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LAUDO ONLINE Ano II | Número 2 | Dezembro/2014 RESTRUTURAÇÃO Novos prédios no Nordeste e Oeste do Pará, ampliando os serviços de perícias do Instituto Médico Legal e do Instituto de Criminalística. DNA FORENSE Conheça uma das mais importantes ferramentas da Perícia Criminal. CIÊNCIA Conheça melhor o trabalho dos peritos criminais do CPC Renato Chaves através de Resumos de produção científica. REPRODUÇÃO SIMULADA Reconstituições de crimes realizadas por peritos criminais em busca da verdade dos fatos. Novo sistema permite que autoridades judiciária e policial acessem laudos periciais de qualquer lugar do Estado do Pará.

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LAUDO ONLINE Ano II | Número 2 | Dezembro/2014Ano II | Número 2 | Dezembro/2014

RESTRUTURAÇÃONovos prédios no Nordeste e Oeste do Pará, ampliando

os serviços de perícias do Instituto Médico Legal e do Instituto de Criminalística.

DNA FORENSEConheça uma das mais

importantes ferramentas da Perícia Criminal.

CIÊNCIAConheça melhor o trabalho dos peritos criminais do CPC Renato Chaves através de Resumos de

produção científi ca.

REPRODUÇÃO SIMULADA

Reconstituições de crimes realizadas por peritos criminais em busca da verdade dos fatos.

Novo sistema permite que autoridades judiciária e policial acessemlaudos periciais de qualquer lugar do Estado do Pará.

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Centro de Perícias Científicas Renato Chaves Evidência

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Orlando Salgado GouvêaDiretor Geral do Centro de Perícias Científicas Renato Chaves

Editorial

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: FÁBIO

COSTA

/SECOM

Este é um editorial diferente. Diferente por se um editorial de despedida como Diretor do Geral do Centro de Perícias

Científicas “Renato Chaves”. Despeço-me com um sentimento de gratidão e de dever cumprido. Pois, há 22 anos trabalhando como Perito Criminal na Instituição, mostrar a importância do Perito para a sociedade, norteou meu trabalho nesses últimos quatros anos na gestão.

Desde 2011, quando recebi a missão de dirigir o CPC, tive a consciência dos desafios a serem enfrentados. Foram muitas batalhas, vencemos algumas, perdemos outras, mas mostramos nossa força.

A atuação junto ao Governo e a Secretaria de Estado de Segurança Pública e Defesa Social (SEGUP) foram fundamentais na articulação de propostas que asseguram os interesses e conquistas da categoria, entre elas garantir os recursos tecnológicos e humanos para o efetivo exercício de nossas atribuições: a de produzir laudos com segurança e rapidez para o auxílio da Justiça.

Maior visibilidade da nossa atuação profissional, também foi uma das vitórias. De fato, nos últimos anos, nosso Centro cresceu em atuação e transparência, tendo como uma de suas prioridades, o atendimento humanizado dispensado aos usuários. Foram investidos mais de 7 milhões em reformas da

sede, unidades regionais e núcleos avançados, construção de novas unidades no interior do Estado e aquisição de novos equipamentos com alta tecnologia, transformando a Perícia Oficial do Pará em uma das melhores do Brasil.

A grande novidade este ano, foi a criação da Perícia Net pela Gerência de Informática do CPC, que possibilitará o acesso rápido de delegados de Polícia Civil, magistrados e membros do Ministério Público aos resultados de laudos perícias, através do portal Laudo Online. Evidenciando a interação da perícia com os demais órgãos do Estado.

O trabalho não tem parada, nem fim. Temos consciência de que muito ainda precisa ser feito. Fim de gestão, agora me retiro para que um novo Perito Criminal assuma a Direção do Centro, para construir uma nova história e ter novas conquistas, mantendo a Perícia Oficial como uma das mais respeitadas e prestigiadas do Brasil. x

Palavrado Diretor

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ExpedienteVeja nesta edição:

GOVERNO DOESTADO DO PARÁ

Simão Robison Oliveira JateneGovernador

SECRETARIA DE ESTADO DE SEGU-RANÇA PÚBLICA E DEFESA SOCIAL

- SEGUPLuiz Fernandes Rocha

Secretário de Segurança Pública e Defesa Social

CENTRO DE PERÍCIAS CIENTÍFICAS (CPC) “RENATO CHAVES”

Orlando Salgado GouvêaDiretor Geral

Edição Assessoria de Comunicação CPC “Renato Chaves”

Rodovia do Mangueirão, s/n, Bengui, Belém - PA(91) 4009-6050

Editora de texto e conteúdoIvana Barreto – Assessora de Comunicação

CPC RCJornalista SRTE/PA 2560

Revisão fi nalSecretaria de Estado de Comunicação (Secom)

Diretoria de Jornalismo

Diagramação e arte fi nalSECOM

Diretoria de Publicidade e Marketing

Fotografi asIvana Barreto (SRT 2560)

Agência ParáCelso Felipe Bandeira de Sá

Colaboraram com esta ediçãoTerezinha Palha,

Elzemar Ribeiro Rodrigues, Celso Felipe Bandeira de Sá,

Onofre Aracleidy Pereira,Ivanilson Paulo Corrêa Raiol

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O CPC RC inaugurou em junho, o novo prédio do Núcleo Avançado em Paragominas, nordeste paraen-se, que oferece amplos serviços periciais do Instituto Médico Legal (IML) e do Instituto de Criminalística (IC) e excelente estrutura para a população, atendendo tam-bém mais cinco municípios da região, entre eles Ipixuna, Aurora do Pará, Mãe do Rio, Ulianópolis e Dom Elizeu.

Sendo orçado em R$ 421.624 mil, o Núcleo é constituído por dois consultórios médicos, uma sala de necropsia que possui uma geladeira com capacidade de armazenar quatro cadáveres, suprindo a necessi-dade atual, além de uma recepção, sala específica para elaboração de laudos, laboratório, sala administrativa, alojamento, copa, sala de arquivo e banheiros comuns e adaptados para portadores de necessidades especiais.

Novos equipamentos de alta tecnologia estão sendo adquirido para garantir ainda mais qualidade e celerida-de aos laudos, auxiliando as perícias laboratoriais.

Desde abril que a Unidade Regional do CPC RC em Santarém, oeste do Pará, atende em novo endere-ço, fazendo com que os serviços da perícia oficial

paraense sejam ampliados, contemplando os municípios de Rurópolis, Placas, Almeirim, Alenquer, Óbidos, Novo Progresso, Jacareacanga, e outros municípios da região do Baixo Amazonas, beneficiando milhares de pessoas.

Com dez mil metros quadrados, a unidade é consti-tuída por quatro blocos: Instituto Médico Legal (IML), Instituto de Criminalística (IC), galpão de perícias veiculares e setor administrativo.

O bloco destinado ao IML é composto por consultórios de odontologia legal, médico, psiquiátrico

e sexológico, sala de raio-x, banheiros, sala de necropsia, alojamento com banheiro, além do anexo onde serão realizadas necropsias em corpos em avançado estado de decomposição.

Já o bloco do IC possui laboratório de Estudos Físicos, Químicos e Biológicos (EFQB), salas de local de crime contra a vida e patrimônio, engenharia legal, custódia, coleta de materiais e setor de balística forense.

O galpão de perícias veiculares tem salas de perícias específicas, dique e banheiros. A recepção, gerência, copa, cozinha, secretaria, banheiros, salas de reuniões e de arquivos, alojamentos e central de processamentos de dados constituem o bloco administrativo do novo prédio.

O exame sexológico será realizado com mais segu-rança pelos médicos que contarão com o vídeo colpos-cópio, que permite a visualização em monitor, emissão de laudos, comparação com exames anteriores e outras opções para melhorar a qualidade do atendimento aos usuários. x

Institucional

Unidades Regionaisganham novos prédios

FOTO

S: AG

. PARÁ

Paragominas ganha nova sede do Centro de Perícias

Unidade é constituída por quatro blocos:IML, IC, galpão de veículos e setor administrativo.

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A Pietá

Onofre Arcleidy PereiraPerito Criminal há doze anos, formado em Artes, já foi

professor e atualmente está exercendo sua funções na Fonética Forense do CPC.

Quando os Peritos Criminais chegaram ao local de crime, era grande a aglomeração de pessoas curiosas no meio da rua. Todos faziam um gran-

de circulo para ver mais um drama humano decorrente da violência das grandes cidades. Ouviam-se sons de gemidos e choro feminino vindos do centro do circulo e lá estava ela. Em frente dos Peritos a cena se repetia. A mãe com o cadáver do fi lho adolescente no colo. As per-furações provocadas por projéteis de arma de fogo não deixavam dúvidas sobre a causa da morte. Ela gritava e chorava convulsivamente e suas lágrimas caiam sobre aquele corpo franzino que ela carregou no ventre, deu a luz, amamentou e criou. O sangue do fi lho estava em suas mãos, em seu rosto em seus cabelos. A Mãe abraça-da com o cadáver do fi lho amado. De repente ela ergue a cabeça e olha para cima procurando uma resposta do Céu para o seu sofrimento e neste momento o click da câmera fotográfi ca do Perito registrou a trágica cena do Local de Crime e involuntariamente obtém a imagem de uma releitura da obra A Pietá, dentro de uma estética Contemporânea do Realismo Urbano.

A Pietá, que signifi ca Piedade em português, é uma escultura em mármore considerada uma das obras primas do grande gênio italiano Michelangelo do período do Renascimento na Itália entre séculos XIV e XVI. A Pietá representa Jesus morto após a retirada da cruz, nos braços de sua mãe a virgem Maria. A obra fi ca na basílica de São Pedro, no Vaticano. O coração de uma mãe sente uma dor incomparável ao ver um fi lho morrer. Na famosa escultura Pietá contemplamos toda dor que Maria sentiu na morte de Jesus.

O sofrimento destas mães encontradas nos Locais de Crime abraçadas aos cadáveres de seus fi lhos é compa-rado com a mãe de Jesus na escultura de Michelangelo. Porém com esta atitude elas estão contribuindo para a inidoneidade do Local da Perícia. Todos deveriam fi car fora da área de isolamento delimitado pela fi ta de segu-rança estendida pela policia até a chegada da Perícia.

O Perito Criminal entra em cena toda vez que acon-tece um crime. Ele é responsável por coletar vestígios e por produzir a chamada prova material. Vidros que-brados, estilhaços de balas e marcas de sangue, tudo isso pode servir de indício para remontar os caminhos do acontecido e apontar a materialidade e a autoria do delito. Mas quem vai retirar a mãe de perto do corpo do fi lho morto? Convencer uma mãe da necessidade de seu afastamento de perto do cadáver para a realização do Levantamento do Local de Crime é uma tarefa que precisa de muita sensibilidade, paciência e diálogo de persuasão para não aumentar ainda mais o sofrimento

dela. A Perícia precisa responder as questões de rotina: o que aconteceu? Quando aconteceu? Como aconteceu? Quem foi o autor? No momento não interessa para a mãe o que causou a morte do seu fi lho ou quem causou a morte de seu fi lho, ela apenas quer chorar a perda do ente querido que mais amava na vida e nada vai trazer

ele de volta. O sofrimento destas mães anônimas se não puder ser evitado pelo menos deveria ser diminuído haja vista que a violência urbana é a maior causadora das mortes e consequente-mente da dor da perda de seus fi lhos ainda jovens.

Periciar Locais de Crime de ocor-rências trágicas e violentas faz parte do cotidiano dos Peritos Criminais, mas ver aquelas mães abraçadas aos corpos de seus fi lhos mortos ainda é uma das cenas de Local de Crime que mais co-movem estes heroicos profi ssionais. É

a mulher que desce ao inferno da dor, do desespero e da depressão diante de um destino que não pode mudar. A dor de ver o fi lho morto não passa jamais. Dói no corpo e na alma.

Na maternidade os pais com alegria registram em suas câmeras o nascimento de seus bebês. A mãe feliz beija seu recém-nascido. A vida se renova. Os Peritos Criminais também têm fi lhos e também tem suas mães, mas a profi ssão que escolheram os leva cada vez mais e com mais frequência, ao encontro delas. As mães anô-nimas das periferias. As mães Pietás. Elas sofrem como sofreu Maria a mãe de Jesus. Maria que desde a concep-ção cuidou de Jesus com todo carinho, amor e ternura, se vê num profundo sofrimento ao ver a morte de seu fi lho amado. A escultura Pietá é de admirável perfeição. Foi esculpida no melhor mármore do mundo, o mármo-re de Carrara. Nos encanta e inquieta ao mesmo tempo. A virgem Maria segura o fi lho Jesus morto nos braços, uma cena trágica, porém inspirou o artista em mais uma de suas importantes criações conhecida simplesmente como a “Pietá de Michelangelo.”

As mães no local de crime

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Especial

Medicina Veterinária LegalPoucos ainda a desconhecem, mas a Medicina Veterinária Legal já é uma realidade dentroda Perícia Oficial do Pará.

A Medicina Veterinária é conhecida como a área destinada a prevenir, controlar e tratar doenças, traumatismos ou qualquer outro agravo à saúde

dos animais. Sua atuação no campo da Criminalística chama-se Medicina Veterinária Legal, que faz uso dos conhecimentos técnicos científicos relacionados à saúde animal no auxilio da justiça, em investigação de crimes que de alguma forma envolvam direta ou indiretamente os animais.

Esta medicina auxiliou no desenvolvimento das ciên-cias forenses, já que no passado, quando a medicina legal surgiu, eram utilizados animais como objeto de estudos dos profissionais. Hoje, há inúmeros cursos da medicina veterinária que possuem na grade curricular a disciplina voltada para a área pericial. A ampliação da medicina veterinária legal, fez com que o Conselho Federal de Me-dicina Veterinária, em 2003, a estabelecesse como nova especialidade no Brasil.

Atualmente, a perícia veterinária está concentrada no estado de São Paulo, onde foi criada por profissionais que desenvolvem esta nova especialidade, a Associação Brasileira de Medicina Veterinária Legal (ABMVL). No entanto, gradualmente ela vem expandindo-se para os demais estados, inclusive no estado do Pará.

Para atuar como perito, o profissional não necessita ter, obrigatoriamente, uma especialização na área, basta sua efetivação em Instituições de Pericia Oficial, por meio de concurso. Contudo, alguns estabelecimentos de ensino de todo o país já oferecem cursos de pós--graduação destinados a estes profissionais que buscam um aperfeiçoamento específico.

O perito criminal desta área atua de forma isenta e imparcial, elaborando laudos, informações e pareceres que sejam utilizados como prova pelo Poder Judiciário. Ele pode atuar em diversas áreas, como:

• Patologia animal: identifica a causa e o tempo da morte do animal, determinando se ela ocorreu por culpa de alguém ou naturalmente.

• Identificação animal: procura conhecer a origem, história de vida ou morte do animal, com ênfase nos crimes contra a vida silvestre.

• Bem estar animal: identifica e avalia a situação de desconforto, estresse ou dor do ani-mal, observando se ele poderá sofrer, já sofreu ou está sofrendo algum tipo de maus tratos.

• Segurança alimentar: constata as possíveis fraudes alimentares e doenças transmitidas por alimentos de origem animal, além do bem estar no abate e inspeção sanitária.

Perícia de identificação depossíveis maus tratos em animais.

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Que são complementadas pelos exames histológicos, toxicológicos, post-mortem (necropsia), diagnóstico por imagem, análises laboratoriais, avaliação zootécnica, vis-torias de campo ou local de crime, análise de projetos e programas relacionados à sanidade do animal, empreen-dimentos agropastoris e estudos de impacto ambiental.

PERÍCIA OFICIAL DE MEDICINA VETERINÁRIA LEGAL

Em 2013, o perito criminal e médico veterinário, Celso Felipe Bandeira de Sá, que desempenha suas atividades na Unidade Regional do CPC em Marabá, foi empossado como coordenador da Associação Brasileira de Medicina Veterinária Legal (ABMVL) no Pará, com o intuito de fortalecer e promover a medicina veterinária legal nas instituições de perícia em todo o país.

O CPC possui quatro peritos criminais com forma-ção em medicina veterinária, dois atuam na sede em Be-lém, um em Santarém e outro em Marabá. Mas segundo o perito criminal Celso Felipe, é um efetivo baixo, que conta ainda com a falta de interesse desse profissional em atuar como perito.

“O interesse deve também partir do próprio profis-sional para que o número de peritos especializados em Medicina Veterinária Legal aumente no Estado. Já que é uma especialidade que muito vem contribuindo com a sociedade, disponibilizando os conhecimentos à justiça, além de oferecer novas oportunidades ao profissional,” conclui.

Na região norte, a perícia oficial já pode ser vista

como pioneira nesta área, pois atende demandas que vão do tráfico de animais silvestres, abate de gado, crimes ambientais e maus tratos em fazendas, até delitos relacionados a produtos de origem animal, que quando manipulados incorretamente colocam a saúde das pes-soas em risco. Além de auxiliar as autoridades quando há incertezas relacionadas à origem de sangue, pelos ou ossos coletados em locais de crime, que os peritos, através de laudos inquestionáveis, determinam se são de origem animal ou humano.

Recentemente, o perito criminal, Celso Felipe, reali-zou a perícia sobre os danos causados pelo show pirotéc-nico no encerramento do Círio de Nazaré aos periquitos localizados na Praça Santuário. O resumo sobre a perícia pode ser conferida na seção CPC CIÊNCIA (pg 13).

O Centro ainda não possui departamento específico para a realização de perícias voltadas para a medicina veterinária legal, porém a direção já estuda projetos para a sua criação, que contará com sala de necropsia, recepção, banheiro, consultório e sala de arquivos. Além de parcerias com órgãos e entidades ligadas ao combate a crimes ambientais, o que aumentará a possibilidade de exames mais específicos.

A proximidade entre o homem e animal, a conscien-tização da sociedade quanto à importância da proteção dos animais, a legislação ambiental mais severa e a legislação sanitária, fazem com o que a relação entre a medicina veterinária legal e a justiça cresça a cada dia, pois muitos crimes estão ligados direta ou indiretamente aos animais, sejam domésticos ou silvestres.x

Perito criminal Celso Felipe fazendo perícia do ambienteem que os animais vivem no Parque de Exposição de Marabá.

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Opinião

Contribuição da Perícia Oficial do Pará ao sistema de JustiçaPenal e à garantiados Direitos HumanosA perícia científica pode ser elementoimportante na condução do procedimento para solução dos conflitos interpessoais.

Ivanilson Paulo Corrêa Raiol Promotor de Justiça, Coordenador do Centro de Apoio Operacional Criminal do Ministério Público do Pará, Mestre e Doutor em Direito,

Pós-doutorando em Direito Penal e garantias constitucionais, professor de direito penal

e processo penal da UNAMA e professor de Criminologia da FACI.

O Direito Processual Penal brasileiro segue orientado pela seguinte contradição: uma estru-tura codificada com raízes nitidamente totalitá-

rias convivendo com um modelo de sistema acusatório de fundamentos expressamente democráticos. Devido a essa característica, alternam-se, na atividade processual penal, momentos de abertura e avanços na interpreta-ção e aplicação da norma associados a quadros de claro retrocesso. Contemplam-se posicionamentos processu-ais de absoluta violação de direitos humanos, paralela-mente com salutares medidas de proteção da dignidade da pessoa humana.

Os elevados índices de violência, os crimes graves de pessoas e os abusos na repressão desses crimes pra-ticados por agentes estatais demonstram que o modelo atual de política criminal encontra-se equivocado, que a dogmática jurídico-penal não consegue dar a resposta positiva à delinquência e que os estudos e propostas da criminologia são quase sempre ignorados por aqueles que atuam nas delicadas questões criminais.

Enganam-se aqueles que imaginam reduzir as taxas delitivas com ações meramente repressivas ou, o que é pior, com criação de novos tipos penais ou agravamento de sanções criminais. Já não é de hoje que a Crimi-nologia aponta para a prevenção primária como fator preponderante para a diminuição da criminalidade, porém, alguns ainda teimam em ampliar o campo de incidência das normas penais, aumentando o fosso que

separa, de um lado, uma elite privilegiada e encastela-da nos paradisíacos condomínios fechados e, de outro lado, a maioria da população pobre e em via de empo-brecimento, para onde são dirigidos os tentáculos da criminalização (primária e secundária), de maneira mais impiedosa possível.

Em meio aos dilemas vividos pelas ciências criminais (fruto, por certo, da crise paradigmática global da sociedade e das ciências), o direito processual penal deve orientar-se pela valorização da pessoa humana, a defesa intran-sigente dos direitos humanos e o respeito incondicional às normas constitucionais que tutelam a liberdade, a dignidade e a vida dos seres humanos. Por essa perspec-tiva, a perícia científica torna-se elemento importante na condução do procedimento para solução dos conflitos interpessoais. Um conjunto de práticas e técnicas, dirigidas para o exame objetivo dos fatos que cercam o fenômeno

criminal, sem dúvida, muito tem a contribuir para um moderno sistema de justiça penal.

Portanto, recebi com satisfação o convite para opinar neste segundo número da “Revista Evidência”, do Centro de Perícias Científicas Renato Chaves que, a cada dia mais, moderniza-se e avança para manter-se como um dos maiores e melhores centros periciais do Brasil, não apenas por sua infraestrutura, mas principalmente pela enorme qualidade de seus membros. Esta revista, à Evidência, contribuirá para informar à sociedade todos os relevantes serviços que o CPC do Pará tem prestado aos cidadãos.x

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Perícia do Pará lança Laudo Online

C om um custo de aproximadamente R$ 900 mil reais e desenvolvido pela Gerência de Informática do Centro de Perícias, o novo Sistema Perícia.Net

viabilizará o acesso rápido de delegados de Polícia Civil, magistrados e membros do Ministério Público do Esta-do do Pará (MPE/PA) aos resultados de laudos periciais através do portal Laudo Online.

Um termo de cooperação técnica e fi nanceira foi assinado entre o CPC, o Tribunal da Justiça do Estado do Pará (TJE/PA) e o Ministério Público em maio de 2013, para que todas as autoridades judiciais tenham acesso, possibilitando a interação da perícia com os demais órgãos do Estado, disponibilizando consultas e encaminhamentos dos laudos de forma segura, por meio de certifi cação digital.

Em funcionamento desde setembro, o sistema iniciou simultaneamente em todas as unidades e nú-cleos avançados do CPC em todo o Estado. Com este soft ware, as autoridades poderão acessar aos laudos através do número do inquérito, número do Boletim de Ocorrência (BO), pelo nome do periciando ou número do protocolo gerado pelo Sistema do CPC em qualquer munícipio do Estado, proporcionando agilidade aos processos jurídicos, cíveis e criminais.

O sistema também traz a possibilidade das auto-ridades solicitarem qualquer tipo de perícias online.

Entretanto, a população não poderá acessar sua perícia à distância, pois os laudos são de inteira responsabilidade de autoridades judiciária e policial.

As delegacias de Polícia Civil poderão acessar o sistema, que será interligado ao Sistema Integrado de Segurança Pública e Defesa Social do Estado do Pará (SISP), atendendo qualquer unidade policial paraense conectada à rede. A Delegacia de Atendimento ao Ado-lescente (DATA) foi a primeira a utilizar, em novembro, o sistema requisitando perícias, seguido pelas demais delegacias. Os Magistrados tiveram, inicialmente, acesso por meio de usuário cadastrado diretamente ao sistema do CPC, e posteriormente, acessaram pelo seu próprio sistema integrado ao do Centro.

Para o Diretor Geral do CPC, Orlando Salgado, a implantação do novo sistema é um avanço para a Perícia Ofi cial do Estado e para a sociedade. “A consulta eletrônica foi elaborada para proporcionar agilidade e segurança aos processos jurídicos de todas as Regi-ões de Integração. E que também, irá colaborar com a preservação do meio ambiente, pois dispensará o uso de papel. Representando um avanço para toda a sociedade paraense”, considerou.

De acordo com o Gerente de Informática do CPC, Waldiney Brandão, todos serão benefi ciados pelo novo sistema. “Internamente, o sistema benefi ciou todos os procedimentos envolvidos na elaboração de laudos, pois todas as perícias se tornaram informatizadas. É importante frisar que os laudos poderão ser acessados em qualquer lugar, basta estar conectado com a internet, sendo impresso com assinatura eletrônica, o que torna mais célere os trâmites do processo judicial”, ponderou.x

Com o novo sistema autoridades judiciárias e policiais podemter acesso online aos laudose solicitar perícias.

Capa

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Especial

GENÉTICA FORENSE:Perícia Criminal a serviço da Justiça

A tualmente, vivemos na era da revolução tecnoló-gica, tanto relacionados à fabricação de produtos, quanto na agricultura, comércio, serviços diários,

tudo envolve essa revolução. Com a Biologia Molecular não é diferente, novas informações ligadas à genética humana surgem todos os dias no mundo, fazendo com que haja um aumento de dados, ocasionando assim, a necessidade de criar grandes redes de computadores que conecte todas as informações, chamada de banco de dados de DNA.

O conteúdo da informação biológica contida na mo-lécula de DNA tem revolucionado a ciência de um modo geral, tornando-se essencial no auxílio da Justiça, o que foi percebido na década de 90, quando o emprego do DNA para a identificação individual foi aceito pelo sistema judici-ário de todos os países.

A identificação individual consiste na investigação da variabilidade presente em diferentes segmentos de DNA espalhados pelo genoma humano. Quanto maior a variabi-lidade de um determinado sistema genético e o número de sistemas investigados, menor é a chance que dois ou mais indivíduos apresentem o mesmo perfil de DNA, sendo a margem de erro, nesse tipo de exame, a menor possível. A origem de uma determinada amostra biológica ou um vínculo de parentesco entre indivíduos, somente é realiza-da através da análise comparativa, sendo necessário que a amostra questionada seja comparada com uma amostra re-ferencia, por exemplo, é coletada no local de um crime uma amostra de sangue que precisa ser comparada com algum suspeito (caso haja) para ser identificada, caso não tenha nenhum suspeito, a amostra coletada no local será arquiva no banco de dados para futuras comparações.

LABORATÓRIO DE DNA FORENSE DO CPC ESTÁ EN-TRE OS CINCO MELHORES DO PAÍS

Desde 1998, o Laboratório de Genética Forense do Centro de Perícias realiza exames genéticos com peritos que iniciavam a especialização em Genética Forense e por isso, eles eram feitos em parceria com o Laboratório de Gené-tica Humana e Médica (LGHM) da Universidade Federal do Pará (UFPA). Foi em 2008 que os peritos concluíram a especialização para trabalharem no próprio laboratório da Instituição, atendendo todo o Estado do Pará com equipa-mentos específicos e modernos e novos reagentes, que são essenciais para alcançar o resultado desejado.

O Laboratório realiza exames de identificação humana, violência sexual, comparação de vestígios coletados em local de crime, paternidade e maternidade criminal, em um es-paço físico seguro, com salas separadas por tipo de análises com fluxo único de entrada e saída das áreas consideradas de fácil contaminação. Em total funcionamento há seis anos, o laboratório já emitiu mais de 700 laudos, auxiliando a justiça. E faz, anualmente, o exercício de qualidade do Grupo Iberoamericano de Trabalhos em Análises de DNA (GITAD) em conjunto com os demais laboratórios forenses do país.

Subordinado a Gerência de Exames Físicos, Químicos e Biológicos (EFQB), que integra a Coordenadoria de Labo-ratório Forense do Instituto de Criminalística (IC), o setor conta com a dedicação e trabalho de seis peritos criminais, sendo duas Doutoras em Genética e Biologia Molecular, e atualmente, uma delas está realizando o curso de pós-dou-torado em Genética Forense, desenvolvendo pesquisa em novas tecnologias aplicadas a análise de DNA. Há também duas especialistas em Genética Forense, que realizaram o

Laboratório de DNA do Centrode Perícias tem sido importantealiado da Justiça no Estado do Pará.

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curso promovido pela Secretaria Nacional de Segurança Pú-blica (SENASP) em parceira com a UFPA, tornando-as alta-mente capacitadas para analisar perfis genéticos de diversas fontes biológicas e em diferentes condições de degradação, transformando o Laboratório em um dos melhores que integram a segurança pública do país.

O Centro de Perícias incentiva a participação dos peritos em eventos que envolvem a área, pois há necessidade de o laboratório sempre estar atualizado sobre a evolução tecno-lógica e as questões legais, o que impulsiona os servidores a elaborar e apresentar trabalhos científicos em seminários, congressos e jornadas, e a publicarem artigos em revistas internacionais, que abordam a Genética de Populações e Genética Forense, alguns deles, preparados em parceria com pesquisadores da Alemanha e Portugal.

O conhecimento sobre Genética de Populações é outro ponto favorecedor para que o laboratório tenha um bom funcionamento. Pois, a Genética de Populações complemen-ta a Genética Forense, ela abrange os fenômenos evolutivos sofridos por diversas populações ao longo dos anos, é um conhecimento a mais ao elaborar laudos de exame de DNA.

Os exames de DNA relacionados a casos criminais é uma rotina no laboratório do Centro, e é um dos mais im-portantes métodos forenses disponíveis para a identificação de autoria de diferentes crimes. A atuação dos profissionais é imprescindível e pontual, que envolvem vários casos, em destaque o assassinato do casal de sindicalistas José Cláu-dio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo, em maio de 2011, no município de Nova Ipixuna. No local do crime, foi encontrada uma máscara de mergulho, da qual foram coletados fragmentos de cabelos e comparados com o san-gue de um dos suspeitos e que, coincidiram. O laudo com o resultado foi considerado uma prova fundamental para que os suspeitos fossem condenados. O artigo sobre a perícia pode ser encontrado na seção “CPC Ciência”.

Quando não há elementos para serem comparados nos casos, eles são considerados casos abertos, e as amostras são arquivadas para futuras comparações. Atualmente, o ar-quivo da Coordenaria de Laboratórios Forenses conta com mais de 1000 amostras coletadas de vítimas de crime sexual, em local de crime e de cadáveres ignorados. O banco de dados de DNA é considerado a tecnologia mais moderna

que o Brasil dispõe para a segurança pública, onde ficam ar-mazenadas informações genéticas para fins de identificação de indivíduos por comparação com o perfil genético padrão armazenado nesse banco de dados.

Inúmeros países já desenvolveram bancos de dados de DNA criminal e a legislação de cada um estabelece quais crimes são passíveis de inserção no banco, além de ou-tros critérios em relação ao tempo de permanência destas informações. Com a utilização desses bancos de dados, é possível obter grande aproveitamento dos vestígios cole-tados em locais de crime nos casos em que não existe um suspeito, assim como cruzar os dados entre diferentes locais de crime, e entre condenados e locais. Exemplos dos países como Inglaterra e Estados Unidos, demonstram que, mais de 60% dos vestígios coletados são identificados em seus bancos de dados.

No entanto, é fundamental que toda a criação e mani-pulação das amostras sigam procedimentos criteriosos e devidamente regulamentados, cumprindo as leis vigentes em relação aos direitos e garantias individuais.

SISTEMA COMBINADO DE ÍNDICES DE DNA (CODIS)A implantação de um banco de dados de perfis genéti-

cos começou no Brasil em 2007, quando o sistema CODIS (Sistema Combinado de índices de DNA), desenvolvido pelo FBI, foi definido como o sistema mais apropriado para o nosso país, para isso, foi firmado um Termo de Compro-misso entre o Governo Federal, por meio da Polícia Federal e o FBI para que fosse utilizado este sistema no país. O Brasil é o país onde está uma das maiores instalações do sistema fora dos Estados Unidos, ele foi instalado em quinze labo-ratórios estaduais: Pará, Amazonas, Amapá, Ceará, Paraíba, Bahia, Espírito Santo, Mato Grosso, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, em um laboratório da Polícia Federal situado no Distrito Federal, além da criação de um banco nacional localizada também, na Polícia Federal do Distrito.

O sistema inclui dois programas denominados CODIS 5.7.4 destinado para dados criminais e o CODIS 6.1 dedica-do a dados de pessoas desaparecidas e vítimas de acidentes de grandes proporções. Até o inicio de 2015, será inserido o CODIS 7.0, que é a união dos dois programas em um só e expande a possibilidade de incluir novos dados.

Extração de materialgenético de umfragmento de osso.

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Um perito de cada Estado integrante participou do treinamento específico com os técnicos do FBI, o qual, atualmente, é o administrador do Banco de Perfis Gené-ticos do seu Estado e responsável pelas buscas e, compar-tilhamentos de dados, além da manutenção e sigilo deles, supervisionando, também, o controle de qualidade interna do laboratório.

REDE INTEGRADA DE BANCOS DE PÉRFIS GENÉTICOS (RIBPG)

A criação do Banco Nacional de Perfis Genéticos e a Rede Integrada, foi um marco para a história da Genéti-ca Forense do país, além de vim como um auxilio para o Sistema de Segurança Pública no combate a criminalidade, tornando-se uma verdadeira revolução na legislação brasi-leira em prol da Justiça. O Decreto 7.950/13 regulamentou a Lei 12.654 (maio de 2012), que dispõe da obrigatoriedade da coleta de material biológico de condenados por crimes hediondos ou violentos de natureza grave, para serem inse-ridos no banco de dados e ficando a disposição da justiça, colaborando nas investigações criminais. O que antes era uma solicitação de doação voluntária de material genético passou a ser uma obrigatoriedade, sem o direito de recusa pelo condenado, durante o seu ingresso ao sistema penal.

A coordenação das ações dos órgãos gerenciados dos bancos de dados, assim como a sua integração, é de responsabilidade do Comitê Gestor da RIBPG, composto por cinco representantes do Ministério da Justiça, por um representante da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República e por cinco Peritos Oficiais, representando as cinco regiões geográficos do país, todos

escolhidos pelo Ministério da Justiça. Neste Comitê, a re-gião Norte é representada por um Perito Criminal do CPC, Dra. Terezinha Palha.

O Pará vem se destacando na área em relação à Perícia Criminal, pois em todos os estados da região norte ele é o único que já está enviando perfis genéticos para o banco nacional, sendo que também está entre os cinco estados brasileiros que mais tem contribuído alimentando o banco de dados, junto com os estados de São Paulo, Minas Gerais, Brasília (Polícia Federal) e Rio Grande do Sul.

Para que os perfis sejam arquivados no banco de dados, eles precisam seguir alguns critérios como, se os vestígios encaminhados ao laboratório forem provenientes dire-tamente de delegacias, eles não podem ser inseridos no banco, pois possuem origem questionável, se ao coletar um vestígio em local de crime o perito não preencher devida-mente a ficha de encaminhamento e não colocar no históri-co justificativas que sinalizem de o vestígio ser do suspeito, também não poderá ser inserido. Entre outros critérios, o trabalho essencial começa antes de o vestígio chegar ao laboratório, pois caso haja alguma falha, o resultado final será comprometido.

A lei também não permite que perfis de vítimas ou de pessoas que não estejam envolvidas em algum tipo de crime, e de cadáveres identificados sejam incluídos no banco de dados, sob a pena de responder civil, penal e administrativa-mente pelo ato.

BANCO DE DADOS DE PESSOAS DESAPARECIDASOs bancos de dados também são utilizados na busca

por pessoas desaparecidas. De 2007 a 2013, amostras de cadáveres não identificados foram arquivadas para futuras identificações. Familiares que procuram no Instituto Médico Legal (IML) por um parente desaparecido, terão seus perfis genéticos arquivados no banco, para que sejam comparados com os perfis dos cadáveres não identificados que já estive-rem no arquivo.

Outra possibilidade de se utilizar o banco de dados é na identificação de vítimas de acidentes de grandes proporções. A exemplo foi a queda, seguido de explosão, do avião bimo-tor de prefixo PT- VAQ, modelo 821-Carajás, que ocorreu no dia 12 de março de 2013, em Monte Dourado, município de Almeirim, no qual todos os dez passageiros morrem carbonizados. O trabalho de identificação das vítimas por meio de DNA durou quinze dias, o que foi considerado um tempo recorde para este tipo de caso. x

Sangue: pode estar em forma líquida, seca, coagulada ou em pequenas manchas, cada forma envolve um método diferente de coleta e conservação. Aglutinado em diversos suportes (pisos, paredes, pessoas, roupas, móveis, etc). Este vestígio é um dos mais encontrados.

Cabelo: podem estar isolados ou em tufos nas mãos da vítima, no sofá, nos pisos, na cama, escova de cabelo, etc.

Sêmen: encontrado em estado liquido ou seco, geralmente aderido em peças íntimas da vítima, em roupa de cama, toalhas, etc.

Saliva: encontrada em cigarros, copos, lençóis, goma de mascar, etc. Podem estar em estado líquido ou seco.

VESTÍGIOS BIOLÓGICOS MAIS COMUNS COLETADOS EM LOCAL DE CRIME

Termociclador para amplificação de DNA

extraído por Reação de Cadeia da Polimerase.

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O Círio de Nazaré é uma das maiores procissões religiosas do planeta e possui uma representação cultural muito marcante no Estado do Pará,

onde cerca de 2 milhões de pessoas são envolvidas nos cortejos e romarias. O fim dos festejos, culmina na tradicional explosão de fogos de artifício que ocorre nas imediações do Centro Arquitetônico de Nazaré (CAN). Tal homenagem pirotécnica vem sendo criticada e acu-sada da mortalidade de alguns pássaros que se abrigam nas árvores próximas. Durante uma explosão a energia liberada para o meio envolvente do explosivo gera um aumento da pressão pela quantidade de gases em expansão, criando uma “onda de choque’’, ondulatória e com propagação radial e centrífuga, decrescendo a sua velocidade a partir do ponto de explosão. As conse-quências das ondas de choque são comumente estuda-das e conhecidas, onde seus efeitos podem estar asso-ciados a edemas e hemorragias pulmonares, cardíacas, rupturas de órgãos e vasos, além de edemas e hemorra-gias cerebrais. O comportamento de aves, abrigadas em uma árvore nas imediações do CAN, foi monitorado durante o show pirotécnico de encerramento do Círio

Celso Felipe Bandeira de Sá Médico Veterinário, Perito Criminal lotado no setor de Local de Crime, Unidade Regional de Marabá, Perícia Ambiental em crime de maus tratos.

de Nazaré do dia 27/10/2013, onde verificou-se que estes animais voavam descontrolados, em todas as direções, grasnando em alto volume sonoro, demonstrando uma condição extrema de estresse. Após os dez minutos de explosões, os periquitos retornaram aos galhos da árvore, mas ainda continuaram grasnando e chilreando em alto volume sonoro, visivelmente estressados, mesmo após uma hora de finalizada a queima dos fogos. Foi possível resgatar cinco aves moribundas e quatro mortas. Durante o exame necroscópico, verificou-se tratar-se de periquitos da espécie Brotogeris versicolurus. Ao exame externo, não apresentavam lesões traumáticas, porém havia epistaxe. Internamente: sinais de lesões traumáticas ausentes; havia sufusões hemorrágicas, presença de coágulos sanguíneos na cavidade torácica e abdominal, com lesões em estruturas pericárdicas e rupturas de vasos sanguíneos e lobos pulmonares, além de hemotórax, hemopericárdio; sufusões hemorrágicas no papo e na região encefálica. A ausência de lesões com características de traumas afasta a hipótese de mortes por quedas ou choques com estruturas sólidas. As lesões verificadas nas vísceras e região encefálica dos animais estão mais associadas aos efeitos de ondas de choques, comumente verificadas após explosões, so-bretudo em animais sensíveis como as aves em questão. As perdas sanguíneas extensas e súbitas foram capazes de causar choque hipovolêmico e consequente óbito aos animais periciados. Com base nas informações obtidas foi possível concluir que: o comportamento alterado das aves (estresse significativo), mortandade e morbidade foram decorrentes das explosões, ruídos, luzes e fumaça produzidas no momento do show piro-técnico; o número de animais afetados pode ter sido maior, onde aves podem ter caído fora do alcance de atuação da perícia; a causa mortis esteve associada com as ondas de choque emanadas das explosões dos artefa-tos pirotécnicos deflagrados; os efeitos das explosões podem também afetar a saúde de outros animais, do-mésticos ou não, além de crianças e idosos que vivem nas cercanias da área periciada. x

Mortalidade de aves associadas ao show pirotécnico de encerramento das festividades do Círio de Nazaré, ano 2013.

CPC

Ciên

cia

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P olimorfismos genéticos do DNA nuclear têm sido muito investigados pelo seu alto poder de dis-criminação individual. Como todos recebem uma

cópia de DNA de cada genitor, as cópias recombinam-se a cada geração e essas combinações impedem que duas pessoas compartilhem as mesmas distribuições alélicas. Porém, em algumas situações, a análise do DNA nuclear fica prejudicada, como no caso de amostras em intenso estado de degradação ou em amostras sem DNA nuclear. Nestes casos, a análise do DNA mitocondrial (mtDNA) tem sido o método de escolha. Amostras biológicas mui-to comuns em locais de crime são fragmentos de cabelo. Nos cabelos humanos o conteúdo celular está presente no bulbo capilar, mas os melanócitos distribuem ao longo do fio grânulos de melanina e mitocôndrias. Após a desintegração do bulbo, as mitocôndrias persistem incrustadas nas células corticais queratinizadas, junta-mente com o seu mtDNA. O mtDNA apresenta herança exclusivamente materna e não permite uma individu-alização, mas pode auxiliar muito nas investigações criminais.

Relato do Caso: Quatro fragmentos de cabelos foram coletados de uma máscara de mergulho encon-trada no local de crime do casal de sindicalistas em Nova Ipixuna-PA, em 2012. Vestígios e amostras referências de três suspeitos foram encaminhados para exame genético. Nas análises biológicas preliminares, constatou-se que apenas dois fragmentos eram humanos, e não contin-ham bulbo. As análises genéticas foram direcionadas para recuperação de mtDNA. Metodologia: Extração de DNA dos cabelos foi feita com solução de Chelex 5% + Proteinase K + DTT 1M, e das amostras referências com Chelex 5%. Amplificação realizada por PCR individual (oito fragmentos internos das três regiões hipervariáveis do mtDNA), seguida por purificação com EXOSAP, reação de sequenciamento em duplicata (primers F e R) e purificação em colunas com Sephadex. Eletroforese no ABI3130, análise dos dados no Sequencing Analysis v5.3 e no Chromas.

Resultados e Discussão: Foi possível recuperar uma sequência de 1.300 pb (pares de bases) de cada amostra analisada. Foi feita uma análise comparativa dessas sequências com a sequência padrão do mtDNA (Cam-bridge Reference Sequence) e entre elas. A sequência dos cabelos foi diferente em um dos suspeitos investigados e idêntica a sequência dos outros dois (parentes mater-nos), apresentando dez mutações pontuais específicas e heteroplasmia de comprimento (309.1C, 315.1C e 573.1C). A mutação no nucleotídeo 16.187 (C-T) definiu como haplogrupo D1g (ameríndio). A frequência haplotípica encontrada foi de 0,00003891. Conclusão: Pelos resultados obtidos foi possível incluir dois suspei-tos e excluir um deles. A metodologia demonstrou-se muito eficiente e foi padronizada, principalmente, para análises de cabelos sem bulbo no Laboratório de Gené-tica Forense do CPCRC. No caso em questão, o laudo foi considerado como uma prova de grande peso para a condenação dos suspeitos.x

Exame de DNA em fragmentos de cabelo humano

(Relato de Caso)

CPC Ciência

Teresinha Palha Perita Criminal do Centro de Perícia Científicas Renato Chaves. Pós-graduada (especialização, mestrado e doutorado) em Genética Forense pela Universidade Federal do Pará (UFPA). É membro efetivo do Comitê Gestor da Rede Integrada de Ban-cos de Perfis Genéticos (RIBPG), representando a região Norte.

Elzemar Ribeiro Rodrigues Perita Criminal do Centro de Perícia Científicas Renato Chaves. Pós-graduada (especialização, mestrado e doutorado) em Genética Forense pela UFPA. É administradora do Banco de Perfis Genéticos do Pará. Atualmente cursa pós-doutorado em Genética Forense na UFPA.

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A C

ena

FalaPerícia de Reprodução

Simulada foi fundamental para conclusão de inquérito.

A médica Viviani Marins dos Santos foi morta no dia 20 de setembro de 2010, supostamente por um assaltante na Rodovia BR-010, trecho

que liga os municípios de Santa Maria do Pará e São Miguel do Guamá. Após o ocorrido, seu então esposo, que a acompanhava no momento do fato, prestou depoimento que levantaram muitos questionamentos, por discordar com o laudo de Local de Crime e com testemunhas, como também, em relação ao tempo decorrido entre os dois disparos efetuados na noite do fato, tornando-se suspeito do crime.

OBJETIVO

A perícia em questão tem como objetivo principal averiguar a veracidade das declarações do indiciado, confrontando as informações fornecidas pelo mesmo durante o desenvolvimento deste ato pericial, com seu depoimento prestado junto à autoridade policial, o qual se encontra apensado nos autos da ação penal, e poste-riormente, com os exames periciais relacionados com o caso em apuração.

O CASO

Os questionamentos apresentados pelo delegado responsável, inseridos na introdução do ofício onde solicita o Exame de Reprodução Simulada, buscam esclarecer se os fatos ocorridos na noite do dia 20/09/2010, quando a médica Viviani Marins dos Santos foi morta supostamente por uma assaltante, se os fatos realmente aconteceram da forma e na sequência narradas pelo indiciado, por este discordar do laudo pericial referente ao Exame de Levantamen-to de Local relativo ao ocorrido, como também face à divergência constatada entre os depoimentos do indiciado e de uma das testemunhas, quanto ao tempo decorrido entre os dois disparos efetuados na noite do crime. A autoridade policial também deseja esclarecer se o indiciado teria condições de ter enxergado o rosto da pretensa atiradora na hora e no local do evento criminoso, além de outros detalhes que os peritos julgarem relevantes do ponto de vista criminalístico durante a reprodução dos fatos.

Confira a Reprodução realizada pelos peritos do Instituto de Criminalística (IC) do CPC “Renato Chaves”, sobre o caso de investigação na morte da médica Viviani Marins dos Santos, ocorrida em setembro de 2010, no município Santa Maria do Pará, nordeste do Estado.

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Com base no artigo 7º do Código de Processo Pe-nal, “Para verificar a possibilidade de haver a infração sido praticada de determinado modo, a autoridade policial poderá proceder à reprodução simulada dos fatos, desde que esta não contrarie a moralidade ou a ordem pública”, o Delegado responsável pelo caso, solicitou os trabalhos pertinentes à realização de uma Reprodução Simulada dos fatos que culminaram com a morte de uma pessoa, com o objetivo de conhecer a verdade dos fatos e concluir o processo criminal.

Para que este trabalho técnico-científico fosse realizado, foi necessário um planejamento rigoroso, com estudo de detalhes e análise dos documentos entregues pela autoridade solicitante, procurando--se, dentro do possível, chegar ao mais próximo dos fatos que culminaram na morte da médica VIVIANI MARINS DOS SANTOS. Além da análise documental dos autos, houve também a coleta e análise das ver-sões do indiciado e de testemunhas, a partir de uma visão técnica.

Deslocamento dos peritos até o palco do evento, ainda de dia, para o reconhecimento geográfico e situacional do local e levantamento dos pontos citados nos depoimentos constantes do processo.

Coleta de informações junto ao indiciado e às partes que tiveram ligação direta e/ou indireta com os fatos.

Além do próprio indiciado, utilização de atores representando os supostos assaltantes e a vítima (Viviane Marins dos Santos).

Utilização do mesmo veículo onde a vítima foi morta, relacionado nos autos.

Levantamento dos percursos de relevância pericial efetuados pelo indiciado, com o propósito de elucidar os questionamentos apresentados.

Questionamentos para a descrição de cenas e/ou situações de relevância criminalística.

Análise dos autos à luz da criminalística, e posterior confronto com as informações prestadas pelo indiciado durante este trabalho, corroboradas pelos exames periciais já realizados.

Levantamento fotográfico, por meio de tomadas de imagens digitalizadas.

Cotejos entre as versões constantes nos autos aquelas prestadas individualmente à equipe pericial durante a reprodução dos fatos.

Utilização do Sistema de Navegação Global (GPS) , para obtenção dos pontos de coordenadas geográficas, posicionamento absoluto.

Confronto da versão do indiciado apresentada aos peritos, com os Laudos emitidos pelo Centro de Perícias Científicas “Renato Chaves”, Unidade Regional do Nordeste - Castanhal (Laudo de levantamento de Local, Exumação e Necropsia).

Realização da reprodução simulada no mesmo horário em que o fato criminoso em questão ocorreu, buscando-se a aproximação máxima com relação às condições reinantes naquele momento.

A segurança do local foi realizada por policiais civis da Delegacia de Polícia de Santa Maria do Pará, por policiais militares que atuam naquela jurisdição, e também por agentes de Polícia Rodoviária Federal, pelo fato de o trabalho pericial ser realizado em uma rodovia federal. A CENA DO CRIME

Trata-se da Rodovia BR-010, no trecho que liga os municípios de Santa Maria do Pará e São Miguel do Guamá, mas precisamente no km 10. No referido trecho, a via é composta de uma única pista com duas faixas de tráfego de sentidos opostos, possui pavimen-tação em concreto asfáltico, acostamentos, sinaliza-ções horizontal e vertical, mas não é provida de ilumi-nação artificial. O fato criminoso ocorreu na margem direita da via, considerando o sentido de tráfego de Santa Maria do Pará para São Miguel do Guamá, em frente a um abrigo utilizado pelos moradores da área na espera de condução, o qual não possui iluminação, e próximo à entrada do Ramal das Torres, via essa que também não apresenta iluminação artificial.

Passo à passo, a metodologia do trabalho pericial.

A REPRODUÇÃO

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AS CONCLUSÕES PERICIAIS

Após a leitura dos autos e análise das versões apre-sentadas pelo indiciado e pelas testemunhas durante a realização da Reprodução Simulada dos fatos, os peritos fazem as seguintes considerações:

1) MARTELLO FILHO e FLORENZO, no seu artigo intitulado “Limitação da velocidade máxima à noite em função do alcance útil dos faróis”, repro-duzem uma tabela apresentada originariamente por OLSON , com distâncias segundo as quais os moto-ristas percebem a presença de um pedestre iluminado pelos faróis, de acordo com inúmeras variáveis; para a situação de um pedestre com roupas claras e o veículo trafegando em luz alta, a referida distância varia entre 53 e 132 metros. No presente caso, o ponto da rodovia informado pelo indiciado como sendo o local a partir do qual visualizara a assaltante com a criança no colo, apresentou uma distância de 200 metros; portanto, bem acima da máxima necessária para o indiciado perceber a presença da assaltante somente com a luz dos faróis. Por outro lado, em função do indiciado ter afirmado que a noite do crime estava enluarada, os peritos solicitaram, junto à Divisão de Meteorologia do Sistema de Proteção da Amazônia/Centro Regio-

nal de Belém, uma análise das condições meteorológi-cas nas proximidades do município de Santa Maria do Pará, para o dia 20/09/2010, data do fato criminoso, tendo aquela instituição governamental emitido um relatório técnico, e cuja conclusão segue transcrita na íntegra: “No período das 16h00 (hora local) às 19h00 (hora local) as condições meteorológicas eram instáveis com nuvens carregadas e chuvas isoladas em grande parte do nordeste paraense, incluindo a cidade de Santa Maria do Pará. Entretanto para o horário das 20h00 (hora local) foi observado sobre o município apenas nebulosidade estratiforme (risco pequeno de chuva) com céu parcialmente nublado (pequena cobertura de nuvens e/ou formações iso-ladas). A lua para o dia 20/09/2010 surgiu no hori-zonte às 16h12min (hora local), atingindo o zênite às 22h27min (hora local) com 95,1% do tamanho total”. Dessa forma, considerando que o ato criminoso ocorreu entre às 19h30min e 20h00min, conforme os depoimentos do próprio indiciado e das testemunhas, portanto, quando se tinha condições meteorológi-cas ainda desfavoráveis, os peritos inferem não ser possível o indiciado ter visualizado a assaltante da distância de 200 metros, mesmo com a noite apresen-tando iluminação parcial da lua e a referida assaltante trajando roupas de cores claras, segundo afirmara o indiciado.

Suspeito mostrandoaos peritos comotudo aconteceu nodia do crime.

O croquisilustra a

dinâmica doassalto

segundoo suspeito.

Rodovia BR-010

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2) O intervalo de tempo entre os dois disparos efetuados na noite do crime, reproduzidos sob a orientação da testemunha e cronometrado pelos pe-ritos entre 5 e 6 segundos, mesmo inferior ao por ela descrito nos autos (“... cerca de um minuto depois, mais ou menos, ...”), mostra uma considerável dis-crepância com relação ao intervalo de tempo entre os disparos reproduzidos pelo indiciado e cronome-trado pelos peritos entre 1 e 2 segundos.

3) Os posicionamentos das manchas de sangue descritos pelas testemunhas mesmo discrepantes dos informados por eles nos autos, apresentam concor-dância entre si, bem como são compatíveis com a dinâmica informada pelo indiciado na lateral direita do veículo. Entretanto, demonstram que o indicia-do, em nenhum momento, esteve apoiado na peça anterior direita de sustentação do abrigo (casinhola) citado, conforme afirmou aos peritos por ocasião da reprodução dos fatos, pois caso isso ocorresse, tal local também apresentaria manchas de sangue.

4) Baseados na localização do orifício produ-zido pela entrada do projétil de arma de fogo na cabeça da vítima (região occipital, levemente à direita), bem como no trajeto do referido projétil no interior do crânio (“de trás para diante, ligeira-mente da direita para a esquerda, quase horizontal-mente”), conforme destacados nos laudos de Local de Crime, Exumação e Necropsia, analisados

conjuntamente ao posicionamento da vítima no veículo (sentada no banco dianteiro direito), tam-bém descrita no Laudo de Levantamento de Local, inferem os peritos que o disparo do referido pro-jétil foi efetuado de fora para dentro do veículo, com duas possibilidades: na primeira, conforme a reprodução orientada pelo indiciado, o atirador estaria posicionado ao lado da porta dianteira direita do veículo, com a arma à altura do vão do vidro, e a vítima sentada no banco dianteiro direito, com a cabeça e o tronco girados à esquerda, no sentido de observar o banco traseiro; na segunda possibilidade, a arma estaria posicionada ao lado da porta traseira direita (com o vidro aberto), à altura do vão entre o encosto de cabeça do banco dianteiro e a lateral do veículo, e a vítima sentada no mesmo banco, com a cabeça encostada na coluna da porta, o que justifica-ria a mancha de sangue constatada na parte interna anterior da porta traseira direita. O DESFECHO DO CASO

Na madrugada do dia 04 de abril de 2013, o técnico de enfermagem Francisco Charles dos Santos foi condenado por júri popular a 22 anos de prisão pela morte de sua esposa, Viviani Marins dos Santos, com condenação unânime de sete votos a zero. O julgamento teve início às 9h30, no Fórum de Justiça do município de Santa Maria do Pará, nordeste do estado, e durou aproximadamente 20 horas.

Peritos realizando a marcação geográfica do local do crime.

O croquis ao lado ilustra a situaçãodo local do crime, de acordocom os relatos das testemunhas e do suspeito (medidas fora de escala).

12,00m

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Ramal das Torres

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Medalha de Honra ao Mérito Pericial do Centro de Períciasé aprovada pelo CONSEP.

F oi aprovada na noite do dia 19 de novembro, na 282ª reunião ordinária do Conselho Estadual de Segurança Pública (Consep) a Medalha de Honra

ao Mérito Pericial “Dr. Renato Chaves”, que pretende homenagear e prestigiar personalidades civis e militares, organizações públicas e privadas, nacionais e estrangei-ras, servidores do CPC e demais entidades que tenham prestado serviços de destaque ao Estado e contribuído para o engrandecimento e valorização da instituição como Perícia Ofi cial do Estado. A Medalha foi idealizada este ano pelo Centro de Perícias e apresentada ao Conselho e, após a publicação da Resolução no Diário Ofi cial, a comenda deverá ser entregue pelo Centro em atos solenes, na forma de ceri-mônias específi cas à homenagem, o que ainda não tem data defi nida para ser realizada. Cada medalha corresponde a um diploma e a conces-são será apreciada e julgada pela Comissão de Honraria e Mérito do CPC, criada por ato administrativo do dire-tor geral, e também poderá ser concedida à personalida-de “post mortem”. A quantidade será dividida igualmen-te entre os servidores e a sociedade em geral. Para o diretor geral, Orlando Salgado, a medalha é um sonho sendo realizado. “Quando assumi o Centro, tinha a certeza que não seria fácil reestruturá-lo, melho-rar a sua funcionalidade, mas mesmo assim, consegui-mos colocá-lo dentre os melhores Centros de Perícias do País. E tinha dois projetos: um de criar uma revista que estreitasse a relação entre o CPC e a sociedade, o que foi concretizado no ano passado, e criar a medalha home-nageando os que contribuíram direta ou indiretamente com a Perícia Ofi cial”, fi nalizou.

A Medalha A autoridade que dá nome à medalha de Honra ao Mérito, Dr. Renato Chaves da Silva e Souza, foi precur-sor da Medicina Legal no Estado, e em 1971, para ho-menageá-lo, foi criado o Instituto Médico Legal (IML), transformando-se em Centro de Perícias Científi cas “Renato Chaves”, composto pelo Instituto de Criminalís-tica (IC) e pelo Instituto Médico Legal (IML). As cores do layout da Medalha, que são verme-lho, azul e branco, fazem alusão à Bandeira do Estado do Pará, e seu formato, com 50 mm de diâmetro em metal amarelo, traz em fundo azul, o relevo dourado

da sequência de DNA, de um microscópio óptico, de uma lupa, da anatomia topográfi ca humana e de uma balança, sobreposto a uma coroa com pontas maçanetadas e circundado por uma orla contendo inscrições na metade superior.

Signifi cado dos Símbolos DNA – sequência de DNA ou sequência genética simboliza o trabalho científi co pericial desenvolvido pelo CPC por intermédio de profi ssionais do laborató-rio, que auxiliam as autoridades policiais e a justiça no combate à criminalidade. Microscópio óptico – instrumento com uma série de lentes multicoloridas e ultravioleta, capazes de re-velar, através da luz, estruturas pequenas e impossíveis de visualizar a olho nu. Na medalha, faz referência ao importante trabalho pericial, que auxilia nas investiga-ções criminais que necessitam de aparato tecnológico e especializado para a sua conclusão. Lupa – por muitos anos, o instrumento óptico foi re-lacionado ao trabalho investigativo, por ser uma das pri-meiras ferramentas utilizadas na busca de vestígios não perceptíveis a olho nu em análises técnico-científi cas. Anatomia topográfi ca humana – representa a estrutura e composição dos órgãos do corpo humano, remetendo ao trabalho realizado pelo Instituto Médico Legal (IML) em perícias de análises topográfi cas. Além de representar também, o homem como partícipe de uma sociedade organizada e merecedora das garantias dos seus direitos no Estado democrático. Balança – localizada no centro da medalha, ela representa a Justiça, equilibrando todos os outros símbolos, tendo seu sentido apontado para o trabalho da Perícia Ofi cial e os demais órgãos que compõem a Segurança Pública do Estado, combatendo a criminali-dade de forma efetiva.

O precursor da medicina legalno Pará, Dr. Renato Chaves da Silva e Souza, dá nome à medalha que vaidistinguir o trabalho de quemengrandece a perícia técnica no Estado.

Medalha de Honra ao Mérito Pericial do Centro de Períciasé aprovada pelo CONSEP.

homenagear e prestigiar personalidades civis e militares,

da sequência de DNA, de um microscópio óptico, de uma lupa, da anatomia topográfi ca humana e de uma balança, sobreposto a uma coroa com pontas

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