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Márcia Godinho Cerqueira de Souza 1111 ,I r I1 , cerca,ele é criador e criatura que sofre asinfluências do meio, mas nele deixa suasmarcas. Cada vez mais, o tratamento musicoterápico com pessoas na terceira idade estimula, a partir do prazer de cantar, tocar, impro- visar, criar e recriar musicalmente, o redescobrir das canções que fizeram e fazem parte da sua vida sonoro-musical. O trabalho de musicoterapia, portanto, vem buscandoa excelência do tratamento em estudos investigativos e na práxis em que os resultados falam por si. Desenvolvendo o potencial Griativo através da linguagem musical, o tratamento musicoterápico auxilia diretamente no res- gate da identidade sonora do cliente, tendo por conseqüência a elevação da sua auto-estima e autoconfiança. A música e seus ele- mentos constitutivos (harmonia, melodia e ritmo) implicam a musicoterapia, portanto, num veículo de estabelecimento de co- municação. A música é a ponte a partir da qual se estabelecea relação terapeuta-cliente, também por onde transita a mem6~a do profundo ao superficial do ser, levando à busca do autoconhe- cimento e do crescimento pessoal deste. O trabalho com a terceira idade implica a participação dos vá- rios campos dO' saber,pois a filosofia de trabalho atual visaao aten- dimento global do idoso no âmbito biopsicossocial. As várias dis- ciplinas colaboram para a melhora da qualidade de vida do indiví- duo, mas, muitas vezes, najustaposição de saberes, como é o caso da multidisciplinaridade, semarticulação entre os objetivos diver- sos, perdemos a oportunidade de coordenar esses saberes e focali- zar os objetivos de tratamento e cuidados para com o idoso. A interdisciplinaridade é uma ~rspectiva de trabalho em que as di- versas disciplinasbuscaminteragir entre si, desde os conhecimentos mais simples aos mais complexos, visando ao atendimento inte- gral do indivíduo. Por isso verifica-se importante uma avaliação gerontogeriátrica ampla e conseqüentemente multiprofissional. Com a terceira idade, o tratamento musicoterápico vem se mostrando de grande importância no que se refere aos resgates de mem6ria, como tratamento coadjuvante de valor reconhecido mundialmente nos processosdemenciais (doença de Alzheimer), na doença de Parkinson e em indivíduos com seqüelade aci~ente vascular encefálico (AVE). Do mesmo modo, é ba~tanteconheci- da a sua eficácia na manutenção das funções cognitivas, elevação da auto-estima e sociabilização com idosos residentes em casas gerontol6gicas bem como fora delas, tanto em atendimentos in- dividuais quanto de grupo, bem como nos atendimentos de cará- ter preventivo-social. Estetrabalho enfoca as diferentes formas de INTRODUÇÃO A musicbterapia é uma forma de tratamento em que o cliente, através do canal sonoro-musical, dará vazão à sua criatividade, es- timulando suascapacidades físicas, mentais, cognitivas e sociais, seja em grupo ou individualmente, a partir primordialmente do fazer musical durante o processo terapêutico (Bruscia, 2000). Cabe ao musicoterapeuta estudar e investigar, com todo o ri- gor científico à sua disposição na rede do conhecimento atual, os processos que relacionam música e terapia, cérebro e comporta- mento, cmoção e razão, bem como a utilização da música e seus elementos constitutivos como objetos intermediadores na relação musicoterápica. Tal estudo deve também se reportar às épocasmais antigas e~ que medicina e música eram a fusão das alternativasde tratamento, como ainda hoje é observado na maioria dasdenomi- nadas"culturas primitivas" (Bruscia, 2000). Com o avanço das pesquisascientíficas no que se refere aos desafios do envelhecimento, bem como dos estudos funcionais da música no ser humano, as várias modalidades de tratamento fo- ram surgindo como coadjuvantesao tratamento médico conven- cional. Com os resultados positivos, muitas dessas formas de tra- tamento acabaram por serem indicaáas como a: terapia principal em determinados casos. Como o cérebro processaa música, sem- pre fascinou os neurocientistas, e a partir da última décadao pro- cessamento da música tem se tornado uma área de intenso e sis- temático estudo, em trabalhos publicados recentemente sobre neurociência cognitiva da música (Peretz, Zatorre, 2005). Atualmente os avanços do tratamento musicoterápico em todo o mundo, para pessoas na terceira idad~, vêm obtendo sucesso, devido aos resultados que essetipo de terapia vem demonstran- do, bem como com as pesquisas "que relacionam a música e as funções cerebrais. Principalmente nas áreas cognitivas e límbicas, que influenciam marcadamente os resgates de memória, e naati- vaçãopsicofísica, aliando comando e movimento, razão e emoção. O homem constrói-se e é co~struído, já em seusprimórdios gestacionais, com o ritmo da respiração da mãe. Esse ritmo, em sua ordenação de contração e descontração corporal, traz o en- tendimento primevo de movimento a esse ser em formação, jun- tamente com e como a canção que o embala desde o seu nasci- mento (Souza, 1996). Música é movimento, e o homem não pos- sui seuequilíbrio na inércia, ele o encontra no próprio movim~n- to. O homem, portanto, é uma construção de si e do meio qu~ o

Artigo Musicoterapia e a clínica do envelhecimento

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Márcia Godinho Cerqueira de Souza

1111 ,I r

I1 ,cerca, ele é criador e criatura que sofre as influências do meio, masnele deixa suas marcas.

Cada vez mais, o tratamento musicoterápico com pessoas naterceira idade estimula, a partir do prazer de cantar, tocar, impro-visar, criar e recriar musicalmente, o redescobrir das canções quefizeram e fazem parte da sua vida sonoro-musical. O trabalho demusicoterapia, portanto, vem buscando a excelência do tratamentoem estudos investigativos e na práxis em que os resultados falampor si. Desenvolvendo o potencial Griativo através da linguagemmusical, o tratamento musicoterápico auxilia diretamente no res-gate da identidade sonora do cliente, tendo por conseqüência aelevação da sua auto-estima e autoconfiança. A música e seus ele-mentos constitutivos (harmonia, melodia e ritmo) implicam amusicoterapia, portanto, num veículo de estabelecimento de co-municação. A música é a ponte a partir da qual se estabelece arelação terapeuta-cliente, também por onde transita a mem6~ado profundo ao superficial do ser, levando à busca do autoconhe-cimento e do crescimento pessoal deste.

O trabalho com a terceira idade implica a participação dos vá-rios campos dO' saber, pois a filosofia de trabalho atual visa ao aten-dimento global do idoso no âmbito biopsicossocial. As várias dis-ciplinas colaboram para a melhora da qualidade de vida do indiví-duo, mas, muitas vezes, na justaposição de saberes, como é o casoda multidisciplinaridade, sem articulação entre os objetivos diver-sos, perdemos a oportunidade de coordenar esses saberes e focali-zar os objetivos de tratamento e cuidados para com o idoso. Ainterdisciplinaridade é uma ~rspectiva de trabalho em que as di-versas disciplinas buscam interagir entre si, desde os conhecimentosmais simples aos mais complexos, visando ao atendimento inte-gral do indivíduo. Por isso verifica-se importante uma avaliaçãogerontogeriátrica ampla e conseqüentemente multiprofissional.

Com a terceira idade, o tratamento musicoterápico vem semostrando de grande importância no que se refere aos resgatesde mem6ria, como tratamento coadjuvante de valor reconhecidomundialmente nos processos demenciais (doença de Alzheimer),na doença de Parkinson e em indivíduos com seqüela de aci~entevascular encefálico (AVE). Do mesmo modo, é ba~tante conheci-da a sua eficácia na manutenção das funções cognitivas, elevaçãoda auto-estima e sociabilização com idosos residentes em casasgerontol6gicas bem como fora delas, tanto em atendimentos in-dividuais quanto de grupo, bem como nos atendimentos de cará-ter preventivo-social. Este trabalho enfoca as diferentes formas de

INTRODUÇÃOA musicbterapia é uma forma de tratamento em que o cliente,

através do canal sonoro-musical, dará vazão à sua criatividade, es-timulando suas capacidades físicas, mentais, cognitivas e sociais,seja em grupo ou individualmente, a partir primordialmente dofazer musical durante o processo terapêutico (Bruscia, 2000).

Cabe ao musicoterapeuta estudar e investigar, com todo o ri-gor científico à sua disposição na rede do conhecimento atual, osprocessos que relacionam música e terapia, cérebro e comporta-mento, cmoção e razão, bem como a utilização da música e seuselementos constitutivos como objetos intermediadores na relaçãomusicoterápica. Tal estudo deve também se reportar às épocas maisantigas e~ que medicina e música eram a fusão das alternativas detratamento, como ainda hoje é observado na maioria das denomi-nadas "culturas primitivas" (Bruscia, 2000).

Com o avanço das pesquisas científicas no que se refere aosdesafios do envelhecimento, bem como dos estudos funcionais damúsica no ser humano, as várias modalidades de tratamento fo-ram surgindo como coadjuvantes ao tratamento médico conven-cional. Com os resultados positivos, muitas dessas formas de tra-tamento acabaram por serem indicaáas como a: terapia principalem determinados casos. Como o cérebro processa a música, sem-pre fascinou os neurocientistas, e a partir da última década o pro-cessamento da música tem se tornado uma área de intenso e sis-temático estudo, em trabalhos publicados recentemente sobreneurociência cognitiva da música (Peretz, Zatorre, 2005).

Atualmente os avanços do tratamento musicoterápico em todoo mundo, para pessoas na terceira idad~, vêm obtendo sucesso,devido aos resultados que esse tipo de terapia vem demonstran-do, bem como com as pesquisas "que relacionam a música e asfunções cerebrais. Principalmente nas áreas cognitivas e límbicas,que influenciam marcadamente os resgates de memória, e naati-vação psicofísica, aliando comando e movimento, razão e emoção.

O homem constrói-se e é co~struído, já em seus primórdiosgestacionais, com o ritmo da respiração da mãe. Esse ritmo, emsua ordenação de contração e descontração corporal, traz o en-tendimento primevo de movimento a esse ser em formação, jun-tamente com e como a canção que o embala desde o seu nasci-mento (Souza, 1996). Música é movimento, e o homem não pos-sui seu equilíbrio na inércia, ele o encontra no próprio movim~n-to. O homem, portanto, é uma construção de si e do meio qu~ o

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intervenção da musicoterapia com idosos, apresentando uma pa-norâmica dessa área de estudo e investigação e a sua articulaçãointerdisciplinar .

DEFININDO MUSICOTERAPIA

A Musicoterapia é a utilização, pelo profissional musicoterapeu-ta, do som, da música e de todo tipo de manifestação sonoro-musical, sejam sons, silêncio ou a musicalidade das palavras. Amúsica atuará como intermediadora no estabelecimento da rela-ção terapeuta-cllente, visando à melhoria da qualidàde de vida,estimulando as ações físicas, biológicas, psicológicas e sociais doindivíduo, inte~do-o consigo mesmo e com o meio que o cet-ca (Souza, 1997).

Essa abordagem visa estabeJecer uma relação de ajuda, em quea música, no sentido mais amplo, é o objeto integrador e estimu-la,dor. Tendo o corpo cótno seu primeiro instrumento musical, oindivíduo estabelece um canal de comuniçação no qual a música éimpregnada pelo corpo e o corpo pela música, desde o movimen-to mais simples, passando pelos elementos que constituem a lin-guagem musical (ritmo,~mel~dia e harmonia), à musical idade doverbal. A World Federation ofMusic Therapy define musicotera-pia como a utilização da música elou dos elementos musicais (som,ritmo, melodia e harmonia) pelo musicoterapeuta e pelo clienteou grupo, em um processoestruturado para facilitar e promover acomunicação, o relacionamento, a aprendizagem, a mobilização,a expressão e a organização (física, emocional, mental, social ecognitiva) para desenvolver potenciais e desenvolver ou recuperarfunções do indivíduo de forma que ele possa alcançar melhor in-tegração intra e interpessoal e conseqüentemente melhor quali-dade de vida (Bruscia, 2000, p. 286).

Como estudo científico em processo investigativo, a musicote-rapia na terceira idade se apresenta como uma terapia auto-ex-pressiva, de grande atuação nas funções cognitivas. O cliente notratamento musicoterápico, a partir do canal sonoro-musical, podeser estimuJado em instâncias psíquicas que muitas vezes a palavranão poderá al~nçar, ou seja, em instâncias mentais nas quais alinguagem verbal, devido ao acometimento por doenças e defici-ências, já não intervém com grande poder de penetração. Aí resi-de um dos principais diferenciais que a linguagem musical possuiem relação à abordagem verbal tradicional.

Por seu poder estruturador, disciplinador e ao mesmo tempode comunicação e expressão, de criatividade e prazer, a músicauJtrapassa fronteiras tanto cuJturais como mentais.

Em momentos de ~de dificuldade de comunicação verbal,muitas vezes é a partir da música que comunicamos nossos senti-mentos. Ela reflete o que somos e quem somos, ao estimuJar nossasconexões em um nível pessoal e intransferívd. A música éum dosaspectos mais característicos dos humanos (Peretz, Zatorre, 2005).

Ao se estabelecer a comunicação musical, esta vem carregadade códigos emocionais mais primitivos que, em linhas gerais, per-manecem preservados mesmo nos processos de envelhecimentocaracterizados por grande comprometimento cognitivo. Nestecaso, o indivíduo, ao ser estimuJado musicalmente, dará início aum processo de compreensão e elaboração de seus sentimentos eemoções. Tais estímulos acabam por organizar, progressivamen-te, as funções psíquicas do indivíduo, desde as atividades mais sim-ples às funções superiores, evoluindo até a chegada à compreen-são e elaboração de seus conteúdos na linguagem verbal. Tais pro-cessos podem ser representados em movimentos, cantos, sons,letras de música, improvisações, composições instrumentais, po-esias e inflexões sonoras. Numa série de códigos em que a lingua-gem musical é a guia e norteadora dos processos mentais e cogni-tivos do indivíduo, caberá ao musicoterapeuta a decodificação detais representações junto ao cliente (Souza, 1997).

No que se refere ao seu papel terap.êutico, portanto, a.music~-

A MÚSICA E O ENVELHECIMENTO

A música sempre acompanhou o envelhecer da humanidade,dando sentido aos momentos e às épocas, refletindo os sentimen-tos e sonorizando as realidades. Por sua capacidade de transcen-der ao tempo, a música uJtrapassa não só sécuJos e décadas, comotambém permeia as diferentes cuJturas e gerações inteiras, demons-trando as diferenças e as similitudes entre elas. Onde quer que hajaum povo, uma cuJtura, a músi~ está presente, nos rituais de pas-sagem, desde os de fecundidade e nascimento, aos rituais de curae morte (Wisnik, 1989).

Nunca houve nem haverá um povo sem música. Refletir sobreo que é e o que significa a música, sua influência no ser humano éfato antigo, ao mesmo tempo atual e necessário para quem decidetrabalhar nessa área. Remontamos às épocas mais arcaicas, em quea música sempre teve seu poder social, reguJador, agregador, bemcomo manteve a crença do homem dura.nte os tempos a respeitode seu poder curador e regenerador. Na Grécia antiga, o homemestudava a música, suas funções e poderes. Pitágoras, seis séculosantes de Cristo, já associava a música à matemática. O uso da músicana formação do homem, suas funções psicológicas, físicas e soci-ais, de valor estético e ético, é encontrado nos estudos de grandesfilósofos como Platão e Aristóteles (Sacks, 1998; Abdounur, 1999).

Mais que valorizannos o pensamento analógico, ou seja, associ-armos várias formas de conhecimento como a filosona, a música, amusicoterapia, a medicina, a matemática, a psicologia, cabe-noscompreender a importância desse pensamento na formuJação deconceitos e associações, nas diferentes áreas do conhecimento, pos-sibilitando-nos caminhar pela complementaridade, orientados pelaconcepção integradora que interliga os vários tipos de saberes.

Para entendermos um pouco melhor essa forma de ~e e co-municação, surge a necessidade de dennirmos o que é música. Oque é música? Quem a inventou? Para que fazemos másica? O queela pode produzir em nós? O que nós produzimos a partir dela?Muitas são as questões que devemos responder antes de alcançar-mos a música como terapia, suas funções e aplicabilidades.

Música, anteriormente a qualquer dennição, é um produto dainteligência do home~. Palavra de origem grega, a arte das musas,combina sons e silêncios, proporcionando ao homem uma formade comunicação sem precedentes. A criação e a recriação do mu-sical têm como elementos primordiais o pensar e o sentir huma-no, estruturados em ritmos, melodias e harmonias, possuindocomo amálgama a razão e a emoção. A música vincuJa a capacida-de de criar e recriar do indivíduo. O que produzimos através delaou o que ela provoca em nós é via de mão dupla; A música é o eloda superfície à profundidade em n6s mesmos. E um canal de co-municação, direto, de nossos sentimentos e expressões, estabele-cendo nossas diferenças e semelhanças com o outro.

A música nos faz comunicar mesmo quando ,essa comunicaçãose toma difícil em face das diferentes cuJturas. E por ela e com elaque, muitas vezes, podemos entender o modo de ser de um povoe de um indivíduo. Ela reflete o que se conserva na memória econsegue resgatar reminiscências, reestruturando a história cole-tiva e individual. Do macrocosmo ao microcosmo, essa forma delinguagem, por seu caráter de universalidade, possui, portanto, acapacidade de fundir e ligar cuJturas, sentimentos e emoções, aomesmo tempo em que as diferencia (Souza, 1997).

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as limitações impostas pelo processo de envelhecimento, bemcomo as dificuldades emocionais que as acompanham, se insta-lam, formando cisões e fissuras. A música, então, é a ponte, o elopelo qual o indivíduo se reestrutura e se recicla. Durante o pro-cesso de b:atamento musicoterápico, é comum observarmos, nopaciente idoso, a emergência de conteúdos elaborados e fortale-cidos. A partir de sua produção musical, portanto, constata-se asua reestruturação enquanto indivíduo, sujeito de suas própriasações, no fortalecimento de sua identidade.

A VELHICE E A MÚSICA, c'

o proçe~9d~ ~rvelhecimento acompanha o indivíduo desdeo seunasc(mento e caminha com ele através de seu viver. A velhi-ce, como a música, pert~~~e ao tempo. Um tempo que marca ocorpo e constrói a m.emória. As músicas de nossas vidas fazem partedessa construção. São canções de ninar, as músicas da escola, osbrinquedos cantados, as canções cívicas, as canções de amor, deamizade, enfim, de todos os tempos e sentimentos.

Através das canções de uma vida inteira, é possível relembrarmomentos que, apesar de individuais, não deixam de ser coleti-vos; que marcaram uma determinada fase da vida, uma geração,uma época. A música, apesar de ter sido criada em uma determi-nada época, por exemplo, não envelhece. Ela caminha junto dotempo, refletindo-o e, transformando-se a cada devir. "A cançãoque pertence à infância de uma pessoa de 90 anos pode ser a pon-te que liga as inf'ancias de diferentes gerações. Não é maravilhososaber que a canção com a qual fomos ninados também embalou nos-sos avós, pais, filhos, irmãos e pessoas que não amamos, que conhe-cemos e que nunca vimos?" (Souza, 1997, p. 9)

Muitas vezes o não se sent}r velho é denunciado, para o indiví-duo, pelo meio que o cerca. E o cotidiano que evidencia, em todomomento, ao indivíduo, que ele está velho e que algo mudou. Onão se perceber externamente velho é flagrado e denunciado,portanto, pelo social. A questão da velhice tem como espelho asociedade à qual pertence o indivíduo. A música acompanhará esseprocesso de envelhecimento, marcando as épocas e os aconteci-mentos sociais. Ao marcar um tempo, a canção, por seu vínculoafetivo, pode resgatar o fio melódico da vida do indivíduo, ao re-tratar todas as suas idades no contexto sonoro-musical. Tais acon-tecimentos vinculam as vivências pessoais e intransferíveis às vi-vências sociais e coletivas (Souza, Assumpção, Landrino, 1994).

A musicoterapia tem como função principal, no tratamentocom a terceira idade, restabelecer a auto-estima do idoso diantede suas potencialidades, ao meio que-o cerca e a que pertence.Ao restituir essa capacidade de crença em si mesmo, de sua po-tência como sujeito, o idoso restabelece o crédito diante do soci-al, alterando para melhor o conceito que a sociedade tem dele eele de si mesmo.

A MUSICOTERAPIA NAREABILITAÇÃO DE IDOSOS

É importante abordar a questão da reabilitação em todos osníveis em que ela atua. No tratamentomusicoterápico, o idoso teráa oportunidade, num primeiro momento, de estimular suas ativi-dades mnêmicas e, a partir delas, atingir as demais funções cogni-tivas. No ato de tocar, cantar, improvisar, criar e partilhar experi-ências, entre outras atividades, ele elabora conteúdos mentais maiscomplexos a partir de sua produção sonoro-~usical. É estimula-doa retomar movimentos corporais, ao mesmo tempo em que vêresgatada a sua memória como um todo (Souza, 1997).

Tais fatos proporcionam um campo fértil para novas descober-tas. Trabalhando com um aporte mental, cognitivo, físico, bioló-gico e social, o idoso vê restituídas, a partir de sua própria produ-ção e de sua ação, f~ções que, devido ao processo natural doenvelhecimento, foram se alterando com o tempo, ou que foramalteradas por algum processo patológico. Estimular o potencial doindivíduo, reabilitando-o globalmente, é uma crença na sua capa-cidade como ser integral, indissociado, tratando-o como ser bi-

opsicossocial.A musicoterapia visa ao tratamento global do sujeito, encaran-

do suas funções como parte de um todo não-dissociado, em queo indivíduo, assim como a música, possui elementos que consti-tuem partes de um todo (Souza, 1997).

A música provoca reações de vários tipos, em que a resposta aum estímulo musical se dá de forma motora e/ou de forma men-tal. Mas, principalmente, a reação a um estímulo musical se dá nasdiversas áreas cognitivas e emocionais, nas quais o tempo de rea-ção muitas vezes é imediato.

Muitos estudiosos, dentre eles Samson & Zatorre (1994), vêminvestigando a questão das especializações hemisféricas e sua im-portância nas funções psíquicas superiores. Esses estudos eviden-ciam, na maioria dos indivíduos, o papel do hemisfério esquerdocomo lateralizado para as funções de linguagem verbal e o hemis-fério direito possuindo uma relação maior com a linguagem denatureza não-verbal, notadamente com a linguagem musical. O quese verifica em estudos recentes é que essa dicotomia não é inteira-mente aceita (Patel, 2003).

Nem sempre um: indivíduo com lesão no hemisfério direito terá '

prejudicadas todas as funções relativas à música e, sim, parte de-las. Um exemplo conhecido é o do célebre músico e compositorfrancês Maurice Ravel (1875-1937), que, após sofrer um aciden-te vascular encefálico no hemisfério lateralizado para a linguagem,desenvolveu uma afasia de recepção (afasia de Wernicke). O com- '

positor perdeu a capacidade de identificar a escrita musical, a açãode tocar o instrumento (no caso, o piano), de classificar e escre-ver notas musicais, mesmo quando tais notas eram ditadas poroutrem. Entretanto, permaneceu intacta a sua capacidade de re-conhecimento de melodias, distinguindo nelas os possíveis errosmelódicos, conseguindo, inclusive, perceber se um piano estavaou não afinado (Springer & Deutsch, 1998). ~

Tal exemplo demonstra que, ainda que na presença de um aco-metimento em um dos lados do hemisfério cerebral, a funçãomusical permanece, em parte, preservada, podendo ser estimula-da, mesmo em indivíduos com graves danos cerebrais.

O tratamento com a música proporciona um canal de comu-nicação que associa a carga afetiva e emotiva do indivíduo às di-versas funções e áreas cerebrais. A musicoterapia busca tratar oindivíduo a partir da integração e interação dos hemisférios cere-brais e suas funções, que, na verdade, colaboram entre si.

O ser é ritmo, melodia e harmonia, e, quando esses elementosestão em sincronia, o conjunto vibra e soa como música para osouvidos. Este é o princípio equilibrador, restituir ao indivíduo suacapacidade de equilibrar suas funções, fornecendo subsídios parao enfrentamento do novo: o novo movimento, no qual o indiví-duo se reconhece, recobrando suas funções através de uma lin-guagem terapêutica prazerosa, a linguagem musical.

Reabilitar, portanto, é trazer à tona funções adormecidas pelodesuso, dando forma e sentido; é restabelecer funções a~avés daprópria produção do indivíduo, utilizando o corpo como o pri-meiro instrumento musical do homem; é armar esse instrumentopara que possa tocar uma música regeneradora no contexto biop-sicossocial.

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PROCEDIMENTOS GERAIS

Entrevista

Para iniciarnloS um atendimento musicoterápico com a terceiraidade, devem ser verificados importantes aspectos que dizem res-peito à vida sonoro~musical, seja através do cliente ou do familiarmais próximo.

Primeiramente, em nossà prática clínica, realizamos a entre-vista inicial com o cliente e seus familiares, que pode ser feita se-paradamente. São catalogados os dados completos do cliente, atra-vés de conversa informal, na qual são trocadas informações geraissobre o atendimento musicoterápico, indicação, o que é a musi-coterap~a, em que ela pode beneficiar o paciente, entre outrosdados. E nessa entrevista que se dá o primeiro contato do tera-peuta com o paciente.

A entrevista musicoterápica possui uma peculiaridade: é neces-sário que ela vá além das informações contidas nas palavras, noconteúdo verbal. O musicoterapeuta deve valorizar as mensagensde conteúdo não-verbal, em que as informações tanibém se dãoe, principalmente, se darão a partir do canal sonoro-musical. Aqui,a música tem valor de mensagem, o som tem o poder de fazer sal-tar os conteúdos pelos quais o terapeuta, paciente e/ou familiaresirão transitar.

Testificação Musical

Na entrevista, o musicoterapeuta colhe dados essenciais e faz aponte para a segunda etapa do processo de atendimento clínico: atestificação musical, etapa específica do processo musicoterápico(Benenzon,1981). .

Em nossa prática clínica, podemos verificar que a testificaçãomusical se inicia na primeira entrevista e segue seu caminho ematendimentos posteriores. Nessa segunda etapa, o paciente encon-trará um campo fértil de experimentação de suas mem6rias musi-cais, de sua musicalidade, em que estarão à sua disposição todo oinstrumental musical e os recursos que concernem a uma sala demusicoterapia. Quanto às especificidades do instrumental para aterceira idade, veremos adiante.

O musicoterapeuta deve nortear as experimentações, buscan-do alcançar o paciente em seu nível musical, fornecendo-lhe aoportunidade de experienciar ritmicamente, melodicamente eharmonicamente o momento sonoro-musical, bem como as mú-sicas que marcam as etapas de seu viver.

Durante a testificação musical, é importante que o musicote-rapeuta esteja ao lado do paciente em suas experimentações e, apartir da linguagem musical, vá junto com ele nas canções, esta-beleça um elo entre a experiência do paciente com a música e asua pr6pria ação de fazer a música.

O musicoterapeuta tem um papel importante na construçãoinicial do que denominamos o "retrato sonoro-musical" do paci-ente, no que se refere ao registro e às anotações do material des-potencializado, durante a testificação musical.

O retrato sonoro é uma técnica que vimos desenvolvendo como objetivo de delinear o perfil sonoro-musical do indivíduo, des-de sua infância aos dias atuais. Esse objeto de trabalho pode serutilizado tanto com o idoso, no decorrer do tratamento musico-terápico, como nas entrevistas com os familiares mais pr6ximos.A elaboração do retrato sonoro e o conteúdo musical relacionadoàs vivências do indivíduo funcionam como parte da etapa do pro-cesso de atendimento do idoso e, também, como suporte técnicoe fonte de pesquisa para o musicoterapeuta. Objetiva-sé, portan-to, não s6 a ordenação da sua vida sonoro-musical, mas a coleta

df material sonoro-musical, por meio da associação das experi-~ncias musicais com as etapas e momentos especiais da sua vida,al!sociando-os no decorrer da testificação e das sessões iniciais.qbtém-se, assim, de forma seqüencial e cronológica, um arquivo

d .sonoro o paciente.I O musicoterapeuta é um profissional especializado cujos co-

nhecimentos musi~ais, dos códigos musicais e de outros de natu-reza não-verbal são sumamente importantes para a análise, avali-ação e interpretação dos dados emergentes durante um processomusicoterápico. Cabe ao musicoterapeuta o domínio sobre a es-crita musical, além do desempenho na sua capacidade de "visua-lizar" e associar a imagem musical trazida pelo indivíduo, relacio-nada aos seus conteúdos internos. Portanto, é função do profissi-onal musicoterapeuta reter na memória o material sonoro-musi-cal emergente e transcrevê-Ioapós a sessão de musicoterapia. Dessemodo, ele terá registrado os códigos musicais que darão sentido eque poderão ser analisados, posteriormente, à luz da interpreta-ção dos significados musicais propriamente ditos, bem como osassociados à semânticà (Priestley, 1994).

Na terceira idade, como já mencionamos, o indivíduo possuium repertório vasto, desde as canções de ninar até as músicas atu-ais. Portanto, o musicoterapeuta que atua junto a essa pessoa ne-cessita acompanhar esse repertório, buscando conhecê-lo emmaior profundidade, estudando as implicações históricas, sociaise políticas que esses indivíduos vivenciaram, representadas e re-tratadas nas canções de cada fase de suas vidas. O que podemosverificar é que 4In repertório não só representa a vida soÍloro-musical individual e as vivências e emoções mais pessoais, mas étambém o fio condutor que transpass:a uma coletividade, váriasépocas, o próprio tempo. Esse percurso é o fio, rítmico, melódi-co e harmônico que dará sentido ao que está desestruturado noidoso; ao que, aparentemente, foi esquecido através dos tempos.A partir de recordações musicais, portanto, épocas inteiras res-surgem, trazendo à tona a emoção do vivido e também do revivido,que aí podem ser elaborados e reconstruídos no foco do presente.

Para esse resgate terapêutico, muitos são os recursos musico-terápicos utilizados. Dentre eles podemos listar os seguintes:música em grupo, improvisação de letra e música, técnica de ten-são e relaxamento musical, complementação de melodia e letra,canto.

O INSTRUMENTAL MUSICAL

Em musicoterapia, um dos princípios básicos de atuação clíni-ca é a utilização de um objeto intermediário. O instrumento mu-sical é o ,objeto que intermediará a relação'terapêutica (Benenzon,1981). E a partir dele que o paciente, em grande parte, pode ex-pressar, sob a forma da linguagem musical, seus .sentimentos eemoções. O objeto intermediário é utilizado como uma extensãodo corpo do paciente, ,no qual o seu simbolismo e significados sãouma fonte de pesquisas e estudos para o melhor entendimento dopaciente. Daí o valor e a necessidade de análise criteriosa da utili-zaç~o do instrumental por parte do musicoterapeuta.

E importante a observação quanto ao uso de instrumental mu-sical no atendimento clínico musicoterápico com a terceira ida-de. Primeiramente, verifica-se necessário o uso de instrumentosmusicais que possuam as características gerais inerentes a um Ç>b-jeto intermediário. Maleabilidade, grande potência sonora, fácilmanuseio, proporcionar uma amplitude de movimentos corporaisgradativos na ação de tocar, entre outros, são fatores a serem ob-servados. Acima de tudo, o instrumento deve possuir leveza, ser

I feito de material o mais natural possível, como, por exemplo,membranas naturais, madelra~)eves e acessórios.âe baixo peso e

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não-cortantes. A razão para tal preocupação é que, muitas vezes, afalta de cuidados prévios pode acarretar prejuízos. O idoso, porexemplo, no decorrer da sessão, pode sentir-se fatigado e, conse-qüentemente, frustrado com seu desempenho no ato de tocar, seo instrumento oferecido e/ou escolhido for muito pesado.

O paciente, portanto, inicia uma sessão com um instrumentomusical com o qual se identificou, mas durante a mesma, muitasvezes, pela debilidade do corpo, o idoso vai sentir duplicar o pesodo instrumento escolhido em suas mãos. Ocorre, então, que esseinstrumento musical deixa de ser um facilitador do processomusicoterápico como objeto intermediário da relação terapeuta-paciente. O idoso passa a sentir o desprazer de estar com um ob-jeto que gera dificuldades, e é possível instalar-se uma frustraçãona sua produção sonoro-musical.

O paciente geriátrico possui, em geral, uma pele muito sensí-vel, verificando-se impo.rtante o cuidado, por parte do musicote-rapeuta, na oferta dos instrumentos musicais, para que estes nãocausem ferimentos que possam vir a acarretar uma impossibilida-de no prosseguimento dos atendimentos. Na terceira idade, o fa-tor tempo é de suma importância, e qualquer pequena lesão podevir a prejudicar, sobremaneira, a continuidade do tratamento.Devem ser observados, também, leveza, potência sonora e con-forto nos instrumentos, os quais visam proporcionar condiçõespara o desenvolvimento da amplitude dos movimentos corporaisdo idoso, dos mais sutis aos mais amplos. Cabe também ressaltara importância de não se utilizarem instrumentos que possaminfantilizar o paciente. A dificuldade de encontrar no mercadoinstrumentos com essas características apontadas não deve justifi-car a utilização de instrumentos referentes à bandinha de música,com motivos infantis, por exemplo. Deve-se dar preferência ainstrumentos de material natural, mas que possuam qualidades deinstrumento musical convencional e, principalmente, de leve ma-nuseio e boa potência sonora.

Os instrumentos musicais de maior utilização no atendimentomusicoterápico com a terceira idade são instrumentos que, emprincípio, pertençam à cultura do indivíduo e aqueles que, dUrantea anamnese musicoterápica, fOrám detectados como da formaçãoe .do gosto do paciente.1. Percussão:

.Sons indeterminados: chocalho, pandeiro, caxixi, afoxé,maracas, coco, tambor, bumbo, castanholas, guizos, clavas

.Sons determinados: kalimba, xilofone, timbale, conga e quin-to, agogô

2. Sopro: família das flautas, escaleta3. Cordas:

.Dedilháveis: violão e viola-caipira ...

.Cordas percutíveis: piano4. Eletrônicos: teclado, sintetizadores

Também são utilizados, em ~de escala, recursos eletrônicoscomo gravadores portáteis e microfones sem fio, de lapela e decabeça. A utilização de recursos como o compãct disc, fitas cassete,amplificadores, sofiwares de música, entre outros, tem sido cada vezmaior e se abre à exploração de novas possibilidades.

1994). A musicoterapia busca reativar o processo de ressocializa-ção do indivíduo potencializando a sua força criativa a partir doprazer de cantar, tocar, improvisar, criar, movimentar-se ao somdas canções, partilhando experiências.

A música é um forte e poderoso canal de comunicação entre asgerações e dentro de uma época. A musicoterapia, atuando comosuporte de caráter preventivo-social, visa, em primeira instância,estabelecer um elo entre os participantes do grupo, no comparti-lhar de experiências a partir do canal sonoro-musical. A música,por seu poder organizador, disciplinador e esttuturador, atinge,justa~ente, o lugar da suposta perda objetiva e subjetiva que oprocesso natural de envelhecimento nos impõe: o tempo.

A música propicia a ordenação do espaço individual e coletivono tempo musical. Um lugar onde o idoso pode se sentir reorde-nando-se no tempo, a partir do resgate de sua mem6ria musical,não mais para recordar o passado ou o "bom tempo que se foi",rnas para se reestruturar e se apossar do presente: "O tempo é umgrande círculo com movimento ritmado, estruturalmente harmô-nico, caminhando melodicamente, passo a passo, frente a umaevolução. Eu me dou conta, nesta roda-viva, de que vou envelhe-cendo, e devo me interrogar sobre este meu envelhecimento" (Sou-za,1997,p.8). .

A musicoterapia busca, a partir do resgate da música do indiví-duo e do grupo, propiciar um lugar para o encontro do indivíduocom as suas pr6prias vivências, integrando-o socialmente. A mú-sica como atividade criativa valoriza o indivíduo para si mesmo,trazendo à t;üna a auto-realização do idoso no coletivo e no indivi-dual, a partir de sua produção sonoro-musical. Portanto, o obje-tivo de elevação da auto-estima do idoso se evidencia na sua rea-lização musical, no partilhar das experiências musicais, no resgatee na manutenção da mem6ria individual e coletiva. A partir da lin-guagem musical, ele representa e marca afetiva e emocionalmentetodos os tempos inscritos em seu corpo e em sua mente, que vêmenvelhecendo (Souza, 1996). Num estudo recente com idososasilados, verificou-se a importânCia do atendimento musicoterápicono que se refere à maior estimulação para a vida, satisfazendo ne-cessidades importantes para os participantes do grupo (Hilliard,2004).

À proporção que envelhecemos, muitas funções biol6gicas,psicol6gicas e sociais se modificam. A deterioração fisica se tomamais evidente, o ritmo de nossos movimentos se altera. Somosacometidos por dificuldades gradativas na audição, visão, deam- .

bulação. São verificadas também dificuldades quanto à manuten-ção nos ritmos da fala e do sono. Tais comprometimentos geram,além das dificuldades sociais, conseqüências psicol6gicas profun-das, tais como a sensação de impotência diante do declínio inexo-rável das capacidades físicas, trazendo os aspectos depressivos comocarro-chefe de um processo de baixa estima e desvalorização

(Bright, 1988).Na sociedade contemporânea, o núcleo familiar tem se modi-

ficado amplamente. Tempos atrás, o idoso era o centro da famí-lia, canal pelo qual as hist6rias familiares eram passadas. O idosoera o registro vivo de uma época, e era ele quem arquivava as in-formações a respeito da continuidade de determinado grupo.Portanto, as atividades giravam em tomo dele. Ao indicarmos oatendimento de musicoterapia em grupo para a terceira idade,devemos terem mente essas mudanças sociais e históricas.

Em qualquer tempo da existência, infância, adolescência,. ju.,ventude, maturidade, velhice, o ritmo pertence ao indivíduo. Nocaso específico do idoso, ele não é somente aquilo que se vê, mastambém aquilo que não se vê. O musicoterapeuta deve aprender aescutar e dar um valor de mensagem às canções que marcaram cadaum dos tempos do seu viver, desde a infância até a velhice.

ABORDAGENS DO ATENDIMENTO PARA ATERCEIRA IDADE

Musicoterapia Preventivo-social emGrupos de Idosos

Na musicoterapia preventivo-social, o atendimento em grupoé recomendado, não retirando a relevância, em determinados ca-sos, do atendimento individual (Souza, Assumpção, Landrino,

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Musicoterapia e a Clfnicado Envelhecimento I 1221

o idoso tem opiniões formadas e conceitos cristalizados. Ele,muitas vezes, não acredita no poder vital de suas potencialidades ecapacidades, que podem ser desenvolvidas nessa etapa de sua vida.Por vezes, o idoso acredita que a sua vida não terá mais transfor-mação. Em nossa prática clínica, constatamos que a linguagemmusical pode proporcionar um caminho revitalizador de busca doprazer de viver, de conviver, de criar e desenvolver novas formasde viver. A música como linguagem maleável e pertencente à vidado indivíduo possibilita, de forma prazerosa e não-ameaçadora, essecaminho para a transformação do idoso. Ele poderá lançar mãodas canções que marcaram uma época boa de sua vida, bem comorecordar músicas que foram verdadeiras inscrições de momentosdifíceis de seu Viver. A partir da música, de poderá cantar suas dorese amores, suas perdas e ganhos, reconhecendo-se em seu fazermusical. Dessa forma, dabora conteúdos internos, afetivos e emo-cionais, num processo contínuo de e$truturação e ordenação, mas,ao mesmo tempo, de maleabilidade e descobertas.

Durante essa atividade musical, acreditamos que as funçõescognitivas do indivíduo são integralmente trabalhadas. O poder deassociação que a linguagem musical proporciona, na ação de fazermúsica, ativa centros cerebrais como o hipocampo, o c6rtex e asáreas sensitivas e motoras. Nessas conexões, portanto, uma forçaprimordial se evidencia: é a carga afetiva e emocional que pode-mos expressar através da música. No momento de se fazer músicana musicoterapia em grupo, por exemplo, constatamos que o in-divíduo, além de partilhar suas experiências de vida, recorda, re-tém, utiliza, associa e integra pensamentos e representações in-ternas refletidas no musical. A música nos alcança onde, muitasvezes, a palavra não consegue alcançar. Na emoção expressada emuma canção, pode estar a conexão do passado com o presente,impulsionando o indivíduo à vivência do novo.

indivíduo. O indivíduo com essa demência, portanto, vai sendoafetado no que tem de mais nobre, sendo lesado, inicialmente, nasfunções que adquiriu mais tarde em sua vida, em especial os aco-metimentos de áreas neocorticais. No decorrer do processo de-mencial, o fato de as perdas de conexões se darem a partir das áreassuperiores gera dificuldades em acessar as mem6rias das mais re-centes para as mais arcaicas (Reisberg, Franssen, Souren et aI.,1998; Reisberg, Franssen, Hasan et aI., 1999). O indivíduo, porexemplo, pode recordar da sua esposa por mais longo período,apresentando maior dificuldade de recordar dos filhos.

Mediante todas as já cônhecidas dificuldades para o tratamen-to clínico da demêneia de Alzheimer e suas limitações terapêuti-cas, a musicoterapia procura atuar na parte eficiente do indivíduo.O que observamos, na prática clínica musicoterápica, é que taisindivíduos, em um estágio inicial da doença, sabem que algo estáacontecendo com sua m'ém6ria e buscam entender esse fenôme-no. Essa constataçãõ de que começa a existir um declínio cogniti-vo, principalmente relacionado à perda da mem6ria recente, fatoevidenciado pelos constantes esquecimentos, causa-lhe frustração,

podendo gerar depressão.Em nossa atuação clínica, o que observamos é que o resultado

desse processo é um abandono que o indivíduo faz de al~asatividades psíquicas. Ele deixa de ativar partes de seus circuitoscerebrais que ainda estão eficientes e se deixa abater, levado poruma baixa m9tivacional. O tratamento musicoterápico entra comouma força poderosa, estimulando essas áreas encefálicas não-lesa-das. A música é uma das linguagens mais arcaicas e uma das últi-mas formas de comuniçação a serem lesadas pela doença de Alzhei-mer (fomaino, 1999).

Em muitos casos, durante a testificação musical, observamosque o indivíduo está com uma suposta perda da capacidade deintegrar seus pensamentos para oferecer uma resposta a partir dalinguagem verbal. Com o uso da linguagem musical, o indivíduo éestimulado em suas conexões mais profundas, alcançando Qíveisda mem6ria da mais arcaica para a mais recente. Ap6s uma sessãode musicoterapia, ou durante o processo de fazer música na ses-são, o paciente se recorda de momentos de vida pregressa, sentin-do grande prazer em ter recuperado algo que, até então, estavasupostamente perdido. Em revisão literária atual, verifica-se quea música enquanto objeto terapêutico surge como um recurso, emtermos de custo e benefício, mais acessível para se administrarcomportamentos agitados em idosos com demência. A incorpo-ração de música de predüeção do paciente tem o potencial paraprover uma aproximação terapêutica para o cuidado com essesidosos em questão (Sung, Chang, 2005).

O tratamentq musicoterápico utiliza a ampla capacidade deestimulação que possui o som, notadamente a música, atuando emmúltiplos circuitos encefálicos. Além de atuar nos circuitos neo-corticais, o estímulo musical possui grande poder de penetraçãoem ambos os hemisférios cerebrais, notadamente nas regiões quecompõem o sistema límbico. Tais regiões, de estrutura filogeneti-camente mais arcaica (Ferreira, Santos, Süva, 2000) e geralmentepreservadas durante os processos demenciais, emergem comocentros de estimulação alternativos aos circuitos neocorticais, lu-gar de dificuldades iniciais do paciente com demência de Alzhei-mer (Reisberg, Franssen, Souren, Auer et aI., 1998).

A musicoterapia trabalha, portanto, com as regiões límbicasprese~das, visando ao resgate das mem6rias musicais, das maisarcaicas às mais recentes, e estimulando as funções cognitivas apartir da atuação da música e seus elementos nos circuitos emoci-onais. N~~tendimento individual, busca-se detectar um caminhosonoro-musical específico para cada indivtd"Q.-A8 lesões são de-genetativas e difusas na demência de Alzheimer, portanto, caberá

Musicoterapia e Demência de Alzheimer

Muitos são os estudos em diversos países sobre a musicotera-pia e os efeitos do tratamento com música em indivíduos porta-dores de processos demenciais e, mais especificamente, na demên-cia de Alzheimer. Cada vez mais e de forma mais aprofundada, essetema é pesquisado e estudado nos drculos científicos (Clair, 1998).

Para tanto é necessário entendermos a forma como a música.e seus elementos podem intervir ,como tratamento em um indi-víduo com processo demencial. E importante frisar que a abor-dagem musicoterápica nos processos demenciais é, principal-mente, de caráter funcional. Devem-se buscar, junto ao indiví-duo com demências, as possibilidades e as eficiências que eleainda possui, apesar da irreversibilidade do processo. Verifica-se necessário, portanto, um planejamento adequado do tratamen-to musicoterápico, a partir da testificação musical do paciente,reunindo e associando os dados coletados com os familiares maispróximos, bem çomo os dados dos programa~ desenvolvidos pelaequipe multidisciplinar que atende o paciente. O planejàmentodeve levar em conta o grau de acometimento da demência e pri-vilegiar a história de vida sonoro-musical do cliente e dos seus fa-miliares na relação com ele. Do mesmo modo, é importante ava-liar o grau de recordação musical do paciente e suas reminiscên-cias, evocadas a partir da estimulação sonoro-musical, relaciona-das aos períodos de sua vida pregressa. Em nossa atuação clínica,observamos que o vínculo afetivo demonstrado pelo paciente comas canções evocadas durante as etapas do processo musicoterápi-co pod.e determinar um parâmetro de avaliação e prognóstico dotra~ento.

A demência de Alzheimer afeta, primordialmente, sítios cere-brais que controlam a comunicação, a memória e o raciocínio do

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1222 / Musicoterapia e a Clínica do Envelhecimento

ao musicoterapeuta traçar um programa de tratamento que aten-da especificamente àquele paciente.

O musicoterapeuta deve estar atento, primordialmente, ao es-tado de comprometimento decorrente do processo demencial, aosrecursos emocionais do paciente, às suas preferências musicais, aoacompanhamento familiar e dos cuidadores e aos suportes que estespossam oferecer. O programa de tratamento deve ser traçado deforma que os familiares mais pr6ximos ao paciente, como tam-bém o cuidador, possam acompanhar e atuar dinamicamente,como coadjuvantes no processo musicoterápico. Tal abordagemfornece um ambiente de segurança, tanto para o idoso como paraos familiares que estão acompanhando o sofrimento da perda gra-dual desse indivíduo.

Aquele que cuida rotineiramente do paciente deve estabeleceruma estreita relação com os tratamentos indicados. Como mem-bro participativo, atuante e coadjuvante ao tratamento, o cuidadorpode auxiliar para que os progressos conseguidos pelo paciente,no espaço musicoterápico, tenham aplicabilidade no seu dia-a-dia.O musicoterapeuta deve orientar o cuidador a utilizar os resulta-dos positivos obtidos pelo paciente nas sessões, nas suas ativida-des rotineiras, nas quais a música, os estilos musicais e os padrõesrítmicos puderem auxiliar para o melhor desempenho do pacien-te. Observamos que esse trabalho integrado proporciona menornível de frustração entre cuidador e paciente, oferece a oportuni-dade de um trabalho que associa os progressos do paciente no tra-tamento, a aplicabilidade dos mesmos nas atividades diárias, bemcomo produz um encontro de quem trata com quem cuida.

Corroborando com o já descrito anteriormente, estudo recen-te demonstra que indivíduos acometidos por demência em grausevero, se estimulados com música de sua hist6ria musical pregressa(HSMP) por seus cuidadores, antes da realização de suas ativida-des de cuidados pessoais matutinos, apresentam melhora no mo-vimento corporal, bem como fortes influências na consciênciasensorial. Os pacientes corrigiram a postura corporal, os movimen-tos apresentaram-se mais fortes e mais simétricos, além de Qs in-divíduos terem alcançado maior consciência de si, do outro quedele está cuidando e do ambiente que o cerca, realizando commaior competência as atividades de cuidado pessoal sob o acom-panhamento do profissional cuidador (Eva Gotell, Steven Brown,Sirkka Liisa Ekman, 2003). O musicoterapeuta poqe e deve for-necer o respaldo clínico musicoterápico, tendo esse tipo de atua-ção sob sua supervisão. -

Quanto ao trabalho em grupo com pacientes portadores dedemência de Alzheimer, é necessário que o musicoterapeuta ava-lie especificamente cada caso, o nível de d~_mência e a hist6riasonoro-musical de cada paciente. Essa ~orma de trabalho auxiliana organização de grupos de pacientes. O terapeuta deve realizar aentrevista e a testificação musical de forma individual. Ao consta-tar o grau da demência de cada um e obter um "retrato sonoro-musical" dos mesmos, podemos estabelecer ~ programa de tra-tamento em grupo que privilegie a soc\~ização e a troca de expe-riências.

A musicoterapia em grupo deve ser oferecida aos pacientes emum estágio inicial ou moderado do processo demencial, pois po-dem beneficiar-se, interagindo uns com os outros-, a partir da co-municação musical.

A entrevista em musicoterapia com pacientes em um estágiomais avançado no processo demencial deve ser realizada tambémcom o familiar, que pode auxiliar nas informações sobre gostosmusicais e na hist6ria pregressa musical do indivíduo, de formaordenada. É de suma importância que, durante a testificaçãomusical com o idoso nessa condição, o musicoterapeuta já pos-sua, eomo recurso, uma ordem de preferência de natureza crono-

lógica m4sical, para ir testando até onde o paciente pode ir comsua competênciacognitiva. Traçado, então, o perfil sonoro-musi-cal, o musicoterapeuta terá um backeTOund inicial, para a aborda-gem musicoterápica para cada caso em particular (Souza, 1997).

No estágio moderado da demência de Alzheimer, o pacientedemonstra ainda capacidade de recordar canções que têm signi6.-cado afetivo para ele. Muitas vezes recorda letras inteiras quandoestimulado melodicamente pelo musicoterapeuta, bem como, logoapós cantá~las, consegue expressar 6.sionômica e sonoramente suasemoções. O paciente, quando se dá conta de que recordou umaletra inteira, muitas vezes exclama para o musicoterapeuta: "Euconsegui lembra. toda da, não foi?"

É a partir da mdodia conhecida e mais arcaica (da inf'ancia eadolescência) que o indivíduo, nesse estágio da doença, pode es-tabelecer coQexões mais s6lidas. Observamos, no tratamentomusicoterápico, que a recordação específica da letra, sem a melo-dia, pode estar desconectada e, portanto, não acontece de formaordenada. A música, entretanto, uma vez encontrado o 6.0 mel6-dico, é quase sempre recordada integralmente pelo paciente. Ouseja, a música não é encontrada por ele a partir da palavra, massim a partir da sua pr6pria linguagem musical. O musicoterapeutapode solicitar, verbalmente, que o paciente recorde a partir donome da canção, e muitas vezes ele não consegue. Mas se omusicoterapeuta tocar o início da melodia, mesmo sem cantá-'la,é provável que o paciente consiga estabelecer conexões que o le-vem a recordar integralmente da letra da canção.

Quando p paciente não consegue recordar totalmente a letra,é possívd utilizar a técnica de complementação de melodia e letra(associadas). Por exemplo; ao cantar urna canção do repert6rio dopaciente, vinculada afetiva e efetivamente com ele; o musicotera-peuta aguarda que o paciente complete a letra, deixando a últimasílaba ou a última palavra de um verso para ele completar. Isso estáassociado, de um modo geral, aos graus de tensão e relaxamento,movimento e repouso que os acordes musicais proporcionamquando fazemos música. Vemos, assim, que a música, como umalinguagem não-verbal, auxilia o paciente a ir ao encontro das pa-lavras (Damásio, 2000). Um estudo ainda mais atual sobre a rela-ção da música, mem6ria e demência demonstra que pacientesreagem fortemente ao estímulo de melodias familiares: o pacien-te canta simultaneamente a melodia conhecida, recorda e fala al-gumas palavras relacionadas à letra da música, recorda da letra econtinua a cantar ap6s o término do estímulo musical em ques-tão. O estudo, dentre várias considerações, confirma que a me-mória musical é preservada em processos demenciais e que é umgrande caminho como guia para pesquisas futuras (Lola, Cuddy,

Jacalyn, 2005).Tais canções devem ser de conhecimento prévio do paciente,

por isso a importância da investigação do musicoterapeuta, paragarantir o backeTOund musical que retratará a história sonoro-mu-sical do paciente. A música fornece um apoio encorajador no quese refere à bagagem musical que possui o indivíduo e que podeem algumas formas de demência ser corrflavelmente e quantitati-vamente avaliado por observação do comportamento (Lola, Cuddy,

Jacalyn, 2005).Os trabalhos clínicos e pesquisas cientí6.cas consagradas têm

demonstrado que os padrões rítmicos têm bastante ressonânciaem casos de indivíduos com demência de Alzheimer em estágiosmais avançados (Tomaino, 1998).

É importante que, nessas intervenções musicoterápicas, o aten-dimento individual seja privilegiado. Nesse momento, muitas ve-zes <> paciente não entende mais o que está sendo verbalizado, masconsegue recordar canções, estabelecendo as relações a partir dopadrão rítmico, expressado ao fazer música durante as sessões. Em

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~usicoterap;a e a Clfnica do Envelhecimento / 1223

mostrando a associação íntima entre corpo, movimento e emo-ção.. (Alexander, Crutcher, De Long, 1990).

E no corpo e na fala que, progressivamente, o indivíduo com-doença de Parkinson vai sentindo a perda do controle de seusmovimentos, vendo surgirem as incapacidades de deambulação,de comunicação e expressão.

Como uma doença idiopática neurodegenerativa, a doença deParkinson vem atingindo um número cada vez maior de indivídu-os idosos. Os sintomas mais comuns são a rigidez muscular, ostremores de repouso, a lentidão dos movimentos (bradicinesia), aperda dos movimentos (acinesia), problemas de equilíbrio e de-ambulação, expressãefacial prejudicada, bem como dificuldadesna coorden3;ção motora da fala (Pacchetti, Mancini, Aglieri et al.,

2000).O tratamento musicoterápico do paciente com Parkinson visa,

primordialmente, ao controle dos sintomas, à melhora da quali-dade de vida do indi~duo, buscando reduzir às incapacidades clí-nicas com o uso de técnicas que promovem o controle rítmico docorpo, atuando nos movimentos, na deambulação e na fala (a par-tir do ato de Cantar).. A música age como um estímulo específico,com o objetivo de obter respostas motoras e emocionais do paci-ente. A abordagem musicoterápica, nesse caso, é semelhante àque-las de que tratamos anteriormente, com a aplicação de entrevis-tas, testificações musicais, mas deve focalizar, essencialmente, oseu objetivo na melhora das condições motoras e emocionais dopaciente. O musicoterapeuta precisa estar atento às fases da do-ença, constatando o grau em que se encontra o paciente.

Na nossa prática clínica, observamos que, na doença de Parkin-son, há uma quebra do-padrão rítmico do corpo, quando o indi-víduo perde o controle sobre os movimentos. E é a partir do tra-balho rítmico que podemos estimular os pacientes.

O ritmo estimula as respostas 'imediatas e espontâneas, aumen-tando o nível de atenção. Um ritmo bem-estruturado e em anda-mento apropriado ao tempo do paciente é o que dá suporte paraque de se engaje na mesma pulsação do ritmo, auxiliando-o nacoordenação de seus movimentos.

A música proporciona uma estrutura, uma ordenação e, aomesmo tempo, uma maleabilidade para que o paciente sinta o seucorpo de forma mais rítmica e estruturada, ao tocar um instru-mento ou cantar e escutar uma canção. A atividade corporal pre-judicada encontra na música uma aliada, uma facilitadora dosmovimentos corporais. Quando o corpo se encontra com muitostremores, o estímulo musical adequado pode auxiliar no relaxa-mento da musculatura, facilitando o movimento e amenizando asdores do paciente. Em estado de "congelamento" dos movimen-tos, a ação de fazer música impulsiona e incentiva a regularidadedo movimento, trazendo a cadência perdida. Uma música de ca-ráter estimulante aumenta a coordenação motora, proporcionamaior exatidão nos movimentos e dá evidência de que pode me-lhorar principalmente os movimentos dos braços com maior pre-cisão. (Bernatzky, Bernatzky, Hesse, StafTen, Ladurner, 2004).

Muitas vezes, o comando verbal para a realização de um movi-mento corporal de um paciente com doença de Parkinson é pre-judicado pela bradicinesia e pela falta de coordenação. No atendi-mento musicoterápico, a utilização adequada da música fornece,muitas vezes, o apoio para a realização de outras atividades, como,por exemplo, a deambulação acompanhada de um ritmo simétri-co e regular (Pacchetti, Mancini, Aglieri et al., 2000). É impor-tante o oferecimento de instrumentos musicais simétricos, comotímbale e tambores, onde a forma de tocar (com baquetas grossase pontas de feltro) e os timbres mais graves promovem maior re-laxamento da musculatura e conseqüente controle dos movimen-tos e regularidade aos mesmos.

nossa prática clínica, observamos que os estímulos a partir de pa-drões rítmicos podem auxiliar desde as recordações de letras ecanções até a ordenação dos movimentos corporais.

O idoso, ao sentir e perceber a rítmica ordenadora e estrutu-rante da música, segue com seu pr6prio corpo em IJiovimentoscoerentes, reconhecendo-se como produtor desses movimentosordenados. Tal reconhecimento proporciona mais equilíbrio, prin-cipalmente na deambulação. O domínio da estrutura rítmica cor-poral é fornecido pela ação de fazer música, no ato de tocar uminstrumento musical (como o tímbale de forma simétrica), em queos tempos fortes e fracos de um padrão rítmico fornecem o re-pouso e o impulso para o novo movimento. Esse recurso é im-portantepara que o paciente se sinta equilibrado fisicamente emsua marma ritmada e apoiado pela estrutura que a música propor-ciona.

Os estudos de Zatorre et alo (1992) vêm apontando a impor-tância da percepção e produção dos padrões temporais ou rítmi-cos, tanto na linguagem verbal como na linguagem musical, de-monstrando seu valor para a comunicação do ser humano e, con-seqüentemente, a sua estruturação.

O indivíduo acometido de um processo ~emencial está comperdas progressivas da identidade, em todos os níveis. As mem6-rias estão sendo apagadas. O trabalho de musicoterapia, seja emgrupo ou individual, visa proporcionar um ambiente de bem-es-tar, em que a música ofereça o caminho para o resgate de suasmem6rias ainda eficientes. Os familiares devem, sempre que pos-sível, fazer parte do tratamento, de forma participativa e atuante.O estímulo musical não s6 auxilia o paciente, mas estabelece rela-ções de prazer e ludicidade entre ele, seus familiares, cuidadorese o meio que o cerca. Verificamos em nossa prática clínica que amúsica pode, nos estágios mais avançados da doença, ser o últimoelo, a derradeira forma de comunicação do indivíduo com o mun-do. Ela proporciona ao paciente com demência estabelecer umaponte com a estrutura afetiva na qual a aliança com o musical faza comunicação do ser consigo mesmo e, por conseqüência, com ooutro.

Quando o musicoterapeuta toca uma canção conhecida dopaciente, ao escutá-Ia, imediatamente ele modifica sua fisionomia,enrubesce, sorri ou até mora, demonstrando assim a estreita edireta conexão límbica, canal de comunicação entr~ a música e aemoção. "Pesquisas em neurociência indicam a existência de umaforte conexão entre o sistema auditivo e o sistema límbico" (To-mai~o, 1999, p. 116). ~

E nessa estrutura afetiva que a música penetra, não como umaimitação ou c6pia, mas como ela mesm~, auxiliando o idoso nabusca do vínculo perdido, ao associar o estímulo musical externoao consonante interno. Quando a palavra já não pode mais expres-sar sentimento e significado, é na comunicação a partir da músicaque se estabelece o elo para o paciente e os familiares. Cantar umacanção e perceber que o seu ente querido expressa um sorriso oususpira, durante ou ao fIm de um canto, é uma forma de comuni-car: "Eu estou ainda contigo e sei que tu ainda estás comigo."

Musicoterapia e Doença de Parkinson

É no corpo e a partir dos movimentos corporais que o indiví-duo expressa também o sentido da música. A música impulsionao movimento. Do mesmo modo, a relação da emoção com omovimento é estreita tanto em sua forma programada quanto ilomovimento automatizado (Pacchetti, Mancini, Aglieri et al., 2000).Parte do corpo estriado, uma das estruturas encefálicas ligadas àdoença de Parkinson, pertence ao sistema límbico. O denomina-do "estriado ventral" participa do comportamento emocional,

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""1224 I Musicoterapia e a Clfnica do Envelhecimento

No que se refere ao canto, o paciente com a doença de Parkin-son se beneficia profundamente, pois à proporção que canta vaimelhorando a capacidade respirat6ria, bem como vai adquirindodomínio sobre a musculatura das cordas vocais, facilitando a emis-são sonora. É possível que a voz rouca e trêmula, inicialmente, ofaça sentir-se incapaz de cantar.

Na escolha do repert6rio musical, é importante que o musico~terapeuta estimule o paciente a começar por canções mais sim-ples, em compassos em que possa existir uma pausa para o des~canso, na mesma estrutura do compasso. Assim, deve-se optar, porexemplo, pelo tempo de valsa (3/4), ou o compasso (2/4), no qualo tempo forte se instala, assemelhando-se ao tempo da marcha,formando um apoio para o impulso seguinte.

Em alguns casos estudados por Sacks (1998) foram comprova-dos os efeitos da ação de tocar instrumentos e da reação positivade pacientes que "descongelavam" seus movimentos e podiamtocar, ao piano, determinadas canções por cerca de quatro horasseguidas. Isso, é claro, em pacientes que sabiam tocar o instru-mento. E, ao tocar o instrumento, o sintoma da doença de Parkin-son desaparecia, dando lugar à fluência de movimentos e à nor-malidade. No momento de fazer música, essa paciente se liberta-va, durante esse período, dos sintomas que apresentava.

Na nossa experiência clínica, observamos, regularmente, amelhora acentuada dos tremores e da rigidez muscular dos pacien-tes com o decorrer da sessão, possibilitando~lhe o uso dó instru-mento musical e a nítida melhora da emissão sonora a partir do canto.

Nos movimentos rítmicos produzidos pelo paciente a partir damúsica, é necessário que o musicoterapeuta proporcione a ele umambiente em que os movimentos possam ser livres no ato. de to-car. Ao mesmo tempo, deve fornecer um fundo musical com an-damento constante, agradável, ,em tempo regular e firme, bemcomo de intensidade moderada. E de fundamental importância esselugar, de segurança e estabilidade, onde o paciente se sinta livrepara experimentar as várias formas de tocar e, aos poucos, vá selibertand~ da rigidez muscular, do tremor, ao fazer música, tocare cantar. E no movimento e na ~ção de fazer a música que o paci-ente com doença de Parkinson consegue, muitas vezes, o relaxa-mento corporal, obtendo prazer e abstraindo, por um tempo, suasdificuldades. Recentes desenvolvimentos em pesquisas do funcio-namento cerebral e no campo da Musicoterapia vêm confirmar autilização da música, bem como vêm conduzindo o desenvolvimen~to de novos métodos baseados em música par~ o tratamento doParkinson, com o objetivo de aliviar os sintomas da doença, comotambém de outras doenças neurol6gicas (Myskja, 2004).

Esses pacientes, muitas vezes, se sen~m frustrados por nãopoderem deambular com a precisão" o ritmo e a coordenação deantes. No decorrer do processo musicoterápico, sugere-se ao pa-ciente que escolha umá canção que ele irá introjetar como a "suacanção de ação". Tal música deve possuir compasso, andamento eritmo adequados para ele. Essa canção O' acompanhará em suasatividades cotidianas, sendo utilizada como um referencial inter-no, pr6prio, na execução dos seus movimentos. O uso da "cançãode ação" auxilia sobremaneira a sua coordenação mptora.

Música é movimento. Se o paciente descobre a sua canção e asente dentro de si, terá um apoio, um suporte musical estrutura-do na realização dos movimentos, -ao cantá-Ia para si mesmo. Amúsica se torna uma companhia para as atividades rotineiras, emque a tarefa de ir ao banheiro, por exemplo, já é algo tão difícil.Esse suporte musical o auxilia no controle dos movimentos respi-rat6rios, da voz, da deambulação, reorganizando os movimentps;:corporais a partir da estruturação musical. A música pode ser ajus-tada aos movimentos e os movimentos a ela; afinal, o que faría-mos sem da quando desejássemos dançar? !

Musicoterapia e Seqüelas deAcidente Vascular Encefálico

o tratamento m1isicoterápico com pacientes acometidos deacidente vascular encefálico (AVE) vai depender do tipo de seqüelaproduzida, que pode acarretar problemas relacionados à atenção,concentração, compret;nsão e eXpressão, bem como problemasfísicos (Grob, 1998).

A avaliação musicoterápica deve ser realizada individualmente,pois o programa de tratamento deve atender às necessidades indi-viduais do paciente. Podem existir pacientes com seqüe!as seme-lhantes, mas as necessidades são sempre diferentes. E precisolevar em conta a expectativa do paciente diante do tratamento demusicoterapia. Durante a avaliação e testificação musicoterápicas,nem sempre o paciente pode expressar-se verbalmente, devido àsseqüelas. Por isso, é importante que o musicoterapeuta explique,detalhadamente, o programa de tratamento e explicite os objeti-vos a serem trabalhados tanto para o paciente, se ele puder com-preender, como para o familiar ou cuidador.

O cliente pode estar impedido de se expressar verbalmente, masé possível que esteja lúcido para compreender e para auxiliar emseu próprio tratamento. A dificuldade de expressão não deve seruma barreira para o entendimento das suas necessidades por par-te do musicoterapeuta. A música é a via de acesso, o canal deco-municação pelo qual o paciente pode expressar suas vontades enecessidades.

Um paciente cuja seqüela é a hemiparesia ou a hemiplegia perdeo equilíbrio e os movimentos de parte do corpo. Com isso, alteraa imagem corporal que possui de si mesmo, sentindo um estra-nhamento do seu próprio corpo. A música e seus elementos cons-titutivos (ritmo, melodia e harmonia), nesse caso, têm um papelrelevante no que se refere à reintegração dos movimentos corpo-rais e à descoberta de novas formas de adaptação às transforma-ções neurológicas causadas pelo AVE, que se evidenciam na ativi-dade corporal ([omaino, 1999).

A música pode auxiliar nos casos de seqüela de AVE, na esti-mulação da sensopercepção (Kim Koh, 2005), na adequação rít-mica da marcha, nas expressões rítmicas corporais, na expressãoverbal, nas formas de expressão não-verbal, como, por exemplo,gestos, expressões faciais de alegria, surpresa, entre outros. Notrabalho com a música, utilizando a melodia, o canto e a interpre-tação no canto e observamos que o paciente pode estabelecer umaligação com as expressões verbais, muitas vezes prejudicadas. T e-rapia deentonação melódica e técnicas vocais relacionadas podemmelhorar a disfasia expressiva e vêm sendo de grande ajuda nareabilitação de desordens neurológicas como o Parkinson e o AVE(Myskja, 2004).

Quando um paciente tem consciência de que perdeu a capaci-dade de expressar verbalmente o que deseja e, mesmo com dificul-dade, consegue cantar um pequeno trecho musical com letra, expe-rimenta um momento gratificante, expressando, através da música,o que de outra forma lhe é impossívd realizar. Isso não quer dizerque a expressão musical substitua a palam, mas ela é uma outraforma de comunicação, em que muitas das estru~ musicais seassenlelham às estruturas que formam a linguagem verbal. Por exem-plo, o ritmo, as inflexões sonoras, as mdodias vêm carregadas desigrlificados. O musicoterapeuta pode lançar mão dessas estruturas,que aproxim~ ambas as linguagens, para oferecer um canal decomunicação aos desejos e vontades do paciente impedido de ex-pressar-se por uma lesão muitas vezes irreversível.

Da aproximação dessas linguagens, abordando as semelhançase diferenças entre elas, vão ocorrendo a adequação e a adaptaçãodo indivíduo a novos comportamentos. O estímulo musical, prin-

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Musicoterapia e a Çlrnica do Envelhecimento I 1225

cipalmente o ritmo, pode auxiliar nessa nova adaptação, aumen-tando a transmissão de dados nas diferentes áreas do cérebro eestabelecendo uma rede de estímulo e informação, portanto, derespostas motoras e sensitivas.

A música é um fator preponderante de estimulação em varia-das partes do cérebro, possibilitando conexões que, mais tarde,podem auxiliar na capacidade de adaptação de outras áreas docérebro para substituir funções já perdidas. Ou seja, atua na plas-ticidade neuronal, referindo-se a alterações estruturais e funcio-nais, e nOs mecanismos de comunicação neuronal, as sinapses,como resultado de processos adaptativos do organismo (Chollet,Di Piero, Wise et al., 1991). Em estud?,~ mais recentes, autoresreferendam que a música oferece uma oportunidade sem igual parao melhor entendimento da organização do cérebro humano, ten-do um papel privilegiado na exploração da natureza e extensão deplasticidade do cérebro (Peretz, Zatorre, 2005).

O atendimento musicoterápico pode ser realizado em grupo,dependendo da avaliação do musicoterapeuta quant9 à elegibili-dade para tal forma de tratamento. O trabalho de musicoterapiaem grupo, para pacientes que já estão com seqüela de AVE porperíodo mais longo, é um momento de grande prazer para eles,pois tocar e partilhar a ação de fazer música é um dos momentosem que o paciente pode comunicar-se socialmente, sentindo7seprodutivo ao experlInentar sua voz e seus movimentos associadosaos do grupo. A emoção que a música proporciona incentiva opaciente a seguir adiante junto com seus companheiros de grupo.

Para a forma de atendimento illdividual, é elegível o pacienteque necessita de uma abordagem focal, mais específica, como nocaso de se estabelecer um programa de musicoterapia breve parapacientes que foram acometidos por AVE recentemente. Dessaforma, a abordagem deve ser intensiva e focalizada, para que opaciente se beneficie o mais rápido possível do tratamento.

CONCLUSÕES

Antes de aprenderolos a dividir as áreas de conhecimento e nosespecializarolos, verificamos que arte e ciência caminhavam uni-das desde as épocas mais antigas, demonstrando-nos o poder es-timulador e terapêutico da música. Objetivamos aqui enfocar eapontar os avanços da clínica musicoterápica no campo da Geron-tologia, como tratamento coadjuvante da clínica geriátrica.

O que podemos constatar é que a musicoterapia aplicada naterceira idade é um campo fértil de buscas e descobertas. A práti-ca clínica vem demonstrando resultados do tratamento musicote-rápico, que apresenta um importante papel como elemento deprevenção e manutenção das funções cognitivas. As pesquisas atu-ais confirolam o teor científico da mesma.

Em constantes avanços investigativos científicos e clínicos, po-demos verificar a profusão de novas definições e redefinições, noque se refere à prática e à teoria musicoterápicas. E é aqui, nocampo das descobertas, que não devemos fechar questões e, sim,abrir possibilidades para o encontro do novo.

Com a terceira idade, a musicoterapia vem alcançando níveisde tratamento com abordagens diferenciadas para cada tipo depatologia, centrada, entretanto, na filosofia de tratar o indivíduocomo um todo indissociado.

O atendimento ao idoso requer atuações multidisciplinares paraseu pleno sucesso. É na interação com as demais áreas do conhe-cimento clínico, valorizando os estímulos de cunho emocional eafetivo a partir da linguagem musical, que a musicoterapia poderácontribuir de forola mais efetiva.

As canções de nossas vidas traçam rotas e caminham juntas como nosso envelhecer, traduzindo nossas vivências. E se isso fazem é

porque nos pertencem e se tomam nossas companheiras de jor-

-hada. Fomos n6s que as construímos com cada sorriso e cada lá-

grima.Vale lembrar que o indivíduo idoso não possui uma música

dentro de si, porém as mais variadas canções que marcam e cons-

troem a sua hist6ria. Esse canal sonoro-musical se torna, muitas

vezes, a princip.al via de comunicação para os que dela necessitam.

A música irá onde a palavra já não mais alcança.

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