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A Psic Da Arte e Os Fundamentos Da Teoria Historico-cultural

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Educação

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  • InteraesISSN: [email protected] So MarcosBrasil

    Lima Guimares, MarceloA psicologia da arte e os fundamentos da teoria histrico- cultural do desenvolvimento humano

    Interaes, vol. V, nm. 9, jan-jun, 2000, pp. 73-81Universidade So Marcos

    So Paulo, Brasil

    Disponvel em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=35450906

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    Sistema de Informao CientficaRede de Revistas Cientficas da Amrica Latina, Caribe , Espanha e Portugal

    Projeto acadmico sem fins lucrativos desenvolvido no mbito da iniciativa Acesso Aberto

  • I N T E R A E SI N T E R A E SI N T E R A E SI N T E R A E SI N T E R A E SVVVVVol. 5 N 9 pp. 73-81ol. 5 N 9 pp. 73-81ol. 5 N 9 pp. 73-81ol. 5 N 9 pp. 73-81ol. 5 N 9 pp. 73-81

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    A psicologia da arte e os fundamentos da teoriaA psicologia da arte e os fundamentos da teoriaA psicologia da arte e os fundamentos da teoriaA psicologia da arte e os fundamentos da teoriaA psicologia da arte e os fundamentos da teoriahistricohistricohistricohistricohistrico-cultural do desenvolvimento humano-cultural do desenvolvimento humano-cultural do desenvolvimento humano-cultural do desenvolvimento humano-cultural do desenvolvimento humano

    MARCELOMARCELOMARCELOMARCELOMARCELOGUIMARES LIMAGUIMARES LIMAGUIMARES LIMAGUIMARES LIMAGUIMARES LIMA

    Instituto de Arte de Chicago

    RRRRResumoesumoesumoesumoesumo: A fase inicial do desenvolvimento por Vygotsky da teoria histrico-culturaldo desenvolvimento humano caracterizada pela investigao da arte, dos produtos eprocessos do comportamento rtstico. Em seus temas e metodologia, a psicologia daarte sboada por Vygotsky constitui um primeiro modelo de uma psicologia dialticaque investiga o papel central da funo semitica na vida psicolgica e as relaesfundamentais entre a realidade essencialmente socio-histrica do desenvolvimento hu-mano e as estruturas e processos da psique individual.PPPPPalavras-chavealavras-chavealavras-chavealavras-chavealavras-chave: desenvolvimento humano, psicologia, dialtica, formalismo, mar-xismo, semitica, psicologia da arte, teoria histrico-cultural.

    Psychology of art and the foundations of historical-culturalPsychology of art and the foundations of historical-culturalPsychology of art and the foundations of historical-culturalPsychology of art and the foundations of historical-culturalPsychology of art and the foundations of historical-culturaltheory of human developmenttheory of human developmenttheory of human developmenttheory of human developmenttheory of human development

    AbstractAbstractAbstractAbstractAbstract: The reflection on art, that is, on the processes and products of artisticbehaviour, marks the first phase of development of Vygotskys cultural-historical theoryof human development. Vygotskys psychology of art, in its methodological aspects andin its various themes and sub-themes, constitutes a first approach to a dialectical psychologythat investigates the fundamental role of semiotic processes in the human beingspsychological life. It investigates the fundamental relations between the essentially soci-al-historical reality of human development and the individuals psychological structuresand processes.KKKKKeywordseywordseywordseywordseywords: human development, Psychology, dialectics, Formalism, Marxism,semiotics, Psychology of Art, Cultural-Historical Theory.

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    Anoo de mediao semitica do desenvolvimento humano umadas noes centrais da teoria histrico-cultural inaugurada e desen-volvida por Vygotsky. O despertar da funo simblica, analisada prin-cipalmente atravs das modificaes que o surgimento da linguagemprovoca no comportamento e nas capacidades mentais, intelectuais eemocionais na criana, modifica qualitativamente a relao da crianacom o mundo que a cerca e consigo mesma, ao modificar, de modosistemtico, seu campo de ao possvel, seus interesses e seu comporta-mento, ao substituir as estruturas sensorio-motoras e intelectuais do pe-rodo pr-lingistico por novas combinaes de capacidades presentes epossibilidades futuras e, deste modo, modificar radicalmente a nature-za e direo do processo de desenvolvimento ele mesmo.

    O surgimento da funo simblica, da produo e manipulao designos, introduz na relao entre o sujeito e a realidade que o cerca, umterceiro elemento. O signo tem neste processo a funo de distanciar oser humano de seu contexto natural imediato, tanto em nvel externocomo em nvel interno, isto , ao automatismo da percepo e da relaoimediata estmulo-resposta, dependncia ao universo emprico imedi-atamente presente, s restries que o contexto imediato impe s for-mas de comportamento e de resoluo das tarefas de organizao dasaes necessrias sobrevivncia (em nveis individual e coletivo), amediao do signo vai contrapor a criao de um contexto operacionalnovo para o ser humano e, deste modo, possibilitar uma radical modi-ficao interna de estruturas e processos. A manipulao de signos manipulao indireta da realidade externa e interna. O processo simb-lico substitui e retarda a ao no real e contribui assim para a extensono tempo e re-orientao dos processos perceptivos e cognitivos, modi-ficando as possibilidades de interveno na realidade e, deste modo, aeficcia da ao.

    O signo tem como caracterstica o que poderamos chamar de umaalteridade dialtica: veculo do significado, substituto, elemento tercei-ro, vaso comunicante, o signo mediador de uma relao, fulcro deuma relao que a sua funo define e que, ao remeter aos seus termosfinais, entre a coisa significada e o intrprete, reproduz de um lado afuno do sujeito (doador do sentido) e aquela do objeto (possui-

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    dor de uma identidade ou significao prpria), remetendo em causaao mesmo tempo ambas, ou melhor dito, relativizando e dialetizandoos termos da relao.

    Veculo da comunicao, a estrutura dual do signo, existindo nomundo objetivo da percepo como objeto interno do significado, ocaracteriza como uma espcie de ponte entre duas realidades. O sig-no , ele mesmo, elemento de um dilogo da conscincia consigo pr-pria, como apontou Vygotsky, dilogo com seus materiais e processos.

    A mediao , de incio, relao instrumental: a criana age narealidade por intermdio do adulto. Dialeticamente, a eficcia da aoestrutura o real possvel que constitudo atravs da resposta do adulto.Este define por sua ao-reao no processo educativo a realidade dacriana. Neste sentido o primeiro dilogo o da ao. A linguagem seconstitui no universo da criana a princpio como instrumento auxiliarimediato no contexto da ao mediada. A eficcia do instrumento lin-gstico se impe primeiramente neste contexto e logo contribui paramodific-lo. O uso dos signos modifica o universo perceptivo da crian-a, modifica a relao entre as funes mentais, modifica mesmo a natu-reza dos processos mentais. O uso dos signos efetua a passagem dasfunes inferiores para as superiores caracterizadas pela sua natureza so-cial, cultural e histrica. As funes psicolgicas superiores formam-seno dilogo e nas trocas sociais e definem-se, na brilhante formulao deVygotsky, num processo de interiorizao destas relaes.

    A investigao da funo psicolgica do signo em Vygotsky temcomo origem e, de certo modo, como matriz conceitual inicial, suasinvestigaes sobre literatura e arte dramtica, que ocupam o primeiroperodo de seu desenvolvimento intelectual e conduzem o jovem inves-tigador do domnio esttico a um interesse crescente para com a psicolo-gia cientfica como chave para a compreenso de alguns aspectos cen-trais da criao artstica e do comportamento esttico. Neste sentido,examinar a psicologia da arte de Vygotsky nos auxilia a compreender oalcance da teoria histrico-cultural do desenvolvimento humano que,como teoria global, tem como meta o conhecimento do homem concre-to, visando, atravs da anlise cientfica, restituir em uma sntese dial-

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    tica o seu objeto na complexidade de suas determinaes especficas euniversais.

    A teoria de Vygotsky tem sido chamada de metapsicolgica, e ela o, efetivamente, no sentido de sua exigncia fundamental de que o co-nhecimento deve restituir a totalidade do objeto, isto , o objeto na tota-lidade concreta de suas determinaes. Exigncia que se traduz no embateconstante da psicologia com os seus prprios limites. A psicologia setorna assim cincia crtica, conhecimento de seu objeto especfico e co-nhecimento da psicologia, onde a cientificidade de uma disciplina vol-tada ao conhecimento do real humano implica na conscincia, que aperpassa a todo o momento, da relao mtua constante entre questesde fato e questes de mtodo. Na perspectiva dialtica de Vygotsky, oque hoje chamamos de interdisciplinaridade, por vezes pensada comosimples agregado de conhecimentos de fontes diversas, significa o pr-prio movimento incessante do conhecimento em direo ao real, quemodifica qualitativamente, e no simplesmente quantitativamente, aschamadas disciplinas cientficas, suas relaes, suas fronteiras, suas es-truturas internas, suas identidades, na medida em que a historicidadedo real, a realidade em processo, implica a historicidade da cincia (ouseja, dialeticamente a fuso de identidade e no-identidade do co-nhecimento, continuidade e descontinuidade do desenvolvimento ci-entfico).

    Exemplar neste sentido a investigao psicolgica da arte emVygotsky. Com todas as limitaes de uma obra inicial, de, num certosentido, um primeiro esboo de uma problemtica que se ampliarno domnio da psicologia do desenvolvimento, ela coloca claramente aexigncia dialtica de dar conta de seu objeto na totalidade visada desuas mltiplas determinaes. A psicologia da arte de Vygotsky recusa-se a reduzir seu objeto, enquadr-lo na perspectiva disciplinar (estabe-lecida num particular contexto histrico de desenvolvimento da psico-logia) que a anlise revelou claramente insuficiente. Ao contrrio, elavisa ampliar a perspectiva psicolgica levando em conta as dificuldades,insuficincias e contradies que o seu prprio objeto lhe revela e asarticulaes que se fazem, ento, necessrias entre a psicologia e os de-

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    mais domnios do conhecimento que visam, igualmente, sob perspecti-vas diversas, mltiplas, a obra de arte. Um dos aspectos mais produti-vos da psicologia da arte de Vygotsky o seu engajamento e confrontocom a teoria da arte e a crtica de arte. Especificamente, a teoria e crticade arte do formalismo russo. A crtica de Vygotsky ao formalismo extraideste, de uma perspectiva informada pelo marxismo, o seu contedode verdade. Este serve para fertilizar, ampliar a perspectiva psicolgi-ca. Neste processo delimitam-se igualmente, e de modo mais rigoroso,as competncias, perspectivas, as problemticas especficas das diferen-tes disciplinas e campos do conhecimento, sem que, no entanto, estadelimitao implique na fragmentao do objeto e do conhecimentoobjetivo.

    Do ponto de vista do marxismo, a psicologia para Vygotsky sedefine em contraposio ao estudo da ideologia. O objeto da psicologiano o produto ideolgico enquanto tal, nem mesmo o processo ideo-lgico (na medida em que ambos, produto e processo, requerem para asua compreenso uma perspectiva sociolgica geral), mas a realidadepsicolgica individual, socialmente constituda, sua estrutura e seus pro-cessos, que se constitui enquanto elemento mediador entre as formas devida, as formas de ao objetivamente estruturadas a partir da baseeconmica, domnio do inconsciente social, e a superestrutura, regula-dora auxiliar da conduta, produtora da conscincia, das identidadesvividas, esfera da ideologia como realidade objetiva em sua prpria ins-tncia. Para Vygotsky, a psicologia, assim compreendida, tem o seu lu-gar constitudo no sistema marxista do conhecimento e se articula entocom a perspectiva sociolgica, sem, contudo, nela dissolver-se.

    Para Vygotsky, se a psicologia da arte estuda o comportamento est-tico, englobando tanto a produo quanto a recepo da obra de arte,seu objeto se destaca do fundo de experincias vividas, da complexida-de dos processos e funes psicolgicas diversas (cognitivas, perceptu-ais, emocionais), dos seus mltiplos aspectos contextuais, materiais di-versos, condies e condicionamentos objetivos (sociais, culturais, ideo-lgicos), da multiplicidade e heterogeneidade envolvidas na experin-cia artstica real. O objeto da psicologia da arte a estrutura psicolgi-

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    ca da obra, que se distingue daquela dos sujeitos, produtor ou consu-midor da arte, na medida em que atravs dela possvel isolar os ele-mentos e processos psicolgicos puros do comportamento esttico.No se trata de subjetificar a obra de arte (que no , obviamente, por-tadora de uma psique prpria), mas de objetificar a experincia estticapor meio de um construto que vai permitir o exame da obra de artecomo sistema de estmulos especfico.

    Aqui, a dimenso semitica da anlise vygotskyana da arte, se arti-cula e se redimensiona, naquilo que constitui a originalidade da psico-logia histrico-cultural: a considerao da gnese, fundamentao e de-senvolvimento social e histrico da funo semitica. Atravs desta di-menso semitica, a psicologia se descobre ela prpria como cincia darealidade scio-histrica do homem, abarcando de seu ponto de vistaespecfico produtos e processos objetivos na considerao dos sistemassemiticos diversos da linguagem, das artes, das tcnicas, em suma, dacultura como processo histrico de autoformao da espcie. A realida-de significada o meio do desenvolvimento psicolgico do sujeito.

    Na anlise da obra de arte, a funo do signo artstico se revela,para Vygotsky, como a de socializar a emoo, de trazer ao crculo davida social os aspectos mais ntimos da experincia humana (Vygotsky,1976). A arte , na definio de Vygotsky, a tcnica social da emoo.A noo da arte como tcnica nos remete ao formalismo russo, onde adefinio da arte como tcnica ou procedimento se relaciona noofundamental do estranhamento como efeito essencial da obra de arte. Oestranhamento igualmente meio e objetivo do procedimento artstico.

    A obra de arte tem como funo restituir enquanto atividade a rela-o do sujeito sensvel com o real, relao cuja tendncia na vida cotidi-ana a constituir-se como passividade, constante, em grande parte fun-o do hbito, da rotina e da pobreza sensvel da vida contempornea.Contra a reificao da sensibilidade, a arte para os formalistas russos experincia incomum, que visa desfamiliarizar o real e, deste modo,forar a reestruturao da experincia do sujeito. A pertinncia do ques-tionamento pelos formalistas frente aos erros categoriais das concepestradicionais da arte reconhecida por Vygotsky. Ao insurgir-se efeti-

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    vamente contra, entre outros, a sociologia vulgar, o sociologismo, e apsicologia vulgar, o psicologismo (que inclui o sentimentalismo) nainterpretao da obra de arte, o formalismo se empenha no bom comba-te. Malgrado sua eficcia polmica, as limitaes do pensamento for-malista, a concepo demasiado restrita das relaes entre a arte e seuoutro, terminam, no entanto, por isolar a arte de seu solo cultural.Para os formalistas, a forma (enquanto estrutura ou processo de estrutu-rao) da obra de arte o elemento que define, diferencia o domnio daarte e seus efeitos. A matria ou contedo da obra de arte (o elemento daexperincia vivida como tal, ou os contedos culturais, incluindo oscontedos cognitivos) elemento subordinado, auxiliar, elemento pas-sivo e, em certo sentido, indiferente para a determinao essencial daobra e seu efeito artstico essencial: o estranhamento. Podemos dizerque a noo formalista de estranhamento redimensionada em Vygotskye est na gnese da sua explicao dos efeitos e da contribuio da expe-rincia esttica na vida emocional do sujeito.

    Podemos dizer que, assim como o signo lingstico o pensamen-to tornado virtual, isto , disponibilizado e, portanto redimensionadono seu fundamento temporal e sua eficcia, o signo artstico signovirtual da emoo. A emoo formalizada , no simplesmente a emo-o vivida, mas emoo objetificada, (identificada e, igualmente, trans-formada, generalizada, vivida novamente e, ao mesmo tempo, comoemoo indita); ela emoo disponibilizada (virtualizada), objetopossvel de um conhecimento sui generis que se integra ao processo soci-al de autoconhecimento do sujeito. Neste sentido, a arte , para Vygotsky,a organizao do comportamento futuro, seu efeito na vida emocio-nal no nunca um efeito instrumental imediato, mas sempre indireto(processo no tempo), efeito de mediao do subjetivo pela forma en-quanto matria formalizada. Neste sentido, a arte igualmente media-o da natureza na cultura, e da cultura na natureza.

    O choque sensvel da obra de arte na concepo formalista, reela-borado na psicologia da arte de Vygotsky enquanto conflito emocionalentre a forma (estrutura) e o contedo (matria). A emoo na obra dizrespeito no simplesmente ao contedo (significado), mas igualmen-

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    te forma (significante), na medida em que a integrao entre am-bos os aspectos da obra, a adequao da forma ao contedo e vice-versa,onde a esttica clssica enxergou o princpio de harmonia da obra, serevela, na verdade, como processo conflitivo (ou seja, dialtico) na me-dida em que a dimenso emocional da obra no simplesmente umapropriedade exclusiva do contedo (por exemplo, dos eventos na narra-tiva), mas a forma, ela mesma, traz em si o seu prprio significadoemocional, independente do contedo (por exemplo, no modo deapresentao dos eventos na narrativa).

    O choque emocional da obra de arte (que Vygotsky identifica experincia da catarse) contribui para redimensionar a experincia emo-cional do sujeito. Aqui importante salientar que, ao falarmos em cho-que, no nos referimos intensidade da emoo por si mesma, mas auma qualidade especfica desta no processo de apreciao esttica. Acatarse artstica igualmente superao do conflito, sntese emocional,que tem por objetivo liberar energias emocionais suplementares (de ori-gem tanto biolgica quanto social) que, segundo Vygotsky, no encon-tram vazo na vida cotidiana. Atravs da arte se estrutura e se manifestaa sobrevida individual, isto , aquela dimenso de possibilidades do serhumano individual (por exemplo, na energia excedente de fundo bio-lgico) em contraste e, ao mesmo tempo, interligada vida atualizada.

    Assim, a noo da mediao semitica do desenvolvimento psico-lgico em Vygotsky engloba no apenas as funes cognitivas, masigualmente a dimenso afetiva, os sistemas de relao e de ao. O papelda imaginao criadora evidente nos produtos da cincia, das tcnicase das artes. A vida imaginativa na arte diz respeito plasticidade domundo interior, das estruturas internas do sujeito. Dialeticamente, o serhumano capaz de transformar o meio, de humanizar a natureza, por-que capaz de transformar-se a si mesmo. Esta transformao no sedaria sem o concurso da arte.

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    BibliografiaBibliografiaBibliografiaBibliografiaBibliografiaVYGOTSKY, L. S. (1976) Psicologia dellArte, trad. Agostino Villa, Roma: Editori

    Riuniti.

    MARCELO GUIMARES LIMAMARCELO GUIMARES LIMAMARCELO GUIMARES LIMAMARCELO GUIMARES LIMAMARCELO GUIMARES LIMA

    e-mail: [email protected]

    Recebido em 28/03/2000