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Intertextualidades em desenhos animados Kennedy Cabral Nobre (Unilab), Mônica Magalhães Cavalcante (UFC), Mariza Angélica Paiva Brito (Unilab) 1. Introdução O que move esta pesquisa é a necessidade de demonstrar que o ensino de compreensão de textos não pode se eximir de orientar o aluno a reconhecer, quando for o caso, a presença de processos intertextuais e de fazê-lo atentar para as funções que as intertextualidades podem

ARTIGO Intertextualidade e Animação Final

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Intertextualida e animação final

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Intertextualidades em desenhos animadosKennedy Cabral Nobre (Unilab), Mnica Magalhes Cavalcante (UFC), Mariza Anglica Paiva Brito (Unilab)

1. Introduo O que move esta pesquisa a necessidade de demonstrar que o ensino de compreenso de textos no pode se eximir de orientar o aluno a reconhecer, quando for o caso, a presena de processos intertextuais e de faz-lo atentar para as funes que as intertextualidades podem desempenhar na construo da coerncia. Os tipos de intertextualidade devem ser examinados em gneros do discurso diversificados, pois o modo como participam dos textos depende no somente dos propsitos do locutor, mas tambm de outros fatores, dentre eles, as caractersticas de cada gnero. Este captulo se restringe, no entanto, aos gneros que se compem de animaes conhecidas do grande pblico. Tendo sempre em conta o contexto sociodiscursivo em que as animaes so planejadas e consumidas, discutimos aqui conceitos e classificaes pertinentes intertextualidade.

O objetivo deste captulo , assim, apresentar uma proposta de abordagem das relaes intertextuais em aulas de lngua portuguesa, tomando como exemplo gneros de animao. Para isso, distribumos os comentrios em duas sees: a primeira se concentra na definio das noes fundamentais para esta proposta texto, intertextualidade e animao; a segunda se dedica explicao dos critrios de anlise que sugerimos para o tratamento da intertextualidade. No contexto das animaes, povoado de figuras em movimento, numa criativa profuso de imagens, de formas e de cores, o fenmeno da intertextualidade encontra um nicho apropriado. atravs da intertextualidade que um texto mencionado em outro, de maneira mais, ou menos, explcita. 2. Por que apontar o dedo para as intertextualidades em sala de aula?Muitas animaes so adaptaes de grandes clssicos da literatura infanto-juvenil, de histrias do folclore europeu recolhidas por escritores. Exemplos representativos disso so as animaes da Disney, por exemplo, que retextualizam obras de autores como Charles Perrault ou os irmos Grimm (A Bela Adormecida, Cinderela, Branca de Neve e os sete anes); a histrias mais recentes, de autores como Victor Hugo (Nossa Senhora de Paris, cujo ttulo foi modificado para O corcunda de Notre Dame); Carlo Collodi (As aventuras de Pinquio, cujo ttulo foi reduzido para Pinquio); J. M. Barrie (Peter e Wendy, cujo ttulo foi modificado para Peter Pan); Hans Christian Andersen (A pequena sereia); Lewis Carroll (Alice no Pas das Maravilhas), entre outros. Dificilmente, crianas e adolescentes desconhecem por inteiro alguns elementos dessas histrias; a imensa maioria delas chegou s crianas por estratgias intertextuais. Quer seja por retextualizaes dos contos infantis, quer seja por referncia ou aluso a personagens e trechos, os processos intertextuais habitam o universo infanto-juvenil. Da a relevncia de incluir a intertextualidade nos estudos de compreenso textual. pela intertextualidade que um texto mencionado em outro, mesmo que indiretamente, por pistas nem sempre fceis de apreender; por ela que um gnero do discurso pode ser imitado por outro e derivar um outro texto em outro gnero, em jogadas espetaculares de criatividade. Para alcanar como se d esse dilogo entre textos e entre gneros, preciso entender o que texto, dentro do lugar terico em que nos inserimos. Nossa viso de intertextualidade advm da Lingustica Textual, uma das abordagens tericas da Lingustica que toma por objeto de estudo o texto e sua funcionalidade social. Por isso, o ponto de partida dos comentrios aqui deixados ser o texto: como ele se define e como se repete em outros textos vinculados a um dado gnero. Pressupomos texto como a unidade de sentido (ou seja, de coerncia) de um evento comunicativo. E, uma vez que constitui, necessariamente, uma comunicao, o texto apresenta comeo, meio e fim (de qualquer natureza), envolvendo locutores e interlocutores integrados a um contexto social especfico. Vejamos, no cartum abaixo (disponvel em https://www.google.com.br/), uma prtica muito recorrente nas redes sociais: tomar um texto e operar transformaes sobre ele, de maneira a produzir o humor e a crtica social:

Figura 1: Relaes intertextuais entre Cartum do Suricate Seboso e chamada do Globo ReprterO mesmo contedo deste cartum, que satiriza, usando linguagem cearense, o teor das reportagens e a chamada de abertura do programa Globo Reprter, foi transposto para uma animao em vdeo no Youtube, conforme se pode encontrar no endereo eletrnico www.youtube.com/user/SuricateOficial. O cearense autor do meme Suricate Seboso Diego Jovino, que criou uma pgina no Facebook com esse personagem, uma caricatura do suricato animal da frica. O objetivo do autor era mostrar o jeito como o cearense fala, resgatando expresses populares tipicamente locais e cheias de humor. As cenas so recriaes de situaes prprias da cultura do cearense na infncia em casa, na rua e na escola, da por que a escrita, como se pode comprovar pelo cartum abaixo, uma reproduo fiel do modo como se fala nas ruas:

Figura 2: Relao intertextual entre Cartum do Suricate Seboso e ditado popularO que h de intertextual em textos como esses? No exemplo do Suricate Reprter, o cartum retoma a cena de abertura do Globo Reprter e transforma aspectos verbais e imagticos para satirizar e fazer piada. interessante notar que o estilo do Globo Reprter muito bem representado pelas indagaes que seguem chamada do programa original para atiar a curiosidade do pblico: Por que eles aparecem do nada? Ser que eles num tm comida em casa? Onde vivem? Por que pedem?, etc.Vemos claramente a imitao do estilo extremamente marcante de um programa que est no ar h muitos anos, por isso at os elementos sonoros, como a msica e a voz do apresentador, se presentificam na memria leitor. Podemos dizer que a intertextualidade, desta forma, orquestrada por elementos imagticos e tambm sonoros: o Suricate de terno e gravata e com um microfone na lapela, como o prprio apresentador, Srgio Chapelin. Chamam a ateno ainda as perguntas e at mesmo o som, que no pode ser representado, mas que aflora muito facilmente memria do leitor. No exemplo das orelhas ("a zureia"), recupera-se um dito popular aplicado a quem no raciocina direito: Voc s tem cabea para separar as orelhas. Trata-se de uma estratgia intertextual, to corriqueira quanto antiga, de obter humor pela transformao de um texto original, recontextualizando-o: o que se conhece como pardia, talvez o fenmeno mais caracterstico das derivaes intertextuais e o mais praticado nas redes sociais.Como podemos depreender, do que dissemos at o momento, intertextualidade um termo que designa uma srie de operaes textuais, por meio das quais um texto remete a outros. Essas operaes textuais podem se dar de maneiras distintas e em diversos graus, tanto que h vrios autores que se dedicam a essa questo, cada qual propondo seu prprio conceito de intertextualidade e seu prprio repertrio de categorias analticas, obedecendo a critrios especficos. No nos interessa, aqui, simplesmente descrever mais uma classificao, mas, sobretudo, ajustar algumas dessas categorias a nosso ponto de vista e a gneros do discurso no exclusivamente verbais, mas audiovisuais, de imagens em movimento, como o filme de animao, o desenho animado e o vdeo curto de animao. Segundo Nogueira (2010, p. 69), a animao uma sequncia de imagens que cria a iluso de movimento; so as pequenas variaes em cada uma das imagens que possibilitam a tcnica da animao. Como frisamos acima, dos gneros que se configuram pela animao, utilizaremos para exemplrio apenas filmes de animao, vdeos postados no Youtube e desenhos animados infantis.Nogueira menciona alguns princpios da animao, dentre os quais salientamos a deformao e o exagero, responsveis pelo realce dado s ideias. Como observa o autor: O exagero ser talvez o princpio fundamental da animao cartum, mas igualmente frequente numa animao mais realista. O exagero pode incidir sobre diversos aspectos: aparncia, personalidade, movimentos, cenrios ou situaes em que so exageradas as caractersticas importantes que definem a personagem ou o acontecimento. (p. 63) Nesses ambientes de figuras em movimento, numa criativa profuso de imagens, de formas e de cores, o fenmeno da intertextualidade encontra um lcus privilegiado.

Para se ter uma ideia da dinamicidade das relaes intertextuais, pensemos em como este fenmeno pode atuar nas animaes. Uma animao pode ser expressa pelo gnero filme, como nas adaptaes de um clssico da literatura infantil, mas pode meramente aludir a uma obra literria em gneros diversos. Temos aqui dois extremos de um contnuo em que, no primeiro caso, a intertextualidade constitui integralmente a obra, ao passo que, no segundo, representa uma poro mnima e localizada no texto. Com relao aluso de uma obra literria numa animao, pensemos que ela pode ocorrer, tambm, de formas diversas, como por meio de um trecho de um dilogo, de uma imagem ou de uma melodia.No obstante, muito recorrente se faz a remisso a obras literrias diversas em momentos situados da animao. Em outras palavras, essas retomadas no so, necessariamente, adaptaes de textos j existentes, todavia, em sua composio, ocorrem menes a personagens e at mesmo histrias j conhecidas do grande pblico. o que ocorre, por exemplo, nas franquias de Shrek, em que figuram personagens como os trs porquinhos, o gato de botas, Pinquio, Geppetto, o Espelho Mgico, entre outros.Como falamos, to diversas quanto as possibilidades de inserir um texto seja ele inteiro ou somente uma poro so as abordagens cientficas sobre o assunto. Numa tentativa de abarcar o mximo possvel de abordagens e perspectivas, Nobre (2014) fez um levantamento dos principais autores e das discusses a respeito da intertextualidade, chegando concluso de que, em uma nica ocorrncia intertextual, incidem simultaneamente variados parmetros o que justificaria a multiplicidade e a sobreposio por vezes recorrente de categorias de anlise. Numa tentativa de sintetizar as convergncias e divergncias entre as classificaes diferentes de processos intertextuais, Nobre sugere alguns parmetros pelos quais podemos olhar para o fenmeno intertextual por diferentes ngulos. No prximo item, demonstraremos essas possibilidades de anlise da intertextualidade em gneros de animao.3. A intertextualidade em animaes

Segundo Nobre (2014), os processos intertextuais podem ser vistos, do ponto de vista constitucional, por trs ngulos: 1) um composicional, que define se a relao intertextual se d por copresena ou por derivao; 2) um formal, que avalia o modo como o texto original retomado, se por reproduo, adaptao ou meno; 3) um referencial, que aborda o grau de explicitude/implicitude da remisso textual.

Comecemos observando as animaes pelo critrio composicional e verificando como ocorrem as situaes de copresena, que acontecem quando so usados fragmentos de um texto em outro. Isso significa que, na composio de um texto, haver fraes dele que correspondem a remisses a personagens ou a traos deles, a trechos de fala de outros textos, ou a outros aspectos multimodais que evocam outros textos. Imaginemos, por exemplo, um episdio do desenho Pica Pau em que ele se traveste de Chapeuzinho Vermelho (por meio de elementos imageticamente caractersticos a esta ltima personagem, no caso, capa e capuz vermelhos e cesto com suprimentos para a av):

Figura 3: Pica Pau travestido de Chapeuzinho VermelhoEm outro episdio do desenho animado Pica Pau, ele esfrega uma lmpada maravilhosa no intuito de solicitar a realizao de trs desejos a um gnio. Com isso, faz uma aluso a diversos contos dAs mil e uma noites, especialmente o conto Aladim). Essas aluses colaboram especialmente para a promoo do humor nesses gneros de animao.Alm dessas copresenas, podemos encontrar nas animaes, dentro do parmetro da composicionalidade, as situaes de derivao, que se do quando o texto original gera um outro texto, porque ocorre uma espcie de transformao de um texto em outro o que chamamos de pardia. Os exemplos dados anteriormente, de longas-metragens em animao, inspirados em clssicos da literatura universal, so todos compostos por derivao, pois o texto original de que partiram sofre modificaes de toda ordem. Nem todo o contedo apresentado consta nas verses originais, ou seja, h dilogos e canes que entram na constituio das animaes que inexistem nas histrias originais, sem contar que alteraes no enredo so suscetveis de ocorrer em decorrncia do propsito mesmo das animaes. Em geral, encontram-se mais casos de derivao em longas-metragens e mais casos de copresena distribudos em episdios de desenhos animados.Um exemplo representativo o filme A Bela Adormecida, da Disney, uma adaptao do conto clssico infantil, cuja verso mais divulgada a dos Irmos Grimm. A personagem principal, uma princesa, enfeitiada por uma bruxa e cai num sono profundo, at que o feitio quebrado por um prncipe encantado, que a desperta com umbeijo. O filme de desenho animado reproduz a histria original.

Figura 4: Cartaz do filme A bela adormecida, dos estdios DisneySe sairmos do parmetro composicional e analisarmos a partir do parmetro formal, diremos, seguindo Nobre (2014), que trs so as maneiras possveis de retomada de elementos originais: reproduo, adaptao e meno. A reproduo ocorre quando, na intertextualidade, no existem alteraes em relao ao original. Em textos escritos, o caso das citaes diretas. A adaptao, por sua vez, acontece quando o contedo do original preservado, porm alteram-se sintaticamente os trechos remetidos. J na meno, verifica-se a ausncia de trechos originais (reproduzidos ou adaptados), todavia ocorre a relao intertextual por meio da aluso ou da referncia de um texto mediante um elemento que lhe caracterstico (nome do autor, da obra, de personagens marcantes, etc.). As copresenas por reprodues, adaptaes e menes podem tambem ajudar a confirmar que um texto est sendo derivado de outro, conforme defende Faria (2014).

Filmes de animao, como A Bela Adormecida e muitos outros da Disney, quanto ao parmetro formal, so adaptaes por excelncia, uma vez que a modalidade do texto original (seja ele prosa, poesia, teatro, etc.) acaba recebendo uma nova linguagem: a cinematogrfica. As adaptaes ocorridas so de diferentes ordens, dentre as quais se destaca a alterao na extenso, na modalidade e, eventualmente, no enredo das histrias originais. Tais modificaes de contedo no so exclusividade da passagem do original para a animao: histrias como A Bela Adormecida, Branca de Neve e os sete anes, A princesa e o sapo, Cinderela, Aladim ou Rapunzel tiveram sua origem na oralidade e, ao longo dos sculos, foram passando por diversas alteraes, deixando aos poucos de ser histrias de cunho popular para cumprir uma funo ldico-pedaggica, voltada para o pblico infantil. Outras histrias que sofrem recorrentes adaptaes para a linguagem de animao j tm sua origem na prosa literria, algumas aqui j citadas.

Ainda que a grande maioria das relaes intertextuais em animaes, em seu parmetro formal, ocorram por meio da adaptao, possvel encontrarmos tambm reprodues e menes. Trechos famosos de reproduo so as frases: Espelho, espelho meu..., Abra-te, ssamo!, Um por todos e todos por um!, dentre outros, que ocuparam lugar na tradio e permanecem praticamente inalterados. As menes, por sua vez, so expedientes bastante comuns em desenhos animados: personagens clssicos, como Branca de Neve, Chapeuzinho Vermelho, Robin Hood, Dom Quixote, etc., ora fazem uma apario no universo do desenho, ora so objeto do travestimento de outras personagens, como acontece nos filmes do Shrek.

J analisamos as animaes pelos parmetros composicional e formal. Veremos, por ltimo, como podem ser vistas segundo o parmetro referencial, que diz respeito ao grau de explicitude ou implicitude das relaes intertextuais. Em animaes, geralmente, nos casos de derivao de um texto em outro, costuma-se dar a referncia do texto original. Nos casos de copresena de trechos de um texto em outro, muito raro, em decorrncia da natureza das animaes, tornar explcitas as fontes, cabendo ao pblico o reconhecimento ou no da relao intertextual e da autoria. Explicando melhor, seria um contrassenso interromper o enredo da animao e informar que a frase ou expresso mencionadas so da autoria de algum.

Para concluir, podemos refletir sobre como as animaes poderiam ser vistas a partir, no de um aspecto constitucional, como analisamos at agora, mas a partir de um aspecto funcional, examinando se as intertextualidades usadas no texto tm uma funo sria, ou ldica, ou satrica, ou irnica etc. (GENETTE, 2010).

De acordo com Nobre (2014), a distino entre ldico e satrico estaria no grau de deformidade do texto original relativo ao propsito do texto. No regime ldico, haveria desvio considervel, mas com intuito jocoso, cmico; no regime satrico haveria desvio extremo, e o intuito seria a crtica, o sarcasmo, a ridicularizao. conveniente ressaltar, todavia, que a distino entre o ldico e o satrico sempre muito difcil de ser estabelecida, pois o que ldico para determinado indivduo pode ser satrico para outro. Alm disso, as duas funes podem coabitar em um mesmo texto. O mais importante que o aluno seja capaz de identific-las e de compreender o papel delas para os propsitos dos processos intertextuais no texto.Animaes clssicas, como Branca de Neve e os sete anes, Cinderela ou A bela adormecida teriam funo sria, pelo desvio mnimo e pelo grau de seriedade. J animaes como Enrolados (cujo enredo inspirado em Rapunzel, como se pode constatar, abaixo, pela imagem do filme) ou Deu a louca na Chapeuzinho Vermelho poderiam ser consideradas como tendo funo ldica, pois alteram em demasia o enredo, porm com intuito jocoso, numa espcie de jogo com as possibilidades de alterao do enredo.

(Figura 5, Enrolados, funo ldica com propsito jocoso)

Por outro lado, animaes como Os Simpsons so conhecidas por seu contedo cido e no raro surgem pardias de outras histrias, por isso, alm da funo ldica, teriam, principalmente, uma funo satrica. Um exemplo tpico disso o episdio Histrias bblicas dos Simpsons, em que vrias passagens sagradas so tratadas de forma depreciativa.

Figura 6: Ado (Homer) tenta Eva (Marge)Todo o episdio ocorre durante um sermo enfadonho, o qual provoca o cochilo dos membros da famlia Simpsons, de forma que cada um deles, em seu devaneio, se imagina numa ao bblica. O sonho de Marge, por exemplo, distorce o enredo de trechos do livro de Gnesis. Neste esquete, Ado (representado por Homer) quem tenta Eva a provar do fruto proibido. Quando o Criador percebe a desobedincia, Ado responsabiliza unicamente Eva, e somente ela expulsa do paraso. Em seu sonho, Homer Simpson travestido de Rei Salomo e resolve todos os empecilhos que lhe so levados cortando ao meio os objetos reclamados, numa interpretao exagerada da histria original. Lisa fica responsvel por libertar o povo hebreu do cativeiro no Egito. Bart, por sua vez, Davi, e Golias representado por Nelson, o valento da escola. No momento da batalha, no encontrando pedras para atirar com sua funda, Davi usa uma adaga para cortar o cabelo de Golias, acreditando que, desse modo, o gigante ficaria sem foras, pois o confundira com Sanso, outro personagem bblico. Ao final do episdio, somente Lisa Simpson, a filha do meio, eleita a adentrar o Paraso, entretanto seu pai a leva ao inferno para ficar junto aos demais membros da famlia. Neste episdio, pode-se dizer que ocorre funo satrica.4. Concluso

Neste captulo, apresentamos uma proposta de anlise das relaes intertextuais, demonstrando como na produo de filmes de animaes muitas vezes esse recurso utilizado. Reconhecer o uso de estratgias intertextuais o procedimento inicial para uma srie de atividades que permitem melhor compreenso desses textos e estimulam os alunos a realizar a leitura das fontes, propiciando formao de fecundo repertrio cultural. De fato, para que seja possvel identificar traos intertextuais quanto aos parmetros composicional, formal, referencial e funcional discutidos ao longo deste texto , muitas vezes se faz necessrio voltar aos textos originais ou comparar as mais diversas verses de uma mesma histria, verificando as semelhanas e as diferenas. Aos professores, cabe, aps se aprofundarem nas possibilidades de explorao dos recursos intertextuais, selecionar diferentes gneros do discurso presentes no cotidiano dos alunos, tais como filmes de animao, vdeos ou desenhos animados nos quais estratgias intertextuais utilizadas sejam para eles de fcil reconhecimento. Cremos que prticas pedaggicas dessa natureza permitem tambm o acesso, quando possvel, s fontes de inspirao das animaes e, desse modo, o uso de animaes, sejam elas longas-metragens ou episdios de desenhos, poder ser considerada em contexto escolar.RefernciasCAVALCANTE, M. M. Intertextualidade: um dilogo entre texto e discurso. In: VI Semana de Estudos Lingusticos e Literrios de pau dos Ferros, 2008, Pau dos Ferros. Anais da VI SELLP: Tendncias e abordagens em lingustica, Literatura e Ensino. Pau dos Ferros : UERN, 2008a. v. 1. p. 01-08.

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