ACP Prisao Por Averiguacao

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  • 8/17/2019 ACP Prisao Por Averiguacao

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    EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE DIREITODA __ VARA DA FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DE SÃO PAULO

    Ação C!" P#$"%& %o' **o * "'+&,-

    A DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO, por força

    das atribuições previstas no artigo 5º, III e VI, letra “g”, da Lei Complementar 

    Estadual nº 9, de !9 de "aneiro de #!!$, por meio de seus %&'leos Espe'iali(ados

    de )ituaç*o Car'er+ria e de Cidadania e ireitos -umanos e pelos efensores

    .&bli'os /ue esta subs'revem, 'om endereço para intimaç*o pessoal na efensoria

    .&bli'a na 0v1 Liberdade, nº 2#, 3 º andar 4 Centro 4 )*o .aulo). 4 CE. !65!#7

    !!!, e o INSTITUTO PR.XIS DE DIREITOS HUMANOS, asso'iaç*o privada

    sem fins lu'rativos, 'om sede na .raça 8ranlin elano :oosevelt, n1º 66#, 'on"1

    6$6, CE. !62!27!#!, )*o .aulo)., ins'rito no Cadastro %a'ional de .essoa

    ;uridi'a sob o n1º 6516!#1632!!!679, representado pela efensoria .&bli'a do

    Estado de )*o .aulo, v

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    @eral do Estado, 'om domi'?lio na :ua .amplona, ##3, 3º andar, )*o .aulo).,'om lastro nos motivos f+ti'os e "ur?di'os abaiAo adu(idosB

    I 0 DOS FATOS

    Como do 'onDe'imento p&bli'o, a aumento nas passagens de

    nibus, metr e trem no in?'io deste m

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    Gutrossim, durante a tarde da /uinta7feira, a efensoria .&bli'a foi pro'urada por organi(ações da so'iedade 'ivil em defesa de direitos Dumanos, eis

    /ue Davia 'Degado a eles informações /ue a .ol?'ia Filitar utili(aria de todos os

    meios para reprimir a manifestaç*o, dentre os /uais, as odiosas e ilegais “prisões

     para averiguaç*o”1

    Imediatamente a efensoria .&bli'a, por meio da Coordenadora de

    seu %&'leo Espe'iali(ado de ireitos -umanos, entrou em 'ontato telefni'o 'om o

    Fa"or @enivaldo, 'omandante do JatalD*o 'orresponde K +rea 'entral da 'idade,

    lo'al da manifestaç*o, para tentar estabele'er um di+logo, 'om o ob"etivo de evitar a

    utili(aç*o de viol

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    Gs efensores .&bli'os foram relatar o fato ao Comandante da

    operaç*o, enente Coronel Jen7-ur Hdo'1 !#, tendo ele dito eApressamente /ue a

    ordem para /ue os poli'iais abordassem todos a/ueles /ue tivessem “'ara de

    manifestante”, 'omo idade, tra"es, se portavam ou n*o mo'Dilas1

    G fato /ue, 'ontrariamente ao /ue determina o CMdigo de

    .ro'esso .enal, o /ual autori(a bus'a pessoal somente nos 'asos em /ue Douver 

    fundada suspeita de portarem armas ou bens il?'itos6, os poli'iais militares estavam

    abordando indistintamente as pessoas /ue se dirigiam K manifestaç*o1

    iversas destas pessoas abordadas foram detidas pelos poli'iais e

    levadas at um ponto opera'ional da .ol?'ia Filitar na .raça do .atriar'a, onde, na

    rua, fi'aram perfiladas em uma parede, por Doras, aguardando a 'Degada de umnibus da .ol?'ia para levarem7nos ao istrito .oli'ial1

    Isso pode ser 'onfirmado em um dos v?deos 'u"a m?dia en'ontra7se

    em aneAo, no /ual se v< um grande n&mero de pessoas detidas, en'ostadas em uma

     parede, bem 'omo pela reportagem tambm em aneAo da revista Carta Capital, na

    /ual o prMprio "ornalista subs'ritor do teAto relata /ue era um dos indiv?duos /ue

    formavam o “pared*o” de detidos Hdo's1!27!51

    Vale trans'rever tre'Do interessante da reportagem, intitulada 1E'

    São P&2"o/ !+&3, *4 %&*&5B

    6 0rt1 #>! do C..B 0 bus'a ser+ domi'iliar ou pessoal1N #o  .ro'eder7se7+ K bus'a pessoal /uando Douver fundada suspeita de /ue algum o'ulte 'onsigoarma proibida ou ob"etos men'ionados nas letras b a f  e letra h do par+grafo anterior1”

    >

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    “8ui "ogado em um nibus da .ol?'ia1 T+6 ,32+6&, o, 72 28&!& 9*o ,9o &,& o+* 2 96&!& 9+*o "!&*o- M&9 2'&!:/ +ão o$6! ,9o96&-H111G nibus da pol?'ia seguiu por um 'aminDo longo at o 3º ., nos;ardins1 8omos 'olo'ados em fila para a revista1 .edi para 'olo'ar a

     blusa e um poli'ial negou, di(endo /ue dali a pou'o ia Ofi'ar /uenteP1Em seguida, finalmente eApli'aram por/ue est+vamos ali1 A

    *"3&*& *:& 72 +ão 964!&'o9 ,9o9/ 964!&'o9 ;9o$&!,32&ção

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    narrando generi'amente /ue Davia presos por estarem 'om tinta HT, 'om vinagre HT,'om fa'as ou simplesmente por "+ terem sido identifi'ados nas manifestações

    anteriores1

    Fas n*o sM1 %esta 'onversa, o %o'&+*&+6 *& o,&ção *99

    6@62&"'+6 72 &72"9 +*!?*2o9 96&!&' 9+*o ,9o9 &,& &!,32&ção1

    Gs efensores .&bli'os, 'om a 'i

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    Cena 62 4 )egunda .arte H)0F !66$('&3' %o' %o+!,9& +6, Po"%&" M"6&, 3,2o)KD&+"& S,o'o! (D=+9o,& P#$"%&) Q11 eu pre'isoindividuali(ar e saber o nome de 'ada um e saber a 'onduta de 'ada

     pessoa /ue vai ser 'ondu(ida111Po"%&" 3º .111

    D&+"& S,o'o!  %*o111 a minDa pergunta B poss?vel eu sabera 'onduta de 'ada pessoa /ue motivou a 'onduç*o111

    Po"%&" 0/ui n*o111 H'elular do poli'ial to'a, a ter'eira ve( euvou lDe responder, a/ui n*o1 %o 3111

    .rova 'abal a fala do 'omandante da .ol?'ia Filitar, eis /ue

    'laramente est+vamos diante de prisões arbitr+rias por parte da .ol?'ia Filitar, a

    famosa e vedada pelo ordenamento "ur?di'o “pris*o para averiguaç*o”1

    Gutra prova de /ue o'orreram prisões para simples averiguaç*o

    antes e durante a manifestaç*o foi o fato de /ue mais de du(entas pessoas foram

    detidas pela .ol?'ia Filitar, sendo a grande maioria liberada pela .ol?'ia Civil

    depois de terem permane'ido por Doras na elega'ia, sob a 'ustMdia da autoridade

     poli'ial Hdo's 621

    )egundo reportagem da :3, foram #># detidos e somente > /ue

    foram de fato autuados em flagrante na elega'ia Hdo'16>1

    Em relaç*o K mairia dos indiv?duos presos, ainda /ue tenDam sido

    mantidos por Doras sob 'ustMdia, se/uer foi lavrado Joletim de G'orr

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    foi lavrado Joletim de G'orr

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    EAemplifi'amos o afirmado 'om alguns DistMri'os de o'orr39#!62Esp'ieB Gutros 4 n*o 'riminal ataB 6>!$#!62 -ora deEmiss*oB !!B>>Ds-istMri'oBCompare'e o 'ondutor a'ima /ualifi'ado noti'iando /ue ao reali(ar suas atividades institu'ionais abordou o grupo de pessoas em tela, o/ual fa(ia parte de uma manifestaç*o no lo'al dos fatos, todavia,segundo se apurou, n*o foi atribu?da a pr+ti'a de /ual/uer ato devandalismo ou viol#!62Esp'ieB Gutros 4 n*o 'riminal ataB 62!$#!62 -ora deEmiss*oB #2B>3Ds-istMri'oBV: F 62!7 Componentes CJ :i'ardo :E 9$559!75 e CJ .F

    Edilberto :E 959$761 2 CI0 do 6 JatalD*o19

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    .resentes os .oli'iais Filitares supra, apresentando o'orr

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    0s prisões para simples averiguações mitigam de maneira dr+sti'a

    o direito 'onstitu'ional assegurado, sendo evidentemente in'onstitu'ionais e ilegais1

    0ssim, n*o podem ser utili(adas 'omo estratgia pelo Estado para debelarem uma

    manifestaç*o, /ue pode ser politi'amente indese"ada pelas autoridades respons+veis1

    ais 'onstrangimentos est*o 'omprovados pelos v?deos /ue

    a'ompanDam esta ini'ial, bem 'omo por diversas reportagens publi'adas entre a

    noite de /uinta7feira e a manD* da seAta7feira seguinte K manifestaç*o Hdo'1 691

    II LEITIMIDADE ATIVA E INTERRESSE PROCESSUAL

    0 Constituiç*o da :ep&bli'a 'lara no /ue di( respeito ao dever da

    efensoria .&bli'a e da so'iedade 'ivil /uanto K efetivaç*o do direito K liberdade de

    ir e vir1 o dever "ur?di'o da efensoria .&bli'a e da so'iedade 'ivil, refletido na lei

    instituidora da primeira e nos atos 'onstitutivos da segunda, de'orre o respe'tivo

    interesse pro'essual1

    Como modo de efetivar, no 'ampo pro'essual, o interesse "ur?di'o da

    efensoria .&bli'a e da 0sso'iaç*o Civil /ue 'ompõem o litis'onsMr'io ativo,

    referente K defesa dos direitos difusos e 'oletivos, a Constituiç*o lDes atribui a

    legitimidade "ur?di'a ativa para a propositura de 0ç*o Civil .&bli'a1

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    Vale ressaltar /ue, em nosso sistema "ur?di'o, a legitimidade ativa daefensoria .&bli'a e da 0sso'iaç*o Civil 'onstitui7se 'omo verdadeira garantia

    'onstitu'ional de demo'rati(aç*o do pro'esso e do 'ontrole "udi'ial dele de'orrente1

    G in'iso III e o N6X do art1 6#9 da Constituiç*o da :ep&bli'a, /uando lidos

    'on"untamente, ressaltam a legitimidade de ter'eiros interessados para a propositura

    de ações 'ivis p&bli'as nas mesmas hipóteses asseguradas ao Finistrio .&bli'o,

    /ue s*oB proteç*o do patrimnio p&bli'o e so'ial, do meio ambiente e de outros

    interesses difusos e coletivos1

    ambm no sentido do re'onDe'imento da legitimidade das asso'iações

    dispõe o art1 5X da Lei nX 32>3695 HLei da 0ç*o Civil .&bli'aB

     Art. 5º A ação principal e a cautelar poderão ser propostas pelo Ministério Público pela !nião pelos "stados e

     Munic#pios. Poderão também ser propostas por autar$uiaempresa pública fundação sociedade de economia mista ou

     por associação $ue% & ' este(a constitu#da h) pelo menos um ano nos termos da leicivil* && ' inclua entre suas finalidades institucionais a

     proteção ao meio ambiente ao consumidor + ordemecon,mica + livre concorr-ncia ou ao patrim,nio art#sticoestético histórico tur#stico e paisa#stico.

    0 despeito do in'iso III do art16#9 da Constituiç*o e do in'iso IV do art16º dalei /ue o regulamenta HLei nX 32>3695 observarem /ue a 0ç*o Civil .&bli'a tem

    'omo poten'ial ob"eto o 'on"unto dos interesses difusos ou 'oletivos, 'omo vimos,

    o mesmo n*o est+ eApresso no art15X, II da mesma norma1 al fato poderia gerar 

    alguma 'onfus*o /uanto aos 'ritrios de admissibilidade, o /ue levou a doutrina a

    se debruçar sobre o assunto, apresentando uma interpretaç*o sistem+ti'a dos

    6#

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    dispositivos, a /ual privilegia o interesse protegido na Constituiç*o da :ep&bli'a,/ue "ustamente a demo'rati(aç*o do pro'essoB

    /utros direitos difusos ou coletivos. A lei n.º 0.00123441 art.00 par)rafo único ao dar nova redação ao inciso oracomentado não mais menciona a epressão 6ou a $ual$uer outro interesse difuso ou coletivo6 $ue fora acrescentado pelo787 art. 333. 9o entanto o princ#pio continua em vior 

     por$ue estes outros interesses difusos ou coletivos são ob(etode proteção da lei conforme o art. 3º &: da lei n.º ;., g1n11

    Cumpre observar, portanto, em sede preliminar, /ue a efensoria .&bli'a e o

    Instituto .r+Ais de ireitos -umanos det

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    !699!, em seu artigo 270, in'iso V, 'om redaç*o alterada pela Lei Complementar 62##!!9, /ue regula as atribuições, em Zmbito na'ional, das efensorias .&bli'as

    dos Estados, do istrito federal e da [ni*oB

    0rt1 2º701 )*o ob"etivos da efensoria .&bli'aBH111V 4 eAer'er, mediante o re'ebimento dos autos 'om vista, aampla defesa e o 'ontraditMrio ' =&!o, * 99o&9 +&62,&9

     2,?*%&9, em pro'essos administrativos e "udi'iais, perantetodos os Mrg*os e em todas as instZn'ias, ordin+rias oueAtraordin+rias, utili(ando todas as medidas 'apa(es de

     propi'iar a ade/uada e efetiva defesa de seus interesses Hg1n11

    0ssim, tendo7se em 'onta /ue o Instituto .r+Ais de ireitos -umanos uma

    G%@ sem fins lu'rativos e sem re'eita prMpria, absolutamente ade/uada sua

    representaç*o pela efensoria .&bli'a do Estado1

     %o 'aso, diante da gravidade dos fatos a'ima narrados e da eAtrema

    relevZn'ia e urg

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    competente" sal#o nos casos de transgressão militar ou crime propriamentemilitar" deinidos em lei  HC:8J, art1 5º, L=I1

     "sta arantia contudo nem sempre esteve disposta em nosso ordenamento

     (ur#dico de forma tão clara. 1 %o regime de eA'eç*o /ue pre'edeu a promulgaç*o da

    Constituiç*o 8ederal de 69, referida garantia n*o fora positivada de forma

    eApressa, o /ue abriu margem para /ue o arb?trio autorit+rio 'ara'ter?sti'o do

    regime milirar ultimasse a liberdade e a vida de milDares de pessoas de forma

    absolutamente tru'ulenta1

    entre as muitas pr+ti'as violentas /ue 'ara'teri(aram a ditadura brasileira,

    ora desta'amos a /ue fi'ou 'onDe'ida 'omo “,9ão &,& &!,32&ção1 Este

    ab"eto instituto "ur?di'o permitia a momentZnea privaç*o da liberdade, sem /ual/uer 

    respaldo em flagrante 'ometimento de delito ou ordem es'rita de autoridade "udi'ial'ompetente, 'om o es'opo &ni'o de reali(ar investigaç*o ou averiguaç*o em

    ambiente poli'ial1

    )ua larga utili(aç*o durante o per?odo de eA'eç*o brasileiro foi ressaltada por 

    ourinDo 8ilDo na seguinte passagemB

    =9o >overno 7osta e ?ilva e no >overno >eisel @per#odos de eceção houve v)rias tentativas visando+ criação da prisão para averiuaçBes coisa ali)s$ue na pr)tica eistia e continua eistindo. 7ontudoa$ueles $ue por ela propunavam não loraram-ito...C

    Como lembra o autor 'itado, a pr+ti'a da pris*o para averiguaç*o era e ainda

    'ontinua a ser pr+ti'a 'orri/ueira de nossas pol?'ias, n*o obstante a eApressa

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    vedaç*o 'onstitu'ional, motivo pelo /ual se fa( imperiosa a intervenç*o do .oder ;udi'i+rio, guardi*o m+Aimo de nosso ordenamento e &ni'o Dabilitado a 'oibir essa

    odiosa pr+ti'a1

    8indo o regime ditatorial militar, um dos mar'os do novo per?odo de

    demo'rati(aç*o da so'iedade brasileira foi a pros'riç*o dessa pr+ti'a em n?vel

    'onstitu'ional, tra(ida de forma eApressa no art1 5º, L=I, da Constituiç*o da

    :ep&bli'a, eis /ue evidentemente in'ompat?vel 'om o Estado emo'r+ti'o de

    ireito1

    Gutrossim, deve7se frisar /ue tal pr+ti'a n*o foi apenas vedada em nossa

    Carta Constitu'ional, mas tambm em ratados Interna'ionais de ireitos -umanos

    dos /uais o Jrasil signat+rio1 %esse sentido, desta'amos o disposto na Convenç*o

    0meri'ana de ireito -umanos /ue veda eApressamente a pris*o para averiguaç*oao dispor sobre a detenç*o arbitr+riaB

    0rtigo 3º 7 ireito K liberdade pessoal61 oda pessoa tem direito K liberdade e K segurança pessoais1#1 %ingum pode ser privado de sua liberdade f?si'a, salvo

     pelas 'ausas e nas 'ondições previamente fiAadas pelasConstituições pol?ti'as dos Estados7partes ou pelas leis dea'ordo 'om elas promulgadas1

    21 %ingum pode ser submetido a detenç*o ou en'ar'eramentoarbitr+rios1

    estarte, sem /ue sobe"e /ual/uer margem para d&vidas, o ordenamento

     "ur?di'o 'onstitu'ional brasileiro pros'reve a odiosa pr+ti'a da pris*o por 

    averiguaç*o a'ima narrada, o /ue, todavia, n*o impede /ue se"a eAer'ida de maneira

    arbitr+ria e, 'omo se tem visto, disseminada, pela pol?'ia paulista1 %esse sentido,

    lembramos a liç*o de @uilDerme %u''iB6$

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    “%*o mais tem 'abimento admitir7se /ue a pol?'ia 'ivil oumilitar detenDa pessoas na via p&bli'a, para Oaverigu+7lasP,levando7as presas ao distrito poli'ial, onde, 'omo regra,verifi'a7se se s*o pro'uradas ou n*o1 rata7se de instrumentode arb?trio, /ue, uma ve( fosse admitido, ampliaria os poderesda pol?'ia em demasia, a ponto de 'idad*o algum ter garantiade evitar a DumilDaç*o do re'olDimento ao '+r'ere1” Hg1n1#

    .ara alm de sua in'onstitu'ionalidade, a pr+ti'a da pris*o para averiguaç*o'onstitui 'rime de abuso de autoridade, 'onforme tipifi'aç*o no art1 2º da Lei

    >995B =7onstitui abuso de autoridade $ual$uer atentado% + liberdade de

    locomoção* + incolumidade f#sica do indiv#duoC1

     %em se diga /ue a 'ustMdia das mais de duas 'entenas de pessoas levada a

    'abo pela .ol?'ia Filitar durante a manifestaç*o popular da &ltima /uinta7feira, sem

    indi'aç*o de /uais/uer motivos para a detenç*o, 'om o subse/uente

    en'aminDamento 'ompulsMrio K elega'ia 7 lo'al em /ue permane'eram proibidos

    de sair e sem /ue se lDes fosse permitido o 'ontato 'om advogados e familiares ao

    longo de v+rias Doras, n*o 'onfiguraria pris*o1

    al "ogo semZnti'o, K obviedade de sua desra(*o, serviria ao &ni'o propMsito

    de tornar letra morta as garantias ins'ulpidas no art1 5º in'iso L=I da Contituiç*o8ederal e art1 #2 do CMdigo de .ro'esso .enal1

    Gra, di(er /ue n*o est+ preso /uem 'olo'ado defronte a uma parede,

    'er'ado por de(enas de poli'iais militares, sem possibilidade de ausentar7se ou

    'ontatar ter'eiros, in'luindo advogados e efensores .&bli'os, sem poder ir ao

    # %[CCI, @uilDerme de )ousa1 CMdigo de pro'esso penal1 91 ed1 )*o .auloB :evista dos ribunais, #!!91 p1

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     banDeiro, sem poder 'omer e submetidos a 'onstante eAposiç*o de sua imagemen/uanto pessoas presas K imprensa, fa(er pou'o da intelig

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    Gra, preso signifi'a “sem liberdade de aç*o”, “indiv?duo detido ou 'apturado por agentes da autoridade”1 E, realmente, as pessoas ilegalmente detidas nas

    manifestações da &tlima /uinta7feira estiveram sem liberdade de aç*o, apMs terem

    sido 'apturadas por agentes da autoridade1

     %a pr+ti'a, o /ue se verifi'a o fato de /ue a eAe'uç*o de prisões ilegais e

    imotivadas em massa 'onsistiu em estratgia poli'ial a fim de se restringir outros

    direitos 'onstitu'ionais, tais /uais o direito de livre manifestaç*o HC:, art1 5º, IV, o

    direito de asso'iaç*o HC:, art1 5º, =VII e o direito de reuni*o HC:, art1 5º, =VI1

    0'er'a do direito de reuni*o, alçado K 'ategoria de direito fundamental pela

    Carta Constitu'ional, 'f1 0ndr :amos avaresB

    “0 liberdade de reuni*o signifi'a o direito de 6º 'onvo'ar, #ºorgani(ar ouliderar a reuni*o e 2º efetivamente parti'ipar desta, agrupando7se 'om outras pessoas1H111Q a manifestaç*o 'oletiva da liberdade de eApress*o, "+ /ueense"a a livre dis'uss*o de idias e sua publi'idade1 Q,pois,direito 'oletivo, ao mesmo tempo /ue n*o deiAa de ser direitoindividual de 'ada um /ue se pretenda apresentar para

     parti'ipar de alguma reuni*o”>

    0ssim, /uer se 'on'orde ou n*o 'om os motivos da manifestaç*o, o fato /ue trata7se de direito 'onstitu'ionalmente assegurado, /ue n*o pode ser impedida

     pelo Estado, espe'ialmente por meio do uso ilegal de força poli'ial, revivendo

     pr+ti'a odiosa do per?odo de eA'eç*o1

    >

     0V0:E), 0ndr :amos1 7urso de 8ireito Constitu'ional1 3` Ed1 )*o .auloB )araiva, p1 $631

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    Q ineg+vel, portanto, a ilegalidade e, mais /ue isto, a in'onstitu'ionalidade da'onduta da pol?'ia paulista a'ima narrada 4 verdadeira pr+ti'a em massa de “prisões

     para averiguaç*o” 4, /ue deve n*o apenas ser imediatamente 'essada, 'omo tambm

    gerar a responsabili(aç*o do Estado, 'onforme se demonstrar+ a seguir1

     %esse sentido, em pare'er sobre os fatos a'ima narrados Hdo'1 #!, o

    .rofessor 0sso'iado do epartamnto de ireito .ro'essual da 8a'uldade de ireito

    da [niversidade de )*o .aulo @ustavo -enri/ue :igDi IvaD JadarM asseverouB

    “Q fato p&bli'o e notMrio /ue todos os parti'ipantes dasdenominadas mar'Das pela gratuidade do transporte, n*oforam presos em ra(*o de ordem "udi'ial fundamentada1:estaria, assim, o 'aso de pris*o em flagrante, o /ue, 'omo

    visto em relaç*o Ks figuras anteriores, n*o poss?vel, por n*o'ara'teri(ar 'rime1H111

    D. E poss#vel a denominada =prisão para averiuaçBesF

    :1B 0 resposta igualmente negativa1 %o ordenamento "ur?di'o brasileiro, 'om ressalva da pris*o em flagrante delito,somente poss?vel a pris*o por ordem es'rita e fundamentada

    da autoridade "udi'i+ria 'ompetente1 0s modalidades de pris*o'autelar, 'om eA'eç*o da pris*o em flagrante s*o apenas a

     pris*o tempor+ria e a pris*o preventiva1 0 denominada pris*o para averiguações, por n*o ser prevista no ordenamento "ur?di'o brasileiro, ilegal e, 'aso imposta, dever ser imediatamente relaAada1”

    #!

  • 8/17/2019 ACP Prisao Por Averiguacao

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    Núcleo Especializadode Situação Carcerária 

    :oga7se, portanto, a Vossa EA'el

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    Núcleo Especializadode Situação Carcerária 

    Cristalina a liç*o de C0V0LIE:I 8IL-G5, /uando apontaB

    =@... Pois bem loo no seu primeiro artio inciso &&& a7onstituição Hederal consarou a dinidade humanacomo um dos fundamentos do nosso "stado

     8emocr)tico de 8ireito. Iemos ho(e o $ue pode ser chamado de direito sub(etivo constitucional +dinidade. Ao assim faGer a 7onstituição deu ao danomoral uma nova feição e maior dimensão por$ue a

    dinidade humana nada mais é do $ue a base de todosos valores morais a ess-ncia de todos os direitos

     personal#ssimosC.

    Gs danos morais suportados pelas pessoas presas emergem ipso

     facto, ve( /ue 'laramente violados bens integrantes de sua personalidade, no 'aso, a

    liberdade e a dignidade1

    0s pessoas ilegalmente presas ainda foram lesadas, em sua Donra

    e intimidade, eis /ue submetidas, no per?odo de v+rias Doras, a prisões para

    averiguaç*o1 8orçoso 'onstatar7se /ue foram ultrapassados todos os limites de

    respeito K dignidade Dumana1

    Evidente /ue o Estado, de maneira alguma, poder+ restabele'er a

    situaç*o pretrita 'ausadora do dano K liberdade e K Donra das pessoas presas sem/ue estivessem prati'ando 'rime algum1 Isso n*o afasta, no entanto, sua leg?tima

     pretens*o 'ompensatMria pelo flagrante sofrimento impingido1

    0ssim, "+ se posi'ionou o E1 )uperior ribunal de ;ustiçaB

    5

     C0V0LIE:I 8IL-G, )rgio1 .rograma de :esponsabilidade Civil1 31ed1 )*o .auloB 0tlas, #!!31 p1 3$1

    ##

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    “)ão inviol)veis a honra e a imaem das pessoasasseurado o direito + indeniGação pelo dano material ou moral conse$Jente da sua violação. 9ão se paa ador tendo a prestação pecuni)ria função meramente

     satisfatória. Assim como o detrimento de bens matériasocasiona pre(u#Go patrimonial a aressão aos bensimateriais confiura pre(u#Go moralC @K"sp. nL

  • 8/17/2019 ACP Prisao Por Averiguacao

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     %ote7se /ue, ao tolerar tal arbitrariedade, o .oder ;udi'i+rio poderia, pela proteç*o insufi'iente dispensada K /uest*o, propi'iar a

    responsabili(aç*o interna'ional do Jrasil por des'umprimento do 'itado .a'to de

    )an ;os da Costa :i'a1

    Cara'teri(ada a violaç*o K integridade moral das pessoas presas,

    demonstraremos, logo adiante, a eAist

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    Cara'teri(ada, portanto a 'ontribuiç*o direta dos agentes estataisna produç*o dos danos, na forma e dimens*o apresentados, "ustifi'ando7se, destarte,

    a pro'ed

  • 8/17/2019 ACP Prisao Por Averiguacao

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    $ue a conduta de conduGi'lo + repartição policial sem$ual$uer elemento indicativo da pr)tica de il#cito penalrevestiu'se de manifesta ilealidade. 9ão se h) falar emabsoluto no cumprimento do dever leal mas sim de abusode autoridade por parte dos policiais militares. A prisão

     somente se permite em caso de flarante delito ou mandado (udicial. 9ão era o caso evidentemente.  A c%amada =prisão para a#eriguaç>es= #iola o direito constitucional de ir e #ir dos cidadãos* 9osso sistema leal somente admite a prisão

     por ordem (udicial ou $uando o aente é surpreendido em

     flarante delito. (A"&ção GK-K--KG-GK-TJSP- R"- MARCIO FRANWLIN NOUEIRA- J2"3 'K)-

    0ssim, tendo7se este E1 ribunal "+ se pa'ifi'ado no sentido de /ue a pris*o

     por averiguaç*o 'onstitui il?'ito 'ivil, a ser indeni(ado pelo Estado, re/uer7se a

     pro'ed

  • 8/17/2019 ACP Prisao Por Averiguacao

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    se pela iminente repetiç*o das odiosas prisões por averiguaç*o emmanifestaç*o mar'ada para a presente data, bem nas eventuais novas

    manifestações, /ue t

  • 8/17/2019 ACP Prisao Por Averiguacao

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    Núcleo Especializadode Situação Carcerária 

    :e/uer7se se"a o ilustre membro do Finistrio .&bli'o intimado, nos termos

    do N6º do artigo 5º da Lei 312>35U

    :e/uer7se a intimaç*o pessoal da efensoria .&bli'a nos termos da Lei

    Complementar !9>, alterada pela Lei Complementar 62#!9, na 0venida

    Liberdade, n1 2#, 3º 0ndar, )*o .aulo7).1

    .rotesta7se e desde logo re/uer7se provar o alegado por todos os meios de

     prova em direito admitidas, espe'ialmente, depoimento de testemunDas, oitiva do

    representante do :u, "untada posterior de do'umentos, vistorias, per?'ias in loco

    et'1

    c 'ausa, embora de valor inestim+vel, atribui7se a soma de : 5!!1!!!,!!H'in'o mil reais para efeitos fis'ais1

     

     %estes ermos1

    .ede e Espera eferimento1

     

    )*o .aulo, 63 de "unDo de #!621

    RAFAEL ALATI S.BIO

    efensor .&bli'o do Estado de )*o .aulo

     %&'leo Espe'iali(ado de Cidadania e ireitos -umanos

    #

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    Núcleo Especializadode Situação Carcerária 

    DANIELA SWROMOV DE ALBUYUERYUEefensora .&bli'a do Estado de )*o .aulo

     %&'leo Espe'iali(ado de Cidadania e ireitos -umanos

    BRUNO SHIMIZU

    efensor .&bli'o do Estado de )*o .aulo

     %&'leo Espe'iali(ado de )ituaç*o Car'er+ria

    PATRICW LEMOS CACICEDO

    efensor .&bli'o do Estado de )*o .aulo

     %&'leo Espe'iali(ado de )ituaç*o Car'er+ria

    #9