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ABORDAGENS DA LOGÍSTICA NOS SÉCULOS XX E XXI Martha M V O C Rodrigues (UnB) [email protected] SANDRO GOMES RODRIGUES (UnB) [email protected] Francisco Eugenio Musiello Neto (UFT) [email protected] Fabricio Oliveira Leitao (UnB) [email protected] A logística tem acompanhado o dinamismo do ambiente empresarial e gerado reflexos nas diversas áreas de gestão das empresas. Esta pesquisa destinou-se a análise das mudanças de conceitos, termos e abordagens da logística do século XX para oo XXI, a partir do incremento da logística reversa no meio organizacional. O método utilizado foi de natureza exploratória com base em livros, periódicos e documentos no país e no exterior. No final do século XX e início do XXI apareceram novas terminologias, abordagens e conceituações para orientar as atividades e investigações do setor. As discussões dos conceitos e a importância empresarial da logística no século XX apresentavam foco apenas na logística direta e na virada para o século XXI incorporou a mesma importância para o fluxo reverso da logística tradicional. Novos conceitos da logística reversa são evidenciados no século XXI e determinam uma nova visão de caráter circular, que tem base no reprocessamento dos produtos e resíduos provenientes dos: pós-venda ou pós-consumo. Por fim, o conceito e a abordagem da logística passam a utilizar sistematicamente as estruturas da logística direta e da reversa. Palavras-chaves: Logística Reversa, Logística Direta, Pós-venda, Pós- consumo XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.

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ABORDAGENS DA LOGÍSTICA NOS

SÉCULOS XX E XXI

Martha M V O C Rodrigues (UnB)

[email protected]

SANDRO GOMES RODRIGUES (UnB)

[email protected]

Francisco Eugenio Musiello Neto (UFT)

[email protected]

Fabricio Oliveira Leitao (UnB)

[email protected]

A logística tem acompanhado o dinamismo do ambiente empresarial e

gerado reflexos nas diversas áreas de gestão das empresas. Esta

pesquisa destinou-se a análise das mudanças de conceitos, termos e

abordagens da logística do século XX para oo XXI, a partir do

incremento da logística reversa no meio organizacional. O método

utilizado foi de natureza exploratória com base em livros, periódicos e

documentos no país e no exterior. No final do século XX e início do

XXI apareceram novas terminologias, abordagens e conceituações

para orientar as atividades e investigações do setor. As discussões dos

conceitos e a importância empresarial da logística no século XX

apresentavam foco apenas na logística direta e na virada para o século

XXI incorporou a mesma importância para o fluxo reverso da logística

tradicional. Novos conceitos da logística reversa são evidenciados no

século XXI e determinam uma nova visão de caráter circular, que tem

base no reprocessamento dos produtos e resíduos provenientes dos:

pós-venda ou pós-consumo. Por fim, o conceito e a abordagem da

logística passam a utilizar sistematicamente as estruturas da logística

direta e da reversa.

Palavras-chaves: Logística Reversa, Logística Direta, Pós-venda, Pós-

consumo

XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no

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Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.

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1.1

1. Introdução

O mundo tem se caracterizado nesta virada de século por transformações e mudanças

profundas cada vez mais rápidas, que exigem capacidade de compreensão, adaptabilidade e

decisões tempestivas. Assim, as organizações públicas e privadas têm a obrigação de se

adaptarem as mudanças impostas pelo ambiente extremamente dinâmico. Dessa forma, o

estudo da logística começou por uma adaptação a uma nova fase, buscando atender a

satisfação do cliente “rei”, tendo assim a preocupação com a logística empresarial (estudo da

gestão integrada, das áreas tradicionais de suprimento de materiais, finanças, produção e

marketing). A virada do século XX para o XXI foi marcada pela ênfase dada a um importante

fluxo de produtos na cadeia logística, que passou a gerar novos resultados e buscar a

sustentabilidade das empresas. Este fluxo, que é caracterizado por percorrer o sentido

contrário da “logística direta ou tradicional”, que tem seu início no cliente final em direção ao

fornecedor primário do processo produtivo originário (inteiro ou parte de seus componentes) é

definido como “logística reversa”. Leite (2005) define a logística reversa como a área da

logística empresarial que planeja, opera e controla o fluxo reverso de produtos de pós - venda e de

pós – consumo, que é considerada área de fundamental interesse estratégico empresarial.

A consideração do fluxo reverso nas empresas gerou a inclusão de novas receitas e uma

gestão focada no desenvolvimento sustentável, que contribui principalmente para o aumento

dos lucros e ganhos de imagem para as empresas, com destaque nas marcas de seus produtos.

Por conseqüência, alguns novos termos e abordagens entraram em cena na área da logística.

Logo, tornam-se relevantes os seguintes questionamentos: quais são as abordagens e termos

retratados nos estudos sobre logística a partir da década de 2000? A apresentação dos

principais termos que foram incluídos na discussão do tema logística reversa vai propiciar

uma orientação aos pesquisadores e profissionais que atuam na área de logística empresarial?

Deseja-se com este trabalho analisar os novos termos utilizados pela logística, a partir da

ênfase da nova abordagem que lhe foi atribuída e da importância dada à logística reversa no

século XXI, para orientação dos profissionais que atuam na área de logística. A comparação

dos focos da logística empresarial nos dois séculos, a partir de uma discussão teórica das suas

abordagens traz relevantes contribuições para pesquisadores e profissionais que atuam na

área.

Estudos realizados por Hu; Sheu & Huang (2002) relatam que, os custos de logística reversa

representam aproximadamente um por cento do PIB total dos Estados Unidos. Portanto, a

logística reversa tem se tornado parte integrante das ações empresariais dos atores dos

processos produtivos dos diversos setores da economia, que resulta em novas receitas e

posição competitiva para todos envolvidos na cadeia produtiva. A logística, enquanto ciência

vem evoluindo com inovações originadas em pesquisas científicas e demandas pela

sociedade, como qualquer outra ciência. Essa evolução também é impulsionada pela

concorrência das empresas que atuam na área de logística e pelo dinamismo do mercado que

conduz as empresas a novos desafios voltados para definir ou consolidar suas participações.

2. Tripé da Logística: Estoque, Localização e Transporte

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É fundamental para o estudo e planejamento da logística uma visão detalhada dos seus

principais componentes: estoques, localizações e transportes. Esse tripé representa para

Ballou (2006) o composto logístico, que tem enfoque nas estratégias de estoque, localização e

transporte. Na Figura 1 são observadas as variáveis da logística que podem ser ajustadas e

manipuladas para apoiar as ações dos gestores nas decisões gerenciais. A logística se constitui

numa série de ações que permitem ao gestor verificar: seus estoques, os padrões de consumo,

as solicitações e os solicitantes; onde estão localizados estrategicamente os fornecedores, as

indústrias de transformações e os consumidores; e como são transportados com agilidade e

integridade os produtos entre os atores da cadeia logística, para atender satisfatoriamente o

cliente.

Fonte:Ballou (2006)

Figura 1 – Composto Logístico da Logística

2.1. Estoque

Os estudos sobre os estoques das empresas visam aperfeiçoar os investimentos das mesmas

em ativos, com busca constante no equilíbrio entre os itens que são necessários armazenar por

um período de tempo, para atender pedidos e gerar continuidade no processo produtivo. Por

isso, os estoques precisam de gerenciamento para definição dos níveis adequados e

satisfatórios de materiais capazes de atender às necessidades dos clientes. De acordo com

Martins (2003), deve-se observar a definição de estoque dentro de um parâmetro gerencial,

onde o estoque tem a função de funcionar como reguladores do fluxo de negócios, onde serve

de indicador para se ter a real situação da organização. O estoque é definido como quaisquer

quantidades de bens físicos que sejam conservados, de forma improdutiva, por algum

intervalo de tempo, que visa atender a necessidade da aplicação do item estocado dentro de

um processo produtivo. No estudo da logística a definição de estoque baseia-se na maneira

pela qual eles são gerenciados, de forma que, os estoques são puxados dos pontos de

armazenagem para os pontos de consumo de acordo com as regras estabelecidas.

Apesar de ser clara a sua importância, há críticos que contestam a necessidade de manutenção

de estoques, por considerarem desnecessários e onerosos. De acordo com Ballou (2006), o

custo de manutenção de estoques pode representar de 20 a 40% do seu valor por ano e que,

embora os custos sejam altos, os sistemas operacionais podem não estar projetados para reagir

instantaneamente às solicitações dos clientes, justificando assim a necessidade de se manter

algum nível de estoque, apesar do ideal ser algo próximo de zero.

Na tentativa constante de reduzir os estoques e conseqüentemente os custos, sejam de

matérias-primas, de produtos em processos ou de produtos acabados, desenvolveram-se novas

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técnicas administrativas, como as de origem japonesa Just in time e Kanban. Just in time, na

definição de Martins & Alt (2006), é um método em que os fornecedores entregam os

suprimentos somente à medida que eles vão sendo necessários na produção ou consumo,

eliminando, de tal forma, desperdícios e reduzindo custos. Já a técnica Kanban (etiqueta ou

cartão), utiliza-se de um cartão de sinalização ou luzes cuja função é controlar os fluxos de

produção ou de transportes em uma indústria. Permite dar agilidade na entrega na hora da

produção.

Uma função importante que faz parte das ações de controle de estoque é a de planejamento,

que tem por objetivo não deixar faltar material necessário ao consumo/produção, evitando um

alto impacto na mobilização dos recursos financeiros. Segundo Bowersox & Closs (2001), os

procedimentos e parâmetros essenciais para o planejamento de estoque se concentram em três

aspectos: determinação do ponto de ressuprimento, ou seja, quando se deve pedir;

determinação do lote de compra, quanto pedir; e definição dos procedimentos de controle.

Para evitar a falta de estoque, ocasionada por uma demanda que excede as previsões, faz-se

necessário a inserção do estoque de segurança, que também, além de ser planejado, deve

seguir alguns parâmetros, como a avaliação sobre a possibilidade da falta de estoque e o

potencial de demanda durante os possíveis períodos de falta. Diversas são as ferramentas que

auxiliam o gestor na busca de tais objetivos (giro de estoque, cobertura, análise ABC,

acurácia), cabendo-lhe, portanto, com a utilização dos métodos de avaliação (custo médio,

PEPS e UEPS), fazer a escolha correta a ser executada para uma análise mais precisa.

2.2. Localização

O estudo da localização envolve as posições geográficas das empresas (locais de

armazenagem), dos fornecedores, dos clientes e dos demais atores do composto logístico. O

processo de localização, bem como as respectivas decisões sobre o tema, abrange diversos

aspectos, como a quantidade de centros de armazenagem e distribuição, os clientes a serem

atendidos por cada centro, as linhas de produtos a serem armazenadas e os canais utilizados

para o suprimento. A escolha do local influencia no valor dos investimentos a serem

realizados, tanto no presente quanto no futuro, e nos custos de produção a serem incorridos ao

longo da vida útil do projeto logístico. Desta forma, a competitividade do empreendimento

será afetada por essa decisão, tornando a situação praticamente irreversível.

A definição de localização no escopo do estudo da logística se dá em função do estudo do

custo de toda a movimentação de produtos entre os atores, os quais são destacados os

fornecedores, transformadores, atacadistas, varejistas, clientes e agentes que reprocessam

itens. Sua importância decorre dos altos investimentos envolvidos e dos profundos impactos

que as decisões de localização têm sobre os custos logísticos. Bowersox & Closs (2001)

defendem que os custos de transporte são os mais importantes e na maioria das vezes são

proporcionais ao tempo de viagem, ao peso e a distancia. Sob a visão de Ballou (2006), ao se

analisar métodos de localização é importante classificar os problemas de localização em uma

quantidade limitada de categorias como: o número de instalações, horizonte de tempo e força

direcionadora. Essa avaliação sobre a localização de fábricas e armazéns é uma decisão única

que pode ser auxiliada por ferramentas computacionais que facilitam as tarefas e o tratamento

dos dados, sendo que os dados a serem analisados consistem principalmente em definições de

mercados, produtos, redes (abrangendo os componentes dos canais), demanda dos clientes,

preço de transporte e custos variáveis e fixos.

2.3. Transporte

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Transporte, dentro do composto logístico, tem a função de executar a movimentação de

material (consumo, matéria-prima, semi-acabado e acabado), inclusive a de garantir a entrega

dos produtos aos clientes finais, independente do local contratado para entrega. Dentro das

operações logísticas o transporte representa para diversas empresas o elemento mais

importante e mais visível em termos de custos logísticos, sendo estes proporcionais ao tempo

e à distância da entrega. Tais gastos variam de acordo com a decisão de utilizar uma frota

própria ou uma transportadora terceirizada.

O estudo do transporte na logística envolve a seleção dos modais empregados, bem como o

volume de cada embarque, as rotas aplicadas nas operações e a programação, que busca

otimizar os recursos e a obtenção de resultados satisfatórios para o cliente. O objetivo da

gestão de transporte é minimizar o tempo e os custos, aumentando a satisfação dos clientes

em relação ao desempenho da entrega. Conforme Bowersox & closs (2001), o transporte

possui duas funcionalidades principais: movimentação e armazenagem de produtos.

A movimentação dos produtos pode ser feita de vários modos: aquaviário, rodoviário,

ferroviário, aeroviário e dutoviário. A escolha depende do tipo de mercadoria a ser

transportada, das características da carga, do tempo de deslocamento e, principalmente, dos

custos envolvidos. No Brasil, o modo de transporte mais utilizado é o rodoviário, sendo

justificado, na visão de Dias (2008), pela política de investimentos na área de rodovias,

implantação de indústrias automobilísticas e refinarias de petróleo, bem como pela

inacessibilidade de alguns municípios por outros meios de transporte. Outros pontos também

favorecem a escolha desse tipo de modal: a flexibilidade na operação nas diversas vias

pavimentadas ou não, a movimentação de tamanhos de cargas variadas a curtas distancias,

além da entrega consideravelmente porta-a-porta e confiável.

Na busca por um bom gerenciamento do transporte, a fim de obter diminuição dos custos,

dois princípios fundamentais são analisados por Bowersox & Closs (2001): a economia de

escala e a economia de distancia. A economia de escala é obtida quando toda a capacidade do

veículo é utilizada, haja vista que tal prática reduz o custo, principalmente quando os meios

utilizados forem o marítimo ou ferroviário, que possuem maior capacidade de carga. Já a

economia de distancia preconiza a idéia de que o custo diminui à medida que a distância

aumenta, sendo vinculada também ao aumento do tamanho da carga (economia de escala).

3. Método de Pesquisa

A Figura 2 apresenta de forma simplificada a pesquisa realizada de base qualitativa, que foi

efetivada por meio de pesquisa bibliográfica em livros, periódicos e documentos científicos,

além de documentos oficiais extraídos de congressos, sites de empresas, organismos

científicos nacionais e internacionais. Segundo Acevedo & Nohara (2007), a base qualitativa

para pesquisa é útil para determinar as razões ou os porquês e conhecer os fatores que afetam

a tendência do comportamento científico, bem como, o reflexo deste nas discussões sobre

logística empresarial direta e reversa, foco deste estudo.

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Figura 2 – Fluxograma da Metodologia

Fez-se uma análise dos conceitos de logística, com foco nas novas abordagens e importâncias

que as empresas identificaram, a partir da ênfase dada pelos gestores no tema logística

reversa. Para tanto, foram utilizadas ferramentas variadas para identificação dos termos

relevantes que passaram a ser utilizados no dia a dia por especialistas e pesquisadores dessa

temática, tais como: (i) pesquisa bibliográfica em livros especializados; (ii) pesquisa

exploratória em documentos físicos e eletrônicos de sites oficiais da área objeto da pesquisa;

(iii) levantamento do estado da arte nas décadas de 1980, 1990 e 2000; e (iv) avaliação

comparativa do termos de grande relevância nas abordagens da logística no Brasil nos Séculos

XX e XXI.

4. Logística Direta ou Tradicional

A logística é uma atividade que não obteve a devida importância no meio empresarial até

meados do século XX. Porém, por conta principalmente das empresas buscarem a

incorporação em seus negócios de mercados mais distantes, o aumento da competitividade, os

sistemas de gestão mais modernos e o redesenho constante dos seus processos, a logística

tornou-se um diferencial significativo e um fator de sucesso no meio empresarial. A logística

ganhou uma nova dimensão e envolveu a integração de todas as atividades ao longo da cadeia

produtiva: da geração de matérias-primas à entrega do produto ao cliente final, interligando

com ideal único todos os atores da chamada rede de produção. A logística deixou de ter um

enfoque operacional para adquirir um caráter estratégico nas organizações.

O grande desafio enfrentado pelos estudos de logística é tornar possível o deslocamento de

bens e serviços para serem consumidos, independente da região que são produzidos. Para

Martins & Campos (2006), a logística é responsável pelo planejamento, operação e controle

de todo o fluxo de mercadorias e informação, desde a fonte fornecedora até a chegada dos

produtos aos consumidores. Esses autores destacam alguns pontos que devem ser

considerados centrais na logística para um desempenho satisfatório, como sempre observar

com atenção a movimentação de produtos, a movimentação de informações, o tempo

utilizado, o custo gerado e o nível de serviço alcançado. Com um bom planejamento logístico

é possível atender bem a esses pontos principais, satisfazendo as necessidades dos clientes

intermediários e finais, de modo a minimizar os custos e o tempo de atendimento.

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Segundo Ballou (2007), o emprego da logística tende a otimizar os fluxos de materiais e

informações desde o ponto de origem - fornecedor até o ponto de destino final - consumidor,

buscando proporcionar níveis de serviço satisfatórios e adequados as necessidades dos

clientes/fornecedores e a um custo competitivo. Assim Lambert (1998) considera como parte

da administração logística em uma organização, vários fluxos, tais como: a previsão de

demanda, a aquisição de suprimentos, o serviço ao cliente, o processamento de pedidos, a

embalagem, o transporte, a distribuição, o controle de inventário, a armazenagem e

estocagem, a localização da unidade fabril e depósitos, a movimentação de materiais e peças

de reposição, o reaproveitamento e remoção de sucata e gestão de devoluções.

Gomes & Tortato ( 2010), em uma perspectiva mais atual e completa, consideram que a

logística tradicional faz parte de um conceito mais amplo de Supply Chain Management -

SCM. A SCM trata da integração holística dos processos de negócios abrangendo a gestão de

toda a cadeia produtiva de uma forma estratégica e integrada, abrangendo dessa forma a

logística tradicional e também o conceito de logística reversa.

Segundo Ballou (2001), a missão da logística é disponibilizar as mercadorias ou os serviços

certos, no lugar certo, no tempo certo e nas melhores condições, ao mesmo tempo em que

fornece a maior contribuição à organização. Então, é permitido afirmar que a logística

empresarial é responsável por todos os fluxos de materiais e produtos da organização,

devendo agir de forma estratégica na tomada de decisões, melhorando seus processos de

forma a atender melhor os clientes, mantendo um estreito relacionamento com os

fornecedores, devendo ser planejada, executada e controlada para que efetivamente atinja

bons resultados. As funções da logística são divididas em três áreas operacionais principais:

suprimento (matéria-prima), manufatura (operações de transformações em produtos) e

distribuição (entrega do produto acabado). A Figura 3 demonstra as partes específicas da

logística empresarial, com enfoque na administração, que apropria as três áreas: administração

de materiais (responsável por disponibilizar os insumos), administração da produção (todas as

etapas de transformação dos insumos em produtos acabados) e administração de marketing ou

mercadológica (gerencia os canais de distribuição do produto da fábrica até o cliente final).

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Fonte: Modificada de Ballou (2001); Slack, N. et al. (2008); Pozo (2002)

Figura 3 - Representação Gráfica da Logística Empresarial

A raiz da logística empresarial começa no planejamento das ações, baseado na oferta e

demanda dos produtos e serviços oferecidos pelos integrantes da cadeia, passando para a

aquisição dos insumos, compras e vendas intermediárias, produção de bens ou prestação do

serviço e distribuição ao cliente final, gerando informações em cada uma das etapas

percorridas.

5. Logística Reversa

O estudo da logística reversa tem sido abordado em diversos estudos, sendo fortemente

associada às atividades de reciclagem de produtos e dos aspectos ambientais, como se observa

em Stock (1992); Barry, Girard & Perras (1993); Kopicki, Berg & Legg (1993); Murphy,

Poist & Braunschwieg (1994); Wu & Dunn (1995); Kroon, L. & Vrijens (1995). Assim, o

estudo da logística reversa foi focado e ratificado a sua devida importância pelas

organizações, pois Wu & Dunn (1995) afirmam que houve por parte da sociedade e também,

por órgãos governamentais, uma maior cobrança no que se refere às questões ambientais, por

não poder mais desprezá-las nas atividades exercidas pelas organizações.

De acordo com Leite (2005) os primeiros estudos sobre logística reversa são encontrados nos

anos 70 e 80 tendo seu foco principal relacionado com o retorno de bens para serem

processados em reciclagem dos materiais, sendo denominados e analisados como canais de

distribuição reversos. A partir dos anos 90, pela acentuada redução de ciclo de vida dos

produtos, pela identificação de novas oportunidades competitivas através de custos e de

relacionamentos empresariais. Gallouj & Savona (2009) afirmam que inovar processos e

serviços permitem potencializar a imagem corporativa e de responsabilidade ética empresarial

positivamente.

Assim, surgiram os conceitos de logística reversa: Lambert & Stock (1981) iniciaram os

estudos das operações dos consumidores em direção aos produtores; Stock (1992) introduziu

uma nova abordagem para as pesquisas da logística reversa, com base na reutilização, reparos,

substituição de matéria-prima, disposição final dos resíduos e redução de custos de

fabricação; e Carter & Ellram (1998) definem a logística reversa como eficiência ambiental.

Enquanto a logística tradicional trata do fluxo de materiais no sentido da aquisição dos

insumos até a entrega dos produtos ao cliente final, a logística reversa trata do caminho

inverso a este, ou seja, do retorno do produto ou de parte dele (itens componentes) dos seus

pós-venda e pós-consumo, para a reinserção na cadeia produtiva original, no sentido

invertido, com os objetivos principais de reutilizá-lo após reparos técnicos, desmanchá-lo para

aproveitamento de suas peças integrantes, reciclá-lo para refazer todo o ciclo até o fornecedor

para ser aproveitado como matéria-prima secundária e descartá-lo ou incinerá-lo, por parte de

um ou mais atores pertencentes à rede produtiva (atores que fazem parte do conjunto de

empresas contribuintes para criar e deslocar o produto ao ponto de consumo). As

organizações, com o propósito de dar prioridade ao mapeamento das ações da logística

reversa, se concentram principalmente nos resultados que será alcançada de médio até longo

prazo, com benefícios para o sistema produtivo das empresas, a imagem da marca e com

especial atenção nos itens: econômico - ganho financeiro na operação; mercadológico -

diferenciação no serviço; legislação - obediência à legislação existente ou futura; e ganho de

imagem corporativa.

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Fonte: Modificada de Ballou (2006)

Figura 4 - Logística Direta e Logística Reversa

Os canais de distribuição diretos são responsáveis pelas diversas etapas que fazem com que os

bens a serem consumidos cheguem aos consumidores finais. Entretanto, os canais de

distribuição reversos partem no sentido contrário, do pós-venda ou do pós-consumo. Segundo

Leite (2003), a logística reversa engloba as diferentes formas e possibilidades de retorno do

produto após o contato com o cliente final (pós-venda ou do pós-consumo), do consumidor ao

varejista, ou a um intermediário que esteja na cadeia produtiva até o fornecedor primário ou

ao primeiro fornecedor da cadeia. Entende-se que a logística reversa tem por objetivo a

utilização de seus diversos meios, para possibilitar o retorno do produto ou parte dele,

remetendo a uma visão circular da cadeia produtiva, que é resultante do seu processo

produtivo, e visa obter ganhos para organização principalmente de ordem econômica,

ecológica e/ou legal, de acordo com o propósito das empresas ou que as mesmas buscam

atingir, conforme a Figura 4.

Segundo Leite (2003), a revalorização econômica consiste na economia de reutilização ou

comércio secundário dos bens de pós-consumo, obtendo economia devido à reutilização dos

bens ou de parte material deles no seu ciclo produtivo ou ciclo de negócio. A revalorização

ecológica busca tratar os produtos já utilizados pelo mercado de forma a proteger a sociedade

dos impactos negativos dos bens ou serviços produzidos que possam prejudicar o meio

ambiente. Já a revalorização legal ocorre quando existe legislação a ser cumprida com relação

ao tratamento dos bens de pós-consumo, sob pena de as organizações serem punidas pelo

impacto ambiental de seus produtos e embalagens.

O mercado consumidor está assumindo a cada dia uma postura de maior responsabilidade

ambiental e está passando a cobrar e pressionar cada vez mais as organizações a cumprirem

suas responsabilidades pela preservação do meio ambiente e, principalmente, a buscarem

condições de produzir com sustentabilidade. Consequentemente, a logística reversa surge

como uma das principais ferramentas de implantação do desenvolvimento sustentável,

absorvendo todas as tradicionais funções da logística, operando o “fluxo reverso” de produtos,

com origem principal no cliente final, retornando à cadeia produtiva e gerando receitas que

antes estavam desprezadas. O planejamento de uma rede de logística reversa tem grande

semelhança com o da logística tradicional, entretanto, segundo Leite (2003), em virtude do

tipo de material tratado, são necessárias certas peculiaridades para estruturar um projeto da

rede logística reversa, tais como: a definição dos objetivos da rede reversa, a decisão do nível

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de integração e o tipo de rede reversa. Num segundo momento, se faz imprescindível o

domínio das características do produto logístico, a definição do mercado final para o produto

com matérias-primas secundárias, a seleção do tipo de coleta adequada, a decisão dos locais

de coleta, a decisão do nível de integração e a localização dos centros de classificação,

consolidação, desmanche e remanufatura.

Diversos setores produtivos já utilizam a logística reversa de forma competitiva, com

destaque para os ramos automotivo e de bebidas, onde os bens do pós-consumo são

reutilizados. No caso dos veículos, as peças e componentes devolvidos ou reutilizáveis; no

caso das bebidas, os vasilhames e embalagens são reaproveitados, provando que é possível ser

mais competitivo reutilizando os materiais que antes eram descartados. As empresas investem

na logística reversa para obter diferenciação no mercado e isto se dá a partir de: sensibilidade

ecológica, imagem diferenciada, pressões legais, redução do ciclo de vida dos produtos e

redução de custos.

O propósito relevante da logística reversa é capturar produtos que passam a ter valores

significativos na cadeia produtiva, que não são identificados pela logística direta, de modo a

fluir no sentido contrário para gerar resultados importantes a um ou mais atores da cadeia.

Esta captura abrange, ainda, uma diversificação de atividades, como: processamentos de

retornos por danos, produtos sem harmonia com a sazonalidade, recall, excesso de estoques,

reciclagem, recondicionamento e remanufatura. Estas ações culminam em processos

sustentáveis da logística reversa, que reestrutura culturalmente as empresas e as realinham

com um propósito de gestão sustentável, buscando o desenvolvimento de uma proposta de

produção equilibrada com o consumo, para minimizar o impacto do lixo industrial sobre o

meio-ambiente.

Rogers & Tibben-Lembke (1999) apresentam os percentuais de retorno dos produtos vendidos

nos Estados Unidos da América, em 1998 de: diversos itens vendidos por catálogos – de 18 a

35 %; computadores – de 10 a 20%; impressoras – de 4 a 8%; peças automotivas – de 4 a 8%;

e outros produtos eletrônicos – de 4 a 5%. Foi realizado outro estudo nos EUA por uma

equipe dirigida por Rogers & Tibben-Lembke, em 1999, com mais de 150 administradores,

sobre as responsabilidades da logística reversa. Nesse estudo foram constatadas algumas

barreiras à execução desse tipo de logística, as quais são destacadas com os percentuais

atribuídos pelos gestores das empresas: menor importância para logística reversa frente às

demais atividades – 39%; política da empresa – 35%; falta de sistema de informação – 34,3%;

atividade competitiva - 33,7%; descaso da administração -26,8%; recursos financeiros –

19,0%; recursos humanos – 19,0%; e normas legais – 14,1%. Resultados contribuem para a

busca de sistematização dos processos da logística reversa nas empresas, que devem

apresentar principalmente os seguintes objetivos e propósitos: identificação dos

intermediários do fluxo reverso: quais os canais que participam deste fluxo, atribuindo as

responsabilidades e o seu grau de cooperação na cadeia; profissionalização das parcerias:

aumentar a eficiência das funções de coleta, armazenagem, manuseio, processamento e

transporte; aplicação de conceitos do planejamento da distribuição direta: estudos de

localização das instalações, aplicação de sistemas de apoio à decisão - como a roteirização e

distribuição; novos mercados para a demanda de recicláveis: com a mudança de

comportamento do consumidor, ele passará a ter uma nova percepção sobre a importância do

desenvolvimento sustentável além das legislações ambientalistas e responsabilidades; e cada

vez mais empresas multinacionais e locais estão introduzindo sistemas de gerenciamento

ambiental e obtendo certificações da norma ambiental ISO 14001.

6. Fluxo de Produtos

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Ao se estudar logística, o tema remete ao fluxo de produtos, o fluxo que ocorre desde o

momento em que é gerada a necessidade de atendimento de um bem até sua entrega ao cliente

final, bem como o fluxo que ultimamente tem gerado grande interesse empresarial, o que

ocorre de forma reversa, de uma posição de consumo até um ou mais pontos anteriores da

cadeia produtiva, em direção a matéria-prima. Este fluxo reverso tem tendência a gerar

expressivos resultados para as organizações e à medida que esteja identificado como parte da

operação do processo produtivo, com um gerenciamento no mesmo nível de prioridade das

demais atividades, terá condições de obter ganhos expressivos, não somente para a empresa

ligada diretamente a ele, mas também para os outros parceiros pertencentes a cadeia logística.

Este assunto, o fluxo reverso não é novo, mas está se tornando cada vez mais evidenciado em

boa parte das empresas que atuam principalmente com o marketing social, devido a postura

ambiental posicionar estrategicamente a imagem da marca ou da empresa junto ao

consumidor. Existem exemplos de atividades sistematizadas que são desenvolvidas por

empresas há décadas, tais como: gás de cozinha, que geralmente necessitam do botijão vazio

para fazer o reabastecimento; água em galões de 20 litros; e garrafas de refrigerante e cerveja,

que são retornáveis.

No Brasil, hoje em dia, o fluxo reverso muito comum é o da reciclagem, principalmente a

reciclagem de latas de alumínio, atividade essa que foi responsável pela classificação

internacional do país que mais recicla. Segundo dados da Associação Brasileira do Alumínio

(ABAL), a cadeia produtiva baseada na lata de alumínio para bebidas apresenta um alto grau

de reciclagem de matéria-prima, tendo sido desenvolvido meios inovadores de coleta de latas

descartadas, que permitiram chegar ao índice de 96,2% de reciclagem das latas de alumínio de

bebidas, em 2005. O país se manteve pelo quinto ano consecutivo na liderança do ranking

mundial dessa atividade. Segundo dados divulgados pela empresa Abralatas e pela ABAL, o

Brasil atingiu a marca de 127,6 mil toneladas de latas de alumínio recicladas em 2005. São

aproximadamente 9,4 bilhões de latas no ano, o que equivale a 2,6 milhões de latas recicladas

diariamente. Este número expressivo é proveniente da identificação da relevância da logística

reversa, por parte dos atores da referida cadeia produtiva e da inclusão de pessoas físicas

reconhecidas como “catadoras de latas da produção de bebidas”, que buscam esta atividade

como uma fonte de renda familiar.

Em termos financeiros, fica evidente que além dos custos de compra de matéria-prima, de

produção, de armazenagem e de estocagem, o ciclo de vida de um produto inclui também

outros custos que estão relacionados ao gerenciamento do respectivo fluxo reverso, a partir de

mecanismos de reaproveitamento de produtos, ou de resíduos deles que, ao retornar, poderão

não só reduzir custos, como também contribuir para formação de lucros.

Neste contexto, entende-se a logística reversa é o processo de planejamento, implementação e

controle do fluxo de matérias-primas, estoque em processo e produtos acabados de algum

ponto de consumo final ou intermediário até ao ponto de origem ou de fornecedores, com o

objetivo de recapturar valor ou realizar um descarte adequado dos produtos e de seus

derivados, conforme se pode observar na Figura 5.

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Fonte: Fleichmann et al. (2000)

Figura 5 - Cadeia de Recuperação de Produtos

A Figura 5 destaca como pontos importantes da rede de recuperação de produtos os seguintes:

coleta, inspeção, reprocessamento, disposição como produto acabado e redistribuição. Esses

pontos são fortalecidos por sistemas de informação que garantem o registro de cada fluxo na

cadeia, com histórico do recebimento e atendimento dos pedidos.

7. Evolução dos Termos Logísticos

A pesquisa realizada identificou uma evolução, entre as duas últimas décadas do Século XX e

a primeira década do Século XXI, dos termos mais comuns apropriados pela logística

empresarial, conforme demonstrado na Tabela 1.

Tópico Décadas 1980 e 1990 Década 2000

Logística empresarial Tradicional Direta e reversa

Serviços logísticos Produto ao cliente final Sustentabilidade

Fluxo dos produtos Comum Normal e invertido

Matéria-prima In natura (primária) Primária e secundária

Composição da matéria-

prima Nova e remanufaturada

Virgem, remanufaturada e

reciclada

Ponto final do produto Cliente final Produto circula na cadeia

produtiva – Cliente atual

Valor do produto Somente em condições de uso Condições de uso e desuso

Mercado Secundário Primário e secundário

Visão da logística Linear Circular

Tabela 1- Evolução dos termos da logística do final século XX para o início do século XXI

As novas abordagens do século XXI a respeito da logística empresarial que estão pautadas em

termos voltados para a preservação do meio ambiente. Neste novo momento, a preocupação

dos gestores não é apenas com o fluxo dos produtos na direção do consumidor final, o sentido

contrário passa a ter a mesma atenção.

Com a logística reversa, os produtos passaram a ter o seu valor recuperado após passar pelo

“cliente final” (cliente atual), percorrendo o fluxo invertido para ser reconstituído e, em

seguida, absorvido como matéria-prima secundária em um mercado chamado de primário.

Este mercado primário, que em momento anterior só trabalhava com matéria-prima primária,

passa a trabalhar, também, com matéria-prima secundária, gerando produtos com todas as

características de um bem novo originado de matéria-prima in natura.

Segundo Ballou (2007) as mudanças populacionais e de mercados, tendências econômicas,

alterações no comércio em geral e variações no preço da energia são apenas alguns fatores

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que têm e terão profundos efeitos no planejamento e gestão logística. Decisões são feitas com

base nas expectativas de cenários ambientais futuros e com conhecimento do ambiente

anterior. O ambiente logístico deverá ser moldado pelas nove forças a seguir: mudanças na

geografia de produção e consumo; aumento da segmentação de mercados; pequena

disponibilidade de capital e taxas de juros elevadas; revoluções nas tecnologias de

informação, manufatura e transporte; novas fontes e restrições de suprimentos; custos e

disponibilidade de matérias-primas; novas restrições de natureza legal; novas considerações

socioeconômicas e trabalhistas; e internacionalização de fontes e de mercados. Assim,

podemos verificar que os cenários serão mutáveis e de grande instabilidade, fazendo com que

as projeções se adaptem à velocidade que os fatos aconteçam e impactem a gestão da logística

empregada. Novos termos serão aplicados e definidos de acordo com as ações empregadas

para que a otimização dos resultados sejam de maneira eficiente e eficaz.

8. Considerações Finais

Para a logística reversa gerar resultados significativos é fundamental que todos os atores da

cadeia produtiva estejam conscientizados da importância, participem ativamente e assumam

responsabilidades pela preparação e aproveitamento dos produtos pós-venda e pós-consumo.

Essa prática envolve risco, novos custos e reestruturação das organizações envolvidas direta e

indiretamente.

Gestores centrados na qualidade de vida da população e preservação do meio ambiente estão

investindo na produção sustentável e na busca do atendimento de anseios de segmentos de

mercado “ecológicos”, mesmo antes da criação de legislação ambiental cabível. As empresas

na busca de posição estratégica procuram assumir a responsabilidade sobre o monitoramento

e o descarte dos seus produtos, de maneira a acompanhar todo o ciclo da logística. Com a

discussão apresentada cabe um questionamento: a origem do esforço empresarial para ações

de logística reversa está na: geração de nova receita, conscientização ambiental, solicitação do

consumidor, atividade de marketing, legislação em andamento ou outra necessidade?

Com a priorização da logística reversa pelo mercado e pesquisadores surgem novos termos

que orientam com novos termos ou jargões os profissionais que atuam na área.

A logística passou a ter foco circular, de maneira que o sistema é retroalimentado não

somente por informações, mas também por produtos oriundos dos: pós-venda e pós-consumo.

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