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Colégio Municipal Liceu Cacimbinhense A História de Alagoas Dos Caetés aos Marajás Prof. João André Amorim Ferreira

Apostila a história de alagoas

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Page 1: Apostila   a história de alagoas

Colégio Municipal Liceu Cacimbinhense

A História de Alagoas

Dos Caetés aos Marajás

Prof. João André Amorim Ferreira

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Introdução

A História de Alagoas dos Caetés aos Marajás é um relato da História desse pequeno

Estado brasileiro (o segundo menor, depois de Sergipe), que ao longo de quase cinco séculos,

vem demonstrando ao país, que tem um povo trabalhador, honesto e sempre esperançoso.

Escolhi esse título, lembrando os índios Caetés, que foram os primeiros a manchar a imagem

desta terra, com o episódio do massacre de todos os tripulantes do navio que levava à Portugal

o primeiro bispo do Brasil, Dom Péro Fernandes Sardinha. Obviamente, para eles (os índios),

um fato normal. Afinal, nunca tinham visto um branco. E, com tantas vestimentas. Imaginem

como o bispo estava vestido?

Marajás foi um termo muito utilizado pelo ex-governador e ex-presidente da

República, Fernando Collor de Mello, para designar os privilegiados funcionários públicos, que

recebem altos salários e pouco ou nada produzem. Na realidade, o termo vem da Índia, numa

alusão aos ricos e poderosos daquele país, onde 90% da população de quase 1 bilhão de

habitantes, vive na miséria.

Faço um relato de todos os acontecimentos importantes da verdadeira História de

Alagoas, com base em pesquisa realizada ao longo dos últimos anos. Opino, porque sou um

formador de opinião, tanto como jornalista, tanto como professor. Abro o debate. Sempre agi

assim. Conto fatos que geraram escândalos, culminando com renúncias de governadores e até

mesmo um impeachment, o primeiro concretizado no país. As oligarquias políticas que sempre

dominaram o Estado até chegar ao “pulo do gato”, que é a ascensão da esquerda aos

governos do Estado e de Maceió.

As sucessivas crises econômicas; alguns anos de crescimento; a descoberta das

belezas naturais da terra pelos turistas do país e do exterior, e o crescimento rápido de Maceió.

A miséria, o desemprego, as doenças endêmicas, o analfabetismo e a mortalidade infantil,

esses dois últimos itens, colocam o Estado como campeão nacional. Enfim, uma História “nua

e crua”, contada por um contador de histórias, que não tinha escapatória: virou um jornalista.

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No tempo dos Dinossauros

Os arqueólogos comprovam: Alagoas foi habitado por dinossauros. Vez por outra,

aparece alguém confirmando que viu inscrições em pedras; descobriu ossos de animais pré-

históricos e outros objetos que existiram na pré-história.

O historiador Jayme de Altavilla, em seu livro História da Civilização de Alagoas,

refere-se a uma variedade de documentos arqueológicos, encontrados ao longo dos anos em

várias regiões.

Em Santana do Ipanema, no vale do rio Caiçara, foram encontrados esqueletos de

animais pré-históricos. Também surgiram vestígios desses animais em Viçosa e São Miguel

dos Campos. Em Anadia, no sítio Taquara, descobriram um cemitério de índios.

O historiador viçosense, Alfredo Brandão, também é outro que fala em seus livros

sobre a pré-história em Alagoas. Afirma que na propriedade Pedras de Fogo (da família

Loureiro), encontra-se uma pedra com diversas cruzes gravadas, sendo uma delas tão bem

gravadas que passa por milagrosa. Também fala em inscrições descobertas em pedras nos

municípios de Capela, Atalaia, Porto de Pedras e Anadia. Sua coleção de instrumentos de

pedras, como tambetá, machadinha e outros, está exposta no Instituto Histórico e Geográfico

de Maceió.

Nas margens do rio São Francisco, já descobriram muitas ossadas de animais pré-

históricos. É uma região, comprovadamente habitada naquela época. Um museu instalado no

Xingó Parque Hotel expõe muitos objetos arqueológicos descobertos por toda aquela

imensidão de terras. No Centro de Apoio da Hidrelétrica de Xingó, do lado alagoano, existe

uma exposição fixa de arqueologia.

Terra à vista

Quando o Brasil foi descoberto, a terra que constitui hoje o Estado de Alagoas, era

um mundo de mata virgem, onde viviam índios nativos. Rios perenes, muito peixe, frutas,

animais soltos. Enfim, a flora e a fauna exuberantes, enchiam os olhos dos portugueses que

foram chegando para iniciar o processo de colonização.

A grande quantidade de lagoas em seu litoral, fez com que os colonizadores

batizassem logo a região de Alagoas. Elas continuam embelezando a paisagem típica do

Estado, se constituindo em pontos de atração turística e ainda em sustento de milhares de

alagoanos, que tiram dela, o peixe e o sururu, molusco típico, consumido não só pelos pobres,

mas presente na mesa dos ricos, da classe média e dos bares e restaurantes.

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Esse pedaço de terra brasileiro, entre o Litoral e o Sertão, pertencia a Capitania de

Pernambuco, comandada pelo donatário Duarte Coelho, que em visita ao Sul, deparou-se com

o rio São Francisco. Lá, edificou um forte e deu origem a cidade de Penedo, comprovadamente

o primeiro núcleo habitacional de Alagoas. Hoje, é uma cidade das mais importantes do

Estado. Durante várias décadas, foi a mais progressista do interior. Perdeu para Arapiraca na

segunda metade deste século. Mas continua imponente, com seu casario colonial, seu povo

culto, seu potencial turístico e sua economia que cresce a cada dia.

Imaginemos Alagoas nos tempos do descobrimento do Brasil! Da foz do São

Francisco a Maragogi: índios nativos como os Caetés e os Potiguaras. Nus, livres, vivendo da

caça e da pesca, falando língua própria, usufruindo dessa beleza natural, com rios e lagoas

sem poluição. Um povo festeiro, cultuando suas tradições. Era feliz e livre da presença do

branco português, que aqui chegou para marginalizá-lo, exigir que aprendesse sua língua, sua

religião e seus costumes. Todos perderam a identidade, e se tornaram escravos da ganância

dos colonizadores, que só queriam extrair a riqueza da terra e enviar para Portugal.

Nossos índios eram vaidosos, festeiros e valentes. Adoravam se pintar com várias

cores, dançar e cantar. Achavam o nariz chato um importante requisito de beleza. No Sul eram

os Caetés e suas subtribos, como a dos Caambembes, instalada em Viçosa. No Norte, os

Potiguaras. As demais tribos eram:

- Abacatiaras, que viviam nas ilhas do rio São Francisco.

- Umans, no alto Sertão, às margens do rio Moxotó.

- Xucurus, em Palmeira dos Índios.

- Aconans, Cariris, Coropotós e Carijós, às margens do São Francisco.

- Vouvés e Pipianos, no extremo ocidental de Alagoas.

Esses nativos alagoanos eram bronzeados do sol escaldante, moravam em cabanas

de palha, reunidas em forma de aldeias e viviam da caça e da pesca. Promoviam festas,

utilizando-se de instrumentos musicais como corneta, flauta e maracá. Em combate, atiravam

sobre o inimigo, flechas envenenadas e sobre as aldeias, flechas com algodão inflamado, para

incendiá-las.

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As índias alagoanas trabalhavam muito. Fiavam algodão para confeccionar cordas e

redes e ainda fabricavam vasos de barro para uso doméstico. O adultério era considerado

crime.

Nas aldeias, todos se reuniam em forma de República. O chefe maior era o Cacique,

escolhido entre os mais velhos e respeitados. O Pajé era o conselheiro espiritual. Nas grandes

crises, eles se reuniam em conselhos, denominados Carbés.

Hoje, Alagoas tem as seguintes tribos:

- Xucurús, em Palmeira dos Índios, muito bem organizada, já toda civilizada, com escola, posto

de saúde, posto telefônico e outros benefícios.

- Cariris, em Porto Real do Colégio, também com toda a infraestrutura econômica e social,

funcionando.

- Tingui-Botós, em Feira Grande.

- Wassus em Joaquim Gomes, e outra descoberta recentemente, ainda em estudo na Funai –

Fundação Nacional do Índio, para constatar sua verdadeira identidade. É um pequeno grupo

que vive no alto Sertão alagoano.

Assim era Alagoas na época do descobrimento do Brasil. Esse pedaço de Brasil,

abençoado pela natureza, livre, com a Mata Atlântica exuberante, os rios e lagoas de águas

cristalinas.

Os colonizadores

A primeira expedição ao Sul da Capitania de Pernambuco foi conduzida pelo próprio

donatário, Duarte Coelho, que saiu do Recife beirando o litoral até chegar à foz do rio São

Francisco. De lá, rio acima, deparou-se com um local privilegiado pela natureza, com o rio

cheio de pedras. Edificou um forte e deu origem a povoação de Penedo.

Duarte Coelho, segundo os historiadores, era dotado de muita capacidade

administrativa e devotado à causa do governo português. Suas cartas ao Rei Dom João III,

eram verdadeiros relatos sobre a riqueza da capitania, suas paisagens e os índios. Fundou

Olinda, fez aliança com os índios e iniciou o plantio da cana-de-açúcar, dando origem aos

primeiros engenhos.

Mas toda essa extensão de terras, entre o Litoral e o Sertão precisava ser

colonizada. Aí surge a figura de um alemão: Cristhovan Lintz, depois aportuguesado para

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Cristovão Lins. Ele vivia em Portugal, onde se casou com Adriana de Hollanda, filha do

holandês Arnault de Hollanda e da portuguesa Brites Mendes de Vasconcellos Hollanda. O

casal desembarcou no Recife, na primeira metade do século do descobrimento (XVI) e ganhou

uma imensa sesmaria, compreendendo o Cabo de Santo Agostinho até o vale do rio

Manguaba.

O segundo colonizador foi o português Antônio de Barros Pimentel, casado com

Maria de Hollanda Barros Pimentel, irmã da mulher de Cristovão Lins. Ele chegou ao porto da

Barra Grande (Maragogi), ainda com a roupa que usava na Corte, em Lisboa. Era um nobre,

descendente de uma das mais importantes famílias de Portugal, originária da cidade de Viana,

mas com os seus ancestrais surgidos na Espanha. Ganhou uma sesmaria que compreendia as

terras entre os rios Manguaba, passando pelo Camaragibe e chegando ao rio Santo Antônio,

em São Luiz do Quitunde. Construiu engenhos de açúcar e criou gado.

A sesmaria que compreendia as margens das lagoas Mundaú e Manguaba pertencia

ao português Diogo Soares, enquanto em São Miguel dos Campos, o dono das terras era

Antônio de Moura Castro e as de Penedo, comandadas por Rocha Dantas. Outras sesmarias

de menor porte foram surgindo em vários pontos de Alagoas.

Os engenhos

A História de Alagoas é a história pela posse da terra. Doadas as sesmarias, os

novos proprietários procuraram logo fazer a derrubada das matas e plantar cana-de-açúcar,

surgindo os engenhos banguês que sustentaram a economia alagoana durante quatro séculos,

até serem substituídos pelas usinas.

Os primeiros engenhos surgiram nos vales dos rios Manguaba, Camaragibe e Santo

Antônio, na região Norte de Alagoas. A terra fértil, logo se adaptou a essa nova atividade. E,

assim, começa a formar-se a chamada aristocracia açucareira, com as grandes famílias

dominando a economia.

O escritor Manoel Diegues Júnior, em seu livro O Banguê das Alagoas, faz um relato

apaixonado dessa atividade que iniciou o processo de desenvolvimento socioeconômico e

cultural da Comarca, Capitania e Província de Alagoas. Mostra os costumes e tradições, a

religiosidade, o domínio político, o folclore saído dos engenhos, enfim, um estudo de sociologia

rural, que deveria ser lido por todos aqueles que realmente se interessam pela História desse

povo bom, trabalhador, honesto e hospitaleiro, que é o alagoano.

Os engenhos banguês das Alagoas eram movidos a animais. Produziam o açúcar, o

mel e a rapadura. Logo que eram construídos, seus proprietários procuravam também edificar

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uma Igreja. A casa grande emoldurava a beleza da paisagem típica da região. Algumas eram

luxuosas, com móveis e objetos importados. A senzala, onde viviam os escravos amontoados;

a bagaceira; a casa de purgar; o armazém (empório comercial) e outras edificações formavam

um povoado.

Os primeiros engenhos foram construídos por Cristovão Lins, o alemão que se

constituiu no verdadeiro colonizador de Alagoas. Ele batizou logo com os nomes de Escurial,

Maranhão e Buenos Aires. Ficavam no atual município de Porto Calvo, que ele também fundou

na segunda metade do século XVI.

Depois foram surgindo outros engenhos, já com o segundo colonizador, Antônio de

Barros Pimentel, casado com Maria de Hollanda, irmã da mulher de Cristovão Lins. Esse casal

fixou-se às margens do rio Camaragibe, terras hoje pertencentes aos municípios de Matriz e

Passo de Camaragibe. Mas a sua sesmaria atingia ainda o vale do rio Santo Antônio, onde

também edificou engenhos, como o próprio Engenho Santo Antônio, que funcionou por mais de

três séculos, até ser transformado na atual e moderna Usina Santo Antônio, em São Luiz do

Quitunde, desde a década de 1950, pertencente a família Correia Maranhão.

Outros engenhos foram surgindo nos vales dos rios São Miguel, Coruripe, Mundaú e

Paraíba. E a atividade dominou a economia alagoana. O açúcar seguia para a Europa através

do porto do Francês, saindo dos engenhos em lombo de boi ou burro, atravessando montes e

rios, até chegar a vila do Pilar, e daí, seguindo em barcaças, passando pela velha capital (atual

Marechal Deodoro) e atingir o porto.

Hoje, o transporte é rápido e seguro. Das usinas, saem os caminhões-tanque, com o

açúcar a granel, atravessando estradas asfaltadas e chegando à Maceió, onde é descarregado

no Terminal Açucareiro do Porto de Jaraguá em fração de minutos, saindo por uma esteira

rolante e chegando ao porão dos navios, para daí seguir para a Europa, América do Norte,

Ásia, África e outros Continentes, garantindo a Alagoas uma boa posição (segundo lugar a

nível nacional) na produção de açúcar, perdendo apenas para São Paulo.

Costumes e tradições

O dia-a-dia nos engenhos alagoanos dos séculos XVII, XVIII e XIX, era muito

diferente do das atuais usinas e destilarias. Não existem mais escravos, e sim trabalhadores,

mas que continuam servis aos patrões. A maioria sem carteira assinada, ganhando pelo que

produz. Os escravos eram negros, enquanto os trabalhadores atuais são mestiços, brancos ou

negros. Os costumes e tradições mudaram muito.

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Não existem senzalas, mas casas populares, em algumas usinas. A maioria preferiu

deixar os trabalhadores morando nas cidades próximas e garantir o transporte para a usina ou

o canavial. Assim, se ver livre do vínculo empregatício e a obrigação de garantir moradia e

outros benefícios sociais. A casa grande, ainda existe. Mas geralmente o usineiro, vive mais na

capital, em confortáveis mansões ou apartamentos luxuosos do Farol ou dos bairros da orla

marítima.

As sinhazinhas (filhas dos senhores de engenho) eram preparadas para casar logo

que chegassem a adolescência. Estudavam as primeiras letras com professores particulares na

própria casa grande, aprendiam noções de latim e francês; bordavam, cozinhavam e liam

poesias. Eram românticas, mas dificilmente casavam por amor, sendo obrigadas a casar - na

maioria das vezes, logo que iniciavam a adolescência - com primos legítimos e até tios. Tudo

para preservar o patrimônio da família.

As patricinhas (filhas dos usineiros) são meninas livres, que vivem a doce vida de

filhas de milionários, viajando para o exterior, estudando nos melhores colégios da cidade, ou

mesmo fora do país; usam roupas de grifes famosas e não mais são obrigadas a casar com

quem o pai quer, embora que dificilmente procurem algum rapaz pobre. Algumas chegam a

engajar-se no trabalho da usina, logo que terminam a universidade, sejam como

administradoras de empresas ou assistentes sociais, economistas, advogadas, médicas,

dentistas ou qualquer outra profissão de nível superior. Os rapazes, também participam da

atividade produtiva do patrimônio da família, na maioria das vezes, já como profissionais de

nível superior, seja como engenheiro, agrônomo ou administrador de empresa.

Hoje, as senhoras dos usineiros, procuram trabalhar também na própria usina,

ajudando o marido em atividades sociais, como a assistência às famílias dos trabalhadores. Já

não são mais aquelas matronas, que se enfurnavam na casa grande, só cuidando das

atividades domésticas e gerando filhos. Algumas optam pela vida produtiva na capital, atuando

em atividades do comércio, como boutiques de marcas sofisticadas. Mas, são produtivas,

atualizadas, viajadas e não mais esbanjam riquezas.

Nos engenhos, as festas eram restritas a casa grande. Os escravos ficavam nas

senzalas, cultuando suas tradições africanas. Eram proibidos de, pelo menos, observar os

festejos realizados pelos patrões, que comemoravam as festas do santo padroeiro, as de São

João e São Pedro; o Natal e o Ano Novo, além de casamentos, aniversários, batizados e outras

cerimônias. A capela era o centro de todas as atenções.

Nas usinas desse início de século, realizam-se festas promovidas pelos

trabalhadores, geralmente em clubes sociais administrados por eles próprios. Ao invés do

autêntico folclore típico da zona canavieira, dançam e cantam o axé-music. As moças usam

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mini-saia ou calça colada ao corpo. Pouco se diferenciam das filhas do patrão. Vez por outra,

aparece alguma dessas filhas do proletariado, usando uma calça jeans de marca famosa,

comprada a prestação numa boutique da capital.

Ao invés do barracão (armazém de venda de alimentos) dos antigos engenhos, os

trabalhadores das usinas, compram em supermercados ou mercadinhos das cidades próximas,

ou mesmo na feira-livre. Os hábitos alimentares mudaram muito. Recebem seus salários no

último dia útil da semana, e logo providenciam o abastecimento da cozinha, que dispõe de

fogão a gás, geladeira, liquidificador e outros eletrodomésticos.

A televisão é a responsável pela mudança de hábito do homem do campo. Nas

usinas, o trabalhador fixo, que dispõe de casa, já exibe no telhado, uma antena parabólica. Os

filhos crescem vendo Xuxa, Angélica, Ratinho e muito mais.

Em algumas usinas, cujos proprietários são mais conscientes da realidade econômica

e social, que prioriza a assistência ao trabalhador, funciona escolas e creches para as crianças,

além de assistência médica e odontológica. Nos engenhos banguês, crianças filhas de

escravos ou trabalhadores brancos, não frequentavam escolas, que eram só para os filhos dos

patrões.

Existem bons exemplos de como conduzir uma empresa moderna, pensando no

social: A Caeté, do Grupo Carlos Lyra; Coruripe, do Grupo Tércio Wanderley; Leão (Rio Largo),

do Grupo Leão; Santo Antônio (São Luiz do Quitunde), do Grupo Correia Maranhão; Porto Rico

(Campo Alegre), do Grupo Olival Tenório, entre outras.

As vilas

Quando o primeiro donatário da Capitania de Pernambuco, Duarte Coelho visitou o

Sul do seu domínio, deslumbrou-se com a região do baixo São Francisco, parando num local e

dando início a povoação de Penedo. Lá construiu um forte, e daí em diante, foram surgindo

novos moradores, culminando com o aparecimento da primeira vila fundada em Alagoas.

No século XVII, já despontando como a mais importante vila do Sul da Capitania de

Pernambuco, foram sendo construídas as primeiras Igrejas e o convento, além de prédios

diversos. Terra fértil, logo foi atraindo agricultores que plantavam todo tipo de lavoura, além do

crescimento rápido da pecuária. O comércio expandiu-se. Penedo já era a mais importante vila,

bem mais desenvolvida do que a chamada “cabeça-de-comarca”, a vila de Alagoas (atual

Marechal Deodoro).

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Hoje, Penedo esbanja progresso. Detém um comércio bem movimentado, várias

agências bancárias, ligações com o país e o mundo através do DDD/DDI, indústrias de álcool e

outros setores; uma sólida formação cultural, com várias escolas de primeiro e segundo graus,

além de uma Faculdade, jornal, rádios, teatro e festas tradicionais. O Relatório Estatístico de

Alagoas, de 1998, aponta uma população de 40.554 habitantes na cidade e mais 13.888 na

zona rural. É tombada pelo Patrimônio Histórico Nacional. Durante vários anos, foi a mais

desenvolvida cidade do interior alagoano, perdendo esse posto para Arapiraca, na década de

1960. Sua decadência começou quando foi construída a ponte sobre o rio São Francisco, em

Porto Real do Colégio, ligando Alagoas a Sergipe. A travessia de carros e passageiros, ainda

continua na cidade, ligando-se ao outro lado do rio, através do rio. Mas o movimento mais

intenso mesmo ficou por conta da ponte rodoferroviária.

Mas aos poucos, a cidade foi soerguendo sua economia, e hoje é importante centro

econômico e de turismo cultural. Durante alguns anos, realizava o Festival de Cinema, atraindo

artistas e intelectuais de várias partes do país. Mantém o Festival de Tradições Culturais, a

Festa do Bom Jesus dos Navegantes, Gincana de Pesca e Arremesso, Penedo Fest e outros

eventos de significativa importância socioeconômica, como seminários, congressos, simpósios,

peças de teatro, etc. Suas Igrejas, seus sobrados e a beleza do rio São Francisco atraem

muitos turistas, que dispõem de bons hotéis, restaurantes e passeio de barcos pelo rio, indo até

a foz, na praia do Peba.

Ainda no século XVII, emancipa-se o Povoado de Porto Calvo, tornando-se a

segunda Vila. Sua Igreja, concluída em 1610, garantiu o título de primeira Freguesia fundada

em Alagoas, antes da de Penedo. Preserva ainda seu altar-mor, todo em madeira, com a

imagem de Nossa Senhora da Apresentação (sua padroeira), do Cristo crucificado e de Nossa

Senhora da Conceição.

Palco da luta dos holandeses pela colonização de Pernambuco, Porto Calvo ergue-se

em uma colina, onde abaixo um imenso vale cortado pelo rio Manguaba, é ocupado por

canavial, pastagem e lavouras de vários tipos. Terra fértil, logo foi atraindo novos moradores. E

a vila cresceu, esbanjou progresso, mas foi decaindo ao longo dos séculos, somente

ressurgindo no atual. Hoje, detém um comércio em franca ascensão, agências bancárias,

sistema de telefonia fixa e celular e toda a infraestrutura para se desenvolver mais ainda. O

Relatório Estatístico de Alagoas, versão 1998, aponta uma população de 24.150 habitantes,

sendo 12.798, na cidade. Pouca coisa lembra o seu passado. A Igreja de Nossa Senhora da

Apresentação, é a única construção secular. Alguns sobrados construídos no início do século

XX e, ainda o Alto da Forca, onde dizem ter sido enforcado um dos seus filhos mais ilustres:

Domingos Fernandes Calabar.

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A terceira povoação fundada em Alagoas foi Santa Maria Madalena da Lagoa do Sul,

alusão à lagoa Manguaba, onde está edificada às suas margens. A Lagoa do Norte é a

Mundaú, que banha Maceió, Coqueiro Seco, Santa Luzia do Norte e Satuba. A vila foi

crescendo e, logo no século XVIII tornou-se cabeça-de-comarca, espécie de capital. Quando

da invasão holandesa, foi quase toda destruída, com suas casas sendo incendiadas pelos

invasores. Mas, recuperou logo, e cresceu novamente. Na emancipação política de Alagoas, já

com o nome de Alagoas, foi escolhida como capital da nova Capitania. Perdeu espaço para

Maceió, que surgiu no século XVII, através de um engenho banguê.

Seu patrimônio histórico é rico em beleza arquitetônica, como o Convento e o Museu

de Arte Sacra; a matriz de Nossa Senhora da Conceição; o Palácio Provincial; a casa onde

nasceu o marechal Deodoro; a cadeia pública e tantos outros monumentos, além do casario

colonial e a beleza da lagoa Manguaba.

Hoje, é uma cidade em pleno desenvolvimento socioeconômico, com boa rede de

educação e saúde (possui uma Escola Técnica Federal e colégios de primeiro e segundo

graus), além de hospitais e postos de saúde. Detém o Distrito Multifabril, com várias fábricas,

gerando empregos e impostos para os cofres públicos, além da usina Sumaúma (açúcar e

álcool). Figura entre o quarto maior município arrecadador de ICMS. É importante centro

turístico, com seu patrimônio histórico intocável, e a praia do Francês, conhecida em todo o

país. Sua população, segundo o Relatório Alagoas, é de 28.215 habitantes, sendo 17.451, na

área urbana.

A quarta povoação fundada, foi Santa Luzia do Norte, às margens da Lagoa Mundaú.

Quase era destruída pelos holandeses, mas a força de sua população liderada por dona Maria

de Souza, impediu a invasão. Eles recuaram e a vila continuou em seu ritmo normal. Muitos

anos depois, foi rebaixada condição de vila, ficando pertencendo a Rio Largo, só se

emancipando na década de 1960. Hoje, dispõe de uma importante fábrica de fertilizantes e

investe também no turismo. Detém uma população de 6.397 habitantes, sendo 5.139, na

cidade.

Palmares – grito de liberdade

Os negros africanos, que chegavam aos montes aos engenhos de Alagoas, logo que

foi autorizado o tráfego negreiro, viviam como escravos, sendo maltratados, e trabalhando para

enriquecer o patrão branco. Obviamente que eram revoltados e procuravam a todo custo,

conquistar a liberdade.

Era preciso que surgisse um líder da raça, que incentivasse os demais a lutar pela tão

sonhada liberdade. E, assim entra em cena, Ganga Zumba que levou um grupo de negros para

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um local distante dos canaviais, no alto da Serra da Barriga, no atual município de União dos

Palmares. Os engenhos localizavam-se nos vales dos rios Manguaba, Camaragibe e Santo

Antônio. A notícia foi se espalhando e a cada dia, chegavam mais negros fugitivos.

Logo batizaram o local de Quilombo dos Palmares. Terra fértil, boa para o plantio de

qualquer tipo de lavoura, foi se tornando um importante centro produtor. Os negros construiram

uma verdadeira civilização, assim como era na África. Ganga Zumba se constituía no Chefe de

Governo e tinha seus Ministros. Formou-se então uma verdadeira República Parlamentarista.

Um avanço na época. Lá, eles viviam livres, falavam seu próprio idioma, não eram maltratados

pelos brancos e podiam cultuar suas tradições religiosas e festivas.

Vez por outra, os portugueses, brasileiros e até os holandeses, tentaram acabar com

esse refúgio dos negros. Não conseguiram. A população negra era mais numerosa e

organizada. O tempo foi passando, e Ganga Zumba já não conseguia ter forças para liderar a

comunidade. Na tradição africana, a hereditariedade era passada de tio para sobrinho. E,

assim ele escolheu um desses sobrinhos: Zumbi, um jovem negro, forte, educado por um padre

de Porto Calvo, que logo se afeiçoou a causa da liberdade integrou-se ao Quilombo, e tornou-

se o maior líder revolucionário da História do Brasil, finalmente reconhecido por decreto

assinado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, em 20 de novembro de 1995,

exatamente quando o país reverenciava os 300 anos de sua morte.

Zumbi era um líder nato. Sua companheira Dandara, uma mulher forte, guerreira, que

liderava o grupo feminino. Organizado, logo pôs ordem no Quilombo, nomeando seus

assessores e distribuindo tarefas para toda a população, que era preparada para a batalha.

Quando esse dia chegava, ninguém dormia. O quilombo fervia. Eram homens, mulheres e

crianças de prontidão para o ataque. E foram vários.

Por quase um século o Quilombo dos Palmares resistiu. Mas em novembro de 1695,

os brancos conseguiram subir a Serra da Barriga. Era um grupo numeroso e fortemente

armado, liderado por Domingos Jorge Velho e Bernardo Vieira. O sangue jorrou. Milhares de

negros foram barbaramente assassinados. Zumbi conseguiu fugir acompanhado de alguns de

seus companheiros. Lutou até o fim, quando viu tudo que construiu ser destruído e seus irmãos

de cor, sendo mortos.

Existem duas versões sobre a morte de Zumbi. A primeira é a de que ele suicidou-se,

pulando de um precipício na Serra da Barriga. Mas os historiadores da época, afirmam que ele

foi assassinado mesmo, depois de alguns dias da destruição total do Quilombo. Sua cabeça foi

cortada e levada ao Recife, para ser exposta ao público como um troféu. Era o dia 20 de

novembro de 1695. E depois de três séculos, essa data vem sendo lembrada como o Dia

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Nacional da Consciência Negra. A cada ano, centenas de negros e brancos sobem à Serra da

Barriga nesse dia, para reverenciar Zumbi e sua raça.

O local é tombado pelo Patrimônio Histórico Nacional. Mas precisa melhorar sua

infraestrutura. Foi construída uma vila cenográfica, lembrando o próprio Quilombo. No alto da

serra, existe uma estátua, lembrando a figura do líder maior, mastro para bandeiras e muito

espaço, com o verde predominando por todos os lados. Além, é claro, de um bonito visual para

toda a zona da Mata. É uma das mais altas serras do Estado.

O projeto para construção do Memorial Zumbi, já existe. Mas continua engavetado.

Faltam recursos financeiros. É sempre assim: Quando se pensa em cultura, não existe dinheiro

do governo, que só beneficia mesmo os banqueiros e outros grandes produtores. Seria a

construção de um espaço cultural no alto da serra, com museu, biblioteca e teatro. A luta dos

movimentos negros continua. Já apresentaram vários avanços. A própria cidade de União dos

Palmares, lembra seu passado histórico. Em vários pontos, vê-se o nome de Zumbi e do

Quilombo dos Palmares. Em Maceió, existem as praças Ganga Zumba e Zumbi dos Palmares,

além de uma escola municipal. O aeroporto também lembra esse episódio que se constituiu no

primeiro grito de liberdade do Brasil.

Terra prometida

A fertilidade da terra que depois se transformou em Capitania, Província e Estado de

Alagoas, atraía muita gente. E, com o avanço da invasão de outros povos europeus ao Brasil,

logo esse pedaço da então Capitania de Pernambuco, ficou muito visado.

Primeiro foram os franceses, que chegaram para explorar o pau-brasil. Não passaram

muito tempo, mas deixaram uma marca: a construção do primeiro porto, que ficou conhecido

como Porto dos Franceses, aproveitado depois como único porto da região, para o transporte

do açúcar em demanda a Portugal. E foram quase três séculos com esse local contribuindo

decisivamente com o progresso de Alagoas, até o surgimento do Porto de Jaraguá. Hoje, ainda

existe um resquício aquela época: a carcaça de um navio francês, que, quando a maré está

baixa, fica bem visível. E esse curto período vivido pelos invasores, imortalizou-se na História e

está com o nome na “boca do povo”. É a praia do Francês, a mais badalada do litoral alagoano,

conhecida no país e no mundo, como uma das mais bonitas do Brasil. Pertence ao município

de Marechal Deodoro, distante poucos quilômetros da capital.

Mas a fase mais duradoura dessas invasões foi mesmo a dos holandeses, que

transformaram a Capitania de Pernambuco no Brasil Holandês. E muito contribuíram para o

seu desenvolvimento, embora Alagoas não tenha experimentado essa fase de apogeu, que se

restringia mais ao Recife e Olinda. Por aqui, foi mais destruição, como ocorreu com a Vila de

Page 14: Apostila   a história de alagoas

Santa Maria Madalena da Lagoa do Sul (atual Marechal Deodoro), completamente incendiada

pelos holandeses, que ainda tentaram fazer o mesmo em Santa Luzia do Norte, não

conseguindo, devido à ação rápida de seus moradores, liderados por dona Maria de Souza. Em

Penedo, construíram um forte, depois destruído pelos brasileiros e portugueses, que não

queriam qualquer lembrança dessa fase.

Outro episódio que marcou a presença dos holandeses em Alagoas, foi a Batalha da

Mata Redonda, uma alusão ao local (hoje pertencente ao município de Porto de Pedras) onde

ocorreu a mais sangrenta batalha entre holandeses, portugueses e brasileiros, vencida pelos

primeiros, por ter um maior arsenal e maior contingente de homens.

Mas os holandeses liderados por Maurício de Nassau, muito fizeram por

Pernambuco. A cultura, a educação, o avanço na agricultura e na pecuária. Enfim, uma

civilização que eles queriam formar, e transformar numa colônia desenvolvida. Construíram

pontes (ainda existentes), teatros e outras grandes obras no Recife, cidade que ainda hoje

lembra esse período de desenvolvimento cultural e econômico. É notório o gosto pela cultura

do povo pernambucano, notadamente de Recife e Olinda. Por lá, surgem movimentos culturais

que se expandem Brasil afora. O próprio frevo é criação dos pernambucanos.

Os holandeses eram protestantes (evangélicos), mas não impunham essa religião

aos brasileiros que eles já dominavam. Assim a religião católica continuou sendo forte na

Capitania. Preocupavam-se com a educação, implantando métodos avançados de

alfabetização para crianças e adultos.

Maurício de Nassau foi inegavelmente o maior administrador que o Brasil já teve. Era

organizado, trabalhador e extremamente ético, qualidades que os demais donatários

portugueses não possuíam, optando mesmo pela exploração, a escravidão dos negros e índios

e o aumento da produção de açúcar para enviar a Portugal.

Calabar – herói ou traidor?

Chamava-se Domingos Fernandes Calabar, um mulato filho de dona Ângela Álvares,

nascido na Vila de Porto Calvo. Estudado, rico e com espírito de liderança, avançou no seu

tempo. Mesmo assim, ainda era discriminado pelos brancos portugueses e brasileiros, por sua

condição de mestiço e filho bastardo. Possuía engenhos de açúcar, muito dinheiro, estudou em

Olinda, era culto e muito bem informado.

Quando da Invasão Holandesa a Porto Calvo, lutou ao lado de seus conterrâneos

contra esses invasores. Mas logo foi percebendo que eles tinham um projeto de colonização

Page 15: Apostila   a história de alagoas

muito mais avançado e ético do que o dos portugueses. Não contou conversa: passou para o

lado dos holandeses.

Começa então, a história desse bravo alagoano, que alguns historiadores afirmam ter

sido traidor, mas que ele próprio nunca se considerou assim. Deixou uma carta-testamento,

mostrando a sua decisão. Nela, alegava que não se considerava traidor, porque o Brasil não

era uma pátria. E que o projeto dos holandeses era muito melhor para os brasileiros. Mas não

foi compreendido, obviamente.

Calabar viveu as experiências mais desastrosas daquela época. Acompanhava os

holandeses em suas batalhas, destruindo engenhos e fazendas. Sabia que tudo aquilo que

acontecia era porque seus conterrâneos não aceitavam a proposta de colonização dos

invasores, optando mesmo pelos portugueses, já que eram descendentes destes.

Por conhecer Recife e seu avançado projeto de desenvolvimento econômico-cultural,

queria que tudo aquilo fosse implantado em Porto Calvo e Penedo. Não conseguiu. Seus

conterrâneos venceram. Mas ele deixou bem patente em sua carta, que preferia derramar seu

sangue por uma causa justa, que ele abraçou, do que viver sob o domínio mesquinho dos

portugueses, que só queriam mesmo explorar os brasileiros. Foi morto e esquartejado, com

partes do seu corpo distribuídas pelas ruas da Vila de Porto Calvo. Mas, os holandeses

conseguiram recuperar tudo e fizeram o seu enterro com honras militares. Passou para a

História da Holanda, como herói. A História do Brasil, o considera um traidor. Mas era escrita

pelos portugueses. Na Holanda, ele é um herói. Existe até uma praça no Centro de Amsterdã,

com seu nome, além de livros e documentos que comprovam as ideias de colonização desse

bravo alagoano.

Hoje, Porto Calvo só tem como monumentos para lembrar a sua importância na

História de Alagoas, a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Apresentação, inaugurada em 1610

(existe no alto de sua fachada, essa data), com seu altar-mor em madeira, originalíssimo e as

imagens da sua padroeira, de Cristo crucificado, de Nossa Senhora da Conceição e outras. É a

mais antiga freguesia de Alagoas. Para lembrar Calabar, existem: o chamado Alto da Forca,

onde dizem que ele foi enforcado, o Fórum, além de um clube, um bar e restaurante que levam

o seu nome. Mas, o importante mesmo é a luta dos filhos da terra para resgatar a memória

desse conterrâneo. São publicados livros e outros periódicos, enaltecendo a sua figura. A

esperança é de que um dia, ele seja finalmente considerado Herói Nacional, como foi Zumbi,

outro que os portugueses também consideravam como traidor.

Page 16: Apostila   a história de alagoas

Rumo à Independência

O progresso do Sul da Capitania de Pernambuco conhecido como Alagoas, fez com

que sua população fosse logo desejando a independência. Mas nada era fácil. No início da

segunda década do século XVIII, foi criada a Comarca de Alagoas, sob a jurisdição da

Capitania de Pernambuco, e nomeado o primeiro Ouvidor Geral: José da Cunha Soares.

Por não existir cursos jurídicos no Brasil, esse cargo era destinado a quem fosse mais

letrado, com espírito de liderança. Transformava-se em comandante da Justiça, da Política e

da Economia. E no período de mais de um século, entre 1711 a 1817 (ano da sua

emancipação política), Alagoas teve 17 ouvidores-gerais.

Foi exatamente na segunda metade do século XVIII, que surge Maceió, de um

engenho de açúcar denominado Massayó. A palavra é de origem indígena, significando terra

alagadiça, que deu origem ao riacho com o mesmo nome. O engenho, de propriedade de

Apolinário Fernandes Padilha, localizava-se na atual Praça Dom Pedro II, com o engenho

propriamente dito, a casa de purgar, a senzala, a casa grande e a capelinha em louvor a São

Gonçalo, que ficava no meio do morro do Jacutinga (Ladeira da Catedral). Duraram poucos

anos. Ficou em fogo morto e o povoando foi crescendo. Surgiram novos moradores, que logo

foram construindo suas casas e formando um arruado. Em 5 de dezembro de 1815, o povoado

é elevado a categoria de Vila, desmembrando-se da Vila de Alagoas (atual Marechal Deodoro).

Surgiram ainda as povoações de Anadia, Atalaia, Camaragibe, São Miguel dos

Campos, Poxim e Porto de Pedras. A Comarca tinha como sede a vila de Alagoas, atual

Marechal Deodoro, uma espécie de capital, já com suas Igrejas monumentais, ainda hoje

preservadas. Penedo, Porto Calvo e Santa Luzia do Norte, eram as outras vilas, que

continuavam crescendo e atraindo novos moradores.

Ainda no século XIX existiam em Alagoas as vilas de Água Branca, Mata Grande,

Pão de Açúcar, Traipu, Piranhas, Palmeira dos Índios, São Miguel dos Campos, Quebrangulo,

Assembleia (Viçosa), Imperatriz (União dos Palmares), São José da Laje, Murici, São Luiz do

Quitunde, Coqueiro Seco e Pilar.

A traição que deu certo

A Comarca de Alagoas já esbanjava progresso, provocando ciumeira em meio às

lideranças da Capitania de Pernambuco. Nas duas primeiras décadas do século XIX, já se

apresentava em condições de se tornar independente. Mas os donatários não aceitavam.

Afinal, era daqui que eles abocanhavam uma boa parcela da arrecadação de impostos, além

da grande produção de açúcar dos nossos engenhos.

Page 17: Apostila   a história de alagoas

O Ouvidor Batalha, sempre sonhava em transformar Alagoas em Capitania e, ser o

seu primeiro governador. Aproveitou a Revolução Pernambucana, que tinha como objetivo

libertar-se de Portugal e, iniciou seu plano. Os revolucionários já haviam conquistado o apoio

da Paraíba e Rio Grande do Norte. Faltavam Alagoas e Sergipe (Comarcas), além da Bahia e

Ceará.

Um emissário foi enviado do Recife a Salvador, para tentar conquistar esse tão

sonhado apoio. Passando por Alagoas, propagava os ideais revolucionários e conquistava

alguns adeptos. Mas o Ouvidor Batalha não se encontrava na sede da Comarca e sim na vila

de Atalaia, já em campanha em prol da emancipação política de Alagoas.

O emissário que trouxe a notícia para Alagoas e seguiu para Sergipe e Bahia, foi o

Padre Roma. Aqui, encontrou um apoio de peso: o Comandante das Armas, Antônio José

Vitoriano Borges da Fonseca, que atendendo ao pedido do Padre Roma, autorizou a destruição

dos símbolos de Portugal e colocou em liberdade todos os presos. Passou por cima da

autoridade maior da Comarca: o Ouvidor Batalha. Escreveu ao Conde D’Arcos, governador da

Bahia, informando sobre os ideais da Revolução Pernambucana e seu apoio, pedindo o dele.

Não conseguiu. Arrependeu-se de ter seguido os conselhos do Padre Roma. Era tarde demais.

Em Atalaia, o Ouvidor Batalha, aproveitando os tumultos, escreve ao Conde D’Arcos

comunicando-lhe das medidas que resolveu tomar: desmembrou a Comarca de Alagoas da

jurisdição da Capitania de Pernambuco, enquanto durasse a revolução, e auto-nomeou-se

governador provisório. Contou com o apoio que precisava, e venceu a batalha. Dias depois,

Alagoas separou-se definitivamente de Pernambuco. Mas ele não conseguiu o que tanto

sonhava: ser seu primeiro governador.

O decreto assinado por Dom João VI, em 16 de setembro de 1817, emancipando

Alagoas de Pernambuco, transformando a Comarca em Capitania, estabeleceu como capital a

vila de Alagoas (atual Marechal Deodoro) e nomeando como primeiro governador, o português

Sebastião Francisco de Melo e Póvoas, que acabara de governar a Capitania do Rio Grande

do Norte.

Ao desembarcar no porto de Jaraguá, o governador encantou-se com a vila de

Maceió. Foi recebido com muitas festas e, hospedou-se no sobrado de um português na

esquina das ruas do Comércio e Livramento, onde hoje funciona a Ótica Flamengo.

Sua posse aconteceu na matriz de Nossa Senhora da Conceição, na capital, numa

solenidade com muita pompa, autoridades diversas e muitos discursos. Mas o governador não

gostou muito do aspecto urbano da antiga vila, sempre priorizando Maceió.

Page 18: Apostila   a história de alagoas

E essa opção pela vila ao invés da capital, fez com que várias autoridades

protestassem. Os de Alagoas (Marechal Deodoro) não aceitavam sob hipótese alguma, a

instalação de repartições públicas na vila de Maceió, enquanto o próprio governador e várias

outras personalidades políticas, econômicas e culturais, preferiam mesmo que os principais

órgãos públicos fossem instalados em Maceió, por ser mais desenvolvida que a capital,

possuir um movimentado porto e toda a infraestrutura de uma capital. E assim foi feito.

Melo e Póvoas instalou a Junta de Administração e Arrecadação da Real Fazenda, o

Quartel Militar e a Alfândega. Ciumeira geral.

Maceió crescia a olhos vistos. O governador mandou que fosse elaborada uma planta

urbana, para proporcionar um novo visual a vila. O traçado das ruas e das praças e os

melhoramentos necessários. E assim surgiram as ruas do Comércio, do Sol, Livramento, Boa

Vista, Moreira Lima, Augusta, Nova, Alegria e as praças Dom Pedro II e Martírios. O traçado

continua o mesmo. Nunca houve alargamento, mudando apenas a arquitetura das casas.

O governador afastou-se do cargo em fevereiro de 1822, retornando à Portugal.

Criou-se uma junta governativa formada por Antônio José Ferreira, José de Souza Melo,

Nicolau Paes Sarmento, Manoel Duarte e Antônio de Hollanda Cavalcante, que permaneceu

até a independência do Brasil, quando a Capitania foi transformada em Província.

A Província de Alagoas

Quando da independência do Brasil, Alagoas já esbanjava progresso, tendo o açúcar,

como seu carro-chefe. Dezenas de engenhos produziam e exportavam através do Porto de

Jaraguá. Os governadores passaram a ser denominados presidentes. E o primeiro deles,

nomeado por Dom Pedro I, foi o pernambucano Nuno Eugênio de Lossio, que instalou o

Conselho de Governo e autorizou as eleições para deputados e senadores.

O segundo presidente, foi o mineiro Cândido José de Araújo Viana (Marquês de

Sapucaí), que ficou no cargo apenas cinco meses, período em que instalou o Correio

Provincial. É substituído por Miguel Veloso da Silveira Nóbrega e Vasconcelos, que determinou

a criação de câmaras municipais nas cidades e vilas.

E novos governantes, chegavam e saiam em pouco tempo. Eram baianos,

pernambucanos, mineiros, paulistas, gaúchos e de outras províncias, que não se adaptavam

por aqui e terminavam renunciando.

Page 19: Apostila   a história de alagoas

Novas vilas foram surgindo nessa primeira fase de Alagoas como Província. Em 13

de outubro de 1831, emanciparam-se de Atalaia, as vilas de Assembleia (atual Viçosa) e

Imperatriz (União dos Palmares), ambas na zona da Mata alagoana.

Também nesse período, ocorreu a chamada Cabanada Selvagem, revolta dos índios

de Jacuípe, na região Norte da Província, contra o assassinato de seu cacique, provocando

muitos conflitos e assassinatos, além de destruição de engenhos e fazendas.

Em 1831, surge o primeiro jornal impresso de Alagoas, mais precisamente em

Maceió: o Iris Alagoense. Teve duração curta, porque o coronelismo imperava naquela época.

Seu principal redator sofreu um atentando, escapando por milagre e, decidindo-se mudar-se

para Recife. Depois, o nome foi substituído por O Federalista Alagoense, já impresso em

Maceió. A vila já estava com ares de capital. Tinha até jornal, enquanto a capital propriamente

dita (Alagoas, atual Marechal Deodoro) entrava em processo de decadência. Em 1849, mais

uma conquista de Maceió (já como capital): o primeiro estabelecimento de ensino secundário:

Liceu Alagoano, ainda hoje funcionando com nome original, depois de se chamado Colégio

Estadual de Alagoas.

Nos primeiros anos do Brasil independente, Alagoas “fervia”. Eram constantes

conflitos entre brasileiros e portugueses. A Confederação do Equador, que explodiu em

Pernambuco, chegou por aqui, tendo o apoio do senhor de engenho Manuel Vieira Dantas e

sua mulher Ana Lins, de São Miguel dos Campos. Houve muita perseguição aos

revolucionários e ela entrincheirou-se em seu engenho em São Miguel dos Campos, lutando

até o fim do conflito, tornando-se uma das heroínas de Alagoas.

A notícia da abdicação de Dom Pedro I chegou a Alagoas e provocou mais brigas

entre brasileiros e portugueses. Os primeiros, representando a imensa maioria, em caminhada

pelas ruas de Maceió, atacam o Quartel, apoderando-se de munições e chegam a prender

lideranças portuguesas. Os manifestantes apoiavam a abdicação, por ser Dom Pedro II,

brasileiríssimo. Enfim, o trono do Brasil, com um brasileiro.

Dessa época (1822-1831), restam poucas reminiscências: Igrejas e conventos em

Penedo, Marechal Deodoro e Porto Calvo. Em Maceió, o antigo forte de São João, atualmente

um quartel do Exército, no Centro da cidade; o próprio traçado das ruas (obviamente que, com

as edificações com arquiteturas diferentes); o porto de Jaraguá: a Igreja daquele bairro e, só.

Tudo foi mudando aos poucos, preservando-se apenas os monumentos mais importantes.

Page 20: Apostila   a história de alagoas

Maceió, capital

Desde os tempos do primeiro governador, Sebastião Francisco de Melo e Póvoas,

Maceió já esbanjava progresso, provocando ciumeira entre os habitantes da velha Alagoas, a

capital da Capitania e depois Província. O próprio governador passava mais tempo na vida do

que na capital. E, decidiu instalar as principais repartições públicas em Maceió.

As mais importantes lideranças políticas daquela fase eram: Tavares Bastos (na

capital) e Cansanção de Sinimbu (em Maceió). Chegou-se a se formar uma verdadeira

guerrilha, que ficou conhecida como Lisos e Cabeludos, provocando tumultos generalizados e

mortes.

No governo de Agostinho da Silva Neves, a situação agravou-se. Ele também

permanecia mais em Maceió do que na capital da província. O ano de 1839 foi o pior de todo o

período dessa administração. O presidente chegou a ser preso por ordem do major Mendes da

Fonseca, na capital. Solto, encaminhou-se ao porto do Francês, com ordem para deixar

Alagoas. Mas pediu ao condutor do navio que fizesse o caminho de volta, dirigindo-se ao porto

de Jaraguá. Ao chegar, foi recebido com muita festa pela população, liderada por Sinimbú, já

autonomeado presidente da Província, enquanto na capital, Tavares Bastos, considerava-se

também, presidente. Mas o titular, resolveu a questão de uma vez por todas. No dia 9 de

dezembro de 1839, assina o decreto transferindo a capital da velha Alagoas (Marechal

Deodoro) para Maceió. O fim de um sonho que se tornou realidade, por justiça mesmo. Afinal,

a vila era muito mais importante do que a capital da Província.

A cada dezembro, os maceioenses comemoraram duas datas festivas: o dia 5,

lembra 1815, quando o povoado foi elevado a categoria de vila (município de hoje) e o dia 9, a

transferência da capital, a data mais importante, porque era o acontecimento mais esperado

naquela época.

Em 1859, Maceió recebe a visita do Imperador Dom Pedro II, que inaugurou a

Catedral Metropolitana, com a bonita imagem da padroeira, Nossa Senhora dos Prazeres,

presenteada pelo Barão de Atalaia e trazida de Portugal. A imagem representa os sete

prazeres de Maria. Sua passagem pela capital ficou na História. Ele hospedou-se no sobrado

do Barão de Atalaia (prédio anda hoje existente e preservado, que pertence a Aliança

Comercial, na Praça Dom Pedro II). Esse sobrado de dois andares era o maior da cidade, mas

seus moradores perderam a visão do mar, por causa de uma intriga com o Barão de Jaraguá,

que construiu um outro mais alto, a sua frente (hoje, a Biblioteca Pública). O Imperador

participou de festas na capital, e seguiu viagem para Penedo, Traipu, Pão de Açúcar e a

cachoeira de Paulo Afonso, além de visita aos engenhos da zona da Mata e a Colônia de

Leopoldina.

Page 21: Apostila   a história de alagoas

Até as primeiras décadas do século XX, Bebedouro era o bairro nobre da capital, com

suas mansões. Depois surgiu o Farol. A Avenida da Paz, no Centro, a beira-mar, era a

preferida para a construção de bangalôs, onde viviam as mais tradicionais famílias da cidade.

O Hotel Atlântico, foi durante muito anos, um dos mais procurados pelos viajantes. Construído

a beira-mar e ao lado do riacho Salgadinho (limpíssimo), sempre foi um bonito exemplar da

arquitetura das primeiras décadas do século XX. Sua arquitetura foi descaracterizada. O

sobrado da família Machado, era outro exemplo de beleza arquitetônica. Depois foi adquirido

pela Universidade Federal de Alagoas, para servir de Residência Feminina Universitária,

passando logo após a abrigar o Museu de Folclore Théo Brandão. Abandonado, o prédio foi

ruindo aos poucos e todo o acervo transferido para a antiga Reitoria. Mas, foi recentemente

restaurado, esbanjando toda a sua beleza. A Avenida era também o cartão-postal: praia limpa,

com areia branca. Palco do carnaval de rua, com o desfile de blocos e escolas de samba, além

de desfiles estudantis e militares, nas comemorações do Dia da Independência e da

Emancipação Política de Alagoas.

Os sobrados do Centro emolduravam a paisagem típica de uma capital provinciana.

O Hotel Bela Vista, na Praça dos Palmares, sempre foi o prédio de maior beleza arquitetônica,

com sua varandas, com vista panorâmica para o mar da Avenida da Paz. Hoje é um edifício de

13 andares, que serve a representação do Ministério da Saúde. Ao lado, onde estão os

edifícios do INSS, existia o antigo palácio do Governo, com quadro andares. A Praça Sinimbú,

era repleta de sobrados, onde vivia a burguesia. Em frente o prédio da Linha de Bondes, com

seu relógio. Foi derrubado, para construir a Faculdade de Engenharia, depois Reitoria da

Universidade Federal de Alagoas, e atualmente, Espaço Cultural da Ufal.

Imaginem Maceió no início do século XX, com seus sobrados, Igrejas e a população

andando nas ruas centrais! Os homens de terno, gravata e chapéus e as mulheres de vestidos

longos, esbanjando charme e elegância. Os bondes eram puxados por cavalos. Só depois,

chegaram os movidos à eletricidade. Faziam o percurso entre o Centro, Trapiche, Bebedouro,

Farol e Pajuçara. Até 1958, era esse o principal meio de transporte urbano. A alegria da

juventude, que estudavam nos colégios São José, Instituto de Educação, Anchieta, Liceu,

Guido, Diocesano, Sacramento, Batista e outros. Depois surgiram as “sopas”, uma espécie de

micro-ônibus. Mas os bondes deixaram saudade.

E Maceió nunca parou de crescer. A cada censo realizado pelo IBGE, constata-se

mais gente vivendo na capital alagoana, que neste início de novo milênio, ostenta uma

população de mais de 800 mil habitantes. Novos bairros vão surgindo. Mas surgem também,

novas favelas, que já somam quase 100, fruto do êxodo rural e do desemprego generalizado.

Page 22: Apostila   a história de alagoas

Os bairros da orla marítima (Cruz das Almas, Jatiúca e Ponta Verde), que até a

década de 1960, eram imensos sítios de coqueiros, foram atraindo moradores, com a

construção de edifícios de apartamentos. Hoje, formam um verdadeiro labirinto de concreto.

Mas existe uma lei municipal que proíbe a construção de prédios a beira-mar com mais de seis

andares. Esses bairros só estão crescendo mais verticalmente (edifícios). Não existe mais

espaço para casas. Essas são construídas na parte alta da cidade, como Barro Duro, Serraria,

Tabuleiro do Martins e Benedito Bentes. Surgem condomínios fechados, com verdadeiras

mansões, como o Aldebaran e Jardim do Horto.

Nos anos 60, a novidade foi o Edifício Breda, com seus dez andares, onde a

juventude sempre se dirigia para subir até o último andar, de elevador (novidade) e apreciar a

beleza da orla marítima e da lagoa de Mundaú. Era ponto de encontro para namorados. Mas

também serviu para suicídio de muita gente. Ainda nesse período, é construído o Edifício São

Carlos, com 11 andares e 22 apartamentos, na Avenida da Paz, de frente para o mar. Foi o

primeiro edifício de apartamento da cidade. Depois, outra atração: a escada rolante da Lobrás.

Todos queriam experimentar, subindo na escada, sem precisar dos batentes, e se deliciar com

a beleza da loja e suas mercadorias expostas.

A capital modernizou-se, com edifícios comerciais e residenciais. Em 1989 ganhou

seu primeiro shopping center: o Iguatemi. A partir daí, foram surgindo outros. Só em 1998, dez

deles foram instalados, de pequeno e médio portes, abrindo-se assim 2 mil novos empregos

diretos e 600 pontos de venda. O comércio descentralizou-se, atingindo os vários bairros.

O tradicional bairro de Jaraguá está sendo revitalizado. Seus sobrados, ruas estreitas

e praças, ganham o visual de antigamente. O imponente prédio da Associação Comercial de

Maceió, construído na década de 1920, foi restaurado. O mesmo ocorreu com o prédio da

antiga Alfândega (Museu da Imagem e do Som), enquanto as ruas tiveram o asfalto retirado,

para dar lugar ao calçamento em pedras. O projeto também beneficia a praia da Avenida,

antigo cartão postal.

O Centro da cidade deverá ser revitalizado. Alguns prédios já foram a exemplo do

próprio Palácio Floriano Peixoto (Palácio dos Martírios – sede do governo), do Instituto

Histórico, da Biblioteca Pública, da Aliança Comercial, Tribunal de Justiça, Assembleia

Legislativa, Academia Alagoana de Letras e Teatro Deodoro, todos construídos no século

passado.

A cidade detém um bom lugar no ranking do turismo nacional. Na alta temporada de

verão, fica com seus hotéis e pousadas lotados. Navios de passageiros chegam ao Porto de

Jaraguá, com centenas de estrangeiros. Os turistas visitam as praias, lagoas, bares,

restaurantes, mirantes, monumentos históricos e adquirem o artesanato local. A vida noturna é

Page 23: Apostila   a história de alagoas

bastante agitada. Existem bares, restaurantes e boates espalhados por vários pontos. Mas os

destaques são: Stela Maris, Jatiúca, Ponta Verde, Pajuçara e Jaraguá. Todos na orla marítima.

Guerras e guerrilhas

Alagoas sempre foi palco de conflitos e sua fama de terra violenta correu o país. No

século XIX, surgiram vários desses conflitos. Na briga pela disputa da capital entre Marechal

Deodoro e Maceió, consagraram-se dois alagoanos: Cansanção de Sinimbu e Tavares Bastos.

Surgiu daí a chamada Guerra dos Lisos e Cabeludos, respectivamente conservadores e

liberais. Era uma espécie de partidos políticos.

Os Lisos, comandados por Tavares Bastos, denunciavam que Cansanção de Sinimbu

queria dominar Alagoas, formando uma verdadeira oligarquia. O dia 4 de outubro de 1844 foi

“um dia de cão” em Maceió. Os Lisos invadiram Maceió e comandaram um tiroteio no Centro,

que duraram duas horas.

Ainda na década de 1840, surgem os temidos irmãos Moraes, que, para vingar a

morte do pai, formaram um bando semelhante ao de Lampião, espalhando o terror por toda

Alagoas. Para alguém morrer, bastava que o bando desconfiasse que este pertencia ao partido

dos Cabeludos. A primeira vítima foi um tenente de Quebrangulo.

Os irmãos Moraes, dividiam o ódio pelos assassinos do pai, aos integrantes dos

Cabeludos. Tentaram matar o Barão de Atalaia, que diziam encontrar-se no Sertão de

Pernambuco. Não encontraram o alvo, mas mataram um rapaz inocente, que estava na casa

onde deveria se encontrar o Barão.

Durante a Guerra do Paraguai, Alagoas enviou cerca de 3 mil homens para combate,

inclusive toda a família Mendes da Fonseca (Deodoro e seus irmãos). A mãe, dona Rosa da

Fonseca, vibrava com as notícias de vitória do Brasil, e demonstrava essa alegria, exibindo

panos brancos nas janelas de sua casa na velha cidade de Alagoas. Mas três de seus filhos

morreram em combate. Para ela, um ato de heroísmo. No final, o Paraguai ficou destruído. O

que importava para o Brasil era mesmo acabar com aquele pequeno país, que na época

adotava um sistema semelhante ao socialismo do século XX. O povo paraguaio, sempre teve

espírito cívico. Quando surge algum ditador, procura derrubá-lo do poder. Assim fizeram com

Alfredo Stroesner e mais recentemente com Raul Cubas. Ambos se refugiaram no Brasil.

Nas décadas de 1920/30, o terror foi espalhado no Sertão alagoano com as

sucessivas passagens de Lampião e seu bando, que evitavam as cidades por onde o trem

passava. Mas, foi à polícia alagoana, que conseguiu acabar com essa fase de violência,

Page 24: Apostila   a história de alagoas

matando Lampião, Maria Bonita e quase todos os cangaceiros, numa gruta, do outro lado do rio

São Francisco, na localidade conhecida como Angicos.

Os chefes políticos sempre dominaram Alagoas, espalhando a violência em várias

regiões. Sempre ficavam impunes. Detinham o poder político e econômico. Muitos episódios

marcaram a História de Alagoas, envolvendo famílias violentas. Os Malta, de Mata Grande,

fizeram história, brigando entre si: Maia, de Pão de Açúcar; Teixeira, de Chã Preta; Mendes,

de Palmeira dos Índios; Novaes, de Santana do Ipanema; Fidelis, de Pindoba; Calheiros, de

Flexeiras; Tenório, de Quebrangulo (de onde surgiu o lendário Tenório Cavalcante, mais

conhecido como o “homem da capa preta”, que migrou para o Rio de Janeiro, aterrorizando a

Baixada Fluminense, com sua famosa metralhadora: a Lourdinha.

Essas famílias brigavam entre si, por questões de terra e política. Aterrorizando os

moradores das cidades, que, temiam ser mortos. Em Mata Grande, os Malta brigavam entre

primos, irmãos, tios e outros parentes, provocando tiroteios em plena rua. Ninguém se atrevia

a abrir a porta. Sempre foram temidos e se orgulhavam disso. Pindoba, sempre foi dominada

pelos Fidelis, que aterrorizaram a pequena cidade. Não é mais. Muitos morreram, outros estão

presos e, os sobreviventes, já não seguem o que seus antecessores fizeram. Matavam

friamente os pobres coitados, que “olhassem atravessado” para um deles. Mas, essa fase

também vem acabando. Muitos desses valentões já morreram, e os descendentes, já não mais

seguem essa atitude burra, em desuso no mundo moderno em que vivemos. Pindoba hoje é

comandada por um jovem fazendeiro, que não tem qualquer grau de parentesco com os

Fidelis. A paz estabeleceu-se na cidade.

Outro episódio que ficou na história, ocorreu mais recentemente, envolvendo as

famílias Calheiros e Omena, com sucessivos crimes, aterrorizando Maceió. O cabo Henrique,

da Polícia Militar, para vingar a morte do pai, juntou seus irmãos (Omena) para matar os

integrantes de uma porção violenta da família Calheiros, que se assinam Cavalcanti Lins, com

base na cidade de Flexeiras. Assassinatos sucessivos entre as duas partes, eram manchetes

dos jornais na época.

No Sertão alagoano, surgem dois personagens, que aterrorizaram o Estado com

sucessivos crimes: Floro e Valderedo. Iniciaram a matança por questão de vingança, e aos

poucos, os assassinatos foram se sucedendo, culminando com uma espécie de bando, quase

semelhante ao de Lampião.

Neste final de século, surgiu outro bando, que aterrorizou o Sertão. Era de Marcos

Capeta, um jovem revoltado, que assassinou dezenas de pessoas em várias cidades de

Alagoas, Sergipe, Bahia e Pernambuco. Sempre conseguiu fugir da polícia. Mas foi morto pela

PM baiana em agosto de 1999.

Page 25: Apostila   a história de alagoas

Vez por outra, surgiam famílias que dominavam a política e a economia em seus

municípios, envolvendo-se em questões de terras, culminando com muita violência. Aos

poucos, o coronelismo vai acabando, graças a democracia, com a liberdade de imprensa e as

denúncias feitas, envolvendo figuras importantes do mundo político e econômico, que acabam

abandonando esse lado violento e engajando-se ao mundo globalizado, competitivo e criativo,

ao lado dos chamados emergentes, que são pessoas pobres, que cresceram economicamente

e se tornaram líderes e poderosos.

Partidos e Imprensa

A segunda metade do século XIX foi de agitação política. O nível nacional surge os

partidos Liberal e Conservador. Em Alagoas, foram criados os Luzias e Saquaremas,

instalados durante a presidência de José Bento da Cunha Figueiredo.

O partido dos Luzias, utilizava-se do jornal O Tempo, para alimentar a sua política,

com ideias defendidas através de ataques ao presidente. Os Saquaremas tinham o jornal

Timbre Alagoano, atacando o partido oposicionista.

Na presidência de Pereira de Alencastro, esses dois partidos se dividiram. Os Luzias,

formaram o Partido Progressista e o partido Histórico. Esse último coligou-se pouco tempo

depois aos Saquaremas.

Antes da Abolição da Escravidão, Alagoas já estava na luta por esse objetivo. Em

setembro de 1881, foi instalada a Sociedade Libertadora Alagoana, que marcou época. Detinha

dois jornais: O Lincoln e o Gutemberg, ambos engajados na luta pelo fim da escravidão.

O ideal republicano começou a surgir com o jornal O Apóstolo, em 1871. Depois

surgiu A República. Em 1888, o jornalista João Gomes Ribeiro fundou o Centro Republicano

Federal de Maceió. Um ano depois, é proclamada a República, exatamente por um alagoano.

A política em Alagoas sempre foi clientelista. Existiam e ainda existem verdadeiros

“curais eleitorais”, onde os chefes políticos mandam e demandam, comprando votos de

eleitores pobres e analfabetos. Aos poucos, esse critério vai mudando. Mas ainda deverá

demorar muito, para acabar de uma vez por toda com toda a bandalheira que existe em ano

eleitoral, onde o dinheiro está acima de tudo.

No início do século XX, dois irmãos dominaram o governo do Estado, como eleitos

pelo povo: Joaquim Paulo e Euclides Vieira Malta, formando o que passou para a História como

Oligarquia dos Malta. A família continuou dominando no alto Sertão, elegendo prefeitos e

Page 26: Apostila   a história de alagoas

deputados estaduais. Mas, foi se dispersando e a cada eleição, seus candidatos vão sendo

derrotados.

Nas décadas de 1930/40, os Góes Monteiro, formaram outra oligarquia. Alagoas

passou a ser conhecida como “Alagóes”. Dois irmãos: Ismar de Góes Monteiro e Silvestre

Péricles de Góes Monteiro, foram governadores (um, especificamente Interventor, na ditadura

de Vargas e o segundo, governador eleito pelo povo).

Já nos anos 70, 80 e até quase o final de 90, outra oligarquia dominou o Estado. Mas

não uma familiar e sim, de amigos: Divaldo Suruagy e Guilherme Palmeira. Começaram eleitos

indiretamente, durante a ditadura militar. Depois, foram “ às urnas e ganharam. Quando não se

candidatavam, apresentavam um candidato, que era facilmente eleito. Só perderam e

desapareceram da cena política, nas eleições de 1989.

Essas oligarquias estão acabando. Os próprios coronéis da política, já se foram.

Surgem os emergentes. Alguns de direita, outros de esquerda. São cidadãos que enriqueceram

com esforço próprio, na agropecuária, na indústria, no comércio ou na prestação de serviços.

Famílias tradicionais da política alagoana, como os Malta, de Mata Grande; Torres, de Água

Branca; Bulhões, de Santana do Ipanema; Dantas, de Batalha; Sampaio, de Palmeira dos

Índios; Vilela, de Viçosa; Moreira, de Capela; Gomes de Barros, de União dos Palmares, e

tantas outras, estão perdendo espaço para novas lideranças políticas.

O primeiro jornal impresso que surgiu em Alagoas foi o Iris Alagoense, em 1831, em

Maceió, que, ainda não capital da Província. Foi o primeiro passo para o avanço dessa área,

com a criação de outros jornais, tanto em Maceió, como em Penedo, Marechal Deodoro e,

depois: Viçosa, já na segunda metade do século XIX. Até mesmo nos engenhos, havia a

preocupação com a cultura. No Bananal, do coronel Quintiliano Vital, em Viçosa, foi publicado o

jornal O Camponês, com notícias envolvendo mais as atividades agrícolas. Seu primeiro

número saiu exatamente no dia da Abolição da Escravidão. Seus editores não sabiam desse

fato. A notícia chegou depois.

O jornal mais antigo ainda em circulação (quinzenal) é O Semeador, da Arquidiocese

de Maceió, fundado em 1913. O Jornal de Alagoas circulou durante 85 anos, paralisando suas

atividades em 1993. Atualmente o diário mais antigo é a Gazeta de Alagoas, da Organização

Arnon de Mello, com 65 anos de existência e o de maior circulação no Estado.

Funcionam em Maceió neste início de século, três jornais diários: Gazeta de

Alagoas, O Jornal e Tribuna de Alagoas, pela ordem os de maior circulação. São cinco

emissoras de Televisão: Gazeta (Globo), Pajuçara (SBT), Alagoas (Bandeirantes), Massayó

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(MTV) e Educativa. São dezenas de rádios AM e FM distribuídas entre a capital e cidades do

interior.

Nepotismo em Alagoas

O nepotismo (emprego público para parentes) é uma prática adotada no Brasil desde

o seu descobrimento. Na primeira carta enviada por Péro Vaz de Caminha ao rei de Portugal,

depois de vários elogios a nova terra, ele pede um emprego para um parente seu.

Em Alagoas, logo que foi proclamada a República, essa prática aparece. O

presidente Deodoro da Fonseca nomeia seu irmão Pedro Paulino, para governador. De lá para

cá, a prática é tão comum, que os pais já criam os filhos pensando num emprego público, que

virá logo que ele complete a maioridade. E há casos até mesmo de falsificação de documentos,

aumentando-se a idade, para que esse filho ingresse logo no serviço público e torne-se um

marajá.

Existe nepotismo abertamente, nos três Poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário.

Famílias inteiras usufruem do dinheiro público. Quando surge uma denúncia na imprensa, com

a relação de integrantes de famílias de deputados, desembargadores, conselheiros do Tribunal

de Contas, governadores, secretários de Estados e outras lideranças, o escândalo está

formado, mas logo surge outro, esquecendo-se daquele. Ninguém perde um centavo da renda.

Continuam marajás, usufruindo das benesses do governo.

Na Assembleia Legislativa, cada um dos 27 deputados têm direito a 30 assessores.

Um escândalo. Os gabinetes não comportam essa quantidade. Trabalham mesmo, no máximo,

cinco. Os demais só aparecem no local para receber o cheque-salário. Boa parte desses

assessores é formada por irmãos, primos, cunhados, filhos, sobrinhos e demais parentes dos

deputados. O mesmo esquema é montado nos Tribunais de Justiça e de Contas. São ao todo,

1.500 funcionários públicos beneficiados com altos salários, que abocanham mais da metade

da folha de pagamento. Uma vergonha nacional.

A bandalheira sempre foi escancarada nas prefeituras do interior, onde os prefeitos

empregam parentes nos mais diversos cargos, sem qualquer qualificação profissional.

Empregavam. Não empregam mais. A Lei de Responsabilidade Fiscal aprovada pelo

Congresso Nacional, de autoria do Executivo, pune os corruptos. Não se pode gastar mais do

que arrecada. A torneira está fechada. Não existe dinheiro do governo federal para o que

sempre fizeram. Tem que cortar despesas e, muitos já estão demitindo empregados e

acabando com certas mordomias.

Page 28: Apostila   a história de alagoas

Os pioneiros

Na época da colonização, os pioneiros foram: o alemão Cristovão Lins, fundador dos

três primeiros engenhos, em Porto Calvo, e o português Antônio de Barros Pimentel, que

fundou engenhos nos vales dos rios Camaragibe e Santo Antônio. Depois foram surgindo

novas famílias, como os Mendonça, com seus engenhos de açúcar e fazendas de criação de

gado.

Mas só no século XIX, surge a indústria urbana em Alagoas. Em 1859, o Barão de

Jaraguá, fundou a primeira fábrica de tecidos: a de Fernão Velho, ainda hoje existente. É o

avanço da industrialização em Alagoas. Depois foram surgindo outras fábricas têxteis, como a

de Saúde, da família Nogueira (Maceió): Vera Cruz, em São Miguel dos Campos (Contonifício

João Nogueira) ainda funcionando: Alexandria, em Maceió, da família Lôbo e outras em

Penedo e Pilar. Rio Largo cresceu com o avanço dessa atividade, através do comendador

Teixeira Basto (duas fábricas), avançando mais ainda depois da administração do seu genro

Gustavo Paiva, um verdadeiro construtor do progresso de Alagoas, que implantou naquela

cidade, a mais avançada legislação trabalhista do Estado. Os operários tinham moradia, com

conforto e toda infraestrutura (energia elétrica e água canalizada), escolas de boa qualidade

para os filhos; assistência médica; cinema, clube social, quadras de esportes, com piscina

(uma novidade na época) e a garantia de salários e dia e todos os benefícios sociais possíveis.

Outro pioneiro da indústria em Alagoas foi o português Jacintho Nunes Leite, que se

estabeleceu em Bebedouro (ainda existe o casarão da família, bem preservado). Instalou

indústrias (foi proprietário da fábrica de Fernão Velho); Os primeiros bondes da capital; energia

elétrica e água canalizada, em Bebedouro e outros benefícios. O bairro era naquela época (e

até as primeiras décadas do século XX) o mais nobre de Maceió. Verdadeiras mansões

emolduravam a paisagem que margeava a lagoa de Mundaú, proporcionando um bonito visual

aos passageiros do trem que passava pelo local.

Na última década do século XIX, é a vez das usinas. Já havia sido abolida a

escravidão. Os engenhos estavam enfrentando uma grave crise, com os escravos livres, tendo

que ser remunerados. Os velhos coronéis abandonavam a atividade, procurando outras mais

rentáveis e que empregasse menos gente.

Em 1891, surge a primeira usina de Alagoas: a Brasileiro, em Atalaia, fundada pelo

Barão de Vandesmant, um francês, que se apaixonou por Alagoas e aqui implantou uma

moderna tecnologia, com a usina dispondo de toda a infra-estrutura tecnológica importada da

Europa. E, deu um novo perfil a atividade: os trabalhadores passaram a ser operários, com

moradia bem estruturada, assistência médica, extensiva aos familiares: legislação trabalhista

avançada e aposentadoria. A usina funcionou até 1958.

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Na mesma década de 1890, surge a segunda usina: Leão, no antigo Engenho Utinga,

em Rio Largo. A família Amorim Leão, também avança no tempo, implementando um novo

estilo de produção, com base no incentivo ao trabalhador. Venceu. Ainda hoje a usina é

comandada pela família, já na quinta geração e misturada à família francesa Dubeaux.

A terceira usina fundada em Alagoas foi em São José da Laje: Serra Grande,

aproveitada de um antigo engenho banguê. O coronel Carlos Benigno Pereira de Lyra foi outro

pioneiro na industrialização alagoana. Pernambucano, fixou-se com a família naquela região e

fez História. Dava total assistência aos seus empregados, produzia um açúcar de excelente

qualidade, e já com a usina em poder de seu filho, Salvador Lyra, na década de 1930, lançou-

se no mercado, o álcool como combustível, com a marca Usga (iniciais da usina). Foram

instaladas bombas em São José da Laje, Maceió e Recife. Um sucesso, que incomodou as

multinacionais. Com o poder de pressão, esses estrangeiros exigiram do então presidente

Getúlio Vargas que acabasse com esse projeto da usina alagoana. Foram atendidos. E o álcool

deixou de ser combustível, para só retornar na década de 1970, com a criação do Proálcool

(Programa Nacional do Álcool), pelo então presidente Ernesto Geisel.

Também no início do século XX, surge outro verdadeiro pioneiro da indústria em

Alagoas: o cearense Delmiro Gouveia, que havia saído do Recife, depois que provocou muita

confusão por lá, fruto de sua audácia, inteligência e criatividade, que incomodavam os

empresários e políticos locais. Lá, na capital pernambucana, ele fundou o Mercado do Derby,

uma espécie de shopping center do século XIX. Desembarcando em Penedo, navegou rio

acima até chegar próximo à Cachoeira de Paulo Afonso, encantando-se com a paisagem e

resolvido ficar. Bem próximo, no povoado Pedra, fundou a primeira fábrica têxtil do Sertão

alagoano. Também incomodou os estrangeiros, já que concorria com a linha Corrente (inglesa).

Implantou uma verdadeira revolução industrial em plena região da seca. Venceu. Pedra tornou-

se uma cidade industrial, com a vila operária e toda a infraestrutura moderna, onde os

operários eram bem tratados pelo patrão, recebendo toda assistência social possível. Luz

elétrica, um avanço no início do século XX. Nem a capital dispunha desse benefício. E Delmiro

levou a energia elétrica a Pedra, através da Cachoeira de Paulo Afonso, onde ele fundou a

primeira Hidrelétrica do Nordeste, hoje ainda esbanjando progresso e tecnologia. Foi

assassinado em 10 de outubro de 1917, quando lia jornal na varanda de seu chalé. O crime

chocou Pedra e todo o Sertão alagoano. Dois suspeitos foram presos (ex-empregados da

fábrica). Mas a dúvida continuava. Ninguém achava que fossem aqueles pobres coitados,

admiradores do ex-patrão e até compadres. Tinha “costa quente” por trás de tudo. Mas foram

esses ex-operários que pagaram a conta. Um morreu na cadeia e o outro ficou até o fim da sua

pena. Mas a família nunca se conformou e reabriu o processo, já depois dele morto. Venceu.

Foi a primeira sentença pós-morte, onde o culpado foi julgado inocente. Coisas de Alagoas

mesmo.

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A fábrica de Delmiro Gouveia passou por vários donos. Na década de 1980, chegou

ao estágio de pré-falência, levando o proprietário ao suicídio. Mas, recuperou-se. Foi adquirida

pelo empresário Carlos Lyra, e hoje é uma das mais modernas do país.

A Era Vargas

Quando o Brasil foi sacudido pela Revolução de 1930, levando o gaúcho Getúlio

Vargas ao poder, Alagoas era governado por Álvaro Paes. A agitação política se restringia mais

as grandes cidades. Inicia-se a fase dos interventores nomeados pelo presidente da República.

Foram nove, em 15 anos da Era Vargas, que exerciam o cargo obedecendo às decisões do

chefe da Nação.

O primeiro desses interventores foi o sergipano Hermílio de Freitas Melro, que passou

um ano no poder, sendo substituído por Luiz de França Albuquerque, alagoano de Viçosa,

seguido do capitão Tasso Tinoco, Afonso de Carvalho e Temístocles Vieira de Azevedo. As

eleições para deputados são realizadas em 1933, elegendo-se seis alagoanos: Manoel de

Góes Monteiro, Izidro Teixeira de Vasconcelos, José Afonso Valente de Lima, Antônio de Melo

Machado, Armando Sampaio Costa e Álvaro Guedes Nogueira, representantes do Estado, na

Assembleia Constituinte, que promulgou a Constituição de 1934.

Quem mais se destacou como interventor, foi o jurista Osman Loureiro, também eleito

governador nas eleições de 1935, permanecendo no cargo até 1937 quando se deu o Golpe do

Estado Novo. Nesse período de dois anos, como representante eleito pelo povo, fez várias

obras e liberou recursos para as áreas de educação, saúde e segurança pública. Depois, já na

ditadura, voltou a ser interventor.

Passaram ainda pela interventoria: José Maria Correia das Neves, Ismar de Góes

Monteiro e Antônio Guedes de Miranda. Acaba assim a Era Vargas em Alagoas, iniciando-se o

processo de redemocratização, com as eleições gerais de 1946.

A ditadura de Vargas provocou muitas prisões de alagoanos, que defendiam a

democracia. O escritor Graciliano Ramos, já famoso na época, foi preso no Rio de Janeiro.

Esse episódio gerou o livro Memórias do Cárcere, um best-seller.

Apesar da ditadura, o povo adorava Getúlio, que implantou a Legislação Trabalhista,

criou o salário mínimo (muito valorizado na época) e o voto da mulher. Alagoas viveu nas

interventorias, satisfatoriamente. No Estado Novo não existia Congresso nem Assembleia.

Portanto, gastos com deputados e senadores não era preocupação do governo. A arrecadação

servia para pagar suficientemente os salários dos funcionários públicos.