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ANÁLISE TÉRMICA DE SONDAS PITOT AQUECIDAS EM CONDIÇÕES
ATMOSFÉRICAS DE FORMAÇÃO DE GELO
Ali Allahyarzadeh Bidgoli
Dissertação de Mestrado apresentada ao
Programa de Pós-graduação em Engenharia
Mecânica, COPPE, da Universidade Federal do
Rio de Janeiro, como parte dos requisitos
necessários à obtenção do título de Mestre em
Engenharia Mecânica.
Orientador: Renato Machado Cotta
Rio de Janeiro
Julho de 2013
ANÁLISE TÉRMICA DE SONDAS PITOT AQUECIDAS EM CONDIÇÕES
ATMOSFÉRICAS DE FORMAÇÃO DE GELO
Ali Allahyarzadeh Bidgoli
DISSERTAÇÃO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DO INSTITUTO
ALBERTO LUIZ COIMBRA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA DE
ENGENHARIA (COPPE) DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE
JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A
OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM CIÊNCIAS EM ENGENHARIA
MECÂNICA
Examinada por:
________________________________________________
Prof. Renato Machado Cotta, Ph.D.
________________________________________________
Profa. Juliana Braga Rodrigues Loureiro, D.Sc.
________________________________________________
Dr. Paulo Fernando Lavalle Heilbron Filho, D.Sc.
________________________________________________
Dr. Guilherme Araujo Lima da Silva, D.Sc.
RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL.
JULHO DE 2013
Allahyarzadeh Bidgoli, Ali.
Análise Térmica De Sondas Pitot Aquecidas Em
Condições Atmosféricas De Formação De Gelo/ Ali
Allahyarzadeh Bidgoli.– Rio de Janeiro: UFRJ/COPPE,
2013.
XVI, 74 p.: il.; 29,7 cm.
Orientador: Renato Machado Cotta
Dissertação (mestrado) - UFRJ/COPPE/Programa de
Engenharia Mecânica, 2013.
Referencias Bibliográficas: p. 68-74.
1. Formação de Gelo. 2. Tubo de Pitot. 3. Problema
conjugado.4. Análiseconcentrada. 5. Aerotermodinâmica.
I. Cotta, Renato Machado. II. Universidade Federal do
Rio de Janeiro, COPPE, Programa de Engenharia
Mecânica. III. Titulo.
iii
AGRADECIMENTOS
Agradeço aos meus pais, por terem se dedicado tanto para sustentar a família
e por não medirem esforços quando o assunto era educação, pois eu cresci onde a
educação tem vital importância. Obrigado por terem me dado coragem e me
incentivado a estudar, pois se não fossem vocês eu não estaria terminando mais essa
etapa em minha vida acadêmica. Além dos meus pais, agradeço também as minhas
irmãs por terem me dado força e me ajudarem em diversos momentos difíceis que
passem nesses dois anos que estive fora de meu país de origem. Vocês foram e
contininuaram sendo meu anjo da guarda por toda minha vida.
Agradeço à Prof. Renato Machado Cotta pela orientação deste trabalho e por
ter me dado uma oportunidade de fazer o mestrado e pelos momentos de
aprendizado. Agradeco também a Profa. Carolina Cotta por ter me ajudado bastante
quando comecei meu curso e dissertação de mestrado.
Ao meu primo Vahid por tudo, somos praticamente irmãos.
Aos Profs. Duda, Lavinia, Helcio e Manuel por terem me recebido e me dado
atenção neste período.
Aos membros da banca Profa Juliana Loureiro, Paulo Heibron, Guilherme Silva
Aos amigos, Gino Andrade, Masoud Ghanbari, Diego Estumano, Anna Tsukui,
Antônio do Nascimento, Marcus Curi, Ana Beatriz, José Mir, José Martin, Mohsen
Alaian, Shahin Ranjbarzadeh,Rodrigo Leite, Gabriel, Rafael Mendonça, Rafaelle
Pedroso, Mohammad Mehdi Armandei, Ivana Cerqueira, Pablo Alvarado, Wilson
Rodrigues, Diego Alejandro, Zio, Bernard, Maycon.
Aos funcionários Vera Noronha, Luciana, Evanise Silva, Júlio Ramos, Bianca,
Paulo Silva e Paulo Veiga por terem dado suporte para o desenvolvimento do trabalho.
v
Resumo da Dissertação apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos
necessários para a obtenção do grau de Mestre em Ciências (M.Sc.)
ANÁLISE TÉRMICA DE SONDAS PITOT AQUECIDAS EM CONDIÇÕES
ATMOSFÉRICAS DE FORMAÇÃO DE GELO
Ali Allahyarzadeh Bidgoli
Julho/2013
Orientador: Renato Machado Cotta
Programa: Engenharia Mecânica
O objetivo deste trabalho é propor um modelo combinado simples para a
análise térmica de sondas Pitot aeronáuticas, que inclua a transferência de calor
conjugada e a formação de gelo a partir do modelo de Messinger modificado, a fim de
descrever a formação de gelo em tubos de Pitot aquecidos eletricamente. O modelo
diferencial-concentrado proposto é resolvido por meio do Método das Linhas,
utilizando-se a rotina NDSolve do sistema de computação numérico-simbólica
Mathematica v.9.0. Ilustra-se a importância de se considerar a transferência de calor
na estrutura do sensor, incorporando a condução de calor ao longo da sonda e a
capacidade térmica relacionada aos seus elementos internos, na predição adequada
da formação de gelo na região de estagnação e da extremidade do sensor. Validação
e verificação do modelo são obtidas a partir de resultados experimentais e simulações
anteriores para formação de gelo em aerofólios e para um único conjunto de
resultados disponível para formação de gelo em tubos de Pitot. Os resultados são
apresentados para condições reais adversas de voo e também para formação de gelo
em túnel de vento, em condições experimentais extraídas de um envelope de
certificação recentemente proposto para sondas Pitot.
vi
Abstract of Dissertation presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the
requirements for the degree of Master of Science (M.Sc.)
THERMAL ANALYSIS OF HEATED PITOT PROBES IN ATMOSPHERIC
CONDITIONS OF ICE ACCRETION
Ali Allahyarzadeh Bidgoli
July/2013
Advisor: Renato Machado Cotta
Department: Mechanical Engineering
The purpose of this work is to propose a simple combined model for the thermal
analysis of Pitot probes that includes conjugated heat transfer and a modified
Messinger ice formation formulation, in order to describe ice accretion in electrically
heated aeronautical Pitot tubes. The proposed lumped-differential model is solved by
making use of the Method of Lines as implemented within the routine NDSolve, from
the numerical-symbolic computation system Mathematica v.9.0. It is then illustrated the
importance of considering the heat transfer within the probe structure, that accounts for
heat conduction along the probe and the thermal capacitance of its internal elements,
in adequately predicting the ice formation on the stagnation and tip regions. Model
validation and verification are provided through comparisons against experimental and
previous simulations of ice formation in airfoils and one single previously reported
analysis of Pitot tubes. Solutions are provided for actual adverse flight conditions and
also for proposed icing wind tunnel experimental conditions, extracted from a recently
proposed certification envelope for Pitot probes.
vii
SUMÁRIO
CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO......................................................................... 1
1.1 MOTIVAÇÃO ....................................................................................... 1
1.2 OBJETIVOS ......................................................................................... 3
CAPÍTULO 2 - REVISÃO BIBLIOGRÁFICA..................................................... 4
CAPÍTULO 3 - FORMULAÇÃO DO PROBLEMA .......................................... 10
3.1 MODELO DE FORMAÇÃO DE GELO EM AEROFÓLIO .................... 10
3.1.1 MODELO SEMI-EMPÍRICO DE SHERIF ET AL.(1997) ................ 10
3.1.2 MODELO DE ANDERSON E TSAO (2005) .................................. 20
3.1.3 MODELO DE MESSINGER ESTENDIDO – ÖZGEN E CANIBEK
(2008): 23
3.2 MODELO PARA ANÁLISE TÉRMICA DO TUBO DE PITOT (SOUZA et
al., 2011) 24
3.3 FORMAÇÃO DE GELO EM SONDAS PITOT .................................... 30
3.3.1 TRAJETÓRIAS DE GOTAS E EFICIÊNCIAS DE COLETA ........... 30
3.3.2 BALANÇOS DE MASSA E ENERIGA NA FORMAÇÃO DE GELO
NA SONDA PITOT .............................................................................................. 34
CAPÍTULO 4 - IMPLEMENTAÇÃO COMPUTACIONAL ................................ 38
CAPÍTULO 5 - RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................. 40
5.1 VALIDAÇÃO DO MODELO DE FORMAÇÃO DE GELO .................... 40
5.2 ANÁLISE TÉRMICA E FORMAÇÃO DE GELO NO TUBO DE PITOT 50
5.2.1 CONDICÕES DE VOO DO A4 ........................................................ 53
5.2.2 CONDICÕES DE VOO DO AF447 ............................................... 57
5.2.3 CONDICÕES DE ENSAIO NO TUNEL DE VENTO DA COPPE ... 62
CAPÍTULO 6 - CONCLUSÕES E TRABALHOS FUTUROS .......................... 65
viii
LISTA DE FIGURAS
Figura 1.1 - Regiões e equipamentos de uma aeronave sujeitos a formação de
gelo (HENRICH et al., 1991). ........................................................................................ 1
Figura 3.1 -Transferência de calor no bordo de ataque de um aerofólio. SHERIF
et al. (1997) ................................................................................................................ 11
Figura 3.2- Sonda Pitot PH-510 do A-4 Skyhawk fabricada pela Aero
Instruments, Co., EUA, cedida pela Marinha do Brasil ................................................ 27
Figura 3.3-Comparação das temperaturas da superfície da sonda Pitot,
experimentais (túnel de vento) e simuladas no regime permanente, na validação do
modelo térmico: curva experimental em vermelho, modelo com radiação linearizada
em azul, modelo com radiação não-linear em verde (u∞=10 m/s). (Souza et al., 2011)
................................................................................................................................... 28
Figura 3.4- Comparação das temperaturas da superfície da sonda Pitot,
experimentais (Voo A4 Skyhawk) e simuladas no regime transiente, na validação dos
modelos térmicos: curva experimental em pontos azuis, modelo simplificado com
correlações em traços vermelhos, modelo completo conjugado em linha preta
(M∞=0.51, alt. 15000ft).Souza et al.,(2012) ................................................................. 29
Figura 3.5- Escoamento de ar e água para previsão da trajetória das gotículas
e cálculo da eficiência de coleta no aerofólio .............................................................. 30
Figura 3.6- Definição de eficiência de coleta para aerofólio. ............................ 31
Figura 3.7- Definição de eficiência de coleta para tubo de Pitot....................... 33
Figura 3.8.a,b -Tubos de Pitot com extremidades congeladas. ....................... 34
Figura 3.9- Balanço de energia para estudo da formação de gelo em um
volume de controle sobre a superfície do Pitot. ........................................................... 35
Figura 4.1- Fluxograma do código para análise da formação de gelo em sonda
Pitot. ........................................................................................................................... 39
Figura 5.1-Eficiência de coleta local para aerofólio NACA 651-212, presente
trabalho (linha preta) e Sherif et al., 1997 (pontos vermelhos). .................................. 40
Figura 5.2-Perfil de aerofólio NACA 651-212 ................................................... 41
Figura 5.3-Perfil de aerofólio NACA 0012 ........................................................ 41
Figura 5.4-Eficiência de coleta no ponto de estagnação calculada para o caso
teste em (Anderson et al., 2005) e sua comparação com o código LEWICE em função
do parâmetro de inércia modificado. ........................................................................... 42
ix
Figura 5.5-Fator relativo de calor para aerofólio NACA 651-212, comparando-se
o presente modelo (linha azul) com os resultados de Sherif et al., 1997 (pontos
vermelhos) .................................................................................................................. 43
Figura 5.6-Fração de congelamento para NACA 651-212, comparando-se o
presente modelo (linha azul) com os resultados de Sherif et al., 1997 (pontos
vermelhos) .................................................................................................................. 44
Figura 5.7-Comparação de formas de gelo simuladas e experimentais para o
caso C01 da Tabela 5.1para o aerofólio NACA 0012. ................................................. 47
Figura 5.8.-Eficiência de coleta local para a sonda Pitot PH-510 fabricada por
Aero Instruments Co, comparação entre o presente trabalho e (Silva, 2011).............. 48
Figura 5.9. -Formação de gelo na sonda Pitot PH-510 fabricada por Aero
Instruments Co, condições do caso C01( c=0.8 cm,V∞=57.5 m/s, Tst= -7.1, 0C, LWC=
0.915 g/m3,MVD=45.9 µm, t=13.8 min) ....................................................................... 49
Figura 5.10.-Formação de gelo na sonda Pitot PH-510 fabricada por Aero
Instruments Co, condições de (Silva, 2011)( V∞= 56 m/s, LWC=0.59g/m3, Tsur= -100C,
MVD=26.2µm.) ........................................................................................................... 49
Figura 5.11– Sonda Pitot PH-510 utilizada no presente trabalho (Souza et al.,
2011; Souza et al., 2012). ........................................................................................... 50
Figura 5.12 - Desenho técnico da sonda Pitot PH-510 fabricada por
AeroInstruments Co. (Souza et al., 2011;Souza et al., 2012). ..................................... 50
Figura 5.13 – Área da seção transversal da sonda Pitot (Souza et al., 2011) 51
Figura 5.14 – Perímetro da seção transversal da sonda Pitot (Souza et al.,
2011) .......................................................................................................................... 51
Figura 5.15 – Capacidade térmica efetiva da sonda Pitot (Souza et al., 2011) 52
Figura 5.16 – Condutividade térmica efetiva da sonda Pitot (Souza et al., 2011)
................................................................................................................................... 52
Figura 5.17 – Densidade média transversal de geração de energia na sonda
Pitot em condições de potência máxima (Souza et al., 2012). .................................... 52
Figura 5.18 – Temperatura de superfície da sonda Pitot no regime permanente
para condições de ensaio em voo do A4 Skyhawk (altitude de 15.000ft, temperatura
externa de 8.8C e Mach 0.51) (Souza et al., 2012). .................................................... 53
Figura 5.19 - A4 Skyhawk :avião com sonda Pitot testada e instalação do tubo
de Pitot no avião (Souza et al., 2012). ........................................................................ 54
Figura 5.20- Predição das temperaturas teóricas ao longo da sonda PH510
com formação de gelo em Mach 0.51 e 15000ft de altitude. ....................................... 54
x
Figura 5.21- Distribuição longitudinal da temperatura da superfície do Pito em
estado transiente em situação de voo do A4 com formação de gelo. (T∞ = -400 C,
LWC= 1.115 g/m3, MVD=45 µm, V∞= 800 km/h) ......................................................... 55
Figura 5.22-Comparação da Predição das temperaturas teóricas ao longo da
sonda PH510 antes do inicio do teste de formação de gelo e com formação de gelo
em Mach 0.51 e 15000ft de altitude ............................................................................ 55
Figura 5.23-Comportamento transiente da temperatura na região de
estagnação da sonda Pitot em situação de voo do A4 com formação de gelo (T∞ = -
400 C, LWC= 1.115 g/m3, MVD=45 µm, V∞=800 km/h) ............................................... 56
Figura 5.24. -Formação de gelo na sonda Pitot PH-510 fabricada por Aero
Instruments Co, condições do A4(T∞ = -400 C, LWC= 1.115 g/m3, , MVD=26.2 µm,
V∞=800 km/h e tempo= 30 min) .................................................................................. 56
Figura 5.25- Posição das sondas Pitot do Airbus A330 (BEA Final Report-
AirFrance -flight AF 447, Rio de Janeiro – Paris, 2012) .............................................. 57
Figura 5.26-Distribuição longitudinal da temperatura em regime transiente na
sonda Pitot, em situação do vôo AF447 com formação de gelo (T∞ = -54 0 C, LWC=
1.115 g/m3, MVD=45 µm, V∞=800 km/h) ..................................................................... 58
Figura 5.27- Comparação da Predição das temperaturas teóricas ao longo da
sonda PH510 antes do inicio do teste de formação de gelo do voo AF447 com
formação de gelo (T∞ = -54 0 C, LWC= 1.115 g/m3, MVD=45 µm, V∞=800 km/h) ........ 59
Figura 5.28- Comportamento transiente da temperatura na região de
estagnação da sonda Pitot em situação de voo do AF447 com formação de gelo (T∞ =
-54 0 C, LWC= 1.115 g/m3,, MVD=45 µm, V∞=800 km/h) ............................................ 59
Figura 5.29. -Formação de gelo na sonda Pitot PH-510 fabricada por Aero
Instruments Co, condições do A4(T∞ = -54 0 C, LWC= 1.115 g/m3, , MVD=45 µm,
V∞=800 km/h, tempo= 15 min) .................................................................................... 60
Figura 5.30- Distribuição longitudinal da temperatura em regime transiente na
sonda Pitot, em situação do vôo AF447 com formação de gelo também na região
cônica da sonda T∞ = -54 0 C, LWC= 1.115 g/m3, , MVD=45 µm, V∞=800 km/h) ......... 61
Figura 5.31- Comparação da Predição das temperaturas teóricas ao longo da
sonda PH510 antes do inicio do teste de formação de gelo do vôo AF447 com
formação de gelo (T∞ = -54 0 C, LWC= 1.115 g/m3, MVD=45 µm, V∞=800 km/h) ........ 61
Figura 5.32- Comportamento transiente da temperatura na região de
estagnação da sonda Pitot em situação de voo do AF447 com formação de gelo
também na região cônica da sonda T∞ = -54 0 C, LWC= 1.115 g/m3, , MVD=45 µm,
V∞=800 km/h) .............................................................................................................. 62
xi
Figura 5.33 - Vista 3D do túnel de vento climático da COPPE/UFRJ (NIDF/CT2)
................................................................................................................................... 63
Figura 5.34- Planta baixa do túnel de vento climático da COPPE/UFRJ
(NIDF/CT2) ................................................................................................................. 63
Figura 5.35 - Distribuição longitudinal da temperatura em regime transiente na
sonda Pitot, em situação do túnel de vento com formação de gelo ............................. 63
Figura 5.36 Comparação da Predição das temperaturas teóricas ao longo da
sonda PH510 antes do inicio do teste de formação de gelo do vôo AF447 com
formação de gelo (T∞ = -54 0 C, LWC= 1.115 g/m3, MVD=45 µm, V∞=800 km/h ......... 64
Figura 5.37 - Distribuição longitudinal da temperatura em regime transiente na
sonda Pitot, em situação do túnel de vento com formação de gelo ............................. 64
Figura 5.38 Comparação da Predição das temperaturas teóricas ao longo da
sonda PH510 antes do inicio do teste de formação de gelo do voo AF447 com
formação de gelo (T∞= -50 C e LWC= 2.5 g/m3 ) .......................................................... 65
xii
LISTA DE TABELAS
Tabela 5.1-Casos-teste de Anderson e Tsao (2005) simulados no presente
trabalho………………………………………….…...……………………………………...45
Tabela 5.2- Resultados comparativos para o caso C01………………………………45
Tabela 5.3- Resultados comparativos para o caso C02………………………………45
Tabela 5.4- Resultados comparativos para o caso C03………………………………45
Tabela 5.5- Resultados comparativos para o caso C04………………………………45
Tabela 5.6- Resultados comparativos para o caso C05………………………………46
Tabela 5.7- Resultados comparativos para o caso C06………………………………46
Tabela 5.8- Resultados comparativos para o caso C07………………………………46
xiii
Raio da gota, ft, m
Altitude, ft, m
Fator de calor relativo, adimensional.
Calor específico do gelo, 0.485 Btu/lbm0F, Cal/ g K, J/kg K
Calor específico do ar a pressão constante, Btu/lbm0F, Cal/ g K, J/kg K
Coeficiente de pressão, adimensional
Calor específico do ar a volume constante, Btu/lbm0F, Cal/ g K, J/kg K
,,w p wsc c
Calor específico da água líquida, Btu/lbm
0F, Cal/ g K, J/kg K
Coeficiente de difusão do vapor de água, ft2/h, m
2/s
Diâmetro, ft, Cm
Diâmetro volumétrico mediano (MVD), adimensional.
Constante gravitacional, 32.17 lbm ft /lbf s2 , m/s
2
Coeficiente de transferência de calor local, Btu/ h ft2 0
F, cal/sm2 K, W/(m
2K)
Coeficiente de transferência de massa local, ft / h ,m/s
Calor equivalente mecânico, 778.26 ft lbf/Btu,
k Condutividade térmica do ar, Btu /h ft 0F, W/m K
Parâmetro de inércia modificado, adimensional.
Comprimento da corda do aerofólio, ft, Cm
Número de Lewis, adimensional
Número de Mach para o escoamento livre,
Peso molecular do ar seco, 28.966 lb/lb mole
Peso molecular do vapor de água, 18.0160lb/lb mole
Fluxo de massa local de formação de gelo, lbm/ft2h,kg/m
2s
Fluxo de massa local que evapora da superfície, lbm/ft2h, kg/m
2s
Potencial de evaporação, lbm/ft2h, kg/m
2s
Fluxo de massa local que impacta na superfície e congela, lbm/ft2h, kg/m2s
Fluxo de massa de água que impacta na superfície, lbm/ft2h, kg/m2s
Fluxo de massa local que impacta na superfície e permanece líquida, lbm/ft2 h
Fluxo de massa que sublima da superfície, lbm/ft2h, kg/m
2s
Potencial de sublimação, lbm/ft2h, kg/m
2s
Lista de Símbolos
xiv
Fração de evaporação, adimensional.
n,nf Fração de congelamento, adimensional.
Fração de sublimação, adimensional.
Constante igual a 1/2 para camada limite laminar e 1/3 para turbulenta
Número de Nusselt baseado no diâmetro do cilindro, hcd/k, adimensional.
Número de Nusselt baseado no comprimento da corda, adimensional. Número de Prandtl, adimensional.
p1 Pressão estática local fora da extremidade camada limite, psia, Nt/m
2
Pressão do vapor de água sobre o gelo, psia, Nt/m2
Pressão do vapor de água sobre a água, psia, Nt/m2
Pressão do vapor de água fora da extremidade da camada limite, psia, Nt/m2
Pressão do vapor de água no escoamento livre, psia, Nt/m2
Pressão estática no escoamento livre (pressão de altitude), psia, Nt/m2
Fluxo de calor local da superfície devido à condução no aft, Btu/h ft2,W/m
2s
,aero aeroq Q Fluxo de calor local na superfície devido ao aquecimento aerodinâmico, Btu/h ft2
,c cq Q Fluxo de calor local da superfície devido à convecção, Btu/h ft2,W/m
2s
,drop kq Q
Fluxo de calor local para a superfície devido à energia cinética da gota, Btu/h ft
2
,e eq Q Fluxo de calor local devido à evaporação, Btu/h ft2,W/m
2s
Fluxo de calor na superfície devido a fontes externas, Btu/h ft2,W/m
2s
,f dropq Q
Fluxo de calor local na superfície devido ao congelamento da água , Btu/h ft
2
,sub sq Q
Fluxo de calor local vindo da superfície devido à sublimação, Btu/h ft
2,W/m
2s
Fluxo de calor local da superfície devido ao aquecimento da gota, Btu/h ft2,W/m
2s
r Fator de recuperação da camada limite, adimensional.
Constantes de gás para o ar seco, 53.352 ft lbf/lbm0R.
Número de Reynolds baseado no diâmetro do cilindro, adimensional.
Re ,Redrop Número de Reynolds baseado no diâmetro da gota, adimensional.
Número de Reynolds baseado no comprimento da corda, adimensional.
Distância ao logo da superfície do aerofólio medida do bordo de ataque, ft, Cm.
Temperatura média entre a superfície e o escoamento livre, 0F,
0C
xv
Temperatura de congelamento da água, 320 F.
Temperatura de equilíbrio da superfície, 0F,
0C.
T1,t1 Temperatura estática local fora da borda da camada limite,
0F,
0C.
T∞,t∞ Temperatura de escoamento livre,
0F,
0C.
Temperatura absoluta, R, K
Velocidade de escoamento livre, ft/s, m/s.
Velocidade local para a borda da camada limite, ft/s, m/s.
LWC Conteúdo liquida de água da nuvem, g/m3
Difusividade térmica, ft2/h, m²/s
Eficiência de coleta local, adimensional.
Razão de calor específico cp/cv, adimensional.
Viscosidade dinâmica do ar,lbm/ft h, g/m s,
Viscosidade cinemática do ar, ft2/h, m²/s
2.
Calor latente de vaporização da água, Btu/lbm, Cal/g, KJ/KG.
,f f Calor latente de fusão do gelo, Btu/lbm, Cal/g, KJ/KG.
Calor latente de sublimação do gelo, Btu/lbm, Cal/g, KJ/KG.
Densidade da água líquida, lbm/ft3, g/m
3.
Densidade do ar no escoamento livre, lbm/ft3, g/m
3.
xvi
1
CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO
1.1 MOTIVAÇÃO
A acumulação de gelo na estrutura do avião é um dos principais problemas
desse meio de transporte. Percebe-se crescimento de gelo nas asas, superfície da
fuselagem borda de ataque tanto das asas quanto das empenagens, antenas, entrada
de ar dos motores, hélices, para-brisa, tubos de Pitot, etc, o que pode levar a
degradação de desempenho ameaçando a segurança do voo. Por exemplo, a
modificação da forma das asas devido ao acumulo de gelo resulta numa redução da
sustentação e um aumento do peso e do arrasto. A formação de gelo em superfícies
de controle resulta em sérios e muitas vezes imprevisíveis degradações na
controlabilidade de aeronaves.
Figura 1.1 - Regiões e equipamentos de uma aeronave sujeitos a formação de
gelo (HENRICH et al., 1991).
A formação de gel em uma aeronave ocorre quando essa voa, por exemplo,
através de uma nuvem que contenha pequenas gotas de água super-resfriada em
concentração suficiente. Uma parte das gotas de água colide com os componentes da
aeronave, mudando de fase e se acumulando, o que resulta na formação de gelo.
2
Esforços no sentido de entender os efeitos do gelo no desempenho e mecânica
de voo começaram na década de 1940, principalmente com base em experiências e
em voos de teste. Entre os trabalhos pioneiros, o trabalho de Messinger (1953)
representa até hoje um modelo fundamental e importante. Desde então, as principais
contribuições para as simulações de formação de gelo em aeronaves foram realizadas
pelo NASA Lewis Research Center (EUA).
Dois tipos de mecanismos de acumulação de gelo foram identificados cujas
diferenças são de natureza física e geométrica. Para valores baixos de conteúdo de
água líquida, de temperatura do ar e de velocidade de voo, a formação de gelo é
caracterizada por uma cor branca opaca e uma baixa densidade. O relatório da NASA
(ABBOTT et al., 1945), resume os resultados de uma pesquisa de dez anos de
colaboração na simulação de formação de gelo conjuntamente entre a National
Aeronautics and Space Administration (NASA), a Defense Research Agency (DRA) e o
Office National d'Études et de Recherches Aérospatiales (ONERA, França). O relatório
apresenta comparações entre formas de gelo obtidas experimentalmente no túnel de
pesquisa (NASA Lewis Icing Research Tunnel) com um aerofólio de 21'' NACA 0012.
Desde então, um grande número de estudos teóricos e experimentais foram
devotados à análise dos processos de formação de gelo em especial em asas, como
revisaremos brevemente na seção de revisão de literatura.
Neste trabalho foca-se em sistemas anti-gelo para tubos de Pitot, com
aquecimento elétrico do corpo do sensor, tendo em vista as sérias consequências que
podem advir da tolerância de congelamento desses probes, como recentemente e
tragicamente constatado no acidente do vôo Air France AF447, em 31 de maio de
2009. A literatura é muito incipiente em relação à análise de formação de gelo ou de
sistemas anti-gelo para sensores de velocidade aeronáuticos. Recentemente, em
(Souza et al., 2011; Souza et al., 2012), foram construídos modelos diferenciais-
concentrados para a análise térmica transiente de tubos de Pitot aeronáuticos,
devidamente validados por resultados experimentais em túnel de vento e em ensaios
em vôo. O presente trabalho visa incorporar a esses estudos recentes um modelo
simplificado mas robusto de formação de gelo, para previsão do comportamento
térmico transiente de sistemas anti-gelo para sensores de velocidade aeronáuticos.
Este estudo faz parte de um projeto maior, sob financiamento da FAPERJ, que
inclui o projeto e a construção do primeiro túnel de vento de formação de gelo do país,
que permitirá a avaliação critica de modelos fenomenológicos e sistemas de controle
térmico para diferentes sensores aeronáuticos, como aqueles aqui desenvolvidos e
empregados.
3
1.2 OBJETIVOS
O objetivo principal deste trabalho é estudar teoricamente o problema da
transferência de calor conjugada associada com o comportamento térmico transiente
de um tubo de Pitot aeronáutico, sob condições propicias à formação de gelo.
O propósito é demonstrar a importância de se considerar à conjugação da
transferência de calor na implementação de modelos mais complexos, que visem
prever a formação de gelo nas estruturas aeronáuticas, originalmente propostos para
asas, mas aqui aplicados a tubos de Pitot. Na falta de resultados experimentais
especificos para formação de gelo em sondas Pitot, o modelo proposto foi
primeiramente aplicado em asas, permitindo sua validação a partir de resultados em
túnel de vento para aerofólios. A seguir, o modelo desenvolvido foi aplicado a tubos de
Pitot, e criticamente comparado com resultados teóricos obtidos por ferramentas
computacionais originalmente desenvolvidas para análise de formação de gelo em
asas, adaptadas para o tratamento de sondas Pitot.
Este estudo descreve um modelo semi-empirico capaz de prever a
transferência de calor locar por condução e convecção e as taxas de formação de gelo
sobre superfícies em uma série de condições ambientais. O modelo considera
diferentes circunstâncias que envolvem a ocorrência simultânea de congelamento,
sublimação, evaporação nas superfícies, para escoamentos de alta velocidade na
região subsônica. Os perfis de frações de evaporação e sublimação, bem como a taxa
de acúmulo de gelo e as taxas de escoamento de líquidos são apresentados de forma
objetiva.
Por fim, o modelo teórico desenvolvido é aplicado em situações criticas de vôo
bem como para as condições de projeto do túnel de vento de formação de gelo da
COPPE/UFRJ.
4
CAPÍTULO 2 - REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Nesta seção serão apresentados alguns trabalhos relacionados aos métodos
para a previsão de acumulação de gelo, que nortearam os desenvolvimentos a seguir
relatados.
Os primeiros trabalhos sobre simulação de formação de gelo foram publicados
no início da década de 50. Messinger (1953) desenvolveu o procedimento para o
cálculo da temperatura da superfície em um cilindro rotativo de superfície adiabática e
em equilíbrio termodinâmico com o escoamento de ar. A determinação da fração de
congelamento nf foi um resultado importante de seu trabalho. Os procedimentos de
cálculo desenvolvidos pelo autor são utilizados em diversos programas de simulação
de formas de gelo.
O código LEWICE foi desenvolvido progressivamente por MacArthur, Keller e
Luers (1982), Ruff e Berkowitz (1990) e Wright (1995, 1999) da National Aeronautic
and Space Administration - NASA. O código inicialmente resolve o escoamento
potencial ao redor de um aerofólio bidimensional através do método dos painéis
(HESS; SMITH, 1967). O cálculo da trajetória das gotas de água considera as forças
de arrasto e os efeitos da gravidade no cálculo da quantidade de movimento das
gotas. O coeficiente de transferência de calor por convecção é calculado através das
equações da camada limite na forma integral a partir do escoamento potencial
resultante do método dos painéis. O cálculo da forma do gelo é realizado em
pequenos intervalos de tempo com a solução completa do escoamento e da trajetória
das partículas a cada intervalo.
Downs e James (1988) implementaram um código numérico para simular o
sistema antigelo com ar quente do bordo de ataque da nacelle de um motor
aeronáutico. Os autores estimaram har entre o escoamento gasoso, carregado com
gotículas super-resfriadas, e a superfície exposta da entrada de ar do motor por meio
de expressões semi-empíricas. O modelo desenvolvido foi uma combinação do
escoamento em torno da parte frontal de um cilindro seguido pelo escoamento ao
longo de duas placas planas paralelas. As correlações de har para cilindro e placa
plana são combinadas de forma a diminuirem o desvio entre as suas previsões e os
dados experimentais.
5
CEBECI et al. (1991) descrevem um método numérico para computação da
formação de gelo em aerofólios, seus efeitos na sustentação bem como nos
coeficientes de arrasto. O método iterativo de camada limite desenvolvido por Cebeci
foi incorporado ao código LEWICE da NASA para melhorar a precisão das previsões
do perfil de gelo formado e calcular as características de desempenho de aerofólios.
AL-KHALIL et al. (1991) criaram um modelo matemático para sistemas anti-
gelo que considera os efeitos da formação de filetes, através da aplicação da Primeira
Lei da Termodinâmica ao escoamento da água líquida.
SHERIF et al. (1997) descrevem um modelo semi-empírico capaz de predizer a
transferência de calor local e as taxas de acúmulo de gelo sobre as asas do avião
(aerofólios) sob uma série de condições ambientais. Esse modelo baseia-se na
temperatura de equilíbrio da superfície do aerofólio que é a temperatura de
congelamento, considerando-se diferentes cenários que envolvem a ocorrência
simultânea de congelamento, sublimação, evaporação e para escoamentos com alta
velocidade subsônica sobre as superfícies do aerofólio.
Wright et al. (1997) publicaram uma revisão dos modelos implementados nos
simuladores numéricos de crescimento de gelo, LEWICE, TRAJICE2 e ONERA2D, e
então fizeram uma comparação entre eles quanto à capacidade de previsão numérica.
Os módulos principais destes códigos clássicos para previsão de formação de gelo
são: 1) Módulo de Escoamento, que resolve o escoamento em torno do aerofólio; 2)
Módulo de Trajetória, que calcula a trajetória das gotículas e estima a eficiência de
coleta local sobre o aerofólio; 3) Módulo Térmico, que estima o crescimento do gelo.
MINGIONE e BRANDI (1998) apresentaram os resultados sobre simulação da
formação de gelo para aerofólios multi-elementos. Eles descreveram e compararam
diferentes maneiras de resolver a formação de gelo transiente.
Em um artigo de revisão, Gent et al. (2000) apresentaram os fundamentos e o
estado da arte de análises de formação de gelo em aeronaves. Métodos para cálculo
da trajetória de gotas de água, previsão de formação de gelo e degradação do
desempenho aerodinâmico foram discutidos e recomendados para futuras pesquisas.
Posteriormente, AL-KHALIL et al. (2001) implementaram o código ANTICE para
prever os parâmetros da operação de sistemas térmicos anti-gelo de aerofólios e
validaram os seus resultados numéricos com dados experimentais. Esse programa
utiliza as rotinas do código LEWICE da NASA para avaliação das propriedades do
escoamento em torno do aerofólio e para o cálculo da distribuição de eficiência de
coleta das gotículas ao longo do bordo de ataque (WRIGHT, 1995; WRIGHT, 1999).
6
MYERS et al. (2001) apresentam um modelo matemático unidimensional, que é
uma extenção do modelo original de Messinger e descrevendo o crescimento do gelo.
Em tal modelo é demonstrado que o problema pode ser também estendido para duas
e três dimensões.
Silveira (2001) implementou o código Aeroicing para prever a forma de gelo em
bordos de ataque de aerofólios aeronáuticos bidimensionais. O autor adotou o modelo
matemático do código LEWICE na versão 1.6 de Wright (1995). Este código foi
expandido para incluir a capacidade de simulação de sistemas antigelo. Este código
estima a transferência de calor por meio das correlações de Kays e Crawford (1993) e
Wright (1995), ou seja, admite hipóteses semelhantes àquelas dos códigos clássicos
de formação de gelo.
MYERS et al. (2002) discutiram um modelo matemático para o escoamento de
água em condições de formação de gelo do tipo “glaze ice”. O escoamento de água
sobre a estrutura pode significativamente complicar o problema e ter um grande
impacto sobre os mecanismos de formação de gelo. O modelo é aplicado ao problema
de formação de gelo e os resultados são apresentados para a taxa de crescimento de
gelo e o escoamento de água direcionado pela força da gravidade, tensão superficial e
para cisalhamento constante com o ar.
Anderson e Tsao (2005a) e (2005b) validaram o modelo de Messinger com
medições experimentais da espessura de um grande número de formas de gelo para
uma variedade de condições de ensaio no IRT (Icing Tunnel Research) da NASA ,
com as frações de congelamento nominais e frações de congelamento experimentais
tendo sido calculadas posteriormente e comparadas com os valores encontrados a
partir da análise de Messinger. É mostrado também que os valores de fração de
congelamento obtidos analíticamente foram inteiramente consistentes com as formas
de gelo e observados em condições de formação de gelo tipo “rime”.
FORTIN et al. (2006) propõem um modelo melhorado de rugosidade, em que o
estado da água na superfície é representado sob a forma de grânulos (beads), filme
ou filetes. O modelo é testado para condições severas de formação de gelo em seis
temperaturas diferentes, correspondentes à formação de gelo seca, mista e molhada.
Silva et al. (2007a) e Silva et al. (2007b) apresentaram uma descrição completa
do modelo, detalhes da implementação numérica e resultados mais recentes gerados
pelo código numérico desenvolvido. Devido, principalmente, à importância dos efeitos
da transição laminar-turbulenta e do gradiente de temperatura na superfície sólida
sobre a convecção de calor e massa em torno do aerofólio, os autores estenderam a
modelagem do escoamento na camada-limite e apresentaram uma revisão crítica da
bibliografia e uma discussão dos resultados obtidos.
7
Silva (2009) desenvolveu e implementou um modelo matemático para prever a
transferência de calor e massa no escoamento bidimensional bifásico em torno de
aerofólios de uso aeronáutico, equipados com sistema antigelo térmico operando em
regime permanente. Em condições de formação de gelo o modelo estimou a
distribuição de temperaturas na superfície e o coeficiente de transferência de calor
com precisão para o uso em aplicações aeronáuticas a fim de: 1) estimar a
molhabilidade da superfície do aerofólio por meio de um modelo matemático para
caracterizar o escoamento da água líquida residual no padrão de filme e de filetes; 2)
avaliar o comportamento dinâmico e térmico da camada-limite laminar e turbulenta por
meio de análises integral e diferencial, que considera efeitos do gradiente de pressão,
da transição laminar-turbulenta, da transpiração e da não uniformidade de temperatura
da superfície e 3) estimar o início e o término da região de transição laminar-
turbulenta.
Stefanini (2009) desenvolveu um código que foi acoplado aos módulos do
código ONERA e simulou as formas de gelo em aerofólios para diversas condições de
escoamento do ar com conteúdo de água e apresentou a simulação da previsão de
formas de gelo do tipo “glaze”. Ele verificou como a posição do início da transição do
regime laminar para o turbulento, o comprimento da transição e o valor da rugosidade
afetam a forma, a espessura e o volume de gelo e realizou ajustes nos modelos de
camada limite para melhores previsões de formas de gelo do tipo “glaze”.
Liangliang et al. (2009) usaram compósitos de nanopartículas em polímeros
para demonstrar a capacidade anti-congelamento de superfícies hidrofóbicas e relatar
a evidência experimental direta de que tais superfícies são capazes de impedir a
formação de gelo no momento do impacto da água super-resfriada, tanto em
condições de laboratório quanto em ambientes naturais. Além disso, descobriram que
a capacidade anticongelante desses compostos depende não só da sua
superhidrofobicidade mas também do tamanho das partículas sobre a superfície
exposta. Os tamanhos críticos de partícula que determinam a superhidrofobicidade e a
propriedade anti-congelamento estão em duas diferentes escalas de comprimento. O
efeito do tamanho de partícula sobre a formação de gelo é explicado utilizando uma
teoria clássica de nucleação heterogênea. Este resultado implica que a propriedade
anti-gelo da superfície não está diretamente correlacionada com a
superhidrofobicidade, e, portanto, é incerto se uma superfície hidrofóbica é também
adequada como revestimento anti-congelamento, sem conhecimento detalhado do
resultado da morfologia da superfície. Os resultados também abrem possibilidades
para a criação racional de superfícies anti-gelo hidrofóbicas por texturas de superfície
8
de ajuste em várias escalas de comprimento, por exemplo, a partir de uma
estruturação hierárquica.
ANTONINI et al. (2011) concentraram-se em promover o escoamento de água
no estado líquido como uma maneira de reduzir a quantidade total de água presente
sobre a superfície da estrutura, antes que se possa iniciar o congelamento. O
escoamento de água no estado líquido é promovido pela redução da molhabilidade da
superfície do aerofólio, a qual é medida pelo ângulo de contato de histerese de uma
gota sobre uma superfície. Adicionalmente, provaram que uma estratégia de
revestimento utilizada em combinação com um sistema anti-congelamento e de
degelo, permite reduzir significativamente a potência de aquecimento necessária para
evitar a formação de gelo na zona de coleta. Ainda naquele trabalho, concentraram
esforços em dois novos aspectos: primeiro, na avaliação do desempenho da estratégia
de revestimento quando o sistema de aquecimento funciona de forma intermitente,
como um sistema de degelo. E em segundo lugar, buscou-se a otimização da
distribuição de energia de aquecimento nas asas para reduzir as necessidades de
potência.
Embora a literatura sobre formação de gelo em asas seja muito abundante, o
mesmo não se pode dizer sobre a análise especifica de sensores de velocidade, e
mesmo sobre a análise térmica transiente de sistemas de aquecimento em tubos de
Pitot. Recentemente, em (Souza et al., 2011), a partir de uma formulação concentrada
clássica na direção radial e uma formulação local ao longo da variável longitudinal, foi
possível prever distribuições de temperatura ao longo do corpo de tubos de Pitot,
empregando correlações bem conhecidas para o escoamento externo laminar e
turbulento sobre a superfície do sensor. Os resultados teóricos foram validados com
ensaios no túnel de vento do INMETRO, na faixa de escoamento incompressível,
empregando uma câmera de termografia por infravermelho para capturar com
precisão espacial e temporal o campo térmico na superfície da sonda.
Em (Souza et al., 2012), o uso de correlações para os coeficientes de
transferência de calor foi verificado, considerando-se o problema conjugado completo,
resolvendo-se o problema de escoamento e transferência de calor também no fluido,
desta vez em regime compressível. A Técnica da Transformada Integral Generalizada
foi empregada na solução das equações de convecção-difusão resultantes. Ensaios
em voo propiciados pela Marinha do Brasil, em seu avião A4 Skyhawk, permitiram
validar o modelo térmico transiente construído, a partir de transientes provocados pelo
piloto no desligamento e religamento sucessivo do sistema de aquecimento do tubo de
Pitot.
9
Tsao e Lee (2012) mostraram algumas modificações necessárias no cálculo da
eficiência de coleta local no ponto de estagnação e o coeficiente de transferência
convectiva de calor correspondente para o aerofólio NACA 0012. Modelos de aerofólio
do tipo "Swept model" foram estudados e então relatados.
O presente trabalho é uma sequência natural aos dois trabalhos acima
relatados, Souza et al. (2011) e Souza et al. (2012), incorporando um modelo de
formação de gelo baseado na teoria de Messinger ao modelo de análise térmica
transiente da sonda Pitot já validado e verificado.
10
CAPÍTULO 3 - FORMULAÇÃO DO PROBLEMA
Nesta seção será apresentada a formulação matemática do problema, que
consiste primeiramente na equação de condução de calor em regime transiente para a
estrutura do tubo de Pitot, acoplada a correlações para os coeficientes de
transferência de calor por convecção ao longo de sua superficie. O modelo de
formação de gelo é empregado na região sensora do Pitot, tanto na forma de condição
de contorno na região de estagnação quanto na própria equação de energia na
extremidade do sensor.
3.1 MODELO DE FORMAÇÃO DE GELO EM AEROFÓLIO
3.1.1 MODELO SEMI-EMPÍRICO DE SHERIF ET AL.(1997)
Este é um modelo semi-empírico e simples capaz de prever a transferência de
calor local e as taxas de formação de gelo sobre aerofólios em uma série de condições
ambientais. O modelo considera diferentes circunstâncias que envolvem a ocorrência
simultânea de congelamento, sublimação, evaporação e escoamentos com alta
velocidade subsônica sobre as superfícies. Os perfis de frações de evaporação e
sublimação, bem como o acúmulo de gelo e as taxas de escoamento de líquido são
apresentados de forma objetiva.
As taxas de transferência de calor e formação de gelo são influenciadas pela
velocidade do ar, da temperatura, conteúdo de água líquida, tamanho e distribuição
das gotas, além da geometria do corpo. O modelo permite uma análise paramétrica da
transferência de calor local e as taxas de formação de gelo para diferentes tipos de
congelamento, sublimação e evaporação combinados tanto para condições de
escoamento turbulento quanto laminar ao longo da superfície do aerofólio.
A análise descrita nesta seção é baseada na suposição de que a taxa de
energia adicionada a uma seção de uma superfície de sustentação é igual à taxa de
energia removida da mesma seção. Este estudo pode posteriormente ser utilizado
num contexto de estado quase estacionário, no qual as condições de estado
estacionário são permitidas existir durante intervalos suficientemente pequenos.
A energia adicionada compreende termos devido ao aquecimento
aerodinâmico, congelamento, à energia cinética das gotas e às fontes externas, como
11
o aquecedor do sistema anti-gelo. Já a energia retirada inclui termos devido à
evaporação, convecção, sublimação, aquecimento da gota e condução.
A análise será inicialmente realizada para um aerofólio tanto para o bordo de
ataque como para as regiões aft (“afterbody”). Em geral, tanto a aproximação de
escoamento sobre placa plana quanto à aproximação de escoamento sobre cunha
(“wedge flow”) podem ser utilizadas para fins de apuração das taxas de transferência
de massa e calor. Esta análise utiliza a aproximação de placa plana para os dois
casos de escoamento laminar e turbulento. A análise é geral o suficiente para lidar
tanto com os escoamentos de baixa velocidade, quanto com os de alta velocidade
em condições de escoamento subsônico compressível.
Figura 3.1 -Transferência de calor no bordo de ataque de um aerofólio. SHERIF
et al. (1997)
O modelo utilizado neste trabalho exige o conhecimento das seguintes
variáveis: altitude, velocidade de voo V , ou o número de Mach M , diâmetro
médiano volumétrico de gota MVD, a temperatura de equilíbrio da superfície ts, a
configuração do aerofólio e ângulo de ataque. Para uma altitude indicada, as
propriedades físicas e demais parâmetros no escoamento livre podem ser
determinados, tais como pressão p , temperatura t , densidade . Conhecendo a
configuração do aerofólio e o ângulo de ataque determina-se a relação entre a
velocidade na borda da camada limite para a velocidade de escoamento livre, 1 /V V ,
Abbott et al. (1945), como uma função da distância adimensional da corda x/L. A partir
do valor de x tem-se o cálculo da pressão e da temperatura na borda exterior da
camada limite empregando as seguintes relações, Abbott et al. (1945):
12
( 1)1 11 1
12 2
p VM M
p V
=
(1)
11 1T p
T p
=
(2)
Onde p1 é pressão estática local fora da extremidade camada limite, p∞ é
pressão estática no fluxo livre, é razão do calor específico,
1V é a velocidade local para a borda da camada limite, V∞ é a velocidade de fluxo livre,
M∞ é o número de Mach da corrente livre, T1 é Temperatura estática local fora da
borda da camada limite e T∞ é a temperatura de fluxo livre.
Para alguns aerofólios, o coeficiente de pressão ao longo da superfície pode
estar disponível, e pode-se então empregá-lo ao invés da relação de velocidade,
como.
Descrito pela equação (3) abaixo:
21 12
p
pM C
p
= (3)
Onde pC é Coeficiente de pressão.
A velocidade na borda externa da camada de limite deve então ser encontrada
usando a equação (4):
1
21 12 1 11
1 2
V pM
V M p
=
(4)
Por sua vez, o fluxo mássico de água liquida que impacta a superfície é dado
em função da eficiência de coleta e do conteúdo de água liquida, na forma:
(5)
Onde é eficiência de coleta local, LWC é Conteúdo liquida de água da
nuvem e coeficiente de transferência de calor por convecção, hc ,é usualmente
.
.( ).im LWC V =
13
avaliado usando-se fórmulas empíricas apropriadas para a geometria e o regime de
escoamento. Em primeira aproximação, o bordo de ataque do aerofólio é representado
por um cilindro, enquanto o “after body” é representado por uma placa plana, Martinelli
et al., (1943), Boelter et al., (1948). Esta aproximação é mais precisa para aerofólios
finos em escoamentos de alta velocidade e com comprimentos longos de
aquecimento, Sogin (1954). A segunda aproximação é de escoamento sobre uma
cunha, que é particularmente adequado ao longo todo o regime de escoamento
laminar.
As propriedades do fluido são avaliadas na temperatura de filme, média de
temperatura da superfície e a do escoamento livre, tf, Comprimento da corda do
aerofólio, L, Distância ao logo da superfície do aerofólio medida a partir da borda
limite, s, e o número de Nusselt ao longo da corda na região cilíndrica é dado por:
0.5 3.5 3
0.5 0.4Re Pr 1.14 2.353072L L
L L sNu
d d L
=
(6)
Para a região “after body” dos aerofólios existem duas possibilidades,
dependendo do regime de escoamento. Para escoamento laminar, Martinelli et al.,
(1943) propuseram a seguinte correlação:
0.5 0.5
0.5 0.4 10.286Re PrL L
V sNu
V L
=
(7)
Para escoamento turbulento, a expressão do número de Nusselt na região
“after body” pode ser escrita como:
0.8 0.2
0.8 1/3 10.0296Re PrL L
V sNu
V L
=
(8)
Uma vez que o número de Nusselt tenha sido calculado, o coeficiente de
transferência de calor por convecção pode ser determinado para uma dada
condutividade térmica do ar. Bowden et al. (1964) sugerem a seguinte expressão para
a condutividade térmica:
14
1.5
12/( /1.8)
0.001533( /1.8)
/1.8 245.4(10 )T
Tk
T =
(9)
O fator de calor relativo, b, foi originalmente introduzido por Tribus (1949) e
pode ser expresso como uma quantidade adimensional envolvendo o fluxo de água
que colide, o calor específico da água no estado líquido, wc , e o coeficiente de
transferência de calor por convecção, ch , ou seja:
.w
i
c
cb m
h= (10)
O fluxo de calor para a superfície devido ao congelamento da água que colide
é expressa por:
. .
f f i fz sfq m c t t= (11)
Onde f é Calor latente de fusão do gelo, ic é calor específico de gelo, st é
Temperatura de equilíbrio da superfície e .
fm é o fluxo de massa da fração de água
que colide com a superfície e congela, o qual é dado por:
. .
f f im n m = (12)
E fn é Fração de congelamento.
O fluxo de calor para a superfície devido ao aquecimento aerodinâmico é
expresso por:
2.1
2c
aero
p
r h Vq
g J c
=
(13)
Onde o fator de recuperação da camada limite, r, constante gravitacional é g , calor
equivalente mecânico é J , é dado por HARDY (1946) como:
15
1
21
21 1 PrnV
rV
=
(14)
Onde Pr é Número de Prandtl e a constante n1 é igual a 1/2 para as camadas limite
laminares e 1/3 para as camadas limite turbulentas. O fluxo de calor para a superfície
devido à energia cinética das gotículas é expresso por:
.2.
2i
drop
m Vq
g J
=
(15)
Os termos incluídos na equação acima foram descritos anteriormente na
análise. Fontes externas de energia para o aerofólio como o aquecedor do sistema
anti-gelo são também incorporadas na análise com o interesse de tornar o modelo
mais geral.
Existem basicamente cinco mecanismos que contribuem para a perda de calor
a partir de um aerofólio, quais sejam, por convecção, evaporação, sublimação, o
aquecimento das gotículas, e a borda de ataque das empenagens (parte posterior ou
cauda do avião). Uma vez que a análise aqui apresentada destina-se a tratar tanto o
bordo de ataque das asas e regiões a jusante, o termo relativo ao bordo de ataque das
empenagens (parte posterior) será ignorado.
O fluxo de calor por convecção a partir da superfície do aerofólio pode ser
escrito como:
.
1( )c c sq h t t= (16)
A temperatura na borda exterior da camada limite pode ser calculada a partir
da equação. (2).
11 1T p
T p
=
(2)
A evaporação e sublimação a partir da superfície do aerofólio ocorrem
simultaneamente, a menos que a temperatura da superfície esteja na vizinhança do
ponto de congelamento, e tanto gelo quanto água estejam presentes
simultaneamente.
Messinger (1953) forneceu uma análise detalhada da temperatura de equilíbrio
de uma superfície de gelo sem aquecimento para vários cenários de condições de
16
gelo seco e molhado. O modelo descrito aqui trata do caso geral de congelamento
parcial (como expresso pela fração de congelamento, nf), bem como a evaporação e a
sublimação parcial. Em outras palavras, a análise considera a possibilidade de a
evaporação e a sublimação ocorrerem simultaneamente.
A água líquida presente na superfície do aerofólio pode ser resultado direto da
água que colide na superfície ou pode ser devido á fusão de parte do gelo já existente.
O derretimento do gelo pode ocorrer devido a uma variedade de motivos, tais como o
aquecimento aerodinâmico, a energia cinética das gotículas, ou o aquecedor de gelo.
A fim de diminuir a complexidade do modelo proposto, a água líquida na
superfície será considerada como resultado unicamente das gotas que impactam
diretamente no aerofólio. Uma vez que a fração de congelamento representa a porção
de água que colide e congela, o montante restante deve representar a porção que
permanece como líquido. Isto pode ser expresso matematicamente pela seguinte
equação:
. . .
L i fm m m = (17)
.
Lm é fluxo de massa local de que impacta na superfície e permanece líquida e
a quantidade máxima de água que pode ser evaporada ou o potencial de evaporação
pode ser expresso pela seguinte equação, de acordo com SOGIN (1954):
., ,1 1
,max
1 , 1 ,
v w vv ve
a f a v w v w
p ph p M pm
R T M p p p p p
=
(18)
A equação acima assume que o vapor de água comporta-se como um gás
ideal, o que permite que as propriedades termodinâmicas do vapor sejam calculadas
como se o ar não estivesse presente. Ela também permite que as densidades do
vapor de água na superfície do aerofólio e na borda da camada limite. (ρv,w e ρv,1
respectivamente) sejam avaliados em termos das pressões parciais do vapor de água
( / ( )vv PV R T = ). A Equação (18) também explica a influência da convecção
induzida. Tendo em vista que a soma das pressões parciais do ar e vapor de água é
praticamente uniforme ao longo da camada limite, ao longo de qualquer normal à
superfície, uma diminuição da pressão parcial de vapor aumentaria a pressão parcial
de ar e faria com que o ar se difundisse pela superfície. Entretanto, uma vez que o ar
17
não pode penetrar na superfície, ocorre uma convecção contrária, o que resulta na
remoção do vapor adicional a partir da vizinhança da superfície. O vapor de água que
aparece em termos da pressão na equação (18) pode ser calculado usando
correlações empíricas. Para a faixa de temperaturas 492 ≤ T ≤ 672 R, Pelton e
Wilbanks (1972) sugerem a seguinte equação:
5.19
,
6722117 exp 9.06 1.4525e
v wpT T
=
(19)
Para um líquido super-resfriado a uma temperatura inferior a 492 R, a
correlação seguinte deve ser usada:
2211 5 5/43
24 4
,1.1965 10 /1.8 2.937 10 5.7148 10 374.11 /1.8
3
1.3869 10 /1.8 2.937 102005.15.4266
( /1.8) /1.82117 exp 2.3
10 1 4.4 10 10
v wT T
T
T Tp
=
(20)
Onde é o calor latente de vaporização, que pode ser expresso pela equação:
4 2 7 31352.3 0.5696 0.0839 10 0.0927 10e T T T = (21)
O coeficiente de transferência de massa, hv, pode ser relacionado com o
coeficiente de transferência de calor, hc, empregando a analogia de Lewis, resultando
em:
2/3c
v
p
hh
cD
=
(22)
é difusividade térmica e O coeficiente de difusão de massa de vapor de água
no ar, D, pode ser calculado utilizando a seguinte relação empírica, ASHRAE (1989):
2.50.00215
441
TD
p T
=
(23)
18
p é pressão no escoamento livre e O calor específico á pressão constante de ar,
cp, pode ser calculado usando a seguinte correlação, Keenan e Kayes, (1961):
4 8 20.2318 0.1040 10 0.7166 10pc T T = (24)
A quantidade máxima de gelo que pode ser sublimada ou o potencial de
sublimação pode ser expresso por:
., ,1 1
,max
1 , 1 ,
v i vv vs
a f a v i v i
p ph p M pm
R T M p p p p p
=
(25)
É importante notar que, ao aplicar a equação (25) para computar a taxa de
sublimação, os coeficientes de transferência de calor e de massa foram considerados
como sendo constante. Esta hipótese apesar de não ser formalmente exata, não é
totalmente imprecisa, com base em evidências experimentais.
Quando a temperatura da superfície está na vizinhança do ponto de
congelamento, uma parte do líquido presente na superfície poderia evaporar,
enquanto parte do gelo sublimaria. Para explicar essas duas possibilidades, duas
quantidades adicionais são definidas: uma fração de evaporação, ne, e uma fração de
sublimação, ns. Estes termos podem ser expressos matematicamente como se segue:
.
.
,max
e
e
e
mn
m
=
(26)
.
.
,max
s
s
s
mn
m
=
(27)
Com o conhecimento das frações de evaporação e sublimação, a taxa de
escoamento de líquido a partir da superfície e o fluxo de massa de formação de gelo
na superfície podem, ambos, ser calculados usando as seguintes equações,
respectivamente:
19
. . .
,r L L em m m = (28)
. . .
,acc i f sm m m = (29)
O fluxo de calor que deixa a superfície devido à evaporação pode, assim, ser
expresso por:
. .
e eeq m = (30)
Onde devido à sublimação se torna:
. .
s ssq m = (31)
Finalmente, o fluxo de calor que deixa a superfície devido ao aquecimento das
gotículas, pode ser determinado usando a equação:
. .
( )i w swarmq m c t t= (32)
O balanço de energia em estado estacionário ao longo de qualquer ponto sobre
a superfície do aerofólio pode, assim, ser expresso pela equação (33), como se segue:
. . . . . . . . .
f aero drop ext c e s warm aftq q q q q q q q q = (33)
em que a fonte de calor externa na região de afterbody foi unicamente adicionada na
Equação(33) para manter sua integridade, uma vez que não será considerada na
analise do presente estudo.
Como pode ser visto a partir da equação (33), as únicas incógnitas da equação
são as frações de evaporação e sublimação. Assim, para uma dada fração de
congelamento e temperatura de equilíbrio da superfície, gráficos de contorno das
frações de evaporação e de sublimação podem ser desenvolvidos ao longo da
superfície do aerofólio.
20
3.1.2 MODELO DE ANDERSON E TSAO (2005)
Este trabalho validou a teoria de Messinger com medições experimentais da
espessura de um grande número de formas de gelo para uma variedade de condições
de ensaio, com as frações de congelamento nominais e frações de congelamento
experimentais tendo sido calculadas posteriormente e comparadas com os valores
encontrados a partir da análise de Messinger. É mostrado também que os valores de
fração de congelamento obtidos analiticamente foram inteiramente consistentes com
as formas de gelo observadas em condições de formação de gelo tipo rime.
Ao longo da linha de estagnação do cilindro ou aerofólio a água chega à
superfície apenas por impacto. A parte que congela é representada pela espessura do
gelo acumulado. Assim, a espessura adimensional de gelo é escrita como:
0cnAd
= (34)
Onde é a espessura do gelo na linha de estagnação (cm), d é o diâmetro do
cilindro (cm), n é a fração de congelamento, adimensional, cA é o parâmetro de
acumulação, adimensional, 0 é a eficiência de coleta na linha de estagnação,
adimensional.
cA ou parâmetro de acumulação é calculado por:
(35)
Onde LWC é o conteúdo de água líquida [g/m3], V é a velocidade da corrente
livre de ar [m/s], é o tempo de formação [min], i é a densidade do gelo [g/m3], e 0
é a eficiência de coleta de gotas de água na linha de estagnação. Neste trabalho
vamos usar para n a fração de congelamento calculada a partir de expressões
analíticas apresentadas abaixo. A expressão de Langmuir e Blodgett (1946) para
calcular 0 é apresentada a seguir:
(36)
.c
i
LWC VA
d
=
.840
0 .840
1.40( 1/ 8)
1 1.140( 1/ 8)
K
K
=
21
0
1 1( )
8 8stokes
k k
= (36a)
Onde 0K é o parâmetro de inércia modificado, adimensional, e a fração de
congelamento é dada por:
(37)
/ stokes é o parâmetro de intervalo de gota, definido como a relação de
intervalo entre gotículas reais. É uma função apenas do número de Reynolds da gota,
e foram tabelados por Langmuir e Blodgett (1946):
(38)
O parâmetro de inércia K é dado por:
(39)
Onde MVD é o diâmetro volumétrico médiano, e w é a densidade da água
líquida [g/m3].
Esta expressão não inclui o calor perdido a partir da superfície da água, devido
ao “runback” ou pela condução para a superfície do modelo. Os termos individuais
nesta expressão são: f é o calor latente de congelamento da água, é parâmetro
de transferência de energia (água), é parâmetro de transferência de energia (ar) e
b é o fator relativo de calor, sendo definidos como:
(40)
Onde ft é a temperatura de congelamento da água [oC], stt é a temperatura
estática [oC], ,p wsc é o calor específico da água na temperatura de superfície[cal/ g K],
, ( )p ws
f
cn
b
=
1(0.8388 0.001483Re 0.1847 Re )stokes
=
2
18w MVD V
Kd
=
2
,2f st
p ws
Vt t
c =
22
2
( )12
0.622
ww tot w
G st tot sts st v
tot wwp c
tot st
p p p
h T T prVt t
p pc h
T T
=
(41)
(42)
Onde r é o fator de recuperação, adimensional, wwp é a pressão de vapor de
água na superfície do gelo [N/m2], wp é a pressão de vapor de água na atmosfera
[N/m2], stT é a temperatura absoluta estática [K], totp é pressão estática total
[N/m2], totT é a temperatura absoluta estática [ K], stp é pressão estática [N/m2], e v é
o calor latente de evaporação da água [cal/g].
O coeficiente de transferência de massa da fase gasosa, Gh e o coeficiente de
transferência de calor por convecção, ch são dados por:
(43)
(44)
Onde ak é a condutividade térmica do ar [cal/sm K], Nu é o número de Nusselt,
adimensional, Pr é o número de Prandtl, adimensional, Sc é o número de Schmidt,
adimensional.
A avaliação do Nu na linha de estagnação de um cilindro com escoamento
laminar é obtida por:
(45)
0 ,p ws
c
LWCV cb
h
=
ac
kh Nu
d=
0.67Prc
G
p
hh
c Sc
=
0.4 0.51.14 Pr ReNu =
23
3.1.3 MODELO DE MESSINGER ESTENDIDO – ÖZGEN E CANIBEK (2008):
O modelo de Messinger em sua forma original é um balanço de energia
unidimensional em regime permanente, proposto para analisar as condições que
determinam a temperatura de equilíbrio de uma superfície isolada, sem aquecimento,
exposta à formação de gelo. Como a formulação é definida para o estado de equilíbrio,
o comportamento transiente da acumulação de gelo não é a principio, possível captar.
Por exemplo, em uma etapa do cálculo do congelamento, na zona de transição
a partir do gelo tipo “rime” para o gelo tipo “glaze”, a fração de crescimento de gelo,
definida por Messinger, muda instantaneamente do valor unitário para gelo tipo “rime”
para outro valor constante, menor que a unidade, e é mantida neste novo valor para
todos os tempos. Outra limitação do modelo de Messinger é que as camadas de gelo
e água são isotérmicas, e assim a condução de calor através dessas camadas não
pode ser levada em conta. O substrato é assumido isolado, e assim a condução de
calor é desconsiderada também na estrutura. Com gelo tipo “glaze”, devido ao fluxo e
impacto das gotas, a camada de água pode ser bem misturada, caso em que a
hipótese isotérmica pode ser aproximadamente válida, o que não é o caso, entretanto,
na camada de gelo.
Para simplificar o problema, as seguintes suposições serão feitas, de acordo
com Myers (2001):
(1) As propriedades físicas da água e gelo não variam com a temperatura. No entanto,
a densidade do gelo irá ser permitida tomar dois valores distintos, ρr e ρg
respectivamente, para as duas formas de gelo, “rime” ou “glaze”. A transição entre os
dois tipos de gelo é assumida ocorrer instantaneamente.
(2) A temperatura do substrato é assumida fixa e conhecida. Isto requer que o
substrato tenha uma alta condutividade térmica e uma massa térmica muito maior do
que a da formação de gelo.
(3) A temperatura das gotas, a temperatura do ar, e a temperatura de recuperação são
tomadas como iguais. Esta restrição pode ser mais facilmente alterada.
(4) A mudança de fase ocorre a uma única temperatura Tf.
24
Essas suposições são devido ao aquecimento aerodinâmico e aos termos de
energia cinética inalterados da seção anterior. O problema de mudança de fase é
governado por quatro equações, as equações de energia das camadas de gelo e
água, a equação de conservação de massa e um balanço de mudança de fase na
interface água / gelo, Myers (2001):
2
2i
i pi
kT T
t C y
=
(46)
2
2w
w pw
k
t C y
=
(47)
,si w a in e
B hV m m
t t
=
(48)
i F i w
B TL k k
t y y
=
(49)
Onde θ e T são as temperaturas nas camadas de água e de gelo,
respectivamente, kw e ki são as condutividades térmicas, Cpw e Cpi são os calores
específicos, e h e B são as espessuras das camadas de água e gelo. ρaβV∞, min e me,s
são taxas de fluxo de massa de água que impacta, runback e evaporação (e
sublimação) no volume de controle, enquanto ρi e LF indicam a densidade do gelo e o
calor latente de solidificação da água, respectivamente.
A coordenada y é normal à superfície. A fim de determinar as espessuras de
gelo e água em conjunto com as distribuições de temperatura em cada camada,
devem ser especificadas as condições de contorno e iniciais.
3.2 MODELO PARA ANÁLISE TÉRMICA DO TUBO DE PITOT
(SOUZA et al., 2011)
O congelamento do tubo de Pitot reduz sensivelmente a pressão dinâmica
nesse indicador de velocidade do ar e deixa o instrumento não confiável. Embora a
literatura seja bastante rica em termos de formação de gelo e degelo nas asas e
entradas do motor, relatando abundantemente alguns códigos de computador bem
conhecidos como o LEWICE, ONERA2D e TRAJICE2 para o congelamento de
25
aerofólios, muito pouca informação, e apenas qualitativa, foi publicada em termos de
formação de gelo sobre as sondas Pitot de aeronaves.
Esta seção destina-se a brevemente discutir a análise do problema conjugado
condução-convecção na simulação transiente de tubos de Pitot. O propósito é realçar
a importância de se considerar a conjugação da convecção com a condução na
estrutura do Pitot em modelos mais complexos, que tentem prever formação de gelo
em tais sensores sob condições atmosféricas críticas. Para este fim, um modelo
concentrado-diferencial foi desenvolvido por Souza et al. (2011) para prever as
distribuições de temperatura ao longo do corpo da sonda Pitot, que é internamente
aquecida por meio de uma resistência elétrica. O modelo proposto é concentrado na
direção radial e local na direção longitudinal, assumindo-se a simetria axial, e assim
representam-se as variações geométricas e de materiais ao longo do comprimento do
tubo de Pitot. O modelo proposto foi validado, como discutido a seguir, a partir de
medidas em túnel de vento (INMETRO) por Souza et al. (2011) a diferentes
velocidades de corrente livre.
Em Souza et al. (2011), o objetivo foi o de simular a transferência de calor
conjugada entre o tubo de Pitot aquecido e o escoamento de ar no interior do túnel de
vento. As velocidades de corrente livre impostas foram de 10 e 20 m/s a 22º C, dentro
da faixa de escoamento incompressível. O modelo proposto consistiu numa
formulação de condução de calor parcialmente concentrada, empregando-se
concentração de parâmetros clássica no sentido radial e mantendo-se a formulação
diferencial local ao longo do comprimento da sonda, negligenciando a curvatura na
asa de suporte do sensor, devido à falta de interesse em uma solução precisa nesta
base. O problema de convecção externa é simplificado a partir do emprego de
correlações empíricas para descrever o coeficiente de transferência de calor em cada
região da sonda. As correlações apropriadas são obtidas a partir da literatura para a
estimativa dos coeficientes de transferência de calor em diferentes regiões como a
região de estagnação, o cone e os corpos cilíndricos e a base em forma de asa, Souza
et al. (2011) apud Sparrow et al. (2004) e Tong & Hu, (2009).
As partes cilíndrica e cônica da sonda são feitas de cobre e o perfil da base é
feita de latão, e o sensor utilizado equipa a aeronave A4 Skyhawk da Marinha do
Brasil (Figura 3.2). A formulação para o problema da distribuição longitudinal da
temperatura média radial, Tav (x, t), é dada por:
26
0( ,0) ( ), 0avT x T x x L=
,
( , ) ( , )1 ( )( ) ( ) ( ) ( ) ( , ) ( , ),
( ) ( )
0 , 0
av avp ef ef av av
T x t T x t p xc x k x A x h x T x t T g x t
t A x x x A x
x L t
=
(50)
com a condição inicial e condições de contorno dadas por:
(51)
0
( , )(0) [ (0, )], 0av
ef e av
x
T x tk h T T t t
x
=
=
( , )0, 0av
x L
T x tt
x =
=
(52)
onde as variáveis acima correspondem à densidade ρ [kg/m3], cp, calor específico
[J/(kgºC)]; o subscrito ef representa a propriedade efetiva, Tav, a temperatura média
transversal [ºC]; x a coordenada longitudinal [m]; kef a condutividade térmica [W / (m
ºC)]; A, a área da seção transversal [m2], p o perímetro da seção transversal [m], h o
coeficiente de transferência de calor [W/(m2ºC)], t o tempo [s], T∞, a temperatura de
corrente livre [ºC]; gav (x,t), a densidade média transversal de geração de energia
[W/m3], he, o coeficiente de transferência de calor na região de estagnação [W/(m2
ºC)], T0 (x), a distribuição de temperatura inicial, [ºC].
As funções da coordenada longitudinal x utilizadas no modelo acima para os
parâmetros e propriedades termo físicas são resultado das variações geométricas e de
materiais no corpo da sonda. Por exemplo, na extremidade do tubo de Pitot há uma
seção cônica, que em conjunto com a maior parte da porção cilíndrica, é feita de
cobre, até que uma junta soldada muda o material para latão, seguindo-se a base em
forma de asa. Além disso, o aquecedor e o isolador de porcelana podem ser
encontrados apenas na porção central do tubo de cobre cilíndrico, que também
alteram significativamente as propriedades efetivas nessa região, em particular a
capacidade térmica, que é essencial na adequada previsão do comportamento térmico
em regime transiente (Souza et al., 2011).
A Figura 3.3 ilustra os resultados obtidos em Souza et al., (2011), onde
compara-se os resultados experimentais de temperatura ao longo do corpo da sonda
27
obtidos por termográfica por câmera de infravermelho no ensaio em túnel de vento
(INMETRO), com as previsões teóricas do modelo acima apresentado, para regime
permanente e velocidade de corrente livre de u∞=10 m/s, dentro da validade do
escoamento incompressível. Observa-se uma excelente concordância entre resultados
teóricos e experimentais, com pequena discrepância apenas ao final do suporte da
sonda, onde se despreza os efeitos de curvatura e também se impõe uma condição de
contorno de fluxo nulo para o suporte de fixação no túnel. Vale notar que os efeitos de
transferência de calor por radiação na superfície da sonda são levados em conta tanto
em forma não linear completa como na forma de um coeficiente de transferência de
calor por radiação linearizado, adicionado ao coeficiente convectivo. As duas
propostas tem excelente concordância entre si, como indicado pelas curvas em azul e
verde.
Figura 3.2- Sonda Pitot PH-510 do A-4 Skyhawk fabricada pela Aero Instruments, Co., EUA, cedida pela Marinha do Brasil
28
O modelo diferencial-concentrado foi posteriormente comparado com
um modelo conjugado completo Souza et al. (2012), incluindo a solução do problema
de convecção em escoamento compressível, portanto evitando-se o uso de
correlações para os coeficientes de transferência de calor. Essas simulações foram
por sua vez validadas com ensaios em voo do A4 Skyhawk com o tubo de Pitot acima
mostrado, devidamente instrumentado. A Figura 3.4 ilustra uma das validações com
resultados experimentais de um dos termopares fixados na sonda (x=80 mm),
mostrando a excelente concordância com os modelos teóricos.
Figura 3.3-Comparação das temperaturas da superfície da sonda Pitot, experimentais
(túnel de vento) e simuladas no regime permanente, na validação do modelo térmico:
curva experimental em vermelho, modelo com radiação linearizada em azul, modelo
com radiação não-linear em verde (u∞=10 m/s). (Souza et al., 2011)
A Figura 3.4 também ilustra a boa concordância entre o modelo conjugado em
escoamento compressível com aquele mais simples baseado em correlações
empíricas para os coeficientes de transferência de calor por convecção, representados
pelas linhas cheias preta e vermelha, praticamente coincidentes na escala gráfica para
esta situação aqui mostrada (M∞=0.51, alt. 15000ft). Vale observar que os transientes
térmicos nos ensaios em voo foram provocados manualmente pelo próprio piloto,
ligando e desligando o sistema de aquecimento durante condições estáveis de voo.
Portanto, tendo em vista a excelente concordância do modelo térmico
diferencial-concentrado simplificado, como comprovado em comparações com os
resultados experimentais em túnel de vento e em ensaios em voo, optou-se no
presente estudo pela sua utilização. Este modelo transiente para a temperatura no
29
corpo do Pitot, em associação com o modelo simplificado de formação de gelo acima
descrito, formam a base da proposta aqui apresentada, visando a construção de uma
ferramenta de simulação de baixo custo para previsão do comportamento térmico de
sondas Pitot sob condições propícias à formação de gelo.
Figura 3.4- Comparação das temperaturas da superfície da sonda Pitot,
experimentais (Voo A4 Skyhawk) e simuladas no regime transiente, na validação dos
modelos térmicos: curva experimental em pontos azuis, modelo simplificado com
correlações em traços vermelhos, modelo completo conjugado em linha preta
(M∞=0.51, alt. 15000ft).Souza et al.,(2012)
30
3.3 FORMAÇÃO DE GELO EM SONDAS PITOT
3.3.1 TRAJETÓRIAS DE GOTAS E EFICIÊNCIAS DE COLETA
As seguintes suposições são feitas para formulação das equações de
movimento para as gotículas de água super-resfriadas, que permitem o cálculo da
eficiência de coleta da superfície:
O tamanho das gotas é pequeno e estas permanecem esféricas ao longo do
escoamento.
O campo de escoamento não é afetado pela presença das gotas.
A gravidade e o arrasto aerodinâmico são as principais forças envolvidas.
Figura 3.5- Escoamento de ar e água para previsão da trajetória das gotículas
e cálculo da eficiência de coleta no aerofólio
O padrão de impacto da gota no aerofólio determina a quantidade de água que
impacta na superfície e a região sujeita ao crescimento de gelo. A eficiência de coleta
local é definida como a razão entre a área de impacto e a área através da qual a água
passa a alguma distância a montante da superfície de sustentação. A eficiência de
coleta local pode ser definida como:
0 0dy y
ds s
=
(53)
31
onde dy0 é a distância entre duas gotas de água no plano de lançamento e ds é a
distância entre os locais de impacto das mesmas duas gotas sobre a superfície de
sustentação, como ilustrado na Figura 3.6 abaixo.
Figura 3.6- Definição de eficiência de coleta para aerofólio.
(Özgen & Canibek, 2008)
As equações que regem o movimento das gotas são:
(55a)
(55b)
(55c)
(55d)
(55e)
Onde, CD é o coeficiente de arrasto das gotículas, Vx e Vy são as componentes da
velocidade do escoamento de ar no local da gota e são os componentes
da velocidade e aceleração das gotas.
Os coeficientes de arrasto das gotículas são calculados usando a seguinte
correlação para o coeficiente de arrasto, Özgen e Canibek (2008):
cospmx D =
sinpmy D mg=
1tanp y
p x
y V
x V
=
21
2DD V C Ap=
2 2( ) ( )p x p yV x V y V=
, , ,p p p px y x y
32
(56a)
(56b)
Onde Re é Número de Reynolds baseado no diâmetro da gota.
A formulação para o problema da distribuição de temperatura média radial,
T(x, t), com formação de gelo é dada por:
*,
( , ) ( , )1 ( )( ) ( ) ( ) ( , ) ( ) ( , ), 0 , 0
( ) ( )av av
p ef ef av av
T x t T x t p xc x k x A x h x t T x T g x t x L t
t A x x x A x
=
(56c)
Com a condição inicial e condições de contorno dadas por:
(56d)
*
0
( , )(0) [ (0, )] Q Q , 0av
ef e av P G
x
T x tk h T T t t
x
=
=
(56e)
( , )0, 0av
x L
T x tt
x =
=
(56f)
Onde as variáveis acima correspondem à densidade ρ, [kg/m3], cp, calor
específico [J/(kgºC)];o subscrito ef representa a propriedade efetiva, Tav, a temperatura
média transversal [ºC]; x a coordenada longitudinal [m]; kef a condutividade térmica [W /
(m ºC)]; A(x),a área da seção transversal [m2], P(x) o perímetro da seção transversal
[m], he* o coeficiente de transferência de calor efetiva[W/(m2ºC)]; t o tempo [s], T∞, a
temperatura de corrente livre [ºC]; gav (x,t), a densidade média transversal de geração
de energia [W/m3], he, o coeficiente de transferência de calor na região de estagnação
[W/(m2 ºC)], T0 (x), a distribuição de temperatura inicial, [ºC].QG é a energia
ganha[W/m2] QP é a energia perdida.
rime glaze* 1
0 rime glaze
(0, ) (0, ) (0, )1( )gelo gelo agúa
e
gelo gelo agúa
L t L t L th
h K K K= (56g)
rime glaze* 1
rime glaze
( , ) ( , ) ( , )1( )
( )
gelo gelo agúa
gelo gelo agúa
L x t L x t L x th
h x K K K= (56h)
0.63 4 1.38
5 1.92
1 0.197 Re 2.6 10 Re , Re 3500
(1.699 10 ) Re , Re 3500
D
D
C
C
=
=
0( ,0) ( ), 0avT x T x x L=
33
Onde h0 é coeficiente de transferência de calor devido ao escoamento na região
de estagnação [W/(m2 ºC)], h(x) é coeficiente de transferência de calor devido ao
escoamento [W/(m2 ºC)], K´s são as condutividades térmicas de cada camada e L´s
são as espessuras de cada camada [m],
A Figura 3.7 ilustra o conceito de eficiência de coleta na geometria do tubo de
Pitot. Efetivamente, verifica-se experimentalmente que a eficiência de coleta é próxima
à unidade na região de estagnação das sondas, e decai rapidamente ao longo do
corpo cônico, sendo praticamente nula no corpo cilíndrico, só voltando a aumentar na
região do suporte em forma de asa, onde não há interesse prático em se determinar a
formação de gelo, como ilustram as Figuras 3.8.a, b. Essas observações
experimentais motivaram a simplificação inerente ao presente modelo, que concentra
esforços na previsão de formação de gelo na região do ponto de estagnação da sonda
Pitot.
Figura 3.7- Definição de eficiência de coleta para tubo de Pitot.
34
(a)
(b)
Figura 3.8.a,b -Tubos de Pitot com extremidades congeladas.
3.3.2 BALANÇOS DE MASSA E ENERIGA NA FORMAÇÃO DE GELO
NA SONDA PITOT
Os balanços de massa e energia acima discutidos na formação de gelo em
asas podem ser diretamente aplicados ao estudo da formação de gelo em sondas
Pitot, como ilustra a Fig.3.9 abaixo. Embora a transferência de calor por convecção
(Qc) e calor latente (QL) sejam os termos mais importantes no balanço de energia,
35
todos os termos anteriormente discutidos são aqui considerados, e encontram-se
enumerados a seguir.
Figura 3.9- Balanço de energia para estudo da formação de gelo em um
volume de controle sobre a superfície do Pitot.
A transferência de calor convectiva na superfície da água (Qc):
(57)
Resfriamento por gotículas que adentram o sistema (Qdrop):
(57)
Perda de calor por evaporação (Qe):
(59a)
Onde se tem o número adimensional, e0=27.0.
O coeficiente de evaporação é dado por:
(59b)
( )c c sur aQ h T T=
( )drop pw sur aQ LWC V C T T =
0 ( )e e sur aQ e T T=
2/3
0.622 c Ee
p t e
h L
C P L =
36
Onde Pt é a pressão total do fluxo de ar.
Perda de calor de sublimação (Qs):
0( )s s sur aQ e T T= (60a)
Onde o coeficiente de sublimação é:
2/3
0.622 c ss
p t e
h L
C P L = (60b)
Aquecimento aerodinâmico (Qaero):
2
2c
aero
p
r h VQ
C
= (61)
Onde r é o fator de recuperação adiabático, sendo r=Pr1/2 para escoamento
laminar e r=Pr1/3 para escoamento turbulento.
A energia cinética das gotas na entrada (Qk):
2
2k a
VQ V
= (62)
Energia transportada pela água de runback (Qin):
( )in in pw f sur
Q m C T T= (63)
Onde min é a vazão mássica da água de runback na entrada.
O calor latente de solidificação (Ql):
l r F
BQ L
t
=
(64)
37
A espessura do gelo tipo rime pode ser obtida diretamente da conservação de
massa, Eq. (48), a partir das gotículas de água que congelam imediatamente no
impacto:
(65)
A conservação de massa, Eq. (48), pode ser integrada mais uma vez para
obter a expressão para a espessura da camada de água, h :
(LWC V )( ) ( ) ( ( ) )gin e
g g
w w
m mh t t t B t B
=
(66)
onde Bg e tg são a espessura e o tempo, respectivamente, correspondente ao gelo tipo
glaze que aparece pela primeira vez. Quando a Eq. (66) é substituída na condição de
mudança de fase, Eq. (49), a equação diferencial para a espessura do gelo é obtida:
(67)
Durante a transição do gelo tipo “rime” para tipo “glaze”, a taxa de crescimento do gelo
deve ser contínua, ou seja:
(68)
Usando as equações. (65) e (67), temos:
( )
(LWC V ) ( ) ( )i f s
g
in sub F a k in c d e
k T TB
m m L Q Q Q Q Q Q
=
(69)
Özgen e Canıbek (2009) integraram numericamente a equação (67) através do
método de Runge–Kutta–Fehlberg para calcular a espessura do gelo do tipo glaze
como uma função do tempo. Assim, t é dado pela equação a seguir:
rg g
in sub
t BLW C V m m
=
(70)
( ) in s
r
LWC V m mB t t
=
) ) at B=B or t=trime glaze g g
B B
t t
=
(Q Q Q ) (Q Q Q )( ) c e as d k ini fg wF
w
k T TBL k
t B k
=
38
CAPÍTULO 4 - IMPLEMENTAÇÃO COMPUTACIONAL
O modelo combinado proposto (Eq. 56), juntamente com os parâmetros e
propriedades identificados aqui descritos, foram implementados na plataforma
simbólico-numérica Mathematica 9.0 (Wolfram 2013) e resolvidos numericamente pelo
método das linhas disponível em sua subrotina para solução de equações diferenciais,
NDSolve.
A função NDSolve permite encontrar soluções numéricas para equações
diferenciais ordinárias ou parciais. A NDSolve lida tanto com equações diferenciais
não-lineares quanto com sistemas de equações diferenciais simultâneas, com
controle automático de erro absoluto e relativo. Essa função fornece a solução
como um código-objeto de interpolação que aproxima o comportamento nas
variáveis independentes como uma função contínua.
Embora esta rotina seja capaz de resolver uma ampla gama de problemas em
sua forma de uso default, existem opções da função NDSolve que podem ser
utilizadas na solução do modelo aqui proposto, que podem ser definidos
manualmente. Assim, foram utilizados os seguintes parâmetros para testes e ajustes:
maxstepsize, que é o tamanho máximo do passo no tempo na solução numérica do
problema diferencial;
startingstepsize, é o tamanho inicial do passo no tempo na solução numérica do
problema diferencial;
accuracyODE, acurácia desejada na solução numérica do problema;
precisionODE, precisão desejada na solução numérica do problema;
methodODE, método para a solução numérica do problema.
O fluxograma 4.1 abaixo ilustra a sequência de operações implementadas no
código computacional, representando os passos de computação na simulação a partir
do modelo simplificado aqui proposto de análise térmica de tubos de Pitot combinada
à formação de gelo na região de estagnação.
40
CAPÍTULO 5 - RESULTADOS E DISCUSSÃO
Neste capítulo apresentamos os principais resultados obtidos a partir do
modelo proposto de formação de gelo conjugado à análise térmica no corpo de tubos
de Pitot aeronáuticos. Na primeira parte do capitulo busca-se validar os modelos em
comparação com diferentes resultados disponíveis para aerofólios, a partir de modelos
bem mais gerais e completos, bem como com um único resultado teórico disponível
para tubos de Pitot. Na segunda e terceira partes emprega-se o modelo na previsão
do processo de formação de gelo para as condições dos ensaios em túnel de vento da
COPPE e nas condições de voo do A4 Skyhawk da Marinha do Brasil e do voo AF447.
5.1 VALIDAÇÃO DO MODELO DE FORMAÇÃO DE GELO
Inicia-se o processo de verificação e validação do modelo proposto de
formação de gelo, ainda sem a conjugação com o corpo sólido, a partir da comparação
da eficiência de coleta aqui obtida para aerofólios, Fig. 5.1, e aquela apresentada por
Sherif et al., 1997.
Figura 5.1-Eficiência de coleta local para aerofólio NACA 651-212, presente
trabalho (linha preta) e Sherif et al., 1997 (pontos vermelhos).
41
O eixo vertical é o coeficiente β que é a eficiência de coleta local e o eixo
horizontal é a distância ao longo da superfície do aerofólio medida a partir do bordo de
ataque, dividida pelo comprimento da corda do aerofólio. Esta comparação foi feita
para o aerofólio NACA 651-212, e para ângulo de ataque de 4 graus e velocidade de
500 nós (=257.22 m/s). Para obter os valores de β da ref. (Sherif et al., 1997), uma vez
que estes não são mostrados diretamente, foi utilizada a seguinte relação para o fator
b (fator de calor relativo, Eq 10).
.w
i
c
cb m
h= (10)
No ponto de estagnação, em s/L=0, devido à maior energia do impacto de
gotas nesta zona, tem-se um pico no valor de β.
Figura 5.2-Perfil de aerofólio NACA 651-212
Para testar a expressão aqui empregada em uma variedade de condições de
formação de gelo, a eficiência de coleta no ponto de estagnação, β0, foi calculada e
comparada com os valores obtidos pelo código LEWICE. Na Fig.5.4 pode ser
observada uma excelente concordância entre os resultados do LEWICE e os deste
trabalho, aqui para o aerofólio NACA 0012.
Figura 5.3-Perfil de aerofólio NACA 0012
42
Figura 5.4-Eficiência de coleta no ponto de estagnação calculada para o caso
teste em (Anderson et al., 2005) e sua comparação com o código LEWICE em função
do parâmetro de inércia modificado.
No eixo vertical temos a eficiência de coleta no ponto de estagnação e no eixo
horizontal o parâmetro de inércia modificado, K0. Observa-se que com o aumento de
K0, os valores de β0 aumentam não-linearmente e confirma-se que só é necessário,
para o ponto de estagnação, conhecer K0 para se previr corretamente as trajetórias
das gotas, que são requeridas no restante do modelo.
A Fig.5.5 apresenta o comportamento de b (fator relativo de calor, Eq 10), no
eixo vertical, com a distância ao longo do aerofólio, s/L, no eixo horizontal, onde
compara-se os resultados do presente modelo com aqueles de Sherif et al., 1997. O
fator relativo de calor tende a diminuir com o aumento da distância em relação ao
bordo de ataque, devido a uma queda acentuada no fluxo de água que colide na
parede e a um aumento moderado do coeficiente de transferência de calor para uma
dada velocidade da corrente livre. Como no gráfico anterior, em s/L=0 temos de novo
um pico no fator relativo de calor, em função da sua relação direta com β.
43
Figura 5.5-Fator relativo de calor para aerofólio NACA 651-212, comparando-se
o presente modelo (linha azul) com os resultados de Sherif et al., 1997 (pontos
vermelhos)
A fração de congelamento é inversamente proporcional ao fator relativo de
calor de acordo com os resultados apresentados no trabalho (Sherif et al., 1997). Se
toda a água que colidisse com o bordo de ataque congelasse no local, a eficiência de
coleta seria de cem por cento. Quando as gotículas de água super-resfriadas colidem
sobre uma superfície da aeronave, elas podem não congelar imediatamente com o
impacto. Como a fração de congelamento é a razão entre a quantidade de água que
se congela em uma região especificada sobre a superfície, pela quantidade total de
água no estado líquido que chega à região, então esta grandeza é influenciada
principalmente pela temperatura ambiente, o LWC da nuvem e a velocidade da
aeronave. Uma fração da entalpia de solidificação é liberada pela fração de água que
congela, tendendo a aquecer a massa de água líquida restante e o gelo formado. O
ganho de energia interna devido à liberação da entalpia de solidificação é
contrabalanceado pela transferência de calor e massa por convecção (perda) para o
ambiente. Então, na Figura 5.6 apresentamos a fração de congelamento para o
aerofólio NACA 651-212, onde se observa que com o aumento dos valores de b (fator
relativo de calor), a fração de congelamento n vai diminuir na superfície do aerofólio.
Aqui também são apresentados resultados comparativos entre o presente modelo e os
do trabalho (Sherif et al., 1997), com excelente concordância.
44
Figura 5.6-Fração de congelamento para NACA 651-212, comparando-se o
presente modelo (linha azul) com os resultados de Sherif et al., 1997 (pontos
vermelhos)
Na literatura foram pesquisados casos-teste de boa aceitação na comunidade
de engenharia aeronautica, e que sejam relevantes devido à sua abrangência para fins
de validação. Foram selecionados os trabalhos apresentados por Anderson e Tsao
(2005), da NASA, e Stefanini (2009), onde são mostrados resultados dos códigos
LEWICE, ONERA e TRAJICE, como resultados de referência para comparações e
validação do modelo para aerofolio. Os resultados do modelo proposto são então
comparados com resultados experimentais e com os resultados das simulações dos
códigos ONERA, LEWICE e TRAJICE.
O trabalho publicado por Anderson e Tsao (2005) foi patrocinado pela NASA,
com o objetivo de avaliar e validar o modelo de Messinger para previsão de formas de
gelo disponíveis experimentalmente. Foram selecionados casos-teste para varias
situções que possuiam dados experimentais obtidos com boa precisão em túneis de
formação de gelo. Na Tabela 5.1 são mostrados os dados dos casos simulados neste
trabalho, onde c é a corda do aerofólio, V∞ é a velocidade de corrente livre, Tst é a
temperatura da superfície, LWC é o conteúdo de água líquida, MVD é o diâmetro
volumétrico mediano, e é o tempo de acreção.
45
Table5.1 - Casos-testes de Anderson e Tsao (2005) simulados no presente trabalho
Caso c(cm) V∞(m/s) Tst(0C) LWC(g/m3) MVD(µm) (min)
C01 0.8 57.5 -7.1 0.915 45.9 13.8
C02 0.533 66.8 -7.2 0.966 39.9 7.3
C03 0.267 86.1 -19.6 1.186 23.6 2.4
C04 0.356 87.8 -7.7 0.93 28.1 4
C05 0.8 48.5 -7 0.979 43.2 14.5
C06 0.533 66.88 -9.9 0.996 39.9 7.3
C07 0.356 77.6 -7.3 1.062 29.2 3.9
Nas tabelas 5.2 a 5.8 compara-se os valores de β0 (eficiência de coleta na linha
de estagnação, Eq. 36), n (fração de congelamento Eq. 37), Ac (parâmetro de
acumulação Eq. 35), e ∆ (espessura de gelo na linha de estagnação Eq. 34). O
aerofólio NACA0012 é utilizado na maior parte dos casos. Os resultados do presente
modelo estão em boa concordância com os resultados de (Anderson e Tsao, 2005).
Por exemplo, para a espessura de gelo na linha de estagnação, observa-se um desvio
que varia de cerca de 1% até cerca 12% entre os resultados experimentais e aqueles
aqui obtidos. O maior desvio ocorreu no caso C02 (12.8%) e o menor para o caso C05
(0.77%).
Tabela 5.2 - Resultados comparativos para o caso C01
Referencia β0 n Ac ∆
Anderson e Tsao(2005) 0.827 0.292 1.8791 1.21
Presente Trabalho 0.8174 0.3034 1.8807 1.1787
Tabela 5.3 - Resultados comparativos para o caso C02
Referencia β0 n Ac ∆
Anderson e Tsao(2005) 0.857 0.284 1.885 0.70
Presente Trabalho 0.8589 0.2894 1.887 0.79
Tabela 5.4 - Resultados comparativos para o caso C03
Referencia β0 n Ac ∆
Anderson e Tsao(2005) 0.859 0.775 1.896 1.03
Presente Trabalho 0.8709 0.6846 1.9014 0.957
46
Tabela 5.5 - Resultados comparativos para o caso C04
Referencia β0 n Ac ∆
Anderson e Tsao(2005) 0.859 0.287 1.901 0.52
Presente Trabalho 0.6340 0.2877 1.9006 0.53
Tabela 5.6 - Resultados comparativos para o caso C05
Referencia β0 n Ac ∆
Anderson e Tsao(2005) 0.801 0.310 1.780 1.17
Presente Trabalho 0.7972 0.323 1.7827 1.161
Tabela 5.7- Resultados comparativos para o caso C06
Referencia β0 n Ac ∆
Anderson e Tsao(2005) 0.857 0.403 1.884 0.98
Presente Trabalho 0.859 0.3810 1.889 1.041
Tabela 5.8 - Resultados comparativos para o caso C07
Referencia β0 n Ac ∆
Anderson e Tsao(2005) 0.858 0.278 1.871 0.51
Presente Trabalho 0.8654 0.2826 1.8702 0.5147
Alguns resultados de diferentes códigos foram selecionados para serem
comparados com os resultados obtidos no presente trabalho, a partir do trabalho de
(Stefanini, 2009). O critério de seleção utilizado foi a relevância do programa para a
comunidade de engenharia aeronáutica e que os resultados tivessem sido gerados
pelo próprio desenvolvedor do código. Assim, foram selecionados os resultados dos
programas bem conhecidos e extensivamente validados em outros estudos, ONERA
TRAJICE e LEWICE, e os de Stefanini (2009).
A Figura 5.7 mostra as formas de gelo calculadas pelo código implementado
neste trabalho, em verde, as formas de gelo obtidas experimentalmente reportadas em
Anderson e Tsao (2005) e Stefanini (2009), e as formas de gelo calculadas a partir dos
programas ONERA, TRAJICE e LEWICE. Todas as simulações utilizaram os mesmos
parâmetros da camada limite para o cálculo do coeficiente de transferência de calor. O
valor da rugosidade equivalente ∆ foi calculado com a formulação da eq.(34).
47
Figura 5.7-Comparação de formas de gelo simuladas e experimentais para o
caso C01 da Tabela 5.1para o aerofólio NACA 0012.
A simulação do caso C01, obtida neste trabalho é mostrada na Figura 5.7,
onde a modelagem realizada foi simplificada para a comparação entre os resultados
obtidos neste trabalho e os experimentais apresentados na literatura, Anderson e Tsao
(2005). Pode-se verificar na Figura 5.7 que há uma diferença significativa entre os
resultados simulados e experimentais. Esta diferença é devido o fato de não ter sido
levado em consideração a rugosidade da superfície nas simulações.
Não foram encontrados trabalhos na literatura aberta com previsão de
formação de gelo em sondas Pitot. Entretanto, (Silva, 2011), por ocasião da realização
do 2nd Workshop on Aviation Safety, WAS, Rio de Janeiro,(
http://www.segurancaaerea.coppe.ufrj.br/2ndwas.html) apresentou um trabalho com as
primeiras estimativas de acumulação de gelo em tubos de Pitot, sem acoplamento
com a estrutura da sonda, mas empregando o código CFD++ para calcular o
escoamento externo. A figura 5.8 apresenta uma comparação da eficiência de coleta
ao longo da distância sobre a superficie a partir do ponto de estagnação, obtida pelos
modelos, presente (linha cheia) e de (Silva, 2011) (pontos). Ambos os modelos
48
preveem praticamente o mesmo valor máximo de β, no ponto de estagnação,
enquanto que ao longo da superfície o presente modelo tem um decaimento mais
acentuado, voltando a se aproximar já na região cônica.
Figura 5.8.-Eficiência de coleta local para a sonda Pitot PH-510 fabricada por Aero
Instruments Co, comparação entre o presente trabalho e (Silva, 2011).
Pelos valores reduzidos da eficiência de coleta ao final da região de
estagnação e inicio da seção cônica do tubo de Pitot, pode-se antecipar que a
formação de gelo ocorrerá principalmente na região de estagnação, reduzindo
rapidamente ao final desta (x>0.4 cm).
De fato, a Figura 5.9 apresenta a simulação pelo presente modelo da formação
de gelo referente à situação do caso C01 acima, mas aplicada para o Pitot Ph-510.
Claramente, pela forma do gelo observa-se que a formação ocorre especialmente na
região de estagnação com nítida redução ao longo da região cônica e nenhuma
ocorrência na região cilíndrica. O mesmo comportamento se observa na Figura 5.10,
que apresenta a estrutura do gelo formada no mesmo Pitot, mas nas condições
empregadas por Silva (2011).
49
Figura 5.9. -Formação de gelo na sonda Pitot PH-510 fabricada por Aero
Instruments Co, condições do caso C01( c=0.8 cm,V∞=57.5 m/s, Tst= -7.1, 0C, LWC=
0.915 g/m3,MVD=45.9 µm, t=13.8 min)
Figura 5.10.-Formação de gelo na sonda Pitot PH-510 fabricada por Aero
Instruments Co, condições de (Silva, 2011)( V∞= 56 m/s, LWC=0.59g/m3, Tsur= -100C,
MVD=26.2µm.)
Na figura 5.10 acima, temos uma predição da formação de gelo para o tubo de
Pitot PH510, onde também se observa que a acreção de gelo na região cônica é
pouco significativa devido ao valor da eficiência de coleta ser muito pequeno (β <0.2).
O impacto nessa área é muito reduzido por conta da geometria do tubo de Pitot, e
maiores partes das gotas que alcançam esta área passam para a região cilíndrica do
Pitot na forma de água de “runback”. Estes casos referem-se á situação analisada em
(Silva, 2011), ou seja, V∞= 56 m/s, LWC=0.59g/m3, Tsur= -100C, MVD=26.2µm.
50
5.2 ANÁLISE TÉRMICA E FORMAÇÃO DE GELO NO TUBO
DE PITOT
O tubo de Pitot que equipa a aeronave A-4 Skyhawk, gentilmente cedido pela
Marinha do Brasil, mostrado nas Figura e 5.12, foi usado como base para avaliação
do presente modelo. O aquecedor encontra-se dentro da porção central do corpo
cilíndrico da sonda e tem um valor nominal de 41 ohms de resistência elétrica, com um
isolamento eléctrico de porcelana.
Figura 5.11– Sonda Pitot PH-510
utilizada no presente trabalho (Souza et
al., 2011; Souza et al., 2012).
Figura 5.12 - Desenho técnico da sonda
Pitot PH-510 fabricada por AeroInstruments
Co. (Souza et al., 2011;Souza et al., 2012).
O objetivo desta seção é simular a transferência de calor conjugada entre o
tubo de Pitot aquecido e o escoamento externo, sem e com formação de gelo, para
três situações:
1 - Ensaios em voo do A4 Skyhawk
2 - Acidente do voo AF447
3 - Ensaios no túnel de vento da COPPE
51
As Figuras 5.13 e 5.14 ilustram a variação longitudinal da área e do perímetro
da seção transversal da sonda, requeridos no modelo térmico da estrutura. Já as
Figuras 5.15 e 5.16 apresentam as variações das propriedades termo físicas ao longo
da posição longitudinal, como resultado das variações geométricas e de materiais
dentro do corpo da sonda. Por exemplo, a ponta do tubo de Pitot tem uma seção
cônica que junto com a maior parte da porção cilíndrica é feita de cobre, enquanto
toda a região do suporte é feita de latão. Observa-se na Figura 5.16 o aumento brusco
da Condutividade térmica efetiva na sonda, em função da presença do isolamento
elétrico de porcelana na parte central do corpo do Pitot. A Figura 5.17 ilustra a
variação do termo de geração volumétrica de calor ao longo do corpo do Pitot, para a
situação com potência máxima no sistema anti-gelo.
0.00 0.05 0.10 0.15x, m
0.0001
0.0002
0.0003
0.0004
0.0005
Ax, m2
Figura 5.13 – Área da seção transversal da sonda Pitot (Souza et al., 2011)
0.00 0.05 0.10 0.15x, m
0.02
0.04
0.06
0.08
0.10
0.12
px, m
Figura 5.14 – Perímetro da seção transversal da sonda Pitot (Souza et al.,
2011)
52
0.00 0.05 0.10 0.15x, m
4.0 106
6.0 106
8.0 106
1.0 107
1.2 107cpefx, m
Figura 5.15 – Capacidade térmica efetiva da sonda Pitot (Souza et al., 2011)
0.00 0.05 0.10 0.15x, m
100
200
300
400
kefx, WmC
Figura 5.16 – Condutividade térmica efetiva da sonda Pitot (Souza et al., 2011)
0.00 0.02 0.04 0.06 0.08 0.10 0.12 0.14x, m0
1107
2107
3107
4107
gavx,t, Wm3
Figura 5.17 – Densidade média transversal de geração de energia na sonda
Pitot em condições de potência máxima (Souza et al., 2012).
53
A Figura 5.18 mostra um exemplo de previsão teórica da temperatura da
superfície ao longo do comprimento do tubo de Pitot, nesse caso para o regime
permanente nas condições de um dos ensaios em voo do A4 Skyhawk (altitude de
15.000ft, temperatura externa de 8.8C e Mach 0.51) (Souza et al., 2012). Três linhas
verticais são mostradas, que correspondem da esquerda para a direita, ao fim da
seção cônica, à transição entre o cobre e latão no interior da região cilíndrica, e ao
início da base em forma de asa.
0 5 10 15x cm
20
40
60
80Tx,0 C
Figura 5.18 – Temperatura de superfície da sonda Pitot no regime permanente
para condições de ensaio em voo do A4 Skyhawk (altitude de 15.000ft, temperatura
externa de 8.8C e Mach 0.51) (Souza et al., 2012).
A formação de gelo em uma aeronave em grandes altitudes ocorre, por
exemplo, quando essa voa através de uma formação que contenha gotículas de água
super-resfriada em concentração suficiente, avaliada através do conteúdo de água
liquida (LWC). Uma parcela das gotículas de água colide com os componentes da
aeronave o que pode resultar na formação de gelo. A seguir examinamos três
condições propicias à formação de gelo, referentes aos casos acima enumerados, e
analisa-se a resposta do sistema anti-gelo do Pitot e o processo de formação de gelo.
5.2.1 CONDICÕES DE VOO DO A4
As previsões teóricas e os resultados para o comportamento térmico transiente
do tubo de Pitot aquecido foram obtidos para um avião A4 Skyhawk do esquadrão VF-
1, na Base Aero-Naval brasileira, em São Pedro d'Aldeia, Rio de Janeiro, mostrado
nas figuras 5.15 abaixo:
54
Figura 5.19 - A4 Skyhawk :avião com sonda Pitot testada e instalação do tubo
de Pitot no avião (Souza et al., 2012).
A Figura 5.20 ilustra a distribuição da temperatura em regime permanente ao
longo da superfície da sonda Pitot do A4, a partir da mudança da temperatura externa
T∞ para -400 C. Aqui, o sistema anti-gelo ainda consegue manter a temperatura da
extremidade da sonda em um valor acima da temperatura de mudança de fase,
embora a região do suporte em forma de asa, de menor importância no controle
térmico, já se encontre a temperaturas abaixo de zero grau.
Figura 5.20- Predição das temperaturas teóricas ao longo da sonda PH510
com formação de gelo em Mach 0.51 e 15000ft de altitude.
A seguir na Figura 5.22, apresenta-se o comportamento transiente da
distribuição de temperaturas ao longo da superfície, em condições propicias à
formação de gelo, por exemplo, pela passagem da aeronave em uma nuvem com
55
baixas temperaturas (meus zero gru) e altos valores do LWC (1.115 g/m3). Aqui
claramente observa-se a redução da temperatura da ponta da sonda abaixo de 0ºC.
Esse comportamento especifico do ponto de estagnação é melhor visualizado na
Figura 5.23, que apresenta o comportamento transiente da temperatura na
extremidade da sonda, onde se avalia que após cerca de 840 s se inicia o processo de
formação de gelo na região de estagnação.
Figura 5.21- Distribuição longitudinal da temperatura da superfície do Pito em
estado transiente em situação de voo do A4 com formação de gelo. (T∞ = -400 C,
LWC= 1.115 g/m3, MVD=45 µm, V∞= 800 km/h)
Figura 5.22-Comparação da Predição das temperaturas teóricas ao longo da
sonda PH510 antes do inicio do teste de formação de gelo e com formação de gelo
em Mach 0.51 e 15000ft de altitude
56
Figura 5.23-Comportamento transiente da temperatura na região de
estagnação da sonda Pitot em situação de voo do A4 com formação de gelo (T∞ = -
400 C, LWC= 1.115 g/m3, MVD=45 µm, V∞=800 km/h)
Figura 5.24. -Formação de gelo na sonda Pitot PH-510 fabricada por Aero
Instruments Co, condições do A4(T∞ = -400 C, LWC= 1.115 g/m3, , MVD=26.2 µm,
V∞=800 km/h e tempo= 30 min)
57
5.2.2 CONDICÕES DE VOO DO AF447
O Airbus A330 tem três sondas Pitot (Fig.5.25) e seis sensores de pressão
estática. Estas sondas são montadas com drenos permitindo a remoção de água, e
com um sistema de aquecimento eléctrico para, o principio, impedir o seu
congelamento.
Figura 5.25- Posição das sondas Pitot do Airbus A330 (BEA Final Report-
AirFrance -flight AF 447, Rio de Janeiro – Paris, 2012)
As sondas que estão instaladas na aeronave são aquecidas eletricamente para
remover a água por evaporação quando o avião está no solo e protegê-los da
formação de gelo em voo. Como não dispomos de dados sobre o tubo de Pitot da
empresa Thales, que equipava o AF447 à época do acidente, utilizamos na presente
simulação os dados referentes ao PH510 com as condições do AF 447 reportadas no
relatório final do BEA, órgão frances responsável pela investigação do acidente (BEA
Final Report-AirFrance -flight AF 447, Rio de Janeiro – Paris, 2012).condições
utilizadas(Altitude é 11 Km e Mach é 0.82–0.86 (871–913 km/h)).
A Figura 5.26 ilustra o comportamento transiente da distribuição de
temperatura ao longo da superfície do Pitot, onde claramente observa-se que a
temperatura na região de estagnação atinge valores abaixo da temperatura de
mudança de fase durante o período de tempo investigado. De fato, a Figura 5.27
detalha esse comportamento, mostrando apenas a evolução no tempo da temperatura
58
na região de estagnação, o que nos permite avaliar que após cerca de 3080 segundos
se inicia a formação de gelo (cerca de 51 minutos). Este tempo encontra-se um pouco
acima dos cerca de 30 minutos apontados no relatório do BEA como o tempo
decorrido dentro da formação de nuvens até o inicio do congelamento das sondas.
Nestes resultados foram considerados apenas para a parte líquida da água no LWC.
Para a realização das simulações foram utilizadas informações do site
http://www.aerospaceweb.org/design/scripts/atmosphere/
Figura 5.26-Distribuição longitudinal da temperatura em regime transiente na
sonda Pitot, em situação do vôo AF447 com formação de gelo (T∞ = -54 0 C, LWC=
1.115 g/m3, MVD=45 µm, V∞=800 km/h)
59
Figura 5.27- Comparação da Predição das temperaturas teóricas ao longo da
sonda PH510 antes do inicio do teste de formação de gelo do voo AF447 com
formação de gelo (T∞ = -54 0 C, LWC= 1.115 g/m3, MVD=45 µm, V∞=800 km/h)
Figura 5.28- Comportamento transiente da temperatura na região de
estagnação da sonda Pitot em situação de voo do AF447 com formação de gelo (T∞ =
-54 0 C, LWC= 1.115 g/m3,, MVD=45 µm, V∞=800 km/h)
60
Figura 5.29. -Formação de gelo na sonda Pitot PH-510 fabricada por Aero
Instruments Co, condições do A4(T∞ = -54 0 C, LWC= 1.115 g/m3, , MVD=45 µm,
V∞=800 km/h, tempo= 15 min)
Entretanto, nas simulações anteriores associando a análise térmica do
Pitot com a formação de gelo, foi desprezada a camada formada na região cônica do
Pitot, tendo em vista os baixos valores da eficiência de coleta local. Assim, o
coeficiente de transferência de calor adotado ao longo do corpo do Pitot foi o mesmo
que para a situação sem formação de gelo, e apenas a condição de contorno do ponto
de estagnação incorporou o novo balanço de energia em virtude do processo de
formação de gelo. Portanto, eliminando agora essa aproximação, e incorporando na
equação (56c) um coeficiente de transferência de calor h*(x,t) que leve em conta a
presença de gelo na região cônica da sonda, através do balanço anteriormente
descrito, pode-se obter novos resultados para a previsão do comportamento transiente
da sonda. A Figura 5.30 então ilustra a distribuição espacial da temperatura ao longo
da superfície do Pitot, em regime transiente, em que claramente se percebe o
transiente mais severo que ocorre nessa situação. Já a Figura 5.31 confirma essa
percepção, mostrando a evolução temporal da temperatura no ponto de estagnação,
que indica valores abaixo da temperatura de mudança de fase a partir de cerca de
2000 segundos (cerca de 33 minutos), coerente com as previsões do BEA para o
congelamento dos Pitots do AF447. Tanto neste gráfico como nos anteriores, observa-
se um ligeiro aquecimento inicial da região de estagnação que corresponde à maior
importância relativa da energia cinética das gotículas e do aquecimento aerodinâmico
nesse período inicial, quando ainda não há mudança de fase.
61
Figura 5.30- Distribuição longitudinal da temperatura em regime transiente na
sonda Pitot, em situação do vôo AF447 com formação de gelo também na região
cônica da sonda T∞ = -54 0 C, LWC= 1.115 g/m3, , MVD=45 µm, V∞=800 km/h)
Figura 5.31- Comparação da Predição das temperaturas teóricas ao longo da
sonda PH510 antes do inicio do teste de formação de gelo do vôo AF447 com
formação de gelo (T∞ = -54 0 C, LWC= 1.115 g/m3, MVD=45 µm, V∞=800 km/h)
62
1000 2000 3000 4000t s
20
10
10
20
30
T0,t C
Figura 5.32- Comportamento transiente da temperatura na região de
estagnação da sonda Pitot em situação de voo do AF447 com formação de gelo
também na região cônica da sonda T∞ = -54 0 C, LWC= 1.115 g/m3, , MVD=45 µm,
V∞=800 km/h)
Neste resultado foi utilizado na parte cônica um coeficiente de convecção
h*(x,t) que depende da posição e do tempo. Mas neste coeficiente são levadas em
consideração as seguintes propriedades: espessura dos dois tipos de gelo, agua e
próprio h(x). Um outro aspecto importante que pode ser analisado é o emprego do
modelo aqui construído na proposição de modificações e otimizações de sistemas
anti-gelo, mesmo para condições criticas como aquelas relacionadas ao acidente do
AF447. Por exemplo, poder-se-ia analisar a possibilidade de eliminar a seção cônica
da sonda Pitot aqui testada, mantendo-se a mesma potência total gerada, mas
redistribuindo essa potencia uniformemente até a extremidade do Pitot. O resultado foi
muito interessante, como recentemente mostrado por Lisboa et al. (2013) para o caso
sem formação de gelo.
5.2.3 CONDICÕES DE ENSAIO NO TUNEL DE VENTO DA COPPE
O Túnel de Vento Climático da COPPE/UFRJ, Fig.5.33,5.34 em
construção e a ser inaugurado em setembro de 2013, foi concebido para fins de
pesquisa em formação de gelo em estrutura aeronáuticas, como também para
avalição de situações próximas aos requisitos de certificação, visando-se análises
preliminares no desenvolvimento e/ou otimização de novas sondas e outros
elementos. As condições de operação projetadas para esse túnel são Ma=0.3 , P=Patm,
63
e T∞=-200 C. Entretanto, ele também pode ser empregado para outras condições
menos severas, bem como pode-se variar o LWC para avaliar a formação de gelo
como função dessa importante variável. Assim dois casos foram selecionados da
tabela de certificação recentemente proposta pela SAE, quais sejam:
1- T∞=-200 C e LWC= 1.5 g/m3
2- T∞=-50 C e LWC= 2.5 g/m3
Figura 5.33 - Vista 3D do túnel de vento
climático da COPPE/UFRJ (NIDF/CT2)
Figura 5.34- Planta baixa do túnel de vento
climático da COPPE/UFRJ (NIDF/CT2)
Figura 5.35 - Distribuição longitudinal da temperatura em regime transiente na
sonda Pitot, em situação do túnel de vento com formação de gelo
64
(T∞= -200 C e LWC= 1.5 g/m3)
Figura 5.36 Comparação da Predição das temperaturas teóricas ao
longo da sonda PH510 antes do inicio do teste de formação de gelo do vôo
AF447 com formação de gelo (T∞ = -54 0 C, LWC= 1.115 g/m3, MVD=45 µm,
V∞=800 km/h
Figura 5.37 - Distribuição longitudinal da temperatura em regime transiente na
sonda Pitot, em situação do túnel de vento com formação de gelo
(T∞= -50 C e LWC= 2.5 g/m3)
65
Figura 5.38 Comparação da Predição das temperaturas teóricas ao
longo da sonda PH510 antes do inicio do teste de formação de gelo do voo
AF447 com formação de gelo (T∞= -50 C e LWC= 2.5 g/m3 )
CAPÍTULO 6 - CONCLUSÕES E TRABALHOS FUTUROS
Neste trabalho foi proposto um modelo de transferência de calor conjugada
para análise térmica de um tubo de Pitot aeronáutico, combinado com uma formulação
simplificada da formação de gelo. A análise térmica se baseia na equação de
condução de calor para a estrutura da sonda, considerando uma formulação
concentrada na direção radial e formulação diferencial ao longo da coordenada
longitudinal. As variações geométricas e de materiais ao longo da extensão do Pitot
tornam-se então coeficientes variáveis e propriedades efetivas em função da
coordenada longitudinal. Utiliza-se coeficientes de transferência de calor apropriados
para as regiões de estagnação, cônica, cilíndrica e do suporte em forma de asa, que
em sequencia formam a estrutura do Pitot. Este modelo foi validado em trabalhos
anteriores utilizando resultados experimentais em regime transiente para condições de
escoamento incompressível obtido em túnel de vento, bem como para escoamento
compressível, a partir de ensaios em vôo com a aeronave A4 Skyhawk da Marinha do
Brasil.
66
No modelo desenvolvido foi considerado a formação de gelo no coeficiente de
transferência de calor para o desevolvimento das condições de contorno e na equação
principal. Estas considerações tornam esta metodologia inovadora, visto que os
modelos presentes na literatura não levavam em consideração a formação de gelo, um
exemplo disso é a formulação apresentada por Silva et al, 2011-2012.
Inicialmente, o modelo de formação de gelo proposto, construído a partir da
combinação de três outros modelos de mesma natureza disponíveis na literatura, foi
validado e verificado para casos de literatura em aerofólios, comparando-se os
resultados aqui obtidos com simulações computacionais através de códigos bem
estabelecidos e conjuntos de resultados experimentais obtidos em túnel de vento sob
condições controladas. Não foram encontrados resultados experimentais ou
simulações computacionais na literatura para a formação de gelo em tubos de Pitot,
mas foi possível uma verificação do presente modelo a partir de resultados não
publicados mas gentilmente cedidos pelo autor (Silva, 2011), obtidos a partir dos
códigos CFD++ , para o mesmo tubo de Pitot aqui considerado.
A combinação do modelo térmico do Pitot com a formulação simplificada para a
formação de gelo foi então utilizada para simular três situações distintas, quais sejam,
uma situação fictícia de vôo do A4 Skyhawk com condições propícias à formação de
gelo, uma reprodução das condições de vôo do AF447, e duas condições de teste a
serem empregadas no túnel de vento climático da COPPE/UFRJ, em construção.
Dentre diversas observações feitas ao longo do texto de discussão dos resultados,
destacamos a importância de considerar o acoplamento da transferência de calor na
estrutura do Pitot com os mecanismos de formação de gelo, na adequada previsão do
inicio do processo e da forma de gelo resultante. Desta forma, pode-se constatar, para
a situação que reproduz o voo do AF447, que levar em conta a formação de gelo
apenas na região de estagnação, desprezando seus efeitos na região cônica da
extremidade do Pitot, levava a uma previsão otimista do tempo de vôo antes do inicio
da formação de gelo, enquanto a inclusão desse efeito no balanço de energia na
estrutura do Pitot resultou em uma previsão muito do bloqueio das sondas, coerente
com os dados coletados da caixa preta daquele trágico voo.
Embora o principal objetivo dessa pesquisa seja o desenvolvimento de um
código para análise, projeto e otimização de sistemas anti-gelo, mostrou-se essencial
incluir esses mecanismos no modelo para análise térmica da sonda sob condições
propícias à formação de gelo, permitindo averiguar em que situações esse sistema de
proteção falha e em quanto tempo ao longo do processo transiente a partir do inicio
das condições adversas. O código aqui construído também permite uma rápida e fácil
investigação de alterações geométricas e funcionais nas sondas Pitot, buscando
67
alterações de projeto que forneçam mais robustez ao sistema anti-gelo. Por exemplo,
pode-se verificar que a alteração geométrica do tubo de Pitot, eliminando-se a região
cônica na extremidade, e empregando um corpo cilíndrico em toda sua extensão,
mesmo sem a concentração de geração de potencia na região de estagnação, poderia
resultar em um retardo ou mesmo eliminação de formação de gelo em situações tão
críticas como aquelas do AF447.
Embora uma série de refinamentos e complementos seja possível para
melhorar a capacidade preditiva do presente modelo, ainda mais urgente se faz a
produção de resultados experimentais em condições controladas para a formação de
gelo em tubos de Pitot, para permitir uma validação mais definitiva do modelo
combinado em sua essência. Essa atividade deverá ser iniciada tão logo as
instalações do túnel de vento climático da COPPE estejam concluídas.
68
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