilidade do psicopata no âmbito do Direito

Penal.

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4 DA CULPABILIDADE DO PSICOPATA

Uma das principais características do Direito Penal, é a sua fragmentariedade.

Apesar do universo de atos ilícitos que podem ocorrer, somente uma pequena parte

ofende os bens jurídicos mais importantes. Essa fragmentariedade vem do fato do

direito penal ser a última opção, última ratio, no qual deve se valer o estado no controle

social.

De acordo com o que foi abordado no capítulo inicial, o nosso Código Penal

não apresenta o conceito de crime, deixando a cargo da doutrina à definição do deste

importante instituto jurídico, conforme André Estefam (2013).

O conceito adotado no presente trabalho e no entendimento majoritário da

doutrina e jurisprudência brasileira é o conceito analítico de crime, o definindo como

sendo uma conduta típica, antijurídica e culpável.

Nesse sentido, com o Foco na culpabilidade, em virtude do tema do trabalho,

passa pela evolução histórica do conceito, e suas principais teorias.

Rogério Greco apud Sanzo Brodt (2015, p. 433) define “a culpabilidade deve

ser concebida como reprovação, mais precisamente, como juízo de reprovação

pessoal que recai sobre o autor, por ter agido de forma contrária ao Direito, quando

podia ter atuado em conformidade com a vontade da ordem jurídica”.

A culpabilidade evoluiu historicamente, através de teorias que surgiram ao

longo do tempo, nesse sentido, seu conceito passou pela teoria psicológica (clássica),

psicológica normativa (neo-clássica) e teoria normativa pura (fundada no finalismo

welziano normativista), como suas principais vertentes.

Um dos elementos que integram a culpabilidade, segundo a teoria normativa

pura (concepção finalista) é a imputabilidade.

O nosso Código Penal Brasileiro definiu a contrariu sensu os inimputáveis,

como aqueles que carecem de capacidade de culpabilidade: quando, por anomalia

mental são incapazes de entender o caráter ilícito do fato, conforme Régis Prado

(2008).

Nesse sentido a redação do artigo 26 do código Penal “é isento da pena o

agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado,

era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter

ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com este entendimento”.

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Extraindo o conceito do caput do artigo 26, conclui que o legislador nesse

caso adotou o critério biológico para definir a inimputabilidade do agente.

Partindo desta premissa, surge o questionamento acerca do nosso tema da

pesquisa, o psicopata ele é culpável, ele é inimputável? Nesse sentido ante o exposto

nos capítulos anteriores, fica claro que a psicopatia não é doença mental, tão logo o

psicopata não deve ser encarado como inimputável mediante o aludido dispositivo

legal caput, portanto praticando a conduta típica deve ser condenado como imputável

a pena comum.

Já o que gera controvérsia, é o parágrafo único do referido artigo:

a pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse sentido.

Nesse sentido Paulo Cesar Busato (2015, p. 561) afirma que:

é absolutamente questionável a aplicação do parágrafo único do artigo 26, visto que porventura a psicopatia possa se enquadrar na perturbação mental, o que dificulta saber se o criminoso tinha a relativa capacidade de compreender o caráter ilícito do fato e de agir conforme tal entendimento.

Cumpre ressaltar quanto a complexidade do tema, pois nem propriamente os

psiquiatras, nem os psicólogos forenses chegam a um consenso quanto a definição

certa do indivíduo psicopata, deixando a tarefa de definir a imputabilidade ou semi-

imputabilidade ainda mais árdua.

Hare (1996) afirmou que o conceito clínico da psicopatia seria o mais

importante no sistema de justiça criminal. Não há dúvida que auxiliaria muito no

processo de prevenção de reincidência por meio de integração social e pessoal,

conforme Paulo Cesar Busato e Giovana Munhoz Rocha (2012).

Nesse sentido, o breve entendimento da doutrina é de que a psicopatia não é

causa para a inimputabilidade. Segundo Régis Prado (2011, p. 397) “o

posicionamento daqueles que adotam a inimputabilidade do agente ou a semi-

imputabilidade asseguram que esse sujeitos são incapazes de entender a

antijuridicidade de uma ação e de se guiar sob tal compreensão”.

Nas palavras de Zaffaroni e Pierangelli (2015, p. 565)

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A psiquiatria não define claramente o que é um psicopata, pois há grandes dúvidas a seu respeito. Dada esta falha proveniente do campo psiquiátrico, não podemos dizer como trataremos o psicopata no direito penal. Se por psicopata consideramos a pessoa que tem uma atrofia absoluta e irreversível do seu sentido ético, isto é, um sujeito incapaz de internalizar ou introjetar regras ou norma de conduta, então ele não terá capacidade para compreender a antijuridicidade de sua conduta, e, portanto, será um inimputável. Quem possui uma incapacidade total para entender valores, embora os conheça, não pode entender a ilicitude

Ainda neste diapasão as palavras de Júlio Fabrini Mirabete (2015, p.199)

Os psicopatas, por exemplo, são enfermos mentais, com capacidade parcial de entender o caráter ilícito do fato. A personalidade psicopática não se inclui na categoria das moléstias mentais, mas no elenco das perturbações de saúde mental pelas perturbações da conduta, anomalia psíquica que se manifesta em procedimento violento, acarretando sua submissão ao art. 26, parágrafo único

Porém a imputabilidade para ser a opção mais adequada, Guilherme de

Souza Nucci (2012, p. 312) “afirma que às denominadas doenças da vontade e

personalidade antissociais, que não são consideradas doenças mentais, razão pela

qual não excluem a culpabilidade, por não afetar a inteligência e a vontade”.

Corroborando com Nucci, Hare, 1996a; Blair, 2012; Hare, Neumann, &

Widiger, (2012, p. 201) explicam que:

Importa ressaltar, até para afastar o estigma jurídico da periculosidade, que a psicopatia não é uma doença mental. Nenhum distúrbio psiquiátrico descrito no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais [DSM-5] (Associação de Psiquiatria Americana, 2014) é capaz de descrevê-la em sua totalidade.

Ainda conforme o entendimento de José Sanchez Garrido (2009, p. 37)

(professor de Direito Penal-UNED-Espanha), que na Espanha, antigamente, o

psicopata era imputável. Em razão de que o Código Penal antigo previa que a

excludente de imputabilidade somente se dava em casos de enfermidade mental, e a

psicopatia não entrava nessa hipótese, eis que não considerada como tal.

Quando questionado sobre a responsabilidade dos psicopatas Robert Hare

(2009, p. 101);

Eu diria que a resposta é sim. Mas há divergências a respeito e existem muitas investigações em andamento para determinar até que ponto vai a responsabilidade deles em certas situações. Uma corrente de pensamento afirma que o psicopata não entende as consequências de seus atos. O

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argumento é que, quando tomamos uma decisão, fazemos ponderações intelectuais e emocionais para decidir. O psicopata decide apenas intelectualmente, porque não experimenta as emoções morais. A outra corrente diz que, da perspectiva jurídica, ele entende e sabe que a sociedade considera errada aquela conduta, mas decide fazer mesmo assim. Então, como ele faz uma escolha, deve ser responsabilizado pelos crimes que porventura venha a cometer. Não há dados empíricos que deem apoio a um lado ou a outro. Ainda é uma questão de opinião. Acredito que esse ponto será motivo de discussão pelos próximos cinco ou dez anos, tanto por parte dos especialistas em distúrbios mentais quanto pelos profissionais de Justiça.

O problema que se refere o autor, é no momento em que o legislador inseriu

a possibilidade de aplicar empregar a isenção de culpabilidade nos casos em que

qualquer anomalia ou alteração psíquica poderia intervir na percepção da ilicitude e

do entendimento dos fatos, ocasionando a inimputabilidade do psicopata, conforme

IBID (s.d.)

Nesse sentindo em 2011 o Tribunal Supremo da Espanha, trouxe o

entendimento de que a psicopatia não é verdadeiramente uma enfermidade mental

Em relação aos ordenamentos jurídicos de outros países:

O código alemão em seu artigo 20, que prevê a isenção de culpabilidade nos

casos que, ao tempo do crime, o sujeito possuía o transtorno psíquico patológico, ou

profundo transtorno de consciência, debilidade mental ou anomalia mental grave,

tornando-o incapaz de compreender a antijuridicidade do fato típico, segundo IBID

(s.d.).

Para o Código Penal Italiano, o que se estabelece como excludente de

imputabilidade é o vício total da mente no momento do crime, afastando a capacidade

de entender ou de quere, por conta de enfermidades. Já o artigo 89 prevê o vício total

da mente quando a enfermidade atua de certa forma que não exclui a capacidade de

entender ou de querer, ante o exposto a doutrina italiana não envolve o conceito de

psicopatia, como aplicado a enfermidade mental, salvo aquele que representam maior

severidade, em cujo caso poderia justificar o vício parcial da mente, de acordo com

IBID (s.d.).

Dos ordenamentos o que mais se aproxima do critério brasileiro é o código

Penal Francês, o que está previsto no artigo 121-1, “inimputável aquele que em

decorrência de transtorno psíquico ou neuropsíquico não é capaz de compreender a

antijuridicidade do fato e nem de agir conforme tal entendimento, prevê que

imputabilidade seja diminuída em casos que e que a enfermidade não é tão grave,

segundo IBID (s.d.), ou seja, semelhante com o código Penal Brasileiro.

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Portanto o assunto demonstra haver divergências entre os juristas mundiais,

acerca da culpabilidade, imputabilidade ou não do psicopata.

Nos Estados Unidos, onde cada estado tem a sua legislação penal própria,

alguns estados têm leis específicas para os psicopatas, sendo, na sua maioria,

dedicadas à predadores sexuais, prevendo assim um tratamento específico.

Nos estados do Minessota onde se define a personalidade psicopata

(“instabilidade emocional, comportamento impulsivo”) Washington presos por crimes

sexuais que se estiverem soltos poderão cometer novamente.

Em geral, o psicopata pode seguir dois caminhos na Justiça brasileira. O juiz

pode declará-lo imputável (tem plena consciência de seus atos e é punível como

criminoso comum) ou semi-imputável (não consegue controlar seus atos, embora

tenha consciência deles). Nesse segundo caso, o juiz pode reduzir de um a dois terços

sua pena ou enviá-lo para um hospital de custódia, se considerar que tem tratamento,

de acordo com Eduardo Szklarz (2011).

Quando declarado como imputável, o juiz aumenta a pena na dosimetria, no

mínimo legal, em virtude se sua personalidade com base no artigo 59º do código

Penal, dessa forma, o criminoso psicopata tem uma pena maior do que outro

criminoso que cometeu o mesmo tipo de delito, conforme Hilda Morana (s.d.).

Na hipótese de reconhecido como semi-imputável, conforme dispõe o

parágrafo único do artigo 26 do Código Penal, o juiz pode reduzir a pena de um a dois

terços e enviá-lo a um hospital de custódia, caso considere que tem tratamento,

segundo IBID (s.d.).

Nota-se que em nenhum dos casos demonstra-se plenamente satisfatório a

respeito da função da pena.

O psicopata não é doente mental, mas um indivíduo que possui personalidade

drasticamente alterada. Portanto, tanto em manicômio quanto em um presídio ele não

se sensibilizará com a pena de acordo com Jose Osmir Fiorelli (2010).

Como são extremamente manipuladores, são capazes de manipular outros

criminosos com o intuito de fazer rebeliões, a carcerários para atingir certo objetivo,

sendo que eles não são descobertos por se comportarem de modo exemplar. Sempre

encontrando formas de se manter oculto, transferindo a culpa para outrem. Desta

forma, é de suma importância a cautela o estudo de como sancionar o psicopata no

Direito Penal, conforme Daynes (2011).

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No Brasil não existe prisão especial para psicopatas, conforme existe no

Canadá.

No Brasil, a jurisprudência é vaga, se referindo à psicopatia muitas vezes

atrelando a outros casos de psicoses, porém raras as vezes da maneira como

abordada na pesquisa. Da mesma forma como a legislação, não existe nenhum

dispositivo legal que faça alusão ao psicopata e sua identificação.

Nesse sentido, algumas das jurisprudências localizadas, no Tribunal de

Justiça, do estado do Rio Grande do Sul.

Ementa: APELAÇÃO CRIMINAL. JÚRI. HOMICÍDIO DUPLAMENTE

QUALIFICADO. ABORTO PROVOCADO POR TERCEIRO. LATROCÍNIO TENTADO. IMPUTABILIDADE DIMINUÍDA. TRANSTORNO ANTI-SOCIAL DE PERSONALIDADE. REDUÇÃO OBRIGATÓRIA DA PENA. NÃO INCIDÊNCIA DA PROIBIÇÃO DE INSUFICIÊNCIA. 1.

DECISÃO MANIFESTAMENTE CONTRÁRIA À PROVA DOS AUTOS.

DELITO DE LATROCÍNIO TENTADO. NÃO RECONHECIMENTO. O princípio constitucional da soberania dos veredictos do Tribunal do Júri (art 5°, XXXVIII, alínea `c¿, CF) impede a revisão do mérito da decisão do Conselho de Sentença pelo Tribunal Estadual, exceto nas restritas hipóteses arroladas no art. 593, inciso III, do CPP. Veredicto do júri que encontrou respaldo probatório nos autos, não cabendo a este Tribunal questionar se a prova foi corretamente valorada, bastando a plausibilidade entre as respostas dos jurados e a existência de indícios de autoria para que a decisão seja válida. Evita-se, assim, a arbitrariedade, respeitando, contudo, a íntima convicção dos jurados na tomada da decisão. 2. TRANSTORNO ANTI-SOCIAL DE PERSONALIDADE. IMPUTABILIDADE DIMINUÍDA. REDUÇÃO OBRIGATÓRIA DA PENA. 2.1. As modernas classificações internacionais consideram as psicopatias como transtornos da personalidade e as definem como alterações da forma de viver, de ser e relacionar-se com o ambiente, que apresentam desvios extremamente significativos do modo em que o indivíduo normal de uma cultura determinada percebe, pensa, sente e

particularmente se relaciona com os demais. O transtorno antisocial de

personalidade coincide com o que tradicionalmente se denomina psicopatia. As personalidades psicopáticas se enquadram no rol das perturbações da saúde mental, anomalia psíquica que se manifesta em procedimento violento, regulando-se conforme o disposto no parágrafo único do art. 22, do Código Penal. 2.2. Comprovado pelo laudo psiquiátrico que o réu ao tempo do crime padecia de transtorno anti-social de personalidade, a redução de pena é obrigatória, o que é facultativo é o quantum maior ou menor (1/3 a 2/3) dessa diminuição de pena. 2.3. A consequência legal da capacidade relativa de culpabilidade por perturbação da saúde mental ou por outros estados patológicos, é a redução obrigatória da pena, pois se a pena não pode ultrapassar a medida da culpabilidade, então a redução da capacidade de culpabilidade determina, necessariamente, a redução da pena. Argumentos contrários à redução da pena no sentido do cumprimento integral da pena são circulares, inconvincentes e desumanos porque o mesmo fator determinaria, simultaneamente, a redução da culpabilidade (psicopatias ou debilidades mentais explicariam a culpabilidade) e a agravação da

culpabilidade (a crueldade do psicopata ou débil mental como fator de

agravação da pena). Não incidência da untermassverbot na medida em que o legislador não atuou de maneira deficiente, mas sim ponderada. DERAM PARCIAL PROVIMENTO AO APELO DEFENSIVO. UNÂNIME. (Apelação

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Crime Nº 7003 de Justiça do RS, Relator: Odone Sanguiné, Julgado em

17/03/2011).

Ante o exposto considerado no caso concreto, semi-imputável,

CAUTELAR. ALCOOLISTA. INTERNAÇÃO. LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO. NECESSIDADE DA MEDIDA. 1. Tem o órgão do Ministério Público legitimidade para reclamar medida cautelar de proteção à pessoa de incapaz, sendo possível juridicamente pedir a internação de psicopata em situação de atentar contra a sua integridade física e a de ourem. 2. Estando a doença mental e também os fatos satisfatoriamente demonstrados, cabível o deferimento da internação liminar. Recurso provido. (Agravo de Instrumento Nº 70002316560, Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Sérgio Fernando de Vasconcellos Chaves, Julgado em 25/04/2001)

Esta ementa acima, retrato da grande maioria apenas, confundida com outras

enfermidades e aplicada de maneira errônea, conforme Tribunal de Justiça do Estado

do Rio Grande do Sul (s.d.).

O estado brasileiro não possui verbas para aplicar os métodos de identificação

corretos que a psicologia forense e a neurociência nos mostra, não possui verbas

também para contratar peritos capacitados para empregar a tabela PCL-R. O Custo

elevado destas, juntamente com a incapacidade técnica dos funcionários e a falta de

tempo e espaço para que tais exames sejam executados, evitam o juízo médico eficaz

de um psicopata, segundo Jose Osmir Fiorelli (2010).

Apesar deste cenário cediço de informações e estudos a nível nacional,

atualmente o deputado Marcelo Itagiba, propôs um projeto de lei que altera a Lei de

Execução Penal e cria uma comissão técnica independente da administração prisional

e prevendo a execução da pena do psicopata, diagnosticado e condenado, exigindo

a realização do exame criminológico do condenado a pena privativa de liberdade. Um

oásis em meio ao deserto que demonstra ser a legislação Brasileira no que se refere

ao psicopata, em uma clara tentativa de individualizar a pena.

Segundo Fiorelli (2010, p. 108) “as pessoas que preenchem os critérios plenos

para a psicopatia não são tratáveis por qualquer tipo de terapia, alguns estudos,

porém, indicam que, após os 40 anos, a tendência é diminuir a probabilidade de

reincidência criminal”.

Por fim, ante o todo o exposto neste capitulo, conclui que os psicopatas, não

recebem nenhum tratamento específico da legislação Brasileira, e do judiciário,

causando um relevante dano a sociedade Brasileira.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ante todo o conteúdo apresentado e, em vista da pesquisa jurídico doutrinária

realizada dentro da problemática proposta, restou retratada a necessidade de um

tratamento legal mais adequado no que tange à culpabilidade do psicopata no âmbito

do Direito Penal.

Segundo o ordenamento jurídico pátrio, é inimputável aquele que por doença

mental ou desenvolvimento mental incompleto ao tempo da ação, não tiver a plena

consciência de que está praticando conduta antijurídica (art. 26, CP).

No parágrafo único do aludido artigo, definem-se os semi-imputaveis, aqueles

que não são dementes, porém ao tempo da ação não tem o total discernimento, ou

tem a capacidade reduzida, em virtude de perturbação mental, por tal deficiência na

compreensão acaba por cometer crimes.

Verifica-se, portanto, a necessária ligação de outra ciências com o direito, afim

de auxiliar e elucidar acerca de determinados estados de saúde física e/ou mental.

Como exemplo, cita-se a psicologia forense, que possibilita a compreensão da

personalidade do criminoso, os elementos sociais que assim o fazem, procurando

entender que levou determinado indivíduo a delinquir.

No decorrer da presente pesquisa, foi possível conceituar a psicopatia e

verificar como ela é encarada pela legislação e pela doutrina de determinados países.

Pelo direito comparado foi possível observar a total inoperância do judiciário e

legislativo brasileiro no que refere a um avanço neste sentido, muito devido ao atraso

na pesquisa científica e à falta de recursos governamentais destinados à este fim.

Aliado à isso, há ainda a complexidade do tema onde não há um conceito

correto e bem definido sobre o que é o psicopata, nem mesmo dentro da psiquiatria,

quanto menos na psicologia forense.

Porém, cumpre destacar que no Brasil a situação é pior, pois além de poucos

doutrinadores que se arriscam a falar do tema, poucos estudos são produzidos,

deixando a situação a ponto de ser quase inexistente decisões judiciais nesse sentido,

apesar de ser uma das personalidade mais estudadas e antigas que se tem

conhecimento.

Vale ressaltar que muitos dos crimes que chocam a sociedade são cometidos

por psicopatas e sua reincidência é bem superior aos demais, pois não demonstram

arrependimento, eis portanto a gravidade e importância do presente tema.

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REFERÊNCIAS

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