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SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MEC – SETEC INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO ESTADO DE MATO GROSSO / CAMPUS CUIABÁ – OCTAYDE JORGE DA SILVA DIRETORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO ANGELA DEISE SANTOS GUIMARÃES LEITORES SURDOS E ACESSIBILIDADE VIRTUAL MEDIADA POR TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO Cuiabá - MT Setembro 2009

Angela Deise Santos Guimarães

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SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MEC – SETEC

INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO ESTADO DE MATO GROSSO / CAMPUS CUIABÁ – OCTAYDE JORGE DA SILVA

DIRETORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

ANGELA DEISE SANTOS GUIMARÃES

LEITORES SURDOS E ACESSIBILIDADE VIRTUAL

MEDIADA POR TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E

COMUNICAÇÃO

Cuiabá - MT

Setembro 2009

INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO

ESTADO DE MATO GROSSO / CAMPUS CUIABÁ – OCTAYDE

JORGE DA SILVA

ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO PROFISSIONAL TECNOLÓGICA

INCLUSIVA

ANGELA DEISE SANTOS GUIMARÃES

LEITORES SURDOS E ACESSIBILIDADE VIRTUAL

MEDIADA POR TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E

COMUNICAÇÃO

Cuiabá - MT

Setembro 2009

Ficha Catalográfica Guimarães, Angela Deise Santos Leitores surdos e acessibilidade Virtual mediada por Tecnologias de Informação e Comunicação Cuiabá -MT, 2009 71 p. Chaves, Carlos Henrique Freitas Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Mato Grosso Trabalho de Conclusão Curso de Especialização em Educação Profissional Tecnológica Inclusiva

ANGELA DEISE SANTOS GUIMARÃES

LEITORES SURDOS E ACESSIBILIDADE VIRTUAL MEDIADA PO R

TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Pesquisa e Pós-Graduação do Curso de Especialização em Educação Profissional e Tecnológica Inclusiva do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Mato Grosso, como exigência para a obtenção do título de Especialista.

Orientador: Prof. MSc. Carlos Henrique Freitas Chaves

Cuiabá - MT

Setembro 2009

ANGELA DEISE SANTOS GUIMARÃES

LEITORES SURDOS E ACESSIBILIDADE VIRTUAL MEDIADA PO R

TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO

Trabalho de Conclusão de Curso em ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO

PROFISSIONAL TECNOLÓGICA INCLUSIVA, submetido à Banca Examinadora

composta pelos Professores do Programa de Pós-Graduação do Centro Federal de

Educação Tecnológica de Mato Grosso como parte dos requisitos necessários à

obtenção do título de Especialista.

Aprovado em: ____________________

______________________________________________

Prof. MSc.Carlos Henrique Freitas Chaves (Orientador)

______________________________________________

Prof. Dra. Andréa Poletto Sonza (Membro da Banca)

_____________________________________________

Prof. MSc. Vera Lúcia de Souza e Lima (Membro da Banca)

Cuiabá - MT

Setembro 2009

DEDICATÓRIA

Aos filhos do Silêncio.

AGRADECIMENTOS

Ao prof. Carlos Henrique Freitas Chaves, pela orientação e por permitir meus

devaneios e idéias ao longo deste trabalho.

A Sandra Alonso, do SINFE/INES.

Aos primeiros amigos do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do RJ

que me acompanharam seja estando ao meu lado nos dias após a minha perda do

sentido da audição, seja quando me apoiaram nas minhas escolhas profissionais e

pessoais. Seus nomes: Adriana Souza, Ednéia Leme, Fábio Batalha, Márcia Cabral

e Mônica Romitelli.

À Andréa Poletto Sonza, pela confiança, carinho, presença amiga e orientação

constante.

À Vera Lúcia de Souza e Lima pelo trabalho em prol da educação dos surdos.

A todos do Pólo Sudeste da Especialização TECNEP e ao Gestor do programa,

Franclin Nascimento, pelas oportunidades a mim concedidas.

Às “surdas” queridas: Cintia Ingrid Macedo, Luciane Rangel, Melissa França, Monica

Astuto, e a tradutora-intérprete de sinais Laura Jane Messias Belém, pela alegria, fé,

exemplo e coragem que iluminaram o meu caminho

À Vilmar Silva, amigo de Santa Catarina, que admiro pelo viver lúcido e dedicação á

educação dos surdos.

À equipe da FORL/FMUSP e ao meu implante coclear, engenho eletrônico que me

permite ouvir o som e o silêncio.

Aos meus familiares, sempre presentes.

“Ver é a pura loucura do corpo”.

Clarice Lispector

RESUMO Esta monografia apresenta questões relativas às especificidades e singularidades das pessoas surdas predominantemente no campo da linguagem, e as questões da acessibilidade virtual mediada pelas Tecnologias de Informação e Comunicação. Utilizamos narrativas autorais de artistas e escritores surdos, a saber: Francisco de Goya, Emmanuelle Laborit e Michael Chorost. Além disso, são utilizados resultados de questionários aplicados com os alunos do pré-vestibular do Instituto Nacional de Educação de Surdos, Instituição Federal referência na escolarização de surdos no Rio de Janeiro, evidenciando os conhecimentos sobre a internet e a Educação à distância. Sugerimos o termo - leitores surdos - na tentativa de focar no universo da linguagem o entendimento mais ampliado sobre a surdez e as diferenças lingüísticas entre as pessoas surdas e ouvintes. As tecnologias de informação e comunicação, dentre elas a internet, são apresentadas como ferramentas de aprendizagem, comunicação e socialização. A interação mediada por computadores e internet possui níveis diferentes de acessibilidade entre os diferentes leitores surdos. As habilidades cognitivas colocadas em ação pelo leitor surdo sinalizado são distintas daquelas que são utilizadas por um leitor surdo oralizado. As artes visuais, a semiótica e a informática educativa oferecem elementos para o estudo da imagem e de ambientes virtuais mais acessíveis aos leitores surdos. Como resultado, apresentamos a proposição de um vídeo e discutimos sobre a acessibilidade virtual para leitores surdos com base nos resultados encontrados.

Palavras-chaves: LEITORES SURDOS, ACESSIBILIDADE VIRTUAL, LINGUAGEM,

TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO.

ABSTRACT

This monograph presents issues concerning specifities and singularities of deaf people predominantly in the field of language, and virtual accessibility issues mediated by information and communication technologies. Authoral narratives of deaf artists and writers were used, namely: Francisco de Goya, Emmanuelle Laborit and Michael Chorost, as well as the results of questionnaires applied to senior year students of the National Institute of Education for Deaf Students, a notorious federal education Institution in Rio de Janeiro, spotlighting the knowledge on Internet and distance education. We suggest the word - deaf readers - in an attempt to focus in this universe of language a more broad understanding about deafness and the linguistic differences between deaf people and those who can hear. The information and communication technologies, including the Internet, are presented as learning, communication and socializing tools. Interaction mediated by computers and the Internet has different deaf readers with different levels of accessibility. Cognitive skills put into action by sign language deaf readers are distinct from those that are used by oral language deaf readers. The Visual Arts, the semiotics and educational informatics provide elements for the study of virtual environments and image more accessible to deaf readers. As a result, we propose a video and discussion on virtual accessibility for deaf readers based on results that were found. Keywords: deaf readers, virtual accessibility, language, information technologies and

communication.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Prancha 1 da Série Los Caprichos.............................................................25 Figura 2 . Fotografia de Emmanuelle Laborit.............................................................30

Figura 3. Fotografia de Michael Chorost...................................................................35

Figura 4. Fotografia dos alunos do CAP/INES..........................................................37

Figura 5. Ilustração de “Diários de viagem: Rio de Jano..........................................42”

Figura 6. René Magritte: A Traição das imagens......................................................43

Figura 7. Iconografia de Sinais..................................................................................45

Figura 8. CDs-ROM bilíngües....................................................................................50

Figura 9. PDA com conteúdos em língua de sinais...................................................50

Figura 10. Dicionário de LIBRAS...............................................................................50

Figura 11. Vídeo em LIBRAS....................................................................................51

Figura 12. Página do Fórum de Implante Coclear.....................................................53

Figura 13. Interface gráfica do Curso Letras LIBRAS...............................................54

Figura 14. Perfil de usuário do Orkut.........................................................................57

Figura 15. Vídeo Goya e Gama: Narrativas Gráficas e Língua de sinais..................60

SUMÁRIO

Capítulo I – INTRODUÇÃO .......................................................................................13

Capítulo II – JUSTIFICATIVA ...................................................................................17

Capítulo III – METODOLOGIA ..................................................................................20

3.1. Universo da pesquisa...............................................................................21 3.2. Realidade estudada..................................................................................21 3.3. Instrumentos de Coleta.............................................................................21

Capítulo IV - OS LEITORES SURDOS .....................................................................23

4.1. Introduzindo os Leitores............................................................................23 4.2. Francisco de Goya: Narrativas gráficas....................................................25 4.3. Emmanuelle Laborit..................................................................................30 4.4. Michael Chorost........................................................................................35 4.5. Leitores surdos do Instituto Nacional de Educação de Surdos/INES.......37

Capítulo V - SEMIÓTICA, COGNIÇÃO E IMAGEM ..................................................41

5.1. Imagem enquanto representação visual...................................................42 5.2. Algumas definições em Semiótica............................................................44

Capítulo VI -LEITORES SURDOS E ACESSIBILIDADE VIRTU AL MEDIADA POR

TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO (TIC )................................47

6.1. De que acessibilidade virtual e TIC estamos falando?.............................47 6.2. Tecnologias de Informação e Comunicação e surdez..............................49 6.3. Interação no contexto da internet.............................................................51 6.4. Comunicação mediada por computador...................................................52 6.4.1. Interatividade no “Fórum de Implante Coclear” (FIC)............................52 6.4.2. Interatividade no Curso Letras-Libras/UFSC.........................................53 6.4.3. Interatividade no Orkut...........................................................................56 6.4.4. Alguns critérios de acessibilidade na internet para leitores surdos.......58 6.5. Proposta de Vídeo sobre leitores surdos..................................................60 6.6. Lista de itens relevantes para acessibilidade a espaços virtuais.............61 Capítulo VII – CONCLUSÃO .....................................................................................63

Capítulo VIII- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................65

Capítulo IX- ANEXOS ...............................................................................................69

Capitulo I- INTRODUÇÃO

Iniciar a redação desta monografia não foi tarefa fácil. Foi preciso sintetizar as

prioridades relativas a um trabalho de pesquisa acadêmica, definir o objeto de

estudo com base no aprofundamento de leituras e experiências novas para a autora

e ter como matriz de trabalho a principal marca da realidade escolhida: as diferenças

lingüísticas entre as pessoas surdas e ouvintes.

O campo de observação, pesquisa e reflexão que me debrucei, trata-se do

momento que agora vivo: o de estar surda e dependente do implante coclear para

ouvir, da acessibilidade ao mundo sonoro nesta nova condição e da descoberta de

que há leituras e leitores que se configuram a partir da surdez. Em termos de

referenciais teóricos isso pode ser traduzido na seguinte forma: um campo de

pesquisa que inclui a cognição, a semiótica e as diferentes linguagens.

A relevância do tema escolhido ancora-se nos diferentes olhares sobre a

surdez. São leituras que compreendem desde modelos centrados na audição, que

consideram a surdez uma condição clínica cuja intervenção é pautada nos valores

da comunidade médica, até os direitos lingüísticos das pessoas surdas que

entendem que a surdez deve ser compreendida com base nos valores da cultura

surda1, no âmbito do bilingüismo2 e nas necessidades do sujeito surdo. De qualquer

forma, a surdez e a população de pessoas surdas não estão em um campo neutro,

destituído de significados, onde tecnologias possam ser manipuladas promovendo a

inclusão destas pessoas na sociedade. É neste sentido que a aproximação a este

campo deve estar livre de preconceitos e julgamentos que pouco dizem respeito à

Educação dos surdos. É também neste sentido que me permito falar sobre as

pessoas surdas e narrar as suas experiências.

Na minha terra natal, em Minas Gerais, fala-se com sotaque mineiro (ou de

mineirim). São muitas memórias familiares e sonoras associadas a sentimentos e

emoções que me permitem, mesmo com a minha surdez, escutar. Sei que há

diferenças entre o sotaque de um parente de Minas Gerais e das pessoas que

1 Define-se cultura surda como a identidade cultural de um grupo de surdos que se define enquanto grupo diferente de outros grupos. Apresenta características que se traduz de forma visual. As formas de organizar o pensamento e a linguagem transcendem as formas ouvintes (QUADROS, 2007: p. 10) 2 Tem como pressuposto básico que o surdo deve ser bilíngüe, ou seja, deve adquirir como língua materna a língua de sinais, que é considerada a língua natural dos surdos e, como segunda língua, a língua oficial de seu país. (GOLDFELD, 2002: p. 42)

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moram em Santa Catarina, no Sul do país, onde residem a minha irmã, meu

cunhado e meu pequeno sobrinho. Sei que o som do mar “quando quebra na praia,

é bonito, é bonito”. Sei, porque sei. Porque já ouvi antes e, tendo me emocionado

antes com a bela composição de Dorival Caimmy, recordo-me daquelas emoções, e

sinto saudades desta melodia que um dia escutei com os meus ouvidos biológicos.

Este lugar não mais existe.

O que a maioria das pessoas não sabe, porque desconhecem a natureza das

pessoas que jamais ouviram som algum, ou daquelas que ouviram muito pouco

desde o seu nascimento, e finalmente daquelas que perderam a audição ao longo

da vida, é que não só a música, mas a língua oral e escrita, e as relações sociais

que resultam de ser ou de estar surdo são completamente diferentes entre a

população total de pessoas surdas.

Estas pessoas estão mergulhadas em um mundo de natureza visual, espacial

e de aromas, onde o som nem sempre é fonte de prazer ou informação segura. Para

a parcela de pessoas com surdez que se beneficiam do implante coclear3 (ouvido

biônico) e cirurgias, as tecnologias atuais ainda não são capazes de prover acesso

total a ampla gama de sons que devem ser transformados em sinais para serem

ouvidos de forma semelhante ao som percebido pelos ouvintes (com ouvidos

biológicos íntegros). Logo, a maior parte da população de pessoas surdas continua a

usar os sinais visuais como forma primária de processamento sensorial do mundo.

Ao longo de minha perda do sentido da audição, desde os seis anos de idade,

ou ao menos este é o marco que tenho relatado pelos meus pais4, pude aprender

tudo o que os ouvintes aprendiam, e bem. Não foi tão incapacitante ser “deficiente

auditiva”, até o dia em que o som foi embora por completo. Rugiu e sumiu. Os

zumbidos foram os maus presságios.

Pensei sobre a minha História que inclui uma vivência auditiva diferenciada e

na atual experiência do implante coclear e em como ultrapassar o senso comum que

se tem sobre as pessoas surdas e sobre a surdez. O som percebido pelo implante

coclear é um som que muda continuamente, em outras palavras, é um som movente

e fragmentado, que influencia na percepção da voz humana e dos sons exigindo que

estes sejam reconstruídos a cada momento. Esse exercício de reconstrução 3 Implante coclear é uma tecnologia que permite que os sons decodificados por um receptor/estimulador que converte sinais em energia elétrica possam ser enviados para eletrodos localizados na cóclea que estimulam o nervo auditivo, e enviam o “som” para o cérebro que detecta os sinais, resultando no sentido da audição. 4 Quando comecei a aumentar o som da TV, receber recados da professora como aluna desatenta, e finalmente fazer uma cirurgia de colocação de carretel aos oito anos de idade

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permanente da percepção e processamento do som é uma recordação diária sobre

a impossibilidade humana de controle sobre a percepção da realidade. Isto é

importante na medida em que contribui para o refinamento da sensibilidade das

pessoas surdas implantadas, e não o contrário como se poderia pensar acerca de

pessoas com artefatos biônicos. Entretanto, até o momento, o implante coclear não

é uma cura. É uma prótese auditiva que exige grande esforço, treino e coragem

daqueles que dela fazem uso.

A outra parte deste trabalho remete à memória dos dias de surdez total, nos

quais precisei interagir com as pessoas pela oralidade, pela escrita e pela leitura

labial e visual. A avidez pela busca por “legendas” em todas as imagens e a

recordação de sons conhecidos pela memória auditiva era constante. As leituras

visuais, a internet (o bate papo virtual e o correio eletrônico), as mensagens curtas

no celular foram os meios de comunicação social. Fiz a re-descoberta da tecnologia

mais simples de comunicação sem som: o lápis e o papel.

Na minha atuação profissional como docente e como coordenadora de um

“Núcleo de atendimento às pessoas com necessidades educacionais específicas”

em uma Instituição Pública de Ensino, pude me aproximar de professores surdos

que se tornaram amigos valiosos. No aprendizado da língua de sinais, venho

entendendo sobre o valor desta para os surdos e sobre o bilingüismo. O mesmo

“equipamento” que utilizamos para explorar o ambiente é também aquele que se

destina para digitação no teclado do computador e também para a comunicação

entre surdos, ou seja, as mãos.

Foi preciso a aproximação com diversas pessoas surdas para que eu

pudesse entender um pouco mais sobre a “surdez” e sobre esta população cuja

forma de conhecer e aprender são diferenciados dos ouvintes.

A pessoa surda não possui o estigma visual que lhe confira uma visibilidade

de sua condição enquanto não ouvinte. Isso pode levar a sérios equívocos sobre as

competências cognitivas destas pessoas, que não raro são percebidas pela

sociedade como deficientes intelectuais. As diferenças que se estabelecem devido à

dificuldade na aquisição da língua falada e escrita são pouco compreendidas, e as

metodologias de ensino e políticas públicas destinadas a educação e ao

aprendizado da leitura e da língua escrita para essa população ainda é um desafio.

Sabendo que o código hegemônico deste século não está nem na imagem,

nem na palavra oral ou escrita, mas nas suas interfaces, sobreposições e

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intercursos, como os surdos estão se apropriando das tecnologias e como a

sociedade vem democratizando os seus serviços e espaços plurais?

O objetivo deste trabalho é conhecer as narrativas autorais de pessoas

surdas evidenciando alguns critérios para o desenvolvimento de uma linguagem a

ser utilizada em espaços virtuais que possam favorecer a usabilidade destes

ambientes por estes leitores.

Após a delimitação inicial do assunto tratado e a descrição do objetivo deste

trabalho apresento a configuração dos capítulos como se segue.

A metodologia empregada neste trabalho está descrita no capítulo III, que

também contempla o universo da pesquisa e a realidade estudada.

No capítulo IV são apresentados os leitores surdos e suas especificidades,

bem como, a justificativa do uso do termo “leitores”, e “leitores surdos”.

Alguns aspectos da semiótica, da cognição e da Imagem que contribuem para

a compreensão da leitura e da linguagem visual estão presentes no capítulo V.

No capítulo VI são abordados os leitores surdos e a acessibilidade virtual

mediada por Tecnologias de Informação e Comunicação. É um capítulo longo onde

tecemos considerações sobre a interface entre tecnologia, interação, conhecimentos

e informações compartilhados na internet pelos leitores surdos. Alguns critérios de

acessibilidade a espaços virtuais são apresentados com base na informática

educativa.

Na conclusão temos a discussão dos resultados e as reflexões sobre o

conteúdo da pesquisa.

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Capitulo II- JUSTIFICATIVA A surdez insere o indivíduo em um mundo de experiências sensoriais

diferente das experiências dos ouvintes. Uma das mais evidentes é a fala humana.

Entretanto, existem outros tipos de aprendizado dos quais os surdos estão

excluídos, tais como o burburinho de conversas que constitui o pano de fundo da

vida cotidiana, as piadas faladas, a experiência musical, os sons da cidade, a

televisão e a internet quando se sustentam em um paradigma voltado para ouvintes.

A revolução da entrada dos computadores pessoais no cotidiano das

pessoas, e a vulgarização da internet modificaram as formas de comunicação entre

as pessoas, agora chamados de usuários. (Brand apud Harasim, 2005 p. 337).

A internet oferece diversas ferramentas de informação, comunicação e

conhecimento, em sua maioria, pouco acessíveis ao surdo, principalmente devido a

uma interface que pouco contempla as diferenças lingüísticas destas pessoas.

No que tange à Educação, segundo o censo do Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística (IBGE/2000), e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas

Educacionais (INEP/2006) – veja a tabela a seguir – existe no Brasil 5.735.099

surdos, sendo que destes 776.884 estão em período de escolarização (0 a 24 anos),

porém apenas 69.420 estão matriculados no sistema de ensino brasileiro. Ou seja,

91,06% dos surdos brasileiros estão fora do sistema educacional.

População Surda no

País

População Surda em

Fase de Escolarização

População

Surda

Matriculada

Índice de

Exclusão

5.735.099 776.884 69.420 91,06%

Quadro 1- Tabela com dados demográficos sobre alunos surdos no ensino INEP 2006

Citando Silva (1999) as principais causas para o alto índice de exclusão dos

surdos do sistema educacional está relacionado principalmente pela formação de

professores e pela produção de materiais didáticos que não reconhecem as

diferenças inerentes à surdez no processo pedagógico.

A acessibilidade aos ambientes virtuais da internet promove muito mais do

que o acesso à informação, permite a aprendizagem em rede, fundamental no

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processo de transformação das relações sociais. Estes ambientes se constituem em

espaços de democratização e de construção coletiva de conhecimento.

As estruturas de educação tradicionais estão sendo profundamente alteradas

pelas novas tecnologias de informação e comunicação. Segundo Brand apud

Harasim (2005, p. 341) “[ ] os meios de comunicação são tão fundamentais para

uma sociedade que, quando suas estruturas mudam, tudo é afetado”. Logo, as

redes são espaços sociais com potencial para se tornar mais igualitárias do que

outros meios de interação social.

Sabemos por meio de autores como Skliar (2005, p. 8), que a discussão da

educação de surdos deve ultrapassar o sentido comum que estabelece uma cadeia

de significados obrigatórios como a seguinte: “surdos - deficientes auditivos - outros

deficientes - educação especial – reeducação - normalização integração”. Outros

conjuntos de contrastes binários que devem ser evitados é a base onde a pedagogia

para surdos se constrói, “implícita pura explicitamente, a partir das oposições

normalidade/anormalidade, saúde/patologia, ouvinte/surdo, maioria/minoria,

oralidade/gestualidade, etc”. Ainda segundo Skliar (2005, p.9), “as significações

lingüísticas, históricas, políticas e pedagógicas precisam ser identificados como

territórios intermediários que permeiam as práticas de educação com surdos”.

Em Quadros (2006), temos a revisão e a contribuição de diversos autores

sobre como a educação de surdos está sendo construída pela lógica dos próprios

surdos. Nesta obra são discutidos temas como a escola que os surdos querem, a

celebração da língua de sinais como fator de empoderamento da cultura surda, e as

especificidades que estão relacionadas às questões visuais das pessoas surdas.

Essa dimensão educacional também deve estar atrelada à construção de

tecnologias no campo da acessibilidade virtual para pessoas surdas.

São prerrogativas estabelecidas pela comunidade surda no Documento

elaborado durante o V Congresso Latino Americano de Educação Bilingue para

surdos em 1999:

A educação deve assegurar ao surdo o direito de receber os mesmos conteúdos que os ouvintes, mas através de comunicação visual. [ ] e que as formas conhecidas em comunicação visual importantes para o ensino do surdo são: línguas de sinais, língua portuguesa, e outras línguas no que tange à escrita, leitura e gramática.

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As narrativas de Laborit,1999, Blackburn, 2003 e Chorost, 2005, bem como a

apresentação dos alunos do Instituto Nacional de Educação de Surdos se justificam

neste trabalho como ilustração das diferenças entre a população de pessoas surdas.

Muitas tecnologias que podem ser desenvolvidas para esta comunidade

devem ser pesquisadas dentro das redes sociais que se estabelecem via internet,

tais como sites de relacionamento tipo Orkut, MSN, OOVOO. De caráter mais formal

e acadêmico, citamos os ambientes de suporte de Ensino a Distância como as

plataformas de aprendizagem TELEDUC (http://www.ead.unicamp.br) desenvolvido

conjuntamente pelo Núcleo de Informática Aplicada à Educação (Nied) e pelo

Instituto de Computação (IC) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e a

plataforma Moodle (www.moodle.org) que devem permitir acessibilidade para todos

os tipos de usuários. O Moodle é um sistema de aprendizagem baseado no

construtivismo social já utilizado com sucesso por instituições de ensino e pesquisa,

entretanto, não possui, até o momento, acessibilidade para usuários surdos por meio

de uma apresentação bilíngüe (bem como o TELEDUC).

É fundamental que uma experiência visual seja pensada no desenvolvimento

de ferramentas digitais e na produção de material didático acessível, ampliando as

possibilidades de interação entre surdos e ouvintes, a partir da potencialidade visual

do mundo contemporâneo.

Silva (1999: p. 34), afirma que:

Ao trazer a epistemologia visual para o campo pedagógico, os surdos, ao mesmo tempo, que evidenciam as limitações do processo pedagógico centrado no som também apresentam a sua experiência visual como uma das alternativas possíveis para sua inserção e permanência no sistema de ensino brasileiro.

Este trabalho se justifica na medida em que existem poucas referências sobre

narrativas de pessoas surdas, e que o trabalho no campo de acessibilidade virtual

para esta população deve contemplar o entendimento e o olhar sobre a surdez pela

linguagem das próprias pessoas surdas e a relação de acessibilidade dessas

pessoas com o conteúdo oferecido pela internet.

20

CAPÍTULO III. METODOLOGIA

No desenvolvimento desta monografia seguiram-se as seguintes etapas:

determinação do tema-problema; levantamento da bibliografia referente ao tema;

leitura e documentação da bibliografia; construção lógica do trabalho e redação do

texto. O levantamento da bibliografia foi redefinido conforme o tema-problema

tornou-se mais específico.

A etapa da documentação das narrativas dos leitores surdos, apresentados

no capítulo IV foi bastante demorada, por incluir a leitura completa de duas obras na

língua Inglesa e uma na língua Portuguesa. Entretanto, foram leituras muito

positivas, visto que são quase inexistentes narrativas autorais de pessoas surdas, de

implantados cocleares, e referências sobre a surdez do artista espanhol Francisco

de Goya tal como pode ser percebido nas fontes utilizadas.

Essas leituras resultaram na proposição do termo “leitores surdos” para tentar

abranger as diferentes linguagens que fazem parte do universo da pessoa surda.

Lançamos mão da abordagem qualitativa, na medida em que houve uma

aproximação de sujeitos reais, e em universos socialmente bem definidos, em um

esforço da autora de se aproximar dos diferentes contextos nos quais as pessoas

surdas estão inseridas.

Por meio da investigação exploratória identificamos diferentes comunidades

de pessoas surdas cujas especificidades inerentes à utilização de tecnologias de

informação e comunicação, dentre elas, a internet, possuem grande variabilidade.

Alguns espaços acadêmicos foram visitados presencialmente e virtualmente

por se constituírem em locais de produção de conhecimento para pessoas surdas:

laboratórios destinados à pesquisa e com a participação de pesquisadores surdos,

fóruns virtuais de discussão, sites de relacionamento e cursos na modalidade à

Distância

A participação na Especialização a Distância em Educação Profissional e

Tecnológica Inclusiva permitiu a aproximação ao Instituto Nacional de Educação de

Surdos/INES e ao trabalho do meu atual orientador, prof. Carlos Henrique Freitas

Chaves. Durante um ano observei os alunos surdos do Colégio de Aplicação do

INES no Setor de Informática Educativa e a forma como utilizam e exploram a

21

internet. O período de observação das atividades de informática educativa no

SINFE/INES compreendeu Setembro de 2008 à Setembro de 2009.

3.1. Universo da pesquisa

• Instituto Nacional de Educação de Surdos: Serviço de Informática Educativa e

Biblioteca.

• Ambientes virtuais: Orkut, Fórum de Implante coclear (FIC), Curso Letras-

Libras/UFSC

3.2. Realidade estudada

Como proposta de conhecimento das pessoas surdas, escolhi três perfis

históricos: Goya, artista plástico espanhol, surdo dos 47 aos 81 anos; Emanuelle

Laborit, artista e escritora surda francesa, e o professor e escritor americano Michael

Chorost, implantado coclear.

Em seguida será apresentado o resultado do questionário aplicado com os

alunos do pré-vestibular do Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES).

3.3. Instrumentos de coleta

Observação in loco:

Acompanhamento dos alunos do SINFE (Serviço de Informática educacional

do INES) durante aulas na informática educativa. Observação da acessibilidade à

internet tais como: uso de chats, busca de páginas na internet, uso das interfaces

digitais e hiperlinks, dificuldades com o conteúdo em língua portuguesa, uso de

programas educativos, sites de relacionamento.

Questionário semi-estruturado:

Este instrumento buscou identificar, principalmente, o conhecimento que eles

possuem sobre o uso da internet.

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Descrição geral da aplicação do questionário

Para uma abordagem do perfil dos alunos pré-vestibulandos do INES foi

aplicado um questionário com perguntas estruturadas e semi-estruturadas.

Trabalhamos com uma amostra de 14 alunos, correspondendo às 2 turmas de pré-

vestibular do INES- período vespertino e noturno. O questionário aplicado encontra-

se no Anexo I.

Fizemos um contato inicial com as professoras responsáveis pelo ensino do

pré-vestibular e informamos sobre a nossa pesquisa e procedimentos necessários

para aplicação do questionário com os alunos (necessidade de intérpretes, aplicação

de termo de consentimento livre e esclarecido, tempo disponível para as respostas e

dúvidas).

Realizamos dois encontros, um com a turma da tarde e outro com a turma da

noite, em ambos contamos com duas intérpretes de sinais que receberam

informações prévias sobre o escopo da pesquisa. Os alunos que preencheram o

questionário foram orientados sobre os protocolos da pesquisa, tais como a

anuência do uso do conteúdo escrito para fins de publicação.

23

CAPÍTULO IV - Leitores surdos

4.1. Introduzindo os leitores

Ao delinear alguns perfis do que convencionamos chamar de “leitores

surdos”, buscamos evidenciar as singularidades desta população.

A “leitura” que propomos, conforme será evidenciado neste capítulo, não se

restringe a decifração letrada, mas às leituras de diferentes signos e processos de

linguagem, presentes na comunicação, nas línguas orais, escritas e sinalizadas, e

conseqüentemente, na leitura de sites e de ambientes virtuais, que possuem

interfaces com linguagem própria, conforme descrito por Santaella (2004: p.16).

Precisamos dilatar sobremaneira o nosso conceito de leitura, expandindo esse conceito de leitor do livro para o leitor da imagem e desta para o leitor das formas híbridas de signos e processos de linguagem, incluindo nessas formas até mesmo o leitor da cidade e o espectador de cinema, TV e vídeo, também considerados como um dos tipos de leitores, visto que as habilidades perceptivas e cognitivas que eles desenvolvem nos ajudam a compreender o perfil do leitor que navega pelas infovias do ciberespaço, povoadas de imagens, sinais, rotas, luzes, pistas, palavras, textos e sons.”

O olhar sobre estes leitores busca uma aproximação com o campo das

especificidades e diferenças de “ser” ou de “estar” surdo. Sobre as “marcas” dos

diferentes leitores surdos que podem contribuir com ferramentas para o universo da

Tecnologia da Informação e Comunicação.

Escrever sobre “leitores surdos” ao invés de modelos de surdez confere

autoria e protagonismo às pessoas surdas e não as coloca em locais estanques, o

que poderia contribuir para uma imagem muito restrita sobre o universo de ser ou de

estar surdo.

Cabe-nos distinguir que a surdez seja como condição (valores da comunidade

médica) ou como atitude (valores da comunidade surda) ainda é bem pouco

conhecida, bem como os aspectos educacionais, culturais, antropológicos e sociais

que a permeiam. A compreensão das pessoas surdas enquanto leitores é

fundamental para o êxito na compreensão da linguagem a ser utilizada na área de

acessibilidade virtual.

Finalmente, optamos por “leitores surdos” e por vezes, pessoas surdas, ao

invés de Surdos, pessoa com surdez, deficiente auditivo e implantado coclear,

24

porque acreditamos que a leitura proposta (de textos, imagens, sons, signos, enfim)

é uma linguagem capaz de cobrir as diferenças inerentes à surdez no escopo deste

estudo.

Por outro lado, por meio desta terminologia, afirmamos as diversas

possibilidades de convivência e interação entre as pessoas. Afinal, somos todos

leitores em algum nível. Mesmo os cegos são leitores, quando se utilizam de

programas que permitem a “leitura da tela” do computador, ou quando

desempenham a rebuscada tarefa de “ler” com a ponta dos dedos a literatura em

Braille.

Algumas questões que se colocaram durante esta etapa foram:

• Quais as especificidades na leitura e escrita entre as pessoas que se

tornaram surdas na fase adulta, ou após o desenvolvimento da linguagem e

as pessoas com surdez adquirida antes da aquisição da linguagem (pré-

linguística)?

• O que é ser um leitor de imagens?

• Existe uma literatura, arte e pedagogia visual para os leitores surdos?

• Podemos inferir que há diferentes “leitores” surdos?

O primeiro leitor surdo apresentado é Francisco de Goya (1746 -1828), artista

espanhol, acometido pela surdez no ano de 1792, aos 47 anos de idade. Suas

gravuras realizadas após a perda da audição, que compõe a série “Caprichos de

Goya”5 que, juntamente com outras três séries “Desastres da Guerra”,

“Tauromaquia” e “Disparates” são marcados por uma estética visual, própria dos

leitores surdos, por serem narrativas que permitem leituras e abstrações visuais.

Goya será o personagem que representa a surdez no adulto e a dor da perda do

sentido da audição. A sua arte é a representação gráfica do seu testemunho visual

O segundo leitor surdo é, na verdade, uma leitora. Trata-se de Emmanuelle

Laborit, atriz francesa contemporânea, que registrou por meio da narrativa

autobiográfica - O Vôo da Gaivota - a descoberta de sua identidade surda. Ela

participa ativamente de movimentos de luta pelos direitos dos surdos. Em 1993

recebeu o Prêmio Molière de “atriz revelação” por seu papel na peça “Os filhos do

5Ver http://www.calcografianacional.com/caprichos/default.htm

25

silêncio”. Laborit será a personagem que representa os valores da comunidade

surda, o bilinguismo, a surdez enquanto atitude e as necessidades dos surdos.

Michael Chorost (Mike) é um pesquisador e escritor americano, leitor voraz de

literatura científica e com uma carreira acadêmica privilegiada. Ele será o nosso

leitor implantado, aquele que pode ouvir por meio da tecnologia do implante coclear.

Nos momentos “ouvinte” ele é intérprete de sons decodificados pelo seu implante

que resultam no sentido da audição. Chorost representa os valores da comunidade

biomédica e científica, o oralismo, e o modelo centrado na audição.

Os alunos do Instituto Nacional de Educação de Surdos serão representados

pelos pré-vestibulandos, ou seja, leitores que passaram por todas as etapas da

educação destinada para surdos, e agora irão fazer as escolhas da vida profissional.

Estes alunos possuem uma leitura do uso da internet diferenciada das pessoas

ouvintes.

.

4.2. Francisco de Goya: Narrativas gráficas

Figura 1 – Francisco Goya y Lucientes, pintor , 1797-1799

Caprichos 1 220 x 153 mm. 509,95 g.

Aguaforte e Aguatinta.

Ele é celebrado por sua inquietude, sua hostilidade, suas paixões; ele é cheio de curiosidade; ele freqüenta feiras e festas populares, tendo um vívido interesse em animais de circo, acrobatas e monstros. Ele pinta, desenha, aprende litografia e inicia-se em todas as descobertas técnicas. Sua lucidez é absoluta”. (Goya aos 79 anos)

Francisco José de Goya y Lucientes nasceu em Fuendetodos, Saragoça na

Espanha, em 30 de Março de 1746. Sua obra, muito vasta, inclui pinturas, gravuras

26

e álbuns de desenhos. Viveu a maior parte de sua vida na Espanha, sob o Reinado

de Carlos III, Carlos IV e Fernando VII.

Parte do conteúdo informado e transcrito nesta monografia é uma tradução

livre do livro “Old Man Goya”6, de autoria da escritora inglesa, Julia Blackburn. Nesta

obra literária ela reconstrói a história de Goya no período em que viveu surdo, dos

47 aos 82 anos. Blackburn percorreu os locais que Goya conheceu bem; a vila de

sua infância, a fazenda onde esteve com a Duquesa de Alba, as cidades de

Zaragoza, Madri, Cadiz e, finalmente, Bourdéus, onde Goya viveu os seus últimos

anos de exílio.

Uma das questões em que Blackburn se debruça, de interesse para a

compreensão da riqueza da leitura visual das gravuras de Goya, se traduz na

seguinte pergunta: O que aconteceu com Goya, após o período de sua doença, que

o inseriu num mundo silencioso, forçando-o a depender de seus olhos para tudo?

Blackburn acredita que a observação das matrizes (chapas em cobre) das gravuras

utilizadas para as técnicas de água-tinta e água-forte criadas por Goya são

contribuições poderosas para a compreensão de Goya surdo. Mais poderosas até

do que as próprias gravuras. Por meio delas é possível ver o material original no

qual Goya trabalhou e a imensa energia que desprendeu para raspar e arranhar

estas chapas de metal, enquanto criava as imagens que seriam conhecidas como as

séries de Gravuras maiores.

Tudo parece indicar que as 80 lâminas que compõem “Os Caprichos”,

gravadas em água-forte e água-tinta, técnica na qual logrou excelente destreza,

foram realizados no período de tempo transcorrido entre a primavera de 1797 os

últimos meses de 1798.

Goya ficou doente por diversas vezes após a maturidade, e a gravidade das

doenças que o acometeram quase o levaram à morte pelo menos por duas vezes. O

artista tinha zumbidos e vertigens que provocavam desmaios freqüentes, sentindo,

por vezes, como se a sua cabeça estivesse “cheia d'água”. Estas crises foram

dolorosas para Goya.

Até Junho de 1792, Goya exercia as suas atividades na “Real Academia de

Bellas Artes de San Fernando". Em seguida é relatado o seu desaparecimento

temporário da Academia:

6BLACKBURN. J. Editora Vintage. London, 2003

27

[...] em agosto de 1792 a luta [entre cofradias/companhias] recomeça mais ardente, desta vez o número dos mortos se eleva a sete. [...] O grande inquisidor começa por marcar com uma cruz o nome de cada um dos combatentes, e Goya, o mais comprometido deles, [...], foi advertido a tempo. (CalcografiaNacional, 2009)

No outono de 1792, durante uma estadia no sul da Espanha, Goya adoece

seriamente. Não se sabe exatamente as causas de “uma grave enfermidade que o

acomete em Andaluzia” que são descritas de formas variadas de acordo as

referências consultadas.

Ninguém tinha certeza se a causa da doença estaria relacionada com a

“toxidade das tintas que Goya utilizava em suas pinturas ou se foi uma variação da

Doença de Menière7, ou qualquer outra coisa”. O que se sabe é que a força dos

“ataques” que Goya sofria podia durar várias semanas. (Blackburn, 2003. p. 25)

Goya irá recuperar as suas forças, mas permanecerá pelo o resto de sua vida

surdo.

Surdo como uma casa, surdo como uma pedra, surdo como um homem surdo que não poderá acordar de seu sono gelado independente de quão alto você possa falar com ele” (Blackburn, 2003, p. 25).

A surdez que atingiu Goya manifestou-se no ouvido interno, sua cóclea foi

irreparavelmente atingida, levando a uma perda conhecida por surdez neuro-

sensorial. Não havia nada naquela época, que pudesse ter trazido a audição de

Goya de volta. Uma surdez do tipo irreversível.

“Um lugar sem o canto dos pássaros ou música, sem o barulho dos passos se

aproximando ou latidos de cães ouvidos à distância”, as referências de som

cotidianas tornam-se irreparavelmente perdidas para estas pessoas acometidas pela

surdez é o que Blackburn descreve. (Blackburn, 2003, p. 25).

“Não haveria dias bons seguido de dias maus, nenhuma forma de remediar a

sua situação, nenhuma maneira de torná-la menos extrema” (Blackburn, 2003, p.

26).

Sacks irá relatar em seu livro “Vendo Vozes” (1998) que a surdez pode ser a

mais cruel de todas as privações sensoriais, por trancar a pessoa numa jaula e,

estando incapacitada para ouvir, tem a sua capacidade para comunicar-se

7 A Doença de Menière caracteriza-se por ataques recorrentes de zumbido, perda auditiva e vertigem, acompanhados por uma sensação de pressão no ouvido, distorção de sons e sensibilidade ao ruído. As grandes crises de vertigem com náusea e vômito duram de alguns minutos a muitas horas e podem forçar a interrupção de todas as atividades habituais.

28

fluentemente pela língua oral muito reduzida. Assim, esta pessoa está sujeita, aos

olhos do mundo, a ser vista como um idiota. Para uma pessoa tomada pela surdez

desta forma, o mundo se transforma estranhamente num mundo bidimensional e

vazio, porque nada existe entre a pessoa surda e o seu campo visual. É preciso

aprender a usar os olhos como tochas no escuro e aprender a ler os lábios para

saber o que as pessoas dizem. Pessoas na mesma condição de surdez de Goya,

não podem ter certeza de nada do que seja falado, pois muito se perde numa

comunicação deste tipo, e também jamais saberão o que dizem os outros, quando

os falantes estão fora do seu campo visual.

E quando o silêncio extremo vier, e as pessoas se assemelharem a fantasmas gesticulando, resta refugiar-se com o seu íntimo, ter paciência e coragem e esperar o nevoeiro passar. (Blackburn, 2003, p. 27)

Com a perda de um dos sentidos os demais são aguçados a ponto de

compensar a audição. As vibrações passam a ser percebidas pelos pés, mãos e

finalmente por todo o corpo. O campo visual se amplia e os reflexos visuais estão

em estado de prontidão. A ansiedade permanente resulta devido a uma atenção

visual mantida e constante, que entra em substituição ao sentido da audição. Não

raro, a pessoa com surdez se cansa de ouvir com os olhos, passando a valorizar os

momentos de “silêncio visual” (momentos isentos de leitura labial).

Blackburn narra sobre o valor que a lembrança dos sons trazidos pela

memória possui para as pessoas que ficaram surdas. Estas memórias são capazes

de iluminar as situações do cotidiano pelo brilho que a recordação destes sons

evocam.

Pelas palavras da Duquesa de Alba, com quem Goya conviveu estreitamente

durante o período de 1796 a 1797, podemos entender sobre a base da comunicação

com os surdos:

Aqui está o famoso pintor Francisco Goya. Ele não pode ouvir nada! Nenhuma palavra! Você precisa falar com ele em sinais, ou escrever mensagens na areia com um bastão. Ou não falar com ele de jeito nenhum, Mas olhe para ele e deixe-o ler os seus lábios!” (Blackburn, 2003. p. 67)

A leitura labial é uma atividade complexa, na qual os signos visuais obtidos

pela “leitura” das expressões faciais, do movimento da boca e da linguagem corporal

29

precisam ser decodificados pelo leitor, sem o acesso ao som. Não é coisa para

iniciantes, é coisa para iniciados, que vão ficando surdos aos poucos e começam a

ser leitores de lábios sem nem mesmo disto tomarem consciência.

A severidade da surdez de Goya tornou impossível dar continuidade ao seu

trabalho como professor na Academia. É possível evidenciar, a partir deste fato, que

o mundo da audição e da fala não terão mais o mesmo espaço e significado que

antes da surdez.

Em 1796, Goya passou a registrar a vida da cidade em imagens, no que ficou

conhecido como “Diários visuais”. Nestes cadernos, Goya desenhava os seus

personagens prediletos, figuras femininas e personagens da cidade. A sua surdez

será interpretada como conseqüência da ruína do mundo exterior e uma tendência a

introspecção. Do ponto de vista da prática artística, a surdez impulsionou Goya ao

exercício sistemático do desenho e da produção de gravuras, manifestações

adequadas a sua necessidade de distanciamento (BARRENA, 2004, p.434)

Em Fevereiro de 1799, o Diário de Madrid8 anunciava a venda de uma

“Colección de estampas de asuntos caprichosos” desenhada e gravada em água-

forte por Francisco de Goya. Os historiadores interpretaram que as imagens das

gravuras são cenas satíricas que denunciavam os vícios e excessos da sociedade

espanhola do final do século XVIII – tais como o matrimônio por interesse, o cortejo,

a prostituição, os desvios da educação infantil, a inutilidade dos testamentos

privilegiados, a decadência do clero e a Inquisição, concluindo com a série

dominada pelo âmbito fantástico do sono e da noite, e de protagonistas que

sugerem bruxas, duendes e demônios noturnos9.

O elemento textual dos Caprichos constitui de muitas anotações, legendas e

comentários escritos sobre os muitos desenhos preparatórios para a criação das

lâminas de cobre, que em si constituem-se em rico material de leitura.

Quando termina a guerra durante o Reinado de Fernando VII, a Inquisição é

retomada e Goya vive um período ainda maior de isolamento e dificuldades. Sua

esposa morre, após 39 anos de casamento e Goya permanece sozinho e surdo,

registrando os “Desastres da Guerra”:

8 Sobre Caprichos: Fonte Calcografia nacional arquivos-Fichas 9 Algumas destas imagens foram editadas em vídeo pela autora e estão disponíveis no seguinte endereço: http://www.youtube.com/watch?v=2W97wJ4_8qU

30

Dizem que Goya é um homem desiludido, atormentado pelos fantasmas de sua imaginação. Mas, talvez não. Afinal, ele tem o poder de tornar cada pensamento, cada dor da realidade da vida diária em imagens que cantam, dançam e triunfam sobre as limitações da existência humana. (Blackburn, 2003, p 123)

Em 1824, quatro anos antes de sua morte, Goya se exilou definitivamente em

Bordéus, na França, com Leocádia, sua segunda companheira e Rosália, sua filha

ilegítima.

Penso que Goya nunca foi tão feliz como ele estava agora em Bordéus. Ele não precisava falar francês e não precisava explicar aos outros que não podia ouvir. (Blackburn, 2003, p. 176)

A surdez, embora tão avassaladora para a interação do indivíduo com a

sociedade não foi capaz de destruir o espírito e a Arte de Goya. O legado

iconográfico que Goya deixou para a humanidade mostra a maestria e a

superioridade alcançada pela sua arte, em grande parte definida pelo seu caminho

marcado pela surdez

4.3. Emmanuelle Laborit

Figura 2 - Emmanuelle Laborit

Emmanuelle Laborit em seu livro autobiográfico “O vôo da Gaivota”, narra

sobre a “descoberta” existencial de ser surda, sua trajetória familiar, afetiva,

acadêmica e profissional. A afirmação da sua identidade Surda ocorre quando ela

entra em contato com surdos adultos e com o aprendizado da língua de sinais

francesa.

O estranhamento da língua oral, no caso de Emmanuelle, a língua Francesa,

e a contribuição da Língua de Sinais para os surdos é essencial em sua narrativa. É

possível conferir as múltiplas dificuldades enfrentadas para a aquisição da língua

oral na criança surda.

31

O aprendizado da Língua de Sinais Francesa e da língua escrita francesa irá

contribuir para a sua formação acadêmica e produção escrita. Emmanuelle acredita

na força da sua narrativa como um “engajamento no combate relacionado com a

Língua de Sinais, que separa ainda muitas pessoas [ ] Utilizo a língua dos ouvintes,

minha segunda língua, para expressar minha certeza absoluta de que a língua de

sinais é nossa primeira língua, a nossa, aquela que nos permite sermos seres

humanos comunicadores”. (Laborit, 1994, p. 9)

O nome do título “O vôo da gaivota” será justificado ao longo da narrativa.

Emmanuelle, apelidada de gaivota pelos pais, era uma criança que gritava muito.

Seu apelido vem da tradição da família de marinheiros. Seu tio será o primeiro a

dizer:- “Emmanuelle grita porque ela não escuta” (Laborit, 1994, p.12). Da

incredulidade dos pais, das muitas consultas ao pediatra até o diagnóstico foi um

caminho doloroso. A criança, agora diagnosticada com surdez profunda bilateral,

inicia o seu tratamento. O desenvolvimento da linguagem oral será tentado com uso

de próteses auditivas, reeducação ortofônica, e nenhum contato com adultos surdos.

A busca pelas causas da surdez é relatada como motivo de grande sofrimento para

os pais de Emmanuelle.

Como os pais de uma criança surda comunicam que a amam?

A comunicação era intuitiva entre Emmanuelle e sua mãe. Ambas inventavam

signos para a comunicação diária e de seus afetos. O descobrimento da surdez

pelos pais é algo muito difícil e significa a perda da criança ouvinte. A criança que

um dia, irá chamar os pais pelo nome.

Abaixo um dos trechos de grande poesia e que traduzem a necessidade de

contato visual entre surdos e ouvintes, trata-se de um relato da mãe de Emmanuelle

(Laborit, 1994, p. 17):

Você me fazia rir até as lágrimas tentando se comunicar comigo por todos os meios! Eu virava sua cabeça em direção à minha para que você tentasse ler as palavras simples, e você me imitava no mesmo instante, era lindo e irresistível.

No trecho a seguir temos a iniciação da pequena Emmanuelle no uso de

próteses auditivas:

Comecei a dizer algumas palavras. Como todas as crianças surdas, usava um aparelho auditivo que suportava mais ou menos bem. Ele colocava ruídos dentro de minha cabeça, todos iguais, era impossível diferenciá-los, era impossível me servir deles (LABORIT, 1994, p.18)

32

A criança surda começa a descoberta da sua diferença, mesmo sem contato

com outros surdos. São marcas que irão acompanhar estas crianças: as próteses

eletrônicas que precisam ser usadas permanentemente, sessões continuadas de

terapia da fala, exames de função auditiva e pouco espaço para outros tipos de

aprendizado. A simples observação do uso aparelho auditivo já demarca diferenças

entre os que escutam e os que não escutam.

É importante notar que todos estes aspectos do tratamento têm um impacto

sobre as crianças surdas e sobre seus pais. A expectativa dos pais falantes é que a

criança seja falante.

As expectativas de pais de crianças surdas podem ser facilmente observadas

no trecho abaixo, onde a mãe de Emmanuelle relata:

O ortofonista10 havia dito para não nos inquietarmos porquê você iria falar. Deu-nos uma esperança. Com a reeducação e os aparelhos auditivos, você se tornaria uma ouvinte. Atrasada, certamente, mas você chegaria lá. [ ] Era tão difícil aceitar que você havia nascido em um mundo diferente do nosso. (LABORIT, 1994, p.24)

Goldfeld (2002, p.17) irá citar que, segundo Saussure, a língua é o aspecto

social da linguagem, já que é compartilhada por todos os falantes de uma

comunidade lingüística. Goldfeld destaca o uso do termo língua, no sentido utilizado

por Bakthin, significando um sistema semiótico, criado e produzido no contexto

social, dialógico, em contraposição a outros códigos que também podem ser

considerados uma forma de linguagem, como a linguagem artística, musical e outras

que não comportam a língua. Consideramos que outras linguagens como as visuais

contribuem com experiências significativas para o aprendizado de crianças surdas.

É impossível não se questionar sobre o pensamento abstrato dos leitores

surdos sinalizados.

Sacks ira perguntar, como os surdos conseguem proposicionar:

Não falamos ou pensamos apenas com palavras ou sinais, mas com palavras e sinais que se referem uns aos outros, de uma determinada maneira. [...] Sem uma inter-relação adequada de suas partes, uma emissão verbal seria uma mera emissão de nomes, um amontoado de palavras que não encerra proposição alguma. A unidade da fala é uma proposição. [...] Falamos não apenas para dizer a outras pessoas o que pensamos, mas para dizer a nós mesmos o que pensamos. A fala é uma parte do pensamento (Hughlings-Jackson, apud SACKS, 1989, p. 32)

10Denominação mais antiga para Fonoaudiólogo, com ênfase na correção da fala

33

Sacks (1989, p. 48), acredita fortemente que a língua de sinais é uma língua

fundamental do cérebro. A inteligência visual de surdos sem a aquisição da língua

pode se desenvolver em contato com estímulos visuais, entretanto, o pensamento,

embora possa existir sem a língua, sofre grande interferência pela falta desta.

Um ser humano não é desprovido de mente ou mentalmente deficiente sem

uma língua, porém está gravemente restrito no alcance de seus

pensamentos, confinado, de fato, a um mundo imediato, pequeno.

(SACKS, 1989, p. 52).

Emmanuelle irá ter contato pela primeira vez com um surdo adulto aos sete

anos. E foi por intermédio de seu pai que Emmanuelle irá conhecer um ator e diretor

surdo chamado Alfredo Corrado. O contato com Corrado trouxe um novo universo a

família de Emmanuelle. Um surdo que utilizava uma língua de sinais, que havia

concluído seus estudos universitários em uma Universidade Americana e que havia

criado o Teatro Visual Internacional, o Teatro dos surdos de Vincennes. A

Universidade tratava-se da Gallaudet criada por Thomas Hopkins Gallaudet nos

EUA.

O termo fala refere-se a produção de linguagem pelo falante nos momentos

de diálogo egocêntrico e interior, ou seja, fala egocêntrica e fala interior (Goldfeld,

2002, p 23). Fala é sinônimo de oralização. Sinalização é sinônimo de língua de

sinais e Sinal é o elemento léxico da língua de sinais. Já Signo, é elemento de

língua, marcado pela história e cultura de seus falantes

O ensino da escrita da LP e de sinais varia grandemente conforme a faixa

etária dos alunos: infantil, juvenil e adultos. O contato da criança/jovem surda/o com

outros surdos, bem como o fato deste grupo ter pais ouvintes ou surdos poderá ser

determinante para a formação da identidade que irá se configurar nesta criança. Há

estudos sobre expressões literárias e artísticas próprias da cultura surda que só

podem ser transmitidas por contato entre estes grupos.

Strobel define as artes visuais como um dos “artefatos culturais”, no qual os

povos surdos fazem muitas criações artísticas que sintetizam suas emoções, suas

histórias, suas subjetividades e a sua cultura. (Strobel, 2008, p. 66). A produção

literária em sinais também deve ser dirigida para surdos, tais como o uso de estórias

visualizadas, conto, piadas, poesias. A exploração visual e espacial das diferentes

34

narrativas deve ser estimulada. Existem “narrativas surdas” próprias da criação

literária surda.

As identidades presentes na narrativa de Emmanuelle são muitas: a criança

surda, a adolescente revoltada, a jovem determinada que irá lutar pela sua carreira

profissional cujos esforços acadêmicos para chegar ao Bacharelado multiplicam-se

por dez, e a identidade surda política e ideológica cuja bandeira de ser uma leitora

visual do mundo pode ser bem entendida na seguinte passagem:

Ter outra concepção de mundo que não seja aquela de meus olhos? Impossível. Perderia a minha identidade, minha estabilidade, minha imaginação, me perderia em um universo desconhecido. Recuso-me a mudar de planeta. (LABORIT, 1994, p. 182)

É por meio dos preciosos relatos de Emmanuelle, nos quais ela nos conta

sobre as suas relações com amigos surdos que ficamos a par do valor da língua de

sinais para o aprendizado da língua escrita francesa:

Aos sete anos eu falava, mas sem saber o que dizia. Com os sinais, comecei a falar muito melhor. O francês oral não era mais uma obrigação, logo, psicologicamente, era mais fácil de aceitá-lo. Depois, tive acesso a informações importantes: Os conceitos, a reflexão; a escrita tornou-se mais simples, a leitura também. (LABORIT, 1994, p.163)

A autora consegue pormenorizar a importância do aprendizado da língua de

sinais e das imagens para a leitura e para a escrita.

Uma palavra é uma imagem, um símbolo. Quando me ensinaram “ontem” e “amanhã” na língua de sinais, quando consegui entender o seu significado, pude falar oralmente com mais facilidade, escrever essas palavras com mais facilidade! (LABORIT, 1994, p.163)

A escrita do surdo é diferente. Para a grande maioria dos surdos a língua

escrita é uma língua dos ouvintes e não tão próxima assim da imagem, do visual,

que Emmanuelle relata. Talvez porque esta autora tenha tido uma forte formação

literária pela influência de seus pais, realidade muito pouco freqüente entre a maioria

dos surdos tanto estrangeiros quanto brasileiros. O mais corrente é o surdo iletrado.

É possível agora entender porque a comunidade surda, usuária de uma língua de

natureza visual-motora e ágrafa terá de empreender grandes esforços se quiser

acompanhar o ensino formal com base na língua oral e escrita.

Por outro lado, deve ser considerada a criação de vínculos entre o leitor surdo

e o texto, sabendo que existe um hiato entre a língua de sinais e a língua falada e

35

escrita. Podemos ainda indagar se leitores surdos, como Emmanuelle pensam em

imagens, sonham em imagens e, se seus cérebros e mentes possuem uma “lógica”

sobre imagem diferente dos cérebros “ouvintes e falantes”.

4.3. Michael Chorost

Figura 3. Michael Chorost

Michael Chorost (Mike) é professor, pesquisador e escritor americano com

PhD em Tecnologia Educacional na Universidade do Texas (Austin). Sua Tese teve

como tema “Como ambientes online estão transformando as salas de aula”

Mike nasceu quase totalmente sem o sentido da audição. Sua mãe contraiu

Rubéola durante a sua gestação e a sua surdez foi diagnosticada aos três anos e

meio, quando sua mãe insistiu junto aos médicos, que fizessem exames mais

acurados em Mike, já que ele ainda não falava e não atendia aos chamados fora do

seu campo visual. Mike ouvia sons altos, mas não vozes, até que seus pais optaram

em iniciar o tratamento com próteses auditivas (aparelhos auditivos) e também o

colocaram em uma escola de ouvintes. Com a sua restrita audição ele aprendeu a

ler e a escrever em Inglês. Como ele mesmo diz: “Sou uma pessoa surda que

cresceu falando Inglês11.”

Mike nos faz refletir sobre o implante coclear. Seu profundo interesse pela

condição humana, bem como o seu relato e pesquisa sobre os desafios que a

tecnologia digital impõe às pessoas implantadas foram narradas no seu Livro

publicado em 2005: Rebuilt: My Journey Back to the Hearing World (Reconstruído:

Minha Jornada de volta ao mundo ouvinte).

Em Julho de 2001, Mike perdeu totalmente a sua audição remanescente.

Realizou a sua cirurgia de implante coclear três meses depois da perda. Hoje, Mike

é um leitor intérprete de sons digitalizados. Toda a sua experiência narrada é

pautada em pormenores de descrições sobre as tecnologias do implante coclear

dentro do contexto histórico, o desenrolar do seu tratamento clínico, terapias de fala 11Conferência de Michael Chorost proferida na Universidade de Gallaudet em Março de 2007. Disponível em: http://videocatalog.gallaudet.edu/player.cfm?video=2718

36

e o seu êxito como leitor de signos gráficos e digitais. Ele irá se apoiar nos estudos

das Neurociências, neuroplasticidade cerebral, cibernética e tecnologias

educacionais de ensino à distância para a sua formação humana e profissional.

Atualmente, Mike contribui para os seguintes jornais e revistas: The

Washington Post, Wired, The Futurist, The Scientist, Technology Review, Sky, the

Stanford Medical Report. É colaborador, desde 2007, em um especial na TV

americana sobre implantes cerebrais: The 22nd Century. Possui mais dois livros

publicados em co-participação: Educating Learning Technology Designers: Guiding

and Inspiring Creators of Innovative Educational Tools (2008) e World Wide Mind:

The Coming Integration of Humans and Machines. É professor visitante na

Universidade de Gallaudet em Washington D.C., no biênio de 2008-2009, e neste

momento vem se interessando na contribuição da comunidade surda de Gallaudet,

que possui um senso de comunidade muito forte, para a promoção da comunicação

por meio de tecnologias.

Esta descrição sucinta de sua produção acadêmica é necessária no sentido

de revelar que é possível que pessoas surdas possam ter o domínio pleno da língua

escrita quando a oralização e o uso de próteses auditivas são a alternativa de

“tratamento” escolhida para estas crianças no período de aquisição da fala e

linguagem.

Mike acredita que nos próximos 20-30 anos com a diminuição das causas da

surdez, por meio de vacinação contra meningite, avanços na pesquisa genética e

pela regeneração das células cocleares por nanotecnologia, só teremos surdos por

opção ou por questões econômicas. As pessoas implantadas jamais terão uma

audição semelhante à audição biológica, entretanto, por meio de programas

especializados poderão ter uma audição altamente seletiva e programada,

modificando a condição de surdez enquanto deficiência auditiva para uma condição

de vantagem.

Sobre a condição de implantado coclear, dependente de partes mecânicas e

mapas computacionais freqüentemente modificados em seu cérebro, ele irá dizer:

Minha audição biônica me torna mais onisciente e não mais desumanizado: ela me faz mais humano, porque eu tenho de estar constantemente consciente da minha percepção de quanto o Universo é provisório e quanto as decisões humanas precisam ser revistas constantemente (CHOROST, 2005, p. 157).

37

Como leitores digitais de sons, os implantados cocleares ainda estão com a

sua identidade em formação. Muitas questões devem amadurecer ao longo das

próximas décadas, principalmente no que diz respeito às crianças implantadas e

posterior desenvolvimento lingüístico.

Mike acredita que os implantados cocleares se aproximam do tipo de ser

humano historicamente conhecido como homo faber, ou humano artístico e criativo:

Homo Faber é fundamentalmente uma criatura da tecnologia, porque não pode haver arte sem lápis e papel, pincéis, guitarras, saxofones e processadores de voz. (se você pensa que lápis e papel não são tecnologias, tente fazê-los você mesmo). Homo Faber é uma pessoa que alcançou uma profunda conexão com o mundo da tecnologia da qual não podemos prescindir. (CHOROST, 2005, p. 181).

4.4. Leitores surdos do Instituto Nacional de Educa ção de Surdos/INES

Figura 4 – Alunos no SINFE/INES

O Instituto Nacional de Educação de Surdos-INES, é uma Instituição secular e

referência nacional na Educação de surdos. O INES tem a missão de:

Efetivar o dever do Estado de proporcionar educação e profissionalização que atenda a todos os seus cidadãos, surdos ou não, superando discriminações e favorecendo o convívio e a valorização da diversidade, apoiando as mudanças necessárias para que os sistemas de ensino e o mercado de trabalho brasileiro tornem-se inclusivos (INES, 2009)

Em 1875, Flausino José da Gama, ex-aluno do INES que trabalhou como

“repetidor” na Instituição de 1871 a 1879, propôs ao diretor da época, Tobias Leite a

documentação dos sinais utilizados pelos surdos-mudos. Estes sinais poderiam,

segundo Flausino, serem úteis para a comunicação entre surdos e falantes. (GAMA,

1875)

38

A publicação do livro “Iconographia dos Signaes dos Surdos-Mudos” com

desenhos de Flausino, segundo Tobias Leite, tinha os seguintes fins:

[ ] vulgarizar a linguagem dos sinais, meio predileto dos surdos-mudos para a manifestação de seus pensamentos, permitindo aos pais, professores primários e todos os que se interessam por esses infelizes ficarem habilitados para os entender e se fazerem entender; e mostrar o quanto se deve apreciar um surdo-mudo educado (GAMA, 1875).

Acreditamos que Flausino José da Gama, tenha tido um papel de autoria no

que diz respeito a acessibilidade à Linguagem de sinais, atualmente, denominada

Língua de Sinais12, por pessoas ouvintes.

Para uma aproximação do perfil de leitura e escrita e uso da internet pelos

alunos pré-vestibulandos do INES foi aplicado um questionário cujos resultados são

apresentados a seguir. O conteúdo e a descrição do questionário foram

apresentados no capítulo III - Metodologia.

Este grupo de alunos é marcado pelo uso da Língua de Sinais como primeira

língua. A falta de domínio pleno da língua portuguesa escrita (segunda língua) pode

ser verificado nas transcrições literais apresentadas na tabela da página 39.

Resultados:

• A língua mais utilizada na comunicação diária é a LIBRAS (90%);

• Possui computador (95%);

• Usam o computador de 2 a 3 vezes por semana ( 60%);

• Orkut e o MSN são os sites de relacionamentos mais utilizados ;

• Possui e-mail (99%);

• Acessam jornais e o Google (30%);

• A leitura em língua portuguesa varia de razoável a boa (40%);

• A leitura de revistas, jornais e livros é muito pequena (20%);

• A maior dificuldade com a internet é a falta de legenda (escrita) (70%);

• A maioria concorda que a internet é boa e é muito utilizada por este grupo

para informação e pesquisa (90%);

• Desconhecem o que é “Educação à Distância” (100%).

12As línguas de sinais são utilizadas pelas comunidades surdas e apresentam as propriedades específicas das línguas naturais, sendo, portanto, reconhecidas enquanto línguas pela Lingüística. As línguas de sinais são visuais-espaciais captando as experiências visuais das pessoas surdas (Quadros, 2007).

39

A seguir a transcrição das respostas do tipo “aberto” ao questionário

mantendo a redação original dos alunos.

Turma do Pré-vestibular- Noturno

Você acha que a internet é boa?

(8) sim () não

Por quê?

• Ajuda de informação a internet “sic”13.

• Bons mais ou menor “sic”.

• Porque para pesquisa o trabalho “sic”.

• Eu aprender muita coisa nova internet “sic”.

• Gosto muito de fazer uma busca para informar muita bem. É importante “sic”.

• Tem informação é aprenda “sic”.

• A gente precisa conhecer as informações na internet “sic”.

• Muito boa conversa legal otmio “sic”.

Turma do Pré-vestibular- Vespertino

Você acha que a internet é boa?

(6) sim ( ) não

Por quê?

• Porque eu gostei de pesquisa “sic”.

• Internet é bom porque eu aprendo muita coisa e desenvolver o crescimento da

informação “sic”.

• Tem muita informação “sic”.

• A internet tem coisas muitas as informações “sic”.

• Porque a internet tem muita informação , muita coisa pra entender melhor “sic”.

Quadro 2 - Tabelas com resultado parcial do questionário aplicado aos alunos do INES em 24 e

28/11/2008.

13SIC- Segundo Informações Colhidas- Utilizado este termo quando a transcrição é literal e o texto original não pode ser corrigido, neste caso por ferir normas ortográficas da Língua Portuguesa.

40

Pode-se concluir pela análise das respostas do universo dos alunos pré-

vestibulandos do INES, que embora a maioria utilize a Língua Brasileira de Sinais

(LIBRAS) com maior freqüência, esta mesma porcentagem concorda que a internet

é boa, mesmo com as especificidades destes alunos na compreensão e aquisição

da Língua Portuguesa e apesar da própria limitação que a internet se constitui para

este grupo.

A questão da falta de legenda nos ambientes da internet, como sendo a maior

dificuldade de acesso ao conteúdo, deve ser investigada mais profundamente, ou

seja, que tipo de legenda e em quais tipos de conteúdos este grupo necessita deste

recurso.

Outro dado interessante é que este grupo utiliza a internet para informação e

pesquisa, características essas inerentes à própria internet, mas por outro lado,

desconhecem a modalidade de Educação à Distância (EAD).

O desconhecimento sobre EAD pelo grupo de alunos pode ter relação com a

falta de contato com esta modalidade de Ensino. As diferenças lingüísticas destes

leitores em relação à Língua Portuguesa (falta de domínio da modalidade escrita) e

a falta de um ambiente amigável na internet, bem como a oferta de apenas um curso

na modalidade EAD dentro do INES (o Curso Letras-Libras da UFSC, pólo Sudeste

cuja parte presencial ocorre nas dependências do INES), podem estar relacionadas

ao desconhecimento desta modalidade de ensino pelos alunos do pré-vestibular.

Existem demandas por parte destes leitores que devem ser levadas em

consideração para a elaboração e desenvolvimento de plataformas sócio-linguisticas

amigáveis e direcionadas, também, para as pessoas surdas.

41

5. Semiótica, Cognição e Imagem

Somos seres de linguagem ou seres simbólicos como afirma Santaella:

Nos comunicamos e nos orientamos através de imagens, sinais, setas, números, luzes...[ ] através de objetos, sons musicais, gestos, expressões, cheiro e tato, através do olhar, do sentir e do apalpar.(Santaella, 2007)

Veremos neste capítulo algumas definições de uma ciência chamada

Semiótica para a compreensão das diferentes linguagens que dizem respeito aos

leitores visuais.

Pietroforte, em “Semiótica visual” (2004, p.11), esclarece que a semiótica

estuda a significação , que é definida no conceito de texto. O texto, por sua vez,

pode ser definido como uma relação entre um plano de expressão e um plano de

conteúdo. O plano de conteúdo refere-se ao significado do texto, ou seja, ao que o

texto diz e como ele faz para dizer o que diz. O plano de expressão refere-se à

manifestação desse conteúdo em um sistema de significação verbal, não verbal ou

sincrético.

Os sistemas verbais são as línguas naturais e os não verbais , os demais

sistemas, como a música e as artes plásticas, por exemplo. Já os sistemas

sincréticos , por sua vez, são aqueles que “acionam várias linguagens de

manifestação”, como ocorre entre um sistema verbal e um não verbal nas canções e

nas histórias em quadrinhos (ver tabela a seguir). Isso quer dizer que um mesmo

conteúdo pode ser expresso por meio de planos de expressão de ordens diferentes.

Pietroforte (2004) exemplifica que “o conteúdo que se manifesta no sistema verbal

em um romance, por exemplo, pode ser adaptado para o cinema em um plano de

expressão sincrético, ou inspirar uma sinfonia ou uma pintura em planos de

expressão não verbais.

Conceito de texto na Semiótica

Plano de expressão:

Sistema verbal Línguas naturais

Sistemas não verbais Música, artes plásticas, moda, culinária

Sincréticos Acionam várias linguagens de manifestação

Plano de conteúdo:

Refere-se ao significado do texto

Quadro 3 - Tabela com descrição do conceito de Texto segundo Pietroforte, 2004.

42

Embora existam tantas linguagens, o sistema verbal parece ser prevalente na

comunicação social. Isso pode ser atestado nos meios educacionais, nos locais de

trabalho, nos meios de comunicação em massa, nas interações sociais, etc.

Quando buscamos pelos sistemas não verbais e sincréticos em nosso

sistema educacional formal, percebemos como as linguagens não verbais

encontram-se mais distantes de nosso cotidiano.

5.1. Imagem enquanto representação visual.

No livro “Imagem. Cognição, semiótica, mídia” (2005), Lúcia Santaella

discorre sobre a imagem no campo da Semiótica.

São conteúdos importantes para o nosso trabalho: os domínios da imagem e

os conceitos de representação .

Os domínios da imagem são dois: imagens como representações visuais :

desenhos, pinturas, gravuras, fotografias, imagens cinematográficas, televisivas,

holo e infográficas. E as imagens mentais , que configuram um domínio imaterial,

que ocorre no teatro da mente: visões, fantasias, imaginações, esquemas, modelos

ou, em geral, como representações mentais. A autora destaca que:

Não há imagens como representações visuais que não tenham surgido de imagens na mente daqueles que as produziram, do mesmo modo que não há imagens mentais que não tenham origem no mundo concreto dos objetos visuais. (SANTAELLA, 2005, p.15)

Figura 5 – Jano. Diários de viagem: Rio de Jano. Disponível em: <http://www.hybrazilfilmes.com/riodejano/desenhos.html> acesso em Set/2009.

Estes domínios equivalem, grosso modo ao lado perceptível e mental da

imagem.

43

O conceito de representação assume um contexto mais complexo na

atualidade, e assume para além de referências a signos, símbolos, imagens para o

campo da ciência cognitiva que abrange temas como representação analógica,

digital, proposicional, cognitiva ou mais genericamente, representação mental.

Figura 6 - René Magritte. A Traição das imagens, 1935. Óleo sobre tela. Legenda: “Isto não é um cachimbo”.

Conceitos de representação em Semiótica (Santaella, 2005):

• Representação como signo;

• Representação como relação sígnica;

• Representação como referência e função de apresentação;

• Representação como signo icônico.

Destes conceitos são de nosso interesse a representação como signo , ou

sinônimo de signo, e a representação como signo icônico.

O signo é uma coisa que representa uma outra coisa: seu objeto. Ele só pode

funcionar como signo se carregar esse poder de representar, substituir uma outra

coisa diferente dele. O signo não é o objeto. Ele está apenas no lugar do objeto.

Segundo Santaella, (2005, p.58):

Um signo intenta representar, em parte, pelo menos, um objeto que é, portanto, num certo sentido, a causa ou determinante do signo, mesmo se o signo representar o seu objeto falsamente. Mas dizer que ele representa seu objeto implica que ele afete uma mente, de tal modo que, de certa maneira, determine naquela mente algo que é imediato devido ao objeto. Essa determinação da qual a causa imediata ou determinante é o signo, e da qual a causa mediata é o objeto, pode ser chamada de o Interpretante .

44

A representação como signo icônico pode ser entendida como

determinações conceituais, onde uma representação é um signo baseado numa

relação de semelhança. A base desse pensamento se encontra na epistemologia

medieval, de acordo com a qual as species, as formas externas de manifestação das

coisas, são semelhanças das coisas (Scheerer Apud Santaella, 2005).

Segundo Silveira (1995; p.106), “quanto mais icônica for a informação

codificada pela cláusula, maior número de parâmetros da transitividade ela

comportará.” Identificando a transitividade como a propriedade cognitiva responsável

pela efetividade como as situações ocorrem no real, pode-se, por analogia, verificar

que no cotidiano a iconicidade de uma determinada imagem é identificada pelo

sujeito com mais clareza pela quantidade de eventos nítidos apresentados por esta

imagem.

Desta forma, o grau de iconicidade de uma imagem está vinculado às ações

representadas por ela, sujeitas a codificações semânticas específicas. Ainda nas

palavras de Silveira (1995, p.111); “Porém uma situação só se manifesta para um

sujeito se, e somente se, ele for capaz de, naquele momento, representá-la

mentalmente.” Logo, as imagens devem estar carregadas de significado para que

possam favorecer um aprendizado mais seguro de leitura e escrita por parte do leitor

surdo.

Os modelos da representação mental estão associados a parte da Semiótica

que parte do pressuposto de que as representações cognitivas são signos, e

operações mentais que ocorrem na forma de processos sígnicos.

A imagem enquanto representação visual deve ser considerada como uma

potencialidade no desenvolvimento de tecnologias de acessibilidade para os leitores

surdos.

5.2. Algumas definições em Semiótica

Ícone: É um signo que tem alguma semelhança com o objeto interpretado.

Iconicidade: Na realidade, o código verbal não pode se desenvolver sem imagens.

Nosso discurso verbal está permeado de imagens, ou como Peirce diria, de

iconicidade.

45

Assim, a teoria das imagens sempre implica o uso de imagens. A palavra “teoria”, aliás, já contém na sua raiz uma imagem, pois “teoria”, na sua etimologia, significa “vista”, que vem do verbo grego theorein: “ver, olhar, contemplar ou mirar” (Santaella, 2005: p. 14).

Iconografia: Arte de representar por meio da imagem. Conhecimento e descrição de

imagens (gravuras, fotografias, etc). Documentação visual que constitui ou completa

obra de referência e/ou de caráter biográfico, histórico, geográfico, etc.

Figura 7- GAMA, F. Iconografia de Sinais, 1875. Sinal para “imagem”.

Isomorfismo: Deve ser entendido para além da semelhança estrutural entre o plano

fônico e plano semântico da língua, principalmente em relação à semelhança

estrutural entre o plano visual e semântico da língua. Assim, as imagens serão

entendidas como a relação estrutura-função mais óbvia, no que se refere ao uso das

imagens como estratégia de ensino de leitura e escrita em língua portuguesa para o

indivíduo surdo.

Linguagem: Gama incrivelmente intricada de formas sociais de comunicação e de

significação que inclui a linguagem verbal articulada, mas absorve também a língua

de sinais (surdos), das artes visuais, o sistema codificado da moda, da culinária e

tantos outros (adaptado de Santaella, 2007, p 11 e 12).

Língua : Sistema de leis cujas palavras/signos possuem denotação e significação

(Santaella, 2005, p. 101).

Semiótica: É a ciência que tem por objeto de investigação todas as linguagens

possíveis (Santaella, 2007, p).

Símbolo: Não pode indicar uma coisa em particular; ele denota uma espécie (um

tipo de coisa). E não apenas isso. Ele mesmo é a uma espécie e não uma coisa

única.

Você pode escrever a palavra estrela, mas isto não faz de você o criador da palavra- e mesmo que você a apague, ela não foi destruída. As palavras vivem nas mentes daqueles que as usam. Mesmo que eles estejam todos dormindo, elas vivem nas suas memórias. As palavras são tipos gerais e não individuais (Santaella, 2007).

46

Santaella (2007) cita a definição de Peirce sobre símbolo na qual é definido

que, por si mesmo o símbolo, não é capaz de identificar as coisas às quais se refere

ou é aplicável, mas supõe que somos capazes de imaginar as coisas, tendo elas

associado a palavra.

Desta forma, seria lícito perguntar se para leitores surdos sinalizados, sem

sensibilização pela palavra falada (oralizada) existe uma distância semântica entre o

que é simbolizado e a fala?

Perguntamos se seria possível para o leitor surdo sinalizado, compreender

de forma franca um “símbolo léxico da língua oral”, por exemplo, uma figura de

linguagem do tipo: “água mole em pedra dura tanto bate até que fura”, cujo

significado poderia ser algo como: a persistência no ideal permite mudanças, ou “em

casa de cego quem tem um olho é rei” cujo significado seria: quando a necessidade

é muita, o pouco é valorizado.

47

6. LEITORES SURDOS E ACESSIBILIDADE VIRTUAL MEDIADA POR

TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO (TIC)

O usuário deve desenvolver habilidades, como ter autonomia, saber pensar, criar, aprender a aprender, de modo que possa continuar o aprimoramento de suas idéias e ações, sem estar vinculado a um sistema educacional. Ele deve ter claro que aprender é fundamental para sobreviver na sociedade do conhecimento. Valente. J. A. (1999).

6.1. De que acessibilidade virtual e TIC estamos fa lando?

Algumas questões essenciais que integram este capítulo são:

Quais as linguagens que devem ser consideradas como forma de conhecimento e

informação?

O que é importante na acessibilidade virtual para os leitores surdos?

Existe interatividade e afetividade no mundo virtual?

É possível aperfeiçoar as Tecnologias de Informação e Comunicação de forma a

praticar a igualdade e a democracia a que todos nós temos direito?

Se considerarmos que a surdez e a comunicação estão intimamente

relacionadas é possível compreender o valor dos sistemas verbais e não verbais no

universo dos leitores surdos. Situações do cotidiano nas quais as pessoas ouvintes

participam e interagem podem não ser percebidas da mesma forma por pessoas

com surdez. São exemplos: apresentações musicais, filmes muito informativos como

documentários e noticiários televisivos sem legendas, programação literária ou

cultural do tipo verbal, palestras, apresentações científicas, programações em

espaços de ciência sem acessibilidade ao conteúdo, internet com conteúdos

basicamente no formato escrito.

As línguas de sinais escapam ao registro gráfico. A natureza efêmera do

gesto traz conseqüências para a sua transmissão no espaço e no tempo e para a

sua apropriação. Logo, a língua de sinais ainda não possui uma forma escrita que

seja plenamente funcional para a grande maioria dos surdos.

Embora tenha se acreditado no Séc XVIII, quando Condorcet sonhou com

uma “língua universal”, rigorosa como a geometria, que imaginou ser a linguagem

48

dos “surdos-mudos”, inventada pelo abade de l’Epée e aperfeiçoada por Dom

Sicard14, hoje sabemos que não há como universalizar a língua de sinais, não há

homogeneização possível na linguagem.

É senso comum dizer que os surdos são párias da sociedade, porque utilizam

a língua de sinais como primeira língua e porque convivem em comunidades de

surdos. Entretanto, vimos no capítulo anterior (consultar capítulo IV) as

especificidades dos surdos sinalizados.

A pergunta que se coloca é se seria possível aperfeiçoar as Tecnologias de

Informação e Comunicação de forma a praticar a igualdade e a democracia a que

todos nós temos direito.

Segundo Chorost (2005), o que faz circular as idéias, não são os meios de

transporte, mas os escritores, artistas, a discussão política e a imprensa livre.

As pessoas surdas participam plenamente destes espaços?

A aquisição da língua portuguesa na sua forma escrita é tarefa nacional e

deve ser discutida também entre a comunidade de surdos, como sua segunda língua

e como um instrumento que permita às pessoas surdas a circulação de idéias

globalmente.

Muitas palavras da língua portuguesa não possuem representação em sinais,

principalmente quando estas palavras não fazem parte do universo das pessoas

surdas. Assim, novos sinais precisam ser criados continuamente para darem conta

de aprendizados contextualizados tais como acontece na educação de surdos no

meio acadêmico. A produção de novos sinais precisa ser incorporada em um

“glossário de língua de sinais”. A criação de glossários de sinais permite melhorar o

acesso à informação de maneira que os surdos disponibilizem de uma memória

informativa de visualização dos temas (a serem estudados) nos veículos de

comunicação.

É nesse grande universo comunicacional que devemos entender a

acessibilidade para pessoas surdas, que se constituem em leitores muito

diferenciados de textos. Sendo que a base para a criação de ambientes virtuais

acessíveis deve ancorar-se em grande parte nos textos15 produzidos por esta

14Para estudo aprofundado consultar MATTELART, A. A globalização da comunicação. Tradução Laureano Pelegrin. EDUSC, Bauru, SP, 2000. 15Texto enquanto plano de expressão e conteúdo conforme descrito no capítulo 5. Semiótica, cognição e Imagens.

49

população, que possuem linguagens diferenciadas, e finalmente, é preciso buscar a

adoção de sentidos em comum entre as diferentes culturas.

6.2. Tecnologias de Informação e Comunicação e surd ez

Eis algumas Tecnologias de Informação e Comunicação que trouxeram

qualidade de vida para as pessoas surdas:

• Telefone para surdos (TDD)16 e telefone celular (por meio de envio de

mensagens curtas escritas);

• Legendas tipo close caption offline, estenotipia, closed caption on line em

programas televisivos e videos;

• Janela em língua de sinais: tecnologias de produção de vídeos com

conteúdos em LIBRAS que podem ser disponibilizados em livros eletrônicos,

cursos e em sítios eletrônicos na internet;

• Dicionário de LIBRAS;

• Dispositivos portáteis multimídias (PDAs) equipados para reproduzirem

vídeos com conteúdos em língua de sinais e legendas disponíveis para

informações sobre obras de acervos em Museus e centros culturais;

• Tradutores eletrônicos de LIBRAS;

• Livros eletrônicos e DVDs interativos com literatura, cursos, jogos, atividades

pedagógicas, lúdicas e educativas bilíngues. (consultar Editoras Arara Azul,

LSB vídeo, e a produção de material eletrônico do INES);

• Produção de Glossários de sinais digitais em diferentes áreas de

conhecimento;

• A internet por meio de diversos programas, plataformas acessibilizadas e

interfaces visuais gerando interatividade e produção de conhecimento.

Segundo pesquisa realizada com pessoas surdas pelo Centro de Produção

de Legendas (CPLC, 2007), os programas que as pessoas surdas mais

gostariam que tivessem legenda oculta se distribuem na área da informação,

16TDD (Telecommunications Device for the Deaf) é um sistema de comunicação telefônica digital onde os surdos podem se comunicar com outras pessoas escrevendo suas mensagens em um teclado e visualizando em uma tela as mensagens que lhe são enviadas.

50

cultura, entretenimento e esporte, nesta ordem. A emissora de TV Rede Globo e

SBT já disponibilizam legendas em alguns programas, por isso lideram o ranking

de programas (TV aberta) citados pelas pessoas surdas.

A seguir temos alguns exemplos de Tecnologias de Informação e

comunicação para pessoas surdas:

Figura 8 CDs-ROM bilíngües Libras/Português para crianças surdas e ouvintes em fase pré-escolar e de alfabetização. Disponível em: http://www.editora-arara-azul.com.br. acesso em Set/2009.

Figura 9 - PDA com conteúdo em língua de sinais e legendas para acessibilidade de informações em Museus e Centros culturais. Disponível em: http://www.cnse.es/noticia.php?ID=1185. Acesso em Set/2009.

Figura 10 - Dicionário de LIBRAS. Disponível em: http://www.acessobrasil.org.br/libras/

Acesso em Set/2009

51

Figura 11 - Vídeo em LIBRAS e com legenda. Portal Nacional da EPT/RENAPI. Disponível em

http://bento.ifrs.edu.br/ept/video.php. Acesso em Set/2009.

6.3. Interação no contexto da internet

Uma das características principais da tecnologia criada e distribuída em forma

digital, potencializada pela configuração informacional em rede, é permitir que os

meios de comunicação possam atingir os usuários e obter um retorno imediato.

Neste ponto, a interatividade deve ser pensada no campo da acessibilidade para

pessoas surdas.

Santaella, (2004, p. 161-162) descreve pelo menos quatro tipos principais de

interação interativa:

a) A comunicação face-a-face: estabelecida pela conversação. O diálogo vivo entre

pessoas sempre foi considerado como a forma de realização mais perfeita da

interação comunicativa. Em uma conversa presencial, as pessoas modificam sua

interação dependendo das trocas anteriores. Os aspectos semióticos envolvidos na

interação conversacional são a postura do corpo, sua tensão ou distensão, o nível

de proximidade ou distância que os falantes mantêm entre si, as paisagens do rosto

e os infindáveis sentidos que transmitem, o ar de interesse ou de tédio, pressa ou

calma, pausa, interrupções e intromissões, risos, as meias palavras, as interjeições,

tudo isso compõe um conjunto complexo de sinais e signos, sem os quais a

interatividade não seria possível.

52

b) A comunicação epistolar: modalidade na linguagem escrita. A temporalidade

define esta forma de interação. Os participantes necessitam de dados contextuais

para suprir a falta de componentes semióticos.

c) A comunicação telefônica: Toda a comunicação fica reduzida à voz e ao sentido

receptor da escuta. Com o advento dos modernos celulares, a interação se amplia

para as imagens, textos escritos e arquivos de música, além da conectividade com a

internet. O celular virou um computador de mão.

d) A comunicação mediada por computador: Múltiplas interações mediadas pelo

computador no ciberespaço.

6.4. Comunicação mediada por computador

Veremos que há diferentes modalidades de comunicação mediadas pelo

computador e internet para as diferentes comunidades de leitores surdos.

6.4.1. Interatividade no “Fórum de Implante Coclear ” (FIC)

O Fórum de Implante Coclear ou FIC consiste em um Fórum de discussões

que tem como objetivo principal “estabelecer a troca de idéias e informações entre

os usuários de implante coclear no Brasil bem como ajudar futuros candidatos a

esclarecer suas dúvidas” (FIC, 2009). O fórum também visa “divulgar avanços

tecnológicos na área além de disponibilizar artigos e sites aos interessados no

assunto do implante coclear. A grande contribuição do FIC é ser um espaço virtual

democrático destinado ao relato de experiências, vivências, dúvidas e expectativas

de futuros candidatos ao implante e de familiares de implantados. É comum a

postagem de relatos de implantados de nível “avançado/expertos”, que já passaram

pela experiência de um implante com êxito e que se propõem a dividir as suas

experiências com os demais cibernautas do FIC. A comunicação é mediada por via

escrita na modalidade virtual tipo lista de discussão.

53

Figura 12. Página de acesso ao Fórum de Implante Coclear

6.4.2. Interatividade no Curso Letras-Libras/UFSC

Graças à digitalização e a compressão dos dados, todo e qualquer tipo de signo pode ser recebido, estocado, tratado e difundido, via computador. (Santaella, 2004)

O Curso de Licenciatura e Bacharelado em Letras-LIBRAS é uma iniciativa da

Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), e tem como objetivo formar

profissionais na língua de sinais brasileira (professores e tradutores-intérpretes). Foi

desenvolvido na modalidade à distância em rede nacional em dezoito instituições

educacionais no Brasil 17.

O funcionamento do curso prevê um sistema de aprendizagem organizada

para três modos de informação/formatos: material didático impresso; material

didático on-line através do ambiente de ensino virtual e; material didático em Libras

gravado em DVD. Existe a possibilidade de interação em videoconferência entre

professores das disciplinas, professores tutores e alunos, e encontro de estudos 17INES/RJ - Instituto Nacional de Educação de Surdos; USP - Universidade de São Paulo; UNICAMP- Universidade Estadual de Campinas; CEFET MG. Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais; UFES - Universidade Federal do Espírito Santo; UFC Universidade Federal do Ceará; UFBA- Universidade Federal da Bahia; UEPA - Universidade Estadual do Pará; IFRN - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte; UFPE- Universidade Federal do Pernambuco; UFGD - Universidade Federal de Grande Dourados; UNB - Universidade de Brasília; IFGO Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás; UFAM- Universidade Federal do Amazonas. UFSC- Universidade Federal de Santa Catarina; UFSM - Universidade Federal de Santa Maria; UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul; UFPR - Universidade Federal do Paraná.

54

presenciais entre professores tutores e alunos para esclarecimentos de dúvidas e

aprofundamento de questões.

O ambiente virtual de educação à distância - AVEA - do Curso Letras-

LIBRAS foi desenvolvido pela UFSC, e conta com as seguintes equipes de imagem:

a) AVEA - composta por três núcleos: design, programação e webconferência; b)

DVD - composta por editores, produtores, cinegrafistas e arte finalistas.

O curso foi idealizado pela Profa Dra Ronice Muller de Quadros (ouvinte, filha

de pais surdos) e, atualmente, a coordenação geral está sob a responsabilidade da

profa MSc. Marianne Rossi Stumpf, surda sinalizada.

Figura 13- Interface do AVEA Letras LIBRAS.

FREITAS (2009) cuja pesquisa voltou o olhar para a relação do indivíduo

surdo com a Internet com vistas a entender quando ela é prazerosa e eficiente do

ponto de vista cognitivo e quando leva a uma mudança de comportamento desses

usuários, destaca o pioneirismo da UFSC no campo da Educação de surdos, e

ressalta que o curso Letras-LIBRAS:

[ ] depende também - e muito - de práticas do Design para o contínuo aperfeiçoamento das interfaces utilizadas na educação a distância, adequando-as visualmente à experiência visual de vida, que é uma característica que diferencia e define os surdos. (FREITAS: 2009, p. 81)

55

Importante citar que, segundo o autor, a interface do curso Letras-LIBRAS é

agradável para os seus usuários podendo gerar emoções e sentimentos positivos

desejáveis, fator importante para vinculação do leitor ao conteúdo do texto. (Freitas:

2009, p. 84). Em contrapartida a referência às interfaces que contem textos escritos

em português são invariavelmente negativas.

[ ] os componentes legibilidade, usabilidade e agradabilidade me parecem ser de consideração quase obrigatória para os responsáveis pela implementação dos textos que servem de suporte ao conteúdo programático de cursos para surdos escritos em português (Freitas: 2009, p. 87).

Destacamos na pesquisa de Freitas as estatísticas apresentadas quanto ao

conteúdo disponibilizado no AVEA Letras-LIBRAS que apontaram para uma “média

de quatro por cento de conteúdo imagético para noventa e seis por cento de

conteúdo em língua portuguesa” cujo, segundo o autor, “os surdos não dominam e

em geral não gostam”. (Freitas: 2009, p. 89)

Em pesquisa anterior cujo tema é a internet como fator de exclusão do surdo,

a acessibilidade à internet pelas pessoas surdas foi avaliada:

[ ] a Internet não passava de um conceito vago de algo que acontece no “mundo dos ouvintes”. Para os surdos pesquisados, na época, a Internet seria algo importante e positivo para eles, mas as referências eram sempre vagas e dispersas, além do fato de que não conseguiam sequer definir a Internet e suas aplicações satisfatoriamente. [ ] a grande maioria desta população permanecia sem uma desejada familiaridade com a Internet e suas possibilidades de interação com o resto do mundo (Freitas 2007: p.11).

Freitas esclarece que o motivo desta desvinculação com a internet é que a

maioria do conteúdo da web está veiculada “na forma escrita e a falta de uma

educação adequada faz com que a maioria dos surdos não consiga ler e entender o

conteúdo do que foi lido; então, neste sentido a Internet é um meio excludente para

esta população, já que não serve para integrar os surdos à maioria ouvinte.” (Freitas,

2009, p.92)

Embora possamos inferir que a internet em si é inclusiva, o paradigma que a

rege pode ser considerado excludente. Logo, do ponto de vista do paradigma da

“cultura surda”, a internet é excludente, pois é feita de homens e mulheres ouvintes.

56

Esperamos que a experiência advinda de Cursos pioneiros como o Letras-

LIBRAS possam ser dirigidas no sentido de ampliação de produção de tecnologias e

metodologias que priorizem as diferenças dos leitores surdos.

6.4.3. Interatividade no Orkut

Afinal, existe acessibilidade virtual para surdos na internet?

As redes de relacionamento amplamente divulgadas na internet como o

Orkut, são muito acessadas pelas pessoas surdas. Conforme vimos nos resultados

do questionário aplicado com os alunos do INES, e na observação dos alunos no

laboratório do SINFE é possível visualizar o impacto que a socialização on-line do

Orkut provoca nos usuários surdos.

O quê, nesta rede de relacionamentos, vem criando entre os leitores surdos,

sentimentos de pertencimento a esta comunidade?

Com base na consulta do site oficial do Orkut18 temos as seguintes

informações dirigidas ao usuário:

Missão:

• Ajudá-lo a criar uma rede de amigos mais íntimos e chegados.

Sobre o Orkut:

• O Orkut é uma comunidade on-line criada para tornar a sua vida social e a de

seus amigos mais ativa e estimulante. A rede social do Orkut pode ajudá-lo a

manter contato com seus amigos atuais por meio de fotos e mensagens

(grifo meu) , e a conhecer mais pessoas;

• Com o Orkut é fácil conhecer pessoas que tenham os mesmos hobbies e

interesses que você, que estejam procurando um relacionamento afetivo ou

contatos profissionais. Você também pode criar comunidades on-line ou

participar de várias delas para discutir temas atuais, reencontrar antigos

amigos da escola ou até mesmo trocar receitas favoritas.

18http://www.orkut.com.br/Main#About.aspx.

57

Sobre o nome do Orkut:

• Orkut.com é um serviço de rede social que leva o nome do engenheiro do

Google que o desenvolveu, Orkut Buyukkokten. (É mais fácil soletrar

"Orkut" que "Buyukkokten".) A rede foi criada como um projeto

independente para ajudar pessoas de todo mundo a se conectarem.

Sobre o Estatuto da comunidade:

• O Estatuto da Comunidade é feito de regras a serem compartilhadas entre a

comunidade do orkut.com. O orkut.com é um lugar onde usuários podem

expressar suas próprias crenças e valores, e nosso Estatuto da Comunidade

ajuda a manter um ambiente positivo que permita tal expressão.

Vejamos agora a interface de uma página de entrada de um usuário do Orkut:

Figura 14- Página do Orkut com interface de leitura visual.

O cibernauta usuário do Orkut logo irá perceber que não existe nenhum

critério específico de acessibilidade para pessoas com necessidades especiais, tais

como pessoas cegas, com baixa visão ou surdez. Não existe no sítio do Orkut

recursos de acessibilidade, nem respeito às regras para validação do conteúdo, nem

mesmo o cumprimento da legislação que estabelece normas gerais e critérios

básicos para a promoção da acessibilidade. Não há tradutores de conteúdos, nem

58

janelas em língua de sinais e muito menos uma abordagem bilíngüe, e ainda assim o

site é amplamente acessado por leitores surdos.

6.4.4. Alguns critérios de acessibilidade na intern et para leitores surdos

Conforme descrito no capítulo IV, acreditamos que há diferenças entre a

diferença (diferentes leitores surdos). Neste sentido buscamos apresentar neste

trabalho alguns exemplos de TIC e de sites cujos serviços e metodologias buscam

privilegiar a acessibilidade e a educação de pessoas surdas.

Ao observar que um site como o Orkut, não diferencia entre pessoas com

necessidades especiais ou não, e mesmo assim, atende a uma comunidade de

pessoas com necessidades “específicas”, buscamos na literatura sobre ambientes

informatizados de aprendizagem, alguns critérios que favoreçam a usabilidade19

destes ambientes. O objetivo não pretende nem de longe tecer uma avaliação de

interfaces ou estratégias de design gráfico para construção de ambientes virtuais

acessíveis aos leitores surdos, mas articular alguns conceitos teóricos com o tema

em tela.

É possível que, posteriormente, com a contribuição inicial desta monografia,

possamos aprofundar o estudo sobre acessibilidade à internet pelo grupo estudado

em um Universo que favoreça a participação ativa de usuários surdos.

Existe na literatura conjuntos de critérios para a identificação da qualidade do

software educativo (SE).

Com base em Oliveira, Costa e Moreira (2001; p. 119-137), disponibilizamos a

seguir, alguns critérios específicos para avaliação de programas educativos que

podem contribuir no entendimento da grande aceitação do Orkut pela comunidade

de pessoas surdas:

1. Linguagem versus público-alvo: o vocabulário e as estruturas de frases

da interface do SE com o usuário são adequadas ao público-alvo;

2. Universalidade da linguagem: utilização de uma linguagem de interface

com o usuário que possibilite o uso do SE por um público alvo mais

19Usabilidade é a questão relacionada a quão bem os usuários podem usar a funcionalidade definida, sendo este um conceito chave em Interface-humano-computador. Ressaltamos que a usabilidade é somente um dos muitos critérios utilizados para a avaliação da aceitabilidade de um sistema computacional (Rocha & Baranauskas, 2003: p.18).

59

amplo. A presença de regionalismos só se justifica quando se tratar de

versões específicas para diferentes regiões;

3. Navegabilidade: possibilidade de acessar com facilidade todas as

partes do SE;

4. Layout de tela: telas com visual esteticamente adequado: texto bem

distribuído, imagens e animações pertinentes ao contexto, efeitos

sonoros oportunos como sons, apitos e acompanhamentos musicais;

falas adequadas ao conteúdo;

5. Carga cognitiva: Em cada tela, quantidade adequada de elementos

capazes de captar a atenção do usuário (em vez de desviá-la):

imagens, texto, sons e animações presentes numa quantidade que

permita ao usuário uma aprendizagem sem sobrecarga ou deficiência

de informações.

Facilidade de uso:

1. Legibilidade: possibilidade de diferentes usuários entenderem o

programa com relativa facilidade;

2. Clareza: funções codificadas de forma clara e de fácil

entendimento;

3. Rastreabilidade: identificação pelo usuário dos caminhos por ele já

percorridos.

A adesão ao Orkut por leitores surdos traz à tona não somente critérios de

aceitação e uso de um determinado ambiente virtual, mas, também se existe

interatividade e afetividade no mundo virtual.

Na observação destes usuários no Laboratório do SINFE/INES é visível o alto

nível de motivação que este ambiente provoca nos usuários. A comunicação por

meio de imagens e textos curtos permite uma interação com recursos que podem

ser utilizados sem um amplo domínio da língua portuguesa. No rosto de cada

usuário percebemos que há socialização entre a comunidade e que a afetividade é o

ingrediente que mais realça o sabor da interação entre os usuários do Orkut.

No que se refere ao texto do Orkut ele possui um plano de expressão

sincrético, com várias linguagens de manifestação, rico em imagens fixas e em

movimento (fotos e vídeos), recados e depoimentos no formato de sistema verbal e

não verbal e nível alto de iconicidade e signos icônicos cujos significados parecem

60

favorecer um aprendizado com poucas abstrações e leitura de texto mais permeável

ao leitor surdo.

Nas imagens disponibilizadas no Orkut, grande parte da informação é de

caráter visual, dispensando uma narrativa descritiva do evento, atendendo uma das

especificidades da leitura dos surdos: a leitura visual de imagens.

6.5. Proposta de Vídeo.

O vídeo elaborado pela autora foi disponibilizado no endereço eletrônico

abaixo e tem por objetivo sugerir o uso prioritariamente de imagens, pequenos textos

e legendas para a produção de material digital para leitores surdos.

http://www.youtube.com/watch?v=2W97wJ4_8qU

Figura 15 - Vídeo durante apresentação no site do You tube

No vídeo apresentado foi realizado um exercício sobre a autoria dos leitores

surdos. Ao invés de falar sobre ou falar de alguma coisa, os leitores passam a ter a

autoria pelas próprias narrativas gráficas representadas pela imagem.

61

Foi realizada pesquisa bibliográfica e iconográfica dos artistas referenciados

no vídeo: Francisco de Goya e Flausino Gama.

O material proposto com base na linguagem das narrativas gráficas e

produção de sinais pode ser utilizado como material educativo em sua forma

impressa e digital. O desdobramento da apresentação deve ser incentivado por meio

da discussão das imagens em Fórum virtual, discussão presencial ou uso de outras

tecnologias e manifestações artísticas.

6.6. Lista de itens relevantes para acessibilidade de leitores surdos à espaços

virtuais

Com base no que foi fundamentado neste trabalho, apresentamos a seguir os

itens relevantes que são sugeridos para conferir acessibilidade para os leitores

surdos aos espaços virtuais.

Destacamos que nem sempre a informação gera comunicação. É necessário

que haja interação entre os usuários e os ambientes virtuais.

No desenvolvimento de ambientes virtuais privilegiar:

• Universalidade da linguagem;

• Pedagogia bilíngüe;

• Linguagem contendo imagens gráficas;

• Vídeos com legendas e Língua de Sinais juntamente com os conteúdos

textuais escritos;

• Navegabilidade;

• Layout de tela;

• Carga cognitiva;

• Legibilidade;

• Clareza;

• Rastreabilidade;

• Interatividade e afetividade;

• Nível alto de iconicidade;

• Ferramentas síncronas: webconferências e chats;

• Ferramentas assíncronas: fóruns e envio de e-mails.

62

No desenvolvimento de ambiente virtual de educação à distância é desejável

uma equipe composta de pessoas com experiência em design, programação,

edição e produção de vídeos.

O trabalho em parceria com pesquisadores surdos, assistentes educacionais

de Língua de Sinais, tradutores intérpretes, associações de surdos consiste em

item obrigatório para assegurar a autoria e a interculturalidade do material

produzido.

63

Capítulo VII- CONCLUSÃO

A discussão sobre acessibilidade virtual para leitores surdos está apenas

começando. Muito pouco ainda tem sido experimentado neste campo que possa ser

suficiente para falarmos de “acessibilidade virtual” para estas pessoas, considerando

o paradigma atual que rege o ciberespaço e cibercultura.

A internet para os leitores surdos sinalizados é marcada por baixa produção

de material amigável, design gráfico com muito texto na forma escrita e com poucas

imagens e poucas soluções pedagógicas direcionadas para o bilingüismo.

A tecnologia de acessibilidade virtual para leitores surdos ainda é muito tímida

no campo da utilização de linguagem visual para minimizar/superar obstáculos da

falta de sinais (em língua de sinais) em conhecimentos científicos e em outros

conhecimentos no campo da educação.

As linguagens com base em sistemas sincréticos que acionam várias

linguagens de manifestação possuem mais chances de alcançar os leitores surdos.

Entretanto, não necessariamente estas linguagens estão associadas a plataformas,

sites ou programas específicos para leitores surdos, como é o caso do Orkut. Isso

evidencia que muito podemos aprender com a linguagem e o propósito que rege

estes ambientes.

Iniciativas como o Curso Letras-LIBRAS são muito promissoras no campo da

Educação de surdos por privilegiarem uma metodologia de ensino aprendizagem

com base na valorização da Língua de Sinais e recursos tecnológicos voltados às

necessidades de estudantes surdos.

Se não temos ainda uma educação diferenciada, que não pode ser tomada

por inclusiva, visto que o paradigma é excludente em relação às diferenças, então

deve haver uma mudança paradigmática?

Como as pessoas que foram colocadas à margem das decisões e produção

de conhecimento podem se aproximar do centro e serem partícipes das decisões

que regem os novos paradigmas inclusivos?

Novos sentidos sobre a surdez, a audição e a escuta devem ser colocados

em evidência nos ambientes de produção de conhecimentos virtuais e presenciais.

Os leitores surdos implantados que transitam no mundo do silêncio auditivo e

do som, (uma vez que podem entender a questão da hegemonia da palavra, devido

64

a sua experiência de exclusão em várias situações que a compreensão do discurso

fica ameaçada), possuem uma participação mais restrita nas situações nas quais a

comunicação se dá por discurso oral. Nestas situações fica evidenciado que o

discurso e as decisões se estabelecem em tempos diferenciados entre implantados

e ouvintes.

Na comunicação tal como acontece em ambientes virtuais de aprendizagem

em rede, onde a palavra escrita se sobrepõe a palavra falada, e o áudio é mais

acessível ao implantado por ser um som com menos ruídos é possível falar em

democratização do discurso para estas pessoas e em conforto auditivo. Neste

sentido a internet e seus recursos são acessíveis para esses leitores.

No campo da Educação à Distância, o papel dos professores/tutores é ainda

maior, pois precisam produzir conhecimentos integrados à aprendizagem

significativa.

Como pensar em aprendizados singulares para leitores surdos em contextos

de aprendizagem à distância (Ead)?

Acreditamos em uma pedagogia e política pública de acessibilidade que

possa privilegiar as diferenças, mediadas pelo uso de Tecnologias de Informação e

Comunicação, e que apóie as diferenças lingüísticas destes leitores com base

no bilingüismo e nas linguagens visuais.

Afirmamos a contribuição das artes visuais em ambientes virtuais de

comunicação e aprendizagem e na EAD, e da imagem, enquanto representação

visual intensificando, valorizando e promovendo o leitor, a leitura e a democratização

na acessibilidade ao ciberespaço.

E acreditamos, acima de tudo, que olhar a surdez sem preconceitos é

legitimar o olhar para o outro com olhos de aprendiz.

Aceitar as pessoas surdas como eles são: uma população ágrafa (?),

diferente (?), com uma língua visuo-espacial (?), cyborgs (?) pode parecer ser um

contra-senso no mundo contemporâneo, marcado por uma leitura de diversas mídias

e linguagens híbridas.

As velozes mudanças tecnológicas, que exigem competência e flexibilidade

cognitiva crescentes, deveriam estar lado a lado da democratização e da

acessibilização solidária dos espaços (presenciais e virtuais) de convivência plural.

Acreditamos que este seja um dos grandes desafios a serem superados por

todos nós.

CAPÍTULO VIII- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Capítulo XIX- ANEXO QUESTIONÁRIO DE AVALIAÇÃO DE

ACESSIBILIDADE À INTERNET E ESCOLHA DE CURSO DE

GRADUAÇÂO POR ALUNOS NO PRÉ VESTIBULAR

Prezado aluno,

Estamos iniciando a primeira fase de uma pesquisa sobre acessibilidade ao ensino superior por pessoas surdas. Pedimos a sua participação para responder ao questionário abaixo.

Identificação

Nome:

Sexo:

Idade:

Tempo de escolaridade e local onde estudou:________________________________

____________________________________________________________________

Qual a língua (gem) que mais utiliza?______________________________________________________________

ACESSIBILIDADE A INTERNET

Possui computador em casa?

( ) sim ( ) não

Quantas vezes por semana acessa a internet?

( ) 1 x ( ) 2 x ( ) mais de 3 x por semana

Acessa chats ?

(. ) sim ( ) não

Quais?

MSN ( ) Skype ( ) Orkut ( ) Nenhum ( ) outro:__________________

Utiliza e-mail ?

( ) sim ( ) não

Qual o seu endereço? ____________________________________________

Acessa Jogos?

( ) sim ( ) não

Quais?___________________________________________________________

Acessa Jornais?

( ) sim ( ) não

Acessa sites de Pesquisa?

( ) sim ( ) não

Quais?_________________________________________________________

Lê em língua Portuguesa?

( ) muito bem ( ) bem ( ) razoavelmente ( ) não lê

O que lê?

( ) Revistas ( ) História em quadrinhos/mangás ( ) Jornal ( ) Livros

( )outros._________________________

Ultimo livro que leu:

Quais as dificuldades que encontra no acesso à internet?

( ) falta de legendas ( ) falta de tradutor de texto ( ) conteúdo em língua portuguesa escrita

Dificuldades na leitura da página do site:

( ) uso de hiperlinks (quando clica em palavras muda de cor e levam a outros conteúdos)

( ) digitar um endereço da internet

( ) enviar mensagens

( ) fazer uma busca de tema na internet

( ) entender as mensagens na tela (hiperlinks, acessar e modificar configurações, etc)

Cite um endereço de internet preferido:

________________________________________________________

Você acha que a internet é boa?

( ) sim ( ) não

Por quê?

__________________________________________________________________

Conhece algum curso de Educação à distância (EaD)?

( ) sim não ( )

Qual?______________________________________________

O que acha sobre cursos de Educação à distância (EaD) ?

Pretende fazer vestibular em 2009?

( ) sim ( ) não

Marque o curso que escolheu para o vestibular 2009:

HUMANAS / SOCIAIS 1. Administração

2. Ciências Contábeis

3. Ciências Econômicas

4. Cinema

5. Comunicação Social (Jornalismo)

6. Comunicação Social (Mídias Digitais)

7. Comunicação Social (Publicidade e Propaganda)

8. Design de Moda

9. Direito

10. Geografia

11. História

12. Hotelaria

13. LETRAS/Libras EAD

14. PEDAGOGIA BILÍNGÜE/INES

15. Psicologia

16. Relações Internacionais

17. Serviço Social

18. Teatro

19. Turismo

TECNOLÓGICA

1. Arquitetura e Urbanismo

2. Ciencias da computação/INFORMÁTICA

3. Desenho Industrial

4. Engenharia Civil

5. Engenharia Ambiental

6. Engenharia de Biomédica

7. Engenharia de Produção

8. Engenharia de Petróleo e Gás

9. Engenharia Elétrica - Ênfase em Computação/Automação

10. Engenharia Elétrica - Ênfase em Telecomunicações

11. Engenharia Química

12. Matemática

13. Sistemas de Informação

SAÚDE 1. Biomedicina

2. Ciências Biológicas

3. Ciências Biológicas (Licenciatura)

4. Educação Física (Bacharelado)

5. Educação Física (Licenciatura)

6. Enfermagem

7. Farmácia

8. Fisioterapia

9. Fonoaudiologia

10. Medicina

11. Medicina Veterinária

12. Nutrição

13. Odontologia

14. Terapia Ocupacional

Outro:_______________________________________________________

Por que você escolheu essa profissão ou graduação?

_____________________________________________________________________

Gratos pela sua colaboração, Angela Santos Guimaraes (CEFET Quimica/RJ) Pesquisadora Carlos Henrique Chaves (INES) Orientador