Apostila de Filosofia 1

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    CONTEDO DO PRIMEIRO BIMESTRE - FILOSOFIA

    AS ORIGENS DA FILOSOFIA -A PALAVRA FILOSOFIA

    A palavra filosofia grega. composta por duas outras: philo e sophia. Philo deriva-se

    de philia, que significa amizade, amor fraterno, respeito entre os iguais. Sophia quer

    dizer sabedoria e dela vem a palavra sophos, sbio.

    Filosofia significa, portanto, amizade pela sabedoria, amor e respeito pelo saber.

    Filsofo: o que ama a sabedoria, tem amizade pelo saber, deseja saber. Assim, filosofia

    indica um estado de esprito, o da pessoa que ama, isto , deseja o conhecimento, o

    estima, o procura e o respeita.

    Atribui-se ao filsofo grego Pitgoras de Samos (que viveu no sculo V antes de Cristo)

    a inveno da palavra filosofia. Pitgoras teria afirmado que a sabedoria plena e

    completa pertence aos deuses, mas que os homens podem desej-la ou am-la,

    tornando-se filsofos.

    Dizia Pitgoras que trs tipos de pessoas compareciam aos jogos olmpicos (a festa mais

    importante da Grcia): as que iam para comerciar durante os jogos, ali estando apenas

    para servir aos seus prprios interesses e sem preocupao com as disputas e ostorneios; as que iam para competir, isto , os atletas e artistas (pois, durante os jogos

    tambm havia competies artsticas: dana, poesia, msica, teatro); e as que iam para

    contemplar os jogos e torneios, para avaliar o desempenho e julgar o valor dos que ali

    se apresentavam. Esse terceiro tipo de pessoa, dizia Pitgoras, como o filsofo.

    Com isso, Pitgoras queria dizer que o filsofo no movido por interesses comerciais -

    no coloca o saber como propriedade sua, como uma coisa para ser comprada e

    vendida no mercado; tambm no movido pelo desejo de competir - no faz das idiase dos conhecimentos uma habilidade para vencer competidores ou "atletas

    intelectuais"; mas movido pelo desejo de observar, contemplar, julgar e avaliar as

    coisas, as aes, a vida: em resumo, pelo desejo de saber. A verdade no pertence a

    ningum, ela o que buscamos e que est diante de ns para ser contemplada e vista, se

    tivermos olhos (do esprito) para v-la.

    * A FILOSOFIA GREGA

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    A Filosofia, entendida como aspirao ao conhecimento racional, lgico e sistemtico

    da realidade natural e humana, da origem e causas do mundo e de suas transformaes,

    da origem e causas das aes humanas e do prprio pensamento, um fato tipicamente

    grego.

    Evidentemente, isso no quer dizer, de modo algum, que outros povos, to antigos

    quanto os gregos, como os chineses, os hindus, os japoneses, os rabes, os persas, os

    hebreus, os africanos ou os ndios da Amrica no possuam sabedoria, pois possuam e

    possuem. Tambm no quer dizer que todos esses povos no tivessem desenvolvido o

    pensamento e formas de conhecimento da Natureza e dos seres humanos, pois

    desenvolveram e desenvolvem.

    Quando se diz que a Filosofia um fato grego, o que se quer dizer que ela possuicertas caractersticas, apresenta certas formas de pensar e de exprimir os pensamentos,

    estabelece certas concepes sobre o que sejam a realidade, o pensamento, a ao, as

    tcnicas, que so completamente diferentes das caractersticas desenvolvidas por

    outros povos e outras culturas.

    Vejamos um exemplo. Os chineses desenvolveram um pensamento muito profundo

    sobre a existncia de coisas, seres e aes contrrios ou opostos, que formam a

    realidade. Deram s oposies o nome de dois princpios: Yin e Yang. Yin o princpio

    feminino passivo na Natureza, representado pela escurido, o frio e a umidade; Yang

    o princpio masculino ativo na Natureza, representado pela luz, o calor e o seco. Os dois

    princpios se combinam e formam todas as coisas, que, por isso, so feitas de contrrios

    ou de oposies. O mundo, portanto, feito da atividade masculina e da passividade

    feminina.

    Tomemos agora um filsofo grego, por exemplo, o prprio Pitgoras. Que diz ele? Que a

    Natureza feita de um sistema de relaes ou de propores matemticas produzidas a

    partir da unidade (o nmero 1 e o ponto), da oposio entre os nmeros pares empares, e da combinao entre as superfcies e os volumes (as figuras geomtricas), de

    tal modo que essas propores e combinaes aparecem para nossos rgos dos

    sentidos sob a forma de qualidades contrrias: quente-frio, seco-mido, spero-liso,

    claro-escuro, grande-pequeno, doce-amargo, duro-mole, etc. Para Pitgoras, o

    pensamento alcana a realidade em sua estrutura matemtica, enquanto nossos

    sentidos ou nossa percepo alcanam o modo como a estrutura matemtica da

    Natureza aparece para ns, isto , sob a forma de qualidades opostas.

    * O LEGADO DA FILOSOFIA GREGA PARA O OCIDENTE EUROPEU

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    Por causa da colonizao europia das Amricas, ns tambm fazemos parte - ainda

    que de modo inferiorizado e colonizado - do Ocidente europeu e assim tambm somos

    herdeiros do legado que a Filosofia grega deixou para o pensamento ocidental europeu.

    Desse legado, podemos destacar como principais contribuies as seguintes:

    -> A idia de que a Natureza opera obedecendo a leis e princpios necessrios e

    universais, isto , os mesmos em toda a parte e em todos os tempos. Assim, por

    exemplo, graas aos gregos, no sculo XVII da nossa era, o filsofo ingls Isaac Newton

    estabeleceu a lei da gravitao universal de todos os corpos da Natureza.

    A lei da gravitao afirma que todo corpo, quando sofre a ao de um outro, produz

    uma reao igual e contrria, que pode ser calculada usando como elementos do clculo

    a massa do corpo afetado, a velocidade e o tempo com que a ao e a reao se deram.Essa lei necessria, isto , nenhum corpo do Universo escapa dela e pode funcionar de

    outra maneira que no desta; e esta lei universal, isto , vlida para todos os corpos

    em todos os tempos e lugares.

    Um outro exemplo: as leis geomtricas do tringulo ou do crculo, conforme

    demonstraram os filsofos gregos, so universais e necessrias, isto , seja em Tquio

    em 1993, em Copenhague em 1970, em Lisboa em 1810, em So Paulo em 1792, em

    Moambique em 1661, ou em Nova York em 1975, as leis do tringulo ou do crculo so

    necessariamente as mesmas.

    -> A idia de que as leis necessrias e universais da Natureza podem ser plenamente

    conhecidas pelo nosso pensamento, isto , no so conhecimentos misteriosos e

    secretos, que precisariam ser revelados por divindades, mas so conhecimentos que o

    pensamento humano, por sua prpria fora e capacidade, pode alcanar.

    -> A idia de que nosso pensamento tambm opera obedecendo a leis, regras e normas

    universais e necessrias, segundo as quais podemos distinguir o verdadeiro do falso.Em outras palavras, a idia de que o nosso pensamento lgico ou segue leis lgicas de

    funcionamento.

    Nosso pensamento diferencia uma afirmao de uma negao porque, na

    afirmao,atribumos alguma coisa a outra coisa (quando afirmamos que "Scrates

    um ser humano", atribumos humanidade a Scrates) e, na negao, retiramos alguma

    coisa de outra (quando dizemos "este caderno no verde", estamos retirando do

    caderno a cor verde).

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    Nosso pensamento distingue quando uma afirmao verdadeira ou falsa. Se algum

    apresentar o seguinte raciocnio: "Todos os homens so mortais. Scrates homem.

    Logo, Scrates mortal", diremos que a afirmao "Scrates mortal" verdadeira,

    porque foi concluda de outras afirmaes que j sabemos serem verdadeiras.

    -> A idia de que as prticas humanas, isto , a ao moral, a poltica, as tcnicas e as

    artes dependem da vontade livre, da deliberao e da discusso, da nossa escolha

    passional (ou emocional) ou racional, de nossas preferncias, segundo certos valores e

    padres, que foram estabelecidos pelos prprios seres humanos e no por imposies

    misteriosas e incompreensveis, que lhes teriam sido feitas por foras secretas,

    invisveis, sejam elas divinas ou naturais, e impossveis de serem conhecidas.

    -> A idia de que os acontecimentos naturais e humanos so necessrios, porque

    obedecem a leis naturais ou da natureza humana, mas tambm podem ser contingentes

    ou acidentais, quando dependem das escolhas e deliberaes dos homens, em

    condies determinadas.

    Dessa forma, uma pedra cai porque seu peso, por uma lei natural, exige que ela caia

    natural e necessariamente; um ser humano anda porque as leis anatmicas e

    fisiolgicas que regem o seu corpo fazem com que ele tenha os meios necessrios para a

    locomoo.

    No entanto, se uma pedra, ao cair, atingir a cabea de um passante, esse acontecimento

    contingente ou acidental. Por qu? Porque, se o passante no estivesse andando porali naquela hora, a pedra no o atingiria. Assim, a queda da pedra necessria e o

    andar de um ser humano necessrio, mas que uma pedra caia sobre minha cabea

    quando ando inteiramente contingente ou acidental.

    Todavia, muito diferente a situao das aes humanas. verdade que por uma

    necessidade natural ou por uma lei da Natureza que ando. Mas por deliberao

    voluntria que ando para ir escola em vez de andar para ir ao cinema, por exemplo.

    verdade que por uma lei necessria da Natureza que os corpos pesados caem, mas

    por uma deliberao humana e por uma escolha voluntria que fabrico uma bomba, a

    coloco num avio e a fao despencar sobre Hiroshima.

    Um dos legados mais importantes da Filosofia grega , portanto, essa diferena entre o

    necessrio e o contingente, pois ela nos permite evitar o fatalismo - "tudo necessrio,

    temos que nos conformar e nos resignar" -, mas tambm evitar a iluso de que

    podemos tudo quanto quisermos, se alguma fora extranatural ou sobrenatural nos

    ajudar, pois a Natureza segue leis necessrias que podemos conhecer e nem tudo

    possvel por mais que o queiramos.

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    -> A idia de que os seres humanos, por Natureza, aspiram ao conhecimento

    verdadeiro, felicidade, justia, isto , que os seres humanos no vivem nem agem

    cegamente, mas criam valores pelo quais do sentido s suas vidas e s suas aes.

    A Filosofia surge, portanto, quando alguns gregos, admirados e espantados com a

    realidade, insatisfeitos com as explicaes que a tradio lhes dera, comearam a fazer

    perguntas e buscar respostas para elas, demonstrando que o mundo e os seres

    humanos, os acontecimentos e as coisas da Natureza, os acontecimentos e as aes

    humanas podem ser conhecidos pela razo humana, e que a prpria razo capaz de

    conhecer-se a si mesma.

    Em suma, a Filosofia surge quando se descobriu que a verdade do mundo e doshumanos no era algo secreto e misterioso, que precisasse ser revelado por divindades

    a alguns escolhidos, mas que, ao contrrio, podia ser conhecida por todos, atravs da

    razo, que a mesma em todos; quando se descobriu que tal conhecimento depende do

    uso correto da razo ou do pensamento e que, alm da verdade poder ser conhecida por

    todos, podia, pelo mesmo motivo, ser ensinada ou transmitida a todos.

    1. Item Aspectos Introdutrio ao Estudo da filosofia

    AS DISCIPLINAS DA FILOSOFIA

    1. TICA

    A tica uma matria teortica, e o filsofo moral est preocupado com a

    natureza da vida virtuosa, nos valores morais, na validade de determinadas aes eestilos de vida. uma atividade analtica e est em busca de significados para os termos

    que aparecem em declaraes ticas, do tipo: bom, errado, certo, responsvel,

    deve, deveria, quem mandou fazer assim etc.

    2. A FILOSOFIA SOCIAL E POLTICA

    Na filosofia tica o filsofo se preocupa com as aes isoladas dos

    indivduos. Na filosofia social os filsofos se preocupam com as aes dos grupos ou

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    sociedades. As reflexes filosficas acerca da sociedade, se dividem em duas classes

    distintas:

    A que procura examinar por que a sociedade como se apresenta. Por que a

    guerra, o crime, a pobreza existem? etc.

    A segunda classe de reflexes filosficas sonda os alvos da sociedade e o

    papel que o estado deve desempenhar para alcanar estes alvos, no suprimento das

    necessidades dos indivduos. Todos estes questionamentos e preocupaes esto

    relacionados com outras cincias, como a psicologia, a sociologia, a antropologia, a

    cincia poltica e as cincias econmicas.

    A filosofia social e poltica analisa os conceitos como a autoridade, o poder,

    a justia e os direitos individuais. Est preocupada com perguntas do tipo: Quem devegovernar a sociedade? A obrigao poltica comparvel com outros tipos de

    obrigao? Qual o significado da democracia? Qual deve ser o papel do governo numa

    comunidade organizada? etc.

    3. A ESTTICA

    A esttica faz parte da teoria de valores e em alguns pontos aborda as

    questes ticas, sociais ou polticas. interessante para este segmento da filosofia a

    anlise de idias como beleza, gosto, arte etc.

    4. A LGICA

    A lgica a parte mais fundamental da filosofia, porque a filosofia uma

    pesquisa lgica em que sistematicamente se aplica as leis do pensamento e do

    argumento. Para avaliarmos argumentos informais necessrio a aplicao de

    princpios lgicos, sem os quais se tornaria impossvel chegar-se a uma concluso

    coerente. Dentre as falcias mais comuns encontramos as pessoas apelando

    autoridade ao invs de apelar evidncia para sustentar seus argumentos.

    Por exemplo, apelar a autoridade do pai para defender a crena na

    existncia de Papai Noel. Este tipo de apelo no vlido porque a autoridade no

    qualificada para avaliar a questo, o pai do indivduo jamais viu Papai Noel, logo no

    argumento evidente para afirmar a sua existncia. A lgica se baseia mais nos casos de

    argumentos formalizados, que so os tipos dedutivo e indutivo. O dedutivo consiste

    na aplicao de uma premissa maior, uma premissa menor, e uma concluso.

    5. A FILOSOFIA DA RELIGIO

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    A filsofo da religio est interessado em analisar e avaliar as informaes

    acerca das religies, com vistas a descobrir o que significam e se so verdadeiras. Ao

    tratar da natureza e do conhecimento religioso, tanto o filsofo quanto o telogo tm

    interesses idnticos, contudo na interpretao do texto bblico j no existir

    convergncia de argumentos.

    Os assuntos principais que interessam ao filsofo da religio, so as

    perguntas acerca da natureza da religio; as caractersticas definidoras das crenas que

    se acham em todas as religies; os argumentos em prol da existncia de Deus; os

    atributos de Deus; a linguagem religiosa; e o problema do mal.

    No sculo XVIII Kant, argumentou a existncia de trs argumentos

    racionais em prol da existncia de Deus. So os argumentos ontolgico,

    cosmolgico, e teolgico. Mais tarde os filsofos da religio acrescentaram o

    argumento moral.

    Dentro dos filsofos da religio existe um grupo conhecidos como

    atelogos, que desenvolveram vrias provas e argumentos que procuram comprovar a

    inexistncia de Deus.

    6. A HISTRIA DA FILOSOFIA

    A histria da filosofia uma tentativa no sentido de demonstrar como asinfluncias ideolgicas levaram a certas filosofias e a forma pela qual estas filosofias

    influenciaram sociedades e instituies; e de aprender acerca dos homens que fizeram a

    histria da filosofia. O historiador da filosofia procura demonstrar a formulao e o

    desenvolvimento de escolas do pensamento, como o racionalismo e o empirismo. Por

    exemplo, ilustrar a filosofia de Ren Descartes, faz parte da histria da filosofia,

    preciso portanto que o historiador relate o que Descartes disse, e se verdadeiro ou

    no; ou de que maneira Descartes influenciou racionalistas subsequentes como Kant

    e outros.

    7. A FILOSOFIA DA CINCIA

    O filsofo da cincia est interessado no exame e avaliao crtica de

    conceitos-chaves cientficos e na metodologia cientfica. As maiores perguntas dentro

    da filosofia da cincia so: Como as teorias cientficas devem ser construdas e

    avaliadas? Quais as justificativas e quais os critrios necessrios para as teorias

    cientficas?

    8. A FILOSOFIA ...

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    Cabe Filosofia conhecer como e porque as coisas, assim, substituindo a dialtica por

    um conjunto de procedimentos de demonstrao e prova, Aristteles criou a lgica, que

    ele chamava de analtica. Esta lgica um instrumento que antecede o exerccio do

    pensamento e da linguagem, oferecendo-lhes meios para realizar o conhecimento e o

    discurso. Para Aristteles, a lgica um instrumento para o conhecer.

    A Educao e a Racionalidade.A lgica que rege o pensamento cientfico na atualidade est centrada na idia de

    demonstrao e prova, construindo o objeto do conhecimento por suas propriedades e

    funes e de sua posio.

    Empregar a racionalidade no ensinar significa empregar formas lgicas na busca doconhecimento pelo aluno, mas esta racionalidade fora adaptada ao movimento de

    administrao cientfica em que a educao profissional comea como resposta s

    necessidades especficas de treinamento para o trabalho apresentado pelo

    empresariado. Em um movimento que antecede a Primeira Grande Guerra, a escola

    secundria atravs de inmeras crianas da classe trabalhadora passou a um

    sistema de estratificao. A manuteno de certas disciplinas e a eliminao de outras

    com base no desempenho e dos chamados testes vocacionais de vis classista

    encaminhavam estudantes a cursos diferentes da mesma escola secundria, com baseem suas aptides profissionais aparentes, ou seja, a racionalidade empregada a servio

    das classes dominantes.

    A Educao e a formulao de juzos sobre a realidade.O pensar investigativo uma questo de sobrevivncia e para que o indivduo possa

    acertar nas escolhas durante sua vida.

    Mas ser que a criana tem condies de investigar de maneira acertada dentro de um

    processo de educao? O aprender a pensar e o aprender a investigar devem ser

    aprendidos no processo educacional, fazer escolhas com base em um entendimento

    slido (usando a lgica), e no em informaes prontas, acabadas, mas provocar na

    criana as etapas de um raciocnio, estimular a irem luta pelas informaes, pelos

    dados, estimulando-os a construir entendimentos ou explicaes (conhecimentos) que

    os ajudem na orientao de suas formas de agir, incentivando-os a realizar

    investigaes sobre suas realidades e a formar juzos acertados.

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    Pensar bem e investigar so aprendidos e a ajuda educacional deve ser competente: isto

    colabora para a mxima Saber fazer algo correto. Desenvolver algumas habilidades

    nos alunos corresponder aos mtodos de uma investigao cientfica, torna o

    aprendizado produtivo e estimula a educao escolar.

    Assim, desenvolver nos alunos o observar bem, fazer com que eles formulem hipteses

    para algumas questes e dvidas, buscar comprovaes e torn-los dispostos a

    autocorreo so algumas formas para que no futuro as crianas possam saber fazer

    escolhas com base em seus entendimentos sobre a realidade.

    Textos Complementares

    Lgica

    Reparei que os povos que, tendo sido outrora semi-selvagens, civilizaram-se pouco a

    pouco fazendo leis seno medida que a presso dos crimes e querelas a isso os

    obrigou, no poderiam ser to bem policiados como aqueles que, a partir do momento

    em que se organizaram, observaram as constituies de prudente legislador.

    Julgo que se Esparta foi outrora florescente, no o deveu bondade de cada uma das

    leis em particular algumas muito extravagantes mas ao fato de, tendo sidoinventadas apenas por um s, tendem todas para um mesmo fim. Lembrando-me disto

    persuadi-me de que, na verdade, no fazia sentido que um simples particular intentasse

    reformar um Estado, mudando-lhe tudo desde os alicerces, derrubando-o para o

    levantar do novo.

    No aprovo estes temperamentos e iniciativas conflituosas e inquietas que, no sendo

    convocadas nem pelo nascimento nem pela fortuna administrao dos negcios

    pblicos, jamais prescindem de neles introduzir qualquer reforma.

    E se este escrito contiver algo que possa ser suspeito de semelhante loucura, desgostar-

    me-ia muito. Nunca meu intento foi mais longe que procurar reformar meus prprios

    pensamentos. A simples resoluo de nos libertarmos de todas as opinies que antes

    aceitvamos como verdadeiras no exemplo bastante. O mundo quase composto de

    duas espcies de espritos: aqueles que, julgando-se mais hbeis do que so, no

    resistem a precipitar seus juzes, nem tm pacincia bastante para conduzir por ordem

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    seus pensamentos, e os outros que, por razo ou modstia, achando que no so menos

    capazes, contentam-se em seguir as opinies dos outros.

    De minha parte acho que nada se pode criar ou imaginar de to estranho que j no

    tenha sido criado ou pensado anteriormente por artistas ou filsofos. Ao viajar pelomundo percebi que os que tm sentimentos contrrios aos nossos nem por isso devem

    ser chamados de brbaros. Muitos desses povos usam, tanto ou mais do que ns, da

    razo.

    Como um homem que anda s e na treva, resolvi ir lentamente, o que me levou a

    imaginar um mtodo diferente dos at ento usados (lgica anlise e lgebra). Como a

    diversidade das leis serve muitas vezes de desculpa aos vcios, de sorte que um Estado

    muito melhor administrado quando, tendo embora muito poucas, se aplicam

    rigorosamente, julguei conveniente tomar emprestados da lgica apenas quatro

    postulados: o primeiro consistia em nunca aceitar como verdadeira qualquer coisa sem

    a conhecer evidentemente como tal; o segundo dividir cada uma das dificuldades no

    maior nmero de parcelas; terceiro, conduzir meu pensamento ordenadamente,

    comeando pelos mais simples para chegar aos mais difceis; quarto fazer sempre

    enumeraes to completas e revises to amplas que impeam alguma omisso.

    Isto me sugere que todas as coisas que podem cair sob o conhecimento do homem se

    encadeiam da mesma maneira e que, contanto que nos abstenhamos de aceitar como

    verdadeiro algo que no o seja e que observemos sempre a ordem necessria para

    deduzir uma coisa da outra, nenhuma razo pode estar to abastada a que ela no se

    chegue por fim, nem to oculta que no se descubra.

    Estabeleci ento trs mximas: a primeira conduzir-me segundo as opinies mais

    afastadas do exagero e dos extremos. Em especial, inclua entre os extremos todas as

    diminuies por menores que sejam da liberdade; a segunda consistia em ser o mais

    firme e resoluto nas minhas aes, imitando os viajantes que perdidos numa floresta

    caminham decididamente para um determinado rumo ao invs de vagar tontamente; a

    terceira vencer a mim prprio antes de vencer a fortuna, modificando meus desejos e

    paixes antes de modificar o mundo. nisto que reside o segredo dos antigos filsofos

    que souberam outrora se subtrair ao imprio da fortuna.

    Ocupando-se constantemente em considerar os limites que eram prescritos pela

    natureza, persuadiu-se de que nada estava em seu poder alm dos prprios

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    pensamentos. E sendo senhores apenas de seus pensamentos podiam considerar-se

    mais ricos e poderosos, livres e felizes que quaisquer outros que, no tendo esta

    filosofia, por muito que sejam favorecidos pela natureza e fortuna nunca chegam a este

    poder.

    (Descartes, Ren. Banco de Dados,

    Folha de So Paulo. Galerias, jul-2003)

    Razo

    [...] Enganam-se redondamente os sbios que supe apenas agrupar e descrever fatos,

    os fatos em si mesmos no so da menor utilidade para a cincia, mesmo para cinciascomo a zoologia, a botnica, a histria, a geografia. A cincia precisa de teorias, isto ,

    do que miraculosamente transforma os acontecimentos uma vez, o que aos olhos

    vulgares apenas contingente em necessrio. Negar cincia esse direito soberano

    derrub-la de seu pedestal, torn-la impotente. A mais singela descrio do mais

    vulgar dos fatos pressupe a suprema prerrogativa, a prerrogativa do juzo final. A

    cincia no verifica, julga. No reflete a verdade: cria-se na conformidade de suas leis

    autnomas, por ela mesma estabelecida. Em outras palavras: a cincia a vida perante

    o tribunal da razo. a razo que decide o que deve e o que no deve ser. E decide

    no esqueamos segundo as suas prprias leis, sem levar em conta o que ela chama

    de humano, demasiado humano (aluso a Nietzche). () A razo conduziu o homem

    ao cume de uma alta montanha e, fazendo-o contemplar o universo inteiro, disse-lhe:

    Tudo o que vs te darei, se ajoelhado aos meus ps me adorares. O homem ajoelhou-

    se, adorou e recebeu o que lhe fora prometido. Mas nem tudo. Desde ento, o dever

    prioritrio do homem passou a ser a razo. impossvel conceber que no seja assim.

    Quanto a Deus, h um mandamento: ama a Deus sobre todas as coisas. A razo

    dispensa mandamentos, porque os homens devem am-la de modo prprio. A teoria do

    conhecimento canta a audcia de interrogar ou duvidar de seus direitos soberanos. [...]

    (Chestov, Leon. Banco de Dados),

    Folha de So Paulo. Galerias, jul-2003)

    Conhecer

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    Desde seus primrdios, a Filosofia se ocupou do problema do conhecimento. Os

    primeiros filsofos na Grcia que questionaram sobre o mundo (cosmos), sobre o

    homem, a natureza e etc., tentaram encontrar a verdade em um princpio nico (arch)

    que abarcasse toda a realidade, isto , sobre o Ser.

    Confiantes de que somos seres capazes de conhecer o universo e sua estrutura, os

    gregos se perguntavam como era possvel o erro, a falsidade e a iluso, j que no era

    possvel falar sobre o No-Ser e sim somente sobre o Ser. Foi preciso, pois, estabelecer

    a diferenciao entre o mero opinar e o conhecer verdadeiro, entre o que percebemos

    pelos sentidos e aquilo que compreendemos pelo pensamento, raciocnio ou reflexo,

    estabelecendo, assim, graus de conhecimento e at mesmo uma hierarquia entre eles.

    Isso porque o conhecimento no era entendido como a mera apreenso particular de

    objetos (pois isso seria conhecimento de algo), mas pretendido como o modo universalde apreenso (no o conhecimento de vrias coisas, mas o que realmente o conhecer).

    Com o advento do cristianismo, a verdade que os homens poderiam conhecer estava

    sujeita autoridade da f revelada. Na concepo crist, que v o homem como um

    degenerado do paraso, sua salvao depende de Deus e no da sua mera vontade e s

    atravs da f o homem poderia compreender o mundo e a si mesmo, alcanando, assim,

    a verdade. O homem, tido como um duplo corpo/alma, tem acesso a duas realidades,

    uma temporal e finita (corpo) e a outra eterna e semelhante ao divino (alma) pela qualpoder-se-ia chegar verdade e salvao. A f auxilia a razo para que no sofra

    desvios por conta da vontade e liberdade de uma alma encerrada em um corpo.

    Mas foi somente com a Modernidade que a questo do conhecimento foi devidamente

    sistematizada. Retomando os antigos, a Filosofia procurou no s saber quantos

    conhecimentos existiam nem de quantos objetos, mas questionar a sua possibilidade e

    condies de realizao. Eis as perspectivas mais adotadas nesse perodo:

    Ceticismo posio filosfica que afirma a impossibilidade do homem conhecer seja

    qual for o objeto, negando a verdade do saber e que tudo em que acreditamos no passa

    de hbitos. (Hume);

    Dogmatismo posio que afirma ser nossa razo portadora de capacidades inatas

    para conhecer o mundo, capacidades estas independentes da experincia sensorial.

    Aqui, o sujeito do conhecimento valorizado em detrimento da experincia sensvel

    (Descartes, Leibniz);

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    Empirismo doutrina que nega a existncia de ideias em nossa mente antes de

    qualquer experincia. Alm disso, afirma que tudo que conhecemos tem origem nos

    dados dos sentidos. Nessa filosofia o objeto determina por suas caractersticas o

    conhecimento do sujeito (Hobbes, Locke);

    Criticismo posio que visa ao mesmo tempo criticar as anteriores, porm

    sintetizando-as. Desenvolvida pelo filsofo alemo Immanuel Kant, visa mostrar as

    condies de possibilidades que um sujeito tem para conhecer um objeto. Para Kant,

    no podemos conhecer os objetos em si mesmos, mas somente represent-los segundo

    formas aprioride apreenso da nossa sensibilidade (tempo e espao). Significa dizer

    que conhecemos o real no em si, mas como podemos organiz-lo e apreend-lo

    segundo modelos esquemticos prprio do nosso intelecto.

    Todo esse desenvolvimento dos filsofos modernos culminou com o debate

    contemporneo sobre o conhecer. At aqui, percebe-se que o conhecimento necessitava

    de provas e demonstraes racionais tendo um correspondente na realidade que

    seguisse leis como causalidade, reversibilidade, publicidade etc. Hoje, a cincia cada dia

    mais especializada se preocupa no em provar uma teoria, mas refut-la ou false-la,

    pois os critrios de cientificidade dependem da ao do homem ao construir seu mundo

    e no mais desvendar as leis ocultas da natureza, j que em todos os perodos da

    histria esses critrios so elaborados segundo paradigmas vigentes que influenciamnossa viso de mundo.

    Por Joo Francisco P. Cabral

    Ser

    O Problema do Ser - Introduo

    INTRODUO

    De todos os problemas da filosofia, aquele que constitui o ponto capital, por onde se

    definem os sistemas e divergem as escolas o problema do ser. Uma filosofia se apia

    tanto mais sobre o senso natural, sobre a experincia quotidiana e sobre os primeiros

    princpios da Inteligncia, quanto mais se orienta para uma ontologia realista. E se

    afasta tanto mais do senso natural e dos princpios da Inteligncia quanto mais se

    encaminha para o subjetivismo idealista e para o materialismo, duas atitudes no fundo

    correlatas, que traduzem igualmente uma negao do ser substancial ou da faculdade

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    que tem a inteligncia de penetr-lo na sua objetividade essencial.

    Em linhas gerais, trs diversas atitudes diante do problema do ser produzem

    respectivamente o realismo, o idealismo e o materialismo. Estas trs atitudes

    respectivamente teocntrica, antropocntrica e materialista se caracterizam: o realismopela afirmao dos seres e do Ser, seja sob a forma do realismo natural ou do realismo

    crtico; o fundo comum de todo realismo o reconhecimento da existncia de cousas

    reais independentes da conscincia do sujeito do conhecimento. O idealismo pela

    negao ou a problematizao do ser substancial, seja sob a forma do idealismo

    psicolgico, para o qual a realidade no existe fora da conscincia do sujeito; seja sob a

    forma do idealismo lgico, para o qual a realidade um produto do pensamento, um

    sistema de juzos, no existindo fora da conscincia geral do conhecimento; o fundo

    comum de todo idealismo considerar o objeto do conhecimento como ideal e nocomo real e o seu ponto de partida est na subordinao do ser ao conhecer e da

    realidade s formas a priori da razo. O materialismo, a seu turno envolve a negao

    pura e simples do ser subsistente como realidade ou mesmo como problema: considera

    a filosofia superada pela cincia e afirma o relativo com a negao do absoluto e os

    acidentes com a negao da substncia. Como evidente, toda ontologia no realista,

    todo idealismo e todo materialismo, vm desde sua origem falseados pela afirmao

    implcita do ser que negam, desde que no se pode pensar sem pensar o ser e desde que

    no se pode afirmar um ou outro dos aspectos da realidade, sem afirmar essa realidadecomo subsistente em si mesma como ser e como existncia.

    Historicamente, estas trs atitudes representam e acompanham o gradual declnio do

    homem religioso para o homem poltico e deste para o homem econmico. Mas isto no

    significa que as atitudes da filosofia tenham uma explicao histrica, porque o

    fundamento da filosofia so os primeiros princpios da Inteligncia, no susceptveis de

    transformaes histricas, pelo que se v que a cincia progride sempre, mas a filosofia

    gira sempre em torno dos mesmos problemas.

    Os problemas da filosofia tm uma natureza permanente porque so problemas cujo

    centro est precisamente no que e o desenvolvimento da filosofia se processa no

    sentido da profundidade e no no sentido da horizontalidade, como as tcnicas e as

    cincias. No h um "progresso" da filosofia por substituio, mas sim um

    aprofundamento dos mesmos problemas. Assim uma doutrina fundada na realidade

    ntica e nos princpios primeiros da Inteligncia, ser sempre a mesma filosofia e o seu

    desenvolvimento no ser um progresso por substituio, mas um crescimento do

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    do mundo e da vida. A soluo deve consistir na restaurao da filosofia autntica do

    ser, fundada na experincia quotidiana, esclarecida pelos princpios imutveis da

    inteligncia, os quais nos conduzem essncia do ser, princpios esses que se nutrem

    da experincia sensvel, da experincia volitiva que intui a existncia do ser, da

    experincia emotiva que intui o valor do ser e da vida. A restaurao da filosofia do ser

    no outra cousa seno o retorno ao senso natural, a abolio do esforo contra-

    naturam do pensamento moderno com suas razes cartesianas e do pensamento

    contemporneo com suas razes kantianas.

    No entanto, esta restaurao teria parecido geralmente impossvel, enquanto se

    acreditasse na infalibilidade dos mtodos matemticos do conhecimento cientfico, com

    a sua viso fsico-qumica e homognea da realidade. Mas depois da reviso do valor

    filosfico da cincia contempornea, pela crtica principalmente de Boutroux eBergson, havendo cado o castelo de cartas sobre o qual se apoiava todo positivismo e

    todo materialismo, juntamente com o sociologismo e o fenomenismo evolucionista, o

    caminho que se abre, no o de uma nova contradictio in adiecto, qual por exemplo a

    do "existencialismo" que toma por necessria uma existncia contingente. O caminho

    que se abre o de um retorno, no filosofia do passado, (porque a filosofia verdadeira

    ou perene ou no filosofia) e sim um retorno filosofia da conscincia natural,

    esclarecida pelos princpios da inteligncia, apoiada pela trplice intuio intelectiva,

    volitiva e emotiva do mundo e da vida: aquela filosofia em suma, que no pretendeforjar e sim descobrir a verdade, reabilitando a razo contra o racionalismo e levando a

    intuio intelectiva da realidade at suas ltimas conseqncias, sem se confinar ao

    matematismo, no qual redundou toda viso racionalista da realidade.

    Valores

    Miguel Reale e o sentido da vida

    POR JOS MAURICIO DE CARVALHO

    Tudo o que o homem concebe s possvel porque ele existe primeiro. Esta experincia

    das manifestaes espontneas naturais do viver comum Husserl cognominou

    Lebenswelt. O mundo do existente resultado de escolhas contnuas e irreversveis que

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    se faz sobre este alicerce. Esta questo formulada por Husserl no final de sua existncia

    aparece como um desafio para Miguel Reale.

    Nosso mundo nico porque o construmos sobre base singular. Alm deste mundo

    vivido, cada qual faz escolhas que tambm o distingue dos demais. A diversidadebiolgica e de temperamento igualmente diferenciam as pessoas. No entanto, o homem

    possui algo que o aproxima dos demais. O que faz dele partcipe de uma humanidade

    comum a capacidade de realizar o seu dever-ser, isto , trazer para a vida pessoal os

    valores da comunidade em que vive.

    Ao componente existencial que a anlise fenomenolgica da vida feita por Reale

    revela soma-se, pois, o dever-ser, uma espcie de comportamento ideal que expressa "a

    conduta desejvel ou exigvel". Esta tese remonta a Emannuel Kant. Osdesdobramentos desta compreenso lhe permitem falar da pessoa como liberdade.

    Como ele explica a liberdade? Ser e dever-ser so considerados, inicialmente, como

    categorias lgicas, espcie de paradigma com o qual cada um pensa a realidade.

    Aristteles, usando a frmula ato e potncia, foi quem primeiro afirmou que o ser segue

    um caminho na direo de sua realizao. Este roteiro diverso quando se trata de uma

    semente de laranja e da vida de um homem, diferenciam os filsofos de hoje. Para

    Reale, o assunto ganha outras implicaes e uma dimenso: intelectual, intuitiva,

    volitiva e imaginativa

    O valor fundamental nas escolhas. Miguel Reale entende que esse um assunto

    inalcanvel pela cincia positiva. O motivo porque a escolha do valor envolve a

    liberdade individual, capacidade que o homem tem de optar na circunstncia em que se

    encontra. Embora seja um problema que a cincia no resolva, ele relevante para o

    funcionamento da vida social. Entendida a forma de conhecer o problema, podemos

    apresentar ento o objeto da tica. Segundo afirma Reale em Introduo Filosofia

    (1989), "o problema do valor da conduta ou do valor da ao, do bem a ser realizado

    constitui captulo do estudo denominado tica" (p. 26).

    Na perspectiva ntica, o valor o "que constitui o ser de certos objetos. Reale afirma

    que existem seres como a justia que s podem ser conhecidos por juzos axiolgicos e,

    finalmente, que h correlao entre valor e ao. H ainda uma dimenso teleolgica

    do valor que pode ser percebida quando se cria uma universidade, por exemplo. O

    propsito dos criadores concretizar valores ligados ao conhecimento, pesquisa e

    dignidade humana. A universidade agrega determinados ideais de nossa cultura.

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    Qual a relevncia dos valores? Sabemos que o filsofo distingue trs tipos de

    objetos: os naturais, os ideais e os valores. Os primeiros so de duas ordens: fsicos ou

    psicolgicos; os ideais tambm se exprimem por dois modos: os matemticos e os

    lgicos, enquanto que o terceiro tipo constitudo autonomamente pelos valores. Por

    que ele separa os valores dos outros objetos, dando ao seu estudo o status de cincia

    autnoma? Reale explica que essa distino foi iniciada por Kant quando ele distinguiu

    Ser e dever ser. Kant empreou os verbos Sein e Sollen para indicar que o homem vive

    duas dimenses diferentes: a primeira, como membro da natureza e submetido s suas

    regras, e a outra, enquanto formulador de um projeto de correo do mundo natural,

    expresso como dever ser. Apesar dessa distino bsica que marcou a evoluo do

    kantismo, ora apresentando-o como reflexo sobre os limites do conhecimento, ora

    como teoria da liberdade, no houve entre os neokantianos o reconhecimento da

    autonomia dos valores, como fez Reale, que justifica tal autonomia estudando a

    evoluo do problema na histria.

    O que Reale destaca nesta histria? No final do sculo XIX, os estudos de tica

    evoluram para afirmar a autonomia dos valores. Quem mais contribuiu para isto foi

    Max Scheler, com sua obra O formalismo na tica e a tica material dos valores, livro

    em que estabelece as bases de uma tica dos valores. Seguindo as indicaes de

    Scheler, entende Reale que cada homem vive orientado por um foco de estimativa que

    organiza, a seu jeito, a hierarquia de valores sociais. H aqueles que do preferncia avalores estticos (os artistas), os que optam por valores econmicos (os empresrios),

    os que se guiam pelos valores religiosos (os santos), os que respondem aos apelos da

    justia (os juristas), etc. Todos estes valores mantm um vnculo com um valor central.

    O que caracteriza os valores? Ao retirar os valores do mundo ideal e lan-los histria,

    Reale assume-os como realidades autnomas, manifestao do dever ser sugerido por

    Kant. A autonomia permite identificar a sua bipolaridade, isto , no se pode falar de

    algo como correto sem compar-lo ao incorreto. A bipolaridade significa a duplaimplicao dos plos opostos. Alm dessas duas caractersticas mencionadas, nosso

    filsofo reconhece outras, hierarquia e graduao, aprendidas de Nicolai Hartmann;

    historicidade e objetividade retiradas do raciovitalismo de Ortega y Gasset e

    inexauribilidade ou reconhecimento de que o valor ganha novas formas no tempo e no

    se realiza perfeitamente nos seres. Esta caracterstica ele acrescenta s anteriores.

    Em resumo, o que ele pensa dos valores? Para Reale, o valor no um ser, no

    espacial, no se realiza fora do tempo e no se resume aos objetos ideais. O valor existeapenas nas coisas, nos seres valiosos. Situa-se na ordem do dever ser; bipolar, alm de

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    implicar outros valores. N

    caractersticas: a referibili

    mostra numa ordem hier

    Se existem muitos valores,podemos dizer que h val

    algum que central dentre

    com o tempo e a circunst

    homem enquanto fonte de

    que habita. Explica o fils

    ou valor fonte, como cond

    chamamos valor da pessoa

    Porque motivo a pesso

    O ser humano tem capacid

    sua vida. A liberdade de es

    a capacidade de perceber

    aprofunda o eixo centr

    sistematizao. Eu sou eu

    mim, diz Ortega. Acresce

    relao com a circunstncisingularidade vem da "au

    em que vive".

    OS FILSOFOS C

    S CRATES

    A Vida

    Quem valorizou a descob

    universais, segundo a via r469 a.C., em Atenas, filho

    o um fato, mas implica avaliao dos fato

    ade, pois se refere a um sujeito; a preferibil

    quica. O valor objetivo, histrico e inexaur

    e se eles constituem hierarquias diferentesres reconhecidos objetivamente como mai

    eles? Miguel Reale entende que sim. H val

    cia, mas para a cultura ocidental, a pessoa

    valor pessoa e como pessoa d signifi- ca

    fo: "H um valor que deve ser reputado val

    o que de todos os demais valores. Trat

    humana".

    o valor fundamental? Por que os demais

    de de saber as razes da sua ao e pode es

    olha, que tem os valores por referncia e co

    os limites nos quais se d o viver. Assim

    l do raciovitalismo de Ortega, que ga

    minha circunstncia e se no mudo ela no

    ta Reale: sendo consciente de que minha

    a, entendo que ela nica. Nas palavras deoconscincia primordial, em funo da cir

    SSICOS DA FILOSOFIA: SCRA

    ARISTTELES

    rta do homem feita pelos sofistas, orienta

    al do pensamento grego, foiScrates. Nascde Sofrnico, escultor, e de Fenreta, par

    21

    s. Ele tem como

    dade, porque se

    vel.

    para as pessoas,relevantes? H

    res que mudam

    o maior valor. O

    o ao mundo em

    or fundamental,

    -se daquele que

    dependem dele.

    olher o rumo da

    scincia de si,

    ensando, Reale

    ha uma nova

    mudo tambm a

    vida ocorre na

    Reale (1989), aunstancialidade

    ES, PLATO,

    do-a para os valores

    u Scrates em 470 oueira. Aprendeu a arte

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    tranqilamente a cicuta, foram: "Devemos um galo a Esculpio". que o deus da medicina

    tinha-o livrado do mal da vida com o dom da morte. Morreu Scrates em 399 a.C. com 71

    anos de idade.

    Mtodo de Scrates

    a parte polmica. Insistindo no perptuo fluxo das coisas e na variabilidade extrema das

    impresses sensitivas determinadas pelos indivduos que de contnuo se transformam,

    concluram os sofistas pela impossibilidade absoluta e objetiva do saber. Scrates

    restabelece-lhe a possibilidade, determinando o verdadeiro objeto da cincia.

    O objeto da cincia no o sensvel, o particular, o indivduo que passa; o inteligvel, o

    conceito que se exprime pela definio. Este conceito ou idia geral obtm-se por um

    processo dialtico por ele chamado induoe que consistem em comparar vrios indivduosda mesma espcie, eliminar-lhes as diferenas individuais, as qualidades mutveis e reter-

    lhes o elemento comum, estvel, permanente, a natureza, a essncia da coisa. Por onde se v

    que a induo socrtica no tem o carter demonstrativo do moderno processo lgico, que vai

    do fenmeno lei, mas um meio de generalizao, que remonta do indivduo noo

    universal.

    Praticamente, na exposio polmica e didtica destas idias, Scrates adotava sempre o

    dilogo, que revestia uma dplice forma, conforme se tratava de um adversrio a confutar ou

    de um discpulo a instruir. No primeiro caso, assumia humildemente a atitude de quem

    aprende e ia multiplicando as perguntas at colher o adversrio presunoso em evidente

    contradio e constrang-lo confisso humilhante de sua ignorncia. a ironiasocrtica.

    No segundo caso, tratando-se de um discpulo (e era muitas vezes o prprio adversrio

    vencido), multiplicava ainda as perguntas, dirigindo-as agora ao fim de obter, por induo

    dos casos particulares e concretos, um conceito, uma definio geral do objeto em questo. A

    este processo pedaggico, em memria da profisso materna, o denominava maiutica ou

    engenhosa obstetrcia do esprito, que facilitava a parturio das idias.

    Doutrinas Filosficas

    A introspeco o caracterstico da filosofia de Scrates. E exprime-se no famoso lema

    conhece-te a ti mesmo- isto , torna-te consciente de tua ignorncia - como sendo o pice

    da sabedoria, que o desejo da cincia mediante a virtude. E alcanava em Scrates

    intensidade e profundidade tais, que se concretizava, se personificava na voz interior divina

    do gnioou demnio.

    Como sabido, Scrates no deixou nada escrito. As notcias que temos de sua vida e de seu

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    pensamento, devemo-las especialmente aos seus dois discpulos Xenofonte e Plato , de

    feio intelectual muito diferente. Xenofonte, autor de Anbase, em seusDitos Memorveis,

    legou-nos de preferncia o aspecto prtico e moral da doutrina do mestre. Xenofonte, de

    estilo simples e harmonioso, mas sem profundidade, no obstante a sua devoo para com o

    mestre e a exatido das notcias, no entendeu o pensamento filosfico de Scrates, sendo

    mais um homem de ao do que um pensador. Plato, pelo contrrio, foi filsofo grande

    demais para nos dar o preciso retrato histrico de Scrates; nem sempre fcil discernir o

    fundo socrtico das especulaes acrescentadas por ele. Seja como for, cabe-lhe a glria e o

    privilgio de ter sido o grande historiador do pensamento de Scrates, bem como o seu

    bigrafo genial. Com efeito, pode-se dizer que Scrates o protagonista de todas as obras

    platnicas embora Plato conhecesse Scrates j com mais de sessenta anos de idade.

    "Conhece-te a ti mesmo" - o lema em que Scrates cifra toda a sua vida de sbio. Operfeito conhecimento do homem o objetivo de todas as suas especulaes e a moral, o

    centro para o qual convergem todas as partes da filosofia. A psicologia serve-lhe de

    prembulo, a teodiceia de estmulo virtude e de natural complemento da tica.

    Em psicologia, Scrates professa a espiritualidade e imortalidade da alma, distingue as duas

    ordens de conhecimento, sensitivoe intelectual, mas no define o livre arbtrio, identificando

    a vontade com a inteligncia.

    Em teodiceia, estabelece a existncia de Deus: a) com o argumento teolgico, formulandoclaramente o princpio: tudo o que adaptado a um fim efeito de uma inteligncia;b) com

    o argumento, apenas esboado, da causa eficiente: se o homem inteligente, tambm

    inteligente deve ser a causa que o produziu; c)com o argumento moral: a lei natural supe

    um ser superior ao homem, um legislador, que a promulgou e sancionou. Deus no s existe,

    mas tambm Providncia, governa o mundo com sabedoria e o homem pode propici-lo

    com sacrifcios e oraes. Apesar destas doutrinas elevadas, Scrates aceita em muitos pontos

    os preconceitos da mitologia corrente que ele aspira reformar.

    Moral. a parte culminante da sua filosofia. Scrates ensina a bem pensar para bem viver. O

    meio nico de alcanar a felicidade ou semelhana com Deus, fim supremo do homem, a

    prtica da virtude. A virtude adquiri-se com a sabedoria ou, antes, com ela se identifica. Esta

    doutrina, uma das mais caractersticas da moral socrtica, conseqncia natural do erro

    psicolgico de no distinguir a vontade da inteligncia. Concluso: grandeza moral e

    penetrao especulativa, virtude e cincia, ignorncia e vcio so sinnimos. "Se msico o

    que sabe msica, pedreiro o que sabe edificar, justo ser o que sabe a justia".

    Scrates reconhece tambm, acima das leis mutveis e escritas, a existncia de uma leinatural - independente do arbtrio humano, universal, fonte primordial de todo direito

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    positivo, expresso da vontade divina promulgada pela voz interna da conscincia.

    Sublime nos lineamentos gerais de sua tica, Scrates, em prtica, sugere quase sempre a

    utilidade como motivo e estmulo da virtude. Esta feio utilitarista empana-lhe a beleza

    moral do sistema.

    Gnosiologia

    O interesse filosfico de Scrates volta-se para o mundo humano, espiritual, com finalidades

    prticas, morais. Como os sofistas, ele ctico a respeito da cosmologia e, em geral, a respeito

    da metafsica; trata-se, porm, de um ceticismo de fato, no de direito, dada a sua revalidao

    da cincia. A nica cincia possvel e til a cincia da prtica, mas dirigida para os valores

    universais, no particulares. Vale dizer que o agir humano - bem como o conhecer humano -

    se baseia em normas objetivas e transcendentes experincia. O fim da filosofia a moral; noentanto, para realizar o prprio fim, mister conhec-lo; para construir uma tica

    necessrio uma teoria; no dizer de Scrates, a gnosiologia deve preceder logicamente a moral.

    Mas, se o fim da filosofia prtico, o prtico depende, por sua vez, totalmente, do teortico,

    no sentido de que o homem tanto opera quanto conhece: virtuoso o sbio, malvado, o

    ignorante. O moralismo socrtico equilibrado pelo mais radical intelectualismo,

    racionalismo, que est contra todo voluntarismo, sentimentalismo, pragmatismo, ativismo.

    A filosofia socrtica, portanto, limita-se gnosiologia e tica, sem metafsica. A gnosiologia

    de Scrates, que se concretizava no seu ensinamento dialgico, donde preciso extra-la,

    pode-se esquematicamente resumir nestes pontos fundamentais: ironia, maiutica,

    introspeco, ignorncia, induo, definio. Antes de tudo, cumpre desembaraar o

    esprito dos conhecimentos errados, dos preconceitos, opinies; este o momento da ironia,

    isto , da crtica. Scrates, de par com os sofistas, ainda que com finalidade diversa,

    reivindica a independncia da autoridade e da tradio, a favor da reflexo livre e da

    convico racional. A seguir ser possvel realizar o conhecimento verdadeiro, a cincia,

    mediante a razo. Isto quer dizer que a instruo no deve consistir na imposio extrnseca

    de uma doutrina ao discente, mas o mestre deve tir-la da mente do discpulo, pela razo

    imanente e constitutiva do esprito humano, a qual um valor universal. a famosa

    maiutica de Scrates, que declara auxiliar os partos do esprito, como sua me auxiliava os

    partos do corpo.

    Esta interioridade do saber, esta intimidade da cincia - que no absolutamente

    subjetivista, mas a certeza objetiva da prpria razo - patenteiam-se no famoso dito

    socrtico "conhece-te a ti mesmo" que, no pensamento de Scrates, significa precisamente

    conscincia racional de si mesmo, para organizar racionalmente a prpria vida. Entretanto,conscincia de si mesmo quer dizer, antes de tudo, conscincia da prpria ignornciainicial

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    e, portanto, necessidade d

    conseguinte, ceticismo sis

    saber, embora o pensame

    uma metafsica, pois, S

    contedo.

    O procedimento lgico p

    antes de tudo, a induo: i

    experincia ao conceito.

    definio, representando o

    essncia da realidade.

    A Moral

    Como Scrates o fundad

    fundador, em particular d

    racionalidade, ao racion

    costume, tradio, lei posi

    subindo at a razo, no d

    que Scrates levava a impo

    identificando conheciment

    livre arbtrio. Entretanto,precisa - afora a teoria ge

    carece de um contedo ra

    bem - realizando-se o be

    Scrates no sabe, nem po

    uma metafsica. Traou, t

    enfim, por Aristteles.

    desenvolvero uma gnosiol

    PLATO

    A Vida e as Obras

    Diversamente de Scrates

    a.C., de pais aristocrticos

    e super-la pela aquisio da cincia. Esta

    temtico, mas apenas metdico, um pod

    to socrtico fique, de fato, no agnosticismo

    rates achou apenas a forma conceptual

    ra realizar o conhecimento verdadeiro, ci

    to , remontar do particular ao universal, d

    ste conceito , depois, determinado prec

    ideal e a concluso do processo gnosiolgic

    r da cincia em geral, mediante a doutrina

    a cincia moral, mediante a doutrina de

    al. Virtude inteligncia, razo, cincia, n

    tiva, opinio comum. Tudo isto tem que s

    scendo at a animalidade - como ensinava

    rtncia da razo para a ao moral at que

    o e virtude - bem como ignorncia e vcio

    como a gnosiologia socrtica carece de umral de que a cincia est nos conceitos - a

    ional, pela ausncia de uma metafsica. Se

    mediante a virtude, e a virtude media

    e precisar este bem, esta felicidade, precisa

    odavia, o itinerrio, que ser percorrido

    Estes dois filsofos, partindo dos pre

    ogia acabada, uma grande metafsica e, logo,

    , que era filho do povo, Plato nasceu em A

    e abastados, de antiga e nobre prospia. Te

    26

    ignorncia no , por

    roso impulso para o

    filosfico por falta de

    a cincia, no o seu

    ntfico, conceptual ,

    a opinio cincia, da

    isamente mediante a

    o socrtico, e nos d a

    do conceito, assim o

    ue eticidade significa

    o sentimento, rotina,

    r criticado, superado,

    os sofistas. sabido

    e intelectualismo que,

    tornava impossvel o

    especificao lgica,ssim a tica socrtica

    fim do homem for o

    te o conhecimento -

    ente porque lhe falta

    or Plato e acabado,

    ssupostos socrticos,

    uma moral.

    tenas, em 428 ou 427

    peramento artstico e

  • 8/13/2019 Apostila de Filosofia 1

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    27

    dialtico - manifestao caracterstica e suma do gnio grego - deu, na mocidade, livre curso

    ao seu talento potico, que o acompanhou durante a vida toda, manifestando-se na expresso

    esttica de seus escritos; entretanto isto prejudicou sem dvida a preciso e a ordem do seu

    pensamento, tanto assim que vrias partes de suas obras no tm verdadeira importncia e

    valor filosfico.

    Aos vinte anos, Plato travou relao com Scrates - mais velho do que ele quarenta anos - e

    gozou por oito anos do ensinamento e da amizade do mestre. Quando discpulo de Scrates e

    ainda depois, Plato estudou tambm os maiores pr-socrticos. Depois da morte do mestre,

    Plato retirou-se com outros socrticos para junto de Euclides, em Mgara.

    Da deu incio a suas viagens, e fez um vasto giro pelo mundo para se instruir (390-388).

    Visitou o Egito, de que admirou a veneranda antigidade e estabilidade poltica; a Itlia

    meridional, onde teve ocasio de travar relaes com os pitagricos (tal contato ser fecundo

    para o desenvolvimento do seu pensamento); a Siclia, onde conheceu Dionsio o Antigo,

    tirano de Siracusa e travou amizade profunda com Dion, cunhado daquele. Cado, porm, na

    desgraa do tirano pela sua fraqueza, foi vendido como escravo. Libertado graas a um

    amigo, voltou a Atenas.

    Em Atenas, pelo ano de 387, Plato fundava a sua clebre escola, que, dos jardins de

    Academo, onde surgiu, tomou o nome famoso de Academia. Adquiriu, perto de Colona,

    povoado da tica, uma herdade, onde levantou um templo s Musas, que se tornoupropriedade coletiva da escola e foi por ela conservada durante quase um milnio, at o

    tempo do imperador Justiniano (529 d.C.).

    Plato, ao contrrio de Scrates, interessou-se vivamente pela poltica e pela filosofia poltica.

    Foi assim que o filsofo, aps a morte de Dionsio o Antigo, voltou duas vezes - em 366 e em

    361 - Dion, esperando poder experimentar o seu ideal poltico e realizar a sua poltica

    utopista. Estas duas viagens polticas a Siracusa, porm, no tiveram melhor xito do que a

    precedente: a primeira viagem terminou com desterro de Dion; na segunda, Plato foi preso

    por Dionsio, e foi libertado por Arquitas e pelos seus amigos, estando, ento, Arquistas no

    governo do poderoso estado de Tarento.

    Voltando para Atenas, Plato dedicou-se inteiramente especulao metafsica, ao ensino

    filosfico e redao de suas obras, atividade que no foi interrompida a no ser pela morte.

    Esta veio operar aquela libertao definitiva do crcere do corpo, da qual a filosofia - como

    lemos no Fdon - no seno uma assdua preparao e realizao no tempo. Morreu o

    grande Plato em 348 ou 347 a.C., com oitenta anos de idade.

    Plato o primeiro filsofo antigo de quem possumos as obras completas. Dos 35 dilogos,

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    porm, que correm sob o seu nome, muitos so apcrifos, outros de autenticidade duvidosa.

    A forma dos escritos platnicos o dilogo, transio espontnea entre o ensinamento oral e

    fragmentrio de Scrates e o mtodo estritamente didtico de Aristteles. No fundador da

    Academia, o mito e a poesia confundem-se muitas vezes com os elementos puramenteracionais do sistema. Faltam-lhe ainda o rigor, a preciso, o mtodo, a terminologia cientfica

    que tanto caracterizam os escritos do sbio estagirita.

    A atividade literria de Plato abrange mais de cinqenta anos da sua vida: desde a morte de

    Scrates , at a sua morte. A parte mais importante da atividade literria de Plato

    representada pelos dilogos - em trs grupos principais, segundo certa ordem cronolgica,

    lgica e formal, que representa a evoluo do pensamento platnico, do socratismo ao

    aristotelismo .

    O Pensamento: A Gnosiologia

    Como j em Scrates, assim em Plato a filosofia tem um fim prtico, moral; a grande

    cincia que resolve o problema da vida. Este fim prtico realiza-se, no entanto,

    intelectualmente, atravs da especulao, do conhecimento da cincia. Mas - diversamente de

    Scrates, que limitava a pesquisa filosfica, conceptual, ao campo antropolgico e moral -

    Plato estende tal indagao ao campo metafsico e cosmolgico, isto , a toda a realidade.

    Este carter ntimo, humano, religioso da filosofia, em Plato tornado especialmente vivo,angustioso, pela viva sensibilidade do filsofo em face do universal vir-a-ser, nascer e perecer

    de todas as coisas; em face do mal, da desordem que se manifesta em especial no homem,

    onde o corpo inimigo do esprito, o sentido se ope ao intelecto, a paixo contrasta com a

    razo. Assim, considera Plato o esprito humano peregrino neste mundo e prisioneiro na

    caverna do corpo. Deve, pois, transpor este mundo e libertar-se do corpo para realizar o seu

    fim, isto , chegar contemplao do inteligvel, para o qual atrado por um amor

    nostlgico, pelo eros platnico.

    Plato como Scrates, parte do conhecimento emprico, sensvel, da opinio do vulgo e dos

    sofistas, para chegar ao conhecimento intelectual, conceptual, universal e imutvel. A

    gnosiologia platnica, porm, tem o carter cientfico, filosfico, que falta a gnosiologia

    socrtica, ainda que as concluses sejam, mais ou menos, idnticas. O conhecimento sensvel

    deve ser superado por outro conhecimento, o conhecimento conceptual, porquanto no

    conhecimento humano, como efetivamente, apresentam-se elementos que no se podem

    explicar mediante a sensao. O conhecimento sensvel, particular, mutvel e relativo, no

    pode explicar o conhecimento intelectual, que tem por sua caracterstica a universalidade, aimutabilidade, o absoluto (do conceito); e ainda menos pode o conhecimento sensvel

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    explicar o dever ser, os valores de beleza, verdade e bondade, que esto efetivamente

    presentes no esprito humano, e se distinguem diametralmente de seus opostos, fealdade,

    erro e mal-posio e distino que o sentido no pode operar por si mesmo.

    Segundo Plato, o conhecimento humano integral fica nitidamente dividido em dois graus: oconhecimento sensvel, particular, mutvel e relativo, e o conhecimento intelectual, universal,

    imutvel, absoluto, que ilumina o primeiro conhecimento, mas que dele no se pode derivar.

    A diferena essencial entre o conhecimento sensvel, a opinio verdadeira e o conhecimento

    intelectual, racional em geral, est nisto: o conhecimento sensvel, embora verdadeiro, no

    sabe que o , donde pode passar indiferentemente o conhecimento diverso, cair no erro sem o

    saber; ao passo que o segundo, alm de ser um conhecimento verdadeiro, sabe que o , no

    podendo de modo algum ser substitudo por um conhecimento diverso, errneo. Poder-se-ia

    tambm dizer que o primeiro sabe que as coisas esto assim, sem saber por que o esto, aopasso que o segundo sabe que as coisas devem estar necessariamente assim como esto,

    precisamente porque cincia, isto , conhecimento das coisas pelas causas.

    Scrates estava convencido, como tambm Plato, de que o saber intelectual transcende, no

    seu valor, o saber sensvel, mas julgava, todavia, poder construir indutivamente o conceito da

    sensao, da opinio; Plato, ao contrrio, no admite que da sensao - particular, mutvel,

    relativa - se possa de algum modo tirar o conceito universal, imutvel, absoluto. E,

    desenvolvendo, exagerando, exasperando a doutrina da maiutica socrtica, diz que os

    conceitos so a priori, inatos no esprito humano, donde tm de ser oportunamente tirados, e

    sustenta que as sensaes correspondentes aos conceitos no lhes constituem a origem, e sim

    a ocasio para faz-los reviver, relembrar conforme a lei da associao.

    Aqui devemos lembrar que Plato, diversamente de Scrates, d ao conhecimento racional,

    conceptual, cientfico, uma base real, um objeto prprio: as idias eternas e universais, que

    so os conceitos, ou alguns conceitos da mente, personalizados. Do mesmo modo, d ao

    conhecimento emprico, sensvel, opinio verdadeira, uma base e um fundamento reais, um

    objeto prprio: as coisas particulares e mutveis, como as concebiam Herclito e os sofistas .Deste mundo material e contingente, portanto, no h cincia, devido sua natureza inferior,

    mas apenas possvel, no mximo, um conhecimento sensvel verdadeiro - opinio

    verdadeira - que precisamente o conhecimento adequado sua natureza inferior. Pode

    haver conhecimento apenas do mundo imaterial e racional das idias pela sua natureza

    superior. Este mundo ideal, racional - no dizer de Plato - transcende inteiramente o mundo

    emprico, material, em que vivemos.

    Teoria das Idias

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    Scrates mostrara no conceito o verdadeiro objeto da cincia. Plato aprofunda-lhe a teoria e

    procura determinar a relao entre o conceito e a realidade fazendo deste problema o ponto

    de partida da sua filosofia.

    A cincia objetiva; ao conhecimento certo deve corresponder a realidade. Ora, de um lado,os nossos conceitos so universais, necessrios, imutveis e eternos (Scrates), do outro, tudo

    no mundo individual, contingente e transitrio (Herclito). Deve, logo, existir, alm do

    fenomenal, outro mundo de realidades, objetivamente dotadas dos mesmos atributos dos

    conceitos subjetivos que as representam. Estas realidades chamam-se Idias. As idias no

    so, pois, no sentido platnico, representaes intelectuais, formas abstratas do pensamento,

    so realidades objetivas, modelos e arqutipos eternos de que as coisas visveis so cpias

    imperfeitas e fugazes. Assim a idia de homem o homem abstrato perfeito e universal de

    que os indivduos humanos so imitaes transitrias e defeituosas.

    Todas as idias existem num mundo separado, o mundo dos inteligveis, situado na esfera

    celeste. A certeza da sua existncia funda-a Plato na necessidade de salvar o valor objetivo

    dos nossos conhecimentos e na importncia de explicar os atributos do ente de Parmnides ,

    sem, com ele, negar a existncia do fieri. Tal a clebre teoria das idias, alma de toda filosofia

    platnica, centro em torno do qual gravita todo o seu sistema.

    A Metafsica - As Idias

    O sistema metafsico de Plato centraliza-se e culmina no mundo divino das idias; e estas se

    contrape a matria obscura e incriada. Entre as idias e a matria esto o Demiurgo e as

    almas, atravs de que desce das idias matria aquilo de racionalidade que nesta matria

    aparece.

    O divino platnico representado pelo mundo das idias e especialmente pela idia do Bem,

    que est no vrtice. A existncia desse mundo ideal seria provada pela necessidade de

    estabelecer uma base ontolgica, um objeto adequado ao conhecimento conceptual. Esse

    conhecimento, alis, se impe ao lado e acima do conhecimento sensvel, para poder explicarverdadeiramente o conhecimento humano na sua efetiva realidade. E, em geral, o mundo

    ideal provado pela necessidade de justificar os valores, o dever ser, de que este nosso

    mundo imperfeito participa e a que aspira.

    Visto serem as idias conceitos personalizados, transferidos da ordem lgica ontolgica,

    tero consequentemente s caractersticas dos prprios conceitos: transcendero a

    experincia, sero universais, imutveis. Alm disso, as idias tero aquela mesma ordem

    lgica dos conceitos, que se obtm mediante a diviso e a classificao, isto , so ordenadasem sistema hierrquico, estando no vrtice idia do Bem, que papel da dialtica (lgica

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    real, ontolgica) esclarecer. Como a multiplicidade dos indivduos unificada nas idias

    respectivas, assim a multiplicidade das idias unificada na idia do Bem. Logo, a idia do

    Bem, no sistema platnico, a realidade suprema, donde dependem todas as demais idias, e

    todos os valores (ticos, lgicos e estticos) que se manifestam no mundo sensvel; o ser

    sem o qual no se explica o vir-a-ser. Portanto, deveria representar o verdadeiro Deus

    platnico. No entanto, para ser verdadeiramente tal, falta-lhe a personalidade e a atividade

    criadora. Desta personalidade e atividade criadora - ou, melhor, ordenadora - , pelo

    contrrio, dotado o Demiurgo o qual, embora superior matria, inferior s idias, de cujo

    modelo se serve para ordenar a matria e transformar o caos em cosmos.

    As Almas

    A alma, assim como o Demiurgo, desempenha papel de mediador entre as idias e a matria,

    qual comunica o movimento e a vida, a ordem e a harmonia, em dependncia de uma ao

    do Demiurgo sobre a alma. Assim, deveria ser, tanto no homem como nos outros seres,

    porquanto Plato um pampsiquista, quer dizer, anima toda a realidade. Ele, todavia, d

    alma humana um lugar e um tratamento parte, de superioridade, em vista dos seus

    impelentes interesses morais e ascticos, religiosos e msticos. Assim que considera ele a

    alma humana como um ser eterno (coeterno s idias, ao Demiurgo e matria), de natureza

    espiritual, inteligvel, cado no mundo material como que por uma espcie de queda original,

    de um mal radical. Deve portanto, a alma humana, libertar-se do corpo, como de um crcere;

    esta libertao, durante a vida terrena, comea e progride mediante a filosofia, que

    separao espiritual da alma do corpo, e se realiza com a morte, separando-se, ento, na

    realidade, a alma do corpo.

    A faculdade principal, essencial da alma a de conhecer o mundo ideal, transcendental:

    contemplao em que se realiza a natureza humana, e da qual depende totalmente a ao

    moral. Entretanto, sendo que a alma racional , de fato, unida a um corpo, dotado de

    atividade sensitiva e vegetativa, deve existir um princpio de uma e outra. Segundo Plato,

    tais funes seriam desempenhadas por outras duas almas - ou partes da alma: a irascvel(mpeto), que residiria no peito, e a concupiscvel (apetite), que residiria no abdome - assim

    como a alma racional residiria na cabea. Naturalmente a alma sensitiva e a vegetativa so

    subordinadas alma racional.

    Logo, segundo Plato, a unio da alma espiritual com o corpo extrnseca, at violenta. A

    alma no encontra no corpo o seu complemento, o seu instrumento adequado. Mas a alma

    est no corpo como num crcere, o intelecto impedido pelo sentido da viso das idias, que

    devem ser trabalhosamente relembradas. E diga-se o mesmo da vontade a respeito das

    tendncias. E, apenas mediante uma disciplina asctica do corpo, que o mortifica

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    inteiramente, e mediante a

    o homem realiza a sua ver

    O Mundo

    O mundo material, o cosm

    e a matria. O Demiurg

    introduzindo no caos a al

    o ser (idia) e o no-ser (

    sensvel est entre o sabe

    pampsiquista platnica, h

    alma, dependentes e inferi

    O dualismo dos elementosordem e da desordem, do

    bondade, beleza - depen

    experincia. Da matria -

    depende, ao contrrio, tud

    Consoante a astronomia p

    no centro, em forma de es

    esferas ou anis rodantes,

    deles.

    No seu conjunto, o mund

    no no sentido do progres

    ano do mundo, tudo reco

    conexa ao clssico dualism

    ARISTTELES

    A Vida e as Obras

    Este grande filsofo grego,

    morte libertadora, que desvencilha para se

    adeira natureza: a contemplao intuitiva d

    s platnico, resulta da sntese de dois princ

    o plasma o caos da matria no model

    a, princpio de movimento e de ordem. O

    matria), e o devir ordenado, como o ad

    e o no-saber, e a opinio verdadeira. C

    veria, antes de tudo, uma alma do mund

    res, a saber, as almas dos astros, dos homen

    constitutivos do mundo material resulta dbem e do mal, que aparecem no mundo. D

    de tudo quanto h de positivo, de raci

    indeterminada, informe, mutvel, irracion

    que h de negativo na experincia.

    atnica, o mundo, o universo sensvel, so

    fera e, ao redor, os astros, as estrelas e os

    transparentes, explicando-se deste modo

    fsico percorre uma grande evoluo, um

    o, mas no da decadncia, terminados os q

    mea de novo. a clssica concepo gre

    grego, que domina tambm a grande conce

    filho de Nicmaco, mdico de Amintas, rei

    32

    pre a alma do corpo,

    mundo ideal.

    pios opostos, as idias

    das idias eternas,

    undo, pois, est entre

    equado conhecimento

    nforme a cosmologia

    e, depois, partes da

    s, etc.

    ser e do no-ser, daa idia - ser, verdade,

    nal no vir-a-ser da

    al, passiva, espacial -

    esfricos. A terra est

    lanetas, cravados em

    o movimento circular

    ciclo de dez mil anos,

    ais, chegado o grande

    ga do eterno retorno,

    po platnica.

    da Macednia, nasceu

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    33

    em Estagira, colnia grega da Trcia, no litoral setentrional do mar Egeu, em 384 a.C. Aos

    dezoito anos, em 367, foi para Atenas e ingressou na academia platnica, onde ficou por vinte

    anos, at a morte do Mestre. Nesse perodo estudou tambm os filsofos pr-platnicos, que

    lhe foram teis na construo do seu grande sistema.

    Em 343 foi convidado pelo Rei Filipe para a corte de Macednia, como preceptor do Prncipe

    Alexandre, ento jovem de treze anos. A ficou trs anos, at a famosa expedio asitica,

    conseguindo um xito na sua misso educativo-poltica, que Plato no conseguiu, por certo,

    em Siracusa. De volta a Atenas, em 335, treze anos depois da morte de Plato, Aristteles

    fundava, perto do templo de Apolo Lcio, a sua escola. Da o nome de Liceu dado sua escola,

    tambm chamada peripattica devido ao costume de dar lies, em amena palestra,

    passeando nos umbrosos caminhos do ginsio de Apolo. Esta escola seria a grande rival e a

    verdadeira herdeira da velha e gloriosa academia platnica. Morto Alexandre em 323, desfez-se politicamente o seu grande imprio e despertaram-se em Atenas os desejos de

    independncia, estourando uma reao nacional, chefiada por Demstenes. Aristteles,

    malvisto pelos atenienses, foi acusado de atesmo. Preveniu ele a condenao, retirando-se

    voluntariamente para Eubia, Aristteles faleceu, aps enfermidade, no ano seguinte, no

    vero de 322. Tinha pouco mais de 60 anos de idade. A respeito do carter de Aristteles,

    inteiramente recolhido na elaborao crtica do seu sistema filosfico, sem se deixar distrair

    por motivos prticos ou sentimentais, temos naturalmente muito menos a revelar do que em

    torno do carter de Plato, em que, ao contrrio, os motivos polticos, ticos, estticos emsticos tiveram grande influncia. Do diferente carter dos dois filsofos, dependem

    tambm as vicissitudes exteriores das duas vidas, mais uniforme e linear a de Aristteles,

    variada e romanesca a de Plato. Aristteles foi essencialmente um homem de cultura, de

    estudo, de pesquisas, de pensamento, que se foi isolando da vida prtica, social e poltica,

    para se dedicar investigao cientfica. A atividade literria de Aristteles foi vasta e

    intensa, como a sua cultura e seu gnio universal. "Assimilou Aristteles escreve

    magistralmente Leonel Franca todos os conhecimentos anteriores e acrescentou-lhes o

    trabalho prprio, fruto de muita observao e de profundas meditaes. Escreveu sobre todasas cincias, constituindo algumas desde os primeiros fundamentos, organizando outras em

    corpo coerente de doutrinas e sobre todas espalhando as luzes de sua admirvel inteligncia.

    No lhe faltou nenhum dos dotes e requisitos que constituem o verdadeiro filsofo:

    profundidade e firmeza de inteligncia, agudeza de penetrao, vigor de raciocnio, poder

    admirvel de sntese, faculdade de criao e inveno aliados a uma vasta erudio histrica e

    universalidade de conhecimentos cientficos. O grande estagirita explorou o mundo do

    pensamento em todas as suas direes. Pelo elenco dos principais escritos que dele ainda nos

    restam, poder-se- avaliar a sua prodigiosa atividade literria". A primeira edio completa

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    34

    das obras de Aristteles a de Andrnico de Rodes pela metade do ltimo sculo a.C.

    substancialmente autntica, salvo uns apcrifos e umas interpolaes. Aqui classificamos as

    obras doutrinais de Aristteles do modo seguinte, tendo presente a edio de Andronico de

    Rodes.

    I. Escritos lgicos: cujo conjunto foi denominado rganon mais tarde, no por Aristteles. O

    nome, entretanto, corresponde muito bem inteno do autor, que considerava a lgica

    instrumento da cincia.

    II. Escritos sobre a fsica: abrangendo a hodierna cosmologia e a antropologia, e pertencentes

    filosofia teortica, juntamente com a metafsica.

    III. Escritos metafsicos: a Metafsica famosa, em catorze livros. uma compilao feita

    depois da morte de Aristteles mediante seus apontamentos manuscritos, referentes metafsica geral e teologia. O nome de metafsica devido ao lugar que ela ocupa na coleo

    de Andrnico, que a colocou depois da fsica.

    IV. Escritos morais e polticos: a tica a Nicmaco, em dez livros, provavelmente publicada

    por Nicmaco, seu filho, ao qual dedicada; a tica a Eudemo, inacabada, refazimento da

    tica de Aristteles, devido a Eudemo; a Grande tica, compndio das duas precedentes, em

    especial da segunda; a Poltica, em oito livros, incompleta.

    V. Escritos retricos e poticos: a Retrica, em trs livros; a Potica, em dois livros, que, noseu estado atual, apenas uma parte da obra de Aristteles. As obras de Aristteles as

    doutrinas que nos restam - manifestam um grande rigor cientfico, sem enfeites mticos ou

    poticos, exposio e expresso breve e aguda, clara e ordenada, perfeio maravilhosa da

    terminologia filosfica, de que foi ele o criador.

    O Pensamento: A Gnosiologia

    Segundo Aristteles, a filosofia essencialmente teortica: deve decifrar o enigma do

    universo, em face do qual a atitude inicial do esprito o assombro do mistrio. O seuproblema fundamental o problema do ser, no o problema da vida. O objeto prprio da

    filosofia, em que est a soluo do seu problema, so as essncias imutveis e a razo ltima

    das coisas, isto , o universal e o necessrio, as formas e suas relaes. Entretanto, as formas

    so imanentes na experincia, nos indivduos, de que constituem a essncia. A filosofia

    aristotlica , portanto, conceitual como a de Plato mas parte da experincia; dedutiva,

    mas o ponto de partida da deduo tirado - mediante o intelecto da experincia. A teortica,

    por sua vez, divide-se em fsica, matemtica e filosofia primeira (metafsica e teologia); a

    filosofia prtica divide-se em tica e poltica; a potica em esttica e tcnica. Aristteles o

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