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Aborto Incompleto 1

aborto incopleto

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    Dados Internacionais de Catalogao da Publicao (CIP) - Biblioteca da OMS

    Organizao Mundial da Sade. Educao para uma maternidade segura: mdulos de educao. 2 ed.

    6 mdulos um 1 v. + 1 CD-ROM.

    Contedo: Mdulo bsico: a parteira na comunidade Eclmpsia Aborto incompleto Parto prolongado e Paragem na progresso do trabalho de parto Hemorragia ps-parto Spsis puerperal

    1. Tocologia - educao 2. Complicaes na gravidez - terapia 3. Materiais de ensino I. Ttulo: Aborto Incompleto

    ISBN 92 4 854666 8 (Classificao NLM: WQ 160)

    Organizao Mundial da Sade 2005

    Todos os direitos reservados. As publicaes da Organizao Mundial da Sade podem ser pedidas a: Publicaes da OMS, Organizao Mundial da Sade, 20 Avenue Appia, 1211 Genebra 27, Sua (Tel: +41 22 791 2476; fax: +41 22 791 4857; e-mail: [email protected]). Os pedidos de autorizao para reproduo ou traduo das publicaes da OMS para venda ou para distribuio no comercial - devem ser endereados a Publicaes da OMS, mesmo endereo (fax: : +41 22 791 4806; e-mail: [email protected]).

    As denominaes utilizadas nesta publicao e a apresentao do material nela contido no significam, por parte da Organizao Mundial da Sade, nenhum julgamento sobre o estatuto jurdico de qualquer pas, territrio, cidade ou zona, nem de suas autoridades, nem to pouco sobre questes de demarcao de suas fronteiras ou limites. As linhas ponteadas nos mapas representam fronteiras aproximativas sobre as quais pode ainda no existir acordo completo.

    A meno de determinadas companhias ou do nome comercial de certos produtos no implica que a Organizao Mundial da Sade os aprove ou recomende, dando-lhes preferncia a outros anlogos no mencionados. Com excepo de erros ou omisses, uma letra maiscula inicial indica que se trata dum produto de marca registado.

    A OMS tomou todas as precaues razoveis para verificar a informao contida nesta publicao. No entanto, o material publicado distribudo sem nenhum tipo de garantia, nem expressa nem implcita. A responsabilidade pela interpretao e utilizao deste material recai sobre o leitor. Em nenhum caso se poder responsabilizar a OMS por qualquer prejuzo resultante da sua utilizao.

    Printed in Portugal, Grfica Maiadouro, S.A. Maio 2005

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    AGRADECIMENTOS

    Os mdulos de obstetrcia foram desenvolvidos em resposta a uma necessidade sentida de materiais educativos que facilitassem o ensino de competncias indispensveis ao tratamento das principais causas de morte materna.

    Gaynor Maclean desenvolveu um esboo inicial dos mdulos e realizou, em dois pases africanos, o pr-teste de alguns dos mtodos de ensino-aprendizagem. Friederike Wittgestein preparou o teste da verso de campo dos mdulos, mantendo a maioria das ideias e mtodos includos na primeira verso. Judith OHeir desenvolveu o protocolo do trabalho de campo, coordenou-o em cinco pases da frica, sia e Pacfico e completou os mdulos aps o trabalho de campo. Barbara Kwast e, mais tarde, Anne Thompson, ambas parteiras de renome internacional, eram responsveis, como membros da OMS pela criao, desenvolvimento, produo e em ltima anlise, pela disseminao e uso dos mdulos.

    A OMS agradece as muitas contribuies individuais e institucionais. Em particular da Confederao Internacional de Parteiras (CIP) e do Colgio Americano de Enfermeiras-Parteiras (CAEP), que estiveram envolvidos no desenvolvimento, pr-teste, aperfeioamento, trabalho de campo e finalizao dos mdulos. A OMS aprecia profundamente o trabalho individual de todos os que estiveram envolvidos no trabalho de campo dos pases, o tempo e esforo que dedicaram verso de trabalho de campo, e os seus contributos para a verso final.

    Esta segunda edio dos mdulos de obstetrcia foi desenvolvida sob o auspcio da equipa do Departamento de Sade Reprodutiva. O layout dos mdulos foi feito por Maureen Dunphy e a coordenao foi de Shamilah Akram. Esta segunda edio (verso inglesa) est a ser publicada conjuntamente pela OMS e pela CIP, que agradecem a Betty Sweet e a Judith OHeir pela reviso e actualizao dos mdulos e tambm, a todos os membros da reunio cientfica Fortalecendo a Obstetrcia que teve lugar em Genebra em 2001, pelos seus comentrios, contribuies e sugestes teis para as ltimas melhorias na finalizao da segunda edio; ao IPAS pelos seus comentrios e assistncia na preparao do novo mdulo de tratamento do Aborto Incompleto e dos cuidados ps-aborto, e pela autorizao para usar as suas ilustraes.

    A OMS agradece, igualmente, as contribuies financeiras dos governos da Austrlia, Itlia, Noruega, Sucia e Sua, da Corporao Carnegie, da Fundao Rockefeller, PNUD, UNICEF, UNFPA e do Banco Mundial que apoiaram estas e outras actividades dentro do Programa de Sade Materna e Maternidade Segura. A produo dos mdulos de obstetrcia foi apoiada financeiramente pela Corporao Carnegie, pelos governos da Itlia e do Japo e pela Autoridade para a Cooperao e Desenvolvimento Internacional Sueca.

    Esta verso portuguesa dos Manuais foi executada pela Associao para o Desenvolvimento e Cooperao Garcia de Orta com o apoio financeiro da Fundao Calouste Gulbenkian e da Organizao Mundial de Sade, Genebra. Os Manuais foram traduzidos em 2004, pela Enfermeira Ins Fronteira. As tradues foram revistas por Teresa Aguiar (Pediatra), Beatriz Calado (Obstetra), Cludia Conceio (Internista), Paulo Ferrinho (Mdico de Sade Pblica), Ins Fronteira (Enfermeira de Sade Pblica), Ftima Hiplito (Sociloga), Lus Varandas (Pediatra). A harmonizao final de todos os textos foi da responsabilidade de Paulo Ferrinho, Maria Cludia Conceio, Ana Rita Antunes e Vanda Ferreira. A coordenao global foi de Paulo Ferrinho. Agradecemos ainda o apoio da enfermeira Anabela Candeias.

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    NDICE

    Lista de Abreviaturas............................................................................................................... 7

    Introduo................................................................................................................................ 9

    Sumrio do mdulo.................................................................................................................. 20

    Comear................................................................................................................................... 21

    Sesso 1: Compreender o aborto........................................................................................... 23

    Sesso 2: Factores evitveis ...................................................................... 39

    Sesso 3: Identificao do problema ......................................................... 47

    Sesso 4: Tratamento do aborto incompleto: cuidados ps-aborto.................................... 59

    Sesso 5: Aprendizagem de competncias clnicas .......................................................... 73

    Sesso 6: Aspirao uterina .......................................... 105

    Sesso 7: Planeamento familiar ps-aborto .............................. 127

    Sesso 8: Estudos de caso ............................................................. 147

    Glossrio................................................................................................................................. 155

    Anexo: Perguntas para o pr-teste e teste final........................................................................ 179

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    mm Hg Milmetros de Mercrio

    LISTA DE ABREVIATURAS ACIU Atraso no Crescimento Intra-uterino

    AU Aspirao Uterina

    CAEP Colgio Americano de Enfermeiras-Parteiras

    c- Centgrado

    cc Centmetro cbico

    CDC Coagulopatia de Consumo

    CE Contracepo de Emergncia

    CID Coagulao Intravascular Disseminada

    CIP Confederao Internacional de Parteiras

    CIPD Conferncia Internacional sobre Populao e Desenvolvimento

    cm Centmetro

    DCP Desproporo Cfalo-Plvica

    DIP Doena Inflamatria Plvica

    DPP Data Provvel do Parto

    EEG - Electroencefalograma

    EDTA cido EtilenoDiaminoTetraActico EV Endovenosa

    g Grama

    HAP Hemorragia Antes do Parto

    Hg - Mercrio

    HPP Hemorragia Ps-Parto

    IM Intra-muscular

    IPAS ONG internacional que desenvolve o seu trabalho na rea da proteco da sade das mulheres e na promoo dos seus direitos sexuais

    IST Infeco Sexualmente Transmitida

    ITU Infeco do Tracto Urinrio

    Kg - Quilograma Km Quilmetro LCR Lquido cefalo-raquidiano

    mg Miligrama

    MIU Morte Intra-uterina

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    n. - Nmero

    OMS Organizao Mundial de Sade

    PCE Plula Contraceptiva de Emergncia

    PEV Perfuso Endovenosa

    PF Planeamento Familiar

    ph Grau de Acidez ou Alcalinidade de um Fluido

    PNUD Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento

    PO per os, administrao por via oral

    PPM Pulsaes por Minuto

    PPTP Paragem na Progresso do Trabalho de Parto

    PVN Parto Vaginal Normal

    Rh - Rhesus

    RMM Rcio de Mortalidade Materna

    RMP Remoo Manual da Placenta

    SIDA Sndrome da Imunodeficincia Adquirida

    TAC Tomografia Axial Computorizada

    TP Tuberculose Pulmonar

    TPR Temperatura, Pulsao e Respirao

    TT - Toxide Tetnico

    TVP Trombose Venosa Profunda

    UI Unidades Internacionais

    UM ltima Menstruao UNAIDS Programa Conjunto das Naes Unidas, para o VIH/SIDA UNICEF Fundo das Naes Unidas para as Crianas

    UNFPA Fundo das Naes Unidas para as Populaes

    UPM ltimo Perodo Menstrual VHB Vrus da Hepatite B

    VHC Vrus da Hepatite C

    VIH Vrus da Imunodeficincia Humana

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    INTRODUO

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    INTRODUO

    Estima-se que anualmente ocorrem 600 000 mortes maternas, 99% das quais nos pases em desenvolvimento, o que representa 80 000 mortes a mais que estimativas anteriores. Nos pases em desenvolvimento, a mortalidade materna varia entre 190 por 100 000 nados vivos na Amrica Latina e Carabas e 870 por 100 000 em frica. Na frica Ocidental e Oriental, encontram-se rcios de mortalidade materna de mais de 1000 por 100 000. Pelo menos 7 milhes de mulheres que sobrevivem ao parto sofrem problemas de sade graves, e mais de 50 milhes ficam com sequelas. Mais uma vez, a maioria destas sequelas ocorrem em pases em desenvolvimento.

    Para apoiar a actualizao das competncias obsttricas, de modo a que os pases possam dar resposta a esta situao, fortalecendo os servios maternos e neonatais, foram desenvolvidos, pela Organizao Mundial da Sade (OMS), uma srie de mdulos de formao em obstetrcia. A necessidade destes mdulos foi identificada no seminrio pr-congresso sobre Educao de Parteiras: Aco para um Maternidade Segura, ocorrido em Kobe, Japo, em 1990, que contou com a presena de parteiras e professores de todo o mundo, sob o patrocnio conjunto da OMS, da Confederao Internacional das Parteiras (CIP) e do Fundo das Naes Unidas para as Crianas (UNICEF). O quadro de referncia para a educao em enfermagem obsttrica, desenvolvido no seminrio, constitui a base dos mdulos.

    Os mdulos, inicialmente destinados a programas de formao em servio de parteiras e enfermeiras obstetras, podem tambm ser utilizados em programas bsicos e ps-bsicos de formao em obstetrcia. Adicionalmente, podem ser utilizados para a actualizao das competncias em obstetrcia de outros profissionais de sade e professores de obstetrcia. Contudo, importante realar que no tm como objectivo substituir os livros de texto de obstetrcia que focam outros aspectos dos cuidados necessrios durante a gravidez e o parto, mas pretendem servir como base do ensino de parteiras e formadores em obstetrcia de modo a responder, adequadamente, s principais causas de mortalidade materna como a hemorragia, a paragem na progresso do trabalho de parto, spsis puerperal e eclmpsia. Os mdulos podem, tambm, ser utilizados para a actualizao das competncias dos professores de obstetrcia.

    Os mdulos pretendem ajudar as parteiras a tornarem-se capazes de pensar criticamente e tomar decises clnicas com base em conhecimentos slidos e compreenso destas reas. No entanto, presume-se que as parteiras e os formadores de parteiras, que sejam treinados utilizando os mdulos, possuam competncias bsicas como a medio da tenso arterial, realizao de exame vaginal e assistncia a parto eutcico uma vez que, quando se utilizam os mdulos em programas bsicos de obstetrcia, estas competncias devem ser ensinadas primeiro.

    Uma variedade de outras competncias esto includas nos mdulos, por serem essenciais para a prtica clnica compreensiva da obstetrcia. Em alguns pases algumas destas competncias podem no fazer parte da prtica clnica de enfermagem obsttrica e serem entendidas, de facto, como responsabilidade do mdico e no da parteira. No entanto, os mdulos foram desenvolvidos com base na presuno de que, para alm das competncias bsicas de obstetrcia, as parteiras necessitam tambm de uma srie de competncias suplementares que as capacitem para uma significativa contribuio na reduo da mortalidade materna e para a promoo de uma maternidade segura.

    Na edio original, de 1996, existiam cinco mdulos. Recentemente foi adicionado um mdulo sobre aborto incompleto. Os mdulos foram actualizados em 2001-2002, de acordo com as mais recentes evidncias e com as orientaes da OMS Managing Complications in Pregnancy and Childbirths: a guide for midwives and doctors.

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    Os cinco mdulos originais incluem um mdulo bsico que aborda o papel da parteira na comunidade e quatro mdulos tcnicos que cobrem a hemorragia ps-parto (HPP), o parto prolongado e paragem na progresso do trabalho de parto, a spsis puerperal e a eclmpsia. O mdulo sobre aborto, o sexto da srie. Estima-se que o mdulo bsico requeira aproximadamente duas semanas para ser ensinado e os mdulos tcnicos aproximadamente uma a duas semanas, dependendo de factores tais como as necessidades de aprendizagem, as capacidades dos alunos e os recursos de ensino-aprendizagem disponveis.

    Cada um dos mdulos pode ser ensinado independentemente dos outros, no entanto, os mdulos complementam-se porque, em conjunto, representam uma abordagem compreensiva da gesto das maiores causas de mortalidade e morbilidade materna. , pois aconselhvel, utilizar os mdulos de uma forma que possibilite que as parteiras trabalhem sobre todos eles.

    Os mdulos so acompanhados de notas, que esto compiladas num nico documento. Tm como objectivo serem usadas no processo de aprendizagem e, mais tarde, como fonte de referncia.

    Todas as competncias abrangidas pelos mdulos so necessrias para que as parteiras sejam efectivas na prestao de cuidados, imediatos e adequados, a mulheres com complicaes da gravidez e do parto. Estas competncias esto consonantes com a definio internacional de Assistente Competente1 na gravidez, parto e cuidados ps-natais. No entanto, em alguns pases as parteiras podem no estar autorizadas, legalmente, a praticar todas essas competncias pelo que, nestes casos, os mdulos devero ser adaptados s regulamentaes locais relativas prtica clnica obsttrica, enquanto que, ao mesmo tempo, devem ser desenvolvidos esforos no sentido de introduzir mudanas legislativas que permitam a prtica clnica dessas competncias.

    ESTRUTURA DOS MDULOS Todos os mdulos, excepo do mdulo bsico, tm a mesma estrutura. O mdulo bsico segue uma organizao um pouco diferente dos restantes. No aborda um problema clnico especfico mas o tema geral da mortalidade materna, focando os factores que contribuem para a mesma e a importncia da participao comunitria no desenrolar de uma maternidade segura.

    Os mdulos tcnicos abordam problemas clnicos especficos e seguem uma estrutura comum que comea com a introduo ao problema, seguida de sesses sobre os factores evitveis que lhe esto associados, a identificao e a gesto do problema e a aprendizagem das competncias clnicas necessrias.

    As sesses, em todos os mdulos, so apresentadas da seguinte forma:

    Introduo sesso (numa caixa sombreada a cinzento) que descreve: - Finalidade da sesso; - Objectivos para a sesso; - Plano da sesso, que pode incluir os mtodos de ensino e o tempo proposto; - Recursos necessrios para conduzir a sesso.

    1 Equivalente ao Skilled Attendant na lingua inglesa. Assistente competente um profissional de sade com competncias

    obsttricas, como as parteiras, os mdicos e as enfermeiras que tenham sido treinados para acompanharem gravidezes, partos e perodos ps-parto imediatos normais e identificarem e encaminharem mulheres ou recm nascidos para ajuda especializada. (Making pregnancy safer: the critical role of the skilled attendant. Declarao conjunta da OMS, ICM, FIGO. Genebra, Organizao Mundial da Sade, 2004.)

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    Instrues para o Professor (em letra itlica) que explicam passo a passo como conduzir a sesso e, por vezes, sugerem mtodos de avaliao.

    Material suplementar para o professor (em letra normal) que detalham os contedos tericos e prticos de ensino.

    Instrues para os alunos (ou instrues para trabalho de grupo) que contemplam orientaes para actividades individuais ou de grupo.

    CONTEDO DOS MDULOS A Parteira na Comunidade

    O mdulo descreve a histria de um caso que demonstra como determinados factores sociais, econmicos e culturais, combinados com atrasos na procura de cuidados mdicos colocam as mes em risco de complicaes, que, muitas vezes conduzem morte. O tema da histria ento reforado ao longo do mdulo, sendo enfatizado o papel das parteiras na promoo de uma maternidade segura na comunidade.

    As diferentes sesses cobrem tpicos especficos como:

    O lugar e o valor da mulher na sociedade; As crenas tradicionais; As prticas e tabus que afectam a sade da mulher durante a gravidez e o parto; O reconhecimento e minimizao dos factores de risco; O conceito de parto prolongado.

    Estas sesses relacionam, quando relevante, o tema em discusso com a mortalidade materna, VIH/SIDA e maternidade segura. Sesses adicionais contemplam como fazer o diagnstico comunitrio para planeamento e avaliao de cuidados comunitrios.

    Hemorragia Ps-Parto

    Este mdulo comea com uma explicao detalhada sobre a fisiologia e gesto da terceira etapa do parto, de modo a que os alunos possam compreender genericamente a forma como ocorre a Hemorragia Ps-Parto (HPP). Aqui os alunos aprendem o que a HPP, como ocorre, como pode ser identificada e quais os aspectos essenciais da sua abordagem clnica.

    As competncias especficas para prevenir e gerir a HPP incluem:

    A identificao dos factores que colocam as mulheres em risco de HPP; A gesto da terceira fase do trabalho de parto; Palpao e massagem do tero e expulso de cogulos de sangue; Aplicao de compresso bimanual do tero; Aplicao de compresso manual na aorta; Sutura de laceraes perineais; Episiorrafia; Reparao de laceraes do colo uterino e vaginais altas; e Remoo manual da placenta.

    As competncias gerais deste mdulo incluem:

    Cateterismo urinrio;

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    Observao e registo;

    Colheita de sangue para anlise; Preparao, administrao e monitorizao de solues endovenosas; Monitorizao de transfuses sanguneas; e administrao de teraputica.

    Algumas destas competncias gerais so tambm includas noutros mdulos tcnicos.

    Parto Prolongado e Paragem na Progresso do Trabalho de Parto

    Este mdulo apresenta uma reviso da anatomia e fisiologia relevantes para a gesto do parto prolongado e paragem na progresso do trabalho de parto explicando o que provoca mais frequentemente o parto distcico, o que ocorre neste tipo de parto e como podem ser identificados os sinais de parto prolongado e paragem na progresso do trabalho de parto assim como os aspectos essenciais da sua abordagem clnica. dado especial nfase ao uso do partograma na avaliao do trabalho de parto.

    As competncias especficas para prevenir e gerir o parto prolongado e paragem na progresso do trabalho de parto incluem:

    Identificao dos factores de risco; Avaliao da capacidade plvica; Diagnstico da apresentao e posio do feto; Avaliao da descida da cabea fetal; Reconhecimento do parto prolongado e paragem na progresso do trabalho de parto.

    As competncias gerais deste mdulo incluem:

    Cateterismo urinrio; Colheita de sangue para anlise; Preparao, administrao e monitorizao de solues endovenosas; Administrao de teraputica; e Manuteno do balano hidroelectroltico.

    Spsis Puerperal Este mdulo apresenta uma explicao sobre a spsis puerperal e os factores que contribuem para tal, como pode ser identificada e diferenciada de outras condies, como pode ser prevenida e como pode ser tratada e, ainda, uma sesso sobre o VIH e SIDA em mulheres grvidas.

    As competncias especficas para prevenir e tratar a spsis puerperal incluem:

    Identificao de factores de risco; Identificao de sinais e sintomas; Colheita de urina pelo mtodo do jacto intermdio; Realizao de uma zaragatoa vaginal alta; e Manuteno da higiene vulvar.

    As competncias gerais contempladas neste mdulo incluem:

    Observao e registo; Colheita de sangue para anlise; Preparao, administrao e monitorizao de solues endovenosas; Manuteno do balano hidroelectroltico; Administrao de teraputica; Preveno de problemas trombo-emblicos;

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    Precaues Universais na preveno da infeco; e Utilizao de planos de cuidados.

    Eclmpsia

    Este mdulo apresenta uma explicao sobre a pr-eclmpsia e a eclmpsia e os factores que contribuem para este problema, como pode ser identificada e diferenciada de outras condies, como pode ser prevenida e tratada.

    As competncias especficas para prevenir e tratar a eclmpsia incluem:

    Identificao dos factores de risco de pr-eclmpsia e eclmpsia; Observaes de obstetrcia e de enfermagem; e Cuidados e observaes durante uma convulso.

    As competncias gerais contempladas neste mdulo incluem:

    Colheita de sangue para anlise; Preparao, administrao e monitorizao de solues endovenosas; Administrao de teraputica; Cateterismo urinrio; e Preveno de problemas trombo-emblicos.

    Aborto incompleto

    O mdulo comea com uma reviso sobre o contexto do aborto, seguindo-se uma explicao sobre o mesmo, incluindo os diferentes tipos, os efeitos do aborto na morbilidade e mortalidade materna, preveno da gravidez no desejada, leis e regulamentos relacionados com o aborto, perspectivas socio-culturais e religiosas e o papel das parteiras nos cuidados abortivos, com nfase particular nos cuidados abortivos urgentes. Posteriormente, so tambm abordados os factores que contribuem para o aborto, como podem ser identificados e diferenciados de outras condies, como pode ser prevenido e, se ocorrer, como pode ser tratado.

    As competncias especficas para tratar as mulheres ps-aborto incluem:

    Aspirao uterina; e Aconselhamento e mtodos de planeamento familiar ps-aborto.

    Tambm so comtempladas as competncias seguintes, porque podem ser necessrias, que tambm so descritas no mdulo da HPP,

    Aplicao de compresso bimanual do tero; Aplicao de compresso manual na aorta; Reparao de laceraes do colo uterino e vaginais altas.

    As competncias gerais comtempladas neste mdulo incluem:

    Observao e registo; Colheita de sangue para anlise; Preparao, administrao e monitorizao de solues endovenosas; Administrao e monitorizao de transfuses sanguneas; e Administrao de teraputica.

    Algumas destas competncias gerais esto tambm includas nos outros mdulos tcnicos.

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    CD-ROM

    Existe tambm um CD-ROM para cada mdulo com todos os contedos tcnicos dos manuais. Os professores podem usar este CD-ROM como um guia para prepararem as suas aulas.

    MTODOS DE ENSINO-APRENDIZAGEM

    Os mdulos propem uma srie de mtodos de ensino-aprendizagem desenhados para maximizarem o envolvimento do aluno no processo de ensino-aprendizagem. Nos mdulos, enfatizada a aplicao da teoria prtica clnica, sendo o tempo dispendido na rea clnica e as visitas comunidade uma parte essencial do processo de ensino- -aprendizagem.

    Exposies

    As exposies so utilizadas para apresentar informao nova ou para rever os contedos j ministrados aos alunos. Os mdulos incluem uma variedade de materiais visuais para o professor utilizar de modo a tornar as exposies interessantes.

    O professor pode aumentar o contedo das exposies dos mdulos com informao de outras fontes ou, simplesmente, seguir o esquema fornecido. Em ambos os casos importante preparar previamente cada exposio lendo os contedos relevantes e os materiais de referncia e assegurar que os recursos para os alunos, se necessrio, estaro disponveis.

    Discusses

    importante prever tempo para discusso de determinados aspectos durante ou na concluso das sesses. Tal proporcionar oportunidade aos alunos de colocarem questes sobre dvidas que tenham bem como contribur para o seu conhecimento e experincia. Por outro lado, permitir que o professor avalie as opinies, o nvel de conhecimento e a compreenso dos alunos.

    Trabalho de Grupo e Feedback

    Muitas das sesses dos mdulos envolvem trabalho de grupo seguido, habitualmente, de uma sesso onde dado a conhecer turma o resultado do trabalho. Os grupos devem ser o mais pequenos possvel (preferencialmente at 6 estudantes por grupo) de modo a que os alunos se debrucem sobre um assunto especfico ou problema. importante assegurar tambm que existe espao suficiente para os grupos se reunirem sem se perturbarem uns aos outros. Cada grupo ir precisar de um dinamizador que ser responsvel por manter a discusso e assegurar que o grupo complete o trabalho. Adicionalmente, cada grupo precisar de um relator que tomar notas e dar o feedback turma. As instrues especficas so dadas nas sesses que envolvem trabalho de grupo.

    Tutorias

    As tutorias so reunies entre o professor e um aluno ou grupo de alunos e so importantes para a discusso do percurso do aluno. Habitualmente, so realizadas aps uma actividade de aprendizagem especfica, dando aos alunos a oportunidade para exprimir as suas preocupaes e, simultaneamente, permitem ao professor conhecer melhor cada aluno, relativamente ao progresso feito. Todos os mdulos contam com tutorias em algumas sesses.

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    Exerccios Prticos

    Os exerccios prticos permitem que os alunos demonstrem o seu conhecimento e competncias relativamente a um tpico especfico. importante, nestas situaes, dar instrues claras sobre os exerccios a serem realizados e monitorizar os progressos providenciando ajuda sempre que necessrio. Os mdulos bsico, HPP, parto prolongado e paragem na progresso do trabalho de parto e aborto incompleto incluem exerccios prticos.

    Visitas Comunitrias

    As visitas comunitrias pretendem ser experincias instrutivas e agradveis para os alunos. O mdulo bsico inclui uma srie destas visitas com o objectivo de ajudar os alunos a compreenderem a forma como os conceitos deste mdulo se aplicam na comunidade. No entanto, as visitas comunitrias devem ser planeadas e organizadas com antecedncia, incluindo a escolha de uma comunidade apropriada e o contacto com uma pessoa de referncia que possa facilitar a implementao das actividades na comunidade.

    O professor pode organizar as visitas comunitrias de modo a que sejam feitas em dias consecutivos em vez de nos intervalos sugeridos. Se esta alterao for feita, ser importante assegurar que no interfere com os objectivos de aprendizagem das sesses e do mdulo, como um todo.

    As visitas aos contextos clnicos para ensino clnico devem, tambm, ser bem preparadas com o pessoal das instituies. Os professores e os alunos devem ser facilmente identificveis e agir de forma profissional mantendo a confidencialidade, privacidade e dignidade da observada e assegurarem-se que obtm o consentimento da mulher antes de executarem qualquer interveno clnica.

    Ensino clnico

    O ensino clnico extremamente importante nos mdulos tcnicos, dado que as competncias que os alunos adquirem podem fazer a diferena entre a vida e a morte das mulheres que cuidam, a teoria subjacente a cada competncia abordada nos mdulos deve ser ensinada em sala de aula e a prpria competncia deve ser ensinada, em ambiente criado, igualmente, em sala de aula, antes do ensino clnico. As instalaes, onde decorrer a prtica clnica, devem ser escolhidas assegurando, antecipadamente, que se encontraro mulheres com os problemas includos nos mdulos. Contudo, e mesmo que bem planeado, no ser possvel garantir a todos os alunos a oportunidade de exercer todas as competncias prticas. Assim, ser importante considerar oportunidades para os alunos adquirirem a experincia clnica apropriada aps o final do curso.

    Os contactos com o pessoal das instituies de sade, onde decorrer o ensino clnico devero ser feitos antecipadamente. Para alm disso, as visitas dos alunos a estas instituies para fins de prtica clnica no devem perturbar as rotinas de cuidados aos doentes. Quando os alunos esto a aprender competncias prticas devem ser supervisionados pelo professor ou por outra parteira com formao adequada e experiente.

    Dramatizaes e Representaes

    As dramatizaes e representaes devem ser utilizadas para realar os pontos apresentados pelo professor. Em ambos os casos, pedido aos alunos para agirem numa situao real ou imaginria. Na dramatizao, os alunos inventam os seus prprios personagens e, at certo ponto, a sua histria de modo a ilustrar um aspecto em especial. Na representao os alunos assumem o papel de determinados indivduos como a parteira, o lder da aldeia, o parente ansioso ou a me preocupada. Tal permite que o aluno compreenda as situaes e problemas na perspectiva do outro. As dramatizaes e representaes so includas, em vrios mdulos, como actividades opcionais.

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    Estudos de Caso

    Os mdulos tcnicos permitem que os alunos apresentem estudos de caso que avaliem a efectividade dos cuidados em situaes especficas. Assim, os alunos podero aprender com as suas prprias experincias assim como com as dos outros. O objectivo dos estudos de caso no criticar a prtica clnica dos outros mas sim encorajar os alunos a olharem para as prticas anteriores e retirarem lies para o futuro. Os estudos de caso devem ser baseados em registos das mulheres de modo a demonstrar a gesto de determinadas condies (por exemplo, aborto incompleto, spsis puerperal, eclmpsia, etc). O anonimato da mulher deve ser mantido ao longo da apresentao dos estudos de caso.

    Jogos e Puzzles Didcticos

    Os jogos e puzzles didcticos so meios interactivos e que permitem a aquisio de novos conhecimentos e reviso e consolidao dos conhecimentos existentes. Os jogos e puzzles didcticos dos mdulos sero novos para os professores que os utilizarem e, por isso, importante que se familiarizem antecipadamente. Mais especificamente, necessrio que o professor seja capaz de explicar claramente aos alunos como os utilizar e avaliar os progressos feitos durante as actividades em que so usados.

    Seminrios

    Um seminrio uma actividade sobre um dado tema, planeada para determinado perodo, normalmente com apresentaes de um ou mais oradores convidados. Quando os seminrios so recomendados, so tambm sugeridos os objectivos e contedos. Os seminrios requerem planeamento cuidado no que diz respeito aos contedos, horrio e local.

    Reflexo

    A aprendizagem o resultado da reflexo sobre a prtica clnica. Os alunos devem, por isso, ser encorajados a reflectir sobre a sua experincia de prtica clnica e a registarem estas reflexes, diariamente, num caderno. Estas podem ser utilizadas como base de discusso com o tutor e/ou pares. A estruturao da reflexo inclui a seleco de uma experincia, identificao de sentimentos e pensamentos do prprio e dos outros acerca dessa experincia e avaliao, positiva ou negativa, dessa experincia. Os alunos devem ser estimulados a analisar porque consideraram a experincia positiva e/ou negativa e a determinar o que poderia ter sido feito de modo a melhorar o resultado. Finalmente, deve ser elaborado um plano de aco para ser aplicado quando surgir uma situao semelhante. A discusso sobre as experincias registadas diariamente, em grupo ou com o professor, ajuda a que os alunos tenham vrias perspectivas sobre a sua experincia. Deve ser acrescentado um sumrio destas discusses aos registos dirios para ser relembrado posteriormente.

    AVALIAO DOS ALUNOS

    Pr-Testes e Testes Finais

    Os pr-testes so uma ferramenta til para determinar o nvel de conhecimentos tericos dos alunos. Para avaliar a mudana nos conhecimentos tericos, aps o ensino dos contedos, as questes utilizadas no teste final devem ser as mesmas do pr-teste, podem ser acrescentadas questes, quer ao pr-teste quer ao teste final. Durante o processo de ensino-aprendizagem, devem ser aplicadas outras medidas de avaliao (ver a seguir), especialmente para determinar os progressos feitos por cada aluno, ao longo do curso. Os exemplos de pr-teste e teste final esto includos em cada um dos mdulos tcnicos.

  • Aborto Incompleto 19

    Avaliao das Competncias Clnicas

    A avaliao das competncias clnicas constitui a maior componente avaliativa dos mdulos tcnicos. Ao longo das sesses que envolvem o ensino de competncias clnicas existem seces intituladas: Avaliao. Estas detalham orientaes para a avaliao de competncias clnicas dos alunos. Sempre que possvel, o professor deve observar o desempenho do aluno, contudo, tal pode no ser possvel na ausncia de mulheres com os problemas estudados. Nestas circunstncias, o professor deve simular situaes que ofeream oportunidade para os alunos praticarem e serem avaliados relativamente s competncias mais relevantes. No entanto, devem ser feitos todos os esforos para dar aos alunos oportunidades para praticarem e serem avaliados num contexto clnico.

    Outras Opes de Avaliao

    As outras opes de avaliao surgem durante a realizao de trabalhos de grupo, tutorias, seminrios do aluno, jogos e puzzles didcticos e questes colocadas durante as visitas comunitrias. Estas actividades constituem oportunidades vitais para o professor avaliar o progresso dos alunos na prossecuo dos objectivos de aprendizagem de cada sesso do mdulo.

    PLANEAMENTO DAS ACTIVIDADES DE SEGUIMENTO

    Uma prtica clnica obsttrica compreensiva baseia-se na experincia e no conhecimento e esta experincia que os alunos adquirem quando voltarem aos locais de trabalho e aplicarem o que aprenderam sua prtica clnica diria.

    precisamente quando colocam em prtica os conhecimentos e as competncias que as parteiras se deparam com situaes que podem levantar questes. Podem existir assuntos e problemas que gostariam de discutir com os supervisores e profissionais mais experientes de modo a encontrar solues e melhorar a prtica clnica. Isto pode aplicar-se especialmente s parteiras e enfermeiras obstetras que, no fim deste curso, ainda necessitem de experincia prtica para desenvolverem as competncias clnicas includas nos mdulos.

    Uma reunio de seguimento, por exemplo, seis meses aps o fim do curso, poder ser importante para capacitar os alunos para a partilha de experincias, relato de sucessos, reviso dos progressos e discusso de problemas relacionados com a prtica clnica. Pode tambm ser adequado a realizao de outras reunies de seguimento, anuais, aps o fim do curso.

    Dada a complexidade das situaes abordadas, a maternidade segura no pode ser alcanada de um dia para o outro. No entanto, e dado ser possvel identificar, claramente, as intervenes necessrias, a maternidade segura algo que se pode alcanar medida que os alunos deste curso se integram como profissionais competentes nos servios e comunidades.

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    SUMRIO DO MDULO

    Sesso Mtodos de ensino-aprendizagem Carga Horria

    1. COMPREENDER O ABORTO Exposio Trabalho de grupo Feedback, discusso

    Total: 2 horas

    2. FACTORES EVITVEIS Exposio Trabalho de grupo Feedback, discusso

    Total: 2 horas

    3. IDENTIFICAO DO PROBLEMA

    Exposio Representao Trabalho de grupo Feedback, discusso

    Total: 2 horas

    4. TRATAMENTO DO ABORTO INCOMPLETO: CUIDADOS PS-ABORTO

    Exposio Discusso Total: 2 horas

    5. APRENDIZAGEM DE COMPETNCIAS CLNICAS

    Exposio Prtica simulada Ensino clnico

    Total: 1 semana

    6. ASPIRAO UTERINA Discusso Prtica simulada Ensino clnico

    Total: 1 semana

    7. PLANEAMENTO FAMILIAR PS-ABORTO

    Discusso Representao Feedback e discusso

    Total: 4 horas

    8. ESTUDOS DE CASO

    Tutorias opcionais Estudos de caso Trabalho de grupo Feedback e discusso

    Total: 4 horas

    Nota:

    Os professores devem basear-se na sua experincia de ensino para distribuir a carga horria pelos vrios sub-tpicos contemplados nas sesses, para que todos eles sejam adequadamente contemplados dentro do tempo disponvel.

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    COMEAR

    Antes de comear a Sesso 1, relembre o modo de apresentao das sesses:

    Introduo Sesso (numa caixa sombreada a cinzento) que descreve: Finalidades A finalidade da Sesso; Objectivos Os objectivos da Sesso; Plano - Plano da Sesso que pode incluir os mtodos de ensino e o tempo proposto; Recursos Os recursos necessrios.

    Instrues para o professor (em letra itlica) que explicam passo-a-passo como conduzir a sesso, e por vezes, sugerem mtodos de avaliao.

    Material suplementar para o professor (em letra normal) que d detalhes sobre os contedos tericos e prticos de ensino.

    Instrues para os alunos (ou instrues para trabalho de grupo) que do orientaes para actividades individuais ou de grupo.

    Outros pontos importantes a considerar antes de comear: Lembre-se da possibilidade de necessitar de ajustar, no incio de cada sesso do mdulo, o

    tempo indicado no plano, porque pode ser necessrio para uma actividade ser maior ou menor do que o especificado no plano, dependendo dos conhecimentos e capacidades dos alunos e das suas necessidades de aprendizagem. O tempo necessrio para uma actividade pode ser maior ou menor do que o tempo indicado no plano. Estima-se que este mdulo necessite entre 10 dias e duas semanas para ser leccionado.

    Assegure-se que os apontamentos para os alunos, que acompanham os mdulos, esto disponveis para a turma.

    Se vai usar os pr-testes e os testes finais, veja o anexo no final do mdulo antes de iniciar a primeira Sesso do mdulo.

    Lembre-se que este e outros mdulos tcnicos no pretendem substituir os livros de texto de obstetrcia ou outros relevantes, como tal, pode ser til ter um ou mais livros de texto disponveis como referncia medida que avana nos mdulos.

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  • Aborto Incompleto 23

    1. COMPREENDER O ABORTO

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    SESSO 1

    COMPREENDER O ABORTO FINALIDADE

    Capacitar os alunos para compreenderem as implicaes para a sade, legais, socio-culturais e religiosas do aborto e o papel das parteiras nos cuidados abortivos.

    OBJECTIVOS

    No final da Sesso 1 os alunos devem ser capazes de:

    1. Definir aborto. 2. Explicar o peso do aborto na morbilidade e mortalidade materna. 3. Explicar porque que uma gravidez no desejada deve ser prevenida e como faze-lo. 4. Discutir as leis e regulamentos relacionados com o aborto no contexto do seu pas. 5. Descrever as perspectivas socio-culturais e religiosas que afectam o aborto. 6. Descrever o papel das parteiras na prestao de cuidados abortivos.

    PLANO Exposio. Trabalho de grupo. Feedback e discusso. Carga horria: aproximadamente 2 horas e 30 minutos.

    RECURSOS Instrues para o trabalho de grupo. Ficha de trabalho.

    Family Care International. Safe Motherhood Fact Sheet: Address Unsafe Abortion. New York. Family Care International 1998.

    Family Care International. Safe Motherhood Fact Sheet: Prevent Unwanted Pregnancy. New York. Family Care International 1998.

    World Health Organization. Revised 1990 Estimates of Maternal Mortality: A New Approach by WHO and UNICEF. WHO/FRH/MSM/96.11, UNICEF/PLN/96.1. Geneva, World Health Organization 1996.

    World Health Organization. Care of Mother and Baby at the Health Centre: A Practical Guide. WHO/FHE/MSM/94.2. Geneva, World Health Organization 1994.

    Obtenha uma cpia das seces relevantes das leis do seu pas para partilhar com os participantes.

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    INTRODUO

    O Aborto um assunto sensvel do ponto de vista socio-cultural, religioso e legal pelo que, enquanto lecciona esta Sesso, e as seguintes, importante observar as reaces e/ou respostas dos alunos informao apresentada. medida que progride no mdulo, haver oportunidades para ajudar os alunos a examinarem as suas atitudes e crenas relativamente ao aborto e para desenvolver as competncias necessrias para prestar cuidados seguros e efectivos s mulheres que sofrem das consequncias do aborto.

    Antes de iniciar esta sesso, deve estar familiarizado com o contedo do Programa de Aco adoptado na Conferncia Internacional sobre Populao e Desenvolvimento (CIPD), especialmente, o captulo VII Direitos Reprodutivos e Responsabilidades Reprodutivas e o captulo VIII Sade, Morbilidade e Mortalidade. A ttulo informativo, pode obter uma cpia do Programa de Aco, atravs do seu Ministrio da Sade.

    Inicie a sesso apresentando os conceitos que se seguem. Escreva cada conceito no quadro, ou flipchart, e convide os alunos a virem ao quadro e a escreverem o significado de cada um. Tal ir dar-lhes uma oportunidade inicial para avaliar a vontade dos alunos em discutir o aborto e os assuntos com ele relacionados, e para lhes lembrar que, apesar das suas prprias crenas e das leis relativas ao aborto, as mulheres do seu pas sofrero e morrero de complicaes ps-aborto a no ser que tenham acesso a cuidados de urgncia de qualidade. Eticamente e no que concerne ao seu prprio cdigo deontolgico, os profissionais de sade tm o dever de cuidar e de prestar os cuidados essenciais vida numa emergncia de sade.

    DEFINIO DE CONCEITOS

    Aborto: Morte ou expulso do feto espontnea ou induzida antes da 22 28 semana de gestao, dependendo da legislao do pas.

    Aborto espontneo: Ocorre por um processo natural e pode ser ameaa, inevitvel, completo ou incompleto da 22 28 semana.

    Ameaa de aborto: Presume-se que ocorre quando h hemorragia vaginal numa mulher grvida nas primeiras 28 semanas de gravidez. Se for feito um exame gentil com espculo aps o fim da hemorragia o ostcio cervical est fechado. Pode haver lombalgias e dor abdominal ligeira mas as membranas permanecem intactas.

    Aborto inevitvel: Significa que impossvel a prossecuo da gravidez. Normalmente h hemorragia vaginal grave porque houve descolamento de uma grande rea da placenta da parede uterina. H dor abdominal severa que segue os padres das contraces uterinas durante o parto (intermitente). O colo do tero dilata-se e ou as membranas se rompem ou o saco fetal expelido completo.

    Aborto completo: Significa que todos os produtos da concepo embrio/ feto, placenta e membranas so expulsos. mais provvel que ocorra nas primeiras 8 semanas de gestao.

    Aborto incompleto: Significa que, apesar do feto ter sido expulso, parte ou toda a placenta ficou retida. H hemorragia grave embora a dor possa parar. O colo do tero est parcialmente fechado. mais provvel que acontea no segundo trimestre de gravidez.

    Aborto induzido: Ocorre em resultado de interferncia mdica, cirrgica ou do uso de preparaes de ervas ou outras prticas tradicionais que provocam a expulso total ou parcial dos contedos do tero. O aborto induzido pode ser legal ou ilegal.

    Aborto legal: executado por um profissional mdico, aprovado pela lei do pas, que termina a gravidez pelas razes previstas na lei. Podem existir regulamentos para que tal procedimento seja

  • Aborto Incompleto 26

    executado da forma aprovada e nos locais ou instituies aprovadas. Deve estar familiarizado com a lei do seu pas no que diz respeito ao aborto. Em alguns pases o aborto ilegal independentemente da razo ou situao.

    Aborto ilegal: Significa que o aborto feito por qualquer pessoa que no est autorizada a faz-lo pela lei do pas. Existe um elevado risco de spsis e/ ou hemorragia assim como de outros traumatismos.

    Aborto sptico: Pode ocorrer a seguir a qualquer tipo de aborto mas mais comum a seguir ao aborto ilegal e ao incompleto. A infeco ocorre, em primeiro lugar, no tero mas pode-se espalhar rapidamente s trompas de falpio, rgos plvicos e peritoneu e causa septicemia se no for tratado prontamente. H febre, pulso acelerado, cefaleias, dor abdominal inferior e lquios profusos e ftidos.

    Outros tipos de aborto:

    Aborto habitual ou recorrente:

    Quando uma mulher tem duas ou mais gravidezes consecutivas que terminam em aborto. Pode estar associado com um colo do tero incompetente ou com doena geral ou plvica. A causa pode ser traumatismo anterior do colo do tero. Muitas vezes a causa desconhecida.

    Aborto retido: Descreve uma gravidez em que o feto morreu mas os tecidos fetais e a placenta ficaram retidos no tero. A dor abdominal e a hemorragia vaginal param e os sinais de gravidez desaparecem. A mulher pode ter um corrimento vaginal acastanhado. Se os tecidos mortos ficarem retidos no tero mais do que 6-8 semanas h risco de a mulher desenvolver distrbios da coagulao que iro resultar em problemas hemorrgicos graves.

    Por vezes um aborto retido com o feto e a placenta rodeados por sangue coagulado dentro da decdua capsular. Ocorre normalmente no primeiro trimestre. Se esta reteno se prolongar por vrios meses, o fludo absorvido a massa rija que permanece denominada de mola carnuda. O feto ainda pode ser encontrado no centro desta massa atravs de exame histolgico.

    DIMENSO DO PROBLEMA

    medida que apresenta a informao que se segue, pea aos alunos para considerarem a situao no prprio pas, no que diz respeito ao peso do aborto na morbilidade e mortalidade materna, assim como nas comunidades em que vivam ou trabalhem.

    Aborto, morbilidade e mortalidade materna

    Globalmente, mais de 500 000 mulheres morrem todos os anos de causas relacionadas com a gravidez (as estimativas indicam 2 000 na regio de 529 0002), 99% das quais nos pases em desenvolvimento. Nestes pases, os rcios de mortalidade materna variam entre 160 por 100 mil nados vivos na Amrica Latina e Carabas e 870 por 100 mil em frica. No entanto, na frica Oriental e Ocidental, os rcios ultrapassam os 1 000 por 100 mil.

    Estima-se que, a nvel mundial, uma em cada oito mortes maternas (estimativa de 13%) ou 67 mil mortes se devem ao aborto inseguro3. Apesar do aumento dramtico do uso da contracepo, nas ltimas trs dcadas, estima-se que ocorram, anualmente, 40 a 50 milhes de abortos, metade dos quais em condies pouco seguras. Apesar da prioridade ser a preveno de gravidezes no desejadas e acidentais, em muitos pases em desenvolvimento, a contracepo no est disponvel ou acessvel maioria das mulheres. Como resultado, muitas procuram terminar as gravidezes no desejadas apesar das leis restritivas e dos servios inadequados. Estima-se que, a nvel mundial, ocorram anualmente quase 20 milhes de abortos inseguros o que representa quase uma em cada dez gravidezes ou um rcio de 1 aborto inseguro para pouco mais de sete nascimentos. Quase 95% dos abortos inseguros ocorrem nos pases em desenvolvimento e estima-se que, a nvel mundial, morram, anualmente, quase 80 mil mulheres de complicaes ps-aborto2. Ver o Quadro 1.

    2 World Health Organization. Maternal Mortality 2000: estimates by WHO, UNICEF; UNFPA. Geneva, World Health Organization 2003.

    3 World Health Organization. Unsafe Abortion: Global and Regional Estimates of Incidence of and Mortality Due to Unsafe Abortion With

    a Listing of Available Country Data (3rd Edition) WHO/RHT/MSM/97.16, Geneva, World Health Organization 1998.

  • Aborto Incompleto 27

    Quadro 1 Estimativas globais e regionais anuais da incidncia e mortalidade, associada a abortos inseguros. Naes Unidas, 1995-2000

    Estimativa do nmero de

    abortos inseguros

    (000)

    Taxa de Incidncia (abortos

    inseguros por 1000

    mulheres 15-49 anos)

    Rcio de Incidncia (abortos

    inseguros por 100 nados

    vivos)

    Estimativa do nmero de mortes devidas ao

    aborto inseguro

    Rcio de mortalidade

    (mortes devidas ao aborto

    inseguro por 100 000 nados

    vivos)

    Proporo de mortes maternas

    (% de mortes maternas

    devidas a aborto inseguro)

    Total mundial 20 000 13 15 78 000 57 13

    Regies mais desenvolvidas 900 3 7 500 4 13

    Regies menos desenvolvidas 19 000 16 16 77500 63 13

    frica 5 000 27 16 34 000 110 13

    sia* 9 900 11 13 38 500 48 12

    Europa 900 5 12 500 6 17

    Amrica Latina e Carabas 4 000 30 36 5 000 41 21

    Amrica do Norte ** ** ** ** ** **

    Ocenia 30 15 12 150 51 8 Fonte: World Health Organization. Unsafe Abortion: Global and Regional Estimates of Incidence of and Mortality Due to Unsafe Abortion With a Listing of Available Country Data (3rd Edition) WHO/RHT/MSM/97.16, Geneva, World Health Organization 1998.

    * O Japo, Austrlia e Nova Zelndia foram excludos das estimativas regionais mas foram includos no total dos pases desenvolvidos.

    ** Para as regies onde a incidncia mnima, no so apresentadas estimativas.

    O elevado nmero de mulheres que se arriscam a morrer, a sofrer traumatismos e s consequncias sociais e criminais associadas ao aborto inseguro, demonstra como esto desesperadas para adiar ou no terem crianas. Estas mulheres podem induzir elas prprias o aborto ou procurar ajuda de pessoal no mdico, ou de um profissional de sade, sem as competncias necessrias. Nestas situaes, os procedimentos abortivos podem ser caracterizados pela falta de um ambiente higinico e pelo recurso a tcnicas perigosas, como a insero de um objecto slido (por exemplo, uma raiz, pequeno ramo ou cateter) no tero, ingesto de substncias nocivas, uso de fora externa ou procedimentos de dilatao e curetagem incorrectos.

    Estima-se que 10 a 50% de todas as mulheres que se submetem a abortos inseguros necessitem de cuidados mdicos para tratamento das complicaes que desenvolvem. As complicaes mais frequentes so o aborto incompleto, spsis, hemorragia e trauma intra-abdominal (por exemplo, puno ou lacerao do tero). Os problemas de sade mais crnicos e mais frequentes causados pelo aborto inseguro incluem a dor crnica, doena inflamatria plvica, bloqueio das trompas de falpio e infertilidade secundria. Outras consequncias potenciais de aborto inseguro incluem a gravidez ectpica e aumento do risco de aborto espontneo ou de parto prematuro nas gravidezes subsequentes.

  • Aborto Incompleto 28

    Muitas mulheres deixam as instituies de sade, aps o tratamento das complicaes de um aborto inseguro, sem aconselhamento sobre como prevenir a gravidez e sem um mtodo contraceptivo. Globalmente, entre 120 e 150 milhes de mulheres, que querem limitar ou espaar as gravidezes, no usam um mtodo contraceptivo. Embora haja cada vez mais uma maior acessibilidade a servios de planeamento familiar (PF), estima-se que, em todo o mundo, 350 milhes de casais no tm acesso a informao sobre contraceptivos e aos servios modernos de PF4.

    Ponto de discusso Assegure-se que os alunos tm uma cpia do pargrafo 8.25 do Programa de Aco da CIPD e discuta algumas das suas afirmaes. Por exemplo, pea aos alunos para considerarem as seguintes afirmaes tendo em conta o contexto dos seus locais de trabalho actuais:

    As mulheres, que tm gravidezes indesejadas, devem ter acesso a informao fivel e aconselhamento emptico.

    Em todos os casos, as mulheres devem ter acesso a servios de qualidade para o tratamento de complicaes do aborto.

    Os servios de aconselhamento ps-aborto, educao e PF devem ser oferecidos prontamente.

    Pea aos alunos para descreverem a informao e a natureza do aconselhamento que do s mulheres que tm gravidezes no desejadas. Pergunte-lhes porque que importante ter servios de boa qualidade para o tratamento das complicaes resultantes do aborto e porque que importante dar aconselhamento, educao e PF imediato ps-aborto.

    Pargrafo 8.25 do Programa de Aco da Conferncia Internacional sobre Populao e Desenvolvimento (CIPD) 1994

    Em caso algum, deve o aborto ser promovido como um mtodo de planeamento familiar. No que diz respeito sade pblica, todos os governos e organizaes inter-governamentais e no-governamentais consideram o aborto uma das maiores preocupaes, por isso, querem fortalecer o seu compromisso, face sade das mulheres, para lidarem com o impacto do aborto inseguro na sade, e para reduzirem o recurso ao aborto atravs da melhoria e extenso dos servios de planeamento familiar. Deve sempre ser dada prioridade preveno de gravidezes no desejadas e serem feitas todas as tentativas para eliminar a necessidade de abortos. As mulheres com gravidezes no desejadas devem ter acesso a informao fivel e aconselhamento emptico. Quaisquer medidas ou alteraes relacionadas com o aborto, no sistema de sade, s podem ser determinadas ao nvel nacional e local de acordo com a legislao nacional. Em circunstncias em que no contra a lei, o aborto deve ser seguro. Em todos os casos, as mulheres devem ter acesso a servios de qualidade para o tratamento das complicaes resultantes do aborto. Os servios de aconselhamento, educao e planeamento familiar ps-aborto devem ser oferecidos imediatamente, o que ajudar a evitar abortos repetidos.

    Preveno da gravidez no desejada e acidental

    Existem muitas razes para uma mulher no querer ter uma criana, num dado momento da sua vida. A mulher pode no estar preparada para o casamento ou a relao pode ter falhado. Uma gravidez acidental pode conduzir a sofrimento emocional ou doena. Pode, igualmente, interferir com as oportunidades de educao e de emprego da mulher. As adolescentes esto particularmente susceptveis a gravidezes no desejadas e acidentais, o que requer uma adaptao dos servios de sade para satisfazerem as suas necessidades.

    4 United Nations Population Fund. The State of World Population 1997. New York, United Nations Population Fund 1997.

  • Aborto Incompleto 29

    Muitas mulheres, em todo o mundo, esto limitadas no que diz respeito capacidade de controlar a sua fertilidade. Isto acontece mesmo nos pases onde existem servios de PF, mas que no so utilizados pelos seguintes motivos:

    Falta de acessibilidade; Deficincias nos cuidados de sade (por exemplo atitudes negativas dos profissionais de

    sade e/ou conhecimentos e competncias limitadas); Falta de recursos econmicos; Crenas scio-culturais ou religiosas, em relao ao uso de PF.

    Em muitas zonas do mundo as mulheres tm muito pouco controlo sobre quando e com quem tero relaes sexuais. A vulnerabilidade das mulheres violao, violncia e abuso sexual coloca-as em elevado risco de uma gravidez acidental. Apesar do facto de, em muitas sociedades, as relaes sexuais pr-maritais serem proibidas, muitas mulheres, jovens e solteiras, tm por necessidade econmica, relaes sexuais com homens mais velhos.

    No que diz respeito sexualidade humana e s relaes entre gnero, o Programa de Aco do CIPD inclui os objectivos seguintes: a) Promover o desenvolvimento adequado da sexualidade responsvel, permitindo relaes

    de equidade e respeito mtuo entre gneros e contribuindo para melhorar a qualidade de vida dos indivduos;

    b) Assegurar que as mulheres e os homens tm acesso informao, educao e servios necessrios para atingir uma boa sade sexual e exercer os seus direitos e responsabilidades sexuais 5.

    Para ajudar a prevenir gravidezes no desejadas, os governos necessitam de assegurar que os casais e indivduos (incluindo adolescentes e mulheres solteiras) tm acesso a informao de PF de boa qualidade, centrada no cliente e confidencial, e a servios que ofeream uma variedade de mtodos contraceptivos modernos, incluindo contracepo de urgncia. Para alm disso, os prestadores de servios de PF devem possuir as competncias tcnicas e interpessoais, informao e material e equipamentos para apoiar a prestao. No que diz respeito ao envolvimento do homem na sade sexual e reprodutiva, importante que as estratgias sejam delineadas de modo a assegurar que os homens partilham a responsabilidade, especialmente no PF e preveno e controlo das infeces sexualmente transmitidas (IST), incluindo o VIH/SIDA. Proporcionar o acesso a servios de PF uma das melhores formas de prevenir as mortes maternas por aborto inseguro. A evidncia mostra que quando so dados passos positivos para aumentar a acessibilidade e a efectividade dos servios de PF, as taxas de aborto diminuem6.

    Ponto de discusso Pea aos alunos para partilharem os seus pontos de vista sobre a qualidade dos servios de PF oferecidos nas instituies em que trabalham: As mulheres e adolescentes das suas comunidades tm acesso a servios que as ajudam a

    prevenir outras gravidezes no desejadas? A contracepo de emergncia est disponvel? Como parteiras, o que que podem fazer para assegurar servios de boa qualidade para

    as mulheres, incluindo as adolescentes, para a preveno de gravidezes no desejadas? O que que podem fazer para assegurar o envolvimento do homem na sade sexual e

    reprodutiva? Use seces relevantes nos captulos VII e VIII do Programa de Aco da CIPD para facilitar a discusso.

    5 Programme of action of the International Conference on Population and development, Cairo, 5-13 September 1994, New York, United

    States Population Fund, 1996. 6 Bongaats J, Westoff CF The Potencial Role of Contraception in Reducing Abortion. Studies in Family Planning. 2000, 31: 193-202.

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    Leis e regulamentos relacionados com o aborto

    Nos pases em desenvolvimento, onde o tamanho mdio desejvel da famlia relativamente grande, das 210 milhes de gravidezes que ocorrem todos os anos, estima-se que 75 milhes no sejam planeadas e que 40 a 50 milhes acabem em aborto7. Apesar de em quase todos os pases do mundo existirem situaes em que o aborto autorizado para salvar a vida da mulher, as razes pelas quais o aborto autorizado variam enormemente (Figura 1.1).

    27%

    33%

    39%

    43%

    62%

    63%

    98%

    0% 20% 40% 60% 80% 100% 120%

    Apedido

    Razes sociais ou econmicas

    Anomalias fetais

    Violao ou incesto

    Preservar a sade mental

    Preservar a sade fsica

    Salvar a vida da mulher

    Figura 1.1: Situaes em que o aborto permitido - % de pases.

    Apesar disto, e devido a barreiras como a falta de informao, a distncia at instituio de sade, os constrangimentos econmicos e a falta de confidencialidade que ainda existem em muitos pases, o acesso a um aborto seguro , para muitas mulheres, impossvel o que significa que, em muitos pases em desenvolvimento, no existem servios de aborto seguro para todas as situaes em que o aborto permitido pela lei. Adicionalmente, os servios de aborto seguro e legal no esto disponveis para muitas mulheres que se qualificam para estes, pela falta de prestadores treinados ou inadequao das instalaes, assim como pelas atitudes negativas dos prestadores em relao ao aborto, especialmente no que diz respeito a mulheres jovens e solteiras. Alterar a legislao para permitir o aborto legal no conduz, necessariamente ao aumento das taxas de aborto. Por exemplo, a Holanda tem uma lei de aborto no restritiva, servios abortivos gratuitos, contraceptivos largamente acessveis, mas tem a taxa de aborto mais baixa do mundo (5,5 abortos por 1 000 mulheres em idade frtil). Outros pases que liberalizaram as leis do aborto de modo a permitir um melhor acesso ao aborto legal sem que a taxa de aborto tivesse aumentado, incluem os Barbados, Tunsia e Turquia6. A reviso da implementao da CIPD em 1999, pela Assembleia Geral das Naes Unidas (CIPD+5) acrescentou que em circunstncias em que o aborto no contra a lei, os sistemas de sade devem preparar e equipar os prestadores e tomar outras medidas para assegurar que o aborto seguro e acessvel. Medidas adicionais devem ser tomadas para salvaguardar a sade das mulheres8. Muitos pases no mundo comearam j a liberalizar as leis do aborto e a discriminalizar o aborto por motivos mdicos.

    Nos pases onde as leis so modificadas para permitir maior acesso a servios relacionados com o aborto, importante que tambm sejam alterados os seus sistemas de sade. Exemplos destas alteraes incluem o desenvolvimento de padres de prestao de cuidados, protocolos, linhas de orientao e procedimentos administrativos. Quando o aborto legal, os servios devem ser seguros e acessveis. Os prestadores de cuidados devem ser competentes na prestao destes cuidados e estarem bem informados sobre a lei do aborto, padres de prestao de cuidados, protocolos, linhas de orientao e procedimentos administrativos.

    7 The Allan Guttmacher Institute. Sharing Responsability: Women, Society and Abortion Worlwide. New York, The Allan Guttmacher

    Institute 1999. 8 United National Key actions in the futher implementation of the Programme of Action of the International Conference on Population

    and Developmentt paragraph 63, iii New York, United Nations.

  • Aborto Incompleto 31

    Adicionalmente, os servios devem ser divulgados comunidade para assegurar que as mulheres e famlias esto informadas sobre onde e quando procurar os servios, se necessitarem. A OMS pode apoiar com orientaes tcnicas, os pases que desejem rever as polticas dos seus sistemas de sade 9.

    Ponto de discusso Para determinar o que os alunos sabem e percebem em relao lei do aborto do seu pas, coloque-lhes as seguintes questes:

    Qual a origem e natureza da lei do aborto no seu pas? Como que a lei se aplica aos servios prestados?

    Qual a posio das ordens e das associaes profissionais? Prepare-se para dar aos alunos informao relevante. Por exemplo, antes de comear a leccionar esta sesso, assegure-se de que sabe as respostas a estas questes e obtenha cpias da lei do aborto, se disponvel.

    Perspectivas socio-cultural e religiosa

    Quando uma mulher tem uma gravidez acidental e no desejada, as decises que toma face ao aborto so afectadas pelas suas crenas sociais, culturais e religiosas. Os prestadores de cuidados relacionados com o aborto podem, igualmente, afectar as suas decises. 10 Seguem-se alguns exemplos de factores que afectam a deciso da mulher:

    Capacidade e vontade da mulher em procurar imediatamente cuidados para as complicaes do aborto. Algumas mulheres podem necessitar da autorizao do marido ou tutor para usarem os servios de sade. Para muitas mulheres, uma gravidez no planeada ou o uso de servios abortivos, pode levar rejeio pelos membros da famlia. Estas mulheres, muitas vezes, atrasam a procura de cuidados, mesmo nas complicaes mais graves.

    Factores culturais. Existem muitos factores culturais que podem conduzir a mulher a um aborto inseguro. Estes incluem: necessidade de segredo, confiana em prestadores de cuidados tradicionais e a crena de que os abortos efectuados pelo pessoal no mdico, no so verdadeiros abortos.

    Importncia da fertilidade. Para muitas mulheres, a fertilidade fundamental para a aceitao, na sociedade em que vivem. O uso de mtodos modernos de concepo pode parecer prejudicial para a fertilidade aumentando a probabilidade de uma gravidez no desejada e o risco subsequente de aborto inseguro.

    Atitudes dos prestadores face aos cuidados abortivos. Muitas mulheres no esto dispostas a procurar cuidados de pessoal clnico e do hospital, que as julgam ou que as fazem sentir desconfortveis. essencial, que o pessoal que presta cuidados abortivos esteja consciente dos factores culturais que afectam a deciso da mulher sobre o aborto, quer da sua perspectiva pessoal quer, tambm, da perspectiva da mulher.

    Para alm dos factores socio-culturais mencionados anteriormente, as crenas religiosas tambm iro afectar a forma como a mulher se sente em relao sua experincia de aborto e o modo como os profissionais de sade e a comunidade respondero. Em situaes, em que as crenas religiosas do profissional de sade interfiram com a prestao de cuidados abortivos selectivos legalmente aceites, no lhe deve ser pedido que os preste. No entanto, estes profissionais de sade tm a obrigao de encaminhar a mulher para outros prestadores credenciados.

    9 World Health Organization Safe Abortion: Technical and Poilicy Guidance for Health Systems. Geneva, World Health Organization,

    2003. 10

    World Health Organization. Complications of Abortion: Technical and Managerial Guidelines for Prevention and Management. Geneva, World Health Organization 1995.

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    Ponto de discusso Encoraje os alunos a partilharem as suas percepes das crenas socio-culturais e religiosas mais frequentes que afectam a mulher que procura cuidados abortivos nas comunidades em que trabalham. Pea-lhes, tambm, para terem em conta as suas prprias crenas socio-culturais e religiosas e a forma como estas afectam os cuidados que prestam. Iro existir oportunidades, em algumas das sesses seguintes, para aprofundarem ainda mais estas suas crenas.

    O PAPEL DA PARTEIRA NOS CUIDADOS RELACIONADOS COM O ABORTO

    Os cuidados abortivos (quando permitidos legalmente) e, em todos os pases, os cuidados ps-aborto, devem estar acessveis. Estes cuidados devem ser prestados por pessoal treinado adequadamente e apoiado para os prestar. A preveno da mortalidade materna relacionada com o aborto depende da prestao de cuidados abortivos urgentes a todos os nveis do sistema de sade, desde o posto rural mais bsico s instituies que prestem cuidados de sade tercirios mais sofisticadas. Pelo menos, alguns componentes dos cuidados ps-aborto (por exemplo, estabilizao e encaminhamento, evacuao uterina, informao e servios de PF) devem ser realizados em todos os locais de prestao de cuidados, oferecendo servios de sade reprodutiva 24 horas por dia, onde for possvel.

    Na maior parte dos sistemas de prestao de cuidados, a parteira j presta uma srie de cuidados de sade reprodutiva, por exemplo, sade materno-infantil (cuidados pr-natais, PF, assistncia mulher no parto e cuidados ps-natais). A integrao dos servios de cuidados ps-aborto nos servios que j prestam cuidados de sade reprodutiva, ir conduzir melhoria da sade materna para milhes de mulheres. A capacitao das parteiras em competncias adicionais para os cuidados ps-aborto, pode ser facilmente obtido usando formadores experientes.

    Historicamente, sempre que h uma melhoria na morbilidade e mortalidade materna, a parteira desempenha um importante papel.

    A evidncia recente mostra que a parteira, quer no sector privado quer no pblico, pode, de forma efectiva, segura e competente, prestar cuidados ps-aborto11. A enfermeira ou a parteira , na maioria das situaes, de entre todos os profissionais de sade, a mais disponvel, acessvel, econmica e aceite (de confiana) para prestar cuidados de sade reprodutiva. De facto, as parteiras e/ou as enfermeiras so os prestadores naturais de cuidados ps-aborto e de servios urgentes de sade reprodutiva.

    Embora os cuidados relacionados com o aborto, incluam os cuidados abortivos urgentes e os selectivos, e apesar de em alguns pases ser permitido, por lei, s parteiras prestarem servios abortivos selectivos, a inteno deste mdulo capacitar as parteiras com as competncias necessrias para tratarem as complicaes de risco de vida associadas aos cuidados abortivos urgentes.

    O Quadro 2 contm informao sobre o pessoal e os elementos dos cuidados abortivos urgentes que podem estar disponveis, a cada nvel de cuidados.

    11 Otsea K, Baird TL, Billings DL, Taylor JE. Midwives Deliver Postabortion Care Services in Ghana. IPAS Dialogue 1:1 June 1997.

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    Quadro 2 Sugesto da distribuio punvel de cuidados e por tipo de pessoal das actividades para tratamento urgente de situaes de aborto.

    Nvel de cuidado Tipo de pessoal Actividades

    Comunitrio Profissionais de sade (por exemplo, auxiliares de sade e equivalentes).

    Enfermeiras. Parteiras experientes. Mdicos de clnica geral.

    Educao sobre os perigos do aborto inseguro. Promoo e prestao de cuidados de PF. Reconhecimento dos sinais e sintomas do aborto e

    das suas complicaes. Encaminhamento atempado para o sistema de sade

    formal. Prestao de cuidados urgentes.

    Primrio Profissionais de sade (por exemplo, auxiliares de sade e equivalentes).

    Enfermeiras. Parteiras experientes. Mdicos de clnica geral.

    Todos os anteriormente mencionados mais: Exame plvico e fsico bsico. Diagnstico das fases do aborto. Reanimao e preparao para tratamento ou

    encaminhamento. Hemoglobinmia e hematcrito. Encaminhamento, se necessrio. Se houver disponibilidade de pessoal treinado e equipamento apropriado podem ser executadas, a este nvel, as seguintes actividades: Iniciar o tratamento essencial, incluindo

    antibioterapia, reposio de fludos por via endovenosa e administrao de ocitocina.

    Aspirao uterina, durante o primeiro trimestre. Controlo bsico da dor (bloqueio paracervical,

    analgesia simples e sedao). Primeiro encaminhamento

    Enfermeiras. Parteiras experientes. Mdicos de clnica geral. Especialistas com treino em

    ginecologia e obstetrcia.

    Todas as mencionadas anteriormente mais: Aspirao uterina de urgncia, no segundo trimestre. Tratamento da maioria das complicaes do aborto. Tipagem e transfuso sangunea. Anestesia local e geral. Laparotomia e cirurgia quando indicada (incluindo

    para gravidez ectpica se houver pessoal competente).

    Diagnstico e encaminhamento de complicaes graves como septicemia, peritonite e falncia renal.

    Segundo e terceiro encaminhamento

    Enfermeiras. Parteiras experientes. Mdicos de clnica geral. Especialistas com experincia em

    ginecologia e obstetrcia.

    Todas as mencionadas anteriormente mais: Aspirao uterina, como indicado. Tratamento de complicaes graves (incluindo

    trauma intestinal, ttano, falncia renal, gangrena gasosa e spsis grave).

    Tratamento de coagulopatias.

    Fonte: Este quadro foi inicialmente baseado em World Health Organization. Complications of Abortion: Technical and Managerial Guidelines for Prevention and Management. Geneva, World Health Organization 1995. No entanto foi adaptado e tambm contm informao de World Health Organization. Care of Mother and Baby at the Health Centre: A Practical Guide. WHO/FHE/MSM/94.2. Geneva, World Health Organization 1994.

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    Como podem as parteiras participar nos cuidados relacionados com o aborto?

    Encaminhar de forma apropriada e atempadamente, reconhecendo os sinais e sintomas do aborto incompleto e estabilizando a doente;

    Realizar aspirao uterina para tratar o aborto incompleto; Dar informao e prestar cuidados de PF, com ateno particular s necessidades

    das adolescentes e mulheres que abortaram; Dar informao e educar as mulheres e outros membros da comunidade sobre os

    cuidados abortivos seguros; Prestar servios em reas carenciadas; Prestar servios em instituies privadas; Defender leis, polticas e protocolos que apoiem a prestao de cuidados abortivos

    seguros e participarem nesses cuidados12.

    Apesar de muitos pases terem vindo lentamente a treinar e apoiar as parteiras que prestam cuidados urgentes que salvam vida, outros pases tem treinado e apoiado com sucesso as parteiras na prestao de cuidados ps-aborto. Estes incluem o Bangladesh, a Nigria e o Ghana.

    No Ghana, onde os estudos hospitalares revelam que aproximadamente 22% de todas as mortes maternas resultam de abortos inseguros, as parteiras do sector pblico e do sector privado tm sido treinadas com um curso de uma semana que inclui: identificao e tratamento das complicaes do aborto com a aspirao uterina, estabilizao e encaminhamento, protocolos de tratamento da dor e preveno da infeco, aconselhamento aos clientes e prestao de cuidados de PF ps-aborto, registos e seguimento da doente. Aps o fim do treino, as parteiras do sector pblico e do privado que participaram, colaboram no tratamento da primeira doente que se apresente com um aborto incompleto. Os mdicos dos hospitais distritais participantes tm confiado nas competncias das parteiras, o que leva a pensar que o treino conjunto de mdicos e parteiras tenha ajudado e estabelecido a confiana e o respeito que agora demonstram uns pelos outros. Reala-se o caso de um hospital distrital em que, durante um perodo de quatro meses, metade dos casos de aborto incompleto foram tratados por uma parteira.

    As parteiras so as prestadoras bvias de cuidados ps-aborto e de outros servios de sade reprodutiva de urgncia. Os ministros da sade destes pases e as associaes profissionais reconhecem-no. Tem sido demonstrado que o treino de parteiras em cuidados ps-aborto contribui para a melhoria nos servios prestados s mulheres nestes pases10.

    A Confederao Internacional de Parteiras (CIP) apoia a prestao de cuidados ps-aborto pelas parteiras. A CIP aprovou uma Resoluo sobre Cuidados s Mulheres Ps- -aborto (ver caixa abaixo).

    Escreva no quadro ou no flipchart, a Resoluo da CIP, que se segue para demonstrar como esta apoia um papel para as parteiras na prestao de cuidados s mulheres que sofreram um aborto.

    12 Hord CE, Delano GE. Reducing Maternal Mortality from Abortion: The midwifess Role in Abortion Care. In International Perspectives

    on Midwifery (Editor S.F. Murray). London, Mosby 1996. 10

    Otsea K, Baird TL, Billings DL, Taylor JE. Midwives Deliver Postabortion Care Services in Ghana. Ipas Dialogue 1:1 June 1997.

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    Resoluo da CIP: Cuidados s Mulheres Ps-aborto

    A Confederao Internacional das Parteiras acredita que a mulher que abortou, quer espontaneamente quer de forma induzida, tem a mesma necessidade de cuidados que a mulher que pariu. Como tal ao manter esta crena, a parteira deve:

    a. Considerar estes cuidados como parte do seu papel; b. Prestar imediatamente os cuidados necessrios ps-aborto; c. Encaminhar apropriadamente para qualquer outro tratamento que possa ser necessrio

    e que esteja para l dos limites da sua prtica clnica; d. Educar no que diz respeito ao futuro da sade da mulher o que deve incluir o PF; e. Reconhecer o apoio emocional, psicolgico e social de que a mulher pode precisar e

    responder de forma adequada.

    Adoptado pela International Confederation of Midwives Council, May 1996, Oslo, Norway (Care of Women Post Abortion 96/23/PP).

    TRABALHO DE GRUPO

    O objectivo deste trabalho de grupo criar oportunidades para os alunos partilharem as suas atitudes e crenas sobre o aborto e o papel das parteiras nos cuidados abortivos. Devido natureza sensvel do aborto, s perspectivas socio-culturais, religiosas e legais, esteja preparado para ajudar os alunos a questionarem ideias e crenas negativas acerca do aborto. 1. Reveja as Instrues para o trabalho de grupo com a turma e assegure-se que os alunos

    compreendem o que se espera deles.

    2. Divida a turma em grupos de cinco elementos e d, a cada um, uma cpia da Ficha de trabalho.

    3. D 30 minutos para os grupos completarem a actividade.

    4. Supervisione a actividade, aguarde alguns minutos em cada grupo, para lhe dar tempo de fazer, no futuro, observaes sobre as percepes que os alunos tm do aborto e dos cuidados relacionados com o aborto.

    5. D 5 minutos para cada grupo dar o feedback do resultado da actividade de grupo.

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    INSTRUES PARA O TRABALHO DE GRUPO

    Esta actividade est desenhada para criar uma oportunidade para partilhar ideias e crenas sobre o aborto e o papel das parteiras nos cuidados abortivos.

    1. Escolham um elemento do grupo, como dinamizador da discusso.

    2. Escolham um elemento do grupo como relator do trabalho de grupo.

    3. Discutam as afirmaes na Ficha de trabalho e decidam uma resposta de grupo para cada uma isto , como grupo, encontrar uma reaco a cada afirmao. Anote as reas onde h discrdia.

    4. Usem a Ficha de trabalho entregue para registar a resposta do grupo a cada afirmao.

    5. Completem a actividade de grupo em 30 minutos.

    Feedback e Discusso

    medida que os grupos vo relatando as suas concluses, use as perguntas seguintes para facilitar a discusso: As atitudes e as crenas, dentro e entre os grupos, so as mesmas, ou existem diferenas

    significativas? Quais as crenas que causam mais desentendimento? Quais so os motivos para esses desentendimentos? Como que os desentendimentos podem ser resolvidos?

  • Aborto Incompleto 37

    FICHA DE TRABALHO

    Tratamento do Aborto Incompleto e dos Cuidados Ps- Aborto (CPA)

    Afirmaes DF D I C CF

    1. Os adolescentes no devem ter acesso a contraceptivos.

    2. A oposio do parceiro e de outros familiares pode tornar difcil a utilizao de um mtodo de PF para atrasar ou espaar as gravidezes da mulher.

    3. De modo a preservar a sua vida, qualquer mulher deve ter acesso ao aborto seguro.

    4. Os adolescentes no devem ser sexualmente activos.

    5. As parteiras devem ser treinadas para prestarem cuidados ps-aborto de urgncia, incluindo informao e aconselhamento sobre PF.

    6. At estarem disponveis servios que faam abortos seguros, as mulheres iro continuar a arriscar as consequncias do aborto inseguro.

    7. O encorajamento de atitudes de responsabilidade nos homens pode conduzir a um comportamento mais responsvel e justo nas relaes sexuais e a um maior uso de contraceptivos.

    8. As mulheres que experimentam uma gravidez acidental devem ter acesso a informao fivel e aconselhamento emptico.

    9. Uma rapariga solteira, em idade escolar, que engravida, no deve frequentar a escola.

    10. Os mdicos so os nicos profissionais de sade que devem prestar cuidados de urgncia ps-aborto.

    11. As mulheres que recorrem ao aborto inseguro para terminar uma gravidez no planeada, devem esperar pelos cuidados quando recorrem a uma instituio de sade.

    12. O crescente nmero de adolescentes sexualmente activos, reala a necessidade de educao sexual e reprodutiva compreensiva, incluindo sobre contracepo.

    Chave: DF Discordo fortemente D Discordo N Indiferente C Concordo CF Concordo fortemente

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  • Aborto Incompleto 39

    2. FACTORES EVITVEIS

  • Aborto Incompleto 40

    SESSO 2 FACTORES EVITVEIS

    FINALIDADE

    Capacitar os alunos para reconhecerem os factores que aumentam a probabilidade de aborto e das complicaes que lhe esto associadas.

    OBJECTIVOS

    No final da Sesso 2 os alunos devem ser capazes de:

    1. Definir factores evitveis, factores de risco, morte obsttrica directa e morte obsttrica indirecta. 2. Listar os factores que aumentam a probabilidade do aborto e identificar os que so evitveis. 3. Discutir os passos que devem ser tomados para prevenir a morte por factores evitveis.

    PLANO

    Exposio. Trabalho de grupo. Feedback e discusso. Carga horria: aproximadamente 2 horas.

    RECURSOS

    Instrues para os alunos. Ficha de trabalho.

    Bennet VR, Brown LK (Editors) Myles Textbook for Midwives (12th Edition). London, Mosby 1993. Caring for Post-abortion Complications: Saving Womens Lives. Population Reports; XXV:1. September 1997. Family Care International. Safe Motherhood Fact Sheet: Address Unsafe Abortion. New York, Family Care International 1998.

    Family Care International. Safe Motherhood Fact Sheet: Prevent Unwanted Pregnancy. New York, Family Care International 1998.

    World Health Organization. Complications of Abortion: Technical and Managerial Guidelines for Prevention and Treatment. Geneva, World Health Organization 1995.

  • Aborto Incompleto 41

    INTRODUO

    Se j introduziu o conceito de factores evitveis, factores de risco, morte obsttrica directa e morte obsttrica indirecta noutro mdulo tcnico, faa uma reviso e depois avance para o restante da Sesso.

    DEFINIES

    Assegure-se que os alunos compreendem as seguintes definies:

    Factores evitveis Factores que causam ou contribuem para a morte materna quando os cuidados se desviam dos geralmente aceites.

    Factores de risco Factores que tornam uma condio mais provvel ou grave.

    importante que os alunos percebam que:

    Os factores de risco no devem ser utilizados para prever complicaes. O sistema de categorias de risco, ou a abordagem baseada no risco, no til uma vez que a evidncia mostra que muitas mulheres de risco elevado podem no ter uma complicao enquanto que muitas classificadas de baixo risco acabam por as desenvolver. Assim, todas as mulheres grvidas devem ser consideradas em risco de desenvolver uma complicao.

    Morte obsttrica directa

    Morte resultante de complicaes obsttricas da maternidade (gravidez, parto ou puerprio), desde intervenes, omisses, tratamento incorrecto ou srie de eventos resultantes dos descritos.

    Morte obsttrica indirecta

    Morte resultante de doena prvia ou desenvolvida durante a gravidez, sem etiologia obsttrica directa, complicada ou agravada pelos efeitos fisiolgicos da gravidez.

    Ponto de discusso Para ajudar os alunos a compreenderem os factores de risco associados com o aborto, discuta, a frequncia e a origem do aborto espontneo e do aborto inseguro, tendo como base de discusso a informao seguinte.

    Factores que contribuem para o aborto espontneo

    Nos pases desenvolvidos, o aborto espontneo ocorre em 10 a 15% de todas as gravidezes clinicamente reconhecidas, embora muitos abortos espontneos ocorram antes da mulher saber que est grvida. As taxas de aborto espontneo podem, contudo, serem muito mais elevadas nos pases em desenvolvimento devido prevalncia de malnutrioe de outros problemas de sade. A maioria dos abortos espontneos ocorre numa fase inicial da gravidez, sendo 80% no primeiro trimestre.

    As causas de aborto espontneo nem sempre so bvias. Mais de metade dos abortos espontneos, do primeiro trimestre, devem-se a um desenvolvimento embrionrio anormal. Outros factores possveis incluem: doena febril, infeces genitais e sistmicas como sfilis, tuberculose sistmica, doena de Chagas, vrus da rubola, citomegalovrus, vrus Herpes simplex, clamdia, micoplasma, Toxoplasma gondii, listeria e brucella, doena crnica materna, causas hormonais, toxinas ambientais, causas dietticas, anomalias anatmicas e gravidez na presena de um dispositivo intra uterino (DIU). Em muitos casos, no existe nenhum factor especfico conhecido que cause o aborto espontneo.

    essencial que a mulher que tem um aborto espontneo, tenha os cuidados mdicos adequados e atempadamente. , tambm, essencial que sejam prestados os cuidados de seguimento apropriados, como sejam planeamento familiar (PF) e avaliao de abortos recorrentes.

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    Factores que contribuem para o aborto inseguro

    Na Sesso 1 ficou claro, que as mortes por complicaes do aborto inseguro so a principal causa de morte materna. Adicionalmente, muitas mulheres sofrem de problemas de sade crnicos, em resultado de complicaes do aborto.

    O aborto inseguro um problema de sade pblica para mulheres de todas as idades mas, especialmente para as mulheres jovens que, muitas vezes, tm pouco acesso a informao e a servios de PF. Estas mulheres, em particular, tm menor probabilidade de terem dinheiro para pagar um aborto seguro e de saberem onde e como o conseguirem. Por outro lado, tm tambm maior probabilidade de se atrasarem na procura de ajuda e, consequentemente, terminam a gravidez em fases mais avanadas, quando os riscos de morte e trauma so maiores.

    As mulheres, que sofrem complicaes de um aborto inseguro, enfrentam a probabilidade de gravidezes no desejadas futuras e do subsequente risco de trauma e morte, de procedimentos inseguros de repetio. s mulheres que sofrem um aborto inseguro deve ser oferecido aconselhamento de PF que permita identificar as razes ou condies que as levaram a no usar um mtodo de PF, ou falncia do contraceptivo ou incapacidade de usar um mtodo de forma efectiva.

    TRABALHO DE GRUPO

    Este trabalho de grupo tem como objectivo ajudar os alunos a identificarem os factores que contribuem para o aborto e as aces ou intervenes necessrias para as prevenir.

    1. Reveja as Instrues para o trabalho de grupo com a turma e assegure-se que os alunos compreendem o que se espera deles.

    2. Divida a turma em grupos de cinco elementos e d a cada um vrias cpias da Ficha de trabalho.

    3. D 45 minutos para os grupos completarem a actividade. 4. Supervisione a actividade, gastando algum tempo com cada grupo, o que lhe dar a

    oportunidade de se assegurar que a actividade prossegue, como planeada, e de apreciar o contributo de cada aluno.

    5. D 10 minutos para cada grupo apresentar o resultado do trabalho de grupo.

  • Aborto Incompleto 43

    INSTRUES PARA O TRABALHO DE GRUPO

    (Leiam cuidadosamente todas as instrues antes de comear)

    1. Identifiquem trs factores individuais, trs comunitrios e trs dos servios de sade que contribuam para a morbilidade e mortalidade relacionadas com o aborto.

    2. Expliquem porque que os factores, que identificaram, podem levar ao aborto.

    3. Indiquem se os factores, que identificaram, so evitveis.

    4. Descrevam os passos que devem ser dados para evitar os factores que identificou.

    5. Usem o exemplo em baixo como guia para o trabalho de grupo.

    dado um exemplo. Trabalhem-no do mesmo modo, usando a Ficha de trabalho.

    Tm uma hora para o trabalho de grupo.

    Escolham um elemento do grupo como dinamizador e outro como relator.

    Exemplo:

    Factores que contribuem para o aborto/ procura do

    aborto

    Quais so os factores que podem conduzir a

    complicaes relacionadas com o aborto?

    Evitvel? O que deve ser feito para evitar os

    factores que contribuem para o aborto?

    Actividade sexual em idade jovem, por exemplo, durante a adolescncia (factor individual).

    A actividade sexual pode levar a gravidezes no desejadas, que podem conduzir procura do aborto executado por um prestador inseguro, por receio de recriminaes, possivelmente esperadas nos servios de aborto seguro.

    Sim Todos os adolescentes e jovens deviam receber educao sexual e reprodutiva, que contemple a repro-duo, a contracepo e as relaes entre gneros. As mensagens de educao para a sade na comunidade devem informar sobre a incidncia e impacto do aborto inseguro nas comunidades, o estado legal do aborto, a preveno de gravidezes no desejadas, como evitar abortos inseguros e como reconhecer e onde procurar cuidados apropriados para as complicaes do aborto. Servios abortivos seguros, de alta qualidade e amigos dos adolescentes, devem estar disponveis nos limites permitidos pela lei, e serem acessveis (geogrfica e economicamente). Todos os adolescentes devem ter acesso a informao e a servios de PF de elevada qualidade, orientados para o cliente e confidenciais, que ofeream um leque de contraceptivos modernos, incluindo a contracepo de emergncia.

  • Aborto Incompleto 44

    FICHA DE TRABALHO

    PREVENO DO ABORTO

    Factores que contribuem para o aborto/ procura do

    aborto

    Quais so os factores que podem conduzir a

    complicaes relacionadas com o aborto?

    Evitvel? O que deve ser feito para evitar os

    factores que contribuem para o aborto?

  • Aborto Incompleto 45

    Feedback e Discusso

    Utilize as seguintes listas como guia durante o feedback e para incentivar a discusso. Chame a ateno da turma para os factores que no foram identificados durante o trabalho de grupo (a cada grupo s pedido a identificao de trs factores individuais, comunitrios e dos servios de sade pelo que possvel que nem todos os factores, abaixo enumerados, tenham sido referidos).

    FACTORES QUE CONTRIBUEM PARA A PROCURA DO ABORTO OU PARA AS COMPLICAES RELACIONADAS COM O ABORTO

    Nvel individual Actividade sexual em idade jovem; Falta de conhecimento sobre PF; Falta de conhecimento sobre o