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APOSTILA DE FILOSOFIA 7º ANO – ENSINO FUNDAMENTAL 3º TRIMESTRE 2020

APOSTILA DE FILOSOFIA - Centro Educacional · 2020. 8. 25. · 2020 – APOSTILA – 7º ANO – 3º TRIMESTRE 1 UNIDADE 02- A ESCOLÁSTICA E TOMÁS DE AQUINO CAPÍTULO 5 A FILOSOFIA

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APOSTILA DE FILOSOFIA

7º ANO – ENSINO FUNDAMENTAL 3º TRIMESTRE

2020

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2020 – APOSTILA – 7º ANO – 3º TRIMESTRE

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UNIDADE 02- A ESCOLÁSTICA E TOMÁS DE AQUINO

CAPÍTULO 5

A FILOSOFIA CRISTÃ NA ESCOLÁSTICA

Você sabe por que vai à escola? Talvez a primeira resposta possível é que, como todo mundo, você vai à escola para aprender. Na escola, existe um conjunto organizado de disciplinas e conteúdos que é estudado ao longo dos anos e contribui para nossa formação. Agora, por exemplo, você está cursando o ensino fundamental e em breve estará no ensino médio. Esperamos que faça também uma faculdade e tenha a profissão ou ocupação que desejar. Antes de tudo, torcemos para que seja uma pessoa feliz. Afinal, ser feliz é o que todos desejam, não é?

Você sabia que as ideias de que o ensino é responsabilidade do Estado e de que todos têm direito à educação são relativamente novas? Elas se propagaram nos séculos XVII e XVIII e se consolidaram no século XIX. Hoje, as sociedades modernas democráticas exigem um sistema educacional voltado para todos os cidadãos. Mas nem sempre foi assim. Na Europa, durante a chamada Baixa Idade Média (entre os séculos XI e XV), as iniciativas educacionais mais importantes foram desenvolvidas pela Igreja.

As primeiras escolas cristãs foram organizadas no interior das igrejas e das catedrais. Elas tinham como objetivo principal formar e educar padres aspirantes à vida religiosa. Nessas escolas, eram ensinados conteúdos como gramática, lógica, retórica, geometria, aritmética, astronomia, música e, claro, os princípios da Bíblia e do cristianismo. Lá, a filosofia ensinada ficou conhecida como Escolástica, e os professores e teólogos, como escolásticos.

Trocando Ideias

Imagine as diferentes matérias que as pessoas podem aprender na escola, seja na Índia, seja na China, seja em qualquer outro lugar do mundo. Quais delas você gostaria de ter em sua escola?

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AS PRIMEIRAS UNIVERSIDADES

O ensino nas escolas cristãs contribuiu para a continuidade das reflexões filosóficas despertados pela

Patrística. Além disso, muitas dessas escolas deram origem às primeiras universidades europeias, fundamentais

para o desenvolvimento cultural do continente.

As universidades europeias mais antigas foram fundadas entre os séculos XI e XII, principalmente ao redor

das escolas da Igreja, como as universidades de Bolonha (1088), na Itália; de Oxford (1096), na Inglaterra; e de

Paris (1170), na França. Posteriormente, surgiram as universidades de Pádua (1222), na Itália, e de Colônia

(1388), na Alemanha.

FILOSOFIA

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2020 - APOSTILA – 7º ANO – 3º TRIMESTRE

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A organização e a função dessas instituições eram muito diferentes do que se observa nas universidades atuais. As de hoje têm como objetivo o estudo, a produção e a transmissão do conhecimento científico. As universidades religiosas da Idade Média tinham como objetivo a formação de padres e teólogos capacitados a defender a mensagem das Escrituras Sagradas.

INSTRUMENTO DE COMPREENSÃO DA VERDADE

Como aconteceu com a Patrística, a filosofia da Escolástica não foi uma investigação racional completamente independente. Ela estava subordinada à tradição religiosa, que determinava o conteúdo a ser investigado. Para o cristianismo, a verdade divina já havia sido revelada ao homem e estava escrita na Bíblia. A filosofia, portanto, seria um instrumento utilizado para aproximar os homens dessa verdade, para que eles pudessem compreendê-la melhor.

Assim, os investigadores da Escolástica buscaram compreender e justificar as crenças do cristianismo. A ideia era colocar a razão a serviço da fé.

AS POLÊMICAS DA ESCOLÁSTICA

Você viu na unidade anterior que a Patrística introduziu muitas discussões polêmicas sobre as interpretações da Bíblia, a importância da verdade revelada na mensagem de Cristo e a relação entre a filosofia cristã e a filosofia grega. A Patrística foi muito importante para o cristianismo, pois fundamentou teoricamente os princípios dessa religião, desenvolvendo uma filosofia própria. Essa filosofia procurava apoiar, com argumentos racionais, a verdade revelada nas escrituras e estava a serviço da fé.

A Escolástica, do final do século XI ao início do século XV, deu continuidade à filosofia cristã e elaborou diferentes argumentos na defesa da fé, além de desenvolver grandes polêmicas. Os escolásticos discutiam entre si a respeito de diversos assuntos religiosos e filosóficos. Duas polêmicas ficaram conhecidas nesse período: uma delas envolvendo dialéticos e antidialéticos; a outra opondo realistas e nominalistas.

DIALÉTICOS x ANTIDIALÉTICOS

Imagine que você tenha decidido viajar durante as férias para uma cidade de outro país da América Latina.

Você sabe onde quer chegar, mas ainda não descobriu qual é o melhor caminho e qual é o meio de transporte

mais adequado para chegar a seu destino. Você então começa a investigar quais são as rotas e os

transportes viáveis.

Os escolásticos faziam uma investigação semelhante a essa. Para eles, a verdade que todos procuravam

tinha sido revelado por Deus nas Escrituras Sagradas (esse era o destino certo). Sabendo disso, indagavam-se:

qual é o melhor caminho para o ser humano compreender e justificar as crenças da fé?

Alguns escolásticos diziam que o caminho a ser seguido era o da razão e o da argumentação lógica,

chamada de dialética. Outros afirmavam que a fé era suficiente e negavam a necessidade de argumentos lógicos

para defender a doutrina cristã. Os primeiros ficaram conhecidos como dialéticos, e os segundos,

como antidialéticos.

Dialética: processo de raciocínio, ou atividade racional, que leva a distinção entre o verdadeiro e o falso. Doutrina: conjunto de ideias básicas contidas no sistema filosófico, político, religioso, econômico etc.

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REALISTAS x NOMINALISTAS

Você se lembra da teoria das formas, de Platão? De acordo com essa teoria, as formas ideais teriam mais realidade do que os seres materiais que podemos ver e tocar. Para o filósofo, os seres visíveis eram cópias imperfeitas das formas existentes no mundo inteligível.

Na Idade Média, essa ideia de Platão foi retomada por pensadores conhecidos posteriormente como realistas. Esses pensadores defendiam que os conceitos gerais (ou universais), como “animal” e “humano”, existiriam independentemente das coisas particulares, isto é, daquelas que são visíveis. Quer dizer, o conceito “humano” teria realidade independente dos seres humanos visíveis (por exemplo: Beatriz, Juliano, Isabela, Lucas, você e seu colega do lado); o conceito “animal” teria realidade independente dos animais visíveis, como o seu animal de estimação, determinado tigre, pardal ou qualquer peixe.

Isso quer dizer que, para os realistas, se todos os animais da Terra morressem, os conceitos universais “humano” e “animal” continuariam existindo.

Outros pensadores da Idade Média, posteriormente chamados de nominalistas, discordaram das ideias dos realistas. Para os nominalistas, os conceitos universais seriam apenas palavras criadas para representar as coisas ou seres, ou seja, seriam apenas nomes. Assim conceitos como “humano” e “animais” só existiriam na mente ou na alma dos homens. Esses nomes não teriam realidade fora do pensamento.

Acompanhe neste trecho da animação Waking life (2002) uma reflexão sobre as palavras e sua função simbólica.

CONHEÇA UM POUCO MAIS

O SENTIDO DE REALISMO ALÉM DO USO COTIDIANO

Nós, atualmente, usamos o termo realidade e seus derivados, por exemplo, realismo, com um sentido

diferente do que tinham para a Escolástica. No cotidiano, esses termos são usados para designar tudo o que ocupa lugar em determinado espaço e existe em determinado tempo. A realidade é tudo aquilo que está ao nosso redor e podemos ver, tocar, ouvir, cheirar ou saborear. Por exemplo, uma maçã real é aquela que pode ser percebida por meio dos sentidos e que é possível comer.

Na Escolástica, realista era o pensador que defendia que os conceitos ou ideias gerais têm realidade em si mesmos, isto é, não dependem do intelecto humano para existir. Assim, mesmo que a humanidade deixasse de existir, esses conceitos ou ideias gerais sobreviveriam ao desaparecimento do homem. Os realistas argumentavam, ainda, que essa realidade seria pelo menos inteligível, ou seja, poderia ser percebida pela mente humana, mesmo que não fosse vista ou tocada.

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ATIVIDADES 1. Sobre a Escolástica e as universidades da Idade Média, é correto afirmar que: a) A Escolástica era a filosofia ensinada na Idade Moderna. b) A Escolástica era um termo empregado para o ensino escolar. c) As primeiras universidades europeias surgiram a partir das escolas cristãs. d) As primeiras universidades europeias mantêm as mesmas características na atualidade. 2. De acordo com as afirmações a seguir, escreva (D) para dialético e (A) para antidialético.

( ) A ciência e a argumentação racional são prejudiciais a fé. ( ) No estudo das coisas divinas, devem ser aceitas as conclusões formuladas pelo raciocínio. ( ) A ciência e a argumentação racional favorecem a compreensão das crenças da fé. ( ) O ser humano precisa apenas da verdade revelada na Bíblia para obter a salvação, pois as especulações

filosóficas são desnecessárias. 3. Comente como os realistas e os nominalistas responderiam a seguinte questão: os conceitos gerais ou

universais são realidades independentes do ser humano ou são simples pensamentos?

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4. Leia o trecho abaixo e identifique a principal diferença entre a filosofia grega antiga (pagã) e a filosofia cristã.

“Com efeito, há certas proposições que toda a filosofia cristã rejeita de antemão, por contradizerem a verdade

revelada. A fé traça à razão certos limites de caráter inviolável.” BOEHNER, Philotheus; GILSON, Étienne. História da filosofia cristã. 6 ed. Petrópolis: Vozes, 1995. p. 10.

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5. Relacione a pergunta do personagem da tirinha à subordinação do conhecimento à fé na Escolástica.

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6. Redija um breve texto em seu caderno sobre as principais ideias da Escolástica estudadas neste capítulo.

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CAPÍTULO 6

TOMÁS DE AQUINO

POR QUE EXISTEM TANTAS DIFICULDADES EM NOSSA VIDA?

"No meio do caminho tinha uma pedra

Tinha uma pedra no meio do caminho

Tinha uma pedra

No meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento

Na vida de minhas retinas tão fatigadas.” Carlos Drummond de Andrade

Esse poema de Carlos Drummond de Andrade sugere muitas interpretações. Podemos tratá-lo como uma

metáfora sobre a nossa vida. Ou seja, é como se o poema representasse as situações de nossa existência. A vida

(caminho) estaria cheia de obstáculos (pedras). Mas quem, afinal, colocou "pedras" em nosso caminho? A vida é

uma desordem, um caos sem explicação ou a uma ordem divina, uma razão para as coisas serem como são?

Neste capítulo estudaremos a Escolástica e Tomás de Aquino, que buscou provar a existência de Deus

utilizando argumentos racionais.

Começando o capítulo

1. Qual é a sua impressão a respeito do poema? Você gostou dele? Por quê?

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2. Em sua opinião, que sentido a palavra "pedra" adquiriu nesse poema?

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3. Por que o verso “tinha uma pedra no meio do caminho” é repetido várias vezes? Justifique.

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4. Por que as coisas materiais podem nos fazer pensar em coisas e materiais (metafísicas)? Explique.

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A RETOMADA DE ARISTÓTELES PELOS ESCOLÁSTICOS

O auge do pensamento escolástico ocorreu durante a Baixa Idade Média, período da história europeia

situado entre os séculos XI e XV. No início desse período, filósofos árabes e judeus traduziram para o latim muitas

obras gregas e árabes. Professores e mestres das universidades tiveram acesso a autores de diversas áreas

de estudo.Foi dessa maneira que os escolásticos entraram em contato com as principais obras de Aristóteles e de

pensadores árabes e judeus que estudavam o aristotelismo. Esse período da Escolástica foi marcado pela

redescoberta do pensamento aristotélico, pelo fortalecimento do pensamento racional e pelo desenvolvimento de

estudos acerca da natureza.

Nas universidades, essa retomada do pensamento de Aristóteles estimulou a discussão sobre a relação entre

fé e razão (entre a filosofia cristã e a filosofia pagã). A filosofia de Tomás de Aquino assumiu um importante papel

nessa polêmica, pois estabeleceu a unidade entre a filosofia de Aristóteles e a filosofia cristã.

RESISTÊNCIA E ACEITAÇÃO DA FILOSOFIA ARISTOTÉLICA

No início, quando os escolásticos leram as obras de Aristóteles, houve muita resistência ao pensamento

aristotélico, pois havia um conjunto de ideias e conceitos nessa filosofia que entrava em choque com os princípios

do cristianismo. Depois, com o estudo e o trabalho reflexivo de alguns pensadores cristãos, aos poucos algumas

ideias de Aristóteles foram sendo aceitas, até que se encontrou um relativo equilíbrio entre o aristotelismo e

o cristianismo.

Para Aristóteles, todo movimento presente na natureza tinha uma causa. Essa ideia o levou a pensar em qual

seria a primeira causa de todo movimento do Universo. Imagine que uma bola de bilhar branca se choque com

uma bola azul e faça com que ela se desloque. A bola azul, por sua vez, bate em uma amarela, que também entra

em movimento. Assim se estabelece uma sequência de causas e efeitos. Se fôssemos investigar a origem do

movimento da bola amarela, notaríamos que a azul foi sua causa e, por sua vez, a causa do movimento da bola

azul foi a branca. Identificamos, então, a primeira bola que foi a causa da sequência de movimentos.

Mas provavelmente você está se perguntando: “Qual foi a causa do movimento da bola branca?”. Aristóteles

seguiu esse mesmo raciocínio. No Universo, há movimento. Todo movimento tem uma causa. Então, qual seria a

primeira causa do movimento de todo o Universo? Aristóteles chamou essa primeira causa de Motor Imóvel. Para

o filósofo, o Motor era a primeira causa de todo movimento no Universo. Ele era imóvel, porque o movimento teria

surgido com ele, isto é, esse motor provocava movimento em outros seres, mas não se mexia.

O MOTOR IMÓVEL

O Motor Imóvel seria um princípio eterno, fixo, inalterável, invisível e que sempre teria existido. Aristóteles

também chamou esse princípio de Deus. Perceba que a ideia do filósofo a respeito do Motor Imóvel se

aproximava da ideia que o cristianismo tem a respeito do divino. Para os cristãos, Deus também é imaterial, eterno

e sempre teria existido. No entanto, para Aristóteles, diferentemente do pensamento cristão, existiriam outras

divindades eternas, e o mundo, a alma e o homem não teriam sido criados por Deus. Além disso, também em

oposição ao cristianismo, o Deus aristotélico não poderia amar a humanidade, pois somente a perfeição seria alvo

de sua atenção - e o homem é um ser imperfeito.

Com tantas divergências entre o pensamento aristotélico e a religião cristã, era natural que existissem

polêmicas e resistências entre os teólogos e os filósofos cristãos. Entretanto, essas resistências não impediram

que Aristóteles, com o tempo, fosse aceito pela Igreja e acabasse sendo considerado por muitos escolásticos

como “o grande filósofo”.

Trocando Ideias Quando falamos em motor imóvel, o que você imagina a princípio?

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TOMÁS DE AQUINO: PROVAS DA EXISTÊNCIA DE DEUS

O teólogo e filósofo Tomás de Aquino foi original ao criar um sistema filosófico que unia aristotelismo e cristianismo, tornando-se um dos principais pensadores da Idade Média. Essa união contribuiu para que Tomás de Aquino refletisse sobre as provas da existência de Deus.

Qual é o primeiro princípio de todo pensador cristão? A resposta a essa pergunta é fácil: a existência de Deus. Todo cristão acredita na existência de um ser superior, eterno, imutável, perfeito e responsável por tudo o que existe. Quer dizer, as pedras de nosso caminho ou as dificuldades de nossa vida, relembrando o poema de abertura do capítulo, não são por acaso, pois há um ser que guia os acontecimentos no mundo.

Tomás de Aquino, além de ter fé na existência divina, defendia a ideia de que argumentos racionais poderiam provar a existência de Deus. Com essa finalidade, o filósofo cristão elaborou cinco argumentos que ficaram conhecidos pelos estudiosos. A seguir vamos ver um deles.

Deus: o imutável que move

A primeira prova da existência elaborada por Tomás de Aquino teve como base um argumento que já havia sido desenvolvido por Aristóteles, quando o filósofo grego defendia a existência de um motor imóvel. Essa prova pode ser resumida da seguinte maneira:

1) Algumas coisas presentes na natureza se movem ou se transformam.

2) Todo ser que se move é movido por outro (como uma bola de sinuca é movida por um bastão).

3) Assim, um ser que move outro, por sua vez, também é movido por um terceiro ser (pense, por exemplo,

que o bastão responsável por mover a bola de sinuca é movido por uma mão).

4) Não é possível retroceder aos movimentos infinitamente, porque se isso fosse feito não haveria o

primeiro movimento, que é a causa do segundo; e, portanto, não haveria o segundo movimento, que é

causa do terceiro; e assim por diante. Em outras palavras, não haveria movimento algum. Porém, a

ausência de movimento no mundo é impossível, pois verifica-se que as coisas e os seres se movem.

5) Então, se em pensamento retrocedermos de causa em causa, teríamos de chegar à primeira causa do

primeiro movimento.

6) A primeira causa do primeiro movimento teria de ser imóvel, porque, se ela se movesse, haveria uma

causa anterior.

7) Essa primeira causa, ou primeiro motor, que não é movido por nenhum outro, é Deus.

Para Tomás de Aquino, esse argumento comprova a existência divina. Observe que o filósofo partiu de uma observação por meio dos sentidos (no caso, a visão), que lhe permitiu constatar a existência de movimento na natureza. Em seguida, desenvolveu um raciocínio que o levou a concluir que existe um ser responsável pelo primeiro movimento no Universo, Deus. Desse modo, ao observar a natureza e investigá-la racionalmente, os homens poderiam chegar ao entendimento de que Deus existe.

AS VERDADES DA FÉ E AS VERDADES DA RAZÃO

Como você deve ter percebido, o argumento da existência de Deus proposto por Tomás de Aquino mostra a importância que a relação entre fé e razão tinha para ele.

A teologia é a ciência do sobrenatural, ou seja, trata das verdades que são necessárias para a salvação do ser humano e dos mistérios que não podem ser alcançados por meio da razão. A filosofia é a ciência do natural, que investiga racionalmente as coisas da natureza.

Assim, para desenvolver suas investigações, o teólogo sempre partia de Deus e das revelações divinas. Já o filósofo parte das coisas da natureza e, utilizando a razão, chegava à compreensão da existência de Deus. O caminho do teólogo partia de Deus em direção às criaturas naturais. O caminho do filósofo, inversamente, parte das criaturas naturais em direção a Deus.

“Tendo por objeto o estudo das criaturas em si mesmas, a filosofia não chega ao conhecimento de Deus senão a partir delas [das criaturas]. A filosofia começa pelas criaturas e termina em Deus. A teologia segue o caminho inverso, considerando as criaturas exclusivamente em sua relação para com Deus; parte de Deus e desce até as criaturas.”

AQUINO, Tomás de. In: BOEHNER, Philotheus; GILSON, Étienne. História da filosofia cristã. 6 ed. Petrópolis: Vozes, 1995. p. 451.

Assim, para Tomás de Aquino, não havia choque entre filosofia e teologia. As verdades da razão e as

verdades da fé seriam complementares, embora estas fossem mais perfeitas, pois revelam ao ser humano

saberes que ele nunca conseguiria alcançar sozinho pelo uso da razão. O conhecimento das coisas naturais

desenvolvido pela filosofia poderia levar as pessoas a perceber a sabedoria de Deus e a ter admiração e amor

pelo ser divino. É desse modo que a filosofia contribuiria para o fortalecimento da fé e da revelação.

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O BEM E O CAMINHO PARA DEUS

Para Tomás de Aquino, toda criatura é obra de Deus e, portanto, está direcionada naturalmente para o

criador. Dito de outro modo, todos os seres procuram o bem supremo, que é Deus. No entanto, a vontade do ser

humano é livre (livre-arbítrio), o que significa que ele pode, por meio de seus pensamentos e suas ações, afastar-

se de Deus, tomando o caminho do vício e do pecado.

ATIVIDADES

1. A Escolástica foi marcada pela redescoberta de Aristóteles e pela assimilação e adaptação de seu

pensamento. No entanto, antes de isso acontecer, houve muitas resistências entre os teólogos e os filósofos

cristãos. Isso aconteceu porque:

a) os teólogos cristãos tinham receio de que a autoridade de Aristóteles se sobrepusesse sobre à autoridade

de Cristo.

b) a filosofia aristotélica continha algumas ideias e noções que se contrapunham as crenças cristãs.

c) a filosofia aristotélica no início não foi adequadamente compreendida por causa das péssimas traduções

feitas do árabe e do grego para o latim.

d) os teólogos cristãos acreditavam que a filosofia aristotélica já havia sido assimilada pela filosofia cristã.

2. Com qual dos personagens da tirinha abaixo, Agostinho ou Boécio, o pensamento de Tomás de Aquino está

mais de acordo? Justifique.

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3. Neste capítulo, você entrou em contato com o argumento de Tomás de Aquino sobre a existência de Deus,

designado como “primeira prova”. Agora, leia a seguir uma síntese sobre a “segunda prova” e faça as

atividades. Antes, relembre o conceito de causa eficiente de Aristóteles: é aquela que produz ou gera algo,

que molda a matéria; assim, por exemplo, um escultor é a causa eficiente de uma escultura.

I. Na natureza, há uma certa ordem de causas eficientes de coisas sensíveis. (A primeira é a causa da

segunda, a segunda é a causa da terceira, e assim por diante.)

II. A causa eficiente de algo é anterior a esse algo. (Se os pais são a causa eficiente dos filhos, então, os pais

são anteriores aos filhos; o inverso é impossível.)

III. Não é possível retroceder as causas infinitamente. (Nesse caso, não haveria uma causa primeira, nem,

portanto, o seu efeito, a causa segunda; não havendo a causa segunda, não haveria seu efeito, a terceira

causa, e assim sucessivamente. Nada existiria.)

IV. Por esses motivos, seria necessário admitir a existência de uma causa primeira que não tenha sido causada,

a qual chamamos “Deus”.

a) Explique o terceiro ponto do argumento.

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b) Compare os argumentos da primeira e da segunda provas.

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c) Em sua opinião, esse argumento é consistente? Justifique.

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4. Redija um breve texto em seu caderno sobre os principais aspectos da Escolástica e sobre as ideias de

Tomás de Aquino, estudadas neste capítulo.

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CAPÍTULO 7

A MUDANÇA DE MENTALIDADE

COMO É SER HUMANA?

Sou humana. Não bato asas como um bem-te-vi nem tenho o som estridente da cigarra. Não nado tão bem quanto um peixe nem corro como um guepardo. Não pulo como um canguru nem tenho a graça de uma borboleta. Não tenho a força de um tigre nem faço buracos como o tatu. Não tenho a majestade de um leão nem a destreza de um sagui. Meus olhos não veem longe como os da águia. Não me imponho como um elefante nem rastejo como uma serpente.

Mas, se chamam o meu testemunho, sou capaz de proezas, pois trato todas as coisas pela inteligência, dando vida as minhas ideias e significado ao que aprendo por meio dos sentidos. Sou livre como nenhum outro ser, porque a liberdade é agir de acordo com a própria vontade e o próprio pensamento, e não repetir tudo de geração para geração.

Os gêmeos pintam a fachada do prédio do MAM no Parque do Ibirapuera.O ser humano é capaz de atribuir significado ao mundo e criar arte.

A exaltação do ser humano, da razão e da liberdade é uma das características centrais do renascimento e do humanismo, temas que serão tratados neste capítulo.

COMEÇANDO O CAPÍTULO 1. Como a narradora do texto se descreve? Que habilidades e limitações atribui a si mesma?

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2. Como ocorre o processo de conhecimento segundo o texto?

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3. Por que a narradora afirma não existir nenhum outro ser livre como ela? Explique.

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AS MUDANÇAS NO RENASCIMENTO

O Renascimento é o nome que foi dado ao período da história europeia, entre os séculos XIV e XVI, marcado por profundas mudanças econômicas políticas, religiosas, culturais e científicas. Essas transformações não aconteceram de um momento para o outro, como se fosse um passe de mágica. Elas foram se estabelecendo gradualmente. Já nos séculos XII e XIII, o desenvolvimento comercial e o crescimento das cidades eram sinais de que o homem medieval começava a se abrir para o exterior e para a valorização das coisas terrenas. Não esqueça também que naquele período foram fundadas as primeiras universidades na Europa, impulsionando o estudo das ciências, das artes, da filosofia e da religião.

No século XIV, inicialmente na Península Itálica e depois em toda a Europa Ocidental, houve um movimento de revalorização da arte e da cultura da antiguidade clássica, que serviram de modelo para os artistas renascentistas. Eles não buscavam o retorno ao passado greco-romano, mas a recolocação do homem no centro da vida, como teria ocorrido na cultura clássica. Na pintura, na escultura, na arquitetura e na literatura, os temas religiosos da arte medieval foram mantidos, mas o destaque passou a ser o homem e as coisas da natureza.

No campo das ciências, as transformações não foram menos intensas. O desenvolvimento científico levou o ser humano a refletir sobre sua capacidade de conhecer a realidade, sobre sua vida (ética) e a sociedade (as formas de organização social e política). O renascimento foi um período de gestação de um novo homem.

O DESENVOLVIMENTO DO HUMANISMO

O desenho a seguir foi feito pelo médico e anatomista belga Andreas Vesalius. Ele

é autor de um atlas de anatomia publicado em 1543, o De humani corporis fabrica (Da

organização do corpo humano), ricamente ilustrado com base em estudos e

dissecações de corpos humanos. O trecho reproduzido a seguir parece dialogar com

as gravuras de Vesalius:

“Que obra de arte é um homem, que nobre na razão, que infinito nas faculdades,

na expressão e nos movimentos, que determinado e admirável nas ações, que

parecido a um anjo na inteligência, que semelhante a um deus!” Shakespeare, William. Hamlet. Rio de Janeiro: José Olympio, 1955. p. 116.

As palavras que você acabou de ler estão em Hamlet, uma peça de teatro muito

famosa escrita por volta de 1600 pelo poeta e dramaturgo inglês William Shakespeare.

Elas comparam o homem a uma obra de arte, a um anjo, a um deus. Além de

engrandecer o ser humano ao elogiar suas características mentais, o poeta exalta a

complexidade de seu corpo e a infinidade de movimentos que podem realizar.

Lembre-se de quando você estudou a Patrística e a Escolástica. Pensando no desenho de Vesalius e no

trecho de Hamlet, você notou alguma diferença entre as ideias apresentadas e o que foi estudado anteriormente?

A gravura e o texto revelam uma mudança na forma de compreender o mundo e o papel do ser humano. Recorde

que, na filosofia cristã, o corpo não era o objeto de pesquisa. Para os teólogos e filósofos cristãos, o ser humano

deveria dedicar-se a salvação da alma, abandonando a vida corporal ou carnal ao concentrar-se nas coisas

espirituais em prejuízo dos assuntos mundanos. Recorde ainda que o ser humano era tido como um ser

imperfeito, que só parcialmente poderia compreender o ser supremo, Deus .

As obras de Vesalius e Shakespeare, exemplos de criações renascentistas, não tratam de Deus ou das

coisas divinas. O tema delas é o ser humano e as coisas humanas. Uma das características principais do

Renascimento é o desenvolvimento do humanismo, definido como um movimento literário, filosófico e artístico

que buscou ressaltar o valor, a dignidade, a razão e a liberdade dos homens.

Os humanistas destacaram a grandeza do ser humano por sua capacidade de conhecer a natureza e

interferir na realidade, o que não era de modo algum incompatível com a doutrina Cristã. Para eles, além de Deus,

havia um ser capaz de entender e agir sobre o mundo: o ser humano.

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2020 - APOSTILA – 7º ANO – 3º TRIMESTRE

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Trocando Ideias Na sua opinião, qual é a característica mais importante do ser humano? Ao responder, reflita também sobre a organização social do homem.

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O SER HUMANO NA ARTE RENASCENTISTA

Nesse audiovisual você pode acompanhar o destaque dado aos seres humanos nas obras do renascimento.

O PRIMEIRO HUMANISTA

Os especialistas reconhecem o poeta italiano Francesco Petrarca como o primeiro humanista. Ele defendia

que o indivíduo, em vez de estudar o mundo e a natureza, deveria se dedicar a conhecer a si próprio. "Eu, com efeito, me pergunto para que serve conhecer a natureza das feras, dos pássaros, dos peixes e das

serpentes, mas ignorar ou não procurar conhecer a natureza do homem, por que nascemos, de onde viemos para onde vamos."

Petrarca, Francesco. In: REALI, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da filosofia. São Paulo: Paulus, 1990.p. 45. v. 2.

Se voltarmos à filosofia grega, perceberemos que o primeiro filósofo a pensar a filosofia como processo

interior de aprimoramento da alma foi Sócrates, que defendeu a frase escrita no templo de Apolo em Delfos:

“Conhece-te a ti mesmo”. Outros filósofos, como Platão e Agostinho, também consideravam a reflexão interior o

caminho da filosofia. O pensamento de todos eles foi de algum modo retomado por Petrarca. Mas, ao mesmo

tempo, ele criticava tanto as investigações da natureza feitas pelos pensadores gregos como as eternas polêmicas

metafísicas dos escolásticos.

O poeta Petrarca acreditava que os estudos dos escolásticos não serviam para a formação do ser humano.

Para ele, a educação dos homens deveria se apoiar na sabedoria clássica, isto é, em pensadores da Grécia e da

Roma antigas, e ter como objetivo o desenvolvimento das capacidades intelectuais humanas.

A RETOMADA DA FILOSOFIA ANTIGA

O caminho aberto por Petrarca foi seguido por diversos pensadores. Vários humanistas ressaltaram a

necessidade de buscar conhecimento interior. Entretanto, isso não significava que todos os humanistas

pensassem da mesma maneira, ao contrário, existiam muitas diferenças entre eles. Por exemplo, alguns

humanistas destacavam a importância dos ensinamentos de Aristóteles e a necessidade de agir além de meditar.

O ser humano deveria ter uma vida ativa e pensar sobre sua ação, buscando sempre a felicidade. Para esses

humanistas, a verdadeira qualidade de uma pessoa estaria no que ela conquista agindo. Em outras palavras, o

indivíduo teria responsabilidade pelo seu destino e pelas experiências de sua vida.

Embora houvesse polêmicas e contradições entre os humanistas, todos eles refletiram a respeito do ser

humano. Filosoficamente, retomaram e reelaboraram pensamentos do mundo antigo. Alguns se apoiavam em

Platão; outros, em Aristóteles; outros ainda se apoiavam nas filosofias helenísticas, como o epicurismo, o

estoicismo e o ceticismo.

A retomada da filosofia antiga não era um retorno ao passado para reproduzi-lo, e sim um modo de refletir

sobre as coisas presentes e a nova situação que surgia. Servia para refletir sobre a vida do ser humano, a

sociedade, a política, a moral, a ciência, a religião, a literatura e as artes.

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MONTAIGNE E A CONDIÇÃO HUMANA

No Renascimento, destacou-se o filósofo francês Michel de Montaigne, que criticou os humanistas por

exaltarem a razão humana. Montaigne desenvolveu sua filosofia com base no estoicismo e principalmente no

ceticismo e na filosofia socrática.

Ele considerava o ser humano muito pretensioso por acreditar que a razão e a ciência o tornavam superior

aos outros animais. Mas, para o filósofo, acontecia o contrário: o afastamento da simplicidade da natureza e o não

reconhecimento da própria fragilidade tornariam o homem um ser ainda mais miserável.

"A presunção é a doença natural e inata em nós. De todas as criaturas, a mais frágil e miserável é o homem,

mas ao mesmo tempo [...] a mais orgulhosa.” Montaigne, Michel de. Ensaios. São Paulo: Nova Cultural, 1996. p. 381. v. 1.

A força e imponência de determinados animais surpreendem. Para Montaigne, o homem seria pretensioso por acreditar que a razão e a ciência

o tornam superior aos outros animais.

Trocando Ideias Você considera o ser humano superior aos outros animais? Por quê?

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VOLTAR-SE PARA SI MESMO

Como o ser humano não é capaz de saber de maneira definitiva se seu conhecimento é ou não verdadeiro

nem se sua atitude é boa ou ruim, então, para ele, só restaria voltar-se para dentro de si e buscar na interioridade

algum ponto de equilíbrio e de tranquilidade.

Por isso, Montaigne retomou a máxima defendida por Sócrates: "Conhece-te a ti mesmo". O ser humano

deveria buscar em seu interior a sabedoria para viver bem e ser feliz. É desse modo que ele poderia viver

tranquilamente, mesmo com todas as dificuldades que a vida coloca em seu caminho.

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MAQUIAVEL E A AUTONOMIA DA POLÍTICA

O Renascimento estabeleceu um novo olhar sobre todas as práticas e teorias humanas, buscando renovar o homem e a vida em sociedade. A política não escapou disso. Um dos pensadores que trouxeram esse novo olhar para as relações de poder foi o italiano Nicolau Maquiavel. Suas reflexões inauguraram a filosofia política moderna.

Em 1513, Maquiavel escreveu a obra O príncipe, que se transformou em um clássico da filosofia. Nesse livro, que é uma espécie de guia para os governantes, o filósofo diz que a própria política, conforme as circunstâncias, determina o que pode ou não ser feito. Para ele, o governante virtuoso é aquele que conhece a situação em que se encontra e sabe agir para conquistar o governo ou manter-se no poder. O bom príncipe aproveita a sorte e os momentos em que pode agir com habilidade.

Dessa maneira, segundo Maquiavel, se for necessário agir por meio da força, isso deverá ser feito. O filósofo afirmou, ainda, que o governante, se tiver de optar, deve preferir ser temido a ser amado pela população.

"[...] é muito mais seguro ser temido que amado, quando se tenha que falhar numa dessas duas.”

Maquiavel, Nicolau. O príncipe São Paulo: Nova Cultural, 1996. p. 98.

REALISMO POLÍTICO

A nova forma de compreender a política inaugurada por Maquiavel foi chamada de realismo político. Maquiavel não partiu de nenhuma suposição religiosa, metafísica ou imaginária a respeito do ser humano. Ele investigou como os indivíduos realmente agiam em boa parte dos principados da Península Itálica daquele período, ou seja, analisou as relações de poder.

E quais foram as conclusões de suas investigações? Segundo Maquiavel, o ser humano é egoísta, covarde e tem ambição por riqueza e glória pessoal. Ele só pensa em seus interesses e não liga para o bem coletivo. Por esse motivo, o príncipe poderia fazer o que estivesse ao seu alcance para se manter no poder. Caso que tivesse que decidir pela morte de alguém, deveria fazê-lo se a ação fosse conveniente para manter-se forte - posição que causa muita polêmica.

ATIVIDADES 1. O Renascimento foi um a) período de transição entre a Idade Média e a Idade Moderna marcado por mudanças que atingiram várias

áreas da sociedade europeia e expressavam a valorização da vida terrena b) período de transição entre a Idade Média e a Idade Moderna em que houve a revalorização da doutrina cristã

e a retomada das ideias de Agostinho. c) movimento de retorno ao passado greco-romano, em que os autores se dedicaram a copiar as obras da

antiguidade clássica. d) período de síntese dos valores e da cultura da Grécia clássica com as culturas do Oriente. 2. Com base na citação a seguir e no que foi estudado no capítulo, explique o realismo político de Maquiavel.

“Assim, é necessário a um príncipe, para se manter, que aprenda a poder ser mal e que se valha ou deixe de

valer-se disso segundo a necessidade.” Maquiavel, Nicolau. O príncipe São Paulo: Abril Cultural, 1973. p. 69.

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3. Leia o texto de Montaigne e, em seguida, explique por que o estranhamento com o diferente pode gerar atitudes preconceituosas.

"Vi outrora homens vindos por mar de longínquos países. Como não compreendíamos sua língua e seus

costumes, suas atitudes e suas vestimentas não se assemelhavam aos nossos, consideramo-los selvagens e estúpidos. [...] Condenamos tudo o que nos parece estranho e também o que não compreendemos."

Montaigne, Michel de. Ensaios. São Paulo: Nova Cultural, 1996. p. 393.

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4. Leonardo da Vinci foi um dos maiores artistas e cientistas do Renascimento, autor de Monalisa, sua obra

mais famosa. A pintura Leda e o cisne, reproduzida ao lado, é cópia de um original de Leonardo da Vinci que está desaparecido. Observe como o artista e il Sodoma representou a natureza e o corpo humano. Com base nisso, explique por que essa pintura pode ser considerada renascentista.

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