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A inflação Brasileira: em busca de uma alternativa à ortodoxia fiscal Carlos Águedo Paiva Foz do Iguaçu, 28-05-2015

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A inflação Brasileira: em busca de uma alternativa à ortodoxia fiscal

Carlos Águedo PaivaFoz do Iguaçu, 28-05-2015

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Primeira proposta: mudar o debate• Desde, pelo menos, os anos 50 que o debate sobre

inflação entre heterodoxos e ortodoxos no Brasil se estrutura sobre suas causas. Mais exatamente, sobre a correção ou incorreção do diagnóstico ortodoxo de causalidade: “inflação de demanda”.

• Este padrão de debate garante uma sensação fácil e agradável de vitória aos dois embatedores, mas não constrói nada.

• Os heterodoxos saem vitoriosos no plano do realismo do diagnóstico base.

• E os ortodoxos se satisfazem com o fato de conseguirem aprisionar a heterodoxia no campo minado (porquanto ideológico) da crítica à “teoria da demanda”.

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O Teste Empírico • O problema, de fundo, NÃO é a causa da inflação. A inflação é um

processo total, envolvendo, sempre e necessariamente, elementos de demanda (por bens, serviços, insumos, mão-de-obra, importados, etc.) de oferta (estrangulamentos, produtividade, mark-up, grau de monopólio, etc.) e de custos (salariais, cambiais, de oportunidade, financeiros, tributários, diretos, marginais, etc.).

• O problema real é: se a nossa inflação NÃO é de demanda, como e porque ela vem sendo mantida sob relativo controle há 20 anos a partir do manuseio “ortodoxo” de instrumentos monetários e fiscais?

• Ou o Plano Real não é isso? Mesmo que relativizemos o seu sucesso, a inflação do Brasil Capitalista nunca viveu um período tão longo sob “controle”. E este controle foi mantido com juros altos e superávit primário? … Ou não

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A pergunta que importa é:• Como se pode interpretar a (relativa) eficácia do Plano Real de

uma perspectiva heterodoxa? … • Ora, não há uma única perspectiva heterodoxa. Mas a leitura

kaleckiana nos oferece um sistema de interpretação muito simples e de enorme eficiência para entender a história do Real.

• Apresentamos primeiro sua conclusão. O percurso fica mais fácil se sabemos onde vamos chegar.

• Para Kalecki a eficácia da Política monetária ortodoxa advém da valorização do real e da consequente exposição competitiva dos setores tradables (importações e exportações mais baratas)

• E a eficácia da Política fiscal advém dos desdobramentos sobre o (des)emprego da depressão de demanda associada aos cortes de gastos governamentais. O desemprego, por sua vez, gera queda dos salários nominais (principal custo direto de todas as cadeias produtivas urbanas) e da demanda por bens agroalimentares e por serviços de livre-ingresso.

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Detalhando a Precificação Kaleckiana• Kalecki divide as mercadorias em dois grupos em função do padrão

de formação de preços: flex (responsivos às variações da demanda) e fix (função dos custos diretos e não responsivos às flutuções de demanda).

• Com o avanço da concentração e centralização do capital, as mercadorias cujos preços são flex apresentam expressão econômica decrescente. Mas há setores flex,(em especial alimentos de importação restrita) que são responsivos a variações de demanda e impactam nos índices de preço ao consumidor.

• Todas os bens e serviços urbanos são produzidos em condições de concorrência imperfeita (pura ou oligopólica) e seus preços são de padrão fix com dois componentes: os custos diretos (essencialmente, salários nominais) e o mark-up (essencialmente, grau de monopólio)

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O Real à Luz de Kalecki• A política monetária define a taxa de câmbio. A

valorização do real deprime os preços nacionais das commodities (flex price) precificadas em dólar e o grau de monopólio (e o mark-up) da indústria de transformação.

• Na crises de credibilidade externa (e interna!) o real se desvaloriza, suprimindo a âncora cambial. Neste caso, a política monetária é arrochada ainda mais e é combinada com uma retração fiscal com vistas a deprimir o emprego e, por extensão, a taxa de salário nominal e a demanda sobre os preços flex.

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Desdobramentos da nova questão• Se recusamos as leituras que os ortodoxos propõem de suas

próprias políticas econômicas e as (psic)analisamos em busca de seus fundamentos e objetivos reais fica claro que não cabe propor:

• 1) queda de juros a cada sinal de demanda em queda quando o que se busca efetivamente é recolocar o dólar abaixo de 3 reais (ou, pelo menos, mantê-lo bem próximo disto);

• 2) propor um ajuste fiscal baseado na elevação de tributos sobre a burguesia (cuja propensão marginal a consumir e investir é próxima de zero) se o que se almeja de fato é deprimir o consumo e os salários.

• E, de forma mais geral, não cabe dialogar com a ortodoxia tomando seus modelos teóricos como modelos científicos passíveis de crítica lógica. Friedman já concebeu a arma-resposta eficiente à crítica do irrealismo: se funciona na “prática”, use a cláusula “as if” e tudo se resolve.

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As inflexões do Real ao longo dos Governos Lula e Dilma

• A significativa desvalorização cambial de 2002 (às vésperas da vitória e posse de Lula) foi respondida pelo arrocho monetário e fiscal de Fraga e Malan. Esta política de “ancoragem interna” se resolveu na queda dos salários reais, com o setor não-tradable puxando a inflação para baixo.

• A manutenção das diretrizes da política econômica anterior com Meirelles-Palocci levou à gradual revalorização do real e à re-ancoragem cambial.

• Com Dilma na Casa Civil e Mantega na Fazenda a política salarial e fiscal foi sendo gradativamente flexibilizada, graças à recuperação da eficácia da política monetário-cambial). A partir de 2008 os salários nominais passam a crescer acima da inflação.

• Se ampliamos os salários nominais, a inflação só se mantém sob controle com a depressão do mark-up (âncora cambial). Mas esta resulta, no médio prazo, em desindustrialização.

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VarRendimento Médio

da População Ocupada

Variação IPCA Variação do Rendimento Médio da PO

Nominal Real Período Nominal Real Ano Acum Ano Ant Acum Ano Ant Acum

2002 859,41 825,01 12,53% 12,53% 3,72% 3,72% -3,86% -3,86%2003 898,93 747,60 9,30% 23,00% 4,60% 8,49% -9,38% -12,88%2004 951,12 740,56 7,60% 32,34% 5,81% 14,79% -0,94% -13,70%2005 1.016,10 742,41 5,69% 39,87% 6,83% 22,63% 0,25% -13,49%2006 1072,85 753,96 3,14% 44,27% 5,58% 29,48% 1,56% -12,14%2007 1128,51 764,48 4,46% 50,70% 5,19% 36,20% 1,39% -10,91%2008 1221,02 777,63 5,90% 59,59% 8,20% 47,36% 1,72% -9,38%2009 1292,71 787,84 4,31% 66,48% 5,87% 56,02% 1,31% -8,19%2010 1437,87 837,76 5,91% 76,31% 11,23% 73,54% 6,34% -2,37%2011 1629,68 888,46 6,50% 87,78% 13,34% 96,69% 6,05% 3,53%2012 1794,64 930,04 5,84% 98,74% 10,12% 116,60% 4,68% 8,38%2013 1930,78 941,55 5,91% 110,49% 7,59% 133,02% 1,24% 9,72%2014 2109,55 965,93 6,41% 123,98% 9,26% 154,60% 2,59% 12,56%

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A inflação muda de sede• As inflexões no câmbio nominal associadas às recorrentes “fugas para o dólar” se

resolve em inflexões dos setores aceleradores e desaceleradores da inflação.• Na tabela da próxima lâmina, resgatamos as inflações anuais e acumuladas das

três sub-classes de mercadorias presentes na cesta da POF-IPCA-IBGE – tradables (importáveis), não tradables (construção civil e serviços) e monitorados (serviços públicos concedidos e/ou privatizados ou fornecidos pelo Estado).

• As células pintadas de verde representam a menor inflação, as de vermelho a maior.

• Desde 1995, os bens tradables apresentam a menor inflação acumulada, revelando a supremacia da âncora cambial sobre a fiscal-salarial;

• Mas a cada crise cambial, a inflação tradable “explode”. Em 1999, 2002 e 2003, os não-tradables passaram a ser o segmento baixista.

• Mas, a partir de 2007, são os monitorados que passam a operar como âncora. E isto pela combinação de dois fatores centrais: 1) o recurso ao controle dos preços rigorosamente públicos pelo Estado; 2) as pressões de custo associadas às novas políticas fiscais (empregadoras) e salariais que incidem de forma particular sobre os serviços e a construção civil (empregadores e não tradables).

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Variável IPCA-Tot IPCA-Tra IPCA-N-Tra IPCA-MonData Anual Acum Anual Acum Anual Acum Anual Acum

1994 18,57% 18,57% 13,47% 13,47% 32,75% 32,75% 2,82% 2,82%1995 22,41% 45,14% 10,55% 25,45% 35,52% 79,90% 28,17% 31,79%1996 9,56% 59,02% 2,24% 28,25% 13,81% 104,75% 20,24% 58,46%1997 5,22% 67,32% 1,50% 30,18% 4,39% 113,73% 18,33% 87,49%1998 1,66% 70,10% 1,19% 31,73% 1,48% 116,89% 3,23% 93,55%1999 8,94% 85,30% 11,27% 46,57% 1,63% 120,42% 20,89% 134,00%2000 5,97% 96,37% 3,64% 51,90% 3,72% 128,63% 12,90% 164,19%2001 7,67% 111,44% 7,30% 62,98% 5,72% 141,70% 10,78% 192,68%2002 12,53% 137,93% 14,86% 87,21% 7,48% 159,78% 15,32% 237,51%2003 9,30% 160,06% 8,69% 103,48% 6,65% 177,05% 13,20% 282,08%2004 7,60% 179,83% 6,28% 116,27% 6,85% 196,04% 10,20% 321,05%2005 5,69% 195,75% 2,74% 122,18% 6,36% 214,86% 8,98% 358,84%2006 3,14% 205,04% 1,31% 125,10% 4,01% 227,47% 4,28% 378,47%2007 4,46% 218,64% 4,73% 135,76% 6,68% 249,34% 1,65% 386,37%2008 5,90% 237,45% 6,97% 152,20% 7,10% 274,13% 3,28% 402,31%2009 4,31% 252,00% 2,63% 158,82% 5,53% 294,82% 4,74% 426,11%2010 5,91% 272,80% 6,87% 176,61% 7,28% 323,56% 3,13% 442,58%2011 6,50% 297,04% 4,41% 188,82% 8,59% 359,95% 6,20% 476,22%2012 5,84% 320,22% 4,47% 201,72% 8,46% 398,84% 3,65% 497,24%2013 5,91% 345,06% 6,01% 219,87% 8,43% 440,87% 1,54% 506,42%2014 6,41% 373,58% 5,95% 238,91% 7,43% 481,05% 5,32% 538,70%

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Período IPCAs Acumulados

X IPCA-Tot IPCA-TraIPCA-N-

TraIPCA-Mon

FHC 1 e 2

IPCAs Acum no período 100,68% 64,98% 95,69% 228,26%

Relações IPCAs Acum no Período

c/ IPCA-Tot 1,00 0,65 0,95 2,27c/ IPCA-Tra 1,55 1,00 1,47 3,51

c/ IPCA-N-Tra 1,05 0,68 1,00 2,39IPCA-Mon 0,44 0,28 0,42 1,00

Lula 1

IPCAs Acum no período 28,20% 20,24% 26,06% 41,76%

Relações IPCAs Acum no Período

c/ IPCA-Tot 1,00 0,72 0,92 1,48c/ IPCA-Tra 1,39 1,00 1,29 2,06

c/ IPCA-N-Tra 1,08 0,78 1,00 1,60IPCA-Mon 0,68 0,48 0,62 1,00

Lula 2 Dilma

IPCAs Acum no período 45,90% 42,10% 65,17% 26,74%

Relações IPCAs Acum no Período

c/ IPCA-Tot 1,00 0,92 1,42 0,58c/ IPCA-Tra 1,09 1,00 1,55 0,64

c/ IPCA-N-Tra 0,70 0,65 1,00 0,41IPCA-Mon 1,72 1,57 2,44 1,00

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As inflexões do Real• A tabulação anterior sistematiza a mudança na hierarquia dos segmentos

responsáveis pela aceleração inflacionária e os segmentos que vêm contribuindo, a cada período, para o controle da inflação.

• A inflexão dos monitorados é notável. Enquanto a inflação acumulada nos monitorados foi 2,27 vezes maior do que a inflação total nos dois mandatos de FHC ela correspondeu a 58% da inflação total nos governos Lula 2 e Dilma 1.

• E se os tradables nunca deixaram de ser âncora (via câmbio), eles perderam protagonismo relativo ao longo do tempo: enquanto a inflação em tradables correspondia a meros 65% da inflação total nos dois governos FHC, ela correspondeu a 92% do IPCA total nos governos Lula 2 e Dilma 1.

• Por fim, os não-tradables, que acompanhavam a inflação média nos dois governos FHC (95% do IPCA) e em Lula 1 (92% do IPCA), passam a liderar a inflação em Lula 2 e Dilma (142% da inflação média);

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O Fim da âncora salarial?• Com vistas a testar a pertinência da hipótese da perda de eficácia da âncora

fiscal-salarial, realizamos testes de regressão pelo sistema step-wise no qual um amplo conjunto de variáveis potencialmente explicativas (câmbio, variação do câmbio, selic, taxa de desemprego, rendimentos nominais do trabalho, etc.) de um determinado fenômeno (no caso, os IPCAs total, tradable, não tradable e monitorado) são disponibilizadas e o programa estatístico (no caso, o SPSS) seleciona as variáveis de maior poder explicativo e significância.

• A realização destes testes resultou nas equações apresentadas na próxima tabulação. As variáveis são cn (câmbio nominal), vcn (variação do câmbio nominal), vsn (variação do salário nominal), des (desemprego); os sufixos “d1; d2; d3” significam “com defasagem de 1, 2, 3 ou mais meses (por exemplo: desd2 significa que a variável explicativa relevante seria a taxa de desemprego manifesta dois meses antes do cálculo da inflação).

• Tal como se pode observar, as variáveis ligadas ao mercado de trabalho (em especial taxa de desemprego e variação do salário nominal) não ingressam em nenhuma das oito regressões dos governos Lula 2 e Dilma1;

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Gov - Per IPCA Prim Exp Seg Expl R2A

FHC2

IPCATOT = 0,546 cnd2 0,283IPCATRAD = 0,613 cnd1 0,362IPCA-N-TR = 0,427 cnd2 - 0,240 desd2 0,265IPCAMON = Sem Res SR

GOV PT

IPCATOT = 0,351 cnd2 + 0,166 vsnd3 0,134IPCATRAD = 0,203 cnd2 + 0,177 vsn3m 0,057IPCA-N-TR = Sem Resultado SRIPCAMON = 0,483 cnd2 + 0,195 vsn3m 0,255

LULA 1

IPCATOT = 0,656 cnd2 0,418IPCATRAD = 0,710 cnd2 0,494IPCA-N-TR = 0,390 cnd1 - 0,253 desd3 0,233IPCAMON = 1,519 cnd2 - 1,067 cnd3 0,268

LULA2

IPCATOT = Sem Res SRIPCATRAD = - 0,326 cn 0,087IPCA-N-TR = Sem Resultado SRIPCAMON = Sem Resultado SR

DILMA

IPCATOT = - 0,351 vcn3m 0,102IPCATRAD = 0,304 cnd2 + 0,287 vcnd5 0,164IPCA-N-TR = - 0,329 vcn3m 0,87IPCAMON = Sem Resultado SR

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Nova Classificação• Na tentativa de analisar este processo de forma mais acurada, ampliamos as classes do

BACEN de três (para além do IPCA total) para nove, envolvendo• 1) alimentos precificados em bolsas de mercadorias e/ou amplamento comercializados

internacionalmente (carnes);• 2) alimentos de importação restrita (ex: hortifrutigranjeiros);• 3) bens tradables não alimentares produzidos por indústrias com baixas barreiras à entrada; • 4) bens tradables não alimentares produzidos por indústrias com elevadas barreiras à

entrada;• 5) bens não tradables (em especial, construção civil) e serviços de livre ingresso;• 6) bens não tradables e serviços regulados e/ou com elevadas barreiras à entrada;• 7) bens e serviços cujos preços são objeto de controle direto do setor público (ex: gasolina e

transporte coletivo urbano)ç• 8) salário de empregados e prestadores de serviços no domicílio• 9) exceções não classificáveis nos grupos anteriores• Os resultados encontram-se na próxima tabulação

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Mandato FHC 2 LULA 1 LULA 2 DILMA 1Ano Período 08/99-02 2003-06 2007-10 2011-14

IPCA IBGE Per 33,10% 28,20% 22,21% 27,03%Acum 33,10% 70,64% 108,55% 164,93%

1TALLIV Per 53,34% 12,81% 39,54% 30,40%Acum 53,34% 72,99% 141,38% 214,76%

2TALIMRES Per 69,80% 23,58% 36,30% 49,94%Acum 69,80% 109,84% 186,02% 328,86%

3TOUTLIV Per 28,99% 32,96% 26,09% 26,53%Acum 28,99% 71,50% 116,25% 173,63%

4TOUTREG Per 26,71% 22,13% 7,97% 13,67%Acum 26,71% 54,76% 67,09% 89,93%

5NTLIVING Per 14,18% 28,57% 32,76% 41,57%Acum 14,18% 46,80% 94,90% 175,91%

6NTOLIREG Per 30,69% 41,74% 18,58% 26,54%Acum 30,69% 85,23% 119,66% 177,95%

7CONPUB Per 58,29% 39,99% 10,73% 15,02%Acum 58,29% 121,60% 145,38% 182,23%

8MOSAL Per 30,40% 37,83% 46,12% 52,40%Acum 30,40% 79,74% 162,64% 300,26%

9LIMB Per 28,73% 23,14% 0,25% 1,75%Acum 28,73% 58,52% 58,92% 61,70%

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As inflexões Reveladas• O primeiro a observar é o aparente “fim” da âncora verde. Enquanto o preço dos

alimentos (acompanhando a evolução do câmbio) no primeiro Lula subiu significativamente abaixo da inflação média, os alimentos sobem significativamente acima da inflação em Lula 2 e Dilma 1. O peso formal no cálculo do IPCA e o peso simbólico (em função de serem produtos básicos de consumo e aquisição diários) desta evolução não pode ser subestimada.

• O segundo aspecto interessante é o elevado crescimento dos preços no setor de serviços de livre ingresso, cujos preços sobem 41,57% no primeiro mandato de Dilma, 14,54 pontos percentuais acima do IPCA médio, cuja variação foi de 65% (27,03%) da variação do segmento.

• Dentre as 9 classes definidas por nós, apenas os salários de empregados domésticos e de trabalhadores que presetam serviços em casa sofreu variação superior ao dos serviços de livre ingresso: evolução dos serviços de livre ingresso: 52,4%.

• Igualmente notável – mas por motivos opostos - é a evolução dos preços públicos e dos tradables não alimentares de indústrias oligopolizadas (eletroeletrônicos) que cresceram significativamente abaixo da inflação média Esta evolução parece estar fortemente ligada ao controle dos preços do petróleo e às desonerações fiscais do governo Dilma 1.

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Conclusão: O Real Mudou• No início (FHC e primeiro Lula) a âncora cambial era secundada pela

salarial• Mas já no primeiro Lula a salarial perde influência e é abandonada no

segundo Lula• A necessidade de enfrentar as consequências de longo prazo da

ancoragem cambial (a desindustrialização) levou a um conjunto de experiências heterodoxas de represamento de preços de eficácia limitada

• A nova política fiscal do Governo Dilma 2 parece buscar o resgate da âncora fiscal-salarial sem abrir mão da ancoragem cambial mas com o abandono do represamento dos preços públicos e do controle de preços privados pela desoneração fiscal seletiva.

• De acordo com as premissas teóricas kaleckianas apresentadas anteriormente, acreditamos que o governo será “bem sucedido” no que diz respeito ao controle da inflação. Mas com elevados e pesados custos para a sociedade em geral e os trabalhadores em particular.

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O que fazer? • Qual a alternativa a esquerda oferece a este quadro?• Infelizmente, não conseguimos identificar nenhum projeto alternativo claro.

Pelo contrário. • Tal como procuramos denunciar no início da exposição, a esquerda vem se auto-

enredando em um debate falso centrado: 1) no realismo ou irrealismo das hipóteses subjacentes às políticas monetária e fiscal ortodoxas; 2) nas alternativas ao reequilíbrio das finanças que minimizariam os cortes nos dispêndisos (p. ex.: aumento dos impostos sobre os mais ricos.

• Esta estratégia equivale a tomar o discurso ideológico (articulado apenas para ser o que é: uma máscara farsesca encobridora dos verdadeiros fins) como um discurso passível de (porquanto aberto à) crítica.

• Do nosso ponto de vista, é preciso uma rotação de perspectiva que parte do reconhecimento: 1) dos fundamentos reais do Real nas âncoras cambial e fiscal-salarial; 2) da exaustão do Plano Real em função do peso que vem impondo à competitividade da indústria.

Page 21: A inflação Brasileira: em busca de uma alternativa à ortodoxia fiscal Carlos Águedo Paiva Foz do Iguaçu, 28-05-2015

Aos interessados• Todo o material aqui apresentado, assim como textos e trabalhos

de minha autoria que detalham a leitura apresentada nestas lâminas, encontra-se disponível em minha página, no endereço

• http://www.territoriopaiva.com/ctms/3/37/textos_para_discussao • Além de textos e tabelas, todos o banco de dados com o qual venho

operando a redefinição das classes de produtos da POF-IPCA encontra-se disponível e é acessível através de arquivos organizados de forma a tornar a manipulação das informações a mais amigável possível.

• Carlos Águedo Paiva