111
7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 1/111 UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE CENTRO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIAS AGROPECUÁRIAS EXTENSÃO  RURAL PAULO MARCELO DE SOUZA CAMPOS DOS GOYTACAZES , DEZEMBRO DE 2005

Apostila de Extensão Rural 2 pdf

Embed Size (px)

Citation preview

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 1/111

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE

CENTRO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIAS AGROPECUÁRIAS

EXTENSÃO RURAL

PAULO MARCELO DE SOUZA 

CAMPOS DOS GOYTACAZES, DEZEMBRO DE 2005

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 2/111

1

CAPÍTULO I 

BREVE HISTÓRICO DA EXTENSÃO RURAL NO BRASIL 

1. Introdução

Criado no Brasil a mais de meio século, o serviço de extensão rural foi constituído

com o propósito declarado de atuar em favor do desenvolvimento rural. Durante esse

período, a agricultura passou por várias transformações, que podem ser atribuídas em

parte ao trabalho dos técnicos que atuaram no serviço de extensão rural, os

extensionistas.

Tradicionalmente, a agricultura brasileira era pouco especializada, voltada para a auto-

suficiência e para o mercado externo de alguns poucos produtos tropicais. No processo

produtivo, utilizava-se de insumos produzidos internamente, fabricando a maior parte

de seus utensílios, máquinas e implementos, empregando força animal e utilizando

adubos orgânicos. Seus produtos, quando necessitavam ser processados, o eram dentro

da própria fazenda que, portanto, possuía internamente o que hoje denominamosagroindústrias.

Atualmente, em virtude das transformações ocorridas, a agricultura perdeu grande

parte daquelas características. De um modo crescente, a busca de auto-suficiência dá

lugar à especialização da fazenda na única e exclusiva atividade de produção agrícola.

As unidades produtivas normalmente se dedicam a um ou poucos produtos, voltados

agora não só para o mercado externo, mas também para o mercado interno, que se

ampliou significativamente. Se, no passado, os insumos e demais elementos

necessários ao processo produtivo eram obtidos internamente, de maneira artesanal,

agora devem ser comprados1 das indústrias produtoras de máquinas e insumos, as

1 Fazendo a ressalva de que não se trata apenas de transferir a produção dos insumos e equipamentos da fazendapara a indústria, uma vez que esta última irá produzir novos insumos, tais como tratores, colheitadeiras,fertilizantes, produtos químicos para controle de pragas e doenças, etc., inexistentes na agricultura anterior.

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 3/111

2

chamadas indústrias para a agricultura, que compõem o segmento dito antes da

porteira. E, de um modo crescente, os produtos da fazenda passam a ser processados,

mas fora dela, nas chamadas agroindústrias. Tamanhas foram as mudanças, e tal o grau

de interdependência entre a agricultura e a indústria que isso acarretou, que foi criado

um novo termo, os chamados complexos agroindústrias, para denominar os diversos

produtos agrícolas e suas relações com as indústrias situadas “antes e depois da

porteira da fazenda”.

De um lado, não há dúvidas quanto à importância dessas alterações e seus efeitos

positivos sobre a economia brasileira. A modernização por que passou a agricultura

possibilitou aumento de produtividade, contribuiu para maior inserção dos produtos

brasileiros no mercado internacional, possibilitando, com isso, saldos positivos nabalança comercial e entrada de divisas no país. Adicionalmente, houve redução nos

preços dos produtos agrícolas que, portanto, se tornaram mais acessíveis à população

menos favorecida.

Por outro lado, não podem ser dissociadas desse mesmo processo várias conseqüências

graves para a sociedade brasileira, dentes as quais podem ser citadas o acelerado êxodo

rural, a concentração de terras e de renda, a degradação ambiental, a violência nocampo e na cidade, dentre outras. Poder-se-í-a dizer que esse é o preço a ser pago pelo

processo de desenvolvimento industrial que, dentre mortos e feridos, avançou no

Brasil, em grande parte sustentado na agricultura. Porém, várias análises demonstram

que os custos sociais citados decorrem, principalmente, da forma como foi conduzido

o processo de modernização da agricultura brasileira, no qual tomou parte a extensão

rural.

Por essa razão, não são poucas as críticas acerca do trabalho desenvolvido pela

extensão no período, e do tipo de desenvolvimento rural por ela buscado. Segundo

alguns autores, os erros do serviço de extensão rural no Brasil, cometidos ao longo de

sua existência, não constituem meros desvios em seu caminho na busca do

desenvolvimento rural. Na verdade, segundo essas abordagens, a extensão rural já

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 4/111

3

nasce como um projeto de desenvolvimento “viciado” pois, embora prevendo o

desenvolvimento rural, sua principal finalidade é transformar a agricultura para que

possa servir aos interesses de setores industriais e financeiros.

Com base nessas abordagens, o presente capítulo procura fazer um breve relato

histórico do surgimento da extensão rural no Brasil. Esse relato começa por descrever

as condicionantes da criação do serviço de extensão rural nos Estados Unidos, país que

foi, para nós, bem mais do que mera fonte de inspiração.

2. As raízes da extensão rural norte-americana

Para se compreender o surgimento e as condicionantes históricas da criação da

extensão rural no Brasil, deve-se considerar, inicialmente, o contexto do surgimento

desse serviço nos Estados Unidos, no início do século XX. O contexto em que se deu a

criação da extensão rural nesse país ajuda a explicar os objetivos e a razão de ser do

modelo de extensão posteriormente implantado no Brasil, sob a influência norte-

americana.

Já na segunda metade do século XIX, as transformações pelas quais a sociedade norte-

americana havia passado tinham resultado na redução do poder dos agricultores em

favor dos comerciantes e industriais. Nesse momento, a agricultura já se encontrava

baseada no modo capitalista de produção, e se tornava, de modo crescente, palco do

interesse de processadores de matérias-primas de origem agrícola e fornecedores de

máquinas, implementos e insumos agrícolas.

Nesse contexto, era indispensável a criação de um mecanismo que levasse aos

agricultores as novas tecnologias, e os fizesse conceber a atividade agrícola como

negócio. Buscava-se, na verdade, transformar os agricultores em produtores eficientes

de matérias-primas mais baratas para a indústria, e, ao mesmo tempo, torná-los

consumidores de insumos agrícolas, também fornecidos pela indústria.

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 5/111

4

 

Embora essas atividades pudessem ser efetuadas por representantes dos próprios

interessados, as indústrias, na prática essa tentativa não tardou a mostrar suas

limitações. Era inevitável que os agricultores manifestassem desconfiança dos técnicos

que lhes visitavam, por serem eles portadores dos interesses de comerciantes,

indústrias e demais empresas com interesse no setor.

Nesse sentido, a constituição do serviço de extensão oficial, com a Lei de Smith –

Lever, em 1914, adequou-se perfeitamente ao propósito dos grupos interessados na

modernização da agricultura norte-americana. Essa lei possibilitou a constituição do

famoso tripé ensino, pesquisa e extensão, visto que duas leis anteriores, a Lei Merril

(1862), determinando a doação de terras com finalidade de constituir instituições deensino agrícola superior, e a Lei Hatch (1877), prevendo a criação de estações de

pesquisa, já haviam criado os sistemas de ensino e pesquisa na agricultura,

respectivamente.

A partir desse instante, técnicos do serviço de extensão oficial, trabalhando em prol do

“desenvolvimento rural”, atuariam no sentido de fazer a desejada conversão dos

agricultores, até então tentada sem muito sucesso pelas empresas interessadas namodernização do setor. Portanto, interesses de empresas financeiras, comerciais e

industriais prevaleceram na gestação do modelo de extensão rural que, posteriormente,

nos foi apresentado. A concepção do serviço de extensão rural norte-americano,

baseada na idéia de que a miséria dos agricultores é decorrente de sua precária

instrução, somente pode ser entendida como o reflexo dessa nova correlação de forças.

3. A Extensão Rural no Brasil

Na década de 40, quando se discute a conveniência da implantação de um serviço de

extensão rural no país, classes dominantes e agências internacionais eram unânimes

em crer na importância de disseminação das inovações, necessária para realizar a

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 6/111

5

transformação de agricultura. Via-se a necessidade de, mediante a disseminação dessas

inovações, transformar a agricultura tradicional, auto-suficiente, voltada para o auto-

consumo e tecnologicamente atrasada, numa agricultura moderna, especializada, com

laços estreitos com os demais setores da economia e tecnologicamente avançada. Tal

transformação não previa alteração na estrutura fundiária (Queda, 1987).

Como destacado por Oliveira (1999), em todos os países adotantes da extensão rural, a

influência norte-americana quanto à filosofia, princípios, métodos e meios de

comunicação foi marcante. No contexto da Guerra Fria que se seguiu à Segunda

Guerra Mundial, as tentativas no sentido de alavancar o desenvolvimento capitalista no

Brasil, e de superar o atraso na agricultura, foram discutidos sob a influência

hegemônica dos Estados Unidos (Queda, 1987).

No Brasil, o nascimento da extensão rural, em 1948, foi fruto de convênios firmados

com os Estados Unidos, e sua implementação se deu sob o comando de Nelson

Rockefeller, mensageiro especial da missão americana no Brasil. Nesse ano, com a

implantação do Programa Piloto de Santa Rita do Passa Quatro, no Estado de São

Paulo, e na fundação da Associação de Crédito e Assistência Rural/Acar-Minas

Gerais, teve início o serviço de extensão rural no Brasil (Fonseca, 1985).

Segundo Oliveira (1999), pode-se dizer, em termos sintéticos, que a extensão rural no

Brasil é fruto de:

a) Uma concepção religiosa sobre a ação social, qual seja a da concepção puritana de

filantropia, adaptada pelos americanos para o presente século. Nessa perspectiva, a

ajuda concedida pela ação social deveria gerar “os resultados mais vantajosos”. Por

essa razão, possivelmente, a ACAR primava por trabalhar os “mais capazes”, dada a

possibilidade de acionar os mecanismos sociais de difusão com maior eficiência, ainda

que essa escolha pudesse ser excludente.

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 7/111

6

b) Um projeto de poder dos americanos, inicialmente gerido pelo capital privado, e

posteriormente pelo governo, assim que se instaurou a guerra fria. Se, no primeiro

momento, a perspectiva era basicamente econômica e comercial, em seguida a

preocupação com a segurança nacional e continental passou a orientar as ações de

cooperação internacional, calcada nos regimes militares que se espalharam pela

América Latina.

c) Um modelo do agronegócio nascente, com ações articuladas em vários pontos de

diferentes cadeias de produtos2.

d) Uma corrente política, o liberalismo.

Durante sua existência, a extensão rural sofreu algumas mudanças, orientadas para se

adequar aos projetos de desenvolvimento e para atender aos anseios dos setores com

interesses na agricultura. Normalmente, as mudanças mais significativas podem ser

agrupadas em três fases ou períodos da história da extensão rural no Brasil.

A primeira delas inicia-se com a constituição do serviço de extensão rural no país, eperdura até o início da década de sessenta. Nessa primeira fase, denominada

“humanismo assistencialista” (Lisita, 2005), os objetivos do extensionista eram os de

aumentar a produtividade agrícola e melhorar o bem estar das famílias rurais, com o

aumento da renda e a diminuição da mão-de-obra necessária para produzir. Em geral,

as equipes locais eram formadas por um extensionista da área agrícola e um da área de

Economia Doméstica. Seus métodos, nesse período, eram marcados por ações

paternalistas, que não favoreciam o desenvolvimento autônomo dos agricultores

assistidos. Ou seja, tratava-se de um conjunto de medidas com o intuito de induzir

mudanças de comportamento, por meio de metodologias que não favoreciam o

2Segundo Oliveira (1999), o modelo proposto por Nelson Rockefeller apresentava inúmeras peças articuladas,

com interesses na indústria de montante (máquinas, equipamentos, pesticidas e fertilizantes químicos) e a jusante (processamento de grãos e carnes, financiamento, pesquisa agropecuária e extensão rural) 

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 8/111

7

florescimento da consciência crítica nos indivíduos, atendendo apenas a suas

necessidades imediatas.

Embora alguns argumentem que a extensão rural tenha sido concebida como um

projeto mais amplo de desenvolvimento rural, que apenas posteriormente teria sido

desvirtuado para se converter num mero programa de assistência técnica e de indução

ao uso de insumos industriais, os objetivos previstos desde a criação da ACAR

mostram o contrário, como destacado por Queda (1987). De fato, desde sua fundação,

e em todo o período de 1948 a 1968, o projeto extensionista esteve, basicamente,

voltado para a assistência técnica e a distribuição de insumos, adquiridos graças aos

recursos do crédito rural.

Capítulo especial desse processo é representado pela Economia Doméstica, que

buscava reeducar as famílias e promover a mudança de hábitos em favor de uma

melhoria da qualidade de vida das populações rurais. Na verdade, a atuação desse

serviço culminava no aumento do complexo de necessidades da população rural que,

por conseguinte, passaria a representar um crescente mercado para os produtos

industriais.

Essa primeira fase da extensão rural aconteceu no final da implementação do processo

de industrialização que, segundo Rodrigues (1997), buscava derrotar o Brasil rural,

agrário e atrasado, e criar um mercado consumidor de massa. Segundo esse autor,

buscava-se, mediante o trabalho da extensão, “inculcar nos imaturos” uma nova “tábua

de valores”, com uma abordagem pedagógica tradicional, onde existe um responsável -

o extensionista - para conduzir o processo.

A segunda fase, denominada “difusionismo produtivista”, situa-se no período de

atuação das políticas de modernização agrícola (1964 a 1980), marcado pela

abundância de crédito rural subsidiado (Listia, 2005). Nesse momento, a emergência

da burguesia industrial começa a romper com a tradicional dominação das oligarquias

rurais, e a modernização da agricultura se apresenta como um projeto de interesse sob

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 9/111

8

todos os aspectos. Nessa fase, marcada pelo regime militar, iniciado com o golpe em

1964, a agricultura passa a ser concebida como um amplo mercado para a produção da

indústria, e como fornecedora de matérias primas para ela. Partindo de diagnósticos

apontando atraso da agricultura, que a impediriam de atender a seus papéis no

desenvolvimento econômico industrial, o projeto de modernização agrícola projeto

trazia, como recomendações para o setor: a assistência técnica; o estímulo à formação

de profissionais ligados ao setor; a multiplicação de escolas rurais; o treinamento de

trabalhadores; a implantação de indústrias de máquinas e equipamentos; o uso de

insumos diversos; e, a oferta de crédito (Queda, 1987).

Nesse período criou-se, com o objetivo de evitar ações independentes e duplicidade de

esforços, a Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural –EMBRATER3, em 1974, em substituição à Associação Brasileira de Crédito e

Assistência Rural – ABCAR, que havia sido criada em 1956. Em 1976, foi criado o

Serviço Nacional de Aprendizagem Rural – SENAR, com a finalidade de assistir as

empresas agrícolas na elaboração e execução de programas de formação profissional

para o seu pessoal.

Esse período foi marcado por grande expansão do serviço de extensão rural no país

4

.Nessa fase, sua atuação buscou estimular os agricultores a adquirir um pacote

tecnológico modernizante, com uso intensivo de capital (máquinas e insumos

industrializados), e contribuiu para inserir os agricultores na dinâmica da economia de

mercado. Sua tarefa consistia, nessa etapa, em persuadir os produtores para que

adotassem as novas tecnologias, desprezando os conhecimentos empíricos desses

agricultores e suas reais necessidades. Há que se destacar ainda que, como a atuação

dos extensionistas era condicionada pela existência do crédito agrícola, os pequenos

3 A estatização dos serviços de extensão, advinda dessa mudança, perdurou até 1990, quando a EMBRATER foi

extinta no governo Collor (Queda, 1987).4

Em 1960, apenas 10% dos municípios no Brasil contavam com esse serviço e, em 1980, a extensão ruralchegou a 77,7% dos municípios do país (Lisita, 2005).

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 10/111

9

agricultores familiares que não tiveram acesso ao crédito também ficaram à margem

do serviço de extensão rural (Lisita, 2005).

Com o término da atuação das políticas de modernização agrícola no início dos anos

oitenta, principalmente com a falência da política de crédito rural subsidiado, inicia-se

uma terceira fase, que prevalece até os dias atuais, preconizando a construção de uma

“consciência crítica” nos extensionistas. Nessa fase, denominada “humanismo crítico”,

assume importância o “planejamento participativo”, ou seja, envolvendo os

extensionistas e os produtores, e baseado na pedagogia da libertação desenvolvida por

Paulo Freire. Nessa nova etapa, defende-se o uso de metodologias de intervenção rural

que considerem os aspectos culturais do público alvo e, principalmente, que permitam

a participação ativa dos agricultores, possibilitando-lhes atuar como agentes do

processo de mudança (Lisita, 2005).

Entretanto, segundo Lisita (2005), apesar dessa nova orientação, a maioria das

empresas de assistência técnica continua com a mesma orientação básica: “incluir” o

pequeno agricultor familiar na lógica do mercado, torná-lo cada vez mais dependente

dos insumos industrializados, subordinando-o ao capital industrial. Nesse contexto,argumenta o autor, o desafio dos órgãos de pesquisa, universidades e movimentos

sociais é o de criar estratégias para colocar em prática metodologias participativas de

assistência técnica e extensão rural, que incluam os agricultores familiares desde a

concepção até a aplicação das tecnologias, transformando-os em agentes no processo,

valorizando seus conhecimentos e respeitando seus anseios.

Sob o aspecto de sua orientação pedagógica, a extensão rural no Brasil passou tambémpor três fases, segundo Kreutz (2005), que coincidem com as finalidades adotadas

pelos setores agroindustriais a montante e a jusante da agricultura.

A primeira etapa, a da organização da extensão rural no Brasil, esteve baseada em

ações educativas tradicionais. Nesta perspectiva, a educação deveria elevar o nível das

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 11/111

10

necessidades das populações rurais. Entendia-se que o bom extensionista deveria

envolver os agricultores com o padrão de produção e consumo hegemônicos,

altamente dependentes de insumos externos.

A segunda fase é marcada pela forma difusionista, que começa a ser implementada no

final dos anos sessenta. A pedagogia consistia numa abordagem tecnicista, que

concebia o extensionista como aquele que possui o controle científico. Nesse período,

segundo Mussoi (2003), implanta-se uma matriz tecnológica altamente especializada e

produtivista, e organizam-se as instituições de extensão rural dentro de uma concepção

centralizada e descendente, com ampliação de seus instrumentos de controle e

supervisão.

A terceira fase começa nos anos oitenta, com a crescente percepção de crise do modelo

de desenvolvimento agrícola, e a busca de formas alternativas de fazer a extensão rural

(Kreutz, 2005). Nessa fase, a retirada do Estado de algumas ações que já não são mais

consideradas estratégicas para os interesses empresariais, atinge o serviço público de

extensão, que passa a depender praticamente só de recursos dos governos estaduais5.

Esse último período revela uma conturbada mudança na concepção de educação que,até a terceira fase, foi trabalhada hegemonicamente como algo que se estabelecia entre

aqueles que eram considerados os detentores do saber e aqueles que precisam ser

ensinados. Para Kreutz (2004), nesse contexto é preciso repensar a atuação das

instituições de ATER, buscando uma concepção mais dialógica e desprovida de alguns

dogmas. O desafio consiste em conceber ações que sejam alimentadas pela

compreensão de suas finalidades e não reduzidas ao treinamento de como aplicar

determinados recursos. Isto certamente passa pela constituição de uma nova estrutura

institucional, que permita que os extensionistas rurais tenham condições de gerar

5 Talvez o fato de a agricultura da agricultura ter se modernizado, atendendo com isso aos interesses industriaisdo setor de máquinas, insumos e processamento de produtos agrícolas, explique o porque do desmantelamentodo serviço de extensão rural no Brasil. Ou seja, a extensão rural já cumpriu seu objetivo, o de transformar aagricultura em grande consumidora de produtos industriais. Difícil é confundir essa mudança comdesenvolvimento rural, visto que a grande maioria dos agricultores familiares encontra-se em situação deempobrecimento, e ainda necessitando de uma extensão rural que os promova.

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 12/111

11

emancipação dos agricultores, através de um processo educacional libertador, diante

dos diversos programas de desenvolvimento, principalmente aqueles que são dirigidos

aos mais pobres do meio rural.

4. Cronologia

Encerrando o capítulo, apresentamos a seguinte cronologia, descrita por FERNANDES

(2006), que resume os principais eventos que marcaram a história da extensão rural no Brasil:

•••• 1948:

É assinado convênio entre o Governo do Estado de Minas Gerais e a American

Internacional Association - AIA, pertencente à família Rockefeller, iniciando-se os

serviços de Extensão Rural no Brasil; Implanta-se o Programa Piloto de Santa Rita do

Passa Quatro - São Paulo; Funda-se a Associação de Crédito e Assistência Rural de

Minas Gerais - ACAR/MG.

•••• 1949:

Têm início as atividades da ACAR/MG.

•••• 1950:

O Governo Brasileiro e dos EE.UU assinam Acordo de Cooperação Bilateral, dedica-

do ao fomento das riquezas dos países pouco desenvolvidos.

••••

1956:É criada a Associação Brasileira de Crédito e Assistência Rural - ABCAR, órgão

central com a finalidade de coordenar o trabalho extensionista a nível nacional.

•••• 1974:

Através da Lei 6.126, o Governo Federal cria a Empresa Brasileira de Assistência

Técnica e Extensão Rural - EMBRATER, que passa a coordenar o Sistema Brasileiro

de Extensão Rural.

•••• 1988:

O Governo da "NOVA REPÚBLICA" do Presidente José Sarney, inicia a

"OPERAÇÃO DESMONTE" e, por decreto, extingue a EMBRATER. A Federação

das Associações de Servidores da Extensão Rural - FASER promove uma campanha

nacional - "SOS EXTENSÃO RURAL" - contra o desmonte do serviço de extensão e

pela manutenção da EMBRATER.

•••• 1988:

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 13/111

12

Extensionistas de todo Brasil fazem a "MARCHA SOBRE BRASÍLIA" e acampam no

Congresso Nacional em busca de apoio político para o serviço de ATER.

•••• 1989:

O Congresso Nacional realoca recursos para a extensão e recria a EMBRATER

através de Decreto Legislativo.•••• 1990:

Através de Medida Provisória, posteriormente referendada pelo Congresso Nacional, o

Governo do "BRASIL NOVO", do Presidente Fernando Collor, extingue a

EMBRATER. Os servidores são demitidos e o patrimônio da empresa é transferido

para a EMBRAPA. Por toda a década a crise no Sistema de Extensão Rural se alastra e

se aprofunda.

•••• 1995:

Realiza-se em Brasília o Seminário Nacional: Agricultura Familiar e Extensão Rural

(CONTAG/FASER)

•••• 1996:

É criado o Programa Nacional de Agricultura Familiar - PRONAF (Decreto

Presidencial nº1946/96)

•••• 1997:

Workshop Nacional: discute o Serviço de Extensão Rural no Brasil (PNUD/FASER)

•••• 2002:

A FASER promove Seminário Nacional em Brasília para discutir a Extensão Rural.

•••• 2003:

MDA/SAF/DATER lança a Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 14/111

13

CAPÍTULO II

AS PRINCIPAIS CRÍTICAS À ATUAÇÃO DA EXTENSÃO RURAL NO BRASIL 

1. Introdução

Em teoria a extensão rural se diferencia da assistência técnica pela dimensão de seus

objetivos, que são mais amplos do que os dessa última. Por definição, assistência

técnica é o serviço que se presta aos produtores que, já participando de uma agricultura

empresarial, requerem apenas mais e melhores informações tecnológicas. A extensão

rural, por sua vez, pode ser entendida como a metodologia capaz de contribuirefetivamente no fortalecimento das instituições que visam à promoção do

desenvolvimento rural. Como princípios básicos, o trabalho extensionista deve:

basear-se na realidade rural; trabalhar com programa definido, que prevê os objetivos a

serem alcançados; fazer avaliação constante do trabalho; não ser paternalista; ser

cooperativo; usar pessoal altamente treinado; adotar métodos e processos de

desenvolvimento de comunidade; usar a liderança rural; ser apolítico; e, ter planos de

ação em consonância com a política de desenvolvimento nacional (Queda, 1987).

Apesar dessa distinção entre extensão e assistência técnica, questiona-se se a atuação

da extensão rural no Brasil tenha contribuído, de fato, para o desenvolvimento rural.

Várias críticas são feitas ao serviço de extensão rural no Brasil, incidindo, de modo

geral, sobre sua concepção pedagógica, sua perspectiva de atuar somente na questão

tecnológica e na disseminação de inovações e sua relação com os agricultores e a

pesquisa. Nesse capítulo, faz-se uma descrição resumida dessas abordagens críticas ao

papel da extensão no desenvolvimento rural brasileiro.

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 15/111

14

2. A crença no poder absoluto da disseminação das novas tecnologias

Embora estudos revelem impactos positivos da extensão rural, tais como altas taxas de

retorno para investimento em extensão rural e alta correlação entre extensão rural e

ganhos de produtividade, algumas críticas têm sido feitas ao trabalho extensionista,

como salientado por Queda (1987). Nesse sentido, tem sido destacado que: a extensão

atinge pequena parcela de proprietários que, de modo geral, tendem a ser os mais

ricos, com maior grau de escolaridade; seus objetivos são equivocados; o treinamento

dos técnicos tem sido inadequado; há incapacidade, de modo geral, de dar respostas às

questões técnicas; há pouca habilidade para lidar com situações imprevistas; as

técnicas de ensino para a difusão de informações são inadequadas; e, do ponto de vista

dos assalariados, pequenos parceiros, arrendatários e pequenos proprietários, sobre osquais recaiu o ônus desse processo, sua atuação foi um fracasso.

Uma crítica freqüente à atuação da extensão rural incide sobre sua crença no poder das

inovações tecnológicas, de que sua disseminação no campo é suficiente para resolver

todos os problemas dos agricultores. Segundo Queda (1985), apesar da distinção

formal entre extensão rural e assistência técnica, na prática não tem havido distinção

alguma entre esses serviços, já que ambos têm se preocupado apenas com a difusão e aadoção de tecnologias modernas. A promoção humana, presente no discurso

extensionista, surge apenas para ocultar as conseqüências sociais do progresso

tecnológico propagado pelo serviço de extensão rural.

No desenvolvimento do programa extensionista, pressupõe-se que a disseminação das

inovações contribui para aumentar a produção e a produtividade, levando ao

crescimento da renda e do bem-estar das famílias rurais, tudo isso em harmonia com o

meio ambiente. A percepção de base para o trabalho extensionista é a de que a

educação6, por si só, é um instrumento capaz de superar todos os problemas de miséria

e desigualdade no campo. Nessa percepção, não cabem preocupações sobre as relações

6 Educação, nesse caso, admitida como mera transmissão de conhecimentos sobre novas tecnologias e insumos

agrícolas.

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 16/111

15

sociais e a estrutura agrária do país, que não são percebidas como fatores de

manutenção e geração de desigualdades.

Embora a implementação de um projeto educativo, de fato, possa contribuir

significativamente para a superação da pobreza e da desigualdade, resumir esse projeto

à mera difusão tecnológica é um tremendo equívoco7. Ora, é necessário reconhecer

que toda educação é um ato político, isto é, não é neutra. De alguma forma, toda

educação baseia-se numa certa visão de mundo e, por mais que a extensão enfatize

utilizar determinada metodologia, que lhe assegure certa racionalidade técnica e

neutralidade científica, nem assim ela pode se dizer neutra.

Sabe-se que a miséria e a desigualdade existentes no meio rural decorrem, em grandeparte, de processos históricos que culminaram na existência de grandes propriedades,

de um lado, e de grande número de pequenos proprietários, parceiros, arrendatários,

posseiros e assalariados, de outro. Nesse contexto, nenhum programa de

desenvolvimento rural, criado a meio século, poderia ter desconsiderado a precária

distribuição da terra no país como origem de grande parte dos problemas do campo,

que posteriormente se tornaram também das cidades, com o acelerado êxodo rural que

se seguiu. Diante desse contexto, um programa de desenvolvimento rural quedesconsidere esse problema com certeza não está sendo neutro ou apolitico8!

E, independente dessa questão, o fato é que a maior parte da solução dos problemas

dos agricultores envolve a via política da organização. A formação de associações,

sindicatos e cooperativas é fundamental para que agricultores e trabalhadores rurais

7  Como destacado por Freire (1977), todo desenvolvimento é modernização, mas nem toda modernização é

desenvolvimento. 8 Nas escolas voltadas para o ensino de ciências agrárias, é comum que alguns ostentem, com certo orgulho, o

fato de serem apenas técnicos e cientistas. Nesse raciocínio, tendem, pejorativamente, a tachar de políticas todas

as discussões que fujam ao caráter estritamente técnico dos problemas da agricultura. Ao contrário do que se

pensa, também esses não estão sendo apolíticos, e estão, com certeza, passando uma visão de mundo consistente

com a ideologia reinante, adequada aos interesses de certos grupos.

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 17/111

16

possam ter uma inserção positiva no mercado e assegurar melhores condições de

trabalho. Desenvolvimento rural, distribuição de renda e erradicação da pobreza não

são uma questão estritamente de produção agrícola, como concebido pela extensão

rural.

A estrutura concentrada é uma das principais características do mercado de produtos

agrícolas: na compra dos insumos, máquinas e implementos, os agricultores se

deparam com poucas firmas vendedoras, constituindo um oligopólio e, na hora de

venda do produto, encontram poucos compradores, que constituem um mercado

oligopsônico. Em razão dessa estrutura de mercado concentrada, os agricultores ficam

espremidos entre dois setores, o “antes” e o “depois da porteira”, que têm poder de

barganha suficiente para lhes impor o preço que desejam na venda dos insumos e nacompra dos produtos. Como conseqüência, por mais que os agricultores adotem novas

tecnologias, se modernizem, isso pode não lhes assegurar maior rentabilidade, pois sua

margem de lucro pode estar sendo achatada pelos setores com os quais negociam.

É preciso considerar, além disso, que a tecnologia não é neutra, isto é, seus efeitos não

são iguais para todos os grupos de agricultores, e em algumas situações podem,

inclusive, beneficiar aqueles setores que a produzem em detrimento dos produtores. Atecnologia não é um bem em si, universal, e seus benefícios decorrem de sua

adequação às especificidades dos produtores. Quando se fala em tecnologia, é

necessário perguntar quais tecnologias, para quem são produzidas e a quem

interessam. É fato reconhecido que algumas das tecnologias que foram divulgadas pela

extensão rural não são adequadas à situação da maior parte dos agricultores, mormente

os pequenos, com terras menores e de condições ecológicas impróprias ao emprego

das mesmas.

Além disso, é forçoso reconhecer que a modernização tecnológica, em qualquer

atividade econômica, tende a contribuir para agravar, em vez de diminuir, as questões

sociais e de distribuição de renda. Fosse a tecnologia capaz, por si só, de resolver os

problemas do campo, o incremento do uso de tecnologias modernas que se tem

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 18/111

17

observado na agricultura brasileira, principalmente a partir da segunda metade dos

anos sessenta, teria transformado o campo brasileiro num verdadeiro paraíso terrenal.

Contribuindo para agravar essa situação, no processo de disseminação das novas

tecnologias, a extensão rural procurou atingir os produtores mais capazes, isto é,

aqueles com melhores condições (terra, recursos financeiros, nível educacional) de

adquirir e utilizar os insumos modernos. Assim, sendo esperado que disparidades

normalmente ocorressem no processo de modernização, o fato é que as intervenções

da extensão quase sempre deixaram de incluir pequenos parceiros, arrendatários,

posseiros e pequenos proprietários, potencializando e agravando as desigualdades e

conseqüências da modernização. E, passado cerca de meio século desde o início do

serviço de extensão no Brasil, devemos reconhecer que essas conseqüências não sãopoucas: proletarização de grande parte dos pequenos agricultores, concentração de

renda, concentração da estrutura fundiária, êxodo rural, inchamento das grandes

cidades, etc9.

3. A tendência de queda persistente nos preços dos produtos agrícolas

Outra percepção equivocada, mantida por boa parte de profissionais das ciências

agrárias, e dentre eles os extensionistas, é de que o aumento da produção e da

produtividade, decorrente da adoção de novas tecnologias, é suficiente para assegurar

o aumento de renda e do bem-estar das famílias rurais. Ao contrário do que se pensa, a

tecnologia contribui, no longo prazo, para o declínio dos preços recebidos pelos

agricultores.

9 Isso sem falar que o modo de produção divulgado pelos extensionistas, e fomentado pelas

demais políticas de modernização agrícola, em especial a do crédito rural subsidiado, vem

sendo crescentemente questionado por suas implicações para o meio ambiente.

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 19/111

18

 

De fato, os primeiros agricultores a adotar a nova tecnologia obtêm o produto com

menores custos unitários e, em decorrência disso, obtêm lucro. Enquanto os preços se

mantiverem no nível inicial, eles continuarão a obter esse lucro, e os preços certamentecontinuarão assim se a tecnologia mantiver-se restrita a poucos agricultores. Porém, como

a nova tecnologia propicia melhor rentabilidade, é provável que ela venha a ser, de modo

crescente, utilizada por novos agricultores, que passarão a imitar os primeiros adotantes.

O processo tende, portanto, a uma crescente disseminação da inovação tecnológica entre

agricultores, que nela vêm a possibilidade de elevar a lucratividade do empreendimento.

Entretanto, a conseqüência da adoção da nova tecnologia por um número cada vez maior

de agricultores é o aumento da oferta do produto e, tudo o mais permanecendo constante, aredução de seu preço. Ora, nessas condições, a tendência é a de que, com a disseminação

da nova tecnologia entre os agricultores, os preços caiam até o ponto em que os benefícios

econômicos que estimularam a sua adoção sejam eliminados, deixando o agricultor numa

situação semelhante àquela que desfrutava antes de adotar a tecnologia.

Dessa discussão, poder-se-í-a concluir que a nova tecnologia de nada adiantou e que, porisso, melhor teria sido que o agricultor não a adotasse, uma vez que, no final das contas, os

preços caíram e ele ficou na mesma situação. Entretanto, é necessário ressaltar que, se de

um lado, os agricultores que inovaram não conseguiram reter os ganhos advindos da maior

produtividade e dos custos unitários mais baixos, de outro, aqueles que não adotaram a

nova tecnologia passam, na nova situação, a ter que enfrentar um mercado com preços

mais baixos do que antes, porém produzindo ao mesmo custo. É obvio que, para esses

últimos, torna-se impossível permanecer no mercado, já que sua estrutura de custos é

incompatível com os novos preços que nele são praticados.

Uma pequena prova da validade desse raciocínio, que foi originalmente proposto por

COCHRANE (1958), pode ser inferida a partir da observação do comportamento dos

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 20/111

19

preços reais de um produto da pecuária que é exemplo de avanço tecnológico: o frango de

corte. Como pode ser constatado na Figura 1, os preços recebidos por quilo desse produto

passam de cerca de R$ 3,00, no início do período, para aproximadamente R$ 0,50 no

último ano. Pode-se ainda observar uma tendência inequívoca de declínio, principalmente

ao longo dos últimos 25 anos.

0,00

0,50

1,00

1,50

2,00

2,50

3,00

3,50

  j   a  n  /  6   7

  j   a  n  /  6  9

  j   a  n  /   7  1

  j   a  n  /   7  3

  j   a  n  /   7  5

  j   a  n  /   7   7

  j   a  n  /   7  9

  j   a  n  /  8  1

  j   a  n  /  8  3

  j   a  n  /  8  5

  j   a  n  /  8   7

  j   a  n  /  8  9

  j   a  n  /  9  1

  j   a  n  /  9  3

  j   a  n  /  9  5

  j   a  n  /  9   7

  j   a  n  /  9  9

  j   a  n  /  0  1

Mês

   P  r  e  ç  o   (   R   $   /   k  g   )

 

Figura 1. Evolução dos preços do frango, Brasil, janeiro de 1967 a julho de 2002.

Fonte: Fundação Getúlio Vargas, 2003.

Sabe-se que a avicultura de corte passou por grande progresso tecnológico e, nem por isso,

se pode afirmar, com certeza, que os produtores de frango vivem melhor hoje do que

ontem. As constantes reclamações dos produtores atestam em contrário10.

Mas, de outro lado, seria possível a um avicultor manter-se produzindo frangos como no

passado, para vendê-los aos preços de hoje? Poderia ele produzir galinha caipira para

vendê-la como frango de granja? Com essa pergunta, cuja resposta é por demais óbvia para

5 É situação comum entre os avicultores o ressentimento para com as agroindústrias integradoras, com as quaisse relacionam mediante contratos que nem sempre lhes favorecem. Nessa situação, os ganhos advindos daredução dos custos de produção, propiciados pela adoção da tecnologia, são apropriados pelas agroindústrias.Esse caso ilustra o fato de que, na maioria dos casos, o desenvolvimento dos agricultores não depende apenas daadoção de novas tecnologias, mas sim da capacidade de conseguirem uma inserção mais favorável, viaorganização, no mercado de insumos e produtos agrícolas.

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 21/111

20

ser dada, podemos chegar a uma importante conclusão: a tecnologia não é a salvação do

agricultor, mas jamais poderá deixar de ser adotada por ele!

Antes de encerrarmos essa discussão, é importante ressaltar um aspecto até agora não

mencionado, e cujo esquecimento faz parecerem inúteis todos os esforços feitos nas

diversas universidades e instituições de pesquisa, para a geração de novas tecnologias, bem

como pelos profissionais da área de extensão rural, para disseminá-las entre os agricultores.

Embora seja fato que os ganhos da adoção da tecnologia tendam a se exaurir à medida que

ela se dissemine entre os agricultores, isso não implica que os esforços envolvidos em sua

geração e disseminação tenham sido inúteis. Ao contrário, esses esforços se revertem em

benefícios para os consumidores que, graças às inovações tecnológicas, podem adquirir umproduto mais barato, e antes inacessível a uma grande parte da população. Em resumo, a

sociedade sai beneficiada pelos investimentos na geração e difusão de tecnologia, e o caso

da produção avícola, aqui utilizado apenas para ilustrar o processo de adoção de tecnologia

e seus reflexos nos preços, é prova disso.

4. A concepção pedagógica da ação extensionista 

Aspecto dos mais questionados relativos à atuação da extensão rural no Brasil refere-

se ao “processo educativo” por ela desenvolvido. A crítica mais expressiva foi

efetuada por Paulo Freire, que identificava no projeto extensionista a ausência de uma

pedagogia libertadora, que contribuísse para um questionamento da realidade e do

sistema capitalista no qual se inseriam as propostas de modernização. A visão ingênua

da realidade, e a relação de superioridade e de dominação que o técnico estabelececom os agricultores, são alguns dos fatores que ajudam a explicar a incapacidade da

extensão de contribuir para um desenvolvimento rural verdadeiro.

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 22/111

21

Freire (1977) se opõe ao conceito de educação propalado pela extensão rural. Embora

defendido com um projeto educativo, o trabalho extensionista é centrado na

propaganda, que procura induzir os agricultores a aceitar, sem refletir, a necessidade

de adotar um conjunto novo de tecnologias e insumos para que ele se torne

“moderno”. A pedagogia subjacente ao projeto extensionista é de negação, aos seus

agricultores, de um papel ativo na superação de seus problemas.

Nessa visão do trabalho extensionista, o agricultor não é admitido como sujeito no

processo de superação de suas dificuldades, mas sim como coisa, como mero objeto de

ações vindas de fora, consistentes com planos de desenvolvimento que lhes são

estranhos. Além disso, ressalta o autor, o conhecimento não é obtido passivamente

pela aceitação de um conteúdo ou saber vindo de outro. Ao contrário, o conhecimentorequer uma busca constante, uma presença curiosa do sujeito em face da realidade.

Não se recebe conhecimento; conhecimento deve ser buscado, ativamente.

Até em seu significado, salienta o autor, a palavra extensão rural está associada a uma

rejeição dos saberes populares como forma de conhecimento. Ao contrário, pressupõe

que os técnicos, portadores do conhecimento científico, devem levar aos agricultores

“incultos” as tecnologias que irão solucionar os seus problemas. Na raiz desse conceitoé que se pode encontrar a razão para que alguns extensionistas, concebendo seu

trabalho como educativo, não se sintam em contradição ao afirmarem que:

 persuadir as populações rurais a aceitar nossa propaganda e aplicar essas

 possibilidades (técnicas e econômicas) é uma tarefa das mais difíceis e esta

tarefa é justamente a do extensionista, que deve manter contato permanente

com as populações rurais.

A propaganda, qualquer que seja seu conteúdo, ressalta o autor, é sempre

domestificadora. Optando por uma ação libertadora, não se deve persuadir ou

submeter os agricultores à força mítica da propaganda, mas sim atuar no sentido de

dialogar e problematizar sua situação concreta, para que a captem e atuem sobre ela

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 23/111

22

criticamente. Para Freire (1977), à extensão rural, termo que mais se aproxima da

noção de invasão cultural, deve-se opor a comunicação. A comunicação, o diálogo, em

oposição à persuasão e à propaganda, é que são a base de uma verdadeira educação.

Como destacado por Sardan (1995), citado por Kreutz (2005), os extensionistas, que

em princípio deveriam ser mediadores entre os conhecimentos técnicos e os

conhecimentos populares, acabam atuando como simples porta-vozes dos

conhecimentos técnico-científicos. Na quase totalidade dos casos, continua o autor, os

agentes de desenvolvimento não aprenderam a ser mediadores entre dois sistemas de

conhecimentos, em especial porque a sua competência técnica foi construída, nos

bancos escolares tradicionais, sobre uma negação e uma rejeição dos conhecimentos

populares.

Não por acaso, essa visão crítica do trabalho extensionista deu origem à percepção de

que seu projeto tratava-se, na verdade, de um “um projeto educativo para o capital”,

como defendido por Fonseca (1985). Um dos argumentos dessa análise enfocava que o

projeto educacional extensionista teria sido, em sua fase inicial, de 1948 a 1968, um

projeto educacional, atuando sobre os pequenos e médios agricultores, na perspectiva

de educá-los e ensinar a ajudarem-se a si mesmos na busca de melhores condições devida. Entretanto, no período pós 1968, com vistas a atender às necessidades de

expansão do sistema produtivo brasileiro, esse serviço teria sofrido mudanças em sua

orientação, e reduzido seus objetivos à mera transferência de tecnologia para os

produtores rurais.

Sobre esse aspecto, Oliveira (1999) argumenta que não há educação em suspenso,

desatrelada do mundo real e das relações sociais e econômicas onde se dão as práticas

pedagógicas. Nesse sentido, o que impulsionou as ações extensionistas nos EUA, e

que Nelson Rockefeller buscou reproduzir aqui, foi a combinação do ganho de lucros -

para os capitalistas - com a ampliação de oportunidades que o capitalismo consegue

operar.

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 24/111

23

Por outro lado, o mesmo autor rejeita a afirmação de que a extensão rural, de início

pura, um verdadeiro projeto educativo para o campo, teria se desvirtuado para se

tornar, no período pós- 1968, um projeto educativo para o capital. Para o autor, a

extensão rural, como fruto da doutrina liberal, hegemônica nas nações ocidentais, é,

portanto, inerente ao sistema econômico e político do capitalismo. Indo além, o autor

argumenta que a extensão é um “projeto educativo para o capital” tanto quanto o são

as escolas formais e informais, as universidades e seus serviços de extensão

universitária, os serviços de rádio e televisão, os setores de pesquisa, etc, etc, etc.

Para o autor, essa é uma questão óbvia e, em sua acepção, a mudança ocorrida teria de

outra natureza. Ao deslocar suas ações do “pequeno” para o “grande” produtor, a

extensão teria apenas escolhido outro tipo de capitalismo, abandonando a vertentedemocrática e criadora de oportunidades, e optando pela versão patrimonialista,

concentradora e excludente.

O fato é que, diante das críticas feitas à concepção pedagógica da extensão rural,

algumas mudanças vêm sendo tentadas. Porém, segundo Kreutz (2005), a

incorporação de uma educação construtivista nas empresas de assistência técnica e

extensão rural acontece lenta e timidamente. A conduta de muitos técnicos,professores e cientistas ainda persiste na lógica antiga, paradigma no qual fizeram seus

estudos. Segundo Neves (1998), alguns agentes consideram portadores da função (ou

missão) pedagógica, destinada a mudar comportamentos e visões de mundo.

De acordo com Kreutz (1995), com a crise institucional das empresas de extensão rural

nos anos 1980, foram surgindo posições distintas entre os extensionistas com respeito

ao processo educativo a ser desempenhado.

Assim, há os que aderem a um processo educacional passivo, de veneração de todas as

manifestações do saber popular, mas sem contribuir com o conhecimento acadêmico

para a superação dos problemas enfrentados pelos agricultores.

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 25/111

24

Um segundo grupo, o mais representativo do corpo de extensionistas, é representado

por aqueles que, embora abrindo espaço para maior participação do público, ainda se

consideram portadores de um conhecimento superior, atuando, essencialmente, como

transmissores do conhecimento técnico. Embora recorram a ferramentas

metodológicas participativas, e se assumam como moderadores, sensibilizadores,

animadores, facilitadores, entre outras denominações, na prática apenas repassam seus

conhecimentos, não raramente desqualificando o conhecimento popular.

E há, ainda, aqueles que, no seu trabalho, pressupõem a existência de dois sujeitos que

respeitam e reconhecem os mundos distintos, e buscam na educação construtivista sua

forma de exercer a tarefa extensionista. Nessa perspectiva, segundo Kreutz (2005), a

relação entre populações rurais e agentes externos deve assegurar a participação dosprimeiros nas diferentes etapas do trabalho, para assim estabelecer uma comunicação

(disposição de dialogar) de natureza intersetorial. Deve-se sobretudo evitar, nesse

diálogo, o discurso hegemônico, alienígena, culturalmente eurocêntrico,

historicamente colonizador, o qual, embora pretensamente a serviço dos agricultores,

na prática se justifica apenas do ponto de vista dos interesses das classes dominantes.

Como destacado por Hall (2003), é necessário abandonar a perspectiva de uma

atuação neutra, baseada na pressuposição de uma homogeneidade cultural, paraassumir a realidade multicultural, reconhecendo as necessidades sociais diferenciadas

e a diversidade cultural dos grupos sociais.

Segundo Kreutz (2005), alguns esforços nesse sentido surgiram a partir da metade da

década de 1980, quando ocorreu o repensar da extensão rural em todas as instituições

estaduais. Desses esforços resultaram orientações, ao final da década de noventa, no

sentido de promover mudanças estruturais nas EMATERs e definir uma opção

estratégica pelo fortalecimento da agricultura familiar.

Entretanto, argumenta o autor, várias dificuldades vêm sendo encontradas nessa nova

fase, como a falta de processos pedagógicos construtivistas fundamentados em uma

mediação de conflitos, que reconheçam o despreparo da maioria dos extensionistas e

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 26/111

25

pesquisadores em trabalhar com a complexidade (agroecossistemas), os diferentes

saberes locais e a dificuldade de consolidar redes entre as entidades parceiras.

Conforme Kreutz (2005), as empresas de extensão rural que resistiram à sua

desestruturação encontram-se, de modo geral, em profunda crise de identidade. Não

compreendendo o contexto das mudanças, tendem a se apegar ao passado, sem

reconhecer que aquelas condições, inerentes a um dado contexto econômico, não

pertencem mais ao momento histórico atual. Segundo o autor, essas empresas

encontram dificuldades para trabalhar a partir de princípios pedagógicos

construtivistas, encontram-se presos aos procedimentos metodológicos, e não

mudaram suas estruturas internas verticalizadas, que impedem seu quadro funcional de

pensar um processo de desenvolvimento construído com os atores sociais (Kreutz,2005).

5. A relação entre a extensão rural, os agricultores e a pesquisa agropecuária

Uma das idéias mais simplistas a respeito da relação entre a pesquisa e a extensão

rural, criticada por Queda (1987), é a de os extensionistas representam o elo de ligaçãoentre a pesquisa e a agricultura. Nessa perspectiva, à extensão caberia realizar um

levantamento da realidade rural, e leva-la às estações de pesquisa. Posteriormente, as

soluções desenvolvidas pela pesquisa retornariam aos agricultores pelos

extensionistas, como descreve o modelo primitivo de extensão rural, esquematizado na

Figura 1.

Figura 1 – A extensão como elo de ligação entre a pesquisa e os agricultores.

Pesquisa AgriculturaExtensão Rural

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 27/111

26

Ou, quando expressa de uma forma mais elaborada, como no modelo de articulação

abaixo, a extensão rural é vista como a instituição com maiores possibilidades de

contato com agricultores e produtores. Nesse sentido, ela poderia estabelecer uma

ponte para a comunicação entre a maior parte dos produtores e as instituições de

pesquisa, visto que, sem ela, apenas alguns agricultores teriam acesso direto aos

pesquisadores. Esse modelo teria sua razão de ser a partir da criação da EMBRAPA,

pela Lei no. 5.851, de 07.12.1972, e da EMBRATER, pela Lei n o. 6.126, de

06.11.1974.

Agricultores 

Pesquisa  

Extensão  

Figura 2 – A extensão como o setor com maior superfície de contato simultâneo com a

pesquisa e os agricultores.

Essa perspectiva acerca da relação entre produtores e pesquisadores, mediada pela

extensão, possibilitaria inferir que, em última análise, são os agricultores que definem

os temas de pesquisa, segundo suas necessidades, ou seja, a tecnologia é definida

segundo os interesses dos agricultores. É preciso conceber, entretanto, que a tecnologia

é determinada por razões econômicas interentes ao capitalismo, ao qual se subordina o

desenvolvimento da ciência e da tecnologia.

Sobre esse aspecto, é preciso considera que, a partir das duas últimas décadas do

século XIX, a revolução técnico-científica passa a ter um caráter consciente e

proposital até então ausente. Ou seja, as inovações tecnológicas se tornam cada vez

menos espontâneas, tornando-se a ciência uma mercadoria. Nessa situação, empresas

privadas, universidades e Estado criam uma complexa rede de articulações no processo

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 28/111

27

de produção de conhecimento, onde os interesses dos agricultores são apenas uma

parte, e a de menor expressão, dentro da teia de interesses conflitantes11.

É necessário ainda lembrar que, com o surgimento do complexo agroindustrial, são os

setores industriais que impõem demandas sobre o processo agrícola e, assim o

fazendo, impedem que a tecnologia tenha qualquer relação com as demandas dos

agricultores. Em suma, os maiores interessados no progresso técnico as indústrias, que

têm no campo mercado para máquinas, implementos e insumos diversos.

6. Comentários finais

Apesar das críticas feitas nesse capítulo, não se deve, entretanto, negar ao serviço de

extensão rural no Brasil alguns resultados favoráveis decorrentes de seus esforços. É

inegável que a extensão rural teve um papel fundamental no processo de modernização

agrícola, à qual estão associados vários resultados positivos para o país. O aumento da

produtividade proporcionado pelas novas tecnologias tem possibilitado ao país

produzir alimentos a preços decrescentes, competitivos no mercado internacional e

mais acessíveis à população.

Além disso, as transformações por que passou a agricultura tornaram-na capaz de

satisfazer as demais exigência do processo de crescimento industrial, tais como

fornecer matérias-primas, transferir capital, gerar e poupar divisas e criar mercado para

os produtos industriais. Em suma, o país, tradicionalmente uma economia agrária,

industrializou-se aceleradamente com o auxílio da modernização agrícola, anunciada

pela extensão rural.

11 Recentemente, a polêmica em torno do plantio da soja transgênica ilustra essa questão. O desenvolvimentodessa nova tecnologia, que se baseia em grande parte no conhecimento gerado nas universidades e instituiçõespúblicas de pesquisa, não foi promovido pela demanda dos agricultores. Estes, após desenvolvida a tecnologia,são apenas induzidos a comprar esse novo insumo, mediante o pagamento de royalties à empresa que a“desenvolveu”, a Monsanto. Mais uma vez, o que se argumenta é que essa nova tecnologia poderá elevar a rendados agricultores e de suas famílias e contribuir para acabar com a fome no mundo.

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 29/111

28

Se essa industrialização e o crescimento econômico a ela associado beneficiaram

igualmente o conjunto da população, é outra história, sobre a qual silenciam-se os

principais formadores de opinião. Nesse silêncio é que devem ser buscados as

limitações e os equívocos da extensão rural no Brasil.

Finalizando, não se pode concluir que a atuação da extensão tenha contribuído para

elevação e distribuição de renda, tópicos que sequer podem ser admitidos com

constantes de seu ideário. Mediante esse processo foi consolidado o complexo

agroindustrial, a partir do qual a geração de inovações, e também sua difusão, passam

a ser conduzidas, de forma crescente, por interesses de setores industriais e

financeiros.

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 30/111

29

CAPÍTULO III 

O PROCESSO DE COMUNICAÇÃO 

1. Introdução

A comunicação é a base da ação recíproca entre os homens, mediante a qual enviamos

e recebemos mensagens, e aprendemos sobre fatos e coisas. Seus objetivos podem ser

informar, persuadir, divertir, entre outros e, em um grande número de situações, mais

de um objetivo pode estar incluído num ato de comunicação. Um programa televisivo,um filme, a leitura de um livro, a audição de uma música ou simplesmente um “bate-

papo” com amigos, por exemplo, são situações em que informação e prazer podem

estar unidos.

Como destacado por Berlo (1986), a importância da comunicação nos dias atuais tem

sido tão importante que nossa era tem sido às vezes denominada “a idade de

manipulação dos símbolos”, visto que muitos têm ganhado a vida manipulandosímbolos, em vez de coisas. A criação de diferenças entre produtos semelhantes,

mediante propaganda e criação de uma fidelidade à marca é um exemplo dessa

situação. Não são raras as situações em que a ascensão profissional encontra-se mais

na dependência da capacidade do trabalhador de trabalhar a comunicação do que

trabalhar qualquer outro material.

Nesse capítulo, são dadas algumas noções sobre comunicação, extraídas do texto de

Berlo (1986). A perspectiva é a de que o conhecimento dessas noções contribua para

facilitar a resolução dos problemas de comunicação no ambiente de trabalho, em

particular dos problemas relativos ao trabalho da extensão rural.

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 31/111

30

2. Um modelo de processo de comunicação

Embora corriqueira, a comunicação constitui-se num processo relativamente

complexo, que nem sempre atinge seus objetivos. Dizer que a comunicação se

apresenta como um processo, significa dizer que sua natureza é constituída de partes

intimamente relacionadas, que não podem ser consideradas isoladamente das demais.

No processo educativo, por exemplo, ainda que se disponha dos vários ingredientes,

isto é, os alunos, os professores, os livros, as aulas, a biblioteca, os recursos

audiovisuais, etc, ainda assim não se pode afirmar, com certeza, que os estudantes

receberam educação. Os ingredientes são necessários, mas insuficientes, e o que

importam são as inter-relações dinâmicas entre os ingredientes, surgidas durante o

processo.

A comunicação deve ser também entendida como um processo pois, ainda que seus

ingredientes possam ser separados para fins de análise, a inter-relação entre eles é um

dos aspectos mais importantes para a efetividade da comunicação. De um modo

simplificado, como definido por Aristóteles, o processo de comunicação tem como

ingredientes “quem fala”, “o discurso” e a “audiência”.

De uma forma mais detalhada, pode-se dizer que todo o processo de comunicação

implica na existência dos ingredientes:

1.  Fonte: uma pessoa ou grupo de pessoas com um motivo qualquer para entrar

num processo de comunicação.

2.  Mensagem: é a forma em que o objetivo da fonte deve ser expresso, isto é, em

que os objetivos e intenções da fonte são convertidos num conjunto sistemático

de símbolos.

3.  Codificador: é o ingrediente responsável pela codificação das idéias e objetivos

da fonte, exprimindo-as em forma de mensagem. Na comunicação interpessoal

são as habilidades motoras, que permitem à fonte falar, escrever, gesticular, etc.

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 32/111

31

4.  Canal: é o condutor da mensagem, que pode ser, por exemplo, transmitida pelo

ar, para serem ouvidas, podem ser impressas, para serem lidas, etc.

5.  Decodificador: é o elemento responsável pela decifração da mensagem, para

que essa possa ser útil para o receptor. Na comunicação interpessoal, são as

habilidades sensoriais, que permitem ao receptor ouvir, ler, compreender

gestos, etc.

6.  Receptor: é o alvo da comunicação, podendo constituir-se de uma pessoa ou

grupo de pessoas.

Esses ingredientes são essenciais ao processo de comunicação e, a partir do momento

em que os reconhecemos, podemos enumerar várias situações em que o processo de

comunicação se frustra, como, por exemplo, nos casos de: falta de uma corretadefinição dos objetivos pela fonte; erro de codificação do objetivo, e conseqüente

mensagem inadequada ou equivocada; incapacidade de codificação da mensagem, por

questões como idioma, classes sociais, nível de instrução, cultura, etc.; incapacidade

de decodificação da mensagem, devido a questões de idioma, classes sociais, nível de

instrução, cultura, etc.; deficiência do canal, etc.

3. Fidelidade da comunicação e seus determinantes

Havendo um objetivo a comunicar e uma resposta a obter, o comunicador espera que

sua comunicação seja o mais fiel possível, e que ele obtenha o efeito desejado. Isso

nem sempre é conseguido, em virtude da presença de ruídos. Por definição, ruídos são

os fatores que, atuando em cada um dos ingredientes da comunicação, podem reduzir

sua fidelidade. Nesse sentido, há alguns fatores, presentes na fonte, no receptor, na

mensagem e no canal, que têm significativo impacto sobre a fidelidade de

comunicação. Esses fatores são apresentados a seguir.

3.1. Condificador-fonte

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 33/111

32

 

Há, pelo menos, quatro tipos de fatores, associados à fonte, que podem aumentar a

fidelidade da comunicação: suas habilidades comunicativas; suas atitudes; seu nível de

conhecimento; e, sua posição no sistema sócio-cultural.

As habilidades comunicativas da fonte, tais como a escrita, a palavra e o pensamento

ou raciocínio, têm grande impacto sobre a fidelidade da comunicação, já que

interferem diretamente na capacidade da fonte de definir seus objetivos e codificá-los

em uma mensagem adequada. As habilidades comunicativas afetam a fidelidade da

comunicação ao influenciarem nossa capacidade de analisar nossos objetivos e

intenções e, além disso, influencia a capacidade de codificar uma mensagem que

exprima esses objetivos corretamente. Ou seja, é importante reconhecer que o domínioda linguagem, principalmente, influencia nossos próprios pensamentos.

Uma hipótese provável é a de que o pensamento tenha como unidades básicas as

unidades de linguagem e, por isso, pensamos mais facilmente em coisas que já

experimentamos e para as quais temos denominação. Portanto, a denominação, a

linguagem, é essencial para que o pensamento possa se desenvolver. Quem não

domina bem a palavra ou a escrita tem, por conseguinte, dificuldades de pensar, isto é,seu pensamento fica confinado aos estreitos limites impostos pela pobreza de sua

linguagem.

Também as atitudes da fonte contribuem para afetar a fidelidade da comunicação.

Atitude pode ser entendida como a predisposição, tendência ou desejo que alguma

pessoa tem de aproximar-se ou afastar-se de alguém ou de alguma coisa. Ou seja, são

atitudes o gostar ou não gostar de alguém ou alguma coisa, ser-lhe favorável ou não,

etc. Nesse aspecto, há, pelos menos, três maneiras pelas quais a comunicação é

influenciada pode ser influenciada: pelas atitudes para consigo, pelas atitudes para com

o assunto e pelas atitudes para com o receptor.

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 34/111

33

As atitudes que a fonte tem  para consigo afetam a forma como ela irá transmitir sua

mensagem. A auto-avaliação excessiva pode afetar o tipo de mensagem criada,

afetando, portanto, a fidelidade do processo de comunicação.

As atitudes da fonte  para com o assunto transparecem na mensagem, afetando a

comunicação. É extremamente difícil falar bem daquilo de que não se gosta, sem que

isso fique evidente na conversação. Um exemplo pode ser dado pela atitude de

vendedores, que em geral têm que convencer os potenciais consumidores acerca das

virtudes do produto. Par isso, é importante que eles tenham uma atitude favorável em

relação a esse produto, têm que gostar dele ou, em outras palavras, têm que “vestir a

camisa do produto” pois, do contrário, qualquer desconfiança transpareceria em sua

conversação.

Finalmente, é importante que a fonte mantenha uma boa atitude  para com o receptor .

Atitudes negativas para com os receptores afetam a mensagem da fonte e influenciam

a maneira pela qual essas pessoas receberão e reagirão à mensagem. É importante

lembrar que a comunicação é um processo, com forte interdependência entre fonte e

receptor, sendo este último livre para decidir se aceita ou não participar ativamente da

comunicação. Se, em virtude de determinada atitude da fonte, o receptor passa arecusar sua mensagem, ou a recebe-la com desconfiança, o fluxo da comunicação

reduz-se ou é obstruído completamente.

Outro fato que afeta significativamente a comunicação é o nível de conhecimento que

a fonte tem sobre determinado assunto. Falar a respeito de algo sobre o qual pouco se

sabe gera dificuldades na comunicação. Uma das conseqüências é a de que a fonte,

conhecedora de suas limitações, tende a evitar certos temas, reduzindo a fluência do

discurso, e evitar perguntas, gerando desconfiança dos receptores. Nesse sentido, é

importante que a fonte aumente seu nível de conhecimento a respeito do assunto a

comunicar.

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 35/111

34

Nenhuma fonte é capaz de se comunicar sem que seja influenciada pela sua posição

no sistema sócio-cultural. Aspectos relativos aos grupos aos quais pertence, a seus

valores, a sua concepção de vida, a seu posto hierárquico, entre outros, certamente

afetam a forma pela qual a fonte se comunica. Há, inclusive, um ditado que diz que se

pode conhecer o caráter de uma pessoa pela forma como ela se comunica com

superiores e inferiores. Não é preciso ter muito senso de observação para concluir que

algumas pessoas, que se portam de uma forma extremamente submissa diante de

superiores, mostram-se, por outro lado, arrogantes e tiranas no contato com inferiores.

Isso mostra o quanto a posição no sistema sócio-cultural afeta a comunicação.

Portanto, as habilidades comunicativas, as atitudes, o nível de conhecimento e a

posição no sistema sócio-cultural são fatores que devem ser levados em consideraçãono processo de comunicação, visto que eles afetam o comportamento da fonte e sua

eficiência quando comunica seus objetivos a outras pessoas.

3.2. O receptor-decodificador

De modo semelhante ao que foi dito para a fonte, também para o receptor ashabilidades comunicativas, as atitudes, o nível de conhecimento e a posição no sistema

sócio-cultural afetam a fidelidade da comunicação.

Assim, a fidelidade da comunicação é afetada pelas habilidades comunicativas do

receptor, em particular as habilidades de ouvir, ler e de pensar. Essas habilidades

afetam a transmissão e a decodificação da mensagem e, portanto, interferem na

fidelidade da comunicação.

Com relação às atitudes, a forma como o receptor decodifica a mensagem é também

função das atitudes para consigo, para com a fonte e para com o assunto. Atitudes de

desconfiança ou de descrença em relação à fonte, atitudes de auto-avaliação, do tipo

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 36/111

35

“não conseguirei jamais compreender esse assunto”, e atitudes de desinteresse em

relação ao assunto, afetam negativamente a fidelidade da comunicação.

A capacidade de decodificar e de compreender a mensagem depende, em grande

medida, do nível de conhecimento do receptor. Embora atitudes de excessiva auto-

avaliação devam ser evitadas, por afetar a comunicação, é inegável que, por mais que

o receptor tenha uma boa atitude para consigo mesmo, há situações em que se torna

difícil compreender o assunto pelo fato de se ter pouco conhecimento sobre o mesmo.

Nesse sentido, informar-se previamente sobre o assunto aumenta significativamente a

fidelidade do processo de comunicação.

Por outro lado, há várias situações em que o receptor deixa de compreenderplenamente a mensagem, não pelas limitações específicas ao assunto, mas por que lhe

faltam conhecimentos gerais, como noções básicas das diversas áreas do

conhecimento, vocabulário, noções de atualidades, dentre outras. Por essa razão,

atualizar-se, ler bons livros, assistir bons filmes, ouvir boa música e, em suma, ter

interesse sobre assuntos gerais, são comportamentos que elevam a capacidade do

indivíduo de decodificar e entender as mensagens, contribuindo para torna-lo um bom

comunicador.

Finalmente, a posição no sistema sócio-cultural também irá influenciar a forma pela

qual o receptor recebe e interpreta as mensagens. Como exemplo, provavelmente um

empregado deve receber com certa desconfiança uma mensagem procedente o patrão.

Com muita freqüência, pessoas de uma dada religião se recusam a ouvir o sermão de

um líder de outra religião e, mesmo quando o ouvem, tendem a desqualifica-lo. Na

situação atual, certamente a interpretação que um muçulmano dá a uma mensagem

proveniente do presidente americano é grandemente afetada, não só em razão dos

conflitos bélicos, mas também pelo fato de se tratarem de culturas muito diferentes. De

modo semelhante, agricultores normalmente pertencem a um sistema cultural bastante

distinto do dos técnicos, o que pode gerar grandes dificuldades na comunicação entre

eles.

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 37/111

36

 

3.3. A mensagem

A mensagem pode ser definida como o produto físico real do codificador-fonte,

podendo ser ela um discurso, um texto, um conjunto de gestos, etc. Pelo menos três

fatores devem ser levados em consideração no preparo da mensagem: o código, o

conteúdo e o tratamento.

Código pode ser definido como qualquer grupo de símbolos capaz de ser estruturado

de maneira a ter significação para alguém. Os idiomas, a música, a pintura, a dança são

alguns exemplos de códigos. Ao codificar uma mensagem, há que se decidir qual o

código usar, quais os elementos desse código e que método para estruturar esseselementos deve ser empregado. O conteúdo consiste no material da mensagem,

escolhido pela fonte para exprimir seus objetivos. As decisões que a fonte toma para

selecionar e dispor tanto o código como o conteúdo da mensagem é o que se chama

tratamento da mensagem. Ou seja, uma vez determinado o código ou o conteúdo, são

as demais medidas tomadas pela fonte com a finalidade de tornar a mensagem mais

palatável para o receptor.

O receptor é o elo mais importante da comunicação e uma das maiores preocupações

do comunicador, enquanto fonte, é alcança-lo. Assim, quando a fonte escolhe um

código para a mensagem, deve usar um que seja conhecido pelo receptor. Quando

seleciona um conteúdo, este deve ter um significado para o receptor. Portanto, no

preparo de mensagens, deve-se levar em conta os fatores que, presentes nos receptores,

afetam sua capacidade de recebe-las e interpreta-las. Ou seja, o preparo de mensagens

deve considerar as habilidades comunicativas, as atitudes, o nível de conhecimento e a

posição no sistema sócio-cultural dos receptores.

3.4. O canal

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 38/111

37

Pode-se definir o canal de comunicação como os sentidos através dos quais o receptor-

decodificador percebe a mensagem codificada e transmitida pela fonte-codificadora. A

escolha do canal mais adequado é importante na determinação da qualidade e

efetividade da comunicação.

As decisões sobre a seleção do canal não são independentes da decisão sobre a

mensagem. O conteúdo, o código, o tratamento da mensagem tem relação com a

escolha dos canais. Por exemplo, uma mensagem inicialmente escrita, deve ter seu

conteúdo, seu código e seu tratamento alterados se a fonte desejar que seus receptores

também a vejam, a toquem, e assim por diante. Da mesma forma, as características do

receptor têm relação com a escolha dos canais: terá ele maior facilidade de decodificar

a mensagem pela visão, pelo ouvido ou pelo tato? A própria fonte tem relação com ocanal que escolhe, pois deverá ser aquele em que ela melhor se expressa: escrevendo,

falando, demonstrando, etc.

Finalmente, de tudo o que foi visto neste capítulo, é importante destacar que, além das

condições apresentadas, que podem definir boas fontes-codificadores e bons

receptores-decodificadores, a relação entre esses ingredientes é o aspecto mais

importante. Por exemplo, não se pode definir uma boa fonte a partir de suascaracterísticas, isoladamente, sem que se conheçam as características do receptor. Ou

seja, não basta ter as habilidades mencionadas, é preciso que elas estejam em sintonia

com as habilidades interlocutor, isto é, com as habilidades do receptor, quando se é

fonte, e da fonte, quando se é receptor.

4. O processo de aprendizagem

4.1. Introduçao 

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 39/111

38

Sendo uma das finalidades da comunicação, e da extensão rural em particular,

influenciar o comportamento, provocar mudança de hábitos, é necessário compreender

as variáveis e os processos que determinam o comportamento e sua mudança. Para

entender o processo de aprendizagem de um determinado comportamento, é preciso

definir os conceitos de estímulo e resposta.  Estímulo pode ser entendido como

qualquer coisa que o indivíduo pode receber através de um dos sentidos, que produza

sensação no organismo humano. Qualquer coisa que esse indivíduo faça como

resultado da percepção do estímulo consiste numa resposta, que nada mais é do que

reação do indivíduo ao estímulo.

Boa parte da teoria sobre o comportamento humano baseia-se na suposição de que o

homem, em presença de ambigüidade, da ausência de forma, age sob tensõesfisiológicas. Alguns exemplos cotidianos de ambigüidade que, por mais simples que

sejam, causam desconforto, são a indecisão sobre ir ou não a uma festa, sobre que

roupa usar em determinado evento, sobre que rua tomar diante de uma encruzilhada,

etc.

Por essa razão, procuramos reduzir a ambigüidade, reduzindo a incerteza quanto à

natureza do meio ambiente. Para fazer isso, procuramos impor uma estrutura, dandoum significado ao nosso ambiente, eliminado a ambigüidade pela construção de

relações estímulo-resposta estáveis. Pelo processo de aprendizagem, chegamos a

algumas relações estímulos respostas simples. Por exemplo, sabemos, por que

aprendemos, que dois mais dois são quatro, que para a dor devemos tomar analgésico,

que ao recebermos um bom dia, respondemos com outro bom dia, que diante de

ocasiões fúnebres devemos mostrar respeito, e assim por diante. A música

Diariamente, de Nando Reis, ilustra a noção de relações estimula-resposta estáveis,

que construímos por aprendizagem:

Para calar a boca: Rícino

Pra lavar a roupa: Omo

Para viagem longa: Jato

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 40/111

39

Para difíceis contas: Calculadora

Para o pneu na lona: Jacaré 

Para a pantalona: Nesga

Para pular a onda: Litoral

Para lápis ter ponta: Apontador...

Nesse sentido, pode-se definir a aprendizagem como o processo de criação de relações

estímulo-resposta estáveis que, na maior parte dos casos, envolve a destruição de uma

relação estímulo-resposta anterior, isto é, envolve uma mudança na relação estável

entre um estímulo que o organismo percebe e a resposta que ele formula. Assim, um

indivíduo aprendeu se ele: transfere a resposta que dava a um estímulo a outro

estímulo diferente; ou, passa, diante de um mesmo estímulo, a dar resposta distinta daque dava anteriormente.

A aprendizagem requer a quebra de determinada relação estímulo-resposta e sua

substituição por outra. Ao fazer isso, ela aumenta a tensão psicológica e, se o

indivíduo não percebe alguma possibilidade de maior recompensa proveniente da nova

relação, ele não a considera, continuando a se comportar da forma que está

acostumado. Requer-se, portanto, a possibilidade de que exista uma posterior reduçãode tensão pela criação de uma maior certeza e uma estrutura mais útil da realidade.

Em geral, tratamos qualquer situação de comunicação com a atitude de “que vantagem

eu levo nisso?” Mesmo a seleção e interpretação de um estímulo tem relação com a

nossa expectativa de recompensa. Na ausência de qualquer expectativa de recompensa,

freqüentemente nos recusamos até a selecionar e a interpretar um estímulo.

Pode-se dizer, portanto, que a modificação da conduta de um indivíduo é determinada

pelo balanço entre a recompensa esperada e a energia necessária. Nessa lógica, a

efetividade da comunicação e da mudança do comportamento dos receptores pode ser

aumentada quando se eleva a recompensa e/ou quando se reduz a energia envolvida no

processo de aprendizagem.

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 41/111

40

 

4.2. Os ingredientes do processo de aprendizagem

Pode-se dizer que o processo de aprendizagem é constituído dos seguintes

ingredientes:

1. Apresentação do estímulo

2. Percepção do estímulo pelo organismo

3. Interpretação do estímulo

4. Resposta experimental ao estímulo

5. Percepção das conseqüências da resposta experimental

6. Reinterpretação das conseqüências e preparo das novas respostas7. Criação de uma relação estímulo-resposta estável: o hábito

A apresentação do estímulo consiste no primeiro requisito do processo de

aprendizagem. Uma vez apresentado, é preciso que esse estímulo seja percebido e

depois interpretado. Para que haja aprendizagem, o comportamento reflexivo não

basta. É preciso que o organismo, após receber o estímulo, interprete-o e dê a ele uma

resposta. Essas primeiras respostas podem ser consideradas experimentais: oorganismo a fornece para ver o que ocorre. No momento seguinte, percebendo as

conseqüências da resposta experimental, o indivíduo irá manter essa resposta, se suas

conseqüências são compensadoras, e, em caso contrário, ele passa para o seguinte

passo, que consiste no preparo das novas respostas. Esse processo deverá ser repetido

até que se chegue a uma relação estímulo-resposta estável, o hábito.

Portanto, a aprendizagem não é, em geral, processo de um só turno, já que consiste em

receber estímulos continuamente, interpreta-los, responde-los, observar as

conseqüências da resposta, reinterpreta-los, formular novas respostas, e assim por

diante. Porém, uma vez criado o hábito, deixamos de interpretar o estímulo, passando

a responde-lo automaticamente, sem análise. O comportamento habitual é tão

irracional que, se alguém nos perguntasse a razão de alguns de nossos comportamentos

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 42/111

41

ou procedimentos diante de determinada situação, provavelmente nem saberíamos

responder.

4.3. Determinantes da força do hábito

Grande parte de nosso comportamento cotidiano é habitual, pois, criando o hábito,

reduzimos o esforço necessário para a realização de respostas. Entretanto, como visto

anteriormente, os comportamentos habituais são meramente reflexivos, não envolvem

mais um raciocínio lógico em sua realização. Por essa razão, são freqüentes as

situações em que mantemos certos hábitos ao longo da vida, ainda que, pela lógica,

devêssemos substituí-los por outros.

Um dos objetivos do extensionista é o de produzir aprendizagem nos agricultores,

quebrando certos padrões de hábitos existentes para estabelecer outros. Contribui para

o desempenho dessa tarefa, que é também enfrentada por professores, pais,

publicitários, etc., o conhecimento dos princípios da criação do hábito. Pelo menos

cinco fatores que influenciam o desenvolvimento da força do hábito podem ser

isolados

12

: a freqüência da repetição recompensada, o isolamento da relação estímulo-resposta, o volume de recompensa, o tempo entre a resposta e a recompensa e o

esforço requerido para a resposta.

No esforço para promover a mudança de um determinado hábito em favor de outro,

percebido como melhor, um dos fatores mais importantes é o volume da recompensa 

associado a determinada resposta. Quando mais recompensadora for a resposta, maior

a probabilidade de que o novo hábito prevaleça sobre o anterior. A conduta de gerentes

de pessoal nas fábricas para com os trabalhadores ilustra bem essa relação.

Trabalhadores que respondem com aumento de produtividade podem receber, por

exemplo, aumento salarial ou promoção a um posto mais elevado. Essas

12 Há muitos outros princípios, como destacado por Berlo (1989), mas estes são os mais importantes.

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 43/111

42

recompensas13 visam, na prática, a tornar a busca por melhores produtividades um

hábito permanente dos trabalhadores.

Por outro lado, ainda que o volume da recompensa seja elevado, há que se considerar o

tempo existente entre a nova resposta que o indivíduo emite e a recompensa que ele

espera receber. Há dificuldade em se criar novos comportamentos quando as

recompensas dele advindas estão num futuro relativamente distante. Em igualdade de

condições, respostas imediatamente recompensadas tendem a ser mais fortalecidas do

que as recompensadas mais lentamente. Por essa razão, é sempre importante se utilizar

de meios para que os receptores possam receber algum tipo de recompensa mais

rapidamente. É o que se faz, por exemplo, quando se subdivide uma determinada

tarefa, penosa e demorada, em várias tarefas menores. A execução dessas tarefasmenores e mais fáceis tende a proporcionar aos executores uma recompensa mais

rápida, tornando-a menos penosa.

De modo semelhante, a  freqüência da repetição recompensada é um fator importante

na determinação do hábito. A força do hábito é determinada em parte pelo total de

vezes que uma determinada relação estímulo-resposta é recompensada. Por exemplo,

se em toda colheita os agricultores são recompensados com maior produtividade, emdecorrência da adoção de determinada prática, eles tenderão a formar mais facilmente

o hábito de utilizar essa prática. Porém, pode ocorrer que em algumas safras a

produtividade seja baixa, ainda que o indivíduo tenha adotado aquela prática e, quanto

mais vezes isso ocorrer, mais dificilmente o hábito de emprega-la será formado. Outra

noção associada a esse princípio é a de que “a prática leva à perfeição”, indicando que,

quanto mais vezes fazemos algo, e o fazemos com sucesso, tendemos a nos tornar

especialistas no assunto, realizando-o com grande perícia.

No que se refere ao isolamento da relação estímulo-resposta, quanto maior a

possibilidade da fonte isolar o receptor, restringindo as mensagens que chegam até ele,

13 A noção de recompensa não está estritamente relacionada a ganhos salariais ou promoção. Um simples elogioou reconhecimento pode constituir recompensa. De qualquer modo, é preciso saber qual o tipo de recompensaalmejada pelo receptor, pois nem todos desejam as mesmas coisas.

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 44/111

43

mais facilmente ela será capaz de fazer com que ele mude seus hábitos, suas opiniões,

etc. Governos de regimes totalitários tendem a restringir o acesso de suas populações a

outras fontes de informação além das oficiais, visando com isso faze-las crer em seus

discursos. Em nosso país, também, não podemos considerar que não ocorra restrição

do acesso a informações. Em geral, ainda que não estejamos submetidos a uma única

fonte de informação, os principais meios de comunicação existentes tendem a

reproduzir um mesmo discurso, representativo dos interesses das classes dominantes,

para que aceitemos a ordem vigente sem questionamentos.

Quanto menor o esforço requerido para a resposta, mais provável é o

desenvolvimento do hábito. As respostas fáceis de serem dadas têm mais

probabilidade de serem mantidas do que as difíceis. Por essa razão, deve-se sempreprocurar reduzir o esforço requerido do receptor para que ele emita as respostas

desejadas. Por exemplo, quando se faz uma pesquisa mediante aplicação de

questionários à população, uma forma de facilitar as respostas é formulando um

questionário menor e mais simples, de preferência com questões objetivas. Se esse

questionário for enviado pelo correio, uma forma de facilitar a resposta das pessoas é

enviar-lhes um envelope selado, e assim por diante.

5. Interação: objetivo da comunicação interpessoal

Em qualquer situação de comunicação, fonte e receptor são interdependentes.

Entretanto, os níveis de interdependência variam de situação para situação, podendo

ser distinguidos em: interdependência física e definidora, interdependência de ação e

reação e interdependência das expectativas ou empatia.

Os conceitos de fonte e receptor dependem um do outro fisicamente e por definição, já

que a fonte é emissora de mensagens para alguém (o receptor) e o receptor deve,

necessariamente, receber alguma mensagem de alguém (a fonte). Como a definição e a

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 45/111

44

existência de um implica, necessariamente, na definição e na existência do outro, diz-

se que há uma interdependência física e definidora entre fonte e receptor. 

Ocorre ainda, entre a fonte e o receptor, uma interdependência de ação e reação. A

ação da fonte influencia a ação do receptor e a reação do receptor influencia a

subseqüente reação da fonte, e assim por diante. Fonte e receptor podem utilizar as

reações do outro, as quais funcionam como  feedback . O feedback ou retroinformação

consiste na reação dada pelo receptor à mensagem emitida pela fonte. A capacidade de

observar cuidadosamente as reações dos outros às nossas mensagens é uma das

características da pessoa boa em relações humanas ou sensível como comunicadora14.

O  feedback proporciona à fonte informação referente ao seu sucesso ou fracasso narealização de um objetivo. Desse modo, se a fonte recebe um  feedback compensador

após emitir determinada mensagem, ela percebe que essa mensagem atingiu seus

objetivos e irá continuar a produzir a mensagens do mesmo tipo. Porém, se em

resposta a alguma mensagem, a fonte recebe um  feedback negativo, ela terá que fazer

alterações em sua mensagem no sentido de ter seus objetivos atingidos. Como

exemplo, se um anunciante de uma empresa constata que o produto anunciado obteve

um aumento de vendas ( feedback  compensador), ele deverá continuar a produziranúncios semelhantes e, caso as vendas não sejam afetadas pela propaganda ( feedback  

não compensador), alguma coisa terá que ser feita visando melhorar a comunicação

entre a empresa e os consumidores. A conduta das emissoras de TV, dos jornais e dos

candidatos a cargos políticos ilustra bem a importância do  feedback na comunicação:

eles ficam sempre atentos ao feedback dado pelos telespectadores, leitores e eleitores15,

objetivando produzir uma mensagem que lhes assegure maior audiência, maior

número de jornais vendidos ou maior votação, respectivamente.

14 Por outro lado, como são inconvenientes aquelas pessoas que, não percebendo ou não se importando com areação dos outros (o feedback ), continuam a proferir um discurso que não agrada, falando demais,monotonamente, repetitivamente, sobre assuntos desinteressantes ou mesmo impróprios para a ocasião. São osfamosos “malas”, reconhecidos, com unanimidade, por sua capacidade de afugentar os ouvintes.15 Como receptores, subestimamos nossa capacidade de influenciar a fonte, sempre atenta à nossa reação.Recusando-nos a assistir, ler ou votar nos programas televisivos, jornais ou políticos que não atendem a nossosanseios, estaríamos lhes dando um sinal para que mudassem suas mensagens.

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 46/111

45

 

Num nível mais elevado, ocorre, entre fonte e receptor, uma interdependência das

expectativas ou empatia. Pode-se definir empatia como o processo pelo qual chegamos

às expectativas, às antecipações das condições psicológicas internas dos outros. Toda a

comunicação humana envolve previsões, pela fonte e pelo receptor, quanto à maneira

como outras pessoas responderão à mensagem. Como fontes e receptores, usamos tais

expectativas na codificação, na decodificação e na resposta de mensagens. As

expectativas sobre o receptor influenciam-nos e às nossas mensagens.

Quando criamos essas expectativas, estamos supondo que temos empatia, isto é, a

capacidade de projetar-nos dentro das personalidades das outras pessoas. Como criar

essa capacidade de empatia? Qual o processo que caracteriza a nossa capacidade decriar expectativas sobre os outros, de predizer como se comportarão antes do

momento?

As duas teorias sobre o fundamento da empatia concordam que nossas predições sobre

os estados psicológicos internos humanos são baseadas em comportamentos físicos

observáveis. Concordam que o homem faz previsões pelo uso de símbolos

representativos dos comportamentos físicos e pela manipulação desses símbolos e, apartir daí, elas se dividem em duas vertentes: a teoria da empatia por inferência e teoria

da empatia por adoção de um papel.

A teoria da empatia por inferência assume que o indivíduo pode observar seu próprio

comportamento físico e relacionar esse comportamento com seus estados psicológicos

internos. Tendo por base suas interpretações de si mesmo, o indivíduo tira, a partir da

observação do comportamento físico das outras pessoas, as inferências sobre as

disposições internas dessas pessoas. Já a teoria da empatia por adoção de um papel 

sugere que o indivíduo possa criar empatia colocando-se no lugar do outro, isto é,

adotando o papel do outro, extraindo, a partir disso, conclusões a respeito das suas

expectativas. Partindo dessas duas abordagens, pode-se concluir que o homem cria

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 47/111

46

expectativas a partir de duas formas, ou seja, cria expectativas assumindo um papel de

outros ou tirando inferências sobre si mesmo, ou ambas as coisas.

Portanto, pode-se concluir que, em certo nível de análise, a comunicação envolve uma

interdependência física entre fonte e receptor, pois cada qual exige o outro, por

definição. Num segundo nível de complexidade, a interdependência pode ser analisada

como uma conseqüência de ação e reação. Num terceiro nível de complexidade, a

análise da comunicação preocupa-se com as habilidades empáticas, com a

interdependência produzida pelas expectativas sobre como os outros responderão à

mensagem. Inferimos os estados internos dos outros comparando suas atitudes com as

nossas próprias e, ao mesmo tempo, empenhamo-nos em assumir papéis, pondo-nos no

lugar de outra pessoa, criando um conceito de pessoa que usamos para tirar inferênciassobre os outros.

O nível seguinte de complexidade é a interação, isto é, o processo de adoção recíproca

de papéis, o desempenho mútuo de comportamentos empáticos. Se dois indivíduos

tiram inferências sobre os próprios papéis e assumem o papel um do outro, e se o seu

comportamento de comunicação depende da adoção recíproca de papéis, então eles

estão em comunicação por interagirem um com o outro. A interação representa umatentativa de conjugar dois organismos, pela produção e recepção de mensagens que

tenham sentido para ambos – é uma tarefa impossível, mas a comunicação interativa

busca esse ideal. Podemos nos comunicar sem interagirmos em grau satisfatório, mas a

nossa efetividade, nossa capacidade de influenciar e ser influenciado se eleva na

medida em que uma situação interativa se instale. Com a crescente interação, os

conceitos de fonte e receptor como entidades distintas perdem significação.

6. Sistemas sociais: matriz da comunicação

A adoção de um papel, a empatia e a interação são instrumentos úteis para melhorar a

eficiência da comunicação. Entretanto, em várias situações esses processos consomem

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 48/111

47

muita energia, ou não contam com os pré-requisitos para serem operados. Por

exemplo, podemos ter que nos comunicar com uma pessoa que acabamos de encontrar,

ou sermos limitados pelo canal de comunicação disponível, etc.

Diante disso, outra opção que possibilita a criação de expectativas sobre o

comportamento dos outros é dada pela existência de sistemas sociais, de grupos

humanos organizados.

Os sistemas sociais são as conseqüências da necessidade que tem o homem de

relacionar seu comportamento com os comportamentos de outros, a fim de realizar

seus objetivos. A existência de um sistema social atesta a insuficiência do homem

como auto-determinador dos próprios objetivos, já que ele precisa se tornarinterdependente dos outros. Pode-se considerar, como algumas razões e objetivos da

formação dos sistemas sociais a conservação do grupo e a elevação da produtividade,

visando produzir coisas que não poderiam produzir por si, produzi-las com mais

eficiência, e produzi-las com mais efetividade, etc.

Num sistema social podemos identificar a existência de comportamentos-papéis, que

podem ser definidos como um grupo de comportamentos selecionados, coligidos eassociados a uma pessoa em determinada posição social. Esses comportamentos estão

associados à posição que os indivíduos ocupam na estrutura social, a denominada

 posição-papel. Portanto, o papel representado por um individuo pode referir-se a uma

determinada posição que ele ocupa no sistema social ou ao conjunto de

comportamentos que se espera dele, nessa posição.

O sistema social é uma coleção de indivíduos desempenhando funções

interdependentes, as posições-papéis, às quais está associado um conjunto de

comportamentos, os comportamentos-papéis. Dentro de sua posição, é esperado que o

indivíduo deva realizar o seu papel, o que implica dizer que o sistema social lhe cobra

uma conduta que seja consistente com a sua posição, obrigando-o a adotar certos

comportamentos e a evitar outros.

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 49/111

48

 

A comunicação é relacionada com a organização social em pelo menos três formas: os

sistemas sociais são produzidos por meio da comunicação; uma vez criado o sistema

social, ele determina a comunicação de seus membros; e, o conhecimento de um

sistema social pode ajudar-nos a fazer previsões corretas sobre as pessoas, sem

necessidade da empatia, sem necessidade da interação, sem que saibamos coisa

alguma sobre elas a não ser os papéis que desempenham no sistema.

A criação de um sistema social, atribuindo a cada indivíduo uma determinada posição-

papel, presume comunicação prévia entre os membros do sistema. Embora não se

possa afirmar que o desejo de comunicar crie as organizações sociais, pode-se dizer

que a disponibilidade de comunicação aumenta a probabilidade do desenvolvimentosocial e, por essa razão, pode-se afirmar que os sistemas sociais são produzidos por

meio da comunicação.

Uma vez criado o sistema social, ele determina a comunicação de seus membros, visto

que ele influencia o como, o porque, o para quem e de quem, e com que efeitos a

comunicação ocorre. Talvez o aspecto mais importante, dentre as várias determinações

impostas pelos sistemas sociais, seja os meios pelos quais o sistema influencia otratamento que seus membros dão às mensagens. Cada sistema tem o seu estilo.

Finalmente, e o mais importante, o conhecimento de um sistema social pode ajudar-

nos a fazer previsões corretas sobre as pessoas, sem necessidade da empatia, sem

necessidade da interação, sem que saibamos coisa alguma sobre elas a não ser os

papéis que desempenham no sistema. A posição que ocupa o nosso receptor no sistema

social ajuda-nos a predizer: em que ele acredita, o que sabe, e como se comportará em

dada situação. Além desses comportamentos normativos, as crenças, as atitudes e os

conhecimentos do indivíduo são em parte moldados pelos grupos a que ele pertence.

Em razão disso, podemos fazer previsões sobre o comportamento dos indivíduos a

partir das normas as quais deve-se respeitar dentro de seu sistema social.

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 50/111

49

Porém, às vezes não é fácil fazer previsões das expectativas dos indivíduos a partir de

seus comportamentos papéis, pois nem sempre essas duas coisas coincidem. As

expectativas, e não as prescrições ou descrições que as pessoas mantêm sobre a

autoridade é que controlam seu comportamento. É freqüente que algumas pessoas,

ocupando determinadas posições, creiam que elas lhes asseguram certos poderes ou

atitudes que estão além daqueles que o sistema lhe confere.

O poder de um indivíduo e a autoridade de sua posição nem sempre coincidem. Se o

poder é menor que a autoridade, ele fica insatisfeito e, se aquele for maior que esta,

seus colegas é que ficam insatisfeitos. As pessoas satisfeitas com sua posição de

autoridade comportam-se diversamente daquelas que desejam mais autoridade, e

daquelas que temem a redução de sua autoridade.

Os sistemas sociais são compostos de papéis interligados, com autoridades

interligadas. Nesse sentido, passar por alto sobre certas posições consideradas

relevantes (não seguir os canais) implica ataque às pessoas que ocupam as posições

ultrapassadas, gerando dificuldades e ruídos na comunicação. Quando o indivíduo

sente que sua posição é atacada, reage negativamente. O desconhecimento ou o

desprezo da importância da posição causa sérios colapsos na comunicação

Outro aspecto importante é que, quando tentamos predizer comportamentos pelo nosso

conhecimento de um sistema social, é importante selecionar os sistemas que sejam

cruciais para o comportamento, visto que o indivíduo pertence a vários grupos sociais.

Por exemplo, um mesmo indivíduo pode, ao mesmo tempo, ser um professor,

pertencer a um partido político, ter uma certa religião, e assim por diante. Em tais

situações, é preciso selecionar os grupos de referência, que são sistemas sociais que

servem como pontos de referência para o indivíduo, grupos cujas normas e

comportamentos-papéis são prognosticadores importantes de seus próprios

comportamentos e crenças. No exemplo citado, mesmo que o indivíduo seja professor

e político, pode ser que a maior parte de seus comportamentos sejam balizados pelas

normas da religião a que pertence.

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 51/111

50

 

Por outro lado, não são raras as situações em que o indivíduo, ao desempenhar um dos

papéis, o faz sem sofrer qualquer influência das demais posições que ocupa. Por

exemplo, um indivíduo que pertence a um grupo religioso, com normas de conduta

bastante rígidas, poderá, no exercício de suas atividades como político, esquecer

completamente as normas prescritas por sua religião! Ainda que esse não seja um

exemplo louvável, despir-se de um papel e vestir-se de outro é normal e muitas vezes

desejável. São normalmente desagradáveis aquelas pessoas que, fora do trabalho e

diante de qualquer pessoa, não se despem de sua roupa de policial, político, professor,

cientista e, principalmente, de vendedor. Ninguém agüenta! Por essa razão, é preciso

considerar a situação específica em que ocorre o comportamento do indivíduo, para

verificar os grupos que a pessoa está usando como referência para o seucomportamento, o papel que, no momento, ela está desempenhando, que posição julga

estar ocupando.

Finalmente, na tentativa de inferir acerca das expectativas de um indivíduo a partir dos

grupos sociais a que pertence, é preciso considerar se esse indivíduo não tem conflitos

com o sistema social. Quando um indivíduo passa de um sistema para outro, pode se

defrontar com conflitos de papéis e normas, já que a posição-papel em um sistemapode ser antagônica à posição ocupada no outro. Por exemplo, indivíduos acostumados

a assumir posições de mando podem sofrer conflitos quando submetidos a uma

posição que lhe requer obediência. Sempre que houver esses conflitos, decrescerá

nossa confiança em nossas previsões sobre o comportamento do indivíduo.

Com essa breve abordagem da importância dos sistemas sociais, encerramos a parte

referente ao processo de comunicação. Num primeiro momento, foram abordados os

meios pelos quais podemos predizer o comportamento de comunicação pelo

conhecimento do indivíduo, de sua personalidade, de sua forma de aprender e das

recompensas que recebe. E, ao final, foram consideradas as possibilidades de previsão

de expectativas a partir dos grupos sociais. Não obstante tal distinção, o fato a

destacar, mais uma vez, é que a comunicação é um processo e, do ponto de vista de

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 52/111

51

sua teoria, nenhum aspecto isolado do comportamento humano pode ser analisado

convenientemente, se forem deixados de lado os demais aspectos desse

comportamento. Não compreendemos bem o processo de comunicação se não

tentarmos relacionar todas as variáveis umas com as outras, se não empregarmos todo

o conhecimento possível, para ajudarmos a explicar e a predizer como as pessoas são o

que são, e em que se estão transformando.

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 53/111

52

CAPÍTULO IV

A metodologia da extensão rural

1. Introdução

No capítulo II, viu-se que uma das principais críticas sobre a atuação da extensão rural

incidia sobre o seu “método educativo”, que não permitia a participação ativa dos

agricultores, tornando-os objetos da ação do extensionista. É consenso que, numa nova

perspectiva, os agricultores devem ser sujeitos do processo de mudança, e sua relação

com os extensionistas deve privilegiar a reflexão, o raciocínio, a inteligência, aimaginação e a criatividade. Essa perspectiva, destacada no Guia de Metodologia de

Extensão Rural16, da EMATER do estado do Rio de Janeiro, mostra a importância

daquela crítica, e o quanto o serviço de extensão rural tem se preocupado em reorientar

sua atuação no sentido de assegurar uma participação ativa dos agricultores.

Porém, não obstante essa perspectiva, os métodos tradicionais de ensino utilizados

pelo serviço público de extensão rural permanecem. De um lado, essa constataçãopode significar que, apesar dos discursos a favor de maior participação dos

agricultores, na prática a atuação dos extensionistas não tem sido reorientada nesse

sentido. Por outro lado, outra interpretação possível é a de que a atuação da extensão

rural pode, e deve, respeitar a participação ativa dos agricultores na superação de seus

problemas, mesmo empregando seus métodos tradicionais. Ou seja, esses métodos não

seriam obstáculos a uma participação mais democrática e ativa dos agricultores.

Acreditando nessa segunda interpretação, apresentamos, no presente capítulo, uma

descrição resumida dos métodos empregados pelo serviço de extensão rural para

mobilizar os agricultores e apresentar novas práticas e tecnologias. A descrição segue,

16 No mesmo guia, encontra-se a afirmação de que, no atual contexto, o extensionista deve ser considerado um“agente de mudança”, um facilitador do processo de transformação social e de mudança de comportamento.

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 54/111

53

basicamente, as orientações constantes do Guia de Metodologia de Extensão Rural da

EMATER do Rio de Janeiro, acrescidas de algumas informações extraídas de Coelho

(2005).

2. A escolha dos métodos de ensino

Um aspecto importante a considerar na escolha dos métodos pelo extensionista é a

escala de aprendizagem. Para entendê-la, é preciso considerar que, num determinado

grupo de agricultores, nem todos se encontram num mesmo grau de conhecimento em

relação à prática que o extensionista propõe adotar. Nesse sentido, o grupo pode conter

desde pessoas que apenas tiveram a atenção atraída pelo tema, até pessoas que jáadotam a prática proposta. Com maior nível de detalhes, pode-se dizer que a escala de

aprendizagem envolve, em sentido crescente, as fases de atenção, interesse, avaliação,

experiência e adoção, como mostra a figura seguinte.

Experiência

Atenção 

Interesse

Avaliação

Adoção

Figura 1 – A escala de aprendizagem

Pode-se constatar que essa escala de aprendizagem está relacionada com os

ingredientes do processo de aprendizagem, estudados no capítulo III. Em todo o caso,

o importante a destacar é que essa escala ajuda a identificar a situação em que os

agricultores se encontram com relação a determinado tema ou prática agrícola,

facilitando a escolha dos métodos a serem empregados.

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 55/111

54

 

Um dos pré-requisitos do bom trabalho de extensão é a capacidade do extensionista de

selecionar e combinar os métodos de ensino de forma adequada. A orientação da

EMATER-Rio é que o extesnionista, de forma participativa com as comunidades, faça

um diagnóstico prévio, elabore um plano de trabalho comunitário e estabeleça a

estratégia metodológica, determinando as ações a serem desenvolvidas para se

alcançar os objetivos desejados.

3. Classificação dos métodos

Os métodos empregados na extensão podem ser classificados quanto ao alcance equanto à estrutura. De acordo com essa classificação, os diversos métodos podem ser

agrupados como:

3.1. Quanto ao alcance:

Quanto ao alcance, os métodos podem ser classificados em métodos individuais,

grupais ou indefinidos, como se segue:

3.1.1. Métodos individuais

-  Contato

-  Visita

-  Unidade de observação

3.1.2. Métodos grupais

-  Demonstração de método

-  Reunião

-  Demonstração de resultado

-  Unidade demonstrativa

-  Excursão

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 56/111

55

-  Curso

-  Treinamento

-  Propriedade demonstrativa

-  Dia de campo

-  Dia especial

-  Mutirão

3.1.3. Métodos indifinidos

-  Concurso

-  Exposição

-  Semana especial

-  Campanha

3.2. Quanto à estrutura

Com relação a sua estrutura, os métodos podem ser simples, quando puderem ser

empregados isoladamente, como é o caso, por exemplo, do contato, da visita e da

demonstração de método. Métodos complexos são aqueles que exigem a utilização de

outros métodos em conjunto, como ocorre com o curso, o dia de campo e a unidadedemonstrativa, para citar alguns exemplos.

4. Caracterização dos métodos

Nesse item são apresentados, individualmente, os diferentes métodos empregados pela

extensão rural. É importante destacar que, não obstante a descrição individual de cada

método, nenhum deles existe isoladamente, e normalmente são trabalhados como parte

de um conjunto ou combinação de outros métodos.

4. 1. Contato

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 57/111

56

O contato é um método auxiliar de outros, não exigindo, necessariamente, um

planejamento de sua execução. O contato com os agricultores pode ocorrer de forma

prevista ou imprevista, em diferentes locais, como no escritório, no campo, na feira de

produtos agropecuários, etc. Pode ser feito com o objetivo de informar, oferecer ou

solicitar cooperação, conhecer a situação, identificar problemas e obter informações.

Esse método tem, como vantagens, o fato de possibilitar a comunicação interpessoal e

de permitir a aproximação e o entendimento entre o técnico e o agricultor. Além de ser

um procedimento rápido, ele possibilita a transmissão de informações simples e a

divulgação informal de trabalhos.

Porém, esse método tem alcance restrito, atingindo a poucos agricultores, além de nãopossibilitar um aprofundamento das informações. Às vezes, pode adquirir um caráter

excessivamente pessoal, contrário à pretensão de imparcialidade e generalidade da

atuação extensionista. Além disso, nem sempre o contato se dá em locais e horários

apropriados, podendo, em algumas situações, ser inoportuno.

4.2. Visita

Diferentemente do contato, a visita é um método planejado. Como tal, antes de realiza-

la, deve-se planejar a época, a duração, o conteúdo, os materiais e os equipamentos,

quando necessários, para que a visita tenha o sucesso esperado.

Um dos objetivos da visita é possibilitar a troca de informações e conhecimentos entre

o técnico e os agricultores. Ela permite ainda capacitar, motivar, planejar, acompanhar

e avaliar as ações junto à unidade familiar.

Em sua execução, as visitas devem evitar alterar a rotina da família, a qual, além disso,

deve ter seus valores respeitados pelo visitante. É importante ainda que o técnico não

esqueça o objetivo de sua visita, discorrendo sobre vários outros assuntos, exceto

aquele que o levou a procurar o agricultor. É necessário também que se respeite o

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 58/111

57

tempo do agricultor, não o pressionando para tomar decisões rápidas a respeito de

qualquer questão suscitada pela visita.

Tal como o contato, a visita apresenta alcance restrito e, como agravante, seu custo é

elevado. Além disso, por requerer certo grau de intimidade, há a tendência de que as

visitas se concentrem em pessoas ou famílias com as quais o técnico tem maior

afinidade.

Entretanto, a visita tem a vantagem de estabelecer um clima de confiança mútua entre

o técnico e a família visitada. Ademais, ao possibilitar que o técnico possa se inserir no

ambiente do agricultor e vivenciar um pouco de sua realidade, a visita permite obter

conhecimentos indispensáveis acerca das atitudes, dos problemas e do modo de vidada família. Outra vantagem da visita é que ela contribui, pelas razões citadas, para

facilitar a preparação e a execução de outros métodos.

4.3. Demonstração de método

Consiste de um método planejado, utilizado para introduzir novas práticas ou melhorar

as existentes, demonstrando como faze-las e permitindo que os participantes aspratiquem. Envolve, portanto, o ver, o ouvir e o fazer, potencializando a aprendizagem

dos agricultores17. O objetivo desse método é consolidar a aprendizagem dos

agricultores com relação à determinada prática, por um processo em que se aprende

fazendo e entendendo.

Para o emprego desse método, é condição necessária que o extensionista tenha

suficiente conhecimento, teórico e prático, sobre a técnica que vai demonstrar. É

conveniente que a demonstração possa ser feita por um membro da comunidade que já

17 Relembrando que a comunicação se dá pelos vários sentidos, isso contribui para maior fidelidade dacomunicação. Além disso, como destacado por Pinto (2005), os indivíduos retêm 10% do que lêem, 20% do queescutam, 30% do que vêm, 50% do que vêm e escutam, 70% do que dizem e discutem, e 90% do que dizem elogo realizam.

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 59/111

58

tenha adotado a prática, pois, além de ter experiência, esse indivíduo pode dar melhor

testemunho das vantagens da prática proposta.

Havendo um colaborador, é necessário que este seja treinado e informado sobre o

método e os objetivos da demonstração. É necessário ainda considerar aspectos como

o local da demonstração, que deve ser de fácil acesso e do conhecimento de todos, e os

equipamentos a serem empregados, que devem ser testados e avaliados previamente, e

direcionados ao local escolhido.

Na execução desse método inicia-se com a abertura e a exposição do objetivo,

ressaltando a importância da prática proposta. Em seguida, após uma descrição do

material ou equipamento empregado, inicia-se a demonstração propriamente dita, quedeve ser clara, objetiva, participativa, e seguir uma ordem lógica previamente

estabelecida, ou seja, deve seguir um “ritual” ou “roteiro”. Uma vez demonstrada a

prática, todos os participantes devem repeti-la, desde que isso seja possível.

Como vantagens, a demonstração de resultado estimula a ação em grupo e otimiza o

tempo do extensionista. Permite, além disso, que as diversas partes ou informações

relativas à prática demonstrada possam ser vistas, ouvidas e tocadas, e possibilita aosagricultores o aprender a fazer fazendo e entendendo. Porém, como ressalva, deve-se

destacar que esse método requer conhecimento e, sobretudo, habilidade do

demonstrador.

4.4. Unidade de observação

A unidade de observação é um método empregado para observar o comportamento de

determinadas inovações e difundi-las, posteriormente, desde que tenham viabilidade

técnica, econômica e social. Consiste em se destinar determinada área, cedida por um

agricultor colaborador, para a implementação de determinada tecnologia ou prática,

para observação.

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 60/111

59

Seu objetivo é experimentar, nas condições locais, a viabilidade de se introduzir uma

ou mais práticas ainda não empregadas na área. Por essa razão, requer um registro

detalhado de todas as informações, para possibilitar a aferição dos resultados técnicos

e econômicos associados à prática em observação.

Como há uma incerteza acerca do sucesso da nova prática em observação, é

importante que o extensionista, e principalmente o colaborador, aquele que vai ceder a

área para a instalação da unidade de observação, estejam conscientes de que os

resultados dessa nova prática podem ser ruins. Quando, porém, os resultados forem

satisfatórios, outros métodos de extensão seriam utilizados para divulga-la para os

agricultores18.

Na fase de instalação da unidade de observação, é necessário atenção na escolha do

colaborador, que deve ser um agricultor disposto à inovação, mas que seja também

representativo da situação dos demais agricultores. Esse colaborador deve ainda ser

informado acerca dos cuidados necessários ao desenvolvimento da unidade de

observação, de seus objetivos e, principalmente, sobre a incerteza quanto ao resultado

da prática que está sendo introduzida.

4.5. Reunião

Consiste em se reunir um grupo de pessoas, com a finalidade de discutir assunto de

interesse comum e que venha a contribuir para encaminhar soluções, tomar decisões,

assumir compromissos ou trocar conhecimentos. A reunião do extensionista com os

agricultores pode ter como objetivos:

-  motivar a comunidade na gestão de seu próprio desenvolvimento;

-  informar e trocar conhecimentos;

-  desenvolver espírito associativista e estimular a cooperação mútua;

-  exercitar a habilidade de pensar e falar em grupo;

18 Caso a prática tenha dado resultados satisfatórios, a unidade de observação pode ser utilizada, dependendo daprática, para a demonstração de resultados, por exemplo.

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 61/111

60

-  avaliar os trabalhos e métodos realizados;

-  conscientizar sobre problemas;

-  planejar participativamente, etc.

Em geral, a reunião não é utilizada como um método isolado, inserindo-se,

normalmente, como parte de uma combinação de outros métodos e meios de

comunicação. Pode ser importante, em determinadas situações, que a reunião possa

assumir formas mais específicas, com uma estrutura definida, podendo enquadrar-se

como encontro, palestra, seminário, simpósio, etc. Além disso, técnicas de condução

de grupo, como a tempestade de idéias, a análise de problemas, a dramatização, a

discussão de trabalhos, dentre outras, podem ser muito úteis para a dinamização das

reuniões e para a obtenção dos melhores resultados.

Uma das vantagens da reunião é que ela é um é um método econômico e de razoável

alcance, que possibilita atingir um grande número de pessoas. Ela pode ser empregada

para uniformizar o conhecimento dos participantes, para conscientiza-los sobre

problemas comuns e obter deles um compromisso no encaminhamento das soluções.

Ela pode representar, além disso, um importante espaço para a manifestação de

lideranças.

Como desvantagens, as reuniões ocupam muito tempo dos participantes, e exigem

destes um envolvimento nem sempre fácil de se conseguir. Por essa razão requerem,

além disso, bastante habilidade do extensionista, que deve se esforçar para que as

reuniões se tornem mais dinâmicas e proveitosas.

4.6. Demonstração de resultado

Esse método consiste em demonstrar, por meio comparativo, as vantagens técnicas e

econômicas de uma ou mais práticas, já comprovadas, sobre outras tradicionalmente

utilizadas pelos produtores. Como a perspectiva do método é demonstrar a

superioridade de uma determinada prática sobre as demais, é necessário que se tenha

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 62/111

61

segurança de que a prática em questão produza melhores resultados. Além disso, para

que os resultados possam ser comprovados, é necessário manter, separadamente, os

registros de todas as despesas e receitas das tecnologias, isto é, tanto da inovadora

quanto da tradicional.

Uma das vantagens desse método é que ele possibilita exemplificar, no local, a

importância da prática que está sendo proposta. Porém, na hipótese de que os

resultados não se mostrem satisfatórios, por uma razão ou outra, a prática ou

tecnologia proposta cairá em descrédito junto aos agricultores, pois seus resultados

estarão à vista de todos.

4.7. Unidade demonstrativa

A unidade demonstrativa é um método que tem como principal característica mostrar

uma ou mais práticas agropecuárias de comprovada eficácia e rentabilidade, sem a

necessidade de comparação, isto é, sem a necessidade de testemunha. Sua perspectiva

é possibilitar a demonstração, a avaliação e a adoção da prática ou práticas propostas.

De modo semelhante ao que foi dito em relação ao método anterior, a unidade

demonstrativa também pode acarretar descrédito em relação à tecnologia proposta e aoextensionista, caso ela não produza bons resultados aos olhos dos agricultores.

A decisão de empregar uma unidade demonstrativa é tomada em conjunto com a

comunidade de agricultores, por ocasião da elaboração do Plano de Trabalho

Comunitário. Geralmente, a unidade demonstrativa é utilizada no final de uma

seqüência de métodos de extensão, como instrumento de reforço para a decisão de

adotar as práticas propostas. E, uma vez instalada, a unidade permite a utilização de

outros métodos durante sua existência, como excursão, demonstração de método,

treinamento, reunião, dentre outros.

4.8. Excursão

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 63/111

62

A excursão consiste num método em que o extensionista acompanha um grupo de

pessoas com interesses comuns a regiões onde determinadas atividades ou práticas são

desenvolvidas com sucesso. Seu objetivo é mostrar “in loco” o desenvolvimento e os

resultados associados a uma ou mais práticas.

A excursão, também, não deve ser praticada isoladamente, mas como parte de uma

combinação de outros métodos, visando complementar o processo de aprendizagem

dos agricultores. Por exemplo, a excursão pode ser parte de um curso, no qual

determinas práticas são abordadas teoricamente. A condução dos agricultores a uma

localidade onde essas práticas foram realizadas ou estão sendo desenvolvidas, através

de uma excursão, permite a eles visualizar suas vantagens em nível de campo, o que

pode ser um fator decisivo para a adoção dessas práticas. Numa excursão pode-se,também, empregar outros métodos, como demonstração de resultado, unidade

demonstrativa, demonstração de método, dentre outros.

Algumas das principais vantagens da excursão é que ela fortalece a relação entre os

participantes, permite a visualização do desenvolvimento das práticas “in loco”, além

de motivar e ampliar a experiência dos participantes. Por outro lado, a excursão requer

tempo, tem alcance limitado e demanda recursos adicionais, sendo estas as principaislimitações desse método.

4.9. Curso

Por definição, o curso é um método que aborda conhecimentos de natureza

predominantemente teórica, com programação específica, abrangendo outros métodos

e recursos didáticos, visando determinado grupo de pessoas com interesses comuns.

Nesse aspecto, o curso difere completamente do treinamento que, por natureza,

procura abordar assuntos práticos.

O curso tem como objetivo possibilitar ao público alvo um determinado grau de

conhecimentos teóricos e nivelar o entendimento do grupo para se poder desenvolver,

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 64/111

63

através de uma combinação de métodos, uma estratégia de ação na comunidade. O

curso é, portanto, um método adequado para situações em que se deseja, num curso

período de tempo, capacitar, aperfeiçoar ou especializar um grupo homogêneo sobre

uma série de informações práticas e técnicas em um assunto. A realização do curso

pode, também, envolver outros métodos, tais como a demonstração de resultado, a

excursão, a reunião, etc.

Como principais vantagens, o curso otimiza o tempo do extensionista, contribui para

nivelar os conhecimentos, facilitando a ação extensionista, possibilita capacitar maior

número de pessoas em pouco tempo e facilita a aprendizagem pela troca de

informações e experiências. Por outro lado, as dificuldades relativas à programação da

época e do horário mais acessíveis aos participantes, o desnível de conhecimento dosparticipantes e a necessidade de deslocamento dos agricultores de seu meio

apresentam-se como principais limitações desse método.

4. 10. Treinamento

Como referido anteriormente, o treinamento difere do curso pelo fato de dedicar-se a

assuntos eminentemente práticos, requerendo apenas os conhecimentos teóricosmínimos necessários. Como tal, sua preocupação é introduzir novas habilidades ou

modificar as habilidades de determinados agricultores.

Por se tratar de um método voltado para a capacitação prática ou operacional, o

treinamento é executado nas comunidades. Alguns outros recursos, como a

demonstração de método, a excursão, a reunião, etc., podem fazer parte do

treinamento, para facilitar o aprendizado.

Como principais vantagens, o treinamento possibilita o desenvolvimento de habilidade

e destreza, mostra a aplicação prática do conhecimento e acelera a adoção das práticas,

baseando-se na lógica do aprender a fazer fazendo. Como limitações, o treinamento

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 65/111

64

requer uma organização antecipada e meticulosa e exige tempo e dedicação de todos

os envolvidos.

4.11. Propriedade demonstrativa

A propriedade demonstrativa consiste num método em que se procura fazer uma

combinação racional dos fatores de produção disponíveis em determinada propriedade,

ou seja, uma combinação racional da terra, do capital e do trabalho existentes. Na

propriedade escolhida, os extensionistas trabalharão no sentido de transforma-la numa

propriedade exemplar, no que diz respeito à utilização racional dos recursos, de forma

progressiva, e com exemplos que vão sendo acompanhados e avaliados pelos

agricultores.

A propriedade demonstrativa deve ser utilizada como uma unidade de divulgação de

atividades econômicas e técnicas integradas, para serem acompanhadas, avaliadas,

experimentadas e adotadas pelos agricultores. A perspectiva é de que todas as ações e

práticas empregadas sirvam de modelo para os agricultores da localidade e de outras

regiões com condições semelhantes.

Uma vez feita a opção por esse método, sua utilização exige um plano de

administração, envolvendo aspectos econômicos, técnicos e sociais. Como ele exige a

participação de um colaborador, o agricultor cuja propriedade servirá de

demonstração, é necessário que este agricultor receba todas as instruções relativas à

condução do método.

Com esse método, obtém-se um efeito demonstrativo das vantagens de uma

propriedade rural representativa, no que diz respeito à melhor utilização dos recursos

disponíveis. O risco de privilegiar poucas famílias nas comunidades e a exigência de

um plano elaborado e completo de condução da propriedade, além de muita dedicação,

são as principais limitações do método.

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 66/111

65

4.12. Dia de campo

O dia de campo é um método que reúne grande número de agricultores em uma

propriedade, onde já vêm sendo obtidos bons resultados em determinadas práticas,

com a finalidade de divulgar essas práticas a um maior número de pessoas. As práticas

em questão devem referir-se a um único assunto, para o qual se deseja despertar o

interesse do público, sem a preocupação de ensinar como fazer.

O dia de campo deve ser aproveitado para divulgar o trabalho extensionista. Para

tanto, é necessário que a propriedade escolhida para a realização desse método seja

trabalhada pela extensão rural.

Além de divulgar a atuação da extensão rural em determinada região, ampliando e

fortalecendo a relação entre a equipe de extensionistas e os produtores, o dia de campo

tem a vantagem de despertar o interesse e a atenção de um maior número de pessoas

para determinada questão, tudo em um único dia. Além disso, esse método possibilita

demonstrar ao vivo os resultados já obtidos e apresenta custos relativamente baixos,

considerando-se seu alcance em termos de número de produtores. As principais

desvantagens do método é que ele exige tempo da equipe de preparação e necessita deuma propriedade com bons resultados nas tecnologias divulgadas e trabalhadas pelos

extensionistas.

4.13. Dia especial

Esse método consiste em se eleger um determinado dia, que recebe uma denominação

específica relacionada à atividade objeto do dia especial, no qual é empregado um

conjunto de outros métodos combinados visando abordar essa atividade. Assim, são

exemplos de dias especiais criados com a finalidade de abordar determinadas

atividades ou assuntos de importância para a comunidade, através de diversos

métodos, o Dia da Laranja, o Dia da Caprinocultura, o Dia do Maracujá, o Dia do

Combate à Erosão, e assim por diante.

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 67/111

66

 

O dia especial é um método promocional, motivacional e informativo, que deve estar

combinado com outros métodos, tais como demonstração de método, exposição,

reunião, etc. Tem como objetivo promover determinada atividade, informar sobre

inovações, e uniformizar, aperfeiçoar e melhorar as práticas e conhecimentos das

pessoas envolvidas, bem como fortalecer as relações entre os produtores, as lideranças

e os extensionistas.

Esse método desenvolve-se em ambiente festivo, descontraído, que facilita a adoção.

Combinado a outros métodos, ele permite alcançar um grande número de pessoas e

desenvolver uma série de práticas. É, também, um método que incentiva a relação

entre o setor rural e o urbano, e que possibilita a divulgação e a promoção da atividadea que se refere. Entretanto, esse método exige tempo e dedicação da equipe em sua

preparação e execução e requer grande esforço de coordenação.

4.14. Mutirão

O mutirão é um método grupal, empregado geralmente na comunidade de agricultores,

no qual reúne-se um grupo de pessoas para desenvolver uma ou mais ações embenefício da coletividade. Sua finalidade é, portanto, agregar esforços com a finalidade

de alcançar um benefício comum. Como método de extensão, o mutirão deve ser

utilizado em conjunto com outros métodos.

Como vantagens, o mutirão promove a integração da comunidade, proporciona

soluções de problemas que dificilmente seriam resolvidos de forma individual e

propicia condições para o desenvolvimento de lideranças e iniciativas. Sua principal

limitação é que ele exige habilidade para gerenciar um grupo maior de pessoas e

manter o espírito de colaboração.

4.15. Concurso

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 68/111

67

Esse método consiste no estabelecimento de uma competição construtiva e educativa,

na qual os agricultores competirão entre si pela obtenção de melhores resultados em

determinada atividade. Seu objetivo é medir comparativamente os resultados das ações

que os produtores efetivaram no sentido de promover o aumento da produtividade e do

retorno econômico de suas atividades. Um exemplo bastante comum dessa prática é o

concurso leiteiro, normalmente realizado nas exposições agropecuárias municipais.

Como se trata de um evento competitivo, o estabelecimento do concurso requer uma

série de cuidados, visando evitar a desconfiança quanto a sua licitude. Por essa razão,

no planejamento são necessários alguns cuidados. Assim, devem ser evitadas

quaisquer atitudes ou ações de parcialidade, e deve ser elaborado um regulamento do

concurso com as regras que o regerão. O concurso deve ser organizado de forma quepermita a participação voluntária de todos os interessados, deve ser amplamente

divulgado, e deve prever uma forma de premiação para os melhores colocados. Para o

 julgamento dos participantes, deve-se criar uma comissão de apuração de resultados,

que deve ser composta, em sua maioria, por produtores rurais.

Uma das vantagens do concurso é que, através dele, os extensionistas podem aferir os

níveis de produtividade alcançado na localidade, e compara-los com outras regiões.Além disso, ele atinge grande número de pessoas, tem efeito estimulante, mostrando e

motivando na prática os resultados da adoção de inovações tecnológicas.

Porém, uma das limitações associadas a esse método é que ele pode gerar competição

pessoal, que pode ser bastante perniciosa em se tratando de pequenos agricultores

familiares, para os quais a cooperação, e não a competição, é a estratégia de

sobrevivência mais importante. Além disso, esse método requer bastante envolvimento

e responsabilidade da equipe de extensionistas e, por mais que seja conduzido com

lisura, pode gerar dúvidas quanto aos seus resultados.

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 69/111

68

4.16. Exposição

A exposição é um método que possibilita a utilização simultânea de meios de

comunicação, permitindo o aproveitamento de dois fatores importantes para a

memorização do ensino, que são a repetição da idéia e a visualização da mensagem.

Baseia-se na mostra de produtos, materiais, artesanatos, etc., levando informações de

natureza técnica ou educativa, procurando motivar o público a tomar decisões em

relação a determinados assuntos. Na exposição, vários outros métodos de extensão

podem ser empregados, como a campanha, a semana, o dia de campo, o dia especial,

etc.

As exposições são utilizadas para apresentar e divulgar trabalhos realizados pelaextensão em conjunto com os agricultores. Caracterizam-se, também, como um evento

que promove o meio rural, exibindo, para o público urbano, vários aspectos

relacionados à atividade agrícola e à cultura dos agricultores.

As exposições agropecuárias, que normalmente se destacam como uma das mais

importantes festividades anuais dos municípios do interior, são o exemplo mais

evidente de uso desse método de extensão. É importante destacar que, nem sempre, asexposições são uma iniciativa do serviço de extensão rural. O importante é que,

mesmo nessas situações, os extensionistas podem tirar proveito da exposição realizada

para fins de divulgação de seu trabalho e alcance de outros objetivos.

Algumas das principais vantagens desse método é que ele é massivo, atingindo um

grande número de pessoas, e facilita a introdução de novas práticas e idéias para um

público mais amplo. Porém, ele é um método bastante complexo, que requer um local

adequado para realização, e exige dedicação e empenho de toda a equipe. Além disso,

nem sempre o que é exibido na exposição corresponde à realidade local ou está ao

alcance de todos os agricultores.

4.17. Semana Especial

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 70/111

69

 

A semana especial é um método que se compõe de uma série de atividades

educacionais, abrangendo grupos de pessoas com diversos interesses e de várias

localidades, com programação específica, durante vários dias ou uma semana. Em

vários casos, as semanas transformam-se em eventos periódicos, e em geral anuais.

Por exemplo, a Semana do Produtor, promovida pela Universidade Federal de Viçosa,

foi criada em 1929 e, desde então, vem sendo realizada todo ano, reunindo um grande

número de produtores.

As semanas especiais têm como principais objetivos envolver a comunidade para a

solução de problemas, informar e motivar sobre atividades ou práticas e comemorar

datas de caráter social ou cívico. Como vantagens, esse método tem grande alcance depúblico, possibilita divulgar e estimular o setor agropecuário e promove

relacionamento entre autoridades, líderes, produtores e técnicos. Entretanto, esse é um

método que exige deslocamento da equipe e de produtores para o local do evento e,

além disso, requer um bom relacionamento com autoridades e instituições existentes

na área de atuação.

4.18. Campanha

A campanha é um método complexo, que consiste no emprego ordenado de várias

técnicas de comunicação e atividades educativas realizadas a um tema definido,

durante um período determinado. Seus objetivos são concentrar esforços para

conscientizar e envolver a comunidade no conhecimento e na solução de problemas, e

provocar mudanças no modo de pensar, de sentir e atuar das pessoas.

O princípio básico de sustentação da campanha, como método de extensão, é o de que

a “a freqüência com que uma pessoa recebe uma nova idéia influi decisivamente na

adoção dessa idéia”. Por essa razão, as campanhas são sempre insistentes, repetitivas,

voltadas para promover uma mudança de comportamento em um grande público.

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 71/111

70

Como exemplos, podem ser citadas as campanhas de vacinação contra a febre aftosa,

campanha de combate às queimadas, etc.

Uma das principais vantagens da campanha é que ela atinge um grande número de

pessoas. Além disso, ela desperta bastante atenção em torno de um determinado tema e

acelera a adoção dos comportamentos que ela promove. Por outro lado, esse é um

método que exige envolvimento de diversos órgãos e, para ser efetivo, deve envolver

apenas uma única idéia.

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 72/111

71

CAPÍTULO V 

O planejamento local das atividades de extensão rural

1. Introdução

Para a execução do trabalho de extensão rural, é necessário que se faça um

planejamento das intervenções. O planejamento visa orientar o trabalho da extensão

para o alcance de seus objetivos, dentro dos princípios norteadores do trabalho

extensionista. O presente capítulo, baseado em baseado em Coelho (2005) e

EMBRATER (1981), aborda alguns aspectos relativos a esse planejamento.

A partir das críticas feitas sobre sua atuação no passado, os órgãos públicos de

assistência técnica e extensão rural vêm sendo orientados a desenvolver práticas que

contemplem maior participação de seu público alvo. De fato, as intervenções

tradicionalmente efetuadas pelo serviço de extensão eram feitas “de fora para dentro”,

ou seja, não concediam aos agricultores um papel ativo na definição dessas

intervenções. Embora o objetivo da extensão, o de “promover o desenvolvimentorural”, fosse do interesse dos agricultores mais do que de qualquer outro grupo, em

geral eles não participavam na definição dos problemas e ações necessárias para

supera-los.

Essa nova perspectiva de atuação do serviço de extensão rural, baseada em

intervenções participativas, incide também sobre a etapa de planejamento de suas

atividades. Por essa razão, a abordagem feita no presente capítulo procura fornecer,

sempre que possível, algumas orientações no sentido de assegurar a participação dos

agricultores no processo de planejamento.

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 73/111

72

2. Importância do planejamento e orientações gerais

Tal como ocorre com a maior parte das atividades, a atuação da extensão rural não

prescinde um planejamento, que é necessário para orientar suas intervenções no meio

rural. Como vantagens, o planejamento possibilita:

-  determinar as necessidades reais da população rural;

-  maior integração entre as diversas atividades;

-  minimizar prejuízos decorrentes de ações impensadas;

-  garantir maior continuidade das ações;

-  maior facilidade para realização de trabalhos em cooperação com outras

instituições;

-   justificar a aplicação de recursos obtidos; e,-  subsídios para futuros planejamentos;

Na realização do planejamento, deve-se considerar as características básicas do

programa de extensão rural, que são:

-  basear-se no conhecimento da realidade rural;

-  contemplar os problemas mais sentidos;

-  ter objetivos alcançáveis e passíveis de soluções-  ser permanente e flexível;

-  preocupar-se não apenas com os aspectos econômicos e tecnológicos, mas

também com os sociais, educacionais e culturais, de forma integrada;

-  ser educacional, contínuo e evolutivo;

-  ser elaborado com a participação dos interessados, pessoas de influência e

liderança;

-  possibilitar o desenvolvimento da liderança;

-  conseguir a cooperação de outras entidades;

-  possibilitar a avaliação dos resultados; e, 

-  estar compatibilizado com as diretrizes e com as políticas governamentais para

o setor agrícola. 

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 74/111

73

3. O planejamento participativo

No planejamento participativo, a perspectiva é a de que exista uma interação entre os

extensionistas e a população, com os agricultores participando, direta ou

indiretamente, de todas as fases do processo de planejamento. Na forma explicitada

por EMBRATER (1981):

 Entende-se que o planejamento participativo constitui um processo político, um

contínuo propósito coletivo, uma deliberada e amplamente discutida

construção do futuro da comunidade, na qual participe o maior número

 possível de membros de todas as categorias que a constituem.

Algumas vantagens do planejamento participativo são:

-  plano com caráter de maior legitimidade, visto que é baseado nas necessidades

manifestas pelos agricultores;

-  possibilita que características qualitativas da comunidade se expressem pois, do

contrário, apenas aspectos quantitativos baseariam o planejamento;

-  estimula a comunidade a tomar consciência de seus problemas e a desenvolver

criatividade para soluciona-los;-  possibilita a obtenção de um plano mais realista, adaptado à realidade dos

agricultores e consoante os meios existentes na comunidade;

-  diminui os riscos de descontinuidade, etc.

Na perspectiva de uma intervenção participativa, a participação do grupo atingido pela

extensão está presente desde os atos de problematização da realidade até os atos de

decisão, incluindo também os momentos de consentimento explícito para atuação

externa no local. Não se trata de trabalho de gabinete, mas de proposta partilhada com

os interessados.

Nessa proposta, as decisões sobre qual conteúdo tecnológico adotar, baseado em

tecnologias industriais ou alternativas, surgem da problematização partilhada, na qual

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 75/111

74

vários aspectos, como as questões ambientais, de saúde, os recursos financeiros, o

conhecimento disponível e as implicações econômicas devem ser considerados. Nesse

contexto, a orientação profissional é um direito, não uma imposição. Mas, é bom

frisar, um direito que se torna uma necessidade num mundo dominado pela ciência e

pela tecnologia.

4. As fases do planejamento

O processo de planejamento das atividades da extensão rural pode ser subdividido em

quatro etapas, que são: a etapa de conhecimento da realidade; a etapa de programação;

a fase de acompanhamento e controle; e, a fase de avaliação. Cada uma dessas etapas édescrita a seguir.

4.1. Conhecimento da realidade

Essa etapa consiste na verificação e análise da situação e dos problemas relativos à

população, à propriedade, ao lar e à comunidade. Trata-se de um estudo analítico que

procura estabelecer as causas, fatores ou antecedentes de uma dada situação existenteno meio rural. Consiste em um levantamento de natureza sócio-econômica, análise e

interpretação, com o fim de verificar quais são as características da área de ação dos

agentes locais da extensão rural. Nesse contexto, são aspectos importantes a serem

diagnosticados:

-  aspectos físicos do meio rural;

-  aspectos humanos (demografia, etnia, etc);

-  aspectos sociais (lideranças, relações sociais de trabalho, etc);

-  aspectos econômicos e financeiros;

-  aspectos culturais (hábitos, atitudes, crenças etc);

-  aspectos tecnológicos da agricultura; etc.

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 76/111

75

O conhecimento da realidade rural pelos extensionistas é indispensável, e pode ser

feito por meios diretos e indiretos. Os meios indiretos consistem em recorrer às fontes

secundárias disponíveis, como:

-  Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – FIBGE;

-  Órgãos assistenciais à agricultura (INCRA, CFP, CIBRAZEM, etc);

-  Órgãos de natureza médico-sanitária (postos de saúde, etc.)

-  Cooperativas, sindicatos, associações, etc.

-  Instituições de ensino e Pesquisa;

-  Estabelecimentos bancários;

-  Coletorias (Federais e Estaduais);

-  Organizações comerciais e industriais;

-  Instituições religiosas;-  Prefeitura; etc.

Por meio direto, entende-se a obtenção das informações diretamente na área rural

objeto da intervenção do extensionista. Essa busca de informações no local é

imprescindível, ao possibilitar maior contato do extensionista com seu público e a

realidade que o envolve. Uma maior aproximação da verdade sobre a realidade rural só

será obtida pela conjugação da interpretação dos técnicos com a dos agricultores. Osagricultores, plenamente inseridos no seu meio físico e social, percebem a realidade,

interpretando-a e explicando-a de acordo com sua cultura e com suas experiências.

Portanto, o estudo da realidade por via direta, através de visita às famílias e reuniões

com as comunidades, é indispensável ao trabalho extensionista.

Como saber, de forma participativa, quais são os desejos, interesses, objetivos,

possibilidades e recursos de determinada realidade ou grupo social? Isso pode ser feito

através de diversas técnicas, como entrevistas, reunião com os agricultores, etc. Porém,

há que se ressaltar que, tão importante quanto as técnicas empregadas, é a atitude

daqueles que a aplicarão, como será discutido mais adiante.

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 77/111

76

Dentro da perspectiva das intervenções participativas, um método freqüentemente

sugerido é o do DRPE (Diagnóstico Rural Participativo Emancipador), orientado por

Pereira e Litle (2002) e Pereira (2001), citados por Coelho (2005). Esse diagnóstico

permite identificar os recursos existentes em nível local, e perceber como os interesses

sociais se estruturam e se articulam nesse local. Os valores presentes nesse grupo irão

aparecer nas manifestações que cada membro expressa no DRPE. Nesse diagnóstico, a

função do técnico é criar espaços propícios à realização de formas interativas e

discursivas de discussão e de negociação. Nesse processo, as lideranças surgem como

conseqüência dos trabalhos. O técnico é a figura de apoio, mas a direção política do

processo é resultado do consenso construído pelo grupo e por suas lideranças.

Algumas técnicas, consagradas e de conhecimento dos profissionais que já atuaram emnível de campo, podem auxiliar no desenvolvimento do método do DRPE. Exemplos

dessas técnicas são “calendário sazonal”, “rotina diária”, “mapeamento”, “construção”,

dentre outras, que, juntamente com outras, podem ser encontradas em Coelho (2005).

Essas propostas de atividades, que não descreveremos aqui, são técnicas valiosas de

diagnósticos e de mobilização social, mas requerem que cada coordenador das

atividades tenha uma postura de alteridade, e não de autoridade19. O mais importante é

que o técnico reconheça no outro a capacidade de identificar seus principais problemase de elaborar propostas de solução, sem abrir mão de papel de sistematizador e

orientador do processo. Para isso, é importante que o profissional tenha, antes de ir a

campo, vivenciado as técnicas de diagnóstico, pois a capacidade de coordenar e de

perceber as reações do público, só é obtida pela vivência.

Outro aspecto importante consiste na necessidade de registro sistemático das falas e

vivências realizadas no campo, durante o diagnóstico. Maior segurança nas ações

futuras pode ser obtida pela análise, sistematização e interpretação dessas informações.

Deve-se, por isso, procurar registrar toda a forma de pensar dos agricultores,

transcrevendo, da forma mais fiel possível, suas falas originais. As expressões assim

19 A alteridade implica na capacidade de o indivíduo se colocar no lugar do outro na relação interpessoal, comconsideração, valorização, identificação e disponibilidade de dialogar com o outro. Consiste em ser capaz de vero que há do outro em si mesmo, ver-se no outro.

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 78/111

77

captadas põem a mostra os valores, as expectativas e as prioridades mais freqüentes ou

mais importantes para o grupo. Para que isso ocorra, é necessária uma posição neutra

dos técnicos, no sentido de não manifestar posições, contra ou a favor, que poderiam

induzir ou inibir a fala do grupo de agricultores. Isto é, deve-se agir de modo a permitir

e assegurar que o grupo possa se manifestar com a maior espontaneidade possível.

Na proposta participativa, torna-se indispensável ainda retornar com os dados do

diagnóstico para o grupo trabalhado. Além de ser um procedimento para validação e

correção das interpretações dos técnicos, essa conduta é o reconhecimento de que os

resultados também pertencem ao grupo e devem ser com ele debatidos20.

Essa exposição dos resultados pode, e deve, ser realizada de forma criativa, para quemotive o debate, mediante cartazes, dramatizações, mapas, maquetes, etc. A percepção

dos agricultores, favorável ou não às informações sistematizadas, é que vai validar, ou

não, respectivamente, o registro e a interpretação dos problemas feitos pelos técnicos.

4.2. Programação

A programação consiste na etapa de formulação dos objetivos, de definição dasmedidas de intervenção da extensão rural na realidade, e da estratégia de ação a ser

utilizada com base nos problemas identificados na etapa inicial, de diagnóstico. Essa

etapa pode ser subdividida em quatro fases: a seleção de problemas, a elaboração do

programa, a apresentação do programa na reunião da sede e a divulgação do

programa.

4.2.1. Seleção dos problemas

Embora um número significativo de problemas possa ser identificado na etapa de

diagnóstico, na maioria das vezes as limitações enfrentadas pela extensão, em termos

20 Como destaca Coelho (2005), o princípio não é “se fazer sobre os outros”, mas sim “um fazer com os outros”.Logo, as informações não são para o técnico, elas são, também, dos agricultores e para os agricultores.

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 79/111

78

de recursos humanos, físicos e financeiros, impedem uma ação abrangente sobre todos

eles. Diante disso, faz-se necessário o estabelecimento de prioridades e a seleção dos

problemas que merecem maior atenção dos agentes da extensão.

É importante destacar mais uma vez que, no planejamento participativo, é

imprescindível que os agricultores tomem parte ativa na seleção dos problemas a

serem incluídos no programa.

4.2.2. Elaboração do programa

Uma vez selecionados os problemas, há que se confeccionar o programa de

intervenção na realidade dos agricultores. Esse programa é constituído de projetos,relacionados a determinado produto, a uma dada categoria de público, certo tipo de

tecnologia, etc. Esses projetos nada mais são do que um conjunto de atividades

previstas, delimitadas no tempo, nos quais devem constar, além do título, as

 justificativas, os objetivos, as estratégias, as metas, a área de atuação, o executor, o

cronograma de atividades, os recursos e a repercussão ou os impactos sócio-

econômicos que seriam derivados da execução bem sucedida do projeto.

4.2.3. Apresentação do programa na reunião da sede

Uma vez elaborado o programa, é importante apresenta-lo aos líderes municipais, com

o intuito de consolidar o entendimento entre as lideranças e possibilitar a cooperação e

a sintonia entre as diversas instâncias governamentais. Esse procedimento contribui

para legitimar e enriquecer o programa de trabalho da extensão para o município, dar a

conhecer a forma de atuação do extensionista e obter cooperação dos líderes e outras

pessoas da sede para a execução do programa.

4.2.4. Divulgação do programa

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 80/111

79

Uma vez elaborado, o programa deve ser divulgado para a comunidade para a qual ele

é direcionado. Ou seja, os agricultores, que já participaram da discussão e da

elaboração do programa, devem agora ser informados acerca de sua forma final e das

ações que serão efetivadas.

Essa divulgação deve ser feita antes do início das ações, e deve perdurar durante todo

o processo de intervenção, pois os agricultores devem ser informados de todas as

atividades que estão sendo desenvolvidas em sua área. Isso possibilita, ainda, fazer

com que cada agricultor compreenda que o programa é seu, e que somente com seu

interesse e participação a execução dos projetos e das ações será bem sucedida.

4.3. Acompanhamento e controle

Essa etapa consiste em verificar se as ações estão sendo executadas como previstas,

visando ao cumprimento dos objetivos e metas. Deve ser feita pela análise das

informações quantitativas e qualitativas geradas durante a execução do programa. Para

sua execução, deve haver uma organização mínima do trabalho para responder às

necessidades de acompanhamento e controle, tais como:

-  listagem de famílias e produtores da área de atuação;-  calendário de trabalho, mensal e semanal;

-  registro das ações programadas e executadas;

-  divisão do trabalho entre membros da equipe;

-  relação das comunidades trabalhadas.

Mediante o acompanhamento e o controle da execução do programa, podem ser

identificadas situações e dificuldades imprevistas que ponham em risco a consecução

dos objetivos do programa. Identificadas no momento oportuno, essas dificuldades

podem ser contornadas por mudanças da estratégia e das ações intermediárias, visando

o alcance dos resultados desejados. Esse procedimento permite, além disso,

reprogramar futuras etapas de execução, e montar relatórios para divulgar os trabalhos

concluídos.

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 81/111

80

 

4.4. Avaliação

A avaliação consiste na etapa de verificação do alcance dos objetivos, e deve ser uma

preocupação constante na ação dos extensionistas. Essa avaliação deve verificar se os

objetivos do programa, estabelecidos a partir do conhecimento da realidade e visando

altera-la para uma situação melhor, segundo o entendimento e os valores dos

agricultores e dos técnicos, foram alcançados. Esquematicamente, o processo de

avaliação poder ser representado na figura seguinte.

SITUAÇÃO IDENTIFICADA(ESTUDO DA REALIDADE)

SITUAÇÃO ENCONTRADANO FINAL DO PROGRAMA

SITUAÇÃO DESEJADA(OBJET. DO PROGRAMA)

AN LISE

A partir da comparação entre a situação desejada, expressa nos objetivos do programa,

e a situação encontrada ao final do período de execução do programa, pode-se avaliar

se as ações foram bem sucedidas ou não. Em caso negativo, há que se fazer uma

análise das causas de insucesso do programa. Dessa análise, pode resultar uma

redefinição de objetivos ou mesmo da estratégia de ação, para que futuras intervenções

tenham melhores resultados.

Finalizando, a Tabela 1 apresenta uma síntese dos procedimentos para elaborar o

programa local da extensão rural. No anexo, apresenta-se ainda um roteiro das

atividades para o conhecimento da realidade dos agricultores.

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 82/111

Tabela 1 - Procedimentos para elaborar o programa local de extensão rural

Fases Ações Objetivos

1. Conhecimento da realidade Identificação de pessoas de influência da sede

Elaboração de roteiros para entrevistasEntrevista com pessoas de influência

Visitas às propriedades rurais

Reuniões nas comunidades rurais

Entrevistar para cole

Orientar a coleta de iColetar dados sobre

Identificar problema

Identificar problema

2. Programação Seleção e classificação prévia dos problemas

Consulta aos produtores

Elaboração e redação do programa

Apresentação do programa aos interessadosDivulgação do programa

Permitir o estabeleci

Selecionar problema

possíveis soluções

Registrar as ações quDiscutir e legitimar o

Dar conhecimento à

sendo realizado

3. Acompanhamento e Controle Registro e análise de informações Adotar medidas corr

4. Avaliação Análise comparativa entre a situação desejada

e a situação encontrada

Constatar o alcance d

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 83/111

 

Anexo - Roteiro para conhecimento da realidade rural

Entre os principais dados que poderão servir para o melhor conhecimento das

condições gerais da área de ação do escritório local, podem ser relacionados os

seguintes:

1. Aspectos acerca das condições naturais

1.1.  Limites geográficos e dados gerais (superfície, altitude, acidentes geográficos,

etc.)

1.2.  Relevo, cobertura vegetal e cursos d’água

1.3.  Dados geológicos e do solo (tipos de solo, fertilidade, uso atual, conservação)

1.4.  Aspectos climáticos (temperatura, pluviosidade, ventos, geadas, granizo)1.5.  Outros recursos do solo e subsolo

2. Aspectos administrativos e econômicos

2.1. Organização administrativa (superfície, comunidades existentes, etc.)

2.1.  Organização administrativa (superfície, comunidades existentes, etc.)

2.2.  Aspectos fundiários (estratificação das propriedades, concentração da posse,

regime de posse, preços da terra, possibilidades de aquisição)2.3.  Distribuição da força de trabalho agrícola e relações de produção existentes

(familiar, assalariados, parceiros, arrendatários, etc.)

2.4.  Sistema tributário e fiscal (arrecadação, impostos e taxas, etc.)

2.5.  Demografia (população rural e urbana, densidade demográfica, tamanho médio

das famílias, natalidade, mortalidade infantil, emigração, imigração)

2.6.  Principais atividades econômicas

2.7.  Estatísticas de produção agropecuária e agro-industrial

3. Aspectos da estrutura de serviços

3.1.  Transportes e comunicações (tipos de transportes e vias, correios, telégrafos,

telefone, rádio, TV, jornais e revistas)

3.2.  Serviços diversos (água, eletricidade na sede e no meio rural)

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 84/111

 

3.3.  Serviços de apoio à agropecuária (armazenamento, preços mínimos,

comercialização, pesquisa, fornecimento de insumos, etc)

3.4.  Cooperativas rurais (cooperativas existentes, número de associados, serviços

prestados aos sócios)

3.5.  Financiamento à produção (bancos existentes, linhas de financiamento, juros,

prazos e outras condições para obtenção do crédito)

3.6.  Escolas (tipo, nível, capacidade de matrícula, qualificação dos docentes)

3.7.  Entidades religiosas (religiões, cultos, número de templos, associações

religiosas)

3.8.  Entidades de assistência médico-sanitária (postos de saúde, hospitais,

laboratórios de análise, farmácias, número de médicos)

3.9.  Entidades de assistência social (nome, finalidade, programas desenvolvidos)3.10.  Organização das unidades de produção (preparo técnico dos produtores,

existência de registros e contabilidade, produção para mercado e produção para

subsistência)

4. Aspectos tecnológicos

4.1.  Sistemas de produção das principais culturas e criações (preparo do solo,

plantio, práticas culturais e colheita)4.2.  Coeficientes técnicos e custos de produção das principais culturas e criações

(sementes/hectare, homens/dia, etc.)

4.3.  Produtividade das principais culturas e criações (rendimento/hectare, taxa de

abate e desfrute, etc.)

4.4.  Pragas e doenças das principais culturas e criações

5. Aspectos sócio-culturais

5.1.  Associativismo rural (associações, sindicatos, grupos, etc.)

5.2.  Alimentação (alimentos preferidos, alimentos produzidos, conservação e

preparação de alimentos, tabus alimentares)

5.3.  Habitação (características das construções, disponibilidade de água, etc.)

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 85/111

 

5.4.  Saúde e higiene (instalações sanitárias, hábitos de higiene, principais doenças,

etc.)

5.5.  Cultura e lazer (festas típicas, usos e costumes)

6. Análise e interpretação dos dados

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 86/111

 

CAPÍTULO VI

Agricultura Familiar

1. Introdução

Como foi visto no capítulo I, o trabalho desenvolvido pela extensão rural no Brasil

concentrou-se no segmento dos produtores mais capitalizados, principalmente grandes

e médios produtores, deixando em segundo plano os agricultores que não tinham

condições para adquirir as novas tecnologias então divulgadas. Uma das justificativas

para essa preferência é que as novas tecnologias seriam mais facilmente adquiridas poraqueles que tivessem mais recursos: recursos financeiros21, para comprar as novas

tecnologias; recursos físicos, isto é, terras com as dimensões, o relevo e demais

qualidades adequadas às novas tecnologias; e, recursos humanos, ou seja, um certo

nível de conhecimento que facilitasse a adoção e a utilização dessas práticas. Diante

disso, o serviço de extensão procurou centrar seus esforços nesses agricultores, mais

capazes de adotar as tecnologias propostas.

Portanto, do ponto de vista de disseminação das inovações e do potencial de mercado

para as novas tecnologias, o público privilegiado pela extensão rural, o dos médios e

grandes produtores, era o mais adequado. Porém, se forem avaliados os resultados

dessa estratégia em termos de promover o desenvolvimento rural, objetivo tão

propalado pelo serviço de extensão rural desde sua criação, ficam evidentes seus

equívocos. Os pequenos agricultores familiares, segmento em geral marginalizado pela

extensão rural, não conseguiram acompanhar o processo de modernização agrícola, e

encontram-se, em sua maioria, num processo de descapitalização e empobrecimento.

A continuidade desse movimento terminaria por conduzir esses agricultores à

proletarização e à conseqüente migração para os centros urbanos.

21 Esses recursos foram ampliados com a política de crédito rural subsidiado, implementada na segunda metadedos anos 60, que forneceu, aos médios e grandes produtores, vultosa soma de recursos para a aquisição das novastecnologias.

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 87/111

 

Diante da percepção dos equívocos da estratégia adotada, o serviço público de

extensão rural vem sendo orientado no sentido de atender, com exclusividade, os

agricultores familiares. Em face dessa nova percepção, e da importância desse

segmento na agricultura brasileira, esse capítulo é dedicado à abordagem dasprincipais questões relativas à agricultura familiar no Brasil.

2. Algumas características da pequena produção e da agricultura familiar

De início, deve-se reconhecer a heterogeneidade do que, convencionalmente, se chama

pequena produção ou produção camponesa22. Uma das características do setor

camponês brasileiro é que ele não é perfeitamente identificável, nem localizado em

regiões delimitáveis ou vinculado a produções específicas. Ao contrário, há uma

grande variedade de situações, envolvendo desde parcerias pouco monetizadas, como

no Nordeste, até a forma de elo na integração vertical das agroindústrias, como ocorre

na Região Sul, onde a unidade camponesa é densamente tecnificada e mercantil.

De fato, existem diferentes tipos de pequenos produtores, cujos destinos, ao que tudo

indica, não parecem convergir para um único ponto, se é que se pode admitir umatendência inexorável quanto ao futuro desses produtores. O fato é que, como destacam

Kageyama e Graziano da Silva (1986), a pequena produção vem passando por um

processo de diferenciação social, no qual tem-se, de um lado, um segmento cuja

tecnificação e capitalização é crescente, formando pequenas empresas familiares e, no

22 Por definição, o campesinato é representado pelo conjunto dos grupos sociais de base familiar que, em graus

diversos de autonomia, se dedicam às atividades agrícolas em determinadas glebas. Caracteriza-se, em termos

gerais, por produzir baseado no trabalho da família, empregando eventualmente mão-de-obra assalariada, possuir

os instrumento de trabalho, ter autonomia total ou parcial na gestão da propriedade, e ser dono de parte ou da

totalidade da produção. Como, na maior parte dos casos, essas condições, que caracterizam o setor camponês, se

aproximam daquelas que definem a agricultura familiar , e descrevem situações geralmente encontradas na

 pequena produção agrícola, essas três denominações serão utilizadas como sinônimas ao longo do texto, para

fins de simplificação.

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 88/111

 

extremo oposto, um segmento pauperizado, em pleno processo de proletarização.

Entre esses limites, podem ser encontradas situações diversas, mais ou menos

próximas de um ou de outro dos extremos referidos.

Silva et al. (1999) salientam que, não obstante a grande variabilidade de formas da

pequena produção camponesa no Brasil, elas apresentam algumas caraterísticas em

comum, características estas que, de certo modo, condicionam a adoção ou não da

tecnologia. Assim, há, segundo esses autores, pelo menos cinco condições gerais e

comuns às economias camponesas no Brasil, que são:

1.1. Pouca disponibilidade de terra

Essa escassa disponibilidade limita a adoção de técnicas que exigem escala mínima de

produção, como é o caso da mecanização. As possibilidades de contornar essa

limitação podem advir da adequação das máquinas, isto é, através da geração de

máquinas menores, ou através do desenvolvimento de sistemas cooperativos de

compra das máquinas hoje existentes ou através de sistemas de aluguel.

1.2. Condições ecológicas adversas

De um modo geral, os pequenos produtores normalmente ocupam áreas mais

declivosas e menos férteis, uma vez que terras de melhor qualidade têm preço mais

elevado e são, por isso, pouco acessíveis a esses agricultores. Essas condições são

impróprias ao emprego de grande parte das novas técnicas recomendadas, que são

desenvolvidas para ambientes mais adequados. Possível alternativa a essa situação é

uma reorientação da pesquisa agropecuária, no sentido de desenvolver tecnologias

apropriadas àquelas condições, bem como para alterar em parte as mesmas, mediante

drenagem, irrigação, conservação de solo, etc.

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 89/111

 

1.3. Policultura

Ainda que cultivem um produto principal, voltado para o mercado, os pequenos

produtores, de um modo geral, se dedicam ao cultivo de vários outros produtos e à

criação de animais diversos, seja para comercializar ou simplesmente para asubsistência da família23. Em tal situação, nem sempre as recomendações técnicas,

geradas para cultivos isolados, são as mais adequadas, adquirindo maior relevância

tecnologias como rotação de culturas, cultivos intercalares, etc.

1.4. Insuficiência de recursos financeiros

Em geral, os agricultores dispõem de poucos recursos financeiros, fruto das própriascondições precárias com que exercem sua atividade, bem como da baixa produtividade

de seu trabalho. É um círculo vicioso, em que, não tendo recursos financeiros para

custear a safra e investir na propriedade, não conseguem elevar seus ganhos que, por

sua vez, impedem que novos investimentos sejam feitos, e assim por diante. A quebra

desse ciclo requer, assim, a oferta de crédito a esses agricultores, em condições

especiais, e em consonância com as especificidades desse segmento.

1.5. Mão-de-obra familiar

Uma vez que as unidades camponesas baseiam-se no trabalho familiar, a introdução de

sistemas especializados e tecnificados tendem a gerar maior descontinuidade das

exigências de mão-de-obra ao longo do ano, promovendo um desequilíbrio entre o

trabalho disponível e o trabalho requerido em determinadas fases do ciclo. Portanto, a

combinação de atividades dentro dessas unidades de produção é condição importante

para que a mão-de-obra possa ser melhor empregada, e para que sua produtividade seja

mais elevada.

23 Há uma justificativa racional para tal comportamento. Uma vez que dispõem de poucos recursos, aespecialização dos pequenos agricultores em um único produto seria muito arriscada, visto que situações dequeda drástica nos preços desse produto colocaria em risco a própria alimentação de suas famílias.

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 90/111

 

2. Subordinação da pequena produção

Conforme SILVA (1999), a pequena produção, nas diversas localidades do país,

encontra-se, freqüentemente, subordinada a alguma forma de capital, o que decorre das

suas precárias condições de sobrevivência, bem como de sua falta de organização e

conseqüente baixo poder de negociação.

Uma das formas de subordinação se manifesta através da dependência do agricultor

para com o proprietário fundiário. Essa é a situação de parceiros e arrendatários, que

pagam ao proprietário renda como percentagem da produção ou como renda fixa, em

produção ou em dinheiro, ou através da prestação de serviços ao proprietário por

salários inferiores aos de mercado.

Muitos dos pequenos produtores encontram-se, também, subordinados ao capital

comercial, e têm seu excedente extraído através dos mecanismos extra-oficiais de

financiamento, ou através do abastecimento com insumos e alimentos, compra

antecipada da produção, tudo isso feito a preços dissonantes dos valores de mercado.

Essa situação é mais comum em regiões de fronteira agrícola, onde esses agricultores

estão sujeitos às mais variadas formas do capital comercial, como beneficiadores,bodegueiros, caminhoneiros, intermediários, atacadistas, etc.

Finalmente, é comum a subordinação desses agricultores às agroindústrias e às

cooperativas capitalistas. Tal subordinação é exercida através do financiamento dos

insumos e da assistência técnica, mediante os quais o pequeno produtor se torna

dependente, sendo forçado a adotar novas tecnologias e a vender seu produto para um

mercado monopsônio de matéria-prima agrícola. Essa situação está relacionada à

produção de matérias-primas intensivas em mão-de-obra, situando-se principalmente

na região centro-sul do país, encontrando-se associada aos setores de legumes, frangos,

ovos, frutas de mesa, fumo, vinho, suínos etc.

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 91/111

 

Além dessas situações, há ainda o caso da subordinação através da venda direta da

força de trabalho em determinados períodos do ano, sob a condição de trabalhadores

assalariados sazonais.

De acordo com Veiga (1996), a agricultura familiar apresenta as seguintes

características:

-  trabalho e gestão intimamente relacionados;

-  direção do processo produtivo assegurada diretamente pelos proprietários;

-  ênfase na diversificação;

-  ênfase na durabilidade dos recursos naturais e qualidade de vida;

-  trabalho assalariado complementar;

-  decisões imediatas adequadas ao alto grau de imprevisibilidade do processo

produtivo;

-  tomada de decisão in loco; 

-  ênfase no uso de insumos internos;

-  gestão das unidades produtivas e dos investimentos;

-  fornecimento da maior parte do trabalho; e

-  propriedade dos meios de produção.

3. Importância da Agricultura Familiar

Entre os agricultores brasileiros, os agricultores familiares são os que mais geram

empregos e fortalecem o desenvolvimento local, pois distribuem melhor a renda, são

responsáveis por uma parte significativa da produção nacional, respeitam mais o meio

ambiente e, principalmente, potencializam a economia nos municípios onde vivem,como destacam PICINATTO et al. (2000).

A Tabela 1 permite aquilatar a importância da agricultura familiar no Brasil. Esses

dados mostram que 85% dos estabelecimentos agropecuários podem ser caracterizados

como propriedades familiares, totalizando cerca de 4,85 milhões de

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 92/111

 

estabelecimentos, com apenas 11% sendo enquadrados como empresas patronais, o

restante ficando por conta de entidades públicas e instituições religiosas.

Tabela 1 - Número de Estabelecimentos, rea e Valor Bruto da Produção, Categorias

Familiares por Tipo de Renda e Patronal

CategoriasEstabelecimentos Área Total Valor da ProduçãoNúmero % Hectares % 1000 Reais %

TOTAL 4.859.864 100 353.611.242 100 47.796.469 100Total Familiar 4.139.369 85,2 107.768.450 30,5 18.117.725 37,9Maiores rendas 406.291 8,4 24.141.455 6,8 9.156.373 19,2Renda média 993.751 20,4 33.809.622 9,6 5.311.377 11,1Renda baixa 823.547 16,9 18.218.318 5,2 1.707.136 3,6Quase sem renda 1.915.780 39,4 31.599.055 8,9 1.942.838 4,1Patronal 554.501 11,4 240.042.122 67,9 29.139.850 61

Instit. Religiosas 7.143 0,1 262.817 0,1 72.327 0,2Entidades Públicas 158.719 3,3 5.529.574 1,6 465.608 1Não Identificado 132 0 8.280 0 960 0

Fonte: Censo Agropecuário 1995/96, IBGE.Elaboração: Convênio INCRA/FAO.

As informações mostram ainda que é baixa a renda gerada por muitos desses

estabelecimentos familiares, sendo que quase 40% deles se enquadram na categoria de

renda quase nula.

Quanto à área ocupada, os valores da Tabela 1 mostram que, apesar de representarem

cerca de 85% do número de estabelecimentos, os agricultores familiares possuem

apenas 30% da área total, ao passo que a agricultura patronal ocupa quase 70% desse

total.

No que diz respeito à contribuição para a produção, os resultados mostram que a

agricultura familiar responde por cerca de 38% do valor da produção, o que é

considerável, quando se leva em conta que esse segmento de produtores ocupa apenas30% da área total dos estabelecimentos agropecuários. Além disso, embora essa

informação não esteja disponível no quadro acima, é fato conhecido o de que a

agricultura familiar tem grande importância na produção de alimentos de consumo

doméstico, respondendo por boa parcela da oferta destes.

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 93/111

 

Outra grande importância da agricultura familiar encontra-se em sua capacidade de

absorção de mão-de-obra, o que pode ser de imediato percebido com a observação da

Tabela 2. As informações exibidas dão conta de que os estabelecimentos familiares

ocupam algo próximo a 13,8 milhões de pessoas, o que eqüivale a mais de 75% do

pessoal ocupado na agropecuária, sendo que representam, em termos de área, apenas

30% das terras ocupadas com estabelecimentos agropecuários. Por outro lado, o

pessoal ocupado na agricultura patronal representa apenas 20% do total, contrastando

com a grande proporção de área que ela ocupa, que eqüivale a quase 70% das terras

com estabelecimentos agropecuários.

Tabela 2 - Pessoal Ocupado: Categorias Familiares por Tipo de Renda e Patronal,Brasil.

Categorias Número de Pessoas Ocupadas Proporção (%)Total Familiar 13.780.201 76.85

Maiores rendas 1.743.137 9.72Renda média 3.682.712 20.54Renda baixa 2.785.299 15.53Quase sem renda 5.569.053 31.06

Patronal 3.557.379 19.84Instit. Religiosas 30.248 0.17Entidades Públicas 562.595 3.14Não Identificado 430 0.00

TOTAL 17.930.853 100.00Fonte: Censo Agropecuário 1995/96, IBGE .Elaboração: Convênio INCRA/FAO.

A situação das regiões não difere significativamente da encontrada para o país, como

permitem constatar as Tabelas 3, 4, 5, 6 e 7, cujos resultados podem ser percebidos

mais facilmente através das Figuras 1, 2, 3, 4 e 5, que são apresentadas logo em

seguida.

Tabela 3 - Número de Estabelecimentos, Área e Valor Bruto da Produção, CategoriasFamiliares por Tipo de Renda e Patronal - Região Nordeste

CategoriasEstabelecimentos Área Total Valor da ProduçãoNúmero % Hectares % 1000 Reais %

TOTAL 2.326.413 100 78.296.096 100 7.043.359 100Total Familiar 2.055.157 88,3 34.043.218 43,5 3.026.897 43

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 94/111

 

Maiores rendas 88.397 3,8 5.476.366 7 1.016.680 14,4Renda média 331.138 14,2 9.984.386 12,8 907.398 12,9Renda baixa 420.558 18,1 6.783.325 8,7 520.341 7,4Quase sem renda 1.215.064 52,2 11.799.140 15,1 582.479 8,3Patronal 161.541 6,9 43.400.169 55,4 3.858.631 54,8Instit. Religiosas 4.583 0,2 55.289 0,1 9.331 0,1

Entidades Públicas 105.030 4,5 790.321 1 148.205 2,1Não Identificado 102 0 7.098 0 295 0

Fonte: Censo Agropecuário 1995/96, IBGE.Elaboração: Convênio INCRA/FAO

Tabela 4 - Número de Estabelecimentos, Área e Valor Bruto da Produção, CategoriasFamiliares por Tipo de Renda e Patronal - Região Norte

CategoriasEstabelecimentos Área Total Valor da ProduçãoNúmero % Hectares % 1000 Reais %

TOTAL 446.175 100 58.358.880 100 2.321.939 100Total Familiar 380.895 85,4 21.860.960 37,5 1.352.656 58,3Maiores rendas 40.080 9 3.844.438 6,6 514.479 22,2Renda média 132.816 29,8 7.927.174 13,6 533.468 23Renda baixa 94.468 21,2 4.415.966 7,6 183.639 7,9Quase sem renda 113.531 25,4 5.673.382 9,7 121.070 5,2Patronal 33.491 7,5 33.753.537 57,8 856.465 36,9Instit. Religiosas 524 0,1 43.583 0,1 3.411 0,1Entidades Públicas 31.265 7 2.700.800 4,6 109.408 4,7Não Identificado - - - - - -

Fonte: Censo Agropecuário 1995/96, IBGE.Elaboração: Convênio INCRA/FAO

Tabela 5 - Número de Estabelecimentos, Área e Valor Bruto da Produção, CategoriasFamiliares por Tipo de Renda e Patronal - Região Centro-Oeste

CategoriasEstabelecimentos Área Total Valor da ProduçãoNúmero % Hectares % 1000 Reais %

TOTAL 242.436 100 108.510.012 100 6.884.856 100Total Familiar 162.062 66,8 13.691.311 12,6 1.122.696 16,3Maiores rendas 22.919 9,5 3.642.316 3,4 620.262 9Renda média 44.814 18,5 3.684.923 3,4 286.146 4,2Renda baixa 30.320 12,5 1.810.780 1,7 91.127 1,3Quase sem renda 64.009 26,4 4.553.292 4,2 125.161 1,8Patronal 70.470 29,1 93.321.482 86 5.654.933 82,1Instit. Religiosas 162 0,1 38.010 0 4.734 0,1Entidades Públicas 9.741 4 1.459.209 1,3 102.418 1,5Não Identificado 1 0 0 0 75 0

Fonte: Censo Agropecuário 1995/96, IBGE.Elaboração: Convênio INCRA/FAO

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 95/111

 

Tabela 6 - Número de Estabelecimentos, Área e Valor Bruto da Produção, CategoriasFamiliares por Tipo de Renda e Patronal - Região Sul

CategoriasEstabelecimentos Área Total Valor da Produção

Número % Hectares % 1000 Reais %TOTAL 1.003.179 100 44.360.360 100 15.011.919 100Total Familiar 907.635 90,5 19.428.230 43,8 8.575.993 57,1Maiores rendas 167.545 16,7 6.188.721 14 4.747.656 31,6Renda média 325.132 32,4 6.783.895 15,3 2.594.499 17,3Renda baixa 167.550 16,7 2.629.668 5,9 591.275 3,9Quase sem renda 247.408 24,7 3.825.947 8,6 642.562 4,3Patronal 86.908 8,7 24.601.463 55,5 6.359.953 42,4Instit. Religiosas 880 0,1 37.127 0,1 14.236 0,1Entidades Públicas 7.737 0,8 292.628 0,7 61.578 0,4Não Identificado 19 0 912 0 159 0

Fonte: Censo Agropecuário 1995/96, IBGE.Elaboração: Convênio INCRA/FAO

Tabela 7 - Número de Estabelecimentos, Área e Valor Bruto da Produção, CategoriasFamiliares por Tipo de Renda e Patronal - Região Sudeste

CategoriasEstabelecimentos Área Total Valor da ProduçãoNúmero % Hectares % 1000 Reais %

TOTAL 841.661 100 64.085.893 100 16.534.397 100Total Familiar 633.620 75,3 18.744.730 29,2 4.039.483 24,4Maiores rendas 87.350 10,4 4.989.614 7,8 2.257.296 13,7Renda média 159.851 19 5.429.243 8,5 989.867 6

Renda baixa 110.651 13,1 2.578.579 4 320.754 1,9Quase sem renda 275.768 32,8 5.747.294 9 471.566 2,9Patronal 202.091 24 44.965.470 70,2 12.409.868 75,1Instit. Religiosas 994 0,1 88.808 0,1 40.615 0,2Entidades Públicas 4.946 0,6 286.616 0,4 43.999 0,3Não Identificado 10 0 269 0 431 0

Fonte: Censo Agropecuário 1995/96, IBGE.Elaboração: Convênio INCRA/FAO

Na Figura 1, pode-se constatar que a importância da agricultura familiar, em termos de

número de estabelecimentos, é elevada para todas as regiões, com destaque

principalmente para as regiões Norte, Nordeste e Sul, onde esse segmento responde

por mais de 80% do número de estabelecimentos.

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 96/111

 

0

20

40

60

80

100

NE NO CO SU SE

     (     %

     )

Familiar Pa tronal Entid. Públicas

Figura 1 - Participação dos estabelecimentos familiares, patronais e de entidades

públicas no total de estabelecimentos de cada região, 1995/96

A agricultura patronal atinge maior expressão nas regiões Centro-Oeste e Sudeste, nas

quais, entretanto, a participação da agricultura familiar, embora menor do que nas

demais regiões, é ainda preponderante.

A Figura 2 permite visualizar aquilo que já fora constatado para o Brasil, isto é, que osestabelecimentos familiares, tendo grande expressão numérica, ocupam, entretanto,

pequena parcela da área total dos estabelecimentos agropecuários, cuja maior parte

encontra-se distribuída entre os estabelecimentos patronais.

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 97/111

 

0

20

40

60

80

100

NE NO CO SU SE

     (

     %     )

Familiar Patronal Entid. Públicas

Figura 2 - Participação dos estabelecimentos familiares, patronais e de entidades

públicas na área total ocupada com estabelecimentos agropecuários, por região,

1995/96

Na Figura 3, pode-se constatar que, de modo geral, a agricultura familiar contribui

para o valor bruto da produção em proporção equivalente ou mais elevada do que

representa a área que ela ocupa. Nas regiões Norte e Sul, a participação desse

segmento supera a dos estabelecimentos patronais, atingindo quase 60% do valor bruto

da produção agropecuária destas regiões.

01020

30405060708090

NE NO CO SU SE

     (     %     )

Familiar Patronal Entid. Públicas

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 98/111

 

Figura 3 - Participação dos estabelecimentos familiares, patronais e de entidades

públicas no valor bruto da produção, por região, 1995/96

Na Figura 4, pode-se constatar que, de modo geral, é elevada a proporção dosestabelecimentos cuja situação é caracterizada como de renda quase nula,

principalmente no Nordeste, onde essa proporção atinge a mais de 50%, e sudeste,

onde ela supera a 30%.

0

10

20

30

40

50

60

NE NO CO SU SE

     (     %     )

Maiores rendas Renda média Renda baixa Quase sem renda

Figura 4 - Proporção dos estabelecimentos familiares em cada categoria de renda, por

região, 1995/96.

Nas demais regiões, a proporção dos estabelecimentos nessa condição situa-se em

torno de 20%. Por outro lado, as regiões Norte e Sul se destacam como aquelas onde a

proporção de estabelecimentos com renda média é a mais alta, ficando próxima de

30%.

4. Pode a pequena propriedade produzir com eficiência?

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 99/111

 

Um dos aspectos envolvendo a questão da pequena produção refere-se `a suposta

presença de economias de escala na produção agrícola, o que terminaria por tornar

mais competitivas e eficientes as propriedades de grande porte. De forma

simplificada, há economias de escala quando os custos médios por unidade produzida

diminuem quando os custos fixos são distribuídos por uma maior quantidade de

mercadorias. Situação oposta caracterizaria uma situação de deseconomias de escala,

ou seja, quando, a partir de determinado tamanho da firma, aumento na escala de

produção eleva os custos médios, o que decorreria, basicamente, do surgimento de

problemas organizacionais, como dificuldades de comunicação, de coordenação, de

tomada de decisões, de administração, etc. Em decorrência disso, há razões para supor

que, abaixo de determinado tamanho, as firmas seriam incapazes de produzir a um

custo mínimo, e por outro lado, as firmas não poderiam crescer indefinidamente, semincorrer em elevação dos custos unitários.

Embora seja esse um tema controverso, algumas pesquisas, como as desenvolvidas por

Hallem (1991) e Britton e Hill (1975), apontam a inexistência de economias de escala

a partir de determinados tamanhos mínimos, ou seja, a curva de custo médio de longo

prazo assumiria a forma de L, e não de U, como ocorre na maior parte das atividadesindustriais. Esse resultado seria decorrente do fato de que as atividades agrícolas são

menos exigentes em equipamentos pesados e indivisíveis, e, portanto, com menores

custos fixos. Se essa hipótes for aceita, não mais se justificaria, com base em

argumentos econômicos, a preferência por grandes propriedades, e a opção política por

estas somente se justificaria por questões ideológicas.

Conforme Veiga (1991), embora exista um certo patamar mínimo de tamanho, abaixo

do qual qualquer empreendimento tende a naufragar, esse patamar é, de modo geral,

bastante pequeno, com exceção mais veemente para pastagens extensivas, que

requerem maior área. Portanto, tal aspecto revela que a oposição entre pequena x

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 100/111

 

grande ou média produção, e o diferencial de eficiência entre ambas, normalmente

aceito, não tem justificativa econômica24.

Finalmente, no que diz respeito à pseudo superioridade das maiores propriedades, não

se deve esquecer que, em grande medida, ela decorre dos privilégios a ela concedidos

no período de modernização agrícola, mormente o crédito rural subsidiado. Na prática,

esses privilégios tiveram o efeito de causar uma redução artificial nos custos de

produção das propriedades maiores, criando uma competitividade que, na ausência

daqueles benefícios, provavelmente não existiria.

5. As dificuldades de sobrevivência e desenvolvimento da pequena produção

Não obstante a grande importância da agricultura familiar, que ficou patentemente

demonstrada no item 3, são vários e graves os problemas enfrentados pelos

agricultores familiares no Brasil. Como destacado por PICINATTO et al.(2000), uma

parte significativa desses agricultores não tem acesso à terra, sendo que 39,8% deles

possui, sob qualquer forma, menos de 5 ha de área total, e apenas 16,7% tem acesso a

algum tipo de assistência técnica.

Em razão de várias características da pequena produção, o padrão tecnológico imposto

com a modernização agrícola, orientado para a expansão do complexo agroindusrial,

não foi absorvido pelos pequenos produtores, que, por isso, se mantêm defasados, em

termos de produtividade, face às unidades que puderam se modernizar.

Conforme SILVA (1999), a modernização do setor camponês tem, como fatores limitantes, a

incompatibilidade entre a escala mínima requerida pelo novo padrão e a insuficiência dosrecursos produtivos e financeiros por parte desses agricultores. De fato, o não

24 É importante destacar que essa afirmativa se baseia no conjunto das atividades agrícolas, não querendo issodizer que, em uma atividade específica, não possa existir significativas economias de escala. A redefinição dopatamar tecnológico que hoje vem ocorrendo, elevando os investimentos fixos requeridos em determinadasatividades, como o cultivo de cereais, faz com que o patamar mínimo exigido se eleve, tornando-o inacessível apequenos produtores isolados.

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 101/111

 

acompanhamento do novo padrão tecnológico se deu, principalmente, com relação às

tecnologias que exigem uma escala mínima para se tornarem viáveis economicamente, como

é o caso da mecanização. Como reflexo disso, os pequenos produtores absorveram melhor as

tecnologias químico-biológicas.

Disso resulta o fato da produtividade da terra mostrar-se, em geral, mais elevada nos

pequenos estabelecimentos do que nos grandes, o contrário ocorrendo com a produtividade do

trabalho. Como destacado por Graziano da Silva (1999), a elevada produtividade da terra nos

pequenos estabelecimentos se deve à maior intensidade do trabalho empregado, o que se

reflete, em última instância, em baixa produtividade da mão-de-obra. Ou seja, o uso mais

intensivo da terra não é suficiente para compensar a baixa produtividade por pessoa ocupada,

do que resulta a pobreza dos pequenos produtores e de suas famílias25.

Essa informação contraria, portanto, a assertiva, comumente aceita, de que os

pequenos agricultores são atrasados. O que ela mostra é que algumas tecnologias, ao

exigirem escala mínima de produção, não podem ser empregadas por esses

agricultores pela simples razão de que não podem atingir essa escala, dada a pequena

disponibilidade de terra e recursos financeiros com que podem contar. Além disso,

não se deve esquecer que esses agricultores não contaram, tal como os grandes, com o

apoio do governo durante todo o período de modernização agrícola, durante o qual aspolíticas agrícolas privilegiaram sobretudo estes últimos, garantindo-lhes uma posição

dianteira na corrida por maior competitividade.

E é em razão disso, ou seja, da falta de meios de produção, principalmente terra, e da

baixa produtividade do trabalho, fruto das limitações à adoção de determinadas

tecnologias, que o setor camponês está tendendo a reduzir progressivamente sua

importância na geração do produto agrícola, que já foi bem mais elevada no passado.

25 Para entender essa assertiva, basta considerar a seguinte relação:

 A

Y  x

 L

 A

 L

Y =  

em que: Y é a produção; L, o montante de trabalho empregado; e A, a área cultivada. Assim, embora aprodutividade da terra (Y/A) seja alta, decorrente do uso de tecnologias químico-biológicas e do grande volumede trabalho por área, isso não é suficiente para compensar a baixa relação A/L, decorrente da grande intensidadede trabalho, fruto da pequena mecanização das atividades. Disso resulta a baixa produção por trabalhadorocupado, o que se reflete em baixa renda por pessoa.

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 102/111

 

6. Sugestões de Políticas

O não reconhecimento da diferenciação de classes sociais na agricultura brasileira,

quando da elaboração da política agrícola, confeccionando-as para regiões e para

produtos, mas não por tipo de produtores, é apontado por Silva et al. (1999) como

responsável pela desigualdade com que se deu a modernização agrícola, beneficiando

a minoria dos grandes produtores rurais, os setores da indústria fornecedora de

insumos, máquinas e equipamentos para a agricultura, as agroindústrias processadoras

de matérias-primas agrícolas e os bancos executores da política de crédito rural.

A política tecnológica para os pequenos produtores camponeses é elemento-chave para

a transformação dinâmica desse setor, que pode se dar no sentido de destruir, manter

ou elevar a economia camponesa a uma maior integração com a economia global. Isto

é, ela pode contribuir para uma diferenciação ascendente (capitalização) ou

descendente (proletarização) do setor camponês.

Face ao problema da exigência de escala mínima para viabilizar a adoção detecnologias mecânicas, Silva et al. (1999) sugerem, como medidas visando facilitar a

tecnificação dos produtores, as seguintes:

-  maiores investimentos na pesquisa e difusão de inovações biológicas, como

sementes e matrizes animais;

-  incentivos à produção e à difusão de máquinas menores (menos potentes) que se

adaptem às menores escalas de produção;

-  desenvolvimento dos sistemas de leasing

26 

ou de formas cooperativas de utilizaçãodas máquinas agrícolas;

26 O leasing, também denominado arrendamento mercantil, é uma operação em que o possuidor (arrendador) deum bem móvel ou imóvel cede a terceiro (arrendatário) o uso desse bem por prazo determinado, recebendo emtroca uma contraprestação (Banco Central do Brasil, 2001). O leasing se distingue do aluguel porque o valor dobem arrendado vai sendo gradativamente amortizado durante o pagamento das contraprestações. No final docontrato, o arrendatário tem a opção de adquirir definitivamente o bem arrendado.

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 103/111

 

-  financiamentos a juros diferenciados quando se tratar de máquinas menos potentes ou de

insumos preferencialmente adotados pelos pequenos produtores.

De qualquer modo, ressalta-se que a eficiência dessas medidas está condicionada à presença

de uma política agrícola que reconheça as especificidades desse segmento de agricultores, oque deve, além disso, ser acompanhado de mudanças no próprio sistema de pesquisa e

assistência técnica.

Nesse sentido, a política de sustentação de preços é condição necessária para que os ganhos

de produtividade por parte dos produtores agrícolas possam ser internalizados. Além disso, a

tecnificação da propriedade implica em crescimento dos gastos monetários, requeridos para a

compra dos vários insumos, resultando daí a possibilidade de endividamento dos produtores

quando da ocorrência de quedas significativas nos preços. Tal situação, que pode sercontornada por uma eficiente política de garantia de preços, poderia acarretar, na ausência de

tal política, a insolvência do agricultor e a conseqüente venda de sua terra, e imediata perda de

sua própria condição de camponês, com a extinção de seu principal e essencial meio de

produção.

Outro aspecto é que a insuficiência de recursos financeiros por parte dos pequenos

agricultores torna-os extremamente dependentes de uma política de crédito favorável, sem a

qual permanecerão na mesma posição retardatária quanto ao uso de tecnologia e à

competitividade frente aos demais estabelecimentos. Esse favorecimento deve se dar por

taxas de juros compatíveis com suas condições de pagamento, como vem sendo feito com o

Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar-PRONAF, que será tratado no

item 7. 

Deve-se reconhecer também a concentração dos mercados com os quais se deparam os

agricultores de modo geral e, em especial, os pequenos, que não possuem qualquer

poder de negociação. A manutenção de determinado nível de concorrência na

comercialização agrícola é condição importante para que os benefícios das melhorias

tecnológicas sejam de fato apropriadas pelos agricultores. Movimentos associativistas,

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 104/111

 

com vistas a conglomerar vários produtores, podem também conferir-lhes maior poder

de barganha.

O acesso dos pequenos produtores às políticas governamentais favoráveis, bem como

o desenvolvimento e a implementação de tecnologias adequadas aos mesmos, embora

seja condição necessária, não é suficiente para que eles internalizem os ganhos

possibilitados pelos aumentos de produtividade, conseguidos através da modernização

de suas atividades produtivas, nem para assegurar-lhes um processo de diferenciação

ascendente, isto é, que os torne empresas familiares (Silva et al., 1999). A condição

para que isso ocorra será definida pelo poder de barganha desses agricultores no

mercado pois, à medida que este for se reduzindo, pode ocorrer um processo de

tecnificação sem capitalização, como ocorre nos casos de integração dos mesmos comas agroindústrias.

A questão fundamental é, portanto, a da apropriação dos frutos do aumento da

produtividade, que traz à tona a importância da organização dos agricultores, visando

elevar seu poder de barganha, possibilitando-lhes a apropriação de, pelo menos, parte

do excedente gerado.

Em termos concretos, a internalização dos ganhos advindos da modernização irá

depender da capacidade de organização e de luta dos produtores, bem como da

condição de serem proprietários dos meios de produção, principalmente a terra. Por

outro lado, é também necessária a existência de competição entre as firmas com as

quais se relacionam os camponeses, sejam elas compradoras ou vendedoras, pois

somente nessas condições os preços de fatores e dos produtos poderão ter reflexos

positivos sobre a rentabilidade da pequena produção moderna.

7. Apoio governamental à agricultura familiar : Programa Nacional de

Fortalecimento da Agricultura Familiar –PRONAF

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 105/111

 

O acesso ao crédito rural pelos agricultores familiares é um importante instrumento

para o desenvolvimento local, principalmente nos pequenos municípios, pois pode

estimular novos investimentos, potencializar experiências de produção e organização

da produção, viabilizar a industrialização e a comercialização da produção, tendo

como conseqüência a geração de empregos e renda (PICINATTO et al., 2000).

A agricultura familiar nunca foi prioridade do governo federal, sendo que, durante o

período de modernização agrícola, quando o crédito rural era abundante e barato,

muitos agricultores familiares tiveram acesso ao crédito, mas o grosso do dinheiro e

dos subsídios foi para empresas agroindustriais e latifundiários, que ficaram com mais

de 80% do valor do crédito rural liberado no período. Muitos agricultores familiares

integrados às indústrias, mesmo sendo pouco capitalizados, têm acesso ao crédito decusteio ou de investimento, mas as atividades financiadas são restritas às

determinações das agroindústrias. Foram as mobilizações das organizações dos

agricultores familiares junto ao governo que garantiram as conquistas e os avanços nas

políticas de crédito voltadas para a agricultura familiar (PICINATTO, A. G. et al.,

2000).

O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar - PRONAF, foicriado pelo Decreto nº. 1.946 de 28.06.96, com recursos oriundos do Fundo de

Amparo ao Trabalhador (FAT), dos fundos constitucionais de desenvolvimento e da

exigibilidade bancária.

No âmbito do Programa, são financiadas operações de custeio e investimentos de

agricultores familiares, extrativistas, aqüicultores e pescadores artesanais. São ainda

contempladas obras de infra-estrutura nos municípios, a capacitação e

profissionalização de técnicos e agricultores familiares, apoio à pesquisa agropecuária

e apoio a comunidades indígenas.

O PRONAF é um Programa de apoio ao desenvolvimento rural que reconhece a

importância da agricultura familiar, como segmento gerador de postos de trabalho e

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 106/111

 

renda, e busca promovê-la, financiando suas atividades em condições preferenciais. O

programa é executado de forma descentralizada, e tem como protagonistas os

agricultores familiares e suas organizações (MINISTÉRIO DO

DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO, 2001).

Uma das linhas de ação do Programa é o financiamento de infra-estrutura e serviços

nos municípios, que visa apoiar financeiramente a implantação, a modernização, a

ampliação, a racionalização e a realocação da infra-estrutura necessária ao

desenvolvimento da agricultura familiar no município.

Para que o município tenha acesso ao PRONAF Infra-estrutura e Serviços, ele deve,

antes, ser selecionado por critérios técnicos definidos e após homologado peloConselho Nacional do PRONAF. Esses critérios técnicos definidos priorizam os

municípios onde exista maior predominância de agricultores familiares.

A contrapartida desses municípios pode se constituir de dinheiro, bens ou serviços

mensuráveis monetariamente. Os índices da contrapartida, nos contratos com as

prefeituras municipais ou governos estaduais, são estabelecidos na Lei de Diretrizes

Orçamentárias, aprovada anualmente.

Outra linha de ação do PRONAF é o financiamento da produção da agricultura

familiar. O programa concede crédito aos agricultores e suas organizações

(associações e cooperativas), para que desenvolvam suas atividades produtivas, com

recursos tanto para custeio como para investimento em atividades agropecuárias, de

pesca, de aquicultura e de extrativismo. Agricultores familiares, pescadores,

aquicultores e extrativistas, individual ou coletivamente, que se enquadrarem nos

critérios do Programa, são os grupos que podem ter acesso a esse tipo de

financiamento. A condição necessária para acesso a esses recursos é preenchida por

uma declaração de aptidão, que comprova a condição de agricultor familiar, pescador,

aqüicultor e extrativista, fornecida pela extensão rural pública estadual ou por um

sindicato. No caso das organizações, o processo é o mesmo.

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 107/111

 

O PRONAF tem ainda como linha de ação a profissionalização dos agricultores

familiares, mediante liberação de recursos financeiros para as entidades públicas ou

privadas que proporcionam conhecimentos e habilidades, tanto de natureza tecnológica

quanto gerencial, dentro do enfoque de cadeia produtiva na agricultura familiar.

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 108/111

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 

BANCO CENTRAL DO BRASIL. Arrendamento Mercantil (Leasing) 

BERLO, D.K. O processo da comunicação. São Paulo: Martins Fontes, 1989. 196p.

BRITTON, D. K., HILL, B. Size and efficiency in farming. Saxon House, 1975.

COCHRANE, W. W. Farm prices: myth and reality. Minneapolis: University of 

Minnesota Press, 1958.

COELHO, F. M. G. A arte das orientações técnicas no campo: concepções e métodos.Viçosa: UFV, 2005. 139p.

EMATER-RIO. Guia de metodologia de extensão rural. Niterói, EMATER, 1996. 24 p.

EMPRESA BRASILEIRA DE ASSISTÊNCIA TÉCNICA E EXTENSÃO RURAL.

Procedimentos para o planejamento local da extensão rural. Brasília, 1981. 36P.

(Documentos,12).

FONSECA, M. T. L. da. A extensão rural no Brasil, um projeto educativo para o

capital. São Paulo: Loyola, 1985. 192 p.

FREIRE, P. Extensão ou comunicação? Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977. 93p.

GRAZIANO DA SILVA, J. A modernização conservadora dos anos 70. In:

GRAZIANO DA SILVA, J. Tecnologia e agricultura familiar. Porto Alegre:

Universidade/UFRS, 1999. p. 87-135.

HALL, S. Da diáspora: identidades e mediações culturais. Liv Sovik (Org.). Belo

Horizonte: Editora UFMG; Brasília: Representação da Unesco no Brasil. 2003.

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 109/111

 

HALLEM, A. Economies of size and scale in agriculture: an interpretative review of 

empirical measurement. Review of Agricultural Economics, 13(1): 155-172.

1991.http://www.bcb.gov.br. junho 2001.

KAGEYAMA, A., GRAZIANO DA SILVA, J. Política agrícola e produção familiar.

In: XXI Congresso Brasileiro de Economia e Sociologia Rural. Anais... Lavras-

MG, 1986.

KREUTZ, I. J. A Construção de novas atribuições para a assistência técnica e extensão

rural: a mediação com reconhecimento da identidade. XLIII Congresso da

Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural. Anais... Ribeirão Preto:FEA/USP, 24 a 27 de julho de 2005. (CD-ROM).

KREUTZ, Ivar J. Descentralização, participação e planejamento no município de

Pirapó-RS. 2004. 167 f. Dissertação (Mestrado em Agroecossistemas) Curso de

Pós-Graduação em Agroecossistemas, Universidade Federal de Santa Catarina,

Florianópolis.

LISITA, F. O. Considerações sobre a extensão rural no Brasil.

http://www.agronline.com.br/artigos, novembro de 2005.

MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO. Secretaria da Agricultura

Familiar. Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar.

http://www.pronaf.gov.br, maio, 2001.

MUSSOI, E. M.. Políticas públicas para o rural em Santa Catarina: descontinuidades

na continuidade. In: PAULILO, M. I. S.; SCHMIDT, W. (org.) Agricultura e

espaço rural em Santa Catarina. Florianópolis: Ed. da UFSC, 2003. p. 211-235.

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 110/111

 

NEVES, Delma P. O desenvolvimento de uma outra agricultura: o papel dos

mediadores sociais. In: FERREIRA, Ângela D. D. & BRANDENBURG, A. Para

pensar: outra agricultura. Curitiba: Editora da UFPR, 1998. p. 147-167.

OLIVEIRA, M. M. As circunstâncias da criação da extensão rural no Brasil

Cadernos de Ciência & Tecnologia, Brasília, v.16, n.2, p.97-134, maio/ago. 1999

PICINATTO, A. G. et al. Cartilha do Pronaf crédito. Departamento de Estudos

Sócio-Econômicos Rurais - DESER. Curitiba, 2000. http://www.deser.org.br.

PINTO, R. Bom comunicador. Revista Ideanews, Ribeirão Preto: Ideanews

comunicação, n. 60, p.5, out./2005.

QUEDA, O. A extensão rural no Brasil: da anunciação ao milagre da

modernização agrícola. Piracibaca: USP, 1987. 201p. (mimeo.)

RODRIGUES, J.. Pensamento Pedagógico Industrial. Disponível em: http://www.

educacaoonline.pro.br/pensamento_pedagogico_industrial.asp. Acesso: 22 ago.

2004.

SILVA, J. G. Tecnologia e Campesinato. In: SILVA, J. G. Tencologia e agricultura

familiar. Porto Alegre: Universidade/UFRS. 1999, p. 137-174.

VEIGA, J. E.  Agricultura Familiar e Sustentabilidade. Cadernos de Ciência e

Tecnologia. Vol. 13, nº 3, p383-404, 1996. Empresa Brasileira de Pesquisa

Agropecuária, Brasília DF.

VEIGA, J. E. O desenvolvimento agrícola: uma visão histórica. São Paulo: Editora

da Universidade de São Paulo/HUCITEC, 1991. (Estudos Rurais, 11).

7/15/2019 Apostila de Extensão Rural 2 pdf

http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-extensao-rural-2-pdf 111/111

This document was created with Win2PDF available at http://www.win2pdf.com.The unregistered version of Win2PDF is for evaluation or non-commercial use only.This page will not be added after purchasing Win2PDF.