Upload
a
View
219
Download
0
Embed Size (px)
DESCRIPTION
apo
Citation preview
Psicopatologia Geral
Dicotomia do normal e do patológico
Normal - Tristeza vs Patológico - Depressão
O funcionamento psicológico normal é a regra, assim a perturbação mental é a excepção à regra.
Psicopatologia - ciência geral que estuda as perturbações do funcionamento psicológico ao longo do ciclo de vida, incluindo as suas causas e consequências; estuda as experiências individuais de sofrimento vividas a nível psicológico e que são desadaptadas
Palavras-chave: relação, experiência, discurso, comportamento
Objecto de estudo - perspectiva biomédica: sintomas das doenças mentais associadas a perturbações da estrutura e/ou do funcionamento cerebral - perspectiva psicológica: funcionamento psicológico perturbado nas dimensões afectiva, cognitiva, comportamental e relacional
“A finalidade da psicopatologia é compreender a perturbação mental a partir do existir humano e não o seu contrário” - Karl Jaspers(Compreender como é que as experiências psicopatológicas interagem com as outras experiências ditas normais do indivíduo)
Na psicopatologia não se tem. Vive-se. Existe-se. Experiencia-se.
Psicopatologia - Ciência geral, funcionamento psicológico, ciclo de vida (as perturbações mentais têm que ser estudadas em várias fases do ciclo da vida)
Afecção - patologia, padecer, pacienteAfeição - simpatia, empatia, paixão
* Somos afectados por aquilo a que nos afeiçoamos.
Objectos de estudo na psicopatologia: experiência, discurso (o discurso que o sujeito constrói sobre a experiência que vive - “Como é isso de estar deprimido para si?”), comportamento, relação, interacção social
Em psicopatologia, os pacientes é que são os especialistas da sua perturbação pois eles é que constroem o discurso sobre essa mesma. “É preciso dar voz aos pacientes e regressar à experiência” - Ronald D. Laing
Modelos sobre o que é a conduta perturbada- comportamental: perturbação da aprendizagem
- cognitiva : disfunção no processamento da informação- psicanalítica: expressão de conflito intrapsíquico- comunicacional: distorção da comunicação - neurofisiológico: disfunção cerebral- existencialista: expressão de escolhas inautênticas
Discurso psicopatológico- Nível observacional : o que é acessível, descritivo / verificativo (fenomenológico)- Nível processual: o que se supõe que acontece, probabilístico- Nível teórico: as hipóteses, explicativo/interpretativo- Nível epistemológico: a lógica dos métodos e teóricos, crítico/reflexivo: pensar
sobre si mesmo, autocrítica
Análise psicopatológica
Observar — Identificar, descrever, caracterizar (comportamento e experiência)PSICOPATOLOGIA DESCRITIVA
Compreender — relações de sentidoPSICOPATOLOGIA COMPREENSIVA
Psicopatologia do humor e afectosExperiências afectivas patológicas (depressivas, maníacas, ansiosas…)
Perturbações quantitativas - as pessoas ou estão excessivamente tristes (depressão) ou excessivamente alegrias (mania - alegria patológica)
Perturbações qualitativas - ansiedade patológica
8 em cada 10 consultas psicopatológicas são relacionadas com a depressão ou a ansiedade.
Depressão: sofrimento, desânimo, tristeza
A ansiedade patológica e a depressão podem incapacitar a pessoa de realizar certas actividades. As depressões são a principal causa de reforma antecipada e de faltas ao trabalho. São duas perturbações que comportam factores de risco: a auto-medicação (a pessoa tem tendência a auto-medicar-se com calmantes para adormecer - no caso da ansiedade).
Tristeza normal/ patológica - Entristecer-se / estados depressivosAlegria normal/ patológica - Euforizar-se / estados maníacos
O humor pode ficar fixado no pólo da tristeza, sem de lá sair. Esta tristeza define-se pela incapacidade do sujeito de reagir a acontecimentos, mesmo quando estes são positivos.
Tristeza normalA tristeza normal é sempre reactiva a acontecimentos (estado psicológico reactivo). A pessoa sabe relacionar o acontecimento de tristeza e o sentimento de tristeza. Esta reacção de tristeza
a um determinado acontecimento é adequada aos acontecimentos (ex. luto - experiência face à perda). Um outro critério fundamental da tristeza normal é que está circunscrita à dimensão do seu funcionamento psicológico, a tristeza normal não invade outros aspectos do funcionamento do sujeito (nem no plano psicológico nem no físico).
Tristeza patológica
- Expressão triste do olhar que não passa (as pessoas conseguem disfarçar a tristeza patológica mas não este olhar)
- Movimentos mais lentos, mexe-se muito pouco
- Dificuldade em falar
- Pouca iniciativa verbal
- Postura que mostra abatimento - ombros caídos
- Tónus psicológico (energia psicológica)
- Sofrimento: pessimismo, sem esperança, desvalorizado, desencorajado, desanimado, infeliz
- Baixa auto-estima apenas presente na tristeza patológica, não na normal
- Sentimentos de diminuição do valor da pessoa : baixa da auto-estima (insuficiência, vergonha, culpa, inferioridade e incapacidade)
Impregnação da relação com o mundo : invade a forma de percepcionar, comunicar, agir, relacionar-seRepercussões cognitivas - atenção-concentração, memória, pensamento (queixo-me a pensar, fico cansado a pensar)Repercussões corporais - alterações de apetite (mais apetite ou menos, dependendo do sujeito) , sono (insónias), sexualidade(diminuição do desejo sexual)
O sujeito depressivo pede ajuda mas não se queixa da tristeza patológica, mas sim de outros sintomas.
3 manifestações principais da depressão no indíviduo* Humor deprimido: polarização persistente do humor no pólo da tristeza sem que o sujeito consiga reagir aos acontecimentos- Expressão facial concordante (a pessoa deprimida quase não gesticula, quase não mexe os
músculos da cara) : como aparece à consciência/como é vivido? - tristeza / pesar; apatia (não ter interesse por nada, estar desinteressado das coisas que anteriormente gostava), irritabilidade fácil (“eu quando dou por mim já estou irritado”, as pessoas sentem-se culpadas desta irritabilidade), anestesia afectiva (em casos de depressão mais severa; o sujeito refere que já nem consegue estar triste nem chorar, tristeza patológica ultrapassada, está tão triste que não consegue reagir, nem chorar, sentimento de falta de sentimentos, indiferença afectiva -Sentimento de infelicidade e abatimento
*Perturbação psicomotora (lentificação dos processos motores) / lenificarão psíquica- Resultado da invasão da tristeza patológica de dimensões do funcionamento psicológico
(pensamento, atenção, memória e também a motricidade)
- Diminuição e / ou perda de iniciativa, indecisão, dificuldade em entrar em acção
- Dificuldades de atenção/concentração
- Pensamento lentificado com dificuldade de associar (“difícil pensar”)
- Dicurso lentificado, com aumento da latência das respostas, discurso latente
O discurso do sujeito depressivo é pobre, repleto de monossílabos.
- Fadiga (o cansaço do deprimido é antes de fazer algo; ainda não fez nada e já está cansado; cansaço - falta de energia e impulso; “Se pudesse ficava na cama todo o dia”)
- Hipocinésia (movimentos lentos), hipoactividade
- Mímicas verbais e gestuais escassas e inexpressivas
- Voz baixa, tom monocórdico
Muitas depressões são depressões com ansiedade. A ansiedade não lentifica, acelera. Depressões com agitação. Há duas modalidades diferentes do estar deprimido se apresentar em função da depressão ter ou não ter ansiedade.
* Auto-estima baixa / auto-desvalorização- Insuficiência
- Incapacidade e inferioridade
- Vergonha e arrependimento
- Culpa
- Auto desvalorização moderada nas depressões neuróticas
- Auto desvalorização grave (delírios depressivos nas depressões psicóticas) Temas delirantes : hipocondria, culpa, ruínaCaracterísticas: compreensíveis pelo estado afectivo, repetitivos, vividos com sofrimento intolerável, referidos ao passado e futuro, risco elevado de suícidio (culpa!)
O modelo fenomenológico da experiência depressiva assenta nas vivências patológicas e na consciência depressiva.
Consciência depressiva :
- Orientação para o passado
- Inibição do tempo vivido
- Perda de vitalidade
- Distanciamento do outro (diminuição do contacto com os outros, sentimento de isolamento, solidão)
Análise existencial do existir com depressão
Física - desvitalização (falta de energia)Social - Encerramento à intersubjectividade (isolamento), culpabilidade (oportunidades perdidas)Psicológica - Enclausuramento em si próprio (redução da abertura ao mundo), eNcolheu-se a si próprio realizando-se pelos outros (dependência) Espiritual - Adesão conformista à ordem e ao estabelecido
Compreensão existencialExistir frustrado e vazio por inviabilização do projecto de ser
- Conflito existencial: falta de sentido/projecto
- Condições de psicopatologização: interoriozação de falta de valor e culpabilidade, escolha fundamental em função dos outros, procura de sentido no cuidado do outro e não no cuidado de si próprio, perda recente
Estados maníacos* Maníaco é o contrário de estar deprimido. Alegria ou euforia patológicaAceleração do pensamentoAgitação psicomotora
Experiência maníaca - optimismo, força, despreocupação, satisfação, felicidade + expansão do eu
Alegria patológica: Exaltação do humor com sensação de “força”, irritabilidade fácil, sentimento de bem-estar, tonalidade agradável (prazer, optimismo, esperança), aumento dos sentimentos de valor pessoal (orgulho, força, triunfo, superioridade)Aceleração maníaca : vivência de facilidade em pensar e pressão para falar, aumento da produção de ideias, aumento da velocidade associtiativa, logorreia ou verborreia, destrutibilidade fácil, hipermnésias de evocação, diminuição da latência de respostaAgitação maníaca: aumento dos contactos sociais, insónia total, gastos excessivos, abusos alcóolicos, bulimia, hiperexpressividade mímica, hipercinésia
Perturbações quantitativas
Ansiedade - Estado emocional em que o sujeito se sente tenso, atermorizado e alarmado de forma desagradável
A ansiedade é uma perturbação psicopatológica do futuro, enquanto que a depressão é do passado
Ansiedade normal- proporcionada ao acontecimento, explicável - reacção vivencial: “reactiva”
- não evoca vivências passadas
Ansiedade patológica- desproporcionada ao acontecimento “reactiva” ou sem relação com acontecimentos
“endógena”
- não-explicável
- persistente e repetitiva
- com repercussões cognitivas e corporais- evoca vivências passadas
Perturbações de ansiedade: Ataques de pânico, ansiedade generalizadaPerturbações fóbicas: Agorafobia, fobias sociais, fobias simples
Ansiedade secundária- Ansiedade reactiva
- Ansiedade neurótica
- Ansiedade psicótica
- Ansiedade orgânica
Ansiedade patológica: eficiência cognitiva das pessoas é altamente afectada, estado de confusão e de desorganização, dizer coisas que não fazem muito sentido
Na ansiedade normal, o significado que predomina é o carácter facilitador das adaptações cognitivas, sem manifestações físicas.
Modelos teóricos da ansiedade
* Existencial e PsicanalíticoPodem aparecer na ansiedade patológica e normal:- Antecipação do futuro (incerteza)
- Confronto com a finitude (morte própria)
- Confronto com a liberdade de escolha (responsabilidade)
Psicopatologia do pensamento e do discurso
- Modo como o sujeito pensa, como pensa independentemente do assunto (pensa muito depressa ou muito devagar) : forma do pensamento
- Só temos acesso aos conteúdos do pensamento através do discurso, nós não observamos directamente o pensamento da pessoa, o que observamos é o discurso que a pessoa constrói acerca daquilo que pode pensar
- O pensamento é um determinante relevante do discurso e o pensamento se levarmos em conta a perspectiva cognitiva, é um determinante importante do comportamento e do modo como se emociona (emoções) porque é através do modo que pensa que ele se relaciona com a realidade que aquilo lhe acontece. Se ele pensa que aquilo que lhe acontece é perigoso, ele foge.
- Em psicopatologia classifica-se as alterações que os pensamentos podem demonstrar em diferentes estados patológicos, existem perturbações da forma do pensamento ( como é que o sujeito pensa?) e perturbações do conteúdo do pensamento (o que é que o sujeito pensa?)
- Nas perturbações do conteúdo o mais importante são as ideias obsessivas, paranóicas e delirantes
- Perturbações formais: como é que decorre o processo associativo (associações entre as ideias que o sujeito tem, como é que elas se relacionam umas com os outros, “fluxo do pensamento”, decorre duma maneira rápida ou lenta - velocidade do processo de associação de ideias : muito condicionada pelo estado emocional do sujeito (uma pessoa quando está nervosa fala muito depressa, quando uma pessoa está triste ou deprimida o estado emocional lentifica o pensamento, o sujeito fica cansado de pensar). A primeira grande alteração formal : aceleração/ lentificação do pensamento. Ansiedade patológica e e euforia são exemplo de aceleração do pensamento, mas têm diferentes velocidades.
- O sujeito fala tão depressa que as ideias lhe fogem (fuga de ideias, pensamento ideofugitivo) - estado maníaco intenso, as pessoas saltam de ideia para ideia >>> Verborreia (diarreia verbal)
- Lentificação do pensamento tão intensa (o pensamento está inibido: o discurso é quase inexistente, perturbações >>> Mutismo verbal
- Como é que estas perturbações são vividas?
- A lentificação é vivida como um cansaço de pensar, “gasto muita energia e fico muito cansado a pensar” “tenho muito poucas ideias” “aparecem de forma pouco frequente”
- Na aceleração do pensamento: “estou no melhor da minha forma mental” “sou um génio”
O pensamento prolixo (prolixidade) :Caso prático:- O que o traz à consulta?
- Estava muito tranquilo e calma quando senti uma dor muito esquisita no lado esquerdo, pode ser um cancro do estômago , fui ao médico e estava tudo bem mas continuo preocupado
- Ansiedade especificada à saúde do corpo: ansiedade hipocondríaca
- Um hipocondríaco quando descreve os seus sintomas, para falar da ideia directriz (motivo da consulta) o sujeito menciona muitos outros detalhes antes de chegar ao que quer realmente dizer (anda às voltas com o discurso)
- Os ansiosos também são muito prolixos quando falam da sua ansiedade (falam muito do que pode ter levado a essa ansiedade, são muito detalhados na sua descrição) - mais predominante na ansiedade obssessiva (o pensamento prolixo)
- Os prolixos queriam ser como Deus, querem ser perfeitos e ao apresentarem as suas queixas, acham que significa que têm de caracterizar tudo a 100%, tem de ser tudo bem explicado exaustivamente. Têm uma aspiração perfeccionista. Quando estão a relatar o que os preocupa, têm esta preocupação de não deixar nada de fora (mas acham que deixam e por isso voltam sempre atrás no discurso e repetem) Descrição muito detalhista e pormenorizada das suas vivências e acontecimentos.
- A prolixidade está muito ligada também à ansiedade orgânica em que há uma deteorização das capacidades cognitivas como a memória
- Circunstancialismo: “perder o fio à meada”, é uma fase mais avançada da prolixidade (“onde é que eu ia?”)
- Perseveração verbal (repetem a última palavra que ouviram ou frase que ouviram - défice cognitivo): significa repetir, uma coisa que os obssesivos fazem muito
- Repetição de assuntos: é uma repetição particular, mas a dificuldade da perseveração temática é que a pessoa não consegue mudar de assunto (“ainda não expliquei bem, tenho de voltar atrás e explicar o que estávamos a falar antes) - muito difícil mudar de tema. É como se houvesse um interruptor que é difícil de mudar. O individuo está sintonizado para determinado assunto e não consegue mudar para outro.Muito relacionado com o pensamento obssesivo. A perseveração temática é mais frequente na ansiedade patológica do que na normal. Portanto , na ansiedade o objecto da perseveração temática é o assunto que preocupa o sujeito. Na obsessiva, o objecto é um assunto que o individuo sente a necessidade de explicar. Na preocupação pela saúde (hipocondria) o objecto
- Bloqueios ou interrupções do pensamento : o pensamento do sujeito pára, o processo associativo tem interrupções, os processos de associação de ideias são ligações entre ideias (fio condutor), nesta perturbação da forma do pensamento, há de repente paragens, interrompe bruscamente o que está a dizer e pára sem se perceber o motivo. Vivência de ‘roubo’ do pensamento. Perda da relação das ligações lógicas entre as ideias que não dependem de alterações de memória. É uma perturbação muito específica, muito relacionada com a psicopatologia esquizofrénica.
- O sujeito explica isto com algo/alguém que entrou na sua cabeça e lhe roubou os pensamentos e portanto este teve de interromper, e só pode prosseguir quando o deixarem pensar
- Outras perturbações da forma do pensamento muito graves Desagregação ( pensamento desagregado, muito desorganizado)
Caso prático:
- O senhor sabe que horas são hoje?
- Que horas são? Falta um dia para acabar o mundo e dois para começar tudo de novo. Eu sou o vendedor dos relógios universais
(O discurso do sujeito não se compreende do ponto de vista, é um discurso compreensível mas incompreensível de forma total no seu conjunto. Pensamento desagregado próprio das psicoses esquizofrénicas. Rotura das relações lógicas das ideias, que se apresentam duma forma desajustada. - Incoerência tem génese nas alterações da consciência (perturbação formal que caracteriza
os estados confusionais , hipovigilidade — não permite o sujeito pensar de forma clara e conexa sobre aquilo que se passa, o sujeito diz palavras e frases mas nada é compreensível, nem uma frase por si própria, nem o total da mesma
- “O amanhecer da noite. O rouxinol” - o discurso é incompreensível a nível da frase e a nível total
Na desagregação, o sujeito não tem nenhuma alteração de consciência, o sujeito com pensamento incoerente está completamente desorientado no tempo e no espaço >>> ele não diz coisa com coisa
2ª parte:
- Ideias obsessivas (ou obsessões): perturbações obsessivo-compulsivas (neurose obsessiva) — são transversais a outras patologias
- Ideias delirantes: são exclusivas das perturbações psicóticas; a nível do pensamento: ideias delirantes; a nível da percepção: alucinações, ilusões patológicas; verdade de juízo crítico
Características formais das ideias obsessivas (como aparecem à consciência do sujeito)
Caso do Fernando- Bancário
- Passou a ter mais responsabilidade no trabalho
- Obsessão/Compulsão em verificar que as contas estão bem
- Sempre a verificar que os seus pais estão bem
- Lava muito as mãos — receia os micróbios, a infecção — percepção de ameaça: para aliviar a ansiedade causada por esta ameaça, o indivíduo lava as mãos repetida e obsessivamente para se tranquilizar e assegurar-se que não foi infectado.
- Luta permanente com os pensamentos obsessivos
- As verificações são um acto realizado para aliviar a ansiedade
- São vividas como estranhas ao Eu: reconhece-as como absurdas (as ideias) e luta contra estas, mas quanto mais luta contra estas, mais elas se impõem -- fenómeno paradoxal
- Luta interna – ego-distónica (não são concordantes com o self)- Insight - o sujeito sofre e tem consciência disso
- A repetição é um traço fundamental da obsessão
- Fenómeno paradoxal: a ruminação - quanto mais o indivíduo afasta estes pensamentos mais estes se impõem contra a sua vontade
- Ansiedade obsessiva
- Compulsões: actos que resultam das ideias patológicas
- A dúvida está muito presente nesta patologia: o indivíduo duvida aquilo que fez e volta atrás para verificar outra vez — dúvida patológica (repetição desnecessária)
Processos psicológicos envolvidos nas ideias obsessivas
- Percepção (objectos percebidos — obsessão com o objecto) ex: um livro preto que me faz lembrar a morte
- Memória (recordações — fenómenos de memória)
- Imaginação (fantasias — ideias de contrastes, fantasias eróticas)
- Emoções
- Impulsos
Ideias de contraste — o sujeito está numa determinada situação e não tem pensamentos adequado a essa situação, tem ideias/pensamentos opostos ex. estar numa igreja a pensar em situações de cariz sexual/fantasiasSão ideias de contrastes porque se opõem às ideias que deviam estar presentes naquele contexto.
Obsessivo-compulsivas — ideias que dão lugar a actos impulsivosObsessivo-fóbicas — medo (contaminação, lavagem)Obsessivas puras — fenómenos ideativos do pensamento (recordações, especulações) : “Faço, não faço” “Digo não digo”
* O obsessivo gostava de ser Deus — gosta de ter tudo muito certinho
Conteúdos ou temas obsessivos
Dúvida — indecisão patológica (o indivíduo fica paralisado na decisão, tem problemas na concretização) — tem de formar uma decisão segura — angústia — baixa tolerância à incerteza — contaminação
Aritmomania — contagem para se entreter, na contagem não tem a certeza se contou bem, tem medo de lhe ter escapado alguma coisa
O fenómeno obsessivo é um impulso.O sujeito tem consciência que está perturbado
Ideias delirantes — Características formais
- Reflectem fenómenos que não aconteceram
- Experimentadas com a convicção das ideias verdadeiras
- Conteúdos inverosímeis
- Afastam-se da realidade pessoal do sujeito
Caso motorista de transporte públicos
* Acredita que está a ser perseguido por uma entidade abstracta* Máquina de ressonância magnética que lê os pensamentos
* Deixou de comer: acredita que lhe envenenam a comida* “Roubam-me os pensamentos”* Discurso “estranho” - pouco compreensível : conjunto de ideias inverosímeis; está convicto
de que esta é a sua realidade pessoal
Ideias delirantes : Falsas crenças patológicas centradas no Eu
Experiências perceptivas anómalas — alucinações O sujeito delirante contrariamente ao sujeito obsessivo não luta contra estas ideias. O self está completamente aderente a estas crenças.
- Ausência de crítica do sujeito (ego sintónicas)
- Não modificavéis pela experiência
- Impermeáveis à argumentação lógica
Génese patológica: perturbações psicóticas - Primária: Perturbação do pensamento, psicoses esquizofrénicas, paranóia - Secundária: Perturbações da consciência, estados confuso-oníricos, turvação da consciência — a consciência está turva: os seus pensamentos não são claros, o indivíduo começa a inventar
- Perturbações afectivas: depressões psicóticas, manias delirantes“Todas as crianças morrem à fome no mundo por minha causa” — culpa delirante (conteúdo muito importante na depressão)
Delírio — conjunto de ideias delirantes * “sair do sul”: falta de razão, desrazão * pode ser mais ou menos organizado * tem uma lógica interna, a história tem coerência * afastamento da realidade
Paranóia — psicose paranóica: estão perto da realidade, não é uma psicose muito frequenteAs paranóias têm subjacente violência - podem conduzir a homícidio * Paranóias de culpa* Paranóias de perseguição
Modelos dos delíriosPsicanálise (Freud) —> projecção simbólica de desejos e fantasias inconscientes
Conteúdos/temas dos delírios
As experiências delirantes costumam envolver vários temas
- Influência /Influenciamento: o sujeito deixa de percepcionar que há uma fronteira entre o que é interno e externo
- Ideias de grandeza — ex: motorista que acredita que é uma pessoa muito importante (o avô foi primeiro ministro)
- Hipocondria : “o demónio roubou-me o fígado” O sujeito acredita ter sido atingido por uma doença grave, possuído ou ter sofrido transformações corporais
*Hipocondria psicótica: o sujeito afirma haver uma transformação corporal (já não tenho coração)
Influenciamento dos actos, pensamentos e afectos por uma entidade abstractaO sujeito que delira é o protagonista principal. Não vive como ficção mas como realidade absoluta. Constrói a sua existência através da ficção — “Não posso pensar o que quero”, “Ainda que queira alegrar-me, não posso, eles não me deixam”, “Não sou capaz de fazer nada por mim”, “Sinto-me roto por dentro”- Pensa pensamentos dele e pensamentos que são dos outros. O sujeito está dividido.
Clivagem do self. Fusão com o exterior.
Auto-relacionação — Delírio de referência : o sujeito acredita que as acções dos outros estão relacionadas consigo mesmo“Eles estão a olhar para mim e estão a comentar sobre mim” Quando o sujeito acredita que há agressividade virada contra ele — perseguição : prejuízo corporal (envenenamento), prejuízo moral (insulto)
Grandeza — expansão do eu, com euforia e sentimentos de omnipotência e poderio (temas únicos da paranóia ou da psicose esquizofrénica)- Filiação lustre
- Reforma
- Invenção genial
- Erotomania- Missão divina
CiúmeIdeias delirantes celotípicasInfidelidade do(a) parceiro(a) : “A minha mulher diz que vai regar as plantas ali à janela, mas na verdade ela vai fazer sinais aos amantes do prédio à frente”
Psicopatologia da percepção
Registo sensorial e cerebral
Corporalidade – o sujeito deforma o objecto, vê o objecto diferente do que ele é
Significação
Juízo de realidade – Alucinações (experiências psicóticas, percepção sem objecto a percepcionar)
Determinante do comportamento – As alterações perceptivas vão também alterar o nosso comportamento
Ilusões: percepções deformadas, existência da presença efectiva de um dado sensorial com deformação do percebido
Hiperpercepção – hipervigilidade, excitação maníacaHipopercepção – hipovigilidade, confusão mental, depressões
Perturbações qualitativas - Estranheza do percebido: despersonalização e desrealização; mudança da realidade perceptiva, sem que o sujeito se aperceba que algo mudouDivisão da percepção Esquizofrenia Deformações espaciais Delirium – O sujeito faz uma clivagem da percepção relativamente a objectos externos
Alucinações psico-sensoriais: percepções em que não existe um estímulo correspondente, o indivíduo está convicto da realidade da percepção