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ISBN: 978-85-7282-778-2 Página 1 ANÁLISE TEMPORAL DA APP E DA APA LAGO DE PEDRA DO CAVALO BA Rafael Oliveira Bessa de Souza (a) , Higo Batista Ferreira (a) , Elane Fiúza Borges (a) , Tainã Cádija Almeida de Mamede (b) (a) Departamento de Ciências Humanas e Filosofia , Universidade Estadual de Feira de Santana, [email protected], [email protected] e [email protected] (b) Departamento de Ciências Exatas, Universidade Estadual de Feira de Santana, [email protected] Eixo: 12.Unidades de conservação: usos, riscos, gestão e adaptação às mudanças climáticas Resumo O uso e cobertura do solo sempre foi condição de importância para os estudos ambientais. No entanto, ao longo dos anos, com o aumento das ações antrópicas sobre a natureza, causando drásticas mudanças no ambiente, fez-se necessário a criação de áreas de proteção, as quais tem o objetivo de proporcionar a preservação e/ou conservação do meio ambiente. O presente estudo objetiva realizar uma análise temporal do uso e cobertura do solo da Área de Proteção Ambiental, assim como da Área de Preservação Permanente do Lago de Pedra do Cavalo, situado ao longo de doze municípios da Bahia. A análise temporal foi realizada através dos dados disponibilizados pelo projeto MapBiomas, referentes aos anos de 1985, 1997, 2007 e 2017. Os resultados obtidos mostram como as ações antrópicas alteraram a área e a diminuição nos impactos sob a cobertura vegetal ao longo dos anos desde a implantação da APP e da APA. Palavras chave: Uso e ocupação; Unidade de conservação, MapBiomas 1. Introdução A pressão das atividades antrópicas sobre áreas naturais e sua vegetação nativa de maneira compulsória, sem um planejamento, tem causado a degradação ambiental (ARAUJO, ALMEIDA, GUERRA, 2008). A proteção dos recursos naturais faz-se necessário seja por

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ISBN: 978-85-7282-778-2 Página 1

ANÁLISE TEMPORAL DA APP E DA APA LAGO DE PEDRA DO

CAVALO – BA

Rafael Oliveira Bessa de Souza (a), Higo Batista Ferreira(a), Elane Fiúza

Borges(a), Tainã Cádija Almeida de Mamede(b)

(a) Departamento de Ciências Humanas e Filosofia , Universidade Estadual de Feira de Santana,

[email protected], [email protected] e [email protected]

(b) Departamento de Ciências Exatas, Universidade Estadual de Feira de Santana, [email protected]

Eixo:

12.Unidades de conservação: usos, riscos, gestão e adaptação às mudanças climáticas

Resumo

O uso e cobertura do solo sempre foi condição de importância para os estudos ambientais.

No entanto, ao longo dos anos, com o aumento das ações antrópicas sobre a natureza, causando

drásticas mudanças no ambiente, fez-se necessário a criação de áreas de proteção, as quais tem o

objetivo de proporcionar a preservação e/ou conservação do meio ambiente. O presente estudo

objetiva realizar uma análise temporal do uso e cobertura do solo da Área de Proteção Ambiental,

assim como da Área de Preservação Permanente do Lago de Pedra do Cavalo, situado ao longo de

doze municípios da Bahia. A análise temporal foi realizada através dos dados disponibilizados pelo

projeto MapBiomas, referentes aos anos de 1985, 1997, 2007 e 2017. Os resultados obtidos

mostram como as ações antrópicas alteraram a área e a diminuição nos impactos sob a cobertura

vegetal ao longo dos anos desde a implantação da APP e da APA.

Palavras chave: Uso e ocupação; Unidade de conservação, MapBiomas

1. Introdução

A pressão das atividades antrópicas sobre áreas naturais e sua vegetação nativa de

maneira compulsória, sem um planejamento, tem causado a degradação ambiental (ARAUJO,

ALMEIDA, GUERRA, 2008). A proteção dos recursos naturais faz-se necessário seja por

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ISBN: 978-85-7282-778-2 Página 2

proporcionar condições ambientais que favoreçam a reprodução das próximas gerações, seja

pelo ritmo lento de recuperação das áreas degradadas, principalmente dos solos (ARAUJO;

ALMEIDA; GUERRA, 2008). Essa importância é tonificada com a criação de leis que visam

proteger os recursos naturais, como por exemplo as Áreas de Proteção Ambiental e as Áreas de

Preservação Permanente. O Novo Código Florestal define APP como:

Áreas de Preservação Permanente são áreas, cobertas ou não por vegetação nativa,

localizadas na zona rural ou urbana, com a função ambiental de preservar os recursos

hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo

gênico de fauna e flora,proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações

humanas (BRASIL,2012).

Enquanto APA, de acordo com o Sistema Nacional de Unidades de Conservação,

estabelecido pela Lei nº 9.052/2000:

é uma área em geral extensa, com um certo grau de ocupação humana, dotada de

atributos abióticos, bióticos, estéticos ou culturais especialmente importantes para a

qualidade de vida e o bem-estar das populações humanas, e tem como objetivos

básicos proteger a diversidade biológica, disciplinar o processo de ocupação e

assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais (BRASIL,2000).

O Lago de Pedra do Cavalo é um lago artificial oriundo do represamento da água pela

Barragem de Pedra do Cavalo e abastece a região metropolitana de Salvador e parte da

microrregião de Feira de Santana (PALMA,2007). Além disso, no tocante ao abastecimento de

energia e água, ele é um importante controlador das cheias que atingiam as cidades de Cachoeira

e São Félix. O Lago está situado em uma zona de transição dos biomas Mata atlântica/Caatinga,

possuindo assim uma paisagem integrada com feições da Caatinga, com espécies arbórea e/ou

arbustiva e remanescentes de Mata Atlântica (SRH, 2003).

O objetivo deste artigo é analisar a evolução das mudanças ambientais sofridas na Área

de Preservação Permanente e na APA do Lago de Pedra do Cavalo, relacionadas a preservação

da cobertura vegetal, evidenciando a dinâmica de uso e cobertura do solo ao longo dos anos na

região.

2. Delimitação da área de estudo

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O presente estudo foi realizado na APA Lago de Pedra do Cavalo (APA LPC), bem

como, na sua Área de Preservação Permanente (APP). No decreto N° 6548/1997 de criação da

APA, fica definido que seu limite corresponde a faixa com largura de 2.000 metros a partir do

limite da APP. Enquanto a APP é assegurada pelo Novo Código Florestal, o qual afirma que as

áreas no entorno dos reservatórios d’águas artificiais, decorrentes de barramento ou

represamento de cursos d’água naturais, tem sua faixa definida no licenciamento ambiental

(Figura 1).

Figura 1 – Mapa de Localização da APA de Lago de Pedra do Cavalo

Deste modo, de acordo com o licenciamento ambiental da usina hidrelétrica de Pedra

do Cavalo pela empresa Votorantim, a posição dos marcos geodésicos para compor a área de

preservação permanente se estende 100m horizontalmente a partir da cota máxima

maximimorum, que é 124m (GENZ, 2006 e PALMA, 2007).

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3. Materiais e Métodos

3.1 Coleta de dados

Os dados de uso e cobertura do solo utilizados para subsidiar as análises foram

provenientes do Projeto MapBiomas (MAPBIOMAS, 2017). Atualmente tem-se disponíveis

32 anos de mapas de cobertura e uso do solo, ano a ano, de 1985 à 2017. O MapBiomas utiliza

computação em nuvem através da plataforma Google Earth Engine para produzir os mapas de

cobertura e uso do solo com resolução espacial de 30m. A metodologia de produção desses

mapas, consiste na busca de todas as imagens disponíveis para o ano, a partir das quais

calculam-se os índices para cada observação e faz-se um mosaico anual, chegando até 105

camadas de informações por pixel.

Utilizou-se também o Modelo Digital de Terreno (MDT), adquirido a partir do Projeto

TOPODATA (VALERIANO e ROSSETTI, 2012), com resolução espacial de 30m e escala de

1:205.000, as quadrículas utilizadas foram 12_405 e 12_39.

Para o presente estudo foram utilizados os mapas do MapBiomas referentes aos anos

1985, 1997, 2007 e 2017. Justifica-se esse recorte temporal para análise, respectivamente: 1)

1985 é o mapa mais antigo disponibilizado pelo projeto, bem como foi o ano de inauguração

da Barragem de Pedra do Cavalo; 2) 1997 foi o ano que o decreto Estadual N°6.548 criou a

APA LPC; 3) 2007 marca 10 anos da APA LPC; 4) 2017 é o mapa mais recente disponível e

ano que a APA completa 20 anos.

3.2 Procedimentos Metodológicos

O método utilizado consistiu em uma abordagem quantitativa, visto que, como afirma

Gerhardt e Silveira (2009), os produtos da pesquisa quantitativa podem ser mensurados e

quantificados. O presente método de abordagem contempla nosso interesse na mensuração dos

dados, bem como a análise da APP e da criação da APA LPC. Tais interesses foram alcançados

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por meio de levantamento bibliográfico, coleta, trabalho de campo, análise de dados e produção

e interpretação visual de mapas.

3.2.1 Normalização dos dados

Os procedimentos para normalização e análise dos dados foram feitos em ambiente

SIG pelo software ArcGIS 10.3. Todos os dados utilizados foram padronizados, no que se refere

a sua projeção cartográfica (utilizou-se a Projeção Universal Transversa de Mercator -UTM) e

o sistema de referência geodésica (SIRGAS 2000, Zona 24S). Segundo GENZ (2006), a área

de preservação permanente do LPC se estende 100m horizontalmente a partir da cota máxima

de inundação 124 m. Está foi adquirida através da extração das curvas de nível do MDT. Em

seguida foi feita a vetorização da cota máxima de 124m, para a delimitação tanto da APP, com

a criação do buffer de 100 m a partir da cota de 124 m de altitude, quanto da APA, com a criação

do buffer de 2000 metros a partir dos limites da APP. Por fim foi feita a organização e

preenchimento da tabela de atributos. A classificação utilizada nos mapas seguiu a

recomendação do MapBiomas, sendo realizadas apenas algumas adaptações.

4. Resultados e Discussões

4.1 Área de Proteção Ambiental

Os resultados da pesquisa demonstraram qua a pastagem teve grande expressão em

todos os anos analisados, desde antes da criação da APA até o último ano analisado, como

mostra a Figura 3. A pastagem, antes da criação da APA, no ano de inauguração da barragem,

ocupava uma área de 60,43%. No ano de criação do decreto ela detinha 70,65%. Após dez anos

de vigor do decreto a pastagem atingiu 80,58%, sua maior expressividade, como mostra a

Tabela 1. Com vinte anos de vigor do decreto, a pastagem, que até o ano de 2007 estava

aumentando significativamente sua área, tem uma queda no padrão e diminui para 71,42%. Tal

expressividade da pastagem deve-se ao fato que na maioria dos municípios que integra a APA,

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está se estende pela zona rural, a qual tem como uma das principais atividades a pecuária

extensiva. Esse tipo de atividade econômica requer a utilização de grandes áreas, além disso

necessita de manejo adequado, pois tende a degradar o solo.

Figura 3 – Mapas de uso e cobertura do solo da APP e da APA LPC dos anos de 1985, 1997, 2007 e

2017.

Esse comportamento, de crescimento nos três primeiros períodos analisados e

diminuição no último, aconteceu também com a área não vegetada. Notou-se que ambas classes

reduziram sua ocupação a partir do ano 2007 em consequência do crescimento, principalmente,

da cobertura vegetal natural. Dentre os fatores que poderiam levar a diminuição dessas classes,

constatou-se que foi a partir do ano 2007 que os municípios situados no Portal do Sertão

passaram a receber projetos de investimentos voltados a agricultura familiar, que buscam

promover atividades ambientalmente sustentáveis. Além disso, outra hipótese levantada é a

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regeneração natural da vegetação, na existência de pastagens abandonadas. Visto que, apesar

da ocorrência da regeneração natural em pastagens ser complexa e envolver a combinação de

diversos fatores, como competição, compactação do solo, é possível se deparar com espécies

da vegetação nativas que conseguiram superar todas as barreiras e regenerar em meio ao um

ambiente que outrora era de pastagem (SOUZA, 2015).

Tabela 1 – Área ocupada por cada classe na APA

CLASSES 1985 1997 2007 2017

ha % ha % ha % ha %

Formação Florestal 13106 27,08% 7343 15,17% 6027 12,45% 8774 18,13%

Formação Savânica 1498 3,10% 1735 3,58% 920 1,90% 1175 2,43%

Pastagem 29247 60,43% 34193 70,65% 38997 80,58% 34562 71,42%

Agricultura e Pastagem 4298 8,88% 4554 9,41% 1862 3,85% 3364 6,95%

Área Urbana 112 0,23% 282 0,58% 252 0,52% 366 0,76%

Área não-vegetada 98 0,20% 263 0,54% 314 0,65% 134 0,28%

Sem informação 3 0,01% 3 0,01% 2 0,00% 2 0,00%

TOTAL 48362 100% 48371 100% 48375 100% 48377 100%

Na APA, as feições de Caatinga, com espécies arbórea e/ou arbustiva, e remanescentes

de Mata Atlântica são as feições vegetais naturais que predominam. A Formação Florestal no

ano de inauguração da barragem ocupava uma área de 27%. Contudo, mesmo com a criação do

decreto, esta classe sofreu sucessivas pressões antrópicas, principalmente pelo avanço da

pecuária extensiva, representada na classe pastagem, diminuindo assim sua ocupação de

15,17% em 1997 e 12,45% em 2007. Um comportamento semelhante aconteceu com a

formação savânica, ainda que tenha acontecido um aumento de 0,48%, entre os anos de 1985 a

1997, em 2007 ela registou seu menor valor, ocupando 1,9% da área.

A classe que representa agricultura e pastagem oscilou bastante durante os anos

analisados. Teve sua alta em 1997, ocupando 9,41% da APA e menor expressividade em 2007,

correspondente a 3,85%. A retomada da ocupação da área por esta classe, se deu concomitante

ao projeto de investimento do PROINF, podendo assim estabelecer relações com os dois

acontecimentos. Já a Área Urbana vem aumentando sua ocupação ano a ano, por conta do

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avanço da mancha urbana dos municípios, principalmente de Feira de Santana e Cabaceiras do

Paraguaçu, visto que nestes a APA também se estende pela zona urbana.

A partir da análise percebeu-se que desde o ano de inauguração da barragem até o ano

de criação da APA, a área que já se encontrava parcialmente degradada e continuou sofrendo

pressões antrópicas fazendo com que a cobertura vegetal natural diminuísse gradativamente,

principalmente a oeste da área, cujo clima é semiárido e ocupada predominantemente pela

prática da pecuária extensiva. Esse padrão de avanço da pastagem em detrimento da cobertura

vegetal natural continuou, e só após 2007, que a APA sinaliza que tem começado a atingir seu

objetivo, visto que, em 2017, a cobertura vegetal natural já se encontrava maior que no ano de

criação do decreto. Contudo, essa retomada da cobertura vegetal natural não significa que a

degradação da APA está diminuindo e que está passando por um processo de recuperação das

suas características ecológicas. Além disso, o crescimento da cobertura vegetal natural não é

homogêneo, concentrando-se na porção sudeste, formando uma espécie de corredor ecológico

nesta área da APA. Essa situação pode ser justificada porque no ano de 2008 o município de

Conceição da Feira instituiu o código municipal do meio ambiente por meio da lei municipal

Lei n° 490/2008. Além disso, Oliveira (2016) aponta que o fragmento de Mata atlântica

estudado na APA encontra-se no estágio médio de regeneração florestal, mas alerta para a

necessidade de forças conservacionistas.

4. 2 Área de Preservação Permanente

As pressões antrópicas sobre a APP, ainda que menor, se comparada a APA, vem

devastando grande parte da mata ciliar, esta que é de extrema importância para a proteção e

equilíbrio dos rios e lagos, como mostra a Figura 3. A classe de agricultura e pastagem que em

1985 ocupava 29,2% (Tabela 2) da área, correspondia às atividades desenvolvidas, em grande

parte, pela população ribeirinha, às margens do espelho d'água, classe que diminuiu decorrente

do represamento da água pela barragem de Pedra do Cavalo e acarretou o reassentamento desta

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população. Posteriormente essa classe diminuiu em detrimento do aumento da formação

florestal, formação savânica e pastagem.

Tabela 2 – Distribuição (ha e %) das classes encontradas na APP

CLASSES 1985 1997 2007 2017

ha % ha % Ha % ha %

Formação Florestal 8446 38,89% 5874 44,53% 3415 26,18% 5519 38,11%

Formação Savânica 384 1,77% 445 3,37% 217 1,66% 324 2,24%

Pastagem 6426 29,59% 5363 40,66% 7448 57,09% 7353 50,77%

Agricultura e Pastagem 6332 29,16% 1245 9,44% 1464 11,22% 989 6,83%

Área Urbana 5 0,02% 2 0,01% 7 0,05% 5 0,03%

Área não-vegetada 122 0,56% 261 1,98% 492 3,77% 291 2,01%

Sem info 1 0,01% 2 0,01% 3 0,02% 2 0,02%

TOTAL 21717 100,0% 13190 100,0% 13046 100,0% 14483 100,0%

Em 1997, tanto a formação florestal, quando a formação savânica registraram seus

maiores valores de ocupação da área, sendo respectivamente 45,5% e 3,4%. Contudo, com

avanço da pecuária extensiva em 2007 a pastagem alcançou 57,1%, em detrimento da cobertura

vegetal natural. A atividade pecuária, consequentemente, ocasionou o assoreamento do solo e

respectivo carreamento do material inconsolidado para os leitos de córregos e riachos que

deságuam no lago, resultando na alteração da qualidade da água (PALMA, 2007).

Conquanto, com a área ocupada pela vegetação natural em 2017, podemos considerar

como um indicativo que a APP está começando a alcançar seus objetivos, pois ela está

recuperando sua cobertura vegetal, visto que apesar dela ter sua menor ocupação registrada em

2007, com 26,18% para formação florestal e 1,66% para formação savânica, a cobertura vegetal

natural vem recuperando sua área, tendo os valores atuais em 38,1% para formação florestal e

2,24% para formação savânica.

As áreas não vegetadas, que em sua maioria está às margens do espelho d’água, são

caracterizadas por áreas de balneário, nas quais proprietários das fazendas desmatam,

removendo a porção de mata ciliar, a fim de abrir novas áreas para atividades de lazer.

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Desta maneira, considerando as classes de formação savânica e formação florestal

como área de preservação da vegetação natural, e as demais como áreas degradadas, é possível

avaliar a situação em que se encontra a APP e se a mesma está em concordância com o Novo

Código Florestal. A análise de situação da APP demonstra que em todos os períodos analisados

que as áreas degradadas superaram as preservadas (Figura 4).

Figura 4 – Mapas de situação da APP do LPC dos anos de 1985, 1997, 2007 e 2017.

Vale ressaltar a importância desses ecossistemas florestais para o impedimento da

erosão do solo, viabilizando a infiltração de água no mesmo e consequentemente o suprimento

de lençóis freáticos e surgimento e/ou preservação das nascentes. Há diversas nascentes dentro

dos limites da APA que estão sofrendo ameaças devido a presença de atividades predatórias

incluindo, a agricultura, pecuária, falta de saneamento básico, entre outras. Logo, necessitam

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com urgência de atenção do Conselho gestor da APA, da comunidade civil e do Poder público

para que possam ser preservadas.

5. Considerações Finais

Esse estudo permitiu inferir grande pressão antrópica sobre APA, onde prevalece

intensa atividade de pastagem que só reduziu nos últimos dez anos em consequência do

aumento da cobertura vegetal natural. Apesar da APA demonstrar nos últimos dez anos uma

diminuição na pastagem, isso não garante que esteja ocorrendo a preservação florestal. O

mesmo acontece nos limites da APP, que sofreu oscilações prevalecendo uma concentração de

áreas degradadas sobre as preservadas em todo o entorno do Lago.

Ainda que seja visível as alterações no meio por parte das intensas ações antrópicas,

vale-se ressaltar a importância da implantação da APA e da APP. Ambas proporcionaram uma

diminuição nos impactos sob a cobertura vegetal natural, além de indicar a necessidade de mais

atenção e visibilidade por parte do poder público.

É importante também ressaltar, a importância da utilização das plataformas digitais,

em questão, o MapBiomas, na detecção de alterações de uso e ocupação do solo, sendo

imprescindível para analisar e interpretar como se deu a dinâmica ambiental na área de estudo

ao longo do tempo.

6. Referências Bibliográficas

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José Teixeira. Gestão ambiental de áreas degradadas. 2. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,

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ISBN: 978-85-7282-778-2 Página 12

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BAHIA. Decreto estadual nº 7575 de 19 de Maio de 1999. Dispõe sobre a alteração dos

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GENZ, Fernando. Avaliação dos Efeitos da Barragem Pedra do Cavalo sobre a Circulação

Estuarina do rio Paraguaçu e Baía de Iguape. Tese (Doutorado). Universidade Federal da

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OLIVEIRA JUNIOR, Israel. O processo de desertificação: a vulnerabilidade e a

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PALMA, Eduardo Gabriel Alves. Aplicação da legislação ambiental no território da APA

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SRH - Superintendência de Recursos Hídricos. SIG Bahia, 2003. CD-ROM.

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