A IMPORTÄNCIA DOS GRUPOS DE PSICOLOGIA PARA A PROMOCAO DE RESILIENCIA NA TERCEIRA IDADE: UMA ABORDAGEM GERONTODRAMATICA

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RELATRIO DE ATENDIMENTO

UNISALESIANO Centro Universitrio Catlico Salesiano Auxilium

Curso de Psicologia

Portaria n 335 de 23/04/2007 DOU 24/04/2007

A IMPORTNCIA DOS GRUPOS DE PSICOLOGIA PARA A PROMOCAO DE RESILIENCIA NA TERCEIRA IDADE: UMA ABORDAGEM GERONTODRAMATICA Ana Elisa da S Barbosa de Carvalho

[email protected](orientadora)

Luciana Marise de Araujo Vicente

[email protected] de Cssia Soares Pires

[email protected]

Em 2009 foi realizado um trabalho de terapia em grupo por estagirias do segundo ano de Psicologia para idosos participantes de um projeto de preveno secundria em sade implantado pela Assistncia Mdica e Hospitalar So Lucas, em Lins/SP. Foram realizadas 35 sesses em que se trabalhou atividades relacionadas ao Gerontodrama, tcnica de atendimento grupal para terceira idade, adaptada do Psicodrama de Jacob Levy Moreno (Costa, 1998, p. 55 e 56). Atravs de dinmicas de grupo procurou-se trabalhar a auto-estima, auto-eficcia, espontaneidade e perda de papis ocorridos no processo do envelhecimento; o agesmo presente na famlia/sociedade, que retira do idoso a crena em sua capacidade de superao e manuteno de uma vida saudvel, independente das mudanas prprias que ocorrem neste perodo. Na medida em que se investiu no resgate dos fatores de proteo emergiu nos idosos a resilincia. Foram percebidos no incio do grupo sentimentos de inferioridade, baixa auto-estima e comportamentos depressivos advindos de conflitos familiares, que evoluram para uma postura mais resiliente ao final do grupo, com relatos dos prprios idosos elucidando a satisfao com sua nova forma de encarar a prpria vida

PALAVRAS-CHAVE: Resilincia, Idosos, Gerontodrama.

Nos ltimos anos nota-se uma modificao na estrutura etria da populao brasileira, devido queda da mortalidade, os avanos na tecnologia e nos servios prestados no campo da sade. Com isso houve um aumento significativo da populao de idosos, de 4% em 1940 para 9,6% em 2004 de acordo com dados do IBGE (2005) e os estudos apontam ainda que at 2020 este percentual poder chegar a 15%, o que representar um grande desafio para as polticas pblicas no atendimento desta demanda populacional.

O processo de envelhecimento caracterizado, primeiramente, por mudanas fsicas, fisiolgicas e cognitivas, definido como senescencia, que ocorre de forma gradual. Por outro lado as doenas, abusos, afastamento das atividades sociais, a falta de atividade fsica e de estimulao cognitiva, resultam na senilidade ou envelhecimento secundrio.

A aposentadoria representa um grande problema no processo de envelhecimento, podendo tambm contribuir para a senilidade, pois, representa a passagem do sujeito ativo, trabalhador para a de aposentado, aliado ao baixo valor de sua aposentadoria, que impossibilita a garantia de sua sobrevivncia e manuteno adequada de suas necessidades bsicas, pode gerar no idoso um sentimento de inutilidade e fracasso, de que deve ceder o espao para os mais jovens, contribuindo para seu isolamento e perda de contatos sociais. Borges, citando Singer, comenta que,

A passagem do homem ativo, trabalhador, para o homem aposentado gera a velhice como categoria social, tendo em vista que, ao aposentar-se, o homem perde sua funo social, perde sua identidade social. (apud FALCAO & DIAS, 2006, p. 152)

Neste sentido entende-se que a velhice no se resume somente s questes biolgicas, mas tambm social, histrica e cultural e, portanto, necessrio que haja um olhar mais atento s necessidades desta populao, de forma a promover uma melhor qualidade de vida ao idoso, possibilitando a este compreender tambm seu papel e responsabilidade neste processo e na construo de sua subjetividade em relao ao envelhecer e, a sociedade, a desconstruir a viso de que ele representa, de maneira geral, um peso, um nus familiar e social.

Prevalece na sociedade o preconceito contra o idoso, o que recentemente foi denominado de ageismo. De acordo com Couto, Koller & Novo (2006) este termo define uma forma de intolerncia relacionada com a idade, um forte preconceito e discriminao contra pessoas idosas. considerado como o terceiro grande ismo aps o racismo e o sexismo, no entanto, diferindo destes, pois, qualquer pessoa pode ser atingida por ele ao longo de sua vida, se atingir a velhice. O agesmo est presente na sociedade de modo inconsciente, implcito, sem inteno de prejudicar o seu alvo, diferentemente de outros tipos de discriminao, como racial, religiosa, tnica, etc.

Os autores comentam ainda que existem diversas formas de manifestao do agesmo, como o tratamento infantilizado e paternalista com que o idoso tratado, com um discurso simplificado, fala vagarosa, de pouca qualidade, que tem impacto significativo na autoestima, na identidade, nas habilidades lingsticas e em sua percepo de autoeficcia. O agesmo tambm percebido no mau atendimento no sistema de sade, em situaes de maus tratos fsicos, psicolgicos e financeiros contra o idoso. Principalmente nas relaes interpessoais o agesmo pode ser mais prejudicial, pois, a forma como visto e tratado pelo outro afeta significativamente sua autopercepo e seu sentimento de segurana, avaliando-se pejorativamente como velho (Couto, Koller & Novo, 2006). curioso e paradoxal a maneira como a sociedade atua em relao ao envelhecimento, pois, por um lado utiliza-se de toda a tecnologia para promover uma longevidade maior ao ser humano e, por outro lado no encontra um espao para inserir o produto resultante desta tecnologia, o idoso, que permanece restrito a uma condio de menor valia social, econmica e cultural.

Diante do exposto, pode-se considerar ento o agesmo como fator de risco por abranger situaes que minam a autoestima do idoso, comprometendo sua qualidade de vida, autoeficcia e impedindo que este tenha uma postura resiliente perante as transformaes naturais ocorridas no processo de envelhecimento.

O idoso num perodo em que pode ser acometido por doenas, perdas e solido, passa a envolver-se em menos atividades e sente-se sem motivao para continuar realizando aquelas para as quais j est adaptado. Ele passa a perceber-se ento menos eficaz. Neste sentido Couto, Koller & Novo, citando Bandura, comentam que,

O julgamento que o individuo faz das suas capacidades para a realizao de tarefas em diferentes domnios (cognitivo, comportamental, etc.) foi definido por Bandura (1997) como auto-eficcia, indicando que o funcionamento efetivo requer no s competncias, mas crenas de sucesso e superao. Um baixo senso de auto-eficcia leva auto-avaliao negativa que afeta o funcionamento cognitivo e comportamental das pessoas (COUTO, KOLLER & NOVO, 2006, p. 319).

A ausncia do sentimento de auto-eficcia no idoso pode vir a representar um fator de risco na superao das adversidades para a manuteno de uma vida saudvel. Entende-se por fatores de risco eventos de vida negativos, os quais potencializam resultados disfuncionais de ordem fsica, social e/ou emocional e incrementam a probabilidade dos indivduos virem a sofrer de perturbaes psicolgicas. A maneira como o individuo atribui significado a uma situao ou evento, sua viso subjetiva, pode determinar que o mesmo se configure ou no como um fator de risco. Por outro lado se o sentimento de autoeficcia est presente no idoso, este torna-se um fator de proteo. Portanto, da mesma forma que os fatores de risco so determinados pela subjetividade do individuo, tambm os mecanismos protetores sofrem sua influncia e s atuam mediante a presena de um fator de risco.

Segundo Masten e Garmezy (apud, Couto, Koller & Novo, 2006) foram identificadas trs classes principais de fatores de proteo: autoestima, coeso familiar e ausncia de conflitos e a disponibilidade de redes de apoio social que encorajem o individuo a lidar com as adversidades efetivamente. Neste sentido Ruther (1987) comenta que,

Os mecanismos protetores reduzem o impacto do risco atravs da alterao do seu significado ou do perigo considerado pelo indivduo. Da mesma forma, a reduo ocorre pela alterao da exposio ou do envolvimento do individuo com o risco, pela reduo das reaes negativas decorrentes da exposio a ele, pela manuteno de auto-estima e auto-eficcia e, ainda, pela criao de oportunidades para reverso dos efeitos do estresse (apud, COUTO, KOLLER & NOVO, 2006, p.326).

Foi observado num trabalho de terapia em grupo realizado com idosos, que este, como integrante da rede social de apoio, poderia ser utilizado como recurso para fomentar a autoestima, autoeficcia e, consequentemente, a resilincia dos idosos, possibilitando a estes uma melhor adaptao na vida e uma maior capacidade de enfrentamento e superao das adversidades.

A resilincia pode ser compreendida como o manter-se bem, recuperar-se ou mesmo ser bem sucedido frente s adversidades da vida. Diz respeito s variaes individuais, num sentido positivo, em resposta ao risco. No se trata de um atributo fixo, pois, o mesmo indivduo pode agir de formas diferentes a um mesmo evento estressor em momentos diferentes de sua vida (Couto, Koller & Novo, 2006).

Em 2009, na Assistncia Mdica e Hospitalar So Lucas, em Lins/SP, em um projeto de preveno secundria em sade denominado Preventiva So Lucas, foi realizado pelas estagirias do segundo ano de Psicologia do UNISALESIANO de Lins/SP, um trabalho de terapia em grupo para os idosos conveniados da instituio. Foram utilizadas como recurso teraputico atividades relacionadas ao Gerontodrama.

O termo Gerontodrama foi criado por Elizabeth Maria Sene Costa, mdica psiquiatra e psicodramatista. Adaptado do Psicodrama, tcnica criada por Jacob Levy Moreno para o tratamento do individuo e do grupo atravs da ao dramtica, foi definido como tcnica de atendimento grupal para a terceira idade. (Costa, 1998; Gonalves, Wolff & Almeida, 1988).

Foram realizadas trinta e seis sesses que aconteceram em duas etapas, no 1 e 2 semestres, respectivamente, em que, atravs de dinmicas de grupo, procurou-se trabalhar a autoestima, autoeficcia, espontaneidade e perda de papis ocorridos no processo do envelhecimento e o agesmo. Os encontros eram realizados semanalmente, com uma hora de durao, para atender a demanda de encaminhamento realizado pelos mdicos da instituio para o trabalho psicoterpico em grupo, denominado de Oficina do Conhecimento. A Oficina do Conhecimento j integrava anteriormente o conjunto de atividades oferecidas pela instituio, porm, sua proposta de trabalho possua um carter informativo, atravs da realizao de palestras.

Em 2009 houve uma reestruturao na equipe profissional (supervisora e estagirias), modificando-se a proposta de trabalho para a de grupos teraputicos com a adoo de nova abordagem psicoterpica, o Gerontodrama.

No 1 semestre o grupo foi formado a partir de convite, atravs de contato telefnico, aos integrantes da lista de encaminhamentos. No foram realizadas entrevistas iniciais para seleo e triagem dos participantes, sendo que o primeiro contato pessoal deu-se somente na primeira sesso. O grupo era composto inicialmente por 20 participantes, participaram da primeira sesso 14, que demonstraram timidez e apreenso inicial. A psicloga supervisora recepcionou os integrantes, apresentou a equipe e explicou a proposta de trabalho, garantiu o sigilo profissional e enfatizou a necessidade do sigilo entre os integrantes do grupo. Foi constatada na ocasio a presena de cnjuges no grupo, o que poderia comprometer a proposta de trabalho teraputico. Porm nenhuma medida foi tomada pela equipe, pois, a participao no grupo era uma exigncia da instituio, que desconhecia na ocasio a nova proposta de trabalho e suas peculiaridades.

Neste perodo a participao das estagirias se restringiu somente observao e a elaborao dos relatrios das sesses. O manejo do grupo foi conduzido somente pela psicloga supervisora, porm, eram realizadas semanalmente reunies da equipe para discusso e troca de impresses sobre o grupo, bem como orientaes sobre as tcnicas do Gerontodrama que eram devidamente transmitidas s estagirias, para futura atuao nos grupos. As atividades realizadas nas sesses no seguiram neste semestre um roteiro fixo e previamente estabelecido. As dinmicas foram escolhidas de acordo com as demandas dos participantes e do desenrolar do processo grupal. Elas procuravam estimular a percepo, de si e do outro, a reflexo sobre seus conflitos, dificuldades e limites, a inverso de papis, a troca de experincias e a interao grupal. As sesses dividiam-se em etapas, de aquecimento, que poderia ser especfico e/ou inespecfico, dinmica principal, comentrios e fechamento, de acordo com as tcnicas do Gerontodrama. Foram observadas vrias dificuldades de adaptao dos participantes ao trabalho em grupo, como a resistncia e, s vezes, a recusa realizao das atividades propostas. Tambm no processo de reconhecimento pessoal, no relacionamento interpessoal e no no comprometimento dos participantes ao trabalho grupal, expresso na oscilao da freqncia nas sesses e tambm na desistncia de alguns participantes.

Com o avano das sesses e o encadeamento das dinmicas foi possvel perceber que as dificuldades foram sendo superadas e que o grupo passou a responder positivamente a proposta, demonstrando modificaes significativas em suas condutas individuais e no relacionamento em grupo. Na ltima sesso foi constatado que o grupo estava reduzido metade do grupo inicial, ou seja, estavam presentes sete participantes. Foi solicitada pela psicloga uma avaliao do grupo sobre o trabalho realizado no semestre e os relatos colhidos comprovaram a percepo de melhora significativa nos participantes. Todos relataram que as reunies possibilitaram a troca de experincias, bem estar, felicidade, distrao, alvio para seus problemas, pois, disseram: puderam perceber que todos enfrentam dificuldades na vida (sic). Relataram tambm melhora do humor e da qualidade de vida, que puderam fazer novas amizades, sentindo-se valorizados pelas pessoas. Em relao ao trabalho grupal Carvalho & Coelho comentam,

Cada histria de vida, cada experincia compartilhada, cada fala produz efeitos sobre as falas dos outros participantes. Mais do que fazer falar, preciso dar sentido ao sofrimento psquico, abrindo-se novas possibilidades de subjetivao a partir do diagnstico. (...) Com isso, o trabalho grupal parece reavivar o investimento de cada participante em suas habilidades pessoais, bem como em aspectos de sua vida, para que esta seja melhor vivida. (CARVALHO & COELHO, 2006, p. 253).

Aps um breve recesso iniciou-se a formao de um novo grupo para o 2 semestre, seguindo o mesmo sistema anterior, ou seja, convite atravs de contato telefnico, sem entrevista inicial, de acordo com a lista de encaminhamento fornecida pela instituio. O grupo foi composto com novos integrantes e alguns remanescentes do semestre anterior, que permaneceram por vontade prpria.

Foi elaborado pelas estagirias um roteiro prvio das dinmicas que seriam trabalhados no semestre, porm, sujeito a alteraes de acordo com a evoluo do grupo. Para tanto seguiu-se, por orientao da supervisora, a Matriz de Identidade de Moreno. Sobre ela, Yozo comenta,

A Matriz de Identidade, segundo Moreno, a placenta social da criana, o lcus em que ela mergulha suas razes. Na evoluo da criana, a Matriz est ligada aos processos fisiolgicos, psicolgicos e sociais, refletindo a herana cultural na qual est inserida, que a prepara para a sociedade, ou seja, o primeiro processo de aprendizado emocional da criana (YOZO, 1996, p. 25).

Na Matriz de Identidade destacam-se trs fases, sendo elas: 1 fase Identidade do EU (Duplo), momento de indiferenciao, em que a me atua como se fosse o duplo da criana; 2 fase Reconhecimento do EU (Espelho), momento de diferenciao onde ocorre a percepo da criana separada dos outros, em que a me atua como espelho ; 3 fase Reconhecimento do Tu (Inverso de Papis), onde o reconhecimento de si mesma garante o reconhecimento do outro e a possibilidade da criana de colocar-se no lugar de sua me (Yozo, 1996).

O mesmo autor (1996) comenta que para os Jogos Dramticos segue-se o mesmo processo evolutivo da Matriz de Identidade de Moreno. dividida em quatro momentos bsicos, de acordo com o desenrolar do trabalho grupal. O 1 momento trabalha a relao EU-COMIGO (Identidade do Eu); o 2 momento a relao EU-OUTRO (Reconhecimento do Eu); o 3 momento a relao EU COM O OUTRO (Reconhecimento do Tu); o 4 momento a relao EU COM TODOS (Identidade e Coeso Grupal).

O roteiro de atividades elaborado foi construdo para trabalhar a relao EU-EU, EU-TU, EU-ELE, sendo que na ltima fase trabalhou-se, conjuntamente, o Reconhecimento do Tu, a Identidade e a Coeso Grupal, com dinmicas voltadas para esta finalidade, totalizando 18 sesses que seriam realizadas no semestre.

As sesses passaram a ser conduzidas pelas estagirias, com o acompanhamento da supervisora, que dividiam as funes de Diretor e Ego-Auxiliar, alternadamente, permanecendo responsveis pela elaborao dos respectivos relatrios. Nas supervises semanais eram discutidos os resultados obtidos nas sesses, as situaes que emergiram e seu manejo e o aproveitamento do grupo nas atividades realizadas. Em especial era avaliado o desempenho das estagirias na conduo do grupo, onde tinham a liberdade para relatar suas dificuldades e percepes e tambm refletir sobre sua prpria atuao. A supervisora manifestava suas impresses, orientando as estagirias para as prximas sesses. As supervises tambm eram um espao de estudo terico sobre psicoterapia grupal.

Durante as sesses foi percebida, pelas estagirias, uma maior facilidade do grupo em executar as atividades propostas, bem como apreender o objetivo das mesmas, demonstrada em seus relatos e em sua postura, individual e grupal. Pode-se pensar que tal fato se deu pela diminuio das conservas culturais presentes nos integrantes no incio das atividades do grupo, no 1 semestre, pois, a maioria dos participantes era remanescente do grupo inicial. Sobre as conservas culturais, Costa comenta que,

(...) a criana espontnea e criativa nos seus atos, isto decorre no somente do fator e (fator espontaneidade), mas tambm de sua menor absoro s conservas. (...) Quando ele se torna adulto, sua espontaneidade vai decaindo (...) e as conservas culturais vo, por sua vez, tomando vulto cada vez maior. Assim, quando o velho estimulado, suas respostas vm dotadas, geralmente, de inespontaneidade, porque as conservas no permitem resposta diferente daquela at ento bastante conhecida (COSTA, 1998, p. 112).

Nesses remanescentes, especialmente, foi significativa a mudana observada, certamente pela confiana j estabelecida com a equipe profissional, pela cumplicidade e afinidade j adquirida. Por encontrar tambm um espao de acolhimento e livre manifestao, onde no seriam censurados e tratados pejorativamente, onde poderiam compartilhar experincias de vida semelhantes e dar a elas um outro significado. O que sugere um aumento no grau de espontaneidade nos participantes.

Sobre o trabalho teraputico com o idoso Costa (1998) esclarece que, com o tempo, a permissibilidade do terapeuta exercendo a funo de deliberante da sociedade, o que Moreno define como iniciador social e, a capacidade para compreender que pode reconquistar seu referencial espontneo perdido em algum ponto da existncia, o idoso consegue liberar ou recuperar sua espontaneidade.

Para reforar a idia da autora, citamos o caso de L., uma das integrantes remanescentes, na qual foi constatada a emergncia de sua espontaneidade medida que foi evoluindo no processo teraputico e, consequentemente, sua mudana significativa de conduta. L. integrou o grupo no 1 semestre acompanhada do cnjuge e manifestava uma conduta extremamente reservada e conservadora. Seus relatos demonstravam uma vida pautada em valores rgidos recebidos em sua educao, aplicados na vida conjugal e repassados aos filhos: me sinto realizada na educao rgida que dei aos meus filhos, eles nunca me desacataram e nunca me fizeram passar vergonha (sic). Porm, nas sesses emergiram situaes conflituosas do casal, questes relacionadas a problemas com os filhos e uma evidente discordncia entre eles, nestes aspectos. Devido suas conservas e a presena do marido no grupo, L. no conseguia expressar-se de forma a aliviar suas angstias e usufruir melhor do trabalho teraputico, nem tampouco resgatar a espontaneidade camuflada em sua rgida postura.

Entretanto no 2 semestre L. manifestou uma significativa mudana em sua conduta, constatada logo na segunda sesso. Nesta ocasio permitiu o desabafo, o choro, a exposio de seus conflitos, de sua fragilidade e impotncia, passando a partir de ento, a expressar-se de forma mais espontnea no grupo. Sua participao tornou-se mais aberta e dinmica nas atividades, suas reflexes mais crticas, menos desapegadas de seus rgidos valores e mais questionadoras em relao aos seus conflitos e condutas com o marido e os filhos.

relevante tambm destacar que, por vontade prpria, o marido de L. desistiu de participar das sesses no 2 semestre. Este fato contribuiu para sua mudana, pois, sua presena no grupo tambm reafirmava suas conservas culturais e impedia sua liberdade de expresso.

Conclu-se a partir deste trabalho realizado com os idosos que as conservas culturais e o agesmo, podendo este ser considerado como parte destas conservas, configuram-se como fatores de risco. Por outro lado, o processo de resgate da espontaneidade na terapia grupal, adquire carter de fator de proteo e, consequentemente, fomentador de resilincia.

No incio do trabalho foram percebidos nos integrantes do grupo, de modo geral, sentimentos de inferioridade, baixa autoestima e comportamentos depressivos advindos de conflitos familiares e da viso preconceituosa da sociedade sobre a velhice. Na medida em que as atividades foram sendo desenvolvidas nas sesses, constatou-se a evoluo do grupo para uma postura mais resiliente, o que confirma a hiptese levantada no incio deste trabalho, da importncia do trabalho de terapia em grupo como integrante da rede social de apoio para a promoo de resilincia dos idosos, proporcionando a estes a superao de suas adversidades, uma melhor adaptao e qualidade de vida.

Este trabalho mantm-se com os mesmos objetivos em 2010, porm, com algumas alteraes estruturais para garantia de resultados ainda melhores do que os j alcanados.

Referncias Bibliogrficas

YOZO, R., Y. K. 100 Jogos Para Grupos. So Paulo: gora, 1998, 191 p.

COSTA, E., M., S., Gerontodrama: A Velhice em Cena. So Paulo: gora, 1998, 170 p.

GONALVES, C., S., WOLLFF, J., R. & ALMEIDA, W., C. Lies de Psicodrama: Introduo ao Pensamento de J. L. Moreno. So Paulo: gora, 1988, 110 p.

FALCO, D., V., S. & DIAS, C., M., S., B. Maturidade e Velhice: Pesquisas e Intervenes Psicolgicas Vol. I e II. Itatiba: Casapsi Livraria, 2006, 450 p.

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