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8/11/2019 Aavv, Joseph Campbell - Os Primeiros Contadores de Histórias http://slidepdf.com/reader/full/aavv-joseph-campbell-os-primeiros-contadores-de-historias 1/9 Os Primeiros Contadores de Histórias Os Primeiros Contadores de Histórias  Joseph Campbell Extraído do Documentário exibido na TV Cultura em 03 de novembro de 2004 Transcri!"o de Val#ria $i%ue& ' valeriami%ue&(%lobocom  Os mensageiros animais do Poder Oculto já não servem mais como nos tempos antigos para ensinar e guiar a humanidade.  Hoje os ursos, leões, elefantes e gazelas estão em jaulas nos zoológicos. O homem não é mais um recémchegado num mundo de florestas virgens! os vizinhos não são mais animais selvagens, mas sim outros humanos "ue lutam por espa#os num planeta "ue gira em torno de uma estrela de fogo.  $ão vivemos mais no corpo nem no esp%rito no mundo dos ca#adores da era paleol%tica, mas devemos a eles& as suas vidas, a maneira de viver, a forma do nosso corpo e a estrutura da nossa mente.  ' lem(ran#a dos mensageiros animais ainda deve continuar adormecida dentro de nós, pois ela desperta "uando nos aventuramos numa região selvagem. )la acorda aterrorizada "uando ouvimos um trovão. ) desperta com uma sensa#ão de reconhecimento "uando entramos nas grandes cavernas com  pinturas rupestres.  *uais"uer "ue fossem as trevas interiores onde os feiticeiros dessas cavernas devem e+istir dentro de nós e todas as noites nós as visitamos em sonhos.  )J Campbell* +, -oder do $ito+.   /s pinturas rupestres deixadas por nossos ancestrais mostram como os ca!adores dessas tribos primitivas eram inluenciados pela nature&a e por sentimentos reli%iosos para com os animais1 pois dependiam deles para sua alimenta!"o Eles contavam histrias sobre eles e o mundo sobrenatural para onde parecia ir uando morriam E os ca!adores reali&avam rituais para os espíritos dos animais ue partiam1 tentando convenc'los a voltar e serem sacriicados de novo  Joseph Campbell dedicou sua vida ao estudo desses mitos e rituais -ara ele1 n"o eram apenas histrias divertidas contadas em torno de anti%as o%ueiras1 mas poderosos %uias para a vida espiritual Como pesuisador e proessor1 Campbell se interessou pelas pe!as do $useu /mericano de 5istorio 6atural e estudou muitas culturas do mundo inteiro Ele disse7  +*uando ouvimos os a(racada(ras de curandeiro do ongo, ou tentamos penetrar numa árdua argumenta#ão de -ão omás de '"uino, ou perce(emos o significado de um estranho conto de fadas dos es"uimós estamos ouvindo os ecos da primeira história+  6esta entrevista ue %ravei com Campbell nos dois 8ltimos anos de sua vida1 conversamos sobre a rela!"o entre as primeiras histrias e uem as contava Como elas ns a&emos rituais para representar o ue 9ul%amos existir no outro mundo e tentamos harmoni&ar nosso corpo com a morte ue # seu destino  ):ill $o;ers.  Os Primeiros Contadores de Histórias )Joseph Campbell.   <, ue nossas almas devem aos mitos anti%os=  <,s mitos anti%os oram concebidos para colocar a mente1 o sistema mental de acordo com o sistema corporal com a heran!a do nosso corpo / mente pode diva%ar de mil ormas estranhas e uerer coisas ue o corpo n"o uer E os mitos e rituais eram meios de colocar a mente de acordo com o corpo e a maneira de viver de acordo com a nature&a  <Ent"o as histrias anti%as ainda vivem em ns=  <>im E os está%ios do desenvolvimento humano s"o i%uais1 tanto ho9e como nos tempos anti%os / crian!a # educada num ambiente de disciplina1 obedincia e dependncia* e ela tem de transcender tudo isso ao che%ar a maturidade e viver responsabilidade prpria E esse problema da transi!"o da in?ncia @ maturidade1 e depois da maturidade para uma ase de perder os poderes1 de aceitar o curso natural das coisas1 o outono da vida e depois a morte1 os mitos est"o aí nisso para nos a9udar a aceitar a nature&a como ela #1 n"o nos ape%armos a outras coisas  <-ara mim as histrias s"o como mensa%ens dentro das %arraas1 vindas de praias distantes ue al%u#m 9á visitou  <>im E a%ora # voc uem visita essas praias  <E esses mitos me di&em como outras pessoas i&eram a passa%em e como eu posso a&e'la

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Os Primeiros Contadores de HistóriasOs Primeiros Contadores de Histórias Joseph CampbellExtraído do Documentário exibido na TV Cultura em 03 de novembro de 2004Transcri!"o de Val#ria $i%ue& ' valeriami%ue&(%lobocom 

Os mensageiros animais do Poder Oculto já não servem mais como nos tempos antigos paraensinar e guiar a humanidade.

  Hoje os ursos, leões, elefantes e gazelas estão em jaulas nos zoológicos. O homem não é mais umrecémchegado num mundo de florestas virgens! os vizinhos não são mais animais selvagens, mas simoutros humanos "ue lutam por espa#os num planeta "ue gira em torno de uma estrela de fogo.  $ão vivemos mais no corpo nem no esp%rito no mundo dos ca#adores da era paleol%tica, masdevemos a eles& as suas vidas, a maneira de viver, a forma do nosso corpo e a estrutura da nossamente.  ' lem(ran#a dos mensageiros animais ainda deve continuar adormecida dentro de nós, pois eladesperta "uando nos aventuramos numa região selvagem. )la acorda aterrorizada "uando ouvimos umtrovão. ) desperta com uma sensa#ão de reconhecimento "uando entramos nas grandes cavernas com pinturas rupestres.  *uais"uer "ue fossem as trevas interiores onde os feiticeiros dessas cavernas devem e+istir dentrode nós e todas as noites nós as visitamos em sonhos.

  )J Campbell* +, -oder do $ito+.  /s pinturas rupestres deixadas por nossos ancestrais mostram como os ca!adores dessas tribos

primitivas eram inluenciados pela nature&a e por sentimentos reli%iosos para com os animais1 poisdependiam deles para sua alimenta!"o Eles contavam histrias sobre eles e o mundo sobrenaturalpara onde parecia ir uando morriam E os ca!adores reali&avam rituais para os espíritos dos animaisue partiam1 tentando convenc'los a voltar e serem sacriicados de novo  Joseph Campbell dedicou sua vida ao estudo desses mitos e rituais -ara ele1 n"o eram apenashistrias divertidas contadas em torno de anti%as o%ueiras1 mas poderosos %uias para a vida espiritualComo pesuisador e proessor1 Campbell se interessou pelas pe!as do $useu /mericano de 5istorio6atural e estudou muitas culturas do mundo inteiro Ele disse7  +*uando ouvimos os a(racada(ras de curandeiro do ongo, ou tentamos penetrar numa árdua

argumenta#ão de -ão omás de '"uino, ou perce(emos o significado de um estranho conto de fadasdos es"uimós estamos ouvindo os ecos da primeira história+  6esta entrevista ue %ravei com Campbell nos dois 8ltimos anos de sua vida1 conversamos sobre arela!"o entre as primeiras histrias e uem as contava Como elas ns a&emos rituais para representar o ue 9ul%amos existir no outro mundo e tentamos harmoni&ar nosso corpo com a morte ue # seudestino  ):ill $o;ers. 

Os Primeiros Contadores de Histórias )Joseph Campbell.  <, ue nossas almas devem aos mitos anti%os= <,s mitos anti%os oram concebidos para colocar a mente1 o sistema mental de acordo com o sistemacorporal com a heran!a do nosso corpo / mente pode diva%ar de mil ormas estranhas e uerer coisasue o corpo n"o uer E os mitos e rituais eram meios de colocar a mente de acordo com o corpo e amaneira de viver de acordo com a nature&a <Ent"o as histrias anti%as ainda vivem em ns= <>im E os está%ios do desenvolvimento humano s"o i%uais1 tanto ho9e como nos tempos anti%os /crian!a # educada num ambiente de disciplina1 obedincia e dependncia* e ela tem de transcender tudo isso ao che%ar a maturidade e viver responsabilidade prpria E esse problema da transi!"o dain?ncia @ maturidade1 e depois da maturidade para uma ase de perder os poderes1 de aceitar o cursonatural das coisas1 o outono da vida e depois a morte1 os mitos est"o aí nisso para nos a9udar a aceitar a nature&a como ela #1 n"o nos ape%armos a outras coisas

 <-ara mim as histrias s"o como mensa%ens dentro das %arraas1 vindas de praias distantes ueal%u#m 9á visitou <>im E a%ora # voc uem visita essas praias <E esses mitos me di&em como outras pessoas i&eram a passa%em e como eu posso a&e'la

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 <E tamb#m mostra o ue # belo pelo caminho Eu mesmo sinto isso a%ora ue estou vivendo meus8ltimos anos ,s mitos me a9udam a a&er essa passa%em <Aue tipo de mito= De um exemplo de ummito ue o tenha realmente a9udado </ tradi!"o da Bndia em ue ao passar de um esta%io de vida para outro voc muda por completo a suamaneira de vestir e at# seu nome Auando me aposentei do ma%ist#rio sabia ue precisava criar umanova orma de vida* e mudei meu conceito de vida em un!"o disto deixando para trás a estrela dasreali&a!es e entrando no mundo do pra&er1 da aprecia!"o1 do relaxamento* percebendo as maravilhasue nos cercam

 <E depois1 há a passa%em inal pela porta escura= <:em1 isso n"o # problema nenhum , problema # na meia'idade1 uando o corpo atin%iu o au%e daor!a e come!a a perde'la /í voc tem ue se identiicar n"o com o corpo ue está come!ando adecair1 mas com a conscincia da ual ele # um veículo sso # al%o ue eu aprendi com os mitos+Auem sou eu=+ +>ou a l?mpada ue leva a lu& ou sou a lu& da ual a l?mpada # um veículo=+ Estecorpo # um veículo da conscincia e se voc se identiica com a conscincia pode observar seu corpodecair como um carro velho $as # al%o ue voc 9á espera aos poucos* a coisa toda se desinte%ra e aconscincia reencontra a conscincia Ela n"o está mais neste ambiente aui <E os mitos1 as histrias ue trouxeram essa conscincia <E convivo com esses mitos e eles me di&em para a&er assim o tempo todo sso pode ser entendidometaoricamente identiicando'se com o Cristo dentro de ns e o Cristo ue está em ns n"o morre Elesobrevive @ morte e ressuscita ,u ent"o voc pode identiicar'se com >hiva Eu sou >hiva Essa # a%rande medita!"o dos io%ues no 5imalaia E n"o # preciso ter uma ima%em metarica como essa sevoc tem uma mente disposta a relaxar e se identiicar com auilo ue a a& uncionar <, >r está di&endo ue a ima%em da morte # o come!o da mitolo%ia Em ue sentido= <> posso di&er ue a prova mais anti%a ue temos de al%o parecido com o pensamento mitol%icoestá associada aos enterros e aos t8mulos <E o ue su%erem esses enterros= Aue os homens e mulheres viam a vida e de repente n"o a viammais e assim come!avam a pensar sobre tudo isso= <Deve ter sido isso :asta ima%inar como seria nossa prpria experincia nesse caso / pessoa estavaali viva1 uente1 conversando e a%ora está lá1 deitada1 ria1 apodrecendo 5avia nela al%uma coisa uen"o está mais ali e onde está ent"o= ,s animais tamb#m passam por essa experincia de ver seuscompanheiros morrerem1 mas n"o há nenhuma prova de ue eles relitam sobre isso E antes da era do

homem de 6eanderthal # neste período ue come!am a aparecer os primeiros enterros ueconhecemos* as pessoas morriam e eram simplesmente 9o%adas ora1 mas daí sur%e uma preocupa!"o <, >r 9á visitou al%umas dessas tumbas= <Estive em Fe $oustier1 uma das primeiras cavernas unerárias 9á encontradas <E lá estavam as coisas ue oram enterradas 9unto com o morto= <>im1 essas tumbas com ob9etos unerários1 armas e ob9etos sacriiciais em torno do morto su%erem aid#ia da continua!"o para al#m desta vida visível 6a primeira tumba descoberta1 um menino oicolocado como se estivesse dormindo1 com uma bela machadinha ao lado $as tamb#m há sarca%ospara animais ca!ados Estes sarca%os1 em especial os ue icam nos /lpes s"o cavernas muito altase cont#m cr?nios de ursos das cavernas 5á um muito interessante com os ossos lon%os de um urso dacaverna eniados dentro do seu maxilar <, ue isso si%niica=

 <Gm enterro $eu ami%o morreu e sobrevive* os animais ue matei tamb#m tm ue sobreviver-reciso a&er um tipo de expia!"o para com eles Tudo aponta para a no!"o de um plano de existnciaue há atrás do plano invisível e ue de al%uma orma sustenta o plano visível com o ual nosrelacionamos Esse # o tema básico de toda a mitolo%ia </ existncia de um outro mundo= </ existncia de um plano invisível ue sustenta o plano visível >e esse plano # considerado um outromundo ou simplesmente uma ener%ia* isso diere conorme a #poca e o lu%ar <, ue n"o conhecemos sustenta o ue conhecemos= <>im Eu diria ue o mito básico da ca!a # uma esp#cie de alian!a entre o mundo animal e o humano1pelo ual o animal dá sua vida de bom %rado Em %eral o animal # visto como uma vítima voluntáriacom o pressuposto de ue a sua vida ue transcende a sua existncia ísica será devolvida ao solo ou am"e atrav#s de um ritual de reinte%ra!"o E os principais rituais e as principais divindades s"o

associados ao principal animal de ca!a1 o animal'chee1 ue envia seu rebanho para ser morto -ara osíndios das planícies americanas era o b8alo 6a costa noroeste da /m#rica # o salm"o* as %randesestas tm a ver com a che%ada do salm"o 6a Hrica do >ul # o elá1 o %rande antílope* o principalanimal dos bosuímanos

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 <E o animal'chee <I o ue ornece o alimento <Ent"o entre os homens e os animais sur%iu um veículo ue exi%e ue um se9a consumido pelo outro </ssim # a vida <sso perturbava o homem primitivo= <>em d8vida1 e # por isso ue havia os ritos <Aue tipos de ritos eram esses= <itos de apa&i%uamento1 de a%radecimento ao animal Tamb#m há a identiica!"o do ca!ador com o

animal <Depois ue ele oi morto= <Depois ue ele oi morto o ca!ado precisa executar certos ritos* uma esp#cie de participa!"o místicacom os animais cu9a morte ele ocasionou e cu9a carne se tornará a sua vida /ssim a ca!a n"o #simplesmente uma matan!a1 # um ato ritual I um reconhecimento da nossa dependncia e doconsentimento voluntário do animal em lhe dar o alimento I uma coisa muito bonita e transorma a vidanuma experincia mitol%ica <E a ca!a se transorma em u= <6um ritual / ca!a # um ritual / ca!a # um ritual <I uma esperan!a de ressurrei!"o* o animal era o alimento e voc precisa ue ele volte <I um tipo de respeito pelo animal ue oi morto sso # o ue mais me impressiona nesse sistema decerimKnia de ca!a <espeito pelo animal <$ais do ue respeito1 o animal se torna um mensa%eiro do poder divino <Voc acaba sendo o ca!ador ue mata o mensa%eiro <, ca!ador ue mata o deus <E isso causa culpa= </ culpa # 9ustamente auilo ue o mito apa%a 6"o oi um ato pessoal* voc está executando um atoda nature&a -or exemplo1 em 5oLaido1 no norte do Jap"o1 entre o povo /inu cu9a principal divindade #o urso da montanha1 uando se mata um urso há uma cerimKnia de lhe servir um banuete com suaprpria carne no 9antar e há uma conversa entre o deus da montanha1 o urso e o povo Di&em7 + -e voc/nos der o privilegio de rece(elo de novo, nós lhe daremos o privilégio do sacrif%cio de um outro urso+ <>e o urso da montanha n"o osse apa&i%uado os animais n"o apareceriam e esses ca!adores

primitivos morreriam de ome Ent"o eles come!aram a perceber ue havia al%um poder de ue elesdependiam* um poder maior ue o deles <E # esse poder do animal'chee 6s mesmos1 uando nos sentamos @ mesa a%radecemos a Deus1ou @ nossa id#ia de Deus por nos dar esse alimento /ueles povos a%radeciam ao animal <E essa # a primeira prova ue temos de um ato de adora!"o= / um poder superior ao do homem= E oanimal era superior porue ornecia a comida <5á aui um contraste com a nossa rela!"o com os animais Vemos os animais como uma ormainerior de vida* e a :íblia di& ue somos superiores1 etc ,s povos ca!adores primitivos n"o tm essarela!"o com o animal Em muitos aspectos o animal # superior Ele tem poderes ue o ser humano n"otem <E certos animais aduirem uma personalidade7 o b8alo1 o corvo1 a á%uia <>im1 e muito orte Mi& uma via%em pela costa noroeste1 em NO321 uma via%em maravilhosa e ali os

índios ainda esculpiam totens /s aldeias índias tinham totens novos Vimos os corvos1 as á%uias1 osanimais ue atuavam nos seus mitos Eles tinham o caráter1 as ualidades desses animais Era umconhecimento muito íntimo e eles tinham uma rela!"o amistosa de boa vi&inhan!a com essas criaturasE @ ve&es eles matavam al%uma delas -or aí voc v

, animal tinha al%o a ver com a orma!"o dos mitos desses povos* da mesma orma ue o b8alorepresentou um papel muito importante para os índios americanos I o b8alo ue lhes tra&ia o tabaco1o cachimbo místico E uando o animal se torna o modelo de como viver <Fembra'se da histria da mulher do b8alo= <I uma lenda básica da tribo :lacLoot ue ori%inou seu ritual da dan!a dos b8alos onde eles invocama coopera!"o dos animais no 9o%o da vida >e voc levar em conta o tamanho de al%umas dessas tribospercebe ue para alimenta'los era preciso muita carne E uma orma de ter carne para o inverno eraa&er estourar uma manada de b8alos e a&e'los cair do alto de um rochedo Essa histria se passa

com a tribo :lacLoot muito tempo atrás Eles n"o conse%uiam a&er os b8alos cair do penhasco* osanimais se aproximavam e se desviavam Eles n"o iam conse%uir carne para o inverno

Certa manh" uma mocinha de uma das cabanas vai buscar á%ua no po!o para a amília E ela di&7+ 'h, se voc/s ca%ssem eu me casaria com um de voc/s+ E para sua surpresa eles todos vm e

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come!am a despencar Essa oi a NP surpresa / 2P surpresa oi uando um dos b8alos velhos1 oeiticeiro do rebanho1 di&7 +udo (em, voc/ vem comigo+ Ela di&7 + 'h, não+ Ele di&7 +-im, voc/ prometeu. $ós cumprimos as nossas parte, minha fam%lia está morta lá em(ai+o. 'gora voc/ virácomigo+ De manh"1 a amília dela acorda e cad a $inehaha= , pai procura e di&7 +)la fugiu com um(0falo+ Ele percebe pelas pe%adas Ent"o di&7 +1ou (uscala+ Cal!a seus mocassins1 seu arco e lechae vai para a planície Depois de caminhar bastante ica com vontade de descansar e che%a a um lu%ar chamado Charco dos :8alos1 onde os animais %ostam de vir rolar na lama para se rerescar e se livrar dos piolhos /li come!a a pensar no ue a&er uando che%a uma pe%a* # um pássaro de pluma%em

vistosa ue tem dons especiais <Aualidades má%icas <>im1 má%icas  E o homem lhe di&7 +Oh, (elo pássaro minha filha fugiu com um (0falo. 1oc/ a viu2 Poderiaencontrala nessa plan%cie=+ Ele responde7 +1i uma linda garota junto com os (0falos perto da"ui + E ohomem di&7 +1oc/ poderia ir até lá e dizer a ela "ue seu pai está a"ui =+ , pássaro voa at# a %arota nomeio dos b8alos ue est"o dormindo 6"o sei o ue ela estava a&endo1 tricK ou al%o assim , pássaroche%a e di&7 +-eu pai está lá no harco esperando por voc/+ Di& ela7 +3sso é terr%vel! é muito perigoso4 )sses (0falos podem nos matar. 5iga a ele "ue me espere, vou dar um jeito+ Ent"o seu marido b8aloacorda1 tira um dos chires e lhe di&7 +1á até o harco (uscar água para mim+ Ela pe%a o chire1 vai at#o Charco e lá está seu pai Ele lhe di&7 +1enha+ Ela di&7 +$ão, é muito perigoso. O re(anho inteiro vai nos perseguir. 'charei um jeito! agora me dei+e voltar + Ela apanha á%ua e volta >eu marido b8alo di&7+6i, fá, fo sinto um cheiro de %ndio + Ela di&7 +$ada disso+ E ele di&7 +-im, com certeza+ Ele dá ummu%ido de b8alo1 todos se levantam e a&em uma dan!a lenta1 com os rabos levantados V"o at# oCharco e pisoteiam o pobre homem at# ele desaparecer* icar em pedacinhos / %arota chora e seumarido b8alo di&7 +1oc/ está chorando=+ +)sse é o meu pai +1 di& ela + 'h é2 ) nós2 'li estão nossosfilhos, mulheres, pais! todos mortos. ) voc/ a"ui chorando pelo seu pai +1 di& ele $as parece ue eleera bon&inho* ica com pena e di&7 +-e voc/ conseguir trazer seu pai de volta 7 vida, eu a dei+o ir em(ora+ Ent"o ela di& ao pássaro7 +Procure pelo chão e veja se encontra um pedacinho do meu pai + ,pássaro vai ciscando e acaba tra&endo um ossinho E a %arota di&7 +3sso já (asta. 1amos colocar issoa"ui no chão+* ela coloca o cobertor sobre o ossinho e canta uma can!"o má%ica1 de %rande poder Eve9a s1 um homem debaixo do cobertor Ela olha1 # seu pai1 mas ainda n"o está respirando Elacontinua cantando* ele ica de p# e os b8alos icam espantadíssimos Di&em7 +Por "ue voc/ não faz 

isso por nós2 $ós ensinaremos vossa dan#a e depois "ue voc/s matarem nossas fam%lias, voc/ dan#a,canta essa can#ão e nós voltaremos 7 vida+ Esta # a id#ia básica7 ue atrav#s do ritual se alcan!a adimens"o ue transcende a temporalidade1 a dimens"o de onde vem a vida e para onde volta <E volta toda essa id#ia de morte1 enterro e ressurrei!"o n"o s para os seres humanos= <-ara os animais tamb#m <Ent"o essa histria conirmava essa reverncia <sso mesmo <E o ue aconteceu uando o homem branco che%ou e matou esse animal reverenciado= <Eles violaram al%o sa%rado sso aconteceu nos anos Q0 uando come!ou a ca!a ao b8alo com RitCarson <Em NQQ01 cem anos atrás <>im1 com :8alo :ill1 etc Auando eu era %aroto e andava de tren usava casacos de pelo de b8alo

Era b8alo por todo lado E esse era o animal sa%rado para os índios /í vm os ca!adores comespin%ardas de repeti!"o1 matam o rebanho inteiro e deixam os animais ali Tiravam a pele para vender e deixavam o corpo apodrecer -ara os índios isso era sacril#%io* realmente era um sacril#%io <$udaram o b8alo de +vs+ <Em +isso+ <,s índios se diri%iam aos b8alos por +vs+1 como um ser reverenciado= <Eles tratavam por +vs+ todas as ormas de vida7 árvores1 pedras1 tudo Voc pode chamar al%umacoisa de +vs+ e notará a mudan!a ue isso trás na sua psicolo%ia , e%o ue v um +vs+ n"o # omesmo ue v um +isso+ Toda a sua psicolo%ia muda uando voc se reere @s coisas como +isso+ Euando um povo vai @ %uerra o problema dos 9ornais # transormar essas pessoas em mero +isso+1 deorma ue elas n"o se9am +vs+ <Moi um momento incrível na evolu!"o da sociedade americana a matan!a dos b8alos Moi o ponto de

exclama!"o inal depois da destrui!"o da civili&a!"o dos índios porue a estavam destruindo <Voc ima%ina o ue oi essa experincia para um povo= 6o espa!o de de& anos perder seu meio'ambiente1 perder o ob9eto central da sua vida ritual=

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 <Moi nessa #poca dos ca!adores ue os seres humanos come!aram a sentir ue sua ima%ina!"omística se a%itava ao sentir o mist#rio das coisas ue eles n"o conheciam= <5avia uma explos"o de a!es artísticas ma%níicas1 parecia ue a ima%ina!"o mística estava empleno vi%or <, >r visitou al%umas das %randes cavernas europ#ias com pinturas rupestres , ue sentiu uandoviu essas cavernas subterr?neas= </ %ente n"o tem vontade de ir embora Voc entra numa c?mara enorme como uma %rande catedral1com muitos animais pintados E pintado com tanta vida com auela vivide& da tinta sobre seda ue há

nas pinturas 9aponesas E se dá conta de ue a escurid"o # inconcebível 6s estávamos lá com lu&el#trica1 mas em al%uns momentos o %uia desli%ou a lu& e voc nunca viu uma escurid"o t"o ne%ra emtoda a sua vida I um ne%rume absoluto1 voc n"o sabe onde está1 n"o sabe se está olhando para onorte1 sul1 leste ou oeste / %ente perde toda a orienta!"o* # uma escurid"o ue 9amais viu lu& do diaDaí eles acendem a lu& outra ve& e voc v esses animais pintados* uma %lria Gm touro de uns seismetros de comprimento pintado de tal orma ue as ancas s"o representada por uma salincia napedra* eles tomavam isso tudo em considera!"o I incrível <, >r olha esses ob9etos de arte primitiva e n"o pensa na arte1 mas sim no homem ou na mulher ueestava ali pintando1 criando= <>im1 # impressionante , ue passava pela cabe!a deles uando a&iam auilo= E s"o coisas diíceisde a&er Como cha%avam at# lá= Como enxer%avam= Aue tipos de ilumina!"o tinham= >erá ue sumas tocha&inhas de lu& permitiam a&er al%o de tanta %ra!a e perei!"o= E em rela!"o ao problema dabele&a1 será ue essa bele&a era intencional ou a express"o natural de um espírito belo= Entende o ueeu uero di&er= Auando voc ouve um pássaro cantar a bele&a do canto será intencional= E intencionalem ue sentido= I a express"o do pássaro a bele&a do espírito do pássaro -enso nisso em rela!"o @arte rupestre >e oi uma inten!"o do artista o ue chamamos de +est#tica+ ou at# ue ponto erasimplesmente al%o ue eles aprenderam a a&er dauele 9eito= Este # um ponto diícil Auando umaaranha tece uma bela teia1 a bele&a vem da prpria nature&a da aranha* # uma bele&a instintiva Euanto da bele&a da nossa prpria vida # a bele&a de estar vivo e uanto # uma inten!"o consciente=Essa # uma per%unta importante <Essas cavernas s"o chamadas de cavernas'templos= <,s templos com ima%ens e vitrais coloridos1 as catedrais1 s"o uma paisa%em da alma Voc entra nummundo de ima%ens espirituais Auando ui com minha mulher at# auela re%i"o da Mran!a ns paramos

na Catedral de Chartes E ue catedral Auando voc entra1 a catedral # a m"e1 o 8tero da sua vidaespiritual ' a $"e %re9a /s ormas si%niicam valores espirituais e as ima%ens tm ormasantropomricas7 Deus1 Jesus1 os >antos* tudo em orma humana <Em orma humana <>e%uimos para Fascaux Fá as ima%ens eram em orma animal / orma # secundária* a mensa%em #importante <E ual # a mensa%em da caverna= </ mensa%em da caverna # uma rela!"o do tempo com os poderes eternos* ue de al%uma orma deveser experimentada nauele lu%ar Auando se está numa caverna dauelas há uma estranhatransorma!"o da conscincia -arece ue auilo # o 8tero* # o lu%ar de onde vem a vida e o mundo láora1 a lu& do dia # um mundo secundário* este aui # o primário I uma sensa!"o avassaladora <, >r sentiu isso lá=

 <Tive todas @s ve&es /%ora1 ual seria o uso dessas cavernas= / explica!"o mais comum entre osestudiosos # ue tinham a ver com a inicia!"o dos rapa&es na ca!a Voc entra lá e # muito peri%oso Itotalmente escuro e rio Voc bate a cabe!a nas salincias o tempo todo* # um lu%ar de medo E osrapa&es tinham ue dominar essa sensa!"o e entrar no ventre da terra E o Sam" ou uem ue osestivesse levando n"o ia acilitar as coisas <E aí vinha uma sensa!"o de alívio uando se entrava nauela caverna1 lá embaixo1 iluminada por tochas A ue será ue a tribo ou a tradi!"o estava tentando di&er ao rapa&= <Aue este # o ventre da terra de onde vm todos os animais E os rituais lá embaixo tentavam criar umasitua!"o propícia para a ca!a ,s rapa&es deviam aprender n"o s como ca!ar1 mas como respeitar osanimais1 ue animais executar e como deixar de ser crian!as e se tornar homens -ois as ca!adaseram muito peri%osas e esses eram os santuários rituais dos homens onde o menino deixava de ser ilho de sua m"e para se tornar ilho de seu pai

 <Aue eeito isso teria nos rapa&es= <sso existe ainda ho9e em culturas ue ainda tm rituais de inicia!"o para os meninos Dá a ele umaprova um teste terrível* o 9ovem tem ue sobreviver e com isso se tornar um homem

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 <, ue aconteceria se eu osse crian!a num ritual desses= <>abemos como # na /ustrália Auando um menino ica impossível de se lidar* num belo dia1 est"o nusexceto por umas aixas de penu%em brancas coladas no corpo* listas eitas de san%ue Eles usam seuprprio san%ue para colar a penu%em E che%am tocando &unidores* instrumentos ue s"o as vo&esdos espíritos* eles che%am como espíritos , menino tenta se reu%iar com a m"e* ela in%e ue tentaprote%'lo1 mas os homens simplesmente levam'no embora* a m"e 9á n"o serve mais dali em dianteEle 9á n"o # mais um menininho* a%ora pertence ao %rupo dos homens* e eles o a&em passar por umaprova realmente diícil /ssim s"o os ritos de circuncis"o1 subincisao1 etc

 <E o ob9etivo # transorma'lo num membro da tribo E num ca!ador <>im <-orue a vida deles era assim <$as o mais importante era viver de acordo com as necessidades e os valores da tribo 6um curtoespa!o de tempo o menino # iniciado em todo o contexto cultural do seu povo <Ent"o os mitos se relacionam diretamente com as cerimKnias e os rituais da tribo e a ausncia do mitopode si%niicar o im de um ritual <, ritual # a representa!"o de um mito /o participar de um ritual voc participa de um mito <E ual # a consencia para os meninos de ho9e da inexistncia desses mitos= </ crisma # um euivalente atual desses ritos >e voc # um menino catlico escolhe seu nome decrisma com ue vai ser conirmado e voc se eleva $as em ve& de cicatri&es1 arrancarem os dentes oual%o assim1 o bispo lhe dá um tapinha no rosto , ritual oi redu&ido a isso e nada lhe acontece ,euivalente 9udaico # o :ar'$it&vá E se essa cerimKnia unciona ou n"o para eetuar umatransorma!"o psicol%ica acho ue depende do caso individual 6a #poca anti%a n"o havia problema, menino voltava com um corpo dierente* ele tinha passado por al%uma coisa <E a mulher= Auase todas as i%uras nas cavernas'templos s"o masculinas >erá ue era umasociedade secreta apenas para homens= <6"o era uma sociedade secreta , ue acontece # ue os meninos tinham ue passar por auilo 6sn"o sabemos exatamente o ue acontecia com a mulher nauela #poca porue há poucas indica!es arespeito 6as culturas primitivas de ho9e a menina torna'se mulher com a NP menstrua!"o I al%o uelhe acontece* a nature&a a& isso com ela Ent"o ela 9á passou pela transorma!"o E ual # a suainicia!"o= 6ormalmente consiste em icar sentada numa cabaninha por um certo n8mero de dias e sedar conta de uem ela #

 <Como # ue ela a& isso= <Ela ica lá* sentada /%ora ela # uma mulher E o ue # uma mulher= / mulher # um veículo da vida e avida tomou conta dela /%ora ela # um veículo para a vida / mulher # o centro da uest"o7 dar a vida1dar a nutri!"o Ela # como a deusa da terra em seus poderes e tem ue perceber isso , menino n"otem um acontecimento parecido Ele tem ue ser transormado em homem e voluntariamente tornar'seum servidor de al%o maior ue ele prprio / mulher torna'se veículo da sociedade1 da ordem social edo ob9etivo social <E o ue acontece uando uma sociedade n"o adota mais uma mitolo%ia poderosa= </contece isso ue temos nas m"os I como eu di%o1 se voc uer saber o ue si%niica umasociedade sem nenhum ritual1 leia o +6eU orL Times+ <E o ue a %ente encontra= </s notícias do dia

 <Wuerras 8Jovens ue n"o sabem se comportar numa sociedade civili&ada Creio ue X0Y de todos os crimess"o cometidos por 9ovens entre 20 e 30 e poucos anos ue se comportam como bárbaros <6in%u#m lhes deu um ritual para ue eles se transormem em membros da sociedade <6enhum ritual Moram cada ve& mais redu&idos $esmo na %re9a Catlica eles tradu&iram a missa dalin%ua%em ritual para uma lin%ua%em ue tem uma por!"o de associa!es dom#sticas Cada ve& ueeu leio a missa em latim volto a sentir auela sintonia ue ela provoca* # uma lin%ua%em ue nos tira docampo dom#stico , altar # colocado para ue o padre nos d as costas e 9unto com ele voc se voltapara ora /%ora eles viraram o altar ao contrário* parece uma %arota'propa%anda numa demonstra!"ona TV* tudo # caseiro e amiliar <Eles at# tocam viol"o <I Esueceram de ual # a un!"o do ritual7 de elevar1 tirar ora* e n"o aconche%a'lo de volta no

mesmo lu%ar onde voc sempre esteve <Auer di&er7 um ritual ue antes transmitia uma realidade interior ho9e # uma mera ormalidade1 tantonos rituais da sociedade como nos ritos pessoais do casamento e da reli%i"o=

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 <, ritual deve manter'se vivo* e %rande parte está morta I muito interessante ler sobre as culturasprimitivas1 elementares e ver como as histrias populares1 os mitos est"o sempre se transormando emun!"o das circunst?ncias desses povos -or exemplo1 um povo mudava'se1 saía de uma área onde ave%eta!"o era o principal meio de sustento e ia morar na planície / maioria dos índios das planíciesamericanas do período em ue eram cavaleiros eram ori%inários da cultura do $ississipi /ntes viviamao lon%o do rio $ississipi em aldeias ixas1 baseadas na a%ricultura Daí receberam o cavalo dosespanhis e com isso puderam se aventurar nas planícies e se dedicar as %randes ca!adas demanadas de b8alos E assim a mitolo%ia se transorma7 passa de ve%eta!"o para b8alos /inda

notamos a estrutura das anti%as mitolo%ias de ve%eta!"o na mitolo%ia dos índios DaLota1 -aUnee1RioUa e outros <I o meio ambiente ue dá orma @s histrias= </s histrias respondem ao meio ambiente $as ve9amos ns temos uma tradi!"o ue vem do primeiromilnio aC1 vem de um outro lu%ar e ainda lidamos com ela Ela n"o se alterou nem assimilou asualidades de nossa cultura1 as novas possibilidades1 a nossa vis"o do universo I necessário mant'laviva E as 8nicas pessoas ue podem mant'la viva s"o os artistas <,s artistas= <>im1 a un!"o dos artistas # a mitolo%i&a!"o do ambiente e do mundo </rtistas como os poetas1 m8sicos1 escritores= <Exatamente Creio ue tivemos al%uns %randes artistas nos 8ltimos tempos -enso ue James Jo;ceoi um dos %randes reveladores do mist#rio de crescer e de tornar'ser um ser humano -ara mim1 Jo;cee Thomas $ann oram os principais %urus uando eu estava tentando ormar minha prpria vida E nasartes visuais houve dois homens ue trabalharam com mitolo%ia de uma orma maravilhosa7 -aul Rleine -icasso Esses dois realmente sabiam o ue estavam a&endo e suas revela!es tinham %randeversatilidade <Ent"o os nossos artistas s"o os atuais criadores de mitos= <,s criadores de mitos do passado oram os euivalentes dos nossos artistas <Eles pintavam nas paredes* executavam os rituais <5á uma velha id#ia rom?ntica ue em alem"o se chama +das VolLlische+1 o popular >e%undo ela apoesia e as id#ias das culturas tradicionais vem do povo 6"o # verdade* elas vm da experincia deuma elite7 pessoas de talento especial ue tem os ouvidos abertos para a can!"o do universo E elasalam ao povo e o povo responde* hás uma intera!"o1 mas o primeiro i pulso vem de cima n"o de baixo

na orma!"o das tradi!es populares <Ent"o uem teria sido nessas anti%as culturas o euivalente aos nossos poetas de ho9e= <,s Sam"1 os eiticeiros , Sam" # uma pessoa1 se9a homem ou mulher1 ue no inal da in?ncia ou noinício da 9uventude teve uma experincia psicol%ica ortíssima ue a deixou inteiramente voltada parasi mesma >eu inconsciente abriu'se por inteiro e a pessoa caiu lá dentro sso 9á oi descrito muitasve&es ocorre em todos os lu%ares1 desde a >ib#ria1 passando pelas /m#ricas at# a Terra do Mo%o I umtipo de ruptura esui&ornica a experincia do Sam" <Aue experincias # essa= <$orte e ressurrei!"o* estar no limiar e voltar* passar realmente pela experincia da morte -essoasue tem sonhos muito proundos ' o sonho # uma %rande onte do espírito ' e tamb#m pessoas ueentraram na loresta e ali tiveram encontros místicos <Wostaria ue o >r explicasse melhor , Sam" se torna uma pessoa cu9a experincia a tira do mundo

normal e a leva para o mundo dos ue tm dons excepcionais= -ensa'se ue o Sam" # um má%ico1mas o seu papel n"o # de a&er truues < Desempenham um papel euivalente aos sacerdotes <>er"o eles os primeiros sacerdotes= <Mundamentalmente o Sam" e o sacerdote s"o dierentes , sacerdote # um uncionário social /sociedade reverencia certas divindades* e o sacerdote se ordena como um uncionário encarre%ado deexecutar esse ritual / divindade a ual ele se dedica1 existia antes dele Já os poderes do Sam" s"osimboli&ados em entidades amiliares ue emanam da sua prpria experincia pessoal e sua autoridadevem de uma experincia psicol%ica e n"o de uma ordena!"o social Compreende o ue eu di%o= <E auele ue teve essa experincia psicol%ica traumática1 esse xtase1 se tornará o int#rprete paraos outros de coisas invisíveis= <>im1 seria o int#rprete da heran!a da vida mitol%ica

 <E o xtase a&ia parte dessa experincia na tradi!"o xamanista= <I um xtase1 sem d8vida </ dan!a do transe1 por exemplo1 na sociedade dos bosuímanos

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este momento da sua vida # um momento da eternidade E experimentar o aspecto eterno do ue vocvive na sua experincia temporal essa e a experincia mitol%ica* e esse menino a teve /ssim1 seráue a montanha central do mundo #7 Jerusal#m1 oma1 :enares1 Fhasa1 Cidade do $#xico= Ve9a$#xico ou Jerusal#m # o símbolo de um princípio espiritual como centro do mundo <Ent"o esse indio&inho estava di&endo ue há um ponto brilhante onde todas as linhas se cru&am= <Exatamente <Estava di&endo ue Deus n"o tem circunerncia <Deus # uma esera inteli%ível* di%amos1 uma esera conhecida pela mente1 n"o pelos sentidos ue tem

o centro em todo lu%ar e a circunerncia em nenhum lu%ar E o centro1 meu caro1 ica bem aui ondevoc está sentado e o outro centro ica bem aui onde eu estou sentado E cada um de ns # amaniesta!"o desse mist#rio